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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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NEUZA MARIA RENZI

A INDISCIPLINA NO ESPAÇO ESCOLAR:

NOVOS OLHARES

LONDRINA2011

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A INDISCIPLINA NO ESPAÇO ESCOLAR: novos olhares

Neuza Maria Renzi1

Sandra Regina Ferreira de Oliveira2

Resumo

Este artigo traz o resultado de um trabalho realizado no Colégio Estadual Marechal Castelo Branco Ensino Fundamental, Médio e Normal, do município de Primeiro de Maio, Paraná, com parte da sua comunidade escolar. O objetivo principal foi propiciar uma reflexão sobre a indisciplina e a violência escolar e suas relações com o processo ensino-aprendizagem. Por meio de grupos de estudos foram feitas análises e reflexões sobre textos e professores e alunos das 5ª séries responderam questionários sobre o tema da indisciplina escolar. Atualmente o problema da indisciplina no espaço escolar tem se agravado, com este trabalho procuramos compreender o fenômeno da indisciplina a partir das relações de poder que são estabelecida na sociedade e desenvolver um novo olhar sobre o assunto.

Palavras-Chave: Indisciplina; Professor; Aluno.

1 Introdução

O século XXI apresenta grandes desafios a serem enfrentados. A

insegurança, advinda de nossa convivência diária com situações conflitantes e

contraditórias, configura um cenário marcado por insegurança, como assevera Pino

ao referir-se ao final do século XX:

[...] as contradições, elementos intrínsecos à produção de capital, continuam se reproduzindo incessantemente. Cresce o conhecimento e a capacidade de produzir riquezas, mas aumenta à

1 Professora Pedagoga do Colégio Estadual Marechal Castelo Branco, Ensino Fundamental, Médio e Normal do município de Primeiro de Maio e Professora PDE. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Educação de Assis, Licenciada em Biologia Plena pela Faculdade de Ciências, Letras e Educação de Presidente Prudente, Bacharel em Ciências Econômicas pela Faculdade Integradas de Marília, Especialista em Psicopedagogia Institucional pela Universidade Castelo Branco e especialista em Metodologia Ensino pela Faculdade de Educação de Assis.

2 Professora no Programa de Mestrado em Educação, na linha de pesquisa Perspectivas Filosóficas, Históricas e Políticas da Educação, Coordena o projeto Histórias de Sucesso Pedagógico:outros olhares para o ensino e a aprendizagem na escola, Orientadora do PDE, graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina, Mestrado em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas.

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incerteza sobre a própria sobrevivência do ser humano. (PINO, 2002, p. 65).

Gentili e Frigotto (2002) também traz contribuições com essa discussão

quando afirmam que “o impressionante avanço das forças produtivas aumentam as

possibilidades de prolongar e melhorar a vida humana, ao mesmo tempo que mutila

e torna precária a vida de quase metade dos habitantes do planeta” (2002, p. 9)

Por sua vez, as mudanças requeridas pela sociedade atual apontam para a

necessidade de se repensar o papel da escola. Apple (1989, p. 27) alerta: “[...] o

sistema educacional – exatamente por causa de sua localização no interior de uma

trama mais ampla de relações sociais – pode constituir um importante terreno no

qual ações significativas podem ser desenvolvidas.”

Assim, o aprofundamento teórico – metodológico das questões aqui

sinteticamente apresentadas, é necessário para que se compreenda melhor o

fenômeno da indisciplina que se estabelece no ambiente escolar. Por outro lado, o

estudo e a reflexão podem indicar caminhos novos a serem percorridos para que os

educadores possam rever concepções na direção de favorecer a mudança de

atitudes, eliminarem preconceitos e principalmente, desenvolver um novo olhar

sobre o assunto.

Nessa perspectiva, torna-se necessário recorrer a teóricos que abordam o

tema trazendo para o ambiente da instituição escolar.

Segundo Aquino (1996, p. 40):

[...] a indisciplina seria, talvez, o inimigo número um do educador atual, cujo o manejo as correntes teóricas não conseguiriam propor de imediato uma vez que se trata de algo que ultrapassa o âmbito estritamente didático pedagógico, imprevisto ou até insuspeito no

ideário das diferentes teorias pedagógicas.

Aquino, ao analisar o fenômeno, pontua a necessidade de vê-lo sobre

olhares distintos: o olhar sócio-histórico que revela os diferentes perfis que as

práticas escolares vão adquirindo conforme as contingências sócio culturais e o

olhar psicológico, que expressa a indisciplina como uma carência psíquica que se

sustenta em “[...] seus determinantes psicossociais, cujas raízes encontram-se no

avento, no sujeito, da noção de autoridade”. (AQUINO, 1996, p. 45).

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Passos (1996, p. 121) sinalizam para o fato de que os estudos sobre o

cotidiano escolar podem conduzir a “um trajeto teórico que não fragmente os

fenômenos, mais que revele a gênese e a natureza do processo educativo”.

Desse modo, a observação crítica do cotidiano da escola pode revelar

nuances que apontam para a complexidade do fenômeno da indisciplina que precisa

ser analisada sob novo enfoque, capaz de desvelar a cultura da escola.

