Derrida e o Pensamento Da Desconstrução _ Revista IHU Online #333

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    ISSN 1981-8769 ( impresso)

    ISSN 1981-8793 (online)

    333Ano X

    14.06.2010

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    Derrida e o pensamento da desconstruoPartindo da filosofia de Jacques Derrida, Paulo Csar Duque Estrada debate a questo dosujeito, e explica que a desconstruo o pensamento que busca a origem e os limites paraa pergunta o que ?

    Por: Mrcia Junges

    De acordo com Paulo Csar Duque Estrada, a desconstruo consiste em um pensamento sempre comprometidoem pensar a origem e os limites da questo o que ?. E completa: A desconstruo nos convida a realizar aheterogeneidade que habita toda identidade. Recuperando ideias de Jacques Derrida, acentua que, para essefilsofo, nada existe em si mesmo, enquanto tal, como um tomo indiv isvel anterior s referncias que

    possam ser feitas a ele. As afirmaes fazem parte da entrevista a seguir, concedida por e-mail IHU On-Line.

    Duque Estrada o conferencista de 17-06-2010 do Ciclo de Estudos Filosofias da Diferena Pr-Evento do XISimpsio Internacional IHU: O (des)governo biopoltico da vida humana, com o tema Derrida e o pensamentoda desconstruo. A programao completa do ev ento pode ser conferida em http://migre.me/OK1L. Aapresentao ser feita a partir de uma problemtica especfica, a questo do sujeito, ou seja, como fica osujeito no pensamento de Derrida, qual o seu lugar, se que ele tem algum ou, antes, se ele foi ultrapassado,eliminado. Graduado em Histria pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), mestre edoutor em Filosofia. O mestrado foi realizado na PUC-Rio, e o doutorado no Boston College, nos Estados Unidos. ps-doutor pela New School for Social Reserach, tambm nos EUA. Atualmente, leciona no departamento deFilosofia da PUC-Rio e pr-reitor de ps-graduao e pesquisa dessa instituio. Organizou as obras Espectros deDerrida(Rio de Janeiro: NAU/PUC-Rio, 2008), Desconstruo e tica: ecos de Jacques Derrida(So Paulo:Loyola/PUC-Rio, 2004) es Margens: a propsito de Derrida(So Paulo: Loyola, 2002).

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line - Em que aspectos o pensamento de Derrida uma filosofia da diferena?

    Paulo Csar Duque Estrada -O tema da diferena em Derrida encontra-se intimamente relacionado suatentativa de viabilizar um pensamento para alm de uma grande iluso que ele chama, com um termo genrico,de metafsica da presena. Trata-se, na verdade, de um pressuposto - metafsico por excelncia, mas que nocomanda apenas os discursos filosficos - em relao ao qual Derrida nos convida a problematizar. Numa palavra,o pressuposto ilusrio de um significado existindo em si mesmo, independentemente da rede referencial designificantes que venha a se referir a ele. Como se o significado pr-existisse referncia que um determinadodiscurso venha a fazer a ele. O tema da diferena encontra aqui a sua raiz. Segundo Derrida, nada existe em simesmo, enquanto tal, como um tomo indiv isvel anterior s referncias que possam ser feitas a ele.

    IHU On-Line - O que podemos compreender por pensamento da desconstruo?

    Paulo Csar Duque Estrada -Seguramente no se trata de um mtodo, o mtodo desconstrutivo como s vezesse ouve. No se trata tambm de uma teoria previamente construda sobre o ser, as coisas em geral, o homem, arazo, a histria etc. O trabalho de pensamento, quando se fala em pensamento da desconstruo, nada tem aver com a subordinao do que pensado a uma teoria prvia. Trata-se, antes, de um trabalho de pensamentoque procura investigar os limites de toda teorizao e, portanto, de toda pretenso de totalizao que se

    encontra operante em um discurso. O prprio Derrida diz em algum lugar que a desconstruo consiste em umpensamento sempre comprometido em pensar a origem e os limites da questo o que ?.

    IHU On-Line - Por que voc considera tico o pensamento desse filsofo?

    Paulo Csar Duque Estrada -Antes de mais nada, uma observao sobre a palavra tica. Em relao aopensamento de Derrida, ele tem um emprego muito especfico, e o prprio Derrida deixa em aberto se,posteriormente, se deveria buscar alguma outra palavra para substitu-la. De qualquer modo, a palavra ticaque pode qualificar o pensamento derridiano aponta para o fato absolutamente originrio da abertura ao outro.Isto j se pode entender desde os textos considerados mais tericos como Gramatologia (So Paulo: Perspectiva,1973) por exemplo; algo que eu antecipei na resposta primeira pergunta: nada existe que no seja em relao,no mbito de uma estrutura referencial, etc. tica se refere aqui a esta radical abertura ao outro. Coloco otermo entre aspas porque, de fato, esta abertura ao outro diz respeito a tudo, no se limitando, portanto, aohomem. De qualquer modo, por se caracterizar como um pensamento comprometido com uma v igilncia, que sequer permanente e incondicional, contra as inumerveis formas de denegao desta abertura ao outro, ou ao que outro ou de outra ordem, pode-se lanar mo da palavra tica, contanto que se deixe claro o sentidoespecfico de seu emprego aqui.

