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DE TOUS PETITS LIENS MILLE ET UNE NUITS A assertiva de A. Warburg de que Deus está no particular encontra na reflexão proposta por François Laplantine, sobre a rede de interações vigente na vida social, uma justificativa bem argumentada. Valorizarpeque- nos laços sociais, ações e sentimentos menos visíveis, como objetos de conhecimento no campo das ciências sociais, constitui a referência principal deste livro, marcado pela abordagem ensaística e poética. A proposta anunciada na obra contrapõe-se ao olhar pautado pela sociedade do espetáculo e da grandiosidade, afirmando-se, em contraponto, pela observação dos laços sutis e dos mecanismos complexos e menos evidentes que fundamentam o mundo social contemporâneo. Mais do que uma nova proposição teórica, as idéias do livro evocam uma estética de observação da realidade captada através de exemplos contidos em filmes, produções literárias e obras de arte. A linguagem artística serve de bússola ao registro de detalhes e expressões sociais menos visíveis. Cores, sons, ritmos e gestos, presentes em diferentes criações estéticas, nutrem a construção do que poderia ser designado como uma abordagem microssociológica dos fatos sociais. Flaubert, Kafka, Proust e Clarice Lispector, ao lado de cineastas como Bresson e Eric Rohner, são mencionados como indutores de planos existenciais compostos de metáforas e detalhes indicadores da riqueza social existente na vida cotidiana. Do ponto de vista epistemológico, Laplantine abdica das fronteiras compartimentadas do DE FRANÇOIS LAPLANTINE conhecimento na área das ciências sociais, valorizando o ato de percepção socioló- gica através da experiência múltipla das linguagens: literatura, arte, cinema. Cada modo específico de apreen- são da realidade em minús- culas graduações pode, na visão do autor, explicitar aspectos relevantes e sensíveis da vida social. Dimensões microscópicas da realidade social não são privilégio de percepções artísticas. Estarão presentes, sobretudo, na etnografia, a exemplo das considerações de Clifford Geertz sobre a diversidade ampla de práticas sociais, fato que impõe ao investigador um trabalho analítico baseado na ínfima variação de gestos, sentimentos e flexões da linguagem. A prioridade conferida à perspectiva microscópica de observação da vida social rejeita o ideal de unidade e de espaço fechado, sugerido por uma versão totalizadora dos fatos sociais. As interpretações da realidade social seriam, em uma outra perspectiva, baseadas não só em "verdades" apresentadas segundo uma lógica positivista, mas em dissimulações - o recurso a metáforas. A observação do "pequeno" poderia ser a resistência à noção fechada de totalidade, quase sempre cega aos detalhes, por conta da prioridade conferida a questões dotadas de maior visibilidade: o poder e a dominação, por exemplo. A tecnologia cinematográfica na sua capacidade de registro de detalhes prestar-se-ia a observações mais sutis, pela tessitura de gestos e cores capazes de aproximar a ética da estética (Wittgenstein). De tous petits liens mille et une nuits Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2001. POR IRLYS ALENCAR FIRMO BARREIRA Professora Titular do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará BARREIRA. IRLYS ALENCAR FIRMO. 129 DE TOUTS PETITS LlENS MILLE ET UNE NUITS. p.129 A 133.

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DE TOUS PETITS LIENSMILLE ET UNE NUITS

Aassertiva de A. Warburgde que Deus está noparticular encontra na

reflexão proposta por FrançoisLaplantine, sobre a rede deinterações vigente na vidasocial, uma justificativa bemargumentada. Valorizarpeque-nos laços sociais, ações esentimentos menos visíveis, como objetos deconhecimento no campo das ciências sociais,constitui a referência principal deste livro, marcadopela abordagem ensaística e poética. A propostaanunciada na obra contrapõe-se ao olhar pautadopela sociedade do espetáculo e da grandiosidade,afirmando-se, em contraponto, pela observaçãodos laços sutis e dos mecanismos complexos emenos evidentes que fundamentam o mundosocial contemporâneo.

