Demanda controle em trabalhadores hipertensos da construção civil
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ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014
DEMANDA CONTROLE EM TRABALHADORES HIPERTENSOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL
DEMAND CONTROL IN HYPERTENSIVE CONSTRUCTION WORKERS
Roberta Zaninelli do Nascimento Zarpelao1
Milva Maria Figueiredo de Martino2
RESUMO
Objetivo: Apresentar o resultado da aplicação do instrumento demanda controle
em uma população de trabalhadores hipertensos da construção civil, relacionadas ao
ambiente ocupacional. Método: Trata-se de um estudo descritivo e transversal, em
trabalhadores da Construção Civil de Cubatão, SP oferecendo subsídios para a gestão da
saúde do trabalhador nesse ramo de atividade. Resultados: (n=79) que relacionou o
ambiente de trabalho e sua relação com a hipertensão arterial. Conclusão: Concluiu-se
que a hipertensão arterial leve foi predominante entre os trabalhadores, no entanto há
necessidade de maiores investigações sobre os fatores presentes no ambiente de trabalho
podem agravá-la ou não.
Palavras-Chaves: Hipertensão Arterial. Gestão em Saúde. Saúde dos trabalhadores.
1 Enfermeiro do Trabalho, Mestre em Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente, Doutoranda da EPE/Unifesp. São
Paulo (SP), Brasil. E: mail: [email protected]; Autor correspondente. Endereço: Av. Doutor Bernardino de
Campos, 580 Av. Apto. 36, Santos – SP, ZIP CODE:11065-002, Tel.: (13) 98136 3809.
2 Enfermeira, Pós Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Unifesp. São Paulo (SP), Brasil.
E-mail: [email protected];
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ABSTRACT
Objective: To present the result of applying the instrument demand control in a
population of hypertensive construction employees in their workplace. Method: This was
a descriptive cross-sectional study in Construction workers of Cubatão, SP offering
subsidies for the management of health worker in this field of activity. Results: (n=79)
related to the work environment and its relationship to hypertension. Conclusion: It was
concluded that mild arterial hypertension was prevalent among workers, however it is
needed further investigation into the factors present in the work environment that can
aggravate it or not.
Key Words: Hypertension. Management in Health. Health workers.
INTRODUÇÃO
As transformações ocorridas no mundo do trabalho têm repercutido na saúde dos
trabalhadores de maneira direta, assim a crescente demanda por novas tecnologias,
adicionadas a um complexo conjunto de inovações organizacionais tem interferido nas
condições e as relações de trabalho (MENDES & De MARTINO, 2012).
A intensificação do trabalho é um elemento da atual fase do capitalismo que passa
a implicar em consumo de energias físicas e espirituais dos trabalhadores, essas
transformações impactam diretamente na saúde do trabalhador em decorrência do
processo de trabalho que precisa ser reorganizado de forma a atender as características de
cada profissão (MENDES & De MARTINO, 2012, p.1471).
A construção civil é um ramo de atividade de grande importância no cenário
econômico brasileiro, caracterizado pela informalidade, sendo trabalhadores do sexo
masculino, migrantes, com baixa escolaridade e reduzida qualificação profissional além
de ser considerado um dos mais perigosos do mundo e inclusive no Brasil e com altos
índices de acidentes de trabalho, inclusive os incapacitantes e os fatais (IRIART et al.,
2008, p.166). A construção civil apresenta apenas 20,1% dos trabalhadores com carteira
assinada e o trabalho informal pode contribuir para a precarização do trabalho nesta área
de atuação, quando comparados a outros tipos de atividades, ainda a presença marcante
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do trabalho informal deriva da utilização de mecanismos de rebaixamento de custos,
dentre eles o da subcontratação (IRIART et al., 2008, p.166).
Segundo a Relação Anual das Informações Sociais (RAIS), a análise setorial
mostra que todos os setores expandiram o nível de emprego formal em 2011,
comportamento esse proporcionado, em grande parte, pelo fortalecimento da demanda
interna. Em termos absolutos, a Construção Civil proporcionou a criação de 241,3 mil
empregos ou +9,62%, a maior taxa de crescimento do período, e a Região Sudeste
aumentou o número de empregos em +4,69%, gerando 1.283.061 postos de trabalho
(MTE, 2011, p.2).