    IHU On-Line - Pode-se falar de uma virada tica em seus escritos, por qu?

    Paulo Csar Duque Estrada -Como disse acima, por ser atravessado, desde o incio, pela experincia daalteridade, isto , da abertura de tudo ao que outro, o pensamento de Derrida , desde o seu incio, marcadopor uma atitude, uma postura, que poderamos entender como sendo da ordem de uma tica radical, se podemosdizer assim. A chamada virada tica pode, contudo, cumprir uma funo pedaggica quando se pretende buscar

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    uma viso de conjunto da obra de Derrida j que, num determinado momento, os seus textos passam, com maisfrequncia, a se voltar para temas mais rapidamente reconhecidos como de natureza tico-poltica; por exemplo,o feminismo, a pena de morte, o direito internacional, o colonialismo, a globalizao, o racismo, a Universidadeetc. Todos estes temas so, no entanto, tratados em absoluta conformidade com o que se l nos seus textosconsiderados mais tericos.

    IHU On-Line - E o que seria uma tica da desconstruo?

    Paulo Csar Duque Estrada -No existe uma teoria tica da desconstruo previamente construda. A tica dadesconstruo s existe como um procedimento, uma postura de pensamento comprometida em responder sinvestidas dogmticas de toda ordem que excluem ou impedem a experincia do outro que, como uma sombra,acompanha os discursos do mestre ou do colono, das mais refinadas hermenuticas ou da brutalidade pura e

    simples, a sugerir, com a fragilidade de um silencioso talvez, que tudo poderia ser de outra ordem.IHU On-Line - Em que sentido este tipo de pensamento caracterstico da ps-modernidade?

    Paulo Csar Duque Estrada -Derrida nunca aceitou o selo de fi lsofo ps-moderno. Contudo, se, porps-moderno, entendemos a retirada de cena de qualquer fundamento como centro do pensamento, como porexemplo o sujeito, que ser o ponto de referncia da minha apresentao, ento, nesse caso, a desconstruoestaria dentro de uma configurao ps-moderna. Se, contudo, o termo ps-moderno apontar para uma ideiade que algo ficou em definitivo para trs, superado, terminado, liquidado, ento o termo nada tem a ver com adesconstruo.

    IHU On-Line - De que forma a desconstruo funciona como um encorajamento pluralidade e alteridade?

    Paulo Csar Duque Estrada -Derrida no um filsofo da pluralidade. Pluralidade significa uma coexistncia deinmeras unidades atmicas, auto-idnticas, configurando o que ele mesmo chamou de inumerveis clulasnarcsicas. A prpria ideia de alteridade impede que se pense desta forma. Se no existe o simples, o indiv izvel,o enquanto tal, porque tudo, radicalmente tudo, s existe na relao com o outro. Isto significa que todaidentidade diferente de si mesma; uma cultura, uma pessoa, uma lngua, uma identidade de qualquer tipo, sempre e j diferente de si mesma. Neste sentido, Derrida no um filsofo da pluralidade, mas sim daheterogeneidade. O termo alteridade vai de par com a heterogeneidade, e no com a pluralidade que, emverdade, insiste numa proliferao de estruturas fixas e auto-idnticas. A desconstruo nos convida a realizar aheterogeneidade que habita toda identidade. Trata-se, portanto, de uma defesa da heterogeneidade, no dapluralidade.

    IHU On-Line - Nesse sentido, qual a influncia de Lvinas na obra de Derrida?

    Paulo Csar Duque Estrada -Lvinas constri, principalmente atravs de uma longa meditao sobre Heidegger, um caminho de afastamento da ontologia, fundada por uma lgica do mesmo, para a tica, que seria fundadapela lgica do outro. Permito-me, quanto a isto, fazer uma referncia ao meu artigo A questo da alteridadena recepo lev inasiana de Heidegger Veritas. Porto Alegre. Vol. 51, n.2, 2006. Este movimento do pensamentolevinasiano teve um importante impacto no pensamento de Derrida que, dentre outras coisas, ir radicalizar aexperincia levinasiana da alteridade, estendendo-a ao estar em relao com em geral.

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