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Paulo Franchetti nasceu em Matão ( SP) em 1954. Desde 1986 foi professor de Teoria Literária e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutorou-se pela Universidade de São Paulo em 1992. Ainda na UNICAMP, obteve por concurso público o título de Livre-Docente (1999) e, posteriormente, o de Professor Titular (2004). Aposentou-se, em 2015, continuando, porém, vinculado ao Instituto de Estudos da Linguagem como pro- fessor e orientador de pós-graduação. Integra o Conselho de Acompanhamento do pro- grama de Doutoramento em Materialidades da Literatura, da FLUC. Publicou, no Brasil, entre outros livros, os ensaios Alguns aspec- tos da teoria da poesia concreta (1989 – 4ª ed. 2012), Nostalgia, exílio e melancolia - leituras de Camilo Pessanha (2001), Estudos de litera- tura brasileira e portuguesa (2007) e, com Elza Taeko Doi, o volume Haikai – antologia e histó- ria (1990 – 4ª ed. 2012). Preparou, também no Brasil, para a Ateliê Editorial, edições comen- tadas (precedidas de ensaio sobre a estrutura e características de cada obra, bem como de análise estendida da tradição interpretativa) de O Primo Basílio (1998), Coração, cabeça e estômago (2003), Iracema (2007), A cidade e as serras (2007), Dom Casmurro (2008), Clepsidra (2009), O cortiço (2011). Em Portugal, publi- cou a edição crítica da Clepsydra, de Camilo Pessanha (1995); a antologia As aves que aqui gorjeiam - a poesia do Romantismo ao Simbolismo (2005) e o ensaio O essencial sobre Camilo Pessanha (2008). É também autor da novela O sangue dos dias transparentes (2003), da coletânea de haicais Oeste/Nishi (2008), do livro de sátiras Escarnho (2009) e dos livros de poemas Memória futura (2010) e Deste lugar (2012). De maio de 2002 a maio de 2013, dirigiu a Editora da Unicamp e presidiu ao seu conselho editorial. Durante esse período, após completa reformulação académica, administrativa e co- mercial, a Editora da Unicamp foi premiada 7 vezes com o Prémio Jabuti e, em pesquisa realizada junto à comunidade artística e aca- démica por um suplemento cultural de jornal de grande circulação, foi considerada a quarta mais importante editora do Brasil, no segmen- to público ou privado, no que toca ao interesse universitário do catálogo. Paulo Franchetti UNICAMP Biblioteca Geral Universidade de Coimbra 16 de maio de 2018 10h-18h CURSO BREVE PAPÉIS PERDIDOS: A PUBLICAÇÃO E A DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA MATERIALIDADES DA LITERATURA

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Paulo Franchetti nasceu em Matão (sp) em 1954. Desde 1986 foi professor de Teoria Literária e Literaturas de Língua Portuguesa na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMp). Doutorou-se pela Universidade de São Paulo em 1992. Ainda na UNICAMp, obteve por concurso público o título de Livre-Docente (1999) e, posteriormente, o de Professor Titular (2004). Aposentou-se, em 2015, continuando, porém, vinculado ao Instituto de Estudos da Linguagem como pro-fessor e orientador de pós-graduação. Integra o Conselho de Acompanhamento do pro-grama de Doutoramento em Materialidades da Literatura, da FLUC. Publicou, no Brasil, entre outros livros, os ensaios Alguns aspec-tos da teoria da poesia concreta (1989 – 4ª ed. 2012), Nostalgia, exílio e melancolia - leituras de Camilo Pessanha (2001), Estudos de litera-tura brasileira e portuguesa (2007) e, com Elza Taeko Doi, o volume Haikai – antologia e histó-ria (1990 – 4ª ed. 2012). Preparou, também no Brasil, para a Ateliê Editorial, edições comen-tadas (precedidas de ensaio sobre a estrutura e características de cada obra, bem como de análise estendida da tradição interpretativa)

