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DIAGNOSTICO DO PROCESSO PRODUTIVO DO SETOR DE ESTAMPARIA ROTATIVA EM UMA INDÚSTRIA TÊXTIL DA GRANDE NATAL Camilla Myrela de Carvalho Santos (UFRN ) [email protected] Reidson Pereira Gouvinhas (UFRN ) [email protected] As indústrias têxteis brasileiras estão cada vez mais buscando espaço no competitivo mercado global, para isso estão se reestruturando com adoção novas estratégias organizacionais e altos investimentos tecnológicos em seus parques industriaais. Este trabalho apresenta uma análise crítica baseada em um diagnóstico no intuito de identificar os possíveis problemas no setor de Estamparia Rotativa uma indústria têxtil da Grande Natal. Para tanto, os dados foram coletados através da observação participante e entrevistas semiestruturadas realizadas em todas as etapas do sistema de produção da Estamparia Rotativa. Por fim, tais dados foram compilados e estruturados formando o presente trabalho. Destaca-se a constataçao de erros operacionais, perdas de tempo e transporte, desempenho inadequado da máquina de estampar II, baixo aproveitamento da mão-de-obra e falhas no processo como um todo (tempos ociosos, paradas de máquina, custos, inapropriada produtividade e qualidade dos produtos e saúde e bem estar inadequados aos colaboradores). Palavras-chaves: Diagnóstico, estamparia rotativa, produção enxuta XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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DIAGNOSTICO DO PROCESSO

PRODUTIVO DO SETOR DE

ESTAMPARIA ROTATIVA EM UMA

INDÚSTRIA TÊXTIL DA GRANDE

NATAL

Camilla Myrela de Carvalho Santos (UFRN )

[email protected]

Reidson Pereira Gouvinhas (UFRN )

[email protected]

As indústrias têxteis brasileiras estão cada vez mais buscando espaço

no competitivo mercado global, para isso estão se reestruturando com

adoção novas estratégias organizacionais e altos investimentos

tecnológicos em seus parques industriaais. Este trabalho apresenta

uma análise crítica baseada em um diagnóstico no intuito de

identificar os possíveis problemas no setor de Estamparia Rotativa

uma indústria têxtil da Grande Natal. Para tanto, os dados foram

coletados através da observação participante e entrevistas

semiestruturadas realizadas em todas as etapas do sistema de

produção da Estamparia Rotativa. Por fim, tais dados foram

compilados e estruturados formando o presente trabalho. Destaca-se a

constataçao de erros operacionais, perdas de tempo e transporte,

desempenho inadequado da máquina de estampar II, baixo

aproveitamento da mão-de-obra e falhas no processo como um todo

(tempos ociosos, paradas de máquina, custos, inapropriada

produtividade e qualidade dos produtos e saúde e bem estar

inadequados aos colaboradores).

Palavras-chaves: Diagnóstico, estamparia rotativa, produção enxuta

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1. Introdução

Em meio à rápida evolução da globalização do mercado e consequente crescente

competitividade, as Indústrias Têxteis têm procurado implantarem mudanças estratégicas e

operacionais buscando vantagens competitivas em qualidade, preços e prazos de entrega.

Fundamental para a obtenção dessas vantagens competitivas é a melhoria dos processos

produtivos (JURAN, 1993).

A Cadeia da Indústria Têxtil é formada pelos processos de limpeza do algodão, fiação,

tecelagem, beneficiamento, tingimento, estamparia e acabamento. Dentro dessa cadeia se

destaca o processo de Estampagem que “desempenha fundamental papel no processo de

percepção de valor de produto pelos consumidores, funcionando como um atrativo maior na

hora da escolha entre um artigo ou outro” (ABIT, 2009).

Estampar é a arte de cobrir total ou parcialmente a superfície do tecido, decorando com

desenhos e obtendo texturas e efeitos variados. Um dos procedimentos mais utilizados para

estampar tecidos planos é a Estamparia Rotativa, que faz uso de cilindros estampadores. Esse

método permite estampar tecidos em alta velocidade (até 80 m/min.) proporcionando uma

maior produtividade.

