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Design Emocional: Aplicação em Redesenho de Equipamento de Fisioterapia para Crianças Emotion Design: Redesign of Application in Physicotherapy Equipment for Children BOSCHETTI, Sandra Cristine; Bel.; Universidade Feevale. [email protected] GUANABARA, Andrea Seadi; Esp., Universidade Feevale. [email protected] Resumo Este artigo identifica algumas necessidades apresentadas por crianças deficientes, em especifico de causa neurológica. O estudo recai sobre a atividade fisioterápica e as possíveis alterações em equipamentos, especificamente a barra paralela e a rampa com espaldar, existentes com o objetivo de melhorar o seu uso. O conceito de Design Emocional apresenta- se de forma essencial a proposta do novo equipamento, valendo-se do lúdico e das cores, permitindo assim maior interesse e estímulo no uso do mesmo. Palavras-chave: Crianças; fisioterapia; Design Emocional. Abstract This article identifies some needs presented by children with disabilities in specific neurological cause. The study aims to physiotherapy activity and possible changes in equipment, specifically the bar and the ramp parallel with backs, existing in order to improve its use. The concept of Emotion Design presents itself in an essential way the proposed new equipment, taking advantage of the playful and the colors, thus allowing greater interest and encouragement in the use of it. Keywords: Children; physiotherapy; Emotion Design.

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Design Emocional: Aplicação em Redesenho de

Equipamento de Fisioterapia para Crianças

Emotion Design: Redesign of Application in Physicotherapy Equipment for Children

BOSCHETTI, Sandra Cristine; Bel.; Universidade Feevale.

[email protected]

GUANABARA, Andrea Seadi; Esp., Universidade Feevale.

[email protected]

Resumo

Este artigo identifica algumas necessidades apresentadas por crianças deficientes, em

especifico de causa neurológica. O estudo recai sobre a atividade fisioterápica e as possíveis

alterações em equipamentos, especificamente a barra paralela e a rampa com espaldar,

existentes com o objetivo de melhorar o seu uso. O conceito de Design Emocional apresenta-

se de forma essencial a proposta do novo equipamento, valendo-se do lúdico e das cores,

permitindo assim maior interesse e estímulo no uso do mesmo.

Palavras-chave: Crianças; fisioterapia; Design Emocional.

Abstract

This article identifies some needs presented by children with disabilities in specific

neurological cause. The study aims to physiotherapy activity and possible changes in

equipment, specifically the bar and the ramp parallel with backs, existing in order to improve

its use. The concept of Emotion Design presents itself in an essential way the proposed new

equipment, taking advantage of the playful and the colors, thus allowing greater interest and

encouragement in the use of it.

Keywords: Children; physiotherapy; Emotion Design.

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9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

Introdução

A infância caracteriza-se por um período de aprendizado. Nesse a pessoa começa a se

observar como indivíduo, a compreender o mundo que o cerca e interagir com o mesmo, de

forma produtiva, saudável e educativa. Portanto, essa é uma fase essencial na constituição do

individuo, por isso a preocupação especial existente para com a mesma.

Crianças acometidas por patologias, ocasionalmente não tem a possibilidade de

conviver em ambientes que nutram suficientemente a necessidade de conhecimento peculiar

dessa fase. Para tanto, o objetivo desse artigo consiste em apresentar o redesenho de um

equipamento de fisioterapia, bem como as bases para o mesmo, que contemple além das

necessidades físicas, as de aprendizado inerentes a essas crianças.

O desenvolvimento de um equipamento infantil envolve uma série de aspectos. Estes

dizem respeito desde a associação do lúdico por sua importância no aprendizado e

desenvolvimento do indivíduo até questões técnicas de uso e fabricação do equipamento. As

crianças são em geral um público bastante exigente e sincero com relação as suas vontades e

impressões, isso porque possuem um lado emocional bastante aguçado e valem-se desse de

modo substancial para as suas escolhas.

A metodologia dessa pesquisa partiu da revisão bibliográfica sobre as áreas inerentes

ao tema, após foi realizada a análise de similares, análise antropométrica e pesquisa junto ao

público alvo.

Necessidades Especiais

Uma Realidade Mundial

Caracterizam-se por Necessidades Especiais, de uma forma geral, todos os indivíduos

que possuem algum tipo de limitação (deficiência), seja ela física ou mental, e que por isso

necessitam de atenção diferenciada.

