CULTURA.SUL 75 - 28 NOV 2014

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www.issuu.com/postaldoalgarve 8.595 EXEMPLARES FNAC abre portas em Faro p. 5 Guardar e mostrar a imagem p. 6 Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO NOVEMBRO 2014 n.º 75 D.R. D.R. D.R. Grande ecrã: A programação dos cineclubes p. 3 Da minha biblioteca: A Ilíada de Homero adaptada D.R. p. 11 D.R. Panorâmica: Espaço ALFA: A importância do título numa obra p. 13 Lado B: programação cultural em rede p. 8 Rita Redshoes: D.R.

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• Veja o CULTURA.SUL DESTE MÊS• Sexta-feira (dia 28/11) nas bancas com o PÚBLICO e o POSTAL • Partilhe o seu caderno mensal de Cultura no Algarve • EM DESTAQUE: > PANORÂMICA: FNAC abre portas em Faro, por Ricardo Claro > ESPAÇO CRIA: Simplicidade nos negócios, por Ana lúcia Cruz > GRANDE ECRÃ: A programação do cineclube de Faro > ESPAÇO AGECAL: Olarias no Algarve, ontem e hoje, por Catarina Oliveira < LETRAS e LEITURAS: Arte redentora, Donna Tartt, por Paulo Serra > MOMENTO: Retrato de uma fotógrafa em acção, por Ana Omolete > O(s) SENTIDO(s) DA VIDA A 37º N: Novembro, por Pedro Jubilot > SALA DE LEITURA: Lado B: programação cultural em rede, por Paulo Pires

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www.issuu.com/postaldoalgarve8.595 EXEMPLARES

FNAC abre portas em Faro

p. 5

Guardar e mostrar a imagem

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Mensalmente com o POSTAL

em conjuntocom o PÚBLICO

NOVEMBRO2014n.º 75

d.r.

d.r.

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Grande ecrã:

A programação dos cineclubes

p. 3

Da minha biblioteca:

A Ilíada de Homero adaptada

d.r.

p. 11

d.r.

Panorâmica:

Espaço ALFA:

A importância do título numa obra p. 13

Lado B: programação cultural em rede p. 8

Rita Redshoes:

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Cultura.Sul  2 28.11.2014

As oportunidades não se de-vem desperdiçar ou tirem o me-lhor do que o mundo vos oferece são sempre lemas que importa ter presentes.

Simples e claros são um facto, mas não se realizam por gera-ção espontânea, antes exigem presença de espírito, esforço e, sobremaneira, visão.

A abertura da nova loja FNAC do Forum Algarve, em Faro, constitui um mar de oportunida-des sob todos os pontos de vista.

Antes de mais a disponibiliza-ção ao sotavento algarvio de um meio rápido, capaz e eficiente de acesso a produtos culturais e mais do que isso a obras mais técnicas capazes de permitir enri-quecer a forma como se trabalha nos domínios técnicos tendo à mão um fornecedor ágil, uma verdadeira porta para o mundo.

No campo cultural o realce vai para a programação do Fórum FNAC, um novo espaço cultural para a cidade e para a região, mas que acima de tudo permite ao público estar perto de muitos nomes que doutra forma não vi-riam à região.

São estes mesmos nomes, figu-ras de relevo do panorama cultu-ral, que podem e devem consti-tuir um nicho de oferta cultural transversal ao Algarve.

Bem aproveitadas as desloca-ções à região destes artistas, mais do que surgirem na FNAC para um público reduzido por ine-rência das circunstâncias, cabe aos programadores culturais saberem aproveitar este esforço de uma empresa privada, meri-tório, e compreensível no âmbi-to da respectiva actividade, para trazerem ao grande público al-garvio, em espaços com maiores potencialidades, a arte e a cultura do país.

O Cineclube de Faro já avan-çou e conquistou espaço na FNAC, resta aos restantes segui-rem as pegadas e à sua medida encetarem parcerias que decer-to farão do Algarve uma região mais rica culturalmente e com outro acesso à Cultura.

Não há que pensar muito, an-tes importa agir.

Oportunidades não se devem desperdiçar

Ficha Técnica:

Direcção:GORDAAssociação Sócio-CulturalEditor:Ricardo ClaroPaginação:Postal do Algarve

Responsáveis pelas secções:• O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N:

Pedro Jubilot• Espaço ALFA:

Raúl Grade Coelho• Espaço AGECAL:

Jorge Queiroz• Espaço CRIA:

Hugo Barros• Espaço Educação:

Direcção Regionalde Educação do Algarve

• Espaço Cultura:Direcção Regionalde Cultura do Algarve

• Artes Visuais:Saul Neves de Jesus

• Grande ecrã:Cineclube de FaroCineclube de Tavira

• Juventude, artes e ideias: Jady Batista• Da minha biblioteca:

Adriana Nogueira• Letras e Leituras:

Paulo Serra• Momento:

Ana Omolete• Panorâmica:

Ricardo Claro• Património:

Isabel Soares• Sala de leitura:

Paulo Pires• Um olhar sobre o património: Alexandre Ferreira

Colaboradoresdesta edição:Ana Lúcia CruzCatarina OliveiraPatrícia Santos Batista

Parceiros:Direcção Regional de Cul-tura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

e-mail redacção:[email protected] publicidade:[email protected] em: www.issuu.com/postaldoalgarve

Tiragem:8.595 exemplares

Simplicidade nos negócios

“As coisas simples são indis-solúveis. Não havendo nelas contradição, a tendência é para serem duráveis.” Agustina Bessa--Luís. Esta simplicidade aplica-se a todos os campos da nossa vida, mas é no campo profissional, mais propriamente no mundo dos negócios, onde poderão surgir maiores frutos quando implementada. Nos dias que correm, criar e desenvolver uma empresa é um verdadeiro de-safio. A concorrência é feroz e o mercado extremamente exi-gente e aparentemente já tudo foi inventado e/ou reinventado. No entanto, normalmente são os produtos ou serviços que se apre-sentam como soluções simples e user-friendly que tem mais suces-so junto dos consumidores.

O mais irónico é que, apesar da simplicidade das soluções apresentadas, muitas vezes o ca-minho para lá chegar é comple-xo. No entanto, até este recorren-do às ferramentas apropriadas, pode ser simplificado. Por outras

palavras, depende de nós simpli-ficarmos ou descomplicarmos o que aparentemente parece com-plexo. Por exemplo, quando es-tamos a construir o nosso Plano de Negócios devemos simplificar ao máximo a nossa estratégia.

Quanto mais complexa esta

for, mais dispersas se tornam as nossas ações durante a im-plementação da mesma. Não vale a pena querer fazer muita

coisa ao mesmo tempo, se não tivermos recursos para tal ou se houver um único elemento na equipa (é assim que muitas em-presas começam: uma ou duas pessoas a trabalhar para alcan-çar um objetivo comum). Pensar “em grande” numa fase inicial,

pode resultar em objetivos não alcançados pois tal pode origi-nar alguma dispersão. Assim, no início (se não sempre), é

preferível apostar mais na qua-lidade do que na quantidade, visto esta ter mais hipóteses de causar impacto. E isto apenas é possível se simplificarmos ao máximo as nossas ações. Um dos casos onde a necessidade de simplificar torna-se eviden-te é na abordagem ao mercado, ou seja, depois de definirmos o nosso produto/serviço (por ve-zes muitos empreendedores querem promover vários servi-ços e produtos ao mesmo tem-po, o que pode resultar num processo complexo, dispendio-so e inútil, especialmente se lhes faltar experiência), há que defi-nir o público-alvo e focarmos as nossas ações no mesmo.

De uma forma muito resumi-da, a simplicidade pode refletir--se essencialmente nas seguintes vantagens: a) definição de obje-tivos e ações mais claros; b) ob-tenção de melhores resultados a longo prazo; c) adaptação ou antecipação às mais variadas cir-cunstancias; d) diminuição dos custos e tempo; e) maior impac-to sobre o público-alvo.

No entanto, não podemos confundir simplicidade com facilidade. A simplicidade dá muito trabalho, mas como per-cebemos pela citação de Agus-tina Bessa-Luís, torna as “coi-sas” indissolúveis e duráveis no tempo.

E isso, na minha opinião, é sempre bom para qualquer negócio.

d.r.

Ricardo [email protected]

Editorial Espaço CRIA

Ana Lúcia CruzGestora de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreende-dorismo e Transferênciade Tecnologia da UAlg

Revolução

Anda meio mundo a ten-tar enganar meio mundo, meio mundo à procura do que o outro meio mundo não tem, meio mundo a achar que é melhor que meio mundo. Quando não passa-mos de meras formiguinhas desprezáveis que destroem o seu habitat, iguais às formi-guinhas desprezáveis do ou-tro meio mundo. Enquanto a sociedade andar de olhos

fechados e boca bem aber-ta a proclamar aquilo que diz que viu com a venda a tampar os órgãos de visão, continuaremos a progredir sabe-se a força superior para onde.

Meu caro Homo sapiens, dizem que tu és a especie que pensa, mas o macaco do teu pai conseguiu por vezes pensar mais do que tu.

É completamente inadmis-sível que neste século que tem tudo e mais um pouco para realmente pensares, de-vido à aprendizagem que os verdadeiros Homos sapiens nos deixaram, que tu abras a tua maldita boca para pro-clamares o inverídico. Afinal, tu consegues utilizar o tico

e o teco ao mesmo tempo? Tu lá tens autoconsciência? Aquela consciência auto-re-flexiva? Ou viverás a continu-ar a ser benemérito e a fazer a reflecção do teu próximo porque coitado ele não sabe auto-refletir.

Enfim... Falam muito mas pouco dizem...

Quero agradecer a todos os nossos colaboradores, a todos que por cá passaram e deixa-ram o seu contributo para que em dias de trevas possa-mos ver que cá se faz, quero agradecer a todos os que de-positaram confiança e tempo para que o jornal J tenha che-gado aos dois anos e para que possam vir mais. Quero agra-decer a esta juventude que

pelo amor de nós mesmos, somos a evolução, a revolu-ção, o futuro, e que o futuro seja honesto!

“Se queres paz, te prepara para a guerra. Se não queres nada, descansa em paz...”

d.r

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Juventude, artes e ideias

Jady Batista

d.r.

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28.11.2014  3Cultura.Sul

Espaço AGECAL

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“Água fresca dá-a o jarro, não de prata mas de barro”

O Algarve integra, nas palavras de Or-lando Ribeiro, a chamada “civilização do barro”, com forte expressão na produ-ção e utilização de materiais cerâmicos na construção e em antigas tradições oleiras, ambas relacionadas com a abun-dância de terrenos ricos em argilas, mas certamente também com a acumulação de saberes milenares que resultam da integração do território algarvio numa rede de comunicações comerciais e culturais já existente no Mediterrâneo antigo.

Cântaros, talhas, panelas, alguidares foram produzidos e usados durante séculos. Remetem para um profundo conhecimento do território abundante em barros, das técnicas ligadas à sua ex-tracção e transformação. Falam-nos de saberes transmitidos de pais para filhos.

