Curso: Formação Pedagogica em Artes Visuais...

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Universidade Federal do Vale do São Francisco Secretaria de Educação a Distância Projeto de Formação Pedagógica Curso: Formação Pedagogica em Artes Visuais Disciplina: Metodologia do ensino teórico prático em Artes Visuais 2013

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Universidade Federal do Vale do São Francisco

Secretaria de Educação a Distância

Projeto de Formação Pedagógica

Curso: Formação Pedagogica em Artes

Visuais

Disciplina: Metodologia do ensino teórico prático em Artes

Visuais

2013

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CURSO DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA EM ARTES VISUAIS

DISCIPLINA: Metodologia do ensino teórico prático em Artes

Visuais

AUTOR

Profº Drº Marcelo Silva Souza Ribeiro

REVISOR

Profº Drº Darlindo Ferreira de Lima

COORDENADORADO CURSO

Profª Ma. Flávia Maria de Brito Pedrosa Vasconcelos

ANO

2013

4

Ficha Catalográfica

5

Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF

Reitor

Prof. Dr. Julianeli Tolentino de Lima

Vice-reitor

Prof. Dr. Télio Nobre Leite

Secretario de Educação a Distância

Prof. Dr. Francisco Ricardo Duarte

Diretor Geral de Educação a Distância

Prof. Dr. David Fernando de Morais Neri

Coordenador da Universidade Aberta do Brasil

Prof. Dr. Ricardo Argenton Ramos

Coordenadora Adjunta

Profª. Drª. Adriana Moreno Costa Silva

Editor

Prof. Msc . Mario Godoy Neto

Diagramação

Marcos Alberto de Araújo

Impresso no Brasil – Tiragem: __ exemplares

Secretaria de Educação a Distância – SEAD / UNIVASF Av. José de Sá Maniçoba, S/N, Centro, Campus Universitário. Petrolina - PE -

Brasil. CEP. 56.304-917

E-mail: [email protected]

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Resumo

Este livro aborda os métodos e técnicas do ensino da arte. Para tanto, traz no

primeiro capítulo as chamadas “escolas” que vão influenciar os ensino de modo

geral. Em um segundo momento é abordado a compreensão de método e

como este é articulado as concepções de ensino. Posteriormente são

apresentados alguns perspectivas contemporâneas de método. Finalmente, a

questão da formação profissional e da identidade do professor são discutidas

sob uma referência das práticas, ou seja, das técnicas e métodos.

Palavras-chaves:

Ensino de Artes; Métodos e Técnicas; Concepções de Ensino e Formação Docente.

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APRESENTAÇÃO

Vocês já ouviram falar da frase que diz: “A vida imita a arte” ?

Esta tão propalada frase nos faz refletir um monte de coisas. Ao lembrar

do pensamento nietzscheano quando aborda a arte como possibilidade de

revigorar a vida passamos a entender a arte como uma necessidade do

desenvolvimento humano, mas também como algo que não é dado aos

homens de maneira pronta. A arte seria, então, algo para além de um prazer

estético, destinado à poucos. Seria uma necessidade de todos! Mas como

fazer para que a arte esteja acessível? Parece que a educação escolar é um

dos caminhos.

Entretanto, esbarramos no problema das condições de trabalho e na

formação do professor. Assim, o ensino da arte, privilégio do campo escolar-

educacional, requer toda atenção e cuidado para um saber-fazer profissional

competente e que possibilite ao outro o contato e desenvolvimento dessa

sublime dimensão humana, que é a arte. Esperamos que você aproveite os

conteúdos/informações que aqui foram sistematizados e que saibam

enriquecer com as experiências e trocas ao longo deste curso.

Esperamos que este material possa servir como um mediador para a

construção do seu conhecimento a respeito do ensino da arte. Procuramos

uma linguagem coloquial de modo a tornar o nosso encontro mais próximo.

Tentamos organizar as informações contemplando os conceitos principais da

ementa, mas também procuramos articular com questões transversais, como a

formação do professor, por exemplo.

8

Utilizamos figuras para destacar algumas ideias. Trouxemos também

personagens variados para criar um ambiente mais “colorido” e multifacetado

no diálogo que esperamos ter com você.

Desde já, uma boa leitura e ricos estudos!

Marcelo Ribeiro

(Autor)

9

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.............................................................................................07

CAPÍTULO 1

1.1 -INTRODUÇÃO: PERSPECTIVAS SOBRE OS METODOS E AS TECNICAS NO ENSINO DE

ARTES VISUAIS ...................................................................................................11

1.2 -QUEM ES TU: O ENSINO DA ARTE E COMO QUALQUER OUTRA MODALIDADE DE

ENSINO? .............................................................................................................13

1.2.1 - ENSINO TRADICIONAL ..........................................................................13

1.2.2 - ENSINO TECNICISTA ............................................................................17

1.2.3 - ENSINO CONSTRUTIVISTA ....................................................................19

CAPÍTULO 2

2.1 -CONCEITO DE MÉTODO E SOBRE TÉCNICAS DE ENSINO......................................23

2.2 -AS TENDÊNCIAS ATUAIS DOS MÉTODOS E TÉCNICAS DO ENSINO DE ARTES .........27

2.3 -METODOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS NO ENSINO DE ARTES VISUAIS...................31

2.3.1 ABORDAGEM TRIANGULAR......................................................................31

2.3.2 EDUCAÇÃO DA CULTURA VISUAL.............................................................37

2.3.3 MITEA..................................................................................................39

CAPITULO 3

3.1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E SEUS DESAFIOS…………………………….….…44

3.2 ITINERANCIA DA FORMAÇÃO………………………………………………….……45

3.3 IDENTIDADE E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL : ASPECTOS IMPLICITOS DE

METODOS E TECNICAS………………………………………………………………….50

3.3.1 SENDO PROFESSOR N RELAÇÃO COM O ALUNO…………………………….55

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1.

EMENTA

Esta disciplina visa abordar as perspectivas

históricas sobre os métodos e as técnicas no

ensino de Artes Visuais a partir de suas

especificidades e generalidades. Pretende também

apresentar algumas das abordagens

contemporâneas do Ensino de Arte e trabalhar o

conceito de método e técnicas de ensino.

OBJETIVOS:

- Discutir o ensino da arte como uma modalidade de ensino que tem suas

especificidades e generalidades.

- A história do ensino da arte no que diz respeito aos métodos e técnicas

Metodologia do Ensino Teórico Prático em Artes Visuais

_ FASCÍCULO _

1. PERSPECTIVAS SOBRE OS

MÉTODOS E AS TÉCNICAS NO

ENSINO DE ARTES VISUAIS

Autor: Profº Drº Marcelo Ribeiro

Revisor:

Profº Drº Darlindo Ferreira de Lima

Carga horária: 2 horas

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1.1 - Perspectivas sobre os métodos e as técnicas no ensino de Artes

Visuais

Para começarmos esse nosso diálogo sobre os métodos e técnicas no

ensino de Artes Visuais é importante termos em consideração a diferença entre

o complicado e o complexo.

O complicado, como o próprio nome indica é algo difícil. Já o complexo

pode até ser algo simples, mas tendo vários prismas, vários “olhares”. Quando

apresentamos neste tópico a palavra “perspectivas, queremos indicar que o

método e a técnica serão abordados por diversos “olhares” e prismas.

Ao mesmo tempo também estamos dizendo que não seria possível tratar

desses assuntos de maneira unilateral, até porque os métodos e as técnicas

decorrem de concepções sobre a educação, sobre os processos de ensino e

de aprendizagem. Vamos a seguir ver algumas dessas perspectivas.

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1.2 - QUEM ÉS TU: O ENSINO DA ARTE É COMO QUALQUER OUTRA MODALIDADE DE

ENSINO?

Ao ouvirmos que o ensino é uma arte, isto pode nos fazer pensar que

este (o ensino) estaria isento de precisões, de métodos e fundamentações.

Esse entendimento pode ganhar contornos mais contundentes se levarmos

para o campo do ensino da arte.

Provavelmente sim. Isto porque há uma arte de ensinar que passa pela

sensibilidade, pela experiência e pela estética. Entretanto, para ser mais

completo há necessidade de se entender que essa “arte de ensinar” pode e

deve estar ligada a uma racionalidade que integra métodos, técnicas, didáticas,

etc.

Assim, o que ensinar e como ensinar são bases para qualquer prática

pedagógica, seja no chamado ensino formal ou informal. No começo,

imaginemos, o professor precisa selecionar e organizar os conteúdos, precisa

ter clareza das intenções pedagógicas, dos sistemas de avaliação, etc.

Tudo isso passa por uma racionalidade. Mais especificamente, essa

“racionalidade” é forjada por tendências pedagógicas que vão, por sua vez,

influenciar no modo como o professor concebe o ensino, a

aprendizagem, a relação professor-aluno, o

currículo e o próprio sistema de ensino.

Poderíamos falar da “arte do ensino da arte” ?

Figura 01

Tendência pedagógica, de

modo sintético, significa a

orientação teórica que vai

orientar a prática do

professor.

13

De modo geral, além das tendências pedagógicas, que

influenciam toda a prática docente, há visões de mundo, crenças,

pré-conceitos e representações que também vão constituir o

professor e determinar suas ações.

Assim, a prática do professor pode ser caracterizada como

espontaneísta, pode estar preocupada apenas com a técnica,

pode ser marcada pelo autoritarismo, ou caracterizada pelo

privilégio dos conteúdos livrescos.

Ao pensarmos em Ensino de Arte é importante compreendermos que as

práticas de ensino que existem hoje em escolas, universidades, associações,

centros culturais, etc. vão estar mais marcadas por certas tendências,

justamente por causa dos processos históricos inerentes à educação. Tentando

resumir essas tendências poderíamos dizer que elas fazem parte de um modo

tradicional-tecnicista de se encarar a educação. É óbvio que na realidade

escolar vemos sempre uma mistura de situações e tendências. Entretanto, para

fins didáticos, iremos apresentar alguns pontos que caracterizariam aquilo que

estamos chamando de ensino tradicional e ensino tecnicista.

O ensino da arte possibilita o acesso a arte como linguagem expressiva e forma de conhecimento

. Além disso,

é um (re)

contato com a

história e

cultura humana.

