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Denise Del Vecchio 1 2 Tuna Dwek Denise Del Vecchio São Paulo, 2008 3 Coleção Aplauso Coordenador Geral Rubens Ewald Filho Governador José Serra 4 Mesmo assim, a atividade teatral só foi se desen- volver em território paulista muito lentamente, em que pese o Marquês de Pombal, ministro da coroa portuguesa no século XVIII, ter procurado estimular o teatro em todo o império luso, por considerá-lo muito importante para a educação e a formação das pessoas. Apresentação 5

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Denise Del Vecchio

Memórias da Lua

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Denise Del Vecchio

Memórias da Lua

Tuna Dwek

São Paulo, 2008

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4 Coleção Aplauso

Coordenador Geral Rubens Ewald Filho

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Diretor-presidente Hubert Alquéres

Governador José Serra

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Apresentação

A relação de São Paulo com as artes cênicas émuito antiga. Afinal, Anchieta, um dos funda-dores da capital, além de ser sacerdote e deexercer os ofícios de professor, médico e sapa-teiro, era também dramaturgo. As doze peçasteatrais de sua autoria – que seguiam a formados autos medievais – foram escritas em portu-guês e também em tupi, pois tinham a finali-dade de catequizar os indígenas e convertê-losao cristianismo.

Mesmo assim, a atividade teatral só foi se desen-volver em território paulista muito lentamente,em que pese o Marquês de Pombal, ministro dacoroa portuguesa no século XVIII, ter procuradoestimular o teatro em todo o império luso, porconsiderá-lo muito importante para a educaçãoe a formação das pessoas.

O grande salto foi dado somente no século XX,com a criação, em 1948, do TBC –Teatro Brasileirode Comédia, a primeira companhia profissionalpaulista. Em 1949, por sua vez, era inauguradaa Companhia Cinematográfica Vera Cruz, quemarcou época no cinema brasileiro, e, no ano

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seguinte, entrava no ar a primeira emissora detelevisão do Brasil e da América Latina: a TV Tupi.

Estava criado o ambiente propício para que oteatro, o cinema e a televisão prosperassementre nós, ampliando o campo de trabalho paraatores, dramaturgos, roteiristas, músicos e téc-nicos; multiplicando a cultura, a informação e oentretenimento para a população.

A Coleção Aplauso reúne depoimentos de genteque ajudou a escrever essa história. E que conti-nua a escrevê-la, no presente. Homens e mulhe-res que, contando a sua vida, contam também atrajetória de atividades da maior relevância paraa cultura brasileira. Pessoas que, numa lingua-gem simples e direta, como que dialogando comos leitores, revelam a sua experiência, o seu ta-lento, a sua criatividade.

Daí, certamente, uma das razões do sucesso,dessa Coleção, junto ao público. Daí, também,um dos motivos para o lançamento de uma edi-ção especial, voltada aos alunos da rede públicade ensino de São Paulo e encaminhada para 4mil bibliotecas escolares, estimulando o gostopela leitura para milhares de jovens, enrique-cendo sua cultura e visão de mundo.

José SerraGovernador do Estado de São Paulo

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Coleção Aplauso

O que lembro, tenho.Guimarães Rosa

A Coleção Aplauso, concebida pela ImprensaOficial, visa a resgatar a memória da culturanacional, biografando atores, atrizes e direto-res que compõem a cena brasileira nas áreas decinema, teatro e televisão. Foram selecionadosescritores com largo currículo em jornalismocultural, para esse trabalho em que a históriacênica e audiovisual brasileiras vem sendoreconstituída de maneira singular. Em entrevis-tas e encontros sucessivos estreita-se o contatoentre biógrafos e biografados. Arquivos de do-cumentos e imagens são pesquisados, e o uni-verso que se reconstitui a partir do cotidiano edo fazer dessas personalidades permite recons-truir sua trajetória.

A decisão sobre o depoimento de cada um naprimeira pessoa mantém o aspecto de tradiçãooral dos relatos, tornando o texto coloquial, comose o biografado falasse diretamente ao leitor.

Um aspecto importante da Coleção é que os resul-tados obtidos ultrapassam simples registros bio-gráficos, revelando ao leitor facetas que tambémcaracterizam o artista e seu ofício. Biógrafo ebiografado se colocaram em reflexões que se

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estenderam sobre a formação intelectual e ideo-lógica do artista, contextualizada naquilo que ca-racteriza e situa também a história brasileira, notempo e espaço da narrativa de cada biografado.

São inúmeros os artistas a apontarem o impor-tante papel que tiveram os livros e a leitura emsua vida, deixando transparecer a firmeza dopensamento crítico ou denunciando precon-ceitos seculares que atrasaram e continuam atra-sando nosso País. Muitos mostraram a impor-tância para a sua formação terem atuado tantono teatro, quanto no cinema e na televisão,adquirindo, portanto, linguagens diferenciadas– analisando-as com suas particularidades.

Muitos títulos extrapolam os simples relatos bio-gráficos, explorando – quando o artista permite– seu universo íntimo e psicológico, revelandosua autodeterminação e quase nunca a casuali-dade por ter se tornado artista – como se carre-gasse consigo, desde sempre, seus princípios, suavocação, a complexidade dos personagens queabrigou ao longo de sua carreira.

São livros que, além de atrair o grande público,interessarão igualmente a nossos estudantes, poisna Coleção Aplauso foi discutido o intrincado pro-cesso de criação que concerne ao teatro, ao cine-ma e à televisão. Desenvolveram-se temas como a

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construção dos personagens interpretados, bemcomo a análise, a história, a importância e a atua-lidade de alguns dos personagens vividos pelosbiografados. Foram examinados o relacionamentodos artistas com seus pares e diretores, os proces-sos e as possibilidades de correção de erros no exer-cício do teatro e do cinema, a diferença entre essesveículos e a expressão de suas linguagens.

Gostaria de ressaltar o projeto gráfico da Coleçãoe a opção por seu formato de bolso, a facilidadepara ler esses livros em qualquer parte, a clareza eo corpo de suas fontes, a iconografia farta e o regis-tro cronológico completo de cada biografado.

Se algum fator específico conduziu ao sucessoda Coleção Aplauso – e merece ser destacado –é o interesse do leitor brasileiro em conhecer opercurso cultural de seu país.

À Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir umbom time de jornalistas, organizar com eficácia apesquisa documental e iconográfica e contar coma disposição, o entusiasmo e o empenho de nossosartistas, diretores, dramaturgos e roteiristas. Coma Coleção em curso, configurada e com identidadeconsolidada, constatamos que os sortilégios queenvolvem palco, cenas, coxias, sets de filmagem,cenários, câmeras, textos, imagens e palavras con-jugados, e todos esses seres especiais – que nesse

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universo transitam, transmutam e vivem – tam-bém nos tomaram e sensibilizaram. É esse mate-rial cultural e de reflexão, que pode ser agoracompartilhado com os leitores de todo o Brasil.

Hubert AlquéresDiretor-presidente da

Imprensa Oficial do Estado da São Paulo

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11Para Yeda e Aurelio Michiles, meus amadosafilhados, Ruth e Milton Hatoum que tão bemconhecem a coragem.

Para que Antonio, João e Gabriel dêem prosse-guimento ao que seus pais iniciaram.

Agradeço a

Alcides Nogueira – eternamente –, Analu Ribeiro,Cláudio Erlichman, Dani Ferrera, Denise Godoy,Edison Paes de Melo, Evelyn Baruque, Luiz AlbertoSantana Zakir, Simone Yunes, Vilmar Ledesma.

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Introdução

Cai o pano. Corre o ator ao camarim despir-sede sua maquiagem e ainda povoado das emo-ções vivenciadas pelo personagem, vai encon-trando sua unidade. Entre a cortina que se abree os aplausos finais da platéia, vidas se cruzam,amores, embates, encontros e conflitos tomamcorpo. Os refletores que aquecem a imaginaçãotrazem aos nossos olhos fragmentos de nós mes-mos e de nossas existências cotidianas.

O que chamamos de momento ideal é certa-mente aquele em que se diluem todos os per-calços tornando possível a realização de um de-sejo. Muitas vezes, este livro nos pareceu comoque encantado, tamanhos os adiamentos emudanças de planos aos quais ele se teve quesubmeter. Assim, tivemos que esperar, DeniseDel Vecchio e eu, alguns meses desde nossoprimeiro contato, para iniciarmos nossos encon-tros e vermos materializadas as condições maisfavoráveis para o balanço de vida gerado pelaproposta da Coleção Aplauso.

Atrizes que somos, estávamos continuamente àsvoltas com o trabalho. Desta vez, faríamos par-te da mesma obra, a minissérie JK, de Maria Ade-laide Amaral e Alcides Nogueira para a RedeGlobo de Televisão, gravada no Rio de Janeiro.

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Enquanto eu gravava minha participação no Rio,Denise decorava suas falas em São Paulo e dedi-cava-se a profundas pesquisas sobre a adorávelNaná, irmã do presidente Juscelino Kubitschek,sua personagem na terceira fase da minissérie.Tão logo terminara minhas gravações, ela come-çava as dela e nosso ritmo de trabalho nos impos-sibilitaria iniciar o mergulho biográfico.

Deixamos seguir o fluxo da vida, única soluçãopossível para que se descortinasse o espaço neces-sário à realização do livro. Pouco a pouco, conse-guimos organizar nossas agendas e nos dedicarapaixonadamente à feitura da obra. O processode gestação vem acompanhado de saborosascoincidências talvez porque nos sentíamos aguça-damente receptivas a tudo o que o acaso nospudesse proporcionar. Num de nossos encontros,Denise contou sua história artística com o ator ediretor Carlos Zara, saudoso colega de trabalho eamigo. Naquela noite, encontraríamos a esplên-dida atriz Eva Wilma, grande amor de Zara.

No encontro seguinte, falaríamos do diretorMarcio Aurelio e da atriz Maria Fernanda Can-dido. No mesmo dia em que inscrevia seusnomes, eu os encontraria numa estréia teatral.Era como ver personagens de um livro tomaremvida, saltarem das palavras para a realidade,caindo no colo de nosso imaginário.

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Denise Del Vecchio é desses exemplos raros epreciosos de coerência entre a vida e a arte. Aves-sa a qualquer situação capaz de tolher a liber-dade humana, Denise sempre que possível op-tou por personagens de forte impacto, libertáriase comprometidas com alguma luta interior. De-safiando limites, existências angustiadas ou en-frentando inimigos declarados como a censurae a repressão impostas pela de tão triste memó-ria ditadura militar, Denise assumiu os riscosindissociáveis da consciência coletiva que reina-va no universo teatral nas décadas de 60 e 70.

Quis mais uma coincidência que, para a Coleção,eu tivesse a honra de compor mais um livro sobreuma artista de obstinado e perseverante talento,consistente formação ideológica e sólidos princí-pios éticos. Alcides Nogueira e Maria AdelaideAmaral, anteriormente biografados, desbrava-riam um caminho em que falar de resistênciaera algo orgânico e inevitável.

A criação já é em si, um inescrutável universo.Aliado ao fato de que, muitas vezes, esquece-mos o que vivemos, o processo de construçãodeste livro teve como pano de fundo a históriado teatro brasileiro das últimas décadas. Do len-dário e revolucionário Teatro de Arena, deAugusto Boal, à TV Globo, passando pela extintaTV Tupi, pela TV Record e a pela TV Bandeiran-

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tes, Denise teve a oportunidade, ao exercer seutalento, de construir uma história indelével nasartes cênicas do país, e ainda criou um filho,André Frateschi, ator e musicista, com quem jádividiu o palco.

Queríamos prolongar o tempo de feitura do livrotamanha a atmosfera lúdica, sensível, transparen-te e profundamente prazerosa que havíamos cria-do entre nós. As singelezas da memória e as arma-dilhas da psique, o riso frouxo e algumas teimosaslágrimas, a emoção crescente e a história pessoalgeravam a bola de neve que desvenda o oculto.Um novelo de lembranças ávidas por existir.

Sentíamos ansiosa saudade, uma efervescênciainterior quando tínhamos que nos ausentar dosrelatos e pouco a pouco, ainda que inesgotávelo túnel da memória, era preciso delimitar, dese-nhar e definir não um ponto final, mas as reti-cências de um capítulo inacabado que prometeainda incontáveis emoções.

De conversa em conversa, me voltariam à memó-ria as palavras de Tadeusz Kantor, o extraordi-nário encenador polonês que transformou ocenário teatral europeu de modo irreversível. Asinesquecíveis montagens de Kantor, que tive oprivilégio de ver, me remetiam tal o relato deDenise Del Vecchio ao conceito de liberdade

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como bem supremo, como objetivo e mote devida. Dizia ele:

A liberdade da arte não é uma dádiva da polí-tica ou do poder

Não é das mãos do poder que a arte obtémsua liberdade

A liberdade existe em nósdevemos lutar pela liberdade

sozinhoscom nós mesmos

em nosso interior mais íntimona solidão

e no sofrimentoÉ a matéria mais delicada

da esfera do espírito.

Uma vez mais eu podia vivenciar um círculo quese fecha, uma vez que este livro não se podedissociar do dramaturgo e escritor Alcides No-gueira, nosso amigo comum, para quem Deniseé um ícone e superlativa atriz. Da mesma formaque a finalização desta obra deu-se num diaensolarado de outono, em que Sua Santidade,o 14o Dalai Lama Tensyn Gyatso proferia, em SãoPaulo, sua palestra sobre o poder da compaixão.

Ao escrever, constato a cada livro, que a vida édecididamente mais rica e criativa do que aficção e por isso já me emociona. Tal como a

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Lua de Cetim, de Alcides Nogueira, espetáculodirigido por Marcio Aurelio que, rendeu à atrizum Prêmio Molière, a lua cheia cria um círculoperfeito, harmônico e hegemônico.

O céu é pontilhado de estrelas e de tanto emtanto algumas nos caem no colo, sendo que umadelas se chama Denise, não por acaso, em grego,a deusa do prazer.

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Para meu pai, minha mãe, meu filho e meuamigo Alcides.

Agradeço a

Ney por ter aceitado dividir comigo luz e sombratodos esses anos.

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Capítulo IAeromoça

Para quem sonhava na infância e no início daadolescência em se tornar aeromoça para sairdo chão e ter uma vida diferente daquela casei-ra, ser atriz não deixa de ser a possibilidade dealçar vôos. Pela própria possibilidade de seroutras pessoas, são vôos ainda que dentro deuma técnica, de uma consciência, por outrasvidas e personalidades. Como que querendo iralém do que eu via, do que me era dado.

Aos 13 anos, meu desejo de atuar se havia acen-tuado, mas me achava velha demais uma vez quepor influência de minha mãe, para ser atriz euteria iniciar a carreira com a idade de ShirleyTemple. Assistíamos a todos os seus filmes, masa menina-prodígio já era profissional desde os 3anos de idade e eu, com 10 anos a mais, de fatosentia que já era tarde para começar. Assim, con-versando com uma amiga no Ginásio, comenteique nunca tinha andado de avião, que achavalindos os comerciais com aeromoças vestindoaquela roupinha, pegar suas coisas e sair voan-do. Era mágico e comecei a alimentar aquelesonho. Mas minha mãe se indignava e não secansava de dizer: Imagine, isso é trabalho demoça que não presta.

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Sempre tive profundo respeito pelo que meuspais diziam porque minha história de vida, denascença, é trabalho. Todas as casas de infânciaonde morei eram acopladas às oficinas de traba-lho, e não independentes como na maioria doscasos, em que meus amigos moravam numa casae os pais trabalhavam fora. Nossa primeira mo-rada, na Rua Wandenkolk, no bairro da Mooca,era a casa de minha querida tia e madrinhaRaquel. Foi lá que passei anos idílicos.

Nasci na Maternidade de São Paulo e logo melevaram para casa. Havia duas dependências. Naparte do fundo, um quarto e cozinha onde mora-vam meus pais e eu, e no corpo principal da casamoravam meus tios. Havia no corredor da casa,a oficina de roupas de couro e luvas de amiantode meus tios, pais de Vicente e Gilberto. Se eupensar em paraíso, esse período é o meu Jardimdo Éden. Minha primeira infância, com meuprimo Vicente, que anos mais tarde morreriaassassinado num estúpido assalto.

Eu era uma verdadeira moleca. Vicente, por sermais velho, tinha os meninos da rua comoamigos, jogava bolinha de gude, batia bafo, euaprendi a bater bafo, com aquela mãozinha dele.Eu queria fazer xixi de pé, porque o meu primofazia xixi de pé e eu queria ser como ele.

Com a mãe, D. Jurema

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Os detalhes dessa época permanecem nítidos emmim e fui realmente muito feliz. Muito do queme aconteceu até os cinco anos de idade perma-nece vivo na memória, como por exemplo, ospedaços de queijo parmesão que eu esquentavacom o Vicente no fogão, espetando o garfo que,quente, acabava inevitavelmente queimando aboca. Esse primo era meu grande amigo, atéminha adolescência, foi o irmão mais velho quenão tive.

Como não havia televisão em casa, eu ia assistirna casa da vizinha. Um dia, minha tia comprouum aparelho e ficávamos eu e meu primo, para-dos vendo aquela roda com o índio no meio,símbolo da TV Tupi. Nós adorávamos olharaquilo com a TV fora do ar, esperando o desenhoanimado do Pica-Pau. Foi com o desenho do Pica-Pau que eu conheci a televisão.

Quando minha mãe ficou grávida outra vez e teveminha irmã Alzira, em 1954, já não cabíamos na-quele espaço. Nos mudamos para a Rua PadreAdelino, no Belém. Meu pai tinha uma joalheria–relojoaria na parte da frente da casa e nós morá-vamos na parte de trás. Era tudo muito simples,eu não tinha quarto, dormia na sala, num sofá-cama, minha irmã, bebê, dormia no quarto commeus pais. Ali ficava ouvindo os barulhinhos datelevisão a que os adultos assistiam até tarde.

Fantasiada de russa, aos 9 meses

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Lembrança de seu primeiro aniversário

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Devia ser umas dez horas da noite, o que paramim era muito tarde, e eu ia me embalando comaquele som até dormir.

Essa minha infância na zona leste influenciariatoda a minha vida profissional e pessoal. Espe-cialmente minha formação ideológica porquemeu pai sempre foi um homem de esquerda.Um verdadeiro socialista que fez questão detransmitir valores de igualdade e democraciapara as filhas. Minha mãe não compartilhava omesmo entusiasmo, pensava na estabilidade dafamília em primeiro lugar e tinha aspirações deascensão social. Já meu pai nunca quis ter casaprópria, foi uma guerra para que minha mãe oconvencesse a comprar uma. Para ele, proprie-dade era uma bobagem. Para que ser dono, serproprietário? E ela preocupada com o dinheirodo aluguel. Felizmente o bom senso femininovenceu. Eu cresci entre essas idéias.

Não conheci meu avô paterno. Ele morreu quan-do papai ainda era muito moço, mas sei que eraum homem que gostava muito de ópera, demúsica erudita.

Meu avô era nascido no Brasil, com origem nosul da Itália, e minha avó, italiana de Roma, nãogostava que a chamassem de italiana. Ela gosta-va de dizer que era daqui, que era brasileira e

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não tinha nada a ver com a Itália, com aquelesotaque carregadíssimo. Tinha um imenso orgu-lho de ser brasileira.

Em casa, prolongava-se esse orgulho, nada decolonizações, não se podia tomar Coca-Cola,meu pai não comprava. Refrigerante, se quises-se, era Guaraná, e da Antárctica. Não entravanada que fosse americano. Qualquer coisa quefosse norte-americana lhe causava horror. Noentanto, é interessante porque nos anos 50 noBrasil, com o pós-guerra na Europa, toda ainfluência americana se fazia sentir através docinema. Curiosamente, tanto ele quanto minhamãe adoravam o cinema americano. Ele nãogostava de musicais, minha mãe os amava. Emcompensação, ele não perdia um clássico.

A ida ao cinema era sempre um ritual. Eles iamaos sábados, quando me deixavam na casa demeus avós maternos, na Rua Caetano Pinto.Meu avô sírio e minha avó portuguesa. Umacombinação explosiva! Era a ocasião que meuspais tinham para ficar a sós, a noite do cinemado pai e da mãe. Mamãe me levava às vezes àtarde, porque trabalhava em casa como pes-pontadeira de sapatos finos. Operária qualifi-cada, tinha uma máquina de costura especialpara sapatos.

Fantasiada de espanhola

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Montava o sapato e costurava naquela máquinatodos os dias ouvindo radionovelas, que eu acom-panhava e adorava. Assídua ouvinte de rádio aopé da máquina de minha mãe, cantava todas ascanções da época. Conhecia tudo de Nelson Gon-çalves, Orlando Silva, Ângela Maria e os boleros.Como trabalhava por empreitada, muitas vezespegava 50 pares para montar e trabalhava semparar durante 4 dias. No quinto dia, tirava umatarde de folga e íamos juntas ao cinema.

Sempre muito vaidosa, ela se arrumava muito.Naquela época, uma operária especializada erabem remunerada o que lhe permitia ter roupaslindíssimas como tailleurs feitos por sua dedicadacostureira. Além disso, tinha sempre belos sapa-tos e bolsas, comprados a baixo preço nas fábri-cas para as quais prestava serviço. Eu também iatoda arrumadinha com vestidos que ela mesmacosturava. Era uma festa.

Há uma história muito saborosa que mostra oquanto não gosto de mentir. Eu tinha 3 anos,quando estreou no cinema A Viúva Alegre, fil-me de 1952 dirigido por Curtis Bernhardt comLana Turner e Fernando Lamas, que ela queriame levar pra ver. Como o filme era livre paracrianças acima dos 5 anos de idade, minha mãeficou me dizendo: Olha, quando chegar lá, vocêfala para o homem que você tem 5 anos, você

Vestida de bailarina

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diz que você tem 5 anos. Lá fui eu martelandoos cinco anos na cabeça.

Quando chegamos ao cinema, o bilheteiro olhoupara mim e perguntou minha idade. Eu disse quetinha 5 mostrei a mão segurando mostrando 3dedinhos. Só por isso ele me deixou entrar. AssistiA Viúva Alegre e nunca esqueci a música.

Quando íamos passear no litoral, não deixáva-mos de assistir ao que estivesse passando. A pro-gramação da televisão acabava cedo nos anos50. Hoje ela fica no ar vinte quatro horas seminterrupção nas emissoras a cabo. O cinema foidefinitivamente a grande opção de lazer eencantamento de muitas gerações.

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Capítulo IIA Lua da Minha Infância

Alzira, minha amada irmã, é quatro anos maisjovem do que eu. Na infância parece uma grandediferença e, na medida em que se vai crescen-do, ela passa a ser quase que imperceptível. Aponto de hoje termos uma comunicação tão pro-funda que nos entendemos com um olhar. En-tretanto, Alzira era um bebê quando fomosmorar atrás da relojoaria do papai, numa ruamuito movimentada e acabei ficando longe domeu primo Vicente. Era como perdê-lo, de tãolonge que me senti.

Fiquei muito sozinha nesse período e durantedois ou três anos não conseguia ter amigas. Nãogostei de lá. Eu tinha apenas uma amiga, lem-brança recorrente por causa de Lua de Cetim,de Alcides Nogueira, espetáculo definitivo emminha vida, que me faria resgatar detalhespreciosos de uma infância que eu jamais queroapagar de mim.

Essa amiga era filha do alfaiate. Os adultos di-ziam que ela era bobinha, diferente das outrascrianças, mas eu a adorava, porque ela eraquieta, assim como eu, éramos quietas juntas.Íamos brincar nos locais de trabalho, era engra-çado, onde o pai dela costurava, as duas embaixo

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da mesa do alfaiate. Ele ficava recortando asroupas e nós duas, sentadas no chão, catáva-mos os retalhinhos de pano para brincar e fazerbonecos e quebra-cabeça.

Tudo isso voltaria com a Candelária, minhapersonagem em Lua de Cetim. Esse resgate damemória foi fundamental e para alguém quesabe escrever com a delicadeza do Alcides, tudopode se transformar em material dramatúrgico.Com ele, pude visualizar aquele contexto, ainfância provinciana de São Paulo, dos anos 50,inteira retratada em Lua de Cetim. A Zona Leste,aquela gente simples vivendo de pequenosnegócios, poder brincar na rua sem medo. Atra-vés da relação da mãe com seu filho no texto,voltava também aquele universo impregnadoem mim. Meu encontro com o Alcides nessa peçafoi impressionante.

Nosso primeiro encontro casual, se é que o acasoexiste, deu-se na casa do grande ator RenatoBorghi. Foi um convite para a leitura de um textochamado Lua de Cetim. Como sempre, atoresbuscando textos para montar. Estávamos Borghi,Elias Andreato, Alcides Nogueira, Marcio Aurelioe eu. Quando terminamos a leitura, fiquei com-pletamente embasbacada. Não há outra palavra.Mas eu me achava jovem demais para o papel,a personagem teria uma trajetória em que pre-

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cisaria envelhecer muito, e o o Borghi tambémse achava inadequado para o papel. Entretan-to, Marcio Aurelio, apaixonado pelo texto, viumeu estado de identificação e emoção, me con-vidou para fazer a Candelária, chamou UmbertoMagnani para interpretar meu marido e EliasAndreato para ser Junior, meu filho. Foi o quede mais perfeito podia acontecer.

Em sua primeira comunhão, aos 7 anos

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Com seus pais, Nelson e Jurema

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Capítulo IIIInadequada e Rebelde

Parece que esse senso de total inadequaçãovinha me perseguindo desde a infância. Estouconvencida de que esse sentimento gerou muitosatores. Na escola, por exemplo, me sentia umpeixe fora d’água. Me achava feia, sem graça,tinha medo de responder pergunta em voz alta,mesmo que soubesse a resposta. Se me chamas-sem para uma chamada oral eu gelava da cabeçaaos pés, tinha pânico. Meu pai me dizia sempreque era melhor não ser a primeira, e sim ficarno meio, ou seja, é o avesso de tudo o que seouve atualmente. Acho que era uma forma deme proteger porque, para ele, quem não se des-taca demais corre menos riscos. Talvez seja algorelacionado com esse senso de igualdade queele tinha. O fato é que foi difícil superar isso,porque isso te deixa na metade, na mediocri-dade, no meio.