A falta da disciplina nas escolas, atualmente, tem sido vista como uma

questão problemática que dificulta a prática pedagógica. Ligado à desordem, à falta

de respeito, à falta de limites, as razões da indisciplina são, na maioria das vezes,

centralizadas nas atitudes do aluno. Diante desta questão, infere-se que a

indisciplina escolar, precisa ser trabalhada de forma preventiva e se constitui um

dos desafios mais críticos com os quais se defrontam as educadores na atualidade.

Entendendo que a escola é uma organização humana em que as pessoas

somam esforços para um propósito educativo comum, um dos caminhos para lidar

com a indisciplina é trabalhar em equipe e na escola, todos os dias, relacionam-se

aluno, professor, pais, coordenadores, equipe pedagógica e diretores.

Optamos por estudar a indisciplina no espaço escolar por meio do estudo

sobre os conceitos de desenvolvimentos moral e ético relacionando-os aos

conhecimentos necessários ao processo educativo. A reflexão sobre a indisciplina

deve levar os professores a auxiliarem seus alunos propiciando oportunidades para

que tenham consciência de que possuem direitos e deveres, de que estão sujeitos

as normas legais e que a disciplina é necessária no processo aprendizagem.

2 A Indisciplina e o Processo Educativo

A disciplina é um elemento primordial ao processo ensino aprendizagem,

pois se trata do conhecimento das normas estabelecidas para o bom

desenvolvimento do comportamento de alunos na sala de aula.

Conceituando Indisciplina.

Conforme o dicionário Aurélio encontra-se o significado de disciplina e

indisciplina (2001, p. 258, 414) é definido como:

Disciplina: 1-Regime de ordem imposta ou mesmo consentida. 2-Ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização.

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3- Relações de subordinação do aluno ao mestre. 4- Submissão a um regulamento. 5- Qualquer ramo do conhecimento.6- Matéria de ensino.Indisciplina: Procedimento, ato ou dito contrário à disciplina.

Vasconcellos (1994, p.38) afirma que, para os educadores “geralmente,

disciplina é entendida como a adequação do comportamento do aluno àquilo que o

professor deseja”. Por outro lado Estrela (2002) analisa que a disciplina nos dias de

hoje não movimenta apenas o organizar de regras e ordem, mas as sanções pelo

não cumprimento das mesmas. O que se percebe é que para cada indisciplina

realizada pelo aluno há sempre uma punição e isto apenas fortalece a falta de

conhecimentos teóricos sobre o tema, porque desta forma pode-se dizer que “o

conceito de indisciplina relaciona-se intimamente com o de disciplina e tende

normalmente a ser definido pela negação ou privação ou pela a desordem

proveniente da quebra das regras estabelecidas”. (ESTRELA, 2002, p. 17).

Já segundo Rego (1996, p.85) traz uma definição de sujeito disciplinado,

atribuído na nossa sociedade em especial no meio educacional:

É portanto, aquele que obedece, que cede, sem questionar, às regras e preceitos vigentes em determinada organização. [...] Já o indisciplinado é o que se rebela, que não acata e não se submete, nem tampouco se acomoda, e agindo assim, provoca rupturas e questionamentos.

Rego (1996) diz ainda que a indisciplina é manifestada por um indivíduo ou

um grupo, sendo um comportamento inadequado, que se traduz como falta de

educação ou de respeito pelas autoridades. Em sua análise, um aluno ou o grupo

indisciplinado teria dificuldade em aprender por não se ajustar às normas e padrões

de comportamento esperado. A disciplina, por outro lado seria um pré-requisito para

o bom aproveitamento na escola, pois apresenta obediência a um conjunto de

prescrições.

A autora Sônia França (1996) trata da questão, da indisciplina como matéria

do trabalho ético e político. Para ela, o ato indisciplinado é entendido como sem

relação com as leis e normas estabelecidas por uma comunidade, um gesto que não

cumpre o prometido, imprimindo assim, uma desordem naquilo que estava prescrito.

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A partir dessa análise, a autora trabalha com o tema em duas perspectivas.

Primeiro colocando em foco a indisciplina como matéria das instituições políticas e,

segundo tomando em considerações a indisciplina como matéria de trabalho ético.

No primeiro foco, sobre a indisciplina como matéria das instituições políticas,

a autora França (1996) acredita que se a indisciplina tornou-se um sintoma do

comportamento individual, um desvio, isso se deve a retirada do homem para o

mundo privado. O homem é reduzido a um modelo de conduta que abrange todas as

dimensões da existência, e a política passa a ocupar-se essencialmente com a

manutenção da vida.

O segundo corte feito pela autora considera a indisciplina como matéria de

trabalho ético. Segundo França (1996, p. 146) a relação consigo próprio não pode

ser pensada “como se este se constituísse como uma interioridade a ser decifrada,

mas como um trabalho que objetiva a produção de modos, de existência e a busca

de um domínio sobre si mesmo”. Domínio este que não se efetiva por meio de

regras já codificadas ou regras coercitivas, mas na constante invenção de si próprio

e de um estilo de vida.

França (1996, p.146) diz que a ética é um campo de relação consigo próprio

e que objetiva a criação ininterrupta de um si mesmo “o ato indisciplinado deve ser

considerado matéria do exercício ético”.

Vichessi (2009, p. 79) em uma reportagem sobre a indisciplina diz:

[...] que a indisciplina é a transgressão de dois tipos de regra. O primeiro suas morais, construídas socialmente com base em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. Por exemplo, não xingar e não bater. O segundo tipo são as chamadas convencionais, definidas por um grupo com objetivos específicos. Aqui entram as que tratam do uso do celular e da conversa em sala de aula, por exemplo. No caso da conversa em sala depende muito da ocasião, afinal o diálogo durante a aula pode não ser considerado indisciplina se ele se referir ao conteúdo que está sendo tratado no momento.

