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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

ARTIGO FINAL

MARIA SUELI MEDEIROS FUTATA

JORNAL EM SALA DE AULA: instrumento de comunicação e incentivo à leitura

Umuarama – PR2011

1

Maria Sueli Medeiros Futata

JORNAL EM SALA DE AULA: instrumento de comunicação e incentivo à leitura

Artigo apresentado ao programa de Desenvolvimento Educacional PDE/SEED, na área de Gestão Escolar, encaminhado pela Universidade Estadual de Maringá. Sob a orientação do Professor Ms. José Luiz de Araújo

Umuarama2011

1

JORNAL EM SALA DE AULA: instrumento de comunicação e incentivo à leitura

Autora: Maria Sueli Medeiros Futata1

Orientador: José Luiz de Araújo2

Resumo

Este trabalho trata da utilização do jornal como instrumento pedagógico para o incentivo à leitura e a escrita nas aulas de Língua Portuguesa para alunos de 5ª série do Ensino Fundamental. Ele é resultado da formação teórico-metodológica obtida durante a participação no programa de Desenvolvimento Educacional - PDE da Secretaria de Estado da Educação e da prática pedagógica desenvolvida no Colégio Bento Mossurunga. O jornal é um gênero textual que pode atrair muitos leitores e, por isso mesmo, é considerado um bom ponto de partida para o estímulo à leitura na escola, possibilitando ao aluno se engajar em vários objetivos de leitura (ler para se informar, ler para realizar trabalhos, ler para comunicar um texto a um auditório), entre outros. Para tal, utilizamos estratégias diferenciadas envolvendo a leitura oral e silenciosa de textos jornalísticos, explicitação oral, apresentação de vídeos, escrita e reescrita de textos, dramatização, apresentação de jornal mural, visita a uma empresa jornalística. Concluímos que o uso do jornal em sala de aula viabiliza a leitura de diferentes gêneros textuais e contribui para estimular o pensamento crítico. A presença do jornal no cotidiano escolar contribui para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, favorecendo a construção do saber, desenvolvendo hábitos, atitudes e habilidades de trabalho que permitem o crescimento do educador e do educando.

Palavras-chave: Jornal, escola, estímulo, leitura, ferramenta pedagógica.

1 Introdução

A vivência prática na sala de aula atrelada à reflexão teórica acerca de

metodologias diferenciadas de ensino e aprendizagem abre caminhos para novas

práticas pedagógicas. Conforme as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná

(DCEs) – Paraná (2008), os docentes precisam deixar de lado o paradigma

1 Professora da Rede Estadual de Ensino – Graduada em Letras.2 Professor da Universidade Estadual de Maringá – Mestre em Letras.

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conservador de transmissão do conteúdo disciplinar e se voltar para um trabalho que

considere a realidade social dos alunos.

Para Gasparin (2005, p. 16), a “[...] tomada de consciência da realidade dos

alunos evita o distanciamento entre as preocupações e os conteúdos escolares”. A

postura reflexiva deve ser o principal recurso do professor. A capacidade do

professor em observar, inovar e aprender com os outros faz pensar em docentes e

alunos leitores dos meios de comunicação, críticos e ativos, portanto, sejam capazes

de distinguir as informações realmente relevantes contidas num determinado

texto/contexto.

Com efeito, o jornal contribui para a motivação da leitura e da escrita.

Qualquer que seja o seu nível tem um papel a desempenhar no desenvolvimento de

habilidades e interesses dos alunos, pois colabora para a ampliação de novos

conhecimentos quando utilizado nas aulas de Língua Portuguesa.

O jornal é um recurso didático mediador da aprendizagem da leitura e da

escrita, capaz gerar um conhecimento significativo e sintonizado com as temáticas

disciplinares da escola pública. Quando utilizado em sala de aula, esse recurso

pedagógico contribui para a superação do paradigma conservador comumente

aplicado à prática.

O trabalho com o jornal em sala de aula contribui para a integração de

atividades de oralidade, leitura e escrita. Com a sua diversidade de gêneros textuais

apresentados, possibilita que o aluno(a) construa a sua própria identidade leitora,

pois no texto, a língua assume formas de organização que correspondem à atuação

social dos falantes em suas interações.

Pressupõe-se que refletir e analisar criticamente a realidade que chega

diariamente pelas páginas de um jornal é o grande desafio que o professor e alunos

devem enfrentar juntos. Neste trabalho, apontamos, então, o jornal como

instrumento pedagógico para o incentivo à leitura e a escrita nas aulas de Língua

Portuguesa.

Assim sendo, primeiramente abordamos as questões pertinentes à

importância da leitura. Na sequencia, a relevância da leitura jornalística.

Posteriormente, apresentamos os resultados e discussões da proposta de

intervenção realizada na escola, tendo o jornal como recurso pedagógico para o

estímulo à leitura.

1.1 A importância da leitura

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Ler é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas

sociais: jornalística, artística, judiciária, científica, didático-pedagógico, cotidiana,

midiática, literária, publicitária etc. No processo de leitura é preciso considerar as

linguagens não-verbais.

Conforme Silva (1980):

O discurso sobre a linguagem realizada pelo povo brasileiro ainda está em estado placentário, esperando por um maior número de contribuições (pesquisas) a fim de se desenvolver. As diversas críticas apontam uma insatisfação visível em torno da crise da leitura, daqui por diante é necessário que o maior número de investigadores comece a estudar mais sistematicamente o problema. Sem teorias específicas, porém, continuaremos no processo de ensaio-e-erro (com índice maior de erros...), contribuindo para com o decreto de morte da leitura e para com a completa elitização do livro no território nacional (SILVA, 1980, p.10).

