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CURITIBATIVA Gesto nas Cidades voltada promoo da atividade fsica, esporte, sade e lazer

Avaliao, prescrio e orientao de atividades fsicas e recreativas, na promoo de sade e hbitos saudveis da populao curitibana Formato eletrnico

Coletnia de Autores Kruchelski & Rauchbach (orgs)

2006

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Fotos: Acervo da Secretaria Municipal da Comunicao Social e Secretaria Municipal do Esporte e Lazer. Capa, arte grfica e editorao: Tinho Cartunismo & Animao Reviso: Kathya Menna Barreto Madruga; Rosemary Rauchbach; Silvano Kruchelski

Curitibativa gesto nas cidades voltada promoo da atividade fsica, esporte, sade e lazer: Avaliao, prescrio e orientao de atividades fsicas e recreativas, na promoo de sade e hbitos saudveis da populao curitibana / Silvano Kruchelski, Rosemary Rauchbach (orgs) Curitiba: R Rauchbach, 2005. 150p.:il; 22cm ISBN 85-904868-2-6 Inclui Bibliografia 1. Atividade fsica. 2.Gesto pblica. 3. Sade. 4. Recreao I. Rauchbach, Rosemary. II Kruchelski, Silvano. CDD 613.7Dados Internacionais de catalogao na publicao Bibliotecria responsvel: Lucilene Aparecida Francisco CRB -9/1396

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Autores

Andrs Kroly Vrs Celso Sawaf Dalton Grande Denise Gusso Tosin Emilio Antonio Trautwein Hiran Cassou Joo Egdoberto Siqueira Jos Carlos Cassou Luciane Scarpin Newton Zanon Ramiro Eugnio de Freitas Ronaldo Babiak Rosemary Rauchbach Silvano Kruchelski Vanessa Cristina Hatschbach

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Livro editado atravs da Lei do Incentivo ao Esporte

Decreto n 824/03.

Gestes

1997 - 2004 Prefeito Cssio Taniguchi

2005 - 2008 Prefeito Carlos Alberto Richa

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ApresentaoO livro CuritibAtiva traz em sua essncia a histria de vida dos profissionais que ajudaram na construo das idias de uma poltica de esporte, lazer e promoo da atividade fsica. Cada autor deixou em seu captulo a sua viso de como tudo comeou, e quais foram as etapas do processo que levou o curitibano no ser apenas um inquilino, mas proprietrio da sua cidade. Inicia em seus captulos abordando questes sobre gesto na cidade voltada para seu habitante, exibe aes transformadoras, adequadas ao comportamento humano contemporneo. Enfatiza que as polticas de um municpio devem buscar, no somente o esporte e o lazer como um fim, mas proporcionar ao cidado melhorias na sade e qualidade de vida. Para concretizar este processo, necessrio que acontea readequao e criao dos espaos e programas da cidade, que devem passar por constantes reavaliaes com o enfoque no indivduo e sua maneira de viver. O uso do tempo livre nos grandes centros, onde tudo se transforma em ritmo impressionante, leva a uma reflexo sobre a dicotomia "Lazer Passivo X Lazer Ativo" e a influncia dos mesmos sobre a sade das pessoas. A prtica de esportes de rendimento no deve ser considerada como fator nico nem relegada ao segundo plano, levando em conta a abrangncia do esporte como educao, formao do indivduo, lazer, criao de dolos, superao de limites e contribuindo na qualidade de vida. O Programa CuritibAtiva surge em um contexto histrico no qual se evidenciava a necessidade de informaes relativas sade e qualidade de vida. Este programa passou por evolues e hoje atende a pessoas de vrias faixas etrias, atravs de diferentes prticas corporais orientadas, como tambm, avaliao e prescrio de atividade fsica utilizando como instrumento, protocolos especficos para cada etapa do desenvolvimento: criana/adolescente, adulto e idoso. Estes protocolos permitiram estudos cientficos, cujos resultados apresentados neste livro, so o ponto de partida para novas aes possibilitando a readequao das polticas de atendimento, tendo como meta o envelhecimento populacional com qualidade.

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Os aspectos nutricionais tambm so considerados, baseados em estudos que comprovam que a alimentao balanceada e estilo de vida ativo iniciados na infncia resultam vida adulta saudvel e conseqente envelhecimento privilegiado. Esta publicao apresenta uma verdadeira poltica de esporte, lazer e de promoo da sade e da qualidade de vida que uma cidade pode oferecer ao seu habitante a partir de prticas de sucesso.

Apresentao da edio eletrnicaCuritibativa, um programa voltado promoo de hbitos saudveis e mudana de estilo de vida, tem como um de seus propsitos contribuir com a disseminao do conhecimento sobre sade e qualidade de vida. A primeira edio deste livro, obtida atravs da Lei do Incentivo ao Esporte da cidade de Curitiba, cumpriu o seu papel, apesar da baixa tiragem e de se restringir a atender rgos governamentais, bibliotecas, instituies de ensino superior e secretarias de esporte. No entanto, a repercusso, recepo e procura motivaram a realizao desta edio em formato eletrnico e-book a qual pode facilitar o acesso em pesquisas nas reas da poltica do esporte e lazer e da promoo da atividade fsica relacionada sade e qualidade de vida. Silvano Kruchelski Rosemary Rauchbach

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SumrioApresentao Captulo 1 - Qualidade de vida nas cidades Cidades Uma cidade! Um indivduo! Uma comunidade! Cidades! Qualidade de vida ideal! Curitiba! A cidade que faz! O cidado, a cidade e a qualidade de vida! Captulo 2 - Lazer e Qualidade de Vida Trabalho e tempo livre. Lazer e recreao: significado e relaes com a Educao Fsica. A cidade e seus espaos Curitiba: O passado refletindo no presente. A Poltica Municipal do Esporte e Lazer em Curitiba. Gerncias Regionais: uma abordagem comunitria. Captulo 3 - Prtica desportiva de rendimento-Fator de desenvolvimento integral O Departamento de Esporte e suas reas de atuao. Captulo 4 - A descoberta e valorizao de talentos esportivos. O contexto histrico do esporte em Curitiba. A criao do CATEs. Parcerias & Convnios. As faixas etrias. As modalidades esportivas. Captulo 5 - CURITIBATIVA - Programa de incentivo atividade fsica da cidade de Curitiba. Captulo 6 - Perfil de sade e aptido fsica da populao curitibana. Atividade fsica habitual. Risco Cardaco. Fora abdominal. ndice cintura quadril ICQ. ndice de massa corporal IMC. Flexibilidade. Fora de preenso de mos (Dinamometria). Presso arterial, glicemia e colesterol. Captulo 7 - Ginstica para todos. Algumas atividades desenvolvidas. Captulo 8 - A cidade envelhece. O Programa Idoso em Movimento. Pg. 5

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O perfil do idoso no Municpio de Curitiba. Resultados da pesquisa. Captulo 9 - O protocolo de avaliao fsica da criana e do adolescente. Estrutura do protocolo Indicadores de Sade. Desempenho esportivo. Captulo 10 - Nutrio para crianas: qualidade de vida para o futuro. Aspectos psicolgicos. Princpios bsicos da boa Nutrio. Obesidade. Prevenir doenas cardiovasculares o melhor remdio. Anexos

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Captulo 1QUALIDADE DE VIDA NAS CIDADES Andrs Vrs Emilio Antonio Trautwein Cidades Atualmente com os afazeres dirios pouco se reflete sobre o que est ao redor. O trabalho, os filhos, e a vida familiar so de uma forma muito natural centralizadores de todas as atenes. No entanto, vale a pena parar um pouco e refletir sobre a qualidade de vida que se tem, principalmente para aqueles que vivem nas cidades. Dentre tantos paradigmas existentes pode-se em uma analogia referenciar a msica de Enriquez, Bardottia e Chico Buarque (1977) como um parmetro de reflexo e em uma anlise potica de qual seria a cidade ideal.A cidade ideal Enriquez - Bardotti - Chico Buarque/1977Para o musical infantil Os Saltimbancos

Cachorro:A cidade ideal dum cachorro Tem um poste por metro quadrado No tem carro, no corro, no morro E tambm nunca fico apertado Galinha: A cidade ideal da galinha Tem as ruas cheias de minhoca A barriga fica to quentinha Que transforma o milho em pipoca Crianas: Ateno porque nesta cidade Corre-se a toda velocidade E ateno que o negcio est preto Restaurante assando galeto Todos: Mas no, mas no O sonho meu e eu sonho que Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores Fossem somente crianas Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores E os pintores e os vendedores Fossem somente crianas

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Gata:

A cidade ideal de uma gata um prato de tripa fresquinha Tem sardinha num bonde de lata Tem alcatra no final da linha

Jumento: Jumento velho, velho e sabido E por isso j est prevenido A cidade uma estranha senhora Que hoje sorri e amanh te devora Crianas: Ateno que o jumento sabido melhor ficar bem prevenido E olha, gata, que a tua pelica Vai virar uma bela cuca Todos: Mas no, mas no O sonho meu e eu sonho que Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores Fossem somente crianas Deve ter alamedas verdes A cidade dos meus amores E, quem dera, os moradores E o prefeito e os varredores E os pintores e os vendedores As senhoras e os senhores E os guardas e os inspetores Fossem somente crianas

O conceito de cidade amplo e com muitas variveis, entretanto a que mais se aproxima da definio ideal : uma aglomerao humana de certa importncia, localizada numa rea geogrfica circunscrita e que tem numerosas casas, prximas entre si, destinadas moradia e/ou a atividades culturais, mercantis, industriais, financeiras e a outras no relacionadas com a explorao direta do solo.Houaiss (2001). Para os prximos 20 anos, o processo de urbanizao dever ser mais intenso na frica e na sia. Na Amrica do Sul ele j est perto do fim, uma vez que entre 70 e 80% da populao j urbana. Segundo Santanna (2001), em seu artigo intitulado A cidade como objeto de estudo: diferentes olhares sobre o urbano, [...] o urbano deveria ser compreendido como espao socialmente produzido, assumindo diferentes configuraes de acordo com os vrios modos de organizao socioeconmica e de controle poltico em que est inserido. Intervenes de re-qualificao urbana inserem-se, em muitos