Mas dizem-nos também do quotidiano das populações. Sempre presentes, res-pondendo a necessidades colectivas, as vasilhas de barro serviam para ir à água, para conservar e preparar alimentos, usar à mesa e comer…

Remontam à Idade Média e Moderna as primeiras referências a olarias e olei-ros. Encontramo-las, para o Algarve res-to do país, nas cartas de foral, também em escrituras ou diplomas de contracto, posturas, taxas, regimentos de oleiros, entre os séculos XII a XVIII. Como se depreende da documentação de épo-ca medieval e moderna, a olaria era então uma arte necessária à sociedade e o oleiro um mester reconhecido, por produzir peças necessárias ao uso diário das populações, de onde decorrem na centúria de quinhentos preocupações em taxar a louça, normalizar e fiscalizar a actividade.

Na importante obra de Charles Le-pierre “Estudo Chimico e Technologico sobre a Cerâmica Portuguesa Moder-na”, publicada em 1899, encontramos referências valiosas para o estudo da produção oleira no Algarve. “No Algar-ve fabrica-se louça por toda a parte onde existe argilla, o que se explica pelo afasta-mento relativo desta província. Os centros mais importantes são Tavira, Santa Rita, Cacella, Moncarapacho, Santa Catharina, Olhão, Lagos, Lagoa, etc. (…) Loulé é o cen-

tro mais importante para a louça comum: existem ahi umas 25 pequenas oficinas, chegando algumas a ter bastante consumo (…) a louça de Loulé é a mais apurada do Algarve (…). As formas das louças, ainda que elementares, não deixam de ter algu-ma elegância; podem-se citar os cântaros, muito altos, de duas azas, de bôca estreita e esguios”. Estes antigos centros oleiros distinguiam-se pela qualidade das ar-gilas dos barreiros próximos (umas me-lhores para a loiça de água, outras para a de fogo) e pela perícia na execução de determinadas formas, como os cântaros, as infusas, tão necessários para o trans-porte de água ou os alcatruzes para a pesca do polvo.

No Algarve, durante o séc. XX, até aos anos 60, a produção cerâmica manteve forte expressão local. Era nas feiras, que

os camponeses vinham abastecer-se do que necessitariam ao longo dos meses seguintes. E compravam carradas de loiça de barro: panelas, caldeirões, plen-ganas (para as caldeiradas), penicos, bi-lhas, tachos, jarros, mealheiros, cabocas, cocos (para os homens levarem a comi-da para o trabalho) e até brinquedos. – recordava Fernando Rodrigues, o ultimo oleiro de Lagoa.

Dos centros oleiros mais relevantes no Algarve referidos nas fontes histó-ricas, monografias e estudos etnográ-ficos – Lagoa, Porches, Loulé, Olhão, Moncarapacho, Martinlongo – poucos resistiram até hoje. A melhoria das con-dições de vida das populações urbanas, e mesmo rurais, permitiu que a utensi-lagem doméstica de barro fosse sendo abandonada ou substituída por mate-

riais como a folha-de-flandres, o alumí-nio ou o plástico. Relevante também, a alteração que se verificou da estrutura familiar no que toca às relações entre marido e mulher e entre pais e filhos. Pese embora tentativas de adaptação por parte dos oleiros, ao nível das técni-cas, utensílios e formas, a grande parte das olarias extinguiu-se na região entre as décadas de 60 a 70.

Hoje, nas olarias que subsistem, os fornos a lenha desapareceram e foram substituídos por fornos a gás ou eléctri-cos, as rodas deixaram de ser movidas a pedal e, na maior parte das vezes, o barro comprado noutras zonas do país, chega já pronto a ser trabalhado na roda. A venda deixou também de ser feita nos mercados e feiras locais ou por vendedores ambulantes, faz-se ago-ra no local de produção ou em feiras de artesanato. Os objectos ganharam novos usos e alteraram-se as motiva-ções de quem os compra. No Algarve, apenas em Moncarapacho e Porches, encontramos genuínas produções lo-cais ainda em actividade e com origem em centros oleiros com longa tradição e história na região, pese embora, mes-mo nestas, já não se usarem os bons barros da região.

Subsiste porém na região, uma pro-dução cerâmica que se dinamiza e re-nova, ligando tradição e inovação.

Grande ecrã

Cineclube de Faro inaugura parceria com a FNAC

A agenda do Cineclube de Faro já vai longa nesta temporada, e mais uma vez, é feita de excelen-tes e essenciais filmes entre os es-treados em Portugal. Entre as acti-vidades do Filme Francês do Mês, o Shortcutz Xpress, o regresso do Dia Mais Curto e uma parceria com a recém-inaugurada FNAC, o Cine-clube de Faro apresenta até ao fi-nal do ano uma actividade imensa e imperdível.

A programação regular das Ter-ças-feiras no auditório do IPDJ, traz a Faro o regresso de Vítor Gonçal-ves com A Vida Invisível, a mais re-cente estreia do Iraniano Bahman Ghobadi, A Temporada do Rinoce-ronte, ou Mathieu Amalric com O Quarto Azul. Por outro lado, o que dizer da estreia da reposição do filme de Eduardo Coutinho, Cabra Marcado para Morrer, objecto único do Cinema e da História contem-porânea do Brasil. E ainda a par-ceria com a FNAC que trará dois belíssimos documentários, Bab

Sebta (A Porta de Ceuta) sobre os movimentos migratórios do Norte de África para a Europa e ainda o regresso de Raquel Freire, com Dre-amocracy, oportunidade para co-nhecer e debater a urgência e pre-mência dos “novos” movimentos

sociais, que um pouco por todo o mundo se batem pela valorização, dignidade e respeito pela condição humana.

O ano encerra com curtas-me-tragens, o Dia Mais Curto conhece a sua 2ª edição em Portugal e a 20

de dezembro, n’Os Artistas, apre-sentamos um programa recheado de curtas-metragens e boa dispo-sição. Com o aproximar do Natal, convido-vos a ofertar Cinema: fil-mes, posters, livros, etc, vejam no blog do CCF. Bom Cinema!

d.r.

Cineclube de Faro Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

IPDJ | 21.30 HORAS

2 DEZ | A Vida Invisível, Vítor Gonçalves, Pt, 2013, M143 DEZ | Cabra Marcado para Morrer,Eduardo Coutinho, Bra, 1985,9 DEZ | A Temporada do Rinoceronte, Bahman Ghobadi, Irão, 2012, M1416 DEZ | O Quarto Azul, Mathieu Amalric, Fra, 2014, M16

FNAC13 DEZ | 15 horas | Bab Sebta, PedroPinho, Frederico Lobo, Pt, 200817 DEZ | 21 horas | Dreamocracy, Raquel Freire, Pt, 2014

OS ARTISTAS20 DEZ | 22 horas | O Dia Mais Curto

FILME FRANCÊS DO MÊS, BIBLIOTECA MUNICIPAL DE FARO:28 NOV | Huit Fois Debout, Xabi Molia

Olarias no Algarve, ontem e hoje

Catarina OliveiraArqueólogaSócia da AGECAL

d.r.

Aguada, Faro

Dreamocracy é um dos filmes que serão apresentados na FNAC em Faro

d.r.

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 4 Cultura.Sul

Um olhar sobre o património

Património Criativo

Quando pensamos em Pa-trimónio Cultural estamos inevitavelmente a falar de passado. Contudo, este pas-sado não pode ficar isolado como que numa cápsula do tempo, sob pena de se tornar obsoleto e irrelevante. Deverá sim, ser “olhado” com os olhos do presente preparando o fu-turo. E este futuro não se deve cingir ao do bem em si mes-mo, mas deverá ser alargado à comunidade onde o bem está inserido.

Neste mundo global em que vivemos são as especifi-cidades de cada comunidade ou território que as permitem diferenciar de todas as demais. Esta diferenciação tem de co-meçar por ser assumida pe-las próprias comunidades, as quais devem encarar as suas particularidades não como fraquezas, mas sim como mais valias culturais e inclusi-vamente económicas, através da requalificação e dinamiza-ção do seu património, através de um efectivo aproveitamen-to de equipamentos culturais relevantes e através de projec-tos que façam a ligação entre a cultura e a educação e que ao mesmo tempo promovam a criatividade, delineando novos modelos de actividades que se destaquem pelo seu carácter inovador, novas formas de utilização dos espaços, novos “olhares” sobre o património.

O Património Cultural quando devidamente valoriza-do pela sua qualidade, singu-laridade, identidade histórica, permite que em seu torno se ramifiquem diversos serviços complementares, sejam eles circuitos temáticos, de infor-mação histórica, animação ar-tística, produção de conteúdos culturais, etc, da mesma forma

que contribui para a dinami-zação da economia da comu-nidade onde está inserido.

Projectos de intervenção na área da Cultura, em geral, e no Património, em particu-lar, devem ir de encontro às raízes das comunidades onde estão inseridos, envolvendo os agentes locais, promo-vendo consensos comunitá-rios, por forma a reforçar o sentimento de pertença ao mesmo tempo que gera massa crítica. Estes projec-tos podem assim funcionar como catalisadores da quali-ficação e capacitação das po-pulações, do incremento de equidade nas oportunidades criadas e no seu acesso, con-tribuindo de sobremaneira para a coesão económica e social da comunidade onde são desenvolvidos.

A aplicação das novas tec-nologias de informação ao Património Cultural revela-se fundamental na sua preserva-ção, valorização e divulgação,

uma vez que permitem não só registar cientificamente toda a informação pertinente relativa ao bem, mas também possi-bilitam a disseminação des-ta informação à sociedade global, aumentando assim a notoriedade do Patrimó-nio, fomentando a captação, formação e desenvolvimen-to de novos públicos onde os conceitos de “inclusão cul-turar e digital”, “marketing alargado”, “cultivo e diver-sificação cultural”, educação de públicos” se constituam como premissas de actuação.

Se, como vimos, o Patri-mónio Cultural constitui-se como fonte de identidade e coesão e contribuindo a Criatividade para a cons-trução de sociedades aber-tas, plurais e inclusivas; ao unirmos estes dois recursos, qualquer um deles acessível, estaremos a lançar bases para uma sociedade próspe-ra de conhecimento, vibran-te e inovadora.

As novas tecnologias são fundamentais para uma nova forma de abordagem ao património

d.r.

Alexandre FerreiraLicenciado em PatrimónioCultural pela UAlg

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“FOTOGRAFIA DE EDUARDO GAGEIRO”Até 13 DEZ | Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen - LouléExposição sobre o livro ‘Silêncios’. De realçar a cumplicidade magnífica das fotografias com os textos da escritora Lídia Jorge, dotados da quali-dade a que já nos habituouAg

endar

28.11.2014 4

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28.11.2014  5Cultura.Sul

“CLÁSSICA NA SANTA CASA”28 NOV | 19.00 | Santa Casa da Misericórdia de FaroA música de câmara será apresentada pela Orquestra Clássica do Sul sob temas como “Serenatas, Elegias e Sin-fonias”, “Mozart e os franceses” ou “Quintetos de sopros do Séc. XX”, entre outrosAg

endar

Panorâmica

Porque a vida se faz de ex-periências únicas e exilada da cultura é uma viagem sombria, o acesso ao universo cultural é uma necessidade premente e inadiável.

