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Notas de aula de Química Analítica F QUI208 http://www.qui.ufmg.br/~valmir Prof. Valmir F. Juliano Revisado em junho de 2017 1 Departamento de Química - ICEx QUÍMICA ANALÍTICA F QUI208 Prof. Valmir F. Juliano - Sala 257 INTRODUÇÃO 1) O QUE É QUÍMICA ANALÍTICA? É a parte da química que trata, basicamente, da composição química dos sistemas materiais e se estende ainda à elucidação da configuração estrutural das substâncias. Ela compreende duas grandes partes: a análise qualitativa, que trata da identificação dos elementos presentes e, eventualmente, também da caracterização do estado de combinação destes; e a análise quantitativa, que abrange os métodos e técnicas usadas para determinar as quantidades relativas dos componentes. O progresso de muitas pesquisas na medicina e na biologia não teriam sido possíveis sem as ferramentas, que compreendem equipamentos e metodologia, desenvolvidos pelos químicos analíticos. Por outro lado, muitos biólogos foram responsáveis pela criação de muitas metodologias para tratar de problemas bioquímicos, que hoje são largamente utilizadas na química analítica. Assim, a interação entre a química e a biologia tem fornecido muitos resultados positivos para o bem da humanidade. 2) NESTA DISCIPLINA ESTUDAREMOS: - I. Equilíbrios e titulometria ácido-base; - II. Equilíbrios e titulometria de complexação; - III. Equilíbrios e titulometria de precipitação; - IV. Equilíbrios e titulometria de oxidação-redução. 3) BIBLIOGRAFIA: 1 - Química Analítica Quantitativa, Otto Alcides Ohlweiler, 3 a edição, 1982, Volumes 1 e 2, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. 2 - Análise Química Quantitativa Vogel, G.H. Jeffery, J. Bassett, J. Mendham, R. C. Denney, 5 a Edição, 1992, Editora Guanabara Koogan S.A. 3 - Fundamentos de Química Analítica, D. A. Skoog, D. M. West, F. J. Holler, S. R Crouch, Tradução da 8ª Edição, 2006, Thomson Learnig Ltda, São Paulo SP. 4 - Análise Química Quantitativa, D. C. Harris, 6ª Edição, 2005, LTC Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro RJ.

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Departamento de Química - ICEx

QUÍMICA ANALÍTICA F – QUI208

Prof. Valmir F. Juliano - Sala 257

INTRODUÇÃO

1) O QUE É QUÍMICA ANALÍTICA?

É a parte da química que trata, basicamente, da composição química dos sistemas materiais e se

estende ainda à elucidação da configuração estrutural das substâncias. Ela compreende duas grandes

partes: a análise qualitativa, que trata da identificação dos elementos presentes e, eventualmente, também

da caracterização do estado de combinação destes; e a análise quantitativa, que abrange os métodos e

técnicas usadas para determinar as quantidades relativas dos componentes.

O progresso de muitas pesquisas na medicina e na biologia não teriam sido possíveis sem as

ferramentas, que compreendem equipamentos e metodologia, desenvolvidos pelos químicos analíticos.

Por outro lado, muitos biólogos foram responsáveis pela criação de muitas metodologias para tratar de

problemas bioquímicos, que hoje são largamente utilizadas na química analítica. Assim, a interação entre

a química e a biologia tem fornecido muitos resultados positivos para o bem da humanidade.

2) NESTA DISCIPLINA ESTUDAREMOS:

- I. Equilíbrios e titulometria ácido-base;

- II. Equilíbrios e titulometria de complexação;

- III. Equilíbrios e titulometria de precipitação;

- IV. Equilíbrios e titulometria de oxidação-redução.

3) BIBLIOGRAFIA:

1 - Química Analítica Quantitativa, Otto Alcides Ohlweiler, 3a edição, 1982, Volumes 1 e 2,

Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.

2 - Análise Química Quantitativa Vogel, G.H. Jeffery, J. Bassett, J. Mendham, R. C. Denney, 5a

Edição, 1992, Editora Guanabara Koogan S.A.

3 - Fundamentos de Química Analítica, D. A. Skoog, D. M. West, F. J. Holler, S. R Crouch,

Tradução da 8ª Edição, 2006, Thomson Learnig Ltda, São Paulo – SP.

4 - Análise Química Quantitativa, D. C. Harris, 6ª Edição, 2005, LTC – Livros Técnicos e

Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro – RJ.

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CONCEITOS E TEORIAS FUNDAMENTAIS

1) A COMPOSIÇÃO QUÍMICA DE SOLUÇÕES AQUOSAS

A água é o solvente mais prontamente encontrado na superfície da terra, é facil de ser

purificada e não é tóxica. Encontra uma grande aplicação como um meio para conduzir análises

químicas.

- Solução de Eletrólitos: Eletrólitos são solutos que formam íons quando dissolvidos em

água (ou alguns outros solventes), conduzindo eletricidade.

- Eletrólitos fortes: se ionizam completamente no solvente, conduzindo bastante eletricidade.

Exemplos: Ácidos - HCl, HBr, HClO3; Sais - NaCl, KCl, LiCl; Bases - NaOH, KOH, LiOH;

- Eletrólitos fracos: se ionizam parcialmente no solvente, conduzindo pouca eletricidade.

Exemplos: Ácidos - H2CO3, H3PO4, CH3COOH; Bases - NH3; Sais - HgCl2, ZnCl2.

2) VELOCIDADE DE REAÇÃO

A velocidade de uma reação química depende, fundamentalmente, de apenas dois fatores:

- Número total de colisões entre as partículas por unidade de tempo;

- A fração de tais colisões que, efetivamente, promove a reação.

A + B P v = k[A][B]

aA + bB P v = k[A]a[B]b

Lei da Ação das Massas: Proposta e apresentada por Guldenberg e Waage em 1864. A

velocidade de uma reação química é proporcional ao produto das concentrações de cada espécie

elevada ao número de partículas com que a respectiva espécie aparece na equação

estequiométrica. Com isso um sistema atinge o equilíbrio quando as velocidades da reação no

sentido direto e no sentido inverso são iguais.

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3) EQUILÍBRIO QUÍMICO E CONSTANTE DE EQUILÍBRIO

As reações químicas são, em sua maioria, reações reversíveis que se processam em

extensão maior ou menor, conforme o caso.

-Qualitativamente: A + B C + D

reagentes produtos

Se as velocidades das reações direta e inversa são iguais, um equilíbrio dinâmico é atingido.

-Quantitativamente: aA + bB cC + dD

reagentes produtos

Lei do equilíbrio químico:

KC D

A Bc

c d

a b , onde Kc é a constante de equilíbrio.

De acordo com o valor numérico de Kc, podemos saber a direção e a extensão da reação química.

IMPORTANTE:

PRINCÍPIO DE LE CHATELIER: Sempre que se aplicar um esforço sobre um sistema em

equilíbrio, a posição do equilíbrio deslocar-se-á na direção que minimiza o esforco.

Alguns fatores que afetam o equilíbrio químico:

- Efeito da Temperatura: Um aumento de temperatura desloca o equilíbrio no sentido da

reação endotérmica e uma diminuição de temperatura no sentido da reação exotérmica;

- Efeito da Concentração: A remoção de um dos componentes de uma mistura em

equilíbrio fará com que o sistema se movimente na direção que reestabeleça, em parte, a

concentração do componente removido. Por outro lado, a introdução de uma quantidade adicional

de um dos componentes, fará com o sistema se movimente no sentido de consumir parte desta

quantidade adicionada.

- Efeito de Catalisadores: A presenca de um catalisador pode reduzir ou retardar o tempo

necessário para que um sistema alcance o estado de equilíbrio. Porém, a presença de um

catalisador sempre afeta em igual extensão as velocidades da reação direta e inversa, de modo

que jamais afeta a constante de equilíbrio.

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I - EQUILÍBRIOS E TITULOMETRIA ÁCIDO-BASE

1) TEORIA PROTÔNICA DOS ÁCIDOS E BASES

-Teoria de Arrhenius:

Ácido: HX

H+ + X- Se dissociam e fornecem o íon hidrogênio

Base: BOH

B+ + OH- Se dissociam e fornecem o íon hidróxido

Reação de Neutralização: H+ + OH- H2O

LIMITAÇÃO: Ignora o papel ativo que o solvente exerce no processo de dissociação.

-Teoria de Bronsted e Lowry:

Ácidos: Espécies moleculares ou iônicas capazes de doar prótons;

Bases: Espécies moleculares ou iônicas capazes de fixar ou receber prótons.

Desta forma, para uma espécie se comportar como ácido, um aceptor de prótons (base)

deve estar presente. O inverso também é verdade.

ÁCIDO1 H+ + BASE1

par ácido/base conjugado

BASE2 + H+

ÁCIDO2

CADA ÁCIDO POSSUI A SUA BASE

CONJUGADA E, DE IGUAL MANEIRA,

CADA BASE POSSUI SEU ÁCIDO

CONJUGADO

Exemplos: HCl H+ + Cl- NH4+

NH3 + H+ HSO4

-

H+ + SO42-

NEUTRALIZAÇÃO: ÁCIDO1 + BASE2

BASE1 + ÁCIDO2

Muitos solventes podem se comportar como doadores ou aceptores de prótons, induzindo

comportamento básico ou ácido no soluto nele dissolvido.

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Exemplo: NH3 + H2O NH4

+ + OH-

base1 ácido2 ácido1 base2

HNO2 + H2O H3O+ + NO2

-

ácido1 base2 ácido2 base1

Todo solvente que possui a propriedade de

se comportar como ácido na presença de

uma base e como uma base na presença de

um ácido, chama-se ANFIPRÓTICO

(ANFÓTERO OU ANFÓLITO).

2) AUTO-IONIZAÇÃO DA ÁGUA

O caráter anfótero da água se manifesta na sua auto-ionização:

H2O + H2O H3O+ + OH-

A água é um eletrólito extremamente fraco, que se ioniza segundo a equação acima.

Kw = [H3O+] [OH-]

Temperatura, oC Kw

0 0,114 x 10-14

25 1,01 x 10-14

50 5,47 x 10-14

100 49 x 10-14

A 25 oC o produto iônico da água é 1,008 x 10-14. Por

conveniência vamos considerá-lo igual a 1,00 x 10-14.

Deste modo já que [H3O+] = [OH-], temos:

[H3O+] = 10-7 mol/L = [OH-]

A teoria protônica dos ácidos e bases unifica certos processos que, na teoria clássica de

Arrhenius, aparecem como diferentes. A hidrólise, por exemplo, não precisa mais ser tratada

como um caso especial. A hidrólise de um sal como acetato de sódio é simplesmente uma reação

entre água, que funciona como ácido, e o íon acetato como base.

H2O + Ac-

HAc + OH-

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3) CONSTANTES DE IONIZAÇÃO DE ÁCIDOS E BASES

Força de ácidos e bases: É devida à extensão da ionização do ácido ou da base em água.

Representa a tendência em doar ou aceitar prótons.

PROPRIEDADE IMPORTANTE DOS PARES ACIDO-BÁSICOS: A um ácido forte

corresponde a uma base conjugada fraca, e a um ácido fraco, uma base conjugada forte.

Uma ordenação de ácidos conforme suas forças pode ser obtida com referência a uma

base, que, no caso das soluções aquosas, é a água.

HSO4- + H2O

H3O+ + SO42-

CH3COOH + H2O H3O+ + CH3COO-

H2CO3 + H2O H3O+ + HCO3

-

De maneira semelhante para as bases, a comparação é feita tomando-se a água como ácido

de referência.

NH3 + H2O NH4

+ + OH-

C5H5N + H2O C5H5NH+ + OH-

C6H5NH2 + H2O C6H5NH3

+ + OH-

As quantidades relativas dos pares ácido-base conjugados existentes na solução em

condição de equilíbrio podem servir de medida das forças de ácidos e bases. Em outras palavras,

a constante de dissociação do ácido e da base fornecem esta informação a respeito de sua força.

3.1) Constantes de equilíbrio: Ácido:

K

H O SO

HSOxa

3 4

2

4

212 10,

Base:

K

NH OH

NHxb

4

3

518 10,

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QUANTO MAIOR Ka, MAIOR A FORÇA DO ÁCIDO: HSO4- > CH3COOH > H2CO3

QUANTO MAIOR Kb, MAIOR A FORÇA DO BASE: NH3 > C5H5N > C6H5NH2

3.2) Relação entre as constantes de ionização Ka e Kb de um par conjugado:

Ácido fraco: HB + H2O H3O+ + B-

KH O B

HBa

3

Base fraca: B- + H2O OH- + HB

KHB OH

Bb

mas, [OH-] = Kw/[H3O+]. Assim, substituindo na equação de Kb, temos:

KHB K

B H O Kb

w

a

.

3

1

PORTANTO: Kw=Ka.Kb

A FUNÇÃO p: Nas discussões sobre equilíbrio químico, frequentemente, trabalhamos com

números muito pequenos que podem variar muitas ordens de grandeza. Assim, utilizaremos

sempre a função p que é o logarítmo negativo do número.

px = -log x

Aplicando a função p na equação Kw=Ka.Kb chegamos à importante relação:

-log Kw= -log(Ka.Kb) = -(log Ka + log Kb) pKw= pKa + pKb

CONHECENDO-SE Ka DO ÁCIDO OBTÉM-SE Kb DA BASE CONJUGADA

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3.3) Escala de pH:

Pela definição da função p, temos:

Soluções ácidas pH < 7

pH = -log [H3O+] Soluções básicas pH > 7

Soluções neutras pH = 7

Exemplo: [H3O+] = 2,0x10-4 pH = -log 2,0x10-4 = 3,7

Analogamente, pOH = -log [OH-]

Assim da equação [H3O+] [OH-] = 10-14 temos:

(-log [H3O+]) + (-log [OH-]) = - log 10-14 pH + pOH = 14

Exemplo: Qual o pH de uma solução aquosa 0,003 mol/L de NaOH?

Base forte e portanto totalmente dissociada: [Na+] = [OH-] = 3,0x10-3 mol/L

[OH-] = 3,0x10-3 pOH = -log 3,0x10-3 = 2,5 pH = 11,5

4) BALANÇO DE MASSA E BALANÇO DE CARGAS

A resolução de problemas envolvendo equilíbrio químico pode não ser muito simples

como visto anteriormente, assim, é necessária uma organização prévia.

Para resolvê-los devemos fazer:

a) Escrever as equações químicas das reações que representam o estado de equilíbrio do sistema;

b) Formular a expressão da constante de equilíbrio correspondente a cada reação química

descrita;

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c) Escrever equações adicionais através dos dados dos problemas até que o número total de

equações seja igual ao número de incógnitas.

Atenção: As equações adicionais devem ser linearmente independentes.

4.1) Balanço de massa

A concentração analítica (em mol/L) é igual à concentração de equilíbrio das espécies

contendo o constituinte multiplicada pelo fator adequado (estequiometria).

Exemplos:

1) Solução de HAc 0,050 mol/L

HAc + H2O + H3O+ + Ac-

b.m. 0,050 = [HAc] + [Ac-]

2) Ca moles/L de HCN

HCN + H2O H3O+ + CN-

b.m. Ca = [HCN] + [CN-]

3) Cs moles/L de NaCN

NaCN Na+ + CN- (totalmente solúvel)

Cs moles/L de NaCN geram Cs moles/L de CN-

CN- + H2O HCN + OH- (hidrólise)

b.m. Cs = [CN-] + [HCN]

4) Cb moles/L de NH3

NH3 + H2O

NH4+ + OH-

b.m. Cb = [NH4+] + [NH3]

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5) Ca moles/L de HCl

HCl + H2O H3O+ + Cl-

b.m. Ca = [HCl] + [Cl-] Ácido forte totalmente dissociado Ca = [Cl-]

6) Ca moles/L de H2SO3

H2SO3 + H2O

H3O+ + HSO3-

HSO3- + H2O

H3O+ + SO32-

b.m. Ca = [H2SO3] + [HSO3-] + [SO3

2-]

7) Uma solução de AgNO3 de concentração CAgNO3 (mol / L) é misturada com uma

solução de NH3 de concentração CNH3. Fazer o b.m. para o sistema.

AgNO3 Ag+ + NO3- (totalmente dissociado)

Ag+ + NH3 [Ag(NH3)]+

[Ag(NH3)]+ + NH3 [Ag(NH3)2]+

NH3 + H2O NH4

+ + OH-

b.m. CAgNO3 = Ag+ + [Ag(NH3)]+ + [Ag(NH3)2]+ (em função da prata)

CNH3 = [NH3] + [Ag(NH3)]+ + 2[Ag(NH3)2]+ + [NH4]+ (em função da amônia)

8) Fazer o b.m. para uma solução 0,01 mol/L de K2CrO4 em meio ácido.

K2CrO4 2 K+ + CrO42- (totalmente dissociado)

2 CrO42- + 2 H+

2 HCrO4-

2 HCrO4-

Cr2O7

2- + H2O

b.m. 0,01 = [CrO42-] + [HCrO4

-] + 2 [Cr2O72-] (em função do cromo)

2 moléculas de NH3

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4.2) Balanço de Cargas

A somatória das concentrações das espécies de cargas positivas é igual à somatória das

concentrações das espécies de cargas negativas, multiplicada pelo fator adequado (carga).

Exemplos:

1) Fazer o b.c. para uma solução de KCl

KCl K+ + Cl-

2 H2O H3O+ + OH-

b.c. [K+] + [H3O+] = [Cl-] + [OH-]

2) Fazer o b.c. para uma solução de AgNO3 com uma solução de NH3

AgNO3 Ag+ + NO3- (totalmente dissociado)

Ag+ + NH3 [Ag(NH3)]+

[Ag(NH3)]+ + NH3 [Ag(NH3)2]+

NH3 + H2O NH4

+ + OH-

2 H2O + OH-

b.c. [H3O+] + [Ag+] + [Ag(NH3)]+ + [Ag(NH3)2]+ + [NH4+] = [OH-] + [NO3

-]

3) Fazer o b.c. para uma solução de K2CrO4 em meio de HCl

K2CrO4 2 K+ + CrO42- (totalmente dissociado)

2 CrO42- + 2 H+

2 HCrO4-

2 HCrO4-

Cr2O7

2- + H2O

HCl + H2O

H3O+ + Cl-

2 H2O

H3O+ + OH-

b.c. [H3O+] + [K+] = 2 [CrO42-] + [HCrO4

-] + 2 [Cr2O72-] +[OH-] + [Cl-]

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Exercícios:

Fazer o b.c. para os seguintes sistemas:

1) Solução aquosa de KOH

b.c. [H3O+] + [K+] = [OH-]

2) Solução aquosa de Ba(OH)2

b.c. [OH-] = 2 [Ba2+] + [H3O+]

3) Solução aquosa de H2SO3

b.c. [H3O+] = [HSO3-] + 2[SO3

2-] + [OH-]

4) Solução aquosa de NaCN

b.c. [H3O+] + [Na+] = [CN-] + [OH-]

5) CONCENTRAÇÃO DE ÍON HIDRÔNIO [H3O+] OU HIDRÓXIDO [OH

-] EM

SOLUÇÕES DE ÁCIDOS, BASES E SAIS.

5.1) Soluções de ácidos ou bases fortes

Um ácido forte se ioniza completamente dando origem ao íon hidrônio ([H3O+]).

Uma base forte, como NaOH, é um composto iônico no estado sólido, e a dissolução em

água envolve a simples separação dos íons pré-existentes.

Assim sendo, o cálculo de pH de soluções de ácidos e bases fortes é bastante simples. As

concentrações dos íons H3O+ e OH-, no caso de soluções diluídas, podem ser calculadas

diretamente a partir da concentração analítica do soluto. Entretanto, no caso de soluções

extremamente diluídas, é preciso considerar também a contribuição em íon hidrônio e hidróxido

oferecida pela auto-ionização da água.

Exemplos:

1) Qual o pH de uma solução de HCl 0,005 mol/L?

Ácido forte, totalmente dissociado: HCl + H2O H3O+ + Cl-

[H3O+] = 5,0 x 10-3 pH = -log(5,0 x 10-3) = 2,32

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2) Qual o pH de uma solução de NaOH 3,2 x 10-3 mol/L?

Base forte, totalmente dissociada: NaOH Na+ + OH-

[OH-] = 3,2 x 10-3 pOH = -log(3,2 x 10-3) =

pH = 14 - 2,49 = 11,51

3) Calcular o pH de uma solução de HCl 2,00x10-8 mol/L.

Seguindo o modelo anterior: [H3O+] = 2,0 x 10-8 pH = -log(2,0 x 10-8) = 7,70

Incoerente, pois é uma solução ácida.

Devemos considerar a auto-ionização da água:

b.m. 2,00x10-8 = [Cl-] (1)

b.c. [H3O+] = [Cl-] + [OH-] (2)

de Kw 1,0x10-14 = [H3O+] [OH-] (3)

De (2): [Cl-] = [H3O+] - [OH-] (2’)

De (3): [OH-] = 1,0x10-14 / [H3O+] (3’)

Substituindo (2’) e (3’) em (1): 2,00x10-8 = [H3O+] - 1,0x10-14 / [H3O+]

Reagrupando: [H3O+]2 - 2,00x10-8[H3O+] - 1,0x10-14 = 0

[H3O+] = 1,105x10-7 pH = 6,96

Generalizando: [H3O+]2 - Ca [H3O+] - Kw = 0

Analogamente para bases: [OH-]2 - Cb [OH-] - Kw = 0

VÁLIDO PARA SOLUÇÕES EXTREMAMENTE DILUÍDAS Ca < 10-7

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5.2) Soluções que contém um ácido monoprótico fraco HA

Uma solução de um ácido monoprótico fraco envolve os seguintes equilíbrios:

HA + H2O H3O+ + A-

2 H2O H3O+ + OH-

Objetivo: Calcular a concentração das quatro espécies, H3O+, OH-, A- e HA (quatro incógnitas).

Precisamos, portanto, de 4 equações.

KH O A

HAa

3 (1)

Kw = [H3O+] [OH-] (2)

b.c. [H3O+] = [A-] + [OH-] (3)

b.m. Ca = [HA] + [A-] (4)

Reagrupando todas as equações:

[H3O+]3 + Ka[H3O+]2 - (Kw + KaCa)[H3O+] - KwKa = 0 (5)

Esta equação do 3o grau, de difícil resolução, não precisa ser resolvida para a grande

maioria dos problemas comuns em Química Analítica.

Para resolver os problemas devemos fazer aproximações nas equações obtidas dos

equilíbrios, observando sempre a validade de cada uma e testando o resultado.

Por exemplo, para a solução ácida acima, quase sempre podemos aproximar a equação (3)

para [H3O+] = [A-], pois a concentração de OH- é, normalmente, muito menor que a

concentração de H3O+. Desta maneira, a equação final passa a ser do segundo grau, de fácil

resolução:

[H3O+]2 + Ka[H3O+] - KaCa = 0 (6)

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ESTA EQUAÇÃO É VÁLIDA SE [OH-] < 5% [H3O+]

Além desta aproximação, ainda podemos fazer outra na equação (4). Uma vez que HA é

um ácido fraco, [HA] >> [A-], assim temos Ca = [HA] e a equação final torna-se:

H O K Ca a3

(7)

ESTA EQUAÇÃO É VÁLIDA SE [H3O+] < 5% Ca

No caso de soluções extremamente diluídas (quase neutras), onde [H3O+] [OH-],

se [H3O+] - [OH-] < 5% Ca, recombinando as equações, temos:

K

H O H OK

H O

Ca

w

a

3 3

3 H O K C Ka a w3

(8)

Exemplos:

1) Calcular a [H3O+] de uma solução de NH4Cl 2,5x10-2 mol/L. Dado Ka = 5,6x10-10.

NH4Cl NH4+ + Cl-

NH4+ + H2O

NH3 + H3O+

2 H2O H3O+ + OH-

Pelo valor de Ka sabemos que é um ácido muito fraco e pelo valor de Ca sabemos que não se trata

de uma solução extremamente diluída. Assim, aplicando a equação (7), temos:

H O K Ca a3

= 5 6 10 2 50 10 3 74 1010 2 6, , , /x x x x mol L

Testando as aproximações:

[H3O+] [OH-] = 10-14 [OH-] = 2,67x10-9 = 0,07% [H3O+]

[H3O+] = 0,02% Ca

Logo, as aproximações são válidas.

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2) Calcular a [H3O+] de uma solução CH3COOH 5,00x10-3 mol/L. Dado Ka = 1,8x10-5.

HAc + H2O

H3O+ + Ac-

2 H2O H3O+ + OH-

H O K Ca a3

= 5 10 18 10 3 103 5 4,00 , ,00 /x x x x mol L

[OH-] = 3,33x10-11 mol/L = 1x10-5% [H3O+] simplificação válida

[H3O+] = 6% Ca simplificação inválida

Logo, teremos que utilizar a equação (6):

[H3O+]2 + Ka[H3O+] - KaCa = 0

[H3O+] =

18 10 4 9 10 1 10

2

18 10 3 10

2

5 10 4 5 7, , ,00 , ,6x x x x x x = 2,91 x 10-4 mol/L

3) Calcular a [H3O+] de uma solução HCN 1,00x10-4 mol/L. Dado Ka = 4,9x10-10.

