DESREGULAMENTAÇÃO NA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA VLADIMIR THOMAZ DE AQUINO MALVESTIO DESREGULAMENTAÇÃO NA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA PALHOÇA 2018

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

VLADIMIR THOMAZ DE AQUINO MALVESTIO

DESREGULAMENTAÇÃO NA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA

PALHOÇA

2018

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VLADIMIR THOMAZ DE AQUINO MALVESTIO

DESREGULAMENTAÇÃO NA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA

Monografia apresentada ao Curso de graduação em

Ciências Aeronáuticas, da Universidade do Sul de Santa

Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de

Bacharel.

Orientador: Prof. Cleo Marcus Garcia , Msc.

PALHOÇA

2018

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VLADIMIR THOMAZ DE AQUINO MALVESTIO

DESREGULAMENTAÇÃO NA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título

de Bacharel em Ciências Aeronáuticas e aprovada em sua

forma final pelo Curso de Ciências Aeronáuticas, da

Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 21 de Junho de 2018

_____________________________________________

Orientador: Prof. Cleo Marcus Garcia , Msc.

______________________________________________

Profª. Drª. Conceição Aparecida Kindermann

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Dedico este trabalho à minha família, pelos momentos de

ausência.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pela oportunidade de realizar mais esta conquista. Agradeço

também à minha amada mãe,Neide, e a meu amado pai, Mário, pelo apoio e confiança em

minhas decisões.

À minha amada esposa Andréa e meu amado filho Enzo, pelo incentivo e por entender os

momentos nos quais estive ausente.

Agradeço ao meu orientador, pelo apoio e dedicação no desenvolvimento e conclusão deste

trabalho,pelo qual serei eternamente grato.

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“Quando tudo tiver parecendo ir contra você,

lembre-se que o avião decola contra o vento, e não a

favor dele”.

(Henry Ford)

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RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo demonstrar o processo de desregulamentação em suas fases,

elencando benefícios e malefícios trazidos por esse processo. O trabalho caracteriza-se como

uma pesquisa descritiva, com procedimentos bibliográfico e documental com dados obtidos

por meio de livros, artigos, reportagens, regulamentos e leis. A abordagem utilizada foi

qualitativa. A análise dos dados ocorreu por meio de gráficos e quadros, analisados de acordo

com a fundamentação teórica. Conclui-se que o processo de desregulamentação no Brasil

ocorreu por meio de fases, como na desregulamentação americana. A pesquisa conclui ainda

que como vantagens as vantagens da desregulamentação foram a abertura do mercado para

novas empresas, o livre comércio, a flexibilização e redução de tarifas, o controle privado da

aviação e a contratação de funcionários. Em contrapartida, houve demissões por fechamento

de empresas despreparadas para a competição mercadológica e ainda se tem problemas de

infraestrutura. De um modo geral, o processo de desregulamentação representou um avanço

no modelo de gestão aeronáutica.

Palavras-chave: Aviação. Desregulamentação. Tarifas. Aeroportos.

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ABSTRACT

This research aimed to demonstrate the process of deregulation in its phases, listing the

benefits and harms of the process. The study is characterized as an descriptive research, with

bibliographic and documentary procedures, with data obtained at books, articles, reports,

regulations and laws, in a qualitative approach. The data analysis was set in graphs and

tables, according to the theoretical basis of the research. It was concluded that the process of

deregulation in aviation demanded a lot of work and research by the authorities and a

readjustment of the companies, which started to have free competition. It was aconcluded that

the deregulation process in Brazil occurred through phases, as well as it ocurred in American

deregulation. The research also concludes that advantages deregulation were the opening of

the market for new companies, free trade, flexibilization and reduction of rates, private

control of aviation and hiring of employees. On the other hand, there have been layoffs due to

the closure of unprepared companies and there are still infrastructure problems. In general, the

process of deregulation represented a step forward in the aeronautical management model.

Keywords: Aviation. Deregulation. Rates. Airports.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Evolução da Regulamentação no Transporte Aéreo Brasileiro.............................13

Grafico 1 – Numero de Passageiros..........................................................................................15

Grafico 2 – Valor Médio das Tarifas Aéreas............................................................................15

Figura 1 – Hub da Delta Airlines..............................................................................................20

Gráfico 3 – Episódio de Entrada no Transporte Aéreo.............................................................24

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LISTA DE SIGLAS

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social

CAB. Civil AeronauticsBoard

CADE Conselho Administrativo de Defesa Econômica

CONAC Conselho de Aviação Civil

COTAER Comissão Tecnica de Coordenacao das Atividades Aereas

CRS Central Reservation System

DAC Departamento de Aviação Civil

DoT Department of Transportation

MF Ministério da Fazenda

SBDC Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência

SDE Secretária de Direito Econômico

SEAE Secretária de Acompanhamento Econômico

SITAR Sistema Integrado de Transporte Aéreo Regional

VARIG Viação Aérea Rio Grande do Sul

VASP Viação Aérea São Paulo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................11

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA ...........................................................................................16

1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................16

1.2.1 Objetivo geral.................................................................................................................16

1.2.2 Objetivos específicos......................................................................................................16

1.3 JUSTIFICATIVA................................................................................................................17

1.4 METODOLOGIA...............................................................................................................17

1.4.1 Natureza e tipo da pesquisa...........................................................................................17

1.4.2 Materiais e métodos.......................................................................................................18

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO..................................................................................18

2 A DESREGULAMENTAÇÃO AMERICANAE A DESREGULAMENTAÇÃO NO

BRASIL..................................................................................................................... ...............19