A resposta a esta necessida-de podemos encontrá-la de diversas formas e por diversos meios, mas são raras as opor-tunidades de encontrarmos num mesmo espaço uma pa-nóplia quase ilimitada de ofer-ta cultural.

É exactamente aqui que se enquadra o espaço FNAC, um verdadeiro espaço vital, onde a experiência do universo cultural se quer única e singular.

O espaço FNAC marca pela diferença. Uma diferença que se faz não só pela variedade da oferta, que percorre os livros, a música e os filmes, passando pe-los jogos, jornais e revistas, e se estende às tecnologias, aos gad-gets e à inovação, mas acima de tudo por um leque de serviços que aposta tudo em criar para cada visitante uma resposta ade-quada e uma experiência direc-ta com o objecto cultural.

Uma relação única com a cultura

Na FNAC cada visitante pode folhear o livro, ouvir o cd, expe-rimentar a consola, e conhecer a tecnologia directamente, des-mistificando a ideia de distância face ao que em cada momento se quer conhecer e levar para casa.

Aliada a esta experiência direc-ta, cada visitante do espaço FNAC tem à sua disposição uma equi-pa treinada a pensar no melhor padrão de assistência possível, constituída por colaboradores capazes de o ajudar em todos os momentos num serviço assente na formação e profundo conhe-cimento de cada área cultural.

O domínio de cada área do universo FNAC pela equipa que o espera transforma a procu-ra de uma resposta para uma qualquer necessidade num mo-mento de prazerosa descoberta

do que se deseja, mas também das melhores alternativas para cada situação.

Esta é uma realidade que qual-quer visitante da FNAC já experi-mentou e que faz toda a diferen-ça, tendo alterado a forma como nos relacionamos com os bens culturais desde que em 1998 a primeira FNAC abriu as portas.

FNAC, cada vez mais perto de si

No Algarve desde 2005, a FNAC disponibilizou à região a possibilidade de aceder a toda a experiência do universo criado pela empresa para que a cultura esteja cada vez mais disponível e mais perto de to-dos. Uma oferta que agora se reforça com a nova loja do Fo-rum Algarve, onde uma área

de 1.256 metros quadrados promete não deixar ninguém indiferente.

A procura de um determina-do livro, de um cd ou de um jogo, de um determinado item tecnológico ou de qualquer produto cultural, independen-temente do suporte, tem ago-ra no sotavento algarvio uma resposta única, o espaço FNAC.

Até para os mais exigentes pedidos, que não encontrem resposta nos imensos escapa-rates dos espaços FNAC, há uma solução garantida pelo serviço ‘pedido cliente’, cria-do a pensar em cada visitante e na regra de ouro de prestar a todos o melhor do saber FNAC. Basta pedir e a FNAC encarre-ga-se de saber como e quando poderá ser satisfeito o seu pe-dido, num processo simples e

sem complicações, desenha-do à medida das necessidades de cada visitante, porque na FNAC todos são especiais.

A nova loja de Faro, que abre hoje as portas, coloca a oferta FNAC cada vez mais perto de todos os algarvios e, mais importante do que isso, cada vez mais perto de si.

Muito mais do que bens culturais

Mas a FNAC é muito mais do que um espaço dedicado a acolher uma impressionante oferta de bens culturais nos mais variados suportes. Em cada FNAC respira-se cultura e, acima de tudo, faz-se cultura.

O Fórum FNAC é o palco por excelência de cada espaço FNAC, imaginado para acolher

as mais diversas apresentações culturais, das exposições às ré-citas, das sessões de autógrafos aos concertos intimistas, esta é uma verdadeira casa das artes e dos artistas, onde as estrelas são a excelência e qualidade, garantidas por uma agenda cultural que faz de cada sema-na um acontecimento.

Razões de sobra para que a qualquer momento a FNAC seja um espaço a visitar por to-dos, sem excepção.

Cada espaço FNAC é pen-sado para todos, incluindo as famílias e os mais pequenotes que têm à sua espera a FNAC Kids, uma área criada a pen-sar nas necessidades dos mais novos e desenhada à medida de encher de sorrisos cada criança.

Lado-a-lado com os pais,

aqui os mais pequenos têm a oportunidade de interagirem com os mais diversos suportes culturais, numa experiência que é uma porta aberta para a aprendizagem e para o gos-to pelas diversas expressões culturais.

Serviços FNAC

Na FNAC pode ainda con-tar com a oferta de um serviço de bilheteira para espectácu-los em todo o país, facilitan-do o acesso à oferta cultural nacional de forma simples e cómoda.

Tudo isto sempre com as vantagens do cartão FNAC, o melhor amigo dos fãs dos espa-ços FNAC, com ofertas sempre tentadoras para quem não dis-pensa a companhia de vanta-gens sempre que visita os espa-ços da empresa em todo o país.

Todo um mundo criado a pensar numa relação muito especial entre cada visitante e a cultura, afinal ela é o sal da vida, e a partir de agora está aqui, perto de si.

“SER E DEVIR”Até 30 NOV | Museu PortimãoExposição fotográfica de Virgílio Ferreira, que procu-ra representar ideias de identidade híbrida e explorar conceitos do “Terceiro Espaço”, do “Velho e do Novo”, bem como a polaridade de viver entre culturas, idiomas, paisagens e fronteiras estrangeiras

d.r.

FNAC: A cultura feita experiência abre portas em Faro

A FNAC do Forum Algarve vai ficar situada no piso 0 e conta com mais de 1.200 metros quadrados de área

Área: 1.256 m2

Localização: Forum Algarve Piso 0

O que pode encontrar: Livros Música Filmes Jogos Jornais & revistas Tecnologia Gadgets & inovação

Serviços: Bilheteira de espectáculos Serviço ‘Pedido Cliente’

Espaços temáticos: Fórum Fnac Fnack Kids

A nova FNAC:

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28.11.2014 6 Cultura.Sul

Momento

Retrato de uma

fotógrafa em acçãoFoto de Ana Omolete

Guardar e mostrar a imagem

“Mãe! Quero ir tirar fotografias!” - gritava o rapaz que hoje é um conhe-cido fotógrafo. Este é um início de his-tória que é idêntico a muitos de nós. Os amantes da fotografia.

O gosto pela imagem é algo que nas-ce muitas vezes sem se saber porquê. Tal como tudo na vida a história não se resume a estas meras frases. Depois de ter nascido o gosto pela fotografia é preciso domá-lo e adequá-lo à nossa forma de ver o mundo que nos rodeia.

Os fotógrafos não são todos iguais embora todos tenham a particulari-dade de premir o botão para captar o momento. Há fotógrafos que nascem do simples gosto. Outros nascem pelo gosto mas que melhoram a sua forma

de guardar as imagens. Há os cursos e as associações, que tal como a ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve promovem a fotografia da melhor for-ma possível. Há os passeios fotográficos.

Há poucos dias foi altura de viajar de barco pela Ria Formosa até ao célebre Farol na chamada ilha. Foi um dia bem passado em que se juntaram sócios e acompanhantes que apreciaram a be-leza do local. Os mais corajosos viram tudo ao seu redor, pois subiram até ao alto do farol que lhes transmitiu magia. Fotografaram. Guardaram as memórias que o local lhes transmitiu. É isso a fo-tografia. Guardar os momentos que as vida nos dá. Há formas de transmitir o que as imagens falam. Há as exposições. As mostras. A mostra fotográfica Cor e Criatividade vai agora dar a conhecer as suas fotos que ilustram as cores. Em primeiro lugar na Galeria ARCO, sede da ALFA. Enquanto isso uma nova mostra está prestes a começar a nascer.

Novas histórias estão sempre a nas-cer para a nossa máquina fotográfica as guardar e mostrar. A imagem. Es-teja atento a www.alfa.pt.

Espaço ALFA

d.r.

Raúl Grade CoelhoMembro da ALFA

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28.11.2014  7Cultura.Sul

“O ALGARVE!”Até 30 NOV | Museu de Arqueologia de AlbufeiraExposição com reproduções das pinturas de George Lan-dmann, que apresenta imagens do Barlavento e Algar-ve Central no século XIX, captadas por um estrangeiro viajado e curioso

“RITA, OU LE MARI BATTU”29 NOV | 21.30 | Grande Auditório do TEMPOÓpera em um acto de Gaetano Donizetti, pelo Ensemble Contemporaneus. A acção desenrola-se na estalagem de Rita, a cruel e violenta mulher do tímido e desajei-tado BeppeAg

endar

Arte redentora, Donna Tartt

O Pintassilgo é o muito aguardado regresso de Donna Tartt, livro que de-morou quase onze anos a ser escrito, conseguindo aliás repetir a proeza de intervalar numa década a publicação de um romance, pois apesar de, em Portugal, os dois primeiros livros terem sido publicados quase de seguida, essas duas primeiras obras tiveram tam-bém um interregno de cerca de dez anos.

A História Secreta, o seu pri-meiro romance, obteve um êxito estrondos, e desvenda o secretismo de um crime, refe-rido logo no prólogo, onde o narrador se confessa como adju-vante do mesmo. Richard Papen deixa a sua Califórnia natal para continuar os estudos na Universi-dade. Fascinado por um estranho grupo de cinco estudantes sofis-ticados e misteriosos, inicia um curso de grego antigo dirigido por Julian Morrow, integrando assim esse círculo fechado, que mais se assemelha a uma irmandade ou so-ciedade secreta, envolvendo-se num ambiente macabro onde se mistu-ram a erudição, o amor da beleza e da violência.

O Pequeno Amigo, o seu segundo romance, ganhou o WHS Literary Award e foi nomeado para o Oran-ge Prize for Fiction. Numa pequena cidade do Mississípi, Harriet cresce na sombra do seu irmão, que apa-rece logo nas primeiras páginas do romance, descrito como um corpo pendurado no ramo de uma árvore do jardim da sua própria casa, pois foi encontrado enforcado quando ela era ainda bebé. O assassino nunca foi identificado e a família nunca recu-perou da tragédia, até que Harriet, com apenas doze anos, decide então resolver o assassinato do irmão, jun-tamente com o seu amigo Hely.

Neste último livro, a autora volta a surpreender-nos com outro roman-

ce denso, pesado (com cerca de 700 páginas, como os outros dois), que arrecadou o Prémio Pulitzer de Ficção 2014 e foi considerado pelo The New York Times como um dos melhores li-vros de 2013.

O Pintassilgo conta a história de Theo Decker, um adolescente de 13 anos, que vive em Nova Iorque com a mãe, com quem partilha uma re-lação muito próxima. Esta odisseia, comparada inclusivamente a uma história de Charles Dickens, come-ça literalmente com um

Bum!!!, quando o jovem Theo, absorto e preocupado com o que será falado na reunião com o director da escola, vive quase como um sonho o momento em que ele e a mãe entram no Metropolitam Museum of Art, para se abrigarem de uma chuvada súbita. A certa altura, enquanto Theo continua a remoer a reunião, devido à sua amizade com uma companhia imprópria, Tom Cable, ao mesmo tempo que a sua atenção é retida por uma jovem que anda pelo museu com um idoso, a mãe afasta-se para outra sala para observar por uma última vez um qua-dro, ao que se sucede uma explosão.

