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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA

O DESPERTAR PARA O TEXTO LITERÁRIO POR INFLUÊNCIA D AS

ADAPTAÇÕES PARA O CINEMA E A TELEVISÃO, VISANDO APR IMORAR O

PENSAMENTO CRÍTICO E A SENSIBILIDAE ESTÉTICA DO EDU CANDO.

CURITIBA 2010

MARIA LÚCIA FURTADO

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O DESPERTAR PARA O TEXTO LITERÁRIO POR INFLUÊNCIA D AS

ADAPTAÇÕES PARA O CINEMA E A TELEVISÃO, VISANDO APR IMORAR O

PENSAMENTO CRÍTICO E A SENSIBILIDAE ESTÉTICA DO EDU CANDO.

2010

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SUMÁRIO UNIDADE DIDÁTICA .................................................................................................... 3

1 IDENTIFICAÇÃO ........................................................................................................ 3

2 TEMA DE ESTUDO ..................................................................................................... 3

3 TÍTULO ......................................................................................................................... 3

4 JUSTIFICATIVA – O porquê de aliar o cinema à literatura ........................................ 3

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................. 10

6 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ........................................................................................ 15

6.1 ROTEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS AULAS COM FILMES RELACIONADOS ÀS OBRAS LITERÁRIAS. ....................................................... 15

6.2 CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DOS GRUPOS: ...................................... 17

7 REFERÊNCIAS: ......................................................................................................... 19

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UNIDADE DIDÁTICA

1 IDENTIFICAÇÃO

1.1 Professor PDE: Maria Lúcia Furtado.

1.2 Área PDE: Língua Portuguesa/Literatura.

1.3 NRE: Área Metropolitana Norte.

1.4 Professor Orientador IES: Prof. Dr. Moacir Dalla Palma.

1.5 IES Vinculada: FAFIPAR -Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de

Paranaguá.

1.6 Escola de Implementação: CEEBJA Ulysses Guimarães.

1.7 Público Objeto da intervenção: Alunos do Ensino Médio Regular e da EJA.

2 TEMA DE ESTUDO A relação dialógica da Literatura com outras áreas de uso da linguagem, especificamente

cinema e televisão.

3 TÍTULO O despertar para o texto literário por influência das adaptações para o cinema e a televisão,

visando aprimorar o pensamento crítico e a sensibilidade estética do educando.

4 JUSTIFICATIVA – O porquê de aliar o cinema à literatura

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná - DCEs, assumem a

concepção de linguagem interacionista a partir das reflexões do Círculo de Bakhtin, pois para

Bakhtin o enunciado é dialógico, constitui-se a partir de outro enunciado e este é o emissário

de duas ou mais vozes estabelecidas numa relação de heterogeneidade. As unidades da língua

são neutras, os enunciados é que são carregados de emoções, juízos de valor, paixões, etc.

Para o teórico, os conceitos de individual e social não são simples nem estanques, a maioria

absoluta das opiniões dos indivíduos é social, porém, cada ser humano é social e individual.

Cada sujeito desenvolve a sua singularidade na interação viva das variadas vozes sociais.

Todo enunciado se dirige a um destinatário imediato, mas também a um superdestinatário,

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cuja identidade varia de grupo social para grupo social, de uma época para outra época, de um

lugar para outro. Os enunciados são os espaços da contradição, das lutas entre as vozes

sociais, visto que a sociedade é dividida em grupos sociais, com interesses divergentes. Essas

teorias trabalham para a formação de um leitor capaz de reconhecer seu envolvimento

subjetivo com a obra lida e na interação obra/autor/leitor, que a partir de suas experiências

vividas, amplie seu universo cultural.

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná propõem também, que o ensino de

Literatura seja pensado a partir dos pressupostos teóricos da Estética da Recepção, de Hans

Robert Jauss e a Teoria do Efeito Estético, de Wolfgang Iser.

A teoria da recepção é um dos ramos da moderna teoria literária que valorizam a

figura do leitor, por isso a leitura desses textos pressupõe o desvendamento do texto literário e

a compreensão da literatura e sua história.

Muitos autores discorrem sobre a literatura a partir do enfoque recepcional tendo em

comum o foco a partir do qual estudam a literatura, que é o de sua recepção, ou seja, os

efeitos que os textos desencadeiam no leitor, porém, cada estudioso tem suas particularidades

sobre o que enfocar da recepção. Temos assim, várias vertentes da Teoria da Recepção.

Segundo Mirian H. Y. Zappone e Vera H. G. Wielewicki (2009) o representante mais

importante das teorias orientadas para o aspecto recepcional é Hans Robert Jauss, com A

história da literatura como desafio à teoria literária, de 1967, e que o alemão Wolfganf Iser,

com a obra O ato da leitura: uma teoria do efeito estético, de 1976, é outro representante da

teoria da recepção em uma vertente desenvolvida em domínios americanos. Segundo elas,

Jauss pensa no efeito que o caráter artístico da obra gera em seus leitores, sua relação como

processo de construção da experiência de vida do leitor, e no aspecto histórico da literatura,

como essas obras foram lidas e avaliadas por seus diferentes públicos ao longo da história.

