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Protocolo Clínico Divisão Médica/07/2019 Síndrome da Abstinência e Delirium em Pediatria Versão 1.0 2019

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Protocolo Clínico

Divisão Médica/07/2019

Síndrome da Abstinência e

Delirium em Pediatria Versão 1.0

2019

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Protocolo Clínico

Divisão Médica/07/2019

Síndrome da Abstinência e Delirium em

Pediatria

Versão 1.0

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Material produzido pela equipe de pediatras da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e

Pediátrica do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), em

parceria com o Núcleo de Protocolos Assistenciais Multiprofissionais.

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte e sem fins comerciais.

Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), administrado pela Ebserh

– Ministério da Educação

Protocolo Clínico (PC): “Síndrome da Abstinência e Delirium em Pediatria” – Divisão Médica (DM),

Uberaba, 2019, 20p.

Palavras-chaves: 1 – Abstinência; 2 – Delirium; - 3 – Sedação e Analgesia.

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HOSPITAL DE CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

ADMINISTRADO PELA EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES

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Bairro Abadia | CEP: 38025-440 | Uberaba-MG

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ABRAHAM WEINTRAUB

Ministro de Estado da Educação

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Presidente da Ebserh

LUIZ ANTÔNIO PERTILI RODRIGUES DE RESENDE

Superintendente do HC-UFTM

DALMO CORREIA FILHO

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MARIA CRISTINA STRAMA

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GEISA PEREZ MEDINA GOMIDE

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ELIENE MACHADO FREITAS FELIX

Chefe da Divisão Médica do HC-UFTM

EXPEDIENTE

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica

Produção

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HISTÓRICO DE REVISÕES

Data Versão Descrição Gestor do

Protocolo

Autor/responsável

por alterações

10/06/2019 1.0 Síndrome da Abstinência e

Delirium em Pediatria

Eliene Machado

Freitas Felix

Autores:

Pavila V. O. Nabuco,

Médica diarista em

Unidade de Terapia

Intensiva (UTI)

Pediátrica;

Fabiana Jorge Bueno

Galdino Barsam,

médica diarista em

UTI/Pediátrica

Validadores:

Valquíria C.A. Chagas,

médica diarista em

UTI/Pediátrica,

Valéria C.A. Cunali,

médica diarista em UTI

Pediátrica

Andrezza R.A. Alvim,

Médica Pediatra do

HC-UFTM

Analia Oliveira Soares,

Médica Pediatra do

HC-UFTM

Registro, revisão e

validação: Unidade de

Planejamento

Aprovação final:

Colegiado Executivo

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SUMÁRIO

1 – DEFINIÇÃO.................................................................................................................................7

2 - OBJETIVOS..................................................................................................................................7

3 – PÚBLICO ALVO.........................................................................................................................7

4 - ÂMBITO DE APLICAÇÃO.........................................................................................................7

5 – RESPONSABILIDADES............................................................................................................8

6 – SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA...............................................................................................8

7 – DELIRIUM.................................................................................................................................12

8 – FLUXOGRAMA .......................................................................................................................15

9 - REFERÊNCIAS..........................................................................................................................16

10 - ANEXOS..................................................................................................................................17

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

Hospital de Clínicas

Divisão de Enfermagem

PC/DM: 07/19

Versão: 1.0

Protocolo Clínico

SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA E DELIRIUM EM PEDIATRIA

1 - DEFINIÇÃO

Tolerância: diminuição no efeito da droga com o passar do tempo traduzindo necessidade de au-

mentar a dose para obtenção do mesmo efeito.

Dependência física: refere-se à necessidade do organismo em continuar a receber a droga para

evitar os sinais de abstinência.

Dependência psicológica: necessidade de receber a substância devido aos seus efeitos eufóricos.

Síndrome de abstinência: aparecimento de sinais e sintomas quando a administração de sedativos

ou analgésicos é descontinuada em um paciente que é fisicamente tolerante. Ocorre principalmente com

o uso de opioides e benzodiazepínicos.

Delirium: síndrome neuropsiquiátrica complexa que se apresenta primariamente com distúrbios

cognitivos, da percepção, sensório, alteração do ciclo sono/vigília e alterações psicomotoras no decorrer

de uma patologia orgânica. Caracteriza-se por variações rápidas e flutuantes do estado mental, causadas

por um distúrbio clínico.