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casos, em anteriores processos de salvaguarda patrimonial e de identificao cultural das cidades. Em Curitiba, a preocupao atual em relao ao que dever acontecer em um futuro prximo, uma vez que a exploso urbana a que se submeteu o municpio nos ltimos 10 anos, e que algo surpreendente, e mostra sinais de descontrole. Uma cidade! Um indivduo! Uma comunidade! Ao descrever uma Cidade, procurando um direcionamento para a melhoria da qualidade de vida, deve-se considerar que essa possui uma forte interferncia junto comunidade, e que as comunidades formam um relacionamento com grau de intimidade pessoal, profundeza emocional, engajamento moral, coero e coeso social que persistem no tempo, determinando a sua forma de ser. A comunidade digna encontra seu fundamento no homem em sua totalidade e no neste ou naquele papel que possa derivar de uma motivao mais profunda que a do interesse de vontades individuais. Segundo Foracchi & Martins (1977) A comunidade a fuso do sentimento e do pensamento, da tradio e da ligao intencional, da participao e da volio. Desta forma, levanta-se as seguintes questes: Como averiguar a qualidade de vida de uma cidade? Qual o grau ou nvel aceitvel desta qualidade de vida? Tem-se ou no qualidade de vida na cidade ? Para Ferreira (2001), a qualidade de vida nas cidades, constitui em algo de difcil avaliao, precisamente porque joga com uma dimenso propriamente qualitativa, tanto das cidades, enquanto tais, como das condies e modos de vida das pessoas que habitam, trabalham e circulam nessas mesmas cidades. Ainda para o mesmo autor:[..] esto, em jogo diversas questes: desde a qualidade do espao fsico das cidades, da sua arquitetura, mas tambm a qualidade da sua habitao e do patrimnio edificado e do que vai sendo construdo; a qualidade das suas vias e ruas, mas tambm a sua funcionalidade e adequao s necessidades de mobilidade urbana; a qualidade (e quantidade) das suas reas verdes, quer escala do bairro, quer a nveis mais amplos, da cidade e da regio em que ela se situa; a qualidade dos espaos pblicos, tambm eles de escalas

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muito diferenciadas e que, no seu conjunto, permitem avaliar a condio pblica dessas mesmas cidades; a qualidade do ambiente na cidade, mas tambm o seu ambiente urbano, enquanto avaliao conjunta daquele ambiente com as questes anteriores. Enfim, falar da qualidade de vida nas cidades pressupe uma avaliao cruzada do conjunto de vrias qualidades, tanto do espao urbano, como da vida individual e social dos indivduos daquele espao.

A qualidade do ambiente na cidade um ponto que revela diversos segmentos que podem condicionar a aspectos de melhoria da maneira de viver, ou das oportunidades e desejos que sero alcanados com a oferta de ateno as necessidades individuais para um convvio comunitrio. Isto se refere aos aspectos de ateno sade, a melhoria do modelo de educar, ao acesso e distribuio de espaos para o Esporte e para o Lazer, as condies as quais permitem com que uma comunidade possa alcanar nveis culturais que sejam determinantes nas decises de projeo dos planos futuros de convvio social dentro da cidade. Quando se faz referncia sade e a educao, os raciocnios humanos direcionamse, no somente pensar, mas opinar com raciocnio lgico dentro de padres que saibam distinguir aes erradas das certas, e que trazem sempre atreladas a estas decises, projees de uma sociedade mais digna e coesa de um rumo para a paz de esprito e de emoo. Considerando que o crescimento desordenado das cidades se d muitas vezes ao impulso de fazer sem a anlise de entender quais as conseqncias que este fazer acarretar no futuro. Pois a capacidade do homem de modificar seu ambiente ultrapassa de longe a de outros seres vivos, pois o homem racional. Suas modificaes so mais rpidas que a capacidade de compreenso das conseqncias que tais mudanas possam trazer. Cidades! Qualidade de vida ideal! Considerando que para ter-se uma cidade com qualidade de vida ideal, deve-se compreender que tal qualidade est diretamente formada pelos interesses de cada indivduo junto sua formao tica e cvica, de conhecimento ao seu habitat. Sendo que a compreenso de sociedade, e de comunidade para este indivduo deve estar ancorada como base das aes de servir ao prximo conforme as capacidades delegadas ao dom de cada ser. Para Ferreira (2001), a qualidade de vida nas cidades, uma

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referncia constante do discurso poltico, est tambm presente, ainda que com entendimentos distintos, nos desejos e aspiraes dos indivduos dessas cidades. Deve-se ter a definio de que a Qualidade de Vida, no simplesmente a melhor condio de bem estar momentneo de um indivduo ou de um grupo, mas sim da potencialidade das transformaes que um indivduo, um grupo ou uma comunidade podem gerar na melhoria de condies que facilitem o alcance destas para todos. Para Barbanti (2003), a qualidade de vida se define por um sentimento positivo geral e entusiasmo pela vida, sem fadiga das atividades rotineiras. Ela est intimamente ligada ao padro de vida. Nvel de bem-estar que um indivduo ou uma populao pode desfrutar. Incluem aspectos de sade fsica e mental, condies materiais, infra-estrutura, condies sociais em seu relacionamento com o meio ambiente. Qual seria ento a melhor cidade em qualidade de vida? Pensandose desta forma em conjunto s aspiraes de uma comunidade, seria a cidade que melhor atenda s expectativas de realizao de um povo, sempre procurando nas maiores dificuldades agir em um processo cadenciado para dissipao dos contedos e atitudes para todos os envolvidos no contexto daquela cidade. A qualidade de vida um fator ou um contexto global de expectativa para um povo! Pode-se em diversos momentos procurar entender que para as cidades isto o viver! Mas para se analisar o desenvolvimento desta em uma determinada comunidade deve-se saber, o que analisar, como analisar, quando analisar, por que analisar, quanto custa esta qualidade de vida para a cidade, qual o preo que se paga por ela. A cidade tem como compreender economicamente esta qualidade? J para Lyndon Johnson (1964), a definio de qualidade de vida estava atrelada a seu negcio. Presidir um dos maiores pases do mundo, os Estados Unidos, [...] que os objetivos no podem ser medidos atravs do balano dos bancos. Eles s podem ser medidos atravs da qualidade de vida que proporcionam s pessoas (WHO,1998). Assim, observa-se que o termo qualidade de vida sempre esteve em destaque para cientistas sociais, filsofos, polticos, arquitetos, entre outros. Mas ser que por necessidade individual ou por razes agrupadas de uma sociedade? Ao procurar explicar a citao acima, pode-se simplesmente avaliar que o crescimento de apenas uma instituio no a razo de sucesso para um povo, e sim o que este crescimento transforma de melhor para a comunidade de uma cidade.

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Para a Organizao Mundial da Sade (1998), a preocupao com o conceito de qualidade de vida refere-se a um movimento dentro das cincias humanas e biolgicas no sentido de valorizar parmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuio da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida. Ao nortear os pensamentos para pr-definies oriundas de propostas governamentais que so elaboradas e formatadas por intelectuais, socilogos, filsofos, polticos eleitos, entre outros que possuem dentro da sua essncia necessidades correlatas a uma sociedade digna. Fundamentalmente dentro de diversas propostas deve-se ater aos estatutos municipais que gerem bases temticas para a operacionalizao das transformaes das cidades, e que tem norteado sua sistemtica atravs dos domnios: Domnio I - Domnio fsico 1. Dor e desconforto 2. Energia e fadiga 3. Sono e repouso Domnio II - Domnio psicolgico 4. Sentimentos positivos 5. Pensar, aprender, memria e concentrao 6. Auto-estima 7. Imagem corporal e aparncia 8. Sentimentos negativos Domnio III - Nvel de Independncia 9. Mobilidade 10. Atividades da vida cotidiana 11. Dependncia de medicao ou de tratamentos 12. Capacidade de trabalho Domnio IV - Relaes sociais 13. Relaes pessoais 14. Suporte (Apoio) social 15. Atividade sexual

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Domnio V- Ambiente 16. Segurana fsica e proteo 17. Ambiente no lar 18. Recursos financeiros 19. Cuidados de sade e sociais: disponibilidade e qualidade 20. Oportunidades de adquirir novas informaes e habilidades 21. Participao e oportunidades de lazer 22. Ambiente fsico: (poluio/rudo/trnsito/clima) 23. Transporte Domnio VI - Aspectos espirituais/Religio/Crenas pessoais 24. Espiritualidade/ religio/ crenas pessoais. Entre todos estes domnios pode-se realar alguns itens que, diretamente a administrao de Curitiba, entre suas diversas perspectivas de desenvolvimento j procura promover, em ascenso aos anseios de uma sociedade, que em suas diversas oportunidades, j tem um critrio de anlise crtica apurado pela margem de qualidade atingida pelos diversos ndices de sade, educao, transporte coletivo, entre outros, que superam as referncias internacionais. Curitiba! A cidade que faz! Curitiba tem 1,7 milho de habitantes que levam uma vida diferenciada da maioria das capitais brasileiras. Eles desfrutam de privilgios que tem atrado administradores e tcnicos de todos os lugares, sempre mudando a face da cidade e preparando-a para futuro. A caracterstica principal de Curitiba descoberta rapidamente por quem a visita: a forma inovadora com que os problemas so resolvidos, a comear pelo sistema virio. A circulao da cidade rpida e segura, garantida por um sistema trinrio de vias, com canaletas exclusivas para o transporte coletivo e pistas para os deslocamentos velozes. Para destaque de avaliao da Qualidade de Vida nas Cidades, Ferreira (2001), descreve que um indicador potente de avaliao da

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qualidade de vida nas cidades tem a ver com a mobilidade dos seus indivduos. Exemplo este demonstrado pelo sistema virio da cidade, que modelo e referncia. Em 1970, a Prefeitura tombou e restaurou as construes centenrias do Setor Histrico, que voltaram a ganhar vida ao lado de dezena de museus, cinemas e teatros como o Guara e o Paiol. O curitibano tambm ganhou espaos pioneiros exclusivos para pedestres, como o calado da famosa Rua das Flores, o primeiro do Pas, que se transformou num ponto de encontro e de lazer. A capital paranaense tambm foi a primeira a criar uma Rua 24 Horas - um espao sempre aberto, com dezenas de lojas para suprir as mais variadas necessidades de quem vive e quem chega cidade. Bares, farmcias, casas de vdeo, lavanderias, floricultura e mercadinho esto disposio da populao dia e noite, num espao de arquitetura moderna e funcional. A criao de parques e a preservao de bosques garantiram a um s tempo o afastamento das reas habitacionais das zonas de enchente da cidade e concedeu outro privilgio ao curitibano: 50 metros quadrados de rea verde para cada morador da cidade, um nmero muito superior s recomendaes da ONU. A Cidade de Curitiba merece mesmo o ttulo de capital ecolgica do Brasil, ttulo este, reforado recentemente com a criao do Jardim Botnico da cidade, uma imensa rea verde, com estufa para viveiros, lago e muito espao verde disposio de quem gosta da natureza ou se dedica a estudos de botnica. Em todas as discusses pblicas e de movimentao popular, procura-se orientao para manter uma conduta coletiva das necessidades, onde os indivduos sempre tm ancorado aos seus desejos, uma expectativa de vida melhor. E assim, que Curitiba, preocupada com o desenvolvimento pleno do cidado, possui dentro de suas diversas reas, vrios projetos, programas e atividades voltados melhoria contnua da qualidade de vida e suas expectativas alm de proporcionar condies de aperfeioamento dos hbitos saudveis da populao. O poder pblico de direo ao esporte e lazer tem a misso de fomentar prticas de esporte, lazer e atividades fsicas para o desenvolvimento de potencialidades do ser humano, visando seu bemestar, sua promoo social e sua insero na sociedade, consolidando sua cidadania.

