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  • 7/23/2019 DamianoGiovani_TCC

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    TCC UNICAMP

    D 84p

    IE

    UNIVERSIDADE ESTADUAL

    E

    CAMPINAS

    INSTITUTO DE ECONOMIA

    Giovani Damiano

    CEDOC

    IE

    UNICAMP

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    Giovani Damiano

    PREOS DOS ATIVOS FINANCEIROS COMO REFLEXOS DOS

    COMPORTAMENTOS HEURSTICOS DOS INVESTIDORES

    Monografia apresentada

    o

    Instituto

    de

    Economia

    d

    Universidade Estadual

    de

    Campinas como requisito parcial para obteno

    do

    ttulo de Bacharel em Cincias Econmicas

    Orientador Prof Dr Fernando Nogueira da Costa

    Campinas

    2010

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    GIOV ANI DAMIANO

    PREOS DOS ATIVOS FINANCEIROS COMO REFLEXOS DOS COMPORTAMENTOS

    HEURSTICOS DOS INVESTIDORES

    Data da defesa: 6

    de

    dezembro de 2010

    Monografia apresentada

    ao

    Instituto

    de

    Economia

    d

    Universidade Estadual de

    Campinas como requisito parcial para obteno

    do ttulo de Bacharel

    em

    Cincias Econmicas

    B NC

    EX MIN DOR

    Orientador Dr

    Fernando Nogueira da Costa

    Examinador Dr Rodrigo Lanna Franco da Silveira

    IE/Unicamp

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    AGRADECIMENTOS

    Ao Dr. Fernando Nogueira da Costa por aceitar se aventurar

    por

    novos caminhos que

    permeiam as Cincias Econmicas e a Psicologia. E pela sua pacincia, disposio e

    orientaes que endireitaram esta monografia.

    o Dr. Rodrigo Lanna Franco da Silveira que se disps prontamente a ler este

    trabalho. E tambm por ter contribudo diretamente para o captulo

    ldeias

    Capitais .

    minha famlia e amigos que me deram apoio e suporte emocional. Prefiro no citar

    nomes, pois a lista longa.

    E

    a

    todos que de alguma forma contriburam para o contedo inserido neste trabalho

    ao me indicarem referncias bibliogrficas e/ou discutirem comigo sobre algum dos temas

    abordados.

    Agradeo tambm

    ao

    eventual leitor

    que se

    arrisca a ler

    estas

    inmeras pginas.

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    Adrunk walking through a field can create a

    randorn walk, despi e the fact that no one would

    call his choice of direction rational. Still,

    if

    asset

    prices depended on the path the drunk adopted,

    it

    would be a good idea to study how drunks

    navigate

    Richard H. Thaler

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    R SUMO

    As Finanas Comportamentais apresentam os vieses heursticos e a dependncia da

    forma

    como

    causas possveis para a ineficincia

    do

    mercado Alerta que

    os

    desvios

    dos

    preos

    em relao aos fundamentos no ocorrem apenas no curto prazo, mas at mesmo no longo

    prazo. Portanto, diferentemente

    do

    que propem as Finanas Racionais, no seriam apenas os

    fundamentos macroeconmicos, setoriais e das prprias empresas que afetariam o preo

    de

    mercado. Os investidores, por sua vez, cometem diversos tipos de erros recorrentes e tm

    idiossincrasias prejudiciais a suas aplicaes. Eles no

    se

    baseiam em urna nica

    racionalidade econmica, cometendo atitudes recorrentes que podem ser contestadas por no

    seguir preceitos estabelecidos pelas teorias financeiras. Assim sendo, deve-se ponderar os

    efeitos agregados de cada participante do mercado, com sua respectiva peculiaridade

    comportamental. m suma, as perguntas-chave a serem respondidas so: fatores psicolgicos,

    seja psicologia individual, seja psicologia de massa, afetam a racionalidade da tomada de

    decises financeiras? Estas decises, em nvel macroeconmico, refletem nos preos dos

    ativos? A hiptese a ser testada nessa monografia se esse novo nvel de preos pode se

    sustentar enquanto predominar entre a maioria dos agentes o entendimento de que os ativos

    esto corretamente avaliados, independentemente

    do

    estado dos fundamentos, porque a

    prpria dinmica do mercado afeta sua compreenso por parte dos agentes. Mas a avaliao

    dos ativos, em certos nveis dos preos, comear a ser considerada irrealista ou sem

    fundamento . Ocorrer, ento, nova precificao dos ativos financeiros. Logo, ser defendida

    com argumentos a ideia de que o aspecto micro (decises individuais descoordenadas) e o

    macroeconmico (dinmica do mercado) so interdependentes. A partir dessas avaliaes,

    discutem-se estratgias de investimento. Neste ponto, o objetivo saber qual a mais adequada

    a se utilizar. Em sntese, a maior contribuio do trabalho ser propiciar melhor compreenso

    da dinmica dos mercados, facilitando o planejamento financeiro individual.

    Palavras chave: Precificao de Ativos, Economia Comportamental, Finanas

    Comportamentais, Mercado Financeiro, Psicologia de Massa, Estratgias de Investimentos.

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    BSTR CT

    The Behavioral Finance presents the heuristics biases and

    the

    frame dependence as

    likely causes to market inefficiency. t warns that price deviation from fundamentais do not

    occur only in short term, but even in long term. Therefore, different from what Rational

    Finance proposes, it is not only macroeconomic fundamentais, industry and the firms that

    affect the market price. Investors, in turn, perpetrate several types o

    f

    recurring errors and their

    idiosyncrasies are harmful to their investments. They

    o

    not rely on a single economic

    rationality, cornmitting recurring attitudes that can be objected to do not following rules

    established by the financiai theories. Therefore, one rnust consider the aggregate effects

    of

    each market participant, with their own behavioral peculiarity. In sum, the main questions to

    be responded are: do psychologicai factors, either individual psychology

    or

    mass psychoiogy,

    affect the rationality of financiai decision making? Do these decisions reflect on the

    macroeconomic levei in asset price? The hypothesis to be tested in this monograph is whether

    this new price levei can be sustained while predominate among the majority of agents to

    understand that assets are properly evaluated, regardless the state of the fundamentais,

    because the dynamics

    of

    the market affects their understanding from agents. But the valuation

    ofassets in certain price leveis will begin to be considered unrealistic r unfounded . Then

    occurs the new pricing o f financiai assets. Thereby, it will be defended with arguments that

    the idea ofthe micro aspect (uncoordinated individual decisions) and macroeconomic (market

    dynamics) are interdependent. Based on these considerations, this monograph discusses

    investment strategies. At this point, the goal is to find the most appropriate ones to use. In

    summary, the major contribution of this work will provide better understanding of market

    dynamics, facilitating individual financiai planning.

    Key-words: Asset Pricing, Behavioral Economics, Behavioral Finance, Financiai Markets,

    Crowd Psychology, Investment Strategies.

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    SUMRIO

    I INTRODU 8

    2 IDEIAS CAPITAIS

    O

    2 1

    MERCADOS EFICIENTES E O PASSEIO ALEATRIO .......................................... 1

    2.2 MODELOS FINANCEIROS TRADICIONAIS ............................................................ 14

    2.3 ALGUMAS CRTICAS AOS MODELOS TRADICIONAIS ....................................... 24

    2.4 CONSIDERAES FINAIS ......................................................................................... 26

    3 FINANAS COMPORTAMENTAIS .............................................................................................

    28

    3 1

    HISTRIA DO PENSAMENTO ECONMICO PSICOLGICO .............................. 28

    3.2 FINANAS COMPORTAMENTAIS ........................................................................... 32

    3.3 RELAES

    DE

    CAUSA E EFEITO RISCO E INCERTEZA .................................... 34

    3.4 VIESES COGNITIVOS ................................................................................................. 39

    3.5

    CONCLUS0

    ................................................................................................................ 50

    4 COMPORTAMENTOS E PREOS 52

    4 1

    AUTO-SABOTAGEM ...................................................................................................

    53

    4.2 A SUPERAO

    DO OMO E ONOMI US

    ..............................................................57

    4.3 SITUANDO E CATEGORIZANDO OS INVESTIDORES ..........................................

    61

    4.4 FORMAO

    DE

    PREOS ...........................................................................................

    62

    4.5 PSICOLOGIA

    DE MASSA

    E INVESTIMENTOS ....................................................... 66

    4.6 SUGESTES E INDICADORES PARA ANALISAR AS MASSAS ..........................

    73

    4.7 A ESTRATGIA DE SOBREVIVNCIA NO LONGO PRAZO ................................

    75

    4.8 A METODOLOGIA DE INVESTIMENTOS DE WARREN BUFFETT.. .................. 76

    4.9 ESTUDO DE CASO: A DINMICA

    DE

    PREOS DO CAF ................................82

    4.10 APLICANDO OS CONCEITOS PARA

    ELABORAR UM MANUAL DE

    OPERAES .......................................................................................................................

    88

    4.11 CONCLUSO FINAL ................................................................................................. 90

    5 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    9

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    .INTRODUO

    As Finanas Comportamentais apresentam os vieses heursticos e a dependncia da

    forma como causas possveis para a ineficincia do mercado. Alerta que os desvios dos preos

    em relao aos fundamentos no ocorrem apenas no curto prazo,

    mas

    at mesmo no longo

    prazo. Portanto, diferentemente do que propem as Finanas Racionais, no seriam apenas os

    fundamentos macroeconmicos, setoriais e das prprias empresas que afetariam o preo de

    mercado.

    Vis heurstico um atalho, seja conscientemente

    ou

    no, que o crebro humano

    naturalmente segue para a tomada de decises. A forma mais comum de aprendizado

    por

    tentativa ou erro. Assim, usa-se a mesma soluo em situaes que

    se

    assemelham a

    experincias j vividas.

    A

    forma como cada problema apresentado importa e reflete no

    comportamento dos agentes. Isto tambm chamado de efeito de contexto e pode ser

    observado atravs do estudo das diferentes decises em situaes semelhantes.

    Os investidores cometem diversos tipos de erros recorrentes. Eles tm idiossincrasias

    prejudiciais a suas aplicaes. Alguns dos itens de relevncia que afetam as decises e so

    comuns no comportamento humano so: representatividade, excesso de confiana, iluses

    otimistas, ancoragem, adiamento, averso perda, mudanas na percepo ao risco, erros de

    percepo criados por contas mentais, arrependimento (sentimento de medo), esperana pela

    recuperao, vis da auto-atribuio, vis da retrospectiva, familiaridade, miopia, validao

    ilusria.