2.1 DESREGULAMENTAÇÃO AMERICANA.....................................................................19

2.2 DESREGULAMENTAÇÃO NA REALIDADE BRASILEIRA.......................................21

2.2.1 A Regra da regulamentação (intervenção estatal) nos anos 1950 a 1960.................22

2.2.2 Regulação entre 1973 e 1986.........................................................................................23

2.2.3 Regulação aérea a partir de 1990: uma nova transformação da regulação ............23

2.2.4 A Desregulamentacão economica e seus efeitos ...........................................................25

3 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 28

REFERÊNCIAS......................................................................................................................30

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1 INTRODUÇÃO

Duas grandes reformas regulatórias marcaram o setor de transporte aéreo

domestico no Brasil desde os anos 1990, afirma Oliveira (2009). No período da “competição

controlada”, a primeira reforma implicou “maior cerceamento de estrutura e conduta de

mercado” (OLIVEIRA, 2007, p. 05). A aviação regional foi fomentada pela política pública

que tratou a aviação a partir de “mecanismos de política industrial”, conforme aponta o autor.

A segunda grande reforma foi a chamada “Politica de Flexibilizacao” da aviacao

comercial, introduzida no inicio da decada de 1990, e que resultou na quase total

desregulamentação do mercado . No decorrer destas quatro decadas de politicas

governamentais para o setor , pode-se dizer que estes foram os dois marcos

regulatorios mais notaveis , cujas caracteristicas e consequencias econo micas

influenciam fortemente o debate com relacao a regulacao do setor ainda nos dias de

hoje. (OLIVEIRA, 2007, p. 5).

Na primeira fase, então, a aviação teve o Estado como elemento regulador e que

incidiu no desenho da estrututração de uma aviação que começava a despontar no país como

mercado importante e meio de transporte progressivamente mais expressivo e relevante.

A presença do Estado representava muito representava intervenção direta, com participação nas incipientes empresas aéreas, como era o caso das empresas de

transporte aéreo postal nos Estados Unidos e da Vasp no Brasil. Ainda, interferia na

formação da infraestrutura básica do setor: construção de aeroportos, coordenação

de controle de voos e outros aspectos do desenvolvimento físico. Além disso,

representava intervenção indireta, nos moldes mais atuais e conhecidos de

regulação, sob caráter político, econômico e de segurança[…]. (SILVA, 2013, p. 37-

38).

Em outros termos, é possível dizer que o caráter político decorre do fato de o setor

ser estratégico, de defesa interna, conforme aponta Silva (2013).

Considerando o plano econômico, notavelmente a regulação se dava de modo

cíclico, em que períodos de intervenção expressiva eram seguidos por períodos de menor

regulação. Para Silva (2013),

[…]controlava-se a entrada e a saída de empresas aéreas do mercado, os preços

tarifários, eventuais descontos, as linhas aéreas a trafegar, os horários e espaços de

pouso e decolagem nos aeroportos, as cidades atendidas, o número de concorrentes em determinada rota, de forma a impedir a competição ruinosa, além de criar

subsídios públicos para a manutenção de determinadas companhias e rotas

deficitárias[…]( SILVA, 2013, p.39)

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Na segurança, diminuir ou controlar os riscos era uma precupação. Daí que se

focava a manutenção das aeronaves; a fiscalização tinha caráter permanente: era a “[…] mão

de obra altamente especializada e também intensa supervisão sobre a infraestrutura de apoio

ao voo, focando, por exemplo, a qualidade das pistas nos aeroportos é-o controle de tráfego

aéreo” (SILVA,2013, p. 39)

Na segunda fase, no esteio das políticas públicas e da tendência mercadológica, a

desregulamentação na aviação se impôs como posicionamento nas relações entre o Estado e o

setor aéreo. No cenário internacional, mais especificamente nos Estados Unidos,

[...] o processo de mudança indicando o caminho da desregulação teve início em meados da década de 1970 (ao fim da Domestic Passenger Fare Investigation), depois que o CAB implementou uma moratória sobre as

rotas, impedindo a entrada de qualquer novo concorrente e a expansão das rotas das empresas existentes, realçando a política regulatória. (SILVA, 2013, p. 148).

Na década de 1970, a pressão regulatória aumenta, mas a competição passa a ser

buscada como forma de reduzir custos e perdas advindas de processos regulatórios. No Brasil,

a desregulamentação se deu em um movimento iniciado nos Estados Unidos. O processo de

desregulação do setor aéreo teve início em 1991, ano da realização do V CONAC, refletindo a

tendência liberalizante que avançou em diversos países.

No entanto, no bojo das propostas liberais do início da década de 1990, a

flexibilização no setor aereo “[...] tambem contou com a participação de outros elementos, tal

qual a experiência americana, como a forte pressão exercida pelas empresas atuantes, ansiosas

pela ampliação de seus serviços para além de suas áreas de atuação e em linha de maior

densidade de trafego” (SILVA, 2013, p. 210).

Conforme o Quadro 1, nota-se que, na política econômica setorial, entre 1973 e

2003-2017, o movimento constitui-se de estabelecimento, remoção e retomada parcial da

regulação, refletindo a influência de uma política de flexibilização regulatória, utilizada por

outros países. O Brasil, adotando o mesmo processo, fez adaptações para o seu mercado.