Para as autoras: “o texto só ganha existência no momento da leitura e os ‘resultados’

ou ‘efeitos’ dessa leitura são fundamentais para que se pense seu sentido” (ZAPPONE e

WIELEWICKI, 2009, p.191).

Vale ressaltar o entendimento que se teve sobre o que é Literatura ao longo dos

tempos. De acordo com Mirian H. Y. Zappone e Vera H. G. Wielewicki (2009) para Aguiar e

Silva o termo literatura vai incorporando o sentido de fenômeno estético de produção artística

a partir das últimas três décadas do século XVIII, quando foram registradas as primeiras

mudanças do uso do termo, que passou de conhecimento, saber, erudição para uma ideia

relacionada ao gosto, à beleza ou à sensibilidade. Depois disso, busca-se definir literatura

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como dado objetivo, concreto, observável, como conjunto de textos portadores de

características estruturais ou muito peculiares que corresponderiam à sua literariedade. Essa

concepção disseminou-se nos estudos literários nas primeiras décadas do século XX, através

do Formalismo Russo, do New Criticism e da Estilística. Segundo as autoras, a proposta

formalista se assemelha ao New Criticism e à Estilística porque partem da ideia de que os

textos literários possuem traços de linguagem próprios, com ênfase na função poética. Além

de propriedades textuais que integram a linguagem numa organização especial de palavras e

estruturas de relações específicas entre si, o que potencializa o sentido dos textos. Ou ainda, a

semelhança de essência estética que os irmana, distinguindo os textos não literários como de

caráter referencial e os literários como de caráter ficcional. Tais correntes ficaram conhecidas

como textualistas, em razão de estudarem a literatura a partir dessas características textuais

específicas.

Na década de 60 do século XX, começam a surgir reações a esse ponto de vista,

deslocando o ponto de discussão do que é literatura da esfera do texto e suas peculiaridades,

para a esfera do leitor, focando a existência e o significado de um texto, somente a partir do

ato de leitura de seus leitores e à interpretação dada por eles. De acordo com Zappone e

Wielewicki 2009, p.23), na França, Escarpit, em Sociologia da literatura e Histoire des

Littératures: littératures françaises, connexes et marginales demonstra a preocupação com o

leitor e propõe o que chama de abordagem sociológica da literatura, definindo o caráter

literário por meio da recepção, das relações estabelecidas entre autor/texto e o seu público

leitor. Mais contemporaneamente, segundo Zappone e Wielewicki (2009, p.23), Chartier

também propõe uma abordagem da literatura que leva em conta a figura do leitor. Ele diz que:

“Uma história da literatura é então uma história das diferentes modalidades de apropriação

dos textos, cujos dispositivos e regras possibilitam e restringem a produção do sentido.” No

Brasil, Antonio Candido representa uma abordagem semelhante, na qual o literário aparece

associado aos leitores. Em O escritor e o público, de 1955, ele diz que: “A obra não é produto

fixo, unívoco ante qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando

uniformemente o seu efeito.” (CANDIDO, In: ZAPPONE; WIELEWICKI, 2009, p. 24). As

autoras demonstram que essas mesmas ideias reaparecem no texto Iniciação à literatura

brasileira, de 1997. Baseadas num pressuposto sociológico, afirmam que, para Candido, a

literatura tem caráter coletivo, pois estabelece um tipo de relação com a sociedade onde surge.

O conhecimento da relação dinâmica desses elementos, autor-obra-público, no tempo, podem

ajudar na compreensão da construção e constituição da literatura enquanto expressão de uma

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sociedade: “A verdade nada mais é do que uma construção do discurso, mudando de acordo

com variações culturais e ideológicas, em diversos momentos da história. Discurso,

conhecimento e poder estão entrelaçados.” (FOUCAULT, In: ZAPPONE E WIELEWICKI,

2009, p. 26).

Ainda de acordo com as autoras, o texto literário é plurissignificativo, possibilita

várias leituras, recorrendo a elementos dentro e fora do texto para comprovar seu ponto de

vista. É forte a relação entre a literatura e as outras artes, como a pintura, o cinema, a televisão

e a música. A linguagem literária traduzida em outras linguagens, aguça o senso crítico e a

criatividade de leitores, espectadores e ouvintes. O público, em contato com tão variadas

leituras, constrói seus próprios significados, na tradução de uma linguagem para outra.

Todas essas leituras possíveis na contemporaneidade trazem em si a inovação do

suporte, como filmes adaptados da literatura, assim como as novelas e minisséries de

televisão. Nesse sentido, se o texto literário é capaz de ampliar e romper conhecimentos de

mundo de seus leitores, transformando-os pelo diálogo que estes têm com a obra, pelo seu

saber prévio e pela influência do contexto social, o mesmo efeito pode ser causado quando a

literatura é relacionada a outros meios (ou suportes), como o cinema e a televisão. Vamos

trabalhar com algumas obras literárias brasileiras e suas adaptações para o cinema.