    Investidores no se baseiam em uma nica racionalidade econmica, cometendo

    atitudes recorrentes que podem ser contestadas por no seguir preceitos estabelecidos pelas

    teorias financeiras. Conceitos de diversificao, modelos para precificao de ativos

    considerando

    s

    covarincias, custo de oportunidade

    ou

    mesmo fundamentos

    macroeconmicos so, muitas vezes, ignorados, devido s heursticas

    de

    decises financeiras

    do investidor comtun. a mesma forma que algum paciente doente pode se recusar a tomar

    determinado remdio, aps ser recomendado por seu mdico, qualquer investidor tambm

    pode ignorar as idias capitais e fugir do padro esperado de

    homo economicus

    Assim sendo, deve-se ponderar os efeitos agregados de cada participante do mercado,

    com sua respectiva peculiaridade comportamental. Se a movimentao financeira feita no

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    mercado por estes tipos de investidores tiver relevncia considervel, ento, os preos

    passaro a refletir isso. Caso contrrio, esses

    noise tr ders

    afetaro apenas temporariamente

    os preos at que outros investidores mais racionalmente identifiquem estas falhas na

    precificao com a anlise dos reais fundamentos e arbitrem sobre isso, operando de acordo

    com a avaliao feita.

    Em suma, as perguntas-chave as ser respondidas so: fatores psicolgicos, sep

    psicologia individual, seja psicologia

    de

    massa, afetam a tomada de decises financeiras?

    Estas decises, em nvel macroeconmico, refletem nos preos dos ativos? A hiptese a ser

    testada nessa monografia se esse novo nvel de preos pode se sustentar enquanto

    predominar entre a maioria dos agentes o entendimento de que os ativos esto corretamente

    avaliados, independentemente

    do

    estado dos fundamentos, porque a prpria dinmica

    do

    mercado afeta sua compreenso por parte dos agentes. Mas a avaliao dos ativos,

    em

    certos

    nveis dos preos, comear a ser considerada irrealista ou sem fundamento . Ocorrer,

    ento, nova precificao dos ativos financeiros. Logo, ser defendida com argumentos a idia

    de

    que

    o aspecto micro (decises individuais descoordenadas) e o macroeconmico (dinmica

    do

    mercado) so interdependentes.

    Em outras palavras, em sentido figurado, o navio arrasta a ncora ,

    no

    sentido

    que

    o

    valor

    de

    mercado acaba contaminando a avaliao dos prprios fundamentos.

    Se

    quiser usar

    outra metfora:

    a

    cauda sacode o cachorro ..

    Em sntese, o trabalho traar uma melhor compreenso da dinmica dos mercados.

    Com isso, facilitar o planejamento financeiro individual. Isto ser extremamente relevante,

    no

    futuro que se avizinha. Nos prximos anos, os brasileiros

    se

    depararo com a necessidade

    de tornar novas decises financeiras, para buscar alternativas ao tradicional rentismo, baseado

    em

    juros, e complementar a previdncia.

    A estrutura da apresentao est dividida em trs. Idias Capitais resenha os

    modelos clssicos explicativos do comportamento dos preos dos ativos financeiros.

    Finanas Comportamentais lista

    os principais

    erros cognitivos

    na tomada

    de

    deciso

    descrevendo a maneira como eles afetam os investimentos. Por fim, em Comportamentos e preos

    encontra-se como os preos afetam e so afetados pelo comportamentos dos investidores.

    Adicionalmente no mesmo captulo, sero discutidas estratgias de investimentos e como

    se

    portar de

    forma adequada ao investir no mercado financeiro.

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    l

    2.

    DElAS CAPITAIS

    O objetivo deste captulo resenhar as idias capitais sobre os modelos clssicos

    explicativos do comportamento dos preos dos ativos financeiros. Alm disso, sero

    enfatizados os pressupostos assmnidos por tais modelos, para que, em captulos posteriores

    deste trabalho, sejam analisados

    luz das proposies e crticas das Finanas

    Comportamentais.

    Programa de Pesquisa Cientfica (PPC) o aglomerado de teorias conectadas

    que

    derivam de hard core comum, ou seja, ncleo central ou rgido composto das crenas

    comuns que unem os seguidores de determinado PPC. O

    hard core

    rodeado pelo cinto

    protetor de teorias testveis. O PPC

    progressivo

    o termo tcnico

    da

    metodologia para

    designar o PPC cujas formulaes sucessivas explicam todos os fatos que

    falsearam

    previses

    de PPC rival. Alm disso, faz

    a previso de fatos novos

    PPC

    em degenerao

    ocorre quando,

    sem confirmao de previses, o ncleo rgido se mantm somente com emendas. So, ento,

    adotadas hipteses

    d hoc

    (adicionais) para explicar-se face s crticas perturbadoras . Ele

    revela sinais de fraquejar, na medida em que se mantm sem reviso das premissas ou

    hard

    core

    Ser examinado, nesta monografia, se o PPC das Finanas Comportamentais faz

    crtica imanente e construtiva ao PPC das Finanas Racionais. Para tanto, ser necessrio

    levantar, sinteticamente, quais so esses PPCs. Pela profuso de hipteses

    d hoc

    adotadas, as

    Finanas Racionais podem ser consideradas PPC

    degenerativo?

    Por qu? Essas so

    perguntas-chave que orientam essa pesquisa terica.

    2 1 Mercados eficientes e o passeio aleatrio

    O preo dos ativos financeiros depende do retomo esperado do investimento. O

    retomo total igual a renda esperada - dividendos distribudos pelas aes, cupons pagos

    pelos ttulos - mais o ganho de capital, devido mudana esperada no preo do mercado.

    Portanto, o preo deve ser igual ao valor descontado de seu fluxo de caixa futuro ou valor

    presente lquido do investimento (NPVt).

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    Convencionalmente, as Finanas Corporativas SMART,

    MEGGINSON

    GITMAN

    apud NUNES,

    2008: 26) argumentam que a gerao de NPVt positivo atravs de informaes

    privilegiadas sobre ativos financeiros, usualmente, no

    possveL Isto ocorre pelas seguintes

    razes. H similaridade, ou seja, ativos financeiros similares possuem retornos esperados

    equivalentes. A transparncia, via processo de concorrncia, permite negociaes mais justas

    e abertas possvel. O nvel informacional

    equivalente para todos os participantes do mercado

    de

    ativos financeiros. Geralmente, eles possuem pesquisadores estudando, analisando e

    reportando informaes. Inclusive eles so associados

    mdia eletrnica tais corno agncias

    de

    notcias, terminais

    de

    cotao e anlise, o que toma o custo de obteno de informaes

    relativamente baixo. H economia de escala, pois a demanda pelas mesmas informaes

    bastante elevada. Em sntese, os mercados

    de

    ativos financeiros estariam, segundo essa

    Hiptese do Mercado Eficiente, muito prximos da competio perfeita

    no

    sentido

    informacional.

    Se o preo

    de

    ativo financeiro dado pelo NPV

    1

    ento os analistas devem fazer a

    precificao dos papis olhando para os eventos futuros e suas probabilidades

    de

    ocorrncia

    noo vinda da teoria das expectativas racionais

    1

    Eles podero afetar as entradas e sadas

    do

    fluxo

    de

    caixa previsto. Assim, os agentes econmicos tomam decises olhando para o futuro

    - forw rd looking -

    com base em expectativas incertas, prospectando riscos

    de

    liquidez,

    de

    mercado, operacionais e

    de

    crditos ligados

    ao

    emissor.

    No entanto, atravs da hiptese das expectativas racionais, a teoria econmica assumiu

    em seus modelos formais que os resultados verificados no diferem sistematicamente

    do

    esperado. No h negao

    de

    que as pessoas incorrem em erros

    de

    previso, mas a hiptese

    sugere que tais erros no ocorrero, somente e persistentemente, de um lado e no

    de

    outro do

    mercado. Se os agentes no incorrem em erros sistemticos

    ao

    fazerem previses sobre

    os

    eventos futuros, por conseguinte,

    os

    desvios da previso

    s

    podero ocorrer por natureza

    aleatria. Assim:

    Onde: E P) o preo esperado para o prximo perodo; P*, o preo

    de

    equilbrio de mercado;

    e

    e

    o erro aleatrio, com E

    e =

    O

    e independente

    de P .

    1

    Foi proposta por Robert Lucas e Thomas Sargent, na dcada de 1970, afumando que

    os

    agentes no conhecem

    o futuro, mas que utilizaram

    as

    informaes de que dispem da melhor maneira possvel para prev-lo,

    atribuindo probabilidades aos eventos futuros esperados.

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    2

    Os modelos econmicos apontam que o valor esperado de alguma varivel

    igual ao

    preo determinado pelo melhor mtodo de precificao conhecido pelo pblico mais algum

    termo aleatrio que represente a ignorncia sobre o mundo real. Ao formar expectativas, as

    pessoas tero fortes incentivos para tentar prever o que realmente ir ocorrer atravs dos

    melhores mtodos de previso, pois os lucros extraordinrios sero obtidos pelos agentes que

    atuarem com base nas melhores previses. Embora no seja vedada a existncia destes lucros

    extraordinrios, ou seja, a compra de ativos abaixo de seu valor fundamental , para o qual se

    convergir no futuro, as caractersticas apontadas do mercado de ativos financeiros e a

    natureza aleatria dos erros de previso fazem com que se assuma ser impossvel obter tais

    oportunidades sistematicamente.

    A aplicao do conceito de expectativas racionais para a precificao de ativos tornou

    se usual em decorrncia

    da

    elaborao da Hiptese dos Mercados Eficientes (HME) por Fama

    (1970). Ele tambm estendeu os pressupostos da escola neoclssica para a tomada de deciso

    em mercados financeiros.

    Eugene

    Fama

    (1970) distinguiu trs tipos de eficincia: a fraca, a semiforte e a forte. A

    fraca estabelece que a tendncia dos preos passados no permite a antecipao dos preos

    futuros. A semiforte estabelece que os preos dos ttulos se ajustam quase imediatamente s

    informaes significativas (lucros das empresas, distribuio de dividendos etc.). E a forma

    forte assinala que no existe algo, como um grupo especial de investidores, que goze de

    acesso privilegiado s informaes que no se reflitam imediatamente nos preos de mercado.

    A

    HM

    afirma, portanto, que na cotao dos ativos financeiros esto precificadas

    todas as informaes disporveis, ao alcance de todos os que atuam no mercado. Dessa forma,

    a nica variao que alteraria o preo a chegada de novas informaes. m outras palavras,

    a flutuao nos preos comporta-se aleatoriamente, que conceituao similar apresentada

    pelas expectativas racionais.