Segundo Vasconcellos (1994, p. 58) “para se alcançar a disciplina é

fundamental que se tenha um horizonte buscado juntos, objetivos comuns”. Ele nos

coloca que não ocorre dessa maneira na escola, e que o aluno se vê obrigado a

estar presente em uma sala de aula, muitas vezes sem saber o porquê e o para quê

daquilo. Já para o professor, é obvio o motivo do aluno estar na sala. Afirma ainda

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que só se alcança a disciplina através de um bom trabalho coletivo, onde o aluno se

sinta realizado pelo êxito escolar.

De acordo ainda com Vasconcellos (1994, p. 17) “buscamos a

conscientização da comunidade educativa em torno de um novo sentido da

disciplina”. Que a conscientização se dá através da dialética: que é ação-reflexão-

ação. Que a partir da realidade, podemos refletir sobre ela de forma a despertar a

vontade política, o compromisso de se construir algo diferente, buscando, junto o

que seria e colocando em prática; sentar em conjunto e refletir sobre a prática.

Vasconcellos (1994) nos relata que temos um desafio de construir uma

teoria que efetivamente possa ajudar a enfrentar o problema da disciplina, ou seja,

uma teoria que ajude a explicar a realidade, de como se manifesta e como podemos

compreender, o que está acontecendo hoje. Muitas vezes não sabemos que

disciplina queremos, ou mesmo o que fazer, para onde devemos dirigir nossos

esforço, pois a disciplina tem sido um ponto de abordagem do problema

educacional.

O autor, ainda nos coloca que o objetivo é conseguir o auto governo dos

sujeitos participantes do processo educativo, tendo condições para o trabalho

coletivo na escola, que tenha desenvolvimento da autonomia e da solidariedade, que

haja condições para uma aprendizagem significativa, crítica, criativa e duradoura,

através de uma disciplina consciente e interativa. Tendo como meta a participação, o

respeito, a responsabilidade, a construção de conhecimento e a formação do caráter

e da cidadania.

Rego (1996) traz algumas atribuições sobre a indisciplina escolar. Diz que é

comum se referir à indisciplina como reflexo da pobreza e da violência que está

presente em nossa sociedade, onde encontramos com freqüência nos meios de

comunicação, em especial a TV. E que a escola diante do aluno que vem de

ambiente econômico e cultural desfavorecido, se vê impotente a esse aluno.

A autora nos coloca a família como responsável pelo comportamento

indisciplinado do aluno. Que quando a criança tem os pais autoritários, que costuma

bater e dar severos castigos, a criança não consegue viver em ambientes

democráticos. E também pais que não consegue dar limites aos seus filhos, estes

são alguns caso onde a responsabilidade pelo comportamento do aluno na escola,

cai exclusivamente na família. E a escola se isenta do problema, já que é deslocado

para fora de seu domínio.

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Há aqueles que relacionam a indisciplina do aluno aos seus traços de

personalidade, e que consequentemente a escola não tem poder de interferência e

influência no comportamento individual.

Muitos pais, diretores e coordenadores quando analisam as possíveis

causas desses comportamentos nas escolas, acabam por atribuir a responsabilidade

ao professor. Onde coloca a origem da indisciplina à falta de autoridade do

professor. Colocando a indisciplina como sinônimo de ordem, submissão e respeito

à hierarquia, confundindo autoridade com autoritarismo.

Rego (1996, p. 100), coloca as idéias de Vygotsky a respeito de indisciplina:

Nos sugere que, caso a indisciplina esteja instaurada em determinada prática,suas causas, assim como as possíveis soluções para este fenômeno, devam ser buscadas também nos fatores intra- escolares. [...]. Em outras palavras, mais do que esperar transformação das famílias ou de lamentar os traços comportamentais de cada aluno apresenta ao ingressar na escola, é necessário que os educadores concebam estes antecedentes como ponto de partida e, principalmente, façam uma análise aprofundada e conseqüente dos fatores responsáveis pela ocorrência da indisciplina na sala de aula.

O texto: “A Indisciplina e o Processo Educativo” foi o primeiro texto discutido

no grupo de estudo no Colégio Estadual Marechal Castelo Branco, de Primeiro de

Maio, do qual participaram 18 pessoas da comunidade escolar. Foram realizados

cinco encontros, todos aos sábados.. Durante a discussão sobre a indisciplina

escolar, foram levantados alguns questionamentos, juntamente com o grupo, como:

“De que maneira você conceitua um aluno disciplinado e um indisciplinado?. As

respostas recebidas foram assim classificadas:

Disciplinado: - que respeita as regras;

- é participativo;- questiona o porquê das coisas;- interage com os colegas;- se insere nos parâmetros da escola;- busca um bom envolvimento com alunos, professores e demais funcionários;- faz todos os seus deveres, na sala e os de casa.

Indisciplinado:

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- não obedece às regras estabelecidas;- não se interessa pelas aulas- responde e agride os professores e os colegas;- apresenta um mal comportamento;- não tem limites; - falta de compromisso do aluno.

2- Quais os caminhos para trabalhar com a indisciplina escolar?

