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Naturale outubro/novembro - 2011 Naturale agosto/setembro - 2011 2 Pedras preciosas Dr. Marcelo Ribeiro Barison Um dos importantes setores econô- micos é o da comercialização de pedras preciosas. Em alguns países, como Angola que explora diamantes, este é seu grande e principal produto de exportação. No Brasil, o setor de pedras preciosas também apre- senta grande valor em função da enorme diversidade e elevada qualidade de nossas gemas, onde Minas Gerais, assim como Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul são os principais estados produtores. Segundo Favacho (2001), o Estado de Minas Gerais é a província gemológica mais importante do país, sem contar que contribui com 25% de toda a produção mundial de gemas coradas, o que é um ín- dice muito elevado. A falta de percepção de sua impor- tância no mercado de gemas é atribuído ao fato de que as gemas extraídas em Minas Gerais em sua grande maioria são comer- cializadas no seu estado bruto, sem serem lapidadas no próprio estado de origem, cujo valor inicial é muito baixo compara- do com o produto lapidado e utilizado nas joalherias do país (Revista Minas Faz Ciên- cia, No 4, 2000). A diversidade de pedras preciosas que existem hoje são muitas e no Brasil ul- trapassam o número de cem, e o termo de preciosas e semipreciosas há muito tempo mudou. Schumann (1983) abordou que o termo semipreciosa deriva da baixa qua- lidade da gema frente à sua dureza, onde gemas facilmente riscáveis eram conside- radas semipreciosas e as de dureza elevada, pedras preciosas. Porém não se classificam mais as gemas em pedras preciosas ou semipreciosas como era fei- to antes da década de 80, e sim, todas as gemas são consideradas preciosas. Isto se deve ao fato de que a valorização de uma gema não é advinda apenas de sua classificação e sim de outros parâmetros, tais como raridade, tamanho, cor, brilho, dentre outros. Portanto, existem gemas consideradas preciosas co- mo esmeraldas, que pela falta de qualidade e demais atributos são consideradas gemas sem valor econô- mico, não preciosas. Por outro lado, uma simples ametista de grande tamanho, com elevada pureza e cor acentuada, é considerada rara e assim, uma ge- ma preciosa. A origem das pedras preciosas é diversa, muitas são encontradas em depósitos aluvionares (próximos de canais de rios), coluvionares (na base de encostas de solos) e outras em rochas tais como Xistos e Peg- matitos, em sua maioria. Os principais polos mineradores de pedras pre- ciosas são os municípios de Ouro Preto, Itabira, Gua- nhães, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Araçuaí, Diamantina e Corinto, onde é possível acompanhar uma série de atrativos ligados à atividade minerado- ra, além de promover o acesso e a comercialização das gemas e minerais produzidos no estado (http:// viagensinesqueciveis.wordpress.com). Dentre as principais pedras preciosas encontra- das em Minas Gerais estão Esmeralda, Água-marinha, Topázio, Diamante, Turmalina, Crisoberilo (incluindo a variedade raríssima Alexandrita), Berilos (variedades Heliodoro e Morganita), Kunzita, Andaluzita, Cordie- rita, Granada, Quartzos (variedade roxa Ametista e amarela de Citrino) – (Fig. 1) – (Todas as imagens de pedras preciosas utilizadas neste trabalho foram obtidas dos sites www.ebay.com e www.mercadolivre.com). de Minas Gerais Figura 1. Da esquerda para direita: Andaluzita, Cordierita, Granada, Ametista e Kunzita, todas lapidadas. Elaine Pereira

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Naturaleoutubro/novembro - 2011

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Pedras preciosas

Dr. Marcelo Ribeiro Barison

Um dos importantes setores econô-micos é o da comercialização de pedras preciosas. Em alguns países, como Angola que explora diamantes, este é seu grande e principal produto de exportação. No Brasil, o setor de pedras preciosas também apre-senta grande valor em função da enorme diversidade e elevada qualidade de nossas gemas, onde Minas Gerais, assim como Bahia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul são os principais estados produtores.

Segundo Favacho (2001), o Estado de Minas Gerais é a província gemológica mais importante do país, sem contar que contribui com 25% de toda a produção mundial de gemas coradas, o que é um ín-dice muito elevado.

A falta de percepção de sua impor-tância no mercado de gemas é atribuído ao fato de que as gemas extraídas em Minas Gerais em sua grande maioria são comer-cializadas no seu estado bruto, sem serem lapidadas no próprio estado de origem, cujo valor inicial é muito baixo compara-do com o produto lapidado e utilizado nas joalherias do país (Revista Minas Faz Ciên-cia, No 4, 2000).