    Apesar do mundo dos investimentos parecer ser dominado, ento, pelo comportamento

    errtico e sem nenhuma regra lgica, o xito da HM

    na

    teoria financeira foi estender as leis

    das expectativas racionais para a tornada de deciso em mercados financeiros. Isto ocorreu

    sem ela deixar de lado a metodologia dedutivista lgica e a elegncia matemtica do

    programa de pesquisa do mainstream economics Os movimentos aleatrios passaram a ser

    vistos como indicativo de eficincia e no de irracionalidade.

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    As condies de existncia de mercado eficiente so as seguintes (Fama, 1970, p.387

    apud Nunes, 2008, p.34):

    1.

    Ausncia de custos de transao nas negociaes dos ttulos e aes.

    11.

    Iseno de custos de obteno de informaes disponveis pelos participantes.

    m. Expectativas homogneas em relao ao retomo de cada ttulo.

    NUNES (2008: 31)

    cita

    alguns autores que levaram a formulao da idia

    do

    passeio

    aleatrio

    random wa/k):

    O

    passeio

    aleatrio dos preos, baseado

    no

    movimento browniano

    de

    Einstein, foi

    proposto primeiramente pelo economista francs Louis Bachelier em 1900 no trabalho

    Thorie de la Spculation, a partir de estudo efetuado sobre o comportamento

    dos

    preos do mercado

    de

    commodities francs. Tambm Samuelson

    1965)

    e Fama

    1965)

    chegaram a concluses semelhantes atravs

    de

    testes empricos. Posteriormente,

    Malkiel 2003 [1973]) utilizou esta hiptese para descrever o comportamento

    dos

    preos

    do

    mercado acionrio

    no

    livro intitulado

    A Random Walk Down

    Wall

    Street

    Matematicamente semelhante ao que foi apresentado anteriormente, os preos so

    imprevisveis e somente se alteraro sob o efeito de novas informaes relevantes:

    Assim, o preo esperado de algum ativo, no prximo perodo, E(Pt),

    igual ao preo

    deste ativo hoje, Po mais o erro aleatrio, et, que possui valor esperado igual a zero. Em

    contrapartida, se os movimentos nos preos seguissem padro previsvel, isto seria evidncia

    relevante

    d

    ineficincia do mercado, pois a habilidade de se prever os preos futuros no

    estaria precificada.

    Em sntese, a HME implica que o preo de ttulo ou ao:

    r

    Est sempre cotado no seu valor justo, isto

    ,

    no seu valor fundamental.

    n. Reage imediatamente em relao s novas informaes relevantes.

    iii. Modifica-se somente quando ocorrem mudanas no seu valor fundamental.

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    14

    2.2 odelos financeiros tradicionais

    Para se precificar ativos financeiros no mercado de capitais, necessrio que se estime

    a taxa de retorno esperada E(Ri) de cada papel ou da carteira de ttulos e aes, em dado

    intervalo de tempo e investimento, alm do valor presente lquido do ativo NPVt. dado pelo

    seu fluxo de caixa descontado atravs da taxa de retomo requerida. Entre os modelos

    utilizados

    com

    este

    fim,

    destacam-se o CAPM (Capital Asset Pricing Mode[ , o APT

    (Arbitrage Pricing Theory) e o modelo Black Scholes para opes.

    Tais modelos se embasam no ncleo (core) do programa

    de

    pesquisa

    da

    Teoria

    de

    Portflios, que tem origem nos trabalhos seminais de Markowitz (1952, 1959). A modelagem

    do comportamento de investidor tpico fundamentada nos seguintes pressupostos e hipteses

    da teoria do portflio de Markowitz (1959):

    1. A rentabilidade de determinado ativo financeiro varivel aleatria cuja distribuio

    bedece a curva normal, r N(Ri;

    0

    i

    .

    n. As rentabilidades dos diferentes ativos so correlacionadas e definidas pela

    covarincia entre as mesmas, Cov(R;; Rj E(R;RJ) - E(R;)E(Rj).

    m. Os investidores so maximizadores de utilidade e preocupam-se com a mdia E(R

    1

    ) e a

    varincia a} dos retornos dos ativos. Utilizando a hiptese da utilidade esperada,

    apresentam averso ao risco que se traduz por funo de utilidade cncava U[E(W)] >

    E[U(W)], onde W o nvel de riqueza.

    IV. O horizonte de investimento limitado a um s perodo, isto , a otimizao de

    carteira esttica.

    Nota-se, portanto, que o artigo de Markowitz, PortjOlio Selection , publicado

    em

    junho de 1952 no Journal o Finance, vale-se da teoria das probabilidades,

    da

    amostragem, da

    curva em sino, da disperso ao redor da mdia, da regresso mdia e da teoria da utilidade.

    Mas, de qualquer forma, a grande inovao do

    autor- apesar de nos dias de hoje, o conceito

    ser trivial - foi tratar risco e varincia como sinnimos, isto , como conceitos positivamente

    correlacionados.

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    15

    O papel estratgico da diversificao

    o

    insight-chave

    de Markowitz. Enquanto o

    retorno de carteira diversificada equivaler mdia das taxas de retorno de seus componentes

    individuais, sua volatilidade ser inferior volatilidade mdia de seus componentes

    individuais.

    Sobre isso, BERNSTEIN

    1997:

    253)

    faz

    comentrio relevante:

    Embora Markowitz nunca mencione a teoria dos jogos h forte semelhana entre a

    diversificao e os jogos de estratgia de

    on

    Neumann. Neste caso

    um

    jogador

    o

    investidor e o outro o mercado de aes

    -

    alis um poderoso oponente alm de reticente

    quanto s suas intenes. Jogar para vencer esse oponente receita quase certa para o

    fracasso. Ao fazer o melhor de uma barganha ruim

    -

    ao diversificar

    em

    vez

    de

    tentar dar

    uma tacada- o investidor pelo menos maximiza as probabilidades de sobrevivncia.

    As carteiras eficientes minimizam a varincia ao mesmo tempo em que maximizam o

    retomo. Markowitz reservou o termo eficiente para carteiras que combinam

    as

    melhores

    aes por aquele preo com o mnimo

    de

    varincia - otimizao o termo tcnico. A

    abordagem combina dois clichs que os investidores aprendem desde cedo: sem risco no h

    lucro e no ponha todos os ovos na mesma cesta .

    Os

    problemas tcnicos que surgem do pressuposto

    de

    Markowitz so que

    os

    investidores no tero dificuldades em estimar as entradas

    de

    seu modelo: os retornos

    esperados, as varincias e as covarincias, isto , a existncia (ou no)

    de

    correlao entre

    os

    movimentos de todas as aes individuais.

    Os

    obstculos da aplicao prtica das idias da teoria do portflio levaram William

    Sharpe a apontar determinada soluo. Esta foi a

    de

    estimar a variao

    de

    cada papel em

    relao

    ao

    mercado como um todo, clculo bem mais simples. Essa tcnica levou,

    subsequentemente,

    ao

    desenvolvimento, por Sharpe, do que passou a ser conhecido como

    Modelo de Determinao de Preo de Bens

    de

    Capital (CAPM). Ele analisa como os ativos

    financeiros seriam avaliados

    se

    todos os investidores seguissem risca as recomendaes

    de

    Markowitz. Deve-se destacar que o autor compreende os seres humanos como tomadores

    de

    decises racionais.

  • 7/23/2019 DamianoGiovani_TCC

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    16

    O modelo CAPM, segundo Copeland e Weston 1988i, foi desenvolvido quase

    simultaneamente por Sharpe 1963, 1964) e Treynor 1961), e posteriormente por Mossin

    1966), Lietner 1965) e Black 1972). Outro modelo de equilbrio dos preos de ativos

    financeiros a APT, que se configura como a generalizao do CAPM, desenvolvido por

    Ross em 1976. A teoria das opes foi desenvolvida por Merton, Black Scholes em 1973,

    sendo o modelo mais utilizado no mercado, principalmente pela simplicidade e facilidade com

    que pode ser implementado.

    Para o desenvolvimento

    do

    CAPM, de acordo com COPELAND e WESTON 1988)

    3

    ,

    foi necessrio definir algumas hipteses:

    1

    Os

    investidores so indivduos racionais, avessos

    ao

    risco e maximizam a utilidade

    esperada da sua riqueza a cada fim de perodo. Para isso, tornam suas decises

    baseados no valor esperado e varincia das distribuies futuras das taxas de

    rentabilidade.

    u. Os investidores so tomadores de preos e tm expectativas homogneas sobre os

    retornos dos ativos, os quais assumem distribuio normaL

    m Existe ativo livre de risco que os investidores podem tomar emprestado ou emprestar

    quantias ilimitadas mesma taxa livre de risco.

    IV. As quantidades de ativos so fixas. Alm disso, todos os ativos so negociveis e

    perfeitamente divisveis.

    v

    Os

    mercados de ativos no tm conflitos entre os agentes. As infonnaes no tm

    custo

    e

    esto disponveis para todos os investidores. Nenhum investidor apresenta

    acesso privilegiado s informaes.

    vt

    No existem imperfeies de mercado tais como impostos, regulamentao ou

    restries sobre venda a descoberto\ isto

    ,

    no possui custos de transao.

    Dentro do modelo de precificao de ativos, a relao do comportamento de

    determinado ttulo ou portflio especfico de ttulos com o portflio de mercado

    se

    d pela

    Apud COSTA, CUNHA e RIBEIRO 2008: 70).

    3

    Idem.

    4

    Venda a descoberto se faz quando um aplicador aluga uma ao de outro investidor, vende o papel, pois est

    apostando na baixa, e depois o recompra. Aps isso, devolve ao detentor inicial.

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    17

    reta caracterstica . Esta estabelece a relao entre os retornos de algum ttulo e os retornos

    da carteira de mercado. Pode ser derivada por meio de dados histricos, atravs dos quais se

    presumir o valor futuro esperado. Identificados os retornos dos ttulos e da carteira de

    mercado, constatando-se a correlao positiva dessas variveis, atravs

    d

    regresso linear

    5

    ,

    possvel a obteno

    d

    reta caracterstica .

    Dadas as suposies acima, pode-se derivar a verso mais simples do

    CAPM,

    simbolizada pel equao abaixo:

    E Ri) Rr E RM)- Rr)p,

    Onde E(Ri) o retorno esperado de ativo com risco, i; Rr o retomo de ativo sem risco;

    E :Rr.A)

    o retomo esperado do mercado corno um todo; e

    denominado coeficiente e risco

    sistemtico

    ou simplesmente

    beta.

    Este a medida da sensibilidade

    do

    retomo do ativo i

    s

    variaes nos retornos do mercado como um todo.

    O que a equao diz que o retomo esperado, para qualquer ativo ou bem econmico,

    igual

    taxa sem risco, dada pelo retomo dos ttulos do governo, mais o prmio pelo risco de

    se investir neste ativo. A simplicidade deste modelo reside

    n

    relao linear positiva existente

    entre o risco (no diversificvel) e rentabilidade.

