DIAGNÓSTICO DE PASSIVOS AMBIENTAIS COMO … · diagnóstico de passivos ambientais e...
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DIAGNÓSTICO DE PASSIVOS AMBIENTAIS COMO FERRAMENTA DE GESTÃO
AMBIENTAL APLICADO EM ESTABELECIMENTOS AGRÍCOLAS DO MUNICÍPIO DE IRETAMA, PARANÁ
Douglas dos Santos Almeida, Unespar – Câmpus de Campo Mourão,
[email protected] Jefferson de Queiroz Crispim, Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]
Marcelo de Oliveira Lima, Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] RESUMO: A gestão ambiental na agricultura familiar é uma ferramenta que possibilita o desenvolvimento ambiental, econômico e social. Entretanto, a degradação dos recursos naturais, o desconhecimento de práticas sustentáveis e a falta de controle dos passivos ambientais são alguns dos fatores que prejudicam a qualidade de vida das pessoas em pequenas propriedades. Neste sentido, com o objetivo de implementar técnicas de gestão ambiental e conscientizar a 25 agricultores familiares do município de Iretama, PR, na adoção de práticas sustentáveis, foram planejadas e executadas ações desta pesquisa no Projeto Melhoria da saúde dos agricultores familiares através da implantação de técnicas de saneamento e gerenciamento ambiental nos estabelecimentos agrícolas, ocorrida entre os períodos de julho de 2013 a julho 2014. A metodologia utilizada foram o levantamento bibliográfico, diagnóstico de passivos ambientais e implementação de técnicas de gestão ambiental. A partir da constatação de danos ambientais identificados no diagnóstico, espera-se que a aplicação das ferramentas do Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA), sirva de guia para revisão e melhoria das atitudes dos pequenos agricultores, com os propósitos de controlar e reduzir os passivos ambientais, disseminar informações sobre desenvolvimento sustentável e melhorar a qualidade de vida da população rural. Palavras-chave: Gestão Ambiental. Passivos. Melhoria da qualidade de vida.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a degradação ambiental cresceu consideravelmente, principalmente no
Brasil, em virtude da demanda crescente por alimentos, que exigem de grande parte dos agricultores a
diminuírem o tempo de manejo das culturas e maximizar a produção agrícola. (DIAS, 2006).
Mesmo que o plantio seja em uma pequena área, a agricultura e atividades correlacionadas
podem ocasionar impactos ambientais de larga escala, como erosão dos solos, destruição de mata
nativa para plantio, contaminação dos recursos hídricos, uso indiscriminado de agrotóxicos, entre
outros (PHILIPPI JR, 2014). Geralmente, os agricultores familiares não recebem uma assistência
técnica adequada, que oferece acompanhamento contínuo de profissionais especializados, orientações
sobre a condução da produção, melhorias e cuidados ambientais no empreendimento. Para garantir a
comercialização da produção e a renda familiar, alguns agricultores deixam de praticar um
desenvolvimento rural sustentável, por não aplicar técnicas de gestão ambiental nos empreendimentos.
Sendo assim, a degradação dos recursos naturais, o desconhecimento de práticas sustentáveis e
a falta de controle dos passivos ambientais são alguns dos fatores que prejudicam a qualidade de vida
das pessoas em pequenas propriedades, alterando o nível de consumo, onde se privilegia a quantidade
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e não a qualidade. Assim, as distorções sociais e ambientais produzidas pela desorganização sistêmica,
geram entre outras coisas o agravamento da violência, a exclusão social, a contaminação dos eco
sistemas, o esgotamento do recursos não renováveis e a deterioração dos recursos renováveis.
(FORIANI, 2006).