- Conhecimento histórico da vida do educando, mostrando a ele que há outros caminhos;

- buscar as causas da indisciplina escolar e as possíveis soluções junto com a família e a escola;

- dar aulas mais dinâmicas, mais participativas;- dialogar com os alunos.

Estas foram as colocações que os participantes do grupo de estudo

chegaram. O trabalho realizado neste encontro foi importante para que os

envolvidos pensassem sobre a indisciplina na escola, e refletissem sobre o papel do

professor no processo educativo. Também objetivamos encontrar caminhos para

trabalhar com a indisciplina escolar.

3 Indisciplina e Violência

No ambiente escolar as crianças aprendem a se relacionar umas com as

outras, adquirindo valores e crenças, desenvolvem auto–estima e segurança, mas a

violência interfere neste processo comprometendo a ação pedagógica e a

aprendizagem.

A violência é considerada uma forma de indisciplina, ambas são temas

abordados em diversos países. Diante disso precisamos desenvolver e elaborar

novas práticas pedagógicas, tendo em vista as circunstâncias e dilemas atuais com

os quais as escolas estão lidando em relação a violência e a indisciplina.

Guimarães (1996, p.77) nos coloca que “apesar dos mecanismos de

reprodução social e cultural, as escolas também produzem sua própria violência e

sua própria indisciplina”. Para a autora, a escola está organizada de forma que as

pessoas sejam todas iguais. Dessa forma, a homogeneização, exercida por meio de

mecanismos disciplinares que desconsideram, o modo como são partilhados os

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espaços, o tempo, as relações afetivas entre os alunos e gera uma relação que

explode na indisciplina incontrolável ou na violência banal.

Segundo Guimarães (1996, p.79) “quando o professor experimenta a

ambigüidade de seu lugar, ele consegue, juntamente com os alunos, administrar a

violência intrínseca ao seu papel”. Com isso, alunos e professores serão obrigados

a se ajustarem e a formularem regras comuns.

A escola está repleta de diversidade e deve repensar a maneira de abordar

a questão da indisciplina. No entanto, na tentativa de eliminar a violência e a

indisciplina, ou de colocá-las para fora do espaço escolar, acabamos perdendo a

compreensão da ambigüidade desse fenômeno e tentando restaurar a unicidade, o

que produz uma tensão permanente. Sendo assim, uma disciplina homogeneizadora

que sirva para toda a escola, feita para um conjunto de alunos está destinada ao

fracasso.

De acordo com Guimarães (1996, p. 81) que “é preciso construir práticas

organizacionais e pedagógicas que levem em conta as características das crianças

e jovens que hoje freqüentam as escolas”. A escola tem que ter significado para os

alunos e estar dentro dos gostos e das necessidades deles, do contrário a mesma

energia que leva ao envolvimento, ao interesse, pode transformar-se em apatia ou

explodir em indisciplina e violência.

A violência escolar se encontra em constante crescimento e que suas

conseqüências afetam tanto professores quanto alunos fazendo com que a

instituição escolar vá se deteriorando e distanciando de seus objetivos prioritários e

de sua função socializadora que é de educar e construir.

Estrela (2002, p. 135) nos coloca que:

O desrespeito pelas culturas dos grupos minoritários geraria uma “guerra de identidades” de que a violência seria a manifestação mais visível. Poderíamos acrescentar outros factores como o desemprego ou subemprego, o uso de drogas, o predomínio de valores como o individualismo e o consumismo. Sendo muitos jovens que freqüentam as nossas escolas oriundos de famílias muito vulneráveis a esses factores de risco, é natural que tragam para a escola não só os seus problemas sociofamiliares, mas também valores anti-escola e comportamentos agressivos aprendidos nos meios em que vivem, por vezes ligados a estratégias (errada) de sobrevivência.

A autora nos diz também que os alunos expressam os problemas familiares,

e que a estes fatores de ordem ambiental e familiar junta-se com a influência de

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fatores individual, como a hiperatividade ou até mesmo um pobre autoconceito. São

essas várias carências que levam as crianças e os jovens a buscarem um

reconhecimento, procurando nos grupos de pares e nas regras, rituais e valores que

os unem, a satisfazerem suas necessidades e aceitação que a escola não soube

satisfazer.

Quando a escola conhece a origem do aluno, seus familiares e passa para o

professor que trabalha com este aluno “indisciplinado,” sabendo um pouco sobre a

sua vida fora da escola pode-se fazer um trabalho diferenciado e conseguir

progressos. Mas quando há desinteresse por parte do professor o problema da

indisciplina na escola assevera-se.

O desafio da educação é ensinar a viver e cooperar com outras pessoas.

Aprender a viver no estabelecimento escolar é aprender a viver em sociedade, e a

experimentação é melhor forma de agir neste sentido. A aprendizagem por meio da

experimentação, do exercício da pratica dos valores sociais, do respeito, da

honestidade, da responsabilidade, enfim, dos valores pessoais de todos nós também

pode ser apontado como um dos caminhos para lidarmos com a indisciplina na

escola.

Arendt (1972, p. 247) diz que:

A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salva-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.