    No contexto do CAPM, o coeficiente angular

    d

    reta de regresso, denominado de

    coeficiente

    beta

    calculado pela seguinte formulao:

    Onde Cov (Ri,

    RM

    a covarincia entre os retornos do ativo

    i

    e

    d

    cmteira de mercado, e

    Var(RM) a varincia do mercado.

    Uma vez obtido o retomo esperado

    E Ri),

    os agentes iro descontar o fluxo de caixa

    esperado do ativo

    em

    questo., visando obter seu valor presente

    NPV

    e determinar seu preo

    correto. Com isso,

    um

    ativo est corretamente precificado se seu preo observado no mercado

    o mesmo que o calculado atravs do CAPM.

    5

    Sabe-se que o risco no sistemtico ou diversificvel

    aquele que pode ser eliminado por meio da

    diversificao. Portanto, o erro da reta de regresso poderia assumir o valor zero.

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    O CAPM

    consistente com a plausibilidade da teoria de escolha em incerteza, na qual

    os investidores devem requerer retomo mais elevado ao manter ativos mais arriscados. Se

    P>

    1

    ento o risco do ativo maior que a mdia do mercado, assim como se

    P

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    E

    R

    LMC

    Retorno

    Esperado

    19

    1.0

    dR

    Figura

    1 1

    Linha de Mercado de Capitais com Fronteira Eficiente e Retorno Esperado em

    funo do beta

    Dado que cada ativo individual introduzido em determinado portflio diversifica-o

    apenas marginalmente, dependendo da correlao com os movimentos

    de

    preos

    de

    outros

    ativos, h algum portflio timo para cada nvel de retomo que compreende todos os ativos

    no mercado ponderados pela sua participao relativa

    6

    Os portflios timos para cada nvel

    de retorno esto representados

    na

    Fronteira Eficiente FE) e a Carteira de Mercado M) ficar

    em certo ponto sobre esta curva. Na relao grfica entre risco cr e retomo E R), a Linha

    do

    Mercado de Capitais LMC), situada desde a taxa livre de risco, passando por M a melhor

    alocao de capital possveL

    Se o investidor aplicar determinada proporo de seus recursos no portflio de risco, e

    obter juros do restante aplicados no ativo livre de risco, ou tomar recursos emprestados para

    financiar suas operaes arriscadas, ento para dado nvel de retomo, haver apenas um

    portflio timo que combinado com recursos aplicados ou tomados como emprstimo a esta

    taxa alcana o menor nvel de risco para cada retorno possvel. A Carteira de Mercado

    M

    aquela que representa o benchmark para os ativos - se estivermos lidando com a Bovespa, a

    carteira M representa

    as

    aes usadas na mesma proporo para calcular o ndice Bovespa.

    Todos os investidores possuiro carteiras na LMC, diferenciando-se apenas na proporo de

    recursos de sua riqueza investida entre renda fixa e variveL Seguindo as implicaes do

    6

    Isso assumindo a ausncia

    de

    custos de transao e que os ativos so infinitamente divisveis.

  • 7/23/2019 DamianoGiovani_TCC

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    CAPM, para o gestor de investimentos ser mais apropriado fazer gesto passiva, mantendo

    portflio composto pelos ativos do ndice de referncia, visando replicwlo e assim manter o

    desempenho da carteira gerida igual ou muito prximo

    variao deste. Somente

    se

    o

    mercado possuir ineficincias sistrnicas que violem os pressupostos da HME, o gestor

    poder explor-las, comprando e vendendo ativos que julgue abaixo ou acima do valor

    fundamental, visando superar a perfomance do benchmark.

    No mundo lgico do CAPM, algum investidor ativo que escolher qualquer outra

    carteira estar com alocao menos eficiente do que a LMC usada pelos gestores passivos. Da

    mesma forma, caso existam ativos precificados a mercado abaixo

    do

    seu valor justo, estes

    estaro acima da LMC. Tal diferena entre a taxa de retomo

    justa

    e a taxa real de retomo

    obtida chamada de

    alpha

    ai, sendo este novo parmetro coeficiente linear para a equao do

    CAPM.

    E R;) - R

    ~ a [E Rm)

    -

    R,]

    Entretanto, o parmetro

    alpha

    por expectativas racionais, somente ocorrer por erros

    sistemticos transitrios, pois E e) =

    O

    Com isto, o CAPM prev que i

    = O Se

    os

    investidores so i) racionais e promovem suas anlises com base na mdia e varincia do

    retomo dos ativos; ii) aplicam esta anlise ao mesmo universo de ativos; iii) possuem

    horizontes de anlise idnticos; iv) experimentam o mesmo ambiente de regras; e v) tm

    expectativas homogneas sobre os fluxos de caixa dos ativos; ento

    no

    necessrio praticar

    as estratgias de gesto ativa das carteiras, visando superar a perfomance de risco/retomo da

    Carteira de Mercado atravs da descoberta de ativos precificados abaixo de seu valor justo. Os

    investidores preocupar-se-o com sua tpica averso ao risco, o que determinar

    s

    percentuais de alocao de seus recursos entre o fundo mtuo renda varivel) e o ativo livre

    de risco renda fixa).

    O

    alpha

    medir o desvio da performance do portflio daquela prevista

    pelo CAPM. Entretanto, para o gestor ativo, este parmetro tem expectativa zero ao longo do

    tempo, visto que pelo passeio aleatrio dos preos e pela HM isso no ocorrer,

    sistematicamente, de um lado ou de outro do mercado. m mdia, o mercado estar sempre

    correto.

    A

    Arbitrage Pricing Theory

    APT) foi desenvolvida por Ross em 1976. Este modelo

    alternativo buscava superar as limitaes do modelo CAPM. Ele tem o pressuposto de que o

    mercado a nica fonte de risco, ou seja, o risco de todas as aes unidirecional, relativo

    apenas ao fator beta. Assim, construiu-se o modelo de mltiplos fatores, que generaliza o

  • 7/23/2019 DamianoGiovani_TCC

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    21

    modelo CAPM e procura explicar esta relao entre o retomo esperado de ativo quantificado

    e o risco no diversificvel, isto , o do mercado. Na verdade, ele no se verifica somente em

    relao

    s

    oscilaes de mercado, mas tambm quanto

    influncia por outros fatores que

    afetam caractersticas individuais de cada ativo.

    O modelo PT prev a sensibilidade de algum ativo a dado conjunto de fatores. Estes

    fatores podem ser de mbito setorial ou macroeconmico. So responsveis pela parte do

    risco que no pode ser anulada com a diversificao, ou seja, Risco Sistemtico. Essa relao

    diretamente proporcional, sendo que, quanto maior a sensibilidade, maior o risco e maiores

    as possibilidades de perdas ou ganhos.

    As suposies necessrias para o PT so:

    1

    Os investidores so avessos a risco e procuram maximizar sua riqueza de fim de

    perodo.

    11 Os investidores podem tomar emprestado e emprestar

    taxa

    livre de risco.

    111 No h frices no mercado tais como custos de transao, impostos

    ou

    restries para

    venda a descoberto.

    tv. Os investidores concordam acerca do nmero e identidade dos fatores que so

    sistematicamente importantes na precificao de ativos.

    v

    No h oportunidades de ganhos de arbitragem sem risco.

    O desenvolvimento do modelo parte dos retornos dos ativos individuais. Ross,

    Westerfield e Jaffe 2002)

    7

    representam que a taxa de retomo de determinado ativo pode ser

    dada por:

    R a taxa de retomo esperada no perodo,

    a parcela esperada

    do

    retorno e U indica a

    parte inesperada. Considerando este ativo corno fosse alguma ao, a parcela inesperada pode

    ser influenciada

    por

    diversos fatores, como atividade de produo da empresa, dados

    divulgados pelo governo a respeito do crescimento da economia, crescimento da concorrncia

    7

    apud COSTA, CUNHA e RIBEIRO 2008: 75).

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    22

    de

    produtos no ramo de atividade da empresa, queda na taxa de Juros, expectativas

    inflacionrias, etc.

    possvel, ento, decompor o risco do ativo em questo em dois componentes: o

    sistemtico ou risco de mercado m) e o no sistemtico E), que eliminado pela

    diversificao dos investimentos. O coeficiente beta indica a sensibilidade da variao do

    retorno de algum ativo especfico em relao a certo fator qualquer, podendo conter N fatores.

    Com essa generalizao, chega-se frmula do APT, que pressupe o retorno justo intrnseco

    a cada ativo

    como

    reflexo

    dos

    fatores

    que

    o influenciam, como se verifica a seguir:

    O modelo APT explica os retornos dos ativos como reflexo de nmero indeterminado

    de fatores que quantificam o contexto econmico, poltico e empresarial em que a empresa

    est inserida.

    De acordo com Grinblatt e Titman 2005: 181)

    8

    , existem trs maneiras de estimar os

    fatores de risco em modelo APT:

    i)

    utilizar procedimento puramente estatstico, como a

    anlise fatorial, para estimar fatores e a sensibilidade dos retornos a eles;

    ii)

    utilizar sries

    temporais de variveis macroeconmicas, como mudanas na taxas de juros e mudanas na

    atividade econmica, na condio de aproximaes para os fatores comuns; iii) utilizar

    caractersticas da empresa, como o tamanho, sabendo de seu relacionamento com os retornos

    acionrios, para formar carteiras de fator.

    Enfim, o CAPM, bem como o APT, so modelos econmicos que buscam mensurar o

    retorno

    de

    investimentos a partir da influncia de cada fator pelo CAPM, e

    n

    fatores na

    mensurao do retorno pelo modelo APT. Este possibilita quantificar o valor mais prximo do

    valor justo, porm menos empregado em relao

    ao

    CAPM, devido a sua complexidade

    de

    clculo.

    O modelo de precificao

    de

    opes de Black Scholes depende dos seguintes

    fatores: o preo de exerccio do contrato da opo X), o preo do ativo objeto no mercado

    vista S), a taxa

    de

    juro sem risco a vigorar durante a vida da opo r), a volatilidade risco)

    dos retornos da ao objeto

    cr),

    o tempo,

    em

    dias, que resta at o vencimento dt), e o

    dividendo esperado durante a vida da opo.

    8

    Apud ROGERS e SECURA TO 2008: 1).

