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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI
DIDÁTICA
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4
2 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA ................................................................................... 5
3 A DIDÁTICA E A SUA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: UMA ABORDAGEM
SOBRE O ONTEM E O HOJE NA ARTE DE ENSINAR ............................................. 7
3.1 A trajetória histórica da didática: pressupostos teóricos, filosóficos e sociais ....... 7
3.2 O processo histórico da didática no Brasil .......................................................... 10
3.3 Principais marcos históricos que foram fundamentais na constituição da
didática........... ........................................................................................................... 12
3.4 Mudanças e avanços da didática na atualidade ................................................. 16
4 DIFERENTES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: LIBERAIS E
PROGRESSISTAS.....................................................................................................20
4.1 A pedagogia liberal e suas ramificações ............................................................. 20
4.1.1 Tendência pedagógica liberal tradicional ........................................................ 22
4.1.2 Tendência pedagógica liberal renovada progressivista .................................. 23
4.1.3 Tendência pedagógica liberal renovada não diretiva ...................................... 23
4.1.3 Tendência pedagógica liberal tecnicista ......................................................... 24
4.2 A pedagogia progressista e suas tendências ...................................................... 25
4.2.1 Tendência pedagógica progressista libertadora ............................................. 26
4.2.2 Tendência pedagógica progressista libertária ................................................ 27
4.2.3 Tendência pedagógica progressista crítico-social dos conteúdos .................. 27
4.3 As teorias pedagógicas e a escola atual ............................................................. 28
5 ENSINO E APRENDIZAGEM: DOIS PROCESSOS BÁSICOS DA DIDÁTICA..... 33
5.1 O conceito de ensino .......................................................................................... 33
5.2 O conceito de aprendizagem .............................................................................. 37
5.3 Os quatro pilares da educação e o ensino e a aprendizagem ............................ 41
5.4 As abordagens metodológicas e os métodos no processo de ensino-
aprendizagem ............................................................................................................ 45
5.5 Metodologias e recursos materiais: as contribuições das TIC’s .......................... 51
6 DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR .................................................... 53
6.1 A importância da didática na formação de professores ...................................... 53
6.2 A formação continuada na área da didática como uma necessidade docente ... 58
6.3 Os espaços coletivos escolares como espaços privilegiados para o debate sobre
a didática ................................................................................................................... 64
7 O COTIDIANO ESCOLAR E SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ........................ 71
7.1 O cotidiano escolar para além da sala de aula e do espaço físico ..................... 71
7.2 Os elementos constitutivos da aula e suas relações .......................................... 76
7.3 A importância da organização do trabalho do professor em sala de aula para a
aprendizagem dos alunos ......................................................................................... 83
8 A DIDÁTICA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES .................................................. 88
8.1 A didática existente e a atuação do pedagogo em espaços não escolares ........ 88
8.2 As relações entre o pensamento de Paulo Freire e a prática de ensino em
espaços não escolares .............................................................................................. 93
8.3 A didática utilizada na prática de ensino em espaços escolares e não
escolares............. ...................................................................................................... 97
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 100
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 INTRODUÇÃO À DIDÁTICA
A Didática tem como objeto de estudo o processo de ensino e seus elementos
e propõe alcançar os fins relacionados à aprendizagem. A Didática diz respeito à
prática pedagógica, ao fazer cotidiano da atividade docente. A organização do
ensino é, portanto, o compromisso número um da Didática. Refere-se ao
planejamento e aos seus elementos, tais como: o conteúdo, os objetivos, a
metodologia, os recursos, a avaliação.
A Didática é uma disciplina teórico-prática que pretende subsidiar o professor
“em todos os elementos constitutivos da dinâmica escolar, quais sejam: a reflexão
pedagógica necessária à implementação de um projeto educativo, com suas
concepções explicitadas através de seus planejamentos e efetivadas através de sua
dinâmica cotidiana” (MELO; URBANETZ, 2008, p.152).
Preocupa-se, ainda, com a relação entre professores e alunos, pois a
atividade educativa é, fundamentalmente, uma relação entre seres humanos,
objetivando a plena humanização dos sujeitos envolvidos. A Didática,
consequentemente, trata da vida prática e das relações reais próprias aos espaços
educativos, especialmente à sala de aula.