O Censo Demográfico de 2000 contabilizou o universo de pessoas com deficiência no

Brasil, segundo o citado abaixo:

[...] deficiência mental (11,5%); tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia (0,44%); falta

de um membro ou parte dele (5,32%); alguma dificuldade de enxergar (57,16%);

alguma dificuldade de ouvir (19%); alguma dificuldade de caminhar (22,7%);

grande dificuldade de enxergar; grande dificuldade de ouvir, grande dificuldade de

caminhar; incapaz de ouvir (0,68%); incapaz de caminhar (2,3%); incapaz de

enxergar (0,6%). (Neri et al, 2003. p. 14).

A mesma pesquisa apresentou ainda que a maior parcela da população que é atingida

por deficiências mais graves, o que, inclusive, em alguns casos leva à incapacidade funcional

do indivíduo, encontra-se na faixa etária de 0 a 4 anos, representando 57% dessa população.

(Neri et al, 2003. p. 23).

Através destas pesquisas observam-se dados relevantes no que diz respeito às

situações diárias enfrentadas por pessoas com necessidades especiais. E tais situações podem

ser resolvidas com o desenvolvimento de produtos, equipamentos e espaços que permitam a

melhoria de qualidade de vida.

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Infância e Lesões Neurológicas

Breve Panorama Bibliográfico

A infância, como período de desenvolvimento do indivíduo, foi subjudada durante

muito tempo, por diversos autores que resumiam a importância dessa somente pelo

desenvolvimento físico. Mrech (2008, p. 157) reforça essa afirmação ao dizer que “[...], o

infantil tem sido reduzido a uma mera etapa do desenvolvimento humano, com o

privilegiamento sobretudo do desenvolvimento físico”. A autora prossegue enfatizando o

quão mais importante se apresenta essa fase pois “[...] a criança é muito maior do que as

etapas de desenvolvimento estabelecidas para capturá-las”. (Mrech, 2008. p.157)

Galvão destaca a importância sobre esse desenvolvimento ao dizer que

[...] podemos identificar a existência de etapas claramente diferenciadas,

caracterizadas por um conjunto de necessidades e de interesses que lhes garantem

coerência e unidade. Sucedem-se numa ordem necessária, cada uma sendo a

preparação indispensável para o aparecimento das seguintes. (Galvão, 2002, p. 39)

Algumas crianças por serem acometidas por determinados tipos de patologias, aqui

especificamente neurológicas, acabam afastando-se de meios que nutram de forma satisfatória

a sua necessidade de conhecer para aprender. As lesões neurológicas mais comumente

observadas nos consultórios de fisioterapia, durante este estudo, são a Paralisia Cerebral (PC)

e a Síndrome de Down.

A Paralisia Cerebral segundo Hagberg, que teceu a definição aceita pela Sociedade

Internacional de Paralisia Cerebral em 1989, “[...] é o termo usado para designar um grupo de

desordens motoras, não progressivas, porém sujeitas a mudanças, resultante de uma lesão no

cérebro nos primeiros estágios do seu desenvolvimento”. (Souza, 1997, p. 5)

O indivíduo com Paralisia Cerebral apresenta muitas especificidades. Nelson (1994, p.

237) mostra que em geral o diagnóstico basicamente se refere à falta de oxigênio ou alguma

agressão relacionada ao cérebro, que ocorre no “período pré-natal (gestacional), peri-natal

(parto) ou pós-natal (após o nascimento)”. Salter (1985, apud Leite; Prado, 2004) confirma o

dito ao afirmar que a PC ocorre em “[...] qualquer condição que leve a uma anormalidade do

cérebro [...]”.

A Síndrome de Down, é um distúrbio genético, mas que também causa problemas

neurológicos no indivíduo. A Fundação Síndrome de Down (FSDOWN) define essa

Síndrome como “[...] um acidente genético, que ocorre ao acaso durante a divisão celular do

embrião. Na célula normal da espécie humana existem 46 cromossomos divididos em 23

pares. O indivíduo com Síndrome de Down possui 47 cromossomos, sendo o cromossomo

extra ligado ao par 21”. (FSDOWN, 2009)

A Síndrome de Down, portanto pode ser definida como a trissomia do cromossoma

21. Essa trissomia pode ocorrer de duas formas diferenciadas, no entanto, segundo Pueschel

(1996, p. 61) “independente do tipo, quer seja trissomia 21, translocação ou mosaicismo, é

sempre o cromossomo 21 o responsável pelos traços físicos e função intelectual limitada

observados na grande maioria das crianças com síndrome de Down”.