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    23

    O fator que merece mais destaque

    a volatilidade esperada do ativo subjacente. Pois

    todas as variveis so dadas - fora a taxa de juros que sofre normalmente poucas alteraes

    peridicas, mas a premissa

    que ela permanece constante, conforme ser visto

    -,

    enquanto

    que a grande dificuldade inferir a volatilidade para o perodo vigente da opo. A

    probabilidade de que o preo de alguma ao possa subir ou cair irrelevante. A nica coisa

    que importa at onde o preo da ao pode ir, e no a direo

    em

    que se move. A noo de

    que a direo da mudana de preo

    irrelevante para a avaliao de opo

    to anti-intuitiva

    que explica em parte a demora de Black Scholes em alcanar a resposta que procuravam

    (BERNSTEIN, 1997: 313-314). Mas ela decifra o enigma devido natureza assimtrica da

    prpria opo: o potencial de perda do investidor limita-se ao prmio, enquanto o potencial de

    lucro ilimitado

    9

    .

    Forma intuitiva de se compreender o funcionamento do modelo de Black Scholes

    pode ser encontrada

    em

    Tompkins (1994)

    10

    , embora o prprio autor reconhea a falta de

    maior rigor terico nas simplificaes feitas para a anlise. Segundo esse autor, o preo da

    cal

    (C), por exemplo, pode ser visto como

    esperana matemtica,

    onde N dl) a

    probabilidade do preo do ativo chegar ao

    vencimento acima do preo de exerccio (X), e

    N(d2) a probabilidade do preo do ativo cair abaixo do atual preo de mercado (S). N dl)

    a probabilidade de ganho ilimitado, caso o preo do ativo suba, e N( d2), de uma perda

    limitada, caso caia. A soma dessas duas probabilidades que dar o valor no tempo da opo.

    No momento do vencimento, N dl) e N(d2) sero ambas iguais a 1 caso a opo termine em

    exerccio, ou iguais a zero, caso Vire p

    Nesse caso o preo da cal ser inteiramente o do

    valor intrnseco

    11

    e o valor no tempo ter sido totalmente corrodo.

    A frmula de Black Scholes para o preo de

    cal

    a seguinte:

    d

    (d

    -r-d

    ~

    SN( 1)- XN 2)

    9

    Por exemplo, a ao da empresa XYZ est cotada a $50, e o preo da opo de compra (cal[) de $2,00, com

    preo de exerc ido a $50,50. Caso o preo da ao caia para $45, $40 ou at $20 durante a vigncia da opo, seu

    detentor no perder mais de $2,00. Acima de $50,50, o detentor ganhar a diferena entre o preo do ativo

    objeto menos o preo de exerccio ($50,50) menos o prmio pago pela opo ($2,00). Ou seja, at $ 52,50, o

    lucro mximo zero, e acima de $52,50, o potencial de lucro

    infinito-

    pelo menos em teoria.

    10

    Apud Souza (1996: 9).

    11

    O valor intrnseco de uma opo a quantia em que esta se encontra dentro-do-dinheiro, ou seja, o fluxo

    financeiro que entraria no caixa do detentor da opo caso ela fosse exercida imediatamente. Uma cal de preo

    de

    exerccio R$100,00 cujo ativo objeto estivesse cotado a R$105,00 possuiria um valor intrnseco de R$5,00.

    Algebricamente, o valor intrnseco (VI) de uma opo costuma ser definido por:

    VI mx [0, S- X], para o caso das

    cal s;

    e VI= mx [0,

    X-

    S], para o caso das uts

    put

    a opo de venda.

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    25/96

    Sendo:

    tn f)

    r + ~ ) - d t

    l

    ft

    24

    L

    1 X

    e > d x

    N x) oo.J21r

    Os dois pressupostos principais do modelo so: os preos do ativo-objeto da opo

    devem seguir uma distribuio lognormal e a volatilidade deve ser constante. Segundo Souza

    1996: 11), o Black Scholes generalizado trabalha muito bem para opes europias

    2

    sobre aes (com e sem dividendos), futuros e indices, sem apresentar as dificuldades

    operacionais que outros modelos mais sofisticados costumam apresentar .

    As

    hipteses a serem feitas para que o modelo seja vlido, so as seguintes:

    1.

    A

    varincia

    dos retornos das aes objeto de negociao so constantes ao longo da

    vida

    da

    opo implica que a volatilidade se mantenha constante).

    11. A taxa de juro

    constante ao longo da vida da opo.

    m. Os preos das aes variam de forma continua, ou seja, no se observam saltos

    abruptos, ou discretos, na trajetria dos preos, que constituem um processo

    estocstico.

    IV.

    Os preos das aes seguem urna distribuio lognormal, e, por consequncia, seus

    retornos, uma distribuio normal.

    v.

    No existem custos de transao.

    vi. No existem dividendos pagos sobre

    as

    aes.

    VII. As

    opes

    s

    podem ser exercidas no dia do vencimento do contrato.

    2.3 lgumas crticas aos modelos tradicionais

    12

    A opo europia contrato que permite a seu detentor optar por e x e r ~ lo ou no apenas em determinada

    data, a data de sua expirao. A opo americana pode ser exercida em qualquer dia at o vencimento, o que d a

    seu detentor mais direitos, ou maior possibilidade de escolha, e por isso mesmo, deve sempre valer mais do que

    a opo europia.

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    25

    Dentre as principais metas dos gestores de certa organizao, tem-se a criao de valor

    da empresa, e conseqentemente, a promoo da maximizao da riqueza de seus acionistas.

    necessrio, para tanto, mensurar e avaliar os retornos dos investimentos que culminem em

    decises acerca de manter, aumentar ou retirar os investimentos de determinada empresa ou

    setor. Assim,

    irrefutvel saber o verdadeiro valor que qualquer investimento pode

    proporcionar.

    Como a prpria teoria apresenta, o CAPM incapaz de perceber todas as modificaes

    do

    mercado, uma vez que este avalia apenas o risco sistemtico. H certo valor de beta nico

    para mensurar todas as variveis que o mercado apresenta.

    A

    construo

    de qualquer teoria requer simplificao ou reduo dos fenmenos

    estudados, abstraindo-os para focalizar determinado interesse. Para compreender e modelar

    qualquer processo econmico, os elementos existentes na vida real so simplificados ou

    ignorados por hiptese. Embora algum modelo baseado em hipteses simplrias sempre possa

    ser questionado por causa dessas hipteses, o teste relevante do prejuzo resultante da

    simplificao ou reduo consiste em examinar a relao entre as estimativas do modelo e os

    fenmenos observados na realidade. o teste

    de

    aderncia estatstica de seus resultados. a

    avaliao dos modelos por seus resultados e no pelo irrealismo de suas hipteses.

    O CAPM sempre foi muito criticado, devido

    s

    hipteses restritivas que faz da

    realidade. Entre elas, est a que os investidores possuem expectativas homogneas e usam

    como parmetro de deciso, apenas a mdia e varincia dos retornos para escolher seus

    portflios eficientes.

    Na dcada de 60, logo aps o desenvolvimento do modelo, vasta literatura acadmica reportou

    evidncias favorveis ao CAPM corroborando a eficincia em mdia e varincia do portflio

    de mercado. Entretanto,

    no

    final dos anos 70 as evidncias contrrias ao CAPM comearam a

    aparecer. Logo os defensores do

    CAPM

    denominaram essas evidncias de anomalias de

    mercado , denotando algo anormal e passageiro (ROGERS e SECURATO, 2008: 14).

    As anomalias so entendidas como caractersticas especficas das aes que podem ser

    utilizadas para agrup-las em portflios, de maneira a conseguir retornos superiores

    ao

    retomo

    de mercado. Alternativamente, e contrrio fundamentao terica do CAPM, as

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    6

    caractersticas

    das

    empresas, inseridas

    em

    modelos

    de

    explicao

    de

    retornos, poderia ter

    poder explanatrio superiores ao prprio beta do CAPM.

    Apesar

    de

    o modelo do

    C PM

    ser a tcnica de avaliao

    de

    retorno mais amplamente

    adotada

    para

    o clculo do valor do retomo efetivo de certo investimento, no existe

    fnnula

    de avaliao que

    produza

    valor final certo e exato.

    Os

    resultados produzidos

    de

    maneira

    determinstica pelo CAPM tradicional no podem ser tomados como valor final e

    inquestionvel. A determinao do retomo de qualquer investimento

    de

    alguma organizao

    processo complexo e envolve diversas variveis subjetivas e informaes que afetam o valor

    encontrado.

    O rigor terico-quantitativo proposto pelo modelo perde objetividade quando se baseia

    em limitaes do modelo CAPM. Ele tem o pressuposto de que o mercado a nica fonte de

    risco, ou seja, o risco

    de

    todas as aes unidirecional, relativo apenas a certo fator (beta).

    Em suma, parece que a controvrsia entre o uso do modelo unidimensional do CAPM

    e o uso de modelos multidimensionais est longe

    de

    ser resolvido. A discusso sobre os

    problemas encontrados

    nos

    testes empricos do

    C PM

    envolve falhas deste modelo, como

    tambm ineficincias do mercado

    que

    no precifica corretamente as aes ou ativos.

    Cabe ainda salientar que o CAPM no o nico modelo em Finanas que apresenta

    problemas. O

    que

    acontece que como ele um dos modelos mais testados na prtica, ele

    tambm o modelo

    com

    a maior lista de anomalias encontradas em suas previses. Outros

    modelos de precificao como a

    PT

    Arbitrage Pricing Theory) e o modelo

    de

    precificao

    de opes de

    Black

    e Scholes, tm tanto

    ou

    mais problemas, alguns

    dos

    quais

    j

    detectados e

    discutidos na literatura. Todos estes modelos podem e at

    devem ser

    utilizados, pois

    trouxeram grandes avanos na rea

    de

    Finanas,

    mas

    eles no

    devem

    ser sacralizados, pois

    todos so simplificaes

    da

    realidade. Neste sentido,

    de

    acordo

    com

    o individualismo

    metodolgico cientfico, eles so construdos para receberem tentativas de falseamentos.

    Enquanto sobreviverem aos testes

    de

    seus resultados se

    mantm como PPC

    - Programa de

    Pesquisa Cientfico.

    2 4 Consideraes finais

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    7

    Dentre todas as premissas adotadas para a precificao dos ativos a partir das Idias

    Capitais das Finanas Racionais, as que se destacam so as que supem que os agentes so

    racionais e que eles tm expectativas homogneas. Assim, de acordo com o modelo

    consagrado de precificao de ativos, seus valores de mercado so estabelecidos com o

    desconto dos seus fluxos futuros de caixa, ou seja, a taxa de desconto que os traz para valor

    presente incorpora as expectativas sobre o futuro. No caso de fluxos irregulares, o Modelo de

    Precificao de Ativos Financeiros (CAPM -

    Capital Asset Pricing Model)

    compara ou

    correlaciona os retornos de cada ao individual aos retornos do mercado. O mercado o

    padro ou denominador comum para a obteno do que

    conhecido com risco no

    diversificvel ou risco sistemtico.