O ensino da prática da leitura requer, necessariamente, um professor com

posicionamento assíduo na prática de leitura, crítico e competente, capaz de

compreender a complexidade do “ato de ler”.

Como aponta Rojo (2004), o desenvolvimento das pesquisas e estudos

sobre o ato de ler vem demonstrando que a leitura envolve muitas outras estratégias

e capacidades (cognitivas, afetivas, sociais, discursivas, linguísticas) todas

dependentes da situação e das finalidades de leitura. Nessa perspectiva, a leitura

passa a ser enfocada não apenas como um ato de decodificação, de transposição

de um código (escrito) a outro (oral), mas como um ato de cognição, de

compreensão, que envolve conhecimento de mundo, conhecimento de práticas

sociais e conhecimentos lingüísticos que vão muito além dos fonemas e letras.

Essa perspectiva exige, antes de tudo, que a leitura seja considerada como

uma prática central de todas as disciplinas do currículo e o professor, qualquer que

seja sua área, como mediador ou facilitador da leitura para os alunos. Ao professor

de Língua Portuguesa, principalmente, cabe propiciar condições para que o aluno

descubra como se constrói a leitura, articulando-a aos diferentes gêneros de texto;

não se lê, por exemplo, uma notícia da mesma forma que um poema ou que se

consulta um dicionário.

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O compromisso do professor é contribuir para que os alunos tenham uma

atitude responsiva diante do texto, assumindo uma atitude de mediador. Nesse

sentido, é preciso trabalhar com textos diferenciados de leitura na escola, para que

ele se envolva nas práticas de uso da língua – sejam de leitura, oralidade e/ou

escrita (SILVA, 1980).

Conforme as Diretrizes Curriculares da Educação Básica – DCEs - Paraná

(2008), na escola os alunos têm a oportunidade de acesso à norma culta da língua,

ao conhecimento social historicamente construído e à instrumentalização, no sentido

de favorecer a sua inserção social e o exercício da cidadania. Ao professor cabe

mediar o conhecimento de forma a auxiliar os alunos a empregar a língua oral e

escrita em diferentes situações de uso, adequando-as ao contexto social e aos

interlocutores, reconhecendo as intenções implícitas e explícitas nos discursos do

cotidiano.

Para Bakhtin (1992), os tipos relativamente estáveis de enunciados são

denominados gêneros discursivos. Para o autor, a definição de gênero compreende

a mobilidade, a dinâmica, a fluidez e a imprecisão da linguagem, pois:

O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma das esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, para seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais, mas também e, sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação (BAKHTIN, 1992, p. 279).

O caráter sócio-histórico, ideológico e semiótico da consciência e da

realidade dialógica da linguagem consiste em não dissociar o uso da língua das

noções de interação verbal, comunicação discursiva, texto, enunciação e atividade

humana, pois, somente na relação com estes conceitos é possível aprender, sem

reduzir a noção de gêneros.

Para Bakhtin (1992), o enunciado, como totalidade discursiva, não pode ser

considerado como unidade do último e superior ao nível do sistema da língua, pois

faz parte das relações dialógicas, que não podem ser equiparadas às relações

linguísticas dos elementos do sistema da língua.

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Ainda, de acordo com Bakhtin (2003, p. 321), os enunciados são

conhecimentos individuais e, por intermédio de diferentes enunciados, é possível

criar outra obra, “de qualidade ou não”, mas que um novo enunciado é produzido por

outros, vindos talvez de lugares e culturas múltiplas. Daí a necessidade de uma

leitura com diferentes gêneros textuais, para que as possibilidades de produção de

um ou outro gênero textual seja criado.

A língua deve ser entendida como a parte “social da linguagem”, ou seja, ela

pertence a uma comunidade ou grupo social, como, por exemplo, a Língua

Portuguesa. Ao realizar um ato de comunicação verbal, o indivíduo escolhe,

seleciona as palavras, para depois organizá-las, combiná-las, conforme a sua

vontade, dentro das possibilidades que a sintaxe da língua oferece. Esse trabalho

de seleção e combinação não aleatório, não é realizado ao acaso, mas encontra-se

intimamente ligado à intenção do falante. Afinal, seleção significa escolha

fundamentada.

Uma diversidade de conceitos é apresentada como teoria do “ler” e

“comunicar-se”. Entretanto, ao trazer para a sala de aula uma metodologia

persuasiva é possível alcançar objetivos satisfatórios, dependendo do

posicionamento daquele que ensina, uma vez que o ensino da prática de leitura

requer um professor com posicionamento assíduo na leitura, crítico e competente,

que entenda realmente a complexidade do “ato de ler”, traduzindo-a na sua prática

pedagógica (GASPARIN, 2005).

Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leve o

aluno a perceber as diferentes vozes presentes nos textos, tomando uma atitude

responsiva diante do “lido”. É preciso oferecer ao aluno condições para a atribuição

de sentido ao texto, assumindo uma atitude de mediador.

Como apontamos anteriormente, a língua deve ser entendida como parte

“social da linguagem”, ou seja, ela pertence a uma comunidade ou grupo social,

portanto, somente a comunidade como um todo pode agir em relação a ela. A

respeito da língua falada, Bakhtin (1992) faz uma reflexão muito interessante com o

seguinte discurso:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas, nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação

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verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim realidade fundamental da língua (BAKHTIN, 1981, p. 123).

Nessa perspectiva de interação social de produção da língua decorre que a

escola precisa contribuir para garantir o espaço de interlocução aos alunos para que

estes tenham direito à palavra. O desenvolvimento pessoal e social de cada pessoa,

antes de ser fruto do acesso e uso a bens e serviços, é fruto do acesso e uso da

palavra.