HCN + H2O

H3O+ + CN-

2 H2O H3O+ + OH-

H O K Ca a3

= 4 9 10 1 10 2 1010 4 7, ,00 ,21 /x x x x mol L

[OH-] = 4,52x10-8 mol/L = 20% [H3O+] simplificação inválida

mas, [H3O+] - [OH-] = 0,2%Ca

Logo, devemos utilizar a equação (8)

H O K C Ka a w3

=2,43x10-7 mol/L

5.3) Soluções que contém uma monobase fraca

Estas têm pequena tendência em receber prótons.

B + H2O

BH+ + OH-

KBH OH

Bb

(1)

base ácido conjugado

2 H2O

H3O+ + OH- Kw = [H3O+][OH-] (2)

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Obs.: Normalmente, encontra-se tabelado o valor de Ka, a partir do qual podemos calcular Kb

através da relação Kw = Ka x Kb.

Objetivo: Calcular a concentração das quatro espécies, H3O+, OH-, BH+ e B (quatro incógnitas).

Portanto, precisamos de 4 equações.

De maneira análoga ao tratamento feito para os ácidos fracos, o balanço de massa e o

balanço de cargas nos fornecem as 2 outras equações necessárias para a resolução do problema.

b.c.: [H3O+] + [BH+] = [OH-] (3)

b.m.: Cb = [BH+] + [B] (4)

Reagrupando-se convenientemente as equações, temos:

[OH-]3 + Kb[OH-]2 - (Kw + KbCb)[OH-] - KwKb = 0 (5)

Neste caso também podemos fazer as mesmas simplificações que fizemos para o caso dos

ácidos fracos, bastando fazer as considerações adequadas ao meio básico:

1) Se [H3O+] < 5% [OH-], é válida a equação:

[OH-]2 + Kb[OH-] - KbCb = 0 (6)

2) Se [H3O+] < 5% [OH-] e também [OH-] < 5%Cb, de modo que Cb [B], temos:

OH K Cb b

(7)

3) Quando a solução for aproximadamente neutra (muito diluídas), isto é, [OH-] - [H3O+] <

5%Cb, temos:

OH K C Kb b w

(8)

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5.4) Soluções que contém um ácido poliprótico - HnA

Os ácidos polipróticos são capazes de doar mais de um próton, ou seja, possuem dois ou

mais hidrogênios ionizáveis, resultando várias etapas de dissociação. Os valores das constantes

diminuem de uma etapa para outra, podendo o cálculo ser simplificado. Em virtude da atração

eletrostática, a remoção de prótons consecutivos de uma espécie HnA é cada vez difícil. Por

exemplo:

H3PO4 + H2O H3O+ + H2PO4

- K1 = 7,5 x 10-3

H2PO4- + H2O

H3O+ + HPO42- K2 = 6,2 x 10-8

HPO42- + H2O

H3O+ + PO43- K3 = 4,8 x 10-13

As sucessivas etapas de dissociação são reprimidas pelo íon hidrônio formado na primeira

etapa. Os valores das constantes de equilíbrio descrescem. Em geral, o decréscimo é tão

acentuado que somente a primeira dissociação precisa ser considerada nos cálculos.

Consideremos a dissociação de um ácido diprótico H2A:

H2A + H2O H3O+ + HA-

HA- + H2O H3O+ + A2-

As constantes de ionização são, respectivamente

KH O HA

H A1

3

2

(1)

KH O A

HA2

3

2

(2)

Pelo balanço de massa: Ca = [H2A] + [HA-] + [A2-] (3)

Pelo balanço de cargas: [H3O+] = [OH-] + [HA-] + 2[A2-] (4)

Pela auto-ionização da água: [H3O+] [OH-] = Kw (5)

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A solução completa requer a combinação das 5 equações (5 incógnitas). Isto resulta em

uma equação do 4o grau, o que, evidentemente, não possui uma solução fácil.

[H3O+]

4 + K1[H3O

+]

3 + (K1K2 - Kw - K1Ca)[H3O

+]

2 - (K1Kw + 2K1K2Ca)[H3O

+] - KwK1K2 = 0 (6)

Então, como nos casos anteriores, faremos simplificações, as quais deverão ser validadas

através de testes convenientes.

1) Se [H3O+] >> [OH-], a equação (4) pode ser reduzida a [H3O+] = [HA-] + 2[A2-], levando a

obter uma equação final igual a:

[H3O+]3 + K1[H3O+]2 + (K1K2 - K1Ca)[H3O+] - 2 K1K2Ca = 0 (7)

2) Se [H3O+] >> [OH-] e K1 >> K2, as equações (3) e (4) tornam-se Ca = [H2A] + [HA-] e

[H3O+] = [HA-]. Assim, a equação final passa a ser:

[H3O+]2 + K1[H3O+] - K1Ca = 0 (8)

3) Se [H3O+] >> [OH-], K1 >> K2 e [H3O+] < 5% Ca ou [HA-] < 5% [H2A], a equação (3) torna-

se Ca = [H2A] e a equação final reduz-se a:

H O K Ca3 1

(9)

Com esta simplificação admite-se que somente a primeira constante de ionização tem

importância para o cálculo de [H3O+].

Exemplos:

1) Calcule o pH de uma solução de H2S 0,0600 mol/L. K1 = 5,7x10-8 e K2 = 1,2x10-13.

H2S + H2O H3O+ + HS-

HS- + H2O

H3O+ + S2-

2H2O

H3O+ + OH-

KH O HS

H Sx1

3

2

85 10

,7

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KH O S

HSx2

3

2

131 10

,2

[H3O+] [OH-] = Kw

b.m.: 0,06 = [H2S] + [HS-] + [S2-]

b.c.: [H3O+] = [OH-] + [HS-] + 2[S2-]

Suposições:

1) [H3O+] >> [OH-]

2) [HS-] >> [S2-] (K1 >> K2)

3) [H2S] >> [HS-] ([HS-] < 5% [H2S])

H O K C mol La3 1

8 2 55 10 6 10 5 85 10 ,7 ,00 , /

Testes:

1) [OH-] = 1,71x10-10 mol/L = 3x10-4 % [H3O+]

2) [H3O+] = 0,1 % Ca

3) [H2S] = 6,00x10-2 mol/L

4) [HS-] = 5,85x10-5 mol/L = 0,1 % [H2S]

5) [S2-] = 1,2x10-13 mol/L = 2x10-7 % [HS-]

2) Calcule a concentração de todas as espécies de uma solução de H2SO4 0,04 mol/L.

K1 = K2 = 1,02x10-2

H2SO4 + H2O H3O+ + HSO4

-

HSO4- + H2O

H3O+ + SO4

2-

2H2O

H3O+ + OH-

KH O SO

HSO2

3 4

2

4

21 10

,02

[H3O+] [OH-] = Kw

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b.m.: 0,04 = [HSO4-] + [SO4

2-]

b.c.: [H3O+] = [OH-] + [HSO4-] + 2[SO4

2-]

Simplificações:

1) [H3O+] >> [OH-]

2) [HSO4-] >> [SO4

2-] (K1 >> K2)

[H3O+] = 0,04 mol/L

[HSO4-] = 0,04 mol/L

[SO42-] = 1,02x10-2 mol/L = 26% [HSO4

-] (não é válida)

O ácido sulfúrico é o típico exemplo em que não podemos aplicar as simplificações por

causa de seu comportamento: um dos seus prótons comporta-se como ácido forte e outro como

ácido fraco, porém não muito fraco. Assim devemos fazer outra consideração - a estequiometria:

[H3O+] = 0,04 + [SO42-]

O primeiro termo do lado direito é a concentração de [H3O+] proveniente da dissociação

do H2SO4 para HSO4- e o segundo termo é a contribuição da dissociação do HSO4

-.

Reescrevendo esta equação, temos:

[SO42-] = [H3O+] - 0,04

Combinando esta nova equação com o balanço de massa, temos:

[HSO4-] = 0,08 - [H3O+]

Introduzindo estas equações em termos de [SO42-] e [HSO4

-] na expressão de K2,

chegamos a uma equação do segundo grau, a qual podemos resolver facilmente:

[H3O+]2 - 0,0298[H3O+] - 8,16x10-4 = 0

Logo, [H3O+] = 0,0471 mol/L.

3) Calcule a concentração de todas as espécies de uma solução 0,06 mol/L de ácido

malônico (H2M). K1 = 1,40x10-3 e K2 = 2,01x10-6.

H2M + H2O

H3O+ + HM-

HM- + H2O

H3O+ + M2-

2H2O

H3O+ + OH-

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KH O HM

H Mx1

3

2

31 40 10

,

KH O M

HMx2

3

2

62 10

,01

[H3O+] [OH-] = Kw

b.m.: 0,06 = [H2M] + [HM-] + [M2-]

b.c.: [H3O+] = [OH-] + [HM-] + 2[M2-]

Suposições:

1) [H3O+] >> [OH-]

2) [HM-] >> [M2-] (K1 >> K2)

3) [H2M] >> [HM-] ([HM -] < 5% [H2M])

H O K C mol La3 1

3 2 31 40 10 6 10 917 10 , ,00 , /

[H2M] = 0,06 mol/L

[HM-] = 9,17x10-3 mol/L=15% [H2M] a 3a simplificação não é válida.

[M2-] = 2,01x10-6 mol/L

Devemos utilizar a equação do segundo grau: [H3O+]2 + K1[H3O+] - K1Ca = 0

[H3O+]2 + 1,40x10-3[H3O+] - 1,40x10-3 x 0,06 = 0

[H3O+] = 8,49x10-3 mol/L

[OH-] = 1,18x10-12 mol/L

[H2M] = 5,15x10-2 mol/L

[HM-] = 8,49x10-3 mol/L

[M2-] = 2,01x10-6 mol/L

5.5) Soluções de polibases

O raciocínio é o mesmo de um ácido poliprótico. Assim como apenas dois equilíbrios de

dissociação precisam ser considerados para calcular a concentração de H3O+ de uma solução de

um ácido poliprótico, o mesmo argumento se aplica a uma solução de uma polibase.

No caso de uma dibase, B, tem-se os seguintes equilíbrios:

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B + H2O BH+ + OH-

BH+ + H2O BH2

2+ + OH-

2H2O H3O+ + OH-

Destes equilíbrios escrevemos as seguintes equações:

KBH OH

Bb1

KBH OH

BHb2

2

2

[H3O+] [OH-] = Kw

b.m.: Cb = [B] + [BH+] + [BH22+]

b.c.: [H3O+] + [BH+] + 2[BH22+] = [OH-]

A solução completa deste sistema é uma equação do 4o grau em OH-. Se substituirmos os

termos [H3O+] por [OH-], Ca por Cb e Ka por Kb na equação completa obtida para um ácido

diprótico, chegaremos à equação completa para uma dibase e assim por diante. As simplificações

são também análogas, bastando fazê-las com relação às espécies predominantes no meio básico.

Exemplo:

1) Calcular a concentração de todas as espécies presentes numa solução de sulfeto de

sódio 0,06 mol/L. Kb1 = 8,33x10-2 e Kb2 = 1,75x10-7.

Reações químicas:

Na2S 2Na+ + S2- Sal totalmente dissociado

S2- + H2O HS- + OH- Kb1

HS- + H2O

H2S + OH- Kb2

2H2O

H3O+ + OH-

Equações:

KHS OH

Sb1 2

28 33 10

,

K

H S OH

HSb2

2 71 10

,75

[H3O+] [OH-] = Kw

Se a base em questão consistir na base conjugada

de um ácido poliprótico, as constantes de

hidrólise – Kbn – deverão ser calculadas a partir

das constantes de dissociação ácida do ácido

conjugado – Kw = Ka x Kb:

2

1

a

wb

K

KK e

1

2

a

wb

K

KK

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b.m.: 0,06 = [S2-] + [HS-] + [H2S]

b.c.: [H3O+] + [Na+] = [OH-] + 2[S2-] + [HS-]

Simplificações:

1) [OH-] >> [H3O+]

2) [S2-] >> [HS-]

3) [HS-] >> [H2S]

4) [HS-] = [OH-]

[OH-]2 = 8,33x10-2 x 0,06

[OH-] = 7,07x10-2 mol/L

[H3O+] = 1,41x10-13 mol/L

[S2-] = 0,06 mol/L

[HS-] = 7,07x10-2 mol/L invalidou a segunda simplificação

[H2S] = 1,75x10-7 mol/L

Reformulando as simplificações e voltando ao b.m. e b.c.:

b.m.: 0,06 = [S2-] + [HS-]

b.c.: [Na+] = [OH-] + 2[S2-] + [HS-]

KOH

OHOH OHb1

2

22

2 2

08 33 10 8 33 10 0 8 33 10 0

,06, , ,06 ,

[OH-] = 0,04 mol/L

[H3O+] = 2,48x10-13 mol/L

[S2-] = 0,02 mol/L

[HS-] = 0,04 mol/L

[H2S] = 1,75x10-7 mol/L

5.6) Solução de Sais (hidrólise)

Quando se dissolvem sais em água pura, nem sempre a solução resultante se apresenta

neutra. A razão para esse fenômeno é que alguns sais reagem com a água (daí o termo hidrólise),

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produzindo excesso de íons hidrônio ou hidróxido, tornando a solução ácida ou básica,

respectivamente.

Na realidade, a hidrólise é uma reação ácido-base de acordo com a teoria de Brönsted-

Lowry. Pode-se prever se o sal dará origem a uma solução ácida ou básica considerando a força

do ácido e da base que lhe deram origem. Assim:

1) O SAL NEUTRO contém na sua fórmula o ânion e o cátion provenientes de um ácido e de

uma base forte, respectivamente

NaOH + HCl NaCl + H2O

O NaCl não sofre hidrólise, dando uma solução de pH=7 (neutra)

2) O SAL BÁSICO contém em sua fórmula o ânion proveniente de um ácido fraco e o cátion de

uma base forte. A hidrólise ocorre com o ânion.

NaOH + HAc NaAc + H2O

O NaAc sofre hidrólise dando origem à uma solução básica:

Ac- + H2O HAc + OH-

KHOAc OH

OAcb

constante de hidrólise

Kb = Kw / Ka Quanto mais fraco for o ácido (< Ka) maior será a extensão da hidrólise do ânion

(> Kb) Mais forte a base conjugada.

3) O SAL ÁCIDO é originado de um ânion de ácido forte com um cátion de base fraca. Neste

caso a hidrólise ocorre com o cátion.

HCl + NH3 NH4Cl

O NH4Cl sofre hidrólise dando origem à uma solução ácida:

NH4+ + H2O

NH3 + H3O+

KNH H O

NHa

3 3

4

Ka = Kw / Kb Quanto mais fraca for a base (< Kb) maior será a extensão da hidrólise do cátion

(> Ka) Mais forte o ácido conjugado.

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4) O sal que contém em sua fórmula o ânion derivado de um ácido fraco e um cátion derivado de

uma base fraca terá duas reações competitivas, produzindo íons hidrônio e hidróxido.

HAc + NH3 NH4Ac

Hidrólise do cátion:

NH4+ + H2O

NH3 + H3O+

K

NH H O

NHa

3 3

4

Hidrólise do ânion:

Ac- + H2O HAc + OH-

KHOAc OH

OAcb

A reação predominante será aquela que tiver o maior valor de K:

Ka > Kb solução ácida Kb > Ka solução básica

5.7) Cálculo de pH de soluções de sais

Em solução aquosa, os sais de reação ácida se comportam como ácidos fracos e os sais de

reação básica como bases fracas. Assim sendo, o procedimento para o cálculo de pH de suas

soluções é exatamente igual àqueles desenvolvidos para o cálculo de pH de soluções de ácidos e

bases fracas.

Exemplos:

1) Qual o pH de uma solução de NH4Br 0,01 mol/L?

NH4Br NH4+ + Br- (sal ácido)

NH4+ + H2O

NH3 + H3O+ (hidrólise do cátion)

2H2O

H3O+ + OH-

KNH H O

NHa

3 3

4

105 6 10, Kw = [H3O+] [OH-]

b.m. Cs = 0,01 = [NH4+] + [NH3]

b.c. [Br-] + [OH-] = [NH4+] + [H3O+]

[Br-] = Cs

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Fazendo as devidas simplificações:

1) [OH-] < 5% [H3O+]; 2) [NH3] < 5% [NH4+] ou [H3O+] < 5% Cs;

H O K Ca a3

= 5 6 10 1 10 2 37 1010 2 6, ,00 , / mol L < 5% Cs

[OH-] = 4,22x10-9 < 5% [H3O+]

[NH4+] = 0,01

[NH3] = 2,37 x 10-6 < 5% Cs

Todas as simplificações foram satisfatórias pH = 5,63.

2) Qual o pH de uma solução de NaAc 0,01 mol/L?

NaAc Na+ + Ac- (sal básico)

Ac- + H2O HAc + OH- (hidrólise do ânion)

2H2O H3O+ + OH-

KHOAc OH

OAcb

5 6 10 10,

Kw = [H3O+] [OH-]

b.m. Cs = 0,01 = [Ac-] + [HAc]

b.c. [Ac-] + [OH-] = [Na+] + [H3O+]

[Na+] = Cs

Fazendo as simplificações:

1) [H3O+] < 5% [OH-]; 2) [HAc] < 5% [Ac-] ou [OH-] < 5% Cs;

OH K Cb b

= 5 6 10 1 10 2 37 1010 2 6, ,00 , / mol L < 5% Cs

[H3O+] = 4,22x10-9 < 5% [OH-]

[Ac-] = 0,01

[HAc] = 2,37 x 10-6 < 5% [Ac-]

Como as simplificações são válidas pOH = 5,63 pH = 8,37.

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3) Qual o pH de uma solução de NH4Ac 0,01 mol/L?

NH4Ac NH4+ + Ac-

Ac- + H2O HAc + OH- Kb (hidrólise do ânion)

NH4+ + H2O

NH3 + H3O+ Ka (hidrólise do cátion)

2H2O H3O+ + OH- Kw

KNH H O

NHa

3 3

4

105 6 10,

KHOAc OH

OAcb

5 6 10 10,

Kw = [H3O+] [OH-]

b.m. Amônia Cs = 0,01 = [NH4+] + [NH3]

Acetato Cs = 0,01 = [Ac-] + [HAc]

b.c. [Ac-] + [OH-] = [NH4+] + [H3O+]

Igualando-se as duas expressões para do b.m.: [Ac-] + [HAc] = [NH4+] + [NH3]

Subtraindo desta última o b.c. chegamos à seguinte equação: [HAc] - [OH-] = [NH3] - [H3O+]

Entrando com as expressões vindas de Ka e de Kb, assumindo que [NH3] < 5% [NH4+] e

[HAc] < 5% [Ac-]:

NH H O C Ks a3 3

HOAc OH C Ks b

chegamos a esta equação: CsKb/[OH-] - [OH-] = CsKa/[H3O+] - [H3O+]

Agora, substituindo [OH-] por Kw/[H3O+], temos:

CsKb[H3O+]/Kw - Kw/[H3O+] = CsKa/[H3O+] - [H3O+]

multiplicando-se por Kw e [H3O+], temos: CsKb[H3O+]2 - Kw2 = CsKaKw - Kw[H3O+]2,

o que resulta em: [H3O+]2 = Kw(CsKa + Kw) / (CsKb + Kw)

Em muitos casos Kw << CsKa e Kw << CsKb e assim obtém-se: b

aw

K

KKOH

3

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Como Ka x Kb = Kw, a equação acima torna-se: /

/

3

b

aw

K

KKOH ,

onde Ka' e Kb são relativas ao ânion e Kb' e Ka são relativas ao cátion.

Isto indica que a [H3O+] de uma solução que contenha um sal proveniente de um ácido

fraco e de uma base fraca é em muitas ocasiões independente da concentração analítica do sal.

Assim, para o caso do NH4Ac, [H3O+] = 1,00x10-7 mol/L pH = 7,00.

5.8) Soluções de Anfóteros (anfipróticos ou anfólitos).

Anfóteros ou anfipróticos são substâncias que tanto podem reagir como ácidos ou como

bases. São exemplos NaHCO3, NaH2PO4 e Na2H2Y (sal dissódico do ácido

etilenodiaminotetracético - EDTA).

No caso do ânion bicarbonato ou carbonato ácido ou hidrogenocarbonato – HCO3-, seu

comportamento como anfótero pode ser visto através dos seguintes equilíbrios:

HCO3- + H2O

H2CO3 + OH- Kb

HCO3- + H2O

H3O+ + CO32- Ka

As soluções destas espécies podem ser ácidas ou básicas, dependendo da grandeza das

constantes de equilíbrio envolvidas.

Se Kb > Ka Solução básica

Se Ka > Kb Solução ácida

Considere uma solução de um sal MHA de concentração analítica C s, onde os seguintes

equilíbrios são envolvidos:

HA- + H2O

H2A + OH- Kb2 = Kw/Ka1

HA- + H2O

H3O+ + A2- Ka2

Ka2 = [H3O+][A2-] / [HA-] (1)

Kb2 = Kw/Ka1 = [H2A][OH-] / [HA-] (2)

Kw = [H3O+][OH-] (3)

b.m. em relação ao ânion A2- Cs = [A2-] + [HA-] + [H2A] (4)

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em relação ao cátion M+ Cs = [M+] (5)

b.c. [M+] + [H3O+] = [OH-] + 2[A2-] + [HA-] (6)

Neste ponto, se considerarmos que a hidrólise não ocorre em grande extensão, tanto

[H3O+] quanto [OH-] serão pequenas ao ponto de poderem ser desprezadas. Assim a equação (6)

se reduz a:

[M+] = 2[A2-] + [HA-] ou Cs = 2[A2-] + [HA-] (7)

Substituindo a equação (4) em (7):

[A2-] + [HA-] + [H2A] = 2[A2-] + [HA-] [H2A] = [A2-] (8)

Combinando (1) e (2) com (8):

Kb2[HA-] / [OH-] = Ka2[HA-] / [H3O+]

mas como Kb2 = Kw/Ka1 e [OH-] = Kw/[H3O+], chegamos a:

[H3O+]2 = Ka1Ka2 (10) Esta é a situação limite no qual o pH independe de Cs.

Porém, nem sempre esta situação é aplicável, assim é necessário a dedução de uma

expressão mais elaborada.

Subtraindo as equações combinadas do b.m. da equação do b.c.:

[H3O+] = [OH-] + [A2-] - [H2A] (11)

Expressando em termos de [HA-]:

[H3O+] = Ka2[HA-] / [H3O+] + Kw / [H3O+] - [H3O+] [HA-] / Ka1 (12)

Na maioria dos casos podemos assumir que [HA-] = Cs

[H3O+]2 = (Ka1Ka2Cs + KwKa1) / (Ka1 + Cs) (13)

Simplificações:

1) Ka2Cs >> Kw [H3O+]2 = Ka1Ka2Cs / (Ka1 + Cs) (14)

2) Quando Cs >> Ka1

[H3O+]2 = Ka1Ka2 Situação limite da equação (10)

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Uma inspeção mais aguçada desta equação para um sistema constituído de um anfótero

permite verificar que, embora pareça diferente, se trata da mesma equação obtida para a solução

de um sal de ácido fraco com base fraca. Basta lembrar que no sistema haverá uma espécie com

comportamento ácido e outra com comportamento básico. Vejamos:

Nos dois casos o caráter da solução dependerá dos valores de Ka e Kb, como explicado

anteriormente.

Fazendo as devidas modificações na equação da esquerda em função das espécies

existentes na solução, ou seja, substituindo Kb por Kb2 e Ka por Ka2 e em seguida fazendo a

substituição de Kb2 por Kw / Ka1, facilmente obtém-se a equação da direita:

sa

awsaa

as

awas

a

asw

wasw

w

a

ws

wasw

wbs

wasw

CK

KKCKK

KC

KKKC

K

KCK

KKCK

KK

KC

KKCK

KKC

KKCKOH

1

121

1

12

1

1

2

1

2

2

22

3

)()()()(

Exemplos:

1) Determine o pH de uma solução 0,1 mol/L de NaHCO3.

Dados Ka1 = 4,45x10-7 e Ka2 = 4,7x10-11

Como Ka2Cs >> Kw e Cs >> Ka1 [H3O+] = (Ka1Ka2)1/2 = 4,6x10-9 mol/L

2) Determine a [H3O+] numa solução 0,001 mol/L de Na2HPO4.