Mais do que uma nova proposição teórica,as idéias do livro evocam uma estética deobservação da realidade captada através deexemplos contidos em filmes, produções literáriase obras de arte. A linguagem artística serve debússola ao registro de detalhes e expressões sociaismenos visíveis. Cores, sons, ritmos e gestos,presentes em diferentes criações estéticas, nutrema construção do que poderia ser designado comouma abordagem microssociológica dos fatossociais. Flaubert, Kafka, Proust e Clarice Lispector,ao lado de cineastas como Bresson e Eric Rohner,são mencionados como indutores de planosexistenciais compostos de metáforas e detalhesindicadores da riqueza social existente na vidacotidiana.

Do ponto de vista epistemológico, Laplantineabdica das fronteiras compartimentadas do

DE FRANÇOIS LAPLANTINE conhecimento na área dasciências sociais, valorizandoo ato de percepção socioló-gica através da experiênciamúltipla das linguagens:literatura, arte, cinema. Cadamodo específico de apreen-são da realidade em minús-culas graduações pode, na

visão do autor, explicitar aspectos relevantes esensíveis da vida social.

Dimensões microscópicas da realidadesocial não são privilégio de percepções artísticas.Estarão presentes, sobretudo, na etnografia,a exemplo das considerações de Clifford Geertzsobre a diversidade ampla de práticas sociais,fato que impõe ao investigador um trabalhoanalítico baseado na ínfima variação de gestos,sentimentos e flexões da linguagem.

A prioridade conferida à perspectivamicroscópica de observação da vida social rejeitao ideal de unidade e de espaço fechado, sugeridopor uma versão totalizadora dos fatos sociais.As interpretações da realidade social seriam, emuma outra perspectiva, baseadas não só em"verdades" apresentadas segundo uma lógicapositivista, mas em dissimulações - o recurso ametáforas.

A observação do "pequeno" poderia ser aresistência à noção fechada de totalidade, quasesempre cega aos detalhes, por conta da prioridadeconferida a questões dotadas de maior visibilidade:o poder e a dominação, por exemplo. A tecnologiacinematográfica na sua capacidade de registrode detalhes prestar-se-ia a observações mais sutis,pela tessitura de gestos e cores capazes deaproximar a ética da estética (Wittgenstein).

De tous petits liens mille et une nuitsRio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 2001.

POR IRLYS ALENCAR FIRMO BARREIRA

Professora Titular do Departamento de CiênciasSociais da Universidade Federal do Ceará

BARREIRA. IRLYS ALENCAR FIRMO. 129DE TOUTS PETITS LlENS MILLE ET UNE NUITS. p.129 A 133.

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o conceito de passagem em WalterBenjamin é também invocado por Laplantinecomo subsídio para os registros do detalhe e dasutileza. Serve para designar travessias parisiensesligação de ruas, espaços de pequenos comérciose anúncios de grandes magazines, tal como otrajeto do flanêur que percorre caminhos,expressando, de modo paradigmático, a transiçãodo século XIX ao século XX. A passagem,segundo o filósofo alemão, seria a passarela entrea arte e a técnica, combinando a ilusão do novo,já ameaçada pelo declínio ou perda da aura.A passagem representa também, acrescentaLaplantine, o prenúncio de um mundo novo,o estilo moderno e decorativo de Gaudi ou deLechner, em Budapeste. O pensamento deBenjamim, feito em gradações, permitiria aemergência de instrumentos precisos deobservação de detalhes também utilizados napsicanálise para interpretar o inconsciente.