As passagens s e g u i n t e s s ã o a b s o -lutamente avassalado-ras: na des-crição de como Theo se liberta d o s e s -combros, depara-se com o ho-

mem que acompanhava a jovem que o in-

terpela e mantém uma conversa qua-se normal com ele, apesar do cenário apocalíptico que os envolve, e talvez por causa desse mesmo sentimento de ruína envolvente o idoso incenti-va Theo a salvar dos escombros um quadro que, tal como o jovem, sobre-viveu à destruição. Em seguida, é tam-bém entregue a Theo um anel que deverá servir como senha, enquan-to lhe são proferidas as enigmáticas palavras: «Hobart e Blackwell. Toca à campainha verde». A forma como Theo sobrevive inexplicavelmente ao acidente não é mais desconcertante do que o percurso que ele faz até sair do museu, rodeado de ambulância,

polícia e bombeiros, abandonando depois esse recinto, sempre sem ser visto, e apesar de transportar consi-go um pequeno quadro na mão, en-quanto procura chegar rapidamente a casa para se encontrar com a mãe.

Só no dia seguinte toma consciên-cia, quando lhe batem à porta, que a mãe de facto morreu e que a sua vida mudou para sempre, pois a única hi-pótese que lhe resta é ficar com os avós, que vivem longe e que mal co-nhece, pois o pai, alcoólico e jogador compulsivo, acabou por abandonar a família, o que Theo recorda como a melhor coisa que lhes aconteceu pois a presença luminosa da mãe transfor-mava-se na sua companhia. Naquela que é uma solução apenas temporá-ria, mas que determina em muito a sua vida, Theo é acolhido pela família Barbour, que vivem numa imponente e luxuosa moradia em Park Avenue, e encontra também o caminho para a campainha verde, um antiquário onde conhece Hobart, um restaura-dor, e Pippa, a jovem que cativou o seu coração no museu e que ficou le-sada na explosão. Contudo, este inter-lúdio de sonho rapidamente termina quando o pai ressurge de forma tão súbita como desaparecera antes e

logo se encarrega de limpar o conte-údo do apartamento onde Theo vivia com a mãe. Como que numa simetria perfeita, conhecemos ainda Xandra, o reverso das duas figuras femininas anteriormente descritas, uma espécie de «loura burra», que vive uma vida de excesso, sendo daí a perfeita com-panhia do pai de Theo, pois «snifa» cocaína e toma comprimidos como se fossem rebuçados.

Já anunciada uma adaptação ao cinema e, pondo de parte a polémi-ca gerada em torno do livro - a sua qualidade discutível, o seu aproveita-mento de clichés, a aparente falta de estilo literário -, esta história envolve o leitor, mesmo que, por vezes, o fio condutor pareça perder-se, pois os vários episódios da vida de Theo são aparentemente desconexos. A única luz que guia Theo é a pequena e mis-teriosa pintura que dá nome ao livro, e que ele esconde de toda a gente, in-clusive de si próprio. O Pintassilgo é a pequena ave pintada nessa tela mi-núscula, pintada em 1654 por Carel Fabritius, cujo autor morreu nesse mesmo ano, com a idade de 32 anos, numa explosão de um arsenal de pól-vora que destruiu parte da cidade de Delft. A obsessão com o quadro, que Theo acha agora ser impossível voltar a devolver sem se arriscar a ser preso, quadro que a mãe lhe terá mostrado no museu, com uma pequena e sin-gela ave presa por uma corrente a um poleiro, é também, possivelmente, a sua luz redentora pois, mesmo que a certa altura Theo nem sequer retire a pintura do embrulho em que a escon-de e protege, ele continua a agarrar--se a esse quadro como uma tábua de salvação, como uma memória da mãe, como uma extensão do seu eu...

Em Las Vegas, Theo conhece o ucra-niano Boris, amizade igualmente deter-minante na sua vida, com quem incorre em experiências de bebida, comprimi-dos e roubo. É esse mesmo Boris que, mais tarde, conduz Theo, agora adulto, a viver em Nova Iorque novamente, onde trabalha como antiquário, protegido e apadrinhado por Hobart, ao mundo do subcrime, embora se tenha já tornado claro que a sua vida, apesar de aparen-temente perfeita, com casamento mar-cado (ainda que continue a alimentar um amor platónico por Pippa) escon-de outros segredos, de desonestidade e ambição. Talvez seja mesmo o poder da arte que, em última instância, tenha o condão de salvar este jovem que se sente perdido desde a morte da mãe.

Paulo SerraInvestigador da UAlgassociado ao CLEPUL

Letras e Leituras

fotos: d.r.

A escritora Donna Tartt

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28.11.2014 8 Cultura.Sul

Educação Patrimonial em Paderne:ambiente e cultura

Espaço ao Património

Em Paderne localiza-se um importante monumento, o cas-telo de Paderne, um hîsn do sécu-lo XII em taipa militar. A sua en-volvente também constitui um elemento patrimonial significa-tivo, do ponto de vista natural.

Nos últimos anos, duas áreas dentro da autarquia, Ambien-te e Cultura, que trabalhavam de forma independente, num mesmo território, começaram a juntar esforços e a trabalhar em conjunto, permitindo uma interpretação mais completa do sítio em causa.

Realizam-se saídas de campo a esta zona onde se estabelece a relação entre recursos naturais e o património cultural, do qual o castelo de Paderne é, sem dúvida, o ex-líbris. Permite-se o contacto directo com o património e es-timula-se a educação do olhar, o “saber olhar”, numa (re) des-coberta constante da paisagem

e das histórias que ela nos conta.Existem nesta paisagem mar-

cos que testemunham a explo-

ração dos recursos naturais, que por sua vez se irão reper-cutir, directamente, no modo

de vida das pessoas que aí vi-vem e viveram.

A localização do castelo nes-

te local deve-se à riqueza da sua paisagem e à sua importância es-tratégica, num ponto alto, devi-

do à necessidade de defesa. Estes dois aspectos são indissociáveis da história do monumento. Daí que uma visita ao castelo sem um olhar atento à sua envolven-te será sempre uma visita incom-pleta, ou vice-versa.

Propõem-se então uma desco-berta da paisagem com especial atenção para as espécies naturais, bem como para os marcos patri-moniais (para além do castelo, merece igualmente destaque a ponte ou a azenha do Castelo) que testemunham a utilização e exploração dos recursos daque-la zona desde há séculos. Sendo que é neste contexto que surge a educação patrimonial, enquanto forma de mediação entre patri-mónio (cultural e natural) e as comunidades.

Educação patrimonial como processo de mediação

A prática educativa imple-mentada nesta zona assume o território como “o local perfeito para promover e incentivar a cons-ciencialização para o património natural, cultural e artístico” e uma vez que aprender é encarado, cada vez mais, como um pro-cesso de longa duração (lifelong learning), os espaços e as expe-riências que vivenciamos são

Patrícia Santos BatistaHistoriadora, Câmara Municipal de Albufeira

fotos: d.r.

No castelo de Paderne

Lado B: programação cultural em redeSala de leitura

Paulo PiresProgramador culturalno Município de [email protected]

O “Lado B” consiste num for-mato de programação cultural em rede lançado em Fevereiro deste ano pelo Município de Silves, o qual pretende articular, de forma regular, vários equi-pamentos/áreas de intervenção do Município, designadamente a Biblioteca e o Teatro, ambos sediados na cidade de Silves. De forma a descentralizar práticas e dinâmicas culturais, e dada a dimensão do concelho de Silves e a necessidade de chegar a vá-rios públicos, o mesmo formato congrega a Biblioteca Municipal

e igualmente, em rotação itine-rante, dois auditórios não cama-rários/associativos situados nas freguesias de S. Bartolomeu de Messines e Pêra.

Aos convidados do “Lado B” é lançado o desafio de vir a Silves em “dose dupla” para revelar as suas preferências em termos de leituras, películas e influências musicais (numa conversa in-formal e debate com o público realizados na Biblioteca) – dan-do assim a conhecer facetas e dimensões menos conhecidas e, muitas vezes, surpreendentes dos seus perfis – e para, em com-plemento, realizar um concerto a solo ou em formação reduzida num contexto intimista e envol-vente (num dos três auditórios que integram o formato).

Aposta-se assim no estímulo à cooperação intersectorial en-

tre diferentes equipamentos do Município (e destes com outros exteriores ao mesmo) que têm objectivos complementares/afins, neste caso a nível das artes performativas, designadamente da música [Teatro; e restantes au-ditórios], e, ao mesmo tempo, do incentivo e promoção da leitura e literacia fílmica e musical [Biblio-teca], isto em moldes de educa-ção não formal. Também se in-crementa a interligação e o fluxo regular de visitantes entre os dois espaços envolvidos no formato (em que um capta e atrai público para outro), contribuindo para a formação de segmentos de pú-blico comuns e estabelecendo pontes que permitem criar uma maior atractividade em torno dessas estruturas culturais.

A intenção de criar, efec-tivamente, fluxos de público

entre os dois equipamentos integrados no “Lado B” passa também por algumas estraté-gias de produção/difusão que foram adoptadas para reforçar esse objectivo, as quais preten-dem tanto dotar o formato de maior coerência, identidade e eficácia como criar/conso-lidar rotinas/hábitos junto dos potenciais interessados: além da normal venda prévia de ingressos para o concerto, é possível adquirir bilhetes a um preço mais reduzido/pro-mocional, mas apenas durante a tertúlia realizada na Bibliote-ca na noite anterior ao espec-táculo; e no dia do concerto é disponibilizada informação impressa sobre os conteúdos (listagem de livros, filmes e músicas) abordados pelo con-vidado no dia anterior, o que

permite que o público – mes-mo o que, eventualmente, não assistiu à tertúlia – fique com referências concretas para aprofundar a sua sensibilida-de, espírito crítico e conheci-mento a nível de cultura livres-ca, fílmica e musical.

A conversa realizada com o convidado na Biblioteca na primeira noite também ser-ve como preâmbulo e “ape-ritivo” para o segundo dia (o do concerto), sendo que uma significativa franja de públi-co desloca-se mesmo àquele equipamento cultural – para além da motivação, mais ób-via, de adquirir ingresso a um valor mais reduzido – para ver/ouvir o intérprete num registo “não artístico”, fora do palco, num ambiente de maior pro-ximidade e intimismo –, usan-

do até isso, por vezes, também como “critério”/pré-escuta para a decisão final sobre a aquisição ou não de ingresso para o espectáculo.