Eu adorava ler. Aos 7 anos, ganhei do meu paiuma coleção de livros de Monteiro Lobato. Eram17 livros e eu não queria mais sair de casa.Enquanto não terminei os livros todos, eu só saíapara ir para a Escola e voltava correndo para lere desvendar aquele universo. Como eu sabia lerdesde os cinco anos e meio, aos 7 eu já lia bem edos 7 aos 10 eu lia, relia, voltava para os meus

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capítulos prediletos. Descobri a Mitologia Gre-ga e até mesmo o próprio teatro através da lite-ratura. Monteiro Lobato foi tão importante emminha vida que eu não só não achava problemaalgum em ficar em casa, como não me lembrode ter tido alguma outra amiga além da filhado alfaiate. Eu era um bichinho mesmo.

Eu estudava numa escola da prefeitura que erade madeira verdinha, Do Hipódromo EscolasReunidas. Naquela época o material não ficavacom os alunos. Havia um armário onde tudo fica-va trancado, lápis de cor, cadernos de colorir eos livros todos. Eu gostava de lá, mas havia umaprofessora péssima no 4º ano primário. Era umamulher horrível que um dia me tratou mal, eulevantei e disse que queria ir embora, que naque-la classe eu não ficaria mais. Eu gritava: Podeabrir meu armário e me dar as minhas coisas,porque eu vou embora. O engraçado é que essaminha rebeldia que nunca aparecia, de repentesurge do nada e se torna definitiva.

A professora, atônita, abriu o armário, pegueimeus livros, meus lápis de cor, fui andando, por-que se ia a pé para a escola, voltei para casaandando e ao chegar, minha mãe estava decama, adoentada e eu disse que nunca mais iriaàquela escola, que tinha brigado com a profes-sora e não queria mais olhar para a cara dela.

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Não havia jeito de me demover daquilo. Ela teveque arranjar outra vaga para mim, no meio doano, e fui para o grupo escolar Amadeu Amaral.As crianças diziam: Entra burro e sai animal.

Era um grupo escolar bastante grande no largoSão José do Belém onde achei que teria minhaprimeira experiência de teatro. Íamos montar aCinderela, para a festa de encerramento de ano,e eu ia fazer uma das fadas. Fiquei felicíssima como papel. Minha mãe fez o chapéu em cone comcartolina e um véu pendurado na ponta, fez aroupa, os adereços, quando dois dias antes daestréia, a diretora disse que eu trocaria de papel,que outra menina faria a fada. Eu disse que não,que já tinha até a roupa e queria fazer a fada dequalquer maneira. Irredutíveis as duas, disse queentão não faria nenhum dos papéis, virei as costase até hoje lembro da minha solidão naquelecorredor, indo embora. Não fiz a peça, cheguei aensaiar, mas não me apresentei. O figurino foipro lixo. Foi uma frustração horrível. Mas meensinou a não desistir dos meus direitos. Nuncamais quis encarar aquele corredor vazio.

Ao mesmo tempo era visível que eu já tinhaprincípios. Depois de adulta, já profissional, vol-tei a fazer a mesma cena, na extinta TV Tupi,quando fui convidada para fazer minha terceiranovela. Eu tinha acabado de fazer um papel

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maravilhoso dado pelo Carlos Zara e tinha umbom contrato na televisão, quando me oferece-ram um papel completamente insosso.

Na novela anterior, Um Dia, o Amor, eu faziapar com o Zara. Eu era mais jovem do que ele,iniciante, e nosso entendimento foi maravilhoso.Carlos Zara é uma pessoa que eu amo e por quemtenho imensa admiração e saudade. Um amigogeneroso e profissional sábio e competente emtodas as funções que desempenhou. Depois danovela Ídolo de Pano, de Teixeira Filho, ondecontracenava com Dennis Carvalho e Tony Ra-mos – logo depois contratados pela TV Globo –,foi com Zara que fiz esse segundo trabalho natelevisão, numa feliz e inesquecível parceria.

Já em plena crise da TV Tupi, por volta de 1978,houve uma mudança na direção da emissora eme lembro que um novo diretor me entregou10 capítulos de uma novela, dizendo que eu fariaparte de uma turma de jovens. Levei os capítu-los para casa e constatei ser uma figuração, nãohavia personagem. Devolvi os 10 capítulos ecomuniquei que não queria fazer. A respostadele foi óbvia, eu era obrigada a fazer por forçade contrato. Coloquei os capítulos na mesapedindo desculpas e que ele fizesse o que quises-se com meu contrato. Fui embora e fiquei nageladeira, como se diz quando uma emissora não

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escala um ator durante um certo tempo, até ter-minar o contrato. Quando saí da sala não sentia solidão do corredor do grupo escolar, mas oorgulho de ter lutado pelo que era meu direito,mesmo com medo do desemprego.

Sempre paguei pelas minhas atitudes e não mearrependo quando elas envolvem princípios. Souuma pessoa muito maleável, tenho jogo de cin-tura, aceito muita coisa, mas quando chega numponto em que eu enfrento e digo que não que-ro, e não vou fazer, é porque realmente ultra-passou meu limite.

Na minha família ninguém era artista. Só haviaa Tia Inês que tocava um pouco de piano, e sóna sala da casa da vovó. Fui a pioneira de umafamília conservadora a penetrar nesse universo,sendo seguida depois por minha irmã, minhasobrinha, meu filho. Fui também a primeira pes-soa que se divorciou na família, de todos os meusprimos, nunca ninguém tinha se separado. Fui aprimeira que se tornou artista e senti bastanteessa não-aceitação. Tive que enfrentar estigmase romper com as barreiras da classe média baixapaulista imigrante, em função de ser verdadeira.

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Capítulo IVDepois de Cacilda, Nunca Mais Fui a Mesma

Assim, aos 15 anos entrei em contato com umdivisor de águas em minha vida. Eu freqüentavauma escola maravilhosa, o Instituto de EducaçãoProfessor Alberto Conte, em Santo Amaro. Osprofessores eram extraordinários. A professorade Filosofia, o professor de Geografia, o queridoprofessor Gáudio, a professora de História, Elesdespertaram em mim o fascínio por aprender.

O professor Gáudio não dava aula de Geogra-fia, ele nos levava ao Teatro. Ele era até conhe-cido na classe teatral paulista naquela épocaporque lotava as matinês dos espetáculos comas turmas dele. Ele adorava aquele mundo, acha-va que tudo estava contido no teatro. De queadiantava ficar ensinando mapas, estatística,rios, dizia ele, se a vida era mais ampla do queisso? O que ele fazia era discutir a Geografiahumana, a partir dos textos teatrais.

A primeira vez que fui ao teatro, em 1966, leva-da por ele, assisti Morte e Vida Severina, de JoãoCabral de Mello Neto, com músicas de ChicoBuarque e direção primorosa de Silnei Siqueira.O espetáculo tinha acabado de ganhar o festivalde teatro de Nancy, na França e estava no Tea-tro Municipal de São Paulo.

Com os pais, na formatura do ginásio, aos 16 anos

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Fiquei extasiada com tudo aquilo, me pergun-tava o que era, eu nunca tinha visto nada pare-cido, nunca tinha entrado num teatro. Derepente eu estava vendo aquela obra-prima. Foiuma revelação.

Com o mesmo professor, estávamos na sessão deEsperando Godot, de Samuel Beckett, com dire-ção de Flávio Rangel na qual Cacilda Becker so-freu o aneurisma cerebral que a levaria à morte.Era de tarde, fomos de ônibus comum, não sealugava ônibus como hoje em dia. Estávamos noteatro e me lembro perfeitamente do WalmorChagas, chegando no intervalo e avisando quenão haveria o segundo ato, uma vez que a atrizCacilda Becker tinha passado mal. Os ingressosforam devolvidos para o dia em que ela estivessebem novamente. Não tive, no momento, a dimen-são do que estava acontecendo, e até hoje la-mento por não ter guardado aquele ingresso.

Essa experiência fortíssima que o teatro me deue a maneira como Cacilda viria a morrer depoisde permanecer 45 dias em coma, me traduzirama noção de que o teatro é uma coisa imprevi-sível como a vida. É o imponderável onde tudopode acontecer.

Esse sentimento voltou com muita precisão quan-do visitei a artista plástica Mira Schendel. Quando

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a conheci, fomos eu e Celso Frateschi, meu maridona época, à sua casa, onde ela nos mostrou ostrabalhos feitos em papel de arroz e disse algoque jamais me saiu da cabeça. Naquele dia ela fezuma síntese de toda a sua obra dizendo: Eu façoneste papel para acabar mesmo. Não é parapermanecer. Isso, você está olhando agora, daquia pouco não existe mais. Eu gosto de fazer umasesculturas em papel que eu monto na própria salade exposições porque quando acaba eu digo aofaxineiro: ‘Pode varrer’. Porque o que importa é oinstante em que a obra está sendo concebida, estásendo desfrutada.

A experiência vivida naquela tarde com CacildaBecker despertou algo irreversível em mim. Euera jovem demais para saber que existe algo quechamam de vocação e que, provavelmente, aminha havia despertado com a visão daquelamulher arrebatadora no palco e a situação-limiteque o teatro nos tinha apresentado. Devo issoao professor Gáudio, a todos os espetáculos aque ele nos levou.

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Capítulo VA Bravura Secundarista Não bastasse sua nobre missão de nos levar aoteatro e despertar em nós o encantamento, oprofessor Gáudio nos fazia apresentar os traba-lhos acadêmicos dramatizando os temas. Ele nãoqueria trabalho escrito, e sim que achássemosuma maneira de apresentar algo no palco doteatro da escola. Era uma turma muito criativaque inventava cenas e mais cenas. A professorade Filosofia também queria que se fizessem ostrabalhos de Filosofia de forma dramatizada eeu me lembro de uns lençóis pintados com letrasgregas onde fizemos os Diálogos de Platão. Eles revolucionaram tanto o modo de ensinarque o professor Gáudio convenceu a diretoriada escola a chamar Fernando Muralha, diretorde teatro, que escolheu montar alguns poemasde Beltolt Brecht. Foi aí que eu entrei em contatocom a obra de Brecht. Isso em 1965, 1966. Embora o regime militar fosse endurecer violen-tamente após a promulgação do Ato Institu-cional nº5 em 13 de dezembro de 1968, tudoisso aconteceria depois do golpe militar de 31de março de 1964, o que significa que aquelesprofessores tinham uma coragem inusitada euma atitude que eu chamaria de revolucionária.

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Era maravilhoso para nós porque a professorade Filosofia nos levava para sua casa e nos davapara ler as obras de Jean-Paul Sartre. Soube maistarde, quando já tinha saído do colégio, que osprofessores haviam sido demitidos, o colégio setornou um horror. Todo o movimento estudan-til do qual eu participei foi nesse colégio, comesses professores. E ainda contava com o apoio do meu pai. Eletinha mudado de profissão e a cantina da escola,assim como o bar na frente da escola, era dele.Quando havia alguma passeata, ele juntava umsaco de rolhas para jogar nos cascos do cavalo.Eu participava das passeatas no centro da cida-de como secundarista, sem muita organização,nunca fui liderança de nada. Eu tinha a consciência do que a juventudepermite. Não tinha a real consciência do perigo,e sim a da maravilha que era sair e combater aopressão. Inesquecível foi assistir a Os Fuzis daSra. Carrar, de Brecht com direção de Flávio Im-pério, montagem do Tusp, sendo que o estudan-te Alexandre Vanucchi Leme, já tinha sido mor-to pela Polícia Militar, e tínhamos visto sua ca-misa ensangüentada. Cada ida teatro era umamanifestação. Voltávamos tomados por um de-sejo irrefreável de liberdade.

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E tudo isso ainda no colégio. Os professores deFísica, Biologia, Francês eram todos militantes,democratas. Então, pegaram aquela turma ederam um ar de instrução. Através da Educaçãonos ensinaram a lutar pela democracia. No meucaso, direcionei esse anseio para o teatro. Comecei a participar do grêmio da escola nodepartamento cultural. Os jornalistas SérgioGomes e Paulo Markun eram de lá. Sérgio eraum dos editores de O Boré, nosso jornal internoe lá organizávamos ciclos de cinema. Assim, vios filmes de Luis Buñuel, Ingmar Bergman e inú-meros clássicos. Apesar de tudo, continuava muito tímida e minhamãe se incomodava com isso. Ela esperava queeu fosse mais extrovertida, como ela talvez. Eunão tinha nem namorado, demorei a namorar,não me interessava por ninguém. Na verdade, eutinha medo da rejeição, pois, não me sentindobonita, achava que ninguém iria sequer olharpara mim, o que também a incomodava.

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Capítulo VISituações-limite

O fato é que, nesses anos em que cursava o CursoClássico, meu grande interesse era estudar.Comecei a freqüentar um curso no jornal Folhade S. Paulo, sobre teatro. Estudava História doTeatro, Direção Teatral, havia professores inte-ressantíssimos, mas a questão emocional persis-tia. Acho que essa questão da auto-estima, desentir-me sempre inadequada, essa solidãointrínseca, só consegui enfrentar realmente notrabalho. O teatro me ajudou muito a superarcoisas dificílimas. Entretanto, existe um momen-to na vida em que grandes crises acontecem porquestões externas e detonam um processo dedepressão embutido.

Tive uma primeira crise quando ainda trabalhavana TV Tupi, e vivia uma separação conjugal. Eu,que sempre refutara a questão da psicanálise etinha até certo preconceito, me deparei comuma situação em que precisaria de ajuda profis-sional. Me dei conta disso um dia em que eusimplesmente estava numa rua, no bairro do Su-maré e me perdi. Saí da TV Tupi e perdi o rumo.Nesse dia, sem saber o que fazer, um amigo pas-sou por mim. Acho que uma mão divina o fezpassar por lá. Ele me levou imediatamente aoconsultório de um psicólogo, lá perto.

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Fui melhorando, e descobrindo o poder das pala-vras no processo de autoconhecimento.

No início de 1998, eu participava, com o queridoOthon Bastos e Laerte Morrone, de O Desafio deElias, uma minissérie bíblica na TV Record, e maisuma vez a coisa me pegou. Felizmente, tinha aminissérie para gravar. Chegava ao estúdio arra-sada e vestia aqueles figurinos bíblicos lindos daLeda Senise, fazia calor, o estúdio não tinha ar-condicionado, mas nada disso me incomodava, eugravava, me concentrava, convivia com atores eamigos maravilhosos, e aquilo foi muito impor-tante para mim. O trabalho sempre me salva, nãopor ser a arte de representar, mas por ser trabalhoe eu gostar de fazê-lo. Se gostasse de Medicina,tenho certeza que seria o mesmo. Nessa ocasião outra grande amiga me ajudoutambém, Riwka Schwarc, produtora teatral, fale-cida, eficientíssima e cheia de vigor. Eu a conhe-cia desde a montagem de Feliz Ano Velho, nosanos 80. Éramos amigas, mas nos víamos muitopouco. Ela gostava de me telefonar às vezes paracontar piadas. Num desses telefonemas ela per-cebeu que eu não estava bem e propôs que nosencontrássemos. Fomos ao cinema, conversamose ela fez a ponte com uma profissional exemplare pessoa maravilhosa, que sem me conhecer tele-fonou para minha casa, em pleno Carnaval, e se

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colocou à minha disposição para que eu a cha-masse caso necessário. Esse encontro foi umdivisor de águas e, a partir daí, fui encontrandoequilíbrio e crescimento pessoal.

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Com Alcides Nogueira

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Capítulo VIIO Acaso que Não é Acaso

Ironicamente, quando fiz Lembranças da China,de Alcides Nogueira e com a direção deslum-brante de Jorge Takla, Laura, minha personagemsofria de síndrome de pânico e eu não sabia oque era. Até então, eu não tinha sofrido minhascrises. Alcides me explicava e eu não entendia.Não havia tanta literatura a respeito, era algode que se falava pouco, que estava começandoa aparecer. Até aquele dia em que eu me perdino meio da rua, no Sumaré e não tinha idéia doque me acontecia. Acabei usando muitas experiências pessoais naspersonagens. Aprendi que é sempre necessáriotomar muito cuidado consigo mesmo, porque,talvez pelo fato de vivermos estimulando emo-ções, talvez pela vida instável que temos, a exi-gência emocional é maior. É muito importante saber que raramente se temuma vida estável escolhendo essa profissão.Estamos continuamente encontrando e nos des-pedindo de pessoas, de elencos, de trabalhos. Al-ternamos momentos de fartura com momentosde escassez, então é preciso buscar esse equilí-brio para se manter dentro da profissão, para nãodesistir e num momento de vazio, não jogar tudo

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para o ar e ser infeliz pelo resto da vida. Existemmuitos de nossos colegas que sucumbem e isso épenoso. É preciso ter consciência de que isso éapenas mais um momento, que passa, que depoisalguém lembra de você, ou que você organizaum grupo, ou que você acha uma peça e conse-gue um dinheiro e consegue montar. Atualmente me parece que em todas as profis-sões se encontram essas dificuldades. Mas nonosso caso a emoção está empenhada até araiz, todos os dias de trabalho. Convivemos comessa instabilidade, sempre preocupados comquantas pessoas há na platéia, quanto será aminha porcentagem hoje, se vou conseguir pa-gar as minhas contas no final do mês, e aindatemos que trabalhar a plenitude da persona-gem. São muitos acúmulos, e só a maturidademe deu a compreensão e a aceitação para lidarcom cada um deles. Como, por exemplo, parafazer uma personagem louca, é quando vocêtem que estar o mais equilibrada possível, paranão perder o eixo. Quando interpretei Florbela Espanca, em 1991,personagem trágica, uma das mais contunden-tes que Alcides construiu, eu enfrentava ummomento muito difícil de nossa vida, minha edo Alcides. Cada qual com seus dramas pessoais,perdas pessoais devastadoras, além das dificul-

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dades financeiras para uma produção grande edifícil. Eu interpretava uma mulher desestru-turada. Genial, sofrida, e desequilibrada. Apai-xonada, como todas as personagens que oAlcides escreve. Acredito que todas essas depressões e tragédiaspessoais podem se transformar em ensina-mentos e é importante ressaltar que teatro nãoé terapia, as pessoas têm que saber disso, temque ter rigor e domínio técnico e saber separarator e personagem. O teatro pode ser liber-tador, pode fazer desabrochar a essência de umator, mas jamais ser usado como uma válvulade escape.

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Capítulo VIIIA Arte Cura mas Não é Remédio Suponho que minha timidez não iria durar a vidainteira. Estávamos no final dos anos 60. Minhamãe, sempre preocupada com esse fato, tinhavisto um anúncio no jornal que apresentava umcurso de desinibição, no TBC, ministrado peloator e diretor Emílio Fontana. Ela me inscreveue comecei as aulas, paralelamente aos cursos naFolha de S. Paulo. Num dos cursos da Folha, eu me lembro, porexemplo, do dia em que foi o elenco de ArenaConta Tiradentes, e vi Dina Sfat na minha frente,cantando, fazendo uma cena. Um registro inde-lével em mim. Os professores faziam parte docorpo docente da Universidade de São Paulo, onível intelectual era altíssimo. Eu atravessava acidade. Saía do Brooklyn, descia na Praça dasBandeiras, andava até a Folha de S. Paulo nocentro, voltava de noite, pegava ônibus na Praçadas Bandeiras, voltava pra minha casa, andava,e fazia isso duas vezes por semana, porque euadorava esses cursos. Eu gostava de ver teatro, aquele que o professorGáudio tinha me ensinado a amar. Fiz o cursodo Emílio Fontana durante seis meses. Não tenhomuita consciência do que fiz, não me lembro com

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nitidez das aulas, mas sei que na última prova,no último dia, ao cabo de seis meses, ensaiamosuma cena da Antígona de Sófocles, e Emílio veiome dizer que eu tinha talento. Eu gostava defazer as aulas, achava divertidos aqueles jogos,fazia aula de voz, mas jamais tinha imaginadoouvir isso. Eu que queria ser aeromoça, fazer Curso de His-tória, ao ouvir a opinião do Emílio e o conselhode continuar o curso fiquei perplexa. Aquilo pramim foi um assombro, como é que alguém podiadizer que eu era boa em alguma coisa, já quenunca ninguém tinha dito que eu tinha algumacapacidade para alguma coisa? Um dos alunosdo curso, me indicou o curso do Teatro de Arena.Me encaminhei para lá, fiz uma entrevista coma saudosa Heleny Guariba, que fazia a seleçãocom a Cecília Thumin, esposa do Augusto Boal.

Eu sabia que era uma seleção e me perguntavacomo passaria por aquele teste. Seriam 15selecionados e fui escolhida. O obstáculo maioré que eu não tinha dinheiro para pagar. O cursoera mais caro que os outros, então propus aomeu pai que eu trabalharia em sua cantina e eleme daria o dinheiro para que eu pagasse o curso.Eu estava no 3º colegial, trabalhava na cantina,de noite ia para a escola de teatro e meu pai medava o dinheiro pra pagar. Foi aí que comecei

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efetivamente minha vida no teatro, fazendo ocurso com Cecília e Heleny. Era maravilhoso. Euconvivia com os atores que faziam a remon-tagem de Arena Conta Zumbi, os artistas doChiclete com Banana. Eu me lembro de Zezé Motta dormindo numbanco lá em cima no Teatro de Arena. Aquelavisão pra mim, linda, dormindo num banco, des-cansando entre um ensaio e outro. Me lembreide quando tinha ido ver Paulo Autran, fazendoÉdipo Rei, levada pelo professor Gáudio, de uni-forme de colegial, deslumbrada com o Paulo fuiao camarim e ele me recebeu. Eu o observavatirando a maquiagem, uma coisa mágica, ali noTeatro Maria Della Costa, e ele ainda fazia deba-tes com os alunos no fim do espetáculo paraanalisarmos Édipo Rei. Ele tinha essa capacidadede escuta, gostava de saber o que as pessoasachavam, e ouvia de verdade. Era lindo, porqueele recebeu crianças, jovens. Isso também é ummomento inesquecível. Quando comecei a irpara o Teatro de Arena eu comecei a convivercom a simplicidade dos grandes artistas. Eu via fascinada Plínio Marcos, ainda um garoto,que ficava por ali na porta, conversando comtodo mundo. O grande Plínio Marcos. Depois atéconsegui que ele fosse até meu colégio falar comos alunos. Eu pedi e ele foi, falou com todas as

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turmas. Ao mesmo tempo em que estudava noArena, entrei na faculdade de História. No curso do Teatro de Arena conheci Celso Fra-teschi. Começamos juntos e logo nos entende-mos. Por exemplo, Heleny nos mandou formarum grupo e ensaiar em casa a primeira cena deHamlet, de William Shakespeare. Fomos entãoIsa Kopelman, Celso e eu para a casa da Isa. Apartir do trabalho é que começamos a namorar;Celso e eu acabamos nos casando. Até mesmo oamor, o afeto, a maternidade entraram naminha vida pela porta do teatro.

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Capítulo IXTeatro de Arena, uma Ode à Liberdade Mais do que um curso, era uma vivência. Apren-der com Heleny Guariba, Cecília Thumin, Augus-to Boal. Encontrei pessoas deliciosas, vigorosas,e as aulas não tinham hora para acabar. Eu ti-nha um problema seriíssimo, porque eu ficavaaté meia-noite, uma hora da manhã, minha mãeme esperava todos os dias na janela dizendo queeu mataria meu pai do coração se continuassedaquele jeito. Papai realmente sofria do cora-ção e está vivo até hoje, graças a Deus. Foi Heleny, militante importante na luta revo-lucionária brasileira, quem me deu o entendi-mento da dramaturgia de Bertolt Brecht. Oraciocínio, a estrutura do pensamento, a dialé-tica, as questões da função da arte. Isso serviude base para minha proposta de trabalho apartir daí. Até hoje é profundamente dolorososaber que Heleny não está mais entre nós, covar-demente assassinada pela tortura. Já Cecília Thumin trabalhava com o aspectoemocional, os primórdios de Stanislavski, a iden-tificação com a personagem, a memória emo-tiva, e um pouco de Grotowski, o Teatro Físico,a importância do corpo no trabalho de palco.Tivemos aulas com o extraordinário ator Rodrigo

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Santiago, recém-chegado dos Estados Unidos,com técnicas de Stella Adler e do Actor’s Studio.Fui cercada por essas duas correntes e sendoformada por isso. É nesse momento, em 1970, que surge a oportu-nidade de participar do primeiro festival inter-nacional da minha vida, em Buenos Aires. Boaltinha fortes ligações com a Argentina, já quesua mulher Cecília Thumin, uma das pessoas maisadoráveis que conheci, é de lá. E lá fui eu, pelaprimeira vez entrando num avião e saindo dopaís. Pela primeira vez acompanhada e, o melhorde tudo, para trabalhar num outro lugar. Viajamos com Teatro Jornal e com o elenco doArena Conta Zumbi: Antonio Pedro, Bibi Vogel,Lima Duarte, Hélio Ari. Já no desembarque, rece-bemos no aeroporto, carteirinhas do sindicatode atores, nós que no Brasil trabalhávamos coma documentação que nos caracterizava comoprostitutas. Recebemos também um impressodescrevendo os direitos que teríamos como tra-balhadores temporários naquele festival. É fácilimaginar como se sentiu aquela menina de 19anos que eu era. Lá, pude acompanhar váriosdebates e conhecer alguns importantes diretoreslatino-americanos entre eles Enrique Buenaven-tura, da Colômbia. Ainda em Buenos Aires, co-mecei a ensaiar o papel de Cecília Thumin, que

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pedira substituição em Zumbi por não poderparticipar do Festival de Nancy, na França, quese daria no ano seguinte, em 1971. Ao mesmo tempo, o Arena vivia uma criseeconômica muito grande e Boal, que tinha umaparticipação política importante na luta contraa ditadura, acabou sendo preso naquele ano.Foi terrível, um pandemônio, todos desnortea-dos, não sabíamos o que fazer. E ainda havia oconvite do Festival de Nancy. Com a prisão de Boal, formou-se um movimen-to nacional e internacional muito grande paraque ele fosse libertado. O ator Luiz Carlos Arutin,sócio e administrador do teatro, levantou umadívida, reuniu doações, e conseguiu comprar aspassagens para que fôssemos para Nancy. Tudoisso fazendo parte do movimento para a liber-tação do Boal. Entrei então no elenco do Zumbi no lugar deCecília. Com a conclusão do curso, estávamosensaiando também Arena Conta Bolívar, porquequeríamos levar os dois espetáculos para Nancy.Bolívar estrearia no Brasil e depois iria para aFrança. Com Boal preso, interrompeu-se todo oprocesso, mas era importante não desistir e fo-mos para o Festival.