    Se todos os agentes compreendem da mesma forma como deve ser quantificado cada

    ativo, ento, apenas casual ou aleatoriamente algum investidor poder encontrar

    oportunidades de vender caro e comprar barato. Mas a Hiptese de Mercado Eficiente (HME)

    sugere que ele, logo, ser acompanhado por outros, e a arbitragem levar o preo para seu

    valor fundamentado . Portanto, as caractersticas do mercado e a natureza aleatria dos erros

    de

    previso, de acordo com

    random walk de

    notcias recebidas, fazem com que se assuma

    ser impossvel algum gestor obter tais oportunidades sistematicamente.

    Logo, partindo da HME, pagar taxa de administrao por gesto ativa de carteira seria

    desperdcio de recursos dos aplicadores, uma vez que os gerentes de investimento no

    conseguiriam superar, sistematicamente, os retornos do mercado. Seria melhor, ento, aplicar

    em algum fundo representativo que acompanhe o mercado, ou seja, em carteira referenciada

    ao ndice de desempenho da bolsa de valores. A deduo relevante que a melhor estratgia

    de investimentos em riscos seria a gesto passiva

    de

    ativos de renda varivel, adequando sua

    proporo em relao aos ttulos de renda fixa de acordo com a averso ao risco do investidor.

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    8

    3. FINANAS COMPORT MENTAIS

    O segundo captulo desta monografia procurou traar os pressupostos racionais dos modelos

    tradicionais para tomada de deciso financeira e precificao de ativos financeiros. Concluiu-se

    parcialmente a respeito de qual seria a estratgia de investimentos a ser adotada a partir de tais

    modelos no caso a gesto passiva. O grau de complexidade economtrica foi reduzido uma vez que o

    objetivo era deduzir essa estratgia e no demonstrar o uso de instrumento sofisticado. Frmulas

    matemticas em alguns casos podem at ter elevar a capacidade de previso porm algumas

    anomalias recorrentes nos mercados so desprezadas por elas impedindo a deduo da postura

    pragmtica: acompanhar o mercado.

    Este terceiro captulo comea situando as Finanas Comportamentais na trajetria do

    pensamento econmico.

    Em

    seguida realizada sua caracterizao. Posterionnente analisa-se a

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    29

    problemtica que envolve a utilizao de dados passados para se projetar o futuro. Por fim, elenca-se

    os principais erros cognitivos na tomada de deciso, descrevendo a maneira como eles afetam os

    investimentos. Tudo isso apoiar, no quarto

    e

    ltimo) captulo, a apresentao da relao existente

    entre os comportamentos heterogneos dos participantes dos mercados e os preos dos ativos

    financeiros.

    3.1 Histria do pensamento econmico psicolgico

    Historicamente, desde o momento em que Economia e Psicologia desvencilharam-se da

    Filosofia,

    ambas

    passaram a ter rumos prprios. Descouvires (1998) considera

    A

    teoria

    dos

    Sentimentos Morais (1759) de Adam Smith o primeiro estgio da Psicologia Econmica, ao

    selecionar como objeto de estudo o leque de problemas enfrentados pelo homem na sua busca por

    bem-estar, frente aos desafios da prpria sobrevivncia (apud FERREIRA, 2007, p.47). Mais adiante,

    a busca da Cincia Econmica por formalizao e aproximao com o status das Cincias Naturais ou

    Exatas, atravs do mtodo lgico-dedutivo, colocaram de lado a discusso sobre o comportamento

    humano atravs de adoo das premissas simplificadoras dos modelos.

    Resumindo esse captulo da histria

    do

    pensamento econmico, o utilitarismo, tendo como

    pano de fundo a Revoluo Industrial no final do sculo XVIII, focava-se no princpio da felicidade.

    Bentham preocupa-se com a utilidade atravs da medida cardinal do prazer. Sua noo de

    racionalidade dependeria

    d

    conformidade em se maximizar a utilidade. Portanto, para ele, o indivduo

    seria hedonista e buscaria encontrar prazer e evitar a dor. Foi esse pensamento que mais influenciou

    os

    economistas no final

    do

    sculo XIX.

    John Stuart Mill converteu esta abordagem no conceito de homem econmico , em 1836, e

    Jevons adicionou matemtica dedutiva, derivando o princpio

    d

    utilidade marginal decrescente. De

    acordo com ele, o valor determinado pela utilidade hednica. Sugeriu que o princpio da

    maximizao da utilidade atende

    necessidade de simplificao, ou melhor, de abstrao

    do

    fenmeno econmico puro da realidade complexa. Segundo FERREIRA (2007: 49), diferentemente de

    outros economistas de seu tempo, refere-se ao importante psiclogo da poca: Mr. Bain (Wameryd,

    2005b). Ainda no final do sculo XIX, a economia tendia a acreditar na existncia de natureza humana

    universal, elaborando as leis gerais que poderiam explic-la.

    H duas dificuldades metodolgicas ao analisa o padro de comportamento humano fornecido

    pelos economistas, no final do sculo XIX: a mensurabilidade da utilidade cardinal e a dependncia

    do

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    hedonismo como base para teorizao econmica. Estes problemas em parte explicam por que a

    Cincia Econmica baseada no clculo hednico perdeu sua atratividade pela Psicologia.

    MURAMATSU 2009: 67) alega que o expurgo de temas psicolgicos parece ter se dado em

    dois estgios.

    One was the gradual shift

    rom

    theorizing on cardinal hedonic utility

    to

    ordinal utility;

    another was building n explanation in terms o utility and probability axioms without any clear

    psychological basis .

    A autora traa, ento, linha histrica partindo da renncia do hedonismo para escolha baseada

    na teoria da utilidade, na virada do sculo XX, como o primeiro passo desvinculao entre

    Psicologia e Economia. Passa por Walras, Pareto, Slutsky, Knight, Hicks Allen

    13

    , at chegar a

    Samuelson e sua explicao para o comportamento sem referncia psicolgica. Sua teoria

    explicada

    em termos da escolha, isto , preferncia revelada, que equivalente por hiptese ao resultado do

    problema da maximizao da utilidade. Samuelson alega que as escolhas observadas bastam para

    explicar o comportamento econmico, alm de revelar o estado racional interno dos agentes. Houve,

    assim, tendncia de abstrair a

    Psicologia na Economia Pura.

    Posteriormente, a teoria de Savage, variante da utilidade esperada, dispensa qualquer tipo de

    embasamento psicolgico. teoria normativa ao invs de descritiva. Melhorando a anlise de Von

    Neumann Morgenstern, estrutura-se em uma funo de utilidade, que ponderada pela

    probabilidade subjetiva esperada. Esta formulada, subjetivamente, pelo tomador de decises. As

    probabilidades so subjetivas a partir do senso de que so derivadas das preferncias dos agentes sobre

    certas apostas. O comportamento na escolha explicado em termos de consistncia racionalidade) nas

    restries sobre preferncias dos indivduos. Em outras palavras, o comportamento explicado por

    meio de srie de axiomas da utilidade racional e probabilstica. A teoria da utilidade subjetiva

    esperada, portanto, a culminao dos esforos tericos para afastar a Economia d Psicologia.

    Por outro lado, FERREIRA 2007: 74), deixa claro que sempre houve crticas s premissas

    comportamentais adotadas pela Economia. Aps reviso bibliogrfica de diversos pesquisadores da

    rea, sintetiza a histria da Psicologia Econmica:

    Assim, este primeiro olhar sobre o conjunto das concepes oferecidas por autores da

    Psicologia Econmica sobre as origens da disciplina nos permite afirmar que existe,

    majoritariamente, um viso comum sobre o seu nascimento como estando vinculado aos

    trabalhos de Gabriel Tarde e Thorstein Veblen, entre o final do sculo XIX e incio do sculo

    XX. Outras nfases importantes apontam para o papel de Adam Smith, no sculo XVIII, da

    Escola Psicolgica Austraca de Karl Menger e da Economia Poltica, na segunda metade do

    13

    Estes dois autores em 1934 selaram o fim

    do

    conceito psicolgico de utilidade para determinar as escolhas. O

    conceito de taxa marginal de substituio removeu a necessidade do uso da utilidade marginal.

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    31

    sculo XIX, de George Katona, nos EUA, e Pierre-Louis Reynaud, na Frana, ambos na

    metade do sculo

    XX

    Foi aps a publicao

    de

    Principies o Psychology,

    de William James, em 1890, que

    os

    economistas passaram a receber crticas por no utilizar dados psicolgicos

    em

    seus estudos. A partir

    disso, os desenvolvimentos recentes na Psicologia abriam caminho para a busca por conhecimento

    mais elaborado nessa rea, incluindo, neste objetivo, a teoria da racionalidade mais complexa, ou

    mesmo, sua completa rejeio WRNERYD apud FERREIRA, 2007: 50).

    A ttulo de ilustrao das colises e aproximaes entre as duas disciplinas, o prprio Keynes,

    ao

    usar o conceito de esprito animal para indicar fatores psicolgicos,

    em

    1936, teria sido

    influenciado por conceitos psicanalticos. Alguns intrpretes justificavam isso por sua proximidade

    do

    grupo de Bloomsbury, que inclua alguns seguidores de Freud (WRNERYD apud FERREIRA, 2007:

    59).

    De qualquer forma, a partir dos anos de 1950, surgtram crticas baseadas em evidncias

    empricas, contrastando a hiptese da maximizao da utilidade esperada. Simon (1955, 1997) e

    Katona (1951) (apud MURAMATSU, 2009: 73) contriburam, significativamente, para a reunificao

    da Economia e Psicologia. Fizeram fortes crticas s suposies psicologicamente irrealistas implcitas

    na teoria da utilidade (esperada). Simon introduz o conceito de racionalidade limitada

    bounded

    rationality)

    ao argumentar que a teoria neoclssica da escolha pode encobrir heursticas, isto

    ,

    processos mentais ou rotinas atravs das quais indivduos fazem julgamentos e tomam decises. A

    principal objeo de Katona Economia sem Psicologia seria que esta oferece explicao obscura

    sobre processos ou mecanismos que do origem ao comportamento no mundo real.

    poca, esse tipo de crtica no

    foi

    levado muito a srio. A maioria dos economistas

    compartilhou da viso metodolgica positivista de Friedman (1953). Ela afirmava que a fora de

    qualquer teoria depende, unicamente,

    de

    seu poder preditivo, ao invs de sua exatido descritiva,

    ou

    seja, o realismo de suas hipteses.