Diante do cenário percebido nas famílias de assentados, em maioria na comunidade, com falta
de informação e assistência técnica, baixa perspectiva de futuro, sem obtenção de êxito na produção
agrícola e causando impactos ambientais, foi evidenciada a necessidade da intervenção de
profissionais capacitados para orientar e auxiliar os agricultores familiares, no conhecimento prático
sobre os benefícios de ferramentas do Sistema de Gestão Ambiental (SGA). A finalidade da
implementação destas técnicas, na propriedade, é proporcionar a redução e controle dos passivos
ambientais, que são danos causados pela falta de cuidado das pessoas e empresas com meio ambiente,
gerando obrigações a serem resolvidas, de forma sustentável (FARIA, 2014). Para Oliveira e Senna
(2012) as atividades extensionistas, como visitas aos empreendimentos, realização de dias de campo
tem o propósito de orientar a população rural a empregar métodos e técnicas sustentáveis no campo,
como forma de garantir a preservação dos recursos naturais.
Neste sentido, a partir de orientações e assistências foram empregadas técnicas de gestão
ambiental, como forma de incentivar pequenos produtores na adoção de práticas sustentáveis, com
ações planejadas e executadas que fazem parte do projeto de extensão: Melhoria da saúde de
agricultores familiares através da implantação de técnicas de saneamento e gerenciamento ambiental
nos estabelecimentos agrícolas, do programa Universidade Sem Fronteiras (USF/SETI), executado no
município de Iretama – PR, entre os períodos de julho de 2013 a julho 2014, atendendo 25 famílias de
pequenos agricultores.
GERENCIAMENTO AMBIENTAL NA AGRICULTURA FAMILIAR
Atualmente, os pequenos produtores rurais tem uma grande importância no cenário econômico
brasileiro, pois colabora para a produção alimentícia no país. De acordo com o último censo
agropecuário do IBGE (2006), a agricultura familiar tem uma participação significativa no
fornecimento de alimentos no mercado nacional, mesmo que as terras de cultivo, tanto de lavouras
como de pastagens, sejam consideradas pequenas áreas (Figura 1).
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Figura 1 – Participação da agricultura familiar em algumas culturas
Fonte: Adaptado de Censo Agropecuário (IBGE), 2006.
A partir destas informações, percebe-se a importância dos pequenos empreendimentos
agrícolas para a alimentação dos brasileiros. Outra questão é a adoção de práticas de gerenciamento
ambiental que corrobora para manejo das culturas. Para garantir a rentabilidade na produção, sem
degradar e ainda efetuar um controle dos passivos ambientais (análise microbiológica mensal dos
mananciais das propriedades, técnica de proteção e recuperação das nascentes, controle mensal do
nível de desmatamento de áreas protegidas, conforme necessidade reflorestamento de áreas
degradadas, monitoramento e orientação mensal sobre a destinação de resíduos sólidos), torna-se
favorável e necessária a aplicação de ferramentas do SGA (Sistema de Gestão Ambiental) nos
estabelecimentos, para a conquista de um desenvolvimento rural sustentável. Infelizmente a decisão
em utilizar ferramentas de gestão ambiental, nem sempre, ocorre em situações equilibradas e
antecipadas.
Aqueles que vivem no campo chegam à realidade dos problemas ambientais e da mesma forma se conscientizam da necessidade de gestão quando vêem desaparecer espécies vegetais e animais, quando a chuva ácida queima suas plantações, quando a seca se torna mais frequente devido aos desmatamentos e ao desaparecimento das florestas tropicais. (PHILIPPI JR, 2004, p.662).
Nesta linha de raciocínio, Lima (2003, p.42) relata que os produtores agrícolas não
compreendem os benefícios financeiros gerados pela adoção de técnicas de gestão ambiental,
acreditando que as despesas e o aumento no custo do processo produtivo são superiores aos benefícios,
que o mesmo proporcionará a médio e longo prazo. Em suas concepções, estes investimentos não
proporcionarão um retorno significativo. A autora afirma que existem comprovações do investimento
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resultar em ganhos suficientes para melhoria da renda, podendo contribuir na melhoria da qualidade de
vida das pessoas.
Para Philippi Jr. (2004) não é necessário perder tempo questionando as possíveis adversidades
existentes entre os quesitos ambientais e econômicos. Em contrapartida, é mais assertivo identificar,
estudar e solucionar os problemas ambientais. Entretanto, estes problemas tornam-se desafios
ambientais, pois necessita das pessoas conhecimentos técnicos que ofereçam condições suficientes
para alcançar o desenvolvimento material e a qualidade ambiental almejadas.