Para José Carlos Libâneo, a Didática é uma disciplina pedagógica que estuda
os objetos, as condições do processo de ensino, os meios e o cenário educacional.
Porque os conteúdos da disciplina de ensino decorrem da ciência que lhes servem
de base. A disciplina de ensino implica numa seleção de conhecimentos pautada por
critérios pedagógicos e didáticos; do mesmo modo, os métodos da ciência e os
métodos de ensino são conexos, não idênticos, porque a atividade de ensino implica
uma relação pedagógica que lhe é peculiar, distinguindo-se daquela que ocorre na
atividade científica (LIBÂNEO, 1994).
A didática é a organização do processo de socialização realizado no contexto
escolar, por meio do emprego de métodos e técnicas que norteiam a prática de
ensino do professor.
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Fonte de: sagahcm.sagah.com.br
O ensino está associado ao processo de transmissão de saberes, cabe à
Didática adequar os elementos do planejamento de ensino e os procedimentos e
técnicas necessários para ensinar. Não basta conhecer bem a ciência, nem os
conhecimentos a serem transmitidos, porque o método de ensino decorre do
conteúdo e da forma de investigação da ciência que é ensinada. Esta posição
mostra um reducionismo do campo de estudos da Didática, tomando-a como
disciplina prescritiva de métodos e técnicas.
Segundo Hoauiss (2001, p. 22), didática pode ser definida como “parte da
Pedagogia que trata dos princípios científicos que direcionam a atividade educativa,
com o objetivo de torná-la mais eficiente”. Deste modo, a Pedagogia é vista como a
ciência e a arte da educação, enquanto que a Didática pode ser definida como a arte
e a ciência do ensino.
O professor deve aprender a lidar com a subjetividade humana, sua
linguagem, percepções e prática de vida. Sem esta noção, torna-se inábil para
desenvolver didáticas articuladas e contextualizadas com os problemas, desafios,
questões relacionadas aos conteúdos e condições para se conseguir uma
aprendizagem significativa. A metodologia do ensino é uma questão metodológica e
também a inserção do professor na prática escolar, mediante a pesquisa ação.
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3 A DIDÁTICA E A SUA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA: UMA
ABORDAGEM SOBRE O ONTEM E O HOJE NA ARTE DE ENSINAR
3.1 A trajetória histórica da didática: pressupostos teóricos, filosóficos e
sociais
Não é incomum ouvirmos, quando o assunto é escola ou educação, falas
como “esse professor sabe muito, mas não sabe ensinar”, ou “essa professora não
tem didática”, ou ainda “a didática desse professor é muito ruim”. São inúmeras as
expressões relacionadas às práticas da sala de aula e que reafirmam a sua
importância e necessidade para o processo de construção do conhecimento. É
nesse cenário que emerge a didática como o caminho para o saber, ou seja, a
consumação da teorização.
Vale ressaltar que a palavra didática surge do grego “didaktiké”, com o
abrangente significado de “a arte de ensinar tudo a todos”. O termo foi empregado
pela primeira vez por Ratke, em 1629, e por Comenius, em 1657. Foi a partir de
Comenius que a didática ganhou força e notoriedade.
Também foi o grande pensador Comenius quem escreveu, entre diversas
outras obras, a Didática Magna, uma das mais importantes escritas do cenário
educacional mundial. Portanto, ele trouxe a prática do ensinar-aprender como pauta
fundamental para esse contexto. Assim, imaginou ter descoberto um método eficaz
para se chegar à aprendizagem, de modo ágil e prazeroso. Comenius (2001, p. 13)
ressalta que:
Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo para obter resultados; de ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem ou enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo sólido, não superficialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à verdadeira cultura, aos bons costumes, a piedade mais profunda.
No século XVIII, surgiu outro importante expoente que trouxe conhecimentos
revolucionários para a didática: Rousseau. Ele não pode ser considerado um
sistematizador da educação, mas a sua obra apresenta algo que se tornaria
fundamental para compreender melhor os processos de ensino-aprendizagem: um
novo e inovador conceito de infância. Rousseau surgiu como um continuador das
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ideias dos didatas; porém, com os seus estudos e pesquisas, certamente deu um
passo muito mais além, colocando em evidência a condição do ser criança. Assim,
transformou o que era método em um processo natural, que aconteceria de maneira
tranquila, sem excessos, sem livros e sem nenhuma pressa.