A interferência macroeconômica foi ativa nos anos 1970, aumentando entre os

anos 1980 e 1990 torna ausente a partir de 2001, o que se explica pelo controle do estado até o

ano de 1992, quando ocorreu o início da política de flexibilização. Entre 1998 e 2001,

influenciada pela instabilidade na taxa de câmbio e a desvalorização do Real perante o Dólar,a

interferência macroeconômica voltou a ser ativa, sendo reduzida após 2001, quando “um

acordo entre o DAC e o Ministério da Fazenda permitiu que a maioria dos mecanismos de

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regulação econômica que ainda persistiam no setor fosse removida com a interferência

macroeconômica” (OLIVEIRA, 2016, p. 17).

Quadro 1 – Evolução da Regulamentação no Transporte Aéreo Brasileiro.

Fonte: Oliveira (2017).

Essas transformações refletem nas tarifas, pois o DAC começou a impor um preço

de referência e findou por não mais impô-lo. O reajuste dos preços respondeu em momento

intermediário à inflação e acabou por ser ausente nos anos 2000. A entrada de novas

empresas, a competição e a infraestrutura também se transformam ao longo do tempo. O

registro dos preços entre 1973-1992 foi ausente, pois o Estado regulamentava as tarifas, entre

1992-2001,e o DAC exigia que a empresa informasse qualquer variação de preços com

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antecedência. A partir de 2001 havia apenas um monitoramento dos preços. A banda tarifária

no início foi ausente, sendo utilizada apenas entre 1986-1997, voltando a ser ausente a partir

de 1998.

Conforme aponta a ANAC (2008), as empresas não respeitaram a aprovação dos

níveis pelo governo, e isso fez com o que o Departamento de Aviação Civil tivesse

dificuldades com a fiscalização de empresas que operavam no Brasil serviços regulares.

Como desdobramento,

[...] o entao Departamento de Aviacao Civil realizou no primeiro semestre de 1993

um seminario cujo objetivo foi ouvir , da comunidade ligada ao transporte aereo ,

ideias e sugestoes quanto a questão do estabe lecimento da tarifa para os servicos

regulares de transporte aereo , notadamente no segmento internacional , tendo em

vista nao apenas a conjuntura conturbada observada no mercado brasileiro , mas

tambem a experiência vivida por outros países quando da adoção de políticas

tarifarias mais flexíveis , com vistas a colher subsidios para a elaboracao de politicas para o setor vigentes ate entao . (ANAC, 2008, p. 4).

Disso resultou a recomendação da implantação da banda tarifária. Essa, por sua

vez, contribuiu para a

[...] eliminação da distancia entre a tarifa aprovada e o preço de mercado . A

aplicação do sistema de bandas visou estabelecer o desconto maximo a ser aplicado

sobre as tarifas aereas internacionais de passagem negociadas pelas companhias no

forum multilateral da IATA e aprovadas pelo Orgão Regulador .O que se observou , a

partir dessa normativa , foi que a grande maioria das transportadoras que operam

serviços internacionai s regulares passou a comercializar suas tarifas respeitando os

patamares minimos estabelecidos . (ANAC, 2008, p.4).

Com a entrada de novas empresas, competição e infraestrutura também se

transformam ao longo do tempo. A competição entre as empresas ocasionou um aumento na

oferta de assentos e um barateamento dos preços. Como consequência, ocorreu um aumento

na demanda de passageiros, porém a infraestrutura aeroportuária não conseguiu suportar esse

aumento sendo necessária uma nova política aeroportuária.

Como se pode perceber, houve um trabalho muito grande por parte das

autoridades para a implementação de um sistema “não regulatorio”, possibilitando a

concorrência entre as empresas, bem como uma flexibilização dos preços das passagens, de

modo a facilitar o acesso de pessoas que não tinham o meio de transporte aéreo como parte do

seu cotidiano e cultura. No gráfico abaixo, percebe-se o impacto desse movimento no número

de passagens aéreas no Brasil.

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Grafico 1 – Numero de Passageiros.

Fonte: notícias.r7.com

Conforme se percebe no Gráfico 1 acima, a partir de 2009, aumenta

expressivamente a quantidade de passagens vendidas, impulsionada pela queda dos preços

ocasionado pela liberdade tarifária. Segundo a reportagem, isso só foi possível devido à

liberdade tarifária, a partir da qual as companhias aéreas aumentaram o controle sobre o

gerenciamento de suas receitas e foi possível diferenciar preços, tornando o mercado da

aviação mais competitivo.

Por sua vez, o valor médio das tarifas caiu, conforme apresenta o Gráfico 2, a

seguir. No ano de 2008, especificamente, o valor das tarifas caem, o que expressa um

aumento do número de passageiros ocasionado pela livre concorrência entre as empresas.

Grafico 2 – Valor Médio das Tarifas Aéreas

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Fonte: notícias.r7.com (2017)

Conforme é possível entender, o mercado nacional responde diretamente ao

comportamento do mercado do transporte aéreo.

Em termos praticos , uma eventual reducao de precos das tarifas aereas

internacionais causada pela flexibilizacao das bandas tarifarias ora em vigor , podera

promover um aumento no fluxo de pessoas , negocios, comercio e serviços , o que

induziria um aquecimento da atividade economica entre os paises , incentivando

diversas atividades ligadas direta ou indiretamente ao turismo. (ANAC, 2007, p. 13).

Em outros termos, o setor do transporte aéreo não é um sistema isolado, fechado,

mas responde ao mercado nacional e internacional e afeta a dinâmica econômica do país.