14

1.2.1 ENSINO TRADICIONAL

O ensino tradicional não se fundamenta, implícita ou explicitamente, em

teorias cientificamente comprovadas, mas numa prática educativa e na sua

transmissão através dos anos. Inclui tendências e manifestações diversas e

não pode ser considerada coisa do passado, mas está presente em nossos

dias.

Caracteriza-se por acentuar o ensino humanístico, de

cultura geral, onde o aluno é educado para atingir,

pelo próprio esforço, sua plena realização como

pessoa, através do saber.

Esta plena realização é conseguida colocando o aluno em contato com

as grandes realizações da humanidade – obras de arte, literatura, etc. – que

lhe vão servir de “modelos”. Desse modo, privilegia-se o especialista, os

modelos e o professor, elemento imprescindível na transmissão dos conteúdos.

Predominam a palavra do professor, a imposição de regras e o cultivo

exclusivamente intelectual. A autoridade e orientação do professor atuam

como elementos intermediários entre o aluno e os modelos.

Os conteúdos e procedimentos didáticos, bem como a

relação professor-aluno não têm relação com o cotidiano

e com as realidades sociais. O ensino é centrado no

professor, voltando-se parta o externo ao aluno;

programas, disciplinas, o professor. O aluno apenas executa prescrições que

lhe são fixadas por autoridades exteriores.

Figura 02

Figura 03

15

O ensino tradicional pressupõe o adulto como um homem “pronto”,

acabado, completo e o aluno um “adulto em miniatura”, imaturo e incompleto,

que precisa ser atualizado através do repasse do conhecimento, sendo que no

início de sua vida, é considerado uma espécie de tábula rasa na qual são

impressas, progressivamente, imagens e informações

fornecidas pelo ambiente.

Nessa abordagem, apesar de não haver nenhuma

teoria claramente explicitada, pode-se dizer que o homem

é considerado como inserido num mundo que irá

conhecer através de informações que lhe serão

fornecidas e que se decidiu serem as mais importantes e

úteis para ele. O aluno é receptor passivo, dirigido e

conduzido para atingir a plena realização como pessoa

pela imitação dos modelos.

O mundo é externo ao indivíduo que será

apossado gradativamente, sendo a realidade algo que

será transmitido ao indivíduo, através da educação formal, família, igreja, etc.

Os tipos de sociedade e cultura podem ser variados na utilização desse

tipo de ensino que visa a produção de pessoas eficientes, onde o diploma pode

ser tomado, então, como um instrumento de hierarquização dos indivíduos,

num contexto social. Este tipo de sociedade mantém um sistema de ensino que

se caracteriza por “depositar” no aluno conhecimentos, informações, dados,

fatos, etc.

Cabe a escola a preparação intelectual e moral dos alunos para assumir

sua posição na sociedade. O compromisso da escola é com a cultura, os

problemas sociais pertencem a sociedade. É o lugar por excelência onde se

realiza a educação. Deve ser austera e sua formação precípua é ensinar; é

local de trabalho e não de diversão, onde deverá ocorrer a apropriação do

O Educador brasileiro Paulo Freire (1921-1997) chamava essa perspectiva educacional de Educação Bancária, ou

seja, aquela em que o professor apenas depositaria o conhecimento na cabeça do aluno..

Figura 04

16

Figura 05

conhecimento, por meio da transmissão de conteúdos e confrontação com

modelos e demonstração.

A educação visa preparar o aluno para vida e ajustá-lo socialmente;

consiste em propor modelos e em repassar as gerações novas, conhecimentos

que fazem parte do patrimônio da humanidade, conseguidos pelas gerações

antecessoras. Desse modo, a educação fica subordinada a instrução.

Nesse sentido, ensinar é repassar conhecimento e aprender é reter

conhecimento de modo receptivo e mecânico (memorização), pela repetição e

recapitulação. Caracteriza-se pelo verbalismo do professor e pela memorização

do aluno.

Neste tipo de abordagem a relação professor-aluno evidencia-se pela

autoridade do professor que exige uma atitude receptiva do aluno. O professor

transmite conteúdo e o aluno absorve através

de uma disciplina imposta.

Estabelece-se, desse modo, uma relação

vertical, cabendo ao professor o poder

decisório, de comando. Ao aluno pede-se a

repetição automática dos dados fornecidos pelo

professor. Assim, a relação professor-aluno é perpassada por

autoritarismo daquele, cabendo-lhe um papel disciplinador.

Daí se infere o fundamento da inacessibilidade, do não envolvimento, da

“aparente” indiferença com que o mestre “tradicional” deverá caracterizar seu

relacionamento com o aluno, nos limites da escola.

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A motivação realiza-se através de reforço negativo (punição, notas

baixas, apelo aos pais); as vezes é positivo (emulação e classificação).

O ensino tradicional valoriza o saber pelo saber, o conhecimento em

detrimento do agir e do sentir. Valorizam-se os conhecimentos e valores sociais

acumulados pelas gerações adultas e repassadas ao aluno como verdade. Os

conteúdos são separados da experiência do aluno e das realidades sociais,

valendo pelo valor intelectual, sendo a abordagem tradicional criticada como

intelectualista e enciclopédica.

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1.2.2 ENSINO TECNICISTA

A chamada tendência tecnicista está diretamente associada ao processo

de industrialização, sobretudo no impulso sofrido a partir do final da segunda

guerra mundial. A essência dessa tendência era desenvolver uma formação

educacional inspirada nos modelos

científicos, mas que pudesse haver um

controle da qualidade em termos de

eficiência, quase que como o modelo de

montagem de uma fábrica.

Tendo a “fábrica” como inspiração, os alunos executavam tarefas,

memorizavam informações e tudo era avaliada em termos de resultados. O

professor não era mais o “senhor do saber”, mas o articulador e inspetor do

progresso dos alunos. Os conteúdos eram tratados de maneira acrítica e o

currículo fragmentado.

No ensino da arte, a tendência tecnicista ganha

contornos justamente no domínio da técnica em detrimento

do desenvolvimento estético. A arte é reduzida ao produto final.

No Brasil, a tendência tecnicista, que a partir da década de setenta,

ganha mais força, o ensino da arte foi reduzido nas escolas. Sua atividade era

cultivada sobretudo na educação infantil ou em escolas religiosas.

Figura 06

Figura 07

19

Você já parou para refletir em que você é

tradicional ?

Atualmente ainda vivemos um misto de várias

tendências, mas a tecnicista, apesar das duras críticas

sofridas, continua tendo seu apelo renovado,

principalmente porque vivemos ainda uma sociedade

consumidora e competitiva (as exigências do mercado, o

vestibular, a ênfase no resultado, etc.).

Sugerimos a leitura do texto “A tendência tecnicista e o ensino de arte”, de

Cristiane Campos e Claudia Maria Petchak Zanlorenzi. Vocês podem

acessar no link :

(www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/HGqmRDqk.pdf

Jean Piaget

(1896-1980)

Epistemólogo

suíço que

aborda o

desenvolvimen

to humano,

sobretudo o

desenvolvimen

to cognitivo.

Suas teorias

têm grandes

repercussões,

sobretudo na

área da

psicologia e

educação.

A partir de

suas

contribuições

ganha corpo,

na educação,

a chamada

abordagem

Figura 08

20

1.2.3 ENSINO CONSTRUTIVISTA

O termo “construtivista” se refere a concepção de que o conhecimento

não é transmitido, mas sim construído pelo próprio sujeito da aprendizagem.

Essa tendência ganha força, sobretudo a partir dos trabalhos desenvolvidos

pelo suíço Jean-Piaget e que vai influenciar a educação de várias maneiras.

Trata-se de uma visão interacionista onde o ser humano e o mundo são

analisados conjuntamente, já que o conhecimento seria produto da interação

entre eles. Para Piaget (1999), o desenvolvimento do ser humano ocorre em

fases que se interrelacionam e se sucedem, sendo o indivíduo considerado um

sistema aberto em reestruturações sucessivas.

O chamado ensino construtivista vai desdobrar em várias outras

tendências (sócio-construtivismo, construtivismo-crítico, interacionismo,

sócio-interacionismo), mas que vão guardar a essência da concepção de

que:

- O sujeito é quem constrói seu próprio conhecimento;

- É Importante o desenvolvimento de sujeitos autônomos;

- O professor é ativo no processo de ensino e aprendizagem, mas

como mediador do processo e não detentor exclusivo do saber;

- A aprendizagem se dá melhor quando significativa para o aluno e

experienciada;

- As relações sociais na escola, em classe e as consequentes trocas

oriundas dessas relações são importantes para o aprendizado;

21

O processo educacional tem papel importante ao provocar situações que

sejam favorecedoras para o aluno. O objetivo da educação não é a

transmissão de verdades, informações, demonstrações e modelos. Nessa

perspectiva é visado que o aluno aprenda por si próprio, com autonomia. É

claro que o professor tem um papel importante à medida que ele passa a ser o

mediador desse processo. A aprendizagem se processa quando o aluno

elabora seu conhecimento.

22

- Que metodologias de ensino você conhece?

- Por que ensinar Arte na escola?

- Que leis regem o ensino de Artes Visuais na educação formal?

- Como se encontra, atualmente, o ensino de Artes Visuais nos estados

da Bahia e Pernambuco?

- Qual a diferença, na atuação, entre o professor de Artes Visuais com

formação e o sem formação específica?

- Pesquise na internet sobre a Federação de Arte-educadores do Brasil

(FAEB) e descreva como esta instituição pode estar atuando na busca por

políticas educacionais efetivas para o ensino de Artes contemporâneo.

- Os estados da Bahia e de Pernambuco têm associações de

arte/educadores vinculadas à FAEB? Quais?

- Estabeleça a relação entre o arte/educador crítico e transformador e o

professor que apenas leciona Arte na escola?

VAMOS DISCUTIR MAIS UM POUCO...

23

INDICE DE FIGURAS:

Capa: Endereço(http://pensamentossoltosdeumamentenoir.blogspot.com.br/2012/07/cais-caos-coracao-

ou-cesares.html). Acessado em:10.01.13

Figura01:endereço(http://plenitudeorganizacional.wordpress.com/2012/08/20/tendencias-devemos-

sempre-segui-las/). Acessado em: 10.01.13;

Figura 02: Endereço (www.historiaemperspectiva.com/2011/11/evolucao-historica-do-ensino-de.html).