A primeira obra a ser estudada será O Auto da compadecida, de Ariano Suassuna. É

uma peça clássica do teatro brasileiro, escrita em 1955, teve sua primeira representação para o

teatro em 1957. A primeira versão para o cinema ocorreu em 1960, com o título de A

compadecida e foi estrelada por Regina Duarte e Antonio Fagundes. Em 1985 houve uma

nova versão para o cinema, desta vez com Os Trapalhões. Depois, em 1998, virou minissérie

de televisão exibida pela Rede Globo e desta, em 1999, novamente adaptada para o cinema

por Guel Arraes, o mesmo diretor da minissérie feita para a televisão.

Conforme Sâmara Rodrigues de Ataíde, o auto é uma modalidade do teatro medieval,

cujo assunto é basicamente religioso. Suassuna compôs uma síntese do modelo medieval,

mais precisamente do Quinhentismo, com um modelo regional, o Cordel. Ele fez a junção de

três livros de cordel, de autoria anônima: O enterro do cachorro, O cavalo que defecava

dinheiro e O Castigo da Soberba.

A autora aponta essa obra como uma reflexão sobre as relações entre Deus e os

homens: um milagre de Nossa Senhora, como os medievais, apresentado sob a forma de uma

pantomima de circo. O autor mostra um povo religioso, de pé no chão, acuado pela seca e em

constante luta contra a fome e a miséria. Traça o perfil dos sertanejos, subjugados por famílias

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de poderosos coronéis que possuem terras e almas por vastas áreas. João Grilo é a figura que

representa os pobres oprimidos, é o homem do povo, o típico nordestino amarelo que tenta

viver no sertão utilizando a astúcia para sobreviver.

A oposição bem versus mal, tipicamente cristã, dividindo o mundo em céu e inferno, é

característica da peça. O julgamento é moral, portanto condenam-se os vícios e as vaidades e

glorifica-se a modéstia e a humildade. É também uma crítica severa, aos maus costumes dos

representantes da Igreja, que abusam de seu poder, contribuindo para a corrupção da

instituição, uma vez que favorecem os ricos e têm hábitos condenáveis moralmente. O diálogo

antagônico entre morte e vida introduz a dimensão da imortalidade pela ressurreição do

personagem João Grilo.

No filme, o diretor Guel Arraes, criou a personagem da Rosinha, um tanto relacionada

aos contos de fadas. Apesar disso o filme é muito fiel à história. Os personagens são

estereótipos que fazem rir de maneira crítica. Há uma dosagem de drama e comédia em que

tudo ressoa bem atual. João Grilo usa a linguagem para amarrar os elementos temáticos.

A segunda adaptação estudada será Lisbela e o prisioneiro, filme adaptado da peça de

Osman Lins. Autor de gêneros os mais variados, como conto, romance, poesia, novela e

artigos, esta foi a sua primeira peça teatral. Para Helder Moraes Miranda, ao contar a história

de amor entre Lisbela, a mocinha da trama, apaixonada por cinema e do prisioneiro Leléu, o

autor pernambucano descreve com autenticidade a cultura popular do Nordeste. Recria

diálogos usando a linguagem nordestina com comicidade e um misto de doçura, abusa de

situações hilárias, expressões e ditados populares. Por intermédio da literatura, o autor faz um

resgate da cultura popular.

O filme Lisbela e o prisioneiro de 2003, também do diretor Guel Arraes, é uma

comédia que retrata costumes da região nordestina, com texto marcado pelo humor e a ironia.

A obra também foi levada com sucesso ao teatro e adaptada como especial para a televisão.

A terceira obra a ser utilizada será O Coronel e o Lobisomem, romance publicado em

1964, de autoria de José Candido de Carvalho, escritor e jornalista, nascido em Campos, no

Rio de Janeiro. Segundo Daniel Schneider e Tiago Minani, no site “educar para crescer” essa

obra é de um humor cheio de viço, onde o narrador, em primeira pessoa, conta com fluência e

inusitadas descrições a sua história. Dizem ainda que, o grande mérito da obra se deve às

construções lingüísticas que o escritor, calculadamente, empregou. Fazendo uso de ótimas

inserções do folclore brasileiro na trama, além de termos e expressões regionais em perfeita

harmonia com a narrativa. Para o s autores o romance tem proximidade com Grande Sertão:

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Veredas, de Guimarães Rosa, pois em ambas as obras há um esforço de conciliação entre a

linguagem do narrador e o universo que ele descreve.

O filme O Coronel e o Lobisomem, de 2005, dirigido por Mauricio Farias, fecha a

trilogia de comédias iniciada por Guel Arrais com: O auto da Compadecida e Lisbela e o

Prisioneiro. Com locações em Minas Gerais e Fernando de Noronha, é baseado no romance

homônimo de José Cândido de Carvalho.