Dados Ka2 = 6,34x10-8 e Ka3 = 4,2x10-13

HPO42- + H2O

H2PO4

- + OH-

HPO42- + H2O

PO4

3- + H3O+

Como Ka3Cs não é >> Kw, não podemos utilizar a equação totalmente simplificada, mas

Ka2 << Cs, permitindo que se faça uma simplificação:

[H3O+] = [(Ka2Ka3Cs + KwKa2) / Cs]1/2 = 8,1x10-10 mol/L

Sal de ácido fraco com base fraca

Ac- + H2O HAc + OH- Kb

NH4+ + H2O

NH3 + H3O+ Ka

[H3O+]2 = Kw(CsKa + Kw) / (CsKb + Kw)

Sal de anfótero

HA- + H2O H2A + OH- Kb2 = Kw/Ka1

HA- + H2O H3O+ + A2- Ka2

[H3O+]2 = (Ka1Ka2Cs + KwKa1) / (Ka1 + Cs)

Sal de ácido fraco com base fraca Sal anfótero

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LISTA DE EXERCÍCIOS

1) Escreva o balanço de massa para as seguintes soluções:

a) 0,100 mol/L H3PO4 b) 0,100 mol/L Na2HPO4

c) 0,100 mol/L em HNO2 e 0,050 mol/L em NaNO2 d) Ca mol/L H2SO3

a) 0,100 = [H3PO4] + [H2PO4-] + [HPO4

2-] + [PO4

3-]

b) 0,100 = [H3PO4] + [H2PO4-] + [HPO4

2-] + [PO4

3-] 0,200 = [Na

+]

c) 0,100 + 0,050 = [HNO2] + [NO2-] 0,050 = [Na

+]

d) Ca = [H2SO3] + [HSO3-] + [SO3

2-]

2) Escreva o balanço de cargas para todas as soluções do exercício 1.

a) [H3O+] = [H2PO4

-] + 2[HPO4

2-] + 3[PO4

3-] + [OH

-]

b) [H3O+] + [Na

+] = [H2PO4

-] + 2[HPO4

2-] + 3[PO4

3-] + [OH

-]

c) [H3O+] + [Na

+] = [NO2

-] + [OH

-]

d) [H3O+] = [HSO3

-] + 2[SO3

2-] + [OH

-]

3) Considere o sistema aquoso com Ca mol/L de H2SO3 e Cs mol/L de NaHSO3. Pede-se:

a) as equações de todos os equilíbrios químicos da solução resultante, inclusive o da água.

b) as expressões das constantes de equilíbrio.

c) as equações do balanço de massa e do balanço de cargas da solução resultante.

a) H2O + H2O

H3O+ + OH

- H2SO3 + H2O

HSO3- + H3O

+ HSO3

- + H2O

SO32-

+ H3O+

b) Kw = [H3O+][OH

-] Ka1 = [HSO3

- ][H3O

+] / [H2SO3] Ka1 = [SO3

2- ][H3O

+] / [HSO3

-]

c) Ca + Cs = [H2SO3] + [HSO3-] + [SO3

2-] [Na

+] = Cs [H3O

+] + [Na

+] = [HSO3

-] + 2[SO3

2-] + [OH

-]

4) Calcule a [H3O+] numa solução 0,120 mol/L de HNO2. Ka = 5,1x10-4. (7,6x10-3

mol/L)

5) Calcule a [H3O+] numa solução 2,0x10-4 mol/L de C6H5NH3Cl. Ka = 2,54x10-5. (6,0x10-5

mol/L)

6) Calcule a [H3O+] numa solução 7,5x10-2 mol/L de NH3. Kb = 1,76x10-5. (8,7x10-12

mol/L)

7) Calcule a [H3O+] numa solução 1,0x10-2 mol/L de NaOCl. Kb = 3,3x10-7. (1,7x10-10

mol/L)

8) O hipoclorito de sódio (NaOCl), um alvejante doméstico, é também um desinfetante de uso

comum. A espécie mais efetiva como desinfetante é o HClO. Calcule a sua concentração numa

solução de NaOCl recém preparada contendo 0,0745g do soluto por litro de solução.

Dados Ka = 3,16x10-8, M.M.NaOCl = 74,5g/mol. ([HOCl] = 1,78x10-5

mol/L)

9) Calcule o pH e as concentrações de todas as espécies para a solução originada pela dissolução

de 1,0600g de Na2CO3 em 200 mL de água.

Dados M.M.Na2CO3 = 106 g/mol; H2CO3: Ka1 = 4,3x10-7; Ka2 = 4,8x10-11

[H3O+] = 3,2x10

-12; [OH

-] = 3,12x10

-3; [CO3

2-] = 4,69x10

-2; [HCO3

-] = 3,12x10

-3; [H2CO3] = 2,33x10

-8; pH= 11,49

10) O leite de magnésia, comumente utilizado para azia, tem como composto ativo o hidróxido de

magnésio, sendo que 15 mL de leite de magnésia contém aproximadamente 1,2g de Mg(OH)2. O

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hidróxido de magnésio é pouco solúvel em água pura, mas considerando-o totalmente solúvel,

qual seria o pH de da solução resultante da solubilização de uma colher de sopa (15 mL) em um

volume total de 200 mL de solução? Dado: MMg(OH)2 = 58,32 g/mol. (pH= 13,31)

11) Determine as concentrações de todas as espécies presentes em uma solução originada pela

dissolução 2g de vitamina C (ácido ascórbico – M = 176,13 g/mol) em 100 mL de água. Mostre

todas as reações e equilíbrios envolvidos e mostre todas equações originadas dos equilíbrios.

Represente a vitamina C como H2C. Dados Ka1 = 7,94x10-5 e Ka2 = 1,62x10-12.

[H3O+] = 3,003x10

-3; [OH

-] = 3,330x10

-12; [C

2-] = 1,62x10

-12; [HC

-] = 3,003x10

-3; [H2C] = 0,1136

b.m.: 0,1136 = [HC-] + [H2C] + [C

2-] b.c.: [H3O

+] = [OH

-] + [HC

-] + 2[C

2-]

H2C + H2O

HC- + H3O

+ HC

- + H2O

C2-

+ H3O+ 2H2O

OH- + H3O

+

12) Determine todas as concentrações de uma solução de NH4Cl 0,001 mol/L. Utilize

inicialmente a equação simplificada e verifique se as simplificações são válidas. Dado

KaNH4

+ = 5,6x10-10.

[NH4+] = 0,001; [NH3] = 7,48x10

-7 (< 5% de Cs); [H3O

+] = 7,48x10

-7 (< 5% Cs) [OH

-] = 1,33x10

-8 (< 5% [H3O

+]) As aproximações são

válidas.

13) Qual o pH de uma solução de NH4CN 0,01 mol/L? Que tipo de sal é este? O que ocorre com

seus íons? Dados: KbNH3 = 1,8x10-5 e KaHCN = 4,9x10-10.

pH = 9,28. Sal de base fraca com ácido fraco. O pH será definido pela grandeza dos valores de Kb e Ka. Ocorre a hidrólise do cátion e do

ânion.

14) Calcule o pH das seguintes soluções 0,100 mol/L:

a) NaHS (H2S: Ka1 = 5,7x10-8 e Ka2 = 1,2x10-13) (Falha uma simplificação: pH = 9,95)

b) NaHSO3 (H2SO3: Ka1 = 1,72x10-2 e Ka2 = 6,43x10-8) (Falha uma simplificação: pH = 4,51)

15) Escreva os balanços de cargas e de massa para uma solução de NaHCO3 0,100 mol/L e

calcule a concentração de íons hidrônio. Dados H2CO3: Ka1 = 4,45x10-7 e Ka2 = 4,7x10-11.

([H3O+] = 4,6x10

-9 mol/L)

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6) SOLUÇÕES TAMPÃO

SÃO SOLUÇÕES QUE RESISTEM ÀS MODIFICAÇÕES DE PH QUANDO A

ELAS SÃO ADICIONADAS UM ÁCIDO FORTE OU UMA BASE FORTE OU AINDA

QUANDO SOFREM UMA DILUIÇÃO.

As pequenas variações de pH são insignificantes quando comparadas às variações nas

soluções não tamponadas. Por este motivo, estas soluções são utilizadas para manter (ou quase)

constante o pH de um sistema.

6.1) Constituição

Tampão pode ser constituído por uma solução moderadamente concentrada de ácido ou

base forte ou por uma solução contendo um par ácido-base conjugado em concentrações

adequadas.

No caso de soluções concentradas de ácidos ou bases fortes, o tamponamento ocorre nas

extremidades da escala de pH (pH < 3 ou pH > 11). Para tamponar em valores intermediários da

escala (3 < pH < 11), são utilizados tampões constituídos por um par ácido-base conjugado.

De um modo geral, um tampão é uma mistura de um ácido e sua base conjugada.

Normalmente o tampão é constituído de um ácido fraco e seu sal ou de uma base fraca e seu sal.

6.2) Mecanismo de funcionamento

Tampão é uma solução que contem concentrações suficientes (em torno de 0,5 a 1,5

mol/L) de um ácido fraco (HA) e de sua base conjugada (A-).

Se adicionarmos a um tampão um ácido forte, os íons H3O+ por ele liberados são quase

que totalmente consumidos pela base conjugada.

A- + H3O+

HA + H2O

A modificação no pH será insignificante desde que a concentração do ácido forte

adicionado seja bem menor que a concentração da base conjugada.

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Se adicionarmos uma base forte ao tampão, essa consome os íons H3O+ do meio,

originados pela dissociação do ácido fraco do tampão, provocando uma posterior dissociação do

ácido fraco para reestabelecer o equilíbrio. Se a concentração da base forte for bem menor que a

do ácido fraco, a variação do pH será insignificante.

6.3) o pH das soluções tampão

Qualquer que seja o tampão, este conterá sempre o um par conjugado ácido-base.

O ácido poderá ser proveniente de:

- ácido livre (HAc, H3PO4)

- de um sal (NH4+)

- de um sal ácido (HCO3-, H2PO4

-)

A base, por sua vez, poderá ser proveniente de:

- base livre (NH3)

- um sal (Ac-, HCO3-)

O comportamento do tampão pode ser explicado em termos dos equilíbrios originados do

par conjugado ácido-base.

Consideremos uma mistura de um ácido fraco HA de concentração analítica Ca mol/L

com sua base conjugada A- de concentração analítica Cb mol/L sob a forma de NaA. Os

equilíbrios envolvidos são os seguintes:

- Dissociação do ácido:

HA + H2O H3O+ + A-

2 H2O H3O+ + OH-

- Dissociação do sal:

NaA Na+ + A-

A- + H2O

HA + OH-

Deste modo podemos escrever as seguintes equações:

KA H O

HAa

3 (1)

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KHA OH

Ab

(2)

Kw = [H3O+] [OH-] (3)

b.m.: Ca + Cb = [HA] + [A-] (4)

[Na+] = Cb (5)

b.c.: [Na+] + [H3O+] = [A-] + [OH-]

ou [A-] = Cb + [H3O+] - [OH-] (6)

Substituindo (6) em (4):

Ca + Cb = [HA] + Cb + [H3O+] - [OH-]

[HA] = Ca - [H3O+] + [OH-] (7)

Substituindo (6) e (7) em (1):

KH O C H O OH

C H O OHa

b

a

3 3

3

Reagrupando:

H O

K C H O OH

C H O OH

a a

b

3

3

3

(8) Equação geral para qualquer tampão

Simplificações:

1) Se a solução é ácida: [H3O+] >> [OH-]

H O

K C H O

C H O

a a

b

3

3

3

(9)

2) Se a solução é básica

H O

K C OH

C OH

K

OH

a a

b

w3

[ ] (10)

3) Se a solução não é muito diluída tanto em relação ao ácido quanto em relação a base

conjugada, as seguintes aproximações podem ser feitas:

Ca - [H3O+] Ca e Ca + [OH-] Ca

Cb + [H3O+] Cb e Cb - [OH-] Cb

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Assim a equação geral se reduz a:

H O KC

Ca

a

b

3

(11) Equação simplificada do sistema Tampão

Esta mesma equação na forma logarítmica é:

pH = pKa + log(Cb/Ca) Equação de Henderson Hasselbach

6.4) O efeito da diluição de um tampão

Se a solução tampão não é muito diluída, o pH só depende da relação Ca/Cb e de Ka. Em

outras palavras, o pH não se altera significativamente por diluição do tampão com água.

Porém, se a solução já é diluída, uma posterior diluição alterará ligeiramente o pH ao se

tornarem consideráveis os valores de Ca - [H3O+] e Cb + [H3O+], introduzindo elevado erro no

cálculo do pH. Assim, devemos utilizar a equação do 2o grau.

6.5) O efeito da adição de ácidos e base fortes a um tampão - Cálculo do pH

Para se verificar a ação freadora de uma solução tampão, vamos estudar o efeito da adição

de um ácido forte e de uma base forte no pH da solução.

Consideremos uma solução tampão formada por HA/NaA. O seguinte equilíbrio está

envolvido:

HA + H2O H3O+ + A-

- Adição de ácido forte: Proporcionará uma diminuição de A- e um aumento de HA na mesma

quantidade. A relação Ca/Cb permanecerá praticamente a mesma, o que implica numa pequena

variação do pH.

- Adição de base forte: Proporcionará um aumento de A- e uma diminuição de HA na mesma

quantidade. A relação Ca/Cb também varia pouco, implicando numa pequena variação do pH.

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Exemplo: Considere uma solução tampão formada por HAc 0,1 mol/L e NaAc 0,1 mol/L.

a) Qual o pH da solução? Dado pKa = 4,74.

b) Suponha que a 100 mL deste tampão sejam adicionados 5 mL de HCl 0,1 mol/L. Qual

será o pH?

c) Suponha agora que a 100 mL deste tampão sejam adicionados 5 mL de NaOH 0,1

mol/L. Qual será o pH?

a) Para responder a este ítem devemos lembrar as considerações feitas para obter a equação

simplificada. Se elas forem válidas, fazemos uso da equação pH = pKa + log(Cb/Ca), caso

contrário devemos utilizar a equação mais completa (neste caso todas as considerações são

válidas).

pH = 4,74 + log(0,1/0,1) = 4,74

b) 5 mL de HCl contém 0,1 mol/L x 5,0x10-3 mol = 5,0x10-4 mol de HCl que irão consumir a

mesma quantidade de A-, produzindo 5,0x10-4 mol de HAc.

Em 100 mL do tampão temos:

nHAC = 0,1 mol/L x 100x10-3 = 0,01 mol

nAC- = 0,1 mol/L x 100x10-3 = 0,01 mol

Após a adição do ácido temos:

nHAC = 0,01 + 5,0x10-4 = 0,0105 mol

nAC- = 0,01 - 5,0x10-4 = 0,0095 mol

[HAc] = 0,0105 / 105x10-3

[Ac-] = 0,0095 / 105x10-3

pH = 4,74 + log(0,0095/0,0105) = 4,70

c) 5 mL de NaOH contém 0,1 mol/L x 5,0x10-3 mol = 5,0x10-4 mol de NaOH que irão consumir a

mesma quantidade de HA, produzindo 5,0x10-4 mol de A-.

Após a adição da base temos:

nHAC = 0,01 - 5,0x10-4 = 0,0095 mol

nAC- = 0,01 + 5,0x10-4 = 0,0105 mol

[HAc] = 0,0095 / 105x10-3

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[Ac-] = 0,0105 / 105x10-3

pH = 4,74 + log(0,0105/0,0095) = 4,78

6.6) Capacidade freadora de uma solução tampão

A eficiência de um dado tampão em resistir à variação de pH é maior quando a relação das

concentrações de seus dois componentes é igual à unidade.

Sejam, por exemplo, três soluções tampão constituídas de diferentes misturas de ácido

acético e acetato de sódio.

a) HAc 0,01 mol/L e NaAc 0,0001 mol/L pH= 2,74

b) HAc 0,01 mol/L e NaAc 0,01 mol/L pH = 4,74

c) HAc 0,0001 mol/L e NaAc 0,01 mol/L pH = 6,74

Após a adição de 0,5 mL de NaOH 0,01 mol/L a 100 mL de cada um destas soluções, os

valores de pH serão:

a) pH= 2,92 pH = 0,18

b) pH= 4,744 pH = 0,004

c) pH= 7,04 pH = 0,30

Desta forma vemos que a solução (b) é a mais eficiente.

A eficiência depende também das concentrações efetivas dos componentes.

Sejam por exemplo duas soluções:

a) HAc 0,1 mol/L e NaAc 0,1 mol/L pH = 4,74

b) HAc 0,001 mol/L e NaAc 0,001 mol/L pH = 4,74

Após a adição de 0,5 mL de HCl 0,1 mol/L a 100 mL de cada uma destas soluções, os

valores de pH serão:

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a) pH= 4,736 pH = 0,004

b) pH= 4,26 pH = 0,48

Desta forma vemos que a solução (a) tem uma maior capacidade freadora ou melhor

eficiência.

Em termos quantitativos, a capacidade freadora é definida como sendo o número de moles

de base forte requerida para ocasionar o incremento de uma unidade de pH em 1 litro da solução

tampão.

RESUMINDO:

- A alta capacidade freadora está associada a altas concentrações dos componentes do tampão;

- A maior capacidade freadora ocorre quanto Ca = Cb, circunstância na qual o pH = pKa;

- Em geral, a eficiência da ação tamponante se mantém satisfatória dentro de uma faixa definida

pelos limites 0,1 Ca/Cb 10, ou seja, pH = pKa 1.

Assim, para se preparar um tampão eficiente, deve-se:

- Escolher um ácido ou uma base fraca que tenha um pKa tão próximo quanto possível do pH

desejado;

- Usar concentrações adequadas do ácido e da base conjugada;

- Verificar a faixa de pH coberta por essa solução.

6.7) Tampões de ácidos polipróticos

A partir de um ácido fraco H2A e seus sais NaHA e Na2A é possível preparar dois

sistemas tampão:

a) H2A / NaHA

b) NaHA / Na2A

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Exemplo:

Calcular o pH de uma solução tampão 0,1 mol/L em ácido ftálico (H2Ft) e 0,2 mol/L em

hidrogenoftalato de potássio (KHFt) e de uma solução tampão 0,1 mol/L em KHFt e 0,2 mol/L

em K2Ft.

H2Ft + H2O H3O+ + HFt- K1 = 1,3 x 10-3

HFt- + H2O H3O+ + Ft2- K2 = 3,9 x 10-6

pH = -log(1,3 x 10-3) + log (HFt-/H2Ft) = 2,89 + log 2 = 3,19

pH = -log(3,9 x 10-6) + log (Ft2-/HFt-) = 5,41 + log 2 = 5,71

7) TITULAÇÃO ÁCIDO-BASE

Um dos métodos mais versáteis para a determinação de substâncias é a titulometria

(titimetria) ou titulação. Trata-se de um método volumétrico de análise.

Titulação: É a adição progressiva de uma solução de concentração conhecida, o tilulante, a uma

solução de concentração desconhecida, o titulado, até que toda a substância tenha reagido

(idealmente), isto é, até que uma quantidade equivalente do titulante tenha sido adicionada ao

titulado. De nosso interesse, é a titulometria volumétrica ou simplesmente volumetria.

Ponto de equivalência (P.E.) ou ponto final teórico: Ponto no qual tem-se uma quantidade

equivalente de titulante e de titulado.

Ponto final (P.F.): Na prática, não se consegue determinar exatamente o P.E., mas procura-se

através de um meio auxiliar, determinar a etapa da titulação tão próxima quanto possível deste

ponto, isto é, procura-se determinar o ponto final da titulação. A diferença entre o P.E. e o P.F.

constitui o erro da titulação.

Meios auxiliares para determinação do P.F. da titulação: O uso de um reagente auxiliar que

provoca uma reação paralela nas imediações do P.E. com alterações na coloração do sistema.

Tais reagentes são chamados indicadores.

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7.1) Indicadores Ácido-básicos

São substâncias orgânicas de elevado peso molecular, que se comportam em solução

aquosa com ácidos fracos (indicadores ácidos) ou bases fracas (indicadores básicos) e mudam

gradualmente de coloração dentro de uma faixa relativamente estreita da escala de pH, chamada

de zona de transição.

- Dissociação do indicador: HInd + H2O H3O+ + Ind-

coloração ácida coloração básica

A espécie que predomina depende do pH do meio e, consequentemente, a coloração

também. As duas formas coexistem em toda a faixa de pH e quando uma das formas do indicador

se encontra presente em excesso, de cerca de 10 vezes em comparação com a outra, o olho

humano percebe apenas a coloração desta.

- Constante de equilíbrio:

K

Ind H O

HInda

3

- Na forma logarítmica: pH = pKa + log([Ind-]/[HInd])

- Coloração ácida pura: [Ind-]/[HInd] 1/10

- Coloração básica pura: [Ind-]/[HInd] 10

Substituindo estes valores intermediários na equação logarítmica, temos, respectivamente:

pH = pKa - 1 e pH = pKa + 1

- Zona de transição: Limites entre os quais o indicador acusa colorações intermediárias.

pH = pKa 1

Exemplo: Consideremos um indicador HInd de pKa = 5, cuja forma ácida tem cor amarela e a

forma básica cor vermelha.

HInd + H2O

H3O+ + Ind-

amarela vermelha

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Aplicando a equação pH = pKa + log([Ind-]/[HInd])

a) pH = 4,0

[Ind-]/[HInd] = 0,1 Isto significa que a cor amarela é predominante, pois é a concentração da

espécie amarela é 10 vezes maior que a da forma vermelha.

b) pH = 5,0

[Ind-]/[HInd] = 1 Isto significa que a 50% do indicador está na forma amarela e 50% está na

forma vermelha. O olho humano enxerga a cor laranja.

c) pH = 5,5

[Ind-]/[HInd] = 3,2 Isto significa que a forma vermelha é 3,2 vezes maior que a forma amarela.

O olho humano não percebe a separação.

d) pH = 6,0

[Ind-]/[HInd] = 10 Isto significa que a cor vermelha é predominante, pois a concentração da

forma vermelha é 10 vezes maior que a da forma amarela.

pH = 4 pH = 6

amarelo zona de transição vermelho

coloração intermediária

7.2) Titulação ácido-base - Curva de titulação

As reações ácido-base podem ser acompanhadas estudando-se as variações na

concentração de íons hidrônio durante a titulação. A variação do pH nas vizinhanças do P.E. é de

grande importância, pois permite a escolha do indicador que leva a um menor erro da titulação

Curva de titulação ácido-base: Descrição gráfica da variação do pH em função do volume de

ácido ou base (titulante) adicionado.

Para calcular uma curva de titulação é necessário:

a) Composição do sistema antes da titulação;

b) Composição do sistema após a adição do titulante, mas antes do P.E.;

c) Composição do sistema no P.E.;

d) Composição do sistema após o P.E.

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7.3) Titulação de um ácido forte com uma base forte

É a titulação mais simples, pois tanto o ácido quanto a base estão completamente

dissociados. O único equilíbrio a considerar é o da água:

H3O+ + OH- 2 H2O

Exemplo: Consideremos a titulação de 100,00 mL de uma solução 0,100 mol/L de HCl com

NaOH 0,100 mol/L.

Qualquer mistura de soluções de HCl com NaOH pode ser descrita pelo balanço de cargas:

[Cl-] + [OH-] = [H3O+] +[Na+]

1) Para a solução original: [H3O+] = [Cl-] + [OH-]

[OH-] é desprezado pois vem da água, assim [H3O+] = [Cl-] = 0,100 mol/L pH = 1.

2) Após a adição de 50,00 mL da solução de NaOH: [H3O+] +[Na+] = [Cl-] +[OH-]

Há ainda um excesso de ácido, então [OH-] também é desprezado. Assim [H3O+] = [Cl-] - [Na+]

[H3O+] = (0,100 x 100,00 - 0,100 x 50,00) / 150,00 = 3,33 x 10-2 mol/L pH = 1,48.

3) Com a adição de 100,00 mL da solução de NaOH, é atingido o P.E. da titulação. Então

[Cl-] = [Na+] e [H3O+] = [OH-] = 10-7 mol/L pH = 7,00.

4) Além do ponto de equivalência (solução básica)

[H3O+] é desprezado pois vem da água, assim [OH-] = [Na+] - [Cl-] = excesso de base

adicionado. Assim, para uma adição de 102,00 mL da solução da base, temos um excesso de 2,00

mL de NaOH.

[OH-] = (102,00 x 0,100 - 100,00 x 0,100) / 202,00 = 9,91 x 10-4 pOH = 3,00 pH = 11,00.

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CURVA DE TITULAÇÃO

0 20 40 60 80 100 120 140 1600

2

4

6

8

10

12

14

3

2

1

Alaranjado de metila

Azul de bromotimol

Fenolftaleína

HCl 0,01 mol/L x NaOH 0,01 mol/L

HCl 0,1 mol/L x NaOH 0,1 mol/L

HCl 1 mol/L x NaOH 1 mol/L

pH

Volume de NaOH / mL

Fases da titulação:

Elevação gradual do pH

Imediações do P.E. - Brusca elevação do pH

Elevação gradual do pH

Influência das concentrações:

A comparação das curvas revela que a diminuição das concentrações dos reagentes

determina uma variação menos extensa do pH em torno do P.E..