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Arena Conta Zumbi, no Festival de Nancy, com Hélio Muniz,Margot Baird, Antonio Pedro, Dulce Muniz e Edson Santana

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Praticamente, minha estréia no teatro profissio-nal se deu em Nancy, com Antonio Pedro noelenco, Lima Duarte, Bibi Vogel, Margot Baird,Celso Frateschi e os músicos. Tudo era absoluta-mente desconhecido para mim.

Paralelamente ao Zumbi, resolvemos levar oTeatro Jornal que tínhamos levado para BuenosAires. A partir do curso, formou-se um peque-no grupo, chamado Grupo de Teatro Núcleo,que trabalhava no Areninha no andar de cimado Teatro de Arena, onde havia um teatrinhode 70 lugares. Lá, tínhamos apresentado o Tea-tro Jornal, Primeira Edição, considerado porSábato Magaldi, um de nossos críticos maisimportantes e apreciados, um exercício de li-berdade. Sábato e o Professor Anatol Rosenfeldnos incentivavam muito. Não passávamos pela censura, era um desafiocívico não se submeter a ela, e levamos os doisespetáculos para a França. Fomos com DulceMuniz, Hélio Muniz, seu marido na época, EdsonSantana, Ana Jovert e Jaques Jovert, que jogavacapoeira. Porém, não havia onde apresentar oTeatro Jornal. Por ser um teatro de intervenção,fazíamos as representações no refeitório ondetodos os participantes do Festival se encontra-vam e nos pátios das Universidades. Era de umaousadia absoluta em que se denunciava a tortura

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no Brasil, a partir de notícias de jornal dramatiza-das. Um grande impacto. Soubemos que o mítico diretor inglês PeterBrook havia montado um espetáculo em que sequeimava uma borboleta pra denunciar as bom-bas de gás napalm usadas pelos americanos naGuerra do Vietnã, com conseqüências desastro-sas. Isso nos levou a pensar que teríamos de teralgo contundente no Teatro Jornal a fim de de-nunciar as torturas que estavam acontecendo noBrasil. Decidimos usar uma pomba numa cenaantológica, e de grande violência. Hoje jamaisfaria isso. O movimento estudantil mundial era muitoforte. Nos Estados Unidos, os alunos estavamsendo reprimidos dentro das universidades echegaram a ser assassinados porque protestavamcontra a Guerra do Vietnã. Gravamos então umanotícia em que falávamos de um estudante ame-ricano, Jeffrey Miller, assassinado numa mani-festação. Fazíamos uma cena com toda a descri-ção do fato, como se fosse um telejornal. Du-rante a narração, um ator entrava com fraque,cartola, e um figurino de mágico. Ele tirava apomba da cartola, dava um pedacinho de pão emostrava a pomba para o público, no Areninha.Em seguida, ele colocava a pomba bem boniti-nha em cima da mesa, pegava uma pedra e a

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massacrava. A certa altura da cena, eu fugia, iame esconder no andar de baixo, no Teatro deArena porque era forte demais para mim, mas épreciso compreender que naquele momento eraa força da denúncia, de uma coragem que sóquem viveu aquele momento pode entender porque fizemos isso. Boal preso, as pessoas morrendo, Heleny desapa-recida. Aquilo era das denúncias mais impressio-nantes que se podia fazer, ao vivo, com sanguede verdade. Fizemos no Areninha e na França.Dentro desse espírito do teatro de intervenção,fomos para o refeitório do Festival e começamosa roubar comida de todos os pratos dos outros.As pessoas gritavam, diziam que a comida eradelas. Os europeus se assustavam, não estavamhabituados a algo tão violento, embora os movi-mentos estudantis estivessem acontecendo, desdemaio de 68 com as barricadas em Paris. Essa vita-lidade do grupo brasileiro era impressionante. Acabei fazendo a abertura do Zumbi emfrancês, língua que eu mal falava, tendo feitoapenas um curso básico, mas o Boal escreveuum texto para mim, enfrentei a insegurança na-quele teatro imenso em Nancy e foi mara-vilhoso. Minha estréia em teatro foi assim,assustada, mas glamourosa, porque na França,a atividade artística era louvada. Viajamos pelo

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País com o espetáculo e, ao ser libertado, Boalfoi nos encontrar em Roma. Muitos brasileiros viviam na Europa naquela épo-ca. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jards Macalé etantos outros. Todos tinham imensa saudade doPaís e viviam se reunindo para achar algumconsolo para aquela dor. Foi grande a tentaçãode ficar por lá também. Não voltar para a atmos-fera asfixiante de um País sem liberdade deexpressão. Entretanto, eu sabia que era aqui queeu poderia continuar exercendo meu trabalhocomo atriz. Minha pátria é minha língua. Eraimportante que aqueles que tivessem uma visãocrítica da situação do país sem correr um riscoiminente de vida, ficassem trabalhando no País.Assim voltamos, deixando em Roma, numa dolo-rosa despedida, nosso querido diretor, amigo,mentor Augusto Boal. Enquanto grupo, mantivemos por muito tempoainda tudo o que havíamos aprendido com Boaldesde construir até apresentar o ato teatral,sendo a nossa raiz até hoje. É cristalino que oteatro entrou em minha vida não como umaprofissão ligada a um desejo de ascensão ousucesso, mas se constituiu numa transformaçãopessoal em sua totalidade. A cada dia, o cursode História da Universidade de São Paulo moni-torado pela ditadura me parecia menos inte-

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ressante e mais burocrático se comparado àforça criativa que se manifestava a cada ensaio,a cada apresentação.

Os amigos na despedida de Augusto Boal, em Roma

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Augusto Boal e seus amigos na despedida, em Roma

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74 Carta de Boal para Denise

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Na montagem de Doce América, Latino-América

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Capítulo XNosso Mestre Usurpado Ali nos despedimos, Boal permaneceu no exílioe nós voltamos para o Brasil. A triste e inevitá-vel separação do grande mestre, Augusto Boal,nosso líder que brincava dizendo que ele eraum jesuíta e nós o devíamos seguir. O TeatroJornal foi, na verdade, a origem do Teatro doOprimido, que Boal desenvolve até hoje.

Ao voltarmos para o Brasil, Celso Frateschi,Dulce e Hélio Muniz, Edson Santana, AntonioPedro, Margot Baird e eu formamos um grupoe tentamos com Luiz Carlos Arutin impedir amorte do Teatro de Arena. Montamos umapequena colagem latino-americana, fruto doencontro com outros grupos da América do Sulem Nancy; Doce América, Latino-América tinhaa coordenação de Antonio Pedro e texto doPlínio Marcos. Fizemos algumas apresentações,mas não tínhamos mais condições de convi-vência. O teatro estava completamente semdinheiro, começavam as discordâncias sobrecomo garantir a sobrevivência do teatro eacabamos saindo. Saímos com a idéia de que o teatro era um movi-mento de grupo, e como tínhamos nascido nonúcleo 2 do Arena, criamos o Grupo de Teatro

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Na montagem de Doce América, Latino-América, com PauloFerreira

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Núcleo. Era um núcleo de trabalho. MaurícioSegall nos acolheu no Studio São Pedro e fize-mos, com Fernando Peixoto, em 1972, uma co-memoração dos 50 anos da Semana de ArteModerna com texto de Carlos Queiroz Telles,cenário e figurinos deslumbrantes de HelioEichbauer em que interpretei Daisy, primeiramulher de Oswaldo de Andrade por quem fi-quei totalmente apaixonada. Eu vivia como apersonagem, num clima permanente de paixão,e foi nesse estado que Celso e eu nos casamos,fazendo esse espetáculo. Nós nos casamos na casa do Celso, onde tambémfizemos uma festa. O Padre Augusti, muito ami-go nosso, celebrou a cerimônia. É o mesmo PadreAugusti, que aparece em Lua de Cetim, porqueo Alcides, que eu ainda não tinha encontrado,conhecia-o, da cidade de Guaxupé. Uma dessascoincidências inexplicáveis. Padre Augusti eraligado à Teologia da Libertação, fazia um tra-balho extraordinário no interior de São Paulo,onde fizemos vários espetáculos. Batalhador in-cansável, criou uma olaria para fazer tijolos eajudar o problema de moradia dos trabalhado-res da região. Foi uma cerimônia muito bonita, com os nossosamigos e um texto lindo que ele leu. O FernandoPeixoto, nunca esqueço, tinha um Fusca e foi nos

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levar para casa. Como tínhamos que apresentaro espetáculo no dia seguinte não teríamos lua-de-mel. Fernando se ofereceu para nos acom-panhar em casa, mas o carro não andava, que-brou, aí saíram noiva, noivo, amigos, todos aempurrar o Fusca dizendo: Ai, meu Deus, nãodá sorte dar carona pra noiva.

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Capítulo XIImpetuosa Revolução Trabalhamos no Teatro São Pedro, com Maurí-cio, mais algumas vezes. Fizemos um espetáculosobre a queda da Bastilha inspirado em 1789,espetáculo dirigido por Ariane Mnouchkine, quetínhamos visto na França no Théâtre du Soleil.Descaradamente, pegamos algumas cenas ecolocamos no espetáculo, porque não acreditá-vamos nessa história de propriedade intelectual.Vivíamos debaixo de uma ditadura tão terrível,sem condições de trabalho que usaríamos tudoo que fosse considerado importante e útil parao trabalho. Até Enrique Buenaventura, o autorcolombiano que admirávamos tanto dizia queas idéias não têm dono. Nossa intenção não eraa de roubar as idéias, mas não deixamos de nosinspirar no que tínhamos visto. O espetáculo foimuito bem-sucedido, uma vez que através dahistória da Revolução Francesa, se falava daburguesia brasileira e da ditadura militar. Havia uma cena extraordinária em que panfletá-vamos sobre a platéia com papel em branco. Osimples ato de panfletar, em 1973, era uma lou-cura. Sempre tivemos esse conceito do teatroativo, participante, caminhando passo a passocom as necessidades da sociedade, isso era umacoisa muito importante para nós e, naquele

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momento, funcionou muito bem. O espetáculofoi tão bem recebido que estreou no Studio SãoPedro e desceu para o Teatro São Pedro, o tea-tro grande. Era maravilhoso, porque se vendiapara escolas ininterruptamente, e chegamos anos apresentar no Teatro Municipal, naquelassemanas maravilhosas que o Sábato Magaldiproporcionava aos espetáculos dentro do Tea-tro Municipal, quando era secretário Municipalde Cultura. A Queda da Bastilha começava na rua. Começá-vamos vestidos de mendigos e éramos atoresabsolutamente desconhecidos, jovens. Nos apre-sentávamos como guardadores de carro. No Tea-tro São Pedro, Beatriz Segall e um elenco estelarapresentavam Frank V, de Friedrich Dürrenmatt,com direção de Fernando Peixoto. Íamos entãopedir esmolas na fila, para aquele público maistradicional de teatro e as pessoas acreditavamque fôssemos mendigos. Quando elas subiampara a platéia e nos viam no palco, era um cho-que, porque a maioria das pessoas nos tratavamal. Quando elas chegavam aos seus lugares eviam que éramos atores, o desconforto se insta-lava. Ou seja, fazíamos uma provocação cons-tante com a platéia, era nossa preocupação per-manente: denunciar a letargia, chamar atençãopara a questão social.

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Foi fazendo esse espetáculo que acabamos pre-sos. Eu e Celso, na porta do teatro, vestidos demendigos, eu ainda pedi que me deixassem tro-car de roupa, subi, deixei o figurino no camarim,mas o Celso foi de mendigo. Não pensei em fugir porque os policiais esta-vam armados com um revólver enorme. Nuncatinha visto nada parecido. Fomos levados aoDOI-CODI, a assustadora sede do Segundo Exér-cito e da temida Operação Bandeirantes, aOBAN, que perseguia os oponentes ao regimemilitar, onde permanecemos desaparecidos,seqüestrados. Passados 15 dias, nos soltaram.No DOI-CODI, percebi que muita gente da Fa-culdade de Geografia da Universidade de SãoPaulo estava presa. Nós trabalhávamos naformação de grupos de teatro na universidade,e acho que foi com essa alegação que acabamospresos. E lá também, descobri que se encon-trava Idibal Pivetta, o César Vieira, dramatur-go e advogado que, no fim dos anos 70, de-fendeu muitos presos políticos. Um dia, resolveram que podíamos ir embora.Viramos as costas e fomos saindo daquele quar-tel e eu nunca me esqueço daquela sensação demedo, e de nos perguntarmos se era mesmopara sair, atravessar o pátio ou se algo poderianos acontecer. Foi um momento de horror, nin-

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guém nos esperando, entramos num táxi, semdinheiro e fomos pra casa de minha mãe, quepagou a corrida.

Em cena de A Queda da Bastilha

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Capítulo XIIUm Anjo Dentro de Mim Em conseqüência desse grande susto ficamostotalmente abalados, mas voltamos a tra-balhar no Studio São Pedro e começamos aensaiar O Prodígio do Mundo Ocidental. Foi,então, que César Vieira nos convidou paraintegrar o elenco de O Evangelho de Zebedeu,dirigido por Silnei Siqueira, com um grupo deSanto André, do qual fazia parte a queridaSônia Guedes. O espetáculo participaria doFestival de Manizales, na Colômbia. Acho atéhoje que ele nos convidou por um gesto desolidariedade, para nos tirar do Brasil. E foina Colômbia que eu engravidei. Sempre tive verdadeira paixão por mambembarcom o teatro. Não permanecer numa cidade ouno mesmo espaço por muito tempo, com umespetáculo. Jamais me fixar. Descobrir cidades,países, públicos com um trabalho cênico é algoestimulante, especialmente porque adoro o desa-fio de um palco desconhecido, um público novo e,acima de tudo, a mudança. Isso exige maior rapidezna adaptação das marcas, na apuração do ouvidopara entender a reação do público. O ator écolocado em estado de alerta permanente, deextrema prontidão, e isso me fascina.

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É também por esse motivo que me emocioneiaté as lágrimas com Il Viaggio di Capitan Fracassa,o esplêndido filme que Ettore Scola realizou em1990, com um elenco europeu como poucasvezes se viu. Além de Vincent Perez, OrnellaMutti, Emanuelle Béart, o inesquecível MassimoTroisi prematuramente falecido, entre muitosoutros, até Ciccio Ingrassia, célebre comedianteitaliano dos anos 60 fazia parte de uma dasobras que mais fielmente retrataram o univer-so mambembe. Sem deixar de lado o não menos pungente LesEnfants du Paradis, o Boulevard do Crime, diri-gido por Marcel Carné em 1945, com o grandeJean-Louis Barrault como Baptiste e Arlettycomo Garance, em que se pode vivenciar emdetalhes as teias de nosso ofício. Fomos para o Festival, fizemos um estágio mara-vilhoso no Teatro de Cali de Enrique Buenaven-tura, no qual pudemos aprofundar as técnicasde trabalho de grupo. O grupo de teatro Expe-rimental de Cali era extraordinário. Pudemos vercomo eles trabalhavam, faziam a criação cole-tiva, que depois se tornou uma febre no Brasil.Eles baseavam-se no texto de Buenaventura, en-saiavam cena a cena, e o Enrique reescrevia ascenas. E assim por diante, até adquirir umaforma final.

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Algo como o que Alcides Nogueira viria a fazercom Feliz Ano Velho. De Cali, fomos a Buenos Aires, onde viviamAugusto Boal e Cecília, depois de retornarem daEuropa. Boal nos convidou para ficar em BuenosAires e formar um grupo de teatro latino-ameri-cano, mas eu sentia enjôos intensos. Cecília olhoupra mim e foi a primeira a me dizer que eu esta-va grávida. Então me lembrei de algo inexplicávelque durante algum tempo aconteceu comigo naColômbia. Fui acometida de um sono incon-trolável. Chegava a cochilar em cena, quando fi-cava ao fundo embalando uma boneca esperan-do minha entrada. Cheguei a ser sacudida peloCelso, que também fazia o espetáculo! Pensei tersido mordida por uma mosca tropical causadorado tal sono. Dormia na platéia de outros espetá-culos, no ônibus; eu simplesmente dormia... Erao André que se preparava dentro de mim. Voltamos para o Brasil para organizar algumascoisas e nossa intenção era voltar para a Argen-tina e trabalhar com Boal e Cecília. Durantenossa volta aconteceu o golpe militar na Argen-tina, Boal teve que ir embora e não pudemosvoltar para lá, obviamente. Eu digo que o Andréme salvou, o André é o anjo da minha vida quecomeçou me salvando ali, com essa gravidez. Eleme tirou de lá.

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Não quero imaginar o que teria sido do Celso ede mim, jovens, debaixo daquele golpe. Feliz-mente Boal e Cecília conseguiram escapar e vol-taram para a Europa.

Na volta, continuamos no Studio São Pedro coma Bastilha e comecei a traduzir de um livro espa-nhol que eu tinha comprado na Argentina, osdiários de Bertolt Brecht, para que pudéssemosestudar e usar. Até o final da minha gravidez euficava traduzindo do espanhol para o portuguêsos diários de Brecht e as obras de Buenaventuraque tínhamos trazido. André nasceu com 8 meses em 1974. Olho paratrás hoje e não me dou conta de que eu tãojovem era mãe e não tinha noção dessa respon-sabilidade. Eu sabia que precisava ganhar di-nheiro para sustentar meu filho. A situação eramais delicada. Estávamos montando Frei Caneca,de Carlos Queiroz Telles, com direção de Fernan-do Peixoto, no teatro grande que chamávamosde São Pedrão. Eu tinha um papel pequeno, por-que quase não havia papéis femininos, e faziaassistência de palco e de direção. Trabalhava semparar, um dos atores nunca chegava no horário,e Maurício gritava comigo, eu tinha que pegaro meu Fusca e pegar o ator que estava dormindoem casa porque tinha bebido demais, achei queiria enlouquecer.

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Foi nessa produção que conheci Othon Bastos,pessoa extraordinária, um ator maravilhoso, eum amigo de quem gosto muito até hoje. OOthon fazia o Frei Caneca, um espetáculo lindotambém com cenários do Helio Eichbauer. Essefoi praticamente o final da nossa participaçãono Teatro São Pedro. A essa altura, MaurícioSegall também tinha sido preso e o teatro já esta-va se encaminhando para um outro processo.

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Cena de A Epidemia

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Capítulo XIIIFilhos Pródigos

Com a ajuda de um patrocínio, Edson Santana,Reinaldo Maia, Lali Wright, Celso e eu aluga-mos uma sala de ensaio, um espaço no bairrodo Bixiga, na Rua Treze de Maio, que se tornariamais tarde o Café do Bixiga. Era um lugar aban-donado, a casa caía aos pedaços, mas era tãobarata que conseguimos alugar. Limpamostudo, chamamos a prefeitura para desratizar ecriamos um local de trabalho. Queríamos reto-mar os primórdios do Teatro Jornal e fazer umespetáculo de teatro jornal histórico, divertidoe colorido. Assim, começamos a ensaiar A Epide-mia, que o Celso escreveu a partir dos nossosensaios e pesquisa sobre a epidemia de gripeespanhola no Brasil de 1918. Íamos à Biblio-teca Municipal procurar material em jornaisantigos e queríamos fazer um paralelo com aconjuntura do País. Recuperamos o entusiasmode sempre. Minha irmã, Alzira, passou a trabalhar conoscocomo atriz nesse espetáculo. Havia vários atoresiniciantes, outras pessoas que desistiram da car-reira, e o espetáculo ficou extraordinário. Come-çamos a trabalhar na zona leste da cidade e anos apresentar em clubes e escolas.

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Duas cenas de A Epidemia

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Enquanto isso, para podermos sustentar nossacasa, Celso e eu trabalhávamos durante o dia nacantina escolar do meu pai. Às seis horas da tarde,íamos para a Bela Vista fazer todo o trabalho noteatro. Naquela época não havia trânsito nas ruas,então se chegava rapidamente aos lugares. Atra-vés de uma organização internacional de apoio àcultura, conseguimos um patrocínio para GrupoNúcleo. Preenchemos formulários, fizemos umprojeto, mandamos tudo e conseguimos alugarum galpão, um armazém na zona leste de São Pau-lo que transformamos em uma sala de teatro.Nosso objetivo era formar grupos de teatro na-quela região. Fomos para a zona leste e precisávamos de umfiador para garantir o aluguel. Nossa fiadora foiRuth Escobar. Nenhum de nós tinha imóvel pró-prio ou parentes que pudessem nos garantir, masRuth ofereceu-se porque acreditava em nossoprojeto. Nunca atrasamos o pagamento, mas elacorreu um risco conosco. Tenho muita gratidãopor ela por causa desse gesto. Montamos um teatro inteiro lá com arquiban-cadas, e passamos a trabalhar na Estrada de SãoMiguel 2002, um lugar inacreditavelmente longede nossas casas. Nós trabalhávamos com gruposdo Mobral, dando aulas de teatro e consegui-mos também dar aulas no Teatro Martins Pena,

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na Lapa, na Penha e começamos a montar a salade espetáculo. Foi nesse momento, no final de 1974, que mechamaram para participar de O Ídolo de Pano, deTeixeira Filho, minha primeira novela na TV Tupi.Dirigida por Henrique Martins com Tony Ramos,Dennis Carvalho e Laura Cardoso, que eu conheciaí e se tornaria uma companheira insubstituível,amiga de uma vida. Eu tinha muito medo da tele-visão, em primeiro lugar, e muito preconceito emrelação a ela. Fui chamada porque o autor tinhame visto no palco e gostado do meu trabalho.Quando fui convidada disse ao Henrique que fa-ria a novela, mas como eu fazia teatro teria quesair para fazer meus espetáculos numa certa hora.Ele me disse que iria ver se isso seria possível. Nuncadeixei de fazer um espetáculo sequer. Ele semprese lembrava de que eu tinha que sair e dizia nomeio da gravação: Vai embora, Denise, com aqueleseu jeito maravilhoso. Fiz a novela toda, minhapersonagem se chamava Renée, foi o maior suces-so de Teixeira Filho, e o último grande sucesso daTV Tupi. Tanto, que depois dessa novela Tony eDennis foram embora para a TV Globo. O teatro naquele momento ainda era mais im-portante na minha vida. Dentro do grupo, depoisda bem-sucedida temporada de A Epidemia, mon-tamos Os imigrantes, fruto de uma profunda pes-

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quisa sobre a imigração italiana. Como trabalhá-vamos num bairro operário, queríamos justamen-te falar sobre a formação da classe operáriabrasileira com a chegada dos primeiros imigrantesitalianos, e assim também falaríamos da nossahistória, da nossa origem do Celso. Resultou numespetáculo lindíssimo, que mereceu do SábatoMagaldi uma página inteira, em negrito, no Jor-nal da Tarde, onde ele era crítico. Uma noite chegamos a São Miguel Paulista ehavia dois carros oficiais com ele e toda umacomitiva da Secretaria Municipal de Cultura quetinham ido assistir ao nosso trabalho. Sábatosempre foi uma pessoa que levou em conta to-das as mudanças e os fatos importantes que ocor-riam no teatro. Ele não tinha preguiça, tinha eainda tem uma devoção maravilhosa. Tudo issofoi um fator que nos facilitaria para obtençãode algumas verbas do Inacen, o Instituto Nacio-nal de Artes Cênicas, que nos permitiria prosse-guir com o trabalho. A importância desse ho-mem no teatro brasileiro é impressionante.

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Com Cleston Teixeira em cena de Os Imigrantes

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Com Celso Frateschi em cena de Os Imigrantes

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Capítulo XIVO Filho do Palco

Os Imigrantes nos deu imensas alegrias. Profis-sionais e pessoais. Era 1977 quando meu filhoAndré de quase 3 anos entrou no palco pela pri-meira vez. O cenário foi feito pela Alzira, minhairmã, que tinha acabado de se formar em ArtesPlásticas na Faap, assim como os figurinos e aprogramação gráfica, e era tudo muito bonito.Não havia camarins e trocávamos de roupa em-baixo dos praticáveis. Como André não tinhaonde ficar, e muito menos babá, ele ia para oteatro conosco todas as noites e ficava debaixodos praticáveis. Ele conhecia o espetáculo de cor,sabia tudo direitinho. Acho que naquela épocajá se desenhava a trajetória do meu filho, comoalgo orgânico entre a música e o teatro.

No espetáculo cantávamos uma música que co-meçava com Mamma, se manca vino que oAndré adorava. Uma noite, ele resolveu entrarem cena porque conhecia a música. Estávamosfazendo a cena e ele entra cantando Fa bene,fa bene, fa bene, bem pequenininho, com umpúblico muito popular que lotava o teatro to-das as noites, foi uma beleza. Ele continuou can-tando na cena, com aqueles olhinhos lindos,então o carreguei no colo, continuei cantandoe depois o deixei na coxia e disse: Você fica aqui,

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quietinho. Ele não entendia, queria mesmo eraentrar em cena e cantar. Ele sempre foi comigo,mesmo depois que nos separamos, Celso e eu,ele continuou indo comigo.