A quarta adaptação selecionada é Quanto Vale ou é por Quilo? Filme de 2005,

dirigido por Sérgio Bianchi, é uma livre adaptação do conto de Machado de Assis, “Pai contra

Mãe”, publicado em 1906, no livro Relíquias da Casa Velha. Conforme explica Tatiana Sena

no site, esta é uma obra de características Realistas, da fase madura do autor. É ambientada no

Rio de Janeiro do século XIX, antes da abolição da escravatura a qual serve de pano de fundo

para a narrativa, que tem como aspectos principais as questões sócio-econômicas das

personagens, sua miséria, dependência e escassez. O pensamento predominante é

maquiavélico e capitalista, pois transforma os escravos em mercadorias. Segundo Tatiana

Sena, ao atualizar o roteiro Machadiano, Sérgio Bianchi costura dois planos temporais,

mostrando o quanto dos séculos XVIII e XIX persiste e ressignifica-se no século XXI do

tempo brasileiro.

O quinto filme selecionado para estudo será Dom, de 2003, dirigido por Moacyr Góes,

é uma adaptação livre e atual do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis, publicado em

1900.

Para Marisa Lajolo, conforme site “mundo vestibular” professor Teotônio Marques

Filho, este é um dos romances mais conhecidos do escritor. Narra em primeira pessoa a

história de Bentinho que, por circunstâncias várias, vai se fechando em si mesmo e passa a ser

conhecido como Dom Casmurro. A questão crucial da história são os ciúmes de Bentinho em

relação à esposa Capitu. Por ocasião da morte de Ezequiel, grande amigo do casal e da família

toda, esse ciúme chega ao ápice, pois Bentinho julga estranha a forma como Capitu contempla

o cadáver do amigo e precipita-se a crise que separa o casal para sempre. Essa obra gerou uma

das discussões mais interessantes da literatura brasileira. Afinal Capitu traiu ou não traiu o

marido?

No filme de Moacyr Góes, Bento, personagem vivido por Marcos Palmeira, foi

batizado com esse nome, em homenagem ao personagem da ficção, pois seus pais eram

admiradores da obra de Machado de Assis. Por inexplicáveis circunstâncias o personagem do

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filme desenvolve um ciúme tão absurdo e avassalador quanto o do livro a ponto de, também,

doloridamente, destruir seu belo casamento.

Há também uma adaptação para o cinema da obra Dom Casmurro, de 1968, Capitu,

com roteiro, direção e produção de Paulo César Saraceni.

Outra obra interessante é Memórias Póstumas de Brás Cubas, filme de 2001, dirigido

por André Klotzel. Adaptação fiel da obra homônima de Machado de Assis, (site livros para

todos) traz como pano de fundo a paisagem do Rio antigo e conta a história de Brás Cubas,

que após morrer, decide aproveitar a eternidade para escrever suas memórias, tonando-se

assim, um defunto autor. Brás Cubas narra com detalhes e ironia sua vida do nascimento até a

morte, traçando um panorama da sociedade da época e um perfil do ser humano em geral. O

filme termina com a mesma pérola com que Machado de Assis encerra o romance Memórias

Póstumas de Brás Cubas, o que demonstra o pessimismo e sua descrença nos homens e na

sociedade: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

O filme ganhou cinco Kikitos de ouro, no festival de Gramado, nas seguintes

categorias: melhor filme pelo júri, melhor filme pela crítica, melhor direção, melhor roteiro e

melhor atriz coadjuvante.

Com essa obra, Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicada em 1881, Machado de

Assis dá início ao Realismo nas letras brasileiras. Revela-se um observador arguto e analista

psicológico de seus personagens. Demonstra uma visão desencantada da vida e do homem,

num humor de riso amargo e irônico.

Há também um filme de 1985, Brás Cubas, dirigido por Julio Bressane, adaptado do

romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Sendo assim, este trabalho pretende atuar pensando na questão sobre o que está

faltando para que a leitura dos textos literários se torne apreciável e prazerosa. Para isso,

objetiva-se trazer para a sala de aula as adaptações de obras literárias para o cinema, de modo

a influenciar os alunos para a leitura do texto original. Retende-se também desenvolver a

prática de leitura do texto literário em sala de aula, estimulando o gosto e o interesse pessoal

para a leitura, proporcionando momentos de debates e reflexões sobre a obra lida, para

ampliação do horizonte de expectativa dos alunos, por meio do estabelecimento de relações

dialógicas do texto literário com outros textos e sua articulação com outros campos e suportes.

Sendo assim, o objetivo será o de trabalhar com os educandos para que efetuem

leituras do texto literário com um nível de compreensão e crítica capazes de questionar as

leituras em relação ao seu horizonte cultural, transformando-o, tanto em relação à expectativa

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em si mesma quanto em relação ao seu ambiente social. Pensando nisso, a próxima seção será

sobre o debate teórico que fundamenta este estudo.

