CULTURA.SUL 70 - 13 JUN 2014

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JUNHO 2014 | n.º 70 www.issuu.com/postaldoalgarve Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO D.R. Espaço AGECAL: São Brás: 100 anos de Cultura p. 3 Aqui há espectáculo: Uma ode à arte de representar p. 4 Espaço ALFA: ‘Cor e Criatividade’ em www.alfa.pt Letras e leituras: José Saramago, as histórias p. 7 D.R. D.R. D.R. p. 6 D.R. 9.037 EXEMPLARES p. 6 Sonoridades: Festival MED regressa a Loulé p. 5

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• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 13/6) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > ESPAÇO AGECAL: São Brás: 100 anos de Cultura, por Emanuel Sancho > AQUI HÁ ESPECTÁCULO: Uma ode à arte de representar > PANORÂMICAS: Não há Verão sem MED, por Ricardo Claro > LETRAS E LEITURAS: José Saramago a - A história acontecida, a revista e a recriada, por Paulo Serra > ESPAÇO ALFA: Cor e Criatividade em exposição em www.alfa.pt, por Raúl Grade Coelho > SALA DE LEITURA: Com o devido espírito de contradição, por Paulo Pires > DA MINHA BIBLIOTECA: Mal Nascer, de Carlos Campaniço, por Adriana Nogueira

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JUNHO 2014 | n.º 70

www.issuu.com/postaldoalgarve

Mensalmente com o POSTALem conjuntocom o PÚBLICO

d.r.

Espaço AGECAL:

São Brás: 100 anos de Cultura

p. 3

Aqui háespectáculo:

Uma ode à arte de representar

p. 4

Espaço ALFA:

‘Cor e Criatividade’ em www.alfa.pt

Letras e leituras:

José Saramago, as histórias

p. 7

d.r.

d.r.

d.r.

p. 6

d.r.

9.037 EXEMPLARES

p. 6

Sonoridades: Festival MED regressa a Loulé p. 5

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13.06.2014 2 Cultura.Sul

As cordas, os sopros e a per-cursão que constituem a Or-questra Clássica do Sul têm per-corrido os mais variados palcos do Algarve, do Alentejo, do país e mesmo do estrangeiro, nome-adamente da vizinha Espanha.

Aquela que é a nossa orques-tra, herdeira da Orquestra do Algarve, tem levado o nome da região com elevado desem-penho e mérito pela cena da música erudita, prestigiando o Algarve e os algarvios.

Os palcos são espaços físicos onde se afirma a qualidade da orquestra, dos seus músicos e dos maestros que a dirigem e têm sido muitos e diversos, na mesma proporção em que o têm sido os públicos que se deleitam a ouvir as notas arran-cadas aos inanimados instru-mentos com dotes de mestria.

A universalidade do direito à cultura, desidrato maior das sociedades ditas avançadas, é um esforço contínuo que a própria orquestra assume em pleno, mas não se faz sem ris-cos, sem desafios.

Exactamente isso, correr o risco e encarar o desafio foi o que a Orquestra Clássica do Sul fez ao actuar pela primeira vez no país dentro de uma cadeia.

O Estabelecimento Prisional Regional de Faro acolheu a es-treia e no pátio interior da ala prisional o espaço encheu-se de reclusos para ouvir a orquestra dirigida por John Avery.

Um palco insuspeito, um público insuspeito, para uma performance memorável.

A estranheza do local e do público não arrefeceu o âni-mo, nem desvirtuou a arte e provou que a música é univer-sal e transversal.

Não esquecerei tão cedo o misto de emoções que vivi, nem os pés de dezenas e dezenas de reclusos a darem nota do sentir da música.

A alma não se enjaula, nem o espírito se aprisiona, e com a singeleza de quem se dá ao ou-tro a Orquestra Clássica do Sul deu-se aos presos da cadeia de Faro e eles, também, se deram à arte numa experiência de rara humanidade.

Palcos insuspeitos

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-Cultural

Editor:Ricardo Claro

Paginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Momento:

Vítor Correia• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires

Colaboradoresdesta edição:Ana Lúcia CruzEmanuel SanchoGisela GameiroMariana RamosPaulo SerraRaúl Grade Coelho

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected]

e-mail publicidade:[email protected]

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:9.037 exemplares

Missão formação!

Qualquer empreendedor que esteja em fase de imple-mentação da sua ideia de negó-cio, e inclusivamente já depois de a implementar, depara-se com algumas lacunas no seu conhecimento base. O que é perfeitamente normal. Gerir uma empresa exige um grande conjunto de competências, que muitas vezes se adquirem com o tempo (experiência) e para quem está apenas a começar, saber tanto em tão pouco tem-po, é um verdadeiro desafio. Por exemplo, podemos saber muito de contabilidade, mas não perceber nada de vendas e marketing.

O empreendedor poderá se-guir três caminhos possíveis: 1) contratar a pessoa indica-da, que preencha essa lacuna; 2) pagar a um consultor para o apoiar e 3) perceber a ofer-ta formativa disponível para conseguir adquirir as compe-tências em falta. A escolha, por norma, depende do tipo de

competências a adquirir e da disponibilidade do empreen-dedor, não só financeira como em termos de tempo. Na mi-nha opinião, sempre que pos-sível, e se justifique, o empre-endedor/empresário deve optar pela sua formação, isto porque, para além de adquirir novas competências, tem igualmen-te a oportunidade de ampliar

a sua rede de contactos, o que também implica diretamente a partilha de experiências. Um simples workshop poderá em muitas circunstâncias fazer toda a diferença, em outras uma formação mais comple-ta, o que significa maior car-ga horária e conteúdo pro-gramático, poderá ser o mais indicado. Quando falamos na

necessidade de ter uma forma-ção mais avançada, falamos de um maior nível de exigência e nestes casos terá de existir dis-ponibilidade financeira por parte do empreendedor.

Antes de pensarem em qual-quer formação pensem no que realmente precisam e qual a pertinência da mesma para o sucesso do vosso negócio. De-

pois de identificarem que com-petências adquirir, percebam quais as ofertas disponíveis. Imaginem que têm três opções, tentem perceber qual das op-ções apresenta um programa mais adequado às vossas expec-tativas. Compreendam que por vezes um programa mais denso significa mais dedicação e mais recursos financeiros, mas que,

contudo, é esse preciso progra-ma e método que vos permitirá uma melhor aprendizagem.

Não questionando a qualida-de da formação, uma determi-nada ação de formação pode funcionar para uns e não fun-cionar para outros, quer devido ao método da formação, quer devido ao conteúdo da mes-ma. Por exemplo, um formato b-learning será o mais indica-do para vós? Para muitos é o ideal, especialmente quando a disponibilidade é limitada, no entanto, para outros o forma-to presencial será mais efetivo e adequado ao seu estilo de aprendizagem, permite-lhes assim adquirir as competências necessárias. Contudo, a aquisi-ção de competências não tem de passar obrigatoriamente por workshops e formações avan-çadas, pois apesar das muitas vantagens que apresentam, a verdade é que muitos são tam-bém os empreendedores que se apoiam nas leituras e boas práticas para, de forma auto-didata, adquirirem novos co-nhecimentos ou até mesmo os consolidarem.

Resumindo, independente-mente do formato escolhido, é importante que o empreen-dedor tenha sempre presente a missão de apostar de forma continua na sua formação, pois dela depende o suces-so da sua empresa e do seu projeto

Os que continuam a ‘nada fazer’

Chega o Mês da Juventude e chega então o momento de dissertar, novamente, sobre esta curiosa faixa etária. O que nunca é fácil, visto que, ape-sar das infinidades de verten-tes que o assunto tem, ainda corro o risco de me repetir, e voltar a dizer tudo aquilo que sempre tenho dito acerca dos jovens. Mas o miolo da ques-tão é: são inovadores, talen-tosos, interessados, curiosos

e inteligentes - e ai de quem me venha contrariar baseado numa ínfima amostra popu-lacional, ou nos cinco moços que lhe partiram a janela na semana passada. Por favor. Portanto, gostava antes de me debruçar sobre uma entidade de apoio a jovens que comple-ta este ano os seus dez anos de actividade.