    No final dos anos 1970, os psiclogos Kahneman, Tversky, Slovic, entre outros, realizaram

    experimentos para auxiliar na investigao das implicaes da teoria da utilidade esperada para os

    propsitos de predio e explicao. Sem entrar em detalhes dos experimentos, essa literatura

    experimental identificou anomalias, paradoxos e efeitos que iluminaram dois importantes desafios

    teoria da utilidade. O primeiro foi predio de comportamentos economicamente significativos

    considerados como anmalos. O outro

    foi

    a construo de modelos alternativos que melhor

    explicassem como ocorre o comportamento real e sob quais condies as denominadas escolhas

    anmalas podem ocorrer (e desaparecer) (MURAMATSU, 2009: 75).

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    32

    Em 1979, ahneman Tversky apresentaram a

    Prospect Theory

    (Teoria da Perspectiva ou do

    Esperado) como teoria descritiva de escolha, baseada

    em

    princpios psicolgicos

    14

    para explicar as

    anomalias

    15

    praticadas pelos tomadores de decises atravs do pressuposto

    da

    racionalidade limitada,

    contrapondo-se desta forma axiomatizao da teoria

    de

    escolha racional assentada na hiptese da

    utilidade esperada de Savage (1954) (apud NUNES, 2008: 15). A teoria assume que baixas

    probabilidades so sobreestimadas, enquanto ocorre o contrrio com altas e moderadas probabilidades,

    gerando funo em formato de S que definida em termos de ganhos e perdas nas escolhas a

    respeito de previso.

    No final da dcada

    de

    1980 e comeo dos anos 1990, economistas perceberam que incorporar

    variveis psicolgicas em seus modelos de escolha poderia ser alternativa relevante, uma vez que

    tornaria possvel a resoluo de anomalias economicamente considerveis e, eventualmente, a

    predio

    de

    novos fatos. Isso seria, como sugere Muramatsu (2009), decorrncia dos avanos na

    Teoria dos Jogos e mtodos experimentais que permitiram investigaes empricas.

    Mais recentemente, Loewenstein e Camerer desenvolveram modelos

    de

    escolha baseados

    em

    insights da Neurocincia e Psicologia Cognitiva ou Evolucionista. Buscavam oferecer compreenso

    mais aprofundada de como cognio e emoo podiam interagir para trazer

    tona fenmenos de

    relevncia econmica, como cooperao, escolha intertemporal e decises arriscadas (CAMERER,

    LOEWENSTEIN SLOVIC apud MURAMATSU, 2009: 77).

    14

    Decises so explicadas atravs de uma sequncia de processos cognitivos:

    fr ming

    stage, evaluation stage e

    editing stage.

    1

    A teoria da utilidade esperada no preveria anomalias como averso perda loss aversion) e o efeito dotao

    (endowment e.ffect).

  • 7/23/2019 DamianoGiovani_TCC

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    33

    3 2 Finanas omportamentais

    Finanas Comportamentais Behavioral Finance) estudam o comportamento dos mercados

    financeiros de modo a incluir aspectos psicolgicos em suas anlises sem, contudo, abandonar

    diversos pressupostos

    da

    teoria econmica. ramificao da Psicologia Econmica ou Economia

    Comportamental, definida sinteticamente como o estudo do comportamento econmico de indivduos

    e grupos, buscando fundamentar suas proposies em dados empricos. Recorre a experimentos em

    laboratrio, grandes levantamentos junto

    populao e observao direta dos fenmenos com vistas a

    conhecer e prever o comportamento dos indivduos no que diz respeito a suas escolhas econmicas

    (FERREIRA, 2007). Semelhantemente, a Behavioral Finance (BF) ramo dessa Economia

    Comportamental que estuda a falibilidade humana em mercados financeiros competitivos (NUNES,

    2008: 9).

    No que diz respeito

    denominao da disciplina, Cruz (2001), em artigo sobre o estado-da

    arte do conhecimento, traz uma interessante discusso sobre as expresses Psicologia

    Econmica, Economia Psicolgica e Economia Comportamental. De acordo com ele, muitos

    autores procuram atribuir um nico nome

    rea, chegando a indagar sobre os motivos para

    haver esta ambigidade. ( ... ) De acordo com Brandstiitter e Gth (1994 apud Cruz, 2001), a

    opo vincula-se

    formao de origem do pesquisador: quando economista, prefere Economia

    Comportamental, se psiclogo, Psicologia Econmica . (FERREIRA, 2007: 10)

    Existem diversas definies para Finanas Comportamentais, mas elas no divergem muito

    entre

    si

    16

    LIETNER (apud ARANHA 2006: 8) define-a como sendo o estudo de como os seres

    humanos interpretam informaes acerca de investimentos e como eles agem no momento de

    investir . THALER (2005) define como sendo o estudo das finanas com a cabea aberta . Em outras

    palavras, aponta que, em determinados momentos, para resolver alguns problemas financeiros,

    devemos aceitar a possibilidade de que os agentes do mercado podem agir de forma no totalmente

    racional.

    A BF examina o que ocorre com os preos, os retornos e a alocao de recursos financeiros,

    quando diferentes tipos de investidores negociam entre

    si

    e apenas uma parcela deles possui

    racionalidade completa. Ela aplica o conhecimento das cincias cognitivas e comportamentais

    advindas da psicologia (SHLEIFER apud NUNES, 2008: 9).

    16

    Para algumas delas: http://introduction.behaviouralfinance.net/

  • 7/23/2019 DamianoGiovani_TCC

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    34

    Olsen (apud ARANHA, 2006: 8) aponta que as Finanas Comportamentais no devem definir

    o que comportamento racional ou julgar se decises tomadas esto corretas ou no. Devem sim

    entender e prever implicaes no mercado causadas por processos psicolgicos de tomada de deciso.

    As Finanas Comportamentais partem da crtica a alguns dos pressupostos da teoria

    econmica neoclssica e contradiz os modelos ortodoxos de Administrao Financeira. Mas a

    BF,

    fundamentalmente, busca explicar determinadas anomalias no mercado, que no podem ser

    consideradas apenas rudos . Por isso, testes prticos so aplicados para compreender em detalhes o

    comportamento

    dos

    agentes.

    Stigler (1965) aponta que as teorias econmicas devem ser julgadas por critrios como a

    congruncia com a realidade, a maneabilidade e a generalidade. Entendendo este tipo de julgamento

    para as teorias econmicas comportamentais, a BF compartilha d viso positivista de que o teste

    derradeiro de qualquer teoria a preciso de suas previses, mas inclui tambm que as melhores

    predies resultam das teorias com pressupostos mais realistas (CAMERER, LOWENSTEIN

    RABIN apud NUNES, 2008: 12 .

    A partir de tais consideraes metodolgicas da disciplina, podese testar, por exemplo, a

    sustentabilidade d Hiptese dos Mercados Eficientes (HME)

    17

    de Eugene Fama. Se ela for sustentada,

    ento, nenhum investidor, em mdia, conseguir, dado o risco assumido, consistentemente ter

    desempenho acima do mercado ao longo dos perodos, sendo infrutfero o dispndio de recursos

    destinado pelos investidores para analisar, escolher e transacionar ttulos e aes. Ser mais apropriado

    fazer gesto passiva, mantendo portflio representativo do ndice de referncia. Se o mercado possui

    ineficincias e a HME no se sustenta, ento, o gestor pode explor-las, comprando e vendendo ativos

    que julgue sub ou sobrevalorizados, visando superar o desempenho do

    benchmark

    Com essa discusso, BERNSTEIN (2008) aponta que h certo paradoxo na Behavioral

    Finance.

    De um lado, tomou-se ferramenta bsica dos gestores de ativos que buscam aumentar o

    alpha ou seja, realizao de retornos acima do ndice de referncia. De outro, em conseqncia da

    procura por falhas de precificao nos mercados, ela passou a atuar como fora motriz da evoluo

    rumo HME, que tanto critica.

    COSTA (2009a: 2) sintetiza a importncia do assunto:

    As ideias bsicas das Finanas Racionais no so difceis de conhecer, porm dificilmente so

    aplicadas pelo investidor individual: descontar o valor do dinheiro no tempo, considerando o

    17

    A

    HME

    supe que na cotao dos ativos financeiros esto precificadas todas as informaes disponveis, ao

    alcance

    de

    todos os que atuam no mercado.

    Dessa

    fonna, a nica variao que alteraria o preo a chegada de

    novas

    informaes, ou seja, a

    flutuao

    nos preos comporta-se aleatoriamente.

    18

    ndice de referncia com o

    qual

    se compara o desempenho de um ativo, por exemplo o ndice

    Bovespa.

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    custo de oportunidade esperado, diversificar riscos e no achar que vai sempre superar o

    mercado. As decises equivocadas em investimentos financeiros podem impor perdas graves

    s famlias. educao financeira, inclusive nas escolas, poder contribuir para diminuir esses

    dramas familiares

    Enfim, o problema ocorre na hora de efetivar os investimentos. Independentemente da forma

    de gesto (passiva ou ativa) e anlise do valor dos ativos (anlise tcnica ou fundamentalista), os

    investidores esto sujeitos a influncia de suas emoes. Elas se refletem na posio adotada no

    mercado e em possveis comportamentos irracionais por oposio racionalidade proposta e

    esperada pelos modelos convencionais.

    3.3 Relaes de causa e efeito risco e incerteza

    Bemstein, no livro Desafio aos Deuses , debate a evoluo dos conhecimentos estatsticos -

    mais especificamente, probabilidades, risco e

    incerteza-,

    e as interpretaes dadas pelos nomes mais

    importantes sobre o tema. As diferentes vises sobre isso ajudam a construir nosso argumento crtico

    sobre a previso do futuro

    com

    base nos dados do passado e distribuio

    de

    probabilidades para os

    ativos financeiros. Alm disso, outra problemtica encontrar relaes de causa e efeito:

    Enquanto no conseguirmos distinguir um acontecimento realmente aleatrio de outro

    resultante de causa e efeito, jamais saberemos se o que vemos o

    que

    obteremos, nem como

    obtivemos aquilo que obtivemos. Quando corremos um risco, apostamos em um resultado que

    ser conseqncia de uma deciso que tomamos, embora no saibamos ao certo qual ser o

    resultado.

    A essncia d administrao do risco est

    em

    maximizar as reas onde temos certo

    controle sobre o resultado, enquanto minimizamos reas onde no temos absolutamente

    nenhum controle sobre o resultado e onde o vinculo entre efeito e causa est oculto entre

    ns .

    (BERNSTEIN, 1997: 197, grifo do autor)

    Em outras palavras, devemos usar as leis da probabilidade para fazer previses, porm, a

    informao de que dispomos, s vezes, perigosamente pouca, ainda mais em se tratando de mercado

    financeiro, em que as distribuies de probabilidade futuras devem ser estimadas tomando como base

    o passado ou perspectivas futuras incertas. Ao contrrio, jogos de azar,

    como

    a roleta ou mega-sena,

    tm distribuies de probabilidades bem definidas.