Na tentativa de percorrer o conceito e o histórico da didática, é imprescindível
considerar os aspectos políticos, sociais e culturais, bem como as percepções e
construções de alguns pensadores e pensadoras a respeito desse conceito em
diferentes momentos da história. Inicialmente, Pestalozzi (1826), em seus escritos e
na sua atuação, deu dimensões sociais à problemática educacional. O aspecto
metodológico da didática encontra-se sobretudo em princípios, e não em regras,
transportando-se o foco de atenção às condições para o desenvolvimento harmônico
do aluno.
Para Candau (1986, p. 12), “[...] didática deve ser compreendida como
reflexão sistemática em busca de alternativas para os problemas da prática
pedagógica”. Nessa perspectiva, pode-se dizer que ela compõe a pedagogia. Outro
importante autor que traduz, no decorrer da história, a sua percepção sobre a
didática é Libâneo (1992, p. 26):
A didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. Segundo essa ideia, a ela cabe converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecendo os vínculos entre o ensino e a aprendizagem.
De acordo com Masetto (1997), vemos em ensinar, instruir, fazer aprender
uma reflexão sistemática sobre o processo de ensino-aprendizagem que acontece
na escola (na aula), buscando alternativas para os problemas da prática pedagógica,
portanto, tentativas de aproximação ao sentido da didática. Nesse cenário, é
possível perceber que o processo de reflexão sistemática visa ao estudo das teorias
de ensino e de aprendizagem associadas ao processo educativo realizado no
contexto escolar (escola e sala de aula), bem como aos resultados obtidos, em
busca de alternativas da teoria e da prática. Como processo de ensino-
aprendizagem, atua em três dimensões: a humana, a político-social e a técnica.
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Para Anastasiou e Pimenta (2002), a didática é vista como uma ação de
ensinar que está inteiramente ligada às relações entre os mais velhos e os mais
jovens, entre crianças e adultos, na família e nos demais espaços sociais e públicos.
Já para Martins (2008), a didática é a disciplina que busca compreender o processo
de ensino em suas múltiplas determinações, para intervir nele e reorientá-lo na
direção política almejada. Portanto, a didática recebe influências dos
direcionamentos políticos, mas tem o poder de atuar sobre eles.
Fonte de: www.construindohistoriahoje.com
Por fim, Morandi (2008), apoiado em Chavellard, afirma que a didática
descreve as modalidades do trabalho pedagógico sobre e com o saber. Esse
trabalho transforma um objeto-saber a ser ensinado em um objeto de ensino.
Considerando as diferentes concepções defendidas por esses e diversos
outros autores e autoras, encontramos na história da educação períodos históricos
nos quais emergiram novas tendências educacionais, que foram se sustentando e
se materializando como importantes correntes didático-pedagógicas. Entre elas,
destacam-se a pedagogia tradicional, a pedagogia renovada, a pedagogia tecnicista
e a pedagogia crítica.
Nessa perspectiva, para pensarmos as novas práticas educativas e para
vislumbrarmos as novas possibilidades didático-pedagógicas, é fundamental que
façamos um paralelo da didática com essas teorias. Dessa forma, trazer as
diferentes concepções e os períodos históricos nos ajuda a perceber os processos
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de mudanças e transformações, bem como todos os atravessadores que
influenciaram, e influenciam a educação e a didática.
É fundamental, também, problematizar todas essas teorias de modo a refletir
sobre a necessidade de diálogo entre elas. Ainda, é importante termos a
possibilidade de visualizar as tantas oportunidades de apoio e intervenção ao sujeito
no processo de ensino-aprendizagem, inclusive às crianças.
3.2 O processo histórico da didática no Brasil
Uma breve retomada histórica da Didática nos ajuda a entender as
circunstâncias que cercam esse ocultamento a que se refere André (2008).
Tomando por base alguns estudos (CANDAU, 1983, 1988; MARTINS, 2008;
OLIVEIRA, 1998, 1992; PIMENTA, 1997; VEIGA, 1989), pode-se afirmar que a
Didática passou a ser fortemente contestada a partir dos anos de 1970, com a crítica
às perspectivas escolanovista e tecnicista, denunciando a pseudoneutralidade do
técnico e enfatizando a necessidade de se pensar a prática pedagógica como
prática social.