De fato, observa-se que na exploração quefaz Benjamin (993) de suas vivências existe umaevocação à cidade memorial da infância. Cidadede um passado feito de fragmentos reconstituídosatravés de lembranças de Berlim, capturadas nasucessão de descobertas microscópicas demúltiplos espaços. Nesse contexto, são objetosde reminiscências: o parque de animais(Tiegarten), os bosques, o relógio da escola,as ruas com a prostituição, a luz a gás e o interiordas casas. No conjunto dessas narrativas,a percepção de que as dimensões abrangentesda vida social revelam-se nas entrelinhas, sendoas miniaturas urbanas captadas na sensibilidadeinfinitesimal de expressões sutis e mudas da vidacotidiana. É este trabalho de lupa sugerido porBenjamin que permite, na versão de Laplantine,a observação das transformações urbanaspresentes nas experiências inéditas, reveladas nadescrição de sons, cores e cheiros.

Dentro da mesma perspectiva de observaçãomicroscópica da realidade social, Laplantine evocaSimmel, autor que recompõe a sociologia docotidiano através de fenômenos considerados atéentão triviais: a moda, o dinheiro, o casamento.

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Para Simmel, o real é feito de ínfimas sensaçõese transformações infinitas, não podendo sercompreendido na sua totalidade, mas com baseem uma pluralidade de perspectivas que seapresentam em aspectos singulares.

No campo da literatura, outros autoresservem de referência para a discussão dos planosmoleculares de observação da vida social.Em Kafka, Laplantine privilegia a predominânciada rarefação, o território da linguagemequiparável a um fio de voz feito de obscuridade,tal como a percepção de um crepúsculo - atransição entre noite e dia.

Na obra de Clarice Lispector são destacadosos temas da penúria e da desilusão, presentessobretudo no livro A Hora da estrela, que narraa saga de uma nordestina pobre e desprovida dedotes. Como em um quadro de impressões, nãohaveria, no texto de Clarice, uma posição centralna narrativa, pois tudo é fugidio e deslocado.

A perspectiva epistemológica recusada peloantropólogo francês critica tanto o essencialismo,presente em palavras seguidas do artigo definido,o homem, a humanidade, a liberdade, comorebate o dualismo que contrapôs, no terreno dafilosofia, raciona listas e fenomenologistas.Laplantine desenvolve um foco epistemológicoque recusa a relação de totalidade, a linearidadee a interpretação unívoca dos fatos sociais.Ao invés do conceito, como expressão indubitávelda realidade, propõe o deceptt» ligeira decepção)que abdica da uniformidade e da positividadeafirmativas, em favor das transições, dasindeterminações e das modulações.

A preponderância de laços sociaisenvolvendo articulações múltiplas, em contextosculturais e campos diversificados ele práticasefetiva-se através ela idéia de mestiçagem.Trata-se ele perspectiva analítica partilhada peloautor com Aléxis Nous, que se baseia nas trocaprovenientes de contatos sociais efetivados emcondição de igualdade. A mestiçagem, concepçãoutilizada originalmente pela biologia, é entãoinvocada como metáfora para campos diver oelo conhecimento. De saída, contradiz a polaridad

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homogêneo-heterogêneo, apresentando-se comoa terceira via: entre "a fusão totalizante dohomogêneo e a fragmentação diferenciada doheterogêneo". Em síntese, a mestiçagem afirmariao contato entre culturas, sem a anulação de umadas partes, redefinindo um modelo alternativoàs formas usuais de dominação.

As relações que são produtos da mestiçagemnão são lineares. Incluiriam também a desarmonia,tal como na música duodecafônia que incorporaa idéia de tensão, renunciando o fechamento dapartitura através da conclusão. A lógica dacomposição, nesse sentido, consistiria em unir,reunir e associar a redistribuição de elementosno espaço, através de processos de deslocamentoe· desdobramento de fronteiras. O conceito deturbilhão é, nesse contexto lógico, igualmenteevocado para referir-se a algo que desorienta ocurso do rio (Benjamirn), permitindo verificar omovimento contraditório fora da liminaridade.