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E com esta misso, que se desenvolve diversa ao que atualmente so modelos de desenvolvimento e performance do pas na administrao esportiva, do lazer e da Atividade Fsica, temos como exemplo; Os Jogos Escolares descentralizados no Municpio, o desenvolvimento de escolinhas esportivas que procuram no seu todo, alm da performance o equilbrio do indivduo com o cotidiano, preparar o futuro cidado. A Linha do Lazer que leva o aprender para o lazer prximo a comunidade com estagirios e professores apoiando e educando a comunidade em diversos locais com muita alegria, diverso e harmonia, os grandes eventos comemorativos que oportunizam mais um momento para toda a populao brincar, praticar, pular, jogar e festejar os seus momentos de ociosidade e de dedicao famlia. Ressalta-se, o programa CuritibAtiva, um modelo de ao educativa e de promoo dos hbitos saudveis, j apresentado em diversos congressos e copiado por diversas cidades, que parte da avaliao do cidado recolhendo dados de parmetros fsicos da populao nas mais diversas faixas etrias, e com estes dados projetar uma avaliao do perfil da comunidade por regio geogrfica e sugerir propostas, para que estes encontrem orientaes adequadas para a promoo da sade atravs da Atividade Fsica. Curitiba tambm mantm um programa de conscientizao e estudo sobre as condies de sade e aptido fsica do idoso, conhecido como Programa Idoso em Movimento, um modelo a ser seguido. Leva-se com este programa, o cidado a pensar sobre sua Qualidade de Vida, proporcionando-lhe a oportunidade de buscar a sua definio pessoal de qualidade. Valorizar a famlia os amigos e, seu grupo social acima da riqueza e da fama, a excitao sobre a tranqilidade, sociabilidade sobre o isolamento. Ao utilizar como base os domnios que uma cidade deve abranger em suas propostas de evoluo comunitria, v-se que em Curitiba, as aes do esporte, lazer, atividade fsica, recreao entre outras, procura atender em todas as formas de desejos, no somente individuais, mas de contextualizao global de uma sociedade. E Curitiba na rea do Esporte e Lazer procura no somente atender as necessidades da comunidade, mas sim propor novas perspectivas para a rea, que nestes ltimos quatro anos incluiu no seu rol de atividades a implantao da Lei de Incentivo ao Esporte que j trouxe diversos ttulos mundiais para os atletas curitibanos, incentivando o esporte amador nas suas mais diversas segmentaes de educao, participao e rendimento. E um projeto municipal atualmente

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denominado Comunidade Escola (evoluo do Programa Conviver), desenvolvido dentro das escolas para que a populao prxima delas possa em seus momentos livres, utilizar este espao e promover o seu bem estar e convvio saudvel, utilizando, cuidando e promovendo aes em prol de uma sociedade eticamente consciente pelos fatores sociais, econmicos, e humanos. No se deve simplesmente aceitar, que na atualidade apresente-se apenas uma proposta que mantenha e/ou melhore significativamente a qualidade de vida em Curitiba, necessrio orientar cientificamente e metodologicamente, os campos tcnicos e operacionais no intuito de orientar todos os procedimentos para uma melhoria constante dos hbitos saudveis e do convvio social das comunidades. Pretende-se que se consiga direcionar as aes em harmonia, junto a novas propostas governamentais que certamente surgiro. O cidado, a cidade e a qualidade de vida Partindo da premissa que cada idade tem seus prazeres, seu estilo de pensar e de vida, percorrendo seus prprios caminhos, cada indivduo aceitou ou aceitar a importncia da vida ativa e os hbitos positivos por ela promovidos. A coeso em torno do ideal para existncia do ser humano pressupe que cada indivduo responsvel por levar a famlia, os amigos e a comunidade em busca de uma vida fisicamente ativa e com cada vez mais Qualidade de Vida. Por outro lado, a cidade ideal tambm se torna responsvel por divulgar a mensagem e estender a oportunidade da prtica de atividades fsicas regulares, como forma de se contrapor inatividade, ao desperdcio de energia, da recreao motorizada e sade decadente. Tambm essencial, a necessidade de se preservar ambientes fsicos, emocionais e sociais que se quer para as geraes futuras. Uma cidade (leia-se seus cidados), deve encorajar e cobrar de seus legisladores e burocratas, leis e regulamentos sobre a sade e a qualidade de vida. fundamental que se tenha presente que as polticas pblicas influenciam o comportamento de sade e de atividades fsicas regulares de cada indivduo. Como exemplo; evidencia-se que as pessoas tm mais chances de parar de fumar quando proibido esse ato, no local de trabalho e em locais pblicos. Por outro lado, o incentivo atividade fsica pode ser alcanado ao se proibir a circulao de veculos a motor de combusto em determinadas reas da cidade, e em contraposio, ofertando boas caladas, boa rede de ciclovias e condies ideais de mobilidade urbana.

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As leis e polticas locais e estaduais devem ser delineadas para encorajar os comportamentos saudveis, pois alm do reflexo na qualidade de vida do indivduo, so comportamentos bons para a economia pblica e o meio ambiente. O indivduo isoladamente tem mais dificuldade para adotar um novo comportamento do que quando recebe boa e farta informao, apoio institucional e o exemplo de experincias positivas anteriores. Com certeza h de se alcanar sucesso em uma poltica pblica, quando se atende uma necessidade e existe apoio social, levando o indivduo a perceber evidncias de mudana e progresso em direo da meta proposta. Concluindo, pode-se afirmar que a cidade ter pleno sucesso em suas propostas quando consegue identificar o que a sociedade necessita, o que elas (cidade e o cidado) so capazes, quando podero alcanar suas metas, com que custo e com que ganho real. Esta mudana ser possvel quando pudermos concordar com Epicurus1 que afirma: impossvel viver prazerosamente sem viver sabiamente, bem e justamente; impossvel viver sabiamente, bem e justamente sem viver prazerosamente.Referncias Barbanti, V. J. (2003). Dicionrio de Educao Fsica e Esporte, 2 Edio. Barueri, SP : Manole. Bristol-Myers Squibb Brasil. (1992). L.E.R. :Leses por Esforos Repetitivos. (Coletnea de Artigos). So Paulo: Autor. Canclini, N. G. ( 1997). Consumidores e cidados: conflitos multiculturais da globalizao. 3 ed.. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ. Featherstone, M. (Org.). (1998). Cultura global: nacionalismo, globalizao e modernidade. 2a edio. Petrpolis: Vozes. Ferreira, V. M. (2001, outubro). Qualidade de Vida e Qualidade as Cidades, Lisboa, Portugal, Revista Cidades, Centro de Estudos Territoriais do ISCTE. Foracchi, M. M. & Martins, J. S. (1977). Sociologia e Sociedade Leituras de Introduo Sociologia. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos. Nieman, D. C. (1999). Exerccio e Sade, Como se prevenir de doenas usando o exerccio como seu medicamento. So Paulo: Manole.1http://www.novaroma.org/camenaeum/index.html.pt

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SantAnna, M. J. G. (2001, outubro) A cidade como objeto de estudo: diferentes olhares sobre o urbano, Lisboa, Portugal, Revista Cidades, Centro de Estudos Territoriais do ISCTE. Veiga, J. E. (1999). O Brasil menos urbano do que se calcula.Indicadores Urbanos do Continente, INE/DGOTDU

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Captulo 2LAZER E QUALIDADE DE VIDA Denise Gusso Tosin A partir da dcada de 80, verificou-se um crescente interesse pela discusso da temtica do lazer, tanto no estudo como pela atuao profissional de um mercado cada vez mais atraente a diferentes reas do conhecimento. Notamos que a preocupao com o lazer vem se concretizando como um dos fatores fundamentais no exerccio da cidadania e na busca da qualidade de vida no Brasil. Mesmo sendo um direito legalmente garantido, sua consecuo depende principalmente de trs fatores determinantes: o primeiro referese falta de acesso da maior parte da populao ao lazer; o segundo, pequena oferta de aes de educao para e pelo lazer; e o terceiro, escassez de profissionais capacitados para o gerenciamento e a execuo das atividades. Como capital que tem sido modelo para muitas cidades, Curitiba demonstra sua experincia prtica e revela como sua comunidade vem sendo atendida conforme a poltica de lazer do Municpio. Pensar o lazer como direito social, nos leva a refletir sobre as conquistas histricas e sociais s quais ele est vinculado, reivindicaes pelo estabelecimento de tempo institucionalizado para o lazer, concretizado pela limitao da jornada de trabalho, no fim de semana, nas frias e nos feriados remunerados. Esses so os momentos consagrados ao lazer em todo mundo. Trabalho e tempo livreOs objetivos de natureza social dos descansos do trabalhador so hoje considerados de tal importncia que a consecuo de seus fins sociais criou um novo problema para os Estados: o da adequada utilizao das horas de folga do operrio, quer sob o prisma individual ou familiar, quer sob o aspecto do interesse pblico. Manifesto da OIT - Organizao Internacional do Trabalho(Toscano,1974).

O entendimento de lazer vem sendo atrelado s noes de trabalho. Trabalho que nossa sociedade tem conceituado como esforo cansativo e rotineiro objetivando ganhos financeiros para garantir sobrevivncia, e lazer que tem sido interpretado como um tempo

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livre do trabalho produtivo e um privilgio de poucos. Devemos lembrar que tanto o trabalho como o lazer, devem possibilitar a realizao humana, pois o indivduo ser sempre faber, algum que trabalha, e ludens algum que brinca. Embora se saiba que atualmente o tempo de lazer tenha aumentado na vida das pessoas em conseqncia da reduo da jornada de trabalho, o que se verifica na prtica a busca incessante por novas possibilidades de ampliao das fontes financeiras. Em muitas vezes para suprir as necessidades bsicas de sobrevivncia ou at mesmo elevar o padro de vida conquistando sonhos de consumo, traduzidos na oferta de bens e servios, dentre os quais o lazer, hoje divulgado pela mdia como forma de alcanar realizao, prazer, diverso e felicidade. Este tempo de lazer resultado de uma situao histrica em que o progresso tecnolgico permitiu maior produtividade em menos tempo de trabalho. Segundo Corbin (1996), em 1850 a durao anual do tempo de trabalho na Frana era de cinco mil horas. Como a vida mdia era muito curta, um trabalhador acabava por dispor na sua vida, de 262 mil horas de folga e devia dedicar 185 mil horas (isto , 70%) ao trabalho. Em 1900, a durao anual do tempo de trabalho caiu para 3.200 horas e a vida mdia aumentara um pouco. Em toda a sua existncia, um trabalhador j dispunha de 292 mil horas e trabalhava 121.600 (isto , 42%). Em 1980, a durao anual de tempo dedicado ao trabalho caiu para 1.650 horas e a vida mdia quase dobrou em comparao de cem anos antes. Enfim, o tempo total de folga de 420.480 horas e s 8% (isto , 75.550 horas) so dedicadas ao trabalho. Neste novo tempo de folga que so vivenciadas as situaes geradoras dos valores que sustentam a chamada Revoluo Cultural do Lazer. Novas formas de relacionamento social com caractersticas mais espontneas, a afirmao da individualidade e a contemplao da natureza alm de mudanas nas relaes afetivas, no contato com o belo, tudo em busca do prazer e qualidade de vida. A descoberta do valor dos contedos que compe o universo cultural do lazer para pessoas de diferentes faixas etrias e grupos sociais resulta numa busca a novas opes de prazer e de diverso para todos os membros da famlia e grupo social, consumindo volumes crescentes de bens e servios de lazer, exigindo uma variedade de opes cada vez maior.