Acessado em : 10.01.12;

Figura 03: Endereço (http://autoritarismonasescolas73.blogspot.com.br/2011/05/autoritarismo-nas-

escolas.html ). Acessado em: 13.01.12

Figura 04: Endereço (http://www.uni-vos.com/educacao18.html ).Acessado em: 21.01.13;

Figura 05: Endereço (http://www.blogers.com.br/o-que-e-a-escola-tradicional/). Acessado em: 10.01.13;

Figura 06: Endereço (http://cinelupinha.blogspot.com.br/2011/02/tempos-modernos-1936.html). Acessado

em:10.01.13;

Figura 07: Endereço (http://javiuesse.wordpress.com/2012/03/31/pink-floyd-the-wall-1982/ ) Acessado

em: 13.01.13.

Figura 08: Endereço (http://aquideusfalacomvoce.blogspot.com.br/2012/02/sugestao.html). Acessado em:

10.01.13;

REFERÊNCIAS:

ASSIS, H. L. (et al.). (Orgs.). O ensino de Artes Visuais: desafios e

possibilidades contemporâneas. Goiânia: Grafset, 2009.

GADOTTI, M. Pensamentos pedagógicos brasileiros. São Paulo: Ática,

1998.

GOODSON, Ivor F. Currículo: Teoria e História. Trad. Hamilton Francischetti. Petrópolis: Vozes, 1995. PIAGET. J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense

Universitária, 1999.

VASCONCELOS, Flávia Maria de Brito Pedrosa. Narrativas no ensino de Artes

Visuais em juazeiro/BA e Petrolina/PE. Dissertação de Mestrado.

Universidade Federal da Paraíba – UFPB e Universidade Federal de

Pernambuco – UFPE, João Pessoal, 2011.

24

EMENTA

Apresenta o conceito de método e técnicas de

ensino como vinculados às compreensões sobre

aprendizagem.

OBJETIVOS:

- Apresentar compreensão sobre o conceito

de método e técnica

- Discutir as relações entre esses conceitos e

as concepções de aprendizagem

Neste capítulo faremos uma discussão sobre as concepções de

aprendizagens inerentes aos vários tipos de métodos e técnicas. E de como

essa visão de aprendizagem afeta a prática do professor. Trataremos também,

mesmo que de maneira breve, a questão da valorização do ensino da arte

como elemento que também interfere nessa prática. No último tópico do

capítulo abordaremos algumas das tendências atuais sobre os métodos e

técnicas do ensino de artes.

Metodologia do Ensino Teórico Prático em Artes Visuais

_ FASCÍCULO _

2. CONCEITO DE MÉTODO E

TÉCNICA DE ENSINO

.

Autor: Profº Drº Marcelo Ribeiro

Revisor:

Profº Drº Darlindo Ferreira de Lima

Carga horária: xx horas

25

Background é uma

palavra de origem

inglesa que significa

conhecimento

prévio, um

conhecimento já

trazido pelo sujeito.

2.1CONCEITO DE METODO E SOBRE TECNICAS DE ENSINO

Antes de falarmos sobre o conceito de método e técnica é

importante entender que a aprendizagem, ou melhor, a compreensão

que vamos ter do processo de aprendizagem será determinante para o

modo como iremos lidar com a questão do método e da técnica.

Vamos partir de um entendimento de que aprender é um

movimento de dentro para fora, mas que isto não significa que o

professor é passivo nesse processo do estudante aprender. E que por

compreendermos o processo de aprendizagem como algo próprio do

indivíduo seja algo já garantido. Ao contrário, o

professor tem um papel ativo e pode ser co-

responsável para que a aprendizagem

ocorra.

É a partir do que o aluno traz, de suas

experiências, de seus conhecimentos e interesses

que o professor vai fundamentar seu trabalho. Ele irá, portanto, partir

desse background do aluno e articular os componentes curriculares. O

ensino é justamente a dinâmica que ocorre a partir da relação do

professor com o aluno visando provocar a aprendizagem. É aí que entra

o método. Este pode ser entendido como a sequência de ações para

atingir um objetivo. No caso do método de ensino, podemos dizer que é

a organização das condições facilitadoras para provocar a

aprendizagem.

26

Mas como havíamos falado anteriormente, o modo como o

professor compreende o processo de aprendizagem vai afetar na

maneira dele organizar os conteúdos disciplinares e, consequentemente,

sua mediação no que diz respeito ao ensino. É como se um aspecto

(aprendizagem) afetasse o outro (ensino), tanto nas ações e reações (o

que o professor e os alunos fazem) quanto na maneira do professor

compreender como se dá aprendizagem.

Para facilitar o nosso entendimento, imaginemos que estamos em

uma sala de aula onde a arte é abordada. Podemos encontrar diversas

práticas para o ensino da arte e isso se dá também porque as formações

são muito variadas - o que podemos questionar como algo que pode

trazer alguns entraves para o desenvolvimento profissional, mas isso é

uma outra discussão. Podemos encontrar, por exemplo, um professor

que concebe a aprendizagem como algo já dado, como se o aluno

tivesse um dom e que aos outros (que nao teriam esse dom) não

restaria muita coisa a ser feita. Uma outra possibilidade é encontrarmos

um professor centrado no produto, centrado no resultado que a aluno ira

apresentar. Neste caso, todo o esforço e atenção do professor será

voltado a técnica e as performances dos estudantes.

Tanto em uma situação, quanto em outra, há compreensões de

como se dão os processos de aprendizagem e desdobramentos

respectivos no modo como os professores mediam o ensino e

desenvolvem seus métodos. No primeiro caso, o ensino é visto como

algo sem grande importância ou com um poder de impacto secundário

porque o aluno (com o dom ou sem o dom) já está fadado ao sucesso ou

ao fracasso. No segundo caso, o ensino está voltado para os resultados

e performance do aluno no que diz respeito as respostas aparentes.

27

Vemos nesses dois exemplos como a visão que o professor tem

da aprendizagem pode afetar completamente o modo dele ensinar os

métodos desencadeados.

Queremos chamar atenção para uma outra coisa. No caso do

ensino da arte, em particular, além de uma diversificação equivocada no

modo de se compreender a aprendizagem há também a presença de

profissionais sem formação específica ministrando o componente Arte.

Mas por que será que isso acontece?

Uma possível resposta pode ser encontrada no modo com o

ensino da arte e o seu valor se deram na educação. Há uma situação

delicada aí, quer dizer, o professor de artes ainda sofre uma dupla

desvalorização em nossa sociedade. Primeiro porque é professor e

segundo porque é professor de artes (desvalorização entre a própria

profissão).

Para entender um pouco isso é importante voltarmos nosso olhar

para as construções históricas que definiram e criaram visões

estereotipadas e simplistas do ensino da Arte.

Vamos encontrar de modo geral um entendimento de que

qualquer um pode ensinar arte, de que não há uma metodologia

especifica e que o que interessa é o produto final. O método tradicional

estaria, portanto, centrado na copia de modelos, em atividades sem

sentidos e articulações com as historias dos alunos e um entendimento

de que alguns tem um dom para artes e outros não, como abordamos

ainda pouco. E mais ou menos desse jeito que o ensino e,

consequentemente, o método de ensino da arte é abordado.

28

Então, podemos resumir dizendo que o ensino da arte sofre com

compreensões equivocadas sobre a aprendizagem, mas

também por causa de tradições históricas que precarizam a

formação do professor de artes e compromete a importância

dada ao ensino da arte na educação.

Antes de iniciarmos o próximo ponto que abordará as tendências

atuais de métodos e técnicas do ensino de artes é mister salientar que

os métodos e as técnicas não estão dissociadas das teorias que

norteiam a aprendizagem. Quando falamos das variadas visões acerca

da aprendizagem, mesmo aquelas consideradas equivocadas, guardam

perspectivas teóricas. Assim, poderíamos dizer que por traz de toda

técnica, há um método relacionado, que por sua vez é balizado por uma

teoria.

Considerando essa árvore do conhecimento,

formulamos a seguinte pergunta para reflexão:

haveria um método ou uma técnica "inocente"?

29

Sociointeracionista

compreende uma

perspectiva

formada

principalmente

pelos seguintes

autores: Vygostky,

Luria, Leontiev.

Figura 02

2.2 As tendências atuais dos métodos e técnicas do ensino de artes

Como vimos ainda pouco muitos professores de artes ainda continuam

trabalhando a partir de visões equivocadas a respeito da aprendizagem e em

suas práticas terminam utilizando exercícios mecânicos e repetitivos,

justamente por acreditarem que a repetição é capaz de garantir que os alunos

realmente aprendam.

Nesse sentido, o mais importante é o produto final (e ele

é mais bem avaliado quanto mais próximo for do modelo a

ser copiado). A partir de visões como essas muitos alunos

trabalharam somente com desenhos pré-preparados, foram

obrigadas a memorizar textos teatrais e partituras de música sem a devida

contextualização e sentido. Além disso, houve também o treino exaustivo e

mecânico de habilidades manuais em atividades de tecelagem e bordado.

Apesar de observarmos que muito ainda precisa

ser feito em relação ao desenvolvimento e valorização

do ensino de arte, há notadamente nas últimas duas

décadas uma mudança no contexto das escolas

brasileiras.

Em termos de orientação teórica há uma tendência que guia toda a área

da educação. Esta tendência é chamada de Sociointeracionista e propõe, no

caso do ensino da arte, que haja uma valorização da produção pelo próprio

autor (o aluno), reflexão de suas ações e significados, além do

desenvolvimento da sensibilidade estética. Isto tudo articulando como os

contextos históricos, sociais e culturais. O sociointeracionismo ganha

expressão, por exemplo, nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, onde

é posto que é papel da escola é ensinar a produção histórica e social da arte e,

30

ao mesmo tempo, garantir ao aluno a liberdade de imaginar e edificar

propostas artísticas pessoais ou grupais com base em intenções próprias.

