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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE QUÍMICA Programa de Pós-Graduação em Geociências DANIEL CABRAL TEIXEIRA DEPOSIÇÃO DO MERCÚRIO ATRAVÉS DA SERAPILHEIRA NA MATA ATLÂNTICA, PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA, RJ Niterói 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS

INSTITUTO DE QUÍMICA Programa de Pós-Graduação em Geociências

DANIEL CABRAL TEIXEIRA

DEPOSIÇÃO DO MERCÚRIO ATRAVÉS DA SERAPILHEIRA NA

MATA ATLÂNTICA, PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA, RJ

Niterói 2008

DANIEL CABRAL TEIXEIRA

DEPOSIÇÃO DO MERCÚRIO ATRAVÉS DA SERAPILHEIRA NA

MATA ATLÂNTICA, PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA, RJ

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Geoquímica Ambiental.

Orientador: Emmanoel Vieira da Silva Filho

Co-orientador: Rogério Ribeiro de Oliveira

NITERÓI

2008

T2661 Teixeira, Daniel Cabral Deposição do mercúrio através da serapilheira na Mata Atlântica, Parque Estadual da Pedra Branca, RJ. / Daniel Cabral Teixeira – Niterói: [s.n.], 2008. 85 f.: il., color., 30 cm. Dissertação (mestrado)-Universidade Federal Fluminense, 2008. Orientador: Prof. Dr. Emmanoel Vieira da Silva Filho; co-orientador: Prof. Dr. Rogério Ribeiro de Oliveira. 1. Deposição atmosférica 2. Floresta Tropical 3. Mercúrio 4. Mata Atlântica 5. Tese 6. Produção intelectual I. Título. CDD 551.51

DANIEL CABRAL TEIXEIRA

DEPOSIÇÃO DO MERCÚRIO ATRAVÉS DA SERAPILHEIRA NA MATA

ATLÂNTICA, PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA, RJ

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: Geoquímica Ambiental.

Aprovado em ___/____/ 2008.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

Prof. Dr. : EMMANOEL VIEIRA DA SILVA FILHO – Orientador – PPG

UFF

______________________________________________________________________ Prof. Dr. ROGÉRIO RIBEIRO DE OLIVEIRA– Co-Orientador –

PUC-RJ

______________________________________________________________________ Prof. Dr. WILLIAM ZAMBONI DE MELLO– PPG

UFF

______________________________________________________________________ Prof. Dr. RENATO CAMPELLO CORDEIRO – PPG

UFF

_____________________________________________________________________ Profa Dra.DORA MARIA VILLELA JOSÉ– PPGERN

UENF

Niterói 2008

AGRADECIMENTOS

A Deus,

A minha amada companheira Mariana, sempre tão incentivadora em todos os momentos

dessa dissertação e à nossa pequena Lia, pela descontração e motivação durante o período

desse trabalho.

Aos meus pais, pelo cuidado e suporte, sempre.

Ao professor Emmanoel Vieira da Silva Filho, pela confiança e a atenção dedicadas a mim e

à todas as portas que ele abriu.

Ao professor Rogério Ribeiro de Oliveira, pela enorme ajuda em campo e com a dissertação.

Aos amigos Max e Rita, pelo auxílio em campo nesses dois anos.

A todos os meus amigos e familiares, pelas idéias, críticas e concretização dos ideais desse

trabalho.

A todos os funcionários da UFF e aos colegas de curso que dividiram um ambiente agradável

e construtivo nesse tempo.

RESUMO A Mata Atlântica, um hotspot mundial com grande diversidade de plantas e animais,

está localizado na região mais industrializada do Brasil, uma fonte em potencial de elementos

químicos para a atmosfera. Recentemente, foi descrito a entrada de Hg via serapilheira para o

solo principalmente, após a captação estomática (poros foliares), agindo como via importante

para o transporte deste poluente do ar para o solo durante o seu ciclo biogeoquímico. Este

fluxo de mercúrio é mais evidente em florestas tropicais, que apresentam as maiores

produções de serapilheira. O objetivo deste trabalho foi quantificar a concentração total do Hg

na serapilheira, e estimar sua deposição no Parque Estadual da Pedra Branca, na cidade do

Rio de Janeiro, durante o período de um ano. Foram analizadas, folhas de cinco espécies

dominantes, para se avaliar a concentração de Hg nas folhas do dossel e testar as correlações

com os parâmetros anatômicos foliares, tais como as freqüências estomáticas e tricomáticas.

A média anual da concentração de Hg foi de 237+ 52 ng g-1 e o fluxo de 184 + 98 µg m-2

sobre uma produção de serapilheira de 7,6 t.ha-1. A concentração mensal de Hg variou de

acordo com a temperatura de dois meses anteriores. A precipitação mensal teve uma forte

correlação negativa com as concentrações de Hg somente durante os meses de altas

temperaturas. Estas correlações confirmam a dependência com os eventos fisiológicos,

controlados por processos bioquímicos que definem a abertura estomática, sendo mais

eficiente durante altas temperaturas e solo sem deficiência hídrica. A concentração de Hg na

folhagem do dossel revelou uma grande variação interespecífica de 60 ng g-1 em Metternichia

príncipes; 84 ng g-1em Colubrina. glandulosa; 170 ng g-1 em Cordia trichotoma; 190 ng g-1

em Piptadenia gonoacantha; até 215 ng g-1 em Alchornea iricurana.. Uma correlação positiva

ocorreu entre as concentrações de Hg e a densidade estomática, exceto pelas espécies com

tricomas, demonstrando mais uma evidência da captação estomática e possível papel da

adsorção superficial dos tricomas. Estes valores elevados, mesmo para áreas urbanas poluídas,

mostram a complexidade dos fenômenos climáticos e fisiológicos que regem a captação de

Hg em florestas tropicais. Esta captação potencial da Mata Atlântica deve ser considerada

para sua conservação e preservação, uma vez que o destino do Hg, vindo da serapilheira, no

solo é desconhecido. Devido ao status de poluente global do Hg, o desenvolvimento de leis

internacionais para emissões atmosféricas de Hg, é crucial. .

PALAVRAS-CHAVE: Deposição Atmosférica, Floresta Tropical, Mercúrio, Mata Atlântica

ABSTRACT

The Atlantic Forest, a hotspot in the world with a great diversity of plants and animals,

is located in the most industrialized region of Brazil, a potential source of chemical elements

for the atmosphere. Recently, was described the Hg litterfall input to the soil mainly, after the

stomatal (leaf pores) uptake, acting as an important way to transport this pollutant from air to

soil. This flux of mercury is more notable in tropical forests, which have the higher annual

litter production. The aim of this work was quantify the total concentration of Hg in litterfall,

and estimate how much was deposited in the Parque Estadual da Pedra Branca, na cidade do

Rio de Janeiro. Leaves of the five most predominant species were analyzed to assess the Hg

concentrations by canopy leaves and test the correlations with foliar anatomical parameters,

such as stomatal and trichomatic frequency. The annual mean of Hg concentration was 237,

7+ 52 ng g-1 and the flux was 184, 2 + 98 µg m-2 over a 7,6 t.ha-1 of litter production. The

past two months temperature was correlated to the monthly concentration deviation, showing

the relation with biochemistry process ruling the plant growing. The monthly precipitation

had a strong negative correlation with the Hg concentrations of the higher temperature

months. These correlations confirm the dependency on physiological events, controlled by

biochemistry processes that rule the stomatal opening, being optimal during high temperatures

and soil with no water deficiency. The green foliage Hg concentration revealed a great

interespecific variation, from 60 ng g-1 - Metternichia principes, 84 ng g-1 - Colubrina.

glandulosa,170 ng g-1 - Cordia trichotoma, 190 ng g-1 - Piptadenia gonoacantha to 215 ng g-1 -

Alchornea iricurana. There was a clear positive correlation between these concentrations and

the stomatal density of these species, except by the species with trichomes, showing one more

evidence of the stomatal uptake and the superficial trichomes adsorption roles. These results

are very high even to a polluted urban area, and show the complexity of phenological and

climatic phenomena that rules the Hg uptake in tropical forests. This potential uptake of Mata

Atlantica must be considered for their conservation and preservation, once the Hg soil

destination came from litter, is unknown. Due to the global Hg pollutant status, the

development of international laws, to Hg air emissions, is crucial.

KEYWORDS: Atmospheric Deposition, Tropical Rainforest, Mercury, Trace Element,

Atlantic Florest

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................8 . 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA:....................................................................................8

1.2 BASE TEÓRICA:..........................................................................................................9

1.2.1 O mercúrio: características gerais ............................................................................9

1.2.2 A ciclagem biogeoquímica do mercúrio....................................................................11

1.2.3 A ciclagem do mercúrio em ecossistemas florestais.................................................12

1.2.4 A transferência do mercúrio nas interfaces atmosfera/fitosfera/litosfera.............14

1.2.5 O ecossistema florestal e a poluição atmosférica......................................................16

1.2.6 A fisiologia vegetal e a produção da serapilheira.....................................................23

1.2.7 A transpiração e a abertura estomática....................................................................24 .

2 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................27

3 OBJETIVOS................................................................................................................28 ]

4 ÁREA DE ESTUDO ..................................................................................................29 .

5 COLETA DAS AMOSTRAS.....................................................................................34 ..

6 ANÁLISE QUÍMICA.................................................................................................35 .

7 ANÁLISE ESTRUTURAL DA VEGETAÇÃO ......................................................36

7.1 PARÂMETROS ANATÔMICOS............................................................................... 36

8 PARÂMETROS CLIMÁTICOS...............................................................................37

9 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................38

9.1 O FLUXO DE SERAPILHEIRA .................................................................................38

9.2 A CONCENTRAÇÃO DE MERCÚRIO NA SERAPILHEIRA.................................40

9.3 O FLUXO DE MERCÚRIO NA SERAPILHEIRA ....................................................45

9.4 CORRELAÇÕES CLIMÁTICAS.................................................................................52

9.4.1 Temperatura................................................................................................................52

9.4.2 Precipitação..................................................................................................................54

9.4.3 Ventos...........................................................................................................................55

9.5 EFEITOS ECOLÓGICOS DO FLUXO DE SERAPILHEIRA NO CICLO DO MERCÚRIO........................................................................................................................57

9.6 O MERCÚRIO FOLIAR EM CINCO ESPÉCIES REPRESENTATIVAS DO PEPB...................................................................................................................................62

9.7 O MERCÚRIO FOLIAR E OS PARÂMETROS ANATÔMICOS..................................65 9.8 POSSÍVEIS FONTES LOCAIS DE MERCÚRIO.......................................................69 10 CONCLUSÃO.............................................................................................................74

11 REFERÊNCIAS .........................................................................................................76

1 INTRODUÇÃO 1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

Recentemente, foi descrita para as zonas temperadas e boreais, a importância dos

biomas florestais na ciclagem atmosfera/solo do mercúrio (Hg) elementar, através da captação

foliar e posterior transferência pela serapilheira ao solo (ERICKSEN et al., 2003; FLECK et

al., 1999; GRIGAL, 2002; LINDBERG et al., 1991; REA et al., 2002; ST-LOUIS et al.,

2001). No entanto, há carência deste tipo de pesquisa para o bioma de maior produtividade de

serapilheira do mundo: a Floresta Tropical. Este trabalho tem como meta estimar a quantidade

total de Hg0 na serapilheira coletada durante dois anos na Floresta Ombrófila Densa

Submontana da Mata Atlântica (VELOSO et al., 1991) no bairro do Camorim, dentro dos

limites do parque Estadual da Pedra Branca no município do Rio de Janeiro, RJ. Esta área

vive atualmente um franco processo de desenvolvimento das atividades urbanas em seu

entorno e de expansão da degradação no ecossistema florestal. O crescimento da malha

urbana, as cunhas de desmatamento que adentram suas bordas florestais e a expansão das

atividades agrícolas em suas encostas imprimem hoje na paisagem as modificações do arranjo

espacial de seus elementos e definem, assim, sua nova dinâmica geoecológica (SILVA et al.,

2003). Dentre os valores de deposição de Hg presentes na serapilheira dos ecossistemas

mundiais, altas concentrações são encontradas especificamente na Mata Atlântica (FOSTIER

et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2006; SILVA-FILHO et al., 2006).. Porém, como ainda são

poucas as publicações, este trabalho vem acrescentar dados a esta discussão ecológica.

Pretende-se testar possíveis correlações com parâmetros botânicos e meteorológicos, podendo

visualizar se estes justificam a elevada estocagem de Hg na serapilheira.

1.2 BASE TEÓRICA:

1.2.1 O mercúrio: características gerais

Comparativamente a outros metais, o mercúrio é considerado um elemento bastante

peculiar que apresenta características únicas: é o único metal líquido a temperatura ambiente;

único que possui temperatura de ebulição abaixo de 650oC; é quase inerte quimicamente; é o

que possui potencial de ionização mais alto do que qualquer outro elemento eletropositivo

com exceção do Hidrogênio; existe em três formas de oxidação: como Hg0, Hg22+ e Hg2+ e

pode formar amálgamas com vários metais (LIDE; KEHIAIAN, 1994). O mercúrio é

considerado um elemento raro, situado em 16º lugar no conjunto dos elementos conforme sua

abundância na Terra, sendo o cinábrio (HgS) o minério de mercúrio mais difundido na

natureza. Suas reservas naturais são avaliadas em cerca de 30 bilhões de toneladas

(MAGARELLI, 2006).

As principais jazidas de cinábrio são encontradas na Espanha e na Itália. A mina de

Almadén na Espanha opera de forma contínua desde 400 a.C, e outras importantes jazidas

podem ser encontradas na Rússia, América do Norte entre outras. O mercúrio é mobilizado

tectonicamente, e significantes depósitos são encontrados em regiões caracterizadas pelo

encontro de placas tectônicas (SCHLUTER, 2000).

Além disso, este elemento se relaciona bem com o enxofre (calcófilo), e é ativo

biologicamente. O Hg não é um bom condutor de calor em comparação a outros metais mas é

condutor de eletricidade, e mistura-se facilmente com muitos metais, tais como o ouro, a

prata, e estanho, formando ligas chamadas de amálgamas. A facilidade do Hg amalgamar com

ouro possibilita o seu uso na recuperação do ouro de seus minérios. Os sais mais importantes

formados pelo mercúrio são o cloreto mercúrico HgCl2 (um veneno poderoso), o cloreto

mercuroso Hg2CI2 (calomelano, ainda usado ocasionalmente na medicina), o fulminato de

mercúrio Hg(ONC)2 (um detonador usado nos explosivos), e sulfeto mercúrico (HgS), um

pigmento usado em tintas (ALMEIDA, 2005).

O mercúrio e alguns de seus compostos apresentam uma pressão de vapor

relativamente elevada, interferindo no estado físico predominante deste na superfície terrestre.

As características físico-químicas conferem ao mercúrio uma aplicabilidade variada em

diversos ramos da indústria. Como por exemplo, o catodo de mercúrio de células eletrolíticas

usadas para produção de cloro e soda cáustica, que nos dias de hoje, vêm sendo banida das

indústrias. As baterias de células secas desenvolvidas durante a Segunda Guerra Mundial

levou a um grande uso do metal em baterias alcalinas até recentemente. O mercúrio foi

essencial para o desenvolvimento de lâmpadas incandescentes por Thomas Edison e hoje é o

componente principal de lâmpadas fluorescentes. Compostos organo-metálicos foram

amplamente empregados como fungicidas na agricultura e na fabricação de tintas

(NRIAGU,1979). Porém os danos ambientais do uso do Hg foram ignorados. O

metilmercúrio (MeHg), por exemplo, é o mais tóxico dos alquil-mercuriais, e constitui o mais

importante composto à base de mercúrio com relação à eficiência na contaminação do meio

ambiente devido ao processo de biometilação, uma vez que o mercúrio inorgânico pode ser

metilado por bactérias sulfo-redutoras no ambiente aquático, ou no solo enxarcado de

florestas tropicais por exemplo. Segundo Grigal (2003), as observações do aumento das

concentrações de MeHg próximas à superfície do solo, no verão, e em associação com o fluxo

do MeHg em charcos são consistentes com a sulfo-redução das bactérias. Além das altas

concentrações de MeHg que seguem as inundações de reservatórios, presumivelmente

estimulada pela decomposição da matéria orgânica inundada. Logo pela incorporação deste

MeHg a níveis tróficos superiores ocorre sua disseminação, sendo acumulado no predador a

soma de todas as concentrações de cada uma de suas presas, o que se denomina

biomagnificação. Um predador de alta ordem trófica absorveria todo o metilmercúrio

acumulado desde os produtores primários até sua presa.

A exposição a esta espécie de mercúrio acontece principalmente através do consumo

de peixes e derivados (FITZGERALD; CLARKSON, 1991). Indíos brasileiros apresentam

altos índices de Hg em sua biomassa (SANTOS et al., 2001) A contaminação patológica por

metilmercúrio é conhecida como "doença de Minamata".