Há meros quatro anos, era eu uma recém-nomeada ado-lescente. Uma pequenina jo-vem de flutuações de humor constantes e uma autoestima duvidosa. Interesses nulos, voz inaudível. A diferença entre antes e agora não é do mais contraste que poderia arranjar; a minha autoestima continua uma cordilheira escarpada. Mas sei que seria uma pessoa imensamente

menos realizada se não tives-se, naquela tarde de quarta--feira, entrado pela porta daquele pequeno edifício. Durante anos, vi a juventude a crescer: vi músicos e artistas a descobrir do que são capa-zes, vi líderes empreendedo-res. Vi como eram apoiados

todos aqueles que queriam contribuir com a sua marca, e quantos teriam desistido ou se resignado ao sofá se não ti-vessem uma mão para agar-rar. Eu incluída.

Portanto, parabéns, Casa da Juventude! Que o vosso suces-so continue por muitos anos.

d.r.

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Ana Lúcia Cruz Gestora de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreende-dorismo e Transferênciade Tecnologia da UAlg

Juventude, artes e ideias

Mariana RamosEstudante

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Espaço AGECAL

São Brás de Alportel comemorou no passado dia 1 de Junho a passa-gem de um século sobre a sua eleva-ção a concelho. A efeméride é muito marcante para os que nasceram ou habitam naquele pedaço do inte-rior algarvio. No longínquo ano de 1914, São Brás havia atingido a sua maioridade: apresentava uma saúde económica assinalável, a população aumentava e alguns dos seus filhos destacavam-se na política, nas artes e nas letras da região, capitalizando para a sua terra respeito e admira-ção. Olhando para trás, poderíamos resumir a génese sãobrasense em três palavras: cortiça, república e educação. Curiosamente, os termos sintetizam o conceito contemporâ-neo de sustentabilidade: economia, sociedade, cultura.

Neste olhar de relance, o fator económico assume grande impor-

tância logo a partir de meados do século XIX com um pequeno gru-po de famílias que “descobriram” na cortiça uma fonte de riqueza. Nas últimas décadas do século, certamente como reflexo do bem--estar económico vivido, chegam as ideias políticas que fazem fervi-lhar a aldeia. A escolaridade atinge valores muito acima da média do resto da região e do país. Cerca de uma centena de fábricas de cortiça atraem a São Brás de Alportel gente de fora em busca de trabalho. Nos primeiros anos do século, em ape-nas algumas décadas, a população

havia duplicado.A aldeia de São Brás de Alportel,

por altura da revolução republica-na de 1910, é conhecida como uma fortaleza da militância política re-publicana. Afonso Costa chama-lhe a “Barcelona Algarvia”. Uma gera-ção culta e politizada atinge a sua maturidade e um dos seus filhos, João Rosa Beatriz, está presente no coração da revolução, na Rotunda, em Lisboa. Com os acontecimentos estabilizados, os sãobrasenses Júlio César Rosalis e Bernardo de Passos, ocupam em Faro os lugares mais elevados: Governador Civil e Admi-

nistrador do Concelho. Desta ma-neira, o caminho para a autodeter-minação do território estava aberto.

A consolidação decorre nas dé-cadas seguintes por força da cultu-ra. A potência gerada produz uma geração brilhante que extravasou o território durante a primeira metade do século XX. A contem-poraneidade da pintura de Vir-gínia Passos (1881-1965) e da es-cultura de Rosalina (1880-1958) e Joaquim Passos (1912-1980?) são ainda hoje motivo de estudo. Es-tanco Louro (1890-1953) produziu uma reflexão sobre o território que

é ainda hoje uma referência para os estudos locais. Roberto Nobre (1903-1969), artista e pioneiro ci-nematográfico ocupa no país um lugar cimeiro no campo da crítica de cinema. José Dias Sancho (1898-1929), falecido aos 31 anos de ida-de, deixa-nos um corpus literário de grande qualidade que segue os passos de Bernardo (1876-1930) e Boaventura Passos (1885-1935).

Inaugura então São Brás de Al-portel, um ciclo comemorativo que se prolongará por um ano. Assim, o tempo que se aproxima, irá pro-porcionar homenagens e sinais de reconhecimento. Estão sendo preparadas exposições evocativas de personalidades e de momentos históricos. Um vasto programa de publicações irá arrancar nos próxi-mos meses. A participação efetiva da população através de iniciativas individuais mas também do teci-do associativo do concelho, são li-nhas fortes de um programa que se manterá aberto e em construção permanente durante todo o perío-do comemorativo.

Da máxima importância, deverá também surgir o centenário, como oportunidade de balanço do pas-sado e reflexão para planeamento do futuro.

Grande ecrã

Cineclube de TaviraProgramação: www.cineclubetavira.com281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 [email protected]

SESSÕES REGULARESCine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas

19 JUN | GLORIA, Sebastián Lelio – Chile/Espanha (110’) M/12

26 JUN | TROPICÁLIA, Marcelo Machado – Brasil/Reino Unido/E.U.A. 2012 (87’) M/12

Junho recheado de documentários em Tavira

Em Junho apostámos nos do-cumentários, dois já apresenta-dos logo no início do mês e mais dois que apresentamos nos dias 19 e 26. Todos bastante diferen-tes em termos temáticos e ao nível do tratamento. O terceiro é musical: por favor não percam Tropicália com Caetano Veloso, Gilberto Gil e muitos outros. E não se preocupem com os belís-simos filmes que ultimamente têm estreado entre nós, é apenas uma questão de tempo para po-der trazê-los a Tavira. Muitos irão integrar o programa da nossa 14ª Mostra de Cinema Europeu e 9ª de Cinema Não Europeu neste Verão.

Pois, estamos a trabalhar para que as Mostras se tornem mais uma vez grandes festas de ci-nema, com os melhores e mais sensíveis títulos disponíveis no mercado nacional de distribui-ção. Mantenham-se atentos às respectivas datas: 11 a 21 de Ju-

lho e 1 a 11 de Agosto. O local será o mesmo dos últimos dez anos, os belos Claustros do Con-vento do Carmo. E, se quiserem

ajudar-nos durante os eventos ou na sua preparação, não he-sitem em contactar connosco! Obrigado e até breve ou até lá!

Destaque para o documentário “Gloria”

fotos: d.r.

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

CICLO “A INVENÇÃO DA MEMÓRIA”IPJ | 21.30 HORAS | ENTRADA PAGA17 JUN | MÃE E FILHO, Calin Peter Netzer, Roménia, 2013, 112’ M/12

FILME FRANCÊS DO MÊS BIBLIOTECA MUNICIPAL | 21.30 HORAS27 DE JUN | LES PETITS RUISSEAUX, Pascal Rabaté, França, 2010, 94’

SESSÃO ESPECIAL28 JUN | MUDAR DE VIDA – JOSÉ MÁRIO BRANCO, VIDA E OBRA, Pedro Fidalgo, Nel-son Guerreiro, Portugal, 2013, 115’ (local e hora a designar)

CINEMA E ARQUITECTURA ÀS QUARTAS21.30 HORAS | MUSEU DE PORTIMÃO18 JUN | MARK LEWIS: NOWHERE LAND, Reinhard Wulf, 82’, 2011, Alemanha25 JUN | A CASA DO LADO – Luís Urbano, 17’, 2012, Portugal | ÍNSUA – Ana Resende, Miguel C. Tavares e Rui Manuel Vieira, 24’, 2013, Portugal | MERCADO – Carlos Macha-do, Ricardo Santos, 2013, Portugal | LUTO – Pedro Felizes, Pedro Loureiro, Rodrigues Dessa, Tiago Costa, 20’, 2013, Portugal | A LIMPEZA – Manuel Graça Dias, 20’ 2013, Portugal.

São Brás de Alportel: 100 anos de Cultura

Emanuel SanchoMembro da Direcção da AGECAL - Asso-ciação de Gestores Culturais do Algarve

d.r.

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13.06.2014 4 Cultura.Sul

Aqui há espectáculo

Uma ode à arte de representar

Dito assim talvez para mui-tos pouco ou nada signifique. Para outros, no entanto, será facilmente identificável a Ode Marítima de Fernando Pessoa, na persona de Álvaro de Cam-pos. Para outros ainda, aqueles que assistiram às duas apre-sentações do espectáculo de Diogo Infante no Teatro Le-thes, em Faro, será uma frase dificilmente olvidável.

Ali o actor disse-a repeti-damente enquanto olhava o porto, retratado em cena por amarras, descendo do alto para se enroscarem em enor-mes cunhos plantados nas tá-buas do palco. Ali o actor a fez soar, troar e majestaticamen-te bradar num misto de oral e corporal inesquecíveis.

Diogo Infante no seu me-lhor, imenso na ‘insanidade’ de um monólogo complexo, retorcido e de uma significân-cia inaudita do homem que se quer diverso do que é e ao seu eu retorna depois do desvario.