Pelo “Lado B” já passaram nomes como João Afonso, An-tónio Manuel Ribeiro (UHF), Jorge Palma, Ricardo Ribeiro, Pedro Jóia, Sérgio Godinho, Luís Represas, Custódio Cas-telo e agora Rita Redshoes (a 27 e 28 de Novembro). Se fi-carmos apenas pelos livros, João Afonso e seu parceiro de estrada Rogério Pires trou-xeram-nos a mundividência universalmente africana de Mia Couto e Agualusa (cujas letras percorrem todo o úl-timo álbum de João Afonso, Sangue Bom, lançado em Feve-reiro deste ano), sem esquecer vozes, mais filosófico-existen-

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Espaço ao Património

elas mesmas potenciadoras de aprendizagens, pelo que impor-ta sublinhar e estimular a função educativa do território, da paisa-gem, reforçada pela presença de valores patrimoniais autênticos e de uma experiência multis-sensorial: visual, táctil, auditiva e olfactiva.

Reconhecido o potencial do trabalho educativo com base no património cultural e natural, adoptou-se uma metodologia de diálogo pró-activo, através do questionamento e reflexão dos valores patrimoniais observados in loco; papel activo dos visitantes na descoberta e construção das interpretações da paisagem; es-tímulo do uso e exploração dos sentidos: ver; cheirar, ouvir, to-car; recurso a alguns materiais pedagógicos e dinamização de momentos de jogo ao longo do percurso.

O trajecto feito tem cerca de 3 km. As saídas de campo decor-rem entre os meses de Março e de Abril, uma vez que é a época de maior floração, permitindo a observação de diversas espécies de flora de rara beleza - valor estético da paisagem - como é o caso das orquídeas selvagens que aqui florescem em abun-dância.

Os públicos

Os públicos-alvo destas ini-ciativas são, geralmente, gru-pos per si já estruturados, as escolas, grupos de seniores e

de entidades como: Instituto de Emprego e Formação Pro-fissional (IEFP), Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve (APEXA) ou Associação de Saúde Mental do Algarve (ASMAL).

Público escolar

Para estes grupos o ponto de partida de exploração é o ques-tionamento, que permite a des-coberta da paisagem e dos re-cursos naturais que ela encerra, justificando deste modo a sua ocupação ao longo da história, com particular enfoque para o período islâmico, precisamente devido à presença marcante do castelo.

Mais do que observar suscita--se a educação do olhar, o “saber ver” e interpretar a paisagem:

- Que factores contribuíram para a sua actual configuração?

- Quais os elementos res-ponsáveis pela modelação da paisagem?

- Que marcos paisagísticos destacamos?

A experiência é sempre posi-tiva (procede-se à avaliação das actividades através de um inqué-rito que é preenchido pelo pro-fessor que acompanha a turma através da observação directa dos participantes), e culmina na excitante chegada ao castelo, que se transforma num novo assalto àquele hîsn, mas desta feita por jovens ávidos de curiosidade, de perguntas e de inquietações!

Público sénior

Com os seniores a base é a mesma, ou seja, o questiona-mento, que neste caso irá avivar memórias, uma vez que a popu-lação mais idosa dependia mui-to mais da natureza do que nós actualmente e experienciaram aquele espaço de uma forma completamente distinta daque-

la que se faz hoje: - A ribeira onde as mulheres

iam lavar a roupa – memória de uma vida mais dura, com mais esforço físico, mas era também um local de encontro, de conví-vio, de partilha de experiências;

- As ervas aromáticas - que se apanhavam no campo e que agora se compram no supermercado;

- A relação com o castelo que mudou drasticamente nos últi-mos anos (especialmente a partir de 1999, quando o imóvel foi ad-quirido pelo Estado Português).

Grande parte da população de Paderne recorda com algu-ma nostalgia as grandes festas do 1.º de Maio que se faziam no interior do castelo, relembram, igualmente, que a porta estava

sempre aberta, o castelo podia ser “tomado” pela sua comuni-dade em qualquer altura… e de repente fecharam-no.

A interacção estabelecida nes-tas visitas é riquíssima, sobretu-do para os mediadores, funcio-nando como uma excelente aula de história, que despoleta novas dúvidas e por vezes determi-na novas áreas de investigação. Mas também serve para perceber quais as expectativas dos deten-tores do património sobre o seu papel na sociedade actual.

Desafios para o futuro

O desafio será permitir às comunidades um papel di-recto e efectivo na construção de significados acerca do seu património, através da trans-missão de conhecimentos, do convívio entre gerações, que irá funcionar como um sis-tema de inventário activo e participativo.

Em última análise conside-ra-se que a educação patri-monial, estando presente em todos os momentos de valo-rização do património, repre-senta uma estratégia válida para a gestão e salvaguarda dos bens patrimoniais que constituem as “raízes do fu-turo”, metáfora que dá nome à obra de Hugues de Varine e que traduz a importância e o valor do conhecimento da his-tória e do seu legado na plani-ficação do futuro.

cialistas e psicologicamente densas, como Camus, Dostoi-évski, Beckett, Shakespeare, ou os incontornáveis Herberto Helder (O Bebedor Nocturno) e Fernando Pessoa (os poemas do heterónimo Caeiro). Já An-tónio Manuel Ribeiro confes-sou, porventura para surpresa de alguns, o seu grande inte-resse por autores como Neale Donald Walsch (Conversas com Deus) ou Brian Weiss (Muitas Vidas, muitos Mestres), soman-do-se a sua admiração pela prosa singular de Eça e Lobo Antunes e a sua fidelidade a toda a obra do espanhol Car-los Ruiz Zafón (exemplificou com A Sombra do Vento) e do inglês John Le Carré.

O cantautor Jorge Palma revisitou clássicos como Ote-lo (Shakespeare) e a Odisseia (Homero), sublinhando a sua intemporalidade, e revelou o seu fascínio pelos meandros

e labirintos d’O Padrinho, de Mario Puzo, e pelo Aleph, de Jorge Luis Borges. Palma não esqueceu ainda a influência marcante, a nível pessoal e musical, de livros-ícone como On the road, de Jack Kerouac, e dos poetas da Beat Generation, aludindo ainda às produções inquietantes de Pessoa, Ver-gílio Ferreira e Ary dos San-tos, entre outros. Já o fadista Ricardo Ribeiro, apaixonado pelas culturas oriental e me-diterrânica, escolheu O meu coração é árabe, de Adalberto Alves, como um dos seus livros de eleição, além d’O Botequim da Liberdade, de Fernando Da-costa (onde se revisita todo o fervilhar de um espaço conta-giante que, pela mão de Natá-lia Correia, marcou uma época e uma cidade), e do Fado (obra de poesia, de 1941) de José Ré-gio. Por seu lado, Pedro Jóia, virtuoso guitarrista, recordou

o prazer de (re)ler O Memorial do Convento, de José Saramago, A Cidade e as Serras, de Eça, e um livro irrepetível do emi-nente professor universitário e historiador José-Augusto França: Lisboa – História Física e Moral.

“O homem dos sete instru-mentos”, Sérgio Godinho, des-lumbrou-se com o estilo pode-roso, sombrio e carregado de punch literário do sul-africano J. M. Coetzee (Nobel da Literatu-ra em 2003) expresso na obra Desgraça. Eça de Queirós e Jack Kerouac ocupam também um lugar de destaque na sua es-tante literária, aos quais ele junta nomes como José Car-doso Pires, Alexandre O’Neill, Al Berto (com quem privou), José Rodrigues Miguéis ou o poeta Pablo Neruda. Luís Re-presas trouxe-nos Os Lusíadas de Luís de Camões, bem como duas obras que revisitam dife-

rentes perspectivas histórico--culturais: a Guerra Santa, de Nigel Cliff, que traz novas lei-turas às viagens pioneiras de Vasco da Gama; e As Cruzadas vistas pelos Árabes, publicada originalmente em 1983 pelo franco-libanês Amin Maalouf, em que, num pêndulo entre História e Literatura, emerge um lado menos conhecido de um período religiosamente agitado. Já o músico e com-positor Custódio Castelo, um dos nomes maiores da guitar-ra portuguesa e seu principal promotor internacional, segue fielmente a prosa de Umberto Eco, Saramago e Lobo Antu-nes, e volta amiúde à produção em verso da brasileira Cecília Meireles: “Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste: / sou poeta.” (do poema “Motivo”). Porque há sempre um (?) Lado B…Rita Redshoes é a próxima convidada do ‘Lado B’

d.r.

Grupo escolar ao longo do percurso

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28.11.2014 10 Cultura.Sul

“FRAGMENTO”Até 1 FEV 2015 | Igreja do Castelo de Castro MarimA exposição de Sara Navarro responde ao fascínio da artista pelos fragmentos arqueológicos vindos de socie-dades extintas e enigmáticas. As suas esculturas evocam a arte e a cultura de outros lugares e de outros tempos, algo que desperta os ecos de uma terra antigaAg

endar

“GENTE DE OUTROS TEMPOS”Até 30 DEZ | Centro Cultural de LagosExposição de fotografia de Francisco Castelo, que conta com 18 personagens, das quais se exibem os seus retra-tos e uma breve biografia, tendo como base o acervo da Fototeca Municipal acrescido de exemplares de espólios e colecções privadas

Novembro

Pedro [email protected]

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

Good Morning

Caminho pelo areal quase deserto destas praias de outono - esse exercício de refrescar ideias... para refazê-las. Cruzo-me com um homem idoso olhando o mar, esperando pa-lavras ditas mais sábias que o simples ‘good morning’... e no entanto um dia bom será sempre o que se pode desejar a um qualquer homem.

Mercadinho de Natal

Cacela Velha prepara-se para receber, no domingo, dia 14 de Dezembro, entre as 10h30 e as 17h00, mais um Mercadinho de Natal. Artesanato tradicional (empreita, cestaria, la-

toaria, cerâmica, cortiça, trapologia…) e no-vas criações; produtos alimentares da região como o mel, pão, bolos, compotas, licores; flo-res; cremes e sabonetes naturais; brinquedos de madeira; livros e ainda um espaço destina-do a velharias, antiguidades e coleccionismo, marcam presença em mais este Mercadinho. Numa organização do Ciipc (CMVRSA) e da Adrip esta edição contará com dois eventos culturais, nomeadamente a apresentação ao público do calendário 2015 - angariação de fundos de apoio às iniciativas da Adrip. Ainda decorrerá ao longo do dia na Casa do Pároco uma mostra digital da revista de poesia e fo-tografia ‘Sizígia’ (canalsonora editora, 2014) e pelas 15h30, serão feitas leituras pelos au-tores participantes.

Das folhas

Cair num lugar comum – as folhas no chão do caminho. Paleta aleatória de marron, fúcsia ou malva sobre um tapete de musgo incrustado nas pedras. A natureza viva como numa natu-reza morta.

Poesia & Companhia

Esta tertúlia informa que por motivos de logística, a próxima ‘À Conversa’ com Pau-lo Moreira, com o tema “A arte do romance”, terá lugar no dia 4 de Dezembro (e não 18), à hora e no local do costume: 19 horas, no About Wine - Vinhos & Gourmet, em Faro (relembra-mos que a entrada é livre). Com dois livros publicados recentemente na R-E-D-I-L publi-cações – ‘Maria Manuel’(romance) e ‘Pessoa(s)

em Cena’ (teatro) o autor convidado, tem--se mostrado um dos mais profícuos actores na cena cultural algarvia dos últimos meses.

