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1 Professores: Angelo Ricordi, Denilson Rossi, José André de Azevedo. SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ

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Professores: Angelo Ricordi, Denilson Rossi, José André de Azevedo.

SACRAMENTOS

DA

INICIAÇÃO

CRISTÃ

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PARTE I

INTRODUÇÃO À TEOLOGIA DOS SACRAMENTOS

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COMO ESTUDAR OS SACRAMENTOS?

Os Sacramentos são o centro e o coração da Liturgia. Isto não quer

dizer que a Liturgia se restrinja aos sacramentos; é mais do que isso: é ação

cúltica. É claro que todo Sacramento tem uma dimensão litúrgica e toda

Liturgia tem uma dimensão sacramental.

As “portas de entrada” ou dimensões para analisarmos a questão dos

Sacramentos podem ser:

1. Dimensão Histórico-salvífica: é analisar a questão dos Sacramentos a

partir de Deus, a partir da história da Salvação.

2. Dimensão Antropológica: analisamos os Sacramentos a partir do

humano, ou seja, o que eles significam na vida do homem?

3. Dimensão Estrutural: analisamos os Sacramentos em sua estrutura

setenária.

4. Dimensão do Encontro: os Sacramentos são vistos como encontro da

graça e da liberdade.

Quais são as razões pelas quais nos preocupamos em estudar os

Sacramentos?

1. Razão Teológica: vemos nos Sacramentos a comunicação de Deus

com sua Igreja mediante sinais sensíveis. É claro que Deus é sempre o

mesmo e, como tal, não necessita desses meios para se dar, mas o

nosso modo de perceber sua ação, de certa maneira, “exige” que ela se

efetue mediante sinais sensíveis, que correspondam à nossa realidade.

2. Razão Cristológica: percebemos nos Sacramentos a presença

simbólica do Sacramento do Pai: Jesus Cristo.

3. Razão Pneumatológica: devemos ver nos Sacramentos o dom do

Espírito Santo, ou seja, eles são meios sensíveis pelos quais nos

abrimos à ação do Espírito de Jesus.

4. Razão Eclesiológica: os Sacramentos conferem em nós certa visão de

Igreja.

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5. Razão Escatológica: os Sacramentos são antecipação, em sinais e

palavras, da realidade futura.

6. Razão Antropológica: os Sacramentos revelam dimensões humanas,

especialmente a dimensão ritual.

7. Razão Cultural: os Sacramentos devem ser analisados também a partir

do processo de enculturação.

8. Razão Pastoral: a pastoral sacramental é um movimento decisivo na

vida da Igreja.

CONCEITO DE SACRAMENTO

A palavra Sacramento provém do latim Sacramentum (que significa,

literalmente, sinal), que, por sua vez, é a tradução do grego Mysterion. O termo

Mysterion, no Novo Testamento, não deve ser entendido como “algo velado,

escondido”, mas significa “desígnio salvífico”. Trata-se de um Mysterion o fato

do Pai revelar-se no Filho e nos conceder a condição de filhos.

Assim, nos doze primeiros séculos da Igreja as palavras mysterion e

sacramentum eram empregadas para designar as realidades de comunhão

com Deus: Cristo, Igreja, Páscoa, Encarnação, Quaresma, etc. Entretanto, a

partir do século XIII houve certa restrição do termo e estabeleceu-se um

conceito restritivo de Sacramento, visto como rito que se refere ao setenário

celebrativo. Ora, uma vez delimitada a essência ou natureza específica do

Sacramento como "sinal sensível e eficaz da graça", a expressão será utilizada

para designar especificamente os sete ritos da Igreja (Batismo, Crisma,

Eucaristia, Matrimônio, Ordem, Confissão e Unção dos Enfermos).

No século XVI, durante o Concílio de Trento (1545-1563) essa visão

será ampliada, principalmente em virtude da Contrarreforma, ou seja, era

necessário “delimitar território” mediante sinais visíveis e concretos. Devemos

ressaltar que a realidade sacramental plena não se esgota no setenário

sacramental e, nesse sentido, o Concílio Vaticano II (1962-1965) usou a

expressão Sacramento em seu sentido mais original, aplicando-a a Cristo, à

Igreja, ao cristão, a todo homem e às realidades criadas. E hoje a teologia não

hesita em denominar Sacramento também outras realidades, que ultrapassam

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o campo do septenário sacramental. Trata-se de reconhecer a essência

sacramental das diversas realidades, reconhecendo os seus elementos

comuns e diferentes, de tal modo que a intercomunicação e a comparação nos

revelem toda a riqueza aí encerrada. Essa extensão do conceito de

Sacramento nos permite perceber que Deus sempre age nas pessoas e,

consequentemente, na história.

Dessa maneira, se Sacramento significa fundamentalmente a

manifestação em visibilidade histórica do dom invisível da graça de Deus, não

há nenhum inconveniente em aplicar esse conceito também a outras realidades

que não são os sete sacramentos. Amplia-se, assim, o círculo da

sacramentalidade, mas não se nega a verdade do Sacramento.

SACRAMENTOS E HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

Se compreendermos os Sacramentos além de seu aspecto setenário

ritual, veremos que os sete sacramentos somente possuem sentido a partir da

História da Salvação, ou seja, a própria história é sinal visível e sensível da

ação de Deus.

Estrutura Sacramental da História Salvífica

Deus se manifesta e irrompe na história, germinando-a com sua

presença e sua ação. Com a vinda de Cristo, essa presença se intensifica. O

que já era, pela criação, uma realidade sacramental da presença de Deus,

transforma-se numa realidade epifânica do próprio Deus. Essa estrutura

sacramental se manifesta precisamente porque a própria história se

desenvolve numa correspondência e complementariedade permanentes entre

palavra e sinal, entre anúncio profético e acontecimento salvífico, entre

promessa e realização.

Desse modo, a história deixa de ser apenas uma sucessão de fatos

analisados e interpretados e se estabelece como encontro e experiência de

Deus, como lugar de conhecimento e reconhecimento do outro. Ora, essa

compreensão da história como lugar de encontro traz como consequência o

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fato de que toda sacramentalidade deve ser entendida a partir do tecido da

sacramentalidade fundamental da história, bem como a partir do centro

culminante dessa sacramentalidade: Cristo.

Compreensão do Setenário Sacramental

Vimos que a História da Salvação é sacramento da ternura do Pai, que

se revela em Jesus e nos doa seu Espírito. Por conseguinte, podemos nos

perguntar: Qual o papel do Setenário Sacramental nessa compreensão da

História como Sacramento? Ainda teriam sentido?

Os Sete Sacramentos são recapituladores da estrutura sacramental da

História Salvífica, ou seja, eles, por meio dos ritos e da comunicação que

possibilitam com a graça de Deus, catalisam em si toda a estrutura de salvação

que a História nos apresenta.

Os “últimos tempos” (tempo entre a Ascensão e o retorno de Jesus)

possuem um ponto alto e significativo: a celebração dos Sacramentos. Os Sete

Sacramentos, então, recapitulam a História e também antecipam o retorno de

Jesus.

CRISTO, SACRAMENTO ORIGINAL

Afirmamos anteriormente que a estrutura sacramental da história da

salvação tem sua recapitulação atual nos sacramentos da Igreja. Queremos

mostrar agora que a fonte, o sentido e o centro de referência dessa

sacramentalidade é encontrada em Cristo.

O Sacramento da Encarnação

O grande sinal do amor de Deus pelos humanos se visualiza mediante a

Encarnação, pois “Deus amou tanto o mundo que lhe entregou o seu próprio

Filho” (Jo 3,16). A Encarnação aparece já nas primeiras páginas dos

evangelhos como o sinal por excelência do Novo Testamento. Cristo entra na

história humana como "sinal-sacramento".

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Riqueza e dimensão da sacramentalidade de Cristo

A pergunta que podemos levantar aqui é: Quais são os aspectos da

sacramentalidade de Cristo? Por que ele é sinal/sacramento do Pai? Podemos

fornecer três respostas:

Cristo é sacramento pelo seu ser (Ele é Deus).

Cristo é sacramento pela sua atuação (Ele é Deus agindo)

Cristo é sacramento pela sua entrega (Ele é Deus agindo na liberdade)

A IGREJA, SACRAMENTO PRINCIPAL

Se Cristo é o Sacramento Original, a Igreja é o Sacramento principal da

História Salvífica. E devemos entender Igreja não como instituição religiosa,

mas como Corpo Místico de Cristo, como Esposa do Cordeiro (Cf. Ap 21,9).

A Igreja, então, é o sacramento principal de salvação. Jesus nos deixa

uma comunidade de salvação, lhe dá o Espírito Santo para viabilizar esta

salvação a todos. Essa Igreja é uma espécie de prolongamento de Jesus, é o

modo visível do Ressuscitado invisível. Os Sacramentos celebrados são,

assim, os modos visíveis de Cristo se fazer presente (cf. Lc 24,13-35); são a

experiência do Ressuscitado sem podermos vê-lo corporalmente (Cf. Jo 20,

29). Nesse sentido, é urgente resgatarmos a visão de Igreja como Sacramento,

conforme orienta a Constituição Dogmática Lumen Gentium:

Sendo Cristo a Luz dos povos, esse Sacrossanto Sínodo, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente anunciar o Evangelho a toda a criatura (Cf. Mt 16,15) e iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja. E porque a Igreja é em Cristo como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano, ela deseja oferecer a seus fiéis e a todo o mundo um ensinamento mais preciso sobre sua natureza e sua missão universal [...] (LG, n. 01).

O proêmio da Lumen Gentium ilustra a natureza sacramental da própria

Igreja nos seguintes termos:

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A Igreja é sacramento de Cristo.

Ela é Sacramento pela sua atuação no mundo.

Ela é Sacramento pelos seus atos privilegiados (os sete sacramentos),

ou seja, a Igreja celebra a ação de Jesus pelos sete sacramentos.

O PRÓPRIO SER HUMANO É SACRAMENTO

O humano é, por essência, sacramento de Deus, visto que foi criado à

imagem e semelhança de seu Criador (Cf. Gn 1, 26-27). Assim, a própria

criação possui um aspecto sacramental.

O cristão, então, duplamente é sacramental: pela criação e pela

encarnação, ou seja, o cristão é sinal-sacramento de Cristo e da Igreja e, por

isso, os cristãos devem ser sacramento pela sua atuação e pelos sinais que

celebram.

Diante dessa afirmação, surge um sério questionamento: Como as

celebrações devem ser evangelizadoras? Como trabalhamos a ação

evangelizadora em nossas liturgias? Até que ponto os sacramentos são

evangelizadores?

A relação entre a celebração sacramental e a ação evangelizadora pode

ser compreendida em três dimensões:

Dimensão intelectual-teológica.

Dimensão Simbólica.

Dimensão Afetiva.

O que podemos entender em nossa prática evangelizadora é que,

muitas vezes, o entendimento caminha só na dimensão afetiva; o teológico e o

simbólico deixam a desejar por falta de catequese e por um compromisso de

fé. Urge, então, resgatar uma pastoral litúrgico-sacramental que possibilite um

profundo processo de evangelização em todas as suas dimensões.