2 - OBJETIVOS

Orientar os profissionais quanto à identificação precoce da síndrome de abstinência, a ocorrência

de delirium e a padronização de medidas para prevenção e tratamento adequados.

3 - PÚBLICO ALVO

Profissionais que atuam diretamente nos cuidados dos pacientes pediátricos do Hospital de Clí-

nicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM).

4 - ÂMBITO DE APLICAÇÃO

Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal,

Alojamento Conjunto, Pronto Socorro Infantil e Enfermaria de Pediatria do HC-UFTM.

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5 – RESPONSABILIDADES

Identificar precocemente a síndrome de abstinência e a ocorrência de delirium;

Aplicar as medidas de prevenção e tratamento padronizadas na Instituição.

6 – SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

A administração por tempo prolongado de qualquer agente sedativo ou anestésico pode induzir a sinto-

mas de abstinência.

A síndrome ocorre quando estas drogas são suspensas de forma abrupta ou diminuídas muito rapida-

mente, causando hiperirritabilidade do Sistema Nervoso Central (SNC), desregulação do sistema au-

tonômico, disfunção gastrointestinal e anormalidades motoras.

6.1. Fatores de Risco

A ocorrência de tolerância e abstinência em pediatria está associada a doses cumulativas e tempo de uti-

lização dos fármacos:

Infusão contínua de opioide ou benzodiazepínico por mais de 5 dias, com interrupção abrupta;

Dose acumulada de fentanil maior que 1,5 mg/Kg ou de midazolam maior que 60 mg/Kg;

Uso de fentanil em dose maior que 5 mcg/Kg/hora (h);

Uso concomitante de bloqueadores musculares.

6.2. Quadro Clínico

Manifestações Clínicas de Abstinência

SNC Gastrointestinais Autonômicos

- Irritabilidade

- Aumento do tempo em vigília

- Hiperreatividade de reflexos tendinosos profundos

- Clônus

- Dificuldade de concentração

- Bocejos frequentes

- Espirros

- Hipertonicidade

- Choro inconsolável

- Exacerbação do Reflexo de Moro

- Convulsões

- Zumbidos

- Alucinações visuais e/ou auditivas

- Caretas

- Intolerância alimentar

- Vômitos

- Diarreia

- Incoordenação na sucção e de-

glutição

- Resíduo gástrico

* Febre e vômitos só podem ser

atribuídos à abstinência quando

outros diagnósticos forem

excluídos.

- Taquicardia

- Hipertensão

- Taquipneia

- Febre

- Congestão nasal

- Sudorese

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6.3. Diagnóstico

Há várias ferramentas desenvolvidas para diagnosticar e classificar a gravidade da síndrome de absti-

nência. As mais usadas são a escala de Finnegan, conhecida como NAS (Neonatal Abstinence Score) -

(Anexo 1), validada para crianças de até 3 meses de vida, e o WAT-1 (Withdrawal Assessment Tool -

Version 1) - (Anexo 2), validado para crianças de todas as idades.

Escala de Finnegan: usado para crianças com até 3 meses. Escore 0 a 7: Sem abstinência; de 8 a

12: abstinência leve a moderada; de 13 a 16: abstinência grave;

WAT -1: Usado para crianças de todas as idades: Pontuação = ou > 3 é alta probabilidade de abs-

tinência.

Aplicas as escalas em pacientes em uso de sedação por mais de 5 dias.

Aplicar as escalas de 6 em 6 horas a partir do início da retirada dos sedativos.

6.4. Tratamento

O tratamento consiste na redução gradual dos benzodiazepínicos ou opioides em uso endovenoso (EV),

associada à substituição por outras drogas do mesmo grupo farmacológico por via oral (VO) ou subcu-

tânea (SC), e/ou uso de α-2-agonista (clonidina ou dexmedetomidina).