É importante que se diga que não há uma condenação em trabalhos que

dêem a partir de copias ou modelos ou que a memorização deva ser abolida

enquanto prática pedagógica. O que se está sendo posto é que tais métodos e

técnicas deixam de hipervalorizados e passam ganhar sentidos diferentes a

partir da visão de aprendizagem que é atualmente considerada como

pertinente para um processo de aprendizagem que visa um sujeito autônomo,

crítico, reflexivo e participativo de suas responsabilidades e tempo histórico.

Em relação as tendências atuais, sobretudo a partir de uma perspectiva

sociointeracionista, os métodos e as técnicas são norteados por alguns dos

seguintes aspectos:

Produção de sentido e significado para o aluno daquilo que está

sendo trabalhado. Por exemplo: o desenho de uma casa pode ser

articulado as descrições das casas e os cotidianos no interior dessas

casas para os alunos.

Historicização e apropriação cultural dos conteúdos abordados.

Pro exemplo: na confecção de vestimentas e nos ensaios de musicas

do Maracatu o professor aborda as gêneses dessa tradição cultural,

sua importância e os processos que a marcaram.

Valorização das trocas sociais e das aprendizagens em grupo.

Por exemplo: os alunos são desafiados organizar a festa de São

João da sala (obviamente com a mediação do professor) e as

atividades devidamente planejadas, divididas e acompanhadas.

31

Os alunos são estimulados a desenvolverem suas criatividades.

Por exemplo: ao confeccionarem um boneco de argila, os alunos são

convidados a desenvolverem suas expressões, a modelarem a partir

de suas sensibilidades e próprias criações.

Os trabalhos artísticos são acompanhadas de reflexões e

produções de significados. Por exemplo: após a elaboração de um

desenho, os alunos são questionados a respeito do que significa o

desenha, o que sentia ao fazer, o que faz lembrar, etc.

O autoconhecimento e as relações sociais são valorizadas. Por

exemplo: ao fazer uma colagem sobre os sentimentos que mais

gostam e menos gostam, os alunos são questionados em grupo

sobre seus interesses, seus sentimentos, etc. Isto proporciona um

aprendizagem sobre si mesmo e do grupo a respeito do campo

afetivo.

Articulação com os conteúdos transversais e ou conteúdos de

outros componentes curriculares. Por exemplo: a escola está

trabalhando para a organização da feira de ciências e o professor de

artes desenvolve um projeto com o professor de matemática para

trabalhar a geometria a partir da construção de figuras geométricas a

partir de matérias recicláveis.

Todos esses aspectos portam métodos e técnicas permeadas por uma

visão sociointeracionista e isto significa dizer, mais uma vez, que nao há uma

técnica ou um método em si que seja certo ou que seja errado. Antes há

formas de abordar as técnicas e compreensões sobre os métodos.

32

Para refletir:

Se não há métodos e técnicas "inocentes" como eles

poderiam ser considerados como não sendo em si nem

certos e nem errados?

33

2. 3. Metodologias contemporâneas no ensino de Artes Visuais

2.3.1 Abordagem Triangular Uma abordagem importante no ensino da arte é a chamada

« abordagem triangular ». O trabalho de Vasconcelos (2011) faz uma

apresentação sistemática dessa abordagem e que nós iremos utilizar para que

vocês tenham uma ideia iniciam. Depois voltaremos com alguns

questionamentos.

A Abordagem Triangular, perspectiva teórica e metodológica,

desenvolvida pela pesquisadora Ana Mae Barbosa, foi primeiramente

denominada como Metodologia Triangular do Ensino da Arte e, posteriormente,

corrigida para Abordagem ou Proposta Triangular, sendo amplamente discutida

no país, a partir da década de 1980.

A Abordagem Triangular é uma sistematização metodológica capaz de

auxiliar os caminhos do ensino e aprendizado em Arte e tem três

procedimentos didáticos: leitura da imagem, contextualização e produção

artística.

Tem três eixos:

“O eixo da produção, envolvendo ações de configuração, nomeando não

apenas ações e instrumentos artísticos que caracterizam e fornecem

ligações de criação com as linguagens aos quais eles podem ser

utilizados;

O eixo da leitura, com as conversas, diálogos com as obras de arte e

imagens que possibilitam a referenciação simbólica, de objetos a

artefatos culturais e espaços públicos”;

34

Figura 03

O eixo da contextualização, abarcando ações educativas reflexivas, que

focalizam os diversos contextos nos quais a Arte está inserida, seja

envolvendo questões históricas, culturais, circunstanciais ou memórias

de vida” (VASCONCELOS: 2011, p. 83).

Vasconcelos (2011) ainda explica que essa abordagem derivou de uma

dupla triangulação, envolvendo três vertentes do ensino e da aprendizagem:

leitura da imagem, contextualização e produção artística e de outro; a tríplice

influência de concepções epistemológicas do ensino de Arte em: I) Escuelas al

Aire Livre (México), II) Movimento do Critical Studies (Inglaterra) e III) o

Discipline-Based Arts Education, DBAE (Estados Unidos).

Veremos agora uma síntese de cada uma delas, onde tiramos e

adaptamos todo o conteúdo a partir da produção de Vasconcelos (2011).

I) As Escuelas al Aire Libre

Após a Revolução Mexicana de 1910, como parte do movimento modernista

do ensino de arte, as Escuelas al Aire Libre (fig. 14) propunham um currículo

descentralizado, com as expressões artísticas regionais enfatizadas, principalmente

no ensino do Desenho e da Pintura, procurando demonstrar uma arte nacionalista e

35

apresentando um projeto de arte para ampla camada da população.

No ensino de Artes Visuais, sobretudo em 15 de agosto de 1913, quando

Alfredo Ramos Martinez assumiu a Academia de São Carlos, e fundou pouco tempo

depois, a primeira Escuela de Pintura al Aire Libre em Santa Anita, Iztapalapa. as

Escuelas de Pintura al Aire Libre nasceram como uma prerrogativa do governo

mexicano também às demandas das novas gerações de estudantes da Academia,

levando-os a realizarem seus trabalhos nas ruas, fora dos muros da instituição.

Outros núcleos foram sendo multiplicados, com o propósito de incentivar a

leitura e apreciação crítica das imagens de obras artísticas locais e a expressão

individual dos alunos no processo criativo.

Entre os artistas e professores que promoveram mudanças em sua atuação

nas Escuelas, Adolfo Best Maugard é considerado um expoente. Ele realizou

estudos em motivos decorativos quando trabalhou em escavações, observando

elementos lineares na arte indígena, descobrindo a permanência de repetições de

algumas formas básicas, tais como: ponto, reta, espiral, círculo, semicírculo ou

arco, linhas onduladas, entre outros.

Percebendo a perda da identidade nacional, fruto da imposição dos modelos

europeus às escolas mexicanas, Maugard participou ativamente do movimento das

Escuelas, orientando-as no sentido crítico, de levar os estudantes a realizarem uma

releitura dos padrões estéticos da arte mexicana em produções artísticas que

associavam a liberdade criativa à análise da cultura visual do país.

36

Figura 04

Em 1925, Maugard escreveu o livro A Method for Creative Design (fig. 15),

publicando-o em 1926, com o objetivo de incentivar a consciência cultural e política, na

divulgação do trabalho realizado com produção de modelos em desenho, que incluíam

padrões visuais indígenas sistematizados, com status de design.

As Escuelas al Aire Libre influenciaram o desenvolvimento do movimento

muralista mexicano, tendo como expoentes David Alfaro Siqueras, José Clemente

Orozco e Diego Rivera, sendo que este último divulgou-as, a partir dos encontros

que teve com Maugard na Europa, tendo pintado o seu auto-retrato, em 1913, que

atualmente está exposto no Museu Nacional de Arte, na cidade do México.

II) Movimento do Critical Studies (Inglaterra)

Surgido na Inglaterra, entre as décadas de 1960 e 1970 e divulgado com

ênfase nos textos acadêmicos nos anos de 1980, o movimento Critical Studies veio

como solução ao problema da insatisfação causada pela utilização da crítica de arte

como uma postura mais de “prazer ou satisfação” que de uma apreciação nos

aspectos da leitura, da análise e do reconhecimento de uma obra inserida no

campo histórico, estético e técnico.

Com as discussões entre os pesquisadores da área Ensino de Arte, há um

entendimento crítico de como conceitos visuais e formais apareceriam na arte e

seriam percebidos, redefinidos, justificados pelo seu processo de formação, de

37

maneira a ser necessário maiores contribuições da história da arte e de teorias em

arte que desenvolveriam conceitos para uma análise e leitura da obra de arte

promovedora da capacidade crítica do espectador.

Por conseguinte, houve a realização de dois congressos na Inglaterra, no

intuito de debater sobre uma maior criticidade na análise da Arte no que tangia aos

aspectos do fazer artístico e história da arte, sendo que um deles exerceu uma

influência significativa no movimento Critical Studies.

A denominação Critical Studies, apareceu pela primeira vez com a

divulgação das experiências no ensino de arte de Rod Taylor em Wigan em 1981. O

movimento do Critical Studies trouxe para o ensino de arte pesquisas e estudos que

discutiam as relações entre apreciação, fruição de obras de arte e sua história

assim como a análise da obra de arte e sua leitura, dando ênfase a importância da

decodificação da Arte pelo espectador e de sua divulgação numa perspectiva

crítica.

III) O Disciplined Based Art Education (DBAE)

Nos Estados Unidos, a proposta do DBAE foi sistematizada a partir de

1982, por uma equipe de pesquisadores, entre eles, Elliot Eisner, Brent Wilson,

Ralph Smith, patrocinados pelo Getty Center for Education in the Arts.

As investigações realizadas por meio das pesquisas da equipe ligada ao

Getty Center, naquele período, apontaram baixa qualidade no ensino de arte nas

escolas americanas, além de uma perda de status perante outras áreas de

conhecimento, contempladas no currículo escolar.

Diante dos resultados, os pesquisadores levando em conta as falhas das

áreas e as vitórias realizadas por professores ou programas bem-sucedidos,

concluíram ser necessária uma abordagem mais abrangente e substancial para o

ensino da arte. Assim, os estudos foram direcionados a partir de três preocupações

básicas: como os alunos aprendem arte?, O que é importante ser ensinado em

arte? e Como os conteúdos de aprendizagem em arte podem ser organizados?.