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Lazer e Recreao e a Educao FsicaSo direitos sociais: a educao, a sade, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desamparados, na forma desta Constituio. Art. 6o Captulo II - Dos Direitos Sociais Constituio Federal, Emenda Constitucional n 26, de 14/02/2000.

Na dimenso ldica, o homem se torna verdadeiramente humano quando brinca. Para isto preciso buscar no homem e na sua realidade social, na dimenso social do conhecimento estabelecida entre ele e sua sociedade, na maneira como expressa este conhecimento e como cria, faz e transforma, a compreenso do sentido humano do brincar. Diversos so os autores que tm estudado a recreao e o lazer e seus significados. Para Bruhns (1997), a recreao o conjunto das atividades desenvolvidas no lazer, enquanto que o lazer pode ser entendido como expresso da cultura, constituindo um elemento de resistncia ordem social estabelecida. Existe uma forte associao entre lazer e recreao em nosso pas, que necessita ser pensada a partir da anlise do processo de construo de ambos no Brasil. O sentido etimolgico da palavra lazer, oriunda do termo latino licere criado nos ureos tempos da civilizao romana, designava as prticas culturais alegres e festivas consideradas lcitas e permitidas, enquanto a palavra recreao veio do latim recreatio, recreationem representa recreio, divertimento ou entretenimento. Deriva do vocbulo recreare com o sentido de reproduzir, restabelecer e recuperar. Esta distino se interrelaciona com o mundo do trabalho, enquanto lazer, diz respeito s prticas culturais consideradas lcitas depois encaminhando para o estabelecimento de tempo disponvel reivindicado pelos trabalhadores, a recreao direciona-se para o divertimento, a ocupao saudvel e til deste tempo de ociosidade. O termo recreao, geralmente usado para designar o conjunto de atividades, enquanto lazer, aborda o fenmeno social, espao para interveno com lgica e especificidades prprias. Em ltima anlise, a recreao pode ser considerada como produto, isto , atividade ou experincia que ocorre dentro do lazer. O lazer tem toda uma funcionalidade especfica e que multivariada pois rica em suas formas de realizao e de motivao. Wnuk-Lipinski (Roykiewicz, 1981) em Werneck (2000) descreveu assim sobre as funes bsicas do lazer:

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Funo educativa ,caracterizada pelo prprio interesse na ampliao de horizontes, buscando novas experincias e conhecimento; Funo de ensino, melhorando a assimilao e aprendizagem cultural, de ideais filosficos ou polticos, convvio social e de comportamento; Funo de integrao, na formao e solidificao de grupos (familiares ou de amizade), de interesses comuns; Funo recreativa, no desenvolvimento de atividades relacionadas ao descanso fsico e mental; Funo cultural, na compreenso e assimilao de valores culturais ou criao de novos; Funo de compensao, seria nas situaes que, de alguma forma, nivelam as insatisfaes das outras reas da vida, e que no puderam ser realizadas. No Brasil, a propagao da idia de recreao orientada, sofreu influncia de pases preocupados com o desenvolvimento de jogos e ginstica, tais como Alemanha, Inglaterra, Frana e Itlia. Com nfase nos aspectos operacionais dos jogos e brincadeiras propostos, coube Educao Fsica a responsabilidade pelo seu desenvolvimento, estabelecendo desta forma um grande vnculo com a recreao desde a sua origem. Em inmeros pases, inclusive no Brasil, a Educao Fsica ficou oficialmente responsvel pelo desenvolvimento da recreao principalmente como uma interessante estratgia metodolgica de organizao de jogos e brincadeiras infantis. O histrico envolvimento da Educao Fsica com a recreao, minuciosamente retratado nos estudos empreendidos por Pinto, et al (1999), citado por Werneck (2000). Oficialmente, a recreao integra o circuito institucional da Educao Fsica com a criao, em 1933, da Superintendncia de Educao Fsica, Recreao e Jogo, no Distrito Federal. A idia de recreao orientada, proposta pelo Mtodo Nacional de Educao Fsica de 1942 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB) de 1961, fundamentou-se nas idias de Ruy Barbosa sobre a Educao Fsica renascida no Estado Novo. O Servio de Recreao Operria foi institudo em 1943 e, no final dos anos 50, a Diviso de Educao Fsica do Distrito Federal criou a Campanha Ruas de Recreio com o respaldo das Escolas de Educao Fsica e Secretarias Estaduais e Municipais de Esporte, elas proliferaram pelo pas como um modelo a ser seguido. Foi em 1962 que a recreao tornou-se disciplina formal do currculo dos graduados em Educao Fsica e, em 1971, por fora do decreto n. 69.450, a Educao Fsica "desportiva/recreativa" tornou-se obrigatria em todos os graus e nveis de ensino no Brasil.

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A cidade e seus espaos dever da famlia, da sociedade e do Estado assegurar criana e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito vida, sade, alimentao, educao, ao lazer, profissionalizao, cultura, dignidade, ao respeito, liberdade e convivncia familiar e comunitria, alm de coloc-los a salvo de toda forma de negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e opresso. Art. 227. Ttulo VIII, Captulo VII, Constituio Federal, 1988.

V-se atualmente, uma nova economia em que as novas tecnologias vm realizando mudanas profundas na sociedade. O entretenimento hoje possui mil faces, a complexidade e o dinamismo do mundo atual geraram inmeras novidades e possibilidades tanto no trabalho como no lazer. Novos conceitos, novos aspectos, novos formatos, novas tecnologias, enfim, presencia-se um cenrio de constantes mudanas. H que se aproveitar oportunidades antes inexistentes, ou atualizar-se, pois a rapidez dos acontecimentos no permite a iluso de estar fazendo a coisa certa nos moldes considerados de vanguarda. A to citada velocidade dos avanos no mundo atual tem criado um distanciamento muito grande entre as questes tecnolgicas e sociais. As mudanas tecnolgicas vm acontecendo de maneira muito mais veloz do que as mudanas sociais, trazendo ao ambiente um foco de tenso. De acordo com Jucuis & Schender (1972), polticas podem ser consideradas como regras estabelecidas para governar funes e assegurar que elas sejam desempenhadas de acordo com os objetivos desejados isto , polticas servem como guias para uma determinada ao. Camargo (1985), indica que, no lazer, polticas constituem-se num conjunto de valores e metas de uma sociedade com relao ao prprio bem-estar dentro do chamado livre. Valorizar e estimular o lazer como parte das situaes urbanas pensando o espao em que se encontram seus equipamentos com os quais a populao ter a oportunidade de conviver em seus momentos de no compromisso com o trabalho, significa buscar um alto grau de cidadania.Todos os esforos dos poderes pblicos deveriam voltar-se s necessidades de recreao do povo, no sentido de que os municpios reservem reas livres para a distribuio de parques de recreao, verdadeiros pulmes verdes, sobretudo nos bairros de maior densidade e onde habitam as chamadas classes proletrias. Marinho(1957).

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A formulao de polticas de lazer, exige do administrador a utilizao de estratgias complexas como, por exemplo, obter informaes do usurio real e as expectativas do usurio potencial, isto , aquele que, por alguma razo desconhecida, deixa de participar das atividades programadas. A globalizao das relaes, o renascimento das artes e religioso do 3 milnio, a crescente urbanizao, o novo papel das chamadas minorias, a expanso da informao, o triunfo do individualismo, a passagem da democracia representativa para a participativa, a ruptura de determinadas hierarquias centralizadoras, dando lugar s redes descentralizadas de atuao, a aproximao dos desiguais, o desemprego ou o subemprego, so temas que refletem na quantidade e na qualidade de experincia do lazer. No campo da administrao, qualidade, produtividade e competncia so palavras chaves para o sucesso em qualquer empreendimento moderno, todas, entretanto, tem sucesso atribudo ao capital humano. Esse lado humano da qualidade decisivo por representar o comprometimento das pessoas com o sucesso de qualquer empreendimento, pela constante motivao de fazer da rotina de hoje um desafio para superao de amanh. O crescimento das cidades, resultou no isolamento de seus habitantes e na passividade frente s decises que afetam diretamente sua vida diria. Problemas com trnsito e violncia vm deteriorando a qualidade e o significado da vida humana, ao mesmo tempo em que indivduos unem-se para produzir, seja em indstrias, escritrios, bancos e comrcio, distanciam-se de si mesmos, dos outros e da natureza. Eles so considerados meros instrumentos, produzindo e consumindo, alimentando o mercado da produo. Para Santos (1986, p.22) a prpria cidade converteu-se num meio e num instrumento de trabalho, num utenslio como a enxada na aurora dos tempos sociais. Instrumento de trabalho sui generis, pois sua matria explanada pelo prprio trabalhador. Quanto mais o processo produtivo complexo, mais as foras materiais e intelectuais necessrias ao trabalho so desenvolvidas, e maiores so as cidades. Mas a proximidade fsica no elimina o distanciamento social, nem tampouco facilita os contatos humanos no funcionais. A proximidade fsica indispensvel reproduo da estrutura social. A crescente separao entre as classes agrava a distncia social. Os homens vivem cada vez mais amontoados lado a lado em aglomeraes monstruosas, mas esto isolados uns dos outros. Segundo Busani (2003), a especialista em tendncias de mercado Faith Popcorn, em seu livro Click de 1996, previu que num futuro no