Há teatro assim, onde a ri-queza do texto nos deixa si-derados, mas só o há assim quando os actores o são, eles mesmos, excelsos. Diogo In-fante foi memorável, irre-preensível, físico na expres-sividade levada ao limiar da exaustão.

Por entre as palavras de Ál-varo de Campos, Diogo Infan-te fez-se senhor absoluto de um palco inteiro - partilhado

apenas por João Gil à guitarra - encheu-o do agigantamento do personagem que foi um crescendo constante.

O público refém de uma dic-ção perfeita e de uma expres-são cénica acabou o espectácu-lo mudo e quedo até rebentar num aplauso sem reservas.

As palavras de Álvaro de Campos encheram a sala mas, mais do que isso, encheram as mentes de quem escolheu o Lethes para um fim de noi-te com uma das referências maiores do teatro nacional da actualidade.

A cada passo e sempre no momento certo a música ori-ginal de João Gil marcou os ‘entrepassos’ de um espectá-culo de cortar o fôlego.

Diogo Infante levou-se ao limite, da voz colocada ao es-forço desmesurado que enrou-quece e torna a voz tábua ru-gosa cravejada de significado e emoção. A ninguém pode ser indiferente a mestria e a dedi-cação do actor numa peça que como o próprio disse à audiên-cia lhe é “muito especial”.

No saldo de uma noite fa-rense de teatro fica a certeza de que ali mesmo onde se estreou há mais de duas dé-cadas, no Lethes, Diogo Infan-te trouxe ao seu Algarve um presente de rara beleza, a sua arte feita monumento ao mis-ter de representar.

Ricardo Claro

Diogo Infante esteve imenso no Lethes em Faro

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

14 JUN | Escola da Companhia de Dança do Algarve (Espectáculo de encerramento do ano lectivo), dança, 21.30 horas, 120 min., preço: 10 euros

TEMPO - Teatro Municipal de PortimãoProgramação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

21 JUN | De mim para Mim, apresentação do livro de Carolina Tendon, 17.30 horas, entrada livre

Era uma vez uma jovem chamada Cinde-rela que cresceu no campo, com o seu pai.Durante o dia montava a cavalo e à noite ouvia histórias fantásticas sobre magia

e castelos.Mas certo dia seu pai casou novamente e aí apareceu a madrasta com as suas duas filhas…

Dest

aque 28 JUN | A Verdadeira História da Gata Borralheira, teatro, 21.30 horas, preço: 10 euros,

7 euros até aos 12 anos

d.r.

A Academia de Música de Lagos apresen-ta a 12ª Edição do Encontro de Escolas de Música do Algarve. O Encontro de Escolas apresenta-se como uma possibilidade de

ver e ouvir, ao vivo, alguns dos grandes ta-lentos da música algarvia, assim como uma oportunidade de descobrir diversos instru-mentos, compositores e estilos de música.

Dest

aque 14 JUN | XII Encontro de Escolas de Música do Algarve, música, das 10 às 19 horas,

entrada livre

Kokoro é sem dúvida uma nova e signifi-cativa página da história teatral da Casa del Silencio para o teatro Colombiano.Em homenagem ao cinema mudo, ao te-atro silencioso, à infância e ao amor. Em japonês, Kokoro reúne os significados, de coração, mente, inteligência, alma, centro, núcleo.Kokoro narra a história de três persona-gens imersos num território de papel e cartão. Entre a realidade e a ficção, o

espectáculo é definido numa narrativa atemporal em que se vai decifrando a complexidade das relações humanas, como habitantes de um passado efé-mero que revelam traços da sua história.Este espectáculo combina a imagem teatral, o teatro físico, a animação e manipulação de objectos e a música original que transportam o espectador para um universo intimista e próximo da realidade.

Dest

aque 19 JUN | Kokoro, teatro / manipulação de objectos, 21.30 horas, 50 min., preço: 7 euros

Cine-Teatro LouletanoProgramação: http://cineteatro.cm-loule.pt

A Orquestra Clássica do Sul e a Câmara Mu-nicipal de Loulé convidam-no para o Ciclo “Loulé Clássico”, um conjunto de concertos inédito, que o irão acompanhar de Feverei-

ro a Dezembro, em meses alternados.No Cine-Teatro Louletano, poderá desfru-tar da música de grandes compositores do clássico ao contemporâneo.

Dest

aque 12 ABR | Ciclo Loulé Clássico – Orquestra Clássica do Sul, música, 21.30 horas, 70 min.,

preço: 8 euros

Um ano após a estreia do seu mais re-cente álbum, Reflect regressa ao TEMPO com uma nova proposta musical.Num alinhamento com passagem pe-los álbuns ‘Último acto’ (2008) e o ho-mónimo ‘Reflect’ (2013), a aposta vai para uma noite de celebração não só da música, mas também da amizade. Para além de partilhar o palco com os convidados dos dois álbuns, Reflect

apresentar-se-á acompanhado pela Or-questra de Câmara da Academia de Mú-sica de Lagos / Conservatório de Música de Portimão.À fusão entre o hip-hop e o rock, jun-tam-se novos arranjos para os temas que são a extensão perfeita do seu autor. Um espectáculo intimista à imagem de Reflect, onde a mensagem ganha nas palavras um papel de destaque.

Dest

aque 21 JUN | REFLECT, música, 21.30 horas, 120 min., 2 euros

O FOrA – Festival da Oralidade do Al-garve é uma mostra da tradição oral da região. Entre os dias 26 e 28 de Junho, o festival animará o centro da cidade de Portimão, promovendo performances, oficinas, concertos, bailes e palestras, tendo como mote o património oral do Algarve. Assim, marcarão presença os

provérbios, as adivinhas, as lengalen-gas e trava-línguas, as pragas, as lendas, as danças e cantares tradicionais, entre outras expressões da oralidade regional. Estas sessões serão interactivas e de curta duração, realizando-se sucessivamente em vários espaços do centro da cidade, inclusive no TEMPO.

Dest

aque 26 a 28 JUN | FOrA - Festival da Oralidade do Algarve, programa disponível em:

www.teiadimpulsos.pt

‘Fifteen men on the dead man’s chest.

Yo-ho-ho and a bottle of rum!’

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13.06.2014  5Cultura.Sul

Não há Verão sem MED

O Festival MED abre portas no dia 25 de Junho e prolonga-se até dia 28

d.r.

“REFLECT”21 JUN | 21.30 | Grande Auditório do TeatroMunicipal de PortimãoSeguindo um alinhamento que passa pelos álbuns “Último acto” (2008) e o homónimo “Reflect” (2013), o artista partilhará o palco com os convidados dos seus dois álbunsAg

endar

Panorâmica

Não há Verão sem MED e sem este, que é o mais im-portante festival de world music da região, não have-ria, em muitos casos, possi-bilidade de se ouvirem por terras algarvias sonoridades raras, oriundas de terras mais ou menos longínquas, mas que nos trazem sempre performances originais.

Mais de uma década de música a desafiar o Algarve e o país, porque o MED tem o condão de trazer a Loulé gente de todos os locais, o festival é hoje absolutamen-te incontornável na cena da world music nacional.

A abrir este ano, dia 25, o primeiro dia tem entrada grátis e além de Drumspro-jx by Silva Drums pode-se ainda ouvir nesta alvorada do MED Fernando Carvalho, sem esquecer o concurso de bandas, que abre o evento.

Seguem-se os dias 26, 27 e 28, com razões mais do que muitas para justificarem um salto até terras louletanas.

É que o MED é muito mais do que uma simples suces-são de espectáculos em ode festivaleira, é uma cidade in-teira dedicada a um estado de espírito cravado de alma mediterrânica e de braços abertos para acolher sons

de outras paragens e dentes de todos os cantos.

O centro de Loulé trans-forma-se, ganha um pulsar próprio e uma mística es-

pecial a convidar a momentos únicos e prazerosos.

Portugal marca

presença com nomes como Gisela João, Celina Piedade ou a Ala dos Namorados, entre outros e outras tantas portugalidades da música, mas também cá está a Jamai-ca e o Japão, o Mali e a Ni-géria, bem como, Marrocos e Cabo-Verde, sem esquecer

a França e o Congo ou a Ale-manha e a Espanha.

Os preços

Sem contar com a aber-tura, em estilo open day e, pois, grátis, o Festival MED vai custar 30 euros para ter

acesso aos três dias do even-to, mas pode optar pelo bi-lhete diário familiar (dois adultos e duas crianças até aos 16 anos) por 25 euros.