Conforme as DCEs - Paraná (2008), os saberes escolares em sua

constituição são marcados pelas relações que os docentes e alunos estabelecem

com o conhecimento. A partir de múltiplas possibilidades de interesses são levados

a agir e integrar-se com o mundo em que vivem.

O sistema educacional costuma generalizar conceitos. Por conseguinte, os

educadores incorporam, muitas vezes, um único pensamento em relação à

aprendizagem, criando grandes barreiras entre o que o aluno já sabe e que tem

condições de aprender, determinando, assim, limites para o desenvolvimento do

educando em geral.

Na prática pedagógica, esses conceitos generalizados levam o professor a

planejar as suas aulas, dando ênfase à aprendizagem de conteúdos fragmentados,

não condizentes com as reais necessidades dos discentes. Daí a importância de um

trabalho diferenciado com a leitura na escola.

1.2 O importância da leitura jornalística

O trabalho com o jornal contribui para o desenvolvimento da capacidade de

os alunos compreenderem as informações explícitas e implícitas presentes nos

textos, subsidiando a capacidade crítica de relacionar os diferentes tipos de textos,

propiciando, ainda, o desenvolvimento de aspectos lógicos, isto é, identificar,

conceituar, situar, esquematizar, relacionar, reproduzir, transformar e memorizar.

Além disso, possibilita a integração do(a) educando com o mundo.

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Segundo Faria (1996), o jornal é uma fonte primária de informação que

espelha valores diferenciados. Por isso, o jornal é considerado um instrumento

importante para o leitor se situar e se inserir na vida social e profissional, pois

apresenta um conjunto de conteúdos diversos, preenchendo plenamente seu papel

de objeto de comunicação.

Na escola, o trabalho com o Jornal oferece aos alunos a possibilidade de

compreensão de diferentes posturas ideológicas frente a um fato. Caso a leitura seja

bem conduzida, o jornal colabora para a preparação de leitores críticos. A leitura do

jornal oferece, ainda, “[...] um contato direto com o texto autêntico (e não com textos

preparados para serem usados, apenas na escola). Desenvolve e firma a

capacidade leitora dos alunos” (FARIA, 1996, p. 11).

Por meio da linguagem, o indivíduo tem acesso aos significados da cultura

na qual está inserido, podendo, assim, estabelecer relações entre as informações e

construir um sentido para si e para o mundo. A escola é um lugar de construção dos

saberes sociais. Ao trazer a leitura do jornal para a sala de aula, o professor se

posiciona a favor da construção destes saberes. Na sala de aula, o jornal é um

instrumento pedagógico relevante. Quando bem utilizado conquista o leitor.

Em sua constituição os saberes escolares são marcados pelas relações que

professores e alunos estabelecem com o conhecimento, a partir das múltiplas

possibilidades de interesses, de ênfase, de modos de transmissão de complexidade

das análises e articulações dos conteúdos com a prática social.

Tais saberes expressam-se no currículo real da escola, constituídos no desenvolvimento de aprendizagem prevista nas propostas de seus educadores e que também incluem aprendizagens de um conjunto mais implícito ou oculto de normas, valores e práticas que estão impregnadas na cultura da escola (PARANÀ, 2006, p.113).

A sala de aula constitui um grande laboratório de investigação. O

conhecimento não implica somente em um ato individual, mas em uma ação

cooperativa. Superando a pedagogia em que o professor se limita a transmitir ou

repetir o já sabido, ao trabalhar com o jornal, ele propõe a construção do

conhecimento de forma contextualizada, valorizando as possibilidades de leitura e

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produção textual, enfatizando os efeitos de sentido e as estruturas lingüísticas

(MARCUSCHI, 1990).

A linguagem é uma operação pela qual os homens se comunicam a respeito

dos objetos da realidade interior ou exterior sem a interferência direta deles. Essa

operação não manifesta o real, mas o transforma. O real, a coisa, é o referente.

Através da linguagem, une-se uma imagem acústica a determinado conteúdo de

pensamento, que é a representação mental do referente.

A aquisição dos conceitos científicos implica na reconstrução dos conceitos

espontâneos em uma articulação e transformação recíprocas. Na interação com a

leitura jornalística é possível o confronto entre os conceitos ou conhecimento

espontâneos e os conceitos ou conhecimentos científicos.

Por sua vez, Freire e Campos (1991) afirmam que:

O ensino deve sempre respeitar os diferentes níveis de conhecimento que o aluno traz consigo a escola. Tais conhecimentos exprimem o que poderíamos chamar de a identidade cultural do aluno, evidentemente ao conceito sociológico de classe. O educador deve considerar essa “leitura do mundo” inicial que o aluno traz consigo, ou melhor, em si. Ele forjou-a no contexto do seu lar, de seu bairro, de sua cidade, marcando-a fortemente com a origem social (FREIRE; CAMPOS, 1991, p. 0 5).

Ao evidenciar que o educando traz consigo conhecimentos, mas que a

influência do meio o leva a recriar conhecimentos frente a uma nova concepção

pressupõe-se que ao entrar em contato com a leitura do jornal na escola, este fará

outras leituras, abrindo-se para novas perspectivas. É necessário considerar que

aprendizagem do educando inicia-se bem antes da escola.