Para garantir uma produtividade dentro das metas estipuladas e produtos de primeira

qualidade é necessário que todas as operações envolventes no processo de Estampagem sejam

realizadas da melhor forma, otimizando seus recursos.

Neste contexto, a pesquisa de caráter exploratório foi desenvolvida através de um estudo de

caso e tem como objetivo de diagnosticar o sistema produtivo do setor de Estamparia Rotativa

de uma indústria têxtil da Grande Natal, a partir das análises críticas do processo atual.

Assim, o presente trabalho justifica-se pela necessidade do setor de Estamparia adequar-se ao

Sistema de Produção Enxuta adotado e implantado nos demais setores da empresa em estudo,

tendo em vista que o mercado de tecidos estampados é um diferencial para a indústria manter-

se competitiva.

Os dados foram coletados na produção, com observação do processo, intrevistas aos

colaboradores, supervisores e os Gestores da estamparia e controle de qualidade. A etapa de

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análise crítica foi realizada com o auxilio de algumas ferramentas como: construção de

gráficos, fluxogramas, diagrama de Pareto e Brainstorming.

2. Contexto da Indústria Têxtil

O setor têxtil é um dos segmentos de maior tradição dentro do segmento industrial, contando

com uma posição de destaque na economia dos Países mais desenvolvidos e carro-chefe do

desenvolvimento de muitos dos chamados Países emergentes. (GONÇALVES, MELO e

DUARTE, 2004)

O Comercio Têxtil e Confeccionado mundial vem registrando uma expansão nos últimos anos

como pode ser observado na Figura 1.

Figura 1 – Comercio Mundial de Têxteis e Confeccionados

Fonte: ABIT. Panorama do setor têxtil e de confecções.

O aumento da competitividade global, tendo em vista o destaque dos produtos asiáticos no

comércio internacional, em especial da China, que compete principalmente em preço, fez com

que as indústrias têxteis passassem por uma reestruturação nas estratégias competitivas e

transformações tecnológicas para a sobrevivência nesse mercado acirrado. Gonçalves, Melo e

Duarte (2004) relatam que a competitividade do cenário atual do setor têxtil pode ser

caracterizada pela capacidade das empresas em produzir e entregar artigos diferenciados e

cada vez mais complexos, em um menor tempo possível.

Ainda os autores Gonçalves, Melo e Duarte (2004) descrevem que no setor têxtil,

particularmente, o efeito causado pelas mudanças, levou a um redesenho, com mudanças tanto

no comportamento da empresa, quanto em sua participação no mercado. Daí a necessidade de

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se estudar as principais inovações tecnológicas, em termos de melhorias de equipamentos, que

vem ocorrendo nos últimos anos, e como isso está se refletindo nos resultados do setor.

Segundo Lezeck e Nunes (2002), o mercado têxtil atual é auto-seletivo, devido à acomodação

dos preços dos produtos e à modernização dos processos das empresas concorrentes. Este

cenário provocou a redução da margem de lucro e o ajuste da referência dos preços, fazendo

com que as indústrias voltem suas estratégias para a redução de custos, aumento de

produtividade e melhoria de qualidade.

O Brasil está entre os principais produtores da indústria têxtil do mundo. Em 2005, o País foi

o sétimo produtor em tecido (LUPATINI, 2007). O incremento da renda da população e a

estabilidade da economia explicam as dimensões da produção do setor, ver Figura 2.

Figura 2 – Aumento de consumo de têxteis no Brasil

Fonte: ABIT. Panorama do setor têxtil e de confecções.

A cadeia têxtil brasileira produziu em 2005 US$ 32,9 bilhões, o que equivale a 4,1% do PIB

total brasileiro e a 17,2% do PIB da Indústria de Transformação. Os empregos gerados

somaram 1.523 mil, o equivalente a 1,7% da população economicamente ativa e 17,2% do

total de trabalhadores alocados na indústria da transformação, o que comprova ser este um

setor de grande relevância para a economia do país e de forte impacto social (SEBRAE,

<http://www.sebrae.com.br/setor/textil-e-confeccoes/o-setor/panorama/145-7-industria-textil-no-

brasil/BIA_1457>, acesso em 30, Jan. de 2013).