Considerando isso, este trabalho visa mostrar como foi o processo de desregulamentação na

aviação nacional, bem como seus benefícios.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA

O problema de pesquisa é responder ao questionamento: quais foram os métodos

usados no processo de desregulamentação da aviação e seus resultados?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

O Objetivo Geral da pesquisa é demonstrar o processo de desregulamentação em

suas fases, elencando benefícios e malefícios trazidos por esse processo.

1.2.2 Objetivos Específicos

Descrever o processo de desregulamentação

Identificar as vantagens e desvantagens do processo

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Avaliar os resultados obtidos após o processo de desregulamentação do

Transporte Aéreo Brasileiro

1.3 JUSTIFICATIVA

O transporte aéreo sofreu várias e importantes mudanças nas últimas décadas-

mudanças tecnológicas e regulamentares. Essas mudanças têm sido analisadas em estudos

acadêmicos, sem, entretanto, estar esgotado o tema. Trazendo à discussão acadêmica mais

informações – e de forma mais específica – sobre as mudanças regulamentares, é possível

mostrar quais são os benefícios e/ou entraves e prejuízos para a aviação.

O trabalho aborda o processo de desregulamentação, identificando quais foram as

fases desta, bem como os órgãos envolvidos e a participação destes no processo, mostrando os

efeitos (positivos ou negativos) no modal aéreo de transporte de passageiros, especialmente

quanto à competitividade entre empresas aéreas, tarifas e o acesso de novas pessoas a essa

modalidade de transporte.

O público-alvo do trabalho será estudantes de aviação, pesquisadores e

interessados no tema, de forma que se possa disponibilizar um arcabouço sólido que alimente

novos estudos acadêmicos, o que será de grande valia para a comunidade científica

interessada. Será utilizado como meio de pesquisa livros e materiais disponíveis online que

subsidiem a validade das informações utilizadas.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Natureza e tipo da pesquisa

A pesquisa caracteriza-se como pesquisadescritiva e se valeu de procedimentos

bibliográficos e documentais. Foram utilizadas obras de referência, teses que abordaram o

tema, artigos com estudos específicos, bem como informações em sites que validaram

perspectivas sobre o tema. O procedimento metodológico foi documental e bibliográfico,

foram buscadas informações de forma profunda e concreta na abordagem do tema da

desregulamentação, e documentos foram utilizados ponderar perspectivas alcançadas.

A pesquisa descritivaaqui realizadaatende aos objetivos de “desenvolver

hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para

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a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e classificar conceitos”

(LAKATOS, 2003, p. 188).A abordagem da presente pesquisa é qualitativa por basear-se na

realidade para fins de compreender uma situação única (RAUEN, 2002).

1.4.2 Materiais e métodos

Bibliográficos: Livros e teses que descrevam os processo de desregulamentação na

aviação.

Documentais: documentos da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC),

reportagens sobre o assunto em jornais e revistas.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho foi apresentado em capítulos que mostram como o objetivo foi

alcançado.

No capítulo 1 temos a introdução que apresenta o problema da pesquisa, objetivos

dividido em objetivo geral e específicos, justificativa, metodologia, natureza e tipo da

pesquisa e materiais e métodos.

No capítulo 2 temos o referencial teórico, onde encontramos os dados da

desregulamentação nos Estados Unidos e no Brasil que foram utilizados para fundamentar o

trabalho,atingindo o objetivo geral.

No capítulo 3 temos a conclusão do trabalho apresentado as considerações finais

mostrando que há outros temas a serem estudados e sugerindo uma nova pesquisa relacionada

ao trabalho.

Finalizamos com as referências dos materiais usados no trabalho.

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2A DESREGULAMENTAÇÃO AMERICANAE A DESREGULAMENTAÇÃO NO

BRASIL

2.1 DESREGULAMENTAÇÃO AMERICANA

Desde o início do funcionamento comercial, o setor aéreo norte-americano no

final da década de 1920 – a princípio, com o serviço postal –, sempre foi um setor

intensamente regulado, pelo menos até a década de 1970, especialmente no que tange ao

controle de preços e barreira à entrada de companhias no setor (SILVA, 2013).

Conforme aponta o autor, em 1938, no cenário do New Deal, a indústria da

aviação civil passou a ser regulada por legislação federal, com a criação do Civil

AeronauticsBoard (CAB). O CAB tornou-se responsável não só pelo controle de preços, mas

também pela estrutura de mercado, estipulando barreiras à entrada e à saída de companhias,

estipulando rotas e suas frequências, bem como o número de companhias e a competição entre

elas, quando possível.

A regulação econômica praticada pelo CAB estipulou, implicitamente,

mecanismos de subsídio cruzado, de maneira que as rotas mais longas (invariavelmente mais

rentáveis) sustentavam financeiramente rotas locais mais curtas, deficitárias. Todavia, tal

política regulatória não necessariamente tinha conexão com os custos das companhias, razão

pela qual não induzia a eficiências de redução de custos ou de maximização de lucros

(SILVA, 2013). Tal desenho regulatório, além dos entraves para a competição das

companhias nas rotas estabelecidas pelo CAB, praticamente eliminava os incentivos às

companhias tendo em vista reduzir custos operacionais, a partir de uma melhor distribuição de

suas malhas e inovar tecnologicamente (SILVA, 2013).

Além dos sindicatos, as empresas americanas sofreram fortemente com a

desregulamentação de seu mercado, iniciada na segunda metade da década de 1970. O então

presidente Jimmy Carter havia transformado a desregulamentação em uma das plataformas de

seu governo, afirmando que o novo modelo daria às empresas aéreas autonomia para estipular

suas rotas e horários de voos segundo suas conveniências. Até então, elas precisavam pedir

autorização ao governo para definir sua malha (SILVA, 2013).