No campo das ciências sociais, umexemplo desse deslocamento de fronteiraocorreria na situação de entrevista. A técnica deconversação, dotada de intervalo, interrupção,de palavras que circulam de um sujeito a outro,destaca-se pela descontinuidade fora doparâmetro causa e efeito.

Os liames sociais fundam-se também namodernidade estética que abdica da pretensãoao enquadramento, tal como na tragédia gregaque incorpora o movimento de oscilação entreDionysios e Appolon.

A mestiçagem opõe-se, na versão antropo-lógica sugerida pelo autor, à noção de aculturaçãoque pressupõe a contaminação vinda do exterior,sendo por esse motivo portadora da desordem.A heterogeneidade das civilizações já havia sidopercebida em Roger Bastide, embora este nãotenha conseguido, na versão de Laplantine, fazeruma crítica radical ao princípio da pureza cultural.

A palavra aculturação e seus correlatos,assimilação, adoção, apropriação é tambémobjeto de críticas, por não conseguir realizar aseparação e articulação de processos culturais.Trata-se, na realidade, de um movimento de

separação que supõe um antes e um depois, umpassado e um presente claramente definidos, umdentro e um fora, formando unidades compactas.Se um encontro é algo mais complexo do queuma relação entre entidades separadas, argumentaLaplantine, existe um movimento de vibração entreo eu e o outro, a exemplo da bossa nova que éfeita de oscilação entre o ritmo de jazz e o ritmode samba. Com isso o autor recusa o movimentobinário da ideologia denotativa que desvaloriza atransição e reenvia o pensamento para umaseparação entre a forma e a estética.

Outros exemplos de prioridade conferidaàs uniformidades e rejeição a uma idéia demovimento acompanham, na interpretação deLaplantine, a história da antropologia comodisciplina baseada no reforço às expressõesculturais denominadas autênticas. O privilégiodo estudo de coletivos homogêneos, através dadivisão da cultura em unidades, desconsideravaas dinâmicas interativas entre grupos. Estes, vistosatra é de proce os que se "formam edeformam". ver õe raciona lista (Durkheim),culturalista (Boas) e empirista (Boas) teriam emcomum o paradigma da ordem, privilegiando aobjetividade em lugar da afetividade. O espaçoe o tempo euclidianos serviram de referência aopensamento antropológico clássico, alheio aoconhecimento da física quântica.

Ao lado da idéia de mestiçagem, as metáforasda prova, da revelação e do escândalo servem dereferência à perspectiva de compreensão do universodas ligações entre fatos sociais. Enquanto a provasupõe ligações necessárias e irrefutáveis, fundadasem explicações objetivas (lógica positivista), arevelação é a manifestação metafísica baseadana crença e no mistério. O escândalo, por suavez, mostra a ausência de ligações coerentes entreo visto e o dito: faltam cadeias. Os lapsos decoerência e intelegibilidade provocam, porconseqüência, o discurso rarefeito. Derrota, assim,a lógica da explicação através da ligação necessáriaentre dois signos. A suspensão e não a prova,presente no escândalo, prevalece como elementoexplicativo tal como nos filmes de Hitchcook.

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As ligações que interessam ao autor,considerando-se a vigência dessas metáforas,aquelas em construção, não mobilizadas pela lógicada prova, da revelação ou do escândalo. Tampoucoamparadas na idéia de adesão ou do acordoperfeito. As pequenas ligações feitas de detalhes,rupturas e suspensões podem ter implicações éticase políticas. São os sentidos e os jogos que seconstroem no acontecer da vida social.

A própria estrutura do livro obedece aoprincípio da não linearidade. Aborda sob diversosângulos as possibilidades de interpretação dosfatos sociais em três partes. A primeira partediscute o modo de conhecimento microscópico,referenciando-se principalmente na literatura.A segunda parte analisa as pequenas ligações eínfimas graduações inspiradas na pintura, namúsica e na literatura. A terceira parte examinaa prova, revelação e o escândalo como metáforasindutoras de diferentes ligações. A divisão empartes inter-relacíonadas condiz com a idéiapresente em toda a obra de valorização dos elosde ligação que informam a vida social e aexperiência estética.