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muito distante, a insegurana das grandes cidades far com que as pessoas procurem cada vez mais diverso em casa. Esta tendncia denominada pela consultora de cocooning (encasulamento em ingls), hoje uma realidade confirmada por prestadores de servios de diferentes reas, inclusive arquitetos, pois crescente o nmero de clientes que pedem ambientes confortveis, aconchegantes e diversificados para receber amigos. interessante observar que o enfoque dado pelos diferentes veculos de comunicao, que no tomam o lazer como tema principal, acabam revelando de forma indireta, a importncia que ele representa na vida das pessoas das grandes cidades. Em virtude da diminuio do tempo de trabalho, comparativamente ao incio do processo de industrializao e urbanizao, em termos sociais, quando a questo analisada do ponto de vista da percepo pessoal, as pessoas sentem falta de mais tempo para si mesmas. a procura do relacionamento social, que leva ao desenvolvimento de atividades culturais, como verificamos nos diversos exemplos dos grupos de idosos onde, motivados pela convivncia, passam a desenvolver novas atividades como artes plsticas, artesanatos, esportes, etc. Trata-se do reconhecimento do fascnio que as atividades de lazer exercem sobre a populao de modo geral, independentemente de classes sociais, e as suas potencialidades como um tempo de vivncia de novos valores, questionadores da realidade social. Algumas organizaes como associaes de moradores, sindicatos e setores da Igreja, esto percebendo as possibilidades que o lazer oferece quando encarado nesta perspectiva. A Declarao dos Direitos da Criana, aprovada pela Organizao das Naes Unidas em 20 de novembro de 1959, preconizava a que esta possa ter uma infncia feliz [...]. No princpio 7o coloca que: A Criana deve desfrutar plenamente dos jogos e brincadeiras, os quais devero estar dirigidos para a educao; a sociedade e as autoridades pblicas se esforaro para promover o exerccio desse direito, como registra Marcelino (2002). Em Gaelzer (1979) A Carta do Lazer, fixada no Seminrio Mundial de Lazer promovido pela Fundao Van Cl em Bruxelas, afirma no seu artigo 4o, que a famlia, a escola e todos os educadores tm papel determinante a desempenhar quando da iniciao da criana numa atividade ldica e ativa de lazer, na qual a freqente contradio entre o ensino e a realidade necessita ser eliminada. Porm na nossa sociedade, principalmente nos grandes centros urbanos, ainda que por razes diferentes, as crianas no tm tempo e espao para a vivncia da infncia e do ldico, como produtoras de uma cultura infantil.

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Muitas organizaes sociais encontram dificuldades com a atual realidade, principalmente quanto ao acesso da maior parte da populao s aes de lazer. So poucos os rgos pblicos que cumprem papis de articuladores de oportunidades de lazer para a camada menos privilegiada da sociedade. No existem polticas pblicas claramente definidas e implantadas na rea, articulando programaes nos mbitos federal, estadual e municipal, tampouco estabelecendo regras ou procedimentos claros de apoio s aes desenvolvidas pela iniciativa privada, de forma a otimizar recursos disponveis, descentralizar aes e oferecer atividades/ possibilidades de lazer capazes de atender aos diversos segmentos da comunidade ou acessando informaes qualificadas para todos. Verifica-se muitas vezes que, caladas, terrenos baldios e praas pblicas so espaos em que as crianas encontram oportunidade para livre expanso de suas energias e integrao nos grupos de brincadeiras. Exceo feita a algumas cidades que contam com a atuao do poder pblico em parques e Centros de Esporte e Lazer na promoo de atividades principalmente a quem no dispe de recursos financeiros para usufruir um clube ou associao, incluindo Curitiba como uma dessas cidades. Curitiba: O Passado Refletindo no PresenteSugerimos a todos que ao decidir sobre os destinos de nossa paisagem, tentassem se identificar com o estado de esprito dos homens como St. Hilaire, Debret, Rugendas, Darwin, entre outros, que souberam ver a beleza onde ns, por hbito, costume ou desinteresse, muitas vezes no vemos valor algum. Uma exceo deve ser aberta para a cidade de Curitiba, pelo trabalho em prol do lazer realizado nesta cidade. Os parques e praas criados servem de exemplo. Houve aqui uma ao consciente na preservao da rea verde, e isto ter uma enorme importncia no destino da cidade. Burle Marx - Seminrio Nacional do Lazer, Curitiba, novembro/74

Os primeiros povoados surgiram por volta de 1650, com a presena do primeiro habitante da terra, o ndio, e do estrangeiro colonizador, o portugus. Em 29 de maro de 1693 fundada a Cmara Municipal de Curitiba, data esta que em 1905 passa a ser oficializada como a da criao do municpio. Os imigrantes europeus (os alemes em 1833, os poloneses em 1871, os italianos em 1878, e os ucranianos em 1895) que adotaram esta como sua cidade, contriburam para uma diversificao dos interesses da populao tradicional. Culinria, canto, jogos, danas, msicas foram algumas destas contribuies.

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Alguns registros do incio do sculo XX de como se dava o lazer desses imigrantes, fez parte da exposio: O lazer na Curitiba antiga, inaugurada em 20 de novembro de 1974, na Casa Romrio Martins. Mudanas significativas foram implantadas a partir de 1971. Grandes reas desocupadas foram reservadas para parques de mltiplas funes como saneamento, preservao ambiental e lazer. Um trecho da Rua XV de Novembro foi fechado e em 1972 Curitiba lanou o primeiro calado de pedestres do pas e promoveu a posse do local pelas crianas, estendendo grandes rolos de papel e tintas no cho. Aos poucos, timidamente, os adultos comearam a perceber o calado como ponto de encontro, uma sala de visitas pblica, democrtica e ao ar livre. A cidade tem muitas belezas e atraes, algumas naturais, outras transformadas. Os exemplos so diversos: Jardim Botnico, Teatro pera de Arame, Universidade Livre do Meio Ambiente, Passeio Pblico, alm dos Parques, Bosques e Praas da Cidade. Curitiba, a capital do Estado do Paran tem 312 anos, 432,17km2 e uma populao de 1.587.315 habitantes (IBGE 2000), est localizada no Sul do Brasil. Com um PIB de U$ 12,1 bilhes/ano, tem renda per capita de aproximadamente U$ 8 mil/ano, contra uma mdia nacional de U$ 5 mil/ano. a nica cidade brasileira a entrar no sculo 21 como referncia nacional e internacional de planejamento urbano e qualidade de vida. Em maro de 2001, uma pesquisa patrocinada pela ONU apontou Curitiba como a melhor capital do Brasil pelo ndice de Condies de Vida (ICV). Reconhecida nacional e internacionalmente por solues urbanas inovadoras, a cidade tem o mais eficiente sistema de transporte coletivo do pas e ostenta o ndice de 55m de rea verde por habitante, o que a faz ser considerada a Capital Ecolgica do Brasil. Segundo sensos demogrficos do IBGE, em 1991 Curitiba tinha uma populao de 1.315.035 habitantes passando a 1.587.315 em 2000, este dado revela um acrscimo populacional de 20,7% em apenas nove anos. Para atender a essa demanda, Curitiba projetou espaos especficos onde cada habitante incorporasse no seu dia-a-dia o sentido de identidade e pertinncia. Estes espaos so as Ruas da Cidadania, onde servios pblicos do Municpio, do Estado e da Unio, alm de comrcio e lazer esto disponveis para ajudar a formar uma nova cultura urbana. Nela est a sede da Administrao Regional, o que se pode chamar de filial da Prefeitura. Este o local onde o gestor pblico atua de forma direcionada, com ateno especial para um territrio e seus moradores, e obtm respostas mais rpidas em relao ao trabalho realizado. Sua funo a

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de coordenar a atuao dos diferentes rgos junto comunidade atuando no princpio da descentralizao da Administrao Pblica, como veremos mais adiante. As Ruas da Cidadania esto implantadas estrategicamente ao lado de terminais do transporte coletivo, prximo a Unidades de Sade, e seus objetivos so: Aproximar os cidados das aes e dos servios pblicos para melhor conhecer e atender s suas necessidades; Adequar as aes e os servios prestados pela Prefeitura s caractersticas de cada regio do municpio; Facilitar o acesso aos servios e s informaes em geral; Favorecer o exerccio da cidadania na medida em que se ampliam os espaos de reivindicao e de participao comunitria; Estabelecer um plo de animao, de manifestao cultural e de esporte da comunidade local; Estabelecer um plo de integrao entre a administrao regional e os ncleos urbanos; Servir de apoio estratgico descentralizao da administrao pblica municipal; Diminuir a presso sobre o sistema de transporte. A primeira Rua da Cidadania foi inaugurada em 1995. Atualmente Curitiba est dividida em nove Administraes Regionais que renem ncleos das diversas secretarias municipais, principalmente as de ao social, alm de servios essenciais populao. Procurando acompanhar o rpido crescimento da cidade e implementando inovaes no seu processo de gesto, transformando e reestruturando administrativamente o modo de gerir a cidade, a Prefeitura Municipal adotou o chamado Modelo de Gesto de Curitiba (1997/ 2000 e 2001/2004). Este trata basicamente de Pensar, Agir e Avaliar a gesto pblica, na perspectiva de analisar e interpretar as questes da cidade e do cidado, de maneira estratgica, compartilhada, descentralizada, intersetorial e voltada para resultados. Estratgica, no processo contnuo e sistemtico de direcionar a organizao para atingir sua misso; compartilhada no estabelecimento de parcerias coresponsabilidade na gesto de programas e projetos e ampliao dos canais de comunicao entre o poder pblico e a sociedade; descentralizada, aproximando a Administrao Pblica populao possibilitando assim maior conhecimento das suas necessidades e demandas, agilizando e melhorando as respostas; intersetorial, na prtica de planejamento, ao e avaliao multisetorial e integrada, com um trabalho articulado de todas as secretarias e rgos da Prefeitura, considerando o cidado em sua totalidade, com necessidades individuais e coletivas; voltada para resultados, com foco na gesto em resultados, tanto internos quanto externos, no grau em que se atinge os objetivos e metas traadas, resultando em eficcia, melhor relao custo-benefcio, resultando em eficincia e do impacto das aes na comunidade, resultando em efetividade. importante ressaltar

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que estas cinco caractersticas do modelo de gesto, esto presentes em todo o processo, ou seja, no pensar, no agir e no avaliar. Em maro de 1999, a United Way of Canad (UWC) assinou um termo de contribuio com a Agncia de Desenvolvimento Internacional do Canad (CIDA), e a Agncia Brasileira de Cooperao (ABC) para trabalhar at 2004 com sete organizaes brasileiras do Terceiro Setor, em Curitiba e So Paulo. O objetivo principal realizar trabalhos com voluntrios e Conselhos Diretores, no desenvolvimento de tcnicas de captao de recursos estimulando o envolvimento em atividades colaborativas. Assim nasceu o Modelo Curitiba de Colaborao, que desenvolvido nas Administraes Regionais onde solues so construdas pela prpria comunidade revisando a atuao da sociedade civil, poder pblico e iniciativa privada. A consolidao de parcerias consistentes e comprometidas com valores e princpios definidos pela prpria comunidade tem o poder de potencializar os resultados e dividir responsabilidades. Este Modelo tem como proposta fazer com que a comunidade reconhea o seu poder para transformar a realidade, de maneira compartilhada, utilizando-se de valores para o seu desenvolvimento, a comunidade definindo o caminho e seu jeito de caminhar. A Poltica Municipal do Esporte e Lazer em CuritibaAs chaves do urbanismo esto nas quatro funes: habitar, trabalhar, recrear-se (nas horas livres), circular. Le Corbusier A Carta de Atenas - 1941.

