Desidério Murcho - A Argumentação Em Filosofia
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Abril de 1997 Lgica
A argumentao em filosofia
Desidrio Murcho
Oferecem-se neste apndice alguns instrumentos complementares para a
redaco e avaliao de argumentos. Os instrumentos aqui expostos so
particularmente importantes para a redaco e avaliao de ensaios
argumentativos em filosofia, onde o risco de errar no amenizado pelos
dados da experincia. Por este motivo, a nfase toda colocada nos
argumentos dedutivos. O objectivo oferecer aos estudantes, sobretudoos de filosofia, a possibilidade de exercer as suas faculdades crticas,
argumentando a favor do que pensam acerca dos mais diversos
problemas, teses e argumentos filosficos.
A estrutura deste apndice a seguinte: as trs primeiras seces tratam
da validade de argumentos e da avaliao de condicionais as duas
seces seguintes apresentam duas falcias comuns que tm de ser
detectadas e evitadas introduz-se depois algum simbolismo lgico, assim
como algumas regras de transformao, teis para avaliar alguns
argumentos filosficos o apndice termina com dois exemplos de
argumentos filosficos que o leitor j pode agora avaliar, com osinstrumentos oferecidos ao longo deste livro.
Validade e correco
Um argumento dedutivo vlido qualquer argumento dedutivo que
obedea s regras da lgica, algumas das quais foram apresentadas no
captulo VI. A definio semntica de argumento dedutivo vlido a
seguinte: um argumento dedutivo vlido se, e somente se, nos casos
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em que as premissas so verdadeiras, a concluso tambm verdadeira.
Por exemplo:
Se o conhecimento possvel, os cpticos esto enganados.O conhecimento possvel.Logo, os cpticos esto enganados.
Dada a verdade das duas premissas, a concluso tambm verdadeira.
Claro que se as premissas forem falsas, a concluso tanto pode ser falsa
como verdadeira. A validade dedutiva do argumento s nos garante a
verdade da concluso caso as premissas sejam verdadeiras. Por outras
palavras, um argumento dedutivo vlido garante que nunca podemos ter
as premissas verdadeiras e a concluso falsa.
Considere-se agora o seguinte argumento:
O mundo exterior existe.O mundo exterior no existe.Logo, Deus existe.
Pela definio dada, este argumento vlido, apesar de poder parecer ocontrrio. A indeciso nasce do facto de no ser possvel atribuir a
verdade simultaneamente s duas premissas, porque estas so
inconsistentes. Mas j se torna claro o facto de este argumento ser vlido
se fizermos a seguinte considerao: precisamente pelo facto de as
premissas no poderem nunca ser simultaneamente verdadeiras, segue-
se que nunca podemos ter as premissas verdadeiras e a concluso falsa.
Logo, o argumento vlido, pois isso precisamente que caracteriza os
argumentos vlidos.
Considere-se este outro argumento:
Deus existe.Logo, o mundo exterior existe ou o mundo exterior no existe.
primeira vista pode parecer que este argumento no vlido. Mas se
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As condicionais so canonicamente expressas na forma Se..., ento....
Mas a verdade que existem muitas formas de exprimir condicionais.
Esta seco oferece uma lista de algumas dessas formas.
O leitor deve recordar as regras 2, 4 e 6, assim como a regra C4: aclareza na exposio dos seus argumentos fundamental. Algumas das
formas de exprimir condicionais so de evitar, pois s servem para
obscurecer o que de outra forma seria uma condicional facilmente
compreensvel e tambm facilmente criticvel. Esta seco til para
avaliar argumentos cuja estrutura lgica est escondida (geralmente
atrs de uma hecatombe lexical que impede o leitor de pensar, isto , de
avaliar criticamente o que o autor est a afirmar).
O primeiro facto: muitas vezes, o ento elidido, como em
Se Deus no existe, a tica no possvel.
que significa precisamente o mesmo que
Se Deus no existe, ento a tica no possvel.
Outros factos menos evidentes:
Se A, ento B
pode exprimir se como1. A somente se B.2. A s se B.3. A implica B.4. A s no caso de B.5. A s na condio de B.6. A condio suficiente de B.7. B condio necessria de A.8. B se A.9. S se B que A.
No se deve usar a lista acima para fazer variar a forma como, ao longo
de um ensaio, se exprimem condicionais. Lembre-se da regra 6, que se
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aplica tambm s partculas lgicas: se comeou por dizer Se A, ento
B, no afirme de seguida C s se D, para tornar o texto variado afirme
antes Se C, ento D. Um texto no um espectculo de variedades e a
elegncia literria no vale nada se for conseguida custa da clareza,
porque uma forma luminosa para um contedo obscuro ( como umautomvel com uma excelente pintura, mas com o motor avariado).