Como aponta Tilki (2012, s/p), a desregulamentação teve um impacto inicial que

modificou a forma de aproveitamento de voos, que demandou maior gerenciamento de

horários e conexões.

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Oprimeiro impacto da desregulamentação foi o desenvolvimento do sistema Hub-and-Spoke, que tinha por objetivo tirar o melhor proveito da frota e

ajustar a oferta à demanda. Porém, o uso de aeroportos principais (Hub) e secundários (Spoke) exigia um completo e complexo gerenciamento do tráfego aéreo, pois havia uma concentração de voos chegando em horário determinado, os quais fariam conexões com demais voos da própria empresa (TILKI, 2012, s/p).

Na figura 1, tem-se a apresentação do sistema Hub-and-Spoke, da companhia

americana Delta Airlines.

Figura 1 – Hub da Delta Airlines

Fonte: Silva (2013).

O problema é que tanto as empresas aéreas como os centros de controle de tráfego

aéreo não foram capazes de prover uma operação eficiente, conforme aponta Tilki (2012).

Paralelamente, também motivado pela desregulamentação, houve um enorme aumento na

demanda e na oferta de voos. Como resultado, o acréscimo na demanda, associado a um

sistema ineficiente, levou ao início dos grandes atrasos. O auge desse problema aconteceu em

1997, quando os 33 maiores aeroportos dos EUA ultrapassaram a marca das 20.000 horas de

atraso, que não ocorreu pela falta de infraestrutura ou elevadas tarifas:

[...] ironicamente, os problemas são ligados diretamente às empresas aéreas. Além de possuírem modelos de gestão ultrapassados, frotas antigas e excesso de concorrência, enfrentam entraves associados aos sindicatos dos pilotos, que são considerados extremamente conservadores e fechados, e também à desregulamentação sofrida pelo setor em 1978. (TILK,2012, s/p).

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Na primeira década de desregulamentação, estabelece-se um quadro desafiador,

de turbulência financeira e de administração de pessoal.

O balanço da primeira década de desregulamentação (1978-88) incide em uma grande instabilidade, com geração de conflitos trabalhistas, greves e endividamentos progressivos. Esse quadro desencadeou um número recorde de falências, fusões e aquisições. O caos foi tão intenso que os benefícios da desregulamentação passaram a ser questionados até pelos seus principais defensores. [...] A ânsia por lucros em curto prazo, aliada às especulações de

Wall Street, resultou em fusões e aquisições que afetaram seriamente a aviação comercial. Kahn afirmou na época que o governo Reagan aprovava todas as fusões sem nenhuma objeção, bastava fazer pedido junto ao DoT (Department of Transportation). Na prática, algumas empresas aéreas faliram, enquanto outras contraíram dívidas que duram até hoje e ainda são empecilho ao crescimento. (TILKI, 2012, s/p).

Nesse sentido, a desregulamentação representou um retrocesso no percurso de

desenvolvimento da aviação nos EUA. Como se pode observar, a interferência do Estado, no

caso dos EUA, resultou negativamente para o setor da aviação.

Outro problema sério na gestão Reagan foi a confrontação com os sindicatos. O

mais conhecido foi a greve generalizada dos controladores de tráfego aéreo, que exigiam

salários maiores e melhores condições de trabalho. O governo respondeu à paralisação com

ameaça de demissão, caso os trabalhadores não voltassem aos seus postos em três dias.

Praticamente 100% dos controladores perderam o emprego, aumentando ainda mais a

instabilidade e gerando uma catástrofe no setor. Passageiros perderam voos, empresas aéreas

foram obrigadas a reduzir as frotas e os custos dispararam. Muitas empresas se tornaram

inviáveis e decretaram falência, deixando dívidas, prejudicando passageiros e tornando ainda

mais arriscado o negócio do transporte aéreo (TILKI, 2012). Como se pode observar, a

interferência do Estado, no caso dos EUA, resultou negativamente para o setor da aviação.

Por sua vez, a aviação brasileira sofria uma regulamentação por parte do governo

e passou por desregulamentação a partir da década de 1990, instaurando-se, assim, fases

diversas nessa modalidade de transporte, como apresentado a seguir.

2.2 DESREGULAMENTAÇÃO NA REALIDADE BRASILEIRA

No Brasil, a implementação dos marcos regulatórios de referência teve

participação essencial não apenas das autoridades que formularam as políticas regulatórias

(Conselho de Aviação Civil – CONAC e Agência Nacional de Aviação Civil - ANAC), mas

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22

as autoridades que historicamente monitoravam o setor (Ministério da Fazenda – MF;

Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência – SBDC; Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social – BNDES, o Ministério do Turismo, dentre outros) também vivenciaram

os desafios e responsabilidade parcial, conforme aponta Oliveira (2007).

2.2.1 A Regra da regulamentação (intervenção estatal) nos anos1950 a 1960

Após a chegada ao país, a fase seguinte da aviação civil doméstica no Brasil

passou a contar com intensa intervenção estatal, resultado das CONACs (Conferências

Nacionais da Aviação Civil).

O modelo de liberdade para constituição e permanência das empresas aéreas chegava ao fim. Sob o condicionamento do interesse público, o governo brasileiro estimulou fusões e estabeleceu um regime de competição controlada. Além disso, o Estado passou a regular fortemente a escolha da malha aérea – os trajetos de voos – e, também, a fixação de valores dos

bilhetes (SILVA, 2013, p. 201).