Postais da Costa Sul

~ é realmente verdade que colocando um bú-zio junto ao ouvido se consegue ouvir o mar, e quem sabe, sentir-lhe o cheiro. mesmo quem nunca viu o mar, consegue ouvi-lo através de um búzio. ainda que a costa esteja mesmo a uma distância demasiado grande. por isso ando sempre com dois búzios no bolso. um para ofe-recer a alguém que tenha já saudades do mar ou a quem queira conhecer-lhe a voz. o outro para mim, claro. ~

Sizígia

A editora de Tavira, CanalSonora, lançou em novembro uma revista de poesia e fotografia na qual junta 37 autores do Algarve. «Sizígia», que serve para comemorar um ano de activi-dade desta editora independente, é quase uma antologia, pois reúne uma grande parte de au-tores que vivem actualmente na região e que se foram cruzando com o seu editor ao longo deste ano. Juntando na poesia nomes já conhe-cidos como Fernando Cabrita, Manuel Neto dos Santos ou Fernando Esteves Pinto, - a autores praticamente estreantes como Marco Mackaaij, Van S.a ou Mariano Alejandro. Na fotografia, Jorge Jubilot, o já habitual fotógrafo da edito-

ra, assina mais uma vez a capa, mas no miolo surgem num vegetal acetinado, as imagens de Luísa Soares Teixeira, Fatinha Afonso, Joana Rosa Bragança, Lina Madeira e do experiente Filipe da Palma.

Luíza Neto Jorge

Percorrendo as pequenas e estreitas ruas des-ta cidade à procura de bancos de leitura, lugares insuspeitos onde se depositam as esperanças de poder parar o tempo veloz deste milénio, nem que seja só por aqueles momentos em que dura a passagem das palavras para a mente, e depois soltá-las…

Passear junto às margens do rio séqua é como trazer um livro de poesia que se projecta nas águas, neste caso «Algarve todo o mar» (dom quixote 2005) e Luiza Neto Jorge,

«Árvores intensas Casas de trapoChilreia a chuva Coxeia a camaFrutos Votivos Cal calejada Ponte Romana»

Costa BrancaMesmo nesta costa branca o outono é essa es-

tação que vai escurecendo os dias, entristecendo as vozes e esfriando as aragens. Mas como sem-pre as pessoas tentam fazer dela algo brilhante, primordial e aconchegante: - pintam as folhas de amarelo torrado, laranja, e grenás; cobrem os pescoços, bebem o vinho novo; ardem a ma-deira seca assando castanhas. Querem (sobre)viver à premonição de esquecimento.

fotos: d.r.

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28.11.2014  11Cultura.Sul

A Ilíada de Homero adaptada para jovens por Frederico Lourenço

Da minha biblioteca

Adriana NogueiraClassicistaProfessora da Univ. do [email protected]

“PRESÉPIOS”Até 6 JAN | Edifício do Atlético – LouléExposição que integra a Colecção de Anabela Guerrei-ro, bem como os participantes no II Concurso de Pre-sépios do Concelho de Loulé. Os presépios expostos inserem-se em duas modalidades: o Presépio Tradi-cional Português e o Presépio Tradicional do AlgarveAg

endar

“PINTURA DE PEDRO ESPANHOL”Até 15 JAN | Antigos Paços do Concelho de LagosO artista já fez várias exposições colectivas e individuais. Tem participado em vários projectos, públicos e priva-dos, no âmbito das Artes Visuais. Está representado em várias colecções. Vive no Barreiro onde tem atelier e é professor de Artes Visuais

Fiquei muito contente quando recebi pelo correio um exemplar do novo projeto de Frederico Lourenço: a adaptação da Ilíada para jovens. É sempre um pra-zer ler o que Frederico Louren-ço (professor de clássicas da Uni-versidade de Coimbra) escreve. E escreve muito bem, seja como académico, seja como roman-cista, poeta, tradutor de autores gregos, reconhecido e premiado pelas suas magníficas traduções dos poemas homéricos Ilíada e Odisseia. A editora Livros Cotovia, que tem publicado a sua obra, é quem agora também apresenta esta sua adaptação para jovens do mais antigo texto literário da cultura ocidental.

A Ilíada é uma obra do séc. VIII a.C., atribuída a Homero, descrita assim pelo tradutor, na introdu-ção (p.7) à sua edição de 2005: «no fim de uma longa tradição épica oral, surge este canto de sangue e lágrimas, em que os próprios deuses são feridos e os cavalos do maior herói choram». Quem a leu, imagina o que terá sido o desafio de a adaptar para jovens. Quem a não leu, pode supor que adaptar uma longa obra de guerra e emoções não deverá ser fácil, sem que se per-cam elementos fundamentais que já foram perpetuados por mais de 2.500 anos de leitores e leituras sucessivas. Mas Frederico Lourenço consegue fazer esse di-fícil trabalho com muito sucesso.

Herança da oralidade

Como poema herdeiro da tradição oral, a Ilíada contém marcas dessa forma de narrar de cor, normalmente perante

grandes audiências, os feitos (e desgraças) de grandes heróis. Uma delas é a repetição, que ajuda à memorização e é tam-bém uma técnica usada para se ir «ganhando tempo» enquan-to se prepara o que se vai dizer a seguir. Naturalmente que nesta adaptação, por uma questão de espaço e porque não são essen-ciais para a narrativa, as repeti-ções foram muito encurtadas, mas não retiradas, não perden-do, portanto, esta obra, uma das características do seu origi-nal. Deixo um exemplo, quan-do Zeus pede a Apolo que retire o corpo do seu filho Sarpédon, morto na batalha (p.195):

«Vai tu agora, ó filho amado, e limpa o negro sangue de Sarpé-don; tira-o do meio dos dardos e depois leva-o para muito lon-ge. Dá-lhe banho nas correntes do rio e unge-o com ambrósia; veste-o com roupas imortais. Entrega-o a dois pressurosos

portadores para o levarem, Sono e Morte, dois irmãos, eles que ra-pidamente o porão na terra fértil da ampla Lícia, onde seus irmãos e parentes lhe prestarão honras fúnebres, com sepultura e este-la: pois essa é a honra devida aos mortos.

Assim falou; e a seu pai não desobedeceu Apolo. Desceu das montanhas do Ida para o fra-gor tremendo da batalha e de imediato levantou Sarpédon do meio dos dardos. Levou-o para muito longe e deu-lhe banho nas correntes do rio; ungiu-o com ambrósia e vestiu-lhe rou-pas imortais. Entregou-o a dois pressurosos portadores para o levarem, Sono e Morte, dois ir-mãos, eles que rapidamente o puseram na terra fértil da am-pla Lícia».

Símiles e hospitalidade

Um dos elementos mais inte-

ressantes da Ilíada é a abundân-cia de símiles, uma espécie de comparação que nos leva para referências do quotidiano, para melhor compreendermos a re-alidade que nos é apresentada. Também estes Frederico Lou-renço não descurou, incluindo o símile mais famoso, que com-para a geração dos homens às fo-lhas das árvores. Curiosamente, quando li a Ilíada pela primeira vez, aos quinze anos, o episódio em que ele surge foi o que mais me impressionou: o encontro entre os heróis Diomedes e Glau-co, que lutavam, respetivamente, um pelos Gregos e o outro pe-los Troianos, e que, por razões de amizade familiar, desistem de lutar um com o outro. Mais tarde, ao estudar estes assuntos, aprendi que as leis da hospitali-dade eram invioláveis: uma vez hóspede, para sempre ligado. Conta-se, então, assim, nesta ver-são para jovens, onde o essencial

não se perde (pp.94-95):«o primeiro a falar foi Dio-

medes:- Quem és tu? Pois nunca an-

tes te vi. Agora sais muito à frente de todos os outros na tua audá-cia e aguardas a minha lança de longa sombra. Filhos de infelizes são os que se opõem à minha força.

Porém Glauco sabia quem era o guerreiro que lhe dirigira a pa-lavra, e assim lhe disse:

- Diomedes, porque queres saber da minha linhagem? As-sim como a linhagem das folhas, assim é a dos homens. Às folhas, atira-as o vento ao chão; mas a floresta no seu viço faz nascer ou-tras, quando sobrevém a estação da primavera: assim nasce uma geração de homens e outra deixa de existir».

Quando chegam à conclusão de que as linhagens estão ligadas e que, portanto, são amigos, Dio-medes propõe:

«Evitemos pois a lança um do outro. Há muitos Troianos para eu matar; e Gregos não faltam para se opor à tua lança. Quanto a nós, troquemos agora as nos-sas armaduras, para que até estes aqui saibam que somos há várias gerações amigos um do outro».

Foi um prazer ler este livro. A linguagem não está infantili-zada, o que irritaria, certamen-te, muitos jovens – e muitos de nós – , e mantém, como disse, as características principais da ver-são original: os deuses e heróis são apelidados pelos seus epíte-tos mais conhecidos (Ulisses de mil ardis; Hermes, o Auxiliador; Tétis, a deusa dos pés prateados; Posídon, Sacudidor da Terra; Apolo, Senhor do Arco de Prata, etc.); a estrutura frásica mantém--se próxima do original, isto é, a simplificação não foi feita à custa de uma alteração do texto. Man-tém-se, por exemplo, o tratamen-to por «vós» (que aplaudo, numa época em que as gramáticas de Português para estrangeiros eli-minam a segunda pessoa do plural de todos os verbos) e uma tendência, nos momentos mais solenes, de pôr o verbo no fim (diz Aquiles, por causa da morte do seu amigo Pátroclo: «- Que eu morra logo de seguida, visto que auxílio não prestei ao compa-nheiro quando foi morto; longe da sua pátria morreu» - p-206). E não faltam episódios famosos, como o da descrição do escudo de Aquiles, forjado por Hefesto.

No Posfácio (pp. 297-300), Frederico Lourenço explica como, apesar de «a possibili-dade de uma vida feliz» pare-cer «posta em causa», a Ilíada «propõe uma circunstância re-dentora para a vida humana: levarmos os nossos objetivos até ao fim, custe o que custar, doa a quem doer, e nunca ab-dicarmos do bem supremo pelo qual devemos lutar com unhas e dentes (ou melhor dizendo, lanças e espadas): a nossa pró-pria autoestima».

Uma leitura para todos. E, já agora, aproveite e leia também a Odisseia.

O escritor, tradutor e professor universitário Frederico Lourenço

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28.11.2014 12 Cultura.Sul

Renato Epifânio e Maria Luísa Francisco

‘Nova Águia’ em pleno voo a sul

O novo número da Revista Nova Águia, dedicado à Men-sagem de Fernando Pessoa, precisamente oitenta anos após a sua publicação, está a ser apresentado por toda a região.

De acordo com Renato Epi-fânio e Maria Luísa Francis-co, respectivamente director e vice-directora da publica-ção, a Mensagem continua a ser interpelante para quem insiste em preocupar-se com os destinos históricos de Por-tugal.