As condições adversas do trabalho, perdas dos direitos trabalhistas, legalização dos
trabalhos informais e temporários, aliadas a evolução da tecnologia avançaram os limites
da saúde humana e pode influenciar o risco de desordens osteomusculares, sintomas
psiquiátricos, alteração do sono dos trabalhadores, e ferimentos que ocorrem
frequentemente entre populações de meia idade, podendo ser consideradas umas das
principais razões de adoecimento (PADILHA, 2010, p.555).
Segundo Lima (2010), a terceirização permite a flexibilização do processo
produtivo, trata-se assim, da reorganização da produção com foco das atividades fins das
empresas e externalização das demais, eliminando setores produtivos, administrativos, ou
de serviços, que por esta visão, são considerados complementares às suas atividades fins
e transferem sua realização para outras empresas, concentrando-se no produto principal,
possibilitando redução de custos fixos e ganhos de eficiência.
A terceirização é percebida como técnica de modernização e instrumento de gestão
empresarial trata-se de um fenômeno mundial alcançando todos os tipos de trabalho, na
indústria, comércio e serviços, apresentando-se sob diversas formas de regulação e
legislação nos diferentes países (LIMA, 2010, p.17).
A flexibilização e terceirização podem não implicar necessariamente na
precarização das relações de trabalho, mas progressivamente tornam-se sinônimos. A
precarização relaciona-se com uma maior desregulamentação da utilização da força de
trabalho, com a redução de postos, alterações nos contratos com redução dos custos
relacionados aos direitos trabalhistas e sociais nas relacionais salarias, além da
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transferência de atividades para outras empresas, que se responsabilizam pela
organização do trabalho e gestão demão de obra, eliminando custos e diminuindo ônus
com esta gestão (LIMA, 2010, p.17).
A precarização pode ser vista como uma tendência difundida em toda a parte, no
setor privado, público, nos meios de comunicação e atinge todos os trabalhadores e pode
afeta-los mesmo que não diretamente, gerando consequências como a desestruturação da
existência e suas estruturas temporais, tornando o futuro incerto e generalizando
insegurança como modo de vida. Lima (2010, p.23),
Estas condições podem contribuir para o aparecimento do estresse ocupacional, que
é um termo relativamente moderno que frequentemente tem sido discutido em grandes
entidades de saúde nas últimas décadas, de acordo com o Instituto Nacional para a Saúde
e Segurança Internacional (NIOSH) estresse ocupacional é definido com uma resposta
mental ou algo nocivo ao psicológico, ocorrendo entre a incompatibilidade dele ou dela
para a habilidade, que pode desencadear comportamentos agressivos, doenças
ocupacionais, doenças psicológicas e até mesmo a morte (MASOUD et al. 2013, p. 804).
A Organização Internacional para o Trabalho (ILO) considera o estresse ocupacional
como o mais significativo ao considerar a saúde do trabalhador, enquanto para a
Organização Mundial da Saúde (WHO) enfatiza problemas de saúde, como baixa
motivação, baixa segurança, trabalhadores expostos a riscos ocupacionais e
consequentemente custos para os empregadores. ILO em uma análise estatística
demonstrou que o estresse pode ter gastos de 1 a 3% do produto interno bruto (PIB), e o
custo anual com o estresse ocupacional pode ser estimado em mais de 300 milhões de
dólares para os Estados Unidos, 20 milhões de euros para os países europeus (MASOUD
et al. 2013; HÉLÈNE, 2013).
Varias razões destacam-se para a atenção especial para o estresse ocupacional e
pode ser um dos mais importantes problemas de saúde no mundo (MASOUD et al. 2013,
p. 804).
A carga de trabalho e atividades repetidas pode ser um fator organizacional que
influencia diretamente o desempenho do homem no trabalho, e por seu impacto produzido
pelos elementos que constituem o processo de trabalho sobre a sua saúde física e mental
(BALLARDIN & GUIMARÃES, 2009; STANFELD S et al., 2012).
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A avaliação dos aspectos relacionados à abordagem psicossocial do trabalho tem
tido relevância em estudos recentes em saúde e trabalho (ARAÚJO et al., 2003, p. 424).
Nas últimas décadas, as relações entre trabalho, estresse e suas consequências sobre
a saúde dos trabalhadores têm sido estudadas, com abordagens metodológicas
diferenciadas, questões como a produtividade, os acidentes de trabalho, o absenteísmo e
os crescentes índices de sintomas físicos e psíquicos, entre os trabalhadores de
determinadas categorias, têm sido objeto de estudos, dentre eles o da construção civil
(ALVES, 2009, p. 895).