O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) ainda afirma que

em termos de comércio exterior, no entanto, a participação das indústrias têxteis brasileiras

ainda é pequena, estando na 47ª posição entre os maiores exportadores do mundo, a balança

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comercial têxtil e de confecção fechou com déficit de US$ 60,2 milhões em 2006; as

importações somaram US$ 2,14 bilhões e as exportações US$ 2,08 bilhões.

No cenário regional, a cadeia têxtil do Rio Grande do Norte vem crescendo, tendo atingido

em 2008, 3.561 empregos diretos. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e

Emprego – MTE, o setor é responsável por cerca de 60% dos empregos na indústria de

transformação do Estado (SENAI- RN, 2008).

3. Descrião da Empresa

O presente trabalho foi realizado em uma Indústria Têxtil de grande porte localizada no

distrito industrial de Extremoz – RN. Com 45 anos de mercado a indústria em estudo possui

unidades produtoras nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte, um Centro de Distribuição

no Estado de São Paulo, uma fábrica no Equador e filiais de venda na Argentina e Europa.

Atualmente está entre as maiores produtoras mundiais de índigos e brins, respondendo 40%

da produção brasileira de índigo (Vicunha Têxtil, 2012).

O parque industrial localizado no estado do Rio Grande do Norte conta com um quadro de

1800 colaboradores distribuídos em quatro turnos: A B e C (turnos de produção) e o turno D

(administrativo).

A empresa em estudo adota este Sistema de Produção Enxuta para combater as seguintes

perdas: Superprodução, Movimentação desnecessária, Transporte desnecessário, Excesso de

Estoque, Defeitos e Espera.

4. Descrição e Análise do Atual Sistema Produtivo da Estamparia Rotativa

O mapeamento do sistema produtivo da estamparia foi realizado com finalidade de analisar a

situação atual do setor diante dos aspectos relacionados aos métodos utilizados na preparação

e produção, equipamentos, máquinas e equipes de trabalho, como mostrado na Figura 3. Esta

análise permitiu a identificação de problemas existentes no processo.

Figura 3 – Etapas do mapeamento do processo

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Fonte: Autores

4.1. Caracterização do Processo de Estampagem

Após o tecido ter passado pelos processos de Beneficiamento e Acabamento, ele é submetido

ao processo de Estampagem. O processo de estampar consiste em proporcionar uma cobertura

parcial ou total ao tecido com uma pasta criando texturas, cores e desenhos, somente os

tecidos Brins são estampados utilizando essa técnica. Estampar é uma das mais exigentes

técnicas têxteis, e também a que mais se aproxima da arte.

O fluxograma do processo da estampagem está ilustrado na Figura 4 e cada etapa é detalhada

nos tópicos seguintes.

Figura 4 – Fluxograma do processo de estampagem de tecidos

Fonte: autores

4.1.1. Desenvolvimento de Produtos

Acompanhamento do Processo

Análises dos Métodos

Identificação dos Problemas

Observação do processo

Fluxos

Desenvolvimento de

produtos

Preparação de matéria-

prima e máquinas

Produção de tecidos

estampados

Máquinas e

equipamentos

Mão-de-obra

Processo

Desenvolvimento do Produto

Gravação dos cilindros

estampadores

Aprovado?

Preparação da pasta Montagem da bancada

Ajuste de máquina

Estampagem do tecido

Secagem

Sim

Não

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Todas as estampas que fazem parte da coleção da empresa, assim como, as solicitadas pelos

clientes são elaboradas computacionalmente pela equipe de designers especializados em moda

e tendências a nível internacional. O projeto nasce na escolha da gravura, passando pela

escolha de cores, texturas, sobreposição dos motivos e a distribuição dos desenhos a

completar o rapport (espaçamento dos motivos no tecido).

O Desenvolvimento da Receita da Pasta também é realizado nesta etapa. Um ensaio da receita

é elaborado no próprio laboratório estamparia para as produções das amostras.