NaOH

adicionado

(mL)

Solução 0,01

mol/L

pH

Solução 0,1

mol/L

pH

Solução 1

mol/L

pH

Alaranjado de Metila Azul de

bromotimol

Fenolftaleína

98 4,0 3,0 2,0 laranja/vermelho/vermelho amarelo incolor

99 4,3 3,3 2,3 “ “ “

99,8 5,0 4,0 3,0 amarelo/vermelho/vermelho “ “

99,9 5,3 4,3 3,3 “ “ “

99,98 6,0 5,0 4,0 “ “ “

100 7,0 7,0 7,0 amarelo verde “

100,02 8,0 9,0 10,0 “ azul rosa/rosa/vermelho

100,1 8,7 9,7 10,7 “ “ “

100,2 9,0 10,0 11,0 “ “ rosa/vermelho/vermelho

101 9,7 10,7 11,7 “ “ “

102 10,0 11,0 12,0 “ “ vermelho

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1) Soluções 1 mol/L: Quando 99,9% do ácido foram neutralizados o pH é 3,3. Um excesso de

0,1% de base eleva o pH para 10,7. Neste caso qualquer um dos 3 indicadores podem ser

utilizados e a titulação está praticamente livre do erro do indicador.

2) Soluções 0,1 mol/L: O erro obtido para levar alaranjado de metila até a coloração amarelo puro

ainda é desprezível.

3) Soluções 0,01 mol/L: Não se pode usar o alaranjado de metila.

7.4) Titulação de base forte com ácido forte

O tratamento do problema é análogo ao desenvolvido para o caso da titulação de ácido

forte com base forte. A curva de titulação das bases fortes têm a aparência da imagem especular

da curvas de titulação de ácidos fortes.

7.5) Titulação de um ácido monoprótico fraco com base forte

A construção da curva de titulação de um ácido monoprótico fraco com base forte é mais

complicada do que no caso da titulação de um ácido forte.

Consideremos a titulação de um ácido fraco HA com NaOH. Qualquer mistura destas

duas substâncias é descrita pelas equações do balanço de cargas e do balanço de massas:

b.c.: [Na+] + [H3O+] = [OH-] + [A-]

b.m.: Ca = [HA] + [A-]

Para calcular a [H3O+] em qualquer ponto da titulação, antes do P.E., parte-se da

expressão da constante de ionização do ácido:

KA H O

HAa

3

e nela substituem-se [HA] e [A-] pelas correspondentes expressões derivadas do b.m. e b.c.,

resultando em :

KH O Na H O OH

C Na H O OHa

a

3 3

3

[ ] [ ] [ ]

[ ] [ ] [ ] (1)

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A titulação compreende 4 sucessivas situações, para cada uma das quais a equação (1)

toma uma forma particular:

1) No início só existe HA e [Na+] = 0, então:

K

H O H O OH

C H O OHa

a

3 3

3

[ ] [ ]

[ ] [ ], que é a equação

para ácidos fracos, a qual na sua forma mais simples é

KH O

Ca

a

3

2

ou [H3O+] = (KaCa)1/2.

2) Para a região até o P.E., uma vez iniciada a titulação, a equação (1) torna-se

KH O Na

C Naa

a

[ ][ ]

[ ]3 ou [ ]

[ ]

[ ]H O K

C Na

Naa

a3

, que equivale a [ ]H O K

C

Ca

a

b

3

, pois estamos

numa região de tampão HA/NaA.

3) No ponto de equivalência [Na+] = Ca e, neste ponto, só existe NaA, assim:KH O Na

OHa

[ ][ ]

[ ]3

ou [ ][ ]

H OK K

Naa w

3

, que equivale a: [ ]OH K Cb b

, pois neste ponto temos a hidrólise do

ânion do sal de ácido fraco com base forte.

4) Depois do ponto de equivalência, [A-] é praticamente igual à Ca e o pH da solução é

determinado pelo excesso de base adicionado: [OH-] = [Na+] - Ca.

A porção aproximadamente vertical da curva de titulação em torno do ponto de

equivalência diminui à medida que decresce a concentração analítica do ácido e da base. Isto

significa que a escolha do indicador vai ficando cada vez mais crítica. O mesmo acontece quando

a constante de ionização do ácido vai se tornando cada vez menor.

Os pontos de equivalência nas titulações de ácidos fracos com bases fortes se situam na

região alcalina e se deslocam para valores de pH tanto mais altos quanto mais fraco for o ácido.

Por exemplo, no caso de um ácido com pKa = 7, o P.E. se situa em pH = 10, sendo o ponto final

da titulação muito bem sinalizado pelo indicador timolftaleína (pH 9,4-10,6).

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Exemplo: Consideremos a titulação de 100 mL de ácido acético 0,1 mol/L com NaOH 0,1 mol/L.

A constante de ionização do ácido acético é 1,8x10-5 (pKa = 4,74)

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2000

2

4

6

8

10

12

14

P.E.: pH = 8,72 (0,1 mol/L)P.E.: pH = 8,22 (0,01 mol/L)

Azul de bromotimol

Fenolftaleína

HOAc 0,01 mol/L x NaOH 0,01 mol/L

HOAc 0,1 mol/L x NaOH 0,1 mol/L

pH

Volume de NaOH / mL

0 20 40 60 80 100 1200

2

4

6

8

10

12

14Titulação de um ácido genérico HA 0,1 mol/L com base forte

Ka

10-9

10-7

10-5

10-3

pH

Volume de NaOH 0,1 mol/L / mL

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7.6) Titulação de monobase fraca com ácido forte

Este caso é totalmente análogo ao anterior, tendo a curva de titulação uma aparência de

uma imagem especular deste.

7.7) Titulação de base fraca com ácido fraco e vice-versa

Estes casos nao oferecem interesse na prática de titulometria de neutralização, que usa

sempre ácidos e bases fortes como reagentes titulantes.

7.8) Titulação de ácidos polipróticos

A titulação de um ácido poliprótico com uma base forte assemelha-se à titulação de vários

ácidos monopróticos de forças diferentes, pois, via de regra, as diferenças das sucessivas

constantes de ionização do ácido são bastante grandes para que a neutralização ocorra etapa por

etapa.

Desta maneira, as curvas de titulação de ácidos polipróticos podem ser construídas

mediante o uso, em linhas gerais, do mesmo tratamento aplicado no caso dos ácidos

monopróticos. As diferenças referem-se às vizinhanças dos pontos de equivalência.

Exemplo 1: Considere a titulação de um ácido diprótico fraco H2A com uma solução de NaOH.

Equilíbrios:

H2A + H2O H3O+ + HA- Ka1

HA- + H2O H3O+ + A2- Ka2

b.m.: Ca = [H2A] + [HA-] + [A2-]

b.c.: [ Na+] + [H3O+] = [OH-] + [HA-] + 2[A2-]

1a Neutralização:

b.m. : Ca = [H2A] + [HA-]

b.c.: [ Na+] + [H3O+] = [OH-] + [HA-]

2a Neutralização:

b.m. : Ca = [HA-] + [A2-]

b.c.: [ Na+] + [H3O+] = [OH-] + [HA-] + 2[A2-]

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Exemplo 2: Titulação de 25,00 ml de H2CO3 0,1 mol/L com NaOH 0,1 mol/L.

Ka1= 4,3x10-7 Ka2 = 4,8x10-11

a) No inicio da titulação: Somente a presença de H2CO3

[H3O+]2 = Ka1Ca = 4,3x10-7x0,1 [H3O+] = 2,07x10-4 mol/L

b) Após a adição de uma quantidade de base: Temos a solução tampão de HCO3-/ H2CO3

H2CO3 + NaOH NaHCO3 + H2O

Adição de 20,00 ml de NaOH

[H2CO3] = (25,00 x 0,1 - 20,00 x 0,1) / 45,00 = 0,5 / 45= 1,11x10-2 mol/L

[HCO3-] = (20,00 x 0,1) / 45,00 = 4,44x10-2 mol/L

pH = pKa1 + log [HCO3-] / [H2CO3]

pH = 6,97

c) No P.E. , temos uma solução do anfótero NaHCO3.

HCO3- + H2O

H2CO3 + OH-

HCO3- + H2O

CO32- + H3O+

Adição de 25,00 ml de NaOH

[H3O+] = (Ka1Ka2)1/2 = 4,5 x 10-9

pH = 8,34

d) Após o 10 P.E., temos o tampão Na2CO3 / NaHCO3

NaHCO3 + NaOH Na2CO3 + H2O

Adição de 35,00 ml de NaOH.

[HCO3-] = (25,00 x 0,1 - 10,00 x 0,1) / 60,00 = 2,5x10-2 mol/L

pH = pKa2 + log [CO32-] / [HCO3

-] pH = 10,14

e) No 20 P.E., adição de 50,00 ml da base

Só existe a espécie CO32-

[CO32-] = (25,00 x 0,1) / 75,00 = 3,33x10-2 mol/L

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[OH-] = (Kb1Cb)1/2 = (2,08x10-4 x 3,33x10-2)1/2 = 2,63x10-3 mol/L

Kb1 = Kw / Ka2 = 2,08x10-4

pH = 11,42

f) Após 20 P.E., teremos um excesso de base forte.

Adição de 60,00 ml de NaOH

[OH-] = 10,00 x 0,1 / 85,00 = 1,18x10-2 mol/L

pH = 12,07

0 10 20 30 40 50 60 70 800

2

4

6

8

10

12

14

HCO3- /CO3

2-

H2CO3

HCO3- / H2CO3

1o P.E.

2o P.E.

Excesso de base

Titulação de 25,00 mL de H2CO3 0,100 mol/L com NaOH 0,100 mol/L

pH

Volume de base / mL

CURVAS DE TITULAÇÃO

0 10 20 30 40 50 60 70 800

2

4

6

8

10

12

14

D

C

B

A

Titulação de 25,00 mL de ácidos dipróticos 0,100 mol/L com NaOH 0,100 mol/L

pH

Volume de base / mL

A) Ácido sulfúrico

B) Ácido oxálico

C) Ácido maleico

D) Ácido Carbônico

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OBSERVAÇÕES:

Para um ácido diprótico, haverá uma inflexão para cada hidrogênio lábil. Entretanto, para

que a uma inflexão se associe uma variação de pH convenientemente grande, é preciso:

1) K1 / K2 > 104

2) A correspondente constante de ionização não seja a de um ácido extremamente fraco.

Na figura:

Curva A: (H2SO4)

H2SO4 + H2O H3O+ + HSO4- Ka1 = forte

HSO4- + H2O

H3O+ + SO42- Ka2 = 1,2x10-2 moderadamente forte

É inteiramente semelhante às dos ácidos monopróticos fortes. Os dois prótons resultantes da

dissociação são indiscerníveis e a inflexão da curva dá a neutralização total do ácido.

Curva B: (ácido oxálico)

Ka1 = 5,6x10-2 Ka2 = 5,1x10-5 Ka1 / Ka2 103

O primeiro P.E. não é facilmente detectável. Pequena variação do pH. Contudo, o ácido

oxálico é ainda bastante forte com relação ao segundo hidrogênio para poder ser titulado ao

segundo ponto de equivalência.

Curva C: (ácido maleico)

Ka1 = 1,5x10-2Ka2 = 2,6x10-7 Ka1 / Ka2 = 5,8x104

Apresenta duas inflexões, ambas associadas a pronunciadas variações de pH. O valor de Ka2 é

ainda suficientemente grande para dar uma boa inflexão.

Curva D: (ácido carbônico)

Ka1 = 4,3x10-7Ka2 = 4,8x10-11 Ka1 / Ka2 104

Embora a relação Ka1 / Ka2 seja grande, os valores de K são baixos.

1o P.E. = inflexão razoável

2o P.E. = inflexão quase imperceptível

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7.9) Titulações de sais de ácidos fracos ou bases fracas

Sal de um ácido fraco:

A- + H30+ HA + H2O

Sal de uma base fraca:

BH+ + OH- B + H2O

Obs: Tais titulações correspondem a simples titulações de bases ou ácidos fracos.

Exemplo: Seja a titulação de 25,00 ml de Na2CO3 0,100 mol/L com HCl 0,1 mol/L para o H2CO3.

Ka1 = 4,3 x 10-7 Ka2 = 4,8 x 10-11

Na solução original de Na2CO3, os equilíbrios envolvidos são:

Dissolução do sal: Na2CO3 2Na+ + CO32-

Hidrólise: CO32- + H2O

HCO3- + OH- Kb1 = KW/ Ka2 = 2,08 x 10-4

HCO3- + H2O

H2CO3 + OH- Kb2 = KW/ Ka1 = 2,33 x 10-8

a) No início da titulação:

Ignorando a 2a hidrólise, teremos apenas o CO32- que se comporta como uma base fraca.

[OH-] = (Kb1Cb)1/2= 4,56 x 10-3 mol/L

pH = 11,66

b) Com as primeiras adições do ácido, aparece o sistema CO32-/HCO3

- , um tampão.

Adição de 10,00 mL de HCl.

CO32- + HCl

HCO3- + Cl-

[CO32-]= (25 x 0,1 - 10,00 x 0,1) / 35,00 = 4,29 x 10-2 mol/L

[HCO3-]= (10,00 x 0,1) / 35,00 = 2,86 x 10-2 mol/L

pH = pKa2 + log [CO32-] / [HCO3-] = 10,49

c) No 1o P.E.: temos a formação do anfótero HCO3-

Adição de 25,00 ml de HCl

[H30+] = (Ka1 x Ka2)1/2 = 4,54 x 10-9 mol/L

pH = 8,34

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d) Depois do 1o P.E. : temos a formação do tampão HCO3- / H2CO3

HCO3- + HCl

H2CO3 + Cl-

Após a adição de 35,00 ml de HCl

[HCO3-] = (25,00x0,1 - 10,00x0,1) / 60,00 = 2,5x10-2 mol/L

[H2CO3] = (10,00x0,1) / 60,00 = 1,67x10-2 mol/L

pH = pKa1 + log [HCO3-] / [H2CO3] = 6,54

e) No 2o P.E. a solução contém H2CO3

Adição de 50,00 ml de HCl

[H2CO3] = 25,00x0,1 / 75,00 = 3,33x10-2 mol/L

[H30+] = (Ka1 x Ca)1/2 = 1,20x10-4 mol/L

pH = 3,92

f) A partir do 2o P.E.: com o excesso de ácido, a ionização do ácido fraco é rapidamente

reprimida e, então, a concentração do íon hidrônio passa a ser dada pela concentração do ácido

forte.

[H30+] = (10,00 x 0,1) / 85 = 1,18x10-2 mol/L

pH = 1,93

CURVA DE TITULAÇÃO

0 10 20 30 40 50 60 700

2

4

6

8

10

12

14Titulação de 25,00 mL de Na2CO3 0,100 mol/L com HCl 0,100 mol/L

2o P.E.

1o P.E.

pH

Volume de HCl / mL

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7.10) Titulação de misturas de ácidos

A titulação de soluções que contém mais de um componente ácido é comparável à

titulação de ácidos polipróticos. Na verdade, uma solução de um ácido poliprótico comporta-se à

maneira de uma mistura de ácidos monopróticos com diferentes constantes de ionização

presentes em iguais concentrações mol/L.

A derivação da curva de titulação para uma mistura de um ácido forte e um ácido fraco é

relativamente simples, desde que a constante de ionização do ácido fraco seja menor que 1x10 -5.

A curva de titulação apresenta duas inflexões, a 1a correspondente a neutralização do ácido forte

e a 2a à do ácido fraco.

CURVA DE TITULAÇÃO

0 50 100 150 200 250 3000

2

4

6

8

10

12

14

Ka = 10-9

Ka = 10-7

Ka = 10-5

TITULAÇÃO DE MISTURAS DE ÁCIDOS

pH

Volume de base / mL

- Quando Ka < 10-5 a variação de pH no 1o

P.E. é bem pronunciada. Pode-se determinar o

ácido forte.

- Quando Ka >> 10-5 somente a acidez total

pode ser determinada.

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LISTA DE EXERCÍCIOS

1) O que é necessário para se ter uma solução tampão?

2) Deduza a expressão pH = pKa + log(Cb/Ca).

3) Quais as condições necessárias para garantir um tampão eficiente?

4) Um pesquisador precisava determinar o pKa de um ácido que não estava tabelado. Assim, ele

executou algumas medidas e determinou como 4,80 o pH de uma solução 0,010 mol/L do ácido

livre e 0,087 mol/L do sal de sódio deste ácido. Qual o valor do pKa encontrado pelo

pesquisador? (3,86)

5) Os tampões são de extrema importância em todos os organismos vivos. O pH do plasma

sanguíneo é mantido em valores admiravelmente constantes próximos a 7,40 por um sistema

tampão de bicarbonato. Se os mecanismos regulatórios falharem, como no caso de diabete severo

não controlado, por causa da acidose causada pela superprodução de ácidos metabólicos, o pH do

sangue pode cair a 6,8 ou abaixo e levar a lesões irreparáveis e a morte. Qual a relação ideal de

concentração das espécies do bicarbonato para manter o pH em 7,40? Dado: Ka1 = 4,3x10-7. (10,72)

6) Uma descrição simples do pK de um ácido é a que ele representa o pH onde o ácido está

ionizado pela metade, isto é, o pH onde o ácido existe como uma mistura 1:1 do ácido e de sua

base conjugada. Demonstre que esta relação é correta a partir da expressão da constante de

equilíbirio.

7) O aminoácido glicina é frequentemente usado como o principal ingrediente de um tampão em

experimentos bioquímicos. O grupo amino deste, que possui um pKa de 9,3, pode existir quer na

forma protonada (-NH3+) ou na forma de base livre (-NH2) por causa do equilíbrio reversível

-NH3+ + H2O

-NH2 + H3O+

a) Em que zona de pH a glicina pode ser usada como um tampão efetivo graças ao seu grupo

amino? (8,3 a 10,3)

b) Numa solução 0,1 mol/L de glicina, em pH 9,0, que fração de glicina possui seu grupo amino

na forma -NH3+ ? (2/3)

c) Quanto de KOH 5 mol/L deve ser adicionado a 1,0 L de glicina 0,1 mol/L, em pH 9,0, para

elevar o pH para 10,0? (10,0 mL)

d) A fim de ter 99% de glicina numa forma onde o seu grupo amino esteja protonado, qual deve

ser relação numérica entre o pH da solução e o pKa do grupo amino da glicina? (pH - pKa= -2)

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8) O eletrodo de vidro utilizado em pHmetros (instrumento utilizado para medir pH) comerciais

fornece uma resposta elétrica proporcional à concentração do íon hidrônio. Para converter estas

respostas corretamente em pH, os eletrodos precisam ser calibrados com soluções padrões de

concentração de H3O+ conhecidas. Determine a massa em gramas do fosfato diácido de sódio

(NaH2PO4.2H2O, MM. 138,01 g/mol e do fosfato monoácido de sódio (Na2HPO4.2H2O, MM.

141,98 g/mol) necessária para preparar 1 L de tampão em pH 7,00, cuja concentração de fosfato

total seja 0,100 mol/L. O pKa do fosfato diácido é 6,86 a 25 oC. (5,80g e 8,23g)

9) Um sujeito quer preparar um tampão de pH 4,27. Qual o ácido, da lista abaixo, que deve ser

utilizado para preparar o tampão onde a relação das concentrações do ácido e da base é 0,3?

Ácido Ka

Fórmico (HCOOH) 1,78x10-4

Acético (CH3COOH) 1,75x10-5

Lático (CH3CHOHCOOH) 1,35x10-4

10) Suponha que você está em um laboratório de pesquisa e precisa, urgentemente, de um tampão

de pH 8,0 mas os únicos reagentes disponíveis são:

NaOH sólido

Ácido acético (HAc) 2,00 mol/L Ka = 1,8x10-5

NaH2PO4 2,00 mol/L Ka2 = 6,32x10-8

Amônia (NH3) 1,00 mol/L Kb = 1,8x10-5

a) Com quais reagentes e em quais proporções você poderia preparar 1 litro do tampão de

modo que a concentração total (Ca + Cb) fosse igual a 1,00 mol/L? (Ca=0,137 mol/L; Cb=0,863 mol/L; Dissolver

34,52g de NaOH em 500,00 mL de NaH2PO4 e completar o volume para 1 litro)

b) O que você esperaria da eficiência deste tampão? Porquê? (Não muito eficiente pois Cb/Ca>>1, no

entanto é satisfatória pois 0,1<Cb/Ca<10, ou seja está dentro da faixa pH=pKa1)

c) Qual será o valor do pH de 100,00 mL desta solução tampão se for adicionado 10,00

mL de HCl 0,100 mol/L? (pH=7,96)

11) Quais reagentes abaixo você utilizaria para preparar tampões nos seguintes pHs:

a) 10,00 b) 9,00 c) 5,00 d) 3,50

Ácido Ka Base Kb

HCOOH 1,78x10-4

NH3 1,75x10-5

CH3COOH 1,75x10-5

(CH3)3N 6,33x10-5

CH3CHOHCOOH 1,35x10-4

NaOH

NaH2PO4 6,32x10-8

HCl (a) (CH3)3N + HCl b)NH3 + HCl c) CH3COOH + NaOH d) HCOOH + NaOH)

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12) Considere a titulação de 10,00 mL do ácido acetil salicílico (AAS) 0,200 mol/L (pK a = 3,50)

com NaOH 0,200 mol/L.

a) Qual o pH da solução após a adição de 0,00, 5,00, 9,9, 10,00, 10,01 e 15,00 mL de

titulante? (pHs = 2,10, 3,50, 5,50, 8,25, 10,00, 12,60)

b) Qual dos indicadores abaixo você utilizaria para acompanhar esta titulação. Mostre que

os outros causariam um erro maior maior que o escolhido.

vermelho de metila pKa = 5,00

vermelho de fenol pKa = 7,81

Timolftaleína pKa = 9,90 AAS

13) Você tem disponível NaOH 0,1 mol/L e soluções 0,1 mol/L de

H2SO4, HAc (pKa: 4,75), ácido láctico (pKa: 3,86) e cloreto de amônio (pKa: 9,25).

a) Como você prepararia 50 mL de uma solução tampão, na qual Ca + Cb = 0,0055, para

manter o pH essencialmente constante em 5,40, em um experimento enzimático no qual será

produzido ácido? (Misturar 2,75 mL de HAc com 2,25 mL de NaOH e completar o volume para 50 mL)

b) Se houver p rodução de 1x10-4 mol de íons H+ neste meio durante o experimento, qual

será o pH final? (4,67)

14) Calcule o pH das seguintes soluções:

a) 35,00 mL de ácido benzóico (C6H5COOH - pKa = 4,2) 0,1 mol/L com 35,00 mL de

NaOH 0,1 mol/L. (8,45)

b) 80,00 mL de HCl 0,03 mol/L com 4,00 mL de NaOH 0,6 mol/L. (7,00)

c) 50,00 mL de benzoato de sódio (C6H5COONa) 0,1 mol/L com 25,00 mL de HCl 0,2

mol/L. (2,69)

d) 50,00 mL de NaHCO3 0,3 mol/L (H2CO3: Ka1 = 4,3x10-7 e Ka2 = 4,8x10-11). (8,34)

15) Considere uma titulação de 20,00 mL de um ácido HA fraco (Ka=1,0x10-5) com NaOH,

ambos com a concentração 0,1 mol/L. Responda:

a) Em qual volume de base o valor de pH será igual ao pKa? (Quando metado do ácido for neutralizado, ou seja

VPE/2 = 10,00 mL)

b) Em qual pH ocorrerá o ponto de equivalência? (pH 8,85)

c) Qual o valor do pH quando houver 5,00 mL de base em excesso? (5,00 mL após PE pH 12,05)

d) Qual o valor do pH quando houver 5,00 mL de ácido em excesso? (5,00 mL antes do PE pH 5,48)

16) Considere um indicador HIn, cujo pKa é 5,40.

a) Suponha que este indicador, apresenta cor vermelha quando 80% dele está na forma ácida e a

cor azul quando 80% está na forma básica. Qual a zona de viragem desse indicador? (4,80 a 6,00)

C

OC

H3C

O

OH

O

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b) Suponha que esse indicador foi usado na titulação de 25,00 mL de NaOH 0,0500 mol/L com

HCl 0,1000 mol/L. Qual o volume de HCl consumido para a viragem do indicador, se a

concentração do indicador no ponto final da titulação era de 2,5x10-3 mol/L? (0,19 mL de HCl)

c) Discuta o resultado encontrado no item anterior. (O indicador está muito concentrado, pois consumiu uma quantidade

muito grande do titulante. É necessário diminuir a concentração do indicador)

17) Considere a titulação de 25,00 mL de um ácido fraco HA 0,1250 mol/L (Ka = 7,45x10 -4) com

NaOH 0,2604 mol/L.

a) Calcule o pH no ponto de equivalência. (pH 8,03)

b) Calcule o erro da titulação, se o indicador usado for o vermelho de cresol, parando a titulação

em pH 8,8. (Erro desprezível – 6,4x10-7

%)

c) Calcule o erro, se o indicador usado for o azul de bromotimol, parando a titulação em pH 7,6.