Entre 1950 e 1975, a liberação de grande quantidade de metilmercúrio por indústrias,

provocou severos efeitos e muitas mortes em Minamata e Niigata, no Japão. A tragédia

japonesa resultou do consumo de peixes contaminados por metilmercúrio liberados por uma

fábrica de acetaldeido. O metilmercúrio foi sintetizado como um sub-produto da produção do

acetaldeido, quando mercúrio inorgânico era usado como catalisador. Outro grande incidente

ocorreu no Iraque, cuja a fonte de contaminação foram os pães contaminados, produzidos com

trigo tratado com fungicida a base de metilmercúrio (BAKIR, 1973). Nos dias de hoje, em

muitos países as emissões industriais são controladas por leis ambientais severas. Contudo,

em escala global, o declínio da emissão não pode ser notado, pelo contrário, tem sido

documentado o aumento nas emissões antrópicas de mercúrio das nações em

desenvolvimento, particularmente na Ásia (PACYNA; PACYNA 2002, WHO 2000), que

mantiveram em alta as emissões globais. As emissões de mercúrio associadas à queima de

combustíveis fósseis, especialmente a queima de carvão mineral, e processos de combustões a

altas temperaturas (ex.incineradores de lixo) representam fontes primárias de poluição por

mercúrio em escala global. Em consequência, as emissões de mercúrio desde meados do

século XIX parecem estar relacionadas diretamente com aumentos nas emissões de CO2

(LAMBORG 2000), já que é emitido para atmosfera durante a combustão de materiais

associados. Alguns combustíveis fosseis, como o carvão mineral, possue quantidades

variáveis de Hg em sua composição, assim como, o lixo urbano. Nriagu; Pacyna (1988)

estimaram que em 1983 em todo o planeta, mais da metade da emissão atmosférica de Hg

produzida pelo homem, derivou da queima de carvão mineral e da incineração de lixo urbano.

1.2.2 A ciclagem biogeoquímica do mercúrio

O mercúrio é um elemento natural, assim não pode ser criado ou destruído, e a mesma

quantidade que existe nos dias atuais no planeta existia desde que a terra foi formada, a

exemplo de numerosos elementos. Várias pesquisas indicam que atividades naturais e

antrópicas podem redistribuir este elemento nos ecossistemas terrestres, atmosféricos e

aquáticos com uma combinação complexa de transformações e transporte (ALMEIDA, 2005).

O mercúrio atmosférico, por exemplo, é muito significativo para o ciclo global do mercúrio.

O estoque do mercúrio na atmosfera varia em função das trocas deste metal entre a as

camadas atmosféricas e diferentes superfícies encontradas no meio ambiente (solo, vegetação

e água). A deposição úmida de Hg2+ (dissolvido) e a deposição seca de Hg particulado são

consideradas processos de transferência do Hg da atmosfera para os compartimentos

terrestres. No caso do mercúrio elementar, pode haver um fluxo bidirecional entre atmosfera e

as superfícies terrestres (água/atmosfera, solos/atmosfera e vegetação/atmosfera) como mostra

a figura 1.

Devido a algumas de suas propriedades tais como baixa reatividade, alta pressão de

vapor e baixa solubilidade em água, o Hg0 apresenta um tempo de residência na atmosfera da

ordem de um ano, facilitando a sua distribuição e deposição numa escala global, razão pela

qual foi desenvolvido o conceito de “poluente global” para esse elemento (SCHROEDER;

MUNTHE, 1998).

FIGURA 1 - Ciclo do mercúrio e suas espécies químicas. Adaptado de Mason et al.(1994)

Desde a Revolução Industrial, pelas suas propriedades físico-químicas (massa

específica elevada, resistência elétrica baixa, volume de expansão constante), o mercúrio foi

largamente empregado na indústria, e como resultado de seus usos, a quantidade de mercúrio

mobilizada e liberada na atmosfera aumentou em comparação aos níveis pré-industriais

(FITZGERALD et al., 1998), estando correlacionado com as emissões antrópicas de CO2. O

Hg aumentou 1,5 a 3 vezes sua deposição atmosférica em escala global, desde os tempos pré-

industriais e de 2 a 10 vezes a deposição atmosférica próximo a locais industrializados nas

últimas duas décadas (BERGAN et al.,1999;). Estima-se que atualmente 50-75% (US-EPA,

1997) de todo o aporte anual de Hg da atmosfera, venha de origem humana, já que não há

grandes eventos desgaseificantes acontecendo na crosta terrestre que justifiquem grandes

fontes naturais, como das erupções vulcânicas.

1.2.3 A ciclagem do mercúrio em ecossistemas florestais

A ciclagem biogeoquímica de um dado ecossistema consiste na movimentação de

elementos químicos entre seus compartimentos e nas transferências entre o próprio

ecossistema e os outros ecossistemas. Os compartimentos e/ou sistemas inorgânicos e/ou

orgânicos estão interligados nesses processos de movimentação; assim, os elementos são

continuamente transferidos entre os compartimentos bióticos e os abióticos (POGGIANI et

al., 2000).

A ciclagem em ecossistemas florestais, por tanto, abrange as trocas de elementos

químicos entre os seres vivos e o ambiente que os circunda. A relação entre a vegetação, a

atmosfera e o solo é um dos focos de estudo desta ciclagem. Os ciclos biogeoquímicos em

florestas integram a interface solo/atmosfera de diversos elementos, e em alguns campos estão

sendo amplamente estudados, utilizados na agronomia moderna na nutrição foliar

(RODRIGUES et al., 1997) e justificados na base do manejo agroflorestal nos trópicos

(ARATO et al., 2003). A partir da análise quantitativa do estoque dos elementos na biomassa

podem-se detectar, inclusive, distúrbios de origem natural ou antrópica de determinado

elemento (DE FRANÇA et al., 2004). Desse modo, o dossel das árvores atua como um

sorvedouro de elementos traços, concentrando-os e futuramente transferindo ao solo com a

deposição da serapilheira. Em geral, elementos-traço que não se caracterizam como nutrientes

vegetais não possuem carreadores bioquímicos específicos, limitando-se ao tecido vegetal de

contato. O mercúrio, por exemplo, quando o seu aporte ocorre via atmosfera (BISHOP et al.,

1998) adere-se ao epitélio superficial ou é absorvido pelas células da câmara estomática e não

é expressivamente translocado no interior do vegetal, o mesmo acontecendo quando a entrada

ocorre pela raiz (COCKING et al., 1995), com níveis de concentração foliar significantes

somente quando, em solos contaminados (ELLIS et al., 1997) ou perto de minas de cinábrio

(HgS).

Esta ciclagem envolve poluentes globais como o mercúrio, que por ter baixa pressão

gasosa pode ser transportado na atmosfera a grandes distâncias, até milhares de quilômetros

de sua origem (SCHROEDER; MUNTHE, 1998). Sua deposição atmosférica em áreas

florestais pode representar um importante sumidouro local no ciclo biogeoquímico deste

elemento. Além disso, por ser um poluente global, o efeito deste seqüestro poderia afetar

valores de background regionais e até globais.

A concentração de Hg encontrada na serapilheira (litterfall) é maior do que a

concentração obtida na transprecipitação, (troughfall - chuva que escoa pelo dossel em

direção ao chão depois de ter lavado superfícies de folhas e galhos) e bem maior que a

deposição pela chuva direta ao solo (openfall) (GRIGAL, 2002). Um exemplo do papel

amplificador, que as folhas vivas representam em transmitir o Hg para o solo, é ilustrado em

uma floresta em Gardsjon, na Suécia. Neste tipo florestal a deposição de Hg através da chuva

direta foi de 12µg m-2ano-1 e aproximadamente 40µg m-2ano-1 de transprecipitação (17-19µg

m-2ano-1) mais serapilheira (25µg m-2ano-1) (IVERFELDT, 1991).

O aporte de Hg pela serapilheira ao horizonte O é diretamente proporcional à

quantidade de serapilheira produzida (SILVA-FILHO et al., 2006), e esta deposição por sua

vez, está relacionada principalmente com o clima, sendo menor sua deposição nas regiões

frias do que em regiões quentes (POGGIANI et al., 2000).

Outro fator importante na quantidade de Hg na serapilheira são os valores distintos

encontrados da análise entre as espécies vegetais (MÉLIÈRES et al., 2003), variando perto de

32–114 ng g_1 (n=11), este fato pode estar associado com o período de vida foliar, estado

fisiológico da planta e com características morfológicas como tricomas, ceras epicuticulares e

densidade/condutividade estomática de cada espécie (SILVA-FILHO et al., 2006). Assim,

existe uma aparente relação positiva entre alta diversidade ecofisiológica das espécies e as

altas concentrações de Hg nas florestas tropicais, em contrapartida à baixa diversidade e

concentração encontrada nas florestas temperadas e boreais, mesmo com níveis semelhantes

de mercúrio atmosférico.

1.2.4 A transferência do mercúrio nas interfaces atmosfera/fitosfera/litosfera

As forças físico-químicas que limitam a dinâmica da transpiração estomática são as

mesmas que por conseqüência regem a entrada de CO2 e outros gases pra o interior da planta.

É através de um sistema Ar-Planta-Solo que ocorre o controle do fluxo de gases (inclusive

vapor d´água) e seiva dentro da planta e a atmosfera. A teoria mais aceita da elevação de água

das raízes até o topo do dossel é a teoria da coesão-tensão (KOZLOWSKI; PALLARDY,

1997) que propõe a transpiração como sendo a força motriz. A diferença de potencial hídrico

entre a atmosfera e o solo seriam suficientes para elevar 10 metros ou mais. Para tanto as

plantas dispõem dos poros estomáticos, aberturas sediadas nos estômatos das folhas, estando

sob influência em sua estrutura, frequência e função de fatores genéticos e/ou ambientais. As

estruturas dos complexos estomáticos são características genéticas e podem ser usadas para

distinções taxonômicas, por exemplo. Outros fatores que interferem na dinâmica de abertura

dos estômatos são a quantidade e qualidade da radiação incidente, a temperatura, o vento, a

nutrição, a umidade e a disponibilidade de água no solo (LARCHER, 2000). A exposição a

níveis elevados de CO2 além de causar fechamento dos estômatos, diminui a freqüência

estomática de futuras folhas no mesmo indivíduo.

As florestas ombrófilas tropicais mantêm um dossel fechado e compartimentalizado

diferindo do padrão de comportamento de parâmetros micro-climáticos encontrados ao redor

de folhas no mesmo indivíduo, e no interior da floresta. Almeida (2005), em um trabalho com

fluxo de Hg na Amazônia, aponta para as diferenças refletidas no comportamento atmosférico

do mercúrio em microclimas específicos. Mostrou que a concentração atmosférica no interior

do dossel é menor do que em áreas abertas. Na literatura há alguns trabalhos que

correlacionam as concentrações foliares de Hg com fatores climáticos, porém somente foi

abordada a temperatura e a pluviosidade (SILVA-FILHO et al;. 2006). Fatores da biota e de

micro-clima ainda são pouco relacionados, havendo somente trabalhos que medem o fluxo de

Hg entre folha e atmosfera dentro de câmaras fechadas com alguns parâmetros controlados

(GRAYDON et al.,2006; MILLHOLLEN et al., 2006a)

A hipótese mais aceita é que a entrada de Hg nas folhas ocorre pelos estômatos, cerca

de 50-80% de todo o aporte de Hg atmosférico na área florestal é derivado deste mecanismo

(Figura 2) (REA et al., 2001; SCHWESIG; KREBS, 2003; ST-LOUIS et al., 2001). As vias

de entrada cuticulares e seiva acima (raíz-folhas) são desprezíveis (BISHOP et al, 1998; ST-

LOUIS et al, 2001), sendo desconsideradas também neste estudo. Apesar disso, valores de

fluxo bidirecionais são encontrados nas câmaras de teste, indicando que o Hg é

constantemente adsorvido e re-emitido da folha (HANSON et al., 1995; MILLHOLLEN et

al., 2006).

Com relação ao seqüestro de Hg, é sugerido um ponto de compensação (HANSON;

LINDBERG, 1995). Cada espécie vegetal sorveria Hg quando sua concentração estivesse

acima do ponto de compensação (um valor atmosférico de Hg específico para cada espécie

vegetal), ou, cederia para o ambiente quando houvesse taxas menores do que o seu ponto ou

ainda, dentro dos limites do ponto de compensação, haveria uma faixa de Hg atmosférico

onde o balanço da troca seria neutro.

Por outro lado, Millhollen e colaboradores (2006b) apontam para a possibilidade de

todos os sítios de adsorção nas folhas ficarem saturados acima de 10 ng.m-3 de exposição ao

Hg0. Esses fatores, sem desconsiderar a difusibilidade dos gases no interior do tecido vegetal

e o movimento estomático, evidenciam uma faixa estreita para a absorção. Ou seja, quanto

menor o ponto de compensação e maior o de saturação, maior será o intervalo de captura,

onde estariam as plantas com alto poder seqüestrador, resultando num balanço final positivo

entre a captura e a evasão, acarretando em acúmulo crescente ao longo do tempo (GRIGAL,

2002). Logo o fluxo de Hg na serapilheira deverá variar segundo o clima, fator limitante do

estado ecofisiológico da floresta, proveniente de uma longa adaptação aos nutrientes

disponíveis.

FIGURA 2 - Esquema mostrando as diversas vias do Hg no dossel

(adaptado de ST.-LOUIS et al., 2001)

1.2.5. O ecossistema florestal e a poluição atmosférica

Na Mata Atlântica do Sudeste brasileiro é significativo o crescimento atingido pela

floresta das encostas voltadas para o oceano, principalmente a face voltada para o Sul

(OLIVEIRA et al., 1995). A Mata Atlântica, assim como outras Florestas Tropicais, possui

solos pobres em fito-nutrientes e, depende em parte da entrada destes elementos através da

atmosfera, para seu balanço nutricional (WARING, 1985). A floresta é dependente também

da reciclagem e de outros mecanismos conservadores para manter os nutrientes biodisponíveis

dentro do compartimento florestal, sendo capaz de minimizar a lixiviação constante destes

elementos dos ecossistemas tropicais. Através desta entrada, elementos poluentes ou não são

incorporados como Br, Ca, Co, Cs, Hg, K, Na, Pb, Rb, Sr and Zn (DE FRANÇA et al., 2004;

OLIVEIRA et al., 2006) tanto através da deposição úmida quanto da seca.

As conseqüências da poluição atmosférica nos ecossistemas florestais podem

manifestar-se pela eliminação de espécies sensíveis à contaminação do ar; pela eliminação

seletiva de plantas emergentes; pela redução da produção de biomassa, diminuindo o estoque

de nutrientes disponível no ecossistema, e pela maior incidência de pragas e doenças

(KOZLOWSKI 1980). Dependendo da carga de poluição, a comunidade florestal pode sofrer

grandes alterações na sua estrutura florística, resultando num empobrecimento da

biodiversidade dos ecossistemas, diminuindo os valores de densidade, altura e dominância das

árvores que, em conseqüência, provocam uma diminuição da biomassa aérea e subterrânea

(LIMA, 1980). Esses desdobramentos ocorrem devido à fotossíntese ser o processo

metabólico mais atingido pelos efeitos da poluição atmosférica (INOUE; REISSMANN,

1991)

Os ecossistemas florestais envolvidos em poluição são submetidos às tensões dos

efeitos fitotóxicos diretos dos poluentes do ar, causados pelo aumento dos processos erosivos,

pelo aumento da lixiviação de nutrientes, pela redução do pH, levando a um agravamento dos

processos de degradação do ambiente, o que pode tornar-se um processo irreversível. Na

figura 3, verificam-se as tensões resultantes dos efeitos diretos dos poluentes do ar sobre as

florestas como possíveis tensores:

FIGURA 3 - Esquema das principais alterações provocadas pela poluição do ar na região da

Mata Atlântica, em Cubatão-SP. Adaptado de POMPÉIA, 1998.

Um exemplo de tensor ambiental é a chuva ácida, em que elementos não reativos se

transformam em espécies químicas reativas, acarretando a entrada de uma série de poluentes

atmosféricos. Porém, o Hg foliar é composto em sua maioria por Hg0, disponibilizado pela

deposição seca. Sua passagem pela cutícula da epiderme foliar pode ser composta por

diversas camadas, como mostra a figura 4, existentes na superfície com estruturas químicas e

morfológicas interespecificamente diversas. Já as células da parede da câmara subestomática

são finas facilitando as trocas gasosas (Figuras 5 e 6). Segundo Miller & Mc Bride (1975),

durante os processos de absorção de CO2 e de liberação de vapor de água, na presença de luz,

outros gases presentes próximo à folha serão também absorvidos pelos estômatos.

FIGURA 4: Esquema geral da cutícula. Retirado de: COSTA, 2007.

FIGURA 5: Disposição do estômato na superfície foliar e suas partes. Adaptado de: COSTA,

2007.

FIGURA 6 - Interação entre as moléculas dos poluentes gasosos com a folha. Fonte:

Silva-Filho, 1988.

A quantidade de poluentes atmosféricos transferidos para o interior da folha é

controlada por uma série de resistências:

1) atmosférica, sendo alguns dos fatores controladores a velocidade de vento, tamanho e

geometria da folha, difusividade e viscosidade do gás; e segundo Hanson et al. (1995),

no caso do mercúrio, depende inversamente da carga deste elemento na atmosfera. Ou

seja, quanto maior a pressão parcial de Hg no ambiente menor será a resistência

atmosférica para a entrada na folha.

2) estomática, que é regulada pela abertura dos estômatos, sendo influenciada pelo déficit

hídrico, concentração de CO2, estado nutricional da planta, intensidade luminosa e

também pelo déficit de pressão de vapor na atmosfera;

3) mesofílica, regulada pela solubilidade do gás na água, difusão líquida do gás e

metabolismo das folhas (SILVA-FILHO, 1988).

Portanto, um momento ótimo da troca gasosa estomática está nas manhãs ensolaradas

e com suprimento de água abundante, acontece quando a radiação solar incidente na folha

favorece altas taxas de fotossíntese, já que a demanda por CO2 dentro da folha é alta e por isso

o poro estomático permanece amplamente aberto. De noite quando não há fotossíntese e,

portanto, não há demanda por CO2 dentro da folha, a abertura estomática fica pequena ou

fechada. Como demonstrado por Frescholtz e Gustin (2004) em um experimento com câmaras

para análises das trocas gasosas, foram encontrados fluxos próximos a zero durante a noite em

uma espécie de angiosperma do gênero Aspen. Já em uma gimnosperma estudada do gênero

Pinus foram encontrados fluxos presentes, ainda que menores do que os diurnos, mesmo

durante a ausência da fotossíntese, justificado pela disposição e maior eficiência no

fechamento dos estômatos do primeiro grupo. Na maioria das plantas do grupo das

angiospermas os estômatos ficam na parte inferior da folha (abaxial) facilitando sua proteção.