O grande desafio do momento é partir para o desenvolvimento das pesquisas agrícolas, tratar o meio ambiente de maneira mais adequada e mais ética. É avaliar todos os impactos e aspectos ambientais e reorganizar a base tecnológica da produção, tendo como rumo uma agricultura sustentável. Isto significa uma agricultura que se mantém ao longo do tempo, que considere aspectos de produtividades, aspectos do meio ambiente, a saúde e segurança das pessoas e as questões sociais (SCHENINI, 2006, p.28).
Dessa forma, para o empreendimento estar condicionado a sustentabilidade, é fundamental
que o agricultor e sua família tenham aprendido e estejam preparados para utilizar, no cotidiano de
suas atividades, as ferramentas implementadas em um SGA, tais como otimização de processos
produtivos, reciclagem de resíduos, melhorias ambientais, técnicas de proteção e recuperação de
mananciais, orientações socioambientais, plantio de mudas nativas em áreas desmatadas e protegidas,
entre outras atitudes sustentáveis.
A gestão ambiental nada mais é do que a forma como uma organização administra as relações
entre suas atividades e o meio ambiente que as abriga, observadas as expectativas das partes
interessadas. Dessa forma, a partir da adoção de ações preventivas, pode-se evitar a ocorrência de
impactos ambientais ou, quando tal não for possível, a minimização desses impactos. Assim, a
implementação de técnicas de gestão no empreendimento é essencial para manter em harmonia e
equilíbrio ambiental os recursos naturais e as pessoas que habitam as respectivas áreas rurais.
De um modo geral, a Gestão Ambiental é consequência natural da evolução do pensamento da humanidade em relação à utilização dos recursos naturais, é a união de técnicas, conhecimentos, tanto por parte da sociedade, bem como do setor empresarial, em busca de soluções e alternativas para manter o equilíbrio ambiental, reduzindo ou recuperando a degradação do meio natural. (ALCÂNTARA; SILVA; NISHIJIMA, 2012, p.5).
De acordo com os autores supracitados, o propósito da Gestão Ambiental é aplicar técnicas,
envolvendo planejamento, organização, direção e controle das atividades econômicas e sociais,
seguindo a legislação vigente. Pelo fato de ser uma ciência multidisciplinar, pode receber
contribuições de profissionais (capacitados e aptos) de áreas distintas.
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Sistema de Gestão Ambiental
De acordo com Lima (2014, p.44), “o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) é uma moderna
ferramenta de gestão no sentido da melhoria dos processos” buscando otimizar o desempenho de
produtos e serviços. Embora o mercado exija que as empresas adotem o SGA, sua adesão é de forma
voluntária. Mas os benefícios alcançados por esta ferramenta resultam em melhoria contínua das
condições ambientais. Para implantar o SGA em um empreendimento, é recomendável seguir
procedimentos metodológicos para cumprir às exigências legais e regulamentares delimitadas, tendo
em vista a progressão contínua dos processos produtivos, evitando causar danos ambientais para a
organização e consequentemente para a sociedade.
O SGA foi criado pela ISO (International Organization for Standardization ou Organização
Internacional para Padronização), fundada em 1947 e sediada em Genebra, capital da Suiça.
Considerada uma organização não governamental, elabora normas e técnicas empregadas
internacionalmente, com implementação em, aproximadamente, 130 países. Em 1980, surgiu a British
Standards Institution que criou uma norma sobre o SGA que resultou na BS 7750 em 1991. A
Strategic Advisory Group on the Environment (SAGE) recomendou ao Comitê Técnico 207 (207) que
criaria as normas para Gestão Ambiental (LIMA, 2003).