Atendendo crescente demanda da populao, o ento Departamento de Educao Fsica foi efetivado, em 1995, como Secretaria Municipal do Esporte e Lazer SMEL tendo em seu organograma a Superintendncia, onde esto vinculadas as Gerncias Regionais, e os Departamentos de Esporte e o de Lazer. As principais atribuies das Gerncias Regionais so planejar e coordenar as aes de esporte, lazer e atividade fsica nos espaos prprios ou de terceiros, pertencentes sua regional, seja operacionalizando projetos, atendendo reivindicaes da comunidade, estabelecendo parcerias ou prestando suporte tcnico. Ao Departamento de Lazer coube a tarefa de promover a cultura do lazer junto populao, atendendo s entidades pblicas, beneficentes e privadas, com as seguintes atribuies: Propor a poltica de lazer do Municpio, coordenando as aes dela decorrentes; Implementar plano de ao estabelecendo objetivos, programas, pesquisas e projetos que promovam o desenvolvimento do lazer no Municpio; Propor o calendrio anual de atividades de lazer;

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Ofertar assistncia tcnica em projetos de lazer s entidades governamentais e no governamentais e aos rgos representativos da comunidade; elaborar a proposta oramentria do Departamento. Resultante do modelo de gesto de Curitiba, a Secretaria Municipal do Esporte e Lazer teve definida a sua misso: fomentar prticas de esporte, lazer e atividades fsicas para o desenvolvimento de potencialidades do ser humano, visando bem estar, promoo social e insero na sociedade, consolidando sua cidadania. Uma poltica de lazer que atue como meio de democratizao cultural e promoo social, como recomenda a Constituio Brasileira de 1988, e que reconhea o direito ao lazer como uma das necessidades bsicas para a afirmao da cidadania e uma melhor qualidade de vida das pessoas em geral deveria ser ento pensada e implantada em Curitiba. Assim foi aprovada a Lei 9942 de 29 de agosto de 2000, que Dispe sobre a Poltica Municipal do Esporte e Lazer, regida pelos princpios da democratizao, participao, informao e descentralizao na busca de igualdade de oportunidades aos cidados em sua ao diria. Democratizao: proporcionando o livre acesso s atividades do esporte, do lazer e da atividade fsica; Participao: garantindo ao cidado o esporte e o lazer como direito constitucional; Informao: informando, de forma contnua ao cidado, os benefcios do esporte, do lazer e da atividade fsica; Descentralizao: potencializando aes mais prximas dos cidados. Atuando conforme estes princpios e objetivando o cumprimento de sua misso, a Secretaria Municipal do Esporte e Lazer, sob orientao do Instituto Municipal de Administrao Pblica IMAP, definiu objetivos estratgicos, resultados, indicadores, metas e produtos que norteiam e efetivam a poltica de esporte e lazer do municpio. Objetivos estratgicos: * Incentivar/estimular a autogesto da comunidade nas aes de esporte e lazer; * Promover o esporte nas suas manifestaes comunitrias, estudantis e de rendimento, buscando parcerias; * Estimular a prtica de atividades e hbitos saudveis da cultura corporal do cidado; * Implementar programao de lazer para a cidade atravs de parcerias. Resultados esperados: * Maior integrao e participao da comunidade; * Aumento da co-responsabilidade da comunidade na preservao dos

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equipamentos pblicos; * Aumento da co-responsabilidade da comunidade no desenvolvimento da poltica municipal de esporte e lazer; * Populao com estilo de vida mais saudvel; * Melhora na satisfao da comunidade pelo servio da SMEL. Indicadores: * Nmero de participantes nos eventos; * Nmero de apoios e chancelas prestadas comunidade; * Nmero de equipamentos depredados; * Nmero de usurios que realizam atividades fsicas, esportivas e de lazer nos equipamentos gerenciados pela SMEL; * Nmero de parcerias estabelecidas; * Nmero de avaliaes fsicas realizadas na populao atravs do Programa CuritibAtiva; * Nmero de eventos realizados. Metas: * Atender de forma programtica as organizaes que j atuam em parceria com a SMEL, mediante apoio tcnico/logstico, infraestrutura e recursos humanos; * Atender as demandas da comunidade em geral por chancelas e apoio eventual; * Realizar oficinas para capacitar a comunidade no desenvolvimento de atividades e construo de materiais de esporte e lazer; * Planejar em conjunto com a comunidade, aes e eventos que contemplem suas expectativas; * Realizar eventos esportivos estudantis, comunitrios e de rendimento; * Incentivar talentos esportivos no esporte de rendimento; * Priorizar a utilizao do espao pblico para atividades fsicas como prtica saudvel; * Informar populao sobre a importncia da prtica da atividade fsica e seus benefcios; * Realizar eventos de lazer em diferentes espaos da cidade; * Estabelecer novas parcerias com ONGs, rgos municipais, associaes de moradores, lideranas comunitrias, entre outras; * Ampliar a participao da famlia em eventos de lazer; * Ampliar e adequar a infraestrutura para atendimento da Linha do Lazer.

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Principais produtos: * Agenda de programao das organizaes; * Eventos esportivos e de lazer em parceria com a comunidade; * Eventos esportivos estudantis, comunitrios e de rendimento; * Grupos de atividade fsica e esportiva; * Publicaes e palestras abordando os benefcios da atividade fsica; * Festivais e mostras de ginstica e dana; * Eventos recreativos e culturais; * Programa Linha do Lazer; * Oficina de materiais esportivos e de lazer; * Programa CATES Centro de Aprimoramento de Talentos Esportivos; * Programa CuritibAtiva. Gerncias Regionais: Uma Abordagem ComunitriaQuem mestre na arte de viver distingue pouco entre o trabalho e o seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, a sua educao e a sua recreao, o seu amor e a sua religio. Dificilmente sabe o que cada coisa vem a ser. Persegue simplesmente a sua viso de excelncia em qualquer coisa que faa, deixando aos outros decidir se est trabalhando ou se divertindo. Ele pensa sempre em fazer as duas coisas juntas. Pensamento Zen (De Masi, 1999).

O Departamento de Lazer, norteado pela sua misso de promover a cultura do lazer junto populao, desenvolvendo aes educativas, scio-recreativas e culturais visando ocupao do tempo disponvel de forma criativa e participao espontnea, vem procurando ofertar atividades que atendam todas as Regionais da cidade e seus objetivos so: ampliar as aes que possibilitem a utilizao do tempo disponvel do cidado em atividades ldicas e esportivas, reconhecendo no lazer, a importncia para a sade e qualidade de vida; facilitar a integrao entre o cidado e a regio da cidade onde vive, desenvolvendo aes descentralizadas de lazer; propiciar a integrao da famlia resgatando o convvio entre pais e filhos em momentos ldicos; realizar eventos simultneos na cidade criando um movimento pr-lazer; promover os princpios do modelo de gesto de Curitiba em todas as aes de lazer planejadas e executadas tanto pelo nvel central como pelo regional. notrio que pessoas com menor poder aquisitivo, participam menos de atividades que exijam desembolso financeiro, como teatro, cinema e shows, mesmo demonstrando interesse em freqent-las. Este fato leva o poder municipal, neste caso a Secretaria Municipal do Esporte e Lazer, a promover atividades e eventos gratuitos de lazer,

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democratizando e facilitando o acesso e a participao de maneira ampla e irrestrita. Inclui-se uma gama de eventos, de pequenos a grandes, de um segmento especfico ou de massa, todas programadas conforme calendrio anual. A partir de 2003, todas as aes do Departamento de Lazer foram agregadas em trs programas bsicos: a Linha do Lazer, o Dana Curitiba e o Lazer na Cidade. O programa Linha do Lazer uma ao permanente que se caracteriza pelo atendimento dirio de tcnicos e acadmicos de Educao Fsica, a clientelas especficas como crianas em situao hospitalar, idosos em casas e lares de repouso, pessoas portadoras de deficincia, crianas em creches comunitrias entre outros. Este programa, lanado em 22 de maro de 1993, foi pioneiro no pas a utilizar um nibus adaptado para levar atividades diversificadas de lazer (recreao, atividades manuais, esportivas e culturais), a lugares distantes e desprovidos de infraestrutura especfica para a prtica destas atividades. So 12 anos prestando este tipo Foto: acervo da Secretaria Municipal da Comunicao Social - PMC de servio essencialmente social cidade. Impulsionada pela demanda, partir de 1997 a Linha do Lazer passou a atuar com dois veculos e vinte e dois acadmicos melhorando e ampliando sua capacidade de atendimento.Figura 1. Dedoches

O programa tem sido muito solicitado pelo diferencial de servio que presta comunidade, uma vez que as atividades so planejadas de acordo com a necessidade e interesse dos grupos a que se destina, resgatando vivncias ldicas e culturais. A partir de 2002 o programa reformulou sua forma de atendimento aos portadores de deficincia, introduzindo, em parceria com a FAS Fundao de Ao Social, o Dia Especial para Brincar, cujo principal objetivo a incluso dos portadores de deficincia em atividades socialmente comuns vivenciadas juntamente com crianas matriculadas em escolas regulares do Municpio. O programa Dana Curitiba, tem a finalidade de proporcionar ainda mais momentos agradveis de entretenimento e bem estar aos cidados, contribuindo para o desenvolvimento de sua formao e informao, tornando-o parceiro e apreciador desta forma de lazer. Em apresentaes pblicas programadas para diferentes espaos urbanos, as entidades participantes tm a oportunidade de demonstrar de seu trabalho, contribuindo para a satisfao e auto-estima de seus integrantes.