O advento da industrialização tem levado a significantes aumentos na emissão global

de substâncias gasosas (CO, NOx , CH4, etc.) e material particulado atmosférico. A

concentração atmosférica de muitos elementos traços tem sido significativamente afetada por

atividades antropogênicas (AL-MOMANI, 2003), o mercúrio, por exemplo, aumentou 3 vezes

seu nível de background atmosférico devido a fontes antropogênicas, em um período muito

curto, como anteriormente citado (US-EPA, 1997).

Todo esse rápido acréscimo da carga atmosférica de poluentes pode representar,

considerando as devidas proporções, um grande desafio para a biota exposta, principalmente

pelo tempo de vida dos indivíduos de grande porte dos ecossistemas florestais que podem não

acompanhar a velocidade desta mudança atmosférica em seu metabolismo. Como, até agora

não se conhece nenhuma utilidade deste elemento para as plantas e muito provavelmente pela

não abundância deste elemento na natureza e em processos co-evolutivos com a vegetação

(Figura 7), não há via bioquímica de saída exclusiva para ele, produzindo assim acumulação

nas folhas por onde predomina sua entrada. A fotossíntese, ocorrida principalmente nas

folhas, é o principal processo metabólico afetado por contaminação de mercúrio em testes in

vitro e in vivo, porém quantidades muito acima do background foram utilizadas (> 20ppm)

(PATRA; SHARMA, 2000). Os cátions de mercúrio parecem estar intimamente ligados aos

grupos sulfidrilas –SH, presentes em todo o arcabouço de aminoácidos que constituem as

células. Porém, somente a inibição da catalase foi comprovada pela exposição ao vapor de

mercúrio, igualmente em quantidades extremas (PATRA; SHARMA, 2000).

FIGURA 7 - Sistema Biológico dos Elementos construído a partir da correlação de dados da

função fisiológica dos elementos individuais em organismos vivos, do desenvolvimento

evolutivo do ambiente inorgânico e de informações da absorção dos elementos pela planta

(molécula simples ou troca de íons). Os elementos H e Na exercem várias funções no sistema

biológico, por isso não são fixos no sistema. Outros não foram posicionados devido à

ausência de informações. (Fränzle; Markert, 2000 apud De França, 2006.)

As plantas tolerantes bioacumuladoras de mercúrio possuem grande potencial para a

fitoremediação de solos contaminados, inclusive há ensaios bem sucedidos mostrando a

potencialidade de plantas modificadas geneticamente em reduzir Hg(II) para mercúrio

elementar, espécie mais inerte (RUGH et al, 1998).

1.2.6 A fisiologia vegetal e a deposição da serapilheira

A serapilheira é composta pelas partes do vegetal caídas no solo, coletivamente

composta de folhas, galhos e elementos reprodutivos. A queda das folhas por senescência é

um processo controlado pela planta, que ou sazonalmente (decíduas) ou intermitentemente

separa suas folhas do caule, preparando assim o indivíduo para as restrições climáticas de

determinada estação, para as restrições fisiológicas de uma fenofase específica e para o

próprio crescimento do indivíduo. Em caso de estresse hídrico, essa separação também ocorre

evitando perdas excessivas de água. A disponibilidade luminosa também é, responsável pela

reorientação da área de cobertura do dossel, em detrimento de outras partes que se atrofiam. A

separação não natural pode ocorrer devido a ventos muito fortes ou por parasitas e predadores,

porém muito pouco representativo na produção da serapilheira.

Segundo Raven et al (2001), a abscisão das folhas é desencadeada pela inibição da

auxina juntamente com a produção de etileno, um gás fitorregulador (hormônio vegetal) que

desencadeia um processo enzimático responsável pela transferência de elementos,

aminoácidos e carboidratos para outras partes ainda vivas da planta. A formação de um

conjunto de células na base da folha, chamada zona de abscisão é responsável pelo

rompimento desta separando a folha do caule. Isso garante à planta o estoque de alguns

nutrientes importantes e concentra outras moléculas que podem ter relevantes interações

ecológicas com as outras espécies, como por exemplo, através da alelopatia (inibição de

crescimento de outras espécies no solo atingido pela serapilheira) ou do recrutamento de

fauna específica. Esta “maquinaria” florestal pode ser comparada a filtros atmosféricos

descartáveis com área de superfície e peculiaridades anatômicas diversas.

As folhas das árvores das florestas tropicais exibem diferentes características

morfológicas e anatômicas, variando estas formas até entre espécies de um mesmo gênero. As

folhas deste bioma podem exibir um grande número de tricomas (“pêlos foliares”) e outras

estruturas anatômicas em sua epiderme celular. Além disso, podem apresentar rugosidades na

camada mais externa da folha (Figura 4) devido a formação de ceras epicuticulares com

diversas composições químicas. Todas estas peculiaridades influenciam a adsorção e

dessorção de elementos na superfície foliar, ou seja, na concentração total de um elemento por

grama de folha analisada.

Outro ponto que evidencia a contribuição da diversidade dos trópicos sobre os altos

valores de Hg foliar é a correlação positiva entre a concentração de mercúrio e o tempo de

vida das folhas para espécies das zonas temperadas e boreais (MILLHOLLEN, 2006b).

Apesar de não existir estudos em zonas tropicais para esta variação temporal, o mesmo

processo de acúmulo progressivo deve estar acontecendo. Essa absorção foliar é deveras

usada já na agricultura tradicional, principalmente em espécies tropicais onde há mais

densidade de poros nas folhas do que em espécies das zonas temperadas e boreais. Em locais

onde há uma diversidade fenológica interespecífica bem maior como nos trópicos, é provável

que existam também, grandes diferenças entre as concentrações por espécie, já que as folhas

de cada espécie teriam tempos de vida distintos. Portanto, a serapilheira corresponde a um

filtro onde se encontra o registro temporal (aproximadamente de 1 ano nas decíduas e >1 ano

para as não decíduas) do acúmulo de Hg atmosférico referente ao período de vida das folhas

oriundo de um equilíbrio dinâmico da troca gasosa com a atmosfera do fluxo de Hg

estomático.

O monitoramento da dinâmica da serapilheira tem sido um dos métodos mais

utilizados para avaliar a produtividade florestal e o fluxo de Hg por ser um método não

destrutivo e, quando associado a outros dados ecológicos, permite avaliar a resposta da

floresta às alterações ambientais. Na região Sudeste brasileira, estudos da dinâmica da

serapilheira em áreas protegidas de Mata Atlântica com diferentes históricos de uso

reportaram valores de deposição de serapilheira que variam de 6,0 t. ha-1.ano-1 até valores

superiores a 11,0 t. ha-1.ano-1 (ABREU, 2006; CUSTODIO-FILHO et al., 1997; DINIZ;

PAGANO, 1997; MARTINS; RODRIGUES, 1999).

1.2.7. A transpiração e a abertura estomática

A transpiração, também chamada de “mal inevitável”, pode ser extremamente danosa

para uma planta. Isso pode acontecer quando a perda de água excede a absorção, retardando o

crescimento e podendo levar o indivíduo a morte. Porém, além de arrefecer as folhas, deslocar

a seiva com nutrientes e metabólitos e manter uma turgidez ótima onde as células trabalham a

abertura estomática (Figura 8), por onde ocorre parte predominante da transpiração, e é

responsável pela entrada do CO2 na planta, combustível, da fotossíntese. Por isso para a planta

viver ela tem que deslocar água dos solos para a atmosfera (RAVEN et al., 2001). O que

compensa essa perda e otimiza a absorção de CO2 é um complexo sistema fisiológico,

montado sobre um arcabouço genético e morfológico, que responde: ao clima, a

disponibilidade da entrada de nutrientes do solo/ar e a disponibilidade qualitativa e

quantitativa de luz recebida por cada folha do individuo.

FIGURA 8 – Fotomicrografias eletrônicas de um estômato aberto (A) e fechado (B). Retirado

de: RAVEN et al., 2001.

Todos os fatores exógenos e endógenos que afetam a transpiração estão sujeitos a

alterações durante o dia, originando uma periodicidade diurna na taxa a que este processo

ocorre. Para a maior parte das plantas durante a noite a taxa de transpiração é geralmente

baixa, perto de zero, aumentando depois do nascer do sol até atingir um máximo ao meio-dia.

Na parte da tarde a transpiração começa a diminuir até atingir, ao entardecer, os valores

mínimos semelhantes aos da noite.

O crescimento e desenvolvimento de árvores in situ experimentam períodos ocasionais

de stress hídrico dependendo da habilidade do estômato em controlar a perda de água

enquanto mantém o crescimento. Mesmo quando o potencial hídrico das células (a capacidade

que a célula têm para receber a água através de uma gradiente) diminui drasticamente, devido

à perda de turgidez ou diminuição do potencial osmótico, o sistema contínuo de água na

planta permite o fornecimento de água para as células nos locais de evaporação (MEIDNER;

SHERIFF, 1976). A taxa de transpiração pode ser mantida até ser alcançada uma quantia

crítica de umidade do solo (DUNIN; ASTON, 1984), após esse ponto haveria a queda das

taxas de transpiração. Quando o potencial hídrico da folha decresce, a abertura estomática

diminui, reduzindo a transpiração e permitindo que o potencial hídrico foliar se restabeleça. O

potencial hídrico foliar per se não é o transdutor desta resposta estomática perante o estresse

hídrico (GOLLAN et al., 1986; HINCKLEY et al., 1978), mas em geral, normalmente há um

intervalo onde o potencial hídrico foliar varia sem que haja alterações na condutância

estomática. Quando um determinado limite do potencial hídrico é alcançado, a fotossíntese

A B

A B

declina por respostas enzimáticas, a concentração de CO2 interno então aumenta e o estômato

fecha de um modo linear ou curvilíneo até a condutância estomática aproximar-se de zero

(SCHULTE et al., 1987; WANG et al., 1988; DE LÚCIA; HECKATHORN, 1989).

2 JUSTIFICATIVA:

Através deste estudo espera-se contribuir para o conhecimento científico da ciclagem

do Hg nas florestas tropicais, visto que há uma grande carência deste estudo para este bioma,

comparado às pesquisas realizadas em florestas temperadas e boreais. A quantificação do Hg

em serapilheira tropical, por exemplo, foi feita apenas em sete levantamentos, quatro destes

na Floresta Amazônica e apenas três referentes à Mata Atlântica (FOSTIER et al., 2003;

OLIVEIRA et al., 2006; SILVA-FILHO et al., 2006). Assim, espera-se gerar dados para

futuramente se estimar a quantidade de Hg estocada no solo a longo prazo pelo processo

fenológico das florestas tropicais testando possíveis correlações com parâmetros

meteorológicos e botânicos, tais como precipitação, temperatura, densidade estomática e área

foliar, que estariam atuando nas altas taxas de Hg encontradas na serapilheira tropical.

Esta abordagem quantitativa é de suma importância, pois conhecendo o ciclo deste

elemento, e suas vias de entrada, poderá ser avaliada a origem das altas concentrações do Hg

estocado nos solos florestais, que por sua vez, ao ser lixiviado ou erodido o libera para os

cursos d’água onde pode se metilar novamente no sedimento e biomagnificar-se ao longo da

cadeia trófica até chegar no pescado, fonte de alimento humano. O mercúrio também pode ser

liberado em estado gasoso para a atmosfera através das queimadas, que atingem facilmente o

estoque da serapilheira. Logo, o estudo do ciclo do Hg é fundamental para predizer o impacto

potencial sobre os seres humanos, bem como avaliar a qualidade de vida para toda a biota.

Estes dados acrescentam também detalhes à pesquisa de base para a preservação,

conservação e valoração da Mata Atlântica, que é tida como um hotspot (MYERS et al.,

2000), título dado a uma área fortemente ameaçada, com alto grau de endemismo, que abriga

muitas espécies não encontradas em nenhum outro lugar do mundo. Atualmente, dos

1.300.000 km2 que cobriam o território brasileiro pré-colonial, apenas 8% de mata original

pode ser encontrada. Hoje, a maioria dos animais e plantas ameaçados de extinção no Brasil

são encontrados na Mata Atlântica. A situação é agravada pelo fato da região sediar tanto os

centros urbanos mais povoados como os grandes centros industriais e de silvicultura do país.

Aproximadamente 80% do PIB do Brasil são gerados na região da Mata Atlântica, onde

vivem mais de 70% dos 170 milhões de brasileiros. Apesar disso, a Mata Atlântica brasileira

possui uma taxa de biodiversidade relativa mais elevada que a da Amazônia, sua diversidade

de plantas lenhosas pode chegar, em um único hectare, a 454 espécies como no sul da Bahia

(THOMAS et al., 1998). Somente em plantas vasculares, das 20.000 espécies, 8.000 são

endêmicas (MYERS et al., 2000).

3 OBJETIVOS:

• Determinar a concentração de mercúrio elementar na serapilheira durante um ano.

• Estimar o fluxo de mercúrio através da deposição de serapilheira.

• Avaliar também, a influência dos parâmetros climatológicos na concentração de

mercúrio encontrado na serapilheira.

• Analisar a concentração de mercúrio foliar de cinco espécies representativas e testar a

correlação destes valores com parâmetros da anatomia e morfologia gerados também

neste estudo.

• E, realizar o levantamento das possíveis fontes locais de Hg atmosférico, através do

estudo da direção e velocidades dos ventos.

4 ÁREA DE ESTUDO

O Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) está localizado na região Metropolitana do

Rio de Janeiro (Figura 9), que congrega 17 municípios ocupando 11% da área total do Estado

e concentra, numa superfície de pouco menos de 4.690 km2, uma população de 11 milhões de

pessoas, cerca de 70% do Estado, dos quais 54% vivem no município do Rio de Janeiro. Das

regiões metropolitanas existentes no país, a do Rio de Janeiro é a que apresenta a maior

densidade demográfica, aproximadamente 2.285 hab/km2, e é a de maior grau de urbanização,

96,8%, responsável pela geração de cerca de 80% da renda interna do Estado e de 13% da

nacional. É reconhecida como a segunda maior concentração de população, de veículos, de

indústrias e de fontes emissoras de poluentes do país, gerando sérios problemas de poluição

do ar (FEEMA, 2006).

FIGURA 9 – Mapa destacando a Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, mostrando a área

do PEPB e da are de estudo. Modificado de: OLIVEIRA, 2004

A geologia da região é caracterizada nas partes mais baixas pela presença de ampla

faixa de gnaisse melanocrático, enquanto que nas mais elevadas por granitos de diversos

tipos. O substrato rochoso é superficial e os afloramentos são relativamente comuns. O tipo

climático da região do maciço da Pedra Branca é sub-úmido, com pouco ou nenhum déficit de

água, megatérmico, com calor uniformemente distribuído por todo o ano. A baixada de

Jacarepaguá, onde se encontra a região segundo a classificação de Köppen, acha-se incluída

no tipo Af, ou seja, clima tropical quente e úmido, sem estação seca, com 60 mm de chuvas

no mês mais seco (agosto). Durante o período estudado apresentou 47 mm e 54 mm em julho

e agosto respectivamente. A região, durante novembro de 2005 e outubro de 2006 obteve

pluviosidade de 1.620 mm e a temperatura média anual foi de 23,7 oC.

As matas que revestem o grande anfiteatro montanhoso do Camorim (Figura 10)

fazem parte da Floresta Ombrófila Densa Submontana (VELOSO et al., 1991) e, em termos

legais, encontram-se protegidas pela criação, em 1974, do Parque Estadual da Pedra Branca,

onde se localiza o Pico da Pedra Branca, com 1024 m, ponto culminante do município do Rio

de Janeiro. O que auxiliou fisicamente à sua permanência ao longo dos anos que sucederam a

chegada dos europeus no Brasil com a urbanização da cidade do Rio de Janeiro. Dada à

amplitude de tempo e intensidade de ocupação, muito possivelmente a maior parte destas

florestas tenha tido mais de um uso, pelo menos a partir do período colonial. No entanto, pelo

fato de este trecho da serra do Mar ser constituído por encostas voltadas para o sul, a

recomposição da floresta geralmente se dá em tempo relativamente curto, em função da maior

disponibilidade de água no sistema e do menor grau de insolação (OLIVEIRA et al., 1995).

FIGURA 10 – Fotografia mostrando vista panorâmica do PEPB. Retirado de: CINTRA, 2004

O local de estudos foi uma área de encostas íngremes, com declividade média de 40º,

na vertente sudeste do Pico Itaiaci, na Floresta do Camorim, localizado na zona oeste do

município do Rio de Janeiro. Trata-se de uma floresta secundária com 50 anos

aproximadamente (Figura 11). Na área estudada, a profundidade média do solo é de 50 cm e,

com relação ao conteúdo de nutrientes, podem ser classificados como oligotróficos

(OLIVEIRA et al., 2006). A estrutura da vegetação caracteriza-se por uma área basal

relativamente baixa, de 26,2 m2.ha-1. A área de estudos localiza-se entre os 200 e 300 metros

de altitude, dentro de uma área em forma de anfiteatro que constitui uma das cabeceiras do

Rio Caçambe (PENNA-FIRME et al., 2001). Os perfis de solos levantados por Oliveira e

colaboradores (2004) para a área de estudo revelaram um solo ácido, porém com baixos teores

de alumínio e de acordo com o grau de saturação de bases (valor V), os solos do divisor de

drenagem do Camorim no PEPB, podem ser considerados como distróficos (V < 50%)

(Tabela 1).