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A REALIDADE CÓSMICA E SEU VALOR SACRAMENTAL

Todo o cosmos tem uma dimensão cristológica, como nos afirma o hino

cristológico de Paulo: “Ele é a imagem de Deus invisível, o Primogênito de toda

a criação. Nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as criaturas

visíveis e invisíveis. Tronos, dominações, principados e potestades: tudo foi

criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas as coisas

subsistem nele” (Col 1,15-18). A própria criação nos leva a uma ideia de

cristificação de toda a realidade e, por isso, tem um valor sacramental e, nesse

sentido, a nossa responsabilidade em usarmos e nos relacionarmos com a

criação e seus bens.

OS SACRAMENTOS DA IGREJA COMO CONCENTRAÇÃO SIMBÓLICA DE UMA SACRAMENTALIDADE PLURAL

Depois de vermos que toda realidade criada é sacramento do amor de

Deus, podemos nos perguntar novamente: Qual a necessidade, então, dos

sete Sacramentos? Qual a necessidade da ação sacramental da Igreja?

Ora, os Sacramentos da Igreja são como concentração simbólica de

uma sacramentalidade plural; são como catalizadores ou um feixe refratário de

uma sacramentalidade plural. É como se os sete Sacramentos fossem

condensações da sacramentalidade cósmica e, por isso, são importantes e

necessários para a vida cristã.

BÍBLIA: TESTEMUNHO DAS MARAVILHAS DA SALVAÇÃO

A Bíblia é um resumo, um apanhado das maravilhas da salvação divina;

é a experiência do povo com Deus (Cf. Sl 117,1). Israel conhece seu Deus

através das grande obras que realiza na sua história.

Cristo continua as maravilhas de Deus; essas maravilhas, em Jesus,

chegam ao ápice, pois Deus se faz um de nós. O humano, assim, não é

simples expectador: é envolvido nessas maravilhas e é chamado a colaborar

na concretização do plano eterno de salvação.

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A Igreja, como comunidade reunida no nome de Jesus e guiada pelo seu

Espírito é chamada a ser sinal dessas maravilhas e compreende que alguns

meios são importantes para essa missão: os Sacramentos. Nesse sentido, os

Sacramentos são compreendidos como instituídos por Jesus Cristo. Para que

Jesus seja compreendido como o autor dos sacramentos não importa se há

uma clara fundamentação bíblica, mas importa ver a palavra de Jesus ligada

aos gestos e às intenções, isto é, as intenções de Jesus se realizam em suas

palavras e gestos.

SETE SACRAMENTOS: CONDENSAÇÃO DAS MARAVILHAS DA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO

Os grandes temas da História da Salvação desembocam e se tornam

celebração nos Sacramentos. Assim, os sacramentos realizam aqui e agora as

oito tipologias seguintes:

Deus cria

Toda criação é uma ação divina e devemos entender a obra da criação

não como um momento estanque, mas se trata da história inteira. Deus

colocou em nossas mãos o destino da criação: não somos apenas habitantes

da terra, mas co-criadores com Deus. Por isso, cada vez que celebramos um

Sacramento, recriamos o mundo e nos tornamos corresponsáveis pela criação.

Deus chama

Na realidade, Deus não precisa de nenhuma de nós, mas, porque, ama,

“quer” precisar de nós. Nesse gesto de ternura de Deus encontramos a

fundamentação da Teologia da Vocação. Assim, em cada Sacramento que

celebramos, renovamos a nossa vocação. Pelos sacramentos retomamos a

vocação inicial e a vivemos com intensidade.

Deus liberta

A libertação é a grande prerrogativa da História da Salvação. Deus não

nos libertou apenas: Deus nos liberta constantemente. Cada vez que

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celebramos de maneira consciente os sacramentos, estamos celebrando a

libertação.

Deus faz aliança

Um dos temas mais ricos da Bíblia é o tema da aliança. Cada vez que

celebramos um Sacramento, se celebra a aliança eterna com Jesus Cristo.

Deus habita

Deus mora e vive em nós e a esse mistério chamamos de “teologia do

templo”. A habitação de Deus não pode ser compreendida em uma análise

espacial. Jesus afirma que ele é o templo vivo e, por isso, o corpo humano

torna-se habitação de Deus.

Deus santifica

Deus é o Santo por excelência e é ele que santifica. A nossa vocação à

santidade passa também pela celebração dos sacramentos.

Deus envia

Aqui temos a pedagogia da missão, do compromisso. Deus chama e

concede uma missão (Teologia dos Ministérios). Cada sacramento nos confere

uma missão e um serviço.

Deus julga

Julgamento, no senso comum, tem o significado de condenação.

Entretanto, na Teologia julgamento divino significa salvação; julgar é salvar.

Celebrar os sacramentos é entrar no tempo da decisão.

SUBSTRATO ANTROPOLÓGICO DOS SACRAMENTOS

Vimos os Sacramentos do ponto de vista divino. Agora vamos analisá-lo

a partir da realidade humana (substrato antropológico).

Temos uma enorme dificuldade para trabalharmos e nos referirmos ao

mundo simbólico. O símbolo é visto como um tipo de linguagem de segunda

categoria. Trabalhamos muito com o racional e pouco com o afetivo. Nossas

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liturgias têm muito de "cerebral" e pouco de “coração”. Vivemos numa época

intelectualista e somos carentes de afetividade.

Nesse sentido, é importante resgatarmos algumas considerações sobre

o símbolo para, após, refletirmos sobre o aspecto simbólico dos Sacramentos.

Conceito de Símbolo

Etimologicamente falando, símbolo (do grego symballen) significa

“colocar junto”, “articular”, “chegar a um pacto”, “entrar em consenso”. Vejamos

o que alguns ramos do conhecimento nos dizem sobre a realidade dos

símbolos:

Psicologia: considera os símbolos como "mediação" pela qual se

expressa externamente a interioridade subconsciente.

Semiótica: vê o símbolo da palavra num sistema linguístico e os

símbolos são meios de comunicação.

Antropologia: diz que a realidade total só pode ser explicada a partir da

chave simbólica.

Teologia: reconhece que o símbolo é irredutível e insubstituível na

linguagem teológica; o símbolo é também um seguimento da realidade,

que vela e desvela.

Comumente confundimos “símbolo” com “sinal”. Entretanto, há diferenças

entre essas duas realidades:

Sinal: ele representa outra realidade. O sinal é algo visível que indica

algo visível, é algo compreensível que indica algo compreensível.

Símbolo: é aquilo que remete a uma realidade ou conteúdo que não é

absolutamente representável. O símbolo envia a um significado invisível

ou indizível. O símbolo possui uma vertente visível (matéria) e uma

invisível (imaterial/fé).

Se existem diferenças entre o símbolo e o sinal, quais as características

específicas do símbolo?

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Dupla intencionalidade: o símbolo é e, em certo sentido, não é

(Exemplo: a cruz é símbolo da salvação, mas não é a própria salvação).

Dimensão desveladora: o símbolo revela e tem uma dimensão

mistérica. O símbolo me faz chegar ao mistério, mas não é o mistério; o

símbolo revela e se esconde. O verdadeiro símbolo é sempre atual.

Função mediadora: ele une uma realidade material e uma realidade

imaterial, une o visível e o invisível.

Os Sacramentos enquanto Símbolos

Parece-nos estranho falarmos que os Sacramentos são símbolos e isso

se deve ao fato de confundirmos “símbolo” com “sinal”. Ora, se

compreendermos o símbolo a partir da perspectiva exposta acima, ou seja, o

símbolo é a revelação visível de uma realidade invisível, veremos que os

Sacramentos, sim, possuem seu aspecto simbólico. Os sacramentos só têm

sentido quando se referem a uma realidade, que é o Cristo, e, por isso, são

símbolos.

Ora, se o símbolo expressa uma realidade indizível e os Sacramentos

podem ser compreendidos nessa dinâmica, quais são as realidades expressas

pelos Sacramentos?

Expressão da fé: os Sacramentos são expressão de quem deseja

alimentar a sua fé e recriá-la constantemente.

Expressão da fé da Igreja: os sacramentos são lex orandi, lex

credendi, ou seja, do jeito como rezo, eu creio. Assim, a liturgia é o

termômetro da fé da comunidade. A Liturgia é culto a Deus, mas

também o locus theologicus (lugar de se fazer teologia).

Expressão das situações fundamentais da nossa vida:

antropologicamente falando, os momentos fundantes da vida são:

nascimento, morte, família, adolescência, doença, alimentos, etc. Jesus

não inventa situações novas para se fazer presente sacramentalmente,

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mas assume cada uma das situações da humanidade e lhes dá sentido

pleno.

Expressão de unidade e diversidade: a unidade dos sacramentos é

Cristo e a diversidade são as situações da vida humana. E, diante disso,

podemos nos perguntar: Por que não um único sacramento, que é

Cristo? Porque Cristo ultrapassa nossa capacidade de celebração e nos

acompanha em todos os momentos; nesse sentido, precisamos celebrá-

lo como em conta-gotas, pois os sacramentos são uma recapitulações

da História da Salvação. Celebrar os Sacramentos em momentos

fundantes de nossa existência significa celebrar a ação de Deus na

totalidade de nossa história e de nosso ser.

Os Sacramentos são “expressão” porque a sua essência consiste em

mostrar, expressar, revelar o Santo, o Incondicionado, o mistério de Deus.

OS SACRAMENTOS FORAM INSTITUÍDOS POR CRISTO?

Sendo atos salvíficos de Cristo, os Sacramentos são também atos

constitutivos da Igreja. E a pergunta teológica que podemos levantar aqui é: Os

Sacramentos foram instituídos por Cristo ou pela Igreja? Vejamos algumas

considerações.

A Sagrada Escritura não aborda a questão dos Sacramentos como os

entendemos hoje e muito menos traz o número exato de rituais celebrativo. A

consciência da Igreja sobre a definição de Sacramento, sua importância e seu

número vai amadurecendo aos poucos.

A Patrística não formulou o problema da instituição dos Sacramentos

como os entendemos atualmente. Os Santos Padres não se preocupavam em

fundamentar os Sacramentos em Jesus pois isso era evidente, visto que a

Igreja é um prolongamento de Cristo.

A Escolástica, por outro lado, se preocupa em mostrar teologicamente

que os Sacramentos são fundamentados em Cristo. Ora, se os Sacramentos

possuem sua origem em Cristo e foram instituídos por ele, possuem uma

eficácia, produzem salvação e agem em virtude de Cristo.

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Sobre a questão da instituição dos Sacramentos, a Escolástica a analisa

em duas vertentes:

Instituição Imediata: Cristo, pessoalmente, institui os Sete

Sacramentos.

Instituição Mediata: Cristo deixa o "poder" de a Igreja realizar isso

durante a história.

Como sair dessa duplicidade de interpretações? O Concílio de Trento

fechará a questão e dirá que a instituição dos sacramentos é imediata, é Jesus

quem institui os sacramentos ou pela palavra, ou pela intenção ou pelos

gestos.

Todos os sacramentos são instituídos por Cristo, não são mais e nem menos, e se alguém disser que um dos sete não é sacramento, anátema sit. (DS 844).

Entretanto, como dizer que Cristo instituiu os sacramentos sem “provas

bíblicas”, sem textos que fundamentem todos os Sacramentos?