5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A proposta deste trabalho é uma alternativa a fim de chamar a atenção dos alunos ao

texto literário clássico por meio do cinema. Visa-se, assim, desenvolver um perfil de leitor

para quem a literatura seja um lugar de interação humana, de interação comunicativa pela

produção de efeitos de sentido entre interlocutores e, também, dos diferentes suportes, como

por exemplo, o cinema. Esse suporte será a base portadora de contextos específicos de

influência aos alunos. Apresentar-lhes adaptações dos clássicos literários, em especial para

esse suporte, a fim de conquistá-los, para a prática de leitura e, posteriormente, ao interesse

pela leitura das obras originais. Como aponta Luís Alberto Brandão Santos:

A resposta para tais questões depende da maneira como a literatura vai interagir com o novo suporte que se oferece a ela. Do espaço – físico, concreto – que o texto literário passa a ocupar, depende o espaço – de importância, de interferência – que a ele está reservado na cultura contemporânea. (SANTOS, 2001, p. 71-72)

Desta forma, os filmes adaptados de obras literárias conseguem trazer para a realidade

dos adolescentes, a complexidade que os textos literários possuem de uma forma mais

atraente e divertida.

Para Karla Marques Santos há uma relação estreita e fecunda entre cinema e literatura.

Os cineastas viram na literatura desde o início do cinema, um universo de temas e estruturas

narrativas que poderiam constituir uma grande fonte de criação. A adaptação de obras

literárias para o cinema sempre esteve presente na evolução e construção da história

cinematográfica numa relação entrecruzada, pois a narrativa literária também incorporou, ao

longo do tempo, técnicas próprias da linguagem fílmica, como o fluxo de consciência, a

desarticulação do enredo, a fragmentação, a descontinuidade, entre outras. Embora pareçam

duas artes, ou duas mídias com formas totalmente diferentes de retratar o indivíduo e o

mundo, o cinema e a literatura têm muitos aspectos comuns, especialmente pela evolução dos

filmes, que no início eram apenas imagens, a narração foi incorporada mais tarde.

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As inter-relações entre literatura e cinema são um campo fértil de discussão e

pesquisa. Julio Plaza desenvolveu o conceito de tradução intersemiótica pensado por

Jakobson, em que propõe ver a adaptação de filmes como uma tradução intersemiótica:

Distinguimos três maneiras de interpretar um signo verbal: ele pode ser traduzido em outros signos da mesma língua, em outra língua ou em outro sistema de símbolos não verbais. A tradução intralingual ou reformulação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua. A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua. A tradução irter-semiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais. (JAKOBSON, 1985, p. 64-65).

Na tradução intersemiótica, a criatividade do tradutor é que dará novas interpretações a

determinados signos, adequando-os ao novo contexto em que serão inseridos e conferindo-

lhes autonomia. Assim, segundo Karla Marques Santos, para Júlio Plaza, a tradução

intersemiótica é concebida “como prática crítico criativa, como meta criação”. Pois a relação

entre as artes não se dá em uma mão única, e sim, de várias formas. A dimensão intertextual

das artes pode ser ilustrada pela comparação do cinema com a literatura:

Numa tradução intersemiótica, os signos empregados têm tendência a formar novos objetos imediatos, novos sentidos e novas estruturas que, pela sua própria característica diferencial, tendem a se desvincular do original. A eleição de um sistema de signos, portanto, induz a linguagem a tomar caminhos e encaminhamentos inerentes à sua estrutura (PLAZA, In SANTOS, 2007, p. 57).

Para Plaza, segundo Santos, a adaptação fílmica é uma interação intencional entre

linguagem literária e linguagem de cinema que na criação ou recriação estabelecem relação

entre signos de códigos diferentes. Tratando-se, portanto, de uma tradução intersemiótica.

As experiências cognitivas podem ser trabalhadas, traduzidas e classificadas em todas

e quaisquer línguas existentes. “Onde houver uma deficiência, a terminologia poderá ser

modificada por empréstimos, calços, neologismos, transferências semânticas e circunlóquios”

(JAKOBSON, 1985, p. 67). Existe, portanto, flexibilidade de adaptação na relação semiótica

entre as variadas formas de expressão artística:

A Poética trata dos problemas da estrutura verbal, assim como a análise de pintura se ocupa da estrutura pictorial. Como a Lingüística é a ciência global da estrutura verbal, a Poética pode ser encarada como parte integrante da Lingüística. É evidente que muitos dos procedimentos estudados pela Poética não se confinam à arte verbal. Podemos reportar-nos à possibilidade de converter O Morro dos Ventos Uivantes em filme, as lendas medievais em afrescos e miniaturas, ou L’aprés-midi

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d’um faune em música, balé, ou arte gráfica. Em suma, numerosos traços poéticos pertencem não apenas à ciência da linguagem, mas a toda teoria dos signos, vale dizer, à Semiótica geral. Isto é válido tanto para a arte verbal como para todas as variedades de linguagem, de vez que a linguagem compartilha muitas propriedades com alguns outros sistemas de signos ou mesmo com todos eles. De igual maneira, uma segunda objeção nada contém que seja específico da literatura: a questão das relações entre a palavra e o mundo diz respeito não apenas à arte verbal, mas realmente a todas as espécies de discurso. (JAKOBSON, 1985, p. 118-119).