A utilização de artefatos auxiliares no momento de aquisição da marcha é bastante

comum nessas crianças, utilizando esses por bastante tempo até a marcha independente,

quando esta se tornar possível. Por estes motivos, correção postural e aquisição de

independência da marcha, é que a estimulação e as atividades terapêuticas corretas fazem-se

tão importantes nesse desenvolvimento.

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Fisioterapia

Fisioterapia Neurológica na Habilitação de Indivíduos

No que tange às crianças com lesões cerebrais, o tratamento realizado ocorre através

de um grupo de profissionais envolvidos: psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos,

nutricionistas, professores, médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros.

Isso é importante à medida que a criança tem a necessidade de ser integrada à sociedade. A

fisioterapia neurológica ou fisioterapia neurofuncional, aborda de forma eficaz os aspectos

ligados à motricidade dessas crianças. Esta a área da fisioterapia tem o objetivo do [...]estudo, diagnóstico e tratamento de distúrbios neurológicos que envolvam as

funções neuromotoras [...]. A fisioterapia neurofuncional induz ações terapêuticas

para recuperação de funções, entre elas a coordenação motora, a força, o equilíbrio e

a coordenação. A terapêutica em fisioterapia neurológica baseia-se em exercícios

que promovam a restauração de funções motoras, de forma a resolver deficiências

motrizes e aperfeiçoar padrões motores, [...]. (SAÚDE BRASIL, 2009).

O amparo que essa terapia oferece é essencial para o bom desenvolvimento do

indivíduo afetado pela patologia. As crianças com a Paralisia Cerebral e Síndrome de Down,

beneficiam-se desta de forma bastante ampla. A melhora da motricidade desse público é uma

das principais características observadas. A aquisição do equilíbrio e o aprendizado da marcha

são itens fundamentais para a melhora na qualidade de vida dos mesmos, e essas podem ser

alcançadas, levando em conta o nível da patologia e a aplicação das técnicas apropriadas.

Design Emocional

Emprego do Conceito Através do Brincar-Lúdico e das Cores

A emoção é algo inerente ao ser humano. Esse é o sentimento que o move, auxilia na

tomada de decisões e em alguns casos é determinante destas. Damásio confirma isso ao dizer

que

Sem exceção, homens e mulheres de todas as idades, culturas, níveis de instrução e

econômicos têm emoções, atentam para as emoções dos outros, cultivam

passatempos que manipulam suas emoções e em grande medida governam suas

vidas buscando uma emoção, a felicidade, e procurando evitar emoções

desagradáveis. (Damásio, 2000, p. 55)

De acordo com Damásio (2000), a emoção é algo onipresente, faz parte da tomada de

decisões, mesmo sob influência da razão. Possivelmente, seja essa a chave para a eficácia do

Design Emocional. Iida e Mühlenberg (2006) confirmam essa importância ao afirmar que o

uso das emoções tem interessado cada vez mais os designers devido a grande importância que

essas têm sobre as escolhas. Enfatizam ainda, que na maior parte das vezes elas sobressaem-

se aos aspectos racionais dessa.

Com o objetivo de explicar a aplicação das emoções ao design Normann divide as

mesmas de acordo com três níveis de processamento cerebral: visceral, comportamental e

reflexivo. Posteriormente ele associa de forma bastante clara esses a características do objeto:

“Design visceral > aparência; Design comportamental > prazer e afetividade do uso; Design

reflexivo > auto-imagem, satisfação pessoal, lembranças”. (Normann, 2008, p. 59)

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Verifica-se através do uso do estudo sobre o Design Emocional que esse apresenta

grande eficácia, tanto sobre o poder que exerce para à aquisição do produto quanto no

objetivo de tornar, com os estudos realizados, o uso do mesmo mais fácil.