Na década de 1960, o setor aéreo moldou-se – depois da falência de algumas

empresas, fusões de outras e intervenções estatal – em torno de seis empresas, que dividiam

rotas domésticas e internacionais, em uma configuração que permaneceria durante muitos

anos, mesmo diante do novo desenvolvimento da aviação regional na década de 1970,

conforme aponta Silva (2013).

De acordo com o autor, as seis empresas eram: Varig, operando domesticamente e

em rotas para a América do Norte; Vasp, operando domesticamente de forma exclusiva;

Cruzeiro do Sul, operando domesticamente e em rotas para a América do Sul e Central;

Panair, operando domesticamente e em rotas para a Europa e Oriente Médio; Sadia, operando

domesticamente de forma exclusiva; e Paraense, também operando domesticamente.

A etapa de regulação estrita e de competição controlada, iniciada na década de

1950, teve continuação durante as décadas de 1970 e 1980. Isso potencializou uma política de

regulação com a política industrial e também com a política de estabilização ativa, em razão

dos inúmeros planos econômicos do final da década de 1980 (SILVA, 2013).

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2.2.2 Regulação entre 1973 e 1986

O período mais representativo da era regulatória do setor foi 1973 a 1986, no qual

as autoridades focaram em implementar tanto instrumentos de regulacao economica

propriamente ditos, como mecanismos de política desenvolvimentista (OLIVEIRA, 2007).

Conforme Oliveira (2007), tratava-se, à época , do chamado regime de competicao

controlada, implantado desde a decada de 1960, com um conjunto de encontros setoriais

denominados de Conferencias Nacionais Aviacao Comercial (CONAC), fortalecidos a partir

do Decreto 72.898, de 9 de outubro de 1973, onde as quatro grandes companhias aereas de

ambito nacional era atribuída toda a operação do sistema .

De fato, o referido Decreto listava explicitamente as companhias aereas q ue iriam

operar no segmento de linhas -tronco – linhas aereas mais densas , as mais importantes do pais

(OLIVEIRA, 2007). Durante esse periodo regulatório típico, variaveis como preços e

frequências de vôo eram rigidamente ditadas pelas autoridades , segundo criterios economicos

fixados a priori, como aponta o autor.

O acesso de novas companhias aereas no segmento “tronco” – formado pelas

companhias aereas denominadas de “nacionais” – não era permitido , dado o estrito controle

da entradana indu stria (OLIVEIRA, 2007). Alem disso , a competicao entre companhias

regionais e nacionais nao era contemplada , visto que estas deveriam atuar apenas em ligacoes

“tronco”, em contraposicao as ligacoes alimentadoras (feeder) regionais (OLIVEIRA, 2007).

2.2.3 Regulação aérea a partir de 1990: uma nova transformação da regulação

O processo de desregulação do setor aéreo teve início em 1991, ano da realização

do V CONAC, refletindo a tendência liberalizante que avançava em diversos países (SILVA,

2013), conforme se percebe no Gráfico 3 abaixo. Esse ano, especificamente, marcou a

extinção dos Monopólios Regionais, na linha do SITAR e a política de “quatro companhias

nacionais e cinco companhias regionais’ foi oficialmente extinta” (OLIVEIRA, 2013, p.219).

Isso possibilitou a entrada de novas empresas, porém em 1999 houve um choque cambial

influenciando de forma direta nos custos das empresas ocasionando o fechamento de algumas.

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Gráfico 3 – Episódio de Entrada no Transporte Aéreo

Fonte: Silva (2013).

Silva (2013) aponta que:

comitês foram criados pela CONAC para avaliar o setor. As recomendações de

flexibilização foram claras: autorização para a criação de novas empresas;

possibilidade de competição direta entre empresas de âmbito nacional e regional; a

extinção da delimitação geográfica das aéreas de atuação. Tais transformações

levaram, na prática, a extinção do SITAR já em 1992. (SILVA, 2013, p. 211).

No período de desregulação podem ser definidas três fases:

(i) Liberalização os política de estabilização inativa ( 1992 -1997 ), baseada em rodadas de negociação com a flexibilização geográfica, de linhas a operar e de

tarifas, sem maiores pressões nos preços( maior estabilidade nos preços a partir de

1994 ) e também baixa instabilidade nos custos, com a taxa de câmbio relativamente

estável no período;

(ii) Liberalização com restrição de política de estabilização ( 1998-2001 ),

período ambíguo, em que houve o aprofundamento quanto às últimas restrições

tarifárias, além do fim da exclusividade às empresas regionais de operarem as linhas

aereas especiais, o que deu ensejo a fenômenos como a “ guerra de preços” e a “

corrida por frequência”, competição que não se via desde a decada de 1960, mas

também de retorno do controle tarifário, por ocasião da crise cambial e do choque

nos custos;

(iii) E, por fim, o período de quase desregulamentação ( 2001-2002 ), resultante

de acordo do Ministério da Fazenda e do DAC com a remoção dos últimos

mecanismo de regulação econômica, flexibilizando os processos de entrada de novas

empresas e de pedidos de novas linhas aéreas, frequência de voos e aviões, período

que culminou com a entrada da Gol no mercado, em janeiro de 2001.

(OLIVEIRA, 2007 apud SILVA, 2013, p. 212-213)

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A politica tarifaria brasileira para o mercado de servicos aereos regulares – tanto

os domesticos quanto os internacionais – foi regulamentada pelo disposto no art. 49 da Lei no

11.182, de 27 de setembro de 2005, em seu Artigo 49, in verbis: “Art. 49. Na prestacao de

serviços aereos regulares , prevalecera o regime de liberdade tarifaria” (ANAC, 2007).

