Demo Espelho de Luz

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Espelho de Luz é o que um jovem chamado Dimmy vê enquanto tem seus ataques de eplepsia, e então sabe que irá viver para ensinar a velha Eva a amar e confiar nas pessoas.

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Hiago Rodrigues 2

1º Edição

Espelho de LuzHiago Rodrigues

2010

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Espelho de Luz 3

© Copyright Hiago Rodrigues – 2010 Editor responsável por esta edição: Marco Antônio Salazar Arte da Capa e Diagramação: Maximilian Cals

kSelo Lítero Editorial – Hímpeto Budget Networks

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Hiago Rodrigues – 1989

Espelho de Luz / Rodrigues, H. – Setembro de 2010

São Paulo: Líh Editorial – Hímpeto Budget Networks

1. Romance brasileiro I. TítuloISEN: br84636374

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A Ideia do Espelho

Luana ficou horrorizada quando lhe apresentei a ideia do Espelho de Luz. Lembro como se fosse hoje das garga-lhadas que dei quando percebi a reação dela. Talvez eu seja uma pessoa doente mesmo, talvez. Quem ler este livro saberá medir a profundidade da minha doença.

Luana gostava de fazer sorrisos: formou-se dentis-ta, e percebendo que, com ela, sorrindo, eu ainda era esse do-ente, percebeu também que não poderia ser enfermeira... de um doente incurável.

Essa é para você, Luana.

Vamos?

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Primeiro Capítulo

Hoje a brisa fria dessa agonia em descompanhia não mais me inebria com a melancolia de viver e sofrer sem a alegria que Dimmy flamejou em meu ser.

Um dia, numa tarde de primavera quente, abafada, mas fresca o bastante para ser possível caminhar ao ar livre antes do almoço, Dímitre pegou minhas mãos com as dele e apertou-as até eu sentir o quanto ele tremia; me olhou nos olhos, a procurar meu olhar, e ao perceber isso entre o silêncio desta procura, fiz uso de uma força que não tinha, num extremo esforço para encontrar os olhos dele.

E quando os vi tentei chorar, gritar com o máximo de energia para que ele não me olhasse daquele jeito: com um olhar de despedida.

Dimmy falou gaguejando, e após repetir a primeira sílaba do meu nome quatro vezes, encontrei o choro em sua voz. Mas não chorou, eu via seus olhos, ele mostrou-se engasgado, mas focou-se no que iria me dizer e só após uma profunda retomada de ar pude ouvir sua explicação.

Disse-me que quando ficava um pouco feliz com a vida, de repente, entre uma crise de tremelicação uma espécie de cachoeira se fazia à sua frente, em pleno o olhar. Mas não era água que desabava desta cachoeira e sim luz, e os raios solares que toca-vam a superfície da terra eram reunidos em apenas um facho, para então tudo em sua volta ficar em trevas... uma cachoeira de luz no meio do escuro, e dela Dimmy me conta que caminha um passo e quase entra pela parede luminosa, mas antes, pouco antes de se

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sentir iluminado, vê-se refletido, mesmo no escuro, e em tantas tre-vas que era impossível se enxergar ao pôr as mãos em frente o ros-to, mas fez-me nota de que a princípio achou estranho ser possível se ver num espelho em que várias gotas de luz desabam frenetica-mente ao olhar, e mais estranho ainda era Dímitre se enxergar so-mente neste espelho, pois fora dele olhava aos seus pés, seus joe-lhos e também seu peito e ombros só que vendo somente trevas, escuras, foscas e opacas, como se em volta de seu corpo houvesse uma nuvem intensamente preta, e que a imagem do corpo fosse sim jogada no espelho, um espelho de luz.

Confesso que até tentei irrelevar o que me dizia, mas lembrei-me, ao me censurar que Dímitre não, ele nunca dizia coisas somente por dizer; e disso tive provas tantas vezes, mas ago-ra... naquele momento pude perceber que tudo o que conversamos e tudo o que ele me falou enquanto mesmo até eu não pude lhe fa-lar... tudo valeu muito menos do que aquilo que estava me dizendo a tanto tremer.

Ao ver sua imagem projetada ao espelho, Dimmy, embora estivesse com os olhos abertos e até estalados de incom-preensão e curiosidade, arregaladamente seus olhos se abrirem, seus cílios tocando o inferior das sobrancelhas, nas cavidades ocula-res; e então logo tudo se dissipava num vazio; a luz que desabava antes tão freneticamente em pleno seu olhar ganhava tanta lumino-sidade, que, involuntariamente os olhos dele se fechavam para se protegerem, e ao abri-los, Dimmy percebia que estava numa ambu-lância, com para-médicos desesperados, aplicando-lhe injeções e tu-bos aqui e ali, ou somente lhe segurando pelos braços e pernas, en-quanto não retomava o auto-controle, embora tentasse parar de tremer... tentava.

Fez uma pausa e respirou fundo novamente; pude sentir seus tremores mais fortes, mais desesperados e então ao sol-

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tar ar dos pulmões e me mostrar uma desilusão só pelo hálito febril, me contou com apenas uma frase e ainda me olhando nos olhos, que, da última vez em que o espelho se fez ao seu olhar, ele tentou porque tentou enxergar-se... mas Dímitre não se via, nem no tal es-pelho nem ao encostar o próprio dedo indicador direito na íris do olho esquerdo; e que só por não ter se visto temia o pior.

Dimmy largou ali minhas mãos, ainda tremia, mas sem coragem de me dizer o que seria este pior, abaixou o olhar e silenci-ou-se, mas eu, mesmo naquela situação, supus e acertei, por ser so-mente óbvio, o que era o dito como “pior”.

Era primavera e nessa região do Brasil as chuvas tor-renciais são de praxe ao fim de uma tarde ensolarada de dia quente e abafado, mas ainda era antes do almoço e quando o sol ameaçou tocar o pino extremo do céu, as nuvens se juntaram num mesmo instante e fizeram em torno de toda a nossa região um manto pesa-do, escuro e denso de tempestade.

Estávamos debaixo de uma cerejeira, e por ser pri-mavera a estação, o cheiro intenso das flores do fim do inverno ain-da dançava no ar, deliciava-o numa frescura gelada e doce... leve até mais do que o som de suas folhas derrubadas sobre aquele gra-mado de todos os lados, enorme, precisando ser aparado.

A tarde estava longe, a chuva... não, a chuva não: era uma tempestade que desabou sobre nós. Eu estava plantada numa cadeira de rodas, mais imóvel do que a árvore que estávamos embaixo, até a invejava – confesso –, pelo seu dançar, mexer e se remexer às curvas do vento, coisa que nem minhas pesadas vesti-mentas podiam fazer – que ridículo invejar uma árvore! –; e a chuva caía, eram gotas que machucavam, eu podia sentir elas quase me cortando, ardendo, aos rasgos, ao tocar meu rosto.