A utilização do conceito de design emocional no trabalho apresentado auxiliará de

forma importante a questão da atratividade desse público, além de facilitar o uso do

equipamento tornando-o mais eficaz.

Assim como a emoção, o brincar é algo próprio do ser humano. O brincar e o lúdico

apresentam-se como preparatório para as posteriores situações cotidianas da vida adulta.

(Dantas, 2008, p. 115-118).

A questão do brincar e/ou lúdico constitui-se como essencial no desenvolvimento de

qualquer criança, seja ela deficiente ou não. Essas ações refletem um aprendizado importante

para a vida. No caso das crianças deficientes, pode servir inclusive como um estímulo para o

melhor desenvolvimento de alguns aspectos que a algumas crianças são inatas e a essas há

necessidade maior de estimulação, como o sentar, o andar, o falar, entre outros.

As cores também influenciam na emoção, visto que essas envolvem e estimulam o

indivíduo, física e psicologicamente. Farina et al destaca influência das cores para com o ser

humano e os efeitos que as mesmas têm sobre o cotidianos desses ao dizer que

As cores influenciam o ser humano em seus efeitos, tanto em caráter fisiológico

como psicológico, intervém em nossa vida, criando alegria ou tristeza, exaltação ou

depressão, atividade ou passividade, calor ou frio, equilíbrio ou desequilíbrio, ordem

ou desordem etc. As cores podem produzir impressões, sensações e reflexos

sensoriais de grande importância, porque cada uma delas tem uma vibração

determinada em nossos sentidos e pode atuar como estimulante ou perturbador na

emoção, na consciência e em nossos impulsos e desejos. (Farina et al, 2006, p. 2)

Portanto, verifica-se que diversas são as aplicações das cores e sua eficácia no uso,

inclusive terapêutico. Elas podem trazer sensações diferenciadas de acordo com o ambiente

em que está inserido, ou do histórico de vida da pessoa que entra em contato com elas. Isso

ocorre porque além das mudanças fisiológicas que a cor exerce, essa possui um impacto

psicológico muito forte.

Análise de Similares

Com o objetivo de aprofundamento a cerca dos equipamentos de fisioterapia foram

realizadas análises de similares. A partir de matrizes de avaliação foram analisados 5

equipamentos similares (fig. 1 a 5), entre barras paralelas e rampas com espaldar e os itens

mais importantes dessas análises são aqui referenciados.

Fonte: Autoras

Figura 1 – Similar 1 (Barra Paralela)

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Fonte: Autoras

Figura 2 – Similar 2 (Barra Paralela)

Fonte: Autoras

Figura 3 – Similar 3 (Rampa com Espaldar em “L”)

Fonte: Multimed.

Figura 4 – Similar 4 (Barra Paralela)

Fonte: Multimed.

Figura 5 – Similar 5 (Rampa com Espaldar)

- Análise Estrutural: empregam quantidade excessiva de componentes na produção, o

que dificulta os processos de montagem e desmontagem. Os materiais utilizados na confecção

dos equipamentos são: o metal e o MDF; e nos revestimentos: o polímero e o não-tecido.

Possui alto ciclo de vida já que esses são construídos em materiais resistentes, não ficam

expostos a intempéries e apresentam baixo nível de vandalismo, devido o monitoramento do

uso.

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- Análise Funcional: os similares 1, 2 e 4 (fig. 1, 2 e 4) possuem regulagens nas barras,

sendo: de a altura no similar 1, 2 e 4 (fig. 1, 2 e 4) e largura no similar 1 e 4 (fig. 1 e 4),

permitindo maior adaptabilidade do usuário. A confiabilidade é alta, pois são confeccionados

em materiais resistentes. Possui alta versatilidade para os similares 1 e 4 (fig. 1 e 4), visto que

esses são os únicos que permitem duas regulagens (largura e altura), o similar 2 (fig. 2)

apresenta versatilidade média já que possui somente uma regulagem (altura), já os similares 3

e 5 (fig. 3 e 5) avaliação mínima, por não terem regulagem. Com relação ao acabamento todos

os equipamentos obtiveram avaliação máxima, pois todos contêm superfícies antiderrapantes

sejam poliméricas nos similares 1, 2 e 4 (fig. 1, 2 e 4) ou não-tecido nos similares 3 e 5 (fig. 3

e 5). A reciclagem do produto pode ser realizada após a desmontagem e separação dos

materiais. No entanto, nos similares 1, 2, 3 e 5 (fig. 1, 2, 3 e 5) essa é mais difícil devido as

aplicações das superfícies antiderrapantes serem feitas com cola gerando resíduo e com isso

diminuindo o nível de reciclagem para médio. O similar 4 (fig. 4) por não usar cola apresenta

nível máximo de reciclagem.