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Este programa resultante de um processo construdo ao longo dos ltimos 22 anos, quando o primeiro evento de dana, em novembro de 1984, foi promovido com o nome de Encontro de Ginstica, Jazz e Comunidade. Neste perodo, que pode ser chamado de laboratrio, significativas e importantes aes voltadas dana foram implementadas. Hoje, o programa de ao permanente e acontece de abril a setembro, promovendo a dana nas Regionais, Parques e no Memorial de Curitiba com o Dana Foto: acervo da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer Curitiba Circuito; e num grande evento em setembro, o Dana Curitiba Festival. Paralelamente so programados fruns, seminrios e oficinas das mais variadas modalidades da dana, inclusive aos portadores de deficincia.Figura 2. Dana Curitiba

Foto: acervo da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer

O programa Dana Curitiba tem se tornado uma referncia enquanto poltica pblica, pois no se tem registro que o poder pblico ou Secretaria de Esporte e Lazer desenvolva ao semelhante onde se promova a dana enquanto lazer com qualidade e organizao. Estas so palavras dos profissionais da dana da cidade, tambm o programa foi reconhecido pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil como programa de incentivo ao desenvolvimento e a democratizao da dana em nosso pas em ofcio recebido em maro de 2003. O programa Lazer na Cidade tem como principal objetivo proporcionar diversificadas atividades de lazer a populao, levando as aes a locais mais prximos com facilidade de acesso ao cidado das diferentes faixas etrias. Realiza eventos semanais que buscam maior envolvimento da comunidade, como a Manh de Brincadeiras, a Recreao nas Arcadas e o Bike Night; eventos mensais buscando a educao para e pelo lazer, como o Ciclolazer, o BrinCriando com a SMEL; e eventos especiais em comemorao a datas especficas, como o Festival de Frias de Vero e Inverno, a Festa do Aniversrio da Cidade, os Passeios Ciclsticos do Aniversrio de Curitiba e da Primavera e a Festa do Dia da Criana. Alm dos eventos so realizados assessoramentos tanto para as Gerncias Regionais como para Associaes de Moradores, Clubes de Mes, e demais lideranas comunitrias alm de emprstimo de materiais recreativos.Figura 3. Recreao nas Arcadas

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Para atendimentos dos programas e aes de lazer, o Departamento tem em sua estrutura a Oficina de Material Esportivo e de Lazer cuja funo criar, construir, adaptar e manter os brinquedos artesanais utilizados diariamente pelos diferentes programas. A Oficina tambm promove assessoramentos para construo destes brinquedos s Associaes de Moradores e lideranas comunitrias organizadas que tenham interesse na autogesto e que venham a realizar eventos de lazer para suas comunidades. Diferentes espaos pblicos, especficos ou no, tm sido utilizados para realizao de atividades. Assim, praas, logradouros, ruas, parques e escolas servem ao desenvolvimento, ao descanso e ao divertimento proporcionando momentos de convivncia entre a populao. Quanto forma de efetivao destes programas para a populao, pode-se dizer que as aes encontram-se divididas em trs grupos: as concebidas e executadas pelo nvel central; as concebidas e executadas a nvel regional; e as concebidas pelo nvel central, mas executadas a nvel regional. As aes concebidas e executadas pelo nvel central, caracterizamse por serem planejadas, organizadas e executadas pelo Departamento de Lazer do princpio ao fim, so exemplos os eventos recreativos de menor porte como a Manh de Brincadeiras e a Recreao nas Arcadas, ambos no centro da cidade e os Passeios Ciclsticos. Nas concebidas e executadas, a nvel regional, cada Gerncia planeja e executa atividades s comunidades pertencentes a sua rea de abrangncia, alguns exemplos so Brincadeira tem Hora na Regional Boqueiro, Brincao na Regional Cajuru e Recreao na Arthur Bernardes na Regional Porto. Alguns materiais recreativos alternativos e artesanais foram confeccionados e cedidos a cada uma das Gerncias Regionais para que estas se tornassem independentes no que se refere atuao em sua rea geogrfica de atendimento. No caso especfico da Regional Cajuru, muitos eventos de lazer tm sido realizados pela prpria comunidade como resultado de uma ao do Modelo Curitiba de Colaborao, anteriormente mencionado. Nas concebidas pelo nvel central, porm executadas, a nvel regional, a funo do Departamento de Lazer estabelecer as diretrizes bsicas a fim de nortear a ao. Desta forma, planeja e elabora projetos, buscando parcerias tanto da iniciativa privada como de instituies pblicas estabelecendo assim, a intersetorialidade preocupando-se, ainda, com infra-estrutura (material, transporte, sanitrios, etc.), divulgao, atividades, atraes, etc., enquanto que as Gerncias Regionais se responsabilizam pela organizao local (croqui do espao fsico e necessidades finais de infra-estrutura), pessoal para execuo, contato

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com as instituies presentes no evento (intersetorialidade regional) e execuo do evento. Como resultado, incluem-se eventos como o BrinCriando com a SMEL e Vida Saudvel (em parceria com a SMS Secretaria Municipal de Sade - atualmente denominado Viva Curitiba) que acontecem uma vez ao ms; Festival de Frias de Vero e de Inverno, nos meses de janeiro e julho; e a Festa do Aniversrio de Curitiba realizada em maro. Consideraes finais As questes mais profundas que permeiam o lazer , so indispensveis qualidade de vida dos cidados e construo de uma nova sociedade comprometida com a justia, com a eqidade e com a humanizao das relaes sociais do nosso meio. A adoo de uma ao comunitria como estratgia de articulao e de participao, construindo a prtica social do lazer nesta perspectiva, pode significar a potencializao do seu duplo processo educativo, a aproximao entre a construo social do lazer e a cidadania, e a reduo do lazer como consumo. As aes de lazer em Curitiba voltadas ao tema e seu significado para o exerccio da cidadania de seu povo, alcanando homens e mulheres de variadas faixas etrias e classes sociais, credos e etnias, com diferentes interesses e necessidades, devem buscar uma mudana de comportamento das pessoas, visando a conservao da sade e qualidade de vida. O bem estar, sade, felicidade e, como somatria disso tudo, a qualidade de vida depender, e muito, da qualidade de relao entre as pessoas, onde quer que se esteja, tanto no trabalho, na comunidade ou na cidade.Referncias Bruhns, H. T. (1997). Relao entre a educao fsica e o lazer. In: Bruhns, H. T. (Org.). Introduo aos estudos do lazer. Campinas: Editora da Unicamp. Burle Marx, R. (1974). Conferencia de abertura do Seminrio Nacional sobre o Lazer. Anais sobre o Seminrio de Lazer, Curitiba, pg. 10 a 16. Busani, E. (2003). No aconchego do casulo. Jornal Gazeta do Povo, caderno Viver Bem, Edio n 26.902, Ano 85, Curitiba. Camargo, L. O. (1985). Poltica de Lazer. Estudos de Lazer, n.1. So Paulo: SESC. ______. (1988). Educao para o lazer. So Paulo: Moderna. Canton, A. M. (2002). Eventos, ferramenta de sustentao para as organizaes do terceiro setor. So Paulo: Roca.

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PRTICA DESPORTIVA DE RENDIMENTO Fator de desenvolvimento integral Joo Egdoberto Siqueira O esporte, enquanto instrumento pedaggico, visa integrar-se s finalidades gerais da educao, de desenvolvimento da individualidade, de formao para a cidadania e de orientao para a prtica social. O campo pedaggico do esporte um campo aberto para a explorao de novos sentidos/significados. Permite que sejam explorados pela ao dos praticantes nas mais diversas situaes. Assim, alm de ampliar o campo experimental do indivduo, cria obrigaes, estimula a personalidade intelectual e fsica, e oferece chances reais de integrao social. A prtica esportiva est direcionada a ser um instrumento educacional que visa o desenvolvimento integral das crianas, jovens, adolescentes e mesmo de adultos, capacitando o sujeito a lidar com as necessidades, expectativas e anseios, tanto suas como de outros, desenvolvendo competncias tcnicas, sociais e comunicativas, essenciais para o seu desenvolvimento individual e social (Afonso, 2001). O Departamento de Esporte e suas reas de atuao O Departamento de Esporte, enquanto setor componente da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer, visa atuar no desenvolvimento e no fomento da prtica desportiva, esta com vistas ao alto rendimento desportivo, buscando a performance consoante a faixa etria do praticante. A prtica desportiva volta-se a seguintes reas: esporte comunitrio, esporte de rendimento e esporte popular. Por Esporte Comunitrio entende-se a participao da comunidade em eventos esportivos. So compostos por diversas faixas etrias, de forma organizada e que, de maneira geral, desenvolvem-se em um perodo de tempo longo. Entre os eventos abrangidos pelo Esporte Comunitrio, contamos com o Campeonato Paranaense de Futebol de Pelada, realizado desde 1969 e que tem a participao de mais de 5.000 atletas das mais diversas faixas etrias. realizado de maro a dezembro no Parque Peladeiro de Curitiba, espao fsico adaptado para a prtica deste esporte e que possui 6 campos de futebol de areia, um campo de futebol de campo, alm de um ginsio de esportes. Visando o atendimento quelas pessoas que atingem idades mais avanadas, realiza-se o Encontro Esportivo da 3 Idade, no 2 semestre de cada ano, com jogos e atividades de lazer no sentido de congraamento e desenvolvimento do bem viver e conviver.

Captulo 3

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Os funcionrios municipais lotados na Secretaria Municipal do Esporte e Lazer participam, anualmente, dos Jogos dos Servidores Pblicos do Paran, evento este que promovido pela Associao dos Servidores Pblicos do Paran. Para a populao estudantil so promovidas as competies escolares municipais, que atendem aqueles matriculados nas mais diversas escolas da cidade e regio metropolitana que buscam, atravs do rendimento desportivo um meio de potencializar os seus predicados fsicos de maneira a obterem os melhores resultados e eventualmente o ndice tcnico compatvel uma convocao para a seleo do municpio. Estas competies esto sendo realizadas de forma ininterrupta desde o ano de 1974, e perduram durante 2 semanas, As faixas etrias atendidas nestes eventos so aquelas que perfazem as seguintes categorias; a) Jogos Pr-Mirim b) Jogos Mirins c) Jogos Infants d) Jogos Infanto Juvenis e) Jogos Juvens - dos 10 aos 12 anos - dos 11 aos 13 anos - dos 12 aos 14 anos - dos 13 aos 15 anos - dos 15 aos 17 anos

Tais competies so realizadas com uma participao de cerca de 1500 a 2000 atletas distribudos nas seguintes modalidades: atletismo, basquetebol, voleibol, voleibol de areia, handebol, futebol, futsal, futebol de areia, jud, tnis de mesa, ciclismo e xadrez. Nestes jogos estudantis, como os nveis de desempenho dos participantes so diferenciados, buscou-se uma subdiviso de categorias de tal maneira a que todos os participantes estejam aptos a obterem a melhor classificao de acordo com o seu nvel competitivo. Assim, foram idealizados dois grupos que compem estes jogos: Grupo Verde, composto por aquelas escolas que obtiveram no ano anterior as classificaes entre os seis primeiros deste grupo, aliados aos dois primeiros da classificao do segundo grupo, aqui denominado de Grupo Vermelho, que composto por aquelas escolas que, num primeiro momento, ainda esto com desempenho desportivo aqum das demais. Desta maneira as escolas participantes, e seus componentes, tm condio de competirem em igualdade. Com o objetivo de difundir na comunidade a prtica da atividade fsica, e de favorecer o intercmbio cultural e esportivo, desenvolve-se de abril a outubro, em cinco etapas realizadas aos finais de semana, o Campeonato Adulto de Corridas de Rua, que vem sendo desenvolvido desde 1981, sendo direcionado aos praticantes do pedestrianismo que