Quanto ao bilhete diário vai ter um preço de 12 euros, sendo que as crianças de ida-de até 12 anos têm entrada

franca no certame.

Outras músicas

Mas nem só de world mu-sic se faz o MED, há ali espa-ço para tudo, nomeadamente, para a música clássica.

Assim, pode ouvir e delei-tar-se com o Ensemble de Flautas de Loulé, no dia 25, ou com o duo ‘violiNOacordeão’, agendado para o dia 26.

A 27, a Igreja Matriz, pal-co de todos os espectáculos de música clássica, recebe o quarteto Concordis e, no dia 28, fecha a porta do MED clássico o Clássic’s Quartet.

Imperdível é o que se pre-tende daquele que é o mo-mento maior do estio musi-cal algarvio e para não deixar os créditos por mãos alheias a autarquia louletana preparou um cartaz invejável, apostado em trazer a terras algarvias exemplos do bom que se faz por cá e pelo resto do mundo em termos musicais.

São quatro dias em que se promete um programa à medida de todos e cada um, desde os pequenotes aos mais crescidos, e que in-cluem artesanato, exposições, workshops, gastronomia e muita animação de rua.

É que durante o MED há tempo para tudo menos para o enfado, que por Loulé, nes-tes quatro dias, a música é outra!

Ricardo Claro

“BELLY DANCE FEST”28 JUN | 21.30 | Centro Cultural de LagosO grupo “El Laff” apresenta um espectáculo de músi-ca e dança oriental/sufí. A instrumentação do grupo é a tradicional: alaúde, violino e nay como instru-mentos melódicos

Dia 25Open MED Drumsprojx

Dia 26Debandeba

Ala dos Namorados

Dia 27Celina Piedade

Dia 28Gisela João

Dino Santiago

Destaques para o MED 2014

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13.06.2014 6 Cultura.Sul

“NOVOS CONTADORES DE HISTÓRIAS”Até 30 JUN | Biblioteca Municipal de AlbufeiraNesta exposição, as crianças de 15 salas dos Jardins de Infância de Albufeira apresentam o seu “reconto” da história “O Ratinho Marinheiro”, de Luísa Ducla Soares

“MÚSICA MUNDI: HISTÓRIA(S) DE TANGO”27 JUN | 21.30 | Centro Cultural de LagosSunita Mamtani (violoncelo), Emily McIntyre (fago-te) e Ricardo Batista (guitarra), serão os guias nes-te concerto pelo mundo do tango, cujos caminhos percorrem vários estilos e formas de interpretaçãoAg

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José Saramago - A história acontecida, a revista e a recriada

José Saramago de tal modo dispensa apresentações, que esta nossa escolha pode até provocar surpresa. Autor de mais de 40 obras, nasceu em 1922, na aldeia de Azinhaga, e viveu até 2010, em Lanzarote. José Saramago cons-truiu uma obra incontornável na lite-ratura portuguesa e universal, sendo certamente uma importante referência para o nosso país em termos interna-cionais, com obras traduzidas por todo o mundo, e outras como Ensaio sobre a Cegueira, O Homem duplicado, ou A Jan-gada de Pedra, adaptadas ao cinema. José Saramago recebeu o Prémio Camões em 1995 e o Prémio Nobel da Literatura em 1998, e continua presente na nos-sa memória, sendo inclusive referência no chamado “cânone” literário, nos pro-gramas curriculares do ensino do Por-tuguês: o Memorial do Convento figurou nos programas de ensino secundário, sendo agora substituído por O Ano da Morte de Ricardo Reis, escolha aliás que parece fazer todo o sentido, na medida em que se interrelaciona com os con-teúdos programáticos do secundário, que abrangem a poesia pessoana. O au-tor já tem sido dado a conhecer até aos mais novos, com o seu belíssimo conto, A maior flor do mundo, cujos excertos fi-guraram aliás numa prova de final de ciclo do ensino básico. Entre diversos títulos que nos deixou, como Caim ou A Viagem do Elefante, os seus livros mais recentes e, diríamos, mais “ligeiros”, o autor deixou ainda obras de grande fô-lego (e polémica), como o controverso Evangelho segundo Jesus Cristo.

São nove os títulos que regressaram neste último mês às livrarias, em edi-ções revistas e com novas capas, que contam com o contributo de grandes figuras da literatura e cultura portu-guesa: Siza Vieira, Baptista-Bastos, Edu-ardo Lourenço, Dulce Maria Cardoso, Gonçalo M. Tavares, Júlio Pomar, Lídia Jorge, Mário de Carvalho e Valter Hugo Mãe caligrafaram o título para a capa

de cada um dos nove livros.Mas cabe-nos, neste espaço, dedicar

alguma atenção ao livro História do Cerco de Lisboa. O próprio título brinca com o leitor de forma irónica, ao jeito da pós-modernidade, ao anunciar uma História, quando não é, na verdade, um romance histórico embora seja o mais próximo de entre os romances de Sara-mago, aquele em que o discurso da His-tória ocupa maior lugar. Problematizar o nosso conhecimento da História pren-de-se com a literatura pós-25 de Abril, numa subversão da verdade de uma História oficial pouco credível salaza-rista: «hábito de julgarmos tudo segun-do ideias adquiridas, da nossa insaciável curiosidade apesar dos limites impostos ao nosso espírito, da inclinação que nos

leva a encontrar mais analogias entre as coisas do que as que realmente têm» (pág. 14). Contestar o discurso oficial da História instaurado por regimes fascis-tas, atacando as definições e verdades em que essas “instituições” assentam, criando novas versões da História. Esta rasura é o que Raimundo faz ao escrever o Não no rascunho de que era revisor: o deleatur de que se fala no primeiro ca-pítulo surge como metáfora deste pro-cesso que cria uma obra aberta onde a própria História parece dobrar o tempo e desacontecer ou, melhor dizendo, re-acontecer de forma diversa.

Ao longo do romance, entrecruzam--se dois enredos: a versão romanesca que Raimundo Silva cria da História de Lisboa no século XII, que começa com

um Não antes do verbo, ba-seada numa suposição errada, negando uma verdade histórica, ainda que a sua reconstrução histórica seja cuidada, re-alisticamente minuciosa, inclusive na linguagem da época, com exatidão histórica e detalhada; e noutro plano, o enredo que, no tempo presente, se centra no próprio processo da escrita e de como escrever História, instaurando um carácter profundamente metatex-tual da narrativa, onde se joga com três planos. Primeiro, a versão da História do Cerco de Lisboa criada pelo autor histo-riador apresentada na parte inicial, em que se conta a história do cerco de 1147, em que os cruzados ingleses chegaram a Lisboa, cidade ocupada então pelos mouros e que cinco meses depois se rendeu aos cristãos. Segundo, a Nova História do Cerco de Lisboa, criada pela personagem Raimundo Silva, onde se descobrem filões ou novas possibili-dades, versões alternativas ou escon-didas da verdade, na possibilidade de os cruzados terem ajudado o rei D. Afonso Henriques em troca do saque e do senhorio de terras conquistadas. O revisor pondera então a reação dos portugueses, do dito povinho (dos fracos e oprimidos) de que não reza a História. Por último, a nova versão da História instaura-se no próprio pro-cesso de escrita da mesma, devido ao peso da palavra; e a história de que o próprio narrador se apropria e recria, num palimpsesto e mise-en-âbime, que sintetiza as outras duas e que é aquela

que o leitor tem nas mãos: «A cidade murmura as orações, o sol apontou e ilumina as açoteias, não tarda que nos pátios apareçam os moradores. A almá-dena está em plena luz. O almuadem é cego./Não o tem descrito assim o histo-riador no seu livro. Apenas que o mue-zim subiu ao minarete e dali convocou os fiéis à oração na mesquita, sem rigo-res de ocasião, se era manhã ou meio--dia, ou se estava a pôr-se o sol, porque certamente em sua opinião, o miúdo pormenor não interessaria à história, somente que ficasse o leitor sabendo que o autor conhecia das coisas daque-le tempo o suficiente para fazer delas responsável menção.» (pág. 8).