O que costuma fazer mais confuso so as noes de condio
necessriae condio suficiente.A lista acima permite saber
exactamente o que uma condio suficiente (a antecedente de uma
condicional) e uma condio necessria (a consequente de uma
condicional). Mas os exemplos seguintes tornaro claras estas noes:
Estar inscrito em Filosofia uma condio necessria para passar a Filosofia. Mas estarinscrito em Filosofia no uma condio suficiente para passar a Filosofia.
Ter 10 valores uma condio suficiente para passar a Filosofia. Mas ter 10 valores no uma condio necessria para passar a Filosofia.
Argumentos e condicionais
Muitos argumentos so expostos sob a forma de uma condicional, como
Se no existir livre-arbtrio, a responsabilidade moral no possvel.
Para avaliar a verdadede uma condicional usam-se precisamente as
mesmas regras que se usam para avaliar a validadede um argumento. Adiferena consiste agora em tomar a antecedente da condicional em vez
das premissas, e a sua consequente em vez da concluso. Assim, uma
condicional pode funcionar como um argumento vlido se, e somente se,
nos casos em que a antecedente verdadeira, a consequente tambm
for verdadeira. Por outras palavras, uma condicional pode funcionar como
um argumento vlido se, e somente se, for uma verdade lgica.
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Note-se que uma condicional pode ter antecedentes ou consequentes
complexos:
1. Se Deus e o mundo existem, ento Deus existe.2. Se Deus existe, ento Deus ou o mundo existem.
Nos casos de condicionais com antecedentes ou consequentes
complexos, aplica-se a mesma distino que j introduzimos
anteriormente: para que se aceite uma condicional verdadeira como
relevante necessrio que a sua antecedente possa ser verdadeira e
que a sua consequente possa ser falsa. As duas condicionais anteriores
so verdadeiras e relevantes, mas as duas seguintes no so relevantes,apesar de serem verdadeiras:
1. Se o mundo exterior existe e o mundo exterior no existe, Deus existe.2. Se Deus existe, ento o mundo exterior existe ou o mundo exterior no existe.
Falcia da inverso da condicional
Uma falcia comum, no exposta na lista do autor, a seguinte:
Se no existir livre-arbtrio, a responsabilidade moral no ser possvel.Logo, se a responsabilidade moral no for possvel, no existir livre-arbtrio.
A forma lgica desta falcia a seguinte:
Se A, ento B.Logo, se B, ento A.
fcil verificar que se trata de uma falcia com o exemplo seguinte, que
tem a mesma forma lgica do que o anterior:
Se nasceste em Lisboa, s portugus de naturalidade.Logo, se s portugus de naturalidade, nasceste em Lisboa.
Repare-se no mtodo informal que usei aqui para tornar evidente que
este argumento falacioso: mantendo a sua forma lgica intacta,
substitu as frases de maneira a obter uma premissa verdadeira e uma
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concluso falsa. O leitor com poucos conhecimentos de lgica pode
sempre usar este mtodo para testar a validade dos seus argumentos, ou
dos de outrem. Se conseguir imaginar um caso em que todas as
premissas so verdadeiras e a concluso falsa, o argumento ser
invlido. Mas se no o conseguir, isso no implica que o argumento sejavlido: pode sempre haver uma possibilidade em que o leitor no pensou.
A nica forma de saber inequivocamente que um argumento vlido
atravs de processos formais, sintcticos ou semnticos, que no cabe
aqui explicar. Mas as regras 24-29 abrangem as formas de raciocnio
simples mais comuns.
Falcia da causa nica
Esta talvez a falcia mais popular. Como uma falcia do clculo de
predicados, Weston no a incluiu na sua lista. Mas to comum que o
leitor deve estar alertado, no s para no a cometer inadvertidamente
nos seus argumentos, como para poder detect-la nos argumentos das
outras pessoas.
Todas as coisas tm uma causa.Logo, tem de haver algo que seja a causa de tudo.
Este argumento usado em particular para defender a existncia de
Deus, que depois identificado com a causa de todas as coisas. Mas amesma forma lgica pode surgir inadvertidamente em vrios argumentos.
Verifica-se que este argumento invlido considerando os seguintes
exemplos, que tm a mesma forma lgica do que o anterior:
Todas as pessoas tm uma me.
Logo, tem de haver algum que seja a me de toda a gente.Todos os nmeros tm um sucessor.Logo, tem de haver um nmero que seja o sucessor de todos os nmeros.
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Nestes dois argumentos, as premissas so verdadeiras e as concluses
so falsas. Logo, na sua forma geral,
Todos os x tm um y.Logo, tem de haver um y para todos os x.
a premissa pode ser verdadeira e a concluso falsa. Logo, esta forma de
argumento dedutivo no vlida.