E ainda trabalho precário pode ser visto sob duas dimensões: a ausência ou
redução de direitos e garantias do trabalho e a qualidade no exercício da atividade,
vivenciado principalmente pelos trabalhadores terceirizados (MAGNANO et al., 2010, p.
805).
O modelo de demanda-controle (DC) define diferentes estressores do trabalho
potencialmente danosos à saúde e oferecem explicações sobre o relacionamento entre
condições estressantes do trabalho e bem-estar físico e psicológico (SANTOS et al., 2010,
p.257). O DC fundamenta-se nas características psicossociais do trabalho, na demanda
psicológica envolvida na execução das tarefas e atividades ocupacionais e no controle
exercido pelos trabalhadores sobre o próprio trabalho e o suporte social no mesmo. São
itens que fazem parte da saúde ocupacional e que vêm sendo abordados com maior
frequência, por meio de um questionário inicialmente proposto por Karasek em uma
versão ampla e resumidamente proposto por Theorell (GRECO et al., 2011, p.273).
Trata-se de uma versão reduzida deste instrumento simplificado em 1988,
traduzido e validado por Alves (2004), contendo 17 questões: cinco para avaliar demanda
seis para avaliar controle e seis para apoio social, versão reduzida (SCMIDTH et al., 2009,
p.331).
O modelo DC considerava a interação de dois componentes que poderiam
favorecer o desgaste no trabalho (job strain): as demandas psicológicas (ritmo e
intensidade de trabalho) e o controle (autonomia e habilidade) para que o trabalhador
execute sue trabalho, assim atividades que envolvem altas demandas psicológicas e baixo
controle favoreciam o desgaste no trabalho, e como consequência o adoecimento físico e
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psicológico, posteriormente o modelo passou a incluir uma terceira dimensão: a
percepção de apoio social (GRECO et al., 2011, p.273). (Figura 1).
FIGURA 1 – Demanda controle.
Fonte: Karasek, 1991 (adaptado por Theorell, 1991).
Demanda Controle (DC), uma versão resumida do questionário Job Strain Model
contém 17 questões de múltiplas escolhas sendo subdivididas em três escalas: seis
questões sobre o trabalho (questões sobre controle no trabalho) (questões sobre tomadas
de decisões), cinco questões sobre demanda no trabalho (questões, sobre tempo e
velocidade para realizar o trabalho e seis questões sobre apoio social que o trabalhador
recebe em seu ambiente de trabalho) (SCMIDTH et al., 2009, p.274). A combinação de
respostas com alto controle sobre o processo de trabalho gera alto desgaste (job strain),
causando efeitos nocivos à saúde do trabalhador, também prejudicial à saúde do
trabalhador é a situação em que se combinam baixas demandas e baixo controle (trabalho
passivo) e pode gerar perda de habilidades e desinteresse, em contrapartida, quando alta
demanda e baixos controles coexistem, os indivíduos experimentam o processo de
trabalho ativo, situação menos danosa ao trabalhador uma vez que ele tem autonomia de
escolher como planejar suas atividades de trabalho, de acordo com seu ritmo. A situação
ideal de baixo desgaste combina baixas demandas e alto controle do processo de trabalho,
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esta situação ainda pode refletir em uma maior qualidade do sono e menos fadiga, mas em
situação de baixo desgaste para alto desgaste nota-se piora da qualidade do sono e aumento
da fadiga (SCMIDTH et al., 2009. p.274).
O Modelo Demanda-Controle procura explicar as modificações que acontecem
com os indivíduos submetidos à tensão no trabalho, tanto em nível físico como
psicológico. Ele pode ser um instrumento de estrutura integradora para estudo dos
diversos elementos do ambiente de trabalho, nas suas inter-relações com a saúde dos
trabalhadores (GRECO, 2011, p.274). Assim sendo o objetivo deste estudo foi analisar a
Demanda Controle em Trabalhadores Hipertensos da Construção Civil, especialmente do
grupo de trabalhadores que atuam no setor petroquímico, em empresas terceirizadas.
MÉTODO
Este estudo caracteriza-se por pesquisa descritiva, exploratória, com desenho
transversal, e abordagem quantitativa. Dos 2800 trabalhadores (100%), 315 (11,25%)
eram hipertensos e foram incluídos 79 (25%) sujeitos hipertensos, do sexo masculino e
que concordaram em participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, (Lei 466/12) e compareceram ao Ambulatório para aferir sua pressão arterial.