É de Vygotsky (2001), a seguinte afirmação:

Em essência, a escola começa no vazio. Toda aprendizagem com que a criança depara na escola sempre tem uma pré-escola. Por exemplo, a criança começa a estudar aritmética na escola, porém muito antes de ingressar na mesma ela já tem certa experiência no que se refere a quantidade, já teve oportunidade de realizar essa ou aquela operação, de dividir, de determinar grandezas, de somar e diminuir [...] a aprendizagem escolar nunca começa do vazio, mas sempre se baseia em determinado estágio de desenvolvimento, percorrido pela criança antes de ingressar na entidade (VIGOTSKY, 1991, p, 476).

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A partir do pensamento do autor supracitado, na relação pedagógica

professor e alunos possuem conhecimentos diferenciados. Contudo, cada qual em

uma totalidade representativa limita-se à sua visão de mundo. Para o autor, a

interação social possui um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e, toda

função no desenvolvimento cultural de um sujeito, aparece primeiro no nível social,

entre pessoas, e depois no nível individual, dentro dele próprio.

Ao propiciar a leitura reflexiva e crítica tendo o texto jornalístico como

material de apoio, o professor estará contribuindo para preparar o aluno para

desenvolver a sua autonomia intelectual, auxiliando-o na compreensão da realidade

que o cerca.

A leitura é um processo de produção de sentido que se dá a partir de

interações sociais que acontecem entre texto e leitor (MARCUSCHI, 1995). Nesse

processo, o trabalho pedagógico de leitura do jornal integra as atividades de

oralidade, leitura e escrita. Com a sua diversidade de gêneros, a leitura jornalística

leva o aluno a conhecer a sua própria identidade leitora, pois no texto, a língua

assume formas de organização que correspondem à atuação social dos falantes em

suas interações.

O trabalho com a leitura do jornal favorece o conhecimento dos gêneros

textuais presentes no mesmo, contribuindo para o desenvolvimento da capacidade

de os alunos levantarem hipóteses para subsidiar a capacidade crítica, relacionar

textos com textos, propiciando o desenvolvimento de aspectos lógicos, isto é,

aprender a identificar, conceituar, situar, esquematizar, relacionar, reproduzir,

transformar e memorizar, entre outros fatores (KLEIMAN, 1995).

Por isso, conforme Faria (1996, p. 11), a leitura do jornal oferece aos alunos

“um contato direto com o texto autêntico (e não com textos preparados para serem

usados, apenas na escola). Desenvolve e firma a capacidade leitora”.

Em conclusão a estas observações sobre o comentário da autora

supracitada, em busca da qualidade da educação, de maneira especial, do ensino e

aprendizagem da língua, a leitura de textos jornalísticos é considerado como um

instrumento efetivo. O jornal mesmo livre dos problemas ideológicos é voltado para

atividades dialógicas, análise crítica do discurso, letramento e oralidade como

prática social dos sujeitos.

A leitura do jornal precede à curiosidade do leitor (a) permitindo que o

estudante se aproprie das ferramentas que lhe permitam transmitir a sua

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mensagem, contribuindo, conforme Faria (1996), para a habilidade na construção de

ideias, relacionando o que lê; conhecimento do vocabulário costumeiro de um

Jornal; habilidade na construção de seu próprio texto e percepção do texto e

contexto.

Os textos denominados de textos jornalísticos, em função de seu portador

(jornais, periódicos, revistas), mostram um claro predomínio da função informativa

da linguagem, trazendo os fatos mais relevantes no momento em que acontecem.

Os textos jornalísticos apresentam diferentes seções. As mais comuns são as

notícias, os artigos de opinião, as entrevistas, as reportagens, as crônicas, as

resenhas de espetáculo.

A publicidade é um componente constante dos jornais e revistas, permitindo

o financiamento de suas edições. Mas os textos publicitários aparecem não só nos

textos periódicos, bem como em outros meios amplamente conhecidos como os

cartazes, folhetos, entre outros meios. Geralmente, os textos jornalísticos em

qualquer uma de suas seções cumprem certos requisitos de apresentação entre os

quais se destacam: tipografia perfeitamente legível, uma diagramação cuidada,

fotografias adequadas que sirva para complementar a informação linguística,

inclusão de gráficos ilustrativos que fundamentam as explicações do texto (FARIA,

1996).

Segundo o entendimento de Faria (1996), os textos jornalísticos são

distribuídos de forma a melhor conhecer a ideologia da mesma. Na primeira página,

as páginas ímpares e o extremo superior das folhas dos jornais trazem as

informações que se quer destacar. Esta localização antecipa ao leitor a importância

que a publicação deu ao conteúdo desses textos. O corpo da letra dos títulos

também é um indicador a considerar sobre a posição adotada pela redação.

Considerando o caráter oral da cultura, no social, sugere-se ao professor,

que ao trabalhar a leitura do jornal, sempre que possível traga o assunto, para a

realidade do aluno. Faz-se necessário possibilitar a compreensão crítica dos vários

gêneros discursivos com que o cidadão lida no seu cotidiano. Assim, o jornal quando

utilizado com recurso pedagógico oferece a essa possibilidade, uma vez que

apresenta gêneros textuais diferenciados, como as manchetes, as reportagens

jornalísticas, a notícia jornalística, o horóscopo, as receitas culinárias, bulas de

remédios, listas, relatos familiares, cartas, bilhetes, contos tradicionais e modernos,

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gêneros expositivos, entre outros. Daí a relevância de utilizar o jornal para despertar

no aluno o gosto pela leitura.

2 A intervenção na escola: o jornal como ferramenta pedagógica

A proposta de intervenção intitulada “Jornal em Sala de Aula”, teve como

objetivo utilizar o jornal como instrumento pedagógico para o incentivo à leitura e

escrita nas aulas de Língua Portuguesa. Participaram da proposta os alunos de uma

5ª série do ensino fundamental do Colégio bento Mossurunga.