(Erro pequeno -0,03%)

d) Qual dos dois indicadores você escolheria para fazer essa titulação? Explique. (Qualquer um dos dois

indicadores seriam adequados, pois o erro introduzido por eles é menor que o erro de leitura do volume da bureta.)

18) Esboce a curva de titulação esperada para cada uma das seguintes titulações e justifique a sua

resposta

a) ácido iódico (HIO3) 0,01 mol/L com NaOH 0,01 mol/L. Ka = 1,7x10-1 (Como de um ácido forte.)

b) ácido cianídrico (HCN) 0,1 mol/L com NaOH 0,1 mol/L. Ka = 6,2x10-10 (Pequena inflexão.)

c) trimetilamina ((CH3)3N) 0,1 mol/L com HCl 0,1 mol/L. Kb = 6,3x10-5 (Curva bem definida.)

d) ácido clorídrico 0,02 mol/L + ácido perclórico 0,02 mol/L com NaOH 0,02 mol/L. (Dois ácidos

fortes Um único ponto de inflexão.)

e) ácido clorídrico 0,1 mol/L + ácido fórmico (HCOOH) 0,1 mol/L com NaOH 0,1 mol/L.

Ka = 1,8x10-4 (Um único ponto de inflexão, pois Ka > 10-5

. Somente a acidez total pode ser determinada.)

f) trietilamina ((CH3CH2)3N) 0,01 mol/L + piridina (C6H5N) 0,01 mol/L com HCl 0,01 mol/L.

Kb(trietilamina) = 5,2x10-4 Kb(piridina) = 1,7x10-9 (Dois pontos de inflexão, sendo o segundo menor que

o primeiro.)

19) Considere que você está num laboratório fazendo a determinação de um ácido monoprótico

fraco com NaOH padronizado com concentração 0,1200 mol/L. Sabendo que foram gastos 25,35

mL de base para titular 25,00 mL do ácido, responda:

a) Sabendo que o pH da solução do ácido puro é 2,77, qual o Ka do ácido? (Ka = 2,37x10-5

)

b) Que indicador você utilizaria para detectar o ponto final da titulação? Fenolftaleína

(pKa = 9,30), vermelho de metila (pKa = 5,00) ou alaranjado de metila (pKa = 3,50)? Justifique

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sua escolha. (O melhor indicador será a fenolftaleína, pois sua zona de transição engloba o pH do P E. O vermelho de metila muda de cor

muito antes do PE, pouco depois da região de tampão eficiente. O alaranjado de metila muda de cor após a adição de alguns mililitros de base.)

c) Qual o pH quando tiver sido adicionado 10,00 mL de base? (Antes do PE – tampão – pH 4,44)

d) Qual o pH quando tiver sido adicionado 30,00 mL de base? (Depois do PE – excesso de base – pH 12,01)

20) Uma alíquota de 50,00 mL de NaCN 0,0500 mol/L foi titulada com HCl 0,1000 mol/L.

KaHCN = 2,1x10-9

a) Esboce qualitativamente a curva dessa titulação.

b) Indique a composição da solução em cada uma das quatro faixas principais da curva de

titulação (início, região tamponada, P.E., excesso do titulante). (Com exceção do ponto inicial, na solução sempre

existirão HCN, CN-, H3O

+, OH

- e Cl

-; Podemos desprezar HCN e H3O

+ no início; H3O

+ na região tampão; CN

- e OH

- no PE e após)

c) Calcule o pH da solução com a adição de 0,00, 10,00, 25,00 e 26,00 mL do ácido. (Os valores de pH

são 10,69, 8,85, 5,08 e 2,88, respectivamente)

d) Se a titulação tiver que ser feita com um erro de 0,05 mL, qual o indicador que deverá ser

usado? (Como o erro pode ser para mais ou para menos, para um erro de -0,05 mL um indicador com pKa = 3,18 e para um erro de 0,05 mL

um indicador com pKa = 4,99. Isto considerando o valor teórico de pKa +/- 1 para a zona de transição do indicador)

21) Foi oferecido ao dono de uma fábrica de produtos para piscina um ácido muriático (ácido

clorídrico comercial) a um preço excepcional. De acordo com o vendedor o produto continha

31,25% m/m de HCl. Dado: MM(HCl) = 36,5 g/mol

O comprador, suspeitando da oferta, mandou uma amostra para análise antes de efetuar a compra.

O químico responsável pela análise determinou a densidade da solução e encontrou o valor de

1,367 g/mL.

Em seguida, preparou a amostra e determinou o teor de HCl, por volumetria ácido-base, da

seguinte forma: uma alíquota de 5,00 mL da amostra foi diluída para 250,0 mL. 50,00 mL da

amostra diluída foram titulados com NaOH 0,300 mol/L e gastaram 22,50 mL do titulante até o

ponto final da fenolftaleína.

Calcule a porcentagem de HCl na amostra original e elabore um parecer para o dono da fábrica.

(O teor de HCl determinado foi 18,02%. Este produto não está conforme as especificações)

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II - EQUILÍBRIOS E TITULOMETRIA DE COMPLEXAÇÃO

1) APLICAÇÕES ANALÍTICAS DE COMPLEXOS E DAS REAÇÕES DE

COMPLEXAÇÃO

M + :L M-L

os metais possuem poucos elétrons e espécies com pares de elétrons composto complexo

orbitais vazios (ácidos de Lewis) disponíveis (base de Lewis) ligantes

Os ligantes podem ser classificados como:

a) monodentados: se a ligação for feita através de apenas um átomo.

Ex.: :NH3, H2O:

b) bidentados: se a ligação for feita através de 2 átomos.

Ex.: :NH2 - CH2 - CH2 - H2N: (etilenodiamina - en)

Obs.: Quando a espécie central é complexada a um ligante bidentado ou polidentado, há a

formação de um anel. Os complexos que têm esses anéis são denominados quelatos e os ligantes

polidentados são chamados de agentes quelantes.

As reações de complexação com o ligante monodentado ocorrem em etapas, havendo

tantas etapas quantas forem os ligantes adicionados.

Ex.: Ni2+ + NH3

[NiNH3]2+

[NiNH3]2+ + NH3

[Ni(NH3)2]2+

[Ni(NH3)5]2+ + NH3

[Ni(NH3)6]2+

Já com o agente quelante, a reação ocorre numa única etapa o que os torna de grande

aplicação em química analítica.

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Ni

H2N NH2

H2N

NH2NH2

NH2

2+

Ni2+

+ 3 NH2-CH2-CH2-H2N

Em química analítica, os complexos são largamente usados em processos de separação,

gravimetria, extrações e determinações espectrofotométricas.

2) CONSTANTES DE FORMAÇÃO

A formação de um complexo metálico mononuclear pode ser genericamente representada

pela equação:

M + nL MLn

Quando n=1: M + L ML Kf = [ML] / [M][L]

Quando vários ligantes se ligam ao átomo metálico central, o equilíbrio é determinado por

tantas constantes de formação quantas sejam as espécies complexas em questão.

M + L ML K1 = [ML] / [M][L]

ML + L ML2 K2 = [ML2] / [ML][L]

MLn-1 + L MLn Kn = [MLn] / [MLn-1][L]

onde K1, K2 ... Kn são as sucessivas constantes de estabilidade da reação de complexação. Em

geral, K1 > K2 > Kn..

As vezes, pode ser conveniente usar o produto das sucessivas constantes de estabilidade,

também chamado constante de formação global:

M + nL

MLn n = [MLn] / [M][L]n

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onde n = K1 x K2 x ... x Kn

Obs.:

1) As reações de complexação e suas respectivas constantes de equilíbrio são escritas à maneira

inversa do equilíbrio ácido-básico.

2) Os valores das sucessivas constantes de formação, são muito mais aproximadas entre si do que

as das sucessivas constantes de dissociação dos ácidos polipróticos.

3) DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES

É importante conhecer a distribuição das várias espécies complexas. Os cálculos podem

ser simplificados mediante a definição de um conjunto de valores f que representa as frações da

concentração total das várias espécies complexas.

Concentração do íon metálico livre no equilíbrio

fo = [M] / CM

Concentração analítica (ou original) do íon metálico

f1 = [ML] / CM; f2 = [ML2] / CM; fn = [Mln]/ CM

e, então:

f0 + f1 + f2 + ... + fn = 1 (1)

Usando as expressões das sucessivas constantes de estabilidade, obtém-se:

K1= f1 / f0[L] e f1 = f0 [L] 1

K2= f2 / f1 [L] e f2.= f0 [L]2 2

K1= f3 / f2 [L] e f3= f0 [L]3 3

Kn = fn / fn-1 [L] e fn = f0[L]nn

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Rescrevendo a equação (1):

f0 + f0[L]1 + f0[L]22 + f0[L]33 + ... + f0[L]nn = 1

ou f0 (1 + [L]1 + [L]22 + [L]33 + ... + [L]nn) = 1

Portanto,

f0 = 1 / (1 + [L]1 + [L]22 + ... + [L]nn)

f1 = [L]1 / (1 + [L]1 + [L]22 + ... + [L]nn)

f2 = [L]22 / (1 + [L]1 + [L]22 + ... + [L]nn)

fn = [L]nn / 1+ [L]1 + [L]22.+ ... + [L]nn

Quando a concentração do ligante na condição de equilíbrio é conhecida, podem ser

achados os valores f das várias espécies envolvidas e também, com o uso da concentração

analítica de M, as concentrações efetivas de cada uma das espécies.

Exemplo 1: Calcular as concentrações das espécies Cu2+, Cu(NH3)2+, Cu(NH3)22+, Cu(NH3)3

2+,

Cu(NH3)42+ para um sistema Cu2+-NH3 com a concentração analítica de Cu2+ igual a 0,01 mol/L e

a concentração de equilíbrio de NH3 igual a 0,1 mol/L. Dados: log K1=4,11, log K2=3,50,

log K3=2,90 e log K4=2,11.

O denominador das equações acima fornece:

1 + 104,11 x 10-1 + 107,61 x 10-2 + 1010,51 x 10-3 + 1012,62 x 10-4 = 4,7x108

Então,

f0= 2,1 x 10-9 f1= 2,8 x 10-6 f2= 9,0 x 10-4 f3= 7,1 x 10-2 f4= 9,2 x 10-1

Como a concentração analítica de Cu2+ é 0,01 mol/L, obtém-se

[Cu2+]=2,1 x 10-11 mol/L [Cu(NH3)2+]=2,8 x 10-8 mol/L [Cu(NH3)22+]=9,0 x 10-6

mol/L

[Cu(NH3)32+]=7,1 x 10-4 mol/L [Cu(NH3)4

2+]=9,2 x 10-3 mol/L

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4) CONSTANTES CONDICIONAIS

Quando se deseja determinar a extensão de uma reação de complexação M + L

ML,

devemos considerar reações secundárias que, porventura, ocorram com M, L ou com ML.

As reações secundárias com M e com L diminuem as concentrações destas espécies prejudicando

assim a extensão da reação principal de formação de ML.

Íons metálicos podem formar compostos hidroxilados, aquocomplexos ou complexos com

ânions existentes no sistema, tais como: Cl-, SO42-, etc. Por outro lado, a maioria dos ligantes são

derivados de ácidos fracos e as reações de protonação, dependentes do pH, agem como reações

secundárias.

Consideremos como reação principal a seguinte reação de complexação

M + L ML (Reação Principal) K = [ML] / [M] [L]

Suponhamos, entretanto que ocorram reações secundárias com M e com L.

M + Cl MCl

L + H LH

Estas reações diminuem a concentração de M e L, prejudicando a reação principal da qual

a grandeza da constante de equilíbrio não mais indicará a extensão, pois parte de M e L não se

combina para formar ML.

Para indicar a extensão da reação principal, define-se uma outra constante de equilíbrio,

constante condicional, que considera as reações paralelas tanto de M como de L.

A constante condicional é definida: K’= KM’L’ = [ML] / [M’][L’]

onde:

[M’] representa a soma das concentrações de todas as espécies contendo o metal na solução, com

exceção de ML (reação principal).

[L’] representa a soma das concentrações de todas as espécies contendo o ligante na solução, com

exceção de ML.

No exemplo: [M’] = [M] + [MCl]

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[L’] = [L] + [LH]

A grandeza da influência de uma dada reação secundária na reação principal é medida pelo

coeficiente .

M = [M’] / [M]

coeficiente de reações paralelas

No exemplo: M = [M] + [MCl] / [M]

[M’] = M[M]

L = [L’] / [L] = [L] + [LH] / [L]

[L’] = L[L]

Se M reagisse só com L teríamos: M = [M] + [MCl] / [M] M = 1

[MCl] não existe

Se M entra em reações secundárias: M = [M] + [MCl] / [M] M 1

O mesmo raciocínio pode ser feito para L:

Se L reagisse só com M: L = [L’] / [L] = [L] + [LH] / [L] L = 1

[LH] não existe

Se L entra em reações secundárias: L = [L’]/ [L] = [L] + [LH] / [L] L1

Levando os valores de M e L na expressão da constante condicional:

K’= [ML]/ [M’][L’] K’= [ML] / (M[M] L[L]) K’= K / ML

Conclusão: K’ K quando M e/ou L entram em reações secundárias.

OBS.: K’ depende das condições experimentais especialmente das concentrações da outras

espécies presentes na solução.

Os cálculos de podem ser bastante trabalhosos, daí a razão deles serem apresentados na

forma de tabelas ou de gráficos.

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Exemplo do cálculo de :

Reação principal: M + L ML K = [ML]/ [M][L]

Suponhamos que ocorra as seguintes reações secundárias com M.

M + Cl MCl K1 = [MCl]/ [M][Cl]

M + Cl MCl2 K2 = [MCl2]/ [MCl][Cl]

M + Cl MCl3 K3 = [MCl3]/ [MCl2][Cl]

Desmembrando:

M(Cl) = [M] / [M] + [MCl] / [M] + [MCl2] / [M] + [MCl3] / [M]

Expressando os valores de [MCl], [MCl2] e [MCl3] em função de [Cl] à partir das constantes de

equilíbrio, tem-se:

M(Cl) = 1 + K1[Cl] + K1 K2[Cl]2 + K1 K2 K3[Cl]3 = 1/f0

M(Cl) =1/f0 Esta expressão permite calcular o valor de M quando se conhece a concentração do ligante (Cl) livre.

Analogamente, ocorrendo reações paralelas de L com H+, L(H) será calculado por:

L(H) = 1 + K1[H+] + K1 K2[H+]2 + K1 K2... Kn[H+]n

Se o metal ou o ligante entram em mais de uma reação paralela, o coeficiente TOTAL é

aproximadamente igual à soma dos coeficientes das reações individuais.

M = M(A) + M(B )+ ...

L = L(H) + L(X)+ ...

Exemplo:

Calcule a constante condicional de formação do complexo Ag-EDTA numa solução

contendo [NH3]=0,01 mol/L e em pH = 10.

Dados: KAgY = 2,00 x 107 Ag-NH3: log K1 = 3,32; log K2 =3,92 K’AgY = K/

ML

Ag+ + Y4-

[AgY]3-

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M = [Ag+] + [Ag-NH3+] + [Ag (NH3)2

+] / [Ag+] = 1+ K1[NH3] + K1K2[NH3]2 = 1/0

M = 1,76 x 103

Y(H) = 2,86

K’AgY = 3,97x103

5) TITULAÇÃO COMPLEXOMÉTRICA OU COMPLEXOMETRIA

5.1) Introdução

De maneira análoga a titulação ácido-base, a titulação complexométrica envolve o registro

da concentração de uma espécie, normalmente um metal de interesse, versus o volume do

titulante.

Curvas de titulação: pM (-log M) em função do volume do agente complexante, Vi.

Dificuldade: influência das várias reações paralelas que podem ocorrer. Quando usamos as

constantes condicionais (K’) esta dificuldade pode ser evitada.

5.2) Compleximetria com EDTA

O EDTA é o ácido etilenodiaminotetracético, cuja fórmula é:

NCH2CH2N

CH2COOH

CH2COOH

HOOCCH2

HOOCCH2

Ligante hexadentado capaz de coordenar-se com íon métalico através dos dois

nitrogênios e dos quatros oxigênios dos grupos carboxilas.

O EDTA é simbolizados H4Y é um ácido tetraprótico.

Ele se ioniza por etapas:

H4Y + H20

H30+ + H3Y- Ka1 = 1,02x10-2

H3Y- + H20

H30+ + H2Y2- Ka2 = 2,14x10-3

H2Y2- + H20

H30+ + HY3- Ka3 = 6,92x10-7

HY3- + H20

H30+ + Y4- Ka4 = 5,50x10-11

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Obs.: H4Y é pouco solúvel em água, mas seu sal dissódico dihidratado Na2H2Y.2H20 tem alta

solubilidade.

Este é o composto usado para preparar soluções de EDTA. Na prática quando falamos de

uma solução de EDTA, estas devem ser entendidas como soluções do sal dissódico.

Os complexos formados metal-EDTA são sempre do tipo 1: 1, e o EDTA é a espécie Y4-.

Conforme a valência do cátion metálico, tem-se:

M2+ + Y4- MY2-

M3+ + Y4- MY-

M4+ + Y4- MY

Conclusão: Esses quelatos resultantes possuem estruturas semelhantes, mas diferem entre si

quanto a carga.

A estabilidade dos quelatos metal-EDTA é caracteriazada pela constante de estabilidade ou

formação:

Mn+ + Y4- MY-(4-n) Kf= [ MY-(4-n) ] / [Mn+] [Y4-]

- Metais tri e tetravalentes são os mais estáveis porque oferecem condições para uma

maior coordenação.

- Os metais divalentes formam quelatos de estabilidade intermediária.

- Já os univalentes são os menos estáveis.

Para Na2H2Y, as reações são:

M2+ + H2Y2- MY2- + 2H+

M3+ + H2Y2-

MY- + 2H+

M4+ + H2Y2-

MY + 2H+

Ou generalizando:

Mn+ + H2Y2-

MY-(4-n) + 2H+

1 mol 1 mol 1 mol 2 mols.

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Na prática, a solução do íon metálico a ser titulado com o EDTA é tamponada de tal

maneira que seu pH permaneça constante a um nível apropriado, não obstante a liberação de H+ à

medida que se forma o complexo durante a titulação.

5.3) Efeito do pH.

Na complexação de íons metálicos com EDTA, a espécie ativa é o íon Y4-, cuja

concentração depende do pH.

- Somente em solução alcalina o EDTA se encontra predominantemente na forma de Y4-.

- Com o aumento da concentração de [H+], diminui [Y4-] e correspondentemente, aumenta [HY3-

], [H2Y2-], [H3Y-] e [H4Y].

Deste modo, a formação dos quelatos é afetada pelo pH. O efeito do pH é o resultado da

competição do íon H+ com o íon M+ pelo EDTA.

Uma maneira apropriada para expressar as frações das espécies H4Y, H3Y-, H2Y2-, HY3- e

Y4-:

f4 = [H4Y] / CT ; f3 = [H3Y-] / CT ; f2= [H2Y2-] / CT ; f1 = [HY3-] / CT ; f0 = [Y4-] / CT;

em que CT é a soma das concentrações de equilíbrio de todas as espécies isto é:

CT = [Y4-] + [HY3-] + [H2Y2-] + [H3Y-] + [H4Y]

Substituindo pelas expressões das constantes de equilíbrio

CT = [Y4-] { 1 + [H30+]/Ka4 + [H30+]2/Ka3Ka4 + [H30+]3/Ka2Ka3Ka4 + [H30+]4/Ka1Ka2Ka3Ka4}

Como f0 = [Y4-] / CT e K = 1 / Ka, chegamos a seguinte expressão:

f0 = 1 / {1 + K1[H30+] + K1K2[H30+]2 + K1K2K3[H30+]3 + K1K2K3K4[H30+]4 }

Como se vê, f0 depende apenas do pH e das quatro constantes de formação de HnYn-4.

f0 = 1/ (Y-H) ; (Y-H) = [Y'] / [Y4-] = 1 + [H+] + 2[H+]2 + ...

Deste modo:

Kf = [MY-(4-n)] / [Mn+] [Y4-] e f0 = [Y4-] / CT

Kf = [MY-(4-n)] / [Mn+]f0CT Kff0 = K'f

Onde K’f é a constante condicional.

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5.4) Derivação de uma curva de titulação com EDTA

5.4.1) Titulação sem reações paralelas.

Exemplo: Considere a titulação de 25 mL de solução 10-2 mol/L de Ca2+ com uma solução de

EDTA 10-2 mol/L em pH = 12. Dado Kf = 5,0x1010.

Ca2+ + Y4- CaY-2 Kf = [CaY-2] / [Ca2+] [Y-4]

CURVA DE TITULAÇÃO

0 5 10 15 20 25 30 35 400

2

4

6

8

10

Mg2+ K' = 1,72x108

Ca2+ K' = 1,75x1010

Titulação de 50,00 mL do metal 0,00500 mol/L

pM

Volume de EDTA 0,0100 mol/L / mL

No pH 12 não ocorre reações paralelas com o EDTA e nem com o Ca2+.

a) No início da titulaçcão, temos apenas o Ca2+.

[Ca2+] = 10-2 mol/L pCa = -log. [Ca2+] pCa = 2

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b) Após a adição de 12,00mL de Y-4

Ca2+ + Y4-

CaY-2

INÍCIO 25x10-3x10-2

ADIÇÃO 12x10-3x10-2

FINAL 13x10-3x10-2 + x x 12x10-3x10-2 – x

x corresponde à quantidade de matéria que permanece em solução devido ao equilíbrio (sempre

há dissociação). Normalmente este valor é desprezível e veremos isso a seguir. Façamos o

cálculo desprezando x:

[Ca2+] = 13x10-3x10-2 / 37x 10-3= 3,51 x 10-3 mol/L pCa = 2,45

[CaY-2] = 12x10-3x10-2 / 37x 10-3= 3,24 x 10-3 mol/L

Kf = [CaY-2] / [Ca2+] [Y-4]

[Y-4]= 1,85 x 10-11 mol/L

Em termos de concentração, o valor de X é igual a [Y4-], pois X = x / V e, portanto, desprezível!)

c) Após a adição de 24,90 mL de Y-4.

Ca2+ + Y4-

CaY-2

INÍCIO 25x10-3x10-2

ADIÇÃO 24,90x10-3x10-2

FINAL 0,1x10-3x10-2 + x x 24,90x10-3x10-2 – x

[CaY-2] = (24,90x10-3x10-2 - x)/ 49,90x 10-3

[Y-4]= x / 49,90x 10-3

[Ca2+]=0,1x10-3x10-2 + x / 49,90x10-3

Kf = [(24,90x10-310-2 – x )/ 49,90x10-3] / [(x / 49,90x10-3)(0,1x10-3x10-2 + x)/ 49,90x10-3]

Kf = (24,90x10-3x10-2 - x) 49,90x10-3 / x (0,1x10-3x10-2 + x)

Da equação Kf x2 + (0,4990 + 10-6 Kf) x – 1,243x10-5 = 0, obtida acima, x = 2,484x10-10. Este

valor é muito menor que os outros de modo que é possível desprezar o valor de x.

d) No P.E. MEDTA x VEDTA = MCa2+ x V Ca

2+

[CaY-2] = 25,00x10-3x10-2 / 50,00x10-3 = 5,00x10-3 mol/L

CaY-2

Ca2+ + Y4-

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No ponto de equivalência [Ca2+] = [Y-4]

Kf = [CaY-2] / [Ca2+] [Y-4] Kf = [CaY-2] / [Ca2+]2

[Ca2+]= 3,16 x 10-7 mol/ L = [Y-4]

pCa= 6,5

e) Após a adição de 30,00 mL de Y4-

[CaY-2]= 25,00x10-3x10-2/ 55,00x10-3 = 4,55x10-3

[Y-4]= (30,00-25,00)x10-2/ 55,00x10-3 = 9,09x10-4

[Ca2+]= [CaY-2] / [Y-4] Kf = 1x10-10

pCa = 10

5.4.2) Titulação com EDTA ocorrendo reações paralelas

Exemplo: Seja a titulação de 50,00 mL de uma solução de Ca2+ 0,01 mol/L com EDTA 0,01

mol/L em solução tamponada ao pH 10.

Curvas de titulação de Ca2+ com EDTA em vários pH’s.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600

2

4

6

8

10

12 Titulação de Ca2+ 0,0100 mol/L

pH = 6

pH = 8

pH = 10

pH = 12

pC

a

Volume de EDTA 0.0100 mol/L / mL

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A constante condicional do complexo CaY-4 para pH 10 pode ser calculada a partir da

constante de formação do complexo (Kf = 5,0x1010) e de Y(H)= 2,86 para pH=10.