Benzodiazepínicos:

- Lorazepam: 0,05 a 0,1 mg/Kg/dose, de 6/6 horas até, no máximo, de 4/4 horas, VO, ou;

- Diazepam: 0,12 a 0,8 mg/Kg/dia, a cada 6 a 8 horas;

Opioides:

- Metadona: 0,05 a 0,2 mg/Kg/dose, de 6/6 horas, VO;

Outras drogas:

- Clonidina: Útil nos casos com hipertensão arterial e taquicardia acentuada. Dose: 1-4 mcg/Kg/dose, de

8/8 horas, VO;

- Ketamina: Indicada quando os sintomas persistem a despeito da redução lenta e da introdução de fár-

macos via enteral. Dose: 5 a 20 mcg/Kg/min, EV;

- Dexmedetomidina: Mesmas indicações da Ketamina. Dose: 0,1-1,4 mcg/Kg/h, EV.

* Após a retirada das drogas endovenosas, deve-se proceder à retirada gradual das drogas enterais, au-

mentando lentamente o intervalo entre as doses ou reduzindo as doses individuais, podendo levar dias

ou até semanas, dependendo do grau de abstinência do paciente.

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** Se for observada abstinência durante a retirada da metadona e do lorazepam, aumentar a dose nova-

mente para o nível em que o paciente estava assintomático e continuar o desmame mais lentamente.

6.4.1. Desmame de Opioides

Esquema de Desmame do Fentanil e Redução da Metadona após a utilização de opioides por tempo

prolongado

Utilização de 7 a 14 dias Utilização > 14 dias

Calcular a dose do opioide em uso* (DO)

Dia 1 – administrar a DO dividida a cada 6 horas, por

48 horas. Redução de 20% da infusão contínua de

opioide na 4ª, 5ª ,6ª ,7ª, 8ª dose da metadona, e des-

continuar após 9ª dose da metadona.

Dia 3 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 8 ho-

ras, por 24 horas

Dia 4 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 8 ho-

ras, por 24 horas

Dia 5 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 12 ho-

ras, por 24 horas

Dia 6 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 24 ho-

ras, por 24 horas

Dia 7 – Suspender a metadona

* Dose do opioide em uso (DO), convertida para

metadona, conforme equivalência da potência

analgésica.

Calcular a dose do opioide em uso* (DO)

Dia 1 – Administrar a DO dividida a cada 6 horas,

por 48 horas. Redução de 20% da infusão contínua de

opioide na 4ª, 5ª ,6ª ,7ª, 8ª dose da metadona, e des-

continuar após 9ª dose da metadona.

Dia 3 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 6 ho-

ras, por 48 horas

Dia 5 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 8 ho-

ras, por 48 horas

Dia 7 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 12 ho-

ras, por 48 horas

Dia 9 – Reduzir DO 20% e administrar a cada 12 ho-

ras, por 48 horas

Dia 11 – Suspender a metadona

Observação: dose total diária de Metadona = dose total diária de Fentanil (em mg) x 2,5

Atenção: uso de Fentanil ou midazolan por tempo > 5 a 7 dias diminuir 20% da dose a cada 12 ho-

ras, até suspensão.

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6.4.2. Desmame de Benzodiazepínicos

Retirada Gradual de Midazolam com uso do Lorazepam

Dose 1 A dose equivalente do lorazepam (dose total diária) é igual à dose total de

midazolan dividida por 12. Esta dose deve ser dividida a cada 6 horas.

Dose 3 Na terceira dose, diminui-se 50% do midazolam

Dose 4 Na quarta dose, diminui-se mais 50% do midazolam

Dose 5 Na quinta dose do lorazepam, suspende-se o midazolam.

Observação:

1. Dose total diária de Midazolam (mg/kg/24h) dividida por 12 = dose total diária de Lorazepam a cada

6 horas. Na falta do Lorazepam, utiliza-se o Diazepam.

2. Dose total diária de Midazolam (mg/kg/24h) dividida por 3 = dose total diária de Diazepam a cada 6

horas.

Atenção: a retirada do Lorazepam deve ser feita lentamente, com aumento do intervalo entre as doses,

ou redução da dose diária em cerca de 10 a 20% a cada 24 a 48 horas.

6.5 Prevenção

Evitar excesso de opioides ou benzodiazepínicos.

Uso de medidas não farmacológicas de controle da ansiedade e da dor (manipulação mínima,

ambiente silencioso e com pouca luz, música suave, toque terapêutico, “objetos de transição”, embalar).