- Análise Ergonômica: a praticidade e a conveniência no uso dos equipamentos foi

avaliado da mesma forma, sendo o maior grau obtido o médio para os similares 1 e 4 (fig. 1 e

4), uma vez que são os únicos que apresentam regulagem de largura e altura. A segurança, a

manutenção e o reparo apresentaram avaliação máxima para todos os similares, visto que são

confeccionados em materiais resistentes, são protegidos de intempéries, vandalismo e são

utilizados com monitoramento.

Análise Antropométrica

Para a análise antropométrica foram observadas as atividades de fisioterapia de dois

usuários do sexo masculino, sendo um deles de 2 anos de idade e 88 cm de altura e o outro de

12 anos de idade e 148 cm de altura.

As fontes para as medicas ideais foram os autores Tilley (2005, p. 2-3, 7, 16, 17, 38) e

Panero e Zelnik (2002, p. 115, 116). Através desses foi possível coletar as medidas

antropométricas estáticas específicas ao público infantil, com relação as medidas

antropométricas dinâmicas e ângulos de conforto não foram encontrados os mesmos com

relação específica ao público infantil. Portanto, as medidas utilizadas serão de acordo com o

público adulto, visto que essas medidas são basicamente as mesmas, as mudanças severas

ocorrem no que tange as medidas e alcances tendo em vista daí as medidas corporais.

Com relação ao percentil 5, no uso da barra paralela, pode-se observar através da

imagem abaixo (fig. 6) os ângulos com relação à intersecção entre o antebraço e o braço e,

especificamente, no caso do braço direito a movimentação de punho também pode ser

observada. Com relação ao braço direito o ângulo máximo de abertura confortável para o lado

interno do braço é 90º, estando esse, portanto em uma posição adequada. Ainda no braço

direito percebe-se a elevação do braço com relação ao ombro que está em 75º, bastante

próximo ao limite de 90º, tendo em vista o público apresentado é necessária intervenção no

sentido de diminuição desse ângulo. Com relação à extensão observada no braço esquerdo,

essa é uma posição que segundo as indicações é neutra e trata-se do ângulo máximo de

extensão. Ainda no braço direito pode-se observar a rotação entre braço e o punho, essa

ocorrendo para o lado interno em 44º, estando dentro da área de conforto que segundo Tilley

(2005) para esse caso é 45º.

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Fonte: Autoras

Figura 6 – Uso da barra paralela percentil 5

A próxima imagem (fig. 7) trata-se da análise do percentil 5 com relação ao uso da

rampa com espaldar, percebe-se que o ângulo entre a coxa e a perna no momento de subida de

escada é de 81º, estando portanto dentro das medidas ideais, segundo apresentado por Tilley

(2005) é de 85º de flexão.

Fonte: Autoras

Figura 7 – Uso da rampa com espaldar percentil 5

A análise do percentil 95 foi realizada somente no uso da barra paralela não houve

viabilidade de análise do uso da rampa com espaldar. Neste caso, pode ser observada na

imagem abaixo (fig. 8) ângulos com relação a movimentação do punho, no braço direito, e da

relação entre o tronco e o braço esquerdo. Tilley (2005) diz que o ideal da movimentação do

punho para parte interna é de até 45º e externa até 25º, estando a imagem apresentada com a

rotação de punho fora da área de conforto em 42º e por isso necessária intervenção. Com

relação à movimentação do braço que se encontra em abdução, Panero e Zelnik (2002) dizem

que o limite para este é de 90º encontram-se, portanto o uso dentro do ângulo de conforto,

pois este é de 55º.

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Fonte: Autoras

Figura 8 – Uso da barra paralela percentil 95

Com relação às medidas antropométricas básicas foram utilizadas referências de Tilley

(2005, p. 2, 3, 7) e para tanto geradas as informações com relação a altura e largura, mínimas

e máximas, das barras e da escada para o percentil 5 (tabela 1) e 95 (tabela 2).