O próprio revisor é incomum, à se-melhança de outras personagens de Saramago, pelo gesto de infracção que comete, de rasura do passado, ao come-ter um erro no seu trabalho, quando es-creve o fatídico Não que altera tudo e dá propósito ao livro. O dito revisor, um ho-mem na meia-idade, que vive à margem da sociedade, de forma simples, regrada, autómata, baça será, paradoxalmente, recompensado pela sua falha, tanto com uma promoção no trabalho, ao ser con-vidado a tornar-se autor, escrevendo a sua própria versão da história que antes revia, como pelo amor que esse ato de rebeldia chama à sua vida. E é desta for-ma que, por último, e a reforçar a inven-tividade de Saramago, surge ainda uma outra interpretação do título do livro, em que a palavra Cerco remete para o próprio ritual de corte, pois este revisor vai acabar por se apaixonar.

O título e tema do livro remetem--nos assim para outro assunto tão an-tigo quanto o tempo ou a guerra: uma metáfora do amor por uma mulher, e da conquista amorosa, cercando-a atra-vés da escrita: «Aturdido pelo contacto, Raimundo Silva levantou a cabeça, que-ria olhar, ver, saber, ter a certeza de que era a sua própria mão que ali estava, agora sim, o muro invisível desmoro-nava-se, para além dele ficava a cida-de do corpo, ruas e praças, sombras, claridades, um cantar que vem não se sabe donde, as infinitas janelas, a peregrinação interminável.» (pág. 190). O livro é, aliás, escrito na cama, e não no escritóri o onde habitual-mente revia as provas, e é também na brancura dos lençóis por estrear que se dá a consumação do acto amoroso de Raimundo e Maria Sara.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

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O nobel da literatura, José Saramago

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13.06.2014  7Cultura.Sul

Momento

Sons do Atlântico

Foto de Vítor Correia

‘Cor e Criatividade’ em exposição em www.alfa.pt

Este foi o mês final da Mostra Foto-gráfica ‘Cor e Criatividade’, que reu-niu no total 134 imagens sobre as seis cores primárias, nomeadamente, preto, branco, azul, verde, amarelo e vermelho. Para atingir este número significativo de fotografias foi neces-sária a participação de 35 fotógrafos aos quais agradecemos pelo seu con-tributo.

Foi uma mostra fotográfica gra-tuita que permitiu a quem gosta de fotografar participar neste evento da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve. Foi bastante simples a forma de participar, pois apenas era pedido

o nome do/a fotógrafo/a e o número de associado, caso fosse. Foi também escolhida a foto de cada mês.

Conclusões a tirar deste evento. Foi uma adesão fantástica deste nú-mero de fotógrafos que, desta for-ma, exprimiram as suas ideias sobre a cor mensal em que participaram com as imagens retiradas pelas suas máquinas fotográficas que foram muitas e diferentes. Foram vários modelos da marca Canon, da Nikon, da Olympus e da Panasonic, bem como, as individuais Sony, a Casio, a Fujifilm, a Benq e o telemóvel fo-tográfico Nokia N73.

Conforme podem verificar, as cerca de 30 máquinas fotográficas, desde as mais profissionais às mais amadoras, permitiram captar aque-le momento especial que pretendía-mos gravar subjacente à cor mensal. Pode sempre verificar as fotografias que estão expostas em www.alfa.pt.

Fique atento a novas iniciativas. Boas fotos!

Espaço ALFA

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Raúl Grade CoelhoMembro da ALFA

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Com o devido espírito de contradiçãoSala de leitura

A Orquestra Clássica do Sul na prisão de Faro

Paulo PiresProgramador culturalno Município de [email protected]

Numa entrevista dada em 2012 ao jornal Público o pintor Júlio Pomar afirmava: “Há uma necessidade que nos leva a determinado acto, a determinada parte, a de-terminados convívios. O que importa é essa necessidade e o reconhecimento dela. Muitas vezes as pessoas não

têm coragem para isso. Que isto de viver é difícil, não é brincadeira nenhuma. Não sabemos viver com as nossas contradições. ‘É um indiví-duo cheio de contradições’, dizem as famílias. Ainda bem! Se não tem consciên-cia das suas contradições, o bicho homem anda com as quatro patas no chão”.

As conexões/diálogos que o tema da contradição pode estabelecer com con-ceitos como verdade, lógica, opostos, devir, apaixonaram inúmeros intelectuais, fi-lósofos e artistas ao longo

de séculos, daí resultando princípios e teorias ainda hoje de pertinente reflexão. Bastaria pensar em Heraclito ou Aristóteles, entre outros. Pode existir verdade na con-tradição? Há elementos con-trários que podem coexistir, interagir e fazer evoluir a realidade? Também na lite-ratura e na música este tó-pico assume uma presença assídua e fértil em visões e atitudes. Pascal, numa posi-ção mais aberta, relativista e “conciliadora”, escreveu que “nem a contradição é sinal de falsidade nem a falta dela

é sinal de verdade”. Já Paul Valéry preconizava que os pensamentos mais impor-tantes são os que contra-dizem os sentimentos, ao passo que Jean-Paul Sartre definia a beleza como uma contradição velada. Na can-ção “Estou além”, António Variações, possuído por um turbilhão de sentimentos (solidão, insatisfação, ansie-dade, medo), confessa mes-mo que só está bem onde não está e só quer quem nunca viu/conheceu.

Afonso Cruz, por seu lado, é escritor (para miúdos e

graúdos), ilustrador, músi-co (toca na banda The Soaked Lamb), realizador, fabrica a sua própria cerveja e tem na sua casa do Alentejo um oli-val com doze árvores em que cada uma tem o nome de um apóstolo (uma delas nasceu do lado de fora da cerca e foi baptizada como “Judas Iscariotes”). A versatilida-de de registos/estratégias, a criatividade nos conteúdos, a originalidade de perspec-tivas e a inegável bagagem cultural/mundos fazem de Afonso Cruz uma referência incontornável da nova gera-

ção de imaginadores da pa-lavra/imagem em Portugal.

O pleno em A Contradição Humana

N’A Contradição Humana, publicada em 2010, Afonso Cruz faz o pleno: uma obra tematicamente cativante, cuja mensagem atravessa, pela sua pertinência e in-temporalidade/actualidade, crianças, jovens e adultos – materializada num objecto estético formalmente atraen-te, que assenta numa paleta tricolor (vermelho, preto e

Orquestra Clássica do Sul actua para lá das gradesO espírito não se aprisiona e

não há grades que possam en-carcerar a alma. Aquele e esta são indomáveis e insusceptí-veis de serem domados sejam quais forem as circunstâncias e prova disso mesmo é o concerto que a Orquestra Clássica do Sul deu recentemente no Estabele-cimento Prisional Regional de Faro (EPRF).

Para lá dos muros da cadeia o mundo é outro, diverso, com outro compasso, arrastado, re-petitivo e monótono e o que a orquestra conseguiu foi levar um novo ritmo aos homens que ali cumprem uma pena que pre-tende expiá-los da dívida para com a sociedade entendida nos termos da justiça dos homens.

Entre quatro paredes e um recorte de azul

No pátio da ala prisional

do EPRF, foram dezenas os reclusos que em duas sessões puderam ouvir a Orquestra Clássica do Sul a interpretar um programa escolhido ao pormenor para a ocasião.

As paredes altas não foram suficientes para acanhar os músicos e a sonoridade úni-ca de uma orquestra fez-se ouvir a plenos pulmões con-tra o azul infinito recortado num quadrado a céu aberto que lembra, ali dentro onde a liberdade se vê coarctada, que há um mundo sem muros ali mesmo ao lado.

Sob a batuta de John Avery a orquestra passou por “Te Deum” (prelúdio), de Marc Antoine Charpentier, “Ama-nhecer”, de Edvard Grieg, e “Adiemus”, de Karl Jenkins, até chegar à “España Valsa”, opus 236, de Émile Waldteufel.

Por esta altura, descompres-

são feita, já os pés dos reclusos davam sinal de acompanhar o compasso das melodias, mas “Blue Tango”, de Le-roy Andersen, “Irish Tune de County Derry”, de Grainger, e “Trumpeter’s Lullaby”, de Leroy Andersen, foram as toa-das que deram o mote para as mais conhecidas e trauteadas “Serenata à Chuva”, de Nacio Herb Brown, e “Os Sete Mag-níficos”, de Elmer Bernstein.

Um dia diferente

“Foi um dia diferente e isso faz diferença”, disse ao Cul-tura.Sul um dos reclusos do EPRF, enquanto outro tenta-va descobrir quais as melo-dias interpretadas com pon-taria certeira para “Serenata à Chuva”.

Alexandre Gonçalves, direc-tor do EPRF, não esteve muito longe da opinião dos reclusos, congratulando-se pelo facto de estarmos perante “um dia diferente na vida de um es-tabelecimento prisional”, ao mesmo tempo que afirmava que “do meu conhecimen-to esta é a primeira vez que se faz um concerto de uma orquestra dentro de um es-tabelecimento prisional em Portugal”.