Na festa de primeiro aniversário de André, com a Tia Inês

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Durante os seis anos de temporada de Feliz AnoVelho, ele me acompanhou de perto, sempre quepossível. Antes disso, na temporada de Lua deCetim, em 1981, acontecia uma coisa maravilho-sa. Umberto Magnani, meu marido no espetá-culo, um grande companheiro de palco, levavaseu filho Beto para o teatro. Nossos filhos fica-vam atrás do palco e no início da peça, em queeu ficava sozinha em cena, uns cachorros latiam.Magnani, fora de cena, ficava atrás com os doismeninos latindo. As crianças adoravam isso e iampara fazer os cachorros. O André, no entanto,saía quando a Candelária, minha personagem,morria. Antes da cena da morte ele saía do tea-tro, não agüentava assistir porque era como vera mãe morrendo. Ele viu uma vez e depois nãoviu mais. Quando ia chegando a hora ele saía,não agüentava ficar. O Alcides conta muito essahistória. Afinal ele tinha 6 anos de idade.

Mesmo viajando muito com Feliz Ano Velho, elevinha se encontrar comigo todo fim de semana.Quando tinha aula, ele ficava morando commeus pais, nos fins de semana eu mandava umapassagem de avião e ele ia me encontrar, seachando muito importante, porque ele acabavaconhecendo muitas cidades. Com 10 anos, eleconhecia todo o Brasil, adorava viajar sozinho,paparicado pelas aeromoças. Eram momentosmuito especiais em nossas vidas.

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Comemoramos seu aniversário de 10 anos comuma festa que fizemos no hotel em Porto Alegrecom todas as pessoas que acompanhavam oespetáculo. Inclusive o querido Marcelo Paiva.

Às vezes, ele estava cansado para ir para oespetáculo, ficava no hotel e pedia batata fritae bife. Para ele, tudo era uma festa. De tantoacompanhar Feliz Ano Velho, quando ele passoua integrar o elenco na remontagem de 2000,Paulo Betti dizia que ele era a nossa memória,porque se lembrava mais do espetáculo do quenós todos que tínhamos feito. Ele podia repro-duzir falas inteiras e marcas. Mesmo porque oespetáculo foi muito transformador na vida dele,como foi na de toda uma geração. Hoje, ele con-fessa que tinha muito medo por ser filho dequem é, de assumir que queria ser ator. Ele de-morou a decidir se queria ser músico ou ator ehoje ele é os dois e não parou mais. Não por sermeu filho, mas ele é bom no que faz e vejo queuma de suas qualidades é ser um ator muito cora-joso, que arrisca. Ele não fica no lugar comum esempre diz: Se é para errar, eu erro grande.

Ele cresceu vendo que o ato teatral pode se rea-lizar das formas menos convencionais. Por exem-plo, ainda na Zona Leste, nós levávamos o traba-lho para as igrejas, praças públicas, fazíamosespetáculos musicais com Cleston Teixeira, músi-

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co, então casado com minha irmã. Havia tam-bém um espetáculo infantil, Robin Hood e oXerife, que apresentávamos nos pátios das igre-jas enquanto as mães faziam reuniões paradiscutir os problemas do bairro. Show de Primei-ro de Maio era no altar.

Trabalhamos muito essa proposta de populari-zar, de fazer grupos de música, grupos de teatronas escolas, nas igrejas, era momento muito im-portante. Tínhamos subsídio, mas o dinheiro nãosobrava, nós precisávamos ter outras atividades,fazíamos trabalhos paralelos para viver.

Eu estava, na época, na TV Tupi onde permane-ci até 1978. Lá fiz quatro novelas, Ídolo de Pano,Um Dia, o Amor, com o insubstituível CarlosZara, Um Sol Maior, em que eu e Marco Naniniéramos dois pianistas, e a segunda versão de ODireito de Nascer, com Carlos Augusto Strazzere Beth Goulart.

Consegui caminhar com minha carreira de televi-são, continuando o trabalho do grupo de teatro,o que me custou muito na época, uma vez quehavia preconceitos com relação a quem faziatelevisão. Quase fui expulsa do grupo, fui prati-camente julgada. Uma espécie de julgamentopolítico. Foi um momento difícil da minha vida,porque receava estar traindo a arte que eu tinha

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escolhido. Demorei muito em ver o trabalho detelevisão como algo importante, do ponto devista artístico e uma atividade muito prazerosa.Carlos Zara me ajudou muito a ampliar minhavisão. Zara era um homem extremamente ínte-gro que participava da atividade política brasi-leira. Com ele pude ver que o fato de fazer tele-visão não me tornaria uma alienada ou alguémque estivesse compactuando com a ditadura.Nesse momento, a partir dessas contradições quejá estavam aparecendo, o Núcleo enquantogrupo estava chegando ao fim, assim como meucasamento com Celso. Ainda montamos Dois Ho-mens Numa Mina, um texto de Enrique Buena-ventura, com Celso e Reinaldo Maia, numa deminhas primeiras experiências como diretora.

Quanto ao Núcleo, os obstáculos internos nãoconseguiram ser superados, os interesses come-çaram a mudar, assim como o País. Estávamospróximos da Anistia de 1979, e os partidos polí-ticos começando a se reorganizar. Vimos que otrabalho das comunidades começava a ser usa-do pelos partidos em surgimento e a nós issonão interessava. Não queríamos ver instrumen-talizado nosso trabalho. Não queríamos quenossa proposta de fazer com que cada um des-cobrisse seu potencial criativo fosse manipuladopor partidos políticos. Foi um desgaste natural,o grupo dissolveu-se, algumas pessoas continua-

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Com Carlos Zara em cena de Um Dia, o Amor

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ram, mas eu saí e tomei a resolução de partirpara uma carreira individual.

Foi aí que me senti sozinha pela primeira vez.Eu não tinha mais um grupo, era uma atriz queteria que entrar no mercado sozinha. Com o fimdo casamento, a transformação era radical.

O primeiro espetáculo de que participei já des-garrada, era a montagem de Vejo um Vulto naJanela, me Acudam que Eu Sou Donzela, textode Leilah Assumpção, dirigido por Emílio de Biasi,que disse ter me chamado por causa do meupassado político. Não gostei muito e disse quepreferia que ele tivesse me chamado porque meconsiderava uma boa atriz. Hoje eu sei que elequeria dizer que eu tinha a experiência de vidanecessária para compor a personagem. Mas, na-quela época, até por causa dessa solidão eporque eu precisava provar que eu podia existirsozinha, eu queria ouvir que eu era boa atriz.Estreamos no Teatro Aliança Francesa. Uma peçaque depois foi filmada. Entrei em contato comatores já consagrados: Ruthinéia de Moraes, Ima-ra Reis, Cláudia Mello, Christina Pereira, Yolan-da Cardoso, enfim um elenco só de mulheres.

O Emílio deve ter-se quase enlouquecido comtantas mulheres. Muitas vezes, minha memórianão é cronológica e isso é um dado importante

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Cenas de Vejo um Vulto na Janela..., com Cristina Pereira,Ruthinéia de Moraes e Imara Reis

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para mim. O registro interior de certos momen-tos, verdades, sensações mais do que fatos quepodem se confundir. Como, por exemplo, essasensação que eu tive quando encarei pela pri-meira vez a carreira sozinha é tão atual paramim que parece ter acontecido ontem. Em DoisIrmãos, o escritor Milton Hatoum traduz essasensação quando ele diz que: A memória inven-ta, mesmo quando quer ser fiel ao passado.

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Capítulo XVA Lua da Minha Vida

O apartamento da Alameda Santos em queRenato Borghi nos recebeu para a leitura de Luade Cetim abrigou momentos de uma emoçãointraduzível. Como contei, ficamos arrebatados.Marcio Aurelio e eu. Não se pensava em outracoisa que não fosse montar o espetáculo. Elechamou Umberto Magnani, um dos melhoresparceiros de cena que tive na vida e começamosos ensaios numa das salas do Teatro Sérgio Car-doso, um teatro sempre generoso, onde até hojeinúmeros elencos podem ensaiar. Nossa equipeera maravilhosa: Elias Andreato, Ulysses Bezerra,Julia Pascale.

Vivemos um processo extraordinário. MarcioAurelio é um diretor que conhece tudo sobre osatores, não é à toa que ele é um professor ad-mirado na Universidade de Campinas, a consa-grada Unicamp. Além de tudo, é um esteta econsegue conjugar essas duas qualidades. Muitomenino, trabalhando com um texto de umamaturidade assombrosa. Éramos todos, de cer-ta forma, ainda muito jovens em 1981 ante amagnitude daquele texto. Era uma constantedescoberta, todos os ensaios, todos os dias, umaprendizado, um enriquecimento. Eu não queriafazer outra coisa, ou pensar em outra coisa.

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A equipe de Lua de Cetim, com Marcio Aurelio, UmbertoMagnani, Elias Andreato, Julia Pascale e Ulysses Bezerra

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Não se pensava em dinheiro, nada mais impor-tava, só aquela paixão. Havia uma produçãoimpecável, cenário e figurinos de Marcio e Elias,iluminação do Marcio, e houve uma repercus-são que nenhum de nós esperava. O espetáculocausou imensa comoção na estréia, na SalaFunarte da Alameda Nothmann, e a temporadafoi um sucesso.

Nós não esperávamos essa reação extraordiná-ria, especialmente porque sabíamos que era umtexto arriscado. A anistia política era recente, eo texto colocava a questão da luta armada den-tro da ditadura, da organização social alterna-tiva e do crescimento através da educação. Maisespantoso ainda foi quando ganhamos o Prê-mio Molière, eu e Magnani juntos – a coisa maisjusta que poderia ter acontecido – e o textoganhou os prêmios da Associação Paulista dosCríticos de Arte, a Apca, e do Instituto Nacionalde Artes Cênicas, o Inacen.

Era também a primeira vez que eu fazia no tea-tro um trabalho mais naturalista, mais psi-cológico, apesar de não ser uma atriz que sebaseia de maneira fundamental no conhe-cimento psicológico da personagem. Pelaprimeira vez eu fazia uma mulher de família,muito inspirada em minha mãe e em minha avóAngelina. Eu a visitava e via como ela andava,

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como cozinhava, quais eram seus gestos coti-dianos, porque não usava maquiagem ouaparato algum. Foi um trabalho de muitaobservação. Marcio Aurelio é extraordinárionisso e me ensinou muito. Com Lua de Cetimtive certeza de que era uma atriz, e que essaseria minha profissão para o resto da vida.

Essa é uma vocação, acredito, porque vi muitagente que queria, até se esforçava, mas não con-seguia seguir adiante. É preciso fôlego parasuportar esse mergulho, essa verticalização quea profissão pede. Sinto que hoje, aos 55 anosdepois de 36 de carreira, faço meu trabalho semo sofrimento de tanto esforço.

O treino, o conhecimento do outro, aprender ojogo, vão facilitando, dando o instrumental quepermite abordar as personagens e as relaçõeshumanas envolvidas no processo, de uma formacada vez menos sofrida. Fico tensa, mas nãotenho mais medo. A ansiedade não leva a lugaralgum. Numa leitura aberta ao público, ou noprimeiro ensaio, do qual naturalmente faz partea tensão, não tenho medo de errar, ou melhor, anecessidade de acertar. Desfruto o prazer daoportunidade. Gosto desse momento que euestou vivendo como atriz e só lamento não terpercebido tudo isso antes, mas sou lenta, taurina.

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Em Lua de Cetim, com Umberto Magnani

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Sinto como uma grande conquista. Como tenhouma escola de teatro, vejo nos alunos e nos ato-res iniciantes, uma grande ansiedade, a necessi-dade de ter respostas imediatamente. As respos-tas estão muito escondidas, não estão escanca-radas. É preciso desconfiar das respostas escan-caradas. Além do que, existe uma urgência de irpara a televisão, de ser reconhecido, de fazer oprimeiro papel. Do meu ponto de vista e a partirda minha experiência, não foi assim. Quantomais tolerante me tornei, quanto mais me exerci-tei, mais tranqüila fui-me sentindo, menos assus-tada diante da minha própria profissão.

Entretanto, houve momentos – depois de rece-ber o Prêmio Molière, por exemplo –, em que adificuldade de sobrevivência se sobrepôs. Pare-cia até que o prêmio era uma marca, como se aspessoas não oferecessem mais trabalho depoisque você ganha um Molière. Acabei entrandocomo sócia numa lanchonete, no final da Av.Brigadeiro Luiz Antonio. Se há uma coisa na vidapara a qual não tenho talento, é ser comercian-te. É claro que o negócio fracassou. Mesmoassim, sempre à procura dessa segurança quenão existe, tentei novamente, abrindo outralanchonete com minha irmã.

Depois de um tempo concluímos que, se era paracontinuar trabalhando como doidas para nosso

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Em Lua de Cetim, com Umberto Magnani

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Em Lua de Cetim, com Elias Andreato

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sustento, o melhor a fazer era voltarmos para oque conhecíamos e acreditávamos. Foi o inícioda Oficina Teatral.

O momento em que você quase desiste tem algode contraditório, porque ele fascina sempre. Eupensava que finalmente me livraria desse uni-verso de competição, carência, dificuldade fi-nanceira, insegurança, inconstância e esse eter-no recomeçar depois de um espetáculo, umanovela. Afinal, são anos e anos em que tudo serepete. Não é porque fizemos uma novela a queo país inteiro assistiu que nos chamam automati-camente para trabalhar. É preciso apresentar-se novamente, dizer que você está à disposição,que você gostaria de fazer aquele trabalho,enfim, que você está no mercado. Não sei se issoé uma característica do Brasil. Li várias vezes quea grande Bette Davis colocou um anúncio nojornal pedindo emprego. Mas aqui é muito difí-cil, sempre foi, e eu tive que reinventar formaspara sobreviver. É também por isso que, comtodos os obstáculos inerentes à nossa profissão,tenho imenso orgulho de ter conseguido com-prar uma casa com meu trabalho.

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Na entrega do Prêmio Molière, com Antunes Filho, UmbertoMagnani, Naum Alves de Souza, Vladimir Capella e Anto-nio Abujamra (à direita)

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Com o filho André

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Capítulo XVIDivina Providência

Existe um fato aparentemente paradoxal. Nomesmo tempo em que eu jamais passei em testespara filmes publicitários, porque desconheçoesse universo e não sei transitar nele, assim queingressei na televisão nunca mais parei. Traba-lhei em todas as emissoras, com aquelas pausasque evidentemente geram a insegurança de nãovoltar a trabalhar. As chamadas entressafras.Mas os acasos, a sorte e as coincidências acaba-vam ocorrendo. E algumas histórias deliciosas.Como, por exemplo, o convite para participarda novela Os Imigrantes, da TV Bandeirantes.

Eu iria participar de um programa vespertinopara divulgar Lua de Cetim. Cheguei ao estú-dio, gravei o programa e, ao sair, alguém meesperava para me dizer que o diretor AttilioRiccó queria falar comigo. Quando cheguei à salado Attílio, era o Antonio Abujamra quem queriame ver. Ele dirigia a novela e me convidou parafazer a Mariinha, personagem que entraria namudança de fase da obra e seria mulher do PauloBetti, que eu já conhecia do teatro, mas comquem ainda não tinha trabalhado. Fiquei impres-sionada porque tinha ido gravar um programade televisão e saí contratada para trabalharnuma novela.

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Chegando em casa, recebi um telefonema, emque me diziam que eu tinha ganhado o PrêmioMolière de melhor atriz de teatro, por Lua deCetim. Eu já tinha negociado o salário com atelevisão, mesmo porque nunca tive agente oualguém que negociasse por mim. No dia se-guinte, quando eu voltei à emissora, oAbujamra disse: Se você viesse acertar o saláriohoje, iria pedir o dobro, não é? E caiu na gar-galhada. Só de birra carinhosa escolhi o Abupara me entregar o Prêmio Molière. Eu sim-plesmente adoro o Abujamra, uma pessoaquerida, inteligente e culto como poucos,diretor importantíssimo na cena brasileira e naminha vida. Me ensinou que não há lugar paraa ingenuidade. É preciso estar sempre pronta.Agradeço a lição.

Começamos a gravar, a novela era um grandesucesso e nos corredores do estúdio começou aesboçar-se um projeto de espetáculo com o PauloBetti que, mudando de percurso, culminaria comFeliz Ano Velho, de Alcides Nogueira. Paulo mefalou do livro, contou que havia sido professorde Marcelo Rubens Paiva e Marcos Kaloy naUniversidade de Campinas. Antes disso, porém,nós queríamos montar algo que o Alcides escre-vesse para o nosso querido Adilson Barros,grande ator já falecido, Paulo Betti e eu.

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O espetáculo se chamaria Fruto Verde, mas porum feliz acaso do destino, fomos a uma assem-bléia de atores e diretores organizada pelo Abuno TBC, em prol da preservação do teatro comoPatrimônio Histórico da cidade. Marcos Kaloyprocurou o Alcides já entusiasmado com o livrodo Marcelo. Deixamos o antigo projeto e nosdebruçamos no que seria Feliz Ano Velho, incor-porando outros atores. Havia então duas pessoasoriundas de grupos. Paulo Betti que vinha doPessoal do Vítor e eu do Grupo Núcleo. Naquelatentativa eterna de recuperar o trabalho de gru-po decidimos reunir o que se chamaria NúcleoPessoal do Vítor composto por Adilson Barros,Lília Cabral, que fazia a novela conosco, ChristianeRando que eu já tinha visto como Desdêmonanuma montagem de Otelo, de Shakespeare, comJuca de Oliveira e Ney Latorraca entre outros, edireção coletiva.

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Em Feliz Ano Velho, com Dartagnan Junior, Alzira Andrade,Marcos Kaloy e Adilson Barros (na primeira montagem)

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Capítulo XVIIO Aprendizado é a Melhor Recompensa

Ensaiávamos sem um tostão, nas condições maisprecárias que se possa imaginar, num frio intensodentro de um galpão na Praça Benedito Calixto.Mais parecia um porão, para onde também ia oAlcides, a fim de criar conosco. Nós improvisá-vamos com o material colhido a partir das en-trevistas com Marcelo e sua mãe Eunice Paiva, eo Alcides escrevia uma cena mais linda que aoutra. O formato final foi, mais uma vez,arrebatador. Podíamos mais uma vez denunciar,através do teatro, os anos de opressão que desa-gregaram tantas famílias como a do deputadoRubens Paiva, mostrando a dignidade de umamulher extraordinária como Eunice Paiva semprepróxima de seus filhos. Mostrar o sofrimento sempieguice, sem melodrama. O público recebeunosso espetáculo de coração aberto, assim comoa crítica especializada, que lhe deu 18 prêmios.

Feliz Ano Velho foi para mim o espetáculo maisbem-sucedido. Foi também o trabalho que mepossibilitou comprar minha casa, o que adquireum significado muito forte quando penso em todaa minha trajetória. É extremamente gratificantequando, além do reconhecimento do público, umelenco pode percorrer o Brasil inteiro, entrar emcontato com uma gama imensa de pessoas, par-

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Duas cenas de Feliz Ano Velho, com Marcos Frota

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ticipar de festivais internacionais e, ainda, ter oretorno financeiro que torna possível adquirir umbem fundamental como uma casa.

Esse período da minha vida me trouxe presençasdefinitivas como a de Paulo Betti, um grande equerido amigo, uma pessoa que eu admiro erespeito. Desenvolvemos uma forte identidade,desde nosso encontro na novela. Além de seutalento ímpar, Paulo é uma pessoa simples,generosa. Nunca nos abatemos pela dificuldadede montar o espetáculo. Como não tínhamosverba, pedimos dinheiro emprestado para mi-nha mãe, para o Adilson Barros, e assim fomosconstruindo nosso sonho.

A estréia, no Centro Cultural São Paulo, em 1983,foi um escândalo. O público chegou a quebraruma porta de vidro tamanha a aglomeração.Assim como em Lua de Cetim, foi um susto mara-vilhoso, porque não esperávamos a recepção calo-rosa e emocionada que duraria seis anos. Naverdade, estávamos sintonizados com o momen-to que vivia o País. Marcelo nos ofertou a possi-bilidade, com seu livro, de entrar em contato como que estava mudando no Brasil e Alcides comseu texto visceral nos deu a voz da liberdade.

O público fazia filas intermináveis nas bilhete-rias. Curitiba foi a primeira cidade para a qual

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Cena de Feliz Ano Velho

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viajamos em turnê, antes de fazermos uma belatemporada no Rio de Janeiro. Estávamos hospe-dados num hotel próximo ao Teatro Guaíra emeu prazer era levantar cedo e às 9 horas damanhã ir até a porta do teatro para ver a filaque dava voltas. Todas as noites, o teatro recebiaduas mil pessoas. Uma experiência extraordiná-ria. Assim como foi nossa ida para Cuba.

Fomos convidados para abrir o Festival de Teatrode La Habana, em 1995. Como não havia vôodireto para Cuba, passamos pela Jamaica, aondechegamos atrasados por causa do vôo que vinhado Brasil. Havia apenas um vôo semanal daJamaica para Cuba, sendo que o nosso acabarade partir. Não podíamos permanecer uma sema-na em Georgetown, uma vez que o Festival deCuba nos esperava para a abertura. Criou-se umaverdadeira ONU com Paulo e Marcelo indo àsembaixadas brasileira e cubana para tentarresolver o problema. O governo brasileiro conse-guiu obter uma autorização para que um aviãocubano pousasse em Georgetown. Embarcamosnum aviãozinho militar cubano, cheio de furosde balas e chegamos na véspera da abertura dofestival, com o cenário no meio do avião que,por ser militar, não tinha bagageiro.

Fomos recebidos como diplomatas, foi maravi-lhoso e nos encaminhamos diretamente para umteatro de 3 mil lugares.

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Cena de Feliz Ano Velho

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Nós éramos muito desinformados e achávamosque em Cuba não encontraríamos uma tecnologiaavançada. Levamos 2 gravadores de rolo, ou sejaum fardo, com a trilha sonora deslumbrantecomposta por Tunica Teixeira, nos achando omáximo com aqueles aparelhos modernos.Quando chegamos ao teatro, encontramos umatecnologia alemã de última geração. Naquelaépoca, Cuba ainda tinha subsídios da União Sovié-tica. Era o que mais moderno se podia imaginar.Não sabíamos onde esconder nossos cômicos eprecários gravadores e nossa vergonha. O teatroera equipadíssimo e, ao lado disso, ocorria umfato curioso e marcante. Antes do início doespetáculo, a camareira distribuía aos seis atoresdo elenco, 6 copos de vidro para tomarmos água,uma vez que não havia copos descartáveis. Aofinal, ela recolhia e guardava os copos, o que nosdava a noção de como se dava valor a tudo e dafalta de desperdício, acostumados que somos acerta fartura e a jogar fora os copos de plástico.

A abertura do Festival contou com a presençados Ministros da Cultura, da Defesa e de váriossecretários.

No dia seguinte, haveria uma entrevista coletivae nós, ainda imbuídos de certa nonchalance bra-sileira, ouvimos o Adilson dizer que não precisá-vamos ter pressa, que sempre havia atrasos e que

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um ônibus estava à nossa disposição. Quandochegamos ao local da entrevista, atrasados, ànossa espera estavam o ministro da Cultura, umacentena de jornalistas e morremos de vergonha.Mas foi uma entrevista maravilhosa, tivemosenorme cobertura, fomos às emissoras de tele-visão e aprendemos uma grande lição.

Foi um período feliz da nossa vida. Participamosainda de festivais em Nova York, Porto Rico eMéxico. Como Lilia Cabral já tinha um contratocom a TV Globo, minha irmã Alzira a substituiualgumas vezes. Lilia Cabral e Marcos Frota saíramdiretamente pra TV Globo, pelo trabalho quefaziam no espetáculo. Paulo Betti foi imediata-mente chamado para dirigir todas as peças doRio de Janeiro, porque foi um sucesso enlouque-cedor na cidade, na qual eu fazia o espetáculo egravava a minissérie, A Máfia no Poder, dirigidapelo Roberto Faria, onde eu fazia a mulher doReginaldo Faria, na verdade meu primeiro tra-balho na TV Globo.

Em 1988, a temporada de Feliz Ano Velho tinhaterminado e fui chamada pela TV Globo parafazer a novela Fera Radical, de Walther Negrão.Lá, reencontrei Rodrigo Santiago, que eu conhe-cia desde o teatro de Arena, onde ele tinha sido

Cena de Feliz Ano Velho, com André Frateschi (na 2a monta-gem) e, abaixo, com Reginaldo Faria em A Máfia no Poder

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um maravilhoso professor de interpretação natu-ralista, era um ator extraordinário e eu faria suamulher na trama. Tive muita sorte com meusparceiros de cena. Na televisão trabalhei com osmelhores atores que este país já produziu. Alémde Rodrigo, fui casada com Otávio Augusto emEsperança, de Benedito Ruy Barbosa; com OsmarPrado em Chocolate com Pimenta, de WalcyrCarrasco; além de Jonas Bloch, Laerte Morrone,Geraldo Del Rey, Luis Carlos Arutin, OtávioAugusto, Paulo Betti; mais recentemente comTato Gabus na minissérie JK, de Maria AdelaideAmaral e Alcides Nogueira e, sintetizando otalento de todos, o grande Hugo Carvana. Cadaum deles merece um capítulo à parte pelaimportância que tiveram na minha carreira e naminha vida.