Otimizar sedação pelo uso de escalas clínicas, conforme protocolo da instituição (Escalas COM-

FORT e FLACC). Vide Protocolo Clínico Divisão Médica/03/2019 “Sedação e Analgesia em Pediatria”

Evitar interrupção abrupta do opioide ou benzodiazepínico, optando por sua retirada sistemática

e gradual.

Rodízio sistemático de analgésicos e sedativos.

Evitar o uso de opioides quando o objetivo é apenas sedar.

“Despertar diário”: suspender a sedação e a analgesia uma vez ao dia. Deve ser realizado com

cautela em crianças, pois aumenta o risco de extubação acidental e o grau de ansiedade.

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7 – DELIRIUM

É um distúrbio da consciência e cognitivo que se desenvolve de forma aguda com flutuações da atenção

e alterações na capacidade de receber, processar, armazenar e repassar informações recebidas, causada

diretamente por uma condição médica geral e que não pode ser mais bem explicada por uma demência

preexistente ou em evolução.

7.1. Fatores de Risco

Dor;

Ansiedade de separação;

Ausência ou presença do cuidador;

Admissão à UTI pediátrica;

Medicações anticolinérgicas;

Privação do sono (ruídos, frio, luz);

Número de procedimentos;

Uso de sedativos e analgésicos, principalmente em doses elevadas por tempo prolongado.

7.2. Quadro Clínico

Desorientação;

Distúrbios do sono;

Confusão;

Dificuldade de concentração e responsividade;

Alteração do nível de consciência;

Irritabilidade;

Exacerbação noturna;

Labilidade afetiva.

* Desorientação e alucinações só podem ser avaliados em crianças maiores.

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7.3. Classificação

Conforme a apresentação clínica, o delirium pode ser classificado como:

Delirium hipoativo: apatia, rebaixamento do nível de consciência, hipoatividade, depressão. Ocorre por

deficiência de dopamina, excesso de acetilcolina ou estimulação dos receptores GABA.

Delirium hiperativo: agitação, inquietação, instabilidade emocional, psicose, choro inconsolável.

Ocorre por excesso de atividade dopaminérgica ou antagonista de acetilcolina.

Delirium misto: apresenta tanto sintomas do tipo hipoativo como do hiperativo.

7.4. Diagnóstico

O diagnóstico se baseia na avaliação seriada da criança e pode ser confirmado pela aplicação de escalas

específicas:

- Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS) - (Anexo 3). Avalia o nível de consciência e se baseia na

pontuação da escala:

-3 a 0 – delirium hipoativo;

+1 a +2 – delirium misto;

+3 a +4 – delirium hiperativo;

- Pediatric Confusion Assessment Method for Intensive Care Unit (pCAM-IUC) – (Anexo 4). Apropria-

da para idade > 5 anos;

- Pediatric Anesthesia Emergence Delirium Scale (PAED) - (Anexo 5). Adequado para idade entre 18

meses e 5 anos:

PAED > 10: delirium;

PAED = 7- 9: risco para delirium – reavaliar em 1 hora;

PAED < 7: sem delirium.

7.5. Tratamento

7.5.1. Tratamento não farmacológico:

Estimulação cognitiva e reorientação do paciente;

Ajuste do sono;

Exercícios e mobilização precoce;

Manutenção de óculos e próteses auditivas;

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Suporte e presença familiar;

Ambiente tranquilo e confortável;

Remoção de dispositivos invasivos;

Avaliação multiprofissional e psiquiátrica.

7.5.2 Tratamento Farmacológico

Haloperidol:

­ Inibe receptores dopaminérgicos;

­ Preferido nos casos de delirium com agitação, em crianças menores de 4 anos;

­ Dose: EV ou VO: 0,05 – 0,15 mg/Kg/dia de 12/12h ou de 8/8h.

Antipsicóticos: (Risperidona, olanzepina, ziprasidona):

­ Atuam nos receptores domaninérgicos e nos neutrotransmissores serotonina, acetilcolina e nore-

pinefrina;

­ Utilizados preferencialmente nos casos de delirium misto e hipoativo;

­ Dose da Risperidona: 0,1 a 0,2 mg/dia, com manutenção de 0,2 a 2,0 mg/dia, duas a 4 vezes por

dia.