Com o intuito de favorecer a mudança do paradigma de crescimento econômico ilimitado e, simultaneamente, atender Às pressões por uma maior qualidade ambiental, foi que o Comitê Técnico (TC 207) e a Organização Internacional de Normalização, elaboraram um conjunto de Normalizações – ISO, que envolvem um conjunto amplo de normas. A amplitude não se restringe apenas a Gestão Ambiental, mas também a outros aspectos relacionados ao meio ambiente e aos produtos produzidos. (SCHENINI, 2006, p.26).
Em 1994, surgia, no Brasil, o Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (GANA),
representado pela ABNT, auxiliado por 34 empresas que participaram e avaliaram o conteúdo das
normas série ISO: 14000 e seus impactos sobre a realidade industrial brasileira. A GANA foi
finalizada para originar o Comitê Técnico na ABNT que captou e ampliou suas atividades, o
ABNT/CB38 – Gestão Ambiental. Ao ser emitida a ISO 14000, a BS 7750 foi cancelada. Em 1996
foram editadas as primeiras normas sobre gestão ambiental a cargo do Subcomitê 1 (SC1) da GANA:
a ISO 14001 E 14004, ambas sobre SGA.
De acordo com Lima (2003) as normas da série ISO 14000 representam um conjunto de
padrões de gerenciamento ambiental, de caráter voluntário, que podem ser utilizadas pelas empresas
para demonstrar que possuem um sistema de gestão ambiental, sendo adotadas na área industrial,
extrativista, agroindustrial e de serviços. Os objetivos das Normas ISO 14000 são: proporcionar as
condições para um melhor gerenciamento ambiental; ser adequado a todos os países, fomentar de
forma ampla e constante, a harmonia entre o interesse público e dos usuários das normas; possuir uma
base sólida, estruturada e orientada para avaliação de desempenho, além de ser aplicável e utilizável.
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Inserida na série da ISO 14000, a norma ISO 14001 é a única do grupo que permite a
certificação por terceiros (certificadoras) de um SGA (SCHENINI, 2006). Embora seja uma norma
que visa à orientação, apresenta um caráter que não caracteriza o tipo de atividade e fornece, apenas,
informações importantes para a implantação da ISO 14001 (Sistema de Gestão Ambiental), com
requisitos para uso. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), o processo é
formado pelas seguintes etapas:
a) Implementação: a organização estabelece um plano de ação, fornecendo os recursos e
mecanismos de apoio para manter e aperfeiçoar o SGA;
b) Compromisso e política: Nesta etapa, a organização determina uma política ambiental e
assegura seu comprometimento;
c) Planejamento: a organização formula um plano que satisfaça as políticas;
d) Medicação e avaliação: a organização mede, monitora e avalia seu desempenho ambiental
contra objetivos e alvos;
e) Análise crítica e melhoria: a organização realiza uma análise crítica e implementa
continuamente melhorias em seu SGA para alcançar melhorias no desempenho ambiental
total.
Portanto, a norma de Gestão Ambiental é um instrumento de gerenciamento que proporciona
as empresas melhoria contínua em suas atividades, pois um SGA eficaz integra-se com outros
elementos de gestão, contribuindo para o alcance dos objetivos organizacionais.
CONTROLE DE PASSIVOS AMBIENTAIS
Segundo Lima (2003), com o intuito de reduzir ou eliminar os danos ambientais causados por
atividades humanas, algumas alternativas estão sendo sugeridas para conquistar o desenvolvimento
sustentável. A junção de desenvolvimento sustentável, desempenho responsável e qualidade de vida
pode garantir uma posição estrategicamente competitiva para a organização, pois otimiza suas
operações e assegura sua permanência no mercado globalizado.
Para Batello, Mello e Paula (2009, p.2) “Os danos causados ao meio ambiente, que
representam os passivos ambientais, começaram a surgir principalmente após a Revolução Industrial”.
As indiferentes formas de exploração, tanto na produção em escala industrial quanto as degradações
de recursos naturais, gerando efeitos (geralmente, desfavoráveis) estão vinculados ao passivo
ambiental. Em concordância, Faria (2014) caracteriza passivo ambiental como danos ambientais
praticados pela empresa, que tem o dever de reparar os resultados prejudiciais gerados para a
sociedade e o meio ambiente, como forma de tentar reduzir ou eliminar os riscos para restabelecer um
ambiente mais sustentável.