Com o projeto concluído, a equipe de produção das amostras elaboram as amostras que serão

enviadas para a equipe de vendas e os clientes da empresa. Se a estampa desenvolvida for da

própria coleção da empresa as amostras serão produzidas na mesa de amostra, que é um

processo semelhante ao da estampagem rotativa em escala menor utilizando apenas um

cilindro estampador. Já se a estampa for solicitada pelo cliente, as amostras serão produzidas

em quadros, um método de menor custo para produzir pequenas quantidades de amostras. É

importante ressaltar que este processo de produção de amostras em quadros é realizado por

empresas terceiras devido à falta de equipamentos adequados à técnica.

As amostras são avaliadas tanto pela equipe de desenvolvimento de produto, área comercial,

como também, os clientes. Se forem aprovadas, as estampas faram parte da coleção da

empresa e serão produzidas.

4.1.2. Gravação dos Cilindros Estampadores

A estampadora rotativa é a máquina de estampar tecido com cilindros de níquel

microperfurados. As gravações das estampas nesses cilindros são feitas no próprio setor de

estamparia.

Cada cilindro possui um perímetro de 642 milímetros (rapport) e sua superfície é constituída

de micro orifícios calibrados em Mech, unidade que indica o número de orifícios por

centímetro quadrado.

A gravação do cilindro com a estampa ocorre em quatro etapas: laquear o cilindro, impressão

da estampa, revelação e inspeção. Todo o processo de gravação de cada cilindro dura em

média 5 horas.

4.1.3. Preparação da Pasta

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A preparação da pasta de estampar ocorre na hora de processar um lote. A pasta é preparada

em toneis de 60 litros, cada cor é preparada separadamente uma de cada vez devido a

limitação de um único batedor. A pasta deve ser filtrada para retirar possíveis impurezas que

venham entupir os orifícios do cilindro.

A pasta de estampar deve apresentar viscosidade de 17 a 18 centipoise e pH variando de 8 a 9,

estas propriedades garante que a forma dos desenhos não se alastrem.

A pasta é composta de pasta base, antiespumante, catalisador, pigmento e espessante. A

receita da pasta de estampar é elaborada com as quantidades necessárias de produtos para a

produção de 1 kg de pasta, cada artigo tem o seu consumo de kg de pasta por m².

4.1.4. Montagem da Bancada

A etapa de montagem da bancada consiste em preparar a máquina de estampar nas seguintes

etapas:

- Posicionar os cilindros estampadores corretamente, ajustando sua largura à largura do

tecido envolvendo uma fita adesiva impedindo que a pasta saia. Quando a estampa

possui várias cores, cada cilindro fica responsável por estampar uma única cor;

- Colocar o cilindro cola no inicio da bancada, este cilindro possui a superfície adesiva

que retêm os pêlos superficiais do tecido;

- As rasquetas são inseridas dentro dos cilindros é por elas que as pastas passarão para

dentro dos cilindros;

- As varetas metálicas também são colocadas dentro dos cilindros que permanecerão

presas a mesa pelo campo magnético fazendo com que ocorra uma maior penetração da

pasta no tecido;

- Ajustes dos comandos de velocidade, temperatura da estufa, magnético e quantidade de

cola no tapete também são realizados a cada lote processado;

- Os toneis com as pastas são colocadas próximas às bombas de alimentação das

rasquetas.

Com o término da montagem da bancada o tecido-guia é inserido na máquina para realizar o

passamento e verificar as condições da máquina antes do inicio do processo de estampagem.

4.1.5. Procedimento da Estampagem

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Logo após a montagem da bancada e o posicionamento dos tonéis de pasta para o

abastecimento das bombas que alimentaram a máquina de estampar, dá-se inicio ao processo

de estampagem. O lote de tecido é fixado à entrada da máquina passando pelo sistema de

retirada de pêlo. Ainda na entrada de máquina pode-se ter uma cuba de cola, que serve para

prender o tecido ao tapete durante o processo, na fábrica em estudo somente a Máquina I

possui esse sistema.