Os responsáveis conside-ram que este número da Nova Águia comprova isso mesmo, pois sob as mais plurais perspectivas – desde as mais esotéricas e espiritua-listas até às mais culturalistas e geopolíticas –, a Mensagem foi, sobretudo, um excelso pretexto para repensarmos o futuro de Portugal e, mais amplamente, de toda a Co-munidade Lusófona, mesmo sabendo que nunca chegará “a hora”, uma vez que, ain-da e sempre, haverá futuro a construir.

“Porque não há futuro sem passado, articulámos essa plural reflexão em torno da Mensagem com a celebra-ção da própria língua por-tuguesa – na data, esta me-nos precisa, dos seus oito séculos. Também aqui o testamento de D. Afonso II, datado de 27 de Junho de 1214, tido como o pri-meiro documento redigi-do em língua portuguesa, foi sobretudo um pretexto para reforçarmos essa cons-ciência histórica – não só dessa nossa língua comum a todos os lusófonos, como, mais ampla e profundamen-te, do que lhe subjaz: uma singular forma, por mais que plural e polifónica, de ver e viver o mundo”.

Para os rostos por detrás da Nova Águia, como se tra-ta de uma revista não só de ensaio e poesia, mas também de intervenção na sociedade, este número tem interven-ções dos representantes das várias associações lusófonas da sociedade civil que parti-ciparam no II Congresso da Cidadania Lusófona, coor-denado pelo Movimento In-ternacional Lusófono (MIL)

e pela Sphaera Mundi: Mu-seu do Mundo, no âmbito da Plataforma de Associações da Sociedade Civil (PASC), decorrido na Sociedade de Geografia de Lisboa, a 16 de Abril deste ano. Um Fórum que consideram fundamen-tal, precisamente, porque procurou defender e difun-dir essa consciência histórica e, a partir daí, prefigurar as “prioridades na cooperação lusófona”.

Assim, depois de inicia-rem as apresentações da Re-vista no Algarve a 7 de No-vembro, irão continuar as sessões de apresentação a 28 Novembro na Universidade

do Algarve (Biblioteca em Gambelas) pelas 15 horas; na Biblioteca de Vila Real de Santo António pelas 18.30; e nessa noite ainda, em Tavira, na Casa Álvaro Campos pelas 21.30 horas.

Depois de dia 2 de De-zembro, em Évora e Beja, as apresentações da Nova Águia regressam ao Algarve a 3 de Dezembro, na Biblioteca de São Brás Alportel pelas 16 horas, e na Biblioteca de Lou-lé pelas 18.30.

Em Janeiro haverá mais apresentações, nas quais a re-vista pode ser adquirida, tal como nas FNACs e Livrarias Bertrand.

d.r.

Cartório Notarial em Tavira Bruno Filipe Torres Marcos

NOTÁRIO

Extrato dE Escritura dE Justificação CERTIFICO, para efeitos de publicação, nos termos do artigo 100.º do Código do Notariado que, por escritura pública de Justificação outor-gada em dezoito de Novembro de dois mil e catorze, exarada a folhas cinquenta e três e seguintes do Livro de notas para escrituras diversas número Cinquenta e quatro – A, do Cartório Notarial em Tavira, do Notário privado Bruno Filipe Torres Marcos, sito na Rua da Silva, n.º 17-A:

A) Maria Natália Garcias, viúva, natural da freguesia de Tavira (Santa Maria), concelho de Tavira, residente no Sítio das Solteiras, caixa postal 609-Z, em Conceição de Tavira, contribuinte fiscal número 136518141, titular do cartão de cidadão número 08617604 8ZZ0, válido até 13.11.2017;

B) José Aníbal Garcia Neto e mulher Maria Madeira Vargues Pereira Neto, naturais ele da freguesia de Tavira (Santa Maria), concelho de Tavira, e ela da freguesia de Santa Bárbara de Nexe, concelho de Faro, casados sob o regime da comunhão geral de bens, residentes no Sítio das Solteiras, caixa postal 609-Z, 8800-052 Conceição de Tavira, contribuintes fiscais números 177555130 e 177555122, titulares dos respectivos bilhetes de identidade números 4728822, emitido a 23.04.2007, e 2139989, emitido a 09.03.2006, ambos pelos SIC de Faro, declararam:

- Que são donos e legítimos possuidores, em comum e sem determinação de parte ou direito, com exclusão de outrem, dos seguintes prédios rústicos, sitos na actual freguesia da União das Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago), com origem na freguesia de Tavira (Santa Maria), do concelho de Tavira, não descritos na Conservatória do Registo Predial de Tavira:

Verba Um: prédio rústico composto por terra de cultura, com a área de dois mil e quatrocentos metros quadrados, sito em Serro do Coelho, que confronta a norte com José Sebastião, a sul e poente com António Domingos e Outro e a nascente com António Domingos, inscrito na matriz sob o artigo 543 (com proveniência no artigo 524 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 27,26 €, igual ao atribuído;

Verba Dois: prédio rústico composto por terra de pastagem e duas alfarrobeiras, com a área de quatrocentos metros quadrados, sito em Rocha dos Corvos, que confronta a norte com Custódio Bento, a sul e nascente com João Caçapo e poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 523 (com proveniência no artigo 504 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 71,86 €, igual ao atribuído;

Verba Três: prédio rústico composto por terra de cultura e uma Alfarrobeira, com a área de mil e quinhentos metros quadrados, sito em Serro do Coelho, que confronta a norte com José Joaquim Rodrigues Neto, a Sul com Silvério Garcia, a nascente e poente com Manuel Domingos Martins, inscrito na matriz sob o artigo 569 (com proveniência no artigo 550 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 51,68 €, igual ao atribuído;

Verba Quatro: prédio rústico composto por terra de cultura, com a área de cento e oitenta metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte e sul com José Joaquim Rodrigues Neto, a nascente com João da Ascenção Santos e a poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 503 (com proveniência no artigo 483 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 12,98 €, igual ao atribuído;

Verba Cinco: prédio rústico composto por terra de cultura, pastagem , uma alfarrobeira, uma oliveira, três azinheiras, com a área de sete mil e seiscentos metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com José Joaquim Rodrigues Neto, a sul com Silvério Garcia, a nascente com José Sebastião e outros e a poente com Custódio Bento, inscrito na matriz sob o artigo 490 (com proveniência no artigo 468 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 96,29 €, igual ao atribuído;

Verba Seis: prédio rústico composto por terra de cultura e uma oliveira, com a área de cento e oitenta metros quadrados, sito em Al-queivinhos, que confronta a norte com Custódio Bento, a sul com José Joaquim Rodrigues Neto e a poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 505 (com proveniência no artigo 485 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 50,37 €, igual ao atribuído;

Verba Sete: prédio rústico composto por terra de pastagem e horta com seis citrinos, com a área de mil oitocentos e oitenta metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com Manuel António Dias, a sul com Custódio Bento, a Nascente com José Joaquim Rodrigues Neto e a poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 507 (com proveniência no artigo 487 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 119,30 €, igual ao atribuído;

Verba Oito: prédio rústico composto por terra de pastagem, duas amendoeiras, cinco azinheiras, três figueiras, três alfarrobeiras, com a área de mil e duzentos metros quadrados, sito em Lendroeiro, que confronta a norte e poente com Manuel António Dias, a sul com Silvério Garcia e a nascente com José Joaquim Rodrigues Neto, inscrito na matriz sob o artigo 476 (com proveniência no artigo 453 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 132,16 €, igual ao atribuído;

Verba Nove: prédio rústico composto por terra de pastagem, com a área de mil e duzentos metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com José Joaquim Rodrigues Neto, a sul e poente com Silvério Garcia e a nascente Manuel António Dias, inscrito na respectiva matriz sob o artigo 511 (com proveniência no artigo 491 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 4,37 €, igual ao atribuído;

Verba Dez: prédio rústico composto por terra de pastagem, com a área de sete mil metros quadrados, sito em Rocha do Macho Fê-meo, que confronta a norte e poente com Manuel Cavaco, a sul com José Joaquim Rodrigues Neto e a nascente com José Domingos, inscrito na matriz sob o artigo 517 (com proveniência no artigo 498 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 17,23 €, igual ao atribuído.

- Que esses prédios, com a indicada composição e área, vieram à sua posse por dissolução da comunhão conjugal e sucessão heredi-tária por óbito de José Joaquim Rodrigues Neto, marido da primeira outorgante identificada em A) e filho do outorgante identificado em B), falecido em um de Março de dois mil e doze, tendo sido declarados seus únicos herdeiros, eles justificantes.

- Que, por sua vez, o referido José Joaquim Rodrigues Neto e mulher, ela outorgante, Maria Natália Garcias, adquiriram aqueles prédios do seguinte modo:

a) o identificado na verba UM, em data imprecisa do ano de mil novecentos e setenta e cinco, por compra meramente verbal e nunca reduzi-da a escritura pública, feita a José Caetano Fonseca, viúvo, já falecido, com a última residência habitual no Zimbral, em Santa Maria, Tavira;

b) os identificados nas verbas DOIS e QUATRO em data imprecisa do ano de mil novecentos e oitenta, por compra meramente verbal feita a Vírginia Afonso, já falecida, residente que foi nas Quatro Estradas, Santo Estêvão, Tavira;

c) os identificados nas verbas TRÊS, CINCO e SETE, em data imprecisa do ano de mil novecentos e três, por compra meramente verbal feita a João da Ascenção Santos ou João da Ascenção Santos Cruz, casado com Cândida da Piedade Gonçalves, já falecidos, residen-tes que foram em Cruz do Areal, Santa Margarida, Santiago, Tavira;

d) os identificados nas verbas SEIS, OITO e NOVE, em data imprecisa do ano de mil novecentos e oitenta, por compra meramente verbal feita a Cândida da Conceição, casada com José Rodrigues ou José Rodrigues da Bodega, já falecidos, residentes na Asseca, Santa Maria, Tavira;

e) e o identificado na verba DEZ, em data imprecisa do ano de mil novecentos e oitenta, por compra meramente verbal e nunca reduzida a escritura pública, feita a João da Ascenção Santos, já identificado, e a João Cassapo ou João da Conceição Neto e mulher Etelvina da Piedade Gonçalves, residentes que foram em Santa Margarida, Santiago, Tavira, já falecidos, com a última residência habitual no Sítio do Alto, em Luz de Tavira;

- Que, assim, justificam os referidos imóveis, porquanto há mais de vinte anos, primeiro o casal José Joaquim Rodrigues Neto e Maria Natália Garcias, e depois eles, por sucessão na posse que aqueles já vinham exercendo, de forma pública, pacífica, contínua e de boa fé, ou seja, com o conhecimento de toda a gente, sem violência, nem oposição de ninguém, reiterada e ininterruptamente, na convicção de eles e os anteriores possuidores não lesarem quaisquer direitos de outrem e ainda convencidos de serem os únicos titulares do direi-to de propriedade destes imóveis, e assim o julgando as demais pessoas, eles, justificantes e os anteriores possuidores têm possuído aqueles prédios – cultivando-os, amanhando a terra, tratando das árvores, colhendo os respectivos frutos, nele pastando os animais, usufruindo dos seus rendimentos, suportando os encargos ou despesas com a sua manutenção –, pelo que, tendo em consideração as referidas características de tal posse, adquiriram por USUCAPIÃO os referidos imóveis, o que invocam.