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Vale lembrar que, uma vez provocado o dano ambiental, nem sempre será possível revertê-lo, pois nem sempre existirão soluções técnicas suficientes com condições para restabelecer por inteiro a área afetada e, portanto, é de fundamental importância o estabelecimento de atitudes preventivas no sentido de se evitar que os danos ambientais aconteçam. [...] Quando uma empresa realiza seu controle ambiental, a proposta de seu produto e sua permanência no mercado tende a ser maior, pois busca-se a sustentabilidade do negócio (LIMA, 2014, p.43).
Em contrapartida, para Tinoco e Kraemer (2004) os passivos ambientais também podem
resultar em comportamento sustentável, realizando-se melhorias ambientais, nas quais citam como
exemplo, as operações realizadas, a partir da revisão de um gerenciamento ambiental.
Logo, a melhor opção é planejar ações, através do diagnóstico de problemas ambientais,
aplicados continuamente, para controlar os respectivos passivos, com o objetivo de tomar medidas
preventivas, tendo em vista a antecipação e minimização de possíveis danos ambientais, de modo que
possamos compreender melhor as interações entre sociedade e natureza. Além disso, todo esforço e
empenho dos envolvidos contribuem para um desenvolvimento sustentável que impacta diretamente
na melhoria da qualidade de vida das pessoas.
MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia adotada na respectiva pesquisa, para comprovar a viabilidade das ferramentas
de gestão ambiental em estabelecimentos agrícolas e propiciar a melhoria da qualidade de vida da
população rural, iniciou-se com a elaboração do questionário socioambiental e diagnóstico de passivos
ambientais, estruturados por meio do levantamento bibliográfico, a partir de consultas a livros e
artigos científicos da área de gestão ambiental. Após a definição dos instrumentos de coleta de dados,
ocorreu a aplicação do questionário socioambiental, no qual foram entrevistadas 25 famílias para
identificar e analisar as condições sociais e ambientais destes agricultores familiares. De todas as
famílias entrevistadas foram selecionadas 10 propriedades para o diagnóstico dos passivos ambientais,
com a identificação e avaliação as situações encontradas em níveis alto, médio e baixo risco dos
seguintes parâmetros: nascentes; vegetação; uso do solo; uso de defensivos; residência e
proximidades; caixa d’água; esgotamento sanitário e lixo. A escolha da comunidade, beneficiada com
a implementação das técnicas de gestão ambiental, ocorreu pelo fato de demonstrarem maior interesse,
em relação às demais comunidades visitadas, além de apresentarem outros quesitos como, a água da
nascente sendo a única alternativa de consumo; a propriedade com riscos ambientais elevados; os
agricultores preocupados com a saúde e bem-estar da sua família e comunidade em geral.
A análise dos dados foi efetuada pela equipe multidisciplinar (composta por docentes,
estudantes e profissionais da área de Administração e Geografia) do projeto (USF/SETI) Melhoria da
saúde dos agricultores familiares através da implantação de técnicas de saneamento e gerenciamento
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ambiental, sendo realizado os procedimentos de diagnóstico de passivos ambientais, proteção e
recuperação das nascentes, orientações socioambientais e reflorestamento de áreas desmatadas.
RESULTADOS & DISCUSSÕES
Com base na coleta de dados, foi possível elaborar um gráfico que caracteriza a situação atual
dos passivos ambientais localizados em 10 pequenas propriedades, nos quais são classificados, de
acordo com a intensidade evidenciada, nos níveis: baixo, moderado e alto risco (Figura 2).
Figura 2 – Levantamento dos Passivos Ambientais
Fonte: Os autores, 2014.
No primeiro passivo avaliado, constatou-se o impacto ambiental e a vulnerabilidade das
nascentes, definindo-as como de alto risco, pelo fato de não estarem cercadas, sem reflorestamento em
um raio de 50 metros em torno da nascente e exposta ao ambiente externo, a pessoas, animais,
atividades agrícolas, entre outros contaminantes (Figuras 3 e 4).