Foi aplicado um questionário contendo 17 questões, divididos em demanda, controle e
apoio social. Para as dimensões demanda e controle as opções de resposta são
apresentadas em escala tipo Likert (1-4), variando entre "frequentemente" e "nunca/quase
nunca”, para a dimensão apoio social "discordo totalmente” e “concordo totalmente”
(ALVES et al., 2004). A escala Likert é um tipo de escala de resposta psicométrica usada
comumente em questionários, e é a escala mais usada em pesquisas de opinião. O formato
típico de um item Likert é: 1. Não concordo. 2. Indiferente. 3. Concordo. 4.
Concordo totalmente. Foi aplicada a Média Ponderada = (1x54) + (2x24) + (3x21)
+ (4.24) = 54 +24 + 21 + 24 = 123 Logo RM = 123 / 79= 1,50 Onde Rm = ranking médio.
Com o objetivo de obter a variação e a confiabilidade dos dados do Ranking Médio, foi
calculado o desvio padrão da média e o α de Cronbach. Observa-se que os níveis
obtidos para essa escala são relativamente próximos de 1, especialmente para a demanda
e o apoio social, indicando uma boa confiabilidade nos resultados obtidos, corroborada
pelos baixos desvios padrões. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética do SECONCI,
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(Serviço Social da Indústria da Construção Civil) e foi aprovado em agosto de 2008, sob
o número de protocolo 07/2008, conforme a Resolução 466/12 para pesquisas em seres
humanos.
RESULTADOS
Foi aplicado o questionário proposto nos 79 trabalhadores, utilizando a escala
Likert de 1 a 4 pontos para mensurar o grau de concordância dos sujeitos que responderam
os questionários e obteve-se o seguinte resultado (SCMIDTH et al., 2009, p.274):
TABELA 1 - Resultados obtidos para a Demanda Controle relativos aos grupos
de questão aplicados, variação do escore, ranking médio, variação e
confiabilidade.
Domínio Questão Variação do
escore
Desvio
Padrão
Alfa de
Cronbach
Demanda A, B, C, D, E, F 1- 4 0,16 0,68
Controle G, H, I, J, K 1-4 0,24 0,57
Apoio Social L, M, N, O, P, Q 1-4 0,55 0,87
Fonte: Elaborado por autores
Em relação à pressão arterial dos trabalhadores, esses foram divididos de acordo
com a Tabela 2. Aproximadamente 50% dos trabalhadores são considerados hipertensos
leves.
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TABELA 2- Número de empregados segundo a classificação dos níveis de pressão
arterial.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia, 2010
DISCUSSÃO
Em relação ao gênero dos trabalhadores que concordaram em participar da
pesquisa, 79 (100%) pertencem ao sexo masculino. O sexo pode ser relacionado como
fator de capacidade ao trabalho (MARTINEZ, 2006, p.145).
Aproximadamente 44,3 % dos trabalhadores são considerados hipertensos estágio
1. Segundo Martinez (2006) e Magnano (2010) o estresse ambiental pode repercutir sobre
as condições físicas do trabalhador, principalmente no que diz respeito à hipertensão
arterial.
Nº de empregados segundo a classificação dos níveis
de pressão arterial
Nº de
empregados
%
Ótima <120mmHg/<80mmHg 0
Normal <130mmHg/<85mmHg
Limítrofe
(130-139 mmHg / 85-89 mmHg)
0
29
36,7%
Hipertensão estágio 1
(140-159 mmHg / 90-99 mmHg)
35 44,3%
Hipertensão estágio 2
(160-179 mmHg/ 100-109 mmHg
13 16,4%
Hipertensão estágio 3
(> 180 mmHg / >110 mmHg
2 2,6%
Hipertensão Sistólica Isolada
(>140 mmHg / < 90 mmHg
0
Total 79 100%
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No MDC, diferenciam-se quatro tipos básicos de experiências no trabalho,
formados pela interação dos níveis de demanda psicológica e de controle: alta exigência
(alta demanda e baixo controle), baixa exigência (baixa demanda e alto controle), trabalho
passivo (baixa demanda e baixo controle) e trabalho ativo (alta demanda e alto controle)
(SCMIDTH et al., 2009, p.331). Das quatro situações, o trabalho em alta exigência é o
que apresenta maior propensão para adoecimento físico e psicológico. Os trabalhos ativos
e passivos representam risco intermediário de adoecimento, já o trabalho em baixa
exigência, representa menor risco, sendo esse considerado condição ideal de trabalho
(BALLARDIN & GUIMARÃES, 2009; HÉLÈNE, 2013).