Buscando atender a tal dispositivo , a Comissão Tecnica de Coordenacao d as

Atividades Aereas – COTAER realizou , no decorrer dos anos de 2006 e 2007, um trabalho

interministerial no sentido de revisar a Resolucao no 004/2003, do Conselho de Aviacao Civil

– CONAC, que trata do transporte aereo internacional . Esse trabalho de revisao no ambito da

COTAER contou com a participacao de membros da ANAC e resultou na aprovacao , pelo

CONAC, da Resolucao no 07/2007. Essa Resolucao , no que diz respeito as tarifas

internacionais, continha as seguintes diretrizes:

1.5 Nas negociaçoes de Acordos sobre Serviços Aereos , devem ser buscadas condiçoes que possam promover a modicidade dos preços para os usuarios , por meio

do incentivo a concorrencia entre as empresas .

1.5.1 Considerando o disposto no art. 49 da lei n.o 11.182, de 27 de setembro de

2005, a regulamentacao dos precos para o mercado internacional devera ser revista

pela Agencia Nacional de Aviacao Civil – ANAC, com vistas a maior promocao da

liberdade de mercado e ao maior acesso dos usuarios ao tra nsporte aereo

internacional. (ANAC, 2007, p. 1).

2.2.4 A Desregulamentacão economica e seus efeitos

A experiência internacional com a desregulamentacao economica mostra que a

introdução de um regime de liberdade para as empresas determinarem seus preços e sua oferta

propiciou a criacao de um ambiente mais favoravel a competicao . Uma maior concorrencia

entre as empresas induziu o estabelecimento de importantes inovacoes , as quais

transformaram a historia do setor , a saber:

i) os sistemas de venda de passagem por computador (CRS); ii) modelo de gerência de malha aerea do tipo hub-and-spoke, permitindo aumento da conectividade e de oferta de voos ; iii) programas de fidelizacao de clientes (milhagens) e modelos de aliancas globais ; iv) companhias lowcost,

lowfare(ANAC, 2007, p. 6).

Enfim, um produto que antes era visto como homogeneo , passou a se diferenciar ,

beneficiando os usuarios com maior possibilidade de escolha e menores precos (BRASIL,

2007).

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Em consonancia com o resto do mundo , o governo brasileiro reconheceu , apos

decadas de debates , que o setor de transporte aereo e potencialmente competitivo , razão pela

qual optou por desregulamentar o setor , do ponto de vista economico .

A Lei 11.182, de 27 de setembro de 2005, que criou a Agencia Nacional de

Aviação Civil , consolidou essas modificacoes que vinham sendo realiz adas no ambito

regulatorio ao retirar as restriçoes a capacidade de oferta das empresas , com observancia

unica das normas regulamentares de prestação de serviço e da capacidade . É importante

ressaltar que a Lei que instituiu a liberdade tarifari a nao contem excecoes e , portanto, deve ser

aplicada tanto no ambito domestico quanto internacional . Todavia, no mercado internacional ,

apenas para a America do Sul foi iniciado o processo de desregulamentacao (ANAC, 2007).

Durante o processo de desregulamentação no Brasil, as companhias aérea

encontraram um problema de infraestrutura aeroportuária, pois com a utilização do método de

Hub-and- Spoke e a liberdade tarifária era necessário que os aeroportos estivessem preparados

para receber um grande número de passageiros e era, também, necessário um investimento no

setor.

Porém, esse investimento vem sendo realizado de forma lenta, com privatizações

e a saída do estado do controle dos aeroportos de maior movimento, passando à iniciativa

privada o investimento e a preparação dos aeroportos para o aumento da demanda. Durante o

processo de desregulamentação no Brasil, as companhias aéreas encontraram um problema de

infraestrutura aeroportuária, pois com a utilização do método de Hub-and-Spoke e a liberdade

tarifária era necessário que os aeroportos estivessem preparados para receber um grande

número de passageiros e era, também, necessário um investimento no setor.

Conforme aponta Lohbauer; Barata; Gallacci (2016), a regulação feita pela

ANAC, a Infraero não e mais “pivô do mercado de aviação”. Uma relação de igualdade se

estabelece entre as companhias aéreas e agentes privados com a incumbência de administrar a

infraestrutura portuária, o que trouxe mudanças significativas. Talvez o exemplo mais

significativo das mudanças propostas seja as cláusulas de consultation e a possibilidade de a

concessionária praticar o chamado “gerenciamento tarifario”:

[...] aqui, sobretudo, tambem se encaixa o “gerenciamento tarifario”, visto que as minutas preveem expressamente a obrigação de consulta para

definição das tarifas a serem adotadas. É dizer, a concessionária poderá praticar descontos e aumentos de até 100% sobre o teto das tarifas aeroportuárias de embarque, conexão, pouso e permanência de aeronaves específicas, assim como de tarifas unificadas de embarque e pouso e de permanência de outras aeronaves, desde que realize a consulta prévia as companhias aéreas. Isso não quer dizer que a fixação das tarifas será feita de

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27

modo indiscriminado, tão somente considerando as contribuições recebidas em consulta.