A proposta de trabalho é resultante dos estudos de formação continuada

realizada pelo Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE do Governo do

Estado do Paraná, amparada pela Lei Complementar nº 103/2004, que consolida

uma política de valorização dos professores da Rede Estadual de Educação como

pesquisadores(as) da realidade pedagógica atual das escolas públicas.

A proposta de intervenção envolveu um conjunto de procedimentos,

vivências e ideias, tendo o jornal como ferramenta pedagógica para o estímulo à

leitura. Para tal, utilizamos leitura oral e silenciosa de textos jornalísticos,

explicitação oral, apresentação de vídeos, escrita e reescrita de textos,

dramatizações, apresentação de jornal mural, visita a uma empresa jornalística.

As atividades foram sugeridas na tentativa de romper com a visão de que o

jornal é um meio de leitura apenas de adulto, transformando o mesmo em algo fácil

e agradável de manuseio e um acessível meio à leitura.

Inicialmente, foi desenvolvida a oficina intitulada “Introdução aos Textos

Jornalísticos”. Na oportunidade o professor trouxe vários exemplares para que os

alunos tivessem o prazer de manuseá-los e acompanhar as explicações. Foi

explicado aos alunos que, ao escrever para alguém, existe sempre um destinatário

nos materiais escritos, que sempre se escreve para alguém; porém para escrever é

necessário ler.

Faria (1996) afirma que:

Nestes últimos anos, setores da educação tem recomendado que os professores utilizem o jornal na sala de aula, sem entretanto lhes apontar

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instrumentos pedagógicos eficazes para que possam ter êxito em seu dia a dia profissional. Mais organizados, alguns jornais já vem oferecendo cursos para professores utilizarem esse periódico na escola, sendo o Zero Hora, de Porto Alegre, o jornal pioneiro no Brasil neste campo. Entretanto, estas iniciativas ficam restritas à leitura dos jornais que organizam os cursos, o que restringe a capacidade crítica dos alunos, por não confrontá-los com outros periódicos. Por outro lado, estes cursos acontecem nos grandes centros e, até o momento, o material elaborado pelos jornais não é acessível aos professores que não tenham a oportunidade de frequentar os cursos... (FARIA, 1996, p. 13).

Os alunos pesquisaram no dicionário o significado etimológico da palavra

jornal. Após, foi discutido o significado que vem do latim diumale (“diário”) que tem

uma passagem pelo italiano, giornale (de giomo=dia); que quer dizer “fatos do

cotidiano”.

Foi explicitado que os textos denominados “textos jornalísticos”, em função

de seu portador (jornais, periódicos, revistas), mostram um claro predomínio da

função informativa da linguagem, trazendo fatos mais relevantes no momento em

que acontecem. Esta adesão ao presente e primazia da atualidade, condena-os a

uma vida temporária. Foram propostas as seguintes questões para discussão:

Vocês devem conhecer muitas pessoas que leem diariamente algum jornal. E vocês,

já leram algum jornal? Qual é a primeira coisa que vocês procuram ao abrir o jornal?

Qual o tipo de leitura vocês preferem?

O trabalho proporcionou um primeiro contato com o jornal, tecendo

comparações do mesmo com outros materiais impressos como: revistas, livros,

catálogos, cartazes, enquanto viam o jornal na sua totalidade e localizavam

livremente no jornal assuntos que interessavam ou não à classe.

Após as discussões iniciais que foram trabalhadas oralmente, foi proposto

aos alunos que versassem sobre as impressões iniciais provocadas pelas

informações. Como atividade de pesquisa, os alunos (em duplas) pesquisaram na

internet (sala de informática da escola) sobre a história do Jornal. A atividade foi

desenvolvida com o olhar sempre atento da professora.

Os alunos demonstraram grande interesse pela atividade, conforme relatos:

Eu adorei fazer a pesquisa sobre a história do jornal (Sujeto1).

Eu não sabia que Gutemberg desenvolveu a imprensa. Isso é legal (Sujeito 2).

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Quero ler muito jornal e quando eu crescer quero ser jornalista (Sujeito 3).

Na sequencia, os alunos fizeram uma entrevista com os familiares para

conhecer a relação que a família possuía com os jornais, a partir de algumas

questões provocativas: O que é o jornal? Quem na família lê jornal?Acompanham

telejornal ou escutam notícia pelo rádio? Se leem jornal... com que frequência?

Quando leem? Que tipo de texto jornalístico considera mais importante? O jornal é

útil à sociedade? Por quê?

Foi possível perceber que os familiares têm pouco contato com a leitura de

jornal.

Lá em casa só tem jornal para embrulhar o pão (Sujeito 3).

Meu pai disse que não lê jornal... só assiste TV (Sujeito 5).

Na minha casa ninguém lê jornal, mas eu falei que é preciso ler para se informar. Quem não lê jornal, não tem boa leitura na escola e na vida. É muito importante ler, igual falou na pesquisa que nós fizemos (Sujeito 6).

As questões foram analisadas em conjunto com o professor, dando atenção

aos principais fatores que interferem positivamente e/ou negativamente na leitura

dos jornais pelos familiares.

Na oficina denominada “O Cabeçalho do Jornal”, a aula foi iniciada com a

apresentação dos diversos jornais que circulam na cidade, sugerindo aos mesmos

que levantassem os elementos que compõem o cabeçalho do jornal. O professor

explicou que, no cabeçalho, o jornal contém o título, o local de publicação, a data, o

ano, o número, o endereço, o preço, o editor responsável e o slogan.