De acordo com o estudo realizado em 79 indivíduos hipertensos que aceitaram
participar da pesquisa os valores encontrados nos permitem dizer que o resultado foi de
alta demanda e baixo controle, indicando característica de desgaste especialmente devido
à quantidade de trabalho executada e o número de vezes em que o trabalhador executa
suas atividades diárias, e ainda, segundo Kirchoff (2009) encontram-se no quadrante de
trabalhadores ativos, classificadas como exposição intermediária ao estresse ocupacional,
justificando o grau de controle pode indicar uma medida de autonomia, de liberdade
restrita para o uso de habilidades, compensando os efeitos negativos provenientes de altas
demandas psicológicas.
Os resultados encontrados nesta pesquisa corroboram com estudos realizados,
principalmente, em países da Europa, da Ásia e nos Estados Unidos da América têm
evidenciado associação positiva entre aspectos psicossociais do trabalho (alta demanda
psicológica e baixo controle) e diferentes desfechos, como, por exemplo: problemas
psiquiátricos menores, doenças do sistema digestivo, doenças cardiovasculares, sintomas
musculares, entre outros (KARASEK, 1990; HARDING, 1980; JOSEPHSON, 1997;
BONGERS, 2002; THEORELL, 1990; SCHANALL 1994, YU, 2013).
Aplicar um instrumento que transpareça a organização do trabalho, ou seja, a
condição em que o trabalhador está exposto, tanto em nível fisiológico como psicológico,
pode indicar possíveis fatores de risco cujo controle pode levar a prevenção de acidentes
de trabalho, ao controle do agravamento de patologias como a hipertensão arterial. Isto
porque quando as demandas físicas e mentais do trabalho não estão adequadas podem
surgir repercutir na saúde dos trabalhadores.
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O modelo prevê que o estresse no trabalho é resultante da interação entre muitas
demandas psicológicas, menor controle no processo de trabalho e menor apoio social
recebido de colaboradores e chefes no ambiente laboral (SCMIDTH et al., 2009, p.332).
Os 79 (100%) Todos os trabalhadores são terceirizados, em que os trabalhadores
executam “o que lhes é ordenado” não possuindo autonomia sobre a sua atividade,
situação que é agravada pelo fato da instabilidade do emprego e alta rotatividade dos
trabalhadores, que sempre querem “trocar” de empreiteiras (BERNARDO, 2001, p.87).
Ao falarmos neste grupo esta relação torna-se mais frágil, como é o exemplo de
trabalhadores que atuam em indústrias petroquímicas na Bahia ou em mineradoras, onde
há um tratamento diferenciado, dos trabalhadores dentro das plantas industriais,
demonstrando a distinção entre os de fora e os de dentro, que permanecem como
funcionários da empresa (LIMA, 2010, p.23).
Lima (2010) aponta que trabalhadores terceirizados e estáveis não sentem parte do
mesmo coletivo, pois os terceiros são vistos como menos qualificados e envolvidos na
empresa.
Entretanto algumas categorias em que o trabalhador não se sente precarizado, a
construção civil é uma delas, pois os trabalhadores recebem a empreita maior do que seria
em contratos regulares (LIMA, 2010, p.22).
CONCLUSÃO
O instrumento para avaliação da demanda controle utilizado neste estudo mostrou-
se útil e pode se constituir como ferramenta na gestão das empresas, pois por meio deste
instrumento pode-se detectar necessidade de implementação de novos processos ou
modificação dos já existentes levando a promoção da saúde dos trabalhadores e melhor
organização do trabalho.
Os resultados mostram que: obteve-se alta demanda e baixo controle, como
resultado da presença de desgaste do trabalhador devido a pressão existente no ambiente
laboral e quantidade de trabalho executado.
Num total de 44,3% dos trabalhadores apresentaram hipertensão, tipo estagio 1.
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Outro aspecto da população estudada que pode dificultar estudos sobre a relação
entre a hipertensão arterial e a demanda-controle está na alta rotatividade dos
trabalhadores. Essa alta rotatividade dificulta também o controle sobre o agravamento e
aparecimento de doenças crônicas neste grupo de trabalhadores.
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Recebido em 24/10/2013
Aceito em 11/06/2014