FIGURA 11 – Bacia do rio Camorim e localização da área de estudo no vale do rio Caçambe,

maciço da Pedra Branca, Rio de Janeiro. Modificado de Oliveira, 2004.

TABELA 1 – Principais características químicas do solo na área de estudo do Parque Estadual da Pedra Branca (RJ). Médias de quatro repetições feitas com amostras compostas.

pH Al Ca Mg Na K H+Al P S T V N Hg “Oi”

H20 cmolc/dm³ mg/dm³ cmolc/dm³ mg/dm³ cmolc/dm³ % µg/g

4,8 0,17 2,1 0,8 9,5 89 4,7 1,8 3,2 7,9 33,3 1,4 0,19

Fonte: OLIVEIRA et al., 2004.

A análise fitossociológica foi realizada por Solórzano et al. (2005) na área em questão

onde foram empregadas as fórmulas apresentadas por Mueller-Dombois e Ellenberg (1974)

para densidade, freqüência e dominância e valor de importância (VI). A dominância foi

considerada como a área basal ou área da seção do tronco a 1,3 m do solo. A estimativa da

diversidade foi obtida utilizando-se o índice de diversidade de Shannon, descrito em

Magurran (1988). Foi utilizado como critério de inclusão os indivíduos como diâmetro

superior a 5 cm a 1,3 m do solo.

O mesmo autor, em uma área amostral de 2.500m2, registrou 92 espécies arbóreas

subordinadas a 34 famílias, com uma média de altura correspondente a 9 m, com P.A.P. > 15

cm (perímetro à altura do peito) e área basal de 26,2 m2 ha–1. Dez espécies dominaram a

composição florestal (Piptadenia gonoacantha, Cordia trichotoma, Metternichia princeps,

Colubrina glandulosa, Alchornea iricurana, Miconia tristis, Chrysophyllum flexuosum,

Guapira opposita, Senefeldera multiflora e Allophylus sericeus) representando 47,7% de

dominância relativa por espécie (SOLÓRZANO et al., 2005). Estes valores servem como base

para a identificação do Valor de Importância (VI) das espécies presentes. Este parâmetro é

formado pelo somatório dos valores relativos de densidade, freqüência e dominância das

espécies, e estão disponíveis na tabela 2.

TABELA 2 – Parâmetros fitossociológicos das cinco espécies mais bem rankeadas segundo o

valor de importância, amostradas no Parque Estadual da Pedra Branca, Rio de Janeiro (RJ).. N =

número de indivíduos amostrados; DRs = densidade relativa por espécie (%); ABs = área basal da

espécie (m2); DoRs = dominância relativa por espécie (%); FR = freqüência relativa (%); VI =

valor de importância; VC = valor de cobertura.

Familia Espécie N DRs DoRs FR VI VC

Leguminosae Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr.

27,0

6,6

19,4

6,0

32,0

26,0

Boraginaceae Cordia trichotoma (Vell.) Arrab. ex. Steud.

25,0

6,1

3,4

3,9

13,5

9,6

Solanaceae Metternichia princeps Mik. 19,0

4,7

3,8

2,5

10,9

8,5

Sterculiaceae Colubrina glandulosa Perkins 17,0

4,2

4,2

2,1

10,5

8,4

Euphorbiaceae Alchornea iricurana Casar. 11,0

2,7

4,2

3,2

10,0

6,9

Valores somados de todas as spp do levantamento 308 100 100 100 300 200

Fonte: Oliveira et al., 2004.

5 – COLETA DAS AMOSTRAS

As amostras de serapilheira foram coletadas quinzenalmente, durante o início de

novembro de 2005 ao final de outubro de 2006, tempo em que permaneceram os coletores em

campo. Os coletores de resíduos florestais foram construídos a partir de caixotes de madeira

com 50 cm de lado, com fundo de tela de polietileno com malha de 2 mm, adaptados de

Proctor (1983). Cada um foi afixado ao solo por meio de estacas, posicionados a 0,7 m do

chão da floresta, sendo utilizados 12 coletores espalhados de forma aleatória pela área

amostral de 5000 m2.

As amostras de serapilheira foram separadas para pesagem do material seco, usando-

se luvas descontaminadas, em folhas, galhos (menores que 2 cm de diâmetro) e materiais

reprodutivos com resíduos (miscelânea de restos vegetais não identificáveis), e mantidas em

estufa a temperatura menor que 60 oC até peso constante. As datas das coletas seguem

discriminadas abaixo:

19/11/2005, 2/12/2005, 17/12/2005, 29/12/2005, 13/1/2006, 27/1/2006, 9/2/2006, 17/3/2006,

10/4/2006, 26/4/2006, 3/6/2006, 19/6/2006, 5/7/2006, 19/7/2006, 9/8/2006, 12/9/2006, 12/10/2006 e

2/11/2006

A partir dos valores de peso seco, foram calculadas as médias mensais em kg/ha da

serapilheira total (serapilheira composta por todas as frações) e de suas frações, como também

seus respectivos desvios. Após pesagem, as frações foram homogeneizadas, e então retiradas

2 gramas de serapilheira total de cada quinzena para mensurar as concentrações de Hg

retirando-se as médias destas para a obtenção da concentração mensal. Para a correção dos

meses em que houveram quinzenas subtraídas por problemas técnicos foram utilizadas as

médias das concentrações da quinzena anterior e posterior a ausente. As folhas vivas também

foram coletadas em duas ocasiões, após período de chuvas em dezembro de 2006 e 2007, para

análises de parâmetros biológicos para correlação com a quantidade de Hg encontrada. A

coleta do material botânico de cada indivíduo amostrado foi realizada utilizando uma tesoura

de alta poda, com 5 m de altura. Quando necessária, para a subida nas árvores foi utilizada a

técnica descrita por Oliveira; Zaú (1995). A identificação das cinco espécies botânicas,

Piptadenia gonoachanta, Metternichia principes, Alchornea iricurana, Cordia trichotoma e

Colubrina glandulosa, foram feitas por Solórzano e colaboradores (2005), por consultas a

especialistas ou por comparação em herbários institucionais, do Jardim Botânico do Rio de

Janeiro e da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

6 - ANÁLISE QUÍMICA

A determinação das concentrações totais de Hg foi feita a partir de 1.0g das amostras

secas colocadas em uma bomba de Teflon e a partir de um ataque ácido de 3:1 HCl : HNO3

(LECHLER et al., 1997) a quente em sistema fechado para posterior determinação com um

Espectrofotômetro de Absorção Atômica a Vapor Frio (EAA-VF) para a determinação do Hg,

depois da redução do Hg2+ com SnCl2 (SILVA-FILHO et al., 2006). Brancos analíticos foram

analisados em paralelo às amostras, sempre apresentando um sinal menor do que 0,5 %,

contribuindo para a precisão do método. Para averiguar a exatidão do processo analítico,

amostras de material certificado foram analisadas (NIST SRM 1515 – contituídas por folhas

de macieiras), a média de 92 % foi encontrada para a recuperação das concentrações

certificadas de Hg (n=12).

7 – ANÁLISE ESTRUTURAL DA VEGETAÇÃO

7.1 – PARÂMETROS ANATÔMICOS

As folhas foram coletadas em três plantas de cada uma das cinco espécies com os

maiores Valores de Importância, de ocorrência espontânea em campo. De cada indivíduo

foram coletadas 20 folhas do terço médio do dossel, completamente expandidas. As folhas

foram armazenadas diretamente em FAA (ácido acético + formalina) 50% (KRAUS;

ARDUIM, 1997) e transportadas ao laboratório de anatomia vegetal (LABES) do

Departamento de Biologia Geral da UFF. De cada folha de cada uma das cinco espécies,

foram obtidas duas amostras na região central, com aproximadamente 1cm2, da qual se

contaram os estômatos referentes a uma área de 1mm2 visualizada ao microscópio. Estas

amostras foram utilizadas, para clarificação e contagem dos parâmetros, gerando ao todo 40

observações por espécie.

As amostras foram clarificadas em álcool etílico 70% e branqueadas com solução de

NaOH a 5% e em hipoclorito de sódio durante dois a três minutos. Após essa etapa, as

amostras foram lavadas e desidratadas em série etílica progressiva, coradas com safranina

(1% solução aquosa) e azul-de-astra e montadas em lâminas não permanentes com glicerina e

vedadas com esmalte. Fotomicrografias das epidermes superior e inferior foram feitas em

fotomicroscópio Olympus AX 70 e para a contagem dos estômatos por área e as medidas do

ostíolo foram usados, o microscópio Leitz modelo Diaplan, conectado por placa gráfica de

aquisição de imagem ao software Imaq Vision Builder da National Instruments.

Dessas lâminas foram obtidos o índice estomático, a densidade estomática, o

comprimento do ostíolo e a densidade de tricomas nas superfícies adaxial e abaxial das cinco

espécies observadas. O índice estomático (IE) foi calculado pela razão entre o número de

estômatos e o número total de células da epiderme (número de estômatos + células

epidérmicas) x 100.

8 - PARÂMETROS CLIMÁTICOS

Para verificar a influência da pluviosidade sobre a concentração e fluxo de Hg através

da serapilheira foram utilizados dados de precipitações diárias registrados pela estação

pluviométrica automática localizada no Bairro da Cidade de Deus, que dista

aproximadamente 4 km em linha reta da área amostral e é operada pela Fundação Instituto de

Geotécnica do Município do Rio de Janeiro (GEORIO) (22º58'16''O e 43º22'73''S). Os dados

(atuais e normais climatológicas) de temperatura e direção e velocidade dos ventos, foram

retirados da estação automática de Jacarepaguá que dista aproximadamente 5,5 km da área

amostral e é operada pela FEEMA-RJ (22º59'16''O e 43º22'13''S).

9 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados referentes à massa de serapilheira depositada mensalmente, massa da

fração folhas e a concentração de Hg na serapilheira da floresta do PEPB, podem ser vistos

aqui resumidos na tabela 3. As análises estatísticas dos dados de todo este trabalho, como

médias, desvio padrão, testes de correlação “r” de Pearson e teste de comparação entre médias

“t” de Student, foram realizadas com o auxílio do software STATISTICA for Windows –

versão 5.1.

TABELA 3 – Médias mensais das deposições de serapilheira, do fluxo de Hg e de sua

concentração foliar encontradas neste estudo.

Massa de serapilheira depositada (t/ha.ano)

[Hg] (ng/g) na

serapilheira total

Massa de Hg depositada na serapilheira (µg/m

2.mês)

Massa de Hg depositada na fração foliar * (µg/m

2.mês)

Nov 4,7 192 7,5 5,2

Dez 6,2 225 11,6 8,6

Jan 7,0 167 9,8 7,6

Fev 7,4 279 17,4 15,5

Mar 11,0 258 23,8 21,9

Abr 9,0 323 24,4 20,3

Mai 3,2 234 6,3 4,3

Jun 2,9 226 5,5 4,1

Jul 4,7 210 8,2 7,2

Ago 10,1 210 17,7 15,4

Set 14,0 192 22,6 19,6

Out 10,3 333 28,9 24,9

Méd. 7,6 237 15,3 12,9

D.P. 3,4 51 8,1 7,5

* estimado a partir da porcentagem da fração folhas sobre a [Hg] da serapilheira total

9.1 O FLUXO DE SERAPILHEIRA

O fluxo total acumulado de serapilheira no período do estudo foi estimado em 7,6 t.ha-

1.ano-1, sendo dividido em: 83,7% folhas, 10,1% galhos, 6,2% elementos reprodutivos mais

resíduos. Em um levantamento feito por Abreu (2005) a média retirada de 16 artigos sobre

deposição de serapilheira em diversas regiões do Sudeste Brasileiro (Tabela 4) apontou para

uma fração de folhas de 68,2% ± 5,5, diferenciando estatisticamente (p=0,01) do encontrado

pelo presente trabalho no período estudado.

TABELA 4 - Média da deposição de serapilheira em 14 áreas de Mata Atlântica no Sudeste do Brasil.

Adaptado de: Abreu et al., 2005.

A produção elevada da fração folhas revela a grande influência deste parâmetro sobre

a deposição total da serapilheira. A fração galhos e elementos reprodutivos contribuiram

significativamente abaixo da média quando comparadas aos valores de outras regiões do

Sudeste brasileiro (Tabela 4). Custódio Filho e colaboradores (1997) consideram que

tempestades poderiam acarretar em maior queda de ramos e elementos reprodutivos. Apesar

de o período estudado ter aproximadamente 30% das chuvas anuais concentradas acima da

faixa dos 50mm diários, o que em um ano com 1620 mm acumulados pode ser considerado

eventos de chuvas fortes. A estrutura e a composição da vegetação são fatores que podem

explicar esta alta produção de folhas na área. Solórzano et al. (2005), estudando a composição

fitossociológica das mesmas áreas amostrais do presente trabalho verificou no divisor de

drenagem a ocorrência de 91 espécies/ha e um índice de Shannon de 3,98, o grande número

de espécies no divisor de drenagem levaria a uma maior diversificação da fisionomia das

copas e folhas, o que se traduziria num melhor aproveitamento da luz na área do divisor de

drenagem e, portanto, numa alta produtividade (JANZEN, 1980; ABREU, 2006).

Os meses com os maiores e menores fluxos foram setembro (1,2 t.ha-1ano-1) e junho

de 2006 (0,2 t.ha-1ano-1) (Figura 12) respectivamente. Se considerarmos a área florestada do

PEPB como a área total do Parque (12.398 ha) teremos aproximadamente 9,4 x 104 t de

serapilheira produzida anualmente por este remanescente florestal da Mata Atlântica.

0

20

40

60

80

100

120

140

nov/0

5

dez/0

5

jan/0

6

fev/0

6

mar/0

6

abr/0

6

mai/0

6

jun/0

6

jul/0

6

ago/0

6

set/0

6

out/0

6d

ep

. sera

pilh

eir

a (

g m

-2)

FIGURA 12 - Variação anual da deposição da serapilheira do PEPB, Rio de Janeiro

9.2 A CONCENTRAÇÃO DE MERCÚRIO NA SERAPILHEIRA

A média anual da concentração de Hg na serapilheira depositada no período de

novembro de 2005 até outubro de 2006 na floresta do Camorim, PEPB, foi de 238+ 52 ng g-1,

tendo como valor mensal mínimo 167 ng g-1 e máximo de 334 ng g-1 (Figura 13), pertencentes

ao mês de janeiro e outubro respectivamente. As maiores concentrações de mercúrio na

serapilheira foram observadas nos meses de fevereiro a abril e em outubro de 2006.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

nov/0

5

dez/0

5

jan/0

6

fev/0

6

mar/0

6

abr/0

6

mai/0

6

jun/0

6

jul/0

6

ago/0

6

set/0

6

out/0

6co

ncen

tração

de H

g n

g g

-1

FIGURA 13 – Concentrações de Hg na Serapilheira coletada no PEPB, RJ.

Os valores encontrados para a concentração de Hg na floresta do PEPB são de 2-4

vezes maiores que os encontrados em trabalhos recentes realizados no Hemisfério Norte

(Grigal et al, 2000; Grigal, 2003; Schwesig; Matzner, 2001; St. Louis et al, 2001). Porém em

uma extensa revisão sobre o tema em florestas Boreais e Temperadas do Hemisfério Norte, os

valores do presente estudo estão em 1 ordem de grandeza acima da média das concentrações

de Hg em serapilheira encontradas em 80% das 11 observações realizadas por Grigal (2002).

Quando comparados com os dados das regiões tropicais, os 237,7+ 51,8 ng g-1 encontrados

neste estudo, diferem significativamente dos valores encontrados no sudeste brasileiro

(FOSTIER et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2006; SILVA-FILHO et al., 2006) como mostra a

tabela 5. É importante ressaltar que, uma parte desta diferença pode ser creditada à

metodologia de coleta empregada. Esta influência será discutida mais a frente.

Ao compararmos as concentrações de Hg na serapilheira do PEPB na mesma área de

estudo entre 2000/2001 (OLIVEIRA et al., 2006) com os dados do presente trabalho, foi

encontrado com 95% de confiança uma diferença significativa entre as médias através do teste

“t” de student. Logo, duas hipóteses não excludentes são geradas: houve um aumento da carga

atmosférica de Hg na região, juntamente com uma maior eficiência na captura estomática do

Hg por diferenças climáticas. A contribuição da fração folhas também foi ampliada em 20%,

sendo esta a principal fração acumuladora de Hg quando comparada a outras frações (FLECK

et al., 1999; RASMUSSEN, 1991), o que levou a uma maior concentração de mercúrio por

grama de serapilheira. Porém somente considerando esse incremento de biomassa foliar, não

seria suficiente para explicar a diferença entre as médias. Por não haver medidas da carga

atmosférica de Hg na área de estudo, nos respectivos anos dos trabalhos, não podemos estimar

a influência direta da carga atmosférica sobre a concentração destes valores de Hg foliar.

Todavia, tanto a deposição seca do Hg quanto a troca gasosa, são influenciados pelo clima.