A questão é definir o que se entende por instituição. Santo Tomás de

Aquino afirma que instituir uma realidade significa constituir um sinal sensível

como portador da graça divina e isso só pode ser feito por Cristo. Tomás de

Aquino nos possibilita uma interessante explicação: esta instituição não precisa

ser realizada somente e exclusivamente por palavras, mas é conferida também

por gestos e intenções.

E, diante desse argumento, podemos considerar Jesus não apenas

“fundador” dos Sacramentos, mas também como fundamento dos próprios

Sacramentos, ou seja, sem Jesus não há sacramentos.

POR QUE SETE SACRAMENTOS?

O setenário sacramental somente foi estabelecido de maneira definitiva

e oficial no Concílio de Trento. Quais são os princípios para o número sete?

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Princípio Cristológico: Cristo age de modo diferente nas pessoas:

criança, noivos, padre, doentes, etc. Jesus se adapta às necessidades

humanas, por isso se manifesta de modo diferente e, nesse sentido, a

necessidade da diversidade sacramental.

Princípio Eclesiológico: se a Igreja continua fazendo o que Cristo fez,

continua a acompanhar o ser humano em suas necessidades

específicas de cada tempo e momento.

Princípio Antropológico: o humano percebe a ação de Deus de modo

diferente em cada situação da existência e em cada momento fundante

de sua história percebe a presença de Deus.

Princípio Simbólico: o número sete é a junção de 4 (número dos

“cantos” da terra e, por isso, número da realidade terrestre) e do 3

(número que simboliza a presença de Deus); logo, o sete é o encontro

do divino com o humano e, nesse sentido, é a perfeição, a plenitude.

Assim, percebemos que o problema da Igreja não é matemático, mas é

simbólico.

ENCONTRO PRIVILEGIADO DA GRAÇA E DA LIBERDADE

Vimos os sacramentos como sinal simbólico, Cristo como sinal

fundamental e a Igreja como sacramento. Agora veremos a eficácia simbólica e

a resposta da fé e a grande pergunta que podemos fazer aqui é: Se os

Sacramentos são sinais sensíveis e eficazes da graça e sua “força” provém da

ação do Espírito de Jesus, qual a nossa participação na eficácia sacramental?

Há, sim, uma parcela do humano na ação sacramental, mas não se

pode dizer que a graça de Deus, nos Sacramentos, provém de nós. Não se

pode fazer matemática do que Deus oferece e do que o homem dá. Deus se

entrega totalmente e o homem se oferece a essa entrega plena mediante o ato

de fé. E isso nos demonstra que nossa fé não pode ser totalmente intelectual: a

fé é, igualmente, verdade e vida. Nesse sentido, a fé pode ser vista em três

âmbitos:

Fé de verdades (dimensão intelectual).

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Fé de sinais (dimensão factual).

Fé de confiança (dimensão fiducial).

Ora, se a fé é o ato de crer e de entregar-se ao Senhor, novamente nos

perguntamos: A eficácia dos Sacramentos vem de onde: de Deus ou de nossa

fé? A eficácia vem de Deus, mas para que ela aja é necessária nossa adesão;

tudo é de Deus, mas nós damos a condição para esse tudo. Para que o

sacramento aja e dê frutos, é necessário uma participação frutuosa, ativa e

consciente.

GRAÇA SACRAMENTAL: O QUE É?

A graça não é uma coisa; a graça é o próprio Deus, visto que Deus não

dá coisas, Ele se dá a si mesmo. A graça é Deus e é de Deus e pode se

manifestar em nós de modos diferentes:

Graça santificante: é a graça fundante, é a graça da filiação divina. A

graça de Deus se adapta à realidade humana, que não é única - se

fosse única bastaria o batismo. Deus se adapta a nós, sendo, portanto,

muito criativo. Deus, nos sacramentos, é sempre o mesmo, mas a

realidade com que se dá é diferente.

Graça sacramental: não se trata de outro tipo de graça, mas é o olhar e

a ternura de Deus que se “adaptam” ao nosso momento; é a graça de

Deus que está nos acompanhando em nossos momentos fundantes.

Manifestando-se em nós de modos distintos, a graça de Deus possui as

seguintes dimensões:

Dimensão Trinitária: sendo a Trindade o Deus dos cristãos, conforme

advogava Santo Agostinho, é normal afirmar que essa graça possua

uma dimensão trinitária, ou seja, a graça contém uma experiência da

paternidade, da filiação e do amor de Deus. A graça sacramental é a

forma definitiva da presença agraciadora de Deus.

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Dimensão Pascal: a graça sacramental possui a dimensão pascal, pois

toda graça só é possível a partir do mistério pascal de Jesus Cristo, ou

seja, toda graça é pascal e, sendo assim, é dinâmica, pois o mistério

pascal é dinâmico, é vivido. O mistério pascal é uma atualização

permanente da vida de Jesus em nós.

Dimensão Pneumatológica: Sem o Espírito Santo, é impossível fazer a

experiência de Deus.

Dimensão Eclesiológica: a graça sacramental tem uma vertente co-

implicativa, ou seja, é a dimensão eclesiológica da graça sacramental. É

na comunidade que Jesus se faz presente. Precisamos de comunidade

para celebrar a ação de Deus na história.

O CARÁTER SACRAMENTAL

O que está em discussão nesse item é a ideia de que os Sacramentos

imprimem nos cristãos um caráter. Ora, não podemos negar que carregamos

em nós uma marca divina, pois somos marcados pelo amor. Porém, a reflexão

sobre a marca de Deus mediante as celebrações sacramentais começaram a

ser formuladas por Santo Agostinho. A palavra caráter vem do grego sfragis e

significa irrepetível.

Mas o que significa realmente dizer que os Sacramentos imprimem

caráter na vida do fiel? Quais as dimensões dessa afirmação?

Dimensão Ontológica: o caráter tem algo de ontológico, “mexe” com as

estruturas de nosso ser, visto que se estabelece em vista de uma

consagração. Sob este ponto de vista ontológico, ele é irrepetível,

indelével e para sempre.

Dimensão da Gratuidade: o caráter é um dom de Deus.

Dimensão Cúltica: o caráter tem um a dimensão de culto, de entrega.

Dimensão Missionária: o caráter é dado para cumprir uma missão

recebida.

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A RESPOSTA DE FÉ: ELEMENTO CONSTITUTIVO DO SACRAMENTO

O que se pede para celebrar os sacramentos? A fé.

A primeira coisa que se pede ao ministro que preside o Sacramento é

fazer o que a Igreja deseja fazer, é fazer o que a Igreja faz. Compete ao

ministro, então, a fé, e com a fé está presente a “reta intenção” e isso porque

os Sacramentos são celebrados dentro do contexto eclesial (não existe

Sacramento realizado individualmente)

Ao fiel cabe trabalhar a sua fé como integração na comunidade eclesial

e criar condições favoráveis para celebrar bem, celebrar consciente, frutuosa e

ativamente.

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PARTE II

SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO

CRISTÃ

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OS SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ 1

1212. Através dos sacramentos da iniciação cristã - Batismo, Confirmação e

Eucaristia - são lançados os alicerces de toda a vida cristã. A participação na

natureza divina, dada aos homens pela graça de Cristo, comporta uma certa

analogia com a origem, crescimento e sustento da vida natural. Nascidos para

uma vida nova pelo Batismo, os fiéis são efetivamente fortalecidos pelo

sacramento da Confirmação e recebem na Eucaristia o alimento da vida eterna

Assim, por estes sacramentos da iniciação cristã eles recebem cada vez mais

riquezas da vida divina e avançam para a perfeição da caridade.

O SACRAMENTO DO BATISMO

1213. O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, o pórtico da vida

no Espírito e a porta que dá acesso aos outros sacramentos. Pelo Batismo

somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus: tornamo-nos

membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na

sua missão.

I. Como se chama este sacramento?

1214. Chama-se Batismo, por causa do rito central com que se realiza: batizar

(baptizein, em grego) significa “mergulhar”, “imergir”. A “imersão” na água

simboliza a sepultura do catecúmeno na morte de Cristo, de onde sai pela

ressurreição com Ele como “nova criatura” (2 Cor 5, 17; Gl 6, 15).

1215. Este sacramento é também chamado “banho da regeneração e da

renovação no Espírito Santo” (Tt 3,5) porque significa e realiza aquele

nascimento da água e do Espírito, sem o qual “ninguém pode entrar no Reino

de Deus” (Jo 3, 5).

1216. Este banho é chamado iluminação, porque aqueles que recebem este

ensinamento [catequético] ficam com o espírito iluminado. Tendo recebido no

Batismo o Verbo, “luz verdadeira que ilumina todo o homem” (Jo 1, 9), o

1 Catecismo da Igreja Católica. Números 1212-1405.

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batizado, depois de ter sido iluminado, tornou-se “filho da luz” e ele próprio “luz”

(Ef 5, 8).

II. O Batismo na Economia da Salvação

AS PREFIGURAÇÕES DO BATISMO NA ANTIGA ALIANÇA

1217. Na liturgia da Vigília Pascal, quando da bênção da água batismal, a

Igreja faz solenemente memória dos grandes acontecimentos da história da

salvação que prefiguravam já o mistério do Batismo:

1218. Desde o princípio do mundo, a água, esta criatura humilde e admirável, é

a fonte da vida e da fecundidade. A Sagrada Escritura vê-a como “incubada”

pelo Espírito de Deus.

1219. A Igreja viu na arca de Noé uma prefiguração da salvação pelo Batismo.

Com efeito, graças a ela, “um pequeno grupo, ao todo oito pessoas, foram

salvas pela água” (1Pd 3, 20)

1220. Se a água de nascente simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da

morte. Por isso é que podia prefigurar o mistério da cruz. E por este

simbolismo, o Batismo significa a comunhão com a morte de Cristo.

1221. É sobretudo a travessia do Mar Vermelho, verdadeira libertação de Israel

da escravidão do Egito, que anuncia a libertação operada pelo Batismo.

1222. Finalmente, o Batismo é prefigurado na travessia do Jordão, graças à

qual o povo de Deus recebe o dom da terra prometida à descendência de

Abraão, imagem da vida eterna. A promessa desta herança bem-aventurada

cumpre-se na Nova Aliança.

O BATISMO DE CRISTO

1223. Todas as prefigurações da Antiga Aliança encontram a sua realização

em Jesus Cristo. Ele começa a sua vida pública depois de Se ter feito batizar

por São João Baptista no Jordão. E depois da sua ressurreição, confere esta

missão aos Apóstolos: “Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações; batizai-

os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinai-os a cumprir tudo

quanto vos mandei” (Mt 28, 19-20).

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1224. Nosso Senhor sujeitou-se voluntariamente ao Batismo de São João,

destinado aos pecadores, para cumprir toda a justiça. Este gesto de Jesus é

uma manifestação do seu aniquilamento. O Espírito que pairava sobre as

águas da primeira criação, desce então sobre Cristo como prelúdio da nova

criação e o Pai manifesta Jesus como seu Filho muito amado.

1225. Foi na sua Páscoa que Cristo abriu a todos os homens as fontes do

Batismo. De fato, Ele já tinha falado da sua paixão, que ia sofrer em Jerusalém,

como dum batismo com que devia ser batizado. O sangue e a água que

manaram do lado aberto de Jesus crucificado são tipos do Batismo e da

Eucaristia, sacramentos da vida nova: desde então é possível “nascer da água

e do Espírito” para entrar no Reino de Deus (Jo 3, 5).