7.6. Prevenção

Abordagem da causa da internação, conforme protocolos;

Tratamento adequado de infecções;

Correção dos distúrbios metabólicos e hipoxemia;

Reorientação frequente do paciente pelos cuidadores e enfermagem;

Sedação e analgesia adequados e por tempo limitado;

Extubação precoce;

Fisioterapia respiratória e mobilização precoces;

Atenção e otimização do sono.

Observação: o uso da Dexmedetomidina como sedativo tem sido relacionado à prevenção do Delirium.

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8 - FLUXOGRAMA

Algoritmo para diagnóstico de Delirium

Fonte: Piva, J.P. et al. Medicina Intensiva em Pediatria. 2ª Edição. Revinter. 2014.Cap50, pg 1144

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9 - REFERÊNCIAS

1) Lago,P.M; Piva,J.P.; et al. Analgesia e sedação em situações de emergência e unidades de trata-

mento intensivo pediátrico. Jornal de Pediatria - Vol.79, Supl.2, 2003.

2) Bartolomé,S.M et al. Analgesia and sedation in children: practical approach for the most frequent

situations. Jornal de Pediatria - Vol. 83, Nº2(Supl), 2007.

3) Silva,S.L; Ferreira, A.R; et al. Sedação para procedimentos em crianças e adolescentes: uma

proposta a partir do sistema GRADE. Rev Med Minas Gerais 2017; 27 (Supl 3): S77-S86.

4) Harris, J.; Ramelet,A.S.; et al. Clinical recommendations for pain, sedation, withdrawal and de-

lirium assessment in critically ill infants and children: an ESPNIC position statement for healthcare pro-

fessionals. Intensive Care Med (2016) 42:972–986.

5) Joseph D.; Tobias, M.D. Tolerance, withdrawal, and physical dependency after long-term seda-

tion and analgesia of children in the pediatric intensive care unit. Crit Care Med 2000 Vol. 28, No. 6.

6) Motta, E.; Luglio, M. et al. Importance of the use of protocols for the management of analgesia

and sedation in pediatric intensive care unit. Rev Assoc Med Bras 2016; 62(6):602-609.

7) Souza, N. Prevenção da síndrome de abstinência associada à interrupção da infusão de fentanil e

midazolam em unidades de cuidados intensivos pediátricos – Tese (Doutorado) - Universidade Federal

de São Paulo.2006. xvi, 74f.

8) Piva, J.P. et al. Medicina Intensiva em Pediatria. 2ª Edição. Revinter. 2014.Cap.50, pgs1127-

1152

9) Carlotti, A.P.C; Carmona,F - Rotinas em Terapia Intensiva Pediátrica – Editora Blucher, 2015,

pgs 45-54

10) Bresolin, N.L.; Fernandes, V.R. Sedação, Analgesia e Bloqueio Neuromuscular. AMIB- Associ-

ação de Medicina Intensiva Brasileira.

11) M,A.Q.G.; et al. Sedação e Analgesia Pediátrica: comentários acerca das drogas utilizadas em

procedimentos no pronto‐socorro e os cuidados necessários antes, durante e após a sedoanalgesia. Rev.

Mult. Psic. V.12, N. 42, Supl. 1, p. 823-831, 2018 - ISSN 1981-1179.

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10 – ANEXOS

1. Escala de Finnegan ou NAS

Sinais e sintomas Pontuação

Choro:

Excessivo

Contínuo

2

3

Dormir após alimentação:

< 1h

< 2h

< 3h

3

2

1

Reflexo de Moro:

Hiperativo

Marcadamente hiperativo

2

3

Tremores:

Intensos

Moderados a intensos

Leves

Sem tremor

4

3

2

1

Aumento do tônus muscular 2

Bocejos frequentes 1

Escoriação 1

Convulsões 5

Sudorese 1

Febre:

37,8 – 38,3ºC

> 38,3ºC

1

2

Pele marmórea 1

Espirros frequentes 1

Prurido nasal 1

Batimento de asa de nariz 2

Frequência respiratória:

> 60/min

> 60/min com retrações

1

2

Sucção excessiva 1

Come pouco 2

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Protocolo Clínico/Divisão Médica/07/2019 Síndrome da Abstinência e Delirium em Pediatria