Esta falcia particularmente clara para as pessoas que sabem lgica
formal, sendo conhecida por falcia da inverso dos quantificadores.
Smbolos lgicos
Apresento a seguir alguns smbolos lgicos e algumas regras de
transformao bsicas, que podero servir como uma introduo lgica.
Por outro lado, ajudaro qualquer pessoa a exercer o seu poder crtico
sobre argumentos informais onde ocorra algum deste simbolismo. Os
argumentos dedutivos podem ser muito complexos, e tambm aqui osimbolismo ajuda, porque torna mais simples a sua avaliao.
As palavras-chave que ocorrem nos argumentos dedutivos, e das quais
depende a sua validade, como se,...ento..., e, ou e no,
so operadores lgicose simbolizam-se assim:
1. Se A, ento B: A B (ou: A B)2. No A: A (ou: ~A)3. A ou B: A B4. A e B: A B (ou: A & B)5. A se e somente se B (ou: A se e s se B): A B6. Todos os objectos x tm o predicado P: xPx7. Existe pelo menos um objecto x que tem o predicado P: xPx
As regras de transformao permitem-nos mudar as frases existentes
para outras logicamente equivalentes. Conhecer algumas delas torna-se
importante para avaliar argumentos que no pertencem a nenhuma das
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formas vlidas apresentadas no Captulo VI, como:
Ou Deus existe, ou a vida no tem sentido.Mas a vida tem sentido.Logo, Deus existe.
Listam se a seguir algumas regras para realizar estas transformaes.Cada regra consiste num par de frmulas, separadas por . Este smbolo
significa que o que est sua esquerda pode substituir-se pelo que est
sua direita e vice versa.
T1. A AT2. A B A BT3. A B B A
T4. (A B) A BT5. A B (A B) (B A)T6. A B (A B) (A B)T7. (A B) (A B) (A B)T8. A B A BT9. A B B AT10. (A B) A BT11. (A B) A BT12. A B B A
Retomando o exemplo dado acima, agora fcil compreender que aforma do argumento original era
B AALogo, B.
Mas, as regras T9 e T2 permitem substituir a primeira premissa por A
B:
A BALogo, B
agora claro que se trata de um caso simples demodus ponens:
Se a vida tem sentido, Deus existe.
A vida tem sentido.Logo, Deus existe.
Dois exemplos
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A ambiguidade, ou equivocidade, j foi abordada na regra 7 e surge
tambm na lista de falcias (falcia da palavra ambgua). Mas esta falcia
adquire por vezes contornos de uma razovel complexidade, que
justificam um tratamento mais detalhado.
No fundo, trata se sempre de usar uma certa expresso ambgua ou
equvoca, mudando depois a sua interpretao quando confrontados com
argumentos desfavorveis. Repare se na seguinte ideia:
P. O filsofo, e consequentemente a filosofia, no algo que exista independentementede uma histria, de uma cultura, de uma lngua antes uma manifestao de um tempo,de um lugar, de uma mentalidade, de uma sociedade.
Esta ideia, aparentemente pacfica, por vezes usada como premissa
para a concluso seguinte:
C. A filosofia est de tal forma contextualizada historicamente que tem de ser avaliada nocontexto histrico que a legitima. O nosso trabalho consiste na descrio contextualizadado que os filsofos escreveram, e no na discusso das teses, argumentos e problemasque eles discutiram no podemos concordar nem discordar, no podemos argumentarnem discutir com os filsofos, porque isso seria no compreender o carcter histrico da
filosofia, seria descontextualizar a filosofia da sua histria.
A ideia que serve de premissa a esta tese acerca do carcter histrico da
filosofia ambgua e pode substanciar-se em duas teses muito
diferentes:
P1. As teses, os argumentos e os problemas da filosofia tm uma histria e soinfluenciados por diversos factores histricos, tal como os filsofos.
P2. A teses, os problemas e os argumentos da filosofia s so respectivamenteverdadeiras, pertinentes e vlidos no tempo em que foram proferidos, mas no depoisdisso.
O leitor percebe imediatamente que a tese P1 verdadeira, mas trivial. E
que a tese P2 de tal maneira forte, que so necessrios argumentos
poderosos para nos convencer da sua verdade.
Acontece que a concluso C s pode derivar-se da tese P2, que por ser
to forte precisa de ser cuidadosamente defendida mas no da tese P1,
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que realmente no precisa de ser defendida, por ser trivial.