As regras da minuta de contrato estipulam que a diferenciação das tarifas deverá ser baseada em critérios objetivos e não discriminatórios, tais como horário, dia e temporada. A Anac interferirá para garantir que as áreas não congelem as tarifas dos aeroportos. Do outro lado, seja qual for o critério adotado, há previsão para que os operadores aeroportuários não pratiquem tarifas extorsivas, haja vista que o valor médio da tarifa arrecada deverá ser igual ou inferior ao teto estabelecido pela Anac. (LOHBAUER; BARATA; GALLACCI, 2016, s/p).

Viajar de avião no Brasil não é mais símbolo de pertencimento a classe social,

mas simboliza como a falta de planejamento e investimento faz com que que ainda mais gente

não possa voar. A oferta de assentos nos aviões não consegue acompanhar o crescimento do

mercado aéreo doméstico, e a causa principal é a precária infraestrutura aeroportuária (G1,

2018).

Page 29: DESREGULAMENTAÇÃO NA AVIAÇÃO CIVIL BRASILEIRA

28

3CONCLUSÃO

O objetivo do trabalho foianalisar o processo de desregulamentação em suas fases,

elencando benefícios e malefícios trazidos por esse processo. Especificamente, buscou-se

descrevê-lo, identificandosuas vantagens e desvantagens, avaliando os resultados obtidos após

o processo de desregulamentação do Transporte Aéreo Brasileiro. Este trabalho constitui uma

reflexão importante na área da pesquisa em aviação, pois ajuda a entender como foi todo o

processo de desregulamentação na aviação comercial brasileira, em contraste com o processo

ocorrido no Estados Unidos, local onde a desregulamentação teve início, servindo como

referência para a implementação brasileira.

O processo de desregulamentação, como aqui apresentado, consistiu, em toda sua

abrangência, num avanço no modelo de gestão aeronáutica. Iniciado no Estados Unidos na

década de 1970, esse processo teve grandes dificuldades em sua implantação, pois não havia

um preparo por parte das empresas aéreas, bem como das partes que administravam os

aeroportos. No Brasil o processo não foi diferente; passou pelas mesmas dificuldades em sua

implementação. As companhias aéreas tiveram liberdade de tarifa, estipulando preços que

cobriam suas despesas e, posteriormente, entraram novas empresas no mercado que estava

anteriormente fechado.

No meio aeroportuário, essas mudanças estão acontecendo de forma mais lenta,

porém já ocorrem mudanças. O Estado está passando o controle para a grupos particulares e

esses grupos estão fazendo investimentos em melhorias em razão do aumento de passageiros e

de voos.

Desse processo decorreram efeitos positivos e negativos para a aviação nacional.

Entre os positivos, podemos citar a flexibilização das tarifas, na qual os preços tarifários

foram reduzidos, aumentando a demanda de passageiros, o que obrigou empresas a

aumentarem a oferta de assentos, havendo também entrada de novas empresas no mercado,

com contratação de mais funcionários. Conforme visto, as vantagens relacionam-se à

liberdade de concorrência entre as empresas, uso de tarifas que cobriam os custos

operacionais, antes não considerados, bem como a entrada de outras empresas, gerando mais

empregos e aumentando a oferta para cobrir o aumento da demanda, o que ocasionou a

redução de preços.

Por outro lado, a desregulamentação também trouxe efeitos negativos, pois houve

o fechamento de empresas que não estavam preparadas para uma competição, com a chegada

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29

de novas empresas com uso de tarifas flexíveis, ocorrendo demissões e o não pagamento de

direitos, mesmo que muitos funcionários tenham sido absorvidos por essas empresas.

Ademais, ocorreram (e ocorrem ainda) atrasos devido à falta de infraestrutura, apesar de que

esta vem melhorando com o processo de privatização dos aeroportos.

Quando se pensa em desregulamentação, é preciso ter em mente que a

infraestrutura é de grande importância. Essa peça-chave, no entanto, não conseguiu

acompanhar o desenvolvimento. No caso dos EUA, foi criado o sistema Hub-and-Spoke,

sistema que centraliza voo proveniente de aeroportos secundários; porém, os aeroportos não

estavam preparados para receber o aumento de voos, ocasionando uma grande quantidade de

atrasos e cancelamentos. No caso do Brasil, os aeroportos eram controlados pelo estado e não

sofreram modificações necessárias para suportar o aumento da demanda de voos e

passageiros, sendo necessárias, portanto, melhorias no investimento de recursos, situação que

vem ocorrendo com a privatização de alguns aeroportos brasileiros.

Neste trabalho, foi possível sintetizar o processo de desregulamentação na aviação

comercial brasileira, demonstrando-se que isso é um processo longo e árduo, que tem ocorrido

com dificuldades, e apresenta entraves em sua implementação. As empresas aéreas e parte de

infraestrutura aeroportuária não estavam preparadas para a mudança. Porém, lentamente o

processo está alcançando seu objetivo. Nesse sentido, o estudo alcançou os objetivos

propostos, pois conseguiu demonstrar o processo, bem como suas vantagens e desvantagens.

Conclui-se, a partir da pesquisa que o tema é de extrema relevância para um

melhoramento na aviação comercial brasileira, e que o processo de desregulamentação que

teve início no Brasil em 1992 ainda está sendo implantado. A partir do estudo, verifica-se que

novas pesquisas aprofundando o tema são necessárias. Especificamente, será necessário

ampliar a pesquisa estudando o processo de privatização dos aeroportos, bem como seus

efeitos no planejamento das malhas aéreas. Contemplados esses aspectos, estar-se-ia

considerando de modo mais produtivo e esclarecedor a interação entre política e aviação, a

partir de seus benefícios para a economia nacional.

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