- Que são, por isso, donos e legítimos possuidores, em comum e sem determinação de parte ou direito, com exclusão de outrem, dos referidos imóveis.

Tavira, 18 de Novembro de 2014.

O Notário,

Bruno Filipe Torres Marcos

Acto registado sob o n.º 332/2014

(POSTAL do ALGARVE, nº 1133, de 28 de Novembro de 2014)

Na senda da Cultura

A capa da revista Nova Águia

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Qual a importância do título numa obra artística?

Em 1917, Duchamp apresen-tou o trabalho “A fonte”, um urinol branco de porcelana, assinado com o pseudónimo R. Mutt, para uma Exposição da Sociedade para Artistas In-dependentes de Nova Iorque. No entanto, o presidente da direção da sociedade afirmou à imprensa que essa “não era uma obra de arte, sob qualquer definição”, embora sendo uma exposição aberta a todos os que quisessem participar, desde que pagassem seis dólares, o que Duchamp fez.

Em defesa de Duchamp, na altura o artista Beatrice Wood escreveu um artigo de jornal, The Blind Man, salientando que pouco importava que Mr. Mutt tivesse feito “A Fonte” com as suas próprias mãos, pois o im-portante é que ele escolheu esse objeto (“He chose it”). Ele usou um objeto do dia-a-dia, tendo-o retirado do seu lugar habitual, fazendo com que o seu sentido inicial e utilidade desaparecessem e fosse criado um novo pensamento sobre esse objeto com base no novo título e situação em que se en-contrava. Assim, embora não tenha tido uma intervenção manual no sentido de produzir um novo objeto, Duchamp se-lecionou um objeto já existente e criou um novo pensamento sobre este, podendo ser ob-servado não como um vulgar urinol, mas como uma “fonte”, de acordo com o título dado a esta “obra”. Neste caso o títu-lo é essencial, pois direciona a percepção do observador para compreender a mensagem e o sentido do objeto apresenta-do pelo artista. Confome refe-riu Duchamp, “for me the title was very important. I wanted to put painting once again at the service of the mind (…) We think in words and images, not in paint” (Godfrey, 1998). No mesmo sentido, posicio-nam-se diversos autores con-temporâneos, em particular Kosuth (1996), ao considerar que na base da arte concetual

está o fato do artista trabalhar com significados e não com

formas, cores ou materiais, ou Cauquelin (2010), ao defender

que “expor um objeto é dar-lhe um título, o título é uma cor”.

Duchamp realizou vários readymade, como por exem-plo expor um chaveiro na for-ma de garrafa (“Bottle rack”, 1914), o qual foi recreado por Maureen Connor em 1989 e também serviu de inspiração para o trabalho de Joana Vas-concelos colocado à entrada no CCB, em Lisboa. Assim sendo, “A fonte” de Duchamp não sur-ge como um trabalho isolado, mas antes como um trabalho inserido numa originalidade e identidade que, de forma per-sistente, Duchamp desenvol-veu, o que lhe permitiu fazer história, sendo, atualmente, a sua obra considerada uma das mais importantes na história de arte do século XX, pois in-fluenciou vários movimentos de arte moderna e pós-moder-na, em particular a arte con-ceptual, segundo a qual a ideia ou o conceito que se pretende transmitir é o mais importan-te na arte. Nesta perspetiva, a arte pode ser entendida como uma forma de comunicação, não tendo as obras de arte que

ser o produto das mãos do ar-tista, ou esteticamente belas, ou emocionalmente profundas.

Talvez não tenha muito sen-tido falar em readymade na atu-alidade, podendo objeto insta-latório ser mais adequado. Em todo o caso, continuam a ser realizadas apresentações em que alguns objetos do quoti-diano são levados para den-tro de museus. Por exemplo, no trabalho “La visite guidée” (1994), Sophie Calle colocou um balde vermelho numa ví-trine ao lado de peças arqueo-lógicas, numa clara indicação de que os objetos que agora fa-zem parte do nosso dia-a-dia, um dia estarão ultrapassados e serão peças de museu. No entanto, não é o facto de estar dentro de um museu o critério que permita distinguir o que é arte daquilo que não é, porque senão como enquadraríamos o Movimento “Land Art”, surgido nos anos 60, caracterizado por intervenções no exterior que se tornam a própria obra de arte?

Parece-nos que foi o facto de Duchamp ter sido persistente na sua originalidade e identi-

dade, desenvolvendo um per-curso coerente, que permitiu aos seus trabalhos ganharem sentido na história de arte. Talvez o júri, do qual ele curio-samente fazia parte, tivesse ra-zão quando não considerou “A fonte” como objeto de arte, no momento em que ela foi apre-sentada, mas é óbvio que atual-mente qualquer crítico de arte pode afirmar com segurança que foi uma importante obra de arte, porque Duchamp foi persistente e coerente, criando contexto histórico para a apre-ciação da sua obra.

É totalmente diferente de al-guém se lembrar de apresentar um trabalho deste tipo numa exposição, nunca tendo feito nada antes, nem indo fazer a seguir. Por isso, tem pouco sen-tido o comentário de algumas pessoas quando olham para uma obra de arte: “eu tam-bém fazia isto”. A arte deve ser apreciada, não só olhando, mas procurando compreender o sentido e o contexto da sua realização. Assim, a consistên-cia da produção original mar-ca a identidade de um artista e faz com que os seus trabalhos possam ser considerados obras de arte.

É a história ou o percurso de cada artista, a persistência e a consistência do seu trabalho, que pode permitir inferir a di-mensão artística do mesmo. Tal como na ciência, o caso único diz pouco, sendo necessário realizar investigação junto de uma amostra de sujeitos para se poderem tirar conclusões ge-neralizáveis. Também na arte parecem ser necessários vários trabalhos realizados pelo mes-mo artista para poder ser ava-liado o sentido da sua obra.

Após analisar várias teorias de arte apresentadas durante o século XX, Warburton, no seu livro “O que é a arte?” (2007), considera que “todas as tenta-tivas filosóficas recentes para definir arte têm sido até certo ponto inadequadas. Ninguém conseguiu ainda apresentar uma teoria convincente sobre o que é a arte. Assim sendo, Warburton específica a sua hipótese da seguinte forma: “é melhor restringir o papel da teorização acerca da definição de arte a casos particulares”. E termina o seu livro, concluindo que “a questão da arte faz sen-tido porque é formulada por pessoas interessadas em obras de arte e não apenas na ideia de arte. Em última análise, temos de regressar às próprias obras”.

Saul Neves de JesusProfessor Catedráticoda Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora

Artes Visuais

fotos: d.r.

A célebre ‘Fonte’ de Marcel Duchamp, que assinou a obra em 1917 sob o pseudónimo R. Mutt

‘Néctar’, Joana Vasconcelos, 2006

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28.11.2014 14 Cultura.Sul

Nos termos da sua lei or-gânica, a Direção Regional de Cultura do Algarve tem capa-cidade editorial própria e no âmbito dos apoios à Ação Cul-tural desenvolve, desde 2014, um Programa de Apoio à Edi-ção de Obras Temáticas sobre o Algarve, cujas candidaturas são enquadradas por regula-mento específico e apresen-tadas em formulário próprio, até 30 de Outubro (consultar http://www.cultalg.pt/Prog_Apoio/).

O objeto deste Programa é a produção de obras inéditas que desenvolvam temáticas referentes ao Algarve e que contribuam para promover e divulgar o conhecimento so-bre as especificidades da sua história e a sua identidade cultural.

Não são aceites, no âmbito do Programa, obras já edita-das, ou produzidas, exceto se a reedição for aumentada, em termos de texto com conteú-dos ou críticas

O apoio é de carácter fi-nanceiro e a fundo perdido, sendo atribuído mediante um processo de avaliação das candidaturas no âmbito de uma Comissão Consultiva para a Edição, designada para o efeito e composta de perso-nalidades com relevo cultural e profissional (atualmente Adriana Nogueira, Alexandra Gonçalves, Augusto Miranda, Carlos Campaniço, Natércia

Magalhães, Paulo Teixeira Pinto, Raquel Correia e Virgí-nia Alpestana).

Para efeitos de avaliação das candidaturas estão definidos os seguintes critérios: a) Curri-culum Vitae do autor ou auto-res (formação e obra anterior-mente editada); b) Qualidade literária, criativa ou científica da obra em análise; c) Atuali-dade e relevância da obra para a difusão da cultura algarvia; d) Singularidade da temática na investigação e contexto re-gional e local; e) Importância relativa da edição ou da pro-dução no território do Algar-ve. f) Prioridades estratégicas definidas pela Comissão Con-sultiva para a Edição contex-tualmente em função dos destinatários; g) Existência de parcerias e financiamentos complementares devidamente quantificados.

Em 2014, candidataram-se ao programa dez obras e fo-ram apoiadas, após parecer da Comissão Consultiva para a Edição, as seguintes: A Che-gada do Comboio ao Algarve, de Aurélio Nuno Cabrita, e Os Lu-gares da Conquista de Silves aos Mouros, de Rogélio Mena Go-mes, da Casa do Algarve em Lisboa; O Mar ao Fundo (CD), produção de Bons Ofícios; 200 Plantas do Sudoeste Alente-jano e Costa Vicentina - Guia de Campo, de Ana Luísa Simões e Ana Carla Cabrita; Pousada de S. Brás de Alportel (1944-2014),

produção da Casa da Cultura António Bentes do Museu do Trajo (Misericórdia de São Brás de Alportel); Realizações e Utopias: O Património Arqui-tectónico e Artístico das Caldas de Monchique na Cenografia da Paisagem Termal, de Ana Pinto.

De entre as obras candida-tadas, a Comissão conside-rou que o trabalho História, Tradição e Oralidade no Algar-ve - Lendas e outras Memórias de Monchique, de Cláudia Diogo (a partir da disserta-ção de mestrado da autora mas revista com a finalidade de atingir um público não exclusivamente académico), poderia ser uma edição assu-mida pela Direção Regional de Cultura do Algarve, no âmbito de uma nova linha editorial. A autora assumiu o desafio e a obra será disponi-bilizada, em inícios de 2015, com apresentações pública previstas na FNAC de Faro e em Monchique.

Em 2015, as edições da res-ponsabilidade da Direção Re-gional de Cultura do Algarve, paralelamente à edição tra-dicional, em livro, passarão a ter igualmente formato digital para uma maior disponibiliza-ção espacial e temporal, usan-do a Amazon, a iBook Store (da Apple) e a Kobo (em Portu-gal representada pela FNAC).

Direção Regional de Cultura do Algarve

A Direção Regional de Cultura do Algarve no apoio à edição

d.r.

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No próximo ano as edições apoiadas passarão a ter também formato digital

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