No DBAE, a metodologia do ensino de arte corresponde aos quatro

parâmetros da Arte em que os indivíduos se relacionam: produzir, ver, procurar

entender a cultura por meio da história, fazer julgamento de valor. Isto demonstra

que somos todos participantes do processo artístico, de suas leituras e de suas

transformações.

38

Na proposta do DBAE, visível se mostrava a necessidade de reformar a

educação, sugerida por um currículo em que as Artes estavam integradas e fossem

acessíveis a todos os alunos.

Incluía como metas para serem desenvolvidos conteúdos específicos, as

quatro disciplinas, Música, Dança, Artes Visuais e Teatro eram direcionadas a

desenvolverem quatro visões: produção artística, história da Arte e Cultura, a crítica

de Arte e a Estética. Estas, funcionavam como uma descentralização da visão de

Arte como técnica, difundida largamente no tecnicismo das escolas americanas até

meados dos anos 1970.

O DBAE diminui a ênfase nas instruções e atividades práticas que eram

excessivamente delineadas nas escolas na “livre-expressão” ou no tecnicismo e

promove uma educação com uso da técnica na produção artística e do estudo da

história da arte, estética e crítica de arte. Os objetivos do DBAE traduzem uma busca

pelo ensino de Arte mais próximo do ensino de outras disciplinas acadêmicas dentro

do currículo, no qual somente professores especializados nas teorias e práticas da

Arte poderiam lecionar.

Relacionando os parâmetros de ensino e aprendizado das Escuelas al Aire

Libre, Critical Studies e DBAE, a Abordagem Triangular foi desenvolvida por Ana Mae

Barbosa em sua tríplice atuação: leitura de imagem, contextualização e produção

artística sendo compreendidas como sistematização crítico-reflexiva.

39

2.3.2 Educação da Cultura Visual

Antes de falarmos sobre educação e cultura visual é importante

sabermos um pouco a origem da expressão “Cultura Visual”. Esta teve início

com as relações entre a chamada Artes e Culturas oficiais e não oficiais.

Certamente os meios publicitários, os movimentos culturais populares e as

novas tecnologias aliadas às artes modernas, tiveram uma contribuição

importante.

No tocante a Educação, Vasconcelos (2011, p. 90 - 93) diz que:

De acordo com a Educação da Cultura Visual, as imagens que evidenciam

significados culturais, suas visualidades, podem ser utilizadas para o ensino e

aprendizado de Artes Visuais. Indica como procedimentos didáticos geralmente a

observação e análise crítica de imagens da televisão, do cinema, da internet, assim

como de outras referências imagéticas que informam e conduzem culturalmente os

indivíduos a determinadas atitudes e hábitos.

As imagens estariam carregadas de discursos, pois dizem sempre alguma

coisa para os sujeitos. Daí, esses discursos termina por influenciar os comportamentos

dos sujeitos. É esse “gancho” que a Educação da Cultura Visual deve ser pensada.

Lanço mão delas para expôr sobre os enunciados gerais da Educação da

Cultura Visual, com inferência a alguns de seus procedimentos didáticos: I) um ensino

e aprendizado transdisciplinar ou adisciplinar que indaga sobre as práticas culturais do

olhar e os efeitos desse olhar sobre quem vê; II) uma área que abrange o ensino e

aprendizado de todas as imagens e artefatos culturais do passado e presente que

discute como se vê e como se é visto por esses objetos e III) uma condição de se

ensinar e aprender culturalmente, percebendo a marca que as tecnologias e as mídias

afetam a todos os indivíduos.

I) Um ensino e aprendizado transdisciplinar ou adisciplinar que indaga sobre

as práticas culturais do olhar e os efeitos desse olhar sobre quem vê. Corresponde ao

uso na escola, especificamente, nas aulas de Artes Visuais, das imagens como

representações que demonstram como é o mundo e como são as pessoas. O

professor trabalharia com a mediação dos significados possíveis que as imagens

40

possam acarretar, a depender do contexto no qual são analisadas. Geralmente se

encontra neste entendimento, relações sociológicas, antropológicas, filosóficas,

históricas e educacionais das representações.

A Educação da Cultura Visual estaria atuando com a ênfase do sentido

cultural e subjetivo de todo olhar, impregnado por limites sociais e pessoais,

questionando as narrativas que colonizam a visão para um sentido único.

II) Uma área que abrange o ensino e aprendizado de todas as imagens e

artefatos culturais do passado e presente que discute como se vê e como se é visto

por esses objetos. Neste contexto, aponta-se os sujeitos pedagógicos como

integrantes de um determinado espaço e inseridos em um tempo específico,

construindo didaticamente suas identidades ao lerem e relerem imagens. Na

Educação da Cultura Visual, eles estão inseridos nos debates, nas reflexões

realizadas durante atividades com uso de imagens, no posicionamento crítico e

político de acordo com o momento histórico em que se vive.

III) Uma condição de se ensinar e aprender culturalmente, percebendo a

marca que as tecnologias e as mídias afetam a todos os indivíduos.

A Educação da Cultura Visual funcionaria como um meio no qual o diálogo

entre objetos, artefatos e imagens, constroem elos de interpretação que atuam nos

modos de ver de cada um. Os questionamentos surgidos durante as aulas

possibilitariam o desenvolvimento de caminhos de tomada dos sentidos das

representações imagéticas que o aluno já traz para a escola, das apresentadas pelo

professor e das que aparecem na mediação educativa.

Para finalizar nossa “conversa” sobre Educação e Cultura Visual,

sugerimos a leitura do material intitulado “cultura visual e escola”, produzido

pela TV Escola, do programa “Salto para o Futuro (2011).

Acesse o material no site:

http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/14380009-CulturaVisual.pdf

41

2.3.2 MITEA

Sobre este sub-ítem continuaremos nos valendo das contribuições de

Vasconcelos, mas agora em parceria com Bezerra (VASCONCELOS e

BERREZA, 2012, p. 183-194).

A denominação de Proposta Multidisciplinar, Interdisciplinar e

Transdisciplinar - MIT do Ensino de Arte (MITEA), de acordo com Vasconcelos (2011)

surgiu da conexão intrínseca de concepções epistemológicas contemporâneas

existentes no Brasil, a Abordagem Triangular e a perspectiva da Cultura Visual, além

de ter referência nos estudos acerca do trabalho de pesquisadores que

desenvolveram o conceito MIT.

O conceito de MIT, proporciona a união/junção dos termos multidisciplinar

(compreendendo as diversas disciplinas e sua importância no currículo escolar),

interdisciplinar (relacionando conhecimentos em uma quantidade específica de

disciplinas no currículo escolar) e transdisciplinar (promovendo análises críticas de

conhecimentos entre as diversas disciplinas do currículo escolar), expondo uma

integração maior entre a visão de ensino entre as disciplinas e a aquisição do

conhecimento como um todo.

A MITEA tem sua epistemologia nas concepções da Abordagem Triangular e

Cultura Visual, suas palavras e verbos com noções didáticas contemporâneas e seu

desenho com uma referência holística (vide Fig.05) que o próprio termo MIT

proporciona ao entender todas as áreas do conhecimento comunicando-se em diálogo

contínuo nas escolas.

Na perspectiva MITEA, é proposta a presença ativa do arte/educador na

escola, devendo estar atento aos conteúdos que são lecionados nas outras disciplinas

para que possa planejar ações pedagógicas correlacionadas com os outros

professores.

42

Figura 05

Os quatro olhares expostos: discurso visual , visualidades, narrativas e

produção artística são a plataforma em que as ações pedagógicas se alicerçam. O

discurso visual é entendido como análise/leitura das imagens de obras artísticas,

interpretando seus elementos visuais, cênicos, espaciais.

As visualidades são as imagens compreendidas em suas relações

sócio/culturais (imagens de obras de arte, das mídias – tevê, propaganda, internet, etc.

e das ruas), conceito este que se consubstancia nos pressupostos da Cultura Visual.

As narrativas são os espaços idealizantes em que as visualidades foram produzidas e

suas relações com a contemporaneidade, pressupõe uma contextualização crítica

dessas imagens.

A produção artística é entendida como a criação de objetos, ações que

traduzam tudo o que foi discutido/dialogado e construído e os verbos de ação são

indicações que podem estar entre os pilares, orientando o caminho do

ensino/aprendizagem em arte (analisar, interpretar, problematizar, contextualizar, criar,

construir).

43

Vamos discutir mais um pouco...

- Como utilizar, no ensino de Artes Visuais, as seguintes metodologias:

a) Abordagem Triangular

b) Educação da Cultura Visual

c) MITEA

- Que procedimentos didáticos podem ser utilizados para um ensino de Artes

Visuais na perspectiva contemporânea?

- Como um currículo pode estar contextualizado com as metodologias

contemporâneas do ensino de Artes Visuais?

- Analise a imagem abaixo (Fig. 06), pensando em como ela poderia abordar:

a) a construção social no Brasil

b) a construção étnica no Brasil

- Procure saber em que contexto a imagem foi produzida.

VAMOS DISCUTIR MAIS UM POUCO...

44

Figura 06

- Como trabalhar com o ensino de Artes Visuais, utilizando imagens que

possam estar remetendo a questões transversais?

45

- Pesquise mais na internet sobre a história do ensino de Artes Visuais no

Brasil e procure realizar as seguintes relações em suas leituras:

- Ensino de Artes Visuais e o método tradicional

- Ensino de Artes Visuais e o método tecnicista

- Ensino de Artes Visuais e construtivismo

- Ensino de Artes Visuais e livre-expressão

- Ensino de Artes Visuais contemporâneo

- Pesquise imagens que possam lhe definir:

a) O ensino de Artes Visuais acrítico

b) O ensino de Artes Visuais como terapia

c) O ensino de Artes Visuais vinculado às datas comemorativas

d) O ensino de Artes Visuais como técnica

e) O ensino de Artes Visuais como cópia do real

f) O ensino de Artes Visuais problematizador, crítico e reflexivo

46

INDICE DE FIGURAS

Figura01:endereço(http://plenitudeorganizacional.wordpress.com/2012/08/20/tendencias-devemos-

sempre-segui-las/). Acessado em: 10.01.13;

Figura 02: endereço:http://www.orangemania.com.br/assistencia-tecnica/ ). Acessado em: 21.01.13;

Figura 03: endereço: http://www.mutualart.com/Artwork/Escuela-al-aire-libre/3AF2C684899A9495. Acessado

em: 23.01.13;

Figura 04: endereço: http://www.ebay.com.au/itm/Method-Creative-Design-Best-Maugard-p1966-

/270572799438. Acessado em 21.01.13;

Figura 05: Gráfico que explicita a Proposta MITEA.