Deseja-se que a escola seja um espaço humanizado, democrático, onde se

cultive o diálogo e a afetividade, onde se pratique a observação e a garantia dos

direitos humanos. Na prática, o que se espera é que a escola assuma um papel

educativo e proporcione, através de uma visão sistêmica, a integração de todos os

agentes envolvidos no processo, bem como o acesso das novas gerações à herança

cultural acumulada, vista como instrumento para desenvolver competência, aguçar

sensibilidades e transformar o ser humano. Para que essa educação represente

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mudança deve-se cultivar, sobretudo entre os professores, uma postura de interesse

pelas metas, realizações e problemas dos estudantes.

No segundo encontro do grupo de estudo foi discutido o texto: “Indisciplina e

Violência”, e chegamos às seguintes conclusões:

A violência na escola está presente quase que diariamente, tanto verbal

como física, e que é preciso construir práticas organizacionais e pedagógicas que

levam em conta as características das crianças e jovens. Escola e família tem que

trabalhar lado a lado na formação dos jovens e das crianças. Sabemos que muitos

problemas provocados por crianças e por jovens, são reflexo da educação a que

eles são submetidos em seus lares, e que muitas vezes a escola tendo a família

como sua aliada, consegue ganhar a confiança e o respeito dos alunos, pois passa a

conhecer a sua realidade.

4 Bullying e a Indisciplina

Para começar nosso estudo veremos a definição de Bullying.

Silva (2010, p. 21) nos coloca que a palavra bullyingé pouco conhecida e

que é de origem inglesa, ainda não tem tradução no Brasil;

É utilizada para qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos quanto de meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as agressões, os assédios e as ações desrespeitosas, todos realizados de maneira recorrente e intencional por parte dos agressores. É fundamental explicitar que as atitudes tomadas por um ou mais agressores contra um ou alguns estudantes, geralmente, não apresentam motivação específicas ou justificáveis. Isso significa dizer que, de forma quase “natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas. E isso,invariavelmente, sempre produz, alimenta e até perpetua muita dor e sofrimento nos vitimado.

O bullying é um problema mundial e se encontra em todas as escolas. Os

autores são indivíduos que têm pouca empatia, possuem em sua personalidade

traços de desrespeito e maldade. Geralmente são indivíduos que pertencem a

famílias desestruturadas, onde não tem afetividade entre seus familiares, onde tudo

se resolve pela violência verbal ou física, como diz a tradução da palavra bully, são

indivíduos valentão, tirano, mandão, brigão.

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Já a vítima são os alunos que apresentam pouca habilidade de socialização,

ou seja, são crianças isoladas, retraídas, com baixa auto estima, inseguras, tímidas,

deprimidas, por essas características, é difícil a criança conseguir reagir as

provocações e agressões dirigidas contra elas.

Silva (2010, p. 21) ainda nos diz que:

a expressão bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e / ou psicológica, de caráter intencional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítima que se encontram impossibilitadas de se defender. Seja por uma questão circunstancial ou por uma desigualdade subjetiva de poder, por trás dessas ações sempre há um bully que domina a maioria dos alunos de uma turma e “proíbe” qualquer atitude solidária em relação ao agredido.

Apresentam abuso de poder, a intimidação e a prepotência, para imporem

sua autoridade e terem domínio sobre suas vítimas. Geralmente existem três tipos

de pessoas envolvidas nesta situação de bullying: o agressor, a vítima e os

espectadores.

Os espectadores são aqueles que assistem as ações dos agressores contra

as vítimas, mas não realizam nenhuma atitude de defesa ao agredido, mas também

não se juntam aos agressores. Os espectadores podem ser divididos em três

grupos:

Espectadores passivos, são aqueles que têm medo de se tornarem a

próxima vítima. Muitas vezes recebem ameaças para que fiquem calados. Eles não

concordam com que acontece, mas não reagem, uma vez que suas estruturas

psicológicas são frágeis.

Os espectadores ativos, são aqueles que muitas vezes tramam tudo, mas

não realizam, ficam observando e se divertindo ao verem os acontecimentos dão

apoio moral, incentivam os agressores.

Os espectadores neutros, são aqueles que não demonstram sensibilidade

pelas situações de bullying que presenciam, são alunos vindo de lares

desestruturados ou de comunidade em que a violência faz parte.

Silva (2010, p. 46) nos coloca que:

Seja lá como for, os espectadores, em sua grande maioria, se omitem em face dos ataques de bullying. Vale a pena salientar que a omissão, nesses casos, também se configura em um ação moral e /

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ou criminosa, tal qual a omissão de socorro diante de uma vítima de um acidente de trânsito. A omissão só faz alimentar a impunidade e contribuir para o crescimento da violência por parte de quem a pratica, ajudando a fechar a ciranda perversa dos atos de bullying.

O bullying é um fenômeno tão antigo quanto a própria escola. Mas só

passou a ser objeto de estudo científico no início dos anos 70. Na Suécia a

sociedade começou a demonstrar preocupação com a violência que estava

ocorrendo no âmbito escolar. Em pouco tempo, a onda de interesse contagiou todos

os outros países.

Hoje o bullying ocorre em todas as escolas, independente de tradição, de

localização ou de poder aquisitivo dos alunos. O bullying é um tema da atualidade

bastante presente, no cotidiano escolar das crianças e jovens.

De acordo com Estrela (2002, p. 135):

O bullying ou mau trato entre iguais e a forma de violência que mais se pratica nas escolas e aquela que tem merecido maior atenção dos investigadores que estudam a violência em meio escolar [...] só há bullying quando existe uma intenção deliberada de magoar outrem mais fraco e sem condições de defesa, se insiste nesse comportamento e se tira dele prazer.