K’f = Kf / Y(H)

K’f = 5,0x1010 / 2,86 = 1,75x1010

a) No início: [Ca2+]= 0.01 mol/L

pCa = 2.00

b) Com a adição de 10.00 mL de EDTA, teremos:

[Ca2+]= 40.00x10-2 / 60.00 = 6.67x10-3mol/L

pCa = 2.18

[CaY-2]= 10.00x10-2 / 60.00 = 1.67x10-3 mol/L

K’f = [CaY-2] / [Ca2+] [Y’] [Y’] = [CaY-2] / K’f [Ca2+]

[Y’] = 1.43x10-11mol/L

f0 = [Y-4] / [Y’] [Y-4] = f0 [Y’]

[Y-4] = 5.01x10-12 mol/L

c) No ponto de equivalência, teremos:

[CaY-2]= 50.00x10-2 / 100 = 5.00x10-3mol/L

K’f = [CaY-2] / [Ca2+] [Y’]

[Ca2+] = (5.00x10-3/ 1.75x1010)1/2 = 5.35x10-7 mol/L pCa = 6.27

[Y-4] = f0 [Y’]

[Y-4] = 1.87x10-7 mol/L

D) Após a adição de 60.00mL de EDTA

[CaY-2] = 50.00x10-2 / 110 = 4.55x10-3mol/L

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[Y’]=10.00x10-2 / 110 = 9.09x10-4mol/L

[Y-4] = f0 [Y’]= 3.17x10-4mol/L

[Ca2+] = [CaY-2] / Kf [Y’] = 2.86x10-10 mol/L pCa = 9.54

Neste caso, para a obtenção de um ponto final satisfatório, é preciso fixar o pH em cerca

de 8 ou acima.

Obs.: No caso de íons metálicos cujos complexos com EDTA são mais estáveis, a titulação pode

ser realizada em solução moderadamente ácida (Zn2+, Ni2+) ou mesmo fortemente ácida (Fe3+).

Cálculo: Para sabermos qual o pH mínimo permissível para a titulação de íon metálico com

EDTA, adota-se o critério de 99,9% de reação para a adição de 0,1% de excesso de titulante.

Quando se usa uma solução 0,01 mol/L do íon metálico, o referido excesso corresponde a:

[Y’] = 0,1 x 0,01 / 100 = 10-5 mol/L

Como,

[MY-(4-n)] = 0,999 x 0,01; [M’] = 0,001x0,01;

K’f = [MY-(4-n)] / [M’][Y’] = (0,999 x 0,01) / (0,001 x 0,01 x 10-5) 108

O valor de pH em que K’f atinge o valor de 108 pode ser obtido para diferentes íons

metálicos a partir dos valores de Kf e f0.

Logo:

K’f 108 não podemos titular.

K’f 108 podemos titular.

5.5) Efeito da presença de outros agentes complexantes.

A ação complexante do EDTA é máxima em solução fortemente alcalina. Porém, com o

aumento do pH pode haver a formação de hidróxidos pouco solúveis.

Há um valor de pH ótimo para a titulação de um dado íon metálico, que depende da

estabilidade do complexo M-EDTA e da tendência do íon metálico para hidrolisar. Para evitar a

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precipitação, é comum, nas titulações com EDTA, adicionar um agente complexante auxiliar. O

complexo M-EDTA deve ser mais estável que M-agente complexante.

Um exemplo típico é a titulação de Zn2+ com EDTA, efetuada em soluções que contém

NH3 e NH4Cl.

Zn(NH3)42+ + Y4-

ZnY2- + 4NH3

A extensão com que a reação se processa depende do pH, mas também da concentração

do complexante auxiliar.

f0 = [Zn2+] / [Zn’] = 1 / M onde: [Zn’]=[Zn2+] + [Zn(NH3)2+] +...

f0 =1 / K1K2K3K4 [NH3]4 + K1K2K3 [NH3]3 + K1K2 [NH3]2 + K1 [NH3] + 1

Constante condicional:

K”f = Kf f0,EDTAf0,metal = Kf / LM = [ZnY2-] / [Zn’][Y’]

Exemplo: Titular 50.0 mL de Zn2+ 0.001 mol/L com EDTA 0.001 mol/L, ambas as soluções

sendo 0.100 mol/L em NH3 e 0.186 mol/L em NH4Cl para fixar o pH em 9.0.

Dados: K1 = 186; K2 = 219; K3 = 251; K4 = 112

Para [NH3] = 0.100 mol/L

f0 = 8.0x10-6 Zn(NH3) = 1.25x105

f0,EDTA = 5.2x10-2 (tabelado) Y(H) = 19.23

Kf = 3.2x1016

K”f = Kf f0,EDTAf0,metal K”f = 3.2x1016 x 5.2x10-2 x 8.0x10-6 = 1.33x1010.

a) Após a adição de 40.00 mL de EDTA:

[Zn’] = (50-40) x 0.001 / 90 = 1.11x10-4 mol/L

[Zn2+] = [Zn’]f0,metal = 8.9x10-10 mol/L

pZn = 9.05

b) Após a adição de 50.00 mL de EDTA

[ZnY2-] = 5.0x10-4 mol/L

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ZnY2-

Zn2+ + Y4-

[Zn’] = [Y’]

K”f = 1.33x1010 = 5.0x10-4 / [Zn’]2

[Zn’] = 1.9x10-7 mol/L

[Zn2+] = [Zn’]f0,metal = 1.5x10-12 mol/L

pZn = 11.82

c) Após a dição de 60.00 ml de EDTA

[Y’] = (60-50)0.001 / 110 = 9.1X10-5mol/L

[ZnY2-] = 50x0.001 / 110 = 4.55x104-mol/L

Pela constante de equilíbrio:

[Zn’] = 4.55x10-4 / (9.1x10-5)(1.33x1010) = 3.85x10-10 mol/L

[Zn2+] = 3.1x10-15 mol/L pZn= 14.51

Curva de titulação de Zn2+0.0050 mol/L em pH 9.

0 5 10 15 20 25 30 35 404

6

8

10

12

14

16

ZnIn- + HY3- HIn2- + ZnY2-

vermelho azul

CNH3 = 0,0100 mol/L

CNH3 = 0,100 mol/L

Titulação de 50,00 mL de Zn2+ 0,00500 mol/L em meio de NH3

pZn

Volume de EDTA 0,0100 mol/L / mL

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5.6) Indicadores metalocrômicos.

São agentes complexantes contendo um grupo cromóforo que forma um complexo com

íons metálicos com estabilidade menor do que o complexo metal-titulante, porém, grande o

suficiente para que possibilite uma nítida mudança de cor.

Tais agentes complexantes devem ser seletivos e devem reagir rapidamente e

reversivelmente com o metal.

M + Ind

MInd antes da titulação

cor 1 cor 2

MInd + Y

MY + Ind Durante a titulação

cor 2 cor 1

Os indicadores metalocrômicos são também indicadores ácido-base. Conseqüentemente, a

cor do indicador dependerá tanto da[M] como também do pH.

Em virtude disso, o uso das constantes condicionais é mais evidente.

K’f = [MInd] / [M’][Ind’]

[M’] = ([MInd] / [Ind’]) x 1 / K’f

A mudança de cor ocorre quando:

[MInd] [Ind’]

[M’]TRANSIÇÃO = 1 / K’f

Alguns exemplos de indicadores metalocrômicos:

Negro de Eriocromo-T: é usado nas titulações de Mg2+, Ca2+, Sr2+, Ba2+, Cd2+, Pb2+, Mn2+ e Zn2+.

A solução é tamponada em pH=10 com NH3/NH4Cl.

Outros: Murexida, Alaranjado de Xilenol, Calcon.

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5.7) Técnicas de titulação com EDTA.

1) Titulação direta: A solução que contém o íon metálico, depois de tamponada ao pH

apropriado é titulada com EDTA em presença de um indicador metalocrômico. Em muitos casos,

deve-se tamponar a solução num pH acima de 7.

Às vezes, é necessário um agente complexante como tartarato, citrato ou trietanolamina

para evitar a precipitação de algum hidróxido.

2) Titulação de retorno: A titulação direta torna-se impraticável, quando o íon metálico é

apenas lentamente complexado pelo EDTA ou não pode ser conservado em solução ao pH

requerido para a complexação.

Na titulação de retorno, adiciona-se um excesso de EDTA, e titula-se o excesso de EDTA

residual com ZnSO4 ou MgSO4. O ponto final é indicado por um indicador metalocrômico.

3) Titulação de Substituição: A solução que contém o íon metálico a determinar é

tratada com excesso de Mg-EDTA, a fim de liberar uma quantidade equivalente de íon Mg2+:

Mn+ + MgY2- MY-(4-n) + Mg2+

Obviamente o complexo MY-(4-n) deve ser mais estável do que o complexo MgY2-. O

excesso de Mg2+ é titulado com solução padrão de EDTA.

TITULAÇÃO DE CÁTIONS EM pH=6,0 pH MÍNIMO NECESSÁRIO PARA

TITULAÇÃO SATISFATÓRIA DE

VÁRIOS CÁTIONS

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600

4

8

12

16

20

KCaY2- = 5,0x1012

KFeY2- = 2,1x1014

KZnY2- = 3,2x1016

KHgY2- = 6,3x1021

KFeY- = 1,3x1025

Titulação de 50,00 mL do metal em pH 6,0

pM

Volume de EDTA 0,0100 mol/L / mL

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LISTA DE EXERCÍCIOS

Dados para a realização da lista de exercícios

Tabela 1: Valores de log Y(H) em função do pH (f0 = 1/Y(H))

pH log Y(H)

0 21,4

1 17,4

2 13,7

3 10,8

4 8,6

5 6,6

6 4,8

7 3,4

8 2,3

9 1,28

10 0,46

11 0,07

1) Calcule a constante condicional de formação do complexo Ag-EDTA numa solução contendo

[NH3] = 0,01 mol/L e em pH 10. (K’’f = 3,9 x 103)

Dados: KAg-Y = 2,00 x 107 Ag-NH3 log 1 = 3,32; log 2 = 7,24

2) Calcule a constante condicional de formação do complexo Ni-EDTA numa solução de pH 11,

contendo 0,50 mol/L de amônia livre. (K’’f = 4,62 x 1011)

Dados: log KNi-Y = 18,62

Ni-OH log 1 = 4,97; log 2 = 8,55; log 3 = 11,33

Ni-NH3 log 1 = 2,67; log 2 = 4,79; log 3 = 6,40; log 4 = 7,47; log 5 = 8,10; log 6 = 8,01

3) Calcule a concentração de Y4- numa solução 0,020 mol/L de EDTA tamponada a pH 10. ([Y4-]

= 6,93 x 10-3 mol/L)

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4) Qual a concentração de equilíbrio de Cu2+ numa solução 7,50 x 10-3 mol/L em CuY2- a pH 9?

([Cu2+] = 2,07 x 10-12 mol/L)

Dados: KCu-Y = 6,3 x 1018 Cu-OH log 1 = 7,0; log 2 = 13,7; log 3 = 17,0; log 4 = 18,5

5) Em uma solução contendo 1,25 x 10-2 mol/L do complexo CuY2- a pH 6, a concentração de

Cu2+ é 8,44 x 10-9 mol/L. Qual o valor do M neste pH? (M = 1,76)

Dados: KCu-Y = 6,3 x 1018

6) Calcule a concentração de equilíbrio de Ni2+ numa solução com concentração de NiY2- de

0,0150 mol/L a pH 3.([Ni2+] = 1,51 x 10-5 mol/L)

Dados: KNi-Y = 4,17 x 1018 Ni-OH log 1 = 4,97; log 2 = 8,55; log 3 = 11,33

7) Calcule a constante condicional de formação do complexo Zn-EDTA numa solução

tamponada em pH 11 e contendo 0,01 mol/L de amônia livre.(K’’f = 1,26 x 1011)

Dados: log KZn-Y = 16,50

Zn-NH3 log 1 = 2,18; log 2 = 4,43; log 3 = 6,74; log 4 = 8,70

Zn-OH log 1 = 4,40; log 2 = 11,30; log 3 = 13,14; log 4 = 14,66

8) Calcule a concentração de Ni2+:

a) numa mistura de 200,00 mL de solução 0,200 mol/L de NiCl2 com 200,00 mL de solução

0,200 mol/L de EDTA em pH 8. ([Ni2+] = 2,09 x 10-9 mol/L)

b) na mistura anterior contendo 0,100 mol/L de amônia livre, tamponada em pH 10.

([Ni2+] = 3,04 x 10-12 mol/L)

Dados:

KNi-Y = 4,17 x 1018

Ni-OH log 1 = 4,97; log 2 = 8,55; log 3 = 11,33

Ni-NH3 log 1 = 2,67; log 2 = 4,79; log 3 = 6,40; log 4 = 7,47; log 5 = 8,10; log 6 = 8,01

9) Uma solução contendo 100,00 mL de Fe(NO3)3 0,01 mol/L foi titulada em pH 3 com EDTA

0,02 mol/L. Calcule o pFe nos seguintes pontos da titulação:

a) antes da adição do titulante (pFe = 2)

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b) após a adição de 20,00 mL do titulante (pFe = 2,3)

c) no ponto de equivalência (pFe = 8,2)

d) após a adição de 70,00 mL do titulante (pFe = 13,8)

Dados: KFe-Y = 1,0 x 1025

10) A constante de formação do complexo Pb-EDTA é 1,1 x 1018.

a) Calcule a constante condicional de formação em pH 3. (K’’f = 1,74 x 107)

b) Calcule o pPb numa alíquota contendo 50,00 mL de Pb2+ 0,0250 mol/L em pH 3 após a adição

dos seguintes volumes de EDTA 0,010 mol/L: 0,00 mL, 5,00 mL, 125,00 mL e 150,00 mL.

(1,6; 1,7; 4,7; 6,5)

Dados: Pb-OH log 1 = 6,90; log 2 = 10,80; log 3 = 13,30

11) Calcule a constante condicional de formação do complexo CaY2- em pH 3. Seria possível

titular o Pb2+ com EDTA na presença do Ca2+ em pH 3? (KPb-Y = 1,1x 1018; KCa-Y = 5,0x 1010).

K’’f = 7,9 x 10-1. Não, ambas constantes condicionais são menores que 108.

12) Qual dos seguintes íons metálicos podem ser titulados com sucesso em pH 7?

a) Ba2+ b) Mn2+ c) Al3+ d) Cu2+ e) Sn2+ f) Fe3+

Dados: KBa-Y = 5,8 x 107; KMn-Y = 6,2 x 1013; KAl-Y = 1,3 x 1016; KCu-Y = 6,3 x 1018; KSn-Y = 2,0 x

1018; KFe-Y = 1,0 x 1025

Mn2+, Al3+, Cu2+, Sn2+ e Fe3+ supondo a não ocorrência de reações paralelas com os cátions

metálicos.

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III - EQUILÍBRIOS E TITULOMETRIA DE PRECIPITAÇÃO

1) O EQUILÍBRIO DE SOLUBILIDADE

1.1) Produto de solubilidade

Quando se adiciona um sólido iônico pouco solúvel em água, estabelece-se o equilíbrio

entre os íons em solução e o sólido, o que pode ser descrito pela equação:

AB(s)

A+(aq) + B-

(aq)

Entre os íons existe a relação:

Kps = [A+][B-] Kps produto de solubilidade

Para um sólido, [AB] = 1.

Para um eletrólito pouco solúvel com pr4oporções estequiométricas, tem-se:

AxBy xAy+ + yBx- Kps = [Ay+]x[Bx-]y

1.2) Previsão de precipitação

Se o produto das concentrações dos íons (PI) < Kps, a solução não está saturada. Não há

precipitação.

Se PI > Kps a precipitação ocorre para estabelecer o equilíbrio e a solução ficará saturada

Se PI = Kps a solução está saturada e não ocorre precipitação

1.3) Produto de solubilidade e solubilidade

O produto de solubilidade de um composto pode ser calculado a partir de sua solubilidade

e vice-versa.

Para um composto AB : AB(s)

A+

(aq) + B-(aq) Kps = [A+][B-]

S = [A+] = [B-] Kps = S2

solubilidade molar

Para um composto AxBy:

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AxBy xAy+ + yBx- Kps = [Ay+]x[Bx-]y

Mas,

[Ay+] = xS e [Bx-] = yS

Portanto,

Kps = (xS)x(yS)y

ou,

Kps = xxyyS(x+y)

Deste modo,

S = [Kps/xxyy]1/(x+y)

Exemplo: A solubilidade do AgCl a 25oC é 1,94x10-4 g por 100 mL. Calcular a solubilidade

molar e o Kps. Dados: PMAgCl = 143,32 g/mol.

S = 1,94x10-4 x 1000/ 143,32 x 100 = 1,34x10-5 mol/L

Portanto,

Kps = S2 = 1,8x10-10

1.4) Efeito do íon comum

Quando numa solução saturada de um precipitadose aumenta a concentração de um dos

íons envolvidos no equilíbrio, este se desloca, como previsto pelo princípio de LeChatelier, de

modo a reduzir a modificação imposta. O resultado é a diminuição da solubilidade do

precipitado.

Exemplo 1:

Ag2CrO4 2Ag+ + CrO4

2- Kps = [Ag+]2[CrO42-]

Deste modo,

Um aumento em [Ag+] diminuição em [CrO42-]

Uma diminuição em [Ag+] aumento em [CrO42-]

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Solubilidade de Ag2CrO4 em presença de K2CrO4

0.000 0.002 0.004 0.006 0.008 0.0100

1

2

3

4

5

6

7Efeito do Íon-comum

Solu

bili

dade x

10

5 m

ol/L

Concentração de K2CrO4 / mol/L

Exemplo 2: Calcular a solubilidade molar do iodato de bário em uma solução de iodato de

potássio 0,1 mol/L.

Ba(IO3)2 (s) Ba2+ + 2 IO3

-

Kps = [Ba2+][IO3-]2 = 1,25x10-9

Mas,

[Ba2+] = S e [IO3-] = 0,1 + 2S

Portanto,

S(0,1 + 2S)2 = 1,25x10-9 (equação cúbica)

Simplificação:

A solubilidade do Ba(IO3)2 é pequena. Deste modo, 0,1 + 2S 0,1. Isto resulta:

S(0,1)2 = 1,25x10-9

Resolvendo:

S = 1,25x10-7 mol/L

De fato, a suposição de que (0,1 + 2 x 1,25x10-7) 0,1 é válida.

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Exemplo 3: Calcular a solubilidade do Ba(IO3)2 numa solução de iodato de potássio 0,001 mol/L.

[Ba2+] = S e [IO3-] = 0,001 + 2S

Então,

S(1x10-3 + 2S)2 = 1,25x10-9

Supondo que S seja pequeno, acha-se:

S(1x10-3)2 = 1,25x10-9

Resolvendo,

S = 1,25x10-3 mol/L

É evidente que a suposição 2 x 1,25x10-3 + 1x10-3 1x10-3 não é válida. Devemos,

portanto, resolver a equação cúbica. Um dos métodos é o método das aproximações sucessivas.

S(1x10-3 + 2S)2 - 1,25x10-9 = 0

Quando S = 0, o lado esquerdo da equação = -1,25x10-9

Quando S = 1x10-3, o lado esquerdo da equação = 7,75x10-9

A solução é algo menor que 1x10-3

Quando S = 0,4x10-3, o lado esquerdo da equação = 0,05x10-9

Quando S = 0,3x10-3, o lado esquerdo da equação = -0,78x10-9

Solução verdadeira S = 0,39x10-3 mol/L

2) INTERAÇÕES ÁCIDO-BÁSICAS NOS EQUILÍBRIOS DE SOLUBILIDADE

No caso de um sal levemente solúvel, cujo ânion é uma base de Brönsted, a concentração

do ânion na solução saturada depende do pH; portanto, a solubilidade do sal também depende do

pH.

Exemplo 1: Calcular a solubilidade molar do AgAc a 25oC em uma solução de pH 3 na condição

de equilíbrio.

AgAc

Ag+ + Ac- Kps = [Ag+][Ac-] = 2,30 x 10-3

HAc

H+ + Ac- Ka = [H+][Ac-]/[HAc] = 1,8 x 10-5

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Quanto menor o pH (maior [H+]), mais solúvel será o sal. Precisamos calcular o

coeficiente presente neste pH:

=([HAc] + [Ac-]) / [Ac-] = 1 + [H+] / Ka

Por outro lado,

[Ag+] = S [Ac-] = S/

ou seja,

Kps = S2/ e Kps = S2{Ka/(Ka + [H+])}

portanto,

S = {Kps(1 + [H+]/Ka)}1/2

Para [H+] = 10-3 mol/L S = 3,65 x 10-1 mol/L

Compare S do AgAc sem considerar o efeito dp pH: (Kps)1/2 = 4,80 x 10-2 mol/L

Exemplo 2: Calcular a solubilidade molar do CaC2O4 a 25oC em uma solução com pH 4,0 na

condição de equilíbrio.

CaC2O4 Ca2+ + C2O4

2- Kps= 2,3 x 10-9

Reações paralelas:

C2O42- + H+

HC2O4-

HC2O4- + H+

H2C2O4

Ka1 = [HC2O4-][H+]/[H2C2O4] = 5,6 x 10-2

Ka2 = [C2O42-][H+]/[HC2O4

-] = 5,1 x 10-5

Precisamos calcular o coeficiente nestas condições:

= ([C2O42-] + [HC2O4

-] + [H2C2O4]) / [C2O42-] = (Ka1 Ka2 + Ka1[H+] + [H+]2) / Ka1 Ka2

ou 12

2

3

2

3 ][][1

aaa KK

OH

K

OH

, lembrando qua a reação de protonação é inversa da dissociação.

Mas,

S = [Ca2+] e [C2O42-] = S/ e Kps = S2/

Kps = S2 Ka1 Ka2 / ( Ka1 Ka2 + Ka1[H+] + [H+]2)

S = [Kps (Ka1 Ka2 + Ka1[H+] + [H+]2) / Ka1 Ka2)]1/2

Em pH 4,0 ([H+] = 1 x 10-4 mol/L) S = 8,26 x 10-5 mol/L

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Generalizando:

Para um sal BxAy

BxAy(s) xBy+ + yAx- Kps = [By+]x[Ax-]y

[Ax-] = yS / n e [By+] = xS

n = [H+]n + Ka1[H+]n-1 + Ka1Ka2[H+]n-2 + Ka1Ka2...Kan / Ka1Ka2...Kan

S = {Kps x-xy-y[([H+]n + Ka1[H+]n-1 + Ka1Ka2[H+]n-2 + Ka1Ka2...Kan)/(Ka1Ka2...Kan)]}1 / x+y

3) INTERAÇÕES DE COMPLEXAÇÃO NOS EQUILÍBRIOS DE

SOLUBILIDADE

A solubilidade de sais levemente solúveis é afetada pela presença de ligantes capazes de

formar complexos com o íon metálico.

M’ = [M] + [ML] + [ML2] + [ML3] + ... =

[M] (1 + 1[L] + 2[L]2 + 3[L]3 + ...)

M(L) = [M’] / [M] = 1 + 1[L] + 2[L]2 + 3[L]3 + ...

Para um sal MX MX

M+ + X-

Mas, Kps = [M][X] e Kps = S2 /

Portanto, S = (Kps x )1/2

Exemplo: Calcular a solubilidade de AgCl em NH3 0,01 mol/L.

Dados: Kps (AgCl) = 1,8 x 10-10

Constantes de formação dos complexos Ag - NH3: K1 = 103,2 e K2 = 103,8

AgCl(s)

Ag+ + Cl-

Reações paralelas:

Ag+ + NH3

AgNH3+

AgNH3+ + NH3

Ag(NH3)2

+

Resolvendo,

Ag(NH3) = 1 + 1[NH3] + 2[NH3]2 = 103

S = (Kps x )1/2 = 4,2 x 10-4 mol/L

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4) VOLUMETRIA DE PRECIPITAÇÃO

É um método baseado na formação de um produto pouco solúvel. O método titulométrico

mais importante é o argentimétrico: precipitação de sais insolúveis de prata.

4.1) Curvas de titulação de precipitação

Na volumetria de precipitação, os fatores que decidem como a reação se completa são: K ps

e concentração dos reagentes.

Exemplo: Titulação de 100,00 mL de NaCl 0,100 mol/L com AgNO3 0,100 mol/L.

AgCl(s)

Ag+ + Cl- Kps = 1,8 x 10-10

a) Antes da adição de AgNO3

[Cl-] = 0,1 mol/L pCl = 1

[Ag+] = 0 pAg = indeterminado

b) Adição de 20,00 mL de AgNO3

[Cl-] = 100,00 x 0,100 - 20,00 x 0,100 / 120,00 = 6,67 x 10-2 mol/L (antes do PE)

Kps = 6,67 x 10-2 x [Ag+] = 1,8 x 10-10

[Ag+] = 2,70 x 10-9 pAg = 8,57

c) Adição de 100,00 mL de AgNO3 (no PE)

[Ag+] = [Cl-] = (Kps)1/2 = 1,35 x 10-5 mol/L pAg = 4,87

d) Adição de 110,00 mL de AgNO3 (Após o PE)

[Ag+] = 10,00 x 0,100 / 210,00 = 4,8 x 10-3 mol/L pAg = 2,32

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4.2) Curvas de titulação

a) Efeito da concentração dos reagentes

Soluções mais concentradas (B) mostram variação do valor de pAg no PE mais brusca ou

pronunciada.