Carlos Ferreira, adminis-trador da Orquestra Clássica do Sul, sublinhou “a aposta numa forma absolutamen-te inovadora de intervir na comunidade”, na sequência daquele que é “o programa Música em Comunidade de-senvolvido pela orquestra

e que já levou a formação a hospitais de Almada, Beja,

Faro e Huelva”.Para Cesário Costa maes-

tro de director artístico da Orquestra Clássica do Sul, “a importância deste ciclo de concertos Música em Co-munidade, é a de intervir no âmbito da responsabilidade social que cabe a todas as or-ganizações culturais e passa por apresentar a orquestra em espaços onde normalmente a música clássica não marca presença”.

Em termos de reportório a aposta para o concerto no

EPRF passou por “um progra-ma que seja adequado ao pú-

blico e às suas especificidades e que possa ser atraente para quem ouve”, um tratamento que em nada difere daque-le que é sempre dispensado pela orquestra no processo de idealização de cada concer-to, mas que, “neste caso, tem como acréscimo a responsa-bilidade de responder a um público com especificidades particulares”.

Para o maestro, “o impor-tante é que a ideia subjacen-te aos concertos Música em Comunidade se mantenha

e desenvolva como um dos objectivos de trabalho da

orquestra”.Certo é que mais do que

diferente, o dia no EPRF foi único e que a Orquestra Clás-sica do Sul provou que não há barreiras para a música. Não há muros suficiente-mente altos, nem realidades suficientemente longínquas e solitárias que sejam amarras suficientes para a vontade de levar a música clássica ao lu-gar onde deve estar, em todos os lugares sem reservas, nem limitações.

Ricardo Claro

fotos: ricardo claro

Na senda da Cultura

Aspecto geral da sala

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Com o devido espírito de contradição

Arquivos e museus: uma abordagem multidisciplinarEspaço ao Património

branco) que vai sendo ma-nipulada e reinventada ao longo de 32 páginas (que sa-bem a pouco) e que produz no leitor um eficaz impacto visual.

A partir do olhar atento e sensível de uma criança, e com um equilíbrio bem tem-perado entre a narração e a ilustração, Afonso Cruz des-nuda/desmonta ludicamente e com argúcia e ironia juízos de valor e comportamentos sociais em que a contradição emerge como ingrediente central. Noutra linha, o au-tor apresenta também qua-

dros quotidianos, aparente-mente banais, mas sob um olhar inusitado, menos con-vencional, com uma atenção sensível que os dota de uma terna poeticidade: um casal de namorados aos beijos, uma mulher grávida… (que, em ambos os casos projec-tam uma única sombra).

Nesta contradição colecti-va chamada sociedade des-filam, na versão de Afonso Cruz, domadores que não têm medo de leões nem de outros animais grandes, mas que têm pavor de coisas mi-núsculas (porque, se calhar,

“são as pequenas coisas que fazem a diferença”); aman-tes de pássaros que, afinal, os prendem em gaiolas; vi-zinhas que põem um açu-careiro no café mas que são pessoas amargas; meninas de coxas firmes, mas que depois andam de elevador pois não aguentam uns lan-ces de escadas; curiosos que sabem tudo o que se passa no céu, mas que não fazem ideia do que se passa na ter-ra nem conhecem a língua que se fala nas suas casas; ou administradores de pré-dios que olham sempre para

o lado antes de atravessar a rua, excepto quando apare-ce um pobre (provavelmen-te porque nunca têm trocos – comenta ironicamente o narrador).

Não falta também, como que recuperando a visão baudelairiana do Spleen de Paris, uma prima que vive, literal e metaforicamente, numa ilha, isto apesar de es-tar sempre rodeada de (um mar de) gente; ou um “es-tranho” pianista que passa o dia tocando músicas tristes e isso fá-lo feliz.

Contraditório?

Entre as instituições ao serviço da memória das so-ciedades, os Museus, as Bi-bliotecas e os Arquivos re-presentam historicamente o lugar de cruzamento de patrimónios, registo e des-tino do ciclo documental, dos sistemas de informação e intercomunicação orgâni-ca das instituições, aos mais diversos níveis, permitindo a análise e a percepção dos processos de organização, das sociedades, ao longo dos tempos.

O Centro de Documentação e Arquivo Histórico (CDAH) é um serviço público integrado no Museu de Portimão, assu-mindo-se claramente como um centro organizador de recursos documentais e ar-quivísticos, tendo por missão tratar, salvaguardar e divulgar a informação historicamente produzida, de modo a per-mitir e facilitar a apreensão global e cronológica das te-máticas e realidades sociais, culturais, económicas e polí-ticas de Portimão e da região algarvia.

Com a abertura ao públi-co em Junho de 2008, nas no-vas instalações do Museu de

Portimão, ocupando o antigo “shead” industrial, entretanto recuperado para as suas no-vas funcionalidades, e local onde se situavam os cozedo-res e secadores de peixe, do antigo edifício da fábrica de conservas, o Centro de Do-cumentação e Arquivo His-tórico (CDAH) do Museu de Portimão, constituiu-se desde logo como um espaço privi-legiado para a consulta e a pesquisa públicas.

Os seus fundos incorpo-ram, para além do arqui-vo definitivo da Câmara Municipal de Portimão, a documentação de diversos arquivos pessoais e colec-tivos, ligados à indústria, comércio, construção naval e associativismo, entre ou-tros, directamente relacio-nados com a temática his-tórica, política, económica, social e cultural, local e re-gional.

Um outro objectivo do tra-balho do CDAH é o de con-tribuir para a compreensão e interpretação dos fundamen-tos, instrumentos e processos do trabalho documental e ar-quivístico, gerindo, de forma articulada, a sua relação com as funções e objectivos do Museu.

Esta faceta do CDAH repre-senta um importante papel enquanto pólo e estrutura de apoio ao trabalho de in-vestigação e de programação museológica da equipa técni-ca do Museu.

Esta natural complementa-ridade interdisciplinar é uma

constante, desde o início dos trabalhos preparatórios e pré-vios à instalação do Museu, tendo-se desenvolvido com particular incidência, ao lon-go do processo da constitui-ção da equipa técnica e mu-seológica, nos trabalhos de recolha, levantamento, classi-ficação, tratamento e inventá-rio de espólios, colecções, do-cumentação e arquivos entre museólogos, arqueólogos, historiadores, conservadores/restauradores, antropólogos, documentalistas e arquivistas.

Esta dinâmica operatória em muito facilitou a dese-jável complementaridade dessa tão necessária rela-ção entre o momento de recolha da peça e, simul-taneamente, em inúmeras situações, dos documentos e fundos arquivísticos a ela

associados, para a preser-vação futura do seu quadro máximo de informação, com reflexo positivo na formulação da história das

colecções, seus descritores e inventários.

Mas apesar da sua inclu-são no mesmo edifício do Museu e da natural inte-racção técnica e profissio-nal com a restante equipa do Museu, da qual é parte integrante, a missão espe-cifica dessa vertente arqui-vística, direccionada para públicos específicos, obri-gou a pensar e projectar o CDAH, como uma unidade espacial e funcional especí-fica, compreendendo salas de consulta pública, leitu-ra geral e pesquisa, serviço de reprodução e impressão, 16 pontos de acesso para pesquisa na base de dados informatizada (multibase), leitor de microformas, espa-ço internet e ligação Wi-Fi, gabinete de investigação, sala de higienização, regis-to, processamento, e área

de depósito para o arquivo histórico, documental, foto-gráfico e iconográfico.

Para além de uma ligação directa e interna ao Museu, um acesso independente e um ho-rário autónomo, em relação ao restante espaço museológico, esta opção veio a revelar-se de grande utilidade, ampliando a capacidade de atendimento aos seus utentes.

Realizada a catalogação/descrição em base de dados dos fundos documentais, a mesma é disponibilizada através de consulta digital, quer nos referidos 16 pontos de acesso informatizado das suas salas de leitura, quer através da consulta online em desenvolvimento no we-bsite do Museu e do Arquivo Distrital de Faro. Nestes três últimos anos (2011, 2012 e 2013), verificou-se uma fre-quência e atendimento a cerca de 6.000 utilizadores, os quais consultaram os di-versos fundos estruturados e distribuídos em quatro grandes áreas: Biblioteca Es-pecializada, Biblioteca João Tavares, Arquivo Histórico e Arquivo Iconográfico.