Estrela (2002) também nos diz que o bullying tem o recreio como seu local

de privilegio, onde ocorrem os abusos verbais, seguidos de agressões físicas e que

nestes casos se deve pensar em algumas estratégias para serem realizadas durante

o recreio.

A melhor maneira de se eliminar o bullying é promover o diálogo aberto,

transparente e honesto sobre questões que oprimem jovens e crianças.

O bullying é o uso do poder ou da força para intimidar ou perseguir os

outros. E as vítimas são pessoas que sem defesa são incapazes de motivar outras

para agirem em sua defesa. Portanto o bullying é, antes de tudo, uma forma de

violência e deve ser identificado, reconhecido e tratado como um problema social. E

a escola juntamente coma família e com todos os setores da sociedade devem lutar

pela redução da violência em nosso dia a dia.

No terceiro encontro do grupo de estudo, muito se discutiu sobre o “Bullying

e a Indisciplina”, principalmente que tipo de danos pode causar o bullying e o que

fazer para combater o bullying nas escolas, e concluímos que:

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O bullying pode causar problemas psicológicos e físicos que levam, muitas

vezes, a atitudes depressivas, agressivas ou atitudes marcantes que o isolam do

grupo, sabemos também que pode levar até ao suicídio. Muitas crianças

abandonam a escola sem justificativa para os pais, pois as vitimas do bullying

sentem-se envergonhadas de estar falando o que acontece. São pessoas que

apresentam medo de tudo e ficam excluídas da sociedade.

Para o combate o bullying precisamos promover palestras de

esclarecimentos sobre o assunto; psicólogos que atendam aos casos já existentes

nas escolas e uma fiscalização e conscientização de todos: educadores e familiares.

Nós enquanto educadores devemos desenvolver um olhar mais atento para

nossos alunos, observando as atitudes que possam exprimir um comportamento

defensivo em relação às dificuldades psicológicas vividas no dia a dia. Tanto os

adolescentes que apresentam atitudes agressivas, quanto os que apresentam

comportamentos submissos, apresentam problemas disfuncionais, que podem gerar

sofrimentos para eles ou para seus entes.

Como Silva (2010, p. 69) nos coloca algumas ferramentas a ser utilizadas

para intervir:

O estímulo ao diálogo, a escuta atenta e empática, a construção de vínculos

afetivos fortes, o desenvolvimento de uma reflexão crítica, o incentivo à participação

familiar e escolar, a orientação para a responsabilização por si mesmos e pelos

outros, a criação e a implementação de regras e o estabelecimento precoce (desde

os primeiros anos de vida) de limites muito bem definidos. (SILVA, 2010, p.69).

Para combater o bullying nas escolas é necessário a cooperação de todos:

professores, funcionários, pais e principalmente os alunos. E a maior defesa contra

o bullying e ter auto-estima elevada, e sempre ter alguém para compartilhar seus

problemas.

5 Escritores da Liberdade

Escritores da Liberdade, é um filme com duração de 1:22 minutos, direção

de Richard LaGravanese, estrelado pela atriz Hillary Swank, baseado em história

real. A história se passa no ano de 1992, na cidade de Los Angeles. Sua Trama gira

em torno da necessidade de criarmos vínculos reais em sala de aula, conhecendo

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nossos alunos e suas histórias de vida, entendendo o que os levam a ser as

pessoas que são.

Erin (Hillary Swank), cansada do trabalho que fazia em uma empresa, a

jovem resolve mudar de ares e dedicar-se à educação.

Entra em uma escola para lecionar Língua Inglesa e Literatura para uma

turma de adolescentes considerados “turbulentos”, inclusive envolvidos em gangues.

São alunos problemáticos de uma escola que não está nem um pouco disposta a

investir naqueles alunos.

São alunos criados no meio de tiroteios e agressividades, que vão a escola

apenas para cumprir com a obrigação. O grupo de alunos é formado por jovens de

diferentes origens étnicas, apresentam resistência à interação preferindo isolar-se.

Relato do filme Escritores da Liberdade tirado no dia 05/07/2010 do site:

http://www.planetaeducaçao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=991

A nova professora é vista por todos como representante do domínio dos brancos nos Estado Unidos. Os estudantes a entendem como responsável por fazer com que eles se sujeitem à dominação dos valores dos brancos perpetrados nas escolas. Suas iniciativas para conseguir quebrar essas barreiras do relacionamentos dentro da sala de aula vão, uma a uma, resultando em frustrações.Apesar de aos poucos demonstrar desânimo em relação às chances de êxito no trabalho com aquele grupo. Erin não desiste de sua empreitada. Mesmo não contando com o apoio da direção da escola e dos demais professores ela acredita que há possibilidade reais de superar as mazelas sociais e étnicas ali existentes. Para isso, cria um projeto de leitura e escrita, iniciando com o livro O Diário de Anne Frank, em que os alunos poderão registrar em cadernos personalizados o que quiserem sobre suas vidas, relações, interações, idéias de mundo, leituras.Ao criar um elo de contato com o mundo, Erin fornece aos alunos um elemento real de comunicação que lhes permite se libertar de seus medos, anseios, aflições e inseguranças. Partindo do exemplo de Anne Frank, menina judia alemã, branca como a professora, que sofreu perseguições por parte dos nazistas até perder a vida durante a 2ª Guerra Mundial, Erin consegue mostrar aos alunos que os impedimentos da cor da pele, da origem étnica, da religião, do saldo bancário. “Escritores da Liberdade” é uma fabulosa história de vida que nos mostra como as palavras podem emancipar as pessoas e de que forma a educação, a cultura e o conhecimento são as bases para que um mundo melhor realmente aconteça e se efetive.