O procedimento da estampagem ocorre com o movimento do tapete que provocam as rotações

dos cilindros, as rasquetas que estão dentro dos cilindros liberam as pastas e as varetas que

estão presas à bancada pelo campo magnético permitem a passagem adequada de pasta para o

tecido. A Máquina I tem capacidade de produzir 80m/min e a Máquina II tem a produção

máxima de 30m/min. Existe uma limitação de quantidade de cilindros que as bancadas das

máquinas comportam, a Máquina II comporta somente três cilindros e a Máquina II comporta

dez cilindros.

A limpeza do tapete é feita através do Sistema pré-lavagem e lavagem que é instalado

somente na Máquina I com o objetivo de remover a maior parte da cola e contaminações

residuais.

Figura 5 – Estrutura da Máquina II de estampar

Fonte: REGGIANI MACCHINE. Única: máquina de estampar rotativa

Na saída da estampagem o tecido é guiado por uma esteira para a secagem. A Secagem

consiste em uma estrutura de aço de circuito fechado protegida com placas de isolamento

térmico de lã de rocha o que impede a fuga de calor.

4.1.6. Controles existentes no processo de estampagem

Cuba de cola Lavagem do Tapete

Sistema de retirada de pêlos

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Durante o processo de estampagem dois operadores são posicionados na entrada e saída da

máquina com finalidade de fazer a inspeção visual do tecido estampado. Qualquer

anormalidade detectada é realizada uma parada de máquina imediata para solucionar o

problema.

O controle final do tecido acabado é somente realizado pelo setor de qualidade total, onde

será revisado e classificado pela quantidade de defeitos.

4.2. Diagnóstico do setor de estamparia rotativa

4.2.1. Desenvolvimento x Produção

Ao acompanhar as primeiras produções de novos artigos foi possível perceber a dificuldade

de reproduzir as mesmas características que foram atribuídas na etapa de desenvolvimento do

produto. As divergências estão na coloração da estampa, textura, sobreposição dos motivos e

a sequência dos rapports.

Em aproximadamente 80% das primeiras produções são necessários ajustes na produção para

obter um produto igual ao que foi projetado. Estes ajustes demoram horas e, até mesmo,

turnos para serem resolvidos, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1 – Tempo de ajuste das primeiras produções

ARTIGO TURNO INICIAL TURNO FINAL TEMPO TOTAL DE AJUSTE

1 C C 3h

2 A B 10h

3 A A 5h40min

4 B B 3h30min

5 B (1ºdia) B (2º dia) 24h

Fonte: Autores

Com a coleta dos dados na produção foi possível identificar as principais causas destas

divergências.

Gráfico 1 – Principais causas de ajustes na produção

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Fonte: autores

O gráfico 1 ilustra as principais causas de ajustes na produção, é possível perceber que em

50% das ocorrências o problema tem origem na receita da pasta de estampar. Este problema

ocorre na elaboração da receita da pasta, que no processo de desenvolvimento, a receita é

desenvolvida em laboratório que muitas vezes não são corretamente ensaiadas, com o uso de

tecidos diferentes do que realmente serão utilizados na produção e produtos auxiliares

diferentes, necessitando mudanças na receita original. O ajuste é realizado na forma de

tentativas, procura-se chegar à cor e textura fazendo pequenas alterações na receita até chegar

ao padrão.

Outra causa frequente é a produção de amostras da coleção da empresa que representa 25%

das ocorrências. O processo de produção das amostras de tecidos da coleção da empresa é

realizado na mesa de amostra com apenas um cilindro estampador, este procedimento requer

mais de uma passagem para obter a característica desejada da amostra. Diferentemente, a

produção faz uso de vários cilindros ao mesmo tempo, obtendo outro aspecto e textura que

não aproximam da amostra padrão.

A dimensão da estampa foi a causa principal em 15% das ocorrências. No processo de

desenvolvimento da estampa é feito um rapport equivalente de 642 milímetros e este modelo

deve se repetir por todo o tecido, acontece que esses modelos não se encaixam perfeitamente

na produção devido a erros de desenvolvimento nas dimensões dos rapports da estampa no

tecido.