0 10 20 30 40 50 600

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10Curva B: Soluções 0,1 mol/L

B

A

Titulação de NaCl com AgNO3

Curva A: Soluções 0,01 mol/L

pA

g

Volume de AgNO3 / mL

b) Efeito do valor de Kps

Quanto menor o Kps, mais brusca será a variação do pAg ao redor do PE.

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 600

2

4

6

8

10

12

14

16Titulação de halogenetos 0,100 mol/L com AgNO3 0,0100 mol/L

KAgI = 8,3x10-17

KAgCl = 1,8x10-10

KAgBr = 3,9x10-13

pA

g

Volume de AgNO3 / mL

A

B

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4.2) Métodos argentimétricos

Titulante: solução padrão de AgNO3

São utilizados para a determinação de haletos e outros ânions que formam sais de prata

pouco solúveis.

a) Método de Mohr (determinação de Cl- e Br-)

Indicador: K2CrO4

No PE Ag+ + X- AgX(s) (X

- = Cl- , Br-)

2Ag+ + CrO42-

Ag2CrO4(s) vermelho

0 10 20 30 40 50 60 70 800

1

2

3

4

5

6

7

8

9

Ponto final Método de Mohr

pAg = 4,44

Ponto de equivalência

pAg = 4,90

pA

g

Volume de AgNO3 / mL

Limitação do método:

faixa de pH: 6,5 < pH < 10

Se pH < 6,5 a [CrO42-] abaixa muito devido ao equilíbrio: CrO4

2- + H+ HCrO4

-

Deste modo, o Kps não é mais atingido. Não funciona mais com indicador.

Se pH > 10 precipitação de AgOH

A concentração do indicador é muito importante. Por exemplo, consideremos a titulação

de 100,00 mL de NaCl 0,100 mol/L com AgNO3 0,100 mol/L, a qual foi adicionada 1,00 mL de

solução de K2CrO4 0,100 mol/L como indicador.

Dado: Kps do Ag2CrO4 = 1,3 x 10-12

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No ponto final (volume 201 mL)

[CrO42-] = 1,00 x 0,100 / 201,00 = 4,98 x 10-4 mol/L

Substituindo este valor na expressão de Kps:

[Ag+]2[CrO42-] = Kps

[Ag+] = (Kps / [CrO42-])1/2 = 5,11 x 10-5 mol/L pAg = 4,29

O ponto final ocorre após o PE. O erro é muito pequeno.

b) Método de Volhard

Determinações indiretas de haletos em meio ácido, o que evita muitas interferências.

Adiciona-se excesso de AgNO3 e titula-se o excesso com solução padrão de SCN-, usando íon

férrico como indicador.

Ag+ (excesso) + Cl- AgCl(s) + Ag+ (residual)

Ag+ (residual) + SCN- AgSCN(s)

No PE SCN- + Fe3+ FeSCN2+ vermelho

Dificuldade do método: AgCl (Kps = 1,8 x 10-10) mais solúvel que AgSCN (Kps = 1,1 x 10-12).

Deste modo, a reação abaixo poderia ocorrer em grande extensão.

AgCl(s) + SCN- AgSCN(s) + Cl-

Para evitar este problema:

- usa-se nitrobenzeno ou

- filtra-se o AgCl antes de iniciar a titulação.

Obs.: Com brometo e iodeto não há este problema.

c) Método de Fajans

K. Fajans introduziu um tipo de indicador para as reações de precipitação, que resultou de

seus estudos da natureza da adsorção. A ação destes indicadores é devida ao fato de que, no ponto

de equivalência, o indicador é adsorvido pelo precipitado e, durante o processo de adsorção,

ocorre uma mudança no indicador que conduz a uma substância de cor diferente; estes

indicadores foram, então, chamados de indicadores de adsorção. Um indicador de adsorção é um

composto orgânico que tende a ser adsorvido sobre a superfície do sólido em uma titulação de

precipitação. Idealmente, a adsorção ocorre próximo ao ponto de equivalência e resulta não

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apenas em uma alteração de cor, como também em uma transferência de cor da solução para o

sólido (ou vice-versa).

Fluoresceína Diclorofluoresceína

A diclorofluoresceína é um indicador de adsorção típico, que é útil para a titulação de

haletos com nitrato de prata. Em solução aquosa, a diclorofluoresceína se dissocia parcialmente

em íons hidrônio e íons diclorofluoresceinato negativamente carregados que são verde-

amarelados.

Na fase inicial da titulação de íon cloreto com nitrato de prata, as partículas de cloreto de

prata encontram-se negativamente carregadas em virtude da adsorção do excesso de íons cloreto.

Os ânions do corante são afastados dessa superfície por repulsão eletrostática e conferem à

solução uma cor verde-amarelada. Após o ponto de equivalência, entretanto, as partículas de

cloreto de prata adsorvem fortemente os íons prata (em excesso na solução) e então adquirem

uma carga positiva. Os ânions diclorofluoresceinato são agora atraídos pela camada de contra-

íons que envolve cada partícula de cloreto de prata. O resultado líquido é o aparecimento da cor

vermelha do diclorofluoresceinato de prata na camada superficial da solução ao redor do sólido.

Na titulação dos cloretos pode-se usar a fluoresceína. Este indicador é um ácido muito

fraco (Ka= lx10-8); portanto, mesmo uma quantidade pequena de outros ácidos reduz a ionização

que já é diminuta, tornando, assim, a detecção do ponto final (que depende essencialmente da

adsorção do ânion livre) ou impossível ou difícil de se observar. O intervalo ótimo de pH é entre

7 e 10.

AgCl(s) na presença de excesso de Cl- AgCl(s) na presença de excesso de Ag

+

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A diclorofluoresceína é um ácido mais forte e pode ser utilizado em soluções levemente

ácidas, de pH maior do que 4,4; este indicador tem mais uma vantagem, que é a sua

aplicabilidade em soluções mais diluídas.

A eosina (tetrabromofluoresceína) é um ácido mais forte do que a diclorofluoresceína e

pode ser utilizada até‚ em pH = 1-2; a mudança de cor mais nítida é obtida em solução de ácido

acético (pH < 3). A eosina é tão fortemente adsorvida sobre os haletos de prata que não pode ser

utilizada em titulações de cloreto; isto porque o íon eosina pode competir com o íon cloreto antes

do ponto final. Com os íons que são mais fortemente adsorvidos, Br-, I- e SCN-, a competição não

é séria e obtém-se um ponto final muito nítido na titulação destes íons, mesmo em soluções

diluídas. A cor que aparece sobre o precipitado é magenta.

O Rosa de Bengala (diclorotetraiodofluoresceína) e a dimetildiiodofluoresceína têm sido

recomendados para as titulações de iodetos.

Muitos outros corantes têm sido recomendados como indicadores de adsorção. Assim, o

íon cianeto pode ser titulado com uma solução padrão de nitrato de prata usando-se como

indicador de adsorção a difenilcarbazida: o precipitado é violeta-pálido no ponto final.

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LISTA DE EXERCÍCIOS

1) A solubilidade do fluoreto de cálcio (CaF2) a 25oC é 2,2 x 10-4 mol/L. Calcule seu produto de

solubilidade. (Kps = 4,255 x 10-11)

2) Calcule as solubilidades das substâncias conhecidos os seus produtos de solubilidade:

Kps (AB) = 1,0 x 10-8 (S = 1,0 x 10-4 mol/L)

Kps (A3B2) = 1,08 x 10-30 (S = 3,98 x 10-7 mol/L)

Kps (A3B4) = 1,0 x 10-25 (S = 7,59 x 10-5 mol/L)

Kps (A2B) = 4,0 x 10-12 (S = 1,0 x 10-4 mol/L)

3) O produto de solubilidade do hidróxido de magnésio [Mg(OH)2] é igual a 1,8 x 10-11. Calcule a

solubilidade desse hidróxido e o pH de sua solução saturada.(S=1,65x10-4 mol/L e pH=10,5)

4) Calcule a massa de bário que é perdida quando um precipitado de cromato de bário (BaCrO 4,

Kps = 1,6 x 10-10, MBa = 137,33 g/mol) é lavado com 120 mL de água. (m = 2,08 x 10-4 g)

5) Determine a concentração de íons hidróxido necessária para iniciar a precipitação de hidróxido

férrico [Fe(OH)3, Kps = 3,8 x 10-38] sendo [Fe3+] = 10-3 mol/L. ([OH-] = 3,36 x 10-12 mol/L)

6) Haverá a formação de precipitado quando se misturam 100 mL de solução 0,010 mol/L de

nitrato de chumbo [Pb(NO3)2] com 100 mL de solução de iodeto de potássio 0,001 mol/L (KI)?

(Sim. O produto iônico [Pb2+][I-]2 = 1,25 x 10-9 é maior que Kps)

Dado: Kps PbI2 = 1,1 x 10-9

7) Haverá a formação de precipitado se misturarmos 100 mL de solução 0,010 mol/L de nitrato

de chumbo [Pb(NO3)2] com 100 mL de solução 0,100 mol/L de cloreto de sódio (NaCl)? Qual

deve ser a menor concentração de cloreto (Cl-) na mistura para iniciar a precipitação dos íons

chumbo (Pb2+) na forma de cloreto de chumbo (PbCl2)? (Não. O produto iônico [Pb2+][Cl--]2 =

1,25 x 10-5 é menor que Kps. Menor [Cl-] = 5,66 x 10-2 mol/L.)

Dado: Kps PbCl2 = 1,6 x 10-5

8) Que massa de A3B2 (200 g/mol, Kps = 1,0 x 10-20) se dissolverá em 200 mL de solução que

contém 0,10 g de A (50 g/mol)?(m = 2,00 x 10-6 g)

9) Que massa de A (50 g/mol) fica sem precipitar se a 20,0 mL de solução 0,10 mol/L de A se

adicionam 30 mL de solução 0,20 mol/L de B? Dado: Kps AB2 = 1,0 x 10-15(m = 1,56 x 10-12 g)

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10) O produto de solubilidade da oxalato de cálcio (CaC2O4) é 1,78 x 10-9 a 18oC. Calcule:

a) A solubilidade desse sal numa solução 0,050 mol/L de oxalato de amônio [(NH4)2C2O4]. (S =

3,56 x 10-8)

b) Quantas vezes essa solubilidade será menor do que a solubilidade em água pura? (1185 vezes)

11) Calcule a solubilidade de sulfeto de prata (Ag2S, Kps = 6,3 x 10-50) em pH igual a zero. (S =

1,32 x 10-10 mol/L)

Dados:

H2S + H2O H3O+ + HS-

KH O HS

H Sx1

3

2

85 10

,7

HS- + H2O H3O+ + S2-

KH O S

HSx2

3

2

131 10

,2

12) Será possível dissolver 0,01 mol de oxalato de prata (Ag2C2O4, Kps = 3,5 x 10-11) com 200

mL de solução tampão de pH = 4,0? (Nestas condições dissolve-se apenas 5,90 x 10-5 mol de

Ag2C2O4)

Dados:

H2C2O4 + H2O HC2O4

- + H3O+ Ka1 = [HC2O4-][H3O+]/[H2C2O4] = 5,6 x 10-2

HC2O4- + H2O

C2O42- + H3O+ Ka2 = [C2O4

2-][H3O+]/[HC2O4-] = 5,1 x 10-5

13) Calcule a solubilidade de Ag2S (Kps = 6,3 x 10-50) numa solução 0,50 mol/L de cianeto de

sódio (NaCN). (S = 1,19 x 10-3 mol/L)

Dados: Ag+ + 2CN- Ag(CN)2

- Kf = 1,3 x 1021

14) Calcule o valor de pAg 20% antes do ponto de equivalência, no ponto de equivalência e 20%

após o ponto de equivalência na titulação de 10,00 mL de solução 0,050 mol/L de NaBr com uma

solução 0,0250 mol/L de AgNO3. (9,87, 6,14 e 2,53)

Dados: AgBr(s)

Ag+ + Br- Kps = 5,2 x 10-13

15) Suponha que se deseja titular o íon brometo pelo método de Mohr. Calcule a concentração do

íon cromato (CrO42-) que deve estar presente para que a precipitação do cromato de prata

(Ag2CrO4) comece exatamente no ponto de equivalência.([CrO42-] = 2,5 mol/L)

Dados: AgBr(s)

Ag+ + Br- Kps = 5,2 x 10-13

Ag2CrO4(s)

2Ag+ + CrO42- Kps = 1,3 x 10-12

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16) Misturam-se 10,00 mL de solução 1,00 x 10-3 mol/L de KI com 20,00 mL de solução

1,00x10-3 mol/L de AgNO3. Calcule o pAg e pI da mistura resultante. (pAg = 3,48 e pI = 12,6)

Dados: AgI(s)

Ag+ + I- Kps = 8,3 x 10-17

17) 25,00 mL de uma solução 0,1306 mol/L de AgNO3 foi titulada com 0,1194 mol/L de KSCN.

Calcule pAg nos seguintes pontos:

a) antes da adição de KSCN (0,88)

b) depois da adição de 10,00 mL de KSCN (1,23)

c) no ponto de equivalência (5,98)

d) depois da adição de 40,00 mL de KSCN (10,33)

Dados: AgSCN(s) Ag+ + SCN- Kps = 1,1 x 10-12

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IV - EQUILÍBRIOS E TITULOMETRIA DE OXIRREDUÇÃO

1) O EQUILÍBRIO DE OXIRREDUÇÃO

1.1) Reações de oxirredução

As reações de oxirredução envolvem transferência de elétrons de uma espécie para outra.

Oxidação: perda de elétrons por uma espécie iônica ou molecular. A espécie é denominada

redutora.

Redução: ganho de elétrons. A espécie é denominada oxidante.

Exemplo: Fe2+ + Ce4+ Fe3+ + Ce3+

Esta reação pode ser dividida em duas:

Fe2+ + Fe3+ + e- (oxidação)

Ce4+ + e- Ce3+ (redução)

O agente redutor é capaz de doar elétrons (Fe2+)

O agente oxidante é capaz de receber elétrons (Ce4+)

Observações:

a) Uma reação de oxidação ou redução nunca ocorre sozinha. A cada redução corresponde uma

oxidação e vice-versa.

b) A quantidade de elétrons que uma espécie redutora libera deve ser recebida por uma espécie

oxidante, ou seja, não devem sobrar elétrons.

c) As reações de redox de interesse analítico são na maioria reversíveis e a posição de equilíbrio

vai depender da força do agente oxidante e do agente redutor.

1.2) Células eletroquímicas

As células eletroquímicas são dispositivos feitos para o processamento de uma reação

redox. Ela consiste de dois eletrodos que são submersos em soluções de eletrólitos diferentes.

Temos dois tipos de células eletroquímicas: galvânica e eletrolítica.

Célula galvânica: as reações ocorrem espontaneamente gerando energia (pilha)

Célula eletrolítica: as reações não ocorrem espontaneamente consumindo energia (eletrólise).

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Exemplo: Cela galvânica

Ao fecharmos o circuito externo observamos:

a) Os elétrons fluem do eletrodo de zinco para o de cobre.

b) A massa da barra de zinco diminui, ao mesmo tempo que a [Zn2+] na solução aumenta.

c) A massa da barra de cobre aumenta, ao mesmo tempo que a [Cu2+] na solução diminui.

d) Os íons da ponte salina migram para a semi-célula para manter a eletroneutralidade.

No eletrodo de zinco ocorre oxidação:

Zn(s) Zn2+ + 2e- (anodo)

No eletrodo de cobre ocorre redução:

Cu2+ + 2e- Cu(s) (catodo)

A passagem de elétrons da barra de zinco para a barra de cobre indica que existe uma

diferença de potencial elétrica (ddp) entre os dois eletrodos.

1.3) Representação esquemática da célula

As células eletroquímicas são representadas esquematicamente de acordo com as

seguintes convenções:

a) O anodo vem em primeiro lugar (fica à esquerda).

b) O catodo vem à direita.

c) Fases entre as quais se estabelece uma ddp são separadas por uma barra vertical.

d) A ponte salina, quando houver, é indicada por duas barras verticais.

Exemplo: Zn/Zn2+ (x mol/L) // Cu2+ (y mol/L)/Cu

1.4)Força eletromotriz

Fluxo de elétrons

Ponte Salina - KCl

Eletrodo de Cobre

Solução de ZnSO4 Solução de CuSO4

Eletrodo de Zinco

1,100 V

[Zn2+] = 0,100 mol/L

Cl- K+

[Cu2+] = 0,100 mol/L

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A ddp entre os eletrodos é denominada f.e.m. e é determinada pela grandeza dos

potenciais dos eletrodos.

Ecela = Ecatodo - Eanodo

Quando as semi-células são ligadas por uma ponte salina, aparece uma ddp entre a

solução da semi-célula e a solução da ponte salina devido às diferentes mobilidades dos íons que

difundem do limite entre as soluções.

Exemplo:

HCl (1 mol/L) HCl (0,01 mol/L)

H+

Cl-

- +

Devido a maior mobilidade do íon H+ a solução mais diluída adquire uma carga positiva.

O potencial de junção líquida se deve a esta separação de cargas. Ele é indesejado e pode ser

minimizado se o eletrólito da ponte salina é mais concentrado e contém íons que tenham

aproximadamente a mesma mobilidade, tais como KCl e NH4NO3.

1.5)Tipos de eletrodos

Vários tipos de eletrodo podem compor uma célula eletroquímica, participando ou não das

reações que ocorrem nas semi-células.

a) Eletrodos inertes: não participam das reações das semi células. São simplesmente condutores

metálicos.

b) Eletrodos de primeira classe: são aqueles constituídos de metal em contato com a solução de

seus íons. O eletrodo faz parte da reação redox.

Ex: Cu/Cu2+; Zn/Zn2+

c) Eletrodos de segunda classe: são formados por um metal coberto com uma camada de seu sal

pouco solúvel. Também fazem parte da reação.

Ex.: Ag/AgCl(s), Cl- (x mol/L)

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1.6) Medida dos potenciais de eletrodo

Não é possível medir o valor absoluto do potencial de um eletrodo isolado, mas pode-se

medir a f.e.m. de uma célula.

O eletrodo padrão de hidrogênio (EPH) foi escolhido como eletrodo de referência. As

condiçoes fixadas foram as seguintes:

a) A atividade dos íons em solução é unitária.

b) Gases são medidos na pressão de uma atmosfera.

c) A temperatura é de 25o C.

Dentro destas condições, para a semi-reação que ocorre no EPH, foi atibuído um potencial

arbitrário igual a zero volt:

2H+ + 2e- H2 Eo = 0,000 V

O EPH funcionará como catodo ou anodo. Por exemplo, para a seguinte célula:

Zn/Zn2+ (1 mol/L) // H+ (1 mol/L)/H2 (p = 1 atm), Pt

As reações que ocorrem nos eletrodos:

Zn Zn2+ + 2e- (oxidação, anodo)

2H+ + 2e- H2 (redução, catodo)

Zn + 2H+ Zn2+ + H2 (reação global)

Para o caso Pt, H2 (p = 1 atm)/ H+ (1 mol/L) // Cu2+ (1 mol/L)/ Cu

Cu2+ + 2e- Cu (redução, catodo)

H2 2H+ + 2e- (oxidação, anodo)

Cu2+ + H2 Cu + 2H+ (reação global)

Frente ao EPH, o valor de Eo para a redução de Zn2+ é negativo, enquanto para a redução

do Cu2+ é positivo.

1.7) Equação de Nernst

Permite calcular o potencial de um eletrodo em quaisquer condições dadas, conhecendo-

se seu potencial padrão.

Para a reação redox:

aA + bB

cC + dD

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Ecela = Eocela - RT/nF ln aC

c x aDd / aA

a x aBb

Eocela potencial padrão da cela

R constante dos gases

T temperatura em Kelvin

n número de elétrons

F Faraday = 96485 C

1.8) Potenciais eletródicos padrão e fatores que afetam os potenciais eletródicos

Obtido quando todos os reagentes e produtos se encontram presentes com atividades

iguais à unidade.

As tabelas dos potenciais eletródicos padrão são fornecidos como semi-reações de

redução.

São os seguintes os fatores que afetam os potenciais eletródicos:

a) Temperatura: afeta o potencial padrão (Eo) e o termo RT/nF

b) concentração dos íons ativos

c) força iônica

d) efeito da formação de complexos

Ag+ + e- Ag

EAg+/Ag = EoAg+/Ag - 0,0592 log 1/aAg+

aAg+ [Ag+] e [Ag+] = CAg+ /

CAg+ concentração analítica de prata

= 1 + 1[NH3] + 2[NH3]2

e) Efeito do pH

MnO4- + 8 H+ + 5 e-

Mn2+ + 4 H2O

E = Eo - 0,0592/5 log [Mn2+]/ [MnO4-][H+]8

f) Efeito do solvente

Altera Eo e as atividades dos íons.

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1.9) Aplicações dos potenciais eletródicos padrão

a) Cálculo da f.e.m. de uma cela

Zn / Zn2+ (0,10 mol/L) // Cu2+ (0,10 mol/L) / Cu

Reação global:

Zn + Cu2+ Cu + Zn2+

Potenciais padrão:

Zn2+ + 2e- Zn Eo

1 = -0,763 V

Cu2+ + 2e- Cu Eo

2 = 0,337 V

Ecatodo = Eo2 - 0,0592/2 log 1/[Cu2+] = 0,307 V

Eanodo = Eo1 - 0,0592/2 log 1/[Zn2+] = -0,793 V

Ecela = 0,307 - (-0,793) = 1,100 V

b) Cálculo de constantes de equilíbrio

Consideremos a reação de oxirredução mencionada acima:

Zn + Cu2+ Cu + Zn2+

O equilíbrio é atingido quando os potenciais de cada semi-reação atingem o mesmo valor. Neste

ponto a seguinte relação é válida:

Ecatodo = Eanodo

Deste modo,

Eo1 - 0,0592/2 log 1 / [Zn2+] = Eo

2 - 0,0592/2 log 1 / [Cu2+]

Rearranjando,

Eo2 - Eo

1 = 0,0592/2 log [Zn2+] / [Cu2+]

Mas,

[Zn2+] / [Cu2+] = K constante de equilíbrio

Deste modo,

log K = 2(Eo2 - Eo

1) / 0,0592

Generalizando para qualquer reação redox:

log K = n(Eocatodo - E

oanodo) / 0,0592 (onde n = número de elétrons envolvidos no processo).

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Exemplo: Calcular a constante de equilíbrio da reação:

MnO4- + 5 Fe2+ + 8 H+

Mn2+ + 5 Fe3+ + 4 H2O

Reações parciais:

MnO4- + 8 H+ + 5 e-

Mn2+ + 4 H2O Eocatodo = 1,51 V

Fe3+ + e- Fe2+ Eo

anodo = 0,77 V

Aplicando a equação:

log K = 5(1,51 - 0,77) / 0,0592 = 62,5

K = 1062,5 = 3,16 x 1062

2) VOLUMETRIA DE OXIRREDUÇÃO

2.1) Introdução

A titulometria baseada em reações de oxirredução compreende numerosos métodos. Mas,

o que é de interesse, é a aplicação nos elementos que são capazes de exibir dois ou mais estados

de valência. Então, conforme o estado de valência em que se encontram, são passíveis de

oxidação ou redução. Em geral, tais elementos podem ser determinados mediante métodos

titulométricos de oxidação-redução, abaixo discriminados:

a) métodos oxidimétricos: fazem uso de soluções padrão de agentes oxidantes.

b) métodos redutimétricos: fazem uso de soluções padrão de agentes redutores.

Como toda reação, estas também devem preencher os requisitos gerais:

a) Deve ser representada por uma única equação estequiométrica

b) Deve ser rápida

c) O ponto final deve ser bem nítido

2.2) Curvas de titulação

As curvas de titulação redox são traçadas locando-se o potencial do sistema em função do

volume do titulante. Uma vez que o potencial do sistema é uma função logarítmica da

concentração (ou razão da concentração), a forma da curva é a mesma das outras titulações.

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A curva de titulação dá o potencial de qualquer um dos pares envolvidos na reação. Isto

porque os pares entram em equilíbrio em qualquer ponto da titulação adquirindo, portanto, o

mesmo potencial.

Nas imediações do ponto de equivalência há uma variação brusca do potencial, o que

permite a determinação do ponto final da titulação.

As reações das titulações de oxirredução são divididas em duas categorias:

a) Não há participação direta de H+

Fe2+ + Ce4+ Fe3+ + Ce3+

Sn2+ + 2 Fe3+ Sn4+ + 2 Fe2+

2 S2O32- + I2

S4O62- + 2 I-

b) Há participação direta de H+

Fe2+ + VO43- + 6 H+

Fe3+ + VO2+ + 3 H2O

MnO4- + 5 Fe2+ + 8 H+

Mn2+ + 5 Fe3+ + 4 H2O

6 Fe2+ + Cr2O72- + 14 H+

6 Fe3+ + 2 Cr3+ + 7 H2O

Obs: Nem sempre as curvas de titulação são simétricas. Isso se deve às diferentes proporções das

espécies na equação química balanceada. O potencial do ponto de equivalência depende das

características da reação, ou seja, do número de elétrons transferidos e da concentração das

espécies.