O BATISMO NA IGREJA

1226. Desde o dia de Pentecostes que a Igreja vem celebrando e

administrando o santo Batismo. Com efeito, São Pedro declara à multidão,

abalada pela sua pregação: “convertei-vos e peça cada um de vós o Batismo

em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis

então o dom do Espírito Santo” (At 2,38). Os Apóstolos e os seus

colaboradores oferecem o Batismo a quem quer que acredite em Jesus:

judeus, pessoas tementes a Deus, pagãos. O Batismo aparece sempre ligado à

fé: “Acredita no Senhor Jesus e serás salvo juntamente com a tua família”,

declara São Paulo ao seu carcereiro em Filipos. E a narrativa continua: “o

carcereiro [...] logo recebeu o Batismo, juntamente com todos os seus” (At 16,

31-33).

1227. Segundo o apóstolo São Paulo, pelo Batismo o crente comunga na morte

de Cristo; é sepultado e ressuscita com Ele (Cf. Rm 6,3-4).

1228. O Batismo é, pois, um banho de água, no qual a semente incorruptível

da Palavra de Deus produz o seu efeito vivificador.

III. Como se celebra o sacramento do Batismo?

A INICIAÇÃO CRISTÃ

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1229. Desde o tempo dos Apóstolos que tornar-se cristão requer um caminho e

uma iniciação com diversas etapas. Este itinerário pode ser percorrido rápida

ou lentamente. Mas deverá sempre incluir certos elementos essenciais: o

anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho que implica a conversão, a

profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à comunhão

eucarística.

1230. Esta iniciação tem variado muito no decurso dos séculos e segundo as

circunstâncias. Nos primeiros séculos da Igreja, a iniciação cristã conheceu

grande desenvolvimento, com um longo período de catecumenato e uma série

de ritos preparatórios que escalonavam liturgicamente o caminho da

preparação catecumenal, desembocando na celebração dos sacramentos da

iniciação cristã.

1231. Nas regiões onde o Batismo das crianças se tomou largamente a forma

habitual da celebração deste sacramento, esta transformou-se num ato único,

que integra, de um modo muito abreviado, as etapas preliminares da iniciação

cristã. Pela sua própria natureza, o Baptismo das crianças exige um

catecumenato pós-batismal. Não se trata apenas da necessidade duma

instrução posterior ao Batismo, mas do desenvolvimento necessário da graça

batismal no crescimento da pessoa. É o espaço próprio da catequese.

1232. O Concílio do Vaticano II restaurou, para a Igreja latina, o catecumenato

dos adultos, distribuído em várias fases.

1233. Hoje em dia, portanto, em todos os ritos latinos e orientais, a iniciação

cristã dos adultos começa com a sua entrada no catecumenato, para atingir o

ponto culminante na celebração única dos três sacramentos, Batismo,

Confirmação e Eucaristia. Nos ritos orientais, a iniciação cristã das crianças na

infância começa no Batismo, seguido imediatamente da Confirmação e da

Eucaristia, enquanto no rito romano a mesma iniciação prossegue durante os

anos de catequese, para terminar, mais tarde, com a Confirmação e a

Eucaristia, ponto culminante da sua iniciação cristã.

A MISTAGOGIA DA CELEBRAÇÃO

1234. O sentido e a graça do sacramento do Batismo aparecem claramente

nos ritos da sua celebração. Seguindo, com participação atenta, os gestos e as

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palavras desta celebração, os fiéis são iniciados nas riquezas que este

sacramento significa e realiza em cada novo batizado.

1235. O sinal da cruz, no princípio da celebração, manifesta a marca de Cristo

impressa naquele que vai passar a pertencer-lhe, e significa a graça da

redenção que Cristo nos adquiriu pela sua cruz.

1236. O anúncio da Palavra de Deus ilumina com a verdade revelada os

candidatos e a assembleia e suscita a resposta da fé, inseparável do Batismo.

Na verdade, o Baptismo é, de modo particular, o sacramento da fé, uma vez

que é a entrada sacramental na vida da fé.

1237. E porque o Batismo significa a libertação do pecado e do diabo, seu

instigador, pronuncia-se sobre o candidato um ou vários exorcismos. Ele é

ungido com o óleo dos catecúmenos ou, então, o celebrante impõe-lhe a mão e

ele renuncia expressamente a Satanás. Assim preparado, pode professar a fé

da Igreja, à qual será confiado pelo Batismo.

1238. A água batismal é então consagrada por uma oração de epiclese (ou no

próprio momento ou na Vigília Pascal). A Igreja pede a Deus que, pelo seu

Filho, o poder do Espírito Santo desça a esta água, para que os que nela forem

batizados “nasçam da água e do Espírito” (Jo 3, 5).

1239. Segue-se o rito essencial do sacramento: o batismo propriamente dito,

que significa e realiza a morte para o pecado e a entrada na vida da Santíssima

Trindade, através da configuração com o mistério pascal de Cristo. O Batismo

é realizado, do modo mais significativo, pela tríplice imersão na água batismal;

mas, desde tempos antigos, pode também ser conferido derramando por três

vezes água sobre a cabeça do candidato.

1240. Na Igreja latina, esta tríplice infusão é acompanhada pelas palavras do

ministro: “N., eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Nas

liturgias orientais, estando o catecúmeno voltado para o Oriente, o sacerdote

diz: “O servo de Deus N. é batizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito

Santo”; e à invocação de cada pessoa da Santíssima Trindade, mergulha-o e

retira-o da água.

1241. A unção com o santo crisma, óleo perfumado que foi consagrado pelo

bispo, significa o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Ele tornou-se

cristão, quer dizer, “ungido” pelo Espírito Santo, incorporado em Cristo, que foi

ungido sacerdote, profeta e rei.

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1243. A veste branca simboliza que o batizado se revestiu de Cristo:

ressuscitou com Cristo. A vela, acesa no círio pascal, significa que Cristo

iluminou o neófito. Em Cristo, os batizados são “a luz do mundo” (Mt 5, 14)

1245. A celebração do Baptismo conclui-se com a bênção solene. Quando do

Batismo de recém-nascidos, a bênção da mãe ocupa um lugar especial.

IV. Quem pode receber o Batismo?

1246. Todo o ser humano ainda não batizado – e só ele – é capaz de receber o

Batismo.

O BATISMO DOS ADULTOS

1247. Desde os princípios da Igreja, o Batismo dos adultos é a situação mais

corrente nas terras onde o anúncio do Evangelho ainda é recente. O

catecumenato (preparação para o Batismo) tem, nesse caso, um lugar

importante; sendo iniciação na fé e na vida cristã, deve dispor para o

acolhimento do dom de Deus no Batismo, Confirmação e Eucaristia.

O BATISMO DAS CRIANÇAS

1250. Nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado

original, as crianças também têm necessidade do novo nascimento no Batismo

para serem libertas do poder das trevas e transferidas para o domínio da

liberdade dos filhos de Deus, a que todos os homens são chamados. A pura

gratuidade da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das

crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam a criança da graça inestimável

de se tornar filho de Deus se não lhe conferissem o Batismo pouco depois do

seu nascimento.

1251. Os pais cristãos reconhecerão que esta prática corresponde, também, ao

seu papel de sustentar a vida que Deus lhes confiou.

1252. A prática de batizar as crianças é tradição imemorial da Igreja.

Explicitamente atestada desde o século II, é, no entanto, bem possível que,

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desde o princípio da pregação apostólica, quando casas inteiras receberam o

Batismo se tenham batizado também as crianças.

FÉ E BATISMO

1253. O Batismo é o sacramento da fé. Mas a fé tem necessidade da

comunidade dos crentes. Só na fé da Igreja é que cada um dos fiéis pode crer.

A fé que se requer para o Batismo não é uma fé perfeita e amadurecida, mas

um princípio chamado a desenvolver-se. Ao catecúmeno ou ao seu padrinho

pergunta-se: “Que pedis à Igreja de Deus?” E ele responde: “A fé!”.

1254. Em todos os batizados, crianças ou adultos, a fé deve crescer depois do

Batismo. É por isso que a Igreja celebra todos os anos, na Vigília Pascal, a

renovação das promessas do Batismo. A preparação para o Batismo conduz

apenas ao umbral da vida nova. O Batismo é a fonte da vida nova em Cristo,

donde jorra toda a vida cristã.

1255. Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda

dos pais. Esse é também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser

pessoas de fé sólida, capazes e preparados para ajudar o novo batizado,

criança ou adulto, no seu caminho de vida cristã. O seu múnus é um verdadeiro

ofício eclesial. Toda a comunidade eclesial tem uma parte de responsabilidade

no desenvolvimento e na defesa da graça recebida no Batismo.

V. Quem pode batizar?

1256. São ministros ordinários do Batismo o bispo e o presbítero, e, na Igreja

latina, também o diácono. Em caso de necessidade, qualquer pessoa, mesmo

não batizada, desde que tenha a intenção requerida, pode batizar utilizando a

fórmula batismal trinitária. A intenção requerida é a de querer fazer o que faz a

Igreja quando batiza. A Igreja vê a razão desta possibilidade na vontade

salvífica universal de Deus e na necessidade do Batismo para a salvação.

VI. A necessidade do Batismo

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1257. O próprio Senhor afirma que o Batismo é necessário para a salvação.

Por isso, ordenou aos seus discípulos que anunciassem o Evangelho e

batizassem todas as nações. O Batismo é necessário para a salvação de todos

aqueles a quem o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de

pedir este sacramento. A Igreja não conhece outro meio senão o Batismo para

garantir a entrada na bem-aventurança eterna. Por isso, tem cuidado em não

negligenciar a missão que recebeu do Senhor de fazer renascer da água e do

Espírito todos os que podem ser batizados. Deus ligou a salvação ao

sacramento do Batismo; mas Ele próprio não está prisioneiro dos seus

sacramentos.

1258. Desde sempre, a Igreja tem a firme convicção de que aqueles que

sofrem a morte por causa da fé, sem terem recebido o Batismo, são batizados

pela sua morte por Cristo e com Cristo. Este Batismo de sangue, tal como o

desejo do Batismo ou Batismo de desejo, produz os frutos do Batismo, apesar

de não ser sacramento.

1259. Para os catecúmenos que morrem antes do Batismo, o seu desejo

explícito de o receber, unido ao arrependimento dos seus pecados e à

caridade, garante-lhes a salvação, que não puderam receber pelo sacramento.

1261. Quanto às crianças que morrem sem Batismo, a Igreja não pode senão

confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito do respectivo funeral. De

fato, a grande misericórdia de Deus, “que quer que todos os homens se

salvem” (1 Tm 2, 4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que O levou a

dizer: “Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis” (Mc 10, 14), permitem-

nos esperar que haja um caminho de salvação para as crianças que morrem

sem Batismo. Por isso, é mais premente ainda o apelo da Igreja a que não se

impeçam as criancinhas de virem a Cristo, pelo dom do santo Batismo.

VII. A graça do Batismo

1262. Os diferentes efeitos do Batismo são significados pelos elementos

sensíveis do rito sacramental. A imersão na água evoca os simbolismos da

morte e da purificação, mas também da regeneração e da renovação. Os dois

efeitos principais são, pois, a purificação dos pecados e o novo nascimento no

Espírito Santo.

