Definição das categorias sintácticas

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Definição das categorias sintácticas A tradição gramatical define tais conceitos em termos nocionais, i.e., apelando para o tipo de referentes que tais conceitos designam: «Chamam-se substantivos os nomes das pessoas, coisas e animais, e das acções, qualidades ou estados (...)» 1 «As palavras com que indicamos os estados e qualidades existentes nas pessoas, coisas e animais, chamam-se adjectivos qualificativos (...)» 2 «Verbo é a palavra que anuncia uma acção ou exprime a qualidade, estado ou existência de uma pessoa, animal ou coisa, considerados no tempo (...)» 3 Relações gramaticais e processos de concordância Sujeito Testes para reconhecer sujeitos de natureza nominal : substituí-los pelo pronome pessoal Ex. Os convidados chegaram. Eles chegaram. Os meus convidados ilustres chegaram. Eles chegaram. Já chegaram as pessoas que convidei . Elas chegaram. 1 [ln A. Nunes de Figueiredo & A. Comes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa. 3.a ed. Lisboa: Sá da Costa. 1968. P. 89.] 2 (Id: p. 90] 3 [Ibid: p. 136]

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Definição das categorias sintácticas

A tradição gramatical define tais conceitos em termos nocionais, i.e.,

apelando para o tipo de referentes que tais conceitos designam:

«Chamam-se substantivos os nomes das pessoas, coisas e animais, e das acções,

qualidades ou estados (...)»1

«As palavras com que indicamos os estados e qualidades existentes nas pessoas, coisas e

animais, chamam-se adjectivos qualificativos (...)»2

«Verbo é a palavra que anuncia uma acção ou exprime a qualidade, estado ou

existência de uma pessoa, animal ou coisa, considerados no tempo (...)»3

Relações gramaticais e processos de concordância

Sujeito

• Testes para reconhecer sujeitos de natureza nominal:

– substituí-los pelo pronome pessoal

Ex. Os convidados chegaram. Eles chegaram.

Os meus convidados ilustres chegaram. Eles chegaram.

Já chegaram as pessoas que convidei. Elas chegaram.

1[ln A. Nunes de Figueiredo & A. Comes Ferreira, Compêndio de Gramática Portuguesa. 3.a ed. Lisboa: Sá da Costa. 1968. P.

89.]

2 (Id: p. 90]

3 [Ibid: p. 136]

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• Teste de substituição para identificação de um sujeito frásico:

– um sujeito frásico é substituível pelo pronome demonstrativo isso ou por

-o:

Ex. Agrada à professora que os alunos estudem.

Isso agrada à professora.

Agrada-o à professora.

Diferentes sujeitos:

O Português europeu contemporâneo é uma língua de sujeito nulo, pois

admite sujeitos sem realização lexical em frases finitas, podem ocorrer frases

em que o sujeito, seleccionado semanticamente pelo verbo, está omisso ou

subentendido.

Ex. [-] fui ao cinema ontem. [-] passámos férias no Brasil.

O Português europeu contemporâneo recorre a duas estratégias para exprimir

o sujeito indeterminado (sem referência definida):

- a terceira pessoa do plural – Perguntaram-me isso há pouco.

- a terceira pessoa do singular acompanhada do pronome átono se – Diz-se

que vai nevar.

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Ainda quando uma oração contém um verbo impessoal, quando ocorre um

mero sujeito gramatical, que não é seleccionado semanticamente pelo verbo (em linguística,

sujeito expletivo), o Português recorre igualmente à estratégia nula:

Ex. [-] Chove. Il pleut. It rains.

→→→→ Predicado

• Teste para reconhecer predicados:

– o predicado é a resposta a uma interrogativa com diferentes formas,

dependendo do tipo de verbo que ocorre na pergunta.

o O garoto comeu um bolo.

• O que fez o garoto?

o A Sofia ficou furiosa. • O que aconteceu à Sofia?

o Elas acharam a Sílvia cansada no debate.

• O que se passou com elas? o O mágico levou o público ao rubro como os seus truques.

• O que fez o mágico?

o O Tiago é frequentemente agradável.

• O que se passa com o Tiago?

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• O predicado ocorre também em posição contrastiva numa

pseudoclivada, obedecendo a esquemas distintos:

o O que o garoto fez foi comer um bolo.

o O que acontecia à Sofia era ficar furiosa.

o O que se passou com elas foi acharem a Sílvia cansada no debate.

o O que o mágico fez foi levar o público ao rubro como os seus

truques.

o O que se passa com o Tiago é ser frequentemente agradável.