Pela análise dos valores de Hg em serapilheira, estimados na mesma área (OLIVEIRA

et al., 2006) e por diversos artigos relatando poluição atmosférica na cidade do Rio de

Janeiro, era esperado valores acima da média para tal parâmetro. Agências governamentais,

em seus relatórios anuais sobre qualidade do ar, apontam para um quadro de poluição do ar

em vários locais deste grande centro urbano (FEEMA, 2006). Outro exemplo é o

levantamento realizado na floresta secundária tardia do Parque Nacional da Tijuca, no qual

Silva-Filho e Ovalle (1984) documentaram a ocorrência de chuva ácida, como conseqüência

da alta carga de poluentes lançados na atmosfera da cidade do Rio de Janeiro. Trindade e

colaboradores (1981) encontraram concentrações de diversos poluentes atmosféricos,

inclusive metais pesados, nas imediações da Floresta da Tijuca que também corroboram para

este quadro de poluição intensa nesta grande Metrópole há décadas. Poucos são os trabalhos

que mensuraram as entradas de Hg em ambientes terrestres nesta região (CINTRA, 2004),

porém, Marins e colaboradores (1996) encontraram valores altos em estudo na Baía de

Sepetiba, à aproximadamente 20 km da área deste estudo, foram encontrados para a

precipitação coletada durante um ano, valores entre 30 ng.L-1 até 164 ng.L-1, resultando numa

deposição média anual total de 76 µg m-2. Estes valores segundo o autor condizem com os

encontrados para outras zonas industrializadas na América do Norte e Europa. Já Cintra

(2004) revela em um estudo mais recente valores extremos de Hg na chuva no período de um

ano, 180 µg m-2. Estas concentrações apontadas aqui representam médias de um grande centro

urbano e industrial, produtor de grande carga atmosférica poluidora, justificando as altas

concentrações de Hg na serapilheira.

A contribuição fisiológica das plantas está indiretamente explícita nas diferenças entre

médias de áreas da Zona Boreal e Temperada, quando comparadas aos valores de áreas

tropicais (Tabela 5). Em latitudes elevadas, mesmo em áreas poluídas (GRIGAL, 2002), não

existem valores de concentração superiores aos encontrados nos trópicos. Mesmo a

concentração de Hg foliar em áreas remotas nos trópicos, como na floresta Amazônica da

Guiana Francesa (MÉLLIÈRES et al., 2003), foi próxima aos maiores valores de Hg

encontrados em florestas temperadas e boreais (Tabela 5).

TABELA 5 - Concentração média e fluxo anual de Hg em diversos ecossistemas florestais.

Tipo florestal Referências ng Hg g-1 µg Hg m-2 ano -1

Floresta Boreal de Coníferas

Schwesig & Matzner, 2001 70 + 20 15

Floresta Boreal Mista St. Louis et al, 2001. 42 + 2,2 12

Floresta Temperada Grigal et al, 2000. 38 + 1,4 12

Floresta Amazônica Roulet et al, 1998. 92 + 13 52*

Floresta Amazônica Mélières et al, 2003. 64 + 14 a 45**

Floresta Amazônica Magarelli, 2006 48 ± 10 43 ± 14*

Mata Atlântica – São Paulo, SP

Fostier et al, 2003 97 72 ± 48*

Mata Atlântica – Cunha, SP

Fostier et al, 2003 70 60 ± 36*

Mata Atlântica – Ilha Grande, RJ

Silva-Filho et al, 2006. 131+ 74 122

Mata Atlântica – Rio de Janeiro, RJ

Oliveira et al, 2006. 170+ 70 128

*estimado a partir de seis meses de coleta ** estimado a partir de um mês de coleta a relativa às folhas vivas do dossel.

Um exemplo da influência climática do ambiente externo da folha sobre o sequestro

de Hg gasoso pode ser ilustrado da seguinte maneira: no período estudado por Oliveira e

colaboradores (2005) no mesmo local, houve apenas 1187 mm de precipitação em 12 meses

enquanto que neste estudo verificamos uma entrada de 1620 mm no mesmo intervalo. O que

pode ter colaborado para um menor stress hídrico, maior produção primária e maior abertura

estomática em períodos pós-chuva no intervalo estudado. Ao mesmo tempo em temperaturas

mais elevadas, haveria uma maior deposição do mercúrio gasoso (SCHROEDER; MUNTHE,

1998), além de uma maior difusibilidade entre as células das folhas neste clima.

Se somente considerarmos os níveis de [Hg] atmosféricos e o fluxo de Hg foliar como

sugerido por Hanson (1995) na estimativa de um ponto de compensação, não haveria grandes

concentrações (MÉLIÈRES et al., 2003; ROULET et al., 1998) em florestas distantes das

áreas urbanas, onde se encontram níveis baixos de Hg na atmosfera. Porém, Graydon (2006)

considera que eventos de deposição apesar de mais raros são muito significativos para o

balanço positivo do seqüestro foliar de Hg. Em contrapartida, o mesmo autor sugere um ponto

de saturação, demonstrando que quando houvesse altas concentrações atmosféricas de Hg,

cessaria o acréscimo, como resposta a saturação dos sítios de ligação para o elemento no

interior do tecido vegetal.

Os desvios padrões relativamente altos (Tabela 6) encontrados nas concentrações de

duplicatas (n=7) das amostras quinzenais (subamostras retiradas da homogeneização

escolhidas aleatoriamente) refletem a dificuldade encontrada na homogeneização (REA;

KEELER, 1996), conseqüência da não completa trituração de partes como vasos xilemáticos e

pecíolos, que diferem negativamente da concentração obtida exclusivamente das lâminas

foliares (MÉLIÈRES et al., 2003). Neste trabalho como obtivemos médias quinzenais, pôde-

se gerar médias mensais mais precisas a partir das médias quinzenais. A partir daí pode-se

avaliar o erro relativo para cada amostra, definido como a diferença entre as concentrações

das duplicatas divididas pela média respectiva, apresentado em porcentagem.

Mata Atlântica – Rio de Janeiro, RJ

Presente estudo 237 +74 184

TABELA 6 – Valores do Erro relativo, a partir de duplicatas das amostras mensais retiradas

da mesma coleta, durante o período de amostragem.

As folhas das espécies florestais, como demonstrado pelas análises de folhas vivas do

dossel, apresentam grandes diferenças em suas concentrações podendo variar entre 32–114 ng

g_1 (n=11) (MÈLIÈRES et al., 2003) na região Amazônica. E em contrapartida, variam entre

13,3 até 49,1 ng g_1 (n=4) para espécies da zona temperada (MILLHOLLEN et al., 2006).

Esse alto desvio encontrado entre as espécies deve-se a alta diversidade de espécies Isso

contribui para uma concentração média na serapilheira com grande variação devido aos

valores discrepantes das espécies produtoras. Como, cada planta sempre-verde, controla a

abscisão de suas folhas em um processo contínuo e complexo variando com a brotação

(FERRAZ et al., 1999) existem concentrações distintas de Hg na serapilheira em

conseqüência do tempo médio de vida das folhas e ainda as diversas características

morfológicas; tricomas, rugosidades e ceras epicuticulares (BOEGER et al., 2004; REA et al.,

2002) que podem variar até mesmo de indivíduo para indivíduo. A presença de espécies

decíduas poderia diluir as concentrações mensais já que estas perante as espécies sempre

verdes, teriam menores níveis de mercúrio (RASMUSSEN et al., 1991). Outro fator

importante a ser lembrado quando discutimos concentrações de mercúrio em folhas de plantas

decíduas, é o de que a serrapilheira possui concentrações maiores que as folhas vivas do

dossel (REA et al., 2001). A translocação dos compostos químicos dentro da folha antes de

sua queda (REA et al., 2002), faz com que se concentrem elementos não essenciais para as

Duplicata referente a coleta do dia: [Hg] ng. g

-1

Diferença entre duplicatas Erro relativo

a

3/1/2006 212,4 35 18%

177,4

27/1/2006 127,5 25 18%

152, 5

26/4/2006 467,5 110 27%

357,5

3/6/2006 222,4 95 54%

127,5

19/6/2006 327,5 55 18%

272,4

19/7/2006 247,5 75 36%

172,5

12/9/2006 207,5 30 16%

177,5

Média do erro relativo 27% Desv. padrão do erro 14%

plantas na massa foliar, como o mercúrio, já que há a retirada de elementos essenciais devido

a essa translocação. O acúmulo superficial de Hg no período entre coletas, descrito por Rea e

colaboradores (1996) onde, as amostras ficaram em campo durante o intervalo de dois meses,

poderia justificar valores mais elevados. Evidenciando, por tanto, a importância da maior

freqüência das coletas para os estudos de análise quantitativa de elementos na serapilheira.

Porém, neste trabalho, a serapilheira permaneceu no máximo duas semanas em campo.

Estas elevadas concentrações refletem uma possível maior captura de Hg via

estômatos pelas plantas tropicais, já que esta é a principal via de entrada de Hg nas folhas

(ERICKSEN et al., 2003; GRIGAL, 2002; St.-LOUIS et al., 2001) e a floresta tem uma área

de superfície porosa (relativa aos estômatos) quase 3 vezes maior do que das florestas

temperadas e boreais (LARCHER, 2000). Outro ponto que corrobora para essa diferença, na

média das concentrações entre latitudes, é a disponibilidade do mercúrio oriundo da deposição

seca, que como visto na literatura (LINDBERG et al, 1991), correlaciona-se positivamente

com a temperatura, sendo este input responsável por 70% - 80% do Hg que entra no sistema

florestal via atmosfera (REA, 1999).

9.3 O FLUXO DE MERCÚRIO NA SERAPILHEIRA

Para a determinação do fluxo foram utilizados os valores mensais da concentração de

Hg na serapilheira total e os da deposição da serapilheira total do mesmo período. A média do

fluxo mensal foi de 15,3 µg m-2, tendo como valor mínimo 5,6 µg m-2 em junho/06 e máximo

de 28,9 µg m-2 em outubro/06 (Figura 14). O fluxo anual de Hg calculado a partir da soma dos

fluxos mensais de Hg na serapilheira no período estudado foi de 184,2 + 97,8 µg m-2 que

corresponde a 1,8+1 g ha-1ano-1.

.

0

5

10

15

20

25

30

35

nov/0

5

dez/0

5

jan/0

6

fev/0

6

mar/0

6

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6

mai/0

6

jun/0

6

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6

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6

set/0

6

out/0

6d

ep

osiç

ão

de H

g (

µg

m-2

)

FI

GURA 14 – Fluxo mensal de Hg na serapilheira do PEPB

Se usarmos como base somente a massa da fração foliar da serapilheira, considerando

que nesta fração está concentrada quase que a totalidade do Hg incorporado, o fluxo anual

seria de 155 + 90 µg.m-2.ano. Correlacionando os fluxos mensais de Hg com os das produções

mensais de cada fração da serapilheira não encontramos nenhuma relação significativa, exceto

pela fração folhas com r de pearson igual a 0,8799 e nível de p= 0,0002 (Figura 15). Esta

fração apresenta uma deposição mensal muito similar à mensal de Hg através da serapilheira

exceto pelos meses de janeiro, abril e outubro, como mostra a figura 16.

FIGURA 15 – Teste de correlação de pearson realizado entre as médias mensais das

concentrações de Hg na serapilheira e as médias das massas das frações da serapilheira. A –

Folhas, B – Galhos, C – Resíduos e D – Elementos reprodutivos. Em vermelho temos as

correlação significativas com p<0,05.

FIGURA 16 – Valores mensais relativos ao fluxo de Hg na serapilheira e a massa produzida

pela fração folhas.

Logo, a correlação encontrada entre o fluxo de Hg e a deposição da serapilheira total foi

positiva e estatisticamente similar a anterior com r= 0,8724 e p<0,0002 , como mostra a figura 17.

A correlação entre a concentração e o fluxo de Hg também foi significativo (Figura 18) porém com

menor grau de certeza, estaria havendo assim uma diluição ou superconcentração do Hg na

serrapilheira em alguns meses. Estes valores de correlação divergem dos encontrados por Silva-

Filho e colaboradores (2006), em floresta primária de Mata Atlântica na Ilha Grande, RJ. Naquela

floresta a temporalidade da deposição da serapilheira não domina a dinâmica de distribuição anual

do fluxo de Hg e sim as concentrações de Hg na serapilheira, o fazem com r=0,88 p<0,001. Já em

trabalhos feitos em latitudes mais elevadas (SHEEHAN et al., 2006; ST-LOUIS et al., 2001) a

dominância da deposição da serapilheira sobre o fluxo de Hg em relação à concentração é evidente.

Como não há possibilidade de se obter correlações entre estes parâmetros para outros trabalhos

realizados para os trópicos, fica o questionamento até onde a floresta primária e sua dinâmica

influencia a dominância da concentração sobre o fluxo de Hg? Já, que a estratégia de reposição de

folhas mais vantajosa numa planta perene, em um ambiente não-estacional, seria a retenção e a

manutenção da atividade fotossintética de folhas velhas até o crescimento das folhas novas

(JACKSON, 1978) e como o metabolismo das espécies clímax é menor levaria mais tempo

concentrando Hg nas folhas. Será que a floresta primária possui uma média maior de tempo de vida

foliar, o qual poderia estar influenciando altas concentrações em períodos de menor deposição total

da serapilheira? E a floresta secundária haveria uma maior freqüência na queda das folhas devido

ao seu metabolismo mais intenso, sendo composta por pioneiras e secundárias, fazendo com que

folhas de vida curta se intercalem com de vida longa levando a correlação mais forte com o fluxo

da serapilheira total do que com a concentração? As espécies pioneiras e secundárias iniciais

apresentam, como características gerais, um crescimento muito rápido e um lapso de vida curto,

investindo pesadamente na produção de biomassa (BUDOWSKI, 1965; VÁZQUEZ-YANNES,

1980; KAGEYAMA; CASTRO, 1989), o que permite gerar um grande aporte de serapilheira. Por

haver muitos fatores influenciando estas correlações e poucos trabalhos em florestas primárias na

Mata Atlântica ainda é cedo para obtermos respostas precisas à estas questões.

4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

Fluxo de Hg na serapilheira em µg/m2

20

40

60

80

100

120

140

Flu

xo d

e se

rapi

lhei

ra t

otal

em

g/m

2

r2 = 0,7611; r = 0,8724, p = 0,0002

FIGURA 17 – Correlação entre os fluxos de Hg e de serapilheira.

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26

Fluxo de Hg na serapilheira em µg/m2

160

180

200

220

240

260

280

300

320

340

360

Con

cent

raçã

o H

g na

ser

apilh

eira

(ng

.g-1

)

r2 = 0,4139; r = 0,6434, p = 0,0240

FIGURA 18 – Correlação entre fluxo e concentração de Hg

Contudo, é notável a diluição da concentração de Hg na serapilheira nos meses

próximos a setembro, tanto para Ilha Grande quanto para o PEPB, estando evidente também a

contribuição da massa de serapilheira mais pobres em Hg, vindo das árvores com o tempo de

vida foliar relativamente menor, obedecendo a uma sazonalidade referente aos dias de

fotoperíodo mais curtos do ano. Esta sazonalidade é seguida por algumas espécies da Mata

Atlântica embora, em número muito reduzido em florestas ombrófilas densas como as

discutidas aqui. Ferraz e colaboradores (1999) demonstraram não haver sazonalidade na

freqüência da queda das folhas de 6 espécies sempre-verdes da Mata Atlântica em São Paulo,

exceto Cordia ecalyculata, apresentou correlação entre queda de folhas a precipitação e a

temperatura. Dois dos gêneros (Cordia e Alchornea) avaliados neste estudo fenológico

também são representativos da floresta do Camorim no PEPB e importantes no fluxo de Hg

como apresentado mais a frente.

A deposição de 184 µg m-2 y-1 é aproximadamente 18 vezes maior que a média de 10

µg m-2 y-1 encontrada por Grigal (2002) ao analisar a deposição em 21 trabalhos de Hg em

serapilheira de florestas em Zonas Temperadas e Boreais do Hemisfério Norte. É ainda oito

vezes maior que o fluxo de Hg em serapilheira encontrados em uma floresta de coníferas no

Canadá de mais de 75 anos (St.-LOUIS et al, 2001). Em comparação ao fluxo encontrado nos

trabalhos nas florestas Tropicais (SILVA-FILHO et al 2006; FOSTIER et al., 2003;

OLIVEIRA et al., 2006) podemos afirmar que é o maior valor encontrado, porém é

significativamente (α<1%) igual aos valores mensurados na Ilha Grande (SILVA-FILHO et

al., 2006) e, apesar de não dispormos dos fluxos mensais do trabalho realizado por Oliveira e

colaboradores (2006), por se tratar da mesma floresta e por também apresentar grandes

desvios nas concentrações mensais de Hg, é provável que não difiram do valor médio do

fluxo de Hg apontados no período entre 2005/2006.

Já os valores encontrados, tanto em São Paulo quanto em Cunha, diferem com 99% de

confiança dos valores encontrados no presente estudo (CECON, 2003; FOSTIER et al.,

2003). É preciso levar em consideração o período menor de amostragem para estas duas

últimas áreas no caso do levantamento inicial publicado por Fostier e colaboradores (2003),

relativo a cinco meses de coletas. Como a variabilidade mensal é grande talvez tenham sido

perdidos pulsos significativos para o fluxo de Hg anual. Para testarmos esta hipótese,

realizamos um teste “t” entre as médias de 6 meses e 12 meses encontrados por CECON

(2003), que completou a amostragem anual dando continuidade aos meses levantados por

FOSTIER (2003) nos mesmos sítios. Estas estimativas não resultaram em diferenças

significativas entre as médias para São Paulo, porém para Cunha, com 95 % de confiança

podemos afirmar que houve diferença das médias devido ao tempo de amostragem. Faz-se

necessário a padronização da frequência da amostragem para regiões com tantas espécies e

variações mensais de deposição compondo a serapilheira.