A diversidade de pedras preciosas que existem hoje são muitas e no Brasil ul-trapassam o número de cem, e o termo de preciosas e semipreciosas há muito tempo mudou. Schumann (1983) abordou que o termo semipreciosa deriva da baixa qua-lidade da gema frente à sua dureza, onde gemas facilmente riscáveis eram conside-

radas semipreciosas e as de dureza elevada, pedras preciosas. Porém não se classificam mais as gemas em pedras preciosas ou semipreciosas como era fei-to antes da década de 80, e sim, todas as gemas são consideradas preciosas. Isto se deve ao fato de que a valorização de uma gema não é advinda apenas de sua classificação e sim de outros parâmetros, tais como raridade, tamanho, cor, brilho, dentre outros. Portanto, existem gemas consideradas preciosas co-mo esmeraldas, que pela falta de qualidade e demais atributos são consideradas gemas sem valor econô-mico, não preciosas. Por outro lado, uma simples ametista de grande tamanho, com elevada pureza e cor acentuada, é considerada rara e assim, uma ge-ma preciosa.

A origem das pedras preciosas é diversa, muitas são encontradas em depósitos aluvionares (próximos de canais de rios), coluvionares (na base de encostas de solos) e outras em rochas tais como Xistos e Peg-matitos, em sua maioria.

Os principais polos mineradores de pedras pre-ciosas são os municípios de Ouro Preto, Itabira, Gua-nhães, Governador Valadares, Teófilo Otoni, Araçuaí, Diamantina e Corinto, onde é possível acompanhar uma série de atrativos ligados à atividade minerado-ra, além de promover o acesso e a comercialização das gemas e minerais produzidos no estado (http://

viagensinesqueciveis.wordpress.com).

Dentre as principais pedras preciosas encontra-das em Minas Gerais estão Esmeralda, Água-marinha, Topázio, Diamante, Turmalina, Crisoberilo (incluindo a variedade raríssima Alexandrita), Berilos (variedades Heliodoro e Morganita), Kunzita, Andaluzita, Cordie-rita, Granada, Quartzos (variedade roxa Ametista e amarela de Citrino) – (Fig. 1) – (Todas as imagens de

pedras preciosas utilizadas neste trabalho foram obtidas

dos sites www.ebay.com e www.mercadolivre.com).

de Minas Gerais

Figura 1. Da esquerda para direita: Andaluzita, Cordierita, Granada, Ametista e Kunzita, todas lapidadas.

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No município de Ouro Preto é encontrado um tipo ra-ro de topázio amarelo denominado Topázio Imperial, único no mundo, muito apreciado no mercado internacional. Esta gema é rara, encontrada apenas na Rússia e Afeganistão, porém as gemas de maior qualidade do mundo são encon-tradas apenas em Minas Gerais (Fig. 2).

Figura 2. Cristais brutos de Topázio Imperial e à direita Topázio Imperial lapidado.

A Esmeralda é uma variedade de Berilo de cor verde gra-ma, gema esta considerada rara e de alto valor econômico e é encontrada nos municípios de Nova Era e Itabira. Estas gemas são encontradas em rochas negras denominadas de Biotita Xistos, e às vezes associada a veios de Quartzo (Fig. 3).

Figura 3. Cristal natural de Esmeralda em Biotita Xisto e à direita, Esmeralda lapidada.

Também são encontradas na região de Itabira e Nova Era, uma variedade de Crisoberilo denominada Alexandrita, cujo valor excede o dos diamantes, devido a sua escassez, beleza e raridade. Esta gema tem uma propriedade de mu-dança de cor de acordo com o comprimento de onda da luz incidente, apresentando coloração verde na luz do dia e al-tera para vermelho na luz incandescente, tornando-a muito cobiçada e admirada (Fig. 4).

Figura 4. Duas fotos da mesma gema Alexandrita, a primeira em luz do dia, e a segunda sob luz incandescente.

A Água Marinha, assim como a Esmeralda, também é uma variedade de Berilo de cor azul clara, sendo há mui-to tempo considerada uma das mais reconhecidas gemas brasileiras. É encontrada no município de Guanhães, Santa Maria do Itabira, Ferros e de Sabinópolis (Fig. 5). Durante o governo de Getúlio Vargas, foram oferecidos de presente de casamento, magníficos exemplares de Água Marinha para a rainha Elizabeth da Inglaterra, o que atualmente ornamen-tam jóias espetaculares na forma de tiaras, colares, brincos e anéis reais.