O campo da Didática que, até então, se forjava pela via de uma produção de
natureza eminentemente técnica e prescritiva, experimentou uma fase de críticas
contundentes, apontando, inclusive para a sua negação. Com a emergência de um
novo pensamento pedagógico, a Didática instrumental é posta em questão.
Compreende-se que, a partir da década de 1980 e mais enfaticamente nos
anos 1990, foi iniciada uma nova fase na educação, com a perspectiva de uma
ruptura que favorecesse a urgência em interpretar e compreender a dinâmica de
ensino-aprendizagem em sua vasta dimensão, integrando ainda os seguintes
aspectos: técnico, humano e político. Vale ressaltar que esse movimento teve
estreita relação com a modificação da perspectiva nos estudos sobre o currículo
(especialmente nos Estados Unidos e na Europa).
O currículo, nessa perspectiva, constitui um dispositivo em que se concentram
as relações entre a sociedade e a escola, assim como entre os saberes, as práticas
socialmente construídas e os conhecimentos escolares. Podemos dizer que os
primeiros constituem as origens dos segundos. Em outras palavras, os
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conhecimentos escolares provêm de saberes e de conhecimentos socialmente
produzidos nos diversos espaços de referência do currículo.
De acordo com Moreira e Silva (2001, p. 7), “[...] o currículo é considerado um
artefato social e cultural. O currículo transmite visões sociais particulares e
interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particula-res”. Por
artefato social e cultural, podemos entender algo construído pelas pessoas a partir
de suas relações e da interação com os seus grupos sociais e culturais. A escola,
nesse aspecto, exerce forte contribuição para a construção da identidade, o que
demonstra como as discussões em torno do currículo escolar são pertinentes.
Desse modo, é de máxima importância que você compreenda o processo
ocorrido na segunda metade do século XX, que reflete na prática de ensino dos
docentes até os dias atuais. Entre 1960 e 1970, eram sinônimos de qualidade na
prática de ensino:
abordagem tecnicista;
construção de planejamentos rígidos;
domínio de sala de aula;
enorme valorização das técnicas;
valorização enfática nos recursos didáticos, etc.
Em 1980, ocorreu o grande marco no desenvolvimento da didática:
ocasião do Encontro de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE;
enorme produção acadêmica;
professores discutindo a sua própria prática;
o aluno é visto como um ser historicamente concebido, etc.
De 1990 até os dias atuais, o processo didático e a prática de ensino-
aprendizagem se fortalecem:
a didática passa a ser tema de interesse de grandes pesquisas;
busca-se a compreensão do cotidiano e do fazer pedagógico;
o professor é visto como agente reflexivo, pesquisador e transformador;
a didática é assumida como disciplina prática, etc.
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Enfim, a didática e tudo o mais que a atravessa, busca a compreensão, a
análise e o entendimento dos fatos associados ao campo dos conhecimentos
pedagógicos. Assim, no decorrer da história, vai-se ampliando e transformando,
dadas as inúmeras pesquisas e os mais diversos pensadores, que se debruçam a
discutir, problematizar e levantar novas formas de ensinar e aprender.
3.3 Principais marcos históricos que foram fundamentais na constituição da
didática
A didática se manifesta nas práticas sociais de várias maneiras: enquanto
disciplina, enquanto campo do conhecimento, enquanto ação humana, enquanto
organização institucional, etc.
De acordo com Araújo (2008), como disciplina, a didática é desenvolvida em
cursos de graduação, licenciaturas e cursos de formação de professores, de modo a
oferecer as ferramentas teórico-práticas necessárias para que o futuro docente
possa lecionar em sala de aula. Enquanto área do conhecimento, aponta os grupos
que pesquisam a didática e constroem saberes específicos nessa área. Como ação
humana, expressa a preocupação dos seres humanos em preparar o ensino,
organizar as aulas, escolher as metodologias próprias para ensinar determinado
conteúdo. Como organização institucional, busca técnicas e metodologias que
organizem os processos institucionais de ensino-aprendizagem, para que estes
favoreçam o processo de construção do conhecimento.