O que se observa por vezes uma estratgia que consiste em defender
C partindo da premissa P. Confrontado com argumentos simples que
contrariam P2, que na realidade a nica interpretao de P quesustenta C, o autor da tese historicista defende-se afirmando que tem P1
em mente, mas no P2. Mas acontece que P1 no implica C. Repare-se
que a estratgia exactamente a mesma daquela que foi discutida na
regra 7 e na falcia da palavra ambgua apenas um pouco mais
complicada porque a ambiguidade no reside agora sobre uma nica
palavra, mas sobre toda uma premissa.
Na realidade, tudo se torna ainda mais complicado porque em geral
nunca se chega de facto a formular claramente a tese C, mas apenas P.
Ao invs, C est a todo o instante a ser sugerida e a ser suposta, e na
verdade a teoria que sustenta todo o discurso. C o pano de fundo sobre
o qual se constri uma complicada teia de frases complexas, mas nunca
claramente expressa, pois isso mostraria imediatamente que se est a
defender a interpretao P2 e no a P1. Desta forma, cria-se a iluso
suficiente para parecer que se defende P1, que trivial, e que portanto
no levanta objeces mas retiram-se consequncias de P2.
As coisas tornam-se ainda mais complicadas quando no plano terico se
defende a filosofia como uma actividade crtica e reflexiva, mas no plano
prtico se verifica que est subjacente a tese C, que identifica afinal a
filosofia com a filologia, tornando o estudante de filosofia num antiqurio
do texto filosfico.
Com tudo o que j aprendeu com este livro, o leitor est agora em
condies de comear a discutir e a avaliar, isto , comear a pensar
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sobre os argumentos, teses e problemas filosficos.
Tomemos um exemplo:
O prprio facto de o Universo existir, com tudo o que ele contm, uma evidncia segurade que os cpticos se colocam numa perspectiva a que poderamos chamar errnea. Na
verdade, o conhecimento uma possibilidade em aberto se o Universo, ou o Todo, existe,assegurando assim a facticidade do prprio Ser e a eloquente negao do Nada. Poroutro lado, abre-se um abismo dilacerante no seio mesmo desta questo, pois a prpriaintangibilidade teortica do conhecimento se apresenta em alternativa paralela intangibilidade da perspectiva cptica, o que, convenhamos, no corresponde prpriaexistncia do Todo, nem negao do Nada.
Quero deixar como exerccio ao leitor a discusso crtica deste
argumento. Mas para isso impe-se uma ajuda.
O primeiro passo para avaliar este argumento consiste em pr a
descoberto o que realmente est a ser afirmado. O resultado desse
trabalho o seguinte:
Se o universo existe, o conhecimento possvel.Ou o conhecimento no possvel, ou os cpticos esto enganados.Mas o universo existe.
Logo, os cpticos esto enganados.
Uma vez clarificado o raciocnio realizado, j podemos discutir a sua
validade, para depois discutirmos a verdade das suas premissas e da sua
concluso. Repare-se que mesmo que este argumento seja vlido, a
concluso s tem de ser admitida como verdadeira se se admitirem como
verdadeiras todas as premissas.
Repare na forma obscura como o argumento est originalmente
expresso, escondendo o raciocnio realizado, atravs duma espcie de
espectculo de variedades lexical. O resultado desta forma de expresso
a inibio das faculdades crticas do raciocnio e a consequente
falncia da possibilidade de discusso. Se no quer que as suas ideiassejam discutidas, no as exprima se as exprimir, faa-o da forma mais
clara possvel. O objectivo a que deve dirigir-se a verdade, e no a
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iluso de que a alcanou s porque se exprimiu de forma to obscura
que ningum foi capaz de reagir criticamente ao que afirmou.
Por outro lado, quando se deparar com um argumento deste gnero, no
se deixe amedrontar, nem o recuse liminarmente como ininteligvel. Faaum genuno esforo de compreenso. Procure pr a descoberto o
raciocnio subjacente avalie a sua validade e discuta depois as suas
premissas e a sua concluso o melhor que puder. No final verificar que
ganhou duas coisas: treinou a sua capacidade crtica e, mesmo que no
tenha descoberto uma tese, um problema ou um argumento
interessantes, descobriu pelo caminho alguns erros, algumas
trivialidades, ou alguns disparates contra os quais ficou entretanto
alertado. Na procura da verdade, a descoberta do erro um passo muito
importante. ( tambm por isso que deve escrever os seus argumentos o
mais claramente possvel: para que os seus leitores possam ajud-lo a
descobrir os erros que voc no foi capaz de descobrir sozinho.)
Desidrio Murcho
Texto retirado deA Arte de Argumentar, de Anthony Weston (Lisboa: Gradiva, 1996).
http://criticanarede.com/fa_2.htmlmailto:[email protected]