Figura 06: Redenção de Can, Modesto Brocos y Gómez (1895) – Acervo Particular.

REFERÊNCIAS:

ASSIS, H. L. (et al.). (Orgs.). O ensino de Artes Visuais: desafios e

possibilidades contemporâneas. Goiânia: Grafset, 2009.

GADOTTI, M. Pensamentos pedagógicos brasileiros. São Paulo: Ática,

1998.

VASCONCELOS, F. M. de B. P. Narrativas no ensino de Artes Visuais em

juazeiro/BA e Petrolina/PE. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal

da Paraíba – UFPB e Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, João

Pessoal, 2011. p. 83-96.

VASCONCELOS, F. M. B. P. ; BEZERRA, U. S. . Entre teorias e práticas

pedagógicas: conceituações didáticas contemporâneas no ensino de artes

visuais. In: ZACCARA, M.; CARVALHO, L. M. (Org.). Paisagens Plurais: artes

visuais e transversalidades. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2012, v.

1, p. 183-194.

47

EMENTA

Reflete sobre a singularidade de ser professor de

artes e suas itinerâncias constituidoras e como

isso vai repercutir na maneira do professor ensinar.

OBJETIVOS:

- Abordar a formação docente a partir de uma

perspectiva biográfica.

- Discutir as relações entre as histórias de vida

dos professores e os seus métodos e técnicas.

Metodologia do Ensino Teórico Prático em Artes Visuais

_ FASCÍCULO _

3.

A FORMAÇAO PROFISSIONAL

E SEUS DESAFIOS

.

Autor: Profº Drº Marcelo Ribeiro

Revisor:

Profº Drº Darlindo Ferreira de Lima

Carga horária: xx horas

48

3.1 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL E SEUS DESAFIOS

Em muitas escolas vamos encontrar professores que acabaram de

participar de algum curso, mas que na sua prática, ainda não consegue abrir

mão de certos hábitos e perspectivas que vão de encontro a orientação

trabalhada na qualificação.

O professor tem, por vezes, clareza de suas dificuldades, mas não

consegue superá-las. A mudança exige, portanto, um arriscar-se, um colocar-

se numa posição nunca vivida antes. O professor, muitas vezes, não consegue

assumir, na prática, a nova perspectiva aprendida na capacitação, mesmo que

queira racionalmente.

Neste sentido é importante que as formações de professores assumam

uma dimensão da formação da pessoa do professor. É necessário que o

professor efetue sua transformação pessoal na medida que incorpore os

paradigmas implícitos nas capacitações, cursos e qualificações recebidas.

Paradigma aqui é tomado no sentido de

refletir o conjunto de crenças, valores,

regras e todo horizonte sociocultural nos

quais os sujeitos se encontram inseridos.

49

3.2 ITINERANCIA DA FORMAÇÃO

Cada profissão tem suas especificidades, por mais variados que possam

ser os profissionais. A atividade profissional pode ser caracterizada como um

corpo de saber específico, voltado para certos objetos definidos socialmente.

Mesmo a atividade profissional, seja ela qual for, sendo exercida por indivíduos

muito diferentes um dos outros, parece existir, de um modo mais ou menos

padronizado, especificidades próprias, que poderá caracterizá-la como tal a

partir de um contexto cultural e histórico.

Eu posso ser um professor, por exemplo, que adota uma abordagem

diferenciada, ou seja, fora dos padrões, e ter um jeito de ser próprio, peculiar,

que inevitavelmente se manifestará no meu fazer profissional. Entretanto, por

mais que difira, ainda poderei estar sendo ou poderei ser identificado como

professor. Pois, apesar das variações, pode-se manter um corpo de saber

específico, voltado para certos objetos que foram socialmente elaborados.

Cada profissão tem suas bases, que podem ser da esfera de uma teoria

do conhecimento científico, do senso comum, de instituições formadoras e de

ordem cultural, ou seja, cada profissional pode variar de acordo com suas

origens culturais, orientações teóricas, sua abordagem e seus métodos.

Supondo já estes cânones, mesmo nas suas diversas variações, o que é ser

professor de artes?

Para responder a esta pergunta é preciso procurar respostas a partir das

percepções que a sociedade tem em relação ao professor de artes, das

expectativas que os alunos, pais e comunidade em geral esperam de um

professor de artes. É preciso buscar a referência das dimensões artísticas e

políticas do docente, é preciso trazer à tona a historia da profissão e as

condições sociais. Entretanto, ainda que indiquem caminhos para

compreensão da condição de ser professor de artes, parece não responder por

completo a pergunta. Faz-se pertinente também perguntar ao próprio docente,

50

Figura 01

a partir do que sente, do que vive e de suas experiências o que é ser professor

de artes.

De um modo geral poderíamos classificar como a dimensão pessoal e a

dimensão institucional como formadoras e caracterizadoras da condição de ser

professor. Uma corresponde aos aspectos subjetivos (desenvolvida ao longo

da história de vida do sujeito) e a outra corresponde aos aspectos objetivos da

profissão (desenvolvida em sua formação propriamente dita e também a partir

do seu contexto de trabalho). Mas o que nos interessa é compreender o inter e

o intra jogo dessas duas dimensões, a dimensão da pessoa e a dimensão

institucional, na sua formação, vividas pelo professor de artes, sem dicotomizá-

las.

Tanto a psicologia, quanto à sociologia e a antropologia vão contribuir

para explicação do processo de construção da subjetividade nos seus aspectos

assimilativos e relacionais, individuais e sociais, principalmente a partir do

imbricamento do pessoal/subjetivo com o institucional/social.

A construção da subjetividade, para a formação do

professor de artes, pode ser entendida como aquilo que dá

sentido, como o que é vivido e experimentado, através das

ações, pela pessoa professor. E o que faz a pessoa se sentir

professor, mesmo que seja a partir de condições históricas,

sociais e políticas desfavoráveis, ou a partir de situações tensas e conflituosas,

prazerosas e realizadoras.

Nesta perspectiva, da construção da subjetividade, Vasconcelos (2000)

vai tecer algumas das especificidades que marcam a profissão professor. Para

a autora, as vivências relativas ao tempo e aos espaços serão constituídas de

um modo muito particular. Isto porque o professor tem que preparar aulas,

corrigir trabalhos, estudar, ou seja, uma parte significativa de suas atividades

se esconde num mundo privado.

51

Figura 03

Figura 02

Além da necessidade do professor compensar seus

baixos salários, sendo obrigado a trabalhar, muitas vezes

os três turnos. O professor, como outros profissionais,

está muito suscetível às políticas públicas. Um outro

aspecto importante é a militância da categoria, que às vezes

cria impactos para categoria, às vezes é amorfo. A intensidade das vivências

com alunos e colegas é outra especificidade contundente.

Para tanto, citemos o exemplo do professor de artes que se propõe a

provocar discussões entre seus alunos a partir de uma exposição de obras

modernistas, onde busca suscitar a reflexão e, no auge da discussão, pede

insistentemente a palavra para explanar seu próprio pensamento ou mesmo

sempre tem algo a acrescentar depois da fala dos alunos, mesmo que estes

tenham expostos de modo claro e completo o assunto debatido.

O referido professor sente ao falar um grande prazer – um prazer de ter

sido ouvido. E sente também um prazer em se perceber e ser percebido como

uma pessoa bastante sabida. Percebe-se congruente com o que acha que se

espera dele, ou seja, um professor que sabe, que amarra as discussões, que

sabe ter a palavra.

Tal relação, tal postura do professor com os

alunos, se repetitiva, pode provocar uma reação

totalmente contrária aos seus ideais e interesses iniciais,

no que diz respeito à cooperação, participação,

motivação e interesse de discutir entre os alunos. Isto

porque o professor pode passar a ser visto como aquele que não

deixa o aluno se expressar, como o dono da verdade, como monopolizador da

palavra. Esta reação pode repercutir, por sua vez, na sua condição de estar e

ser professor.

52

Para uma formação do professor que contemple os aspectos subjetivos,

não basta o professor querer racionalmente ser democrático e cooperativo na

relação com seus alunos, por exemplo. É preciso que sua práxis, que seus

métodos, que suas técnicas e que sua condição de ser com outro seja vivida a

partir de uma coerência com o que pensa e com o que diz.

Enquanto os aspectos da subjetividade do professor não forem

transformados ele falhará em seus intentos. E esta transformação não se dará

de modo espontâneo, na relação rotineira com seus alunos. É necessário, para

tanto, apreender a condição de ser professor de artes, a partir do vivido nas

relações cotidianas, trazê-las como “elementos” da formação docente para

buscar a transformação, o crescimento e mesmo o desenvolvimento

profissional.

Nesse processo contínuo de formação, os/as professores/professoras tomam conhecimento não apenas do entorno, mas também de si mesmo como pessoas portadoras de necessidades e desejos, limitações e possibilidades, inseridas em relações sociais de determinado tipo, vivendo sua experiência numa estrutura social mais ou menos restritiva. Nesse processo cheio de idas e vindas, de atalhos e bifurcações os professores/ professoras vão se formando, vão tecendo, no dizer de Nóvoa (1995), maneiras de ser e estar na profissão (Vasconcelos: 2000, p. 23).

A formação que privilegia as especificidades e idiossincrasias dos

professores é uma formação que valoriza as singularidades. Entretanto, é

importante compreender que estas singularidades são frutos de um processo

interrelacional e mediado, ou seja, passa pelo outro. As maneiras de ser e estar

professor de artes dependem de uma história, de um coletivo, de uma teia, mas

o nó e o ponto dessa teia, dessa costura social, passa pela vivência e

singularização de cada professor em seus momentos e experiências

particulares.