A amostragem em 12 meses do ano aumentaria a precisão da média do fluxo de Hg

anual devido a possíveis omissões de valores significativos para o fluxo da serapilheira

(deposição de serapilheira e concentração de Hg), que ocorreriam durante uma amostragem

em um período menor. A metodologia usada para a estimativa anual do fluxo de Hg também

pode ocasionar em diferenças no resultado, enquanto neste trabalho e nos demais (OLIVEIRA

et al., 2006; SILVA-FILHO et al., 2006; ST.-LOUIS et al, 2001) os fluxos mensais são

somados para compor o valor anual, porém em Cecon (2003) foram utilizados a média

semestral dos fluxos multiplicada por seis (meses) estimando a deposição semestral que era

somada ao outro semestre resultando no fluxo anual. No entanto diferenças metodológicas

não são as únicas responsáveis pela discrepância entre os fluxos encontrados entre os

levantamentos feitos no Estado do Rio e de São Paulo. Fatores climáticos podem estar

influenciando já que a formação florestal de Cunha localiza-se a 1050m de altitude, enquanto

da cidade de São Paulo fica a 798m e estão distantes do mar 15 e 50 km respectivamente.

As concentrações de Hg em ambas as áreas no Estado de São Paulo são 2 vezes

menores que as do presente estudo, o que sugere uma menor capacidade de captação e difusão

de Hg pelas folhas da floresta, provavelmente pela temperatura média menor em comparação

com Ilha Grande e o PEPB. Porém, a quantidade de coletores também pode estar interferindo

na correta amostragem da concentração de Hg na serapilheira, um baixo número de coletores

representaria poucas espécies contribuintes amostradas do universo total de espécies. Em

Cunha e São Paulo (CECON, 2003), por exemplo, apenas 4 coletores foram usados em cada

área apenas, contra 12 coletores usados no presente trabalho e 26 utilizados por Oliveira e

colaboradores (2006).

Devido ao número restrito de trabalhos nesta região ainda não há comparações

padronizadas entre florestas fisionomicamentes similares, dentro da própria Mata Atlântica.

Mas, devido à diversidade às vezes alcançada pela Mata Atlântica, de até 450 espécies/ha,

quanto maior o número de coletores, mais acuradas serão as médias estimadas para a floresta

estudada. Pois também, a distribuição das espécies na área amostral se dá mais adensada ou

mais dispersa segundo a estratégia espacial de dispersão de cada espécie. Assim se as espécies

contribuintes da serapilheira coletada forem fracas seqüestradoras de Hg, pode haver uma

representatividade inferior do fluxo médio para a floresta.

O fluxo de Hg no presente trabalho esteve também correlacionado com a deposição da

serapilheira, portanto é fundamental levarmos também em consideração a dinâmica deste

processo nos trópicos e no mundo. Para entendermos a temporalidade deste processo dentro

da visão da produtividade primária, talvez seja necessário padronizar a freqüência da

amostragem para regiões tropicais, com fortes influências da precipitação e com tantas

espécies diferentes contribuindo para grandes variações mensais/anuais da deposição da

serapilheira, refletindo diretamente no fluxo do Hg em larga escala. Wood e colaboradores

(2005) relataram a influência de eventos com temporalidades maiores do que de um ano,

como o El Niño, na deposição da serapilheira. Portanto, a amostragem em 12 meses do ano e

durante mais de dois anos aumentaria a precisão da medida do fluxo de Hg anual devido a

possíveis omissões de valores significativos do fluxo da serapilheira ou da concentração, que

ocorreriam durante uma amostragem em um período igual ou menor a seis meses. Ao mesmo

tempo em que a avaliação em longo intervalo amostral revelaria outras influências a

concentração e deposição do Hg.

9.4 CORRELAÇÕES CLIMÁTICAS

As diversas características físicas do meio circundante a floresta, imprimem diversas

restrições no comportamento metabólico dos indivíduos até mesmo sua dispersão espacial.

Em trabalhos de fenologia de espécies arbóreas é importante a verificação das fases de

desenvolvimento biológico com o clima. Fatores como precipitação, temperatura e vento,

podem influenciar tanto na deposição da serapilheira quanto nas trocas gasosas estomáticas. É

comum o estudo dos parâmetros climatológicos de meses anteriores aos eventos estudados

(Ferraz et al., 1999), pois, a velocidade da resposta a essas influências pode variar segundo o

clima geral, tipo florestal e do solo.

9.4.1 Temperatura

A temperatura parece cumprir um papel importante na deposição seca e na

concentração atmosférica do Hg (SCHROEDER; MUNTHE, 1998, LINDBERG et al. 1991),

diferindo muito entre as médias do verão e as do inverno em regiões temperadas. Fica

evidente uma sutil sazonalidade deste parâmetro climático para a floresta do PEPB, não tão

denunciado nos trópicos quanto nas altas latitudes. Porém existe um intervalo entre a média

mensal máxima e a mínima de 6oC durante o período estudado, suficientes para alterar

processos metabólicos da fenologia (crescimento) e difusibilidade do Hg. Essa sazonalidade é

refletida na concentração e fluxo do Hg na serapilheira como mostra os pulsos de ambas

(Figura 19), sendo precedido dois meses das médias máximas de temperatura no caso da

concentração e um mês no fluxo. Apesar da tendência para o fluxo com o mês anterior não foi

possível encontrar uma significância acima de 95% (p=0,12). A tabela 7 expressa os fatores

utilizados na correlação.

FIGURA 19 – Temperaturas médias, fluxo e concentração de Hg. Linhas de tendência

também estão presentes para concentração e o fluxo.

TABELA 7 A correlação entre a concentração de Hg e os fatores Temp 1, 2 e 3 estão

expressos acima, em negrito, estão os valores com p<0,05

Temp 1 Temp 2 Temp 3

Temperatura média referente aos mesmos meses das concentrações de Hg na serapilheira

Temperatura média referente ao mês anterior as concentrações de Hg na serapilheira

Temperatura média referente a dois meses anteriores as concentrações de Hg na serapilheira

r=0,2272 r=0,5746 r=0,7160 Hg ng/g

p=0,502 p=0,064 p=0,013

Essa correlação reforça a deposição seca atmosférica e o aumento da difusibilidade no

tecido foliar, influenciados pela temperatura, afetando a concentração média do Hg na

serapilheira.

9.4.2 Precipitação

A precipitação apresenta uma influência complexa sobre a concentração de Hg, ao

mesmo tempo em que; mantêm o solo constantemente úmido evitando o fechamento dos

estômatos por causa do déficit hídrico, aumentando a concentração, também lava o Hg

adsorvido externamente do dossel (REA et al., 2000) diminuindo assim a concentração foliar,

processo observado no enriquecimento da transprecipitação. E, neste trabalho, apesar de não

ter havido correlação ao longo do ano para as médias de precipitação e concentração de Hg,

tivemos uma correlação parcial durante os meses mais quentes do ano, correlação negativa

significativa nos meses de dezembro a abril (r=-0,91, p=0,032, n=5), ou seja, após um grande

pulso (Figura. 22) da precipitação seguido de dias ótimos para a fotossíntese elevando as

concentrações de Hg. Apesar de haver chovido muito pouco nos meses de julho e agosto, não

houve grande aumento da acumulação de Hg por grama de matéria seca. Além de o seqüestro

e a carga atmosférica de Hg estarem contidos pela baixa temperatura, existe a possibilidade de

uma parte das espécies contribuintes da serapilheira destes meses, serem decíduas anuais ou

bianuais, diluindo a concentração total deste mês como já discutido anteriormente.

Não houve correlação significativa entre a concentração do Hg na serapilheira com as

precipitações dos meses anteriores, nem com a do mesmo mês. Porém há uma tendência de

correlação negativa significativa entre valores de concentração de Hg na serrapilheira com os

valores de chuvas do mesmo mês (Figura 20), isso sugere para uma lavagem do dossel

importante em alguns meses, capaz de retirar espécies de Hg adsorvidas a superfície foliar.

Hg X Chuva

0

50

100

150

200

250

300

350

400

nov/0

5

dez/0

5

jan/0

6

fev/0

6

mar/0

6

abr/0

6

mai/0

6

jun/0

6

jul/0

6

ago/0

6

set/0

6

out/0

6

0

50

100

150

200

250

300

conc ng.Hg/g

chuvas mm

chuv

as m

m3

conc

entr

ação

ng.

g-1

FIGURA 20 - Concentração mensal de Hg na serapilheira e a distribuição de chuvas, no

PEPB, Rio de Janeiro.

TABELA.7 Correlação entre a concentração de Hg e os fatores Chuva 1, 2 e 3.

Chuva 1 Chuva 2 Chuva 3

Precipitação acumulada mensal referente aos mesmos meses dos fluxos de Hg na serapilheira

Precipitação média referente ao mês anterior aos fluxos de Hg na serapilheira

Precipitação média referente a dois meses anteriores aos fluxos de Hg na serapilheira

r=-0,3630 r=0,1387 r=0,2770 Hg ng/g p=0,273 p=0,684 p=0,410

9.4.3 Ventos

Ao confrontarmos as velocidades médias mensais dos ventos com as concentrações de

Hg na serapilheira, também não encontramos nenhuma significância. Porém uma tendência

mais forte para a correlação negativa existiu, quando confrontado com os mesmos meses de

concentração de Hg. A floresta se apresenta como barreira natural para o deslocamento em

massa do ar, diminuindo a velocidade do vento em seu limite. Era esperado que ventos mais

intensos (velocidade) provocassem a diluição das concentrações de Hg na folha devido a sua

influência negativa, dispersando o Hg ao redor da folha, além do encerramento da troca

gasosa estomática pela diminuição local da umidade. Mas averiguar isto, não foi possível

devido a ausência de uma estação metereológica dentro do dossel. Porém, notamos que os

valores da velocidade dos ventos nos meses de maior temperatura se correlacionaram

negativamente com a concentração de Hg nas folhas da serapilheira (Figura 21).

0

50

100

150

200

250

300

350

400

nov/05

dez/05

jan/

06

fev/06

mar

/06

abr/0

6

mai/0

6

jun/

06

jul/0

6

ago/06

set/0

6

out/0

6

7

7,1

7,2

7,3

7,4

7,5

7,6

7,7

7,8

7,9

8 [Hg]ng/g

Ventos Km/h

Ve

nto

s K

m/h[H

g]

ng

/g

FIGURA 21 – Velocidade dos ventos e a concentração de Hg na serapilheira.

Na tentativa de auxiliar no entendimento das complexas correlações encontradas entre

os fatores climáticos aqui apresentados e os acúmulos de Hg, a tabela 8 abaixo fornece as

combinações climáticas onde ocorreriam maior ou menor seqüestro pelas árvores do

Camorim. Foram utilizados a porcentagem de dias com chuva para auxiliar na composição

dos cenários, obtidos do somatório da precipitação registrada de quinze em quinze minutos,

compondo assim a precipitação diária no período do estudo. As chuvas fortes consideradas

nesta comparação foram as de evento contínuos acima de 50 mm por dia. Os eventos fortes e

fracos ainda foram considerados como sendo de longa duração a partir de 3 dias de repetição.

Os eventos que são descritos como intercaladas com dias sem chuva foram considerados

quando, intervalos em que a precipitação não ultrapassou 10 mm diários, persistindo por até

15 dias consecutivos entre chuvas mais intensas.

TABELA 8 - Parâmetros climáticos e sua influência na concentração de Hg na serapilheira. +

e – representam um maior ou menor potencial acumulador de Hg nas folhas, segundo a

influência climática no PEPB, RJ.

Temperatura

alta baixa

chuvas fortes e intercaladas com dias sem chuva

chuvas fortes e de longa duração

chuvas fracas ou fortes e intercaladas com dias sem chuva

chuvas fracas e de longa duração

sequestro +++ -- 0 -

A análise de fatores climáticos e sua interferência na fenologia das espécies da Mata

Atlântica no sudeste brasileiro estão apenas sendo iniciadas com o número reduzido de artigos

recentes (BENCKEL; MORELLATO, 2002; FERRAZ et al., 1999; TALORA;

MORELLATO, 2000). No trabalho apresentado por Talora e Morellato (2000) a respeito da

fenologia de 46 espécies, em formação florestal muito próximo com clima semelhante ao

apresentado pela floresta do PEPB, mostraram que na Floresta Atlântica da planície litorânea

apresentam padrões sazonais fenológicos menos acentuados do que aqueles observados em

florestas semidecíduas, embora a deposição de folhas novas aconteça predominantemente nos

meses chuvosos. Estas influências reforçam a maior incorporação de Hg durante os meses de

crescimento, os quais possuem valores de temperatura também elevados. Apresentando queda

intermitente durante todo o ano e 80% de sincronismo entre os indivíduos da mesma espécie

(BENCKEL; MORELLATO, 2002), as árvores sempre-verdes, representantes quase

totalitárias da Mata Atlântica, respeitam um padrão que contribui para o acúmulo de grandes

quantidades de Hg durante o fim do verão, já que são as contribuintes totalitárias exclusivas

deste período anual. A concentração do Hg não obteve correlação significativa com o fluxo de

Hg, pelos valores dos meses mais secos e frios, de julho e agosto e pela diluição causada pelas

decíduas, citado acima.

9.5 EFEITOS ECOLÓGICOS DO FLUXO DE SERAPILHEIRA NO CICLO DO

MERCÚRIO

A importância da serapilheira para o aporte total do Hg em ecossistemas florestais é

normalmente estimada juntamente com a precipitação direta e a transprecipitação líquida

(transprecipitação menos precipitação direta), porém estas medidas são escassas para as

florestas tropicais. Para auxiliar nesta discussão utilizaremos outros dados de Hg na

precipitação direta no Estado do Rio de Janeiro. Lacerda e colaboradores (2002) apontam para

uma deposição anual de Hg na precipitação direta entre 0,4 – 3,4 µg m_2, o valor mais elevado

foi encontrado em áreas urbanas do Rio de Janeiro. Na Baía de Sepetiba a 20 km da área de

estudo deste trabalho, Marins e colaboradores (1996) encontraram valores elevados de

mercúrio na precipitação anual, uma média de 76 µg m-2. Cintra (2004) em uma análise

multielementar da precipitação no mesmo local deste estudo em 2002/2003, revelou uma

entrada de 180 µg Hg m-2 anuais, demonstrando uma grande influência urbana e industrial, se

comparados com a média de 10 µg m-2 da deposição úmida em dez observações em áreas não

poluídas do Hemisfério Norte (Grigal, 2002). Portanto, podemos afirmar que os valores

encontrados para a Baía de Sepetiba são de até 7 vezes maiores e do Camorim de 18 vezes

maiores do que a média para áreas não-poluídas do Hemisfério Norte. Já na Bacia do Rio

Negro na Amazônia, foi encontrada uma média anual para o Hg na precipitação de

aproximadamente 22 µg m-2 ano-1 (Fadini; Jardim, 2001; Fostier et al., 2000).

Já para a transprecipitação, que é o enriquecimento da precipitação pela lavagem do

dossel, encontramos uma taxa no Hemisfério Norte de 1,8 vezes maior do que a precipitação

direta (Grigal, 2002), tendo como média 17 µg m_2 y_1. Se usarmos a média de 50 µg m-2 ano-

1 obtida das médias de Hg na precipitação direta de Sepetiba (76 µg m-2 ano-1) e da Bacia do

Rio Negro (22 µg m-2 ano-1), podemos de maneira conservadora pela relação citada acima,

assumir que a contribuição anual da transprecipitação no PEPB seja de aproximadamente 90

µg m-2 y_1. Porém, em um raro estudo de transprecipitação em floresta tropical, Fostier e

colaboradores (2000) encontraram na Amazônia 72 µg m-2 ano-1 contra 18 µg m-2 y-1 de

precipitação direta. Esses valores de transprecipitação variaram 4 vezes sobre a precipitação

encontrada na Amazônia, contra a relação de 1,8 vezes do Hemisfério Norte. Esse

enriquecimento maior dos valores de transprecipitação frente aos de precipitação em florestas

tropicais, mostra a importância da área de superfície do dossel das florestas tropicais que é

ampliado devido a uma série de características morfológicas e fitofisionômicas das florestas

tropicais (exemplos: presença de tricomas -pelos foliares- e densidade populacional). Outro

valor único de transprecipitação, encontrado no mesmo sítio do presente estudo no PEPB, RJ,

entre 2002 e 2003 (Cintra, 2004), foi de 20 µg Hg m-2 y-1 da transprecipitação contra 180 µg

Hg m-2 y-1 da precipitação direta. Estes valores não foram discutidos pelo autor quanto a sua

alta taxa perante os valores mundiais, e nem se hipotetizou o porquê do empobrecimento do

Hg na transprecipitação. Neste caso a copa das árvores estaria interceptando o mercúrio da

chuva; hipótese não considerada neste trabalho por ser esta a única exceção encontrada na

bibliografia, além do fato de ser um valor extremo mesmo para áreas poluídas.

Se mesmo assim, levarmos a taxa de enriquecimento entres os parâmetros

(precipitação, transpreciptação e serapilheira) fornecida por Grigal (2002) de 1:1,8:2,2 usando

com valor de deposição de Hg por precipitação direta de 50 µg m-2 ano-1 , teríamos que

encontrar um aporte de Hg através da serapilheira para o PEPB de 198 µg m-2 ano-1, não

distante dos 184 µg m-2 ano-1 encontrados. Apesar das incertezas oriundas da falta de dados

locais, de precipitação direta e transprecipitação para o período de coleta do presente estudo,

acreditamos que nos trópicos a relação entre o fluxo de Hg da precipitação e transprecipitação

seja maior do que a taxa de 1,8 nos levantamentos efetuados no Hemisfério Norte (GRIGAL,

2002) e, um pouco menor do que a taxa de 2,2 sugeridos para a relação entre transprecipitação

e serapilheira. Essa discrepância se dá aparentemente, pela intensidade e freqüência maior das

chuvas tropicais que influencia a transprecipitação anual bruta e, principalmente, pelos

parâmetros morfológicos e fitofisionomicos supracitados da floresta tropical, possuidora de

uma grande diversidade de espécies e com poucos indivíduos por espécie. Corroborando com

a estimativa mencionada anteriormente, Magarelli (2006) ao comparar seus valores de fluxo

de Hg na serapilheira com os de Hg na transprecipitação encontrados por Fadini; Jardim

(2001) revela uma relação de 1,7 vezes contra a taxa de aumento de Grigal de 2,2 vezes.

