Da luta pela terra a experiência agroecológica Josenildo, Francisco e Jeová vivem mais uma...

2
Molorem exceprem simodit Da luta pela terra a experiência agroecológica Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº 1947 Janeiro/2015 João Câmara Realização Apoio No assentamento Xoá, localizado no município de João Câmara, vivem os agricultores Josenildo Gomes, Francisco Silva e Jeová Ferreira. Josenildo lembra dos dias de luta que passou antes da conquista da terra em que hoje vivem. Do primeiro ano de ocupação, Josenildo, que tinha apenas dez anos, diz que se lembra dos momentos de enfrentamento com o latifundiário, formando barreiras em que as crianças e mulheres ficavam na frente quando havia uma ameaça de desocupação. As palavras de ordem que ecoavam em momentos de repressão ainda são lembradas por toda a comunidade. A memória de muita luta e de todo o processo de conquista da terra é muito presente em Xoá. Josenildo diz que nada que conquistaram até hoje foi fácil, e sim fruto de muito suor das famílias que vivem hoje no assentamento e que, juntas ao Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra, ocuparam e conquistaram a terra. Por isso, reconhecem a importância de se organizar e lutar pelos seus direitos e até hoje constroem o Movimento dos Sem Terra. Com a conquista de um lugar onde plantar, esses agricultores e suas famílias iniciaram uma experiência de produção agroecológica, o que vem resultando na melhoria da alimentação e em mais conquistas para suas famílias e a comunidade. Depois de um processo de construção coletiva com diversas agricultoras e agricultores da região do Mato Grande, conseguiram consolidar uma feira agroecológica e de economia solidária no município de João Câmara, que acontece todos os sábados. Jeová e Josenildo produzem em uma área coletiva do assentamento. Lá eles plantam alface, pimentão, couve, cebolinha, coentro, pepino, berinjela, abobrinha. Além da plantação, Jeová cria abelhas e produz mel. Guardiões das sementes crioulas, Francisco conta com alegria que encontrou no assentamento Lajeado , comunidade próxima do Xoá, a semente do milho pontinho plantada pelo seu pai e que havia se perdido. Para plantar alface, Jeová usa a semente que produz e vende o que sobra. Mesmo com plantios feitos em áreas separadas, os agricultores trocam sempre experiência, além de sementes, insumos e instrumentos de trabalho, o que torna a experiência do Xoá coletiva e de muita resistência às dificuldades encontradas. Jeová, Francisco e Josenildo Agricultores preparam adubo para o plantio Jeová preparando adubo Francisco e Josenildo molhando plantação de alface Josenildo, Francisco e Jeová vivem mais uma conquista

description

No assentamento Xoá, vivem os agricultores Josenildo Gomes, Francisco Silva e Jeová Ferreira. Esses agricultores e suas famílias iniciaram uma experiência de produção agroecológica, o que vem resultando na melhoria da alimentação e em mais conquistas para suas famílias e a comunidade. Depois de um processo de construção coletiva conseguiram consolidar uma feira agroecológica e de economia solidária.

Transcript of Da luta pela terra a experiência agroecológica Josenildo, Francisco e Jeová vivem mais uma...

Page 1: Da luta pela terra a experiência agroecológica Josenildo, Francisco e Jeová vivem mais uma conquista

Molorem exceprem simodit

Da luta pela terra a experiência agroecológica

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1947

Janeiro/2015 Aqui entrao

João Câmara

Realização Apoio

No assentamento Xoá, localizado no município de João Câmara, vivem os agricultores Josenildo Gomes, Francisco Silva e Jeová Ferreira. Josenildo lembra dos dias de luta que passou antes da conquista da terra em que hoje vivem. Do primeiro ano de ocupação, Josenildo, que tinha apenas dez anos, diz que se lembra dos momentos de enfrentamento com o latifundiário, formando barreiras em que as crianças e mulheres ficavam na frente quando havia uma ameaça de desocupação. As palavras de ordem que ecoavam em momentos de repressão ainda são lembradas por toda a comunidade. A memória de muita luta e de todo o processo de conquista da terra é muito presente em Xoá. Josenildo diz que nada que conquistaram até hoje foi fácil, e sim fruto de muito suor das famílias que vivem hoje no assentamento e que, juntas ao Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Terra, ocuparam e conquistaram a terra. Por isso, reconhecem a importância de se organizar e lutar pelos seus direitos e até hoje constroem o Movimento dos Sem Terra. Com a conquista de um lugar onde plantar, esses agricultores e suas famílias iniciaram uma experiência de produção agroecológica, o que vem resultando na melhoria da alimentação e em mais conquistas para suas famílias e a comunidade. Depois de um processo de construção coletiva com diversas agricultoras e agricultores da região do Mato Grande, conseguiram consolidar uma feira agroecológica e de economia solidária no município de João Câmara, que acontece todos os sábados.