Figura 3 – Nascente A desprotegida
Fonte: Os autores, 2014. Figura 4 – Nascente B desprotegida
Fonte: Os autores, 2014.
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A respeito da vegetação, aproximadamente 70% das propriedades encontram-se em situação
de alto risco, enquanto em torno de 30% apresentam o nível moderado. Muitos agricultores não
souberam informar exatamente a parcela do empreendimento destinada a reserva legal e Área de
proteção permanente, mas afirmaram que ambas estavam presentes nas propriedades, conforme
legislação. Segundo a cartilha explicativa de orientação sobre o Código Florestal, SOS Florestas
(2011), as APPs (Áreas de Proteção Permanente) são ambientes compostos pelos recursos naturais que
estão vulneráveis a danos como erosão do solo, enchentes, deslizamentos, entre outros, pois se
localizam próximo aos rios, cursos d'agua, lagoas, reservatórios, topos de morros e encostas com
declividade acentuada. Já a reserva legal é destinada a preservar a cobertura vegetal original, para
assegurar um desenvolvimento sustentável e deve estar presente em uma parte do empreendimento
rural, com dimensões que variam de acordo com a região da propriedade. No caso de propriedades no
município de Iretama, PR, corresponde a 20%, a parcela da reserva legal. Já o estabelecimento que
situa-se na Amazônia, é diferente porque a parcela da reserva legal é de 80% e 35% no Cerrado. Em
outras regiões do Brasil, especificamente no município de Iretama, PR, corresponde a 20%. A função,
tanto das APPs como da reserva legal é conservar a biodiversidade da região e proteger os recursos
naturais, além de garantir a saúde e a segurança das pessoas.
Conforme Crispim (2007), em relação ao uso do solo, predomina as pastagens seguidas da
agricultura, e a grande maioria, 90% apresentam um adequado estado de conservação, com impactos
ambientais reduzidos, distante de rios e mananciais, enquanto 10% estão em nível moderado, pois as
pastagens estão localizadas próximo dos corpos hídricos, podendo ocorrer a dessedentação animal e
outras formas de degradações hídricas. Um passivo que merece a devida atenção dos agricultores é a
utilização de defensivos agrícolas, nos quais, aproximadamente 40% dos estabelecimentos situam-se
como de alto risco, pois os agricultores não utilizam equipamentos de proteção para aplicação, 50%
apresentam-se de forma moderada, por usarem em pouca quantidade os defensivos e ter conhecimento
sobre a tríplice lavagem e o restante, 10% estão com níveis baixos. Um aspecto positivo se refere pelo
fato da maioria realizar a separação e devolução das embalagens de defensivos agrícolas. A respeito da
área entorno das residências em si, 50% delas encontram-se em situação de alto risco, pois existem
resíduos sólidos como garrafas, embalagens de medicamentos veterinários, embalagens plásticas, entre
outros materiais nos quintais das residências e também há a circulação de vários tipos de animais, que
são criados soltos na propriedade como cachorros, galinhas, porcos e gatos. O restante dos locais
diagnosticados classificam-se com níveis baixos, 30% e moderados, 20%, em virtude das residências e
o entorno contarem com ambientes organizados, áreas arborizadas, animais presos e sem resíduos
sólidos no chão. No caso das caixas d´água, cerca de 70% dos estabelecimentos apresentam um fator
moderado por efetuarem a limpeza nos períodos necessários, mas deixam as mesmas excederem o seu
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volume total, causando o desperdício de água durante a época de chuvas. Já o restante, 30% com a
proporção baixa se deve pelos cuidados corretos com o reservatório. Outro passivo ambiental que gera
preocupação é o esgotamento sanitário com, apenas 30% das propriedades estarem com níveis
aceitáveis, pelo fato de possuírem uma estrutura adequada e 70% encontram-se com alto risco
ambiental, porque apresentam algumas situações irregulares como a fossa negra aberta, coberta,
geralmente por pedaços de madeira e esgoto doméstico resultantes da lavagem de roupas, utensílios
domésticos e banheiros externos localizados acima das nascentes.