A partir deste valor de transprecipitação bruta – estimada em 90 µg Hg m-2 ano-1 –

juntamente com o da serapilheira – 184 µg Hg m-2 ano-1 –, podemos calcular a contribuição

atmosférica total do Hg na floresta do PEPB, RJ. Considerando a área florestada como a área

total do Parque (123.980.000 m².), teremos o aporte total em 34 kg de Hg anuais. Se

extrapolarmos estes fluxos, para toda a área remanescente de Mata Atlântica no Brasil (cerca

de 100.000 km2), haveriam aproximadamente 27,4 toneladas de Hg depositados anualmente.

Em um quadro mais conservador, utilizando a menor média de deposição de Hg em

serapilheira encontrada na Mata Atlântica por Fostier e colaboradores (2003) de 60 µg m-2

ano_1 e pela transprecipitação de 27 µg m-2 ano_1 (estimada da mesma relação usada acima

para obter o fluxo de Hg da transprecipitação do PEPB) tem-se uma deposição ao solo de

mercúrio na Mata Atlântica remanescente, de 8,7 toneladas anuais. Essa última medida pode

ser mais condizente com a realidade devido grande parte da Mata Atlântica se encontrar em

escarpas continentais em grandes altitudes, de temperaturas médias inferiores quando

comparadas a Ilha Grande e PEPB, RJ.

Essa estimativa para a Mata Atlântica entre 8,7 – 27,4 t de Hg anuais, apesar de muitas

incertezas e, sem considerar a re-emissão ou a lixiviação do mercúrio foliar durante o

percurso até sua imobilização no solo, reflete apenas uma pequena porção da emissão global

de Hg anual, de origem antropogênica. Esta emissão foi calculada entre 2000-4000

toneladas/ano (MUNTHE, et al.,2001; PIRRONE et al., 1996; LACERDA; MARINS, 1997).

Enquanto que no Brasil as estimativas mais recentes apontam para uma emissão de 67,4

toneladas durante 1998-2002 (LACERDA et al., 2007).

Apesar de expressivo, estes valores estimados para a Mata Atlântica ainda estariam

muito distantes dos valores calculados para a extensa área verde ainda existente na Amazônia.

Das florestas existentes em aproximadamente 4x109 ha da superfície terrestre, somente a

Floresta Amazônica cobre 0,4x109 ha (INPE, 2000), ou seja, 10% de toda a área coberta por

florestas no planeta. Se for utilizado a média dos trabalhos desenvolvidos neste bioma

(MAGARELLI, 2006; MÉLIÈRES et al, 2003; ROULET et al, 1998) – 46 µg m-2 ano-1 –, e a

mesma taxa de enriquecimento resultará em uma estimativa grosseira de 184 toneladas de

mercúrio depositado por ano.

Mesmo assim os fluxos de Hg das florestas tropicais das encostas do Atlântico

representam um importante sumidouro atmosférico local com efeitos no ciclo do mercúrio

local, regional e global. Esse seqüestro retira parte da carga atmosférica local destinada à área

densamente habitada do entorno do Parque, sendo ao mesmo tempo um potencial reservatório

de Hg no solo da Metrópole da cidade do Rio de Janeiro. Isso ocorre já que grande parte do

Hg emitido para atmosfera é depositado num raio de 40 km (SCHROEDER; MUNTHE,

1998) da fonte variando de acordo com o padrão dos ventos da região. E seus efeitos vão até a

escala global, por amortizar o acréscimo regional e global dos níveis atmosféricos de

background do Hg.

O destino do Hg uma vez que atinge o solo florestal é distinto para a transprecipitação

e para a serapilheira devido as suas espécies de Hg dominantes. A transprecipitação é

constituída da lavagem predominantemente da espécie do mercúrio gasoso Hg(II) que fora

adsorvido na superfície do dossel como Hg(II) ou do Hg (0) oxidado na camada limítrofe das

folhas e também adsorvido externamente (LINDBERG et al. 1994), além de ser predominante

também na precipitação direta. Enquanto que o Hg (0) predomina na serapilheira, quase 80%

oriundo da deposição seca (REA et al., 2000) devido a sua retenção pelos complexos

estomáticos e sua entrada no mesofilo, tecido interior da folha.

Em relação às reações químicas que ocorrem no solo podem ser citadas as reações de

metilação do Hg2+, desmetilação do CH3Hg+ e (CH3)2Hg, e oxidação do Hg0 (CARPI;

LINDBERG, 1998). Além destas, umas das reações mais importantes refere-se à redução do

Hg2+ a Hg0. Diversas vias de redução e oxidação do Hg, portanto serão mediados no processo

de incorporação deste ao solo, realizado por bactérias, pela luz e também por redutores como

Fe2+ e ácidos fúlvicos e húmicos. Todavia, é importante conhecer o comportamento de cada

espécie no solo para definir sua retenção potencial, caso esse fomentador de grandes

discussões da comunidade científica devido a sua complexidade. Os processos que envolvem

a adsorção do mercúrio, por exemplo, em partículas minerais e orgânicas no solo

correlacionam-se com a área superficial das partículas, seu conteúdo orgânico e a capacidade

de troca catiônica. Como resultado, solos argilosos e com alto teor orgânico possuem uma alta

capacidade de adsorver e reter o mercúrio que é depositado atmosfericamente. Os

componentes orgânicos do solo são melhores adsorventes em ambientes ácidos (MARK;

WILLIANSON, 2004; MIRETZKY et al., 2005). Logo, o Hg tem sua mobilidade e presença

relacionada aos mesmos parâmetros da matéria orgânica dissolvida (DOM) ou carbono

orgânico dissolvido (DOC) em solos tropicais (ROULET; LUCOTTE, 1998).

Além disso, a lixiviação do Hg dos solos não está correlacionada com a deposição

úmida (MUNTHE; HULTELBERG, 2004; SCHWESIG; MATZNER, 2001) o que restringe

ainda mais a sua mobilização. Em trabalho realizado por Almeida (2005) foi demonstrada em

perfis de áreas florestadas da Amazônia uma tendência crescente com a profundidade,

provavelmente devido à lixiviação do mercúrio para horizontes mais profundos onde, seriam

em parte, retidos na presença de óxidos-hidróxidos de ferro e alumínio.

A menor mobilidade da espécie Hg(0) oriunda da serapilheira fica reforçada também

pela sua menor solubilidade em água quando comparado ao Hg(II) vindo da transprecipitação.

Logo, juntamente com outros processos de redução de Hg (II) pelas bactérias, poderia ser a

serapilheira a fonte de grande parte do Hg(0) associado a matéria orgânica do solo,

permanecendo ali imobilizado até haver a retirada da cobertura vegetal (FOSTIER et al.,

2000; ROULET et al.,1998) e a remobilização do Hg seja em partículas associadas ao Fe e Al

ou a matéria orgânica para os cursos hídricos. Essa suposição encontra lugar em outra

discussão ainda não finalizada entre pesquisadores da área, de qual será a origem dos altos

valores de Hg em solos tropicais, se, de origem natural, quanto poderia ser representativo da

geogênese local ou da incorporação de anos de transferência da floresta aos solos de Hg

atmosférico não nativo?

Destarte, o estado físico do meio de transporte (dissolvido em água ou incorporado às

folhas) do Hg especificaria a maior ou menor permanência deste, no solo florestal. Evidências

para esta permanência foram encontradas em trabalhos no mesmo sítio no PEPB, tanto para a

serapilheira quanto para a transprecipitação para a mesma área, entre 2000 e 2001

(OLIVEIRA et al,.2006) e entre 2002 e 2003 (CINTRA, 2004) respectivamente. Os fatores de

enriquecimento de Hg, obtidos a partir da relação entre a sua concentração na deposição

úmida total e a sua riqueza na crosta (CINTRA, 2004), foi maior do que 22 outros elementos

(Ti, Fe, Ni, Mn, Pb, Ca, Mg, Sn, Cu, Be, K, Co, Na, Cr, Zn, Cd, Ag, Mo, Sb, e As). Já o

enriquecimento medido pela relação da serapilheira, apresentou a menor taxa de

enriquecimento para o Hg em comparação a Cr, Zn, Ni, Pb e Cd (OLIVEIRA et al., 2006),

além disso, neste estudo o tempo de renovação lento do Hg em comparação aos nutrientes,

evidenciou uma baixa dinâmica na serapilheira ao ser decomposta. A quantidade de Hg,

juntamente com a de outros metais na serapilheira estocada, foi maior que a da recém caída,

indicando um ambiente acumulador. Estes apresentaram velocidade de ciclagem

consideravelmente mais lenta do que a dos nutrientes, ou seja, a sua estocagem nos diversos

compartimentos do ecossistema florestal (serapilheira, solo, vegetação, fauna, etc.) é mais

lenta provavelmente em função de diferentes formas de metabolização destes poluentes pela

biota e da preconização dos nutrientes na degradação e posterior reincorporação na biomassa

em relação aos metais poluentes. Pelo fluxo reduzido de Hg entre solo/atmosfera dentro da

floresta, podemos verificar que, existe pouca remobilização (ALMEIDA, 2005) por

volatilização do Hg associado à rica matéria orgânica da camada superficial do solo. Ou seja,

as entradas atmosféricas são de novas cargas no sistema e não provenientes de sua reciclagem

pelo menos em solos tropicais onde o fluxo líquido do Hg solo/atmosfera é quase zero. Porém

nada se sabe da reemissão ocorrida na face externa do dossel (canopéia), onde a exposição

solar é mais intensa e não há nenhuma barreira física (MAGARELLI, 2006).

9.6 O MERCÚRIO FOLIAR EM CINCO ESPÉCIES REPRESENTATIVAS DO PEPB.

A concentração média de Hg nas folhas das 5 espécies que representam à área

estudada, como classificadas pelo levantamento fitossociológico da área através dos seus

valores de importância (VI), foi de 144 + 75 ng g-1 . Estas 5 espécies juntas representam 32%

do valor do VI total somado de todas as espécies levantadas. As espécies e seus respectivos

parâmetros fitossociológicos podem ser vistos na tabela 2 e suas concentrações podem ser

observados na figura 22.

FIGURA 22 - Concentração de Hg e seus respectivos desvios padrão em ng g-1 das 5 espécies

de maior ocorrência, na área estudada no PEPB, Rio de Janeiro

Metternichia principes foi a espécie que apresentou a menor concentração de mercúrio

60±9 ng g-1 e a espécie Alchornea iricurana a mais elevada de 215,2±38 ng g-1. Mesmo, o

menor valor encontrado foi de aproximadamente de 2 a 5 vezes maior do que a média da

concentração foliar das espécies de regiões temperadas sujeitas a valores background de Hg

atmosférico (RASMUSSEN et al, 1991).

Por outro lado, nas únicas análises de Hg por espécie desenvolvidos nos trópicos, para

a concentração de Hg em folhas do dossel, foram atingidos valores mais expressivos que nas

latitudes extremas. Do mesmo modo, como quando comparado às concentrações de Hg na

serapilheira da zona Temperada e Boreal. Em estudos em áreas remotas da Guiana Francesa,

na Amazônia (MÉLIÈRES et al, 2003), e em área de Mata Atlântica no Sudeste do Estado de

São Paulo (De FRANÇA et al., 2004), foi observada uma média entre as espécies analisadas

de 64 ± 14 ng g-1 (n=10) e 73 ± 49 ng Hg g-1 (n=11) respectivamente, significativamente

iguais entre si. Na análise relativa a São Paulo, Mata Atlântica, o alto desvio padrão é

composto por um valor que pode ser considerado outlier de 180 ng g-1, referente a espécie

Eugenia cuprea (Mirtaceae), fazendo com que quando comparado com os valores das

espécies do presente estudo, apesar de estatisticamente diferente, estejam bem mais próximo

(Tabela 10). Assim, se calcularmos a semelhança entre as médias em um teste “t” de Student

encontramos o seguinte quadro:

TABELA 10 – Teste da diferença das médias entre valores de folhas vivas de três tipos de

floresta tropical. Em negrito as médias que apresentaram diferenças significativas.

Mèliéres et al., 2003

Floresta Amazônica

Presente estudo

Mata Atlântica

De França et al., 2004

Mata Atlântica

p=0,61 g.l.=19 t=0,5122 p=0,03 g.l.=13 t=-2,3552

Mèliéres et al., 2003

Floresta Amazônica

p=0,003 g.l.=14 t=3,5544

O valor médio de Hg entre as espécies da Amazônia variou de 32,4 ng g-1 até 103,0 ng

g-1 e as de São Paulo entre 29 ng g-1 e 180 ng g-1. O intervalo entre as concentrações nas

espécies em Camorim foi entre 60 ng g-1 e 215 ng g-1. Apesar de um número menor de

espécies analisadas aqui, houve um grande intervalo das concentrações também, porém com

valores mínimos e máximos superiores aos encontrados para os outros sítios em Zona

Tropical. No trabalho desenvolvido por Mélières e colaboradores (2003) as médias para

famílias como a Bombacaceae foram as mais altas ficando entre 105 e 114 ng g-1, esta família

é caracterizada por ser decídua podendo ter maior condutância estomática em momentos

ótimos de fotossíntese e concomitantemente aos pontos de compensação ambientais do Hg,

devido a sua acelerada taxa de crescimento durante curtos períodos. Assim como observado

por Millhollen e colaboradores (2006b) para espécies sempre verdes e decíduas das Zonas

Temperadas e Boreais, onde Robinia pseudoacacia uma espécie decídua incorporou mais Hg

do que Juniperus scopulorum e Pinus ponderosa em um mesmo período de tempo.

Infelizmente em Camorim no PEPB, RJ não foram usadas nenhuma espécie decídua para

comparações, da mesma forma no levantamento feito em São Paulo (De FRANÇA et al.,

2004). Porém quando analisado o levantamento em conjunto, do Hg presente nas espécies

Tropicais, grandes diferenças são encontradas em espécies da família Sterculiaceae e entre

Leguminosae enquanto valores próximos foram apontados para espécies da família

Clusiaceae. A influência de características genéticas que caracterizam as espécies de uma

mesma Família, até mesmo de um mesmo Gênero, não deve ser predominante no acúmulo de

mercúrio. Comparações mais fidedignas devem ser feitas entre as mesmas espécies em

diversos Biomas dentro da Zona Tropical para que se possa avaliar a influência da carga

genética em relação à ambiental.

A média total das concentrações foliares de Hg das 5 espécies (144 ng g-1) é inferior,

porém relativamente próxima da média dos altos valores encontrados na serapilheira durante

2000/2001 (170 ng g-1) e 2005/2006 (237 ng g-1). Além disso, até o momento da abcisão,

estas folhas acumulariam mais mercúrio se não retiradas antes para a presente análise. Pela

posição assumida por Piptadenia gonoachanta dentro da classificação do Valor de

Importância e a sua concentração no dossel, podemos afirmar que esta espécie desempenha

papel de destaque no sequestro de Hg no PEPB, RJ. Porém para uma melhor comparação

entre contribuintes e a média de Hg na serapilheira, deverão ser feitos estudos de

acompanhamento dos valores de concentração encontrados na serapilheira por espécies e os

coletores devem ser posicionados em torno das espécies arbóreas mais produtoras de

serapilheira da área estudada.

A variação da concentração de mercúrio encontrada entre as espécies nos trópicos

deve estar associada à alta diversidade o que evidencia a importância da correta amostragem

da área estudada, com a quantidade de coletores positivamente correlacionados com a

diversidade de espécies.

9.7 O MERCÚRIO FOLIAR E OS PARÂMETROS ANATÔMICOS.

As especificidades biológicas (Tabela 11), tais como rugosidade, tricomas, organismos

epifíticos e ceras epicuticulares que poderiam estar influenciando o movimento do Hg em sua

interface atmosfera/solo já foram sugeridas (MÉLIÈRES et al.,2003; SILVA-FILHO et

al.,2006), porém não foi ainda analisado quantitativamente a correlação com nenhum destes

parâmetros e o Hg em plantas tropicais ricas em tais características. A relação entre as

concentrações foliares de Hg e a condutância estomática, foi vista por Millhollen e

colaboradores (2006a), onde, através do uso de câmaras fechadas (simuladores

microambientais), variou a concentração de CO2 diminuindo a condutância estomática devido

a maior oferta deste gás para a fotossíntese, levando a uma captura menor da concentração.