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PARA A REMISSÃO DOS PECADOS

1263. Pelo Batismo todos os pecados são perdoados: o pecado original e todos

os pecados pessoais, bem como todas as penas devidas ao pecado. Com

efeito, naqueles que foram regenerados, nada resta que os possa impedir de

entrar no Reino de Deus: nem o pecado de Adão, nem o pecado pessoal, nem

as consequências do pecado, das quais a mais grave é a separação de Deus.

UMA NOVA CRIATURA

1265 O Batismo não somente purifica de todos os pecados, como faz também

do neófito uma nova criatura, um filho adotivo de Deus, tornado participante da

natureza divina, membro de Cristo e co-herdeiro com Ele, templo do Espírito

Santo.

1266. A Santíssima Trindade confere ao batizado a graça santificante, a graça

da justificação, que a) o torna capaz de crer em Deus, esperar n'Ele e O amar,

pelas virtudes teologais; b) lhe dá o poder de viver e agir sob a moção do

Espírito Santo e pelos dons do Espírito Santo; c) lhe permite crescer no bem,

pelas virtudes morais. Assim, todo o organismo da vida sobrenatural do cristão

tem a sua raiz no santo Batismo.

INCORPORADOS NA IGREJA, CORPO DE CRISTO

1267. O Batismo faz de nós membros do corpo de Cristo. “Desde então [...],

somos nós membros uns dos outros” (Ef 4, 25). O Batismo incorpora na Igreja.

Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da Nova Aliança, que

ultrapassa todos os limites naturais ou humanos das nações, das culturas, das

raças e dos sexos: “Por isso é que todos nós fomos batizados num só Espírito,

para formarmos um só corpo” (1Cor 12, 13).

1268. Os batizados tornaram-se pedras vivas para “a edificação dum edifício

espiritual, para um sacerdócio santo” (1Pd 2, 5). Pelo Batismo, participam no

sacerdócio de Cristo, na sua missão profética e real, são “raça eleita,

sacerdócio de reis, nação santa, povo que Deus tornou seu”, para anunciar os

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louvores d'Aquele que os “chamou das trevas à sua luz admirável” (1Pd 2, 9).

O Batismo confere a participação no sacerdócio comum dos fiéis.

1269. Feito membro da Igreja, o batizado já não se pertence a si próprio, mas

Àquele que morreu e ressuscitou por nós. A partir daí, é chamado a submeter-

se aos outros, a servi-los na comunhão da Igreja, a ser “obediente e dócil” aos

chefes da Igreja e a considerá-los com respeito e afeição. Assim como o

Batismo é fonte de responsabilidade e deveres, assim também o batizado goza

de direitos no seio da Igreja: direito a receber os sacramentos, a ser alimentado

com a Palavra de Deus e a ser apoiado com outras ajudas espirituais da Igreja.

1270. Os batizados, regenerados [pelo Baptismo] para serem filhos de Deus,

devem confessar diante dos homens a fé que de Deus receberam por meio da

Igreja e participar na atividade apostólica e missionária do povo de Deus.

O VÍNCULO SACRAMENTAL DA UNIDADE DOS CRISTÃOS

1271. O Batismo constitui o fundamento da comunhão entre todos os cristãos,

mesmo com aqueles que ainda não estão em plena comunhão com a Igreja

Católica

UMA MARCA ESPIRITUAL INDELÉVEL

1272. Incorporado em Cristo pelo Batismo, o batizado é configurado com

Cristo. O Batismo marca o cristão com um selo espiritual indelével

(“charactere”) da sua pertença a Cristo. Esta marca não é apagada por nenhum

pecado, embora o pecado impeça o Batismo de produzir frutos de salvação.

Ministrado uma vez por todas, o Batismo não pode ser repetido.

1273. Incorporados na Igreja pelo Batismo, os fiéis receberam o caráter

sacramental que os consagra para o culto religioso cristão. O selo batismal

capacita e compromete os cristãos a servir a Deus mediante uma participação

viva na santa liturgia da Igreja, e a exercer o seu sacerdócio batismal pelo

testemunho duma vida santa e duma caridade eficaz.

1274. O “selo do Senhor” é o selo com que o Espírito Santo nos marcou “para

o dia da redenção” (Ef 4, 30). O Batismo é, efetivamente, o selo da vida eterna.

O fiel que tiver guardado o selo até ao fim, quer dizer, que tiver permanecido

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fiel às exigências do seu Batismo, poderá partir marcado pelo sinal da fé, com

a fé do seu Batismo, na expectativa da visão bem-aventurada de Deus –

consumação da fé – e na esperança da ressurreição.

O SACRAMENTO DA CONFIRMAÇÃO

1285. Com o Batismo e a Eucaristia, o sacramento da Confirmação constitui o

conjunto dos sacramentos da iniciação cristã, cuja unidade deve ser

salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste

sacramento é necessária para a plenitude da graça batismal. Com efeito, os

batizados pelo sacramento da Confirmação são mais perfeitamente vinculados

à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo

ficam mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e

obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo.

I. A Confirmação na economia da salvação

1286. No Antigo Testamento, os profetas anunciaram que o Espírito do Senhor

repousaria sobre o Messias esperado, em vista da sua missão salvífica. A

descida do Espírito Santo sobre Jesus, quando do seu batismo por João, foi o

sinal de que era Ele o que havia de vir, de que era o Messias, o Filho de Deus.

Concebido pelo poder do Espírito Santo, toda a sua vida e toda a sua missão

se realizam numa comunhão total com o mesmo Espírito Santo, que o Pai Lhe

dá “sem medida” (Jo 3, 34).

1287. Ora, esta plenitude do Espírito não devia permanecer unicamente no

Messias: devia ser comunicada a todo o povo messiânico. Repetidas vezes

Cristo prometeu esta efusão do Espírito promessa que cumpriu, primeiro no dia

de Páscoa e depois, de modo mais esplêndido, no dia de Pentecostes. Cheios

do Espírito Santo, os Apóstolos começaram a proclamar “as maravilhas de

Deus” (At 2, 11) e Pedro declarou que esta efusão do Espírito era o sinal dos

tempos messiânicos. Aqueles que então acreditaram na pregação apostólica, e

se fizeram batizar, receberam, por seu turno, o dom do Espírito Santo.

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1288. A partir de então, os Apóstolos, para cumprirem a vontade de Cristo,

comunicaram aos neófitos, pela imposição das mãos, o dom do Espírito para

completar a graça do Baptismo. É por isso que, na Epístola aos Hebreus, se

menciona, entre os elementos da primeira instrução cristã, a doutrina sobre os

Batismos e também sobre a imposição das mãos. A imposição das mãos é

justificadamente reconhecida, pela Tradição católica, como a origem do

sacramento da Confirmação que, de certo modo, perpetua na Igreja a graça do

Pentecostes.

1289. Bem cedo, para melhor significar o dom do Espírito Santo, se

acrescentou à imposição das mãos uma unção com óleo perfumado (crisma).

Esta unção ilustra o nome de “cristão”, que significa “ungido” e que vai buscar a

sua origem ao próprio nome de Cristo, aquele que “Deus ungiu com o Espírito

Santo” (At 10, 38). E este rito da unção mantém-se até aos nossos dias, tanto

no Oriente como no Ocidente.

II. Os sinais e o rito da Confirmação

1293. No rito deste sacramento, convém considerar o sinal da unção e o que

essa unção designa e imprime: o selo espiritual.

1294. Todos estes significados da unção com óleo se reencontram na vida

sacramental. A unção antes do Batismo, com o óleo dos catecúmenos, significa

purificação e fortalecimento; a unção dos enfermos exprime cura e conforto. A

unção com o santo crisma depois do Batismo, na Confirmação e na

Ordenação, é sinal duma consagração. Pela Confirmação, os cristãos, quer

dizer, os que são ungidos, participam mais na missão de Jesus Cristo e na

plenitude do Espírito Santo de que Ele está repleto, a fim de que toda a sua

vida espalhe o bom odor de Cristo.

1295. Por esta unção, o confirmando recebe a marca, o selo do Espírito Santo.

O selo é o símbolo da pessoa, sinal da sua autoridade, da sua propriedade

sobre um objeto. Era assim que se marcavam os soldados com o selo do seu

chefe e também os escravos com o do seu dono. O selo autentica um ato

jurídico ou um documento e, eventualmente, torna-o secreto.

1296. O próprio Cristo se declara marcado com o selo do Pai. O cristão

também está marcado com um selo: “Foi Deus que nos concedeu a unção, nos

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marcou também com o seu selo e depôs as arras do Espírito em nossos

corações” (2Cor 1, 21-22). Este selo do Espírito Santo marca a pertença total a

Cristo, a entrega para sempre ao seu serviço, mas também a promessa da

proteção divina na grande prova escatológica.

A CELEBRAÇÃO DA CONFIRMAÇÃO

1297. Um momento importante que precede a celebração da Confirmação, mas

que, de certo modo, faz parte dela, é a consagração do santo crisma. É o bispo

que, em Quinta-Feira Santa, no decorrer da missa crismal, consagra o santo

crisma para toda a sua diocese.

1298. Quando a Confirmação é celebrada separadamente do Batismo, como

acontece no rito romano, a Liturgia do sacramento começa pela renovação das

promessas do Batismo e pela profissão de fé dos confirmandos. Assim se

evidencia claramente que a Confirmação se situa na continuação do Batismo.

No caso do Batismo dum adulto, este recebe imediatamente a Confirmação e

participa na Eucaristia.

1299. No rito romano, o bispo estende as mãos sobre o grupo dos

confirmandos, gesto que, desde o tempo dos Apóstolos, é sinal do dom do

Espírito.

1300. Segue-se o rito essencial do sacramento. No rito latino, o sacramento da

Confirmação é conferido pela unção do santo crisma sobre a fronte, feita com a

imposição da mão, e por estas palavras: Recebe por este sinal o Espírito

Santo, o Dom de Deus.

1301. O ósculo da paz, com que termina o rito do sacramento, significa e

manifesta a comunhão eclesial com o bispo e com todos os fiéis.

III. Os efeitos da Confirmação

1302. Ressalta desta celebração que o efeito do sacramento da Confirmação é

uma efusão especial do Espírito Santo, tal como outrora foi concedida aos

Apóstolos, no dia de Pentecostes.

1303. Por esse fato, a Confirmação proporciona crescimento e aprofundamento

da graça baptismal

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1304. Tal como o Batismo, de que é a consumação, a Confirmação é dada

uma só vez. Com efeito, a Confirmação imprime na alma uma marca espiritual

indelével, o carácter, que é sinal de que Jesus Cristo marcou um cristão com o

selo do seu Espírito, revestindo-o da fortaleza do Alto, para que seja sua

testemunha.

1305. O carácter aperfeiçoa o sacerdócio comum dos fiéis, recebido no

Batismo, e o confirmado recebe a força de confessar a fé de Cristo

publicamente e como em virtude dum encargo oficial.

IV. Quem pode receber este sacramento?

1306. Todo o batizado ainda não confirmado pode e deve receber o

sacramento da Confirmação. Uma vez que Batismo, Confirmação e Eucaristia

formam uma unidade, segue-se que os fiéis têm obrigação de receber este

sacramento no tempo devido, porque, sem a Confirmação e a Eucaristia, o

sacramento do Batismo é, sem dúvida, válido e eficaz, mas a iniciação cristã

fica incompleta.