• O predicado pode ser antecedido do advérbio lá permanecendo como

cópia na respectiva posição o núcleo verbal. Vejamos os exemplos:

o Lá comer um bolo, o garoto comeu.

o Lá ficar furiosa, a Sofia ficou.

o Lá acharem a Sílvia cansada no debate, elas acharam.

o Lá levar o público ao rubro como os seus truques, o mágico

levou.

o Lá ser frequentemente agradável, o Tiago é.

• O predicado pode ser recuperado em construções de despojamento da

forma em conjunto com um outro sujeito e também/mas. Atentemos aos

exemplos:

o O garoto comeu um bolo e a garota também [comeu o bolo].

o A Sofia ficou furiosa e eu também [...].

o Elas acharam a Sílvia cansada no debate e eles também[...].

o O mágico levou o público ao rubro como os seus truques mas

os assistentes não [...].

o O Tiago é frequentemente agradável e o Bernardo também

[...].

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→→→→ Objecto directo: Também uma das relações gramaticais centrais, apresenta

propriedades específicas, sendo os argumentos internos directos de predicadores

verbais. Exemplificando:

1. O garoto comeu um bolo. [esta expressão é o objecto lógico do verbo comer]

Podem utilizar-se alguns testes para determinar o objecto directo gramatical:

- Substituição do constituinte que é objecto directo pela:

o forma acusativa do pronome pessoal (caso seja um nome);

o pela forma tónica do pronome demonstrativo (isso/esse) em

posição pós-verbal;

o pelo clítico demonstrativo invariável -o:

o Eles compraram o CD em Salamanca.

- Eles compraram-no em Salamanca.

- Eles compraram esse CD em Salamanca.

- Eles compraram isso em Salamanca

o O Arsénio sabe que tem de fazer os trabalhos de casa.

- O Arsénio sabe isso.

- O Arsénio sabe-o.

- Formulação da interrogativa: o que é que SU V? tratando-se de um

objecto directo humano ou não.

o O que é que eles compraram em Salamanca?

o Esse CD; o CD;

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- Transformação da frase activa para a passiva, passando a SU:

o O CD foi comprado por eles em Salamanca.

- Construção do particípio passado, mantendo a relação semântica com o

verbo:

o Comprado esse CD/o CD em Salamanca, eles ouviram-no no

automóvel.

→→→→ Objecto Indirecto: Também uma das relações gramaticais centrais, apresenta

propriedades específicas. O constituinte com esta relação gramatical é tipicamente o

argumento interno indirecto de verbos. Assim:

- O Paulo ofereceu um livro ao Joaquim.

- A Marta comprou esse antigo livro a um bibliotecário.

Podem utilizar-se alguns testes para determinar o objecto indirecto:

- Substituição do constituinte que é objecto indirecto pela forma dativa do

pronome pessoal(lhe):

o A Dalila ofereceu a boneca à prima.

- A Dalila ofereceu-lhe a boneca.

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- Formulação da interrogativa: a quem/ a que é que SU V (OD)? tratando-

se de um argumento humano ou não constituindo-se como objecto indirecto:

o A quem é que a Dalila deu a Boneca?

- À prima.

→→→→ Predicativo do Sujeito: trata-se de um predicador secundário seleccionado pelo

verbo, pertencendo à classe dos verbos copulativos:

o A criança é morena.

o Ela está uma jovem.

Para a identificação desta relação gramatical, podemos recorrer aos seguintes

testes:

- Substituição do constituinte com esta relação gramatical pelo clítico

demonstrativo invariável - o:

o A Madalena é bonita.

- Sim, é-o. [bonita] o Ela é simples e os seus pais também o são. [o =simples]

- Anteposição do predicativo do sujeito, deixando um espaço ou o clítico

demonstrativo –o:

o Simples, a Márcia é[-].

o Simples, a Márcia é-o.

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→→→→ Predicativo do objecto directo: trata-se de um predicador secundário seleccionado

pelo verbo, quando este pertence à classe dos verbos transitivos-predicativos, ou quando

estamos perante estruturas particulares:

o A jornalista considerou a crónica excelente.

o O público achou o filme fantástico.

Ou

o O padeiro cortou o pão em pedaços.

o Os palhaços tornam qualquer criança feliz.

Para a identificação desta relação gramatical, podemos recorrer aos seguintes

testes:

- Pode ser recuperada sob a forma de:

o uma categoria sem realização lexical;

o substituição pelo clítico demonstrativo invariável –o:

o O Manuel considera a Maria simpática?

- Sim, considera [ a Maria simpática]

o A intransigência do Rui torna-o impossível?

- Sim, torna [-].

o O António considera a Judite interessante?

- Sim, considera-a.

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- Em construções com verbos transitivos predicativos, podendo ser substituída

por uma oração finita:

o O António considera que a Judite é interessante.

- Ocorre em posição de contraste numa construção clivada:

o É interessante que o António considera a Judite.