Tabela 1 – Medidas antropométricas estáticas: percentil 5

Peça Medida Referência

(distância)

Dimensões

Degrau Altura Chão – pé (joelho em

flexão 90º)

81 mm

Largura Linha da coluna – pé 219 mm

Barra Altura Chão – braço

(antebraço em flexão

90º)

385 mm

Largura Ombro – palma da

mão

369 mm

Fonte: adaptado de Tilley (2005, p. 2-3)

Tabela 2 – Medidas antropométricas estáticas: percentil 95

Peça Medida Referência

(distância)

Dimensões

Degrau Altura Chão – pé (joelho em

flexão 90º)

341 mm

Largura Linha da coluna - pé 500 mm

Barra Altura Chão – braço

(antebraço em flexão

90º)

913 mm

Largura Ombro – palma da

mão

620 mm

Fonte: adaptado de Tilley (2005, p. 7)

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Análise com o Público Alvo

A pesquisa realizada teve caráter quantitativo. O questionário é composto por 16

questões objetivas, sendo 4 de múltipla escolha, foi aplicado aos responsáveis de crianças que

façam fisioterapia e tenham até 12 anos. Devido à especificidade do público a ser pesquisado

foram obtidos retorno de 53 indivíduos, sendo aplicados via internet, com a publicação de

questionário em comunidades específicas no Orkut, blogs da área da saúde, além da aplicação

em clínicas de fisioterapia e instituições de apoio a essas crianças.

Do universo de perguntas realizadas na pesquisa quatro foram essenciais e norteadoras

no desenvolvimento do trabalho, pois referiam-se a faixa etária de início da fisioterapia, a

utilização dos equipamentos estudados bem como a eficácia dos mesmos e as características

que segundo o usuário melhorariam o seu uso. Através destas pode-se constatar que o início

da fisioterapia, em geral, começa muito cedo, antes dos 2 anos de idade (68%), o que leva a

crer que isso ocorra imediatamente após o diagnóstico da patologia, também que a barra

paralela é um equipamento bastante usado por esses pacientes (42%), mas que há um número

considerável (30%) que faz uso dos dois e que com relação a eficácia do uso desses

equipamentos encontram-se satisfeitos (63%) pelo nível de melhora apresentado. No que diz

respeito aos anseios por melhorias do novo equipamento a maioria optou pela mudança de

cores (25%) e pela aplicação de brincadeiras no mesmo (22%)

Através das pesquisas realizadas pode-se chegar a um universo próprio do público

alvo, vislumbrando seu histórico, seus desejos e suas expectativas.

Seleção de Materiais

Com relação a seleção dos materiais, a escolha recaiu sobre os polímeros, foi realizada

para tanto uma pré-seleção desses materiais, essa englobou o polipropileno (PP), poliestireno

de alto impacto (PSAI), o policloreto de vinila (PVC), a acrilonitrila butadieno estireno

(ABS), o polimetacrilato de metila (PMMA), a poliamida (PA) e o policarbonato (PC). No

entanto, levando em consideração a necessidade de maior eficácia e precisão na escolha

destes, foi realizado um estudo com base em informações apresentadas por Ashby (2007) e

com auxilio de fichas técnicas dos materiais propostos, foram gerados os gráficos

apresentados a seguir

O primeiro gráfico gerado para essa seleção (fig. 9) utiliza uma relação em Módulo de

Young e Preço, uma vez que esses são dois aspectos essenciais na elaboração deste produto.

Uma vez que o primeiro relaciona-se a resistência do material e o segundo irá interferir no

preço final do equipamento.

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Fonte: adaptado de Ashby (2007)

Figura 9 – Polímeros: Preço X Módulo de Young

Conforme o gráfico acima (fig. 9) pode-se observar que no geral esses materiais

encontram-se em uma mesma zona de resistência e valores, no entanto, o policloreto de vinila

(PVC), o polimetacrilato de metila (PMMA) e a poliamida (PA) são os que apresentam

melhores desempenho com relação a resistência. A partir desse mesmo gráfico pode-se ainda

perceber que o material que apresentou melhor relação custo – benefício de acordo com os

índices demonstrados foi o policloreto de vinila (PVC). Além disso, o segundo gráfico (fig.