As amostras de pedidos de clientes são produzidas por empresas terceiras, pois a empresa

ainda não possui equipamento da técnica de estampagem em quadros para produzi-las. Isto se

torna um problema para a Produção, pois as amostras são realizadas por outra empresa

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fazendo com que se perca o domínio do processo dificultando a reprodução e a solução de

problemas no processo produtivo da estampagem rotativa em 8% das ocorrências.

4.2.2. Fluxo Geral do Tecido

O fluxograma do processo produtivo dos tecidos estampados (figura 6) mostra que o atual

fluxo do tecido é Chamuscagem Enzimática Oxidativa, Purga e Alvejamento, Mercerizar, em

seguida Peletizar/ Escovar, Tingir, Acabar e por último a Estampagem.

Figura 6 – Fluxograma do processo produtivo de estampados

Escovar

Ramar

Peletização

Tingimento

Sanforizar

Estampar

Purga e alvejamento

Mercerização

CEO

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Fonte: autores

Um dos maiores problemas identificados no processo de Estampagem é o excesso de pêlo

superficial no tecido, provavelmente derivados do processo de Peletizar e Escovar, que

consiste em levantar os pêlos do tecido com auxilio de lixas ou escovas para proporcionar um

toque aveludado. As duas máquinas de estampar possuem sistemas de retiradas de pêlos e os

cilindros-cola, mas estes equipamentos não são eficientes para a eliminação dos pelos

superficiais.

O excesso de pêlo superficial no tecido pode ocasionar entupimento dos orifícios dos cilindros

estampadores ocasionando uma parada de máquina para que ocorra a limpeza desses

cilindros. Outro problema é a não fixação da pasta no tecido que ocorre quando o pêlo

permanece na superfície do tecido e o processo de estampagem é feito sobre o pêlo, depois da

secagem este pêlo juntamente com a pasta desprende do tecido ocasionando um defeito na

estampa. Dependendo do tamanho do defeito pode-se ser feita uma correção manual com a

própria pasta e uma espátula.

4.2.3. Análise da Gravação dos Cilindros Estampadores

A análise da etapa de gravação dos cilindros estampadores permitiu a identificação de erros

de gravação devido ao método utilizado na empresa. O sistema de gravação de cilindros

estampadores é a impressão de estampa à cera, este método é o mais financeiramente viável,

porém, torna-se o processo restrito a algumas estampas. O processo utilizado não permite a

impressão de desenhos mais precisos, o que acaba gerando erros de gravação, perdas de

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tempo e movimento para reparar os erros e terceirização da etapa.

Outro ponto que vale ser destacado é o tempo de preparação. Este processo tem duração

média de 5 horas. O custo de preparação desses cilindros é elevado, tornando-se inviável

estoque reserva. Caso algum desses cilindros quebre durando o processo de estampar é

necessário fazer a gravação de outro cilindro, enquanto isso a produção permanecerá parada.

4.2.4. Procedimento de Preparação da Pasta de Estampar

A preparação da pasta ocorre no momento que o lote deverá ser processado, ela é feita em um

espaço improvisado ao lado das máquinas de estampar. A estrutura conta com 01 batedor de

pasta, 01 batedor de pasta-base, 01 balança industrial de 100kg, 01 balança comercial de

15kg, 01 bancada com lavatório e 01 filtro de pasta. Esta estrutura impossibilita o preparo

simultâneo das pastas para as duas linhas de produção, necessitando fazer uma de cada vez

causando gargalos.

A variação de temperatura da água utilizada no processo é outro problema identificado na

preparação da pasta. A água utilizada é oriunda do reaproveitamento dos cilindros de

resfriamento do beneficiamento, que é armazenada em tanques reservatórios e bombeada para

a Estamparia, inexistindo um controle de temperatura. O problema decorrente deste uso é a

dificuldade de manter a viscosidade ideal da pasta, necessitando alterações de receitas para

assegurar essa propriedade.