Depois da novela, retomamos Feliz Ano Velho,em 2000, com outro elenco de que faziam parteClaudio Fontana, revezando com Marcos Frota,Genésio de Barros, Márcia Brasil, Juliana Bettique revezava com Maria Ribeiro, André Frates-chi e eu. Apesar do grande frescor do elenco, vique a remontagem adquiriu uma cara de recor-dação, e teatro é urgência. A primeira monta-gem tinha essa urgência, ela dizia o que precisa-va ser ouvido. A segunda tinha uma aura decuriosidade, era mais nostálgica, não teve aque-le impacto, mesmo porque era outro momento

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Cena de Fera Radical

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Cena de Fera Radical, com Henry Pagnoncelli

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histórico. Até hoje, há pessoas que dizem quese transformaram depois de assistirem ao nossoespetáculo. Ele veio com os movimentos de rockdos anos 80, com Legião Urbana, Lobão, ArrigoBarnabé. Não tiro o valor nem o mérito da se-gunda montagem, mas não era tão contunden-te. Falar de Rubens Paiva antes do Movimentopelas Eleições Diretas era revelador, uma vez quequase não se falava da questão dos presospolíticos, dos desaparecidos.

No dia da votação da Emenda Dante de Oliveira,que estabeleceria as eleições diretas, estávamosem cartaz no Teatro Augusta. Foi o único diaem que suspendemos o espetáculo por acharmosimprescindível acompanhar na Praça da Sé avotação no Congresso. Todos nós choramos coma derrota da emenda.

Com o êxito de Feliz Ano Velho nos anos 80 e asexcursões pelo País, eu tinha conseguindo viverde teatro pela primeira vez na minha vida semprecisar fazer televisão paralelamente. Além deminha função como atriz, eu ainda administravao espetáculo.

Durante seis anos, permaneci totalmente tomadapor aquela paixão. Eu sabia, no entanto, que umadádiva desse porte não ocorre muitas vezes emnossa carreira. Era como um presente do céu.

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Com Alcides Nogueira

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Capítulo XVIIIA Intuição Veio me Visitar e Ficou

Por tantas surpresas é que desisti de buscar expli-cações racionais para o que não compreendo deimediato como, por exemplo, quando surgemsituações que em segundos nos levam a transfor-mações radicais em nossas vidas. Se com Lem-branças da China descubro o que é o pânico, étambém a partir daí que aprendi a seguir minhaintuição sem me questionar, simplesmente por-que o modo como o texto chegou às minhasmãos foi algo mágico para mim.

Estava em São Luís do Maranhão em excursão comFeliz Ano Velho, e continuaríamos subindo rumoa Manaus. Era nosso dia de folga em São Luís.Marcos Frota, Marcos Kaloy e eu resolvemosconhecer a cidade de Alcântara, que todos diziamser uma maravilha. A viagem para lá não erasimples. A distância é grande e a travessia enfren-ta um mar batido. Ao chegar lá, é preciso descernumas canoas, ou pequenos barcos até a areia paradesembarcar, visto que não há profundidadesuficiente para atracação de barcos maiores.

A ida foi maravilhosa. Fomos bem cedo, com osol subindo em alto mar e o vento batendo norosto. Lá chegando, fiquei fascinada com o lugar.Místico, com ruínas históricas importantes. Passei

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por ali o dia todo e ambos, Kaloy e Frota resolve-ram dormir na casa de uns amigos que tinhamconhecido e voltar no dia seguinte. Uma ansieda-de incontrolável tomava conta de mim. Queriavoltar para o hotel em São Luís sem entender acausa daquela urgência. Sozinha, voltei à praiaaonde chegava o barco. Quando estava chegan-do, vi o barco saindo e somente naquele momen-to eu ficaria sabendo que ele não respeitavahorários, mas a maré. Era a última embarcaçãodo dia. Fiquei em desespero, precisava voltar.

Havia um pequeno barco, cujo dono me ofere-ceu carona, assim como a algumas outras pessoasna mesma situação, dentre as quais um homemcego que precisava chegar para uma consultano dia seguinte cedíssimo. Adorei a idéia e fui.Não demorou muito para me dar conta da ciladana qual me encontrava. O tal dono do barcotinha acabado de comprar a embarcação e nãosabia manejá-la. O mar começou a encrespar, ovento a ficar cada vez mais forte e a noite a cair.Não se via costa para lado algum. O barco joga-va tanto que o cego teve que ser amarrado aomastro pra não cair. Foram horas nessa traves-sia maluca, todos encharcados, correndo riscode naufrágio.

Depois fiquei sabendo que isso era mais comumdo que eu imaginava, naquela região.

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Finalmente, conseguimos chegar ao porto. Bran-ca como cera, corri para o hotel, já noite alta eencontro Marinho, administrador do espetáculo,que me diz: Chegou do Tide para você. Era Lem-branças da China. Era ele que me chamava dooutro lado do mar.

Extasiada com o texto, fiz de tudo pra montá-lo. Só sei que queria a direção de Jorge Takla.Só me lembro de chegar a sua casa, entregar otexto e convidá-lo para dirigir. Era a primeiravez que o convidavam sem que a escolha do tex-to tivesse sido dele ou da produção. Nos associa-mos, perdemos dinheiro os dois, mas foi dosespetáculos mais lindos que eu fiz. É uma penanão termos tido muito público. Ainda acho quedevo alguma coisa a esse texto, mas não sei setenho a coragem suficiente pra reviver Laura.

O cenário do Serroni era deslumbrante. Escadase praticáveis suspensos diante de um cicloramaimenso. No primeiro plano, uma imensa árvore,de verdade, que precisou de 20 homens para sercarregada. Um buraco foi feito no palco, e elafoi plantada ao lado de um buraco de terra quecavávamos no final. Era impressionante. O Jorgefoi um maestro, um esteta e um grande amigodurante todo o processo. Foi também cupido domeu romance com Ney Bonfante.

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Em cenas de Lembranças da China

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A história com o Ney é curiosa, porque começana montagem de Lua de Cetim em 1981, ondenos conhecemos. Ele não era iluminador ainda.Quem operava a luz, criada por Marcio Aurélio,era Giancarlo, que um dia apareceu no teatro,nos apresentou o Ney, a quem ele estava ensi-nando o trabalho dizendo que seria sua primeiravez como operador de luz.

Durante a temporada, na sala Funarte, não tive-mos contra-regra. Na verdade nós é que fazía-mos tudo. Eu chegava ao teatro, fazia uma sopainstantânea que tomávamos em cena e enquan-to eu fazia a sopa, o Ney me ajudava a organi-zar a casinha, porque eu tinha que colocar ospratos na mesa. Ele sempre fazia uma brinca-deira comigo. Como havia um pingüim em cimada geladeira, a cada dia ele escondia o pingüimem algum lugar do cenário, menos em cima dageladeira. Era uma brincadeira nossa. Eu ia abriro forno e lá estava o pingüim, pegava um objetode cena, o pingüim estava lá. Eu só descobriaem cena porque ele escondia o pingüim depoisque eu tinha arrumado o palco. A temporadaacabou, muitos anos se passam e, em 1986, estouensaiando Lembranças da China com JorgeTakla, que criou uma iluminação esplêndida nolindo cenário do Serroni. Mas, na hora de montara luz, nosso diretor não estava satisfeito comnenhum dos iluminadores. Perto da estréia res-surge o Ney que eu nunca mais tinha visto.

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Nos reencontramos e ele continuava como antes,com seu cabelo cacheado e já era um excelenteprofissional. Nossa sintonia no trabalho era pro-funda e nunca esqueço que o cenário tinha umaescadaria sem proteção dos lados, era toda vaza-da, suspensa no ar por cabos que não se viam.Eu andava, subia e descia aquelas escadas, semnenhuma proteção. Havia uma seqüência emque eu falava e a luz me acompanhava, a cadadegrau que eu descia a luz ia me acompanhando.Um dia, um dos refletores queimou e eu conti-nuei a cena, falei, mas vi que a luz não abria;desci dois degraus, e o Ney imediatamente meiluminou. Fazíamos juntos.

Naquela época não se gravava o mapa de luz nocomputador, era tudo na mão. Esse jogo do tra-balho, essa sintonia foi fazendo com que nossentíssemos seduzidos um pelo outro. No TeatroMaria Della Costa eu olhava para cima, para acabine de luz e via aqueles olhos azuis assistindoao espetáculo, me observando. E no tempo daluz nos apaixonamos.

Nos casamos e ainda ganhei uma enteada, pala-vra que não expressa bem seu significado, abso-lutamente adorável, terna, que amo como umafilha, a Carol.

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Com Alcides Nogueira e Ney Bonfante

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Capítulo XIXAlcides Nogueira, Emblema da Paixão

Meu encontro com Alcides Nogueira, o Tide,é um dos mais belos mistérios de minha vida.A maneira como nos conhecemos, simples,casual, e o fato de nunca mais nos termosperdido de vista, adquire uma conotaçãomágica. Com a montagem e o sucesso da Luade Cetim fomos nos aproximando e perce-bendo nossos pontos de identidade. A maneirade pensar o mundo, ver as pessoas, de fazerteatro. Com a nossa afinação no palco foi-seconsolidando nossa amizade. Considero omelhor dramaturgo atual. Ousado, não escrevepara simplesmente ter sucesso, mas para darvazão à sua alma sensível, para servir ao teatroe à arte das palavras benditas.

Sua generosidade no processo de criação de Fe-liz Ano Velho é inesquecível. Ele assistia a todasas nossas improvisações, criou um mapa de todasas personagens, um mapa gráfico com o desenhode todas as personagens, mostrou para o elencoe para o Paulo Betti que nos dirigia. Cada perso-nagem tinha uma cor e uma trajetória. Fazíamosas improvisações a partir desse mapa, e em cimadelas ele fazia a dramaturgia. Foi um trabalhomaravilhoso, um bordado.

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Só um grande talento consegue ter a dedicaçãoabsoluta de criar para cada personagem a lingua-gem que se encaixa na boca do ator.

Tide nunca gostou de viajar de avião e quandofomos para o Festival Latino de Nova York, eledisse que tentaria ir mais tarde porque estavamuito ocupado naqueles dias. Dois ou três diasdepois, recebemos um cartão lindo, com umalágrima dizendo que ele não viria, não conse-guiu embarcar. Mas era apenas um detalhe,porque ele sempre esteve presente.

Com Florbela Espanca, apaixonei-me completa-mente pela língua portuguesa, pela riqueza designificados e a sonoridade das palavras, com aimensa capacidade dessa língua de traduzir opensar e o sentir de seus herdeiros. Os textos doTide têm esse rigor. Possuem a singularidade decada palavra e de cada frase. Em Floberla não sepercebia exatamente o que era Alcides e o queera Florbela, tal a integração de linguagem queele conseguiu.

Há um texto no final do espetáculo que traduzexatamente o estado de alma em que eu meencontrava naquele momento e de alguma ma-neira responde a todas as perguntas que eu mefazia sobre meu pragmatismo taurino: Sou umacéptica que crê em tudo, uma desiludida cheia

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de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente,todo mal da vida, uma indiferente a transbor-dar de ternura. Grave e metódica até a mania,atenta a todas as sutilezas dum raciocínio claroe lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espé-cie de D. Quixote fêmea a combater moinhosde vento, quimérica e fantástica, sempre enga-nada e sempre a pedir novas mentiras à vida,num dom de mim própria que não acaba, quenão desfalece, que não cansa!

Cena de Florbela

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Em Força de um Desejo, novela de Gilberto Bragae Alcides, na TV Globo, nos encontramos pelaprimeira vez na televisão. A personagem era umprimor, bem como a novela em sua totalidade.Bárbara Ventura era uma rede de contradiçõese surpresas. Foi meu retorno à TV Globo depoisde 5 anos de ausência, e me abriu as portas paraimportantes trabalhos que se seguiram.

Mais recentemente pude interpretar na minis-série JK, escrita em parceria com Maria AdelaideAmaral, o papel de Naná, irmã do PresidenteJuscelino Kubitschek, na terceira fase da minissé-rie, um trabalho emocionante para mim porqueeu gosto de Brasília, adoro aquela arquitetura,os espaços abertos, o vermelho da terra, a florde cerrado.

É uma herança da minha infância, quando meupai deixou nossa casa pela primeira vez para via-jar e estar presente na inauguração da cidade.Ele acreditava que a fundação da nova capitalseria a grande virada no Brasil. Finalmente esta-va nascendo o País mais justo e desenvolvido como qual ele sempre sonhara.

Papai criou um prendedor de gravatas que tinhade um lado, em alto-relevo, um esboço do Corco-vado e do outro o Palácio do Planalto. Era lindo,e me resta um que guardo com muito carinho.

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Quando estreou a minissérie, meu pai pediu queeu presenteasse o Tide com o prendedor. Nãotive coragem, mas meu amigo sabe que é dele.

Cena de Força de um Desejo

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Com uma mala cheia desses mimos, partiu detrem até Goiás e de lá de carona num caminhãode cerveja até Brasília. Não sei que eldorado eleesperava encontrar. Mas aquela não era a terraprometida da liberdade e da justiça. Lá se repe-tiam os vícios e defeitos da antiga capital.

Ele, que pretendia abrir caminho para que fôsse-mos toda a família, morar lá, descobriu que nãoseria fácil. Sem capital, não conseguiria abrir suapequena joalheria e relojoaria para começar ummundo novo. Não conseguiu vender muitosprendedores. Sempre dizia que se tivesse idovender cachorro quente teria enriquecido. Vol-tou exausto, mais pobre, mas encantado. Nostrouxe uma toalha de mesa com o rosto do presi-dente Juscelino e a cidade ao fundo, e um disco78 rotações, com o hino de Brasília. Eu amavaouvir aquela música e sei cantá-la até hoje.

Depois disso, de volta a São Paulo, ele desistiude ser ourives, vendeu sua pequena loja na RuaPadre Adelino, no Belém, abandonou a zonaleste e foi cuidar de um restaurante industrialno Brooklyn Paulista. A vida da família mudoutotalmente. Aos 10 anos de idade passei a ajudá-lo diariamente e entrei em contato com os ope-rários do setor metalúrgico. Soube pela primeiravez o que era um sindicato. Brasília sempre con-terá os sonhos de meu pai.

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Tide conhecia toda essa história e sabia da minhaligação umbilical com o nascimento de Brasíliae estar na minissérie foi revisitar um períodoimportantíssimo da minha vida. Repensar o Paísque poderia ter existido e que foi abortado em64, para desencanto de meu pai.

Nesses anos todos de parceria, especialmente apartir de Florbela, selamos nossa profunda ami-zade. Temos uma identidade estética e umaidentidade na apreensão do Universo. Eu tenhouma compreensão do texto do Alcides que vaialém da própria razão, ela entra pelos meusporos, pela minha emoção.

Com José de Abreu em cena de Força de um Desejo

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Com a atriz Yara Amaral

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Capítulo XXMinha Família Televisiva

Existem pessoas especialmente importantes naminha vida. Uma delas, com quem tenho tido afelicidade de me encontrar, desde 1974, em váriostrabalhos, é Laura Cardoso. Em Ídolo de Pano,ela interpretava uma mulher linda, elegante. Eufazia uma mulher apaixonada por Jean deClermont, personagem de Dennis Carvalho. Co-mecei a ficar muito impressionada com o trabalhode Laura, que eu acompanhava da coxia. Comoeu nunca tinha feito televisão, e não havia escolade interpretação para televisão, eu me sentavado lado de fora do cenário e ficava vendo a Laurafazer suas cenas. Todas as cenas em que eu nãoestava com ela, eu acabava assistindo. Faço issoaté hoje. Todos os trabalhos que eu faço com ela,sou sua platéia e continuo aprendendo com tudoque ela faz. Trabalhamos mais algumas vezes jun-tas e nos reencontramos quando fui para a TVGlobo fazer Fera Radical, minha primeira novelana emissora. Quem também fazia parte do nossonúcleo de gravação era Yara Amaral. Eu era umafalsa filha da Yara, que no decorrer da história sedescobria filha da Laura Cardoso. Era um sonhoporque nessa minha primeira novela na TV Globo,eu estava cercada dessas duas atrizes extraordi-nárias. Tive muita sorte na televisão por tercontracenado com grandes atrizes e atores.

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Capítulo XXIAprender Fazendo

A televisão é um grande exercício para o ator.Como não existe uma vasta literatura específica,o ator aprende assistindo, ao vivo, ou como eu,contracenando com atores experientes. Quantomais você faz, melhor você fica. Isso se observaem atores jovens que nunca fizeram nada, quecomeçam, fazem uma primeira novela e talveznem se saiam tão bem, mas se tiverem algumtalento, no terceiro ou quarto trabalho, acabamsobressaindo porque vão aprendendo no exer-cício da profissão.

Laura Cardoso e Yara Amaral foram referênciaspara mim, não só na forma de interpretar, masenquanto comportamento, postura no universoda televisão. Existe um comportamento em cenae um fora de cena, no camarim, nos bastidores,na sala de maquiagem, muito diferente de tudoo que eu conhecia. No teatro é tudo muito aber-to, afetuoso, transparente, impulsivo, espalha-fatoso às vezes, e na TV comecei a descobrir umaoutra forma de relacionamento. Como se relacio-nar com todos e como conviver com a competi-ção mais acirrada sem criar problemas.

Aprendi com elas a ter um olhar profissional. Nãose magoar à toa, sabendo que você consegue

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o melhor de todos os profissionais se tambémder o melhor de você. É preciso estar focadono trabalho.

Na televisão não há tempo a perder. É precisochegar todos os dias preparado, com a cena estu-dada, não só decorada, e vir com uma propostasempre pronta a ser modificada.

Às vezes, o ator idealiza algo para a cena, o queé sempre uma tentação e o diretor quer o avessodaquilo. O ator tem que ter maleabilidade paraabrir mão de sua idéia em nome do que o diretorpede, porque este tem uma visão total da obra.No teatro, é possível ver a obra inteira, na TV eno cinema não. O ator faz suas cenas, no máximoacompanha algumas outras gravadas no mesmocenário. Então não adianta trombar com o dire-tor, por mais que você tenha absoluta certezada atitude que escolheu para a personagem. Sóo diretor sabe se ela é adequada à obra.

Trabalhei uma vez mais com a Laura, mais recen-temente, em Como uma Onda, novela de WaltherNegrão na qual ela fazia uma cega numa compo-sição extraordinária. Esses trabalhos, além do as-pecto profissional, proporcionaram-nos uma con-vivência deliciosa. Apesar de morarmos em SãoPaulo, encontrávamo-nos muito mais no Rio deJaneiro, no Hotel Everest. Tomávamos café da ma-

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nhã juntas ou saíamos para jantar na Fiorentina,comer uma massa depois das gravações. Durantealguns anos o hotel foi o ponto de encontro dosatores paulistas que iam gravar no Rio de Janeiro.Ali, no meio de Ipanema, era o refúgio paulista.Para muitos, funcionava como um consolo paraa distância de casa, da família. Era muito mais doque um hotel, aconteciam mil coisas, queríamostodos saber quem tinha chegado naquele dia, queelenco, de que produção, enfim, aquilo era umagrande festa, um grande encontro.

No hotel reencontrei Maria Fernanda Cândidoque também estava em Como uma Onda. MariaFernanda era uma menina que eu tinha conhe-cido anos atrás numa peça de teatro produzidapelos padres jesuítas, sobre a vida do Padre Joséde Anchieta para comemorar o IV Centenáriode Anchieta. Fui convidada pelo padre CésarAugusto, homem culto e sensível, para dirigir elevei um susto, porque, com meu passado eformação nunca fui muito próxima de questõesreligiosas. Fui honesta com o padre e disse queachava não ser a pessoa mais indicada paradirigir o trabalho. Ele, então, me fez uma per-gunta e me propôs um desafio: se eu acreditavaem Deus, e em caso de resposta positiva, seaceitava fazer o retiro espiritual de Santo Inácio.Para um iniciante, são oito dias sem falar,meditando e estudando a Bíblia. Eu aceitei, e

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Maria Fernanda fez parte desse grupo, porquetinha estudado no Colégio São Luís e o padre aconhecia, assim como sua família. Ela trabalhavacomo modelo, era uma ótima aluna, e ele suge-riu que ela fizesse parte do elenco. Vi aquelamenina deslumbrante, uma mulher linda quetinha acabado de chegar da Bahia, morena e decabelos cacheados, fiquei encantada com suaempatia e incorporei-a ao elenco. Fomos para oretiro, e a experiência do silêncio foi extrema-mente enriquecedora. Ela cobra uma disciplinae um autocontrole que normalmente não temos.Somos derramados, verborrágicos, perdulárioscom a palavra, e lá se vive a experiência da con-tenção, do pensamento, da meditação, do valore do significado da palavra. Quer algo mais apro-priado para o teatro? Descobre-se também quea relação com o outro não precisa passar neces-sariamente pela palavra, mas encontrar outrosmeios. Descobrir o valor do olhar, da respiração,enfim uma experimentação de contato com odivino e o autoconhecimento.

Resolvi que dirigiria o espetáculo dando ênfaseà fundação da cidade de São Paulo, que tem suaorigem num colégio. Pudemos fazer esse traba-lho dentro da igreja do Pátio do Colégio e o leva-mos para Coimbra, em Portugal. Lá tive a oportu-nidade de aumentar o espetáculo acrescentandooito atores portugueses ao elenco brasileiro, o

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que reforçou os aspectos da colonizaçãoportuguesa. Teve grande receptividade. Pudeacompanhar o crescimento de Maria Fernanda,que estava começando e tinha entrega, discipli-na e determinação no trabalho. Nos reencon-tramos na novela, deslumbrante, já senhora desi, atriz consagrada, tendo sido eleita a mulhermais linda do mundo. Hoje ela é uma grandeamiga, mãe, uma colega exemplar. Quando euolho para trás vejo como na minha vida, todasas experiências artísticas também foram experi-ências de vida.

Ao fazer esse balanço, constato que meu traba-lho me ajuda a evoluir. Nunca separei as duascoisas, são duas linhas que sempre caminharamjuntas, não paralelas porque as paralelas não setocam, e elas são linhas que vão se cruzando otempo inteiro: a minha vida e o meu trabalho, aminha arte.

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Capítulo XXIIO Tempo Não Existe

Penso que todas as vezes em que eu quis desistirde tudo, eu não consegui, porque seria desistirde mim mesma, desistir da minha existência, nãoera o fato de mudar de profissão. Não há essapossibilidade na minha vida, porque a minha vidae a minha profissão são a mesma coisa. Quandoeu fiz a falsa filha da Yara Amaral em Fera Radi-cal, ela estava na Globo há muito tempo. Euestava começando ali, tentando entender aque-le universo, eu disse para ela que queria passaruns 6 meses para ver se ficaria no Rio de Janeiro.Ela riu, e disse: Seis meses, Denise? Pelo menosseis anos. Naquele momento achei um exagero,mas hoje eu sei que ela tinha absoluta razão,porque o tempo para ser aceita noutra comu-nidade é muito longo e demanda muita aplica-ção. Ela disse que tinha vindo de São Paulo hámuito tempo e só recentemente se sentia aceitae reconhecida lá. Ela tinha acabado de comprare pagar uma casa e estava feliz com aquela casaque conheci. Sempre foi uma doçura comigo. Al-gumas pessoas achavam que ela tinha uma per-sonalidade muito forte e comigo foi sempre qua-se que maternal. Fui assistir Filomena Marturano,de Edoardo Di Filippo que ela fazia e ainda ficoume perguntando se eu achava que o final queela fazia estava bom.

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Era muito carinhosa. Logo depois da novela elamorreu, naquele trágico acidente do BateauMouche. Terminamos de gravar a novela emnovembro e na passagem do ano ela morreu.Ao acordar de manhã, liguei a televisão que tra-zia aquela notícia de uma tristeza imensa.

Passaram-se os anos e, em 2004, a TV Globo resol-ve fazer uma reconstituição do fato para o pro-grama Linha Direta. Me convidaram dizendo queeu era muito parecida com ela. Levei um susto,nunca me tinham dito isso. Comecei a olhar umasfotos e a achar que realmente havia algumasemelhança. Talvez no jeito de olhar, não sei,alguma semelhança havia. Pude fazer esse pro-grama, importante para mim, na medida em queme reaproximou da Yara, e trouxe novamenteà luz a questão daquele estúpido acidente e dafalta de punição para os responsáveis. Comoatriz, fazer a gravação do barco afundando foiuma experiência impressionante e tive umimpacto emocional muito forte. Fiquei bastanteabalada. O barco que reconstruíram era muitobem-feito, a reconstituição da época era impe-cável e aconteceu algo inexplicável.

Ao provar a roupa de Ano-Novo, com a qual eugravaria a cena do barco, esta era uma pantalonaque estava larga na cintura.

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A figurinista disse que, como eu iria colocar umablusa por cima, não revelaria que a calça eragrande para mim. Comecei a gravar. Para a simu-lação do barco afundando à noite, era um barcomecânico, havia uma piscina enorme, no meiodo Projac, uma com mais de 2 metros de profun-didade, onde eu devia mergulhar para fazer acena do corpo dela morta. Estava frio, era inver-no, e no Projac faz muito frio durante a noite. Odiretor deu-me as coordenadas de que eu tinhaque ficar boiando um pouco, esvaziar o pulmãopara poder afundar e desaparecer e assim elecaptaria a imagem.

Essa piscina tem ondas artificiais que reprodu-zem o mar. Deitei na água gelada. Quando euafundei, havia ondas em movimento, e foi atéengraçado porque elas tiraram a minha calça,que desceu por estar larga e enroscou nos meusjoelhos. Fiquei lá embaixo, com as pernas amar-radas, sem conseguir subir. Com muita forçabatendo os braços para subir e percebendo queeu era duas, eu era uma personagem Yara e eraeu, Denise perguntando a Deus que experiênciaera aquela que eu estava passando. Quase meafogando porque eu não tinha mais fôlego econtinuava lá embaixo. Felizmente, eles sãomuito profissionais, havia vários seguranças, na-dadores, salva-vidas e, ao perceberem que eu

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estava demorando para voltar, um deles mergu-lhou e me puxou. A calça foi embora, e eu fiqueisó com a blusa. Depois eu continuava me pergun-tando por que eu tinha que passar por isso, desdea calça que estava larga, como uma coisa quevem anunciando outra e fiquei pensando se aYara também não teve alguns sinais que a avisa-ram antes do acidente.