53

Figura 04

Longe de querer esgotar as respostas a pergunta feita no início (“o que

caracteriza ser professor”), pretendemos, de um modo breve, apenas suscitar

alguns questionamentos a cerca da formação e da identidade desse

profissional. Acreditamos que as respostas para essa pergunta são

inesgotáveis, na medida em que situamos a questão também na perspectiva da

subjetividade em interação com o meio. As respostas são inesgotáveis porque,

assim como a formação do professor é algo contínuo, a sua identidade também

o é.

O processo identitário do professor é esse reconstruir permanente, é

esse se ver a partir de várias possibilidades, é esse interagir com o seu

contexto, que também é dinâmico. Sem dúvidas, tudo isso vai refletir, de uma

forma ou de outra, no modo como o professor vai ensinar.

Tecido social e cultural em que

se encontra inserido

Vivência subjetiva de cada

professor

Ser professor de Artes

54

Para finalizar esta parte, convidamos você a produzir um

pequeno texto contanto um pouco da sua história e

itinerância que desemboca nessa profissão (professor

de artes). Depois, analise essa história e veja o quanto

repercute no seu jeito de ensinar.

55

Figura 05

3.3 IDENTIDADE E RELACIONAMENTO INTERPESSOAL : ASPECTOS IMPLÍCITOS DE

MÊTODOS E TÉCNICAS

Provavelmente muito já se tenha dito sobre a questão da docência e do

relacionamento interpessoal, mas o fato de um tema bastante discutido

continuar sendo de interesse e de urgência nos meios educacionais parece ser,

no mínimo, curioso.

A nossa proposta no final deste livro não será indicar uma receita ou

muito menos listar as boas características do que vem a ser um relacionamento

bem sucedido entre professor e aluno. A intenção será muito mais buscar

entender as implicações e pertinências entre a docência e o relacionamento

interpessoal vivido no cotidiano da sala de aula, bem como sua difícil

concretização por parte, sobretudo, dos professores, para, justamente nos

ajudar a melhor compreender a questão dos métodos e das técnicas.

Posso compartilhar com vocês que este tema, sobretudo no que diz

respeito a identidade, sempre foi objeto de minhas reflexões desde que fui

tomando consciência da condição de ser professor. Graduei-me em psicologia

e já na época da faculdade envolvia-me em situações de ensino. Depois de

formado passei a atuar na psicologia clínica, escolar e na docência. À medida

que o tempo ia passando percebia-me cada vez mais interessado e mais

motivado no mundo docente, no mundo da sala de aula, nas relações e

descobertas que eu vivia. Finalmente, pude me assumir como sendo um

professor que é psicólogo e não mais um psicólogo que dava aulas.

56

A identidade enquanto metamorfose, enquanto processo identitário, é

muito importante para se entender a docência. Em primeiro lugar, porque

rompe com a ideia de que já se nasce professor, ou que para ser professor

precisa ter dom ou ainda que não é necessário passar por um processo para

se tornar professor (RIBEIRO, 2004).

A profissionalização do professor é algo muito discutido atualmente e

envolve uma série de considerações que fugiriam ao propósito deste momento.

Entretanto, cabe salientar que a docência ainda requer muitas coisas para se

afirmar como uma profissão propriamente dita, sobretudo a docência do

professor de artes. Assim, pensar a identidade em suas várias dimensões e

constituições já é um bom caminho para começar a compreender as

especificidades e singularidades que envolvem o ser professor.

Como nos faz lembrar Grillo (2006, p. 78),

A docência envolve o professor em sua totalidade; sua prática é resultado do saber, do fazer e principalmente do ser, significando um compromisso consigo mesmo, com o aluno, com o conhecimento e com a sociedade e sua transformação.

A autora, fundamentada, sobretudo em autores como Nóvoa (2000) e

Perrenoud (2001), aponta quatro importantes dimensões para compreender a

docência: dimensão pessoal, dimensão prática, dimensão conhecimento

profissional e dimensão contextual.

Racionalidade Técnica pode ser compreendida como um princípio advindo da modernidade, pós- Revolução Industrial que remete à produção em massa de objetos de uma maneira descontextualizada e acrítica.

57

Figura 06

A dimensão pessoal aponta para inseparabilidade entre a pessoa e o

profissional, onde “ser professor obriga a opções constantes que cruzam nossa

maneira de ser com nossa maneira de ensinar, e que desvendam na nossa

maneira de ensinar a nossa maneira de ser” (Nóvoa apud GRILLO, 2006,

p.79).

Essa inseparabilidade nos leva a refletir sobre a formação docente, seja

ela a formação inicial ou a formação continuada. Isto significa dizer que não é

mais possível manter formações profissionais (sobretudo a docente) que invista

apenas na racionalidade técnica sem contemplar a subjetividade do sujeito

professor em formação, sua história de vida, seu processo de

autoconhecimento etc.

A dimensão prática diz respeito “às direções que o professor imprime ao

seu fazer docente, num cenário marcado pela complexidade, e mesmo pela

contradição” (GRILLO, 2006, p.80).

Reconhecer a complexidade da prática docente, como aponta Perrenoud

(2001), implica assumir os antagonismos e dilemas inevitáveis e presentes no

cotidiano da sala de aula. Não obstante, a complexidade tal como concebida

por Morin (2000) exige um diálogo e uma inseparabilidade

entre ordem e a desordem. Este autor atribui à ordem a ideia

de estabilidade, de constância, de regularidade e de

estrutura. Já em relação a desordem, ele relaciona com as

agitações, as dispersões, as colisões, as irregularidades, as

instabilidades, aos desvios, as aleatoriedades, as desintegrações,

aos ruídos, aos erros e as incertezas. Entretanto, tanto a ordem quanto a

desordem seriam imprescindíveis para possibilitar a compreensão da realidade

numa perspectiva da complexidade.

A prática ainda é concebida como a mediadora da produção do

conhecimento que se fundamenta e é mobilizada pela e na experiência de vida

58

Figura 07

do professor. Dessa forma, o professor se constrói a partir de uma prática

interativa e dialógica entre o individual e o coletivo.

As práticas profissionais são cruciais, fornecendo toda a matéria bruta

para o processo de estar sendo professor, porque assim é possível dar conta

de uma realidade extremamente complexa, que é o cotidiano escolar, com

suas manutenções, continuidades, rotinas, mas também recheado de

imprevisibilidades, incertezas, surpresas, incoerências e contradições.

Pensar a prática docente força pensar pelo menos dois aspectos, a

saber: o aspecto temporal e o aspecto espacial. Estes demandam refletir a

respeito do lugar que o professor ocupa e em que momento ele se localiza. Por

sua vez, esses aspectos fazem apelo a questão do cotidiano, entendido como

espacialidade e temporalidade

vividos (CUNHA, 1989). Mais

especificamente, o cotidiano do

professor configura-se de modo

evidente na sala de aula onde ele

vivencia uma de suas condições,

onde atua enquanto intérprete de si

mesmo e interage com os outros

reelaborando constantemente seu

fazer. Assim, focalizar a prática

docente no cotidiano vivido é

também uma questão de método

que possibilita acessar condições mais complexas da realidade e

ações pedagógicas no ato mesmo em que elas se desenvolvem e

se efetivam.

59

A dimensão conhecimento profissional docente compreende “diferentes

tipos de conhecimentos articulados de forma idiossincrásica e nunca definida,

originando-se de vários eixos simultaneamente” (GRILLO, 2006, p.83). Esses

eixos dizem respeito: as diversas disciplinas científicas necessárias, mas não

suficientes para a docência; as disciplinas relacionadas as questões sobre o

ensino, a aprendizagem, a instituição escolar, etc.; as experiências da prática

pedagógicas; e as didáticas específicas (disciplinas integradoras).

A dimensão contextual tem a ver com a necessidade de relacionar

conteúdo com vivência dos fenômenos locais e globais. A abertura para o

entorno possibilita articular elementos culturais, demandas sociais e desafios

políticos e coletivos à prática e ao cotidiano da sala de aula. Essa dimensão

contribui para ampliação das compreensões éticas, sociais e políticas dos

alunos, possibilitando sua formação cidadã.

Partindo da ideia de Paulo Freire (1987) de quem ninguém educa

ninguém e ninguém se educa sozinho, mas sim que as pessoas se educam

mutuamente, não é possível aceitar que esse que se diz professor ou que é

visto como professor seja compreendido sem levar em consideração a principal

relação que o constitui, ou seja, a relação professor-aluno. Além do professor

necessitar manter-se constantemente atualizado, refletindo sobre a sua prática,

sabendo aceitar os imprevistos, que invariavelmente ocorrem em seu cotidiano,

cabe a ele também saber privilegiar, como aponta Grillo:

a riqueza da interação, a necessidade do respeito às diferenças no que tange aos conhecimentos prévios, tempo de cada aluno, área de formação, oportunidade para o exercício da crítica”. A autora ainda finaliza dizendo que “a docência integra muito mais do que conteúdos e técnicas; integra o professor em sua totalidade; ele é o que ensina e ensina o que é (GRILLO, 2006, p.88).

O ser professor que é sendo no estar no mundo e com o outro é muito

mais do que trocadilhos de uma língua que soube “sacar” as sutilezas dos

verbos que indicam estados de temporalidades. Na verdade, só podemos

oferecer aos alunos aquilo que temos e que somos. Mesmo quando

oferecemos aquilo que aparentemente não possuímos, temos o sonho, temos a

60

vontade ou a coragem para doar. E é neste dar e doar-se que fazemos

movimentar as aprendizagens com os nossos alunos e que, ao aprendermos,

passamos a ensiná-los.

A este respeito, recordamos Grossi (1992) quando esta diz que “só

ensina quem aprende. Este vem a ser um alicerce do construtivismo, ou seja,

de que um momento de aprendizagem só existe na circulação de saberes e

conhecimentos” (p. 75).

61

Figura 08

3.3.1 SENDO PROFESSOR NA RELAÇÃO COM O ALUNO

A partir de agora adentramos em um outro tipo de paisagem repleta de

perspectivas a serem captadas com as nossas lentes que buscam entender a

docência e suas relações. Essa paisagem diz respeito a importância de ser

professor para o outro. Embora esse valor do professor tenha sido vulgarizado

de modo piegas, acreditamos que seja importante resignificá-lo.