    [Jacob Bernoulli observou que] se todos os eventos por toda a eternidade pudessem ser

    repetidos, constataramos que cada um deles ocorreu em resposta a causas definidas e que

    mesmo os eventos que parecessem mais fortuitos resultaram de certa necessidade ou, por

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    assim dizer, o

    DESTINO .(

    .. ) Laplace, pressupondo a existncia de uma vasta inteligncia ,

    capaz

    de

    compreender todas

    as

    causas e efeitos, removeu a prpria ideia

    de

    incerteza. No

    esprito de sua poca, ele previu que os seres humanos alcanariam esse mesmo nvel de

    inteligncia, citando os avanos j realizados em astronomia, mecnica, geometria e

    gravidade. (BERNSTEIN, 1997: 198)

    Laplace admitiu que, s vezes, difcil encontrar uma causa onde

    no

    parece haver nenhuma,

    mas ele tambm adverte contra a tendncia de atribuir uma causa especfica a certo resultado quando,

    na verdade

    apenas as leis

    da

    probabilidade

    esto

    em

    ao.

    Em suas palavras quanto mais

    extraordinrio o evento, maior a necessidade de ser respaldado por provas conclusivas

    (BERNSTEIN, 1997: 198-199). Um exemplo prtico nos mercados financeiros a tentativa de

    explicar as causas para quedas ou subidas muito abruptas num mesmo dia ou ms. Sempre surgem

    muitas teorias, embora no haja consenso. Podemos ponderar motivos lgicos para esses movimentos,

    mas so fatores obscuros e envolvem dificuldades para apresentar provas conclusivas de suas origens.

    Como lidamos com cincias humanas, ou, de outra forma, cincias que no obedecem a leis

    naturais de funcionamento, podemos fazer algumas suposies que podem ajudar. Bachelier se

    graduou na Sorbonne com dissertao intitulada A teoria da Especulao . Sua ideia central foi que a

    expectativa matemtica do especulador zero. Essa interpretao conseguiu solucionar a maioria dos

    problemas do estudo

    da especulao atravs do clculo da probabilidade. A simplicidade reside em

    dizer que a chance de alguma ao subir amanh de 50%, assim como a probabilidade de sua queda

    a mesma. As

    ideias que fluram desta afirmao surpreendente so agora evidentes em toda parte,

    das estratgias comerciais e o uso de instrumentos derivativos s mais sofisticadas tcnicas de gesto

    de carteiras (BERNSTEIN, 1997: 200). Por exemplo, a frmula de Black Scholes para

    as

    opes,

    que apresentamos no primeiro captulo, parte desta premissa

    19

    Bernstein nomeia pertinentemente o captulo 12 de seu livro citado de A medida de nossa

    ignorncia . O ttulo remete citao de Poincar, que diz o acaso para o ignorante no o acaso

    para o cientista. O acaso apenas a medida de nossa ignorncia (BERNSTEIN, 1997: 200). Poincar

    tambm observa que alguns eventos que parecem fortuitos no so; pelo contrrio, suas causas

    precedem perturbaes mnimas. Partindo de premissa semelhante, surge a Teoria do Caos, segundo a

    qual, muito do que se afigura como catico resulta,

    na

    realidade, de ordem subjacente em que

    perturbaes insignificantes so, muitas vezes, a causa de

    cr cks

    predestinados e de duradouros

    mercados em alta.

    Laplace e Poincar reconheceram que,

    s

    vezes, a informao de que dispomos para aplicar

    as

    leis da probabilidade extremamente baixa. A dificuldade que existe foi transformada no bem

    19

    O modelo binomial de precificao de opes tambm parte dessa mesma ideia.

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    humorado trecho: A informao de que voc dispe no a informao que voc deseja. A

    informao que voc deseja no a informao que voc necessita. A informao que voc necessita

    no a informao que voc consegue obter. A informao que voc consegue obter custa mais

    do

    que voc deseja pagar (BERNSTEIN, 1997: 202).

    Pode-se reunir grandes e pequenas pores de informao, mas impossvel juntar todas as

    peas. No h como conhecer a qualidade da amostra. Essa incerteza

    o que torna to difcil chegar a

    julgamentos e to arriscado agir baseado neles.

    a

    falta de informaes, deve-se recorrer ao raciocnio

    indutivo e tentar adivinhar as chances.

    J

    diria Keynes em Tratado sobre Probabilidade: h uma

    relao entre a evidncia e o evento considerado, mas no necessariamente mensurvel (apud

    BERNSTEIN, 1997: 202). Kenneth Arrow, por sua vez,

    o n v e n e u ~ s e

    de que a maioria das pessoas

    superestima a quantidade de informao disponvel para elas. Concepo que merece explicao da

    Psicologia Econmica, mas que veremos no item seguinte.

    Bom, a partir disso, pode-se, por exemplo, discutir sobre a lei antifumo. Quanto se conhece

    sobre a ingesto ambiental de tabaco? Qual o risco de se gerar cncer no pulmo quando outra pessoa

    fuma? S existe

    um

    meio de se aproximar da certeza na resposta a esta pergunta: analise cada

    indivduo que j se exps ingesto ambiental de tabaco a qualquer momento desde que as pessoas

    que comearam a fumar tabaco, h centenas de anos. Mesmo assim, alguma associao demonstrada

    entre a ingesto ambiental de tabaco e o cncer do pulmo no seria prova de que essa

    foi

    a causa. Em

    outros tennos, no podemos confundir correlao com relao de causa e efeito. Note-se o exemplo

    capcioso: beber gua d cncer, pois todas as pessoas que tiveram cncer beberam gua.

    A impossibilidade prtica de examinar todas

    as

    pessoas ou coisas todos

    os

    locais e por todo o

    decorrer da histria toma incertos todos os resultados das pesquisas cientficas. O que parece

    uma forte associao pode no passar de acaso na extrao, caso em que um conjunto

    diferente de amostras de um perodo de tempo diferente ou de um local diferente, ou mesmo

    um conjunto diferente de cobaias

    do

    mesmo perodo e mesmo local, produziriam concluses

    opostas.

    (BERNSTEIN, 1997: 212)

    No h como ter I 00% de certeza, sempre h certo grau de ignorncia. Grande parte da

    infonnao disponvel incorreta ou incompleta. Por isso, BERNSTEIN (1997: 208) recomenda que

    devemos chegar a uma deciso subjetiva

    do

    grau de incerteza aceitvel antes

    de

    tomarmos

    uma

    deciso . Todavia, ao invs de se concentrar apenas nos inputs que afetam a tomada de decises, o

    maior problema est na consequncia das decises, e no nas prprias decises.

    Em face das tenses dos anos de ps-guerra, somente o terico mais ingnuo poderia fazer de

    conta que todos os problemas poderiam ser resolvidos pela aplicao racional do clculo

    diferencial e das leis da probabilidade com preferncias bem ordenadas. Os matemticos e

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    filsofos tiveram que admitir que a realidade englobava conjuntos inteiros de circunstncias

    que

    s

    pessoas jamais haviam contemplado antes. A distribuio

    de

    probabilidades no mais

    seguia aquela definida por Pascal. Ela violava a simetria da curva em sino e estava

    regressando ara mdias muito mais instveis do que Galton especificara [Galton esperaria que

    preos fossem volteis ao redor de uma mdia estvel]. (BERNSTEIN, 1997: 217)

    Knight argumentou que a dificuldade

    do

    processo de previso estende-se bem alm da

    impossibilidade de aplicar proposies matemticas previso do futuro. No acreditava no

    aprendizado atravs da avaliao emprica

    do

    passado, pois, a extrapolao deste no elimina a

    indeterminao do futuro. Ele considerou extremamente perigoso depender da freqncia de

    ocorrncias passadas. Segundo KNIGHT (apud BERNSTEIN, 1997: 221), qualquer

    'ocorrncia'(

    .. )

    to inteiramente singular que no h outras ou num nmero suficiente que permita tabular

    ocorrncias iguais o bastante para fonnar uma base para qualquer inferncia de valor sobre quaisquer

    probabilidades reais no caso em que estamos interessados. O mesmo se aplica maioria das condutas,

    e no apenas s decises empresariais .

    Usar o passado como referncia para quantificar o futuro pode ser aceitvel no caso dos

    mercados financeiros? Por exemplo, dizer que as chances do preo de algum ativo subir no prximo

    ms so de 60% indica que a cada dez vezes que a mesma situao se verificar, em seis, a previso

    mostra-se correta. Antes de mais nada, este valor encontrado ao criar modelo que est melhor

    adaptado ao passado. Se a realidade mudar, o modelo perde a validade, ainda mais porque momentos

    crticos s so reconhecidos depois de ocorrido o fato, isto , ex post Knight insistiu que os erros em

    tais previses devem ser radicalmente distinguidos das probabilidades ou do acaso (BERNSTEIN,

    1997: 221). A complexidade das situaes to peculiar que nenhum evento chega a ser idntico ao

    anterior, e, alm disso, a vida curta demais para reunirmos as grandes amostras que tal anlise exige.

    Ento, para ele no h sentido falar em probabilidades no sentido objetivo de chance de ocorrncia

    futura.

    BACHELIER (apud BERNSTEIN, 1997: 221) tem observaes interessantes para interpretar

    os preos e suas oscilaes: claramente, o preo considerado mais provvel pelo mercado o preo

    atual: se o mercado julgasse de outra forma, no fixaria esse preo, mas outro preo superior ou

    inferior . BERNSTEIN (1997: 221) complernenta:

    a

    previso consensual embutida nos preos dos

    valores mobilirios que seus preos no mudaro se o esperado acontecer. A volatilidade dos preos

    de ttulos e aes evidencia a frequncia com que as expectativas se frustram e os investidores se

    revelam equivocados. A volatilidade um representante da incerteza e deve ser acomodada na

    avaliao do risco do investimento .

    Em Treatise on probability (1921 ), Keynes contrasta o definvel com o indefinvel quando se

    contempla o futuro. Rejeita a anlise baseada em eventos, mas

    favorvel s previses baseadas em

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    proposies. Ele desdenha da Lei dos Grandes Nmeros , pois a observao repetida de eventos

    similares no passado

    desculpa insatisfatria para acreditar que provavelmente ocorrero no futuro.

    Keynes rejeita o termo 'eventos' conforme usado por seus predecessores em teoria das

    probabilidades, por implicar que as previses dependem forosamente das frequncias matemticas de

    ocorrncias passadas. Ele preferia o termo 'proposio', que reflete graus de crena quanto

    probabilidade de eventos futuros (BERNSTEIN, 1997: 226). Fica claro ento que, quando no