O CDAH posiciona-se, deste modo, neste duplo relacionamento interno e externo, como um autênti-co “CENTRO DE MEMÓRIA E INTERPRETAÇÃO DA COMU-NIDADE” e como um impor-tante factor para a percepção e reforço da matriz identitá-ria e evolução histórica da sua envolvente humana e territorial.

Sala de leitura do Centro de Documentação e Arquivo Histórico

Gisela GameiroTécnica Superior de ArquivoCDAH - Museu de Portimão

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Afonso Cruz, um mestre da contradição

Planta do barco Rio Odelouca

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13.06.2014 10 Cultura.Sul

“O MUNDO DAS BONECAS”Até 3 OUT | Antigos Paços do Concelho de LagosEm exposição uma colecção de família, onde podem ser apreciadas bonecas fabricadas em diferentes anos, como 1930, 1960 e, mais recentemente, 2014, feitas em papelão, porcelana, madeira, vinil, celulói-de, borracha e algumas pintadas à mãoAg

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“XII ENCONTRO DE ESCOLAS DE MÚSICA DO ALGARVE”14 JUN | 21.30 | Grande Auditório do TeatroMunicipal de PortimãoEncontro que se apresenta como uma possibilidade para ver e ouvir, ao vivo, alguns dos grandes talentos re-gionais, assim como uma oportunidade para descobrir diversos instrumentos, compositores e estilos de música

Junho

Pedro [email protected]

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

Júlio Resende

o pianista natural de Olhão cumpriu no au-ditório municipal da cidade, uma data especial da digressão de promoção do álbum ‘Amália’ (edições valentim de carvalho, 2013), onde in-terpreta ‘Medo’ acompanhado pela voz da fa-dista. Em entrevista ao webzine ‘Bóia da Canal’ (nº 3 - a sair brevemente em http://canalsonora.blogs.sapo.pt/77637.html), Resende confessou: «Claro que tive medo, mas a coragem não é a ausência de medo, é fazer a coisa que se acha acertada mesmo em presença do medo».

Nestes dias de CanículaO dia vem tão cedo, tão claro e quente. Es-

sas razões que o tornam difícil são as mesmas que o prantam grande e belo... nesta primavera boreal, para assumir o risco inconsiderado de viver a sul…

O brilho do horizonte atlântico, a bri-sa que desliza junto à costa, a clarida-de baça que se mantém a este até mais tarde, a temperatura que sobe e aque-ce os ambientes interiores e exteriores…  O crescendo destes fins de tarde faz acreditar que a vida, esta, é sempre melhor nos dias maio-res. Da varanda atento o mar a tomar-se de um

azul mediterrânico… Potássio, fósforo, cálcio, vitamina e, comple-

xo b - num prato de figos frescos que faz o meu dia... e assim se prometem novos mundos no mesmo mundo de sempre…

‘Livro: passado, presentee futuro’

A biblioteca Álvaro de Campos em Tavira re-cebe este mês mais três palestras com a marca de qualidade do CIAC - Centro de Investiga-ção em Artes e Comunicação. A 6, Isa Mestre apresentou ‘Literatura 2.0 - do texto impresso à hipermédia’. 20 de Junho trará Sandra Boto, que falará sobre ‘Literatura e edição digital: que revolução?’. Pedro Ferré fechará o ciclo com o tema ‘Entre a cópia e a edição: alguns proble-mas do livro’.

‘Tamanqueiro’Quem negoceia com peixe mais cedo ou mais

tarde vem parar a Olhão. Raul ‘Tamanqueiro’  Figueiredo (22.01.1903 - 3.12.1941) juntou o útil ao agradável e representou o Sporting C. Olhanense - campeão de Portugal na memorá-vel época de 1923/24. Na final de 8 junho que venceu por 4-2 ao F.C.Porto, marcou de grande penalidade aos 40 min., na 1ªcompetição or-ganizada pela F.P.F, no Campo Grande, onde o presidente algarvio Teixeira Gomes destacou a sua forma de jogar «juvenilmente obstinada, na sua ubiquidade inverosímil, caindo, erguendo--se, pulando com a elasticidade de uma péla, ou como se a terra lhe servisse de trampolim, sem deixar nunca de sorrir.» De seguida foi chamado a representar a selecção nacional, e logo alicia-do a ingressar no Benfica.

Gira ao sol

Os girassóis estão sempre virados para o mar, porque é daí que o sol nasce, se ergue por cima dele, e se volta a pôr no mar sempre a pontos cardiais escritos de sul. Dobram-se sobretudo para a esquerda de quem olha para a faixa cos-teira, porque os ventos predominantes de sudo-este para aí os empurram. Os girassóis de aqui são mais amarelos devido à sua prolongada exposição à força positiva do sol. Decoraram a costa sul de alegria, orgulho e amizade.

Faro se animaA 7 de Junho aconteceu mais um Bivar, que

nesta 4ª edição continuou a promover a arte, o design e a cultura na baixa da cidade.

Apresentação do cd ‘Por Aí’ dos Vá-de-Viró, no renovado bar do Pátio das Letras, a 13 de Junho. Paulo Cunha referiu-nos a propósito des-te regresso, que este: «Tem sido um colectivo onde tocar em conjunto “apenas” pelo prazer que isso lhes traz, conseguiu dar sentido à sua existência, independentemente de todas as «cri-ses» que - involuntariamente - os têm afastado do contacto com o público!»

Entretanto a associação Arquente, regressa aos seus concertos ao pôr-do-sol com nomes emergentes da música portuguesa, tendo já como os Stereoboy, num programa que traz este mês Galadrop e o guitarrista Filho da Mãe.

Casa Álvaro de Campos – Tavira

Traz um fim de semana de Stº António bem preenchido. A não perder dia 13 - ‘Contos e Cantos do Fado’, por José Alberto Lopes da Silva, com ilustração musical dos guitarristas Orlando Almeida e Pedro Antunes.

No sábado, 14, pelas 18h decorrerá uma pa-lestra ‘À Volta de Gil Vicente’.

Inaugura pelas 18h de 15 de Junho a galeria da sua sede, com a exposição de pintura ‘Som-bras de Verão’, de Isabel Botelho. Tudo com entrada livre.

Postais da Costa Sul~ não me lembro se o dia primeiro era da

criança. mas também o que é que isso podia interessar enquanto tal. junho era o mês em que acabavam as aulas e começavam as férias grandes de verão, os dias longos das idas para as ilhas. a rua da minha avó enfeitava-se para os dias e noites dos santos populares. só sei que vivia num mundo muito próprio. sonhava acor-dado. e não podia ser outra coisa que um ser assim livre. podia até ter um ar perdido, mas por dentro não podia ser mais feliz.

fotos: d.r.

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13.06.2014  11Cultura.Sul

Mal Nascer, de Carlos CampaniçoDa minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“LIBERDADE, IGUALDADE E FRATERNIDADE”Até 14 de JUN | Centro Cultural de LagosExposição de cartoons, onde o humor é uma arma poderosa contra as consciências cúmplices. A luci-dez contra obnubilação. A arte contra a tragédia. O esplendor do riso contra a pompa da ganânciaAg

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“O AMOR DOS OUTROS”14 JUN | 21.30 | Auditório Municipal de OlhãoO grupo de teatro olhanense ‘A Gorda’ aborda, atra-vés da apresentação desta peça, a complexidade de certos temas, como o afecto, o sexo, a identidade se-xual e como transmitimos essa postura e forma de viver com e nos outros

Carlos Campaniço lançou em maio um novo romance (que foi finalista do Prémio Leya 2013), demonstrando vita-lidade e vontade de prosseguir esta sua já premiada carreira de escritor.

Tal como nas obras anterio-res – provavelmente por gosto e formação do autor, dado que a história é a sua especialidade –, também este é um romance de época, desta vez passado no início do século XIX: a narrati-va acompanha Santiago, um jo-vem médico, partidário de D. Pedro, que se refugia, duran-te as Guerras Liberais (1828-1834), numa vila longe de Lisboa, uma vila que é a terra que o viu (mal) nascer: «Olho a praça com um vagar que é ain-da de saudade. Estes recantos e travessas, ruas e largos, con-tinuam a ser os meus passos. (…) é aqui na vila que ouço o tambor do meu coração» (pp. 17-18). Naturalmente, ficamos com curiosidade para saber por que razão de lá saiu e por que se inibe em se fazer reconhecer diretamente pelos seus conter-râneos (apesar de não se escon-der – sai da casa, expondo-se à vista de todos –, também não se identifica). Mas o motivo só nos é revelado no final. Até lá, vamos acompanhando, em capítulos intercalados, uns lar-gos meses da vida de Santiago adulto e uns anos da de Santia-go menino, de forma a ir cons-truindo, paulatinamente, a sua história.