Para Karla Marques Santos, na adaptação de um livro para o cinema o autor trabalha a

sua reconfiguração estética, a adaptação se constituirá como obra autônoma, a partir da

literatura e não na literatura. A adaptação será uma nova experiência com forma e conteúdo

próprio de seu campo, ou seja, o cinema, dialogando com o texto de origem e com seu

contexto. As relações crítico-dialógicas que o cinema estabelece com os livros que adapta

também devem ser levadas em consideração. Ela ressalta que, de acordo com Nanemore, a

adaptação de uma obra literária para o cinema também está “condicionada e configurada por

tradições como: socioestética, histórico-cultural, política e econômica. Dessas relações,

internas e externas à obra, é que surte a fecundidade da transposição ou transcriação fílmica”

(NANEMORE, In SANTOS, 2007, p 61).

Julio Plaza reforça que, espaço e tempo, na linguagem do cinema, interagem

dialeticamente, emigrando um para o outro constantemente. Se a “montagem narrativa”

privilegia o tempo, “a montagem expressiva” privilegia o espaço, a simultaneidade. O cinema

trabalha no âmago da linguagem: a metáfora e a metonímia através de planos gerais, planos

médios e primeiros planos, retalhando o espaço e o tempo emoldura-os e trabalha com eles,

articulando-os conforme as leis da contiguidade ou da similaridade. A imagem fílmica, em

montagem narrativa linear, suscita no espectador um “sentimento de realidade” muito forte.

As diversas formas de arte estão representadas e são pensadas pela intersemiótica “onde a

colaboração entre o lúcido e o lúdico equivale ao amálgama entre pensamento lógico e

analógico, isto é, fusão entre Oriente e Ocidente, equilíbrio entre o sensível e o inteligível”

(PLAZA, 1987, p. 142-209).

De acordo com Santos, Walter Benjamin nos chama a atenção para a complexidade da

filmagem. Por representar um conjunto de atividades que é impossível coordenar, seja qual

for a perspectiva, sem que se imponham ao olhar todas as espécies de elementos estranhos ao

desenrolar da ação: câmeras de filmar, aparelhos de iluminação, equipe de assistentes, etc. A

trama de um filme é constituída das opções de ângulos, dos enquadramentos, das modalidades

de olhar, do tipo de luz, das sequências da montagem, da mixagem da trilha: “A câmara não

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apenas mostra, ela narra. O conteúdo e a expressão formam um todo” (BENJAMIN, In

SANTOS, 2007, p.73).

A autora também aponta que, para Benedito Nunes, o tempo é a condição da

narrativa, e complementa que todas as formas narrativas, literárias ou visuais, estão

articuladas em sequências temporais, lineares ou não. No cinema, tempo e espaço são

permeáveis. Pois, o filme ao produzir sequências dinâmicas de imagens, faz com que o tempo,

invisível, seja preenchido simultaneamente pelo espaço. Já a narrativa literária, presa ao

caráter consecutivo da linguagem verbal, só pode representar esse tempo simultâneo ao

espaço de modo sucessivo. Um dos desafios, ao se realizar uma adaptação fílmica de uma

obra literária, é a questão da temporalidade. Diferente do texto literário, que se apresenta sob

forma de livro, podendo ter o número de páginas que se julgar necessário, o texto fílmico está

inserido a uma engrenagem da indústria cinematográfica que estipula um tempo médio de

exibição. “Reunir o máximo de coisas num espaço mínimo de tempo, gera necessidade de

estilizar, de suprimir grande parte dos elementos do texto fonte para manter somente o

essencial da ação, o que tem de mais significativo.” (BETTON, In SANTOS, 2007, p. 74).

Com isso, o filme pode condensar elementos narrados ou sugeridos, aglutinando ações antes

dispersas na narrativa literária. Tudo isso dependerá das escolhas que a equipe realizadora do

filme fará ao traduzi-lo da literatura.

Para Marcel Martim, “a imagem é o material básico da linguagem cinematográfica que

entra em relação dialética com o público ao qual é oferecida” (MARTIM, 1963, p. 17). Ele

afirma ainda:

É preciso insistir no fato de que o material fílmico elementar, a imagem, é extremamente representativo: a imagem impõe a nossos olhos e a nossos ouvidos um fragmento de realidade e neste nível o fundo e a forma são praticamente indissociáveis; não se pode falar em qualidades estéticas de uma imagem de filme sem considerar seu conteúdo, isto é, o que ela representa. O cinema é uma arte prodigiosamente realista ou, para dizer melhor, o que nos dá a melhor impressão da realidade, restituindo assim o mais fielmente suas aparências (MARTIM, 1963, p. 13).

Imagem e movimento, duas linguagens que estabelecem o bom andamento da

adaptação fílmica.