Não é por menos que Almeida (2006), a propósito de uma reflexão sobre

a educação vai dizer que, “Mais que um simples transmissor de

conhecimentos, o professor constitui-se numa referência privilegiada para a

construção da visão de mundo e da estrutura de pensar o aluno, diga-se, do

cidadão planetário” (p. 38). Caberia ao professor, salienta a autora, a tarefa de

reconstruir seu próprio perfil enquanto profissional da educação e desequilibrar

cognitivamente seus alunos.

Essa tarefa traz uma implicação de ordem filosófica, existencial e ao

mesmo tempo tem a ver com a questão do processo identitário. Quando o

professor reconstrói seu perfil ele busca atualizações e ajustamentos criativos

ao tempo que facilita a intensificação de transformações

nos alunos. Toda essa dinâmica metamorfósica só é

possível quando o professor, na relação com o aluno, é

também educando e quando o aluno, na relação com o

professor, é também educador.

É bem verdade que cabe ao

professor uma maior responsabilidade para que esse

tipo de dinâmica se inicie. Afinal, toda relação é também

relação de poder, e de poder que o tempo todo se

tensiona. No início de uma relação professor-aluno a

relação é assimétrica em sua própria constituição (o que

não quer dizer de modo algum que o aluno seja um

Empoderar é derivada do inglês

empowerment. Entretanto parece

não existir um consenso em língua portuguesa quanto a

tradução da palavra, de forma

geral remete a ideia de autoria, de ser

autor de si mesmo..

62

“sem luz”). A questão é exatamente que o professor coloque a disposição da

relação o poder de “empoderar” o aluno a tal ponto que o discípulo possa

superar o mestre.

A ideia de renascer e de recomeçar não tem mesmo a ver com a noção

de imortalidade enquanto cristalização e permanência de um estado que se

enrijece numa identidade e num jeito de ser. Aliás, a esse respeito é

interessante falar sobre a questão da experiência.

Não tenham a ilusão, caros leitores, de que a experiência seja algo

acumulativo, como algo que se vai ganhando e somando ao longo do tempo

até o momento que podemos dizer com segurança que temos “a experiência”.

Falamos isso como se a experiência fosse formada por pedaços que vão sendo

colocados na gente até ganhar uma forma de um quebra-cabeça. Ledo

engano.

Certa vez eu ouvi um amigo falar que tinha medo daquelas pessoas que

saem dizendo por aí que têm muita experiência nisso ou naquilo. Dizia ele que

essas pessoas são geralmente enfadonhas e rígidas. Essas pessoas,

complementava ele, diziam ter dez anos de experiência naquilo, mas na

verdade tinham um ano de experiência repetido dez vezes.

Voltando a ideia de renascimento e recomeço podemos apontar que

nessa constante mudança existe algo que se mantém. A continuidade da

atividade humana de aprender, portanto, é uma marca da nossa itinerância.

Desde os primórdios que o homem busca saber, conhecer, descobrir e

aprender. É nesse caminhar humano com outro que vamos fazendo nossa

história e ao fazermos nos inventamos sem parar.

63

Figura 09

Por mais que se tente não é possível se esquivar da pertinência das

relações interpessoais como constituidora de identidades, como mediadora dos

processos de aprendizagens e como formadora no sentido mais lato e stricto

do termo. Esse sentido de formação, particularmente enquanto possibilidade

que se dá a partir e nas relações entre professor e alunos ganha uma

importância crucial na atualidade, sobretudo quando se tem como desafio a

questão dos valores sócio-culturais que norteiam as relações.

Ao professor cabe também uma

preocupação com a formação de um sujeito

social, político e ético, além de profissional.

Noções de convivência, de respeito pelo outro,

de aceitação da diferença, de limites e

responsabilidades são convocações basilares

para uma formação. Sendo assim, o professor

nunca sai incólume dessa covocação, seja porque responde com

ou sem habilidade (respons-abilidade). De modo semelhante, Leite

(1997) já trazia à discussão sobre educação e relações interpessoais os

seguintes objetivos: cabe educar a partir das relações interpessoais e educar

para as relações interpessoais.

Para Leite (1997), o professor tem importância fundamental na sala de

aula justamente porque vai:

atuar como o transmissor dos padrões da cultura, e ser o responsável pela avaliação de algumas qualidades sociais muito importantes para o aluno. Em alguns dos aspectos básicos da vida social, a auto-avaliação é fornecida pela escola; mais importante ainda, nas cidades contemporâneas, a escola é o ponto de passagem entre a identificação da família e a identificação mais ampla do grupo social externo (p. 312).

64

Queiramos ou não a relação interpessoal na sala de aula é inevitável. Os

papéis de professor e aluno estão lá e existem roteiros mais ou menos pré-

estabelecidos a serem seguidos. Às vezes intensas e genuínas relações se

depreendem dos papéis que são representados de maneira, muitas vezes,

alienados. Quando isso acontece há possibilidade dos professores

conseguirem obter um bom rendimento não apenas com um ou dois alunos,

mas com toda a classe. Tais professores têm a capacidade de transformar

seus alunos justamente porque estão mais habilitados a observar e salientar os

aspectos positivos e não reproduzir os aspectos negativos deles.

Essas ideias de Leite (1997) são sintetizadas com suas próprias

palavras: “O professor precisa é buscar, em cada aluno, as suas qualidades

positivas, a fim de provocar o seu desenvolvimento” (p. 315).

Leite ainda destaca que para o professor lograr êxito deve focar dois

pontos relevantes para o desenvolvimento das relações interpessoais: o auto-

conhecimento e o conhecimento do sentido do comportamento do outro.

Em relação ao auto-conhecimento Leite (1997, p. 321) dirá o seguinte:

... é a incapacidade que o professor ‘adquire’, depois de algum tempo de trabalho, para perceber, com razoável imparcialidade, o seu comportamento diante dos alunos: notar os seus erros de pronúncia, a sua atitude mais ou menos pernóstica, os gestos mais ou menos deselegantes ou excessivamente formais, a altura de sua voz, a sua maneira de andar ou gesticular, etc.

A questão da relação professor e aluno não seria, portanto, um aspecto

fundamental para o método e as técnicas do ensino? E se tratando do ensino

de artes, o relacionamento professor e aluno não deveriam estar marcados por

um desenvolvimento da sensibilidade, da dimensão estética?

65

- Como pensar a formação do professor de Artes Visuais, tendo em mente

as seguintes visões:

a) A identidade

b) A cultura

c) O contexto

- Cite as competências e habilidades necessárias para o professor de

Artes Visuais na:

a) Educação formal: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino

Médio, Educação de Jovens e Adultos

b) Educação não-formal: mediação cultural, organizações não-

governamentais,etc.

VAMOS DISCUTIR MAIS UM POUCO...

66

INDICE DE FIGURAS :

FIGURA 01 : ENDEREÇO (HTTP://EPNAZARE.BLOGSPOT.COM.BR/2009/11/ALEM-DA-IDENTIFICACAO-PESSOAL.HTML ).

ACESSADO EM: 21.01.13; FIGURA 02 : ENDEREÇO(HTTP://LUIZHENRIQUEPROFESSOR.BLOGSPOT.COM.BR/2012/05/VINCULO-DE-EMPREGO-

ENTRE-PROFESSORA-DE.HTML ). ACESSADO EM: 29.01.13; FIGURA 03 : ENDEREÇO (HTTP://TAMBAUNOTICIAS.TVTAMBAU.COM.BR/2011/04/PROFESSOR-TERA-13-DA-JORNADA-

FORA-DA-SALA/ )ACESSADO EM : 21.01.13 ; FIGURA 04: ENDEREÇO (HTTP://AQUIDEUSFALACOMVOCE.BLOGSPOT.COM.BR/2012/02/SUGESTAO.HTML). ACESSADO

EM: 10.01.13; FIGURA 05 : ENDEREÇO (http://averdadecusteoquecustar.blogspot.com.br/2012/07/determinismo-

biblico.html ) Acessado em: 28.01.13

FIGURA 06: ENDEREÇO (http://blog.roma.srv.br/teoria-da-complexidade/ ). Acessado em: 29.01.13;

FIGURA 07: ENDEREÇO (http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/professor-reflexivo.htm ).

Acessado em; 28.01.13;

FIGURA 08: ENDEREÇO (http://www.terapiaemdia.com.br/?p=937 ). Acessado em: 29.01.13;

FIGURA 09: ENDEREÇO (http://www.revistauniversomaconico.com.br/social/a-maconaria-e-a-fraternidade-

na-sociedade/ ). Acessado em:29.01.13;

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BYINGTON, Carlos Amadeu B. Pedagogia Simbólica: a construção

amorosa de ser. Rio de janeiro: Record: Rosa dos Ventos, 1996.

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FREIRE. Paulo. Pedagogia da Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

GRILLO, Marlene. O professor e a docência: o encontro com o aluno. In:

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67

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LEITE, Dante Moreira. Educação e relações interpessoais. In: PATTO, Maria

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NOVOA, A. (org.). Vidas de professores. Porto: Porto Editora, 2000.

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Departamento de Educação. Université du Quebec à Chicoutimi - UQAC,

Canadá, 2004.

VASCONCELOS, G. A. N. (2000). Como me fiz professora. Rio de Janeiro:

DP&A.

68

Agora que terminamos nossas discussões sobre as metodologias

do ensino de Artes Visuais, procure, em sua prática educativa repensar as

seguintes questões:

- Como posso realizar um ensino de Artes Visuais unindo teorias e

práticas artístico/educativas?

- De que maneira posso estar atuando para a mudança na perspectiva

crítica, do olhar dos estudantes sobre as Artes?

- O que é, a meu ver, a “Arte de ensinar Arte”?

- Que materiais e técnicas podem ser utilizados no ensino de Artes

Visuais?

- Que conteúdos podem existir na disciplina Arte, que contemplem as

Artes Visuais?

- O ensino de Artes Visuais deve buscar o que no espaço escolar?

VAMOS DISCUTIR MAIS UM POUCO...E ALÉM...

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