Escritores da Liberdade é um filme que trata da realidade no contexto

escolar, onde aborda os problemas sociais, o que acontece com muitos alunos que

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vão a escola mas não sabem o que estão fazendo ali. E apresenta uma professora

persistente que supera todos os obstáculos, sem ser ditadora e resgatando a

valorização a Educação.

Este filme “Escritores da Liberdade” foi trabalhado no grupo de estudo e

discutido muito sobre o processo ensino- aprendizagem. Que um ponto de partida

para uma turma que apresenta dificuldade em relacionamento precisa conhecer a

realidade de cada um e passar a descobrir o que eles precisam e através dessa

investigação conhecer os atributos que os alunos já possuem e identificar

potencialidades dos mesmos para utilizá-los na estruturação do processo ensino

aprendizagem.

Portanto se dedicarmos um pouco de nosso tempo para entender, saber,

conhecer um pouco da vida de nossos alunos e com algumas estratégias de ação

poderemos fazer a diferença na vida de nossos alunos.

6 Um Trabalho com Professor e Aluno

Foi realizado no Colégio Estadual Marechal Castelo Branco-Ensino

fundamental, Médio e Normal, da cidade de Primeiro de Maio, Paraná, um

questionário onde 21 professores e 27 alunos de 5ª série que responderam a

respeito da indisciplina escolar.

Para os Professores:

1-Qual ou quais dos itens abaixo você considera importantes para combater a

indisciplina na escola:

a)Que o professor inicie suas aulas comentando uma mensagem de paz;

b) Aulas estimulantes e interativas;

c) Bom relacionamento entre professor e alunos.

a) 23% b) 80% c) 100%

2-São fatores que influenciam na indisciplina:

a) Maior número de alunos do sexo masculino;

b)Excesso de alunos por sala;

c)Sala onde encontra maior número de alunos repetentes;

d)Alunos com idade avançada junto com os menores.

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a) 23% b) 100% c) 71% d) 80%

3- Como podemos lidar com alunos rebeldes:

a)Diferenciar as aulas, evitando rotinas,

b)Não rotular o alunos;

c)Conversar com os que atrapalham as aulas, ouvindo suas razões;

d)Relacionar os conteúdos com os fatos da atualidade que interessa ao aluno.

a) 42% b)52% c) 61% d)71%

Foi questionado:

1- O que é indisciplina?

- Falta de cumprir regras;- Falta de limites;- Conflitos entre professores e alunos;- Não copiar, ficar com brincadeiras;- Comportamento inadequado;- Não respeitar amigos e professores; - Bagunças;- Quebra do patrimônio público.

2-O que causa a indisciplina?

- Falta de interesse do aluno;- Falta de compromisso do aluno;- Não aceita ordem;- Desrespeito;- Falta de organização;- Aulas má preparadas;- Deficti de aprendizagem;- Desestrutura;- Falta de punição;- Falta de acompanhamento dos pais.

3-Você acha que a indisciplina pode ser trabalhada, minimizada ou até extinta da

escola? como?

- Pode ser trabalhada e minimizada, através de conscientização dos alunos, diálogo, palestras, passeios e aulas atrativas.

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4- Quais as medidas que você acha que devem ser tomadas dentro de uma sala de

aula, com alunos que apresentam comportamentos indisciplinado?

- Através de muito diálogo com alunos e pais para que se faça cumprir o regulamento da escola;

- Motivar o aluno, incentivando, elogiando e tratá-lo igual aos outros, dando funções e atribuições;

- Procurar a causa da indisciplina e através da qual buscar junto a equipe pedagógica, direção e professor uma solução;

- Conhecer o histórico familiar do aluno.

5- Quais os casos de indisciplina que mais atrapalham suas aulas?

- Alunos violentos (brigas constantes);- Gritos, uso de palavrões;-Agressões ao professor e ao colega;- Falta de respeito e limites; -Falar com o aluno e ele fazer de conta que não é com ele;- Alunos que não realizam suas atividades, ficam com brincadeiras, ligam o celular para ouvir músicas.

Estas foram as respostas que os professores deram através de um

questionário sobre a indisciplina escolar de sua escola.

Para os alunos foi aplicado o seguinte questionário:

1-Quais itens abaixo atrapalham sua aprendizagem:

a)Conversas paralelas;

b)Brincadeiras em sala de aula;

c)Agressividade dos alunos entre si e com os professores;

d)Deixar de fazer tarefas e as atividades propostas.

a) 92% b) 74% c) 37% d) 18%

2- Na sua opinião quem são os responsáveis pela existência da indisciplina na

escola:

a)Família;

b)Alunos;

c)Professores

d)Sociedade

a) 3% b) 96% c) 0 d)3%

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3- Em qual aula você sente que a indisciplina mais atrapalha sua aprendizagem:

a)Português – 7% f) Inglês – 66%

b)Geografia- 44% g) Matemática – 44%

c)Ciências – 7% h) História - 0

d) Artes – 7% i) Educação Física – 3%

e) Ensino Religioso – 3% j) nenhuma – 7%

4- Como a indisciplina apresenta em sua sala de aula:

a)Brigas e xingamentos;

b) Desrespeito ao professor;

c) Bagunça;

d)Desobediência

a) 100% b) 77% c) 100% d) 92%

5- O que causa a indisciplina na escola:

a) Falta de educação;

b) Os pais não ensinam;

c) Desrespeito;

d) As brigas;

e) Outros.

a) 74% b) 14% c) 77% d) 62% e) 18%

Foi questionados os alunos com as seguintes perguntas:

1- O que você entende por indisciplina?