A distância entre a câmera e o sujeito é determinada pela dimensão do plano e a

escolha de cada plano é responsável pela clareza da narrativa, tendo também, na maioria das

vezes um significado psicológico, não apenas descritivo. A cor também faz parte dos

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elementos que constituem a boa tradução fílmica. O filme conta uma história que se desenrola

no tempo, portanto, a cor, em um filme, tem um valor dramático e não somente representativo

e descritivo. Uma vez que o filme se desenrola no tempo e conta uma história, a cor deve ter

um valor “dramático” e não somente representativo e descritivo. A iluminação é outro

elemento fundamental na expressividade da imagem:

Os mais diversos efeitos podem ser criados pela utilização de fontes luminosas anormais ou excepcionais. A utilização de sombras significativas podem ter um significado elíptico e constituir um poderoso fator de angústia pelo ignoto ameaçador que deixam entrever (MARTIM, 1963, p. 51).

O advento falado modificou profundamente a estética do cinema. Os elementos

sonoros e a música são hoje elementos específicos dessa arte. Também o costume, não é um

elemento artístico isolado. O costume, como tudo o que aparece na tela, deve ser

extremamente fiel ao real e suficientemente típico para que os personagens sejam facilmente

identificados. Tem ainda a montagem que, segundo Martim, é a organização dos planos de um

filme em certas condições de ordem e de tempo; é o processo de articulação da narração ou, a

ligação dos planos entre si, pois o filme é a reunião de um grande número de fragmentos

registrados em diversos lugares e em uma ordem sem relação com a continuidade normal dos

acontecimentos.

Como um filme resulta da reunião de fragmentos registrados em diversos lugares e em

uma ordem sem relação com a continuidade normal dos acontecimentos e na audaciosa

condensação do tempo e espaço, muitas vezes surpreendente. O realizador deve prever o

conjunto de efeitos visuais ou sonoros destinados a criar no espectador uma impressão,

consciente ou não, de continuidade plástica e lógica entre todos os fragmentos de realidade

que o constituem:

Tudo o que é mostrado na tela tem, portanto, um sentido e, geralmente, um significado secundário que apenas pode aparecer graças à reflexão: poder-se-ia dizer que toda imagem “implica” mais do que “explica”. É por essa razão que a maioria dos filmes de qualidade é acessível em vários níveis segundo o grau de sensibilidade, de imaginação e de cultura do espectador (MARTIM, 1963, p. 77).

Portanto, na adaptação de uma obra literária para o cinema, temos a linguagem

cinematográfica, com todos os seus códigos e subcódicos, dialogando o tempo todo com a

literatura. Esse dialogismo se estabece em relação ao texto escrito, ao texto que está implícito

e ao seu contexto. Assim, num trabalho de reconfiguração estética, na tradução intersemiótica,

cada um, o cinema e a literatura, com suas especificidades e características próprias, podem

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ser o ponto de partida para a interação dos alunos em relação ao estudo da Literatura e à

leitura dos textos literários, em sala de aula. Desta forma, o próximo passo desse trabalho

serão as estratégias que podem ser utilizadas para o incentivo à leitura das obras literárias.

6 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

Esta Unidade Didática com a temática: “A relação dialógica da Literatura com outras

áreas de uso da linguagem, especificamente cinema e televisão“, é voltado a estudantes do

Ensino Médio Regular e da EJA (Educação de Jovens e Adultos). A intervenção será baseada

nos três eixos temáticos da Língua Portuguesa presentes nas diretrizes curriculares que são:

leitura, oralidade e escrita.

Tendo como base o conjunto dos filmes escolhidos, todos inspirados em obras

clássicas da literatura, o professor trabalhará com um roteiro comum para os filmes e os

livros.

6.1 ROTEIRO PARA O DESENVOLVIMENTO DAS AULAS COM FI LMES RELACIONADOS ÀS OBRAS LITERÁRIAS.

PRIMEIRO PASSO:

Passar na tevê pen-drive duas ou três cenas de cada filme alternando com a

apresentação do livro. Mostrar o livro para os alunos e fazer a leitura de alguns trechos para

despertar o interesse deles.

Sugestão:

Em “O auto da compadecida”, passar as cenas do início do filme, e os capítulos II, III,

VII, XIV, XVI.

Ler o primeiro capítulo do livro.

Em “Lisbela e o Prisioneiro”, passar o início do filme até o capitulo VIII. Ler o

primeiro ato.

“O coronel e o Lobisomem” passar o início do filme até o capítulo V. Fazer a leitura

do capítulo II do livro, páginas 24 a 27; cap. III pagina 44; capítulo IV, páginas 61 e 62.

“ Quanto vale ou é por quilo”, passar o filme do início até o capítulo V.

Ler todo o conto para a turma. Disponível em

http://www.quantovaleoueporquilo.com.br;

http://www.passeiweb.com/...pai_contra_mae_conto.