Figura 5. Cristal natural de Água Ma-rinha em Pegmatito, à esquerda e gema lapidada à direita.

Na grande região de Governador Valadares são encontradas uma grande variedade de gemas, dentre as quais se destacam Turmalinas, Granadas e Água-Marinhas. As Turmalinas são ge-mas que em geral apresentam cor verde escura, porém podem apresentar mais variedades de cores e tonalidades existentes de todas as gemas conhecidas. Cada cor de turmalina, exceto as ver-des, ganham nomes próprios, Incolita (azul), Rubelita (vermelha e rósea), Dravita (castanha e amarela), Acroíta (incolor) – (Fig. 6).

Figura 6. Variedades de cores de Turmalinas brasileiras.

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Em Minas Gerais são encontradas Safiras e Rubis, que são variedades de um mesmo mineral, o Coríndon. As gemas ver-melhas a púrpuras são consideradas Rubis e as demais cores são Safiras. A comercialização tem melhorado em função da melhoria da qualidade da cor e transparência por meio de tra-tamento térmico, embora sejam muito pequenas. Estas gemas são oriundas dos depósitos de Palmeiras, Indaiá, Sapucaia e Malacacheta, que apresentam boa intensidade de cor e trans-parência (LICCARDO, OLIVEIRA & JORDT-EVANGELISTA, 2005) – (Fig. 7).

Figura 7. Da esquerda para a direita: cristal bruto de Rubi, Rubi lapidado, cristal bruto de Safira, Safira lapidada e

demais safiras coloridas lapidadas.

Os diamantes de Minas Gerais são extraídos da Serra do Espinhaço desde o tempo colonial e ainda hoje continuam sendo explorados tanto por multinacionais quanto por inú-meros garimpeiros, enriquecendo o comércio local. Embora a maioria dos diamantes sejam incolores, em Diamantina são en-contrados também diamantes levemente coloridos, alguns na cor champanhe (castanho claro, amarelado), de grande beleza (Fig. 8).

Figura 8. Da esquerda para a direita: Diamante bruto, Diamante incolor e Diamante champanhe.

Em Coromandel, município mineiro próximo da divisa com o Estado de Goiás, os diamantes são extraídos de depósitos aluvionares por garimpeiros (Fig. 9) que se organizaram e assim criaram a Cooperativa de Garimpeiros da Região de Coroman-del (Coopergac), que reúne cerca de 135 trabalhadores do Alto do Paranaíba. Este é um exemplo de sucesso, pois por meio desta cooperativa, os diamantes podem ser comercializados pelos próprios garimpeiros, as gemas estão sendo avaliadas e pagas por valores mais concretos e de forma totalmente legal, pois apresentam o certificado Kimberley. Este certificado inter-nacional foi um sistema criado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) para garantir a origem legal das pedras e evitar o comércio internacional dos “diamantes de sangue”. De acordo com as informações fornecidas por ABN Águas Boas News (http://aguaboanews.com.br), foi encontrado neste muni-

cípio um diamante cor de rosa intenso extremamente raro, de 3,89 quilates, avaliado em $180.000 dólares, ou seja, um valor próximo de R$ 311.400,00 (cotação do dólar em 14/09/2011).

A cidade de Governador Valadares mantém ainda um dos grandes eventos da área de pedras preciosas denominado A BRAZIL GEM SHOW, que traz vários expositores nacionais e in-ternacionais de pedras preciosas brasileiras e minerais raros, que afeta diretamente a economia local e do país neste seg-mento. Em Teófilo Otoni, anualmente tem-se a GEMS EXPORT ASSOCIATION (GEA) que representa a indústria e o comércio na FEIRA INTERNACIONAL DE PEDRAS PRECIOSAS (FIPP), com grande número de expositores.

Portanto, o Estado de Minas Gerais atualmente se destaca tanto pela variedade de pedras preciosas que são exploradas, assim como pela comercialização que tem ocorrido por meio de exposições e de feiras nacionais e internacionais, o que o trans-formou no polo gemológico de maior importância do país.

Prof. Dr. Marcelo Ribeiro Barison, Instituto de Recursos Naturais

(UNIFEI)

Figura 9. Garimpeiros trabalham em Coromandel, município mineiro localizado na divisa com o Estado de Goiás.

Foto: Arquivo Coopergac (http://aguaboanews.com.br).

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