Santiago não é propriamente um herói, um homem de altos padrões morais e de elevada consciência social, que luta e assume a consequência dos seus princípios e crenças. Não. Em Lisboa, Santiago teme pela vida e foge dos miguelistas;

na vila, receia assumir quem é («Temo a reacção de Albano e de dona Odélia», p. 16;) e as consequências de ser acusado de herege («Fico aterrado com esta postura súbita do verea-dor», p. 53); no amor, enreda--se com duas mulheres casadas e não tem coragem quer para cortar com uma que o perse-gue, quer para declarar a outra que a ama; e aceita fazer a corte a uma terceira, que não é tida nem achada nestas demandas.

Porém, todas estas fragili-dades fazem-no parecer mais humano. Ao mostrar a infância sofrida de Santiago, durante a qual foi maltratado, exilado e até, pode-se afirmar, seques-trado, Carlos Campaniço con-segue fazer-nos simpatizar e empatizar com as suas fraque-zas de adulto e até admirar a compaixão que ainda tem dentro de si, depois de tudo o que se passou (as lágrimas che-gam-lhe facilmente aos olhos, quando perante a miséria hu-mana e a doença).

Pobreza, fome e doença

A miséria é uma dura reali-dade que não muda de época para época: em criança, San-tiago sabe o que é a fome, por experiência própria, mas vive-a

(vivem-na todos) com a digni-dade possível («Ela olha-me e não tem coragem de me dizer que não tem comida para mim e finge não saber que eu nada comi. Também eu tenho vergo-nha de dizer que tenho fome

e esta noite dormirei de bucho vazio», p. 181); em adulto, lida, compassivamente, com a po-breza do povo («Ela agarra-me as mãos e chora uma confissão que me arrepia, aclarando que não comem quase nada há três dias. Chora-me as mãos e faz-me entupir os olhos de lá-grimas», p. 19). Aliás, o povo é apresentado, na generalidade, como gente boa e trabalhado-ra. As poucas exceções são ho-mens e nunca as mulheres: são os maridos que se embebedam e batem nas companheiras.

A esta admiração pelo povo contrapõe-se a crítica aos se-nhores, que desprezam os po-bres que exploram e tiranizam, que tratam pior que os animais,

para quem a vida de um mise-rável não tem valor, quando comparada com a sua. Mas a morte e a doença não escolhem pelo nome de família nem po-sição social, e estas, apenas es-tas, conseguem vergar alguma arrogância. E enquanto entre os mais poderosos há intriga e jogos de interesse, entre o povo há solidariedade e entreajuda.

Passado presente, Igreja e poder

O narrador é o próprio Santia-go, que conta a sua história, ou melhor, as suas histórias, usando sempre o presente do indicativo, conseguindo um maior efeito dramático e levando o leitor a

presenciar os acontecimentos com muito mais intensidade:

«Deito-me em cima da cama e sinto uma paz que é de sono. Começa-me a anoitecer os olhos, lembrando-me o quanto cismei voltar a dormir na terra que é a minha.

Agora é manhã clara, lava-da por uma luz recente, que me deixa acordado logo cedo» (p.17).

O uso do presente do indi-cativo permite outras interpre-tações: o passado está presen-te no presente de Santiago. E persegue-o, enquanto não for resolvido.

Uma das consequências da infância que teve foi levá-lo a recusar entrar numa igreja e a frequentar a missa (tendo fei-to, por esse motivo, importan-tes inimigos). Assim, quando partiu da vila, da primeira vez (quando ainda pré-adolescen-te), disse: «A única coisa que penso, ao ver a luz da última cal, é que deus se esqueceu de ter sido o obreiro desta vila, porque nunca a visitou» (p. 183). Assim mesmo, «deus» com minúscula, num claro si-nal da pequenez que atribui à divindade cristã, por metoní-mia com os seus representan-tes na terra, que, paradoxal-mente, servem e dominam o poder político e judicial.

Quando a mãe morre, ví-tima de violência doméstica, Santiago olha «nossa senhora da piedade, como se olha a uma pessoa a quem deixare-mos de falar por ressentimen-to. A sua tranquilidade de santa agasta-me, mais o seu distanciamento imóvel para com a nossa dor. […] Terão os santos os corações de pedra ou de madeira, como as suas estátuas? Não me comovem as feições de compaixão que lhe lavraram no rosto, pois quem presencia a morte de uma mu-lher inocente e não a protege é cúmplice também» (p. 180).

Fiquei a pensar: no nosso quotidiano, quantas vezes so-mos cúmplices de tantas injus-tiças e nada fazemos, como os santos, de rosto compassivo e coração de pedra?

“Mal Nascer” é a obra mais recente do escritor

d.r.

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13.06.2014 12 Cultura.Sul

Teve lugar no dia 10 de ju-nho, no Auditório da Fortaleza de Sagres, a 7.ª edição do con-curso de leitura expressiva LER COM…, uma organização da Direção Regional de Cultura do Algarve, em parceria com a Direção de Serviços da Re-gião Algarve da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares, com o patrocínio da FNAC Al-garve Shopping e com os apoios do Plano Nacional de Leitura, da Câmara Municipal de Vila do Bispo e dos Agru-pamentos de Escolas do Ensi-no Básico dos municípios das Terras do Infante.

O concurso iniciado em 2007, conta agora com oito edições. Esta foi a fórmula en-contrada em parceria regional da Cultura e da Educação para fomentar o gosto pela leitura entre os mais jovens e determi-na como objectivos principais promover, estimular o interesse pela leitura e conhecimento de obras e autores de língua por-tuguesa, premiar a excelência da leitura expressiva, contribuir para o Plano Nacional de Leitu-ra e comemorar o Dia de Portu-gal, de Camões e das Comuni-dades Portuguesas, estreitando as relações de proximidade das comunidades escolares com a Fortaleza de Sagres, monumen-to emblemático nas relações de

Portugal com o Mundo.Ler é compreender o mun-

do que nos rodeia. A leitura é um exercício de cidadania, é um instrumento fundamental do desenvolvimento humano. Nem sempre é tarefa fácil mo-tivar as crianças para a leitura, sobretudo num mundo onde hoje o estímulo é sobretudo visual. Os tempos livres estão repletos de outras propostas.

Para a empatia e envolvi-mento das comunidades es-colares têm contribuído o trabalho de proximidade de-senvolvido com as escolas na sua preparação e a orgânica simples do concurso. A final, que tem sempre lugar na For-taleza de Sagres, consiste na leitura de textos surpresa, sele-cionados de obras de autores lusófonos indicados pelo Plano Nacional de Leitura para leitura autónoma, iguais para todas as crianças. As prestações dos alu-nos são avaliadas por um júri que integra um representante da Direção Regional de Cultura do Algarve, um representante da Direção de Serviços da Re-gião Algarve da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares e um professor ou personalidade reconhecida pelo seu trabalho em prol da língua portuguesa.

Outro fator de sucesso têm sido os prémios atribuídos aos

três primeiros classificados, que não visam apenas premiar o mérito mas também propor-cionar às crianças a dotação de equipamento atualmente in-dispensável para a continuação da sua formação educativa: um tablet, uma máquina fotográfi-ca digital e um conjunto de li-vros. Todos os participantes na final receberam livros, oferta do Plano Nacional de Leitura. Mas tem sido o apoio das dife-rentes entidades e empresas e o empenho de professores, en-carregados de educação e alu-nos as principais garantias de continuidade deste concurso, que é já hoje uma referência no panorama cultural e educativo das Terras do Infante.

Carlos Drummond de An-drade dizia-nos: “A leitura é uma fonte inesgotável de pra-zer, mas por incrível que pa-reça, a quase totalidade, não sente esta sede”. Este projec-to tem procurado contribuir para contrariar esta evidência e este dia 10 de junho de 2014 voltou a demonstrar que vale a pena ouvir e assistir à rique-za e à beleza da nossa língua portuguesa, lida e interpretada na voz de crianças do 4º ano, em Sagres.

Direção Regional

de Cultura do Algarve

Leitura expressiva, aproximar as crianças ao património literário

d.r.

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Concurso visa fomentar o gosto pela leitura entre os mais jovens