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“Dom”, cenas: cap. I até a conversa sobre o romance...; a cena dos dois amigos de

porre na praia; a cena do casal quando chega em casa, em São Paulo, após o casamento; uma

cena de dança da Capitu, em casa, ensaiando; a cena do ciúme do bento, quando a Capitu

convida o amigo para padrinho do filho...

No livro, leitura dos: terceiro parágrafo do capítulo II; no capítulo XXXII do 15º

parágrafo até o final; capítulo XXXIII do 7º parágrafo até o final; 8º e 9º parágrafos do

capítulo

XXXIV; capítulo XXXVI; capítulo XXXVII; etc.

“Memórias póstumas de Brás Cubas”, cenas: capítulo I do enterro e sobre a morte;

capítulo IV do delírio; capítulo VI da festa da Independência; capítulo X sobre a viagem à

Europa; capítulo XVI namoro com a Virgilia; capítulo XXXIV sobre a febre amarela; etc.

Do Livro, ler a mensagem “ao leitor” e os capítulos: I; XIV; XXII;XXIV;XXVIII;LI;

Dispor de cinco aulas para este trabalho.

SEGUNDO PASSO:

Levar os alunos até o laboratório de informática para acessar na internet, informações

sobre cada um dos filmes como: sinopse, a ficha técnica com informações sobre o elenco, o

diretor, produtores, roteiristas, atores, locações, enfim tudo o que for interessante para

despertar o interesse da turma. Serão acessadas também informações sobre o livro. Panorama

da época em que foi publicado, um breve resumo e informações básicas sobre o autor.

O professor poderá dispor também de duas ou três aulas para este trabalho.

TERCEIRO PASSO:

O professor apresentará em uma aula breve síntese da história do cinema, disponível

em: www.webcine.com.br/historia.htm - acessado em 12 de maio de 2010, ou ,

www.infoescola.com › Info Escola Navegando e aprendendo, por Lindomar da Silva Araújo,

acessado em 12de maio de 2010.

QUARTO PASSO:

Dividir a sala em seis grupos e sortear para cada grupo um filme e seu respectivo

livro. Os alunos, de cada grupo, deverão ler o livro e assistir ao filme sorteado para o seu

grupo. Será dado um prazo de vinte dias para que ele faça isso. Mas o professor poderá usar

as suas aulas para passar os filmes a fim de que toda a turma possa assisti-los.

QUINTO PASSO:

Decorridos os vinte dias para leitura do livro e para assistir ao filme, dispor de mais

três ou quatro aulas para que os grupos organizem o trabalho para apresentação em sala.

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Cada grupo escolherá o modo de apresentação do trabalho. Seminário, relatório

escrito, painéis ilustrativos, apresentação na TV pen dryve, dramatização de alguma cena, etc.

ATIVIDADES : serão trabalhadas na sala de aula para posterior apresentação:

Sintetizar a história contada pelo filme e pelo livro.

Comparar as principais características do filme com o livro no qual foi baseado:

Analisar a similaridade ou não dos personagens do filme e do respectivo livro.

Apontar se há diferenças nas caracterizações dos personagens do filme e do livro.

Perceber se há passagens suprimidas ou acrescentadas, se há mudanças na função

dramática e no desfecho da história, se a narrativa no livro e no filme é linear, se a

narrativa tem começo meio e fim.

Quanto ao filme prestar atenção à:

Trilha sonora. Consegue criar um clima interessante para a história?

Costumes e figurino. Cumprem funções específicas, para a época, tempo ou lugar?

Fotografia. Com atenção para o colorido, a imagem, o sombreamento que vemos na

tela. Enfatizam as emoções que os autores tentaram evocar?

Como o diretor e o roteirista trabalharam na adaptação do livro para o filme:

A temporalidade do filme é a mesma do livro?

O clima, ou seja, as impressões causadas pelo livro como tristeza, melancolia,

reflexão social, lirismo, alegria, ânimo, etc., se mantêm no filme?

Qual é o tema do livro? Os realizadores do filme conseguiram passar a mensagem do

livro?

SEXTO PASSO:

Apresentação dos trabalhos dos grupos.

Disponibilizar uma aula para cada grupo apresentar seu trabalho. Sortear dois grupos

dos cinco que ficarão assistindo a apresentação para que façam a avaliação da apresentação e

do trabalho dos colegas.

6.2 CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DOS GRUPOS:

Para esta avaliação os alunos não ficarão preocupados com a percepção tradicional de

teste de valores de um a dez na verificação da qualidade do ensino-aprendizagem.

Deverão ser levados em consideração, fatores realmente pertinentes, tais como:

- Cooperação e participação nas tarefas de apresentação do grupo.

-Respeito e cordialidade no momento das discussões.

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- Explanação clara com uso adequado de entonação, pausas, gestos.

- Ampliação das expectativas do tema presente nas obras com temas vivenciados no

cotidiano.

Tais fatores serão considerados como aspectos qualitativos, que também serão

observados pelo professor no decorrer do processo em sala de aula, desprezando-se assim, a

insatisfatória pontuação quantitativa de avaliação da aprendizagem dos alunos.

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