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Regurgitação 2

Vômitos em jato 3

Fezes:

Semipastosas

Líquidas

2

3

* Pontuação: 0-7 = sem abstinência; 8-12 = leve a moderada; 13-16: grave

Fonte: Carlotti, A.P.C; Carmona,F - Rotinas em Terapia Intensiva Pediátrica – Editora Blucher, 2015, pg

50-51

2. Escala WAT-1

Pontuação

Sintomas 0 1 2

Avaliação nas 12h prévias:

1. Diarreia Não Sim

2. Vômitos Não Sim

3. Febre ( T > 37,8ºC)

Observação 2 minutos antes da estimulação:

4. Estado Tranquilo Irritável

5. Tremores Não Sim

6. Sudorese Não Sim

7. Movimentos anormais ou repetitivos Não Sim

8. Bocejos ou espirros (≥ 2) Não Sim

Estimulação por 1 minuto (chamar pelo nome, tocar de modo suave ou com estímulo dolo-

roso se não responder aos estímulos prévios):

9. Assusta ao ser tocado Não Sim

10. Aumento do tônus muscular Sim

Recuperação após estímulo:

Tempo até acalmar-se (minutos) < 2 2 - 5 5

* Pontuação maior ou igual a 3 indica síndrome de abstinência

Fonte: Carlotti, A.P.C; Carmona,F - Rotinas em Terapia Intensiva Pediátrica – Editora Blucher, 2015, pg.52

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Protocolo Clínico/Divisão Médica/07/2019 Síndrome da Abstinência e Delirium em Pediatria

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3. Escala RASS

Pontuação Classificação Descrição

+4 Agressivo Violento, perigoso

+3 Muito agitado Puxa tubos e cateteres para removê-los;

agressivo

+2 Agitado Movimentos não propositais frequentes; bri-

ga com o ventilador

+1 Inquieto Ansioso, apreensivo, movimentos não agres-

sivos ou violentos

0 Alerta e calmo -

-1 Sonolento Não está totalmente alerta, mas se mantém

acordado ao comando

-2 Sedação leve Acordado por períodos breves

-3 Sedação moderada Movimenta ou abre o olho quando chamado

-4 Sedação profunda Sem resposta ao comando; abre os olhos com

estimulação física

-5 Coma Sem resposta a voz ou estimulação física

Fonte: Carlotti, A.P.C; Carmona,F - Rotinas em Terapia Intensiva Pediátrica – Editora Blucher, 2015,

pg.47.

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Protocolo Clínico/Divisão Médica/07/2019 Síndrome da Abstinência e Delirium em Pediatria

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4. pCAM-IUC

Item Descrição Resposta Interpretação

1 Alteração aguda e flutuante da consciência

nas últimas 24h

Não Ausência de delirium

Sim Prosseguir para 2

2

Alteração na atenção: escolha uma figura ou

letra dentre quatro ou cinco e peça para a cri-

ança apertar a mão do profissional quando

ela vir ou ouvir a figura ou a letra escolhida

≤ 2 erros Ausência de delirium

> 2 erros Prosseguir para 3

3 Nível de consciência: Paciente com RASS =

0

Não Presença de delirium

Sim Prosseguir para 4

4

Desorganização do pensamento: fazer quatro

perguntas e um comando. Exemplo de per-

guntas: “O açúcar é doce?”, “O sorvete é

quente?”, “Os passarinhos voam?”. Exem-

plos de comandos: “Aperte minha mão”,

“Movimente os dedos”

> 1 erro Presença de delirium

≤ 1 erro Ausência de delirium

Fonte: Carlotti, A.P.C; Carmona,F - Rotinas em Terapia Intensiva Pediátrica – Editora Blucher, 2015,

pg.47.

5. PAED

Item Descrição

A A criança faz contato visual com o cuidador

B As ações da criança são intencionais

C A criança está consciente de seu ambiente

D A criança está inquieta

E A criança está inconsolável

Pontuação Itens A, B e C Itens D e E

De jeito nenhum 4 0

Só um pouco 3 1

Um pouco 2 2

Muito 1 3

Extremamente 0 4

Fonte: Carlotti, A.P.C; Carmona,F - Rotinas em Terapia Intensiva Pediátrica – Editora Blucher, 2015, pg.48

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