Ao assistir, achei um belíssimo programa, muitobem-feito e acho que ela ficou contente. Abrirespaço na minha vida para as questões menospragmáticas, menos objetivas, menos racionais éum exercício constante. Porque pela minha edu-cação dos primeiros anos sempre tive preconceito,talvez até medo, de tudo o que é inexplicável,impalpável. Na nossa profissão isso acontece otempo inteiro, não sei se são energias, deuses,mas a sorte, o destino, o acaso estão presentes otempo inteiro. Não querer controlar tudo eexplicar tudo sempre foi um exercício. Hoje eudeixo fluir muito mais, hoje eu sei que existe umoutro universo que corre em paralelo. Existe umfato recorrente. Muitas vezes, quando eu ficavadesempregada, quando eu tirava o último dinhei-ro do banco, o telefone tocava e surgia umtrabalho. E outras vezes, perder um trabalho nãoé uma perda, mas um aprendizado e um encami-nhamento para algo melhor, ainda que não pa-reça naquele momento.

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Capítulo XXIIIUm Oásis

Assim que cheguei ao Rio de Janeiro para gravarFera Radical, reencontrei Lilia Cabral que hoje éuma grande amiga, quase uma irmã. Nos conhe-cemos através do Paulo Betti na montagem deFeliz Ano Velho. Durante a temporada, éramosaté distantes. Eu era muito amiga da CristianeRando, querida amiga até hoje, com quem tinhatrabalhado na TV Bandeirantes em Os Imigrantes.

Fui para o escritório no bairro do Jardim Botânicocom uma malinha, assinei meu contrato e estavaali na Rua Lopes Quintas sem saber para onde ir,porque eu não tinha casa para morar, não tinhahotel, estava perdida ali no meio da rua pensandoo que fazer. Passa um Fiat caixotinho, daquelesantigos, com a Lília dentro. Ela toca a buzina eme pergunta o que eu estava fazendo ali, e eurespondi que tinha acabado de assinar o contratoe não sabia para onde ir. Entra aí e vai pra minhacasa, ela disse. Foi assim que eu passei a novelainteira morando com ela, em seu apartamentono Jardim Botânico, e que nos tornamos essasamigas que somos até hoje. A partir daí nos acom-panhamos pela vida, moramos juntas muitotempo, e fizemos um espetáculo chamado Unhae Carne, de Chico Azevedo. Fizemos no Rio e de-pois viajamos para algumas capitais brasileiras.

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Em Unha e Carne com Lília Cabral

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Esses laços me remetem a uma das coisas maisprazerosas em nossa profissão. Os encontrosque se realizam a cada vez que um elenco sereúne. São meses de convivência, não apenasprofissional, mas emocional e afetiva. Não épossível trabalhar indiferente a quem nos cer-ca. Uns um pouco mais, outros menos, mas aca-bamos criando uma ligação com os colegas deelenco, tanto na televisão como no teatro eno cinema. Alguns perdemos de vista por anose voltamos a nos encontrar mais tarde. Comoutros conseguimos manter uma constânciamaior nos aproximando mais.

Às vezes, parece que só ficamos próximos daspessoas com quem estamos trabalhando nomomento, mas o que ocorre é que cadatrabalho exige tanto de nosso tempo e energiaque acabamos vivendo nossa vida social juntoàs pessoas com quem estamos compartilhandoo trabalho. Sou grata pelo privilégio de ter tra-balhado com tantas pessoas enriquecedoras aolongo desses anos.

Talento, paciência, capacidade de compreensão,tolerância, disponibilidade de trabalho, criativi-dade e vontade de trocar, tudo isso está embu-tido numa relação cênica. Procuro sempre apren-der com o outro.

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Capítulo XXIVOs Mestres

O primeiro diretor que me vem à mente é sem-pre Augusto Boal. Até hoje trago a raiz do queaprendi e da forma como aprendi a trabalharno teatro de Arena. A interpretação, o teatrocomo proposta de vida.

Marcio Aurelio é de uma importância fundamen-tal, além de ser até hoje um grande amigo – fizrecentemente outro trabalho com ele, Sossegoe Turbulência no Coração de Hortência, de JoséAntonio de Souza para o Teatro Nas Universida-des, mas estamos nos devendo um trabalho tãoforte quanto Lua de Cetim. Além de ser umdiretor muito habilidoso com todos os atores,ele nos conhece profundamente e eu sempretenho a impressão de que diz a palavra certa nahora certa. Ele revela, abre um leque de possibi-lidades. Fiz com ele uma montagem de Vestidode Noiva, de Nelson Rodrigues que não foi bem-sucedida em termos de público, mas eu adorava.Era um momento em que a dramaturgia de Nel-son Rodrigues não tinha voltado à luz. Ninguémmontava suas peças e o Marcio teve essa visãode realizar o espetáculo. Fiz Madame Clessy comHugo Della Santa, grande ator que nos deixoumuito cedo. O Marcio dá segurança ao ator.

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Pé-de-boi, traz sempre um ensaio preparado,cheio de propostas e sugestões e, com seu olhar,rigoroso, corrige todos os detalhes.

Na televisão tenho um carinho muito especialpor Henrique Martins, meu primeiro diretor naTV Tupi, me deu a primeira cartilha, me ensinouos primeiros passos.

Carlos Zara, saudoso, me mostrou que a televisãonão era um lugar de gente alienada, comomuitos pensavam por puro preconceito. Era im-portante fazer televisão, ele me dizia, e mais doque isso, ele era um artista.

Antonio Abujamra, na televisão, me ensinou orespeito pelo outro. Ele não gosta de movimen-to enquanto se trabalha, gente andando paralá e para cá, enquanto se está gravando, atoreslendo jornal, ou seja, ele dizia que se você estáno set de gravação, você tem que somar com oset. Foi das coisas fundamentais que aprendi.Uma vez que ele trabalhava em plano fechado,ou seja, nos detalhes de olhares, ele me ensinouuma maneira de me relacionar com o outro ima-ginando e levando a câmera em consideração.No avesso do naturalismo na televisão porqueele colocava o ator numa proximidade não realis-ta com a pessoa com que estava contracenando.

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Há diretores que têm uma capacidade de lideran-ça incomum, conseguem unir a equipe com cari-nho e respeito e garantir a qualidade técnica eartística. É o caso de Dennis Carvalho, com quemtive oportunidade de fazer trabalhos recentes.Não sei trabalhar com diretores déspotas.

Não posso deixar de citar Fernando Peixoto, queeu tinha visto uma dezena de vezes como ator,no extraordinário espetáculo Galileu Galilei,dirigido por José Celso Martinez Correa doTeatro Oficina, e que dirigiu Tambores na Noi-te, colocando na prática grande parte da teoriade Bertolt Brecht. Foi ele também que me reve-lou a beleza da Semana de Arte Moderna de1922, sabendo usar a irreverência de um elencojovem a favor das personagens da geração dosanos 20.

Dessa fase tenho a lembrança forte de DulceMuniz, corajosa e cheia de talento. UmbertoMagnani é um presente para qualquer atriz.Colaborativo, bem-humorado, trabalhamos tãoafinados que acabamos ganhando o prêmioMolière juntos. Tive depois um outro maridoinesquecível. Adilson Barros, no papel de RubensPaiva. Dedicado, cheio de energia e iniciativa,ator brilhante. Divertido nas viagens, semprepronto para um passeio, uma festa, uma assem-bléia. Saudades.

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Jorge Takla é o diretor que trouxe a sofisticação,a elegância, e principalmente a admiração porseus atores. Criou lindos espetáculos, sem tiraro espaço da criatividade do elenco. Foi ele tam-bém que montou o camarim mais bonito que játive no Teatro Maria Della Costa.

Lilia Cabral, não me canso de repetir, é uma ami-ga querida, atriz extraordinária, uma pessoa ple-na de solidariedade. Incansável, nunca se furtoua ajudar os amigos na busca de trabalho.

No discreto e talentoso Plinio Soares, encontreium ator sempre disposto a ajudar o colega aresolver uma cena, sempre pronto a liderar umaquecimento, um exemplo de ator sólido e flexí-vel que conjuga o verbo somar. Tive também aalegria de ter Luciano Chirolli fazendo Apeles,irmão de Florbela. Vibrante e vigoroso é purofogo em cena.

Da Florbela me lembro ainda da corajosaCibele Forjaz, que não teve medo de encarara direção de texto tão denso e complexo,apesar de toda sua juventude. Aliás, soube usarsua juventude para imprimir grande inten-sidade e ousadia ao espetáculo.

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Nos bastidores de Unha e Carne, com Chico Azevedo, LéliaAbramo (ao centro) e amiga

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Com a irmã, Alzira Andrade

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Capítulo XXVEntre o Útero e a Escola de Teatro

Alzira Andrade, minha irmã querida, é umgrande exemplo para mim. Uma relação muitoforte. É curioso que durante toda a nossa in-fância e adolescência fomos muito diferentes.Ela sempre foi atlética, elétrica, espevitada,magra, enquanto eu era mais quieta, gostavade ficar lendo meu Monteiro Lobato e, claro,era a gordinha. Estudamos no mesmo colégioe eu nunca consegui fazer esporte algum. JáAlzira foi selecionada para treinar atletismono Clube Pinheiros. Corria, saltava, era ágil.Nossos interesses começam a coincidir quandoela passa a acompanhar os espetáculos doGrupo Núcleo, como A Queda da Bastilha.Como ela estudava artes plásticas na Faap,entendi que seu interesse fosse restrito à áreade cenografia e figurinos, mas ela logo passoupara o palco, depois para a dramaturgia, adireção e as aulas. Alzira é uma artista muitomais completa do que eu.

A idade nos trouxe uma deliciosa sintonia e iden-tidade. Chegamos a pensar a mesma coisa, aomesmo tempo, eu no Rio e ela em São Paulo.Dessa profunda ligação surgiu a idéia de criar-mos uma escola de teatro.

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Com a avó Alzira e a irmã

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Usar o teatro como instrumento para a emanci-pação do ser humano, trabalhar a expressão decada um e a comunicação com o outro eram osobjetivos principais do nosso trabalho no GrupoNúcleo e se encontravam na base do Teatro Jor-nal. Foi pensando nisso que a escola se estrutu-rou e segue trabalhando. Lembrando as palavrasde Sábato Magaldi e do professor Anatol Rosen-feld, é o exercício da liberdade que procuramoslevar até os alunos. Ser ou não ator ou atriz pro-fissional é uma conseqüência. Ser uma pessoalivre e criativa em qualquer área de atuação éuma realização pessoal. Nossa empatia transcen-de os laços de sangue, temos uma paixão emcomum e encontramos a plenitude no que ama-mos fazer, além de nossa mútua admiração.

A Oficina Teatral é fruto de uma vida, minha eda Alzira, acreditando no poder do teatro comoelemento transformador. No início da minhavida artística, achava que mudaria o mundo.Hoje, sei que, se ajudar uma pessoa, se ela formais feliz, o mundo estará melhor. Nossa escolatem esse espírito.

Embora eu não tenha cursado uma escola conven-cional, acho importantíssimo atualmente formar-se numa escola de teatro, não por questões demercado, e sim por uma busca de qualidadeno trabalho, para o aprimoramento pessoal.

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Freqüentar uma escola não garante um lugar nomercado de trabalho, mas os que se formam es-tarão certamente mais preparados. Há muitaslacunas na informação que podem ser supridas.É necessário ler muito, familiarizar-se com osclássicos, descobrir os autores nacionais e umaescola de teatro é um espaço onde esse aprofun-damento pode se realizar. Assim como é inte-ressante que haja mais escolas que preparamatores também para a interpretação para acâmera tanto de televisão como de cinema.

Com a irmã no Programa do Jô

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Capítulo XXVISer uma Camaleoa

Muitas vezes, os atores são estigmatizados e seencaixam em tipos específicos e é muito ricoquando um ator pode ter uma gama de perso-nagens nos quais ele pode transitar. Como fazerdesde uma socialite milionária até uma campo-nesa. Quando comecei a fazer novelas na TVGlobo, fazia sempre a mulher traída, até A Via-gem, novela baseada na primeira versão de IvaniRibeiro. Depois de A Viagem, fiquei 5 anos semvoltar para o Rio de Janeiro e fiquei trabalhandoem São Paulo, no SBT, onde participei de váriasnovelas mexicanas, nas quais aprendi a fazer asmulheres sofredoras. Tanto que quando MarceloRubens Paiva me conheceu, o SBT exibia umanovela chamada Acorrentada. A acorrentadaem questão era eu, uma mulher maltratada porum homem horrendo, interpretado por JonasMello. A abertura da novela era minha fotogra-fia que se quebrava num espelho e se desman-chava inteira.

Me especializei nas traídas, depois nas sofre-doras, e nas novelas mexicanas acabei treinandomuito a memória, uma vez que os textos eramimensos, especialmente os da protagonista.Muita gente me pergunta qual o segredo pradecorar e eu digo que não há fórmulas. Tenho a

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sensação de que nunca passei de ano, que estousempre de segunda época, coisa do meu tempode estudante, pois, quando gravo tenho sempreque estar sábado e domingo estudando. Nãoconheço outro jeito senão se concentrar e deco-rar. Conheço atores que conseguem gravar semestudar, sem decorar, mas eu não consigo e mor-ro de inveja deles.

Depois dessa fase das sofredoras, comecei a des-cobrir um caminho para colocar algum humornas personagens, foi também um pequenoaprendizado que eu fui fazendo. Quando volteipara a TV Globo para fazer Força de um Desejo,de Gilberto Braga e Alcides Nogueira, conseguiabrir um pouco meu leque de personagens.Como o Tide me conhecia bem e tinha visto omeu humor no palco, ele foi incorporando essatônica na personagem que eu interpretava. Bár-bara Ventura se revelaria uma assassina no finalda trama, mas eu não sabia. Eu fazia uma mulherapaixonada pelo marido infiel, meio deslumbra-da e limitada intelectualmente, que queriaascensão social a qualquer preço, mas não trama-va. Ou seja, não tinha a maldade explícita. É claroque ela fazia tramóias, mas eu como atriz nãosabia que ela estava armando todos os assassi-natos. Foi aí que a TV Globo percebeu que eupodia fazer comédia também.

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Com Louise Cardoso em cena de Força de um Desejo

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Nas gravações de Força de um Desejo, com Paulo Betti eGilberto Braga

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Acho que eu consegui diversificar a gama de per-sonagens, mas ainda não fiz a grande malvadaque eu gostaria de fazer, porque a malvada ésempre fascinante e como eu tenho cara deboazinha é um grande desafio pra mim.

A novela era um primor em todos os sentidos. Adireção geral de Marcos Paulo era maravilhosa,e Maurinho Mendonça, um grande diretor. Emseguida veio a novela Esperança, de BeneditoRuy Barbosa onde eu era uma mulher popular,trabalhadora, costureira, pé no chão, deliciosade fazer. Apesar de ter sido uma novela um pou-co conturbada, gostei muito de fazer partedaquele trabalho, adorei contracenar com Otá-vio Augusto e novamente encontrar Luiz Fernan-do Carvalho, com quem tinha trabalhado numapequena participação da qual me orgulho muito,em Lavoura Arcaica, filme que considero ummomento no cinema brasileiro da maior impor-tância. Eu interpretava a prostituta que iniciasexualmente o personagem central, feito peloSelton Mello. Luiz Fernando trabalha na vertica-lização, na pesquisa. Apaixonado pela palavra,ele gosta do silêncio quando está dirigindo etrabalha sério numa busca radical de uma lin-guagem original.

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Em cenas de Chocolate com Pimenta (à esquerda) e Espe-rança, com Otávio Augusto (acima)

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Capítulo XXVIIUm Toque de Fellini

Antes de Lavoura Arcaica, eu tinha participadode Doramundo, filme de João Batista de Andra-de, com Irene Ravache e Antonio Fagundes.Rodamos em Paranapiacaba, em 1977, e dormía-mos dentro dos vagões de um trem. Eu achavatudo bonito. É uma característica que eu tenhode adorar uma novidade e buscar sempre o ladoinédito, pitoresco ou desafiador de um trabalho.Filmávamos o dia inteiro, naquela cidade estra-nhíssima, construída pelos ingleses, cheia denévoa, no alto da serra. Era um filme policialcom roteiro de Vladimir Herzog. O filme era tam-bém uma homenagem ao Vlado, morto na tortu-ra em 1975. Meu personagem tinha certo misté-rio e eu gostava de andar pela cidade à noitecomo que em outro mundo, outra dimensão.

Com Jecão, um Fofoqueiro no Céu, de Mazzaro-pi, vivi o ápice da fantasia no cinema. Uma vezmais, um trabalho me levaria a outro. Eu traba-lhava na TV Tupi onde conhecí Geny Prado, eter-na parceira de cena de Mazzaropi, que me enca-minhou ao escritório dele. Cheguei um poucoassustada e vi um homem pequeno atrás de umaescrivaninha enorme, que foi logo me dizendoque eu faria o filme sem nem me conhecer.

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Perguntei pelo roteiro, ao que ele me respondeuque eu o leria no dia da filmagem. Eu faria umamoça rica, que namorava com Paulo Castelli, eera isso que eu precisava saber. Disse, ainda, queeu usaria seis ou sete roupas, que eu teria quelevar, porque lá não se fazia figurino. Pediu queeu escolhesse roupas bonitas, levasse numa mala,porque eu ficaria 20 dias filmando em Taubaté.

Cheguei a Taubaté e comecei a achar divertido,porque havia duas alas separadas, a masculina ea feminina, para que ninguém corresse o riscode atravessar as alas. Mas era só o que aconte-cia durante a noite. Não se podia beber, mas demanhã, com a chegada do pessoal da limpeza,tínhamos que esconder as garrafas de bebidadebaixo da cama. Ninguém sabia nada sobre seupersonagem, seu texto e toda noite chegavauma ordem do dia com os horários de filmagem.Eu levava a roupa, passava pela maquiagem eao chegar ao set, Mazzaropi nos dava a cena dodia com um texto a ser decorado na hora. Aindaassim, no meio da cena ele acrescentava outrasfalas. Não era uma improvisação. Eu tinha quefalar o que ele pedia. Ele sim improvisava, criavanaquele momento. Era extraordinário.

Mazzaropi chegava num Galaxy preto, rodeadode pessoas e começávamos a filmar.

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Havia um cenário representando o céu. Era puroFellini. Um céu de mentira, anjinhos de mentira.Era um telão azul balançando no fundo, com asbambolinas molinhas de tela. Achei lindo. Tenhoum imenso orgulho de ter feito esse filme,porque foi uma oportunidade maravilhosa deconhecer de perto um dos maiores cineastasbrasileiros, o mais popular de todos. E mais umavez levada por uma amiga, Geni Prado, que tãocarinhosamente me encaminhou.

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Com Tuna Dwek e Alcides Nogueira

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Capítulo XXVIII

Meu Processo de Criação

Hoje, é na verdade, uma síntese de todas as fon-tes. No início da minha carreira, eu acreditavasomente no método de Stanislavski, de construira personagem. Compor a gênese, escrever a car-ta do passado e de sua história, buscando as sen-sações correlatas. Na prática, porém, tinha umaimensa necessidade de descobrir fisicamente apersonagem. Quando descobria o sapato que elausava, todo o resto ia se montando. Percebi issonuma criada que mancava, que eu fazia em Tam-bores da Noite, de Brecht, que Fernando Peixotodirigiu em 1972.

Essa peculiaridade física me forneceu o conjuntode contradições e sutilezas da personagem. Apartir daí, criei um vício de definir, antes de maisnada, qual seria o sapato da personagem. Se eusoubesse como ela andava, eu saberia de todo oresto sobre ela. Sempre precisei de estímulo físicopra começar a ensaiar ou fazer o espetáculo.Muito aquecimento. Não uma concentraçãoabstrata, mas física. Sempre gostei de chegar deduas a três horas antes do ensaio ou do espetá-culo pra ficar no palco me alongando, dançan-do, pulando, cantando, sentindo a magia do lu-gar. Até hoje, quando o fôlego já não é o mesmo.

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Com Marcio Aurelio aprendi a análise exaustivae prazerosa do texto. As contradições, entreli-nhas e segredos, que nem o autor sabia ter es-crito. Nomear cada movimento do texto e dapersonagem. Esse batismo esclarece tudo.

Quando comecei a fazer televisão sofri muitopois tentava passar métodos que conhecia deinterpretação no palco, para a tela. Não há tem-po. Na televisão, sempre ouço a voz do Abujamrarepetindo Shakespeare em Hamlet: É precisoestar pronto. Tudo o que se aprendeu como téc-nica deve estar totalmente assimilado, a pontode desaparecer. A intuição e o treino entram emcena e gritam alto. Adoro acertar a primeira vezem que a cena é gravada. Tem o frescor daqueleensaio em que descobrimos um grande momen-to da personagem e que nos próximos ensaiostentamos repetir sem conseguir. Só vamos reen-contrar depois de muitos ensaios, quando con-seguimos solidificar em pequenas ações, gestos,respirações, emoções, a conquista primeira.

Como na televisão não podemos fixar nada, oideal é gravar na primeira. Caso tenhamos querepetir, eu prefiro arriscar outra coisa a buscarrepetir a cena perdida. Levei dez anos pra deixarde tremer no GRAVANDO.

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Hoje em dia, não forço a personagem a chegaraonde eu acho que ela deve ir. Dou-lhe liber-dade. Vou lendo e, depois da análise, deixo queela se instale através de suas ações. Hoje consigointegrar o físico, o emocional e o racional. Elescaminham de mãos dadas. Não preciso dividi-los e trabalhá-los isoladamente. Não sei explicarcomo faço isso. É resultado de muito trabalho,prática, treino, experimentação.

Quando estou muito cansada ou indisposta, tam-bém lembro da Heleny Guariba dizendo que atriznão tinha cólica. Cada vez que cogitei cancelarum espetáculo por algum problema de saúde, viaos olhinhos negros e brilhantes da Eleni e remo-via aquele pensamento. Nunca cancelei umaseção ou faltei a uma gravação. Fiz espetáculoengessada, doida de enxaqueca e sempre saí me-lhor do que entrei. Com a Heleny aprendi a ouviro texto sem olhar a cena, durante os ensaios. Nãoé possível fazer consigo mesma. Mas se ao ouviruma cena no teatro ou na televisão, de olhos fe-chados, ela soar falsa é porque está errada. Umótimo método para dirigir atores e alunos.

Com Fernando Peixoto aprendi a não economi-zar. Entro para o ensaio como se fosse o últimoda minha vida. Arrisco. O pior que pode aconte-cer é errar e afinal, estamos ensaiando para isso.

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Num ensaio não há ridículo. É preciso errar pradescobrir o original.

Quando fiz O País dos Elefantes, de Louis CharlesSirjacq, com Antonio Fagundes, em 1989, acabeiquase assustando o diretor Alain Millianti, quan-do no primeiro ensaio entrava me arrastandono chão, emitindo sons guturais. Ele comentouque uma atriz francesa levaria um mês para che-gar àquilo. Eu respondi que nós não podemosnos dar a esse luxo.

Antonio Abujamra me ensinou a economia, tarefadifícil para uma descendente de italianos,portugueses e sírios. Limpar os gestos, objetivar otexto, clarear o objetivo. Não perfumar a flor. Souuma devota do texto. Sei que todas as respostasestão lá. E não só nos grandes textos do Alcides,mas também nos textos corriqueiros da telenove-la. Quando estou perdida e cheia de dúvidas,pergunto ao texto e ele sempre me responde.

Cheguei a ser radical com a análise do texto. Nãofazia nada até achar que tinha total domínio daintenção da obra. Semanas na mesa, lendo bran-co, tentando entender. Mas descobri que o cami-nho do entendimento não passa só pela razão.Eu gosto do trabalho de mesa, das descobertas einfinitas interpretações que cada frase pode ter.

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Em O País dos Elefantes, com Antonio Fagundes,no Festival d’Avignon, 1989

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Hoje, faço isso decupando o texto e, ao mesmotempo, sentindo as emoções que ele desperta,o som das palavras e qualquer outro elementoque ele possa me oferecer. Sou obcecada pelotexto. No teatro e na televisão. Se me perco du-rante uma temporada, volto ao texto leio e pro-curo a resposta que ele tem pra me dar. Sempretenho meu texto de trabalho no camarim, duran-te toda a temporada. O teatro é um organismovivo que vai se modificando e às vezes perdemosuma cena durante a temporada. É preciso vol-tar ao texto pra que ele mostre outro caminho.

Como disse, só consigo me concentrar atravésda atividade física e lúdica. Quando fiz CrimePerfeito, de Alzira Andrade, com direção do Ro-berto Vignati, sofri por ser um monólogo. O pro-blema do monólogo não é o momento em queo espetáculo acontece, porque lá existe a platéiapara jogar com o ator. Mas é o que vem antes.O silêncio excessivo dos camarins, a disciplinanecessária pra aquecer-se sozinha. Recomendonesses casos um bom personal trainer de palco.

Gosto daquelas rodas que os atores fazem antesde cada espetáculo. Às vezes ganham um ca-ráter meio místico, mas no geral são importan-tes para haver o contato das mãos e dos olha-res dos atores.

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Nos trazem para o momento presente. Quantomais ligados nesse momento melhor correrá o es-petáculo porque a energia fica mais harmoniosa.