Jeová e Josenildo produzem em uma área coletiva do assentamento. Lá eles plantam alface, pimentão, couve, cebolinha, coentro, pepino, berinjela, abobrinha. Além da plantação, Jeová cria abelhas e produz mel. Guardiões das sementes crioulas, Francisco conta com alegria que encontrou no assentamento Lajeado , comunidade próxima do Xoá, a semente do milho pontinho plantada pelo seu pai e que havia se perdido. Para plantar alface, Jeová usa a semente que produz e vende o que sobra.

Mesmo com plantios feitos em áreas separadas, os agricultores trocam sempre experiência, além de sementes, insumos e instrumentos de trabalho, o que torna a experiência do Xoá coletiva e de muita resistência às dificuldades encontradas.

Jeová, Francisco e Josenildo

Agricultores preparam adubo para o plantio

Jeová preparando adubo

Francisco e Josenildo molhando plantação de alface

Josenildo, Francisco e Jeová vivem mais uma conquista

Page 2: Da luta pela terra a experiência agroecológica Josenildo, Francisco e Jeová vivem mais uma conquista

Molorem exceprem simodit

Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do NorteBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Antes, os agricultores só vendiam na feira livre convencional. Hoje, na feira agroecológica, podem comercializar o excedente do que produzem, ocupando o mercado local com a agricultura camponesa e familiar, valorizando o que produzem ao conquistar um espaço na cidade onde podem vender a preço justo. O coentro, que antes vendiam por 25 centavos cada molho, hoje é vendido por 50 centavos na feira agroecológica. Além disso, o espaço da feira favorece a relação entre agricultores e consumidores. São compartilhados conhecimentos sobre cada alimento produzido e até mesmo as dificuldades que os agricultores enfrentam. É uma conquista que favorece a troca de experiências entre as outras agricultoras e agricultores que constroem a feira, trazendo para o município uma outra forma de comercialização, com alimentos saudáveis que trazem melhorias para a saúde da população, para a economia local, para o meio ambiente e para os agricultores de Xoá, além de garantir a soberania e segurança alimentar.

Produção que resiste à dificuldade de acesso a água

O acesso a água é hoje o principal problema da comunidade. Apesar de ser um direito humano básico, em especial para agricultoras e agricultores familiares, ele não é efetivado no assentamento Xoá. Embora existam três poços no assentamento, Francisco diz que a vazão de água é pouca para a produção, que a água para beber tem se resolvido com as cisternas pequenas, mas falta água para a plantação, o que tem sido um dos grandes problemas. Francisco planta banana, mamão, berinjela, acerola, abacate, coco, maracujá e manga, além de pimentão, alface, rúcula, cebolinha, abobrinha, couve, macaxeira,feijão, palma, milho, cana-de-açúcar, mastruz, capim santo, arruda, jurubeba.

Para combater as pragas e adubar o solo sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos, Francisco usa diversas formas de adubos e fertilizantes orgânicos, sempre reaproveitando tudo que planta, como a manipueira misturada com água e colocada na terra antes de plantar, servindo tanto para combater pragas como para adubar a terra para o plantio. Além disso, faz compostagem de esterco, usa cinza para adubar e manter a terra molhada, usa a folha de marmeleiro como adubo, que depois de dois meses se decompondo, é colocada na terra antes do plantio.

Josenildo e Francisco na Feira Agroecológica e de Economia Solidária

de João Câmara

Plantação de alface de JosenildoFrancisco e Josebildo mostram a Plantação de Maxixe

Jeová colhendo sementes de coentroPlantação de cebolinha e alface

Plantação do Milho Pontinho para guardar as sementes