2.3) Titulação de Fe2+ com Ce4+ (não há participação direta de H+)

Consideremos a titulação de 100,00 mL de Fe2+ 0,100 mol/L com Ce4+ 0,100 mol/L em

solução 0,5 mol/L de H2SO4. O meio ácido é necessário para evitar a hidrólise dos componentes

do sistema.

Obs: Potenciais Formais (Ef): são potenciais medidos experimentalmente que levam em

consideração os desvios ocasionados pelo uso de concentração ao invés de atividade e pela

ocorrência de reações paralelas.

A 25oC no meio em questão, tem-se aproximadamente:

Fe3+ + e-

Fe2+ Ef1 = 0,700 V (anodo)

Ce4+ + e-

Ce3+ Ef2 = 1,46 V (catodo)

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Em qualquer ponto da titulação existirá o equilíbrio e os potenciais dos dois pares são

iguais e dados por:

EFe = Ef1 - 0,0592 log [Fe2+] / [Fe3+]

ECe = Ef2 - 0,0592 log [Ce3+] / [Ce4+]

a) No início da titulação

A solução não contém Ce4+ ou Ce3+. Contém apenas Fe2+ potencial indeterminado.

b) Após a adição de 20,00 mL da solução titulante

[Fe3+] = 20,00 x 0,100 / 120,00 = 1,67 x 10-2 mol/L

[Fe2+] = (100,00 - 20,00) 0,100 / 120,00 = 6,67 x 10-2 mol/L

E = 0,70 - 0,0592 log 6,67 x 10-2 / 1,67 x 10-2

E = 0,66 V

c) No ponto de equivalência (adição de 100,00 mL de Ce4+)

[Ce3+] = [Fe3+] e [Ce4+] = [Fe2+]

E = 0,70 - 0,0592 log [Fe2+] / [Fe3+]

E = 1,46 - 0,0592 log [Ce3+] / [Ce4+]

Somando as duas expressões acima,

2 E = 1,46 + 0,70 - 0,0592 log [Fe2+][Ce3+] / [Fe3+] / [Ce4+]

Deste modo,

E = (1,46 + 0,70) / 2 E = 1,08 V

d) Após a adição de 101,00 mL da solução titulante

[Ce3+] = 100,00 x 0,100 / 201,00 = 4,98 x 10-2 mol/L

[Ce4+] = (101,00 - 100,00) 0,100 / 201,00 = 4,98 x 10-4 mol/L

E = 1,46 - 0,0592 log 4,98 x 10-2 / 4,98 x 10-4 E = 1,34 V

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Curva de titulação: simétrica ao redor do ponto de equivalência

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1200.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

Titulação de Fe2+ com Ce4+

E / V

Volume de titulante / mL

2.4) Titulação de Sn2+ com Fe3+ (não há participação direta de H+)

Fe3+ + e- Fe2+ Ef

1 = 0,700 V (catodo)

Sn4+ + 2 e- Sn2+ Ef

2 = 0,14 V (anodo)

Consideremos a titulação de 100,00 mL de Sn2+ 0,050 mol/L com Fe3+ 0,100 mol/L em

meio de HCl 2 mol/L e sob atmosfera de gás inerte.

a) no início: potencial indeterminado

b) Após a adição de 40,00 mL de Fe3+

[Sn2+] = (100,00 x 0,050 - 40,00 x 0,100 / 2) / 140,00 = 2,14 x 10-2 mol/L

[Sn4+] = (0,100 x 40,00) / (2 x 140,00) = 1,43 x 10-2 mol/L

E = 0,14 - (0,0592 / 2) log 2,14 x 10-2 / 1,43 x 10-2 = 0,135 V

c) No ponto de equivalência

E = 0,14 - (0,0592 / 2) log [Sn2+] / [Sn4+] ( x 2)

E = 0,70 - 0,0592 log [Fe2+] / [Fe3+]

3E = 0,98 - 0,0592 log [Sn2+][Fe2+] / [Sn4+][Fe3+]

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Mas, no ponto de equivalência:

[Fe2+] = 2[Sn4+] e [Fe3+] = 2[Sn2+]

Portanto,

E = 0,98 / 3 = 0,33 V

d) Após a adição de 110,00 mL de Fe3+

[Fe3+] = 10,00 x 0,100 / 210,00 = 4,76 x 10-3 mol/L

[Fe2+] = 100,00 x 0,050 x 2 / 210,00 = 4,76 x 10-2 mol/L

Portanto,

E = 0,70 - 0,0592 log 4,76 x 10-2 / 4,76 x 10-3 = 0,64 V

Curva de titulação: assimétrica ao redor do ponto de equivalência

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1200.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

Titulação de Sn2+ com Fe3+

E / V

Volume de titulante / mL

2.5) Titulação de I2 com S2O32- (não há participação direta de H+)

Consideremos a titulação de 100,00 mL de solução 0,0500 mol/L de I2 com uma solução

0,100 mol/L de Na2S2O3.

Semi-reações: I2 + 2 e-

2 I- Eo = 0,536 V

S4O62- + 2 e-

2 S2O3

2- Eo = 0,100 V

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Reação: I2 + 2 S2O32-

2 I- + S4O62-

a) no início: potencial indeterminado

b) Após a adição de 20,00 mL de S2O32-

[I2] = (100,00 x 0,0500 - 20,00 x 0,100 / 2) / 120,00 = 3,33 x 10-2 mol/L

[I-] = 20,00 x 0,100 / 120,00 = 1,67 x 10-2 mol/L

E = 0,536 - (0,0592 / 2) log (1,67 x 10-2)2 / 3,33 x 10-2 = 0,597 V

c) No ponto de equivalência

[S2O32-] = 2 [I2] e [S4O6

2-] = 1/2 [I-]

E = 0,536 - (0,0592 / 2) log [I-]2 / [I2]

E = 0,100 - (0,0592 / 2) log [S2O32-]2 / [S4O6

2-]

2 E = 0,536 + 0,100 - (0,0592 / 2) log [I-]2 (2 [I2])2 / 1/2 [I-] [I2]

Portanto,

2 E = 0,636 - (0,0592 / 2) log 8 [I-] [I2]

O potencial no ponto de equivalência depende das concentrações de I- e I2. Devemos

calcular essas concentrações no ponto de equivalência. Sabemos que:

[S2O32-] = 2 [I2] e [S4O6

2-] = 1/2 [I-]

Pela constante de equilíbrio: log K = (0,536 - 0,100) 2 / 0,0592 = 14,73

Logo,

K = 5,37 x 1014

Mas,

5,37 x 1014 = [I-]2 [S4O62-] / [I2] [S2O3

2-]2 = 1/2 [I-] [I-]2 / [I2] (2 [I2])2 = [I-]3 / 8 [I2]3

Deste modo,

[I-]3 / [I2]3 = 4,3 x 1015 e [I-] / [I2] = 1,63 x 105

Como no ponto de equivalência,

[I-] = 2 x 0,0500 x 100,00 / 200,00 = 0,0500 mol/L

Tem-se:

[I2] = 3,07 x 10-7 mol/L

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Substituindo na equação:

2 E = 0,636 - (0,0592 / 2) log 8 x 0,0499 x 3,07 x 10-7 = 0,42 V

d) Após a adição de 120,00 mL de S2O32-

[S2O32-] = 20,00 x 0,100 / 220,00 = 9,09 x 10-3 mol/L

[S4O62-] = 100,00 x 0,0500 / 220,00 = 2,27 x 10-2 mol/L

E = 0,100 - (0,0592 / 2) log (9,09 x 10-3)2 / 2,27 x 10-2 = 0,172 V

Curva de titulação: assimétrica ao redor do ponto de equivalência

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1200.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

Titulação de I2 com S2O3-

E / V

Volume de titulante / mL

2.6) Titulação de Fe2+ com MnO4- (há participação direta de H+)

Consideremos a titulação de 100,00 mL de solução 0,100 mol/L de Fe2+ com uma solução

0,0200 mol/L de MnO4- em meio de ácido sulfúrico (pH = 0.5).

Além de evitar a hidrólise, o meio ácido é necessário para que a reação se complete.

Semi-reações:

Fe3+ + e-

Fe2+ Ef = 0,77 V

MnO4- + 8 H+ + 5 e-

Mn2+ + 4 H2O Ef = 1,51 V

Reação:

MnO4- + 5 Fe2+ + 8 H+

5 Fe3+ + Mn2+ + 4 H2O

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a) No início: potencial indeterminado

b) Após a adição de 20,00 mL de MnO4-

[Fe2+] = [100,00 x 0,100 - 5 (20,00 x 0,0200)] / 120,00 = 6,67 x 10-2 mol/L

[Fe3+] = 5 (20,00 x 0,0200)] / 120,00 = 1,67 x 10-2 mol/L

E = 0,77 - 0,0592 log 6,67 x 10-2 / 1,67 x 10-2 = 0,73 V

c) No ponto de equivalência

E = 0,77 - 0,0592 log [Fe2+] / [Fe3+]

E = 1,51 - (0,0592 / 5) log [Mn2+] / [MnO4-] [H+]8 (x 5)

6 E = 8,32 - 0,0592 log [Fe2+] [Mn2+] / [Fe3+] [MnO4-] [H+]8

Mas, no ponto de equivalência

[Fe3+] = 5 [Mn2+] e [Fe2+] = 5 [MnO4-]

Deste modo: 6 E = 8,32 - 0,0592 log 1/ [H+]8

Para [H+] = 0,316 mol/L, E = 1,35 V

d) Após a adição de 110,00 mL de MnO4-

[MnO4-] = 10,00 x 0,0200 / 210,00 = 9,52 x 10-4 mol/L

[Mn2+] = 1/5 (100,00 x 0,100) / 210,00 = 9,52 x 10-3 mol/L

E = 1,51 - (0,0592 / 5) log 9,52 x 10-3 / 9,52 x 10-4 x (0,316)8 = 1,45 V

Curva de titulação: assimétrica ao redor do ponto de equivalência

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1200.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

1.6

Titulação de Fe2+ com MnO4-

E / V

Volume de titulante / mL

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2.7) Titulação de Fe2+ com Cr2O72- (há participação direta de H+)

Seja a titulação de 100,00 mL de Fe2+ 0,100 mol/L com Cr2O72- 0,0167 mol/L num meio

onde pH = 0.5.

Semi-reações:

Fe3+ + e- Fe2+ Ef = 0,77 V

Cr2O72- + 14 H+ + 6 e-

2 Cr3+ + 7 H2O Ef = 1,33 V

Reação:

Cr2O72- + 6 Fe2+ + 14 H+

2 Cr3+ + 6 Fe3+ + 7 H2O

a) No início: potencial indeterminado

b) Após a adição de 20,00 mL de Cr2O72-

[Fe2+] = [100,00 x 0,100 - 20,00 x 0,0167 x 6] / 120,00 = 6,66 x 10-2 mol/L

[Fe3+] = 20,00 x 0,0167 x 6 / 120,00 = 1,67 x 10-2 mol/L

E = 0,77 - 0,0592 log 6,66 x 10-2 / 1,67 x 10-2 = 0,73 V

c) No ponto de equivalência

E = 0,77 - 0,0592 log [Fe2+] / [Fe3+]

E = 1,33 - (0,0592 / 6) log [Cr3+]2 / [Cr2O72-] [H+]14 (x 6)

7 E = 8,75 - 0,0592 log [Fe2+] [Cr3+]2 / [Fe3+] [Cr2O72-] [H+]14

Mas, no ponto de equivalência

[Fe3+] = 3 [Cr3+] e [Fe2+] = 6 [Cr2O72-]

Deste modo,

7 E = 8,75 - 0,0592 log 2/3 [Fe3+] / [H+]14

Precisamos calcular a [Fe3+] no ponto de equivalência

[Fe3+] = 100,00 x 0,100 / 200,00 = 0,05 mol/L

[H+] = 0,316 mol/L

E = 1,20 V

d) Após a adição de 120,00 mL de Cr2O72-

[Cr2O72-] = 20,00 x 0,0167 / 220,00 = 1,52 x 10-3 mol/L

[Cr3+] = 100,00 x 0,100 / 3 x 220,00 = 1,52 x 10-2 mol/L

E = 1,33 - (0,0592 / 6) log (1,52 x 10-2)2 / 1,52 x 10-3 x (0,316)14 = 1,27 V

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Curva de titulação: assimétrica ao redor do ponto de equivalência

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 1200.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

1.2Titulação de Fe2+ com Cr2O7

2-

E / V

Volume de titulante / mL

2.8) Indicação do ponto final

Vários sistemas de indicadores podem ser usados:

a) O titulante serve como indicador. Exemplo: KMnO4

b) Indicador interno sem redox. Exemplo: amido.

O amido tem amilose na sua composição. Deste modo, o seguinte processo ocorre:

amilose + I3- amilose- I3 (azul)

A intensidade da cor é tal que é perceptível para concentrações de iodo até 5 x 10-7 mol/L.

c) Indicadores redox

Certos grupos de compostos orgânicos são capazes de sofrer reação redox nas quais a cor

da forma oxidada é diferente da cor da forma reduzida.

Ind-ox + n e-

Ind-red

cor 1 cor 2

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E = Eo - (0,0592 / n) log [Ind-red] / [Ind-ox]

A cor 1 predominará quando:

[Ind-red] / [Ind-ox] = 1/10

A cor 2 predominará quando:

[Ind-red] / [Ind-ox] = 10

Portanto, o intervalo de potencial que define a zona de transição é:

E = Eo 0,0592 / n

Quando n=1

Eo+ 0,0592-0,0592

A variação do potencial ao redor do ponto de equivalência deve ser maior que 0,118 V.

Por exemplo, na titulação de Fe2+ com Ce4+, o indicador deve mudar de coloração entre os limites

de 0,88 e 1,28 V para assegurar um erro do indicador não maior que 0,1 %.

Exemplo: ferroína (Ef = 1,06 V)

1,06+ 0,0592-0,0592

Ferroína (n = 2)

1,00 1,12

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LISTA DE EXERCÍCIOS

1) Calcule o potencial de eletrodo quando um eletrodo de mercúrio é imerso em uma solução de:

a) Hg(NO3)2 0,040 mol/L (E = 0,813 V)

b) Hg2(NO3)2 0,040 mol/L (E = 0,747 V)

c) KCl 0,040 mol/L saturado com Hg2Cl2 (E= 0,340 V)

d) Hg(SCN)2 0,040 mol/L (E = 0,664 V)

Dados:

Hg2+

+ 2e-

Hg(l) Eo = 0,854 V

Hg22+

+ 2e-

2 Hg(l) Eo = 0,788 V

Hg2Cl2

Hg22+

+ 2 Cl- Kps = 1,2 x 10

-18

Hg2+

+ 2 SCN-

Hg(SCN)2 Kf = 1,8 x 10

17

2) Calcule o potencial de eletrodo quando um eletrodo de platina é imerso em uma solução que é:

a) 0,075 mol/L em Fe2(SO4)3 e 0,060 mol/L em FeSO4 (E = 0,795 V)

b) 0,244 mol/L em V3+, 0,414 mol/L em VO2+ e 1 x 10-5 mol/L em NaOH (E = -0,693 V)

c) 0,117 mol/L em K4Fe(CN)6 e 0,333 mol/L em K3Fe(CN)6 (E = 0,387 V)

d) 0,0774 mol/L em UO22+, 0,0507 mol/L em U4+ e 10-4 mol/L em HClO4 (E = -0,134 V)

e) saturada com hidrogênio a 1 (uma) atmosfera e tem um pH de 3,50 (E = -0,207 V)

f) 0,0627 mol/L em S2O32- e 0,0714 mol/L em S4O6

2- (E = 0,117 V)

Dados:

Fe3+

+ e-

Fe2+

Eo = 0,771 V

VO2+

+ 2 H+ + e

-

V3+

+ H2O Eo = 0,359 V

Fe(CN)63-

+ e-

Fe(CN)64-

Eo = 0,360 V

UO22+

+ 4 H+ + 2 e

-

U4+

+ 2 H2O Eo = 0,334 V

2 H+ + 2 e

-

H2 (g) Eo = 0,000 V

S4O62-

+ 2 e-

2 S2O32-

Eo = 0,080 V

3) Indique se cada semi-cela comporta-se como anodo ou catodo quando acoplada ao eletrodo

padrão de hidrogênio numa cela galvânica. Calcule o potencial da cela.

a) Pb / Pb2+ (2,0 x 10-4 mol/L) (anodo, E = 0,235 V)

b) Pt / Sn4+ (0,20 mol/L), Sn2+ (0,50 mol/L) (catodo, E = 0,142 V)

c) Pt / Sn4+ (1,0 x 10-6 mol/L), Sn2+ (0,50 mol/L) (anodo, E = 0,0147 V)

d) Ag / AgBr(s), Kbr (1,0 x 10-4 mol/L) (catodo, E = 0,310 V)

e) Ag / Ag(CN)2- (0,20 mol/L), CN- (1,0 x 10-6 mol/L) (catodo, E = 0,360 V)

f) Pt / Ti3+ (0,30 mol/L), TiO2+ (0,10 mol/L), H+ (0,20 mol/L) (anodo, 0,012 V)

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g) Ag / Na3[Ag(S2O3)2] (0,010 mol/L), Na2S2O3 (0,080 mol/L) (catodo, E = 0,0285 V)

Dados:

2 H+ + 2 e

-

H2(g) Eo = 0,000 V

Pb2+

+ 2 e-

Pb(s) Eo = -0,126 V

Sn4+

+ 2 e-

Sn2+

Eo = 0,154 V

AgBr + e-

Ag(s) + Br- E

o = 0,073 V

Ag(CN)2- + e

-

Ag(s) + 2 CN- E

o = -0,310 V

TiO2+

+ 2 H+ + e

-

Ti3+

+ H2O Eo = 0,099 V

Ag(S2O3)23-

+ e-

Ag(s) + 2 S2O32-

Eo = 0,017 V

4) Calcule o potencial de cada uma das celas seguintes. Indique se cada cela, como descrita, é

galvânica ou eletrolítica:

a) Pb / PbSO4(s), SO42- (0,20 mol/L) // Sn2+ (0,150 mol/L), Sn4+ (0,250 mol/L) / Pt

(E = 0,49 V, galvânica)

b) Pt / Fe3+ (0,010 mol/L), Fe2+ (0,0010 mol/L) // Ag+ (0,0350 mol/L) / Ag

(E = -0,117 V, eletrolítica)

c) Cu / CuI(s), KI (0,010 mol/L) // KI (0,20 mol/L), CuI(s) / Cu

(E = -0,0774 V, eletrolítica)

d) Hg / Hg2Cl2(s), HCl (0,050 mol/L) // HCl (1,50 mol/L), Hg2Cl2(s) / Hg

(E = -0,087 V, eletrolítica)

e) Pt / UO22+ (0,10 mol/L), U4+ (0,010 mol/L), H+ (1,0 x 10-6 mol/L) // AgCl(s), KCl (1,0 x 10-4

mol/L) / Ag (E = 0,806 V, galvânica)

f) Pt / VO2+ (0,250 mol/L), V3+ (0,10 mol/L), H+ (1,0 x 10-3 mol/L) // Tl3+ (0,10 mol/L), Tl+

(0,050 mol/L) / Pt (E = 1,23 V, galvânica)

g) Ag / AgBr(s), Br- (0,040 mol/L) // H+ (1,0 x 10-4 mol/L) / H2 (0,90 atm), Pt

(E = -0,391 V, eletrolítica)

h) Pt / Cr3+ (0,050 mol/L), Cr2+ (0,0250 mol/L) // Ni2+ (0,010 mol/L) / Ni

(E = 0,081 V, galvânica)

I) Ag / Ag(CN)2- (0,240 mol/L), CN- (0,10 mol/L) // Br2 (1,0 x 10-3 mol/L), KBr (0,20 mol/L) /

Pt (E = 1,268 V, galvânica)

Dados:

PbSO4(s) + 2 e-

Pb(s) + SO42-

Eo = -0,350 V

Sn4+

+ 2 e-

Sn2+

Eo = 0,154 V

Fe3+

+ e-

Fe2+

Eo = 0,771 V

Ag+ + e

-

Ag Eo = 0,799 V

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CuI + e-

Cu + I- E

o = -0,185 V

Hg2Cl2 + 2e-

2 Hg(l) + 2 Cl- E

o = 0,268 V

UO22+

+ 4 H+ + 2 e

-

U4+

+ 2 H2O Eo = 0,334 V

AgCl + e-

Ag(s) + Cl- E

o = 0,222 V

VO2+

+ 2 H+ + e

-

V3+

+ H2O Eo = 0,359 V

Tl3+

+ 2 e-

Tl+ E

o = 1,250 V

AgBr + e-

Ag(s) + Br- E

o = 0,073 V

2 H+ + 2 e

-

H2(g) Eo = 0,000 V

Cr3+

+ e-

Cr2+

Eo = -0,408 V

Ni2+

+ 2 e-

Ni(s) Eo = -0,250 V

Ag(CN)2- + e

-

Ag(s) + 2 CN- E

o = -0,310 V

Br2 + 2 e-

2 Br- E

o = 1,087 V

5) A constante de produto de solubilidade (Kps) do Ag2SO3 é 1,5 x 10-14. Calcule Eo para a semi-

reação: (Eo = 0,390 V)

Ag2SO3(s) + 2 e- 2 Ag(s) + SO3

2-

Dados:

Ag+ + e

-

Ag Eo = 0,799 V

6) Calcule Eo para a semi-reação: ZnY2- + 2 e- Zn(s) + Y4- (E

o = -1,25 V)

Dados: Zn2+

+ 2 e-

Zn(s) Eo = -0,763 V

Zn2+

+ Y4-

ZnY2-

Kf = 3,2 x 1016

7) Calcule a constante de equilíbrio de cada uma das reações seguintes:

a) Cu(s) + 2 Ag+ Cu2+ + 2 Ag(s) (K = 4,06 x 10

15)

b) 2 Fe3+ + 3 I- 2 Fe2+ + I3

- (K = 8,69 x 107)

c) 2 MnO4- + 3 Mn2+ + 2 H2O

5 MnO2 + 4 H+ (K = 7,50 x 1046

)

d) 2 MnO4- + 5 HNO2 + H+

2 Mn2+ + 5 NO3- + 3 H2O (K = 1,92 x 10

96)

Dados:

Cu2+

+ 2 e-

Cu Eo = 0,337 V

Ag+ + e

-

Ag Eo = 0,799 V

Fe3+

+ e-

Fe2+

Eo = 0,771 V

I3- + 2 e

-

3 I- E

o = 0,536 V

MnO4- + 4 H

+ + 3 e

-

MnO2(s) + 2 H2O Eo = 1,695 V

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MnO4- + 8 H

+ + 5 e

-

Mn2+

+ 4 H2O Eo = 1,510 V

NO3- + 3 H

+ + 2 e

-

HNO2 + H2O Eo = 0,940 V

8) Calcule o potencial eletródico resultante da mistura de 50,00 mL de uma solução de U4+ 0,050

mol/L com os seguintes volumes de solução de MnO4- 0,02 mol/L:

a) 10,00 mL (E = 0,316 V)

b) 50,00 mL (E = 1,174 V)

c) 60,00 mL (E = 1,500 V)

Obs: Considere [H+] = 1,00 mol/L

Dados:

UO22+

+ 4 H+ + 2 e

-

U4+

+ 2 H2O Eo = 0,334 V

MnO4- + 8 H

+ + 5 e

-

Mn2+

+ 4 H2O Eo = 1,510 V

9) Calcule o potencial eletródico das seguintes misturas, considerando [H+] = 0,5 mol/L quando

necessário:

a) 50,00 mL de solução 0,100 mol/L em Fe2+ com 15,00 mL de solução 0,10 mol/L em Cr2O72-

(E = 1,273 V)

b) 10,00 mL de solução 0,050 mol/L em MnO4- com 15,00 mL de solução 0,25 mol/L em Fe2+

(E = 0,789 V)

c) 50,00 mL de solução 0,100 mol/L em Fe(CN)64- com 10,00 mL de solução 0,050 mol/L em

Tl3+ (E = 0,324 V)

d) 50,00 mL de solução 0,100 mol/L em V2+ com 60,00 mL de solução 0,050 mol/L em Sn4+ (E

= 0,133 V)

Dados:

Fe3+

+ e-

Fe2+

Eo = 0,771 V

MnO4- + 8 H

+ + 5 e

-

Mn2+

+ 4 H2O Eo = 1,510 V

Cr2O72-

+ 14 H+ + 6 e

-

2 Cr3+

+ 7 H2O Eo = 1,330 V

Fe(CN)63-

+ e-

Fe(CN)64-

Eo = 0,360 V

V3+

+ e-

V2+

Eo = -0,256 V

Tl3+

+ 2 e-

Tl+ E

o = 1,250 V

Sn4+

+ 2 e-

Sn2+

Eo = 0,154 V