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buscam, atravs desta atividade, superar os seus limites no sentido do rendimento de acordo com as suas potencialidades. Este campeonato subdividido em 9 categorias de idade para os participantes do sexo feminino e em outras 14 para os do sexo masculino com idade superior aos 16 anos completos. A distncia a ser percorrida de 10.000 metros, e ela conta com apoio de parceiros que, dentro das orientaes do Departamento de Esporte, oferecem prmios de acordo com a classificao alcanada. Alm dos objetivos supracitados, estes atletas utilizam-se destas provas para aferir seus treinamentos no sentido de participao na Maratona Ecolgica de Curitiba. Atendendo a populao de idades mais baixas, e tambm desenvolvido em 5 etapas aos finais de semana, encontramos o Festival Infantil de Corridas de Rua que, a partir do ano de 1987, busca atender a parcela da populao compreendida entre os 10 e 16 anos de idade, subdivididos em 6 categorias tanto para os do sexo masculino quanto do feminino, e que percorrem distncias que vo dos 1.000 aos 4.000 metros. Muitos destes atletas, quando de suas continuidades no treinamento, chegam a representar o municpio nos Jogos da Juventude do Paran.Por sua vez, o Esporte de Rendimento tem por objetivo culminar os trabalhos desenvolvidos pelo Departamento de Esporte, de tal maneira que dois eventos de grande porte so estruturados no decorrer do ano. Estes eventos mostram o que h de melhor em termos de performance na nossa cidade, e que despontam entre os participantes como a expresso mxima do rendimento desportivo da populao. Nominalmente citam-se os Jogos da Juventude do Paran JOJUPs, evento promovido pela Paran Esporte, autarquia responsvel pelo desenvolvimento do esporte e da prtica desportiva a nvel estadual, a competio mxima, dentro do estado, na faixa etria que se estende at os 17 anos. Com participao atravs de representao municipal selecionada a partir de escolha por parte de equipe de tcnicos escalados dentre aqueles que, normalmente, participam nos eventos promovidos por este setor da SMEL. Sua primeira realizao aconteceu em 1987 e desde ento Curitiba participou em todas as suas edies obtendo o ttulo de campeo geral por 8 edies, sendo o grande campeo deste torneio. Para tanto, todos os anos representam o municpio cerca de 350 atletas das mais diversas modalidades, estes selecionados nos eventos estudantis promovidos pela SMEL no decurso do ano. A Maratona Ecolgica de Curitiba, apesar de ser o maior evento sob a coordenao do Departamento do Esporte, promoo de toda a Prefeitura

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Municipal de Curitiba em decorrncia de suas particularidades relativas ao seu porte. Assim, a grande maioria das secretarias atua em consonncia, com participao de entidades privadas que compem, ao nvel de parceria, o quadro de patrocinadores. As origens da Maratona fazem lembrar a histria, a partir das lendas e relatos dos tempos da antiga Grcia, quando desavenas entre povos tornavam-se guerras, dentre os quais aconteceu um conflito entre gregos e persas. Tal conflito, culminou em uma batalha que se tornou pica, quando se defrontaram na plancie de Maratona e, depois de aguerrida disputa, sagraram-se vencedores os gregos que, apesar de minoria, deram tudo de si pela liberdade. Na poca, como meio de transmisso de informaes, faziase uso de mensageiros que se deslocavam a p ou a cavalo de cidade a cidade. Um deles, de nome Feidpedes, estava presente e tomou parte da batalha, sendo escolhido para levar esta notcia. Este mensageiro, aps ter lutado a noite toda correu os mais de 40 km que separavam a plancie da cidade de Atenas, sem descanso, e ao final, aps informar que alegrai-vos: vencemos!, veio a morrer. Em memria a este gesto de desprendimento, em 1896, quando da realizao da 1 edio dos Jogos Olmpicos da Era Moderna, em Atenas, a prova da Maratona foi idealizada como evento que encerra a competio.Figura.1 Largada da Maratona Ecolgica CuritibaFoto: acervo da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer

Observando estes fatos, e levando em conta o que um evento deste porte significa, a Prefeitura Municipal de Curitiba idealizou uma primeira edio em 1997, assim atendendo uma parcela da populao que buscava em seu meio um evento representativo, projetando o nome do municpio, no apenas como uma cidade voltada qualidade de vida de seus muncipes. Em um primeiro momento uma Maratona a ser percorrida na cidade, por atletas nacionais, cresceu ainda dentro do perodo de planejamento, creditando uma das caractersticas da cidade, que o seu perfil ecolgico. Este perfil representado pelos 54 m2 de rea verde por habitante, pela coleta de lixo a ser reciclado, pelos parques distribudos em toda rea da cidade, pelo entendimento da populao que ecologia representada pela relao entre si e o meio ambiente, e no to somente com o verde ou quantidade do mesmo, at mesmo pela colocao e construes de reas cimentadas que venham a disponibilizar uma

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parceria de convvio destas estruturas com as pessoas e com o meio ambiente. Com estes pensamentos, a idia da maratona transcendeu para uma Maratona Ecolgica, onde o respeito ao meio ambiente uma prerrogativa, a tal ponto de premiar-se a cidade e os participantes com um trajeto que contemplasse tanto a questo tcnica como a beleza do trajeto. Em um percurso que passa por diversos cartes de visita da cidade, a cada ano busca manter os padres alcanados nas diversas edies, nas quais a Confederao Brasileira de Atletismo CBAt considerou a prova como de Maratona de Primeiro Mundo (Revista Contra Relgio, 1998), aps um Show de Organizao em sua estria, no ano de 1997 (Revista Contra Relgio, 1997). E este desempenho obtido nos primeiros anos, deu-lhe condio de passar a ter o status de Internacional, ratificado com a vinda de atletas, convidados e no, de diversos pases tanto do Continente Americano como de outros. Evoluiu da primeira edio, em 1997, de uma participao de mais de 900 atletas e 751 concluintes, passando por 1998, quando dos mais de 1.200 corredores, quase 900 completaram a prova dentro do ento tempo limite de 5 horas, chegando em 1999 ao nmero recorde de 1281 corredores inscritos, dos quais inmeros atletas internacionais, quando participantes do Qunia, frica do Sul, Argentina, Alemanha, Uruguai, Paraguai, ustria, Chile, Estados Unidos da Amrica alm do Brasil, coroaram a prova com suas cores diversas e trazendo a mdia de encontro a estes astros. J na sua 6 edio alcanava a marca de mais de 2000 inscritos, e para tanto os marcos diferenciais da Maratona de Curitiba tinham muito a contar. Pode-se relacionar a realizao de um jantar de massas, na vspera da prova, em local amplo e aprazvel, que demonstra o cuidado no bem atender aos visitantes. Neste jantar busca-se a confraternizao dos participantes que se renem em um s local, em curto espao de tempo (cerca de 2 horas), e onde informaes podem ser divulgadas para todos os participantes. Com uma premiao de alto gabarito, realizada aos melhores classificados aps a prova, em palco montado exclusivamente para o evento, com excelente visualizao por parte dos participantes e da imprensa. Essa premiao atinge 25 categorias, das mais diversas faixas etrias, dos 18 aos 87 anos (idade do mais idoso concluinte em 1999), alm das duas categorias gerais. a maior diversificao de categorias, dentre todas as corridas no Brasil, e prova do respeito da cidade com os que aqui chegam para prestigi-la A entrega dos kits dos atletas (brindes, camiseta, bon, bolsa),

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paralelamente a uma Feira Informal da Maratona, realizada, desde a sua primeira edio s vsperas da prova (sexta e sbado), com apresentaes artsticas durante todo perodo de entrega, favorecendo assim um grande congraamento dos atletas e pblico envolvidos no evento. Para os atletas participantes disponibilizada uma Coordenao de Recepo e Transporte que, a partir dos pontos de chegada (Aeroporto e Rodoferroviria) so recepcionados e conduzidos aos locais de alojamento ou hotis. Valorizando desta maneira todos os atletas, independente do nvel de desempenho e de faixa social. Com a largada da prova, sempre em um ponto de referncia da cidade (1997 no Autdromo de Curitiba; 1998 a 2001 no Parque Barigi; e a partir de 2002 no Centro Cvico), leva a um percurso que passa pela Praa do Japo, Memorial Jerusalm, Teatro do Paiol, Rua da Cidadania do Boqueiro, Jardim Botnico, Proximidades do Parque So Loureno, sem deixar de contar com a passagem pelas primeiras ruas exclusivas para nibus, as conhecidas Canaletas do Expresso, onde a segurana, agilidade e comodidade aliam-se s estruturas existentes e modificadas em benefcio aos habitantes, como o citado Teatro do Paiol, modificado de um depsito de plvora no centro da cidade para um teatro de apresentaes culturais, no destruindo uma memria que deve permanecer viva em todos os habitantes. A prpria escolha da data de realizao da prova tambm um diferencial, premiando com o ms de Novembro aqueles que visam encerrar o ano com um evento bonito e organizado, sendo ela que encerra o calendrio nacional de maratonas, favorecendo ento a ampla divulgao junto a outras provas do gnero que so realizadas no pas. Como j citado, o apoio, o envolvimento e a capacidade de organizao de toda a Prefeitura, atravs das Secretarias envolvidas no evento, firmou a Maratona de Curitiba como a melhor e mais organizada no pas (Revista Contra Relgio, 1997-2003), tal atestado obtido atravs de avaliaes realizadas pela Confederao Brasileira de Atletismo, tem chamado ateno de atletas estrangeiros que buscam participar de um evento de porte, que melhore as suas condies de ranking a nvel Internacional, em uma prova com caractersticas prprias. Desta maneira, buscando a segurana do atleta e agilidade nas informaes, utiliza-se da tecnologia do chip, material que levado pelo prprio atleta nos seus tnis e que, por meio de sensor eletrnico em pontos estratgicos do percurso, informam o pblico, quase de forma imediata,o desenvolvimento e os resultados da prova. E a colocao indita de um portal, exatamente na metade da maratona, com relgio digital, informa ao pblico e aos participantes, o tempo oficial da passagem dos atletas neste ponto, e a situao naquele ponto do trajeto (Mathoso, 2004).

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Foto: acervo da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer

Figura 2. Chegada da Maratona

Respeitando os anseios de uma prova desportiva deste nvel, toda e qualquer parceria tem sido bem vinda e contemplada com o que h de melhor em calor humano, seja dos corredores, dos assistentes como dos organizadores de forma geral. As aes do Departamento de Esporte no so realizadas to somente para os participantes que, como artistas, so os elementos que oferecem o show nesta apresentao, mas tambm para a populao curitibana, a qual premiada com o desempenho destes atores, e envolvida atravs da divulgao por rdio, televiso e jornais, alm de eventuais varreduras nas residncias localizadas prximas aos locais, antecedendo ao desenrolar dos eventos. Essas aes so taxadas to somente de sensacionais por parte de quem est participando, bem caracterizando os objetivos e fins deste setor da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer de Curitiba.Referncias Afonso, C. A. (2001). O Conhecimento do Treinador Acerca das Metodologias de Ensino. Tese de Doutorado no Publicada - Faculdade de Cincias do Desporto e de Educao Fsica da Universidade do Porto, Portugal. Mathoso, E. F. (2004) Maratona Ecolgica Internacional de Curitiba O crdito por uma misso bem cumprida. (On Line) www.fcdef.up.pt (acessado em 26/03/2004). ______ Revista Contra Relgio (1997 a 2003) Redijo Produ