Após as explicações foram propostas algumas atividades para colocar os

alunos em contato com o manuseio do jornal. Os alunos recortaram os mais

variados títulos de jornais, e colocando-os de forma livre em cartolinas. Após, os

alunos observaram a variedade dos diferentes caracteres tipográficos em cada título.

O exercício foi aproveitado para comparar os elementos dos diferentes cabeçalhos

reunidos na folha. Posteriormente, solicitou-se que os alunos inventassem

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cabeçalhos de jornal, a partir de tipos de textos que gostariam de escrever, inclusive,

esportivos ou cômicos.

A oficina intitulada “Da Manchete às Notícias” envolveu, primeiramente, a

compreensão do sentido de uma manchete. A título de orientação foi explicitado que

a manchete consiste em uma variedade de títulos, que segundo Ferreira (2001)

corresponde à designação que se põe no começo de um livro, capítulo, artigo, com a

indicação do assunto.

Os alunos foram levados a compreender que a manchete constitui-se no

título principal, composto em letras garrafais e publicado com grande destaque,

geralmente, no alto da primeira página de um jornal ou revista, indicando o fato

jornalístico de maior importância entre as notícias contidas na edição. Foi

explicitado que só são manchetes os títulos maiores e mais importantes; o restante é

apenas título de matéria, inclusive, páginas interiores.

Após as explicações foram propostas algumas atividades. Os alunos

examinaram as manchetes e títulos de exemplares da cidade para confirmar os

espaços que ocupam a questão relativa à campanha eleitoral; analisaram as

manchetes e títulos de jornais de grande circulação para confirmar o espaço que

ocupam as campanhas eleitorais; classificaram os assuntos por ordem de

importância que o jornal oferecia. O professor questionou se eles estavam de acordo

com a ordem apresentada no jornal.

Em seguida, procederam à análise das manchetes e títulos da campanha

eleitoral de vários jornais para estabelecer normas específicas, comparando-as para

detectar semelhanças e diferenças. Depois da análise dos principais destaques que

os vários jornais dão às notícias relativas à campanha eleitoral, as mesmas foram

confrontadas para observar se eles atribuem o mesmo destaque as outras notícias.

Foi solicitado que, em duplas, os alunos elaborassem manchetes para fatos do dia,

fatos inventados.

Posteriormente as atividades sobre as manchetes, foi discutido que o jornal

impresso traz vários gêneros textuais, mas que a notícia é o principal. A notícia é o

relato de um fato atual importante ou interessante para um grupo de leitores ou para

a sociedade de maneira geral.

A notícia apresenta determinadas características de linguagem que a

diferenciam de outros textos jornalísticos. Outro aspecto importante da notícia diz

respeito à forma como ela é estruturada.

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Foi explicitado que uma notícia contém uma estrutura composta, em geral,

dos seguintes elementos: manchete/título (referência ao assunto da notícia ou põe

em evidência a informação essencial); olho (frase curta, sem ponto final, colocada

abaixo ou acima do título e que resume a informação principal da notícia); o lead/lide

(chamado de abertura, normalmente corresponde ao primeiro parágrafo, fornece as

informações básicas da notícia apresentadas respostas para as seguintes

perguntas: O quê? Quem? Onde? Quando? Como? Por quê?); o corpo (parte da

notícia que acrescenta novos dados ao lide), e a assinatura (indicação do jornalista

que redigiu a notícia).

O professor utilizou de alguns exemplares de jornais e revistas para

exploração das notícias. Foram destacadas as chamadas, os recursos visuais e os

assuntos abordados como atrativos, para posterior leitura do texto na íntegra. Para

tal, os alunos foram organizados em grupos. Posteriormente, foram distribuídos

diferentes cadernos dos jornais, atentando para os interesses da turma. Os alunos

selecionaram a notícia que eles julgaram relevante e anotaram as seguintes

informações: a) Os elementos do Gênero como? - Quem? - Onde? - Quando? -

Como? - Por quê? - Relação de manchete (título) e a notícia; b) a relação da notícia

com o restante da página do jornal: - Qual o destaque dado para ela / que tamanho

tem/ qual sua manchete?- Que espaço ocupa / em que lugar está na página? - Há

fotos ou imagens que ilustrem a notícia? De que forma o fazem? .

Na atividade “Hora da Notícia”, os alunos elaboraram uma síntese das

notícias, procedendo ao relato para os outros grupos. Em um segundo momento, os

alunos deram opiniões e defenderam suas ideias a respeito dos assuntos

veiculados, da pertinência dos assuntos escolhidos, da posição ocupada por sua

notícia na página do jornal.

A metodologia de desenvolvimento da criticidade partiu do princípio de que a

realidade nem sempre é transparente, isto porque as notícias não contêm a tão

prezada imparcialidade jornalística. O professor lembrou aos alunos que, no jornal,

as notícias não são agrupadas de modo hierárquico, isto é, diferenciam-se as mais e

menos importantes. Também, podem ser organizadas pelo assunto que abordam.

Por exemplo, o placar dos jogos de futebol, a mudança do técnico de um time e o

treinamento das ginastas para a próxima competição estará na mesma seção – ou

caderno – do jornal.

16

No jornal mural foi reforçada a ideia de que a notícia relata os fatos que

ocorrem, ocorreram ou ocorrerão na cidade, no estado, no país ou no mundo, tendo

como principal intenção, informar o leitor com exatidão sobre determinados fatos,

sem interferências do autor de maneira clara, direta e objetiva. Foi citado que apesar

de pretender ser neutra e confiável, em determinados casos, percebe-se na notícia a

ideologia e a concepção de quem a escreve ou do jornal que a publica. Evidenciou-

se que elas são impressas no jornal, conforme o grau de importância da mesma.