de O Primo Basílio (1998), Coração, cabeça e estômago (2003), Iracema (2007), A cidade e as serras (2007), Dom Casmurro (2008), Clepsidra (2009), O cortiço (2011). Em Portugal, publi-cou a edição crítica da Clepsydra, de Camilo Pessanha (1995); a antologia As aves que aqui gorjeiam - a poesia do Romantismo ao Simbolismo (2005) e o ensaio O essencial sobre Camilo Pessanha (2008). É também autor da novela O sangue dos dias transparentes (2003), da coletânea de haicais Oeste/Nishi (2008), do livro de sátiras Escarnho (2009) e dos livros de poemas Memória futura (2010) e Deste lugar (2012). De maio de 2002 a maio de 2013, dirigiu a Editora da Unicamp e presidiu ao seu conselho editorial. Durante esse período, após completa reformulação académica, administrativa e co-mercial, a Editora da Unicamp foi premiada 7 vezes com o Prémio Jabuti e, em pesquisa realizada junto à comunidade artística e aca-démica por um suplemento cultural de jornal de grande circulação, foi considerada a quarta mais importante editora do Brasil, no segmen-to público ou privado, no que toca ao interesse universitário do catálogo.

Paulo Franchetti UNICAMP

Biblioteca Geral Universidade de Coimbra16 de maio de 201810h-18h

curso breve

PaPéis Perdidos: a Publicação e a docência universitária

Materialidades da literatura

Módulo I

Editoras universitárias: para que servem? o caso brasileiro: história e crítica da edição universitária no Brasil.

Este módulo inicia com a apresentação de um panorama histórico da edição universitária no Brasil, com especial atenção para as duas últimas décadas, quando destacadas casas editoras de grandes universidades ocuparam im-portante lugar no mercado de livros académicos, receberam dezenas de prémios e testaram várias combinações de três modelos básicos de finan-ciamento e de gestão. Na sequência, o foco da análise recai sobre a função e/ou justificativa da edição universitária, bem como sobre as aporias trazidas ao seu modo de funcionamento por conta não só da prevalência das formas eletrónicas de publicação (o caso dos clássicos digitalizados, bem como da difusão ilegal de cópias eletrónicas de livros e capítulos de livros), mas também por conta das diretrizes das agências de financiamento e dos gestores universitários quanto às formas de avaliar a produção de professores e estudantes de ensino superior. Por fim, apresentam-se algumas considerações sobre o sentido geral da publicação de livros universitários, por meio da apresentação do volume

“Inimigos da esperança – publicar, perecer e o eclipse da erudição” (2004), de Lindsay Waters. Nesse pequeno, porém muito instrutivo texto, o editor da Harvard University Press reflete sobre os impasses desse segmento edi-torial. Essa reflexão tem especial interesse para o caso brasileiro porque a forma de organização e avaliação da produção universitária americana tem sido no Brasil gradualmente adotada ou imposta, com consequências que constituirão o tema do segundo módulo deste seminário.

Módulo II

A questão do mérito nas ciências humanas (e não só)

Neste módulo são três as questões básicas a desenvolver. A primeira, mais relevante e não exclusiva das ciências humanas, é a transformação no esco-po, no método e no alcance da reflexão e da escrita académica trazida pelas formas objetivas e quantitativas de avaliação da produção universitária. A segunda, que é um corolário da primeira, é a gradativa alteração no papel do académico, derivada também das formas de avaliação da “produção”, e da valorização direta ou indireta que elas acarretam para a função de

“pesquisador” (mesmo em áreas nas quais “pesquisa” parece um termo mui-to pouco adequado para representar o trabalho efetivo de construção do conhecimento), em detrimento do papel tradicional do académico sênior, que era o de “professor”. A terceira, por fim, é uma reflexão sobre a erosão da auctoritas na área das Humanidades. Um ponto a destacar, de grande relevância para a discussão seja do sentido da publicação académica, seja da atuação didática, e com fortes implicações na questão da avaliação, é a diferença radical entre a forma de organização tradicional e de produção de conhecimento entre as ciências aplicadas e as ciências humanas. Um dos principais pontos discutidos neste tópico é a forma como se processa a seleção, revisão por pares e atualização da bibliografia numa área como a da crítica literária ou a sociologia, por um lado, e como a da Química ou da Medicina, por outro.