Figura 5 – Esgotamento sanitário irregular
Fonte: Os autores, 2014.
Por fim o lixo, com 80% dos estabelecimentos encontram-se em condições moderadas e 20%
foram classificados em estado de alto risco, dado que os resíduos orgânicos são reaproveitados em
hortas e os sólidos, normalmente, queimados, aterrados ou deixados próximos à habitação, conforme
já mencionado.
Em relação à implementação de técnicas do SGA, os procedimentos adotados nos
estabelecimentos agrícolas compreenderam, inicialmente, o diagnóstico de passivos ambientais.
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Figura 6 – Aplicação do diagnóstico de Passivos Ambientais
Fonte: Os autores, 2014.
A partir da identificação dos riscos ambientais nos empreendimentos, realizou-se a
implementação do gerenciamento ambiental, com a participação dos agricultores familiares e demais
interessados, no qual foram realizadas técnicas de proteção e recuperação das nascentes, orientações
socioambientais e o plantio de mudas nativas (Figuras 7 e 8).
É importante ressaltar que, durante a execução das etapas do processo, foi promovida a
educação ambiental, com orientações as famílias visitadas sobre a conscientização e preservação dos
recursos naturais nos estabelecimentos agrícolas.
Figura 7 – Nascente protegida Fonte: Os autores, 2014
Figura 8 – Reflorestamento Fonte: Os autores, 2014
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As ações de proteção e preservação do meio ambiente tornam-se indispensáveis para que se
conquiste o gerenciamento ambiental. Para os agricultores familiares se manterem competitivo frente
ao mercado nacional de alimentos, a adoção destas ferramentas de sustentabilidade, condicionada aos
recursos disponíveis para operação nos processos e serviços, resultarão em um maior aproveitamento
das atividades desempenhadas nas pequenas propriedades rurais.
Diante disso, o desenvolvimento de técnicas de gestão ambiental, mostra-se eficiente nos
estabelecimentos agrícolas porque possibilitou aos agricultores obterem conhecimento visando à
redução dos passivos ambientais e o desenvolvimento de forma econômica e sustentável.
Além disso, o presente estudo possibilitou destacar as dificuldades enfrentadas pelas famílias
da Comunidade Muquilão, do município de Iretama, Paraná, nos quesitos: abastecimento de água e
falta de assistência técnica. Outra questão é a falta de apoio do poder público em auxiliar essas
famílias na busca pelo desenvolvimento econômico, social e ambiental. São justificadas as
necessidades de aplicação de pesquisas e projetos, desta natureza, pois oferece aos agricultores
familiares, acesso a informações e assistência técnica, que dificilmente receberiam por não ter
condições de pagarem por essas atividades.
Apesar da dificuldade de estabelecer uma compatibilização objetiva entre aspectos
econômicos e ambientais, a aplicação de ferramentas de gestão ambiental em pequenas propriedades
proporciona resultados positivos como conscientização de preservação dos recursos naturais,
disseminação de informações sobre o comportamento e desenvolvimento sustentável e melhoria na
qualidade de vida da população rural.
REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 14001. Sistemas de gestão ambiental. Diretrizes gerais sobre princípios, sistemas e técnicas de apoio. Rio de Janeiro: ABNT, 2004. ALCÂNTARA, L. A.; SILVA, M. C. A.; NISHIJIMA, T. Educação Ambiental e os Sistemas de Gestão Ambiental no Desafio do Desenvolvimento Sustentável. Revista REGET/UFSM, v(5), nº5, p.734-740, Edição especial, 2012. BATELLO, E. R.; MELLO, L. A.; PAULA, V. F. de. Modelo de Sistema de Gestão de Passivos Ambientais. In: I Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo, 2009, São Paulo-SP. Suplemento - I Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo. São Paulo: Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS), 2009. CRISPIM, J. de Q. Avaliação de recursos e desenvolvimento de métodos qualitativos da avaliação ambiental em estabelecimentos agroecológicos no município de Rio Branco do Sul - PR. 203F.
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