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Para compreender os principais marcos históricos que foram fundamentais na
constituição da didática, é necessário compreender que, embora muitos filósofos
tenham se debruçado sobre a educação de modo geral, foi a partir do século XII que
surgiram os primeiros tratados sistemáticos sobre os processos de ensinar e
aprender. São exemplos marcantes, apontados por Araújo (2008):
Eruditio didascalia, de Hugo de San Victor, no século XII;
De disciplinis, de Juan Luis Vives, no século XVI;
Aporiam didactici principio, de Wolfgang Ratke, no século XVII.
Certamente, todas essas obras foram fundamentais para as compreensões,
mudanças e evoluções em suas respectivas épocas. Contudo, é preciso reafirmar
que nenhuma delas apresenta tanta notoriedade e grandiosidade como a Didáctica
Magna, de Jan Amós Comenius, publicada em 1657. Tanta repercussão
possivelmente se deve pela complexidade e pela audácia da proposta, apresentada
ali como o tratado que propunha ensinar tudo a todos.
Em seus estudos, Comenius traça reflexões sobre a divisão social do trabalho, que
vai se tornando forte característica de seu tempo. Para ele, foram quatro as
modalidades de escolas: a escola do regaço materno, a escola da língua nacional, a
escola latina e a academia ou universidade.
Jan Amos Comenius
Fonte de: www.infoescola.com
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Outro aspecto que, sem dúvida, precisa estar listado como um marco histórico
na constituição da didática refere-se às teorizações de Rousseau. O pensador
ajudou a desenhar o caminho da didática de modo marcante, apresentando algo que
influenciaria todos os estudos subsequentes. A valorização da infância por ele
defendida está carregada de consequências para a pesquisa e a ação pedagógica,
mas estas vão ainda aguardar mais de um século para se concretizarem.
Enquanto Comenius, ao seguir as "pegadas da natureza", pensava em
"domar as paixões das crianças", Rousseau partiu da premissa da bondade natural
do homem, corrompido pela sociedade. É em sua obra O Contrato Social que ele
discute a reforma da sociedade, tão necessária quanto a reforma da educação. Foi
por essa vertente de seu pensamento que participou da renovação ideológica que
precedeu à Revolução Francesa. Para Damis (1988, 1988, p. 13):
Há uma evolução da Didática em paralelo com a história da educação, visto que, desde os jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey, Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre outros, a educação escolar percorreu um longo caminho do ponto de vista de sua teoria e prática. Vivenciada através de uma prática social específica, a pedagogia, esta educação organizou o processo de ensinar-aprender através da relação professor aluno e sistematizou um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir-assimilar) o saber erudito produzido pela humanidade.
Observa-se que, desse modo, a educação foi ganhando forças, e a pedagogia
foi se sustentando como ciência particular, desvinculando-se aos poucos da filosofia
e da teologia e se reafirmando no cenário educacional. As histórias da pedagogia e
da didática se misturam no tempo. Em alguns momentos, ao resgatarmos os
estudos que compõem a história da pedagogia, muitas vezes nos referimos a
teólogos e filósofos, entre outros. Algo similar acontece quando contamos a história
da didática.
Foram muitos os marcos históricos que contribuíram para que a didática
evoluísse e chegasse onde chegou. Destacam-se os seguintes nomes:
Jean Jacques Rousseau (1712–1778) foi um pensador que procurou
interpretar essas aspirações, propondo uma concepção nova do ensino, com base
nas necessidades e nos interesses imediatos da criança.
Henrique Pestalozzi (1746–1827) deu grande importância ao ensino como
meio de educação e desenvolvimento das capacidades humanas.
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Johann Friedrich Herbart (1766–1841) foi um pedagogo alemão com
grande influência e relevância na didática e na prática docente. Para ele, o fim da
educação é a moralidade; a instrução é introduzir ideias corretas na mente do
homem.
Diesterweg (1790–1866), um didata alemão, estudou e pesquisou sobre o
desenvolvimento do professor.
John Dewey (1859–1952) foi um destacado representante de uma das
tendências do pragmatismo didático. Na didática, a sua maior contribuição está no
ensino laboral e na relação do ensino com a vida.
Paulo Freire (1921–1997) é sem dúvida um dos maiores pedagogos do
século XX. Como aconteceu em outras épocas, grandes pedagogos se converterem
também em grades didatas, ou ainda, grandes didatas se tornaram grandes
pedagogos.