1307. O costume latino, desde há séculos, aponta a idade da discrição como

ponta de referência para se receber a Confirmação. Em perigo de morte,

porém, devem confirmar-se as crianças, mesmo que ainda não tenham atingido

a idade da discrição.

1308. Se por vezes se fala da Confirmação como sacramento da maturidade

cristã, não deve, no entanto, confundir-se a idade adulta da fé com a idade

adulta do crescimento natural, nem esquecer-se que a graça batismal é uma

graça de eleição gratuita e imerecida, que não precisa duma ratificação para se

tornar efetiva.

1309. A preparação para a Confirmação deve ter por fim conduzir o cristão a

uma união mais íntima com Cristo e a uma familiaridade mais viva com o

Espírito Santo, com a sua ação, os seus dons e os seus apelos, para melhor

assumir as responsabilidades apostólicas da vida cristã. Desse modo, a

catequese da Confirmação deve esforçar-se por despertar o sentido de

pertença à Igreja de Jesus Cristo, tanto à Igreja universal como à comunidade

paroquial. Esta última tem uma responsabilidade particular na preparação dos

confirmandos.

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1310. Para receber a Confirmação é preciso estar em estado de graça.

Convém recorrer ao sacramento da Penitência para ser purificado, em vista do

dom do Espírito Santo. E uma oração mais intensa deve preparar para receber

com docilidade e disponibilidade a força e as graças do Espírito Santo.

1311. Tanto para a Confirmação, como para o Batismo, convém que os

candidatos procurem a ajuda espiritual dum padrinho ou de uma madrinha. É

conveniente que seja o mesmo do Batismo, para marcar bem a unidade dos

dois sacramentos.

V. O ministro da Confirmação

1312. O ministro originário da Confirmação é o bispo.

1313. No rito latino, o ministro ordinário da Confirmação é o bispo. Mesmo que

o bispo possa, em caso de necessidade, conceder a presbíteros a faculdade de

administrar a Confirmação, é conveniente que seja ele mesmo a conferi-la, não

se esquecendo de que foi por esse motivo que a celebração da Confirmação foi

separada, no tempo, da do Batismo. Os bispos são os sucessores dos

Apóstolos e receberam a plenitude do sacramento da Ordem. A administração

deste sacramento feita por eles realça que ele tem como efeito unir mais

estreitamente aqueles que o recebem à Igreja, às suas origens apostólicas e à

sua missão de dar testemunho de Cristo.

1314. Se um cristão estiver em perigo de morte, qualquer sacerdote pode

conferir-lhe a Confirmação. De fato, é vontade da Igreja que nenhum dos seus

filhos, mesmo pequenino, parta deste mundo sem ter sido levado à perfeição

pelo Espírito Santo com o dom da plenitude de Cristo.

O SACRAMENTO DA EUCARISTIA

1322. A sagrada Eucaristia completa a iniciação cristã. Aqueles que foram

elevados à dignidade do sacerdócio real pelo Batismo e configurados mais

profundamente com Cristo pela Confirmação, esses, por meio da Eucaristia,

participam, com toda a comunidade, no próprio sacrifício do Senhor.

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1323. O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o

sacrifício eucarístico do seu corpo e sangue, para perpetuar pelo decorrer dos

séculos, até voltar, o sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada,

o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de

unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma

se enche de graça e nos é dado o penhor da glória futura.

I. A Eucaristia – fonte e cume da vida eclesial

1324. A Eucaristia é fonte e cume de toda a vida cristã. Os restantes

sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e obras de

apostolado, estão vinculados com a sagrada Eucaristia e a ela se ordenam.

Com efeito, na santíssima Eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da

Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa.

1325. A comunhão de vida com Deus e a unidade do povo de Deus, pelas

quais a Igreja é o que é, são significados e realizados pela Eucaristia. Nela se

encontra o cume, ao mesmo tempo, da ação pela qual Deus, em Cristo,

santifica o mundo, e do culto que no Espírito Santo os homens prestam a Cristo

e, por Ele, ao Pai.

1326. Enfim, pela celebração eucarística, unimo-nos desde já à Liturgia do céu

e antecipamos a vida eterna, quando “Deus for tudo em todos” (1Cor 15,18).

1327. Em síntese, a Eucaristia é o resumo e a súmula da nossa fé: A nossa

maneira de pensar está de acordo com a Eucaristia: e, por sua vez, a

Eucaristia confirma a nossa maneira de pensar.

II. Como se chama este sacramento?

1328. A riqueza inesgotável deste sacramento exprime-se nos diferentes

nomes que lhe são dados. Cada um destes nomes evoca alguns dos seus

aspectos. Chama-se: Eucaristia, porque é ação de graças a Deus. As palavras

“eucharistein” (Lc 22, 19; 1Cor 11, 24) e “eulogein” (Mt 26,26; Mc 14,22)

lembram as bênçãos judaicas que proclamam – sobretudo durante a refeição –

as obras de Deus: a criação, a redenção e a santificação.

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1329. Ceia do Senhor, porque se trata da ceia que o Senhor comeu com os

discípulos na véspera da sua paixão e da antecipação do banquete nupcial do

Cordeiro na Jerusalém celeste.

Fração do Pão, porque este rito, próprio da refeição dos judeus, foi utilizado

por Jesus quando abençoava e distribuía o pão como chefe de família,

sobretudo aquando da última ceia. É por este gesto que os discípulos O

reconhecerão depois da sua ressurreição e é com esta expressão que os

primeiros cristãos designarão as suas assembleias eucarísticas. Querem com

isso significar que todos os que comem do único pão partido, Cristo, entram em

comunhão com Ele e formam um só corpo n'Ele.

Assembleia eucarística (“sýnaxis”), porque a Eucaristia é celebrada em

assembleia de fiéis, expressão visível da Igreja.

1330. Memorial da paixão e ressurreição do Senhor.

Santo Sacrifício, porque atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador e inclui a

oferenda da Igreja; ou ainda santo Sacrifício da Missa, “Sacrifício de louvor”

(Hb 13,15), Sacrifício espiritual, Sacrifício puro e santo, pois completa e

ultrapassa todos os sacrifícios da Antiga Aliança.

Santa e divina Liturgia, porque toda a liturgia da Igreja encontra o seu centro

e a sua expressão mais densa na celebração deste sacramento; no mesmo

sentido se lhe chama também celebração dos Santos Mistérios. Fala-se

igualmente do Santíssimo Sacramento, porque é o sacramento dos

sacramentos. E, com este nome, se designam as espécies eucarísticas

guardadas no sacrário.

1331. Comunhão, pois é por este sacramento que nos unimos a Cristo, o qual

nos torna participantes do seu corpo e do seu sangue, para formarmos um só

corpo; chama-se ainda as coisas santas (“tà hágia”; “sancta”) – é o sentido

primário da comunhão dos santos de que fala o Símbolo dos Apóstolos – , pão

dos anjos, pão do céu, remédio da imortalidade, viático.

1332. Santa Missa, porque a liturgia em que se realiza o mistério da salvação

termina com o envio dos fiéis (“missio”), para que cumpram a vontade de Deus

na sua vida quotidiana.

III. A Eucaristia na economia da salvação

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OS SINAIS DO PÃO E DO VINHO

1333. No centro da celebração da Eucaristia temos o pão e o vinho que, pelas

palavras de Cristo e pela invocação do Espírito Santo, se tornam o corpo e o

sangue do mesmo Cristo. Fiel à ordem do Senhor, a Igreja continua a fazer, em

memória d'Ele e até à sua vinda gloriosa, o que Ele fez na véspera da sua

paixão: “Tomou o pão...”, “Tomou o cálice com vinho...”. Tornando-se

misteriosamente o corpo e o sangue de Cristo, os sinais do pão e do vinho

continuam a significar também a bondade da criação. Por isso, no ofertório

[apresentação das oferendas], nós damos graças ao Criador pelo pão e pelo

vinho, fruto do trabalho do homem, mas primeiramente fruto da terra e da

videira, dons do Criador. A Igreja vê no gesto de Melquisedec, rei e sacerdote,

que “ofereceu pão e vinho” (Gn 14,18), uma prefiguração da sua própria

oferenda.

1334. Na Antiga Aliança, o pão e o vinho são oferecidos em sacrifício entre as

primícias da terra, em sinal de reconhecimento ao Criador. Mas também

recebem uma nova significação no contexto do Êxodo: os pães ázimos que

Israel come todos os anos na Páscoa comemoram a pressa da partida

libertadora do Egito; a lembrança do maná do deserto recordará sempre a

Israel que é do pão da Palavra de Deus que ele vive. Finalmente, o pão de

cada dia é o fruto da terra prometida, penhor da fidelidade de Deus às suas

promessas. O “cálice de bênção” (1Cor 10,16), no fim da ceia pascal dos

judeus, acrescenta à alegria festiva do vinho uma dimensão escatológica – a

da expectativa messiânica do restabelecimento de Jerusalém. Jesus instituiu a

sua Eucaristia dando um sentido novo e definitivo à bênção do pão e do cálice.

1335. Os milagres da multiplicação dos pães, quando o Senhor disse a bênção,

partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para alimentar a multidão,

prefiguram a superabundância deste pão único da sua Eucaristia. O sinal da

água transformada em vinho em Caná já anuncia a “Hora” da glorificação de

Jesus. E manifesta o cumprimento do banquete das núpcias no Reino do Pai,

onde os fiéis beberão do vinho novo tornado sangue de Cristo.

1336. O primeiro anúncio da Eucaristia dividiu os discípulos, tal como o anúncio

da paixão os escandalizou: “Estas palavras são insuportáveis! Quem as pode

escutar?” (Jo 6, 60). A Eucaristia e a cruz são pedras de tropeço. É o mesmo

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mistério e não cessa de ser ocasião de divisão. “Também vós quereis ir

embora?” (Jo 6, 67): esta pergunta do Senhor ecoa através dos tempos, como

convite do seu amor a descobrir que só Ele tem “palavras de vida eterna” (Jo 6,

68) e que acolher na fé o dom da sua Eucaristia é acolher a Ele próprio.

A INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA

1337. Tendo amado os seus, o Senhor amou-os até ao fim. Sabendo que era

chegada a hora de partir deste mundo para regressar ao Pai, no decorrer duma

refeição, lavou-lhes os pés e deu-lhes o mandamento do amor. Para lhes

deixar uma garantia deste amor, para jamais se afastar dos seus e para torná-

los participantes da sua Páscoa, instituiu a Eucaristia como memorial da sua

morte e da sua ressurreição, e ordenou aos seus Apóstolos que a celebrassem

até ao seu regresso, “constituindo-os, então, sacerdotes do Novo Testamento”.

1338. Os três evangelhos sinóticos e São Paulo transmitiram-nos a narração

da instituição da Eucaristia. Por seu lado, São João refere as palavras de Jesus

na sinagoga de Cafarnaum, palavras que preparam a instituição da Eucaristia:

Cristo designa-se a si próprio como o pão da vida, descido do céu.

1339. Jesus escolheu a altura da Páscoa para cumprir o que tinha anunciado

em Cafarnaum: dar aos seus discípulos o seu corpo e o seu sangue (Cf. Lc 22,

7-20).