TABELA 11 - Parâmetros anatômicos utilizados para a análise com as concentrações de Hg por espécies no PEPB, RJ. Céls. Ab: células abaxiais por mm2. Céls adaxiais por mm2. Freq. Est.: Freqüência estomática por mm2. i.e.:índice estomático (relação entre células epidérmicas e estômatos) a. e. f.: área específica foliar (relação entre área e peso). Est/g: estômato por grama (estimado à partir da relação entre freqüência estomática e a.e.f.)

céls. Ab céls. ad freq. est i.e. ostíolo a.e.f est /g

[Hg]

ng/g

A. iricurana 2930±325 1781±86 186±14 6,0 17,7±2 8,6 1,61E+06 215

C. glandulosa 1087±123 873±42 201±15 15,6 28,7±3 3,8 7,74E+05 84

M. principes 1388±98 689±36 163±12 10,5 23,1±1 2,1 3,41E+05 60

C. trichotoma 933±48 1081±39 101±12 9,7 29,1±0,8 1,5 1,58E+05 170

P. gonoacantha 1950±154 1002±60 323±25 14,2 33,4±3 0,6 2,19E+05 190

Portanto, a condutância estomática é muito importante para avaliarmos o fenômeno da

captura do Hg e da possibilidade de estabelecer espécies bioacumuladoras de Hg através de

um parâmetro mais acessível. Não foi possível medir tal parâmetro pela indisponibilidade do

equipamento de medidas para fotossíntese, porém como condutância estomática se

positivamente correlacionada com a freqüência de estômatos (BOARDMAN, 1977), isso nos

permite através da contagem dos estômatos, avaliar a causa da maior ou menor concentração

de mercúrio por espécies. Para tanto, a contagem da freqüência estomática dada em mm2,

teve que ser transformada em relação a área de uma grama de massa seca da folha (Área

Especifica Foliar), para que fosse possível calcular a média de quantos estômatos existem por

grama de folha de cada espécie. Outra característica anatômica levada em consideração foi a

quantidade de tricomas que amplificam a área de superfície para adsorção de Hg e criam

proteções micro ambientais para uma maior eficiência fotossintética. As espécies que

apresentaram tricomas foram Cordia trichotoma (freqüência de tricomas na face adaxial: 35-

40/mm2 , abaxial: 5-10/mm2) e Piptadenia gonoacantha (freqüência de tricomas na face

abaxial: 58-70/mm2).

A correlação entre mercúrio e estômatos por grama é positiva, se considerarmos as

espécies que não apresentam tricomas (n=3 r=0,98 e p=0,12) e, apesar de apontar a tendência

não é significativa devido ao n muito baixo. A disparidade dos valores de Hg das espécies

com tricomas é evidenciada na figura 23, apesar de possuírem os menores valores de

estômatos por área específica foliar, acumulam grandes concentrações de Hg. Isso se deve ao

aumento da superfície foliar onde ocorre a adsorção de diversas espécies de mercúrio,

também pode estar interferindo na lixiviação do Hg das folhas durante eventos diretos de

chuva e no microclima da camada limítrofe da folha.

0

50

100

150

200

250

A. iricurana

C. glandulosa

M. principes

C. trichotom

a

P. gonoachanta

0,0E+00

2,0E+05

4,0E+05

6,0E+05

8,0E+05

1,0E+06

1,2E+06

1,4E+06

1,6E+06

1,8E+06

[Hg] ng/g

estômatos/a.e.f.

FIGURA 23 – Concentração de mercúrio foliar e a quantidade de estômatos por unidade de

área equivalente a 1 grama do peso seco, por espécie.

O índice estomático (i.e.) é muito utilizado em análise dos estômatos e suas interações.

O índice é composto segundo a equação 100*S / (E+S), sendo S o número de estômatos por

mm2 e E o número de células epidérmicas da mesma unidade. O i.e. é apresentado em

porcentagem e demonstra a relação entre estômatos e o total das células epidérmicas de uma

das faces da folha. Portanto quanto mais células epidérmicas em relação aos estômatos, menor

será o i.e. As concentrações deveriam se correlacionar com o i.e. das espécies, se

considerarmos que o Hg também necessita de um gradiente para se difundir dentro do tecido

vegetal, um maior número de células em relação ao de estômatos iria aumentar o gradiente de

concentração entre as células circundantes ao estômato. Gerando assim, uma maior oferta de

pontos para adsorção do Hg, que se deslocaria a favor do gradiente de concentração. Porém é

importante lembrar que este índice não leva em consideração a área específica foliar, mas de

qualquer forma corrobora com o alto valor de Hg em Alchornea iricurana.o qual possui o

menor valor de índice estomático.

O tamanho do ostíolo também não esteve correlacionado com as concentrações de

mercúrio provavelmente devido a fraca importância deste parâmetro para a fisiologia

funcional final da planta, que compensa o tamanho deste com muitos outros fatores, tais como

a densidade estomática, velocidade e capacidade do aparato fotossintético, além das

expressões bioquímicas dos fitoreguladores.

A quantidade de células adaxiais foi a que mais se aproximou de uma correlação

significativa com as concentrações de Hg (p= 0,09, r=0,80 e n=5), mesmo quando comparado

através da área específica para a freqüência de células adaxiais, abaxiais e estomáticas.

O parâmetro que mais se correlacionou com o Hg foi o número de estômatos por

grama de folha, mudando este comportamento quando a espécie apresentava tricomas. Porém

um maior número de espécies deve ser analisado no sentido de verificar o valor mais acurado

desta correlação, já que as amostras retiradas vieram de uma homogeneização de folhas de

idades diferentes. Pela impossibilidade na datação do brotamento da folha, foram

consideradas sua completa expansão durante a coleta e sua posição em relação aos brotos ou

folhas mais jovens.

O material foi coletado após período longo de chuvas (chuva de 30 mm em um

intervalo contínuo de 5 horas). Segundo Rea e colaboradores (2000), que comparou o Hg na

lavagem de folhas de 5 epécies e de folhas testes de teflon (expostas ao mesmo ambiente e

intervalo), esta precipitação seria mais do que suficiente para lavar o Hg adsorvido nas folhas

pela deposição seca. Mesmo assim, as espécies com tricomas apresentaram concentração

expressiva em relação ao número de estômatos por área específica foliar, o que nos leva a

questionar a influencia da lavagem em plantas tropicais com tricomas. Talvez não sendo tão

eficiente na remoção do Hg total adsorvido, quanto nas folhas com tricomas das espécies

temperadas e boreais, pois a lavagem das folhas em 4 séries de intervalos de 2 min. e 3

lavagens de 5 min. de duração lavou quase todo o Hg adsorvido nas folhas, se aproximando

do limite de detecção (REA et al., 2000)

Outra possibilidade de explicar o Hg persistente nas folhas das espécies com tricomas

do presente estudo, seria a distribuição vertical, já que se encontravam no terço médio do

dossel, onde há uma influência um pouco menor da chuva pois parte é interceptada na faixa

superior do dossel, indicando a necessidade da amostragem do Hg nas folhas de diferentes

partes do dossel. Assim, de modo semelhante a este trabalho, Rea e colaboradores (2000)

encontraram maiores concentrações de Hg adsorvido na superfície das folhas de Betula

papyrifera e Fagus grandifolia, espécies pubescentes (com tricomas), em comparação as

espécies glabras (sem tricomas) Acer rubrum, Quercus rubra e Populus grandidentata por

eles estudadas. De modo geral, neste trabalho, a presença de estruturas na epiderme foliar

estariam mais envolvidas com a adsorção do Hg na superfície das folhas, já que elevariam a

concentração das espécies com tricomas, e não estariam influenciando sozinhos o seqüestro

estomático, o qual predomina no processo de transferência pela serapilheira total e que, por

sua vez, correlaciona-se fortemente com os parâmetros climatológicos.

9.8 POSSÍVEIS FONTES LOCAIS DE MERCÚRIO.

Na tentativa de apontar uma possível fonte local de mercúrio, os ventos foram

divididos em quatro quadrantes, devido à posição da estação coletora de dados e do relevo

local, que restringe as direções. Na área estudada os ventos do quadrante Sul durante os onze

meses estudados, variaram entre 25% até 47% de dominância em relação às outras direções,

tendo menor incidência durante os meses de abril a julho. Os ventos do quadrante Norte

variaram entre 47% e 66% de dominância em relação às outras direções (Figura 24).

FIGURA 24 – Médias mensais da distribuição da direção dos ventos segundo sua dominância.

A velocidade variou significativamente entre as médias mensais do quadrante Sul em

relação às velocidades das direções Leste, Oeste e Norte, Havendo ventos mais intensos

destes últimos quadrantes (Figura 25). A média de todo o período do quadrante Sul foi de 6,6

km/h Leste 10,5 km/h, Norte de 8,0 km/h e Oeste de 9,3 km/h.

FIGURA 25 – Velocidade dos ventos em km/h, por quadrantes.

A direção dos ventos predominantes (S e N) durante cada 24 horas da região estudada

aponta para uma forte influência da brisa marítima sobre o local, os ventos do quadrante Sul

predominam durante o dia e do quadrante Norte durante a noite (Figura.26).

FIGURA 26 – Distribuição média anual dos ventos dominantes ao longo do dia no PEPB, RJ.

Logo a dispersão dos ventos nesta região indica pelo menos localmente, que do

quadrante Norte e Sul do ponto estudado, se originam os principais contribuidores do Hg

gasoso, sediando suas prováveis fontes (Figura 26). Apesar do quadrante Leste se destacar

pela intensidade dos ventos este apresenta uma baixa freqüência de observações, irrelevante

na análise da direção dominante. Em uma abordagem não específica podemos afirmar que a

região ao Norte de Camorim com um grande parque industrial, emissor de diversos gases

poluentes segundo FEEMA (2006), deve estar contribuindo efetivamente com as

Horário em que predominam

ventos NO-N-NE

27%

73%

Dia

Noite

Horário em que predominam

ventos SO-S-SE

71%

29%

Dia

Noite

concentrações de Hg encontrados neste trabalho, mesmo esta direção predominante durante a

noite, quando não existe seqüestro estomático, pois estes se fecham à noite. Ao Sul da região

estudada encontra-se o bairro residencial da Barra da Tijuca, com uma fonte considerável de

tráfego veicular. Estudos recentes demonstram a pequena contribuição de Hg, para a

atmosfera, oriundo do uso do óleo combustível ou gás natural veicular (GNV) (LARCEDA et

al., 2007). Para o primeiro é feito um controle rígido por parte dos produtores retirando o Hg

e outros metais pesados devido aos danos causados aos dutos e à maquinaria, enquanto o

GNV representa uma parte pouco expressiva devido à baixa concentração. A orla oceânica do

Bairro da Barra da Tijuca, distante apenas cerca de 4 km, também poderia estar sendo uma

fonte de Hg segundo a direção, como comentado anteriormente, apesar de os dados da

literatura (MASON et al., 1994) apontar para um balanço global zero entre a entrada e saída

de Hg em ambientes aquáticos, alguma influência local poderia estar sendo originada do mar.

Inclusive, a Baía de Sepetiba, a Sudoeste do sítio estudado, apresenta background elevado de

Hg em seu sedimento, maior que em outros pontos da costa brasileira (MARINS et al., 1996).

A Oeste da área de estudo se concentra um outro parque industrial, o de Santa Cruz, com uma

termelétrica operando com gás natural. Apesar da direção dos ventos superficiais não

apontarem predominantemente para aquela região ela pode representar alguma contribuição

até mesmo local já que está dentro a menos de 40 km do ponto estudado (Figura 26). Como

não há leis específicas para emissões atmosféricas de Hg, indústrias (usinas de cloro-soda e

fábricas de lâmpadas de Hg) e incineradoras de lixo (rejeitos diversos) emitem livremente este

metal para a atmosfera. Desconhecendo assim a precisa quantidade presente no material usado

e no rejeito final, devido também à ausência da análise específica deste elemento na entrada e

saída das indústrias.

As cidades da Baixada Fluminense, como Belford Roxo e São João de Meriti

estiveram classificados no índice de qualidade do ar (FEEMA, 2006) como má ou inadequada

em diversas vezes no ano de 2006, péssimas condições também foram conferidas ao bairro

industrial e residencial de Jacarepaguá contíguo a Camorim. O relatório também revelou que

por ter a segunda maior concentração de população, de veículos, de indústrias e de fontes

emissoras de poluentes do país, a análise atmosférica da Região Metropolitana sempre revela

altas concentrações de dióxido de enxofre (SO2), partículas totais em suspensão (PTS),

partículas inaláveis, (PI), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), hidrocarbonetos totais

(HC) e óxidos de nitrogênio (NOX), oriundos de fontes móveis e fixas. Estes níveis de

poluição, tendo a produção por combustão similar ao processo que leva à emissão de Hg

gasoso, estão de acordo com os níveis aqui encontrados, assim como as possíveis fontes

poluentes sugeridas.

Finalmente, os maciços da Tijuca (onde está a segunda maior floresta urbana do

mundo, a leste da área de estudo) e da Pedra Branca, paralelos à orla marítima, atuam como

barreira física aos ventos predominantes do mar, não permitindo a ventilação adequada das

áreas situadas mais para o interior. Como Camorim é situado entre os maciços estará

preferencialmente recebendo Hg oriundo da Baixada Fluminense (Norte) e da orla marítima

(Sul).

FIGURA 26 - Mapa da região metropolitana do Grande Rio, Sudeste do Estado do Rio de Janeiro. Em destaque o parque Industrial composto por

7 municípios, o Parque Estadual da Pedra Branca e o Parque Nacional da Tijuca. As setas indicam as direções dominantes dos ventos sobre a (1)

área de estudo (2) Estação metereológica da GeoRio e (3) FEEMA. (4) Bairro da Barra da Tijuca. Fonte: Fotosatélite NASA, 2008.

10 CONCLUSÃO

A concentração média de Hg encontrada na serapilheira coletada durante um ano na

Floresta do Camorim no PEPB foi de 238 + 52 ng g-1. O valor encontrado para a deposição

anual de serapilheira foi de 7,6 t ha-1. A partir destes valores foi obtido o fluxo anual de

mercúrio de 184 + 98 µg m-2.. A concentração média de Hg nas folhas vivas do dossel, das

cinco espécies mais representativas do PEPB, foi de 144 + 75 ng g-1. Estes valores revelam,

juntamente com outros trabalhos realizados em Florestas Tropicais, um papel de destaque

deste tipo florestal no seqüestro de Hg atmosférico com posterior deposição ao solo. A

despeito das diferenças entre Hg na serapilheira da Zona Temperada/Boreal e a Tropical, a

carga atmosférica de Hg deve estar influenciando em parte na obtenção destes altos valores.,

porém esta carga não foi medida neste trabalho.

A alta concentração de Hg na serapilheira do PEPB, entre 2005 e 2006 foi maior do

que os valores já levantados em florestas de outros locais do mundo. Sendo maior até quando

comparado aos valores encontrados no mesmo local em 2000 e 2001, e, maior ainda, quando

confrontado com outras análises em locais de maior altitude na Mata Atlântica, mesmo em

uma área inserida em uma região metropolitana maior que a do Rio de Janeiro, como a da

Cidade de São Paulo. A relação entre alta concentração de Hg na serapilheira e alta

concentração atmosférica de Hg, não seria tão dominante no seqüestro, quanto a capacidade

fisiológica para trocas gasosas dos indivíduos e fatores climáticos. Análises controladas em

campo, do fluxo de Hg atmosférico e foliar, devem ser realizadas em espécies tropicais para

certificar o grau de influência intrínseca da floresta.

Os fluxos de Hg encontrados na serapilheira, através de sua alta variação mensal,

apontam para influências climato/fenológicas no seqüestro do Hg realizado pelo grupo de

espécies que compõem a serapilheira analisada. Essa variação correlacionou-se positivamente

com os fluxos da serapilheira depositada, que foi dominante no fluxo de Hg, juntamente com

a concentração. Porém a deposição de serapilheira apresentou uma dominância mais forte. A

fração folhas foi a única que manteve correlação com o fluxo confirmando a relevância deste

órgão na incorporação do Hg.

A precipitação mensal, no período estudado, variou negativamente nos meses mais

quentes do ano em relação a concentração de Hg na serapilheira. Porém, não obteve

correlação em todo o intervalo, de modo que, não podemos postular a precipitação como

sendo fator dominante nesta variação de Hg mensal. A precipitação elevada dos meses mais

quentes do ano estaria lavando as folhas e carreando o Hg da epiderme foliar antes da análise.

A temperatura mostrou-se como o melhor parâmetro climático dominante no processo

de seqüestro do Hg pelas folhas. Porém isso ocorre com a temperatura correspondente aos

dois meses anteriores ao valor da concentração de Hg correlacionada. De fato, as plantas

apresentam um intervalo de ativação dos processos fenológicos, ordenados por

fitoreguladores (hormônios) do crescimento e da abscisão das folhas. Pulsos de seqüestro de

Hg estariam regulados pela temperatura dos meses anteriores. Em uma análise qualitativa

podemos dizer que o melhor momento para absorção do Hg atmosférico pela floresta do

PEPB acontece em meses com dias de alta precipitação, temperatura acima da média anual e

seguido por dias com sol.

A análise do Hg presente nas folhas de 5 espécies representativas da floresta do

Camorim no PEPB, indicam uma média de 143,9 + 75,0 ng g-1, com valores extremos de

215,2 ng g-1 para Alchornea iricurana e 60 ng g-1 para Metternichia principes. Dos

parâmetros anatômicos levantados, somente a quantidade de estômatos por grama de folha se

correlacionou com as concentrações de Hg positivamente, exceto, pelas espécies com

presença de tricomas na superfície foliar. Isto revela que, apesar da entrada via estômatos ser

a dominante, a área de superfície ampliada pelos tricomas pode estar exercendo papel

importante para o acúmulo de Hg na área estudada.

Segundo a estimativa realizada aqui, de 8 a 28 toneladas de Hg anuais são depositados

pela serapilheira e pela transprecipitação, nos 7% restantes de Mata Atlântica original. Mesmo

considerando as incertezas desta estimativa, é evidente o risco em potencial de evasão do

mercúrio acumulado em ecossistemas florestais tropicais, já que se amplia a degradação

destes, além dos riscos diretos na bioacaumulação e biomagnificação da biota. Estes valores

apontam também, para a necessidade da inclusão desta transferência nos planos de manejo

florestais para o trópico, além de ressaltar a importância da preservação e conservação destes

biomas para o bem estar a nível mundial, considerando o caráter global do Hg como poluente.

11 REFERÊNCIAS:

ABREU, J.R.S.P. Dinâmica da serapilheira em um trecho de floresta secundária em área

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