É possível inferir, a partir do livro,conclusões de natureza epistemológica e política.De início, a abordagem microscópica implica aprimazia do cotidiano e ruptura com grandesesquemas interpretativos. A prioridade conferidaàs ínfimas gradações na política abdica dasnarrativas pomposas para apegar-se às linguagenssutis de gestos e símbolos que podem revelaraspectos importantes das esferas de poder.

A recusa às grandes narrativas poderiasignificar uma filiação às correntes pós-modernas.No entanto, não é essa a perspectiva daabordagem apresentada. O livro está mais voltadopara buscar a especificidade das ciências sociaise seu poder de análise da vida social em seusdetalhes mais sutis.

Nesse contexto de enunciação de imagensliterárias e observações de cunho sociológicodefinidoras dos laços sociais cotidianos, vale apena citar o texto de Carlos Ginzburg, "Enigmasde um paradigma indiciário", no qual o autor

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apresenta uma contraposiçao entre o conheci-mento lógico racional e o conhecimento baseadonos indícios, intuições e detalhes renegado, aolongo da história da ciência, ao ostracismo.

Segundo Ginzburg, emergiu por volta doséculo X1X, silenciosamente, no âmbito dasciências humanas, um modelo epistemológicobaseado em indícios. O método indiciário deMorelli, usado para distinguir obras originais decópias, compara-se à metodologia de SherlockHolmes cuja investigação baseava-se em detalhes,intuições. Freud, também leitor de Morelli,conferiu prioridade aos indícios através dométodo interpretativo baseado em resíduos.Trata-se de um paradigma que tem raízes bemmais antigas: o saber venatório das cartas eadivinhações que integravam contos e lendas.

O grupo de disciplinas indiciárias nãoentrava nos critérios científicos galileanos,fazendo com que as ciências sociais, baseadasno qualitativo, mantivessem ainda o mal estarda busca de reconhecimento Na metade doséculo XIX, os modelos anatõmico e semióticode sociedade contrapõem-se e, no final domesmo século, o paradigma indiciário emergecomo necessidade de controle da criminalidadeou repressão da oposição operária.

O paradigma indiciário modelou as ciênciashumanas. Minúsculas particularidades foramempregadas como veículos para reconstrução detransformações culturais e indícios foram vistoscomo relevantes de fenômenos mais gerais taiscomo a visão de mundo de uma classe.

Na realidade, as proposições contidas nolivro acompanham a história das ciências sociaisque guardam o dilema posto por Galileu: assumiro estatuto científico frágil para chegar a resultadosrelevantes ou estatuto forte para resultados depouca relevância.

O importante a destacar é a sensibilidadee argúcia da observação como qualidadesimprescindíveis ao conhecimento. É nesse sentidoque as ciências sociais alimentam-se também daliteratura e da arte, tal como argumenta com muitapropriedade François Laplantine ao longo do livro.

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Trata-se de reflexão provocativa que invocadimensões estéticas e epistemológicas doconhecimento. São intuições mais que comprovaçõesde pesquisa que suscitam a velha prática daimaginação sociológica. O pensar com a alte comoa arte de pensar.

Referências bibliográficas

BENJAMIN, W. "Infância em Berlim". In: ObrasEscolhidas, voI. lI. São Paulo: Brasiliense,1993, p.71-142.

GINZBURG, Carlos. "Sinais, raízes de umparadigma indiciário" in Mitos, emblemas esinais. São Paulo: Companhia das letras, 1989.

LAPLANTINE FRANÇOIS E ALmaS OUSo In: LeMétissage, Dominós/Flamarion, Evreux-França.

BARREIRA, IRLYS ALENeAR FIRMO. 133DE TOUTS PETITS L1ENS MILLE ET UNE NUITS. p.129 A 133.