1340. Celebrando a última ceia com os seus Apóstolos, no decorrer do

banquete pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com

efeito, a passagem de Jesus para o seu Pai, pela sua morte e ressurreição – a

Páscoa nova – é antecipada na ceia e celebrada na Eucaristia, que dá

cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do

Reino.

“FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM”

1341. Ao ordenar que repetissem os seus gestos e palavras, “até que Ele

venha” (1Cor 11, 26), Jesus não pede somente que se lembrem d'Ele e do que

Ele fez. Tem em vista a celebração litúrgica, pelos apóstolos e seus

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sucessores, do memorial de Cristo, da sua vida, morte, ressurreição e da sua

intercessão junto do Pai.

1342. Desde o princípio, a Igreja foi fiel à ordem do Senhor.

1343. Era sobretudo “no primeiro dia da semana”, isto é, no dia de domingo,

dia da ressurreição de Jesus, que os cristãos se reuniam “para partir o pão” (At

20, 7). Desde esses tempos até aos nossos dias, a celebração da Eucaristia

perpetuou-se, de maneira que hoje a encontramos em toda a parte na Igreja

com a mesma estrutura fundamental. Ela continua a ser o centro da vida da

Igreja.

1344. Assim, de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de

Jesus “até que Ele venha” (1Cor 11,26), o Povo de Deus em peregrinação

avança pela porta estreita da cruz para o banquete celeste, em que todos os

eleitos se sentarão à mesa do Reino.

V. O sacrifício sacramental: ação de graças, memorial, presença

1356. Se os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens e sob uma forma

que, na sua substância não mudou através da grande diversidade dos tempos

e das liturgias, é porque sabem que estão ligados pela ordem do Senhor, dada

na véspera da sua paixão: “Fazei isto em memória de Mim” (1Cor 11, 24-25).

1357. Esta ordem do Senhor, cumprimo-la celebrando o memorial do seu

sacrifício. E fazendo-o, oferecemos ao Pai o que Ele próprio nos deu: os dons

da sua criação, o pão e o vinho, transformados, pelo poder do Espírito Santo e

pelas palavras de Cristo, no corpo e no sangue do mesmo Cristo: assim Cristo

torna-se real e misteriosamente presente.

1358. Temos, pois, de considerar a Eucaristia:

como ação de graças e louvor ao Pai,

como memorial sacrificial de Cristo e do Seu corpo,

como presença de Cristo pelo poder da sua Palavra e do seu Espírito.

A AÇÃO DE GRAÇAS E O LOUVOR AO PAI

1359. A Eucaristia, sacramento da nossa salvação realizada por Cristo na cruz,

é também um sacrifício de louvor em ação de graças pela obra da criação. No

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sacrifício eucarístico, toda a criação, amada por Deus, é apresentada ao Pai,

através da morte e ressurreição de Cristo. Por Cristo, a Igreja pode oferecer o

sacrifício de louvor em ação de graças por tudo o que Deus fez de bom, belo e

justo, na criação e na humanidade.

1360. A Eucaristia é um sacrifício de ação de graças ao Pai, uma bênção pela

qual a Igreja exprime o seu reconhecimento a Deus por todos os seus

benefícios, por tudo o que Ele fez mediante a criação, a redenção e a

santificação. Eucaristia significa, antes de mais, “ação de graças”.

1361. A Eucaristia é também o sacrifício de louvor, pelo qual a Igreja canta a

glória de Deus em nome de toda a criação. Este sacrifício de louvor só é

possível através de Cristo: Ele une os fiéis à sua pessoa, ao seu louvor e à sua

intercessão, de maneira que o sacrifício de louvor ao Pai ë oferecido por Cristo

e com Cristo, para ser aceite em Cristo.

O MEMORIAL SACRIFICIAL DE CRISTO E DO SEU CORPO, A IGREJA

1362. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e a

oferenda sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu

corpo. Em todas as orações eucarísticas encontramos, depois das palavras da

instituição, uma oração chamada anamnese ou memorial.

1363. No sentido que lhe dá a Sagrada Escritura, o memorial não é somente a

lembrança dos acontecimentos do passado, mas a proclamação das

maravilhas que Deus fez pelos homens. Na celebração litúrgica destes

acontecimentos, eles tomam-se de certo modo presentes e atuais. É assim que

Israel entende a sua libertação do Egito: sempre que se celebrar a Páscoa, os

acontecimentos do Êxodo tornam-se presentes à memória dos crentes, para

que conformem com eles a sua vida.

1364. O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a

Igreja celebra a Eucaristia, faz memória da Páscoa de Cristo, e esta torna-se

presente: o sacrifício que Cristo ofereceu na cruz uma vez por todas, continua

sempre atual: Todas as vezes que no altar se celebra o sacrifício da cruz, no

qual "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado", realiza-se a obra da nossa redenção.

1365. Porque é o memorial da Páscoa de Cristo, a Eucaristia é também um

sacrifício. O carácter sacrificial da Eucaristia manifesta-se nas próprias

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palavras da instituição: “Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós” e

“este cálice é a Nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós”

(Lc 22, 19-20). Na Eucaristia, Cristo dá aquele mesmo corpo que entregou por

nós na cruz, aquele mesmo sangue que “derramou por muitos em remissão

dos pecados” (Mt 26, 28).

1366. A Eucaristia é, pois, um sacrifício, porque representa (torna presente) o

sacrifício da cruz, porque é dele o memorial e porque aplica o seu fruto.

1367. O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício:

É uma só e mesma vítima e Aquele que agora Se oferece pelo ministério dos

sacerdotes é o mesmo que outrora Se ofereceu a Si mesmo na cruz; só a

maneira de oferecer é que é diferente. E porque neste divino sacrifício, que se

realiza na missa, aquele mesmo Cristo, que a Si mesmo Se ofereceu outrora

de modo cruento sobre o altar da cruz, agora está contido e é imolado de modo

incruento [...], este sacrifício é verdadeiramente propiciatório.

1368. A Eucaristia é igualmente o sacrifício da Igreja. A Igreja, que é o corpo de

Cristo, participa na oblação da sua Cabeça. Com Ele, ela própria é oferecida

integralmente. Ela une-se à sua intercessão junto do Pai em favor de todos os

homens. Na Eucaristia, o sacrifício de Cristo torna-se também o sacrifício dos

membros do seu corpo. A vida dos fiéis, o seu louvor, o seu sofrimento, a sua

oração, o seu trabalho unem-se aos de Cristo e à sua oblação total, adquirindo

assim um novo valor. O sacrifício de Cristo presente sobre o altar proporciona a

todas as gerações de cristãos a possibilidade de se unirem à sua oblação.

1369. Toda a Igreja está unida à oblação e intercessão de Cristo. Encarregado

do ministério de Pedro na Igreja, o Papa está associado a toda e qualquer

celebração da Eucaristia, na qual é nomeado como sinal e servidor da unidade

da Igreja universal. O bispo do lugar é sempre responsável pela Eucaristia,

mesmo quando presidida por um presbítero; o seu nome é citado nela para

significar a sua presidência da Igreja particular, no meio do presbitério e com a

assistência dos diáconos. A comunidade intercede também por todos os

ministros que, por ela e com ela, oferecem o sacrifício eucarístico:

1370. À oblação de Cristo unem-se não só os membros que estão ainda neste

mundo, mas também os que já estão na glória do céu: é em comunhão com a

santíssima Virgem Maria e fazendo memória d'Ela, assim como de todos os

santos e de todas as santas, que a Igreja oferece o sacrifício eucarístico. Na

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Eucaristia, a Igreja, com Maria, está como que ao pé da cruz, unida à oblação e

à intercessão de Cristo.

1371. O sacrifício eucarístico é também oferecido pelos fiéis defuntos, que

morreram em Cristo e não estão ainda de todo purificados, para que possam

entrar na luz e na paz de Cristo:

A PRESENÇA DE CRISTO PELO PODER DA SUA PALAVRA E DO ESPÍRITO SANTO

1373. “Jesus Cristo, que morreu, que ressuscitou, que está à direita de Deus,

que intercede por nós” (Rm 8, 34), está presente na sua Igreja de múltiplos

modos: na sua Palavra, na oração da sua Igreja, “onde dois ou três estão

reunidos em Meu nome” (Mt 18, 20), nos pobres, nos doentes, nos prisioneiros,

nos seus sacramentos, dos quais é o autor, no sacrifício da missa e na pessoa

do ministro. Mas está presente “sobretudo sob as espécies eucarísticas”.

1374. O modo da presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele

eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz dela como que a

perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos. No

santíssimo sacramento da Eucaristia estão contidos, verdadeira, real e

substancialmente, o corpo e o sangue, conjuntamente com a alma e a

divindade de nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, Cristo completo.

Esta presença chama-se "real", não a título exclusivo como se as outras

presenças não fossem "reais", mas por excelência, porque é substancial, e

porque por ela se torna presente Cristo completo, Deus e homem.

1375. É pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo que

Ele Se torna presente neste sacramento. Os Padres da Igreja proclamaram

com firmeza a fé da mesma Igreja na eficácia da Palavra de Cristo e da ação

do Espírito Santo, para operar esta conversão. Assim, São João Crisóstomo

declara:

1376. O Concílio de Trento resume a fé católica declarando: “Porque Cristo,

nosso Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era

verdadeiramente o seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o

sagrado Concílio de novo declara: pela consagração do pão e do vinho opera-

se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo

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nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a

esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado,

transubstanciação”.

1377. A presença eucarística de Cristo começa no momento da consagração e

dura enquanto as espécies eucarísticas subsistirem. Cristo está presente todo

em cada uma das espécies e todo em cada uma das suas partes, de maneira

que a fracção do pão não divide Cristo.

1378. O culto da Eucaristia. Na liturgia da Missa, nós exprimimos a nossa fé na

presença real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho, entre outras

maneiras, ajoelhando ou inclinando-nos profundamente em sinal de adoração

do Senhor. A Igreja Católica sempre prestou e continua a prestar este culto de

adoração que é devido ao sacramento da Eucaristia, não só durante a missa,

mas também fora da sua celebração: conservando com o maior cuidado as

hóstias consagradas, apresentando-as aos fiéis para que solenemente as

venerem, e levando-as em procissão.

1379. A sagrada Reserva (sacrário) era, ao princípio, destinada a guardar, de

maneira digna, a Eucaristia, para poder ser levada aos doentes e ausentes,

fora da missa. Pelo aprofundamento da fé na presença real de Cristo na sua

Eucaristia, a Igreja tomou consciência do sentido da adoração silenciosa do

Senhor, presente sob as espécies eucarísticas, por isso que o sacrário deve

ser colocado num lugar particularmente digno da igreja; deve ser construído de

tal modo que sublinhe e manifeste a verdade da presença real de Cristo no

Santíssimo Sacramento.

1380. É de suma conveniência que Cristo tenha querido ficar presente à sua

Igreja deste modo único. Uma vez que estava para deixar os seus sob forma

visível, Cristo quis dar-nos a sua presença sacramental; e visto que ia sofrer na

cruz para nos salvar, quis que tivéssemos o memorial do amor com que nos

amou “até ao fim” (Jo 13, 1), até ao dom da própria vida. Com efeito, na sua

presença eucarística, Ele fica misteriosamente no meio de nós, como Aquele

que nos amou e Se entregou por nós, e permanece sob os sinais que

exprimem e comunicam este amor:

1381. A presença do verdadeiro corpo e do verdadeiro sangue de Cristo neste

sacramento, "não a apreendemos pelos sentidos, diz São Tomás, mas só pela

fé, que se apoia na autoridade de Deus". É por isso que, comentando o texto

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de São Lucas 22, 19, "Isto é o Meu corpo que será entregue por vós", São

Cirilo de Alexandria declara: "Não vás agora perguntar-te se isso é verdade;

mas acolhe com fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a verdade, não

mente".