Durante o espetáculo, não converso na coxia enão gosto que conversem. Acho um desrespeitocom quem está em cena. Mesmo no camarim,durante o espetáculo, não sou muito de falar.Gosto de ouvir o que está acontecendo em cenapra não entrar com outro tom. Talvez por issonunca tenha histórias muito engraçadas paracontar quando me perguntam sobre coisas curio-sas de cena. Penso sempre no artista de circo quenão pode errar. E a graça está no erro que even-tualmente cometemos. O palco é sagrado para mim. Peço licença paraestar lá e agradeço o privilégio. É lindo ver queas pessoas saem de suas casas para assistir a umespetáculo. Olho a platéia, por menor que sejae me sinto honrada. Quando o espetáculo acaba,não levo comigo a personagem. Ela fica lá nacasa dela. Nos reencontramos no dia seguinte.Às vezes, alguma característica interessante napersonalidade de uma personagem acaba pene-trando em mim, que não tinha aflorado até en-tão e me propondo trabalhá-la. Aprendi comalgumas personagens a ser mais extrovertida, rirmais facilmente.

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As chamadas peruas que tenho feito na televi-são me ajudaram muito. Não com sua superficia-lidade, mas com sua leveza. Uso tudo o queaprendi até hoje, mesmo sem ter consciência deque estou usando. Às vezes, a Alzira, que acom-panha meu trabalho desde sempre e que temenorme capacidade de observação e análise, mechama a atenção para alguma coisa que estoufazendo e da qual não havia me dado conta.Minha intuição acaba funcionando.

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Capítulo XXIX

Pegar Leve

Quando participei de Malhação, tive uma expe-riência inédita. Muito divertida, mas não menosconcentrada. Tive a sorte de trabalhar com Gui-lherme Leme, ator maravilhoso, e ríamos muito.As cenas eram deliciosas e aparecíamos no Video-show da TV Globo, naquele quadro que flagra asfalhas e imprevistos das gravações quase todasemana. Um desandava a rir do outro, porquenão agüentávamos as palhaçadas. É o jogo quedá prazer, contracenar porque só se joga a dois,sozinho é muito difícil. O Guilherme também vemdo teatro, então criamos uma química perfeita.

Para minha felicidade, raramente trabalhei comatores que não contracenam. Há aqueles quenão contracenam por inibição, às vezes por inca-pacidade e outras vezes por egoísmo, achandoque a cena vai ficar para ele. Isso já ma abalouem outras épocas, eu ficava muito tensa, ficavamuito nervosa, sofria muito. Hoje em dia, nãome atrapalha. Se trabalho com alguém que nãocontracena, sei que terei de resolver à minhamaneira, apelando para meus recursos. Faço acena, jogo propostas e como o outro não estácompartilhando, acabo fazendo minha parte.

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Na comédia, isso pode prejudicar mais do queno drama, porque a comédia tem que ser maisprecisa no tempo. Se a pessoa interrompe umafala antes do estabelecido ou dá uma pausamuito grande, se ela não entra no jogo, o todopode ser prejudicado. Aceito e toco o barcoadiante, porque penso que foi só mais uma cena.

Como na televisão fazemos muitas cenas por dia,não se pode querer fazer todas bem, não é possí-vel. É preciso esforçar-se para fazer o máximo,mas não existe perfeição e é recorrente quequando terminamos uma cena nos venha umaidéia, mas a cena está gravada. E ficamos pen-sando se tivéssemos feito isto ou aquilo.

Não há tempo de refazer a cena, então eu medesapego, vou à outra cena tentando me lem-brar do que surgiu na mente para aproveitaruma próxima vez.

Hoje em dia, depois de muita terapia, assisto àsminhas cenas. Antes, não conseguia assistir semme criticar, não me aceitava. Agora eu assistopara me corrigir, e não exercendo o narcisismo.Vejo os defeitos, mas não sofro mais com isso.Aprendi a ver as qualidades também. Consigorir de mim mesma e tudo ficou mais leve, atémesmo o drama.

Em Malhação (à esquerda)

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Como, por exemplo, quando Isabelle Huppert,a grande atriz francesa veio ao Brasil em 2003,ela deu declarações que desmistificam a aurapesada que as pessoas colocam sobre persona-gens mais densos ou sofridos. Ela vinha apresen-tar 4.48 Psicose, texto contundente da inglesaSarah Kane, com direção do francês Claude Régy,em que ela interpretava uma mulher à beira dosuicídio, dialogando com seu psicanalista, umavoz que se ouvia no fundo do palco. Durante oespetáculo ela se mantinha imóvel, garantindoa tensão crescente na platéia.

Numa entrevista, lhe perguntaram qual era amaior dificuldade no espetáculo, ao que ela res-pondeu desconcertando a todos, que uma delasera não poder se coçar. Em seguida desejavamsaber de que maneira ela se concentrava parainterpretar personagens tão complexas, tanto noteatro quanto no cinema, como A Professora dePiano, de Michael Haneke, ou nos filmes deClaude Chabrol, ao que ela respondeu que tiravaum cochilo de uma hora antes de entrar em cena.

Finalmente, a pergunta era de que forma elase desligava dessas personagens. Contrariandoa expectativa de uma revelação, ela responde:Simplesmente fumo um cigarro e abro uma latade cerveja.

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É preciso levar a sério o seu trabalho, mas não selevar a sério, dar-se uma importância indevida, éalgo pedante, arrogante, que distancia as pessoas.

Existe um tipo de caráter de quem cria essa auraem torno de si querendo mostrar que está fa-zendo uma missão impossível, algo que ninguémfaz, sofrendo para executar seu trabalho. Paramim, é exatamente o contrário. Simplesmentegosto de chegar antes no teatro porque gostode estar naquele espaço. Dançar e cantar comos colegas e concentrar-me para o trabalho.

Num dos programas da série Inside the Actor´sStudio, apresentada na televisão a cabo, em queJames Lipton entrevista atores e diretores, aatriz americana Julianne Moore dizia exata-mente isso. Que ela achava que a concentra-ção vinha da tensão, do esforço, até que umdiretor lhe disse que o segredo era o relaxa-mento, a descontração. É como diz Diderot emsua obra Paradoxo do Comediante: É o perso-nagem que sofre, não o ator. É dessa forma queo ator abre todos os canais, quando relaxa,dança, canta, brinca, e aí a interpretação vem,porque só o que a emoção quer é espaço pra semanifestar. Se o ator está tenso, concentradís-simo, tudo se torna insuportável, com aqueladensidão desagradável.

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Quando acaba o espetáculo, ou acabo de gravar,me sinto ótima. Gosto de tirar a maquiagem; éum momento que eu amo, limpar a pele, sairpara jantar, passear, me sentir leve. Tudo já acon-teceu. Agora só no dia seguinte.

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Capítulo XXX

O Que Fica e o Que Vai

Há obras de arte que permanecem na gentedurante muito tempo, interpretações marcantes,outras nos tocam o coração naquele momentoe se esvaem. O Baile, belíssimo filme dirigido peloitaliano Ettore Scola, é uma das obras que maisamo. Já quis até montar por se tratar de umapeça de teatro. Existe um trabalho de constru-ção de personagem que me encanta.

Sou apaixonada pela obra de Federico Fellini, oque não é nada original porque acho que a maio-ria dos fãs de cinema quase que o idolatra. Gostode como ele mostra que tudo é fictício, de modoescancarado. Talvez por isso também é que eutenho tanto carinho pelo filme de Mazzaropi,com aquele cenário felliniano, mostrando que éalguém contando uma história. La Strada, queFellini realizou com sua mulher e musa GiuliettaMassina e Anthony Quinn, é um dos filmes maismarcantes de minha vida, assim como Noites deCabíria me emociona todas as vezes que tenhoa oportunidade de assistir. Em La Strada meemocionei com a relação de interdependênciadaquele homem forte com a mulher frágil esedutora, feia e linda ao mesmo tempo.

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Houve uma época em que fui muito apaixonadapelos trabalhos que o sueco Ingmar Bergmanrealizava, com a também sueca Liv Ullmann,quando eram casados. Hoje em dia, esses filmesme transmitem muito sofrimento, uma angús-tia que não acaba. Continuam sendo maravilho-sos, mas já não me tocam tanto. Acho que, aolongo dos anos, passei a adquirir uma visão maisleve da vida e do próprio sofrimento. São filmesque eu veria por uma curiosidade estética. JáFanny e Alexander é um dos depoimentos maisbonitos de toda a sua obra e uma homenagemà nossa profissão.

Apaixonada por cinema, não posso deixar delado Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, deElio Petri com Gian Maria Volonté, ator italianodeslumbrante que influenciou politicamentetoda uma geração de atores, diretores e especta-dores. Meu lado de fã incondicional se alimentacom outro italiano. Marcello Mastroianni é umator definitivo em meu universo, e Jorge Taklarememora uma história saborosíssima.

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Capítulo XXXI

É Ben Trovato

Como dizem os italianos, non só se é vero, ma ében trovato. Algo como não sei se é verdade,ou exatamente assim, mas a história é boa.

O Prêmio Molière que eu tinha ganhado davadireito a uma passagem de ida e volta para Paris,aonde fui me encontrar com Marcio Aurelio. Jor-ge Takla também estava na cidade e nos levouao Café de Flore, local cultuado pelos parisienses,tendo abrigado nos anos 60 mais do que qual-quer outro lugar na cidade, o casal Jean-PaulSartre e Simone de Beauvoir.

Quando nos sentamos, olhei em volta e me depa-rei com uma mesa na qual jantavam Mastroiannie o ator francês Michel Piccoli. Só os dois. Desdeentão, o Jorge conta uma história de que meuídolo ficava olhando para mim. Eu acho que éuma invenção da cabeça dele, mas ele insiste serverdade, o Marcio Aurelio reforça a história ecomo é mesmo uma história maravilhosa, euacredito. Fiquei completamente paralisada, por-que eu jamais conseguiria levantar e falar comele. Fiquei olhando para ele o jantar inteiro enão acreditava que eu estava vendo, materiali-zado na minha frente Marcello Mastroianni.

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Ele tinha essa linha de pensamento de que éimpressionante que me paguem para fazer o quemais gosto e para me divertir. Compartilho esseespírito do trabalho e, de fato, embora sendoum trabalho que exige muito de nós, ele nospermite fazer o que amamos, descobrindo outraspessoas e criando relações com elas.

No cineclube da escola, além dos filmes de Bu-ñuel que eu tinha descoberto, passei inevitavel-mente pela fase Jean-Luc Godard. Eu não en-tendia nada, mas achava o máximo ver aquelesfilmes, tentando decifrar o que ele queria dizercom aquilo. Hoje eu ficaria cansada só de pensar.Mas foi algo forte da juventude.

Algumas atrizes continuam me impressionando.Se Liv Ullmann foi uma espécie de ícone do passa-do, a inglesa Vanessa Redgrave permanece intac-ta, especialmente depois de sua composição emJulia, de Fred Zinnemann, com Jane Fonda. Medeslumbra seu despojamento como atriz quenão arma nada, é direta, honesta, cristalina emsua interpretação. No Brasil, Eva Wilma é dasmaiores atrizes que conheço. Seu trabalho é mui-to sério, sempre foi e é das que mais conhecemde teatro, cinema e televisão. Além de ter umabeleza que persiste, que resiste ao tempo. Acom-panho seu trabalho desde o programa Alô Do-çura, a que eu assistia religiosamente.

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Tenho imensa admiração e afeto por Eva Wilma.

Acho importante ressaltar que o Brasil, assimcomo produz grandes jogadores de futebol, pro-duz atores e atrizes extraordinários.

São muitos, das mais variadas gerações. Dos maisvelhos aos mais jovens, e não me canso de admi-rar e desfrutar o trabalho desses contadores dehistória, gente diferente e inquieta, sempreprocurando traduzir as aflições e alegrias daalma humana.

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Capítulo XXXII

Basta Tocar uma Alma

Por mais utópico que possa parecer, acredito semquestionar que a linguagem da arte, seja ela vi-sual, cênica, cinematográfica, literária, tenha acapacidade de propor transformações em pes-soas, situações ou impasses e plantar irreversíveissementes para uma reflexão mais profunda. Sepudermos com nosso trabalho tocar verdadei-ramente uma alma que seja, o sentimento degratidão e plenitude que se instala já é recebidocomo uma recompensa. Existe sempre o desejode ampliar esse horizonte e abrir um espaço cadavez maior com platéias cada vez mais numero-sas. Seria a situação ideal, mas nem sempre oque ocorre, o que de forma alguma enfraquecenossas esperanças.

Recebi, há algum tempo, uma carta que sinteti-zou o que de mais gratificante um profissionalpode receber. Não importa a profissão que setenha, porque cada um segue a vocação que lhecompete ou escolhe, se puder, o que dará maissentido à sua vida.

Uma jovem que jamais tinha ido a um teatro,me mandou seu emocionante depoimento apóster assistido Florbela, em 1991. Seu nome é

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Andrea e, de tão bonita e emblemática, eu po-deria reproduzir integralmente sua carta. O fatoé que ela contava ter esperado muito anos pelaoportunidade de me contar como tinha se torna-do importante em sua vida o espetáculo. Viven-do na periferia de São Paulo, brincava de repro-duzir coreografias de cantores americanos na ruae não sabia da existência de cursos de teatro .

Um dia, o professor Carlos, de Educação Artística,organizou uma excursão em que a classe iria aoteatro. Logo me veio à mente o querido Profes-sor Gáudio, da minha adolescência. Seria aprimeira vez que Andrea pisaria num teatro.A primeira vez em que veria um palco de verda-de, com atores de verdade dizia ela.

Uma noite fria, com cheiro de pipoca, pessoasem frente a uma porta pequena, o TBC. Comoseria lá dentro? Não era luxuoso, a rua era escu-ra, eu tinha medo. Estava longe de casa. O nomedo espetáculo me fugia toda hora da cabeça,nome estranho, Flor alguma coisa. Entramos,lotou, mas fiquei bem na frente. Tudo escuro,toques de campainhas, não sabíamos para queservia. De repente, tudo começa. Luzes, poesia,âmbar, lágrimas, desespero. Será que podiamoschorar no teatro? No cinema podia, mas e ali?Não agüentei, acho que quase me matei dechorar, era a história mais linda do mundo. Saí

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de lá com a cara vermelha e inchada, meus ami-gos acharam que eu tinha dormido. Nunca meesqueci de Florbela Espanca. Nunca me esquecide você, do rosto do ator que fazia o irmão, dascenas onde o irmão sobrevoava os céus e elaadmirava do chão,da queda, do amor fatalmen-te rompido e proibido. Saí do teatro com umacerteza, fosse o que fosse era aquilo que queria.Me mostrou que o teatro existia, eu não sabia.Me mostrou que era possível e eu não sabia. Meensinou que minha profissão era essa. Hoje é.

Muitos anos sonhei em te encontrar, te contartudo isso. Acho que o ator com o tempo perde anoção da importância do seu trabalho, e nemsei se sabemos o que provocamos nas pessoasao subirmos no mundo divino dos palcos.

Obrigada. Graças a você, pude iniciar meus pas-sos neste tablado extasiante. Sou atriz, de pe-quenos trabalhos, todos importantes, porque acada um jogo toda a minha alma.

Antes de cada estréia, sinto o cheiro de pipocase o frio na barriga que senti quando as luzes seapagaram e você surgiu em meio a tanta luz. Eem cada palco que subir, espero que você con-quiste o coração de novos jovens, novos atoresescondidos atrás de nossa periferia sem sonhos,sem ilustrações.

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E assim, continuo me surpreendendo com ospequenos milagres que recebo como preciosaslições, a cada dia e a cada cortina que se abre.

Fim

Cena da novela A Viagem

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Cronologia Profissional

Teatro 1970• Teatro Jornal, Primeira EdiçãoTexto: Augusto Boal e Grupo Núcleo - Direção:Augusto Boal - Elenco: Celso Frateschi, DulceMuniz, Edson Santana, Hélio MunizProdução: Teatro de Arena São Paulo / TeatroNúcleo Independente 1971• Arena Conta ZumbiTexto: Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal- Direção: Augusto Boal - Elenco: Lima Duarte,Antonio Pedro, Bibi Vogel, Hélio AriProdução: Teatro de Arena

• Doce América, Latino AméricaTexto: Augusto Boal, Plínio Marcos, trabalhocoletivo - Elenco: Celso Frateschi, Dulce Muniz,Paulo Ferreira, Luiz Carlos ArutinProdução: Teatro de Arena / Grupo de TeatroNúcleo Independente 1972• Tambores na NoiteTexto: Bertolt Brecht - Direção: Fernando Pei-xoto - Elenco: Celso Frateschi, Dulce Muniz,

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Edson Santana, Renato Dobal, Abrãao Farc,Antonio Maschio, Cecília Rabelo

• A Semana - Esses Intrépidos Rapazes e suaMaravilhosa Semana de Arte ModernaTexto: Carlos Queiroz Telles – Direção:Fernando Peixoto – Elenco: Margot Baird, Cel-so Frateschi, Dulce Muniz, Edson Santana, An-tonio Maschio.

• A Vida de Frei CanecaTexto: Carlos Queiroz Telles – Direção:Fernando Peixoto – Elenco: Othon Bastos, Cel-so FrateschiProdução: Theatro São Pedro 1973• A Queda da BastilhaTexto: Trabalho coletivo, sobre o texto 1789,de Ariane Mnouchkine – Direção: Trabalhocoletivo – Elenco: Celso Frateschi, Dulce Muniz,Cleston Teixeira, Edson Santana, SelmaPelizzon, Antonio MaschioProdução: Theatro São Pedro

• O Evangelho Segundo ZebedeuTexto: Cesar Vieira – Direção: Silnei Siqueira -Festival de Manizales, Colômbia – Elenco:Sonia Guedes, Celso FrateschiProdução: Teatro da Cidade de Santo André

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1975• A EpidemiaTexto: Trabalho coletivo com organização deCelso Frateschi – Direção: Trabalho Coletivo –Elenco: Celso Frateschi, Cleston Teixeira, EdsonSantana, Alzira Andrade, Paulo Ferreira

1977• Dois Homens na MinaTexto: Enrique Buenaventura – Direção: DeniseDel Vecchio – Elenco: Celso Frateschi, ReinaldoMaiaProdução: Grupo Núcleo

1978• Os ImigrantesTexto: Celso Frateschi sobre pesquisa coletiva –Direç ão: Coletiva – Elenco: Celso Frateschi,Cleston Teixeira, Paulo FerreiraProdução – Teatro Núcleo Independente

1979• Vejo um Vulto na Janela, me Acudam queSou DonzelaTexto: Leilah Assumpção - Direção - Emílio DeBiasi - Elenco – Yolanda Cardoso, Ruthinéa deMoraes, Maria Eugênia de Domenico, ClaudiaMello, Denise Del Vecchio, Imara Reis,Christina Santos, Sonia Loureiro.

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1980• Ato CulturalTexto: Ignácio Cabrujas – Direção: MarcosFayad – Elenco: Marcos Fayad, HenriPagnoncelli, Jalusa Barcellos, Reinaldo Maia,Christina Rodrigues.São Paulo, SP Sala Guiomar Novaes – Funarte

1981• Lua de CetimTexto: Alcides Nogueira - Direção: Marcio Au-relio – Elenco: Denise Del Vecchio (PrêmioMolière), Umberto Magnani (Prêmio Molière),Elias Andreato, Julia Pascale, Ulisses Bezerra 1983• Mahagonny SongspielTexto: Bertolt Brecht – Direção: Cacá Rosset –Elenco: Cacá Rosset, Luiz Roberto Galízia, AnaBraga, Cyda Moreira, Chiquinho Brandão

• Feliz Ano VelhoTexto: Alcides Nogueira, baseado na obra deMarcelo Rubens Paiva – Direção: Paulo Betti –Elenco: Marcos Frota, Adilson Barros, LíliaCabral, Christiane Rando, Marcos KaloyProdução – Núcleo Pessoal do Victor

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Cena de Mahagonny Songspiel, com Luiz Galizia

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1986• Lembranças da ChinaTexto: Alcides Nogueira – Direção: Jorge Takla– Elenco: Denise Del Vecchio (Prêmio Governa-dor do Estado), Noemi Marinho, Fernando Be-zerra, Mauro de Almeida, Nicola Christensen.Produção: Takla Produções Artísticas e Associa-dos.

1987• ElectraTexto: Sófocles, com adaptação de MariaAdelaide Amaral – Direção: Jorge Takla – Elen-co: Denise Del Vecchio, Walderez de Barros,Pedro Pianzo, Françoise Forton, Cacá Amaral,Antônia Chagas, Alzira Andrade, Luciana Pe-reira, Val Folly.Produção: Takla Produções Artísticas • Vestido de NoivaTexto: Nelson Rodrigues – Direção: MarcioAurelio – Elenco: Alzira Andrade, ChristianeRando, Hugo Della Santa, Denise DelVecchio, Marcelo Andrade, Márcio Ribeiro,Jandira de Souza, Lílian Sarkis, CissaCamargo, Fernando Neves.

Cena de Mahagonny Songspiel, com Luiz Galizia (esquerda)

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1989• O País dos ElefantesTexto: Louis Charles Sirjacq – Direção: AlainMillianti – Elenco: Antonio Fagundes, AldoRabelo, Denise Del VecchioProdução: Companhia Estável de RepertórioEstréia: Teatro Maria Della Costa / Festival deAvignon

1991• FlorbelaTexto: Alcides Nogueira – Direção: CibeleForjaz – Elenco: Luciano Chirolli, CarlosMartins, Bri Fiocca, Christiane Rando, EloísaElena, Helena Bagnoli, Marco Stocco, DécioPintoProdução: Talento e Formosura Ltda. 1992• Cobras VoadorasTexto: Leonor Corrêa – Direção: Denise DelVecchio – Elenco: Alzira Andrade, Eloísa Elena,Nanna de CastroProdução: Cobras Voadoras

1996• Três Maneiras de Dançar um TangoTexto: Denise Bandeira – Direção: Paulo Betti –Elenco: Roberto Bontempo, Vera FajardoProdução - Casa da Gávea

Nas páginas anteriores, programa de Feliz Ano Velho e fotode Tributo a Lorca

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1997• Anchieta, Nossa HistóriaTexto: Alzira Andrade e Alceste Madella -Direção: Denise Del Vecchio – Elenco: MarcoRibeiro, Maria Fernanda Cândido, Daniela DeVecchi, Pedro Guilherme, Alceste Madella,Liziette Navarro, Marcelo Banzato, LennaJotta, Klever RavaneliProdução: Comissão IV Centen. de Anchieta 1998• Um Crime PerfeitoTexto: Alzira Andrade e Mauro Toledo -Direção: Roberto VignatiProdução: Mana Produções Artísticas

2000• Feliz Ano VelhoTexto: Alcides Nogueira – Direção: Paulo Betti– Elenco: Marcos Frota, Claudio Fontana,Genésio de Barros, Maria Ribeiro, Márcia Bra-sil, André Frateschi, Juliana BettiProdução: Casa da Gávea, Rio de Janeiro

2002• SilviaTexto: A. R. Gurney, adaptação Flávio Marinho– Direção: Aderbal Freire Filho – Elenco: LouiseCardoso, André Valli, Marcelo SabackProdução: Louise Cardoso

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Cenas de Silvia, com André Valli e Louise Cardoso

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2003• Unha e CarneTexto: Chico Azevedo – Direção: Chico Azeve-do – Elenco: Lilia Cabral e Denise Del VecchioProdução: Sérgio Saboya

2004• A Máscara do ImperadorTexto: Samir Yazbek – Direção: William Pereira– Elenco: Otávio Martins, Eduardo Semerjian,Patrícia Dinely, Plínio Soares, Priscila Carvalho

2005• Sossego e Turbulência no Coração deHortênciaTexto: João Antonio de Souza – Direção:Marcio Aurélio – Elenco: MariaManoella,Renato Scarpin, André Frateschi,Vanessa Goulart, Plínio Soares, Olívia Araújo,Marco Barreto.Projeto Teatro nas Universidades, São Paulo/SP 2007• Leituras: Antígona, de Sófocles e A Gaivota,de A. TchecovDireção: Hugo CoelhoProjeto Paixões HumanasTeatro Sérgio Cardoso – Sala Pascoal CarlosMagno

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• Mar de GenteCoreografia e Direção Geral: Ivaldo Bertazzo -Direção Teatral: Fábio Namatame • Leitura: Querida Mamãe De: Maria Adelaide Amaral – Direção: AndréFrateschi – Elenco: Denise Del Vecchio e TunaDwekLetras em cena – MASP

Com Tuna Dwek e seu filho, André Frateschi, na leituradramática de Querida Mamãe, de Maria Adelaide Amaral

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• Leitura: Avental Todo Sujo de OvoDe Marcos Barbosa – Direção: Toninho doValle – Elenco: Denise Del Vecchio, RobertoArduin, Maria do Carmo Soares, DagobertoFelizProjeto Dramaturgias - CCBB

• De Corpo PresenteTexto e Direção: Mara Carvalho – elenco: TatoGabus, Mara Carvalho, Dani Luque, SamanthaDalsoglio, Luiz Ferreti, Mario DieguezEspaço Incenna

Com Maria Adelaide Amaral, Tuna Dwek e André Frateschi

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Televisão Set 1974 / Maio 1975• Ídolo de PanoTV Tupi / SPNovela de Teixeira Filho – Direção: HenriqueMartins – Supervisão: Carlos Zara – Elenco:Dennis Carvalho, Tony Ramos, Elaine Cristina,Laura Cardoso, Carmem Silvia, Suzana Gonçal-ves

Set 1975 / Maio 1976• Um Dia, o Amor(212 capítulos) TV Tupi / SPNovela de Teixeira Filho – Direção: DavidGrinberg – Supervisão: Carlos Zara – Elenco:Carlos Zara, Maria Estela, Nadia Lippi,Henrique Martins, Lélia Abramo, Denise DelVecchio (Adriana), Geny Prado

Maio 1976 / Outubro 1976• Um Sol Maior(150 capítulos) TV Tupi / SPNovela de Teixeira Filho – Direção: EdsonBraga – Elenco: Zanoni Ferrite, Sandra Barsotti,Rodolfo Mayer, Marco Nanini, Laura Cardoso,Iara Lins, Denise Del Vecchio (Betty)