Após a caracterização do gênero, analisamos a mesma notícia em jornais diferentes

Após as explicações, foram entregues aos alunos vários jornais com notícias

do Município. Depois a leitura da primeira página foram propostas atividades para

discussão em duplas. Os alunos foram questionados sobre qual jornal apresenta

mais notícias de interesse, qual a manchete cada um escolheu como o

acontecimento mais importante, quais recursos gráficos possibilitaram os alunos

chegarem a determinada conclusão. Em seguida os alunos foram convidados a

fazer o registro por escrito, conforme exemplo da ficha abaixo:

Jornal Acontecimento mais importante Recursos gráficos

Os alunos observaram se na primeira página dos jornais há notícias inteiras

ou apenas chamadas, que despertam o interesse do leitor. Também descreveram,

no mínimo, dois assuntos abordados na primeira página de um dos jornais

analisados. Após as discussões, os alunos completaram um quadro com as

informações sobre:

Em que caderno você encontra: Jornal: Jornal:Notícias de interesse geralNotícias de interesse nacionalInformações sobre o tempoProgramação da TVAnúncios para compra e venda de carrosNotícias sobre o esporteNotícias sobre a saúde

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O professor estabeleceu estratégias de leitura interativas, dialógicas,

provocativas, implícitas e explícitas, no sentido de mobilizar os conhecimentos

prévios dos alunos e o levantamento de hipóteses sobre os temas abordados pelo

jornal. A oralidade foi explorada durante todo o tempo, atentando para os diversos

temas e com registros das hipóteses apontadas, no caderno do aluno, no quadro-

negro etc.

Durante todo o tempo o professor teve claro que a leitura do jornal deve

preceder à curiosidade do leitor (a), permitindo que os alunos se apropriassem das

ferramentas que lhe permitissem transmitir da melhor maneira a mensagem do texto

com habilidade na construção de ideias, com o conhecimento adequado do

vocabulário corriqueiro de um jornal, com a habilidade para a elaboração do próprio

texto, percebendo o texto e o contexto (FARIA, 1992).

Nessa troca de informação foram discutidos os pontos de vendas de jornais,

o destino do jornal depois de lido, além das leituras constantes e incentivadoras

feitas pelos alunos e a tomada de consciência da importância de ler jornal. Ficaram

claras todas as possibilidades oferecidas na prática de atividades lúdicas (mímicas,

teatro), que a leitura de jornal pode proporcionar com seus textos de estilos

diversificados, sendo um deles a crônicas.

Na oficina intitulada “Gênero Textual: A Crônica Jornalística”, foi explicitado

que os jornais e a imprensa, de modo geral, por tratarem de fatos relacionados ao

cotidiano das pessoas, tornaram-se temas de outras produções textuais como

romances e crônicas, por exemplo.

Para o trabalho com a crônica, o professor apresentou aos alunos a crônica

Intitulada “os Jornais” de Rubem Braga. Os alunos leram a crônica com atenção.

Posteriormente, discutiu-se que, ao introduzir a palavra “amigo”, o cronista Rubem

Braga, trava um diálogo com o leitor, expondo sua opinião sobre a produção

jornalística.

Foram trabalhadas algumas questões para análise do que se considera

correto ou incorreto ao tratar do gênero, explicitando que a crônica pretende mostrar

que os jornais noticiam apenas o que possa interessar ao leitor, se as situações

comuns na vida das pessoas fossem noticiadas, não haveria interesse em ler

jornais; os jornais noticiam apenas acontecimentos marcantes, embora seja de

interesse da população tomar conhecimentos dos fatos banais ocorridos no dia-a-

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dia; os jornais apresentam apenas uma parte da realidade, ou seja, somente os

fatos que são de interesse do público leitor:

Após as discussões iniciais, o professor entregou uma diversidade de jornais

para que os alunos pesquisassem o gênero “crônica” e procedessem à leitura crítica

de algumas crônicas selecionadas por eles. Logo depois, os alunos refletiram em

conjunto com o professor sobre a maneira como o cronista apresentou as (os)

personagens, o local, o momento em que as situações aconteceram, enfim, como

esse fato se deu. Foi solicitado que os alunos comparassem a estrutura narrativa de

uma crônica com uma notícia: em que elas se assemelham e diferenciam. Por fim,

escreveram uma crônica.

Na oficina “Explorando os Diversos Tipos de Textos Jornalísticos”, foram

apresentados vários exemplares jornalísticos à sala, solicitando aos alunos (em

duplas) que explorarem livremente o material. Cada dupla ficou encarregada de

escolher um gênero textual diferenciado, com a ajuda do professor (carta,

horóscopo, anúncios, crônicas, texto de opinião, charges, parábolas...) entre outros.

O professor teve todo o cuidado em contemplar os mais variados gêneros textuais.

Em seguida, foi solicitado que os alunos procedessem à leitura silenciosa do

texto escolhido, interpretando-a. O professor percorreu os grupos, observando o

interesse dos alunos, fazendo e ouvindo comentários.

Nossa como essa aula é divertida! (Sujeito 9)

Eu quero só aula de jornal. A gente se diverte e aprende (Sujeito 10).

Eu aprendi muito nessa aula. Eu não sabia que ler jornal era tão bom (Sujeito 11).

Os grupos foram organizados para a análise e exposição do texto para toda

a classe, em forma de dramatização do texto.