VI. O banquete pascal

1382. A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial

em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do

corpo e sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está toda

orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo pela comunhão. Comungar é

receber o próprio Cristo, que Se ofereceu por nós.

1383. O altar, à volta do qual a Igreja se reúne na celebração da Eucaristia,

representa os dois aspectos dum mesmo mistério: o altar do sacrifício e a mesa

do Senhor, e isto tanto mais que o altar cristão é o símbolo do próprio Cristo,

presente no meio da assembleia dos seus fiéis, ao mesmo tempo como vítima

oferecida para a nossa reconciliação e como alimento celeste que se nos dá.

“Com efeito, o que é o altar de Cristo senão a imagem do corpo de Cristo?” –

pergunta Santo Ambrósio; e noutro passo: “O altar representa o corpo [de

Cristo], e o corpo de Cristo está sobre o altar”. A liturgia exprime esta unidade

do sacrifício e da comunhão em numerosas orações. Assim, a Igreja de Roma

reza na sua anáfora:

“TOMAI TODOS E COMEI”: A COMUNHÃO

1384. O Senhor dirige-nos um convite insistente a que O recebamos no

sacramento da Eucaristia: “Em verdade, em verdade vos digo: se não

comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não

tereis a vida em vós” (Jo 6, 53).

1385. Para responder a este convite, devemos preparar-nos para este

momento tão grande e santo. São Paulo exorta a um exame de consciência:

“Quem comer o pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do

corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, cada qual a si mesmo e então

coma desse pão e beba deste cálice; pois quem come e bebe, sem discernir o

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corpo do Senhor, come e bebe a própria condenação” (1Cor 11, 27-29). Aquele

que tiver consciência dum pecado grave deve receber o sacramento da

Reconciliação antes de se aproximar da Comunhão.

1386. Perante a grandeza deste sacramento, o fiel só pode retomar

humildemente e com ardente fé a palavra do centurião: “Senhor, eu não sou

digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma [só] palavra e serei

salvo”.

1387. Para se prepararem convenientemente para receber este sacramento, os

fiéis devem observar o jejum prescrito na sua Igreja. A atitude corporal (gestos,

traje) deve traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que

Cristo Se torna nosso hóspede.

1388. É conforme ao próprio sentido da Eucaristia que os fiéis, se tiverem as

disposições requeridas, recebam a Comunhão quando participam na missa:

Recomenda-se vivamente aquela mais perfeita participação na missa em que

os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebem, do mesmo sacrifício, o

corpo do Senhor.

1389. A Igreja impõe aos fiéis a obrigação de participar na divina liturgia nos

domingos e dias de festa e de receber a Eucaristia ao menos uma vez em cada

ano, se possível no tempo pascal preparados pelo sacramento da

Reconciliação. Mas recomenda-lhes vivamente que recebam a santa Eucaristia

aos domingos e dias de festa, ou ainda mais vezes, mesmo todos os dias.

1390. Graças à presença sacramental de Cristo sob cada uma das espécies, a

comunhão apenas sob a espécie de pão permite receber todo o fruto de graça

da Eucaristia. Por razões pastorais, esta maneira de comungar estabeleceu-se

legitimamente como a mais habitual no rito latino. A sagrada Comunhão tem

uma forma mais plena, enquanto sinal, quando é feita sob as duas espécies.

Com efeito, nesta forma manifesta-se mais perfeitamente o sinal do banquete

eucarístico. É a forma habitual de comungar, nos ritos orientais.

OS FRUTOS DA COMUNHÃO

1391. A Comunhão aumenta a nossa união com Cristo. Receber a Eucaristia

na comunhão traz consigo, como fruto principal, a união íntima com Cristo

Jesus. De facto, o Senhor diz: “Quem come a minha carne e bebe o meu

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sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6, 56). A vida em Cristo tem o seu

fundamento no banquete eucarístico: “Assim como o Pai, que vive, Me enviou,

e Eu vivo pelo Pai, também o que Me come viverá por Mim” (Jo 6, 57).

1392. O que o alimento material produz na nossa vida corporal, realiza-o a

Comunhão, de modo admirável, na nossa vida espiritual. A comunhão da carne

de Cristo Ressuscitado, vivificada pelo Espírito Santo e vivificante, conserva,

aumenta e renova a vida da graça recebida no Baptismo. Este crescimento da

vida cristã precisa de ser alimentado pela Comunhão eucarística, pão da nossa

peregrinação, até à hora da morte, em que nos será dado como viático.

1393. A Comunhão afasta-nos do pecado. O corpo de Cristo que recebemos

na Comunhão é “entregue por nós” e o sangue que nós bebemos é “derramado

pela multidão, para remissão dos pecados”. É por isso que a Eucaristia não

pode unir-nos a Cristo sem nos purificar, ao mesmo tempo, dos pecados

cometidos, e nos preservar dos pecados futuros:

1394. Tal como o alimento corporal serve para restaurar as forças perdidas,

assim também a Eucaristia fortifica a caridade que, na vida quotidiana, tende a

enfraquecer-se; e esta caridade vivificada apaga os pecados veniais. Dando-Se

a nós, Cristo reaviva o nosso amor e torna-nos capazes de quebrar as ligações

desordenadas às criaturas e de nos radicarmos n'Ele.

1395. Pela mesma caridade que acende em nós, a Eucaristia preserva-nos dos

pecados mortais futuros. Quanto mais participarmos na vida de Cristo e

progredirmos na sua amizade, mais difícil nos será romper com Ele pelo

pecado mortal. A Eucaristia não está ordenada ao perdão dos pecados mortais.

Isso é próprio do sacramento da Reconciliação. O que é próprio da Eucaristia é

ser o sacramento daqueles que estão na plena comunhão da Igreja.

1396. A unidade do corpo Místico: a Eucaristia faz a Igreja. Os que recebem a

Eucaristia ficam mais estreitamente unidos a Cristo. Por isso mesmo, Cristo

une todos os fiéis num só corpo: a Igreja. A Comunhão renova, fortalece e

aprofunda esta incorporação na Igreja já realizada pelo Batismo. No Batismo

fomos chamados a formar um só corpo. A Eucaristia realiza esta vocação: “O

cálice da bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo?

O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há

um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, porque participamos

desse único pão” (1Cor 10, 16-17):

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1397. A Eucaristia compromete-nos com os pobres: Para receber, na verdade,

o corpo e o sangue de Cristo entregue por nós, temos de reconhecer Cristo nos

mais pobres, seus irmãos.

1398. A Eucaristia e a unidade dos cristãos. Perante a grandeza deste mistério,

Santo Agostinho exclama: “O sacramentum pietatis! O signum unitatis! O

vinculum caritatis! – Ó sacramento da piedade, ó sinal da unidade, ó vínculo da

caridade!” Quanto mais dolorosas se fazem sentir as divisões da Igreja que

rompem a comum participação na mesa do Senhor, tanto mais prementes são

as orações que fazemos ao Senhor para que voltem os dias da unidade

completa de todos os que creem n' Ele.

1399. As Igrejas orientais que não estão em comunhão plena com a Igreja

Católica celebram a Eucaristia com um grande amor. Essas Igrejas, embora

separadas, têm verdadeiros sacramentos; e principalmente, em virtude da

sucessão apostólica, o sacerdócio e a Eucaristia, por meio dos quais

continuam unidos a nós por vínculos estreitíssimos. Portanto, uma certa

comunhão in sacris é não só possível, mas até aconselhável em circunstâncias

oportunas e com aprovação da autoridade eclesiástica.

1400. As comunidades eclesiais saídas da Reforma, separadas da Igreja

Católica, não [conservaram] a genuína e íntegra substância do mistério

eucarístico, sobretudo por causa da falta do sacramento da Ordem. É por esse

motivo que a intercomunhão eucarística com estas comunidades não é

possível para a Igreja Católica. No entanto, estas comunidades eclesiais,

quando na santa ceia fazem memória da morte e ressurreição do Senhor,

professam que a vida é significada na comunhão com Cristo e esperam a sua

vinda gloriosa.

1401. Se urgir uma grave necessidade, segundo o juízo do Ordinário os

ministros católicos podem ministrar os sacramentos (Eucaristia, Penitência,

Unção dos Enfermos) aos outros cristãos que não estão em plena comunhão

com a Igreja Católica, mas que os pedem por sua livre vontade: requer-se,

nesse caso, que manifestem a fé católica em relação a estes sacramentos e

que se encontrem nas devidas disposições.

VII. A Eucaristia – “Penhor da futura glória”

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1402. Numa antiga oração, a Igreja aclama assim o mistério da Eucaristia: “O

sacrum convivium in quo Christus sumitur: recolitur memoria passionis eius;

mens impletur gratia et futurae gloriae nobis pignus datur – Ó sagrado

banquete, em que se recebe Cristo e se comemora a sua paixão, em que a

alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória”. Se a

Eucaristia é o memorial da Páscoa da Senhor, se pela nossa comunhão no

altar somos cumulados da plenitude das bênçãos se graças do céu, a

Eucaristia é também a antecipação da glória celeste.

1403. Na última ceia, o próprio Senhor chamou a atenção dos seus discípulos

para a consumação da Páscoa no Reino de Deus: “Eu vos digo que não

voltarei a beber deste fruto da videira, até o dia em que beberei convosco o

vinho novo no Reino do meu Pai” (Mt 26, 29). Sempre que a Igreja celebra a

Eucaristia, lembra-se desta promessa, e o seu olhar volta-se para “Aquele que

vem” (Ap 1, 4). Na sua oração, ela clama pela sua vinda: “Marana tha” (1Cor

16, 22), “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22, 20), que a Tua graça venha e que este

mundo passe!

1404. A Igreja sabe que, desde já, o Senhor vem na sua Eucaristia e que está

ali, no meio de nós. Mas esta presença é velada. E é por isso que nós

celebramos a Eucaristia “expectantes beatam spem et adventum Salvatoris

nostri Jesu Christi – enquanto aguardamos a feliz esperança e a vinda de

Jesus Cristo nosso Salvador”, pedindo a graça de ser acolhidos com bondade

no vosso Reino, onde também nós esperamos ser ser recebidos, para

vivermos [...] eternamente na vossa glória, quando enxugardes todas as

lágrimas dos nossos olhos; e, vendo-Vos tal como sois, Senhor nosso Deus,

seremos para sempre semelhantes a Vós e cantaremos sem fim os vossos

louvores, por Jesus Cristo nosso Senhor.

1405. Desta grande esperança – dos novos céus e da nova terra, onde

habitará a justiça – não temos garantia mais segura nem sinal mais manifesto

do que a Eucaristia. Com efeito, cada vez que se celebra este mistério, realiza-

se a obra da nossa redenção e nós partimos o mesmo pão, que é remédio de

imortalidade, antídoto para não morrer, mas viver em Jesus Cristo para

sempre.