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Outubro 1976 / Abril 1977• O JulgamentoTV Tupi / SPNovela de Carlos Queiroz Telles e RenataPallottini – Direção: Edson Braga e ÁlvaroFugulin – Elenco: Carlos Zara, Eva Wilma, Cláu-dio Correa e Castro, Tony Ramos, CleydeYaconis, Lélia Abramo, Denise Del Vecchio (So-fia)

Julho 1978 / Maio 1979• O Direito de NascerTV Tupi / SPTexto: Teixeira Filho e Carmem Lídia – Direção:Antonino Seabra e Álvaro Fugulin – Elenco:Carlos Augusto Strazzer, Eva Wilma, BethGoulart, Cléa Simões, Denise Del Vecchio (Ro-sário) Henrique Martins, Geny Prado, AlziraAndrade

Novembro 1979 / Julho 1980• O Todo PoderosoTV BandeirantesTexto de Clovis Levy e José Safiotti Filho -Direção: J. Marreco, Henrique Martins, DavidJosé e Maurício Capovilla – Elenco: EduardoTornaghi, Selma Egrei, Lílian Lemmertz, Geral-do Del Rey, Kate Hansen, Marco Nanini, Deni-se Del Vecchio (Carmem Silvia)

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Abril 1981 / Junho 1982• Os Imigrantes(333 capítulos) TV BandeirantesNovela de Benedito Ruy Barbosa e RenataPallotini – Direção: Henrique Martins, AtilioRiccó, Emílio Di Biasi e Antonio Abujamra –Elenco: Paulo Betti, Denise Del Vecchio(Mariinha), Herson Capri, Othon Bastos,Christiane Rando, Maria Estela, Lilia Cabral,Rubens de Falco

1982• Maria StuartTV CulturaDe Carlos Lombardi, baseada na peça deFriedrich Schiller – Direção: Edson Braga –Elenco: Kate Hansen, Nathalia Timberg,Fernando Peixoto, Diogo Vilela • Pic-nic Classe CTV CulturaDe Walther Negrão e Carlos Lombardi, adapta-ção de contos e crônicas de Oswaldo Molles –Direção: Edson Braga – Elenco: Herson Capri,Denise Del Vecchio (Marieta) Henrique César,Maria Célia Camargo, Ruthinéia de Moraes

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1983• AcorrentadaSBTNovela de Henrique Lobo – Direção: DavidGrinberg – Elenco: Denise Del Vecchio (Laura),Jonas Mello, Hélio Souto, Iara Lins, EliasGleiser, Walter Stuart

• Pecado de AmorSBTNovela de Henrique Lobo, baseada no originalde Marisa Garrido – Direção: Antonino Seabra– Elenco: Denise Del Vecchio (Helga), YaraLins, Rogério Márcico, Renato Master, TerezaTeller

1984 • A Máfia no BrasilTV GloboMinissérie de Paulo Afonso Grisolli – Direção:Roberto Farias

1988 • Fera Radical(203 capítulos) TV GloboNovela de Walther Negrão – Direção: GonzagaBlota e Denise Saraceni – Elenco: Malu Mader,José Mayer, Carla Camuratti, Thales PanChacon, Laura Cardoso, Yara Amaral, RodrigoSantiago, Denise Del Vecchio (Olívia)

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1989• Colônia CecíliaTV BandeirantesRoteiro: Carlos Nascimberri e Patrícia Melo –Direção: Hugo Barreto – Elenco: Paulo Betti,Edith Siqueira, Gabriela Duarte, Geraldo DelRey, Denise Del Vecchio (Duzolina) Setembro 1989 / Maio 1990• Top Model(197 capítulos) TV GloboNovela de Walther Negrão e Antonio Calmon -Direção Geral: Roberto Talma – Elenco: MaluMader, Taumaturgo Ferreira, Nuno Leal Maia,Jonas Bloch, Denise Del Vecchio (Lia)

1990• Mãe de SantoTV MancheteMinissérie de Paulo César Coutinho – Direção:Henrique Martins – Elenco: Zezé Motta, ÍtalaNandi, Julia Lemmertz, Denise Del Vecchio

1991 • Ilha das BruxasTV MancheteMinissérie de Paulo Figueiredo – Direção:Henrique Martins e Álvaro Fugulin – Elenco:Miriam Pires, Maria Helena Dias, RubensCorrea, Ana Cecília, Eduardo Conde

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Cena de Colônia Cecília com Geraldo Del Rey

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Cena de Top Model

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1992• Anos Rebeldes(20 capítulos) TV GloboMinissérie de Gilberto Braga – Direção: DennisCarvalho – Elenco: Cássio Gabus Mendes, MaluMader, Cláudia Abreu, Marcelo Serrado, PedroCardoso, José Wilker, Geraldo Del Rey, DeniseDel Vecchio (Dolores), Sonia Clara, TerezinhaSodré, Geórgia Gomide

1994 • A Viagem(167 capítulos) TV GloboNovela de Ivani Ribeiro – Direção: Wolf Maya –Elenco: Antonio Fagundes, Christiane Torloni,Mauricio Mattar, Andréa Beltrão, Nair Bello,Denise Del Vecchio (Glória)

Dezembro 1994 / Julho 1995• As Pupilas do Sr. Reitor(186 capítulos) SBTNovela de Lauro César Muniz, Bosco Brasil, Su-pervisão de texto Chico de Assis - Direção Ge-ral: Nilton Travesso – Direção: Del Rangel eHenrique Martins – Elenco: Juca de Oliveira,Débora Bloch, Luciana Braga, Tuca Andrada,Elias Gleiser, Eduardo Moscovis, Denise DelVecchio (Joana)

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Outubro 1995 / Setembro 1996• Tocaia Grande(236 capítulos) TV MancheteNovela de Duca Rachid, Mario Teixeira, MarcosLazzarini – Supervisão: Walter George Durst –Direção: Regis Cardoso e Walter Avancini -Elenco: Roberto Bonfim, Tânia Alves, CarlosAlberto, Taís Araújo, José Dumont, Denise DelVecchio (Jacinta)

1997• Os Ossos do Barão(115 capítulos) SBTNovela de Jorge de Andrade, escrita porWalter George Durst – Direção: AntonioAbujamra – Elenco: Leonardo Villar, Juca deOliveira, Ana Paulo Arósio, Jussara Freira, BiaSeidl, Rubens de Falco, Laerte Morrone, DeniseDel Vecchio (Rosa) • O Desafio de EliasRede RecordMinissérie de Yves Dumont – Direção: Luís An-tonio Piá – Elenco: Guilherme Linhares,Mayara Magri, Laerte Morrone, LeonardoVillar, Othon Bastos, Adriano Stuart, DeniseDel Vecchio (Rebeca)

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Com Geórgia Gomide, Sonia Clara e Terezinha Sodré naminissérie Anos Rebeldes

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Com Antonio Fagundes em A Viagem

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Em cenas de As Pupilas do Sr. Reitor, com Luiz Carlos Arutin,Elias Gleiser e Oscar Magrini

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• Serras Azuis(120 capítulos) TV BandeirantesNovela de Ana Maria Morehtzon, baseada naobra de Geraldo França de Lima – Direção:Nilton Travesso – Elenco: Petrônio Gontijo,Bete Coelho, Giuseppe Oristâneo, JoanaFomm, Leonardo Villar, Claudia Mello, AnaLúcia Torre, Maria Fernanda Cândido, DeniseDel Vecchio (Netinha)

Maio 1999 / Janeiro 2000• Força de um Desejo(227 capítulos) TV GloboNovela de Gilberto Braga e Alcides Nogueira –Direção: Marcos Paulo, Mauro Mendonça Fi-lho, Carlos Araújo – Elenco: Malu Mader, FábioAssunção, Selton Mello, Reginaldo Farias, Pau-lo Betti, Cláudia Abreu, Nathália Timberg,Louise Cardoso, Denise Del Vecchio (Bárbara)

Abril 2000 / Maio 2001 • Malhação(280 capítulos) TV GloboTexto: Emanuel Jacobina – Direção: LuizHenrique Rios e Edson Spinello – Elenco:Giuseppe Oristanio, Giselle Tigre, GuilhermeLeme, Mário Frias, Priscila Fantin, RogerGobeth, Denise Del Vecchio (Ioiô)

Em cena de O Desafio de Elias (esquerda)

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Com Nilton Travesso, nas gravações de Serras Azuis

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Junho 2002 / Fevereiro 2003• Esperança(209 capítulos) TV GloboNovela de Benedito Ruy Barbosa e Walcyr Car-rasco – Direção: Luiz Fernando Carvalho,Carlos Araújo – Elenco: Ana Paulo Arósio,Reynaldo Gianecchini, Raul Cortez, MariaFernanda Cândido, Paulo Goulart, LúciaVeríssimo, Lígia Cortez, Laura Cardoso, OtávioAugusto, Denise Del Vecchio (Soledad)

Setembro 2003 / Maio 2004• Chocolate com Pimenta(209 capítulos) TV GloboNovela de Walcyr Carrasco – Direção: JorgeFernando – Elenco: Mariana Ximenes, MuriloBenício, Elisabeth Savalla, Priscila Fantin, DricaMoraes, Osmar Prado, Lília Cabral, Laura Car-doso, Denise Del Vecchio (D. Mocinha) Julho de 2004• Bateau MoucheTV GloboPrograma Linha Direta: JustiçaRoteiro: Charles Peixoto – Direção: MiltonAbirached – Denise Del Vecchio como YaraAmaral

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Em Chocolate com Pimenta, com Osmar Prado (à esquer-da), e em Como Uma Onda, com Mel Lisboa, Hugo Carvanae Alinne Moraes (acima)

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Novembro 2004 / Junho 2005• Como uma Onda(179 capítulos) TV GloboNovela de Walther Negrão – Direção: DennisCarvalho – Elenco: Alinne Moraes, HenriCastelli, Herson Capri, Maria Fernanda Cândi-do, Hugo Carvana, Mel Lisboa, Ricardo Pereira,Denise Del Vecchio (Mariléia)

Outubro de 2005• Se o Anacleto SoubesseTV CulturaPrograma Senta que lá Vem ComédiaTexto: Paulo Orlando – Direção: Bete Dorgan –Elenco: Ângelo Brandini, Francisco Bretas,Andréa Bassit, Pedro Pianzo 2006• JKTV GloboMinissérie de Maria Adelaide Amaral e AlcidesNogueira – Direção: Dennis Carvalho, AmoraMautner, Vinicius Coimbra, Christiano Mar-ques – Elenco: José Wilker, Marília Pêra, JuliaLemmertz, Débora Falabella, Wagner Moura,Tuna Dwek, Cássia Kiss, Dan Stulbach, LuizMello, Tato Gabus, Denise Del Vecchio (Naná,2ª fase)

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Julho 2006 / Março 2007• Bicho do MatoRede RecordNovela de Christiane Freedman e Bosco Brasil –Supervisão: Thiago Santiago – Direção: EdsonSpinello – Elenco: Beatriz Segall, PauloGorgulho, Ana Beatriz Nogueira, Jonas Bloch,Ewerton de Castro, Angelina Muniz

2007• Amor e IntrigasRede RecordNovela de Gisele Joras – Direção: EdsonSpinello – Elenco: Vanessa Gerbelli, HeitorMartinez, Luiz Guilherme, Esther Góes,Castrinho, Jonas Bloch, Luciano Szafir

• Louca FamíliaRede RecordEspecial de NatalCom: Tom Cavalcante, Rogério Fróes, AndréMatos, Angelina Muniz, Karina Bacchi,Christina Pereira

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Cinema 1977• Jecão... Um Fofoqueiro no CéuDe Amâncio Mazzaropi – Elenco: AmâncioMazzaropi, Geni Prado, Denise Del Vecchio,Elizabeth Hartmann, Edgar Franco, PauloCastelli

1978• DoramundoDe João Batista Andrade – Elenco: AntonioFagundes, Irene Ravache, Denise Del VecchioKikito de Melhor Filme – Festival de Gramado

2001• Lavoura ArcaicaDe Luiz Fernando Carvalho – Elenco: RaulCortez, Selton Mello, Juliana Carneiro da Cu-nha, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros,Denise Del Vecchio

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Índice

Apresentação – José Serra 5

Coleção Aplauso – Hubert Alquéres 7

Introdução 13

Aeromoça 21

A Lua da Minha Infância 33

Inadequada e Rebelde 37

Depois de Cacilda, Nunca Mais Fui a Mesma 43

A Bravura Secundarista 47

Situações-limite 51

O Acaso que Não é Acaso 55

A Arte Cura mas Não é Remédio 59

Teatro de Arena, uma Ode à Liberdade 63

Nosso Mestre Usurpado 77

Impetuosa Revolução 81

Um Anjo Dentro de Mim 85

Filhos Pródigos 91

O Filho do Palco 99

A Lua da Minha Vida 109

Divina Providência 121

O Aprendizado é a Melhor Recompensa 125

A Intuição Veio me Visitar e Ficou 139

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Alcides Nogueira, Emblema da Paixão 147

Minha Família Televisiva 155

Aprender Fazendo 157

O Tempo Não Existe 163

Um Oásis 167

Os Mestres 171

Entre o Útero e a Escola de Teatro 177

Ser uma Camaleoa 181

Um Toque de Fellini 189

Meu Processo de Criação 193

Pegar Leve 201

O Que Fica e o Que Vai 207

É Ben Trovato 209

Basta Tocar uma Alma 213

Cronologia Profissional 217

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Créditos das fotografias

Ary Brandi 107

Cedoc TV Globo 135, 136, 151, 153, 186, 187, 216,239, 242, 243, 250, 251

Clóvis Torres 231

Cristina Granato 184

Edmar Fonseca 146

Edson Iwassaki 244, 245

Guga Melgar 228, 229

Iolanda Huzak 110, 113, 115, 116, 120

João Caldas 225

Lenise Pinheiro 133

Maiza Borges 126, 128, 130, 224

Marcelo Pestana 54, 138

Nelson Di Rago / TV Globo 183, 202

Rui Mendes 124

Silvio Pozatto 168, 175

Stefan Kolumban 146, 149

TV Record 246

Vailton S. Santos 118, 119

Vânia Toledo 12, 170

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Coleção Aplauso

Série Cinema Brasil

Alain Fresnot – Um Cineasta sem AlmaAlain Fresnot

O Ano em Que Meus Pais Saíram de FériasRoteiro de Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, AnnaMuylaert e Cao Hamburger

Anselmo Duarte – O Homem da Palma de OuroLuiz Carlos Merten

Ary Fernandes – Sua Fascinante HistóriaAntônio Leão da Silva Neto

Bens ConfiscadosRoteiro comentado pelos seus autores Daniel Chaiae Carlos Reichenbach

Braz Chediak – Fragmentos de uma VidaSérgio Rodrigo Reis

Cabra-CegaRoteiro de Di Moretti, comentado por Toni Venturie Ricardo Kauffman

O Caçador de DiamantesRoteiro de Vittorio Capellaro, comentado por Máximo Barro

Carlos Coimbra – Um Homem RaroLuiz Carlos Merten

Carlos Reichenbach – O Cinema Como Razão deViverMarcelo Lyra

A CartomanteRoteiro comentado por seu autor Wagner de Assis

Casa de MeninasRomance original e roteiro de Inácio Araújo

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O Caso dos Irmãos NavesRoteiro de Jean-Claude Bernardet e Luis Sérgio Person

Cidade dos HomensRoteiro de Paulo Morelli e Elena Soárez

Como Fazer um Filme de AmorRoteiro escrito e comentado por Luiz Moura e José Roberto Torero

Críticas de Edmar Pereira – Razão e SensibilidadeOrg. Luiz Carlos Merten

Críticas de Jairo Ferreira – Críticas de invenção:Os Anos do São Paulo ShimbunOrg. Alessandro Gamo

Críticas de Luiz Geraldo de Miranda Leão –Analisando Cinema: Críticas de LGOrg. Aurora Miranda Leão

Críticas de Ruben Biáfora – A Coragem de SerOrg. Carlos M. Motta e José Júlio Spiewak

De PassagemRoteiro de Cláudio Yosida e Direção de Ricardo Elias

DesmundoRoteiro de Alain Fresnot, Anna Muylaert e Sabina Anzuategui

Djalma Limongi Batista – Livre PensadorMarcel Nadale

Dogma Feijoada: O Cinema Negro BrasileiroJeferson De

Dois CórregosRoteiro de Carlos Reichenbach

A Dona da HistóriaRoteiro de João Falcão, João Emanuel Carneiro e Daniel Filho

Fernando Meirelles – Biografia PrematuraMaria do Rosário Caetano

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Fome de Bola – Cinema e Futebol no BrasilLuiz Zanin Oricchio

Guilherme de Almeida Prado – Um Cineasta CinéfiloLuiz Zanin Oricchio

Helvécio Ratton – O Cinema Além das MontanhasPablo Villaça

O Homem que Virou SucoRoteiro de João Batista de Andrade, organização de ArianeAbdallah e Newton Cannito

João Batista de Andrade – Alguma Solidãoe Muitas HistóriasMaria do Rosário Caetano

Jorge Bodanzky – O Homem com a CâmeraCarlos Alberto Mattos

José Carlos Burle – Drama na ChanchadaMáximo Barro

Liberdade de Imprensa – O Cinema de IntervençãoRenata Fortes e João Batista de Andrade

Luiz Carlos Lacerda – Prazer & CinemaAlfredo Sternheim

Maurice Capovilla – A Imagem CríticaCarlos Alberto Mattos

Narradores de JavéRoteiro de Eliane Caffé e Luís Alberto de Abreu

Pedro Jorge de Castro – O Calor da TelaRogério Menezes

Ricardo Pinto e Silva – Rir ou ChorarRodrigo Capella

Rodolfo Nanni – Um Realizador PersistenteNeusa Barbosa

O Signo da CidadeRoteiro de Bruna Lombardi

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Ugo Giorgetti – O Sonho IntactoRosane Pavam

Viva-VozRoteiro de Márcio Alemão

Zuzu AngelRoteiro de Marcos Bernstein e Sergio Rezende

Série Crônicas

Crônicas de Maria Lúcia Dahl – O Quebra-cabeçasMaria Lúcia Dahl

Série Cinema

Bastidores – Um Outro Lado do CinemaElaine Guerini

Série Ciência & Tecnologia

Cinema Digital – Um Novo Começo?Luiz Gonzaga Assis de Luca

Série Teatro Brasil

Alcides Nogueira – Alma de CetimTuna Dwek

Antenor Pimenta – Circo e PoesiaDanielle Pimenta

Cia de Teatro Os Satyros – Um Palco VisceralAlberto Guzik

Críticas de Clóvis Garcia – A Crítica Como OficioOrg. Carmelinda Guimarães

Críticas de Maria Lucia Candeias – Duas Tábuase Uma PaixãoOrg. José Simões de Almeida Júnior

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João Bethencourt – O Locatário da ComédiaRodrigo Murat

Leilah Assumpção – A Consciência da MulherEliana Pace

Luís Alberto de Abreu – Até a Última SílabaAdélia Nicolete

Maurice Vaneau – Artista MúltiploLeila Corrêa

Renata Palottini – Cumprimenta e Pede PassagemRita Ribeiro Guimarães

Teatro Brasileiro de Comédia – Eu Vivi o TBCNydia Licia

O Teatro de Alcides Nogueira – Trilogia: ÓperaJoyce – Gertrude Stein, Alice Toklas & PabloPicasso – Pólvora e PoesiaAlcides Nogueira

O Teatro de Ivam Cabral – Quatro textos para umteatro veloz: Faz de Conta que tem Sol lá Fora –Os Cantos de Maldoror – De Profundis –A Herança do TeatroIvam Cabral

O Teatro de Noemi Marinho: Fulaninha e DonaCoisa, Homeless, Cor de Chá, Plantonista VilmaNoemi Marinho

Teatro de Revista em São Paulo – De Pernas para o ArNeyde Veneziano

O Teatro de Samir Yazbek: A Entrevista –O Fingidor – A Terra PrometidaSamir Yazbek

Teresa Aguiar e o Grupo Rotunda –Quatro Décadas em CenaAriane Porto

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Série Perfil

Aracy Balabanian – Nunca Fui AnjoTania Carvalho

Ary Fontoura – Entre Rios e JaneirosRogério Menezes

Bete Mendes – O Cão e a RosaRogério Menezes

Betty Faria – Rebelde por NaturezaTania Carvalho

Carla Camurati – Luz NaturalCarlos Alberto Mattos

Cleyde Yaconis – Dama DiscretaVilmar Ledesma

David Cardoso – Persistência e PaixãoAlfredo Sternheim

Emiliano Queiroz – Na Sobremesa da VidaMaria Leticia

Etty Fraser – Virada Pra LuaVilmar Ledesma

Gianfrancesco Guarnieri – Um Grito Solto no ArSérgio Roveri

Glauco Mirko Laurelli – Um Artesão do CinemaMaria Angela de Jesus

Ilka Soares – A Bela da TelaWagner de Assis

Irene Ravache – Caçadora de EmoçõesTania Carvalho

Irene Stefania – Arte e PsicoterapiaGermano Pereira

John Herbert – Um Gentleman no Palco e na VidaNeusa Barbosa

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José Dumont – Do Cordel às TelasKlecius Henrique

Leonardo Villar – Garra e PaixãoNydia Licia

Lília Cabral – Descobrindo Lília CabralAnalu Ribeiro

Marcos Caruso – Um ObstinadoEliana Rocha

Maria Adelaide Amaral – A Emoção LibertáriaTuna Dwek

Marisa Prado – A Estrela, O MistérioLuiz Carlos Lisboa

Miriam Mehler – Sensibilidade e PaixãoVilmar Ledesma

Nicette Bruno e Paulo Goulart – Tudo em FamíliaElaine Guerrini

Niza de Castro Tank – Niza, Apesar das OutrasSara Lopes

Paulo Betti – Na Carreira de um SonhadorTeté Ribeiro

Paulo José – Memórias SubstantivasTania Carvalho

Pedro Paulo Rangel – O Samba e o FadoTania Carvalho

Reginaldo Faria – O Solo de Um InquietoWagner de Assis

Renata Fronzi – Chorar de RirWagner de Assis

Renato Consorte – Contestador por ÍndoleEliana Pace

Rolando Boldrin – Palco BrasilIeda de Abreu

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Rosamaria Murtinho – Simples MagiaTania Carvalho

Rubens de Falco – Um Internacional Ator BrasileiroNydia Licia

Ruth de Souza – Estrela NegraMaria Ângela de Jesus

Sérgio Hingst – Um Ator de CinemaMáximo Barro

Sérgio Viotti – O Cavalheiro das ArtesNilu Lebert

Silvio de Abreu – Um Homem de SorteVilmar Ledesma

Sonia Oiticica – Uma Atriz Rodrigueana?Maria Thereza Vargas

Suely Franco – A Alegria de RepresentarAlfredo Sternheim

Tatiana Belinky – ... E Quem Quiser Que ConteOutraSérgio Roveri

Tony Ramos – No Tempo da DelicadezaTania Carvalho

Vera Holtz – O Gosto da VeraAnalu Ribeiro

Walderez de Barros – Voz e SilênciosRogério Menezes

Zezé Motta – Muito PrazerRodrigo Murat

Especial

Agildo Ribeiro – O Capitão do RisoWagner de Assis

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Beatriz Segall – Além das AparênciasNilu Lebert

Carlos Zara – Paixão em Quatro AtosTania Carvalho

Cinema da Boca – Dicionário de DiretoresAlfredo Sternheim

Dina Sfat – Retratos de uma GuerreiraAntonio Gilberto

Eva Todor – O Teatro de Minha VidaMaria Angela de Jesus

Eva Wilma – Arte e VidaEdla van Steen

Gloria in Excelsior – Ascensão, Apogeu e Queda doMaior Sucesso da Televisão BrasileiraÁlvaro Moya

Lembranças de HollywoodDulce Damasceno de Britto, organizado por Alfredo Sternheim

Maria Della Costa – Seu Teatro, Sua VidaWarde Marx

Ney Latorraca – Uma CelebraçãoTania Carvalho

Raul Cortez – Sem Medo de se ExporNydia Licia

Sérgio Cardoso – Imagens de Sua ArteNydia Licia

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Formato: 12 x 18 cm

Tipologia: Frutiger

Papel miolo: Offset LD 90g/m2

Papel capa: Triplex 250 g/m2

Número de páginas: 272

Editoração, CTP, impressão e acabamento:Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

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Coleção Aplauso Série Perfil

Coordenador Geral Rubens Ewald Filho

Coordenador Operacionale Pesquisa Iconográfica Marcelo Pestana

Projeto Gráfico e Editoração Carlos Cirne

Editor Assistente Felipe Goulart

Editora Assistente Viviane Vilela

Tratamento de Imagens José Carlos da Silva

Revisão Heleusa Angélica Teixeira

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© 2008

Imprensa Oficial do Estado de São PauloRua da Mooca, 1921 Mooca03103-902 São Paulo SPwww.imprensaoficial.com.br/[email protected] São Paulo SAC 11 5013 5108 | 5109Demais localidades 0800 0123 401

Dados Internacionais de Catalogação na PublicaçãoBiblioteca da Imprensa Oficial

Dwek, TunaDenise Del Vecchio : memórias da lua / Tuna Dwek. –

São Paulo : Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008.272p. : il. – (Coleção aplauso. Série perfil / coordenador

geral Rubens Ewald Filho)

ISBN 978-85-7060-570-2

1. Atores e atrizes de teatro – Brasil 3. Atores e atrizesde televisão - Brasil I. Del Vecchio, Denise, 1954 II. EwaldFilho, Rubens. III.Título. IV. Série.

CDD 791.092 81

Índices para catálogo sistemático:1. Atores brasileiros : Biografia : Representações

públicas : Artes 791.092 81

Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional(Lei nº 10.994, de 14/12/2004)Direitos reservados e protegidos pela lei 9610/98

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