A filtragem da pasta é um procedimento obrigatório para retirar impurezas garantindo a

qualidade da pasta. O procedimento de filtragem consiste em pegar os toneis de 60 litros e

eleva-los com o auxilio de uma escada a uma altura de aproximadamente 1,30 metros. A

duração da filtragem de um único tonel é de 5 minutos, tomando a demanda máxima de

alimentação por maquina de 9 toneis, o processo de filtragem finalizará em 45 minutos. O

problema identificado é que muitos funcionário não executam esta fase relatando que o

procedimento não é ergonômico e possui um tempo de duração elevado.

4.2.5. Análise das Máquinas Estampadoras

A empresa possui duas máquinas estampadoras, cada uma com suas particularidades de

velocidade, temperatura, estufa, fixação do tecido no tapete, lavagem de tapete e quantidade

de cilindros estampadores.

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A Máquina I é responsavel por 60% da produção das estampas, a sua estrutura comporta até

nove cilindros estampadores mais um cilindro cola, a velocidade máxima chega até 80 m/min,

o passamento da estufa tem comprimento de 25 metros com a temperatura podendo chegar a

150°C. Esta máquina possui uma cuba de cola na entrada da máquina com finalidade de fazer

com que o tecido fique preso ao tapete da mesa de estampagem. Já na saída da mesa existe um

sistema de lavagem dessa esteira para a retirada da cola, resíduos de pasta e impurezas que

ficam agregadas à esteira.

A Máquina II, responsavel por 30% da produção, é a mais antiga com capacidade somente

para dois cilindros estampadores mais um cilindro cola, limitando somente a estampagem em

duas cores. A velocidade máxima chega a 30 m/ min, o passamento da estufa tem

aproximadamente de 47 metros com temperatura máxima de 120ºC. Esta máquina não possui

cuba de cola na entrada provocando instabilidade no tecido na mesa de estampar podendo

gerar falhas na estampa. O acumulo de sujeira no tapete é maior, pois ela não possui o sistema

de lavagem de tapete na saída de máquina. A limitação da quantidade dos cilindros

estampadores desta máquina trás consequências a produção de tecidos estampados, acontece

que existe uma sobrecarga na Máquina I, necessitando terceirizar 10% da produção como

medida para atingir suas metas.

4.2.8. Qualidade dos Tecidos Estampados

A empresa estabelece que 97% dos tecidos estampados deverão ser de primeira qualidade. Na

prática, esta meta não é atingida, cerca de 90% da produção é classificada em primeira

qualidade.

O Controle de Qualidade Total é responsável pela revisão final do tecido, apontando seus

defeitos e classificando-o de acordo com qualidade. O processamento de dados dos erros

apontados na Revisão Final em decorrência do processo de estamparia permitiu identificar os

defeitos e suas respectivas frequências.

Gráfico 2 – Diagrama de Pareto com os defeitos do tecido estampado

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Fonte: Autores

O diagrama de Pareto ilustra todos os defeitos oriundos do processo de estampagem, é

perceptível que falha de estampagem é responsável por 20% dos erros que levam o produto

ser classificado como segunda ou terceira qualidade.

6. Conclusões

O desenvolvimento de produtos diferenciados e customizados proporcionou ao setor de

Estamparia de tecidos um lugar de destaque dentro da cadeia têxtil. A estampa é vista como

arte de diferenciação e exclusividade dentro do universo da moda. Para que a empresa se

destaque neste seguimento é necessário que seu processo produtivo esteja operando conforme,

atingindo suas metas de produtividade e qualidade.

Diante deste contexto, o presente trabalho alcançou seus objetivos através do diagnóstico do

sistema produtivo atual do setor de Estamparia Rotativa utilizando as ferramentas de coleta e

processamento dos dados em todas as etapas que compõe o processo.

A pesquisa prossegue, agora com a elaboração das propostas de melhorias que serão

apresentadas também no ENEGEP 2013.

Referências

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<http://www.abit.org.br/abitnoticias/main.asp?MagiD=7&MagNo=15>, acesso em: 15/01/2013.

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