10) constata ainda que esse apresenta menor emissão de CO2 se comparado aos outros

polímeros, dando especial atenção aos de maior resistência mencionados anteriormente.

Fonte: adaptado de Ashby (2007)

Figura 10 – Polímeros: Módulo de Young X Emissão de CO2

Para tanto, observando a relação entre a resistência e custo do material a ser utilizado

para o desenvolvimento deste produto, o PVC apresenta-se como a melhor opção. Além das

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características apresentadas demonstra também o menor índice de emissão de CO2 em sua

produção, se comparado aos outros polímeros pré-selecionados, e alta taxa de reciclabilidade.

Resultados

Renders e Mockup

O resultado apresentado, objetiva permitir um local de fisioterapia mais alegre,

estimulante e educativo para esse público que divide seu tempo em diversos espaços médico-

hospitalares. As cores visam estimular a prática da fisioterapia, o equipamento pretende

permitir um ambiente agradável e divertido. As brincadeiras são uma solução importante,

tanto para questão da atratividade como pela questão de estímulo intelectual (fig. 13-17). As

adaptações antropométricas bem como o material empregado visam aumentar o conforto do

usuário, e por fim, a associação dos dois equipamentos permite que mesmo clínicas de

fisioterapia com espaços mais restritos disponham dos benefícios pertinentes a cada um deles.

Fonte: Autora Sandra

Figura 11 – Render barra paralela

Fonte: Autora Sandra

Figura 12 – Render rampa

Através da rotação da plataforma de suporte a barra paralela (fig. 11) vira a rampa (fig.

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12), os encaixes que sustentam o painel na barra, passam a abrigar a escada na rampa.

Fonte: Autora Sandra

Figura 13 – Render brinquedo: encaixe de formas

Fonte: Autora Sandra

Figura 14 – Render brinquedo: associação de sensações

Fonte: Autora Sandra

Figura 15 – Render brinquedo: associação de imagens

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Fonte: Autora Sandra

Figura 16 – Render brinquedo: associação de quantidades

Fonte: Autora Sandra

Figura 17 – Render brinquedo: associação de palavras

Fonte: Autora Sandra

Figura 18 – Detalhe encaixe

Os enxertos, as barras verticais e horizontais utilizam-se do mesmo sistema de fixação

apresentado no encaixe acima (fig. 18).

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Com a finalidade de comprovação do funcionamento dos sistemas de encaixe e

rotação da plataforma foi confeccionado um mockup em escala 1:2 (fig. 19 e 20), devido a

complexidade da confecção do mesmo em material polimérico esse foi feito em MDF, apesar

disso foi possível a realização de testes bem como a confirmação de que o sistema de encaixes

escolhido e projeto é funcional.

Fonte: Autora Sandra

Figura 19 – Mockup: barra

Fonte: Autora Sandra

Figura 20 – Mockup: rampa

Considerações Finais

Através do desenvolvimento do projeto apresentado nesse artigo constata-se que

pouco é feito, em termos de produtos específicos para crianças com necessidades especiais.

Por isso a relevância do desenvolvimento de um projeto que vise à melhoria na qualidade da

atividade de fisioterapia desse público.

No seu desenvolvimento levaram-se em conta questões essenciais a essas crianças,

como as adaptações antropométricas do equipamento, além das suas necessidades cognitivas,

associando ao redesenho deste produto o Design Emocional.

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A complexidade deste projeto não habitou, somente, na necessidade de adaptação

ergonômica, mas sim na necessidade de atrair o público alvo. Além disso, a proposta da

associação de dois equipamentos em um só demandou diversos experimentos e pesquisa, com

relação aos mecanismos de elevação e encaixe, para que esses fossem facilmente

manipuláveis pelo fisioterapeuta.

Apesar de todos os desafios apresentados, acredita-se que o redesenho desse

equipamento corresponde de forma eficaz as necessidades pesquisadas e constatadas. A

utilização de cores, regulagens e do lúdico foram o ponto alto do projeto. Conclui-se, por fim,

que é possível o desenvolvimento de produtos diferenciados para o público apresentado, onde

esses possam associar os cuidados físicos as suas necessidades cognitivas.

Referências

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