Por fim, os alunos foram convidados para fazer uma visita a uma empresa

jornalística da cidade. Na oportunidade, os alunos foram organizados em equipe

para que cada um anotasse o que achasse necessário, fazendo uma síntese do

momento vivenciado por eles. Antes da visita, o professor explicou que eles

poderiam conversar com diversos profissionais: o editor, o repórter, o fotógrafo e o

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diagramador, buscando saber como as notícias chegam à redação, como o jornal é

diagramado, como é realizada a seleção dos materiais a serem publicados, do que

vive o jornal, como ele é distribuído, entre outras questões. As observações dessas

questões resultaram em um levantamento de dados que foram trabalhadas em aula

e que culminaram na exposição de um jornal mural para divulgação à comunidade.

As notícias foram distribuídas em seções, em tamanho de letra e

diagramação coerentes com as exigências de um jornal. Com o mural, os alunos

tiveram a ideia dos diferentes tipos de textos que eles foram capazes de produzir,

compartilhando-os com a sua comunidade escolar e do entorno. Conhecidas todas

essas opções de leitura que o jornal lhes oferece, os alunos tiveram mais facilidade

para nortear na busca de assuntos de seus interesses e de outros instigados pelo

professor.

3 Conclusão

Vários gêneros do discurso presentes na imprensa foram estudados e foi

possível construir uma opinião mais positiva e abalizada sobre a temática, em outras

palavras, fazer da leitura do jornal não somente um ato pedagógico aparentemente

neutro, mas acima de tudo, uma atitude política; até mesmo porque nenhuma ação

ou omissão é neutra, ou seja, todo conhecimento é político, pois cria realidades e

transformam o mundo.

A aplicabilidade do tema vem ao encontro com várias situações do cotidiano

do aluno. A proposta de intervenção foi de suma importância para a aprendizagem.

O interesse e entusiasmo nas atividades desenvolvidas foram claramente

percebidos a cada situação experimentada pelos educandos, no decorrer das

atividades propostas.

Na aplicabilidade, esboçou-se um breve quadro acerca das razões pelas

quais se preconiza o uso do jornal na escola.

1º - A leitura: processo de produção de sentido que acontece entre texto e

leitor, ou seja, o leitor constrói o seu conhecimento de mundo por meio de um

atividade dialógica que se dará principalmente, pela leitura de jornal.

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2º - A escrita: deve sempre priorizar as condições de produção de um texto,

a saber: quem escreve, o que, para quem, por que, quando, onde e como se

escreve, pois estas condições são determinantes em um texto eficaz. A produção

deste texto envolverá uma interação aluno/professor e perpassa os seguintes

momentos: motivação para produzir o texto, a reflexão sobre o tema, o gênero

textual e o estilo de linguagem, o ato de redigir, a revisão textual, a reestruturação

ou reescrita em busca da melhor forma de expressão.

3º - A oralidade: envolve a valorização de todas as variantes lingüísticas,

pois elas que geram a riqueza e o conhecimento vocabular. Esta realidade é

trabalhada nas seguintes situações: debates, discussões, seminários, transmissão

de informações, troca de opiniões, defesa de ponto de vista, contar histórias,

representação teatral, relatos de experiências e entrevistas.

O ensino com jornais deve almejar sempre as operações complexas do

pensamento: analisar, comparar, julgar, sintetizar, produzir pontos de vista entre

outros. O aprendizado assimilado representa um processo de socialização do

aprendiz frentes aos modos de organizar o conhecimento e na maneira de

representar suas percepções e seu conhecimento para os outros.

Ao levar em consideração a existência das capacidades de cada indivíduo,

reconhece-se que a apreensão de gênero jornalístico (noticia) tem efeitos sociais e

ideológicos, pois à medida que as formas e possibilidades diferentes são ensinadas,

os alunos se socializam com as estruturas e o sistema de valores da sociedade.

Deste modo, o objetivo proposto foi atingido, pois houve investigações,

comparações e tomadas de decisões individualizadas e em grupo. O trabalho

desenvolvido incentivou a direção e professores que se mostraram interessados

pelo andamento do projeto.

Diante dos dados levantados, pode-se concluir que o uso do jornal em sala

de aula viabiliza a leitura de diferentes gêneros de texto, contribuindo para estimular

o pensamento crítico. A presença do jornal no cotidiano escolar favorece o

desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, colaborara para a construção do

saber, desenvolve hábitos, atitudes e habilidades de trabalho que permitem o

crescimento do educador e do educando.

O jornal é um suporte textual que pode atrair muitos leitores e, por isso

mesmo, é considerado um bom ponto de partida para o estímulo à leitura na escola,

possibilitando ao aluno se engajar em vários objetivos de leitura (ler para se

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informar, ler para realizar trabalhos, ler para comunicar um texto a um auditório),

entre outros.

A aproximação entre os mundos da educação e da comunicação se faz cada

vez mais necessária, levando em conta o conjunto das produções culturais e das

lógicas discursivas de todos os meios e, principalmente, a influência que a

linguagem do jornal exerce sobre as pessoas.

Os jovens leitores estão, hoje, inseridos em um novo contexto. O enfoque

nos gêneros jornalísticos deve ser enfatizado no final do ensino fundamental e

durante todo o ensino médio, a fim de que os alunos, a partir da situação em que

estiverem inseridos, aprendam a transmitir o conteúdo numa estrutura adequada e

de acordo com determina das sequências linguisticas.

Ao aproximar o aluno do texto jornalístico, o professor demonstrará que

homem e mundo são indissociáveis, portanto, constituem-se mutuamente, levando

os alunos a perceberem que qualquer notícia faz parte de sua vida, de seu cotidiano,

e até mesmo de sua história.

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