- Falta de atenção;- Não respeitar as regras de escola;- Não respeitar os professores e colegas;- Brigas;- Falta de educação;- Xingar.

2- Na sua classe tem indisciplina? Como?

- Muita indisciplina.

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- Material de professor sendo jogado;- Professor sendo xingado;- Desrespeito com o professor e colegas;- Brigas;- Bagunças;- Muita conversa;- Falta de educação.

3- Como é a escola que você deseja

- Que todos tenham educação;- Com muita paz e amor;- Escola com mais pais presentes;- Respeito;- Sabedoria e zelo;- Responsabilidade;- Mais pessoas para cuidar dos alunos;- Ter armário para os alunos;- Te rum computador para cada aluno;- Aula de natação;- Ter mais lazer;- Ter mais diálogo entre professor e aluno.

4- Qual a sua sugestão para melhorara indisciplina e o comportamento dos alunos

na escola?

- Conversar com os pais dos alunos indisciplinados;- Suspensão dos alunos;- Professores dialogar mais;- Expulsão dos alunos indisciplinados;- Ignorar os bagunceiros;- Escola mais severa;- Diálogo entre professor e aluno;- Professor ter mais paciência.

5- Você acha que estudar é importante? Porque?

- Sim estudar é muito importante, pois a escola é o ponto de entrada para o futuro;

- Aprender mais e estudar para arrumar um bom serviço e ser independente;

- Preparar para ser alguém na vida e para o mercado de trabalho;- Para aprender e ser inteligente para poder ser alguém no futuro.

Estes questionários foram trabalhados na escola antes de começar o grupo

de estudos. Professores e alunos responderam e no grupo de estudo foram feitas

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análises destes questionários, para saber quais os anseios dos professores quanto a

indisciplina escolar e saber como os alunos vêem a indisciplina na sua escola e na

sua sala de aula.

Vimos que é grande o desafio que os educadores tem encontrado em

relação `a indisciplina na sala de aula e na escola. O professor precisa ter muito

diálogo, mostrando ao educando seus limites e o que a escola e a sociedade espera

dele.

É necessário também que o professor desenvolva e conquiste maior

autonomia para lidar com a indisciplina, conhecendo melhor seus alunos, através de

uma parceria com a equipe pedagógica da escola. Pois notamos que os alunos

sugerem como forma de enfrentamento às questões de indisciplina, o diálogo como

alternativa apropriada.

Sabemos que a indisciplina na escola é um fenômeno tão antigo e inevitável

como a própria escola. Mas temos que acreditar na possibilidade de mudanças, pois

o professor é um dos principais agentes de mudanças da indisciplina escolar.

Como diz Vasconcellos (1994, p. 70): “O professor precisa conquistar a

confiança e o respeito da turma para se tornar o seu legítimo organizador.” Somente

assim ele conseguirá realizar um bom trabalho com aquela turma.

Vasconcellos (1994, p. 68) ainda nos relata que: “A verdadeira relação

educativa não se faz sem um vínculo de confiança recíproco: o educando confiando

na competência do professor e o professor confiando na capacidade de aprender do

educando.”

7 Considerações Finais

Este artigo teve como objetivo compreender o fenômeno da indisciplina no

espaço escolar a partir das relações de poder que são estabelecidas na sociedade

como um todo, promovendo uma mudança de olhar em relação à indisciplina.

O tema indisciplina foi escolhido devido a realidade que marca as nossas

escolas atualmente, isto é, a violência, o bullying, a falta de respeito pelos outros, a

não obediência às regras e a falta de limites de nossos alunos.

Acredita-se que podemos minimizar a indisciplina através de diálogo para a

superação dos problemas. O professor deve tratar o seu aluno como ser humano,

acreditando nele, compreendendo as causas de seu comportamento, procurando

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junto com a família o porquê daquela atitude, oferecendo a criança e ao adolescente

condições de expor suas dificuldades e demonstrar seus interesses.

Como Vasconcellos (1994, p. 91) nos diz que:” O educador deve revelar seu

interesse, sua preocupação; a criança, o jovem pode não se abrir num primeiro

momento, mas Já é importante saber que tem alguém preocupado com ele.”

Sabemos que é difícil e complexo lidar com o problema da indisciplina

escolar, mas o professor não pode desistir e nem se acomodar, tem que criar, junto

com seus alunos, um ambiente cooperativo e fazer com que ambos compreendam a

sua importância recuperando-se assim a auto-estima nos alunos.“...Ninguém educa

ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam em comunhão,

mediados pela realidade.” (FREYRE,apud VASCONCELLOS, 1994, p. 71).

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Disponivelem:<http://www.planetaeducaçao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=991> Acesso em: 5 jul. 2010.