Enfim, é preciso ressaltar que a didática, desde a sua origem, como qualquer
outra ciência particular, estuda e pesquisa o seu próprio objeto e, dentro dele, o
campo de ação. No decorrer da história, muitos foram os estudos e as pesquisas
que se instituíram como marcos evolutivos e contribuíram para a ampliação,
renovação e o alcance dos processos didáticos, bem como das transformações da
educação.
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3.4 Mudanças e avanços da didática na atualidade
Para falarmos das transformações e dos avanços da didática na
contemporaneidade, é fundamental considerarmos o fato de que, com a
redemocratização do Brasil, passou a ser necessária uma formação diferenciada do
corpo docente. Portanto, passou-se a buscar a formação política do professor,
percebendo a educação como ato político e social. Nesse novo cenário da educação
e da didática, o professor passou a ser visto como agente intelectual transformador,
cujo trabalho deveria ser orientado por determinada ética valorativa e cuja a prática
precisaria ser abrangente e eficaz.
Pensar na didática para a atualidade requer pensar nos diferentes
movimentos que a sociedade produz e nas diversas demandas que emergem a todo
tempo. Requer também compreender as muitas dimensões que atravessam os
sujeitos e, ainda, os múltiplos contextos nos quais eles estão inseridos. São
características dos novos tempos o ensino-aprendizagem e a prática educativa
vistos como prática social; nesses aspectos, a didática precisa se reinventar e
propor novos alcances, novas propostas e novos vieses.
Em um novo cenário, a didática é convocada a debater a formação dos
professores, com questões que giram em torno da discussão sobre como se ensina
a ensinar, ou mesmo sobre quais são os saberes necessários ao exercício da
docência. Nessa perspectiva, é importante considerar o que diz Marin, Penna e
Rodrigues (2012):
A Didática não é um receituário que deve informar a prática de ensino, mas uma área de conhecimento para a compreensão dessa prática, valendo-se da teoria como hipóteses de análise e compreensão. Trata-se de compreender as situações de ensino, não para prescrever a prática, mas para ampliar o domínio sobre ela, e assim contribuir nos processos de formação dos professores em todos os âmbitos.
Hoje, no processo educacional, o professor não é mais o eixo da ação
educativa, como se pensava anos atrás. Concebe-se o educando na
contemporaneidade como ser ativo, procedente das experiências vivenciadas em
seus múltiplos aspectos de conhecimento, tornando-se assim o centro da prática
pedagógica. Ao professor cabe o papel de mediar a cultura elaborada.
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Em suma, o ensino-aprendizagem é uma atividade dinâmica e criativa, um
acontecimento eminente, interpessoal e social, que ocorre na mobilização mental da
subjetividade e da experiência sociocultural concreta, como sugere Libâneo (1992).
Na perspectiva de pensar os processos inovadores da didática na atualidade,
emerge uma proposta que tem se firmado cada vez mais como transformadora e
eficaz junto à prática docente e à construção do conhecimento: são as metodologias
ativas.
As metodologias ativas se configuram como uma inovadora prática docente, a
qual consiste em um processo amplo que possui como principal característica a
inserção do estudante como agente principal e responsável pela sua aprendizagem.
É necessário ressaltar que o processo de construção do conhecimento, devido a
diversos fatores (como a agilidade na produção de conhecimento, a provisoriedade
das verdades construídas no saber científico e, principalmente, a facilidade de
acesso à vasta gama de informação), deixou de ser baseado na mera transmissão
de conhecimentos.
Nesse contexto, as metodologias ativas surgem como proposta para focar o
processo de ensino-aprendizagem na busca da participação ativa de todos os
envolvidos, centrados na realidade em que estão inseridos. O estudante torna-se
protagonista no processo de construção de seu conhecimento, sendo responsável
por sua trajetória e pelo alcance de seus objetivos. Assim, ele deve ser capaz de
autogerenciar e autogovernar o seu processo de formação.
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Os avanços na área da didática têm contribuído muito para a transformação
do currículo escolar. Este, por sua vez, para ser eficaz e ter qualidade, deve
possibilitar a formação continuada dos professores, perceber o aluno como principal
agente no processo de aprendizagem e fazer uso inteligente das novas tecnologias.
Além disso, deve estimular a utilização de metodologias que sejam significativas e
que alcancem os diferentes tipos de alunos, de modo a proporcionar a participação
destes como sujeitos do processo educativo.
De acordo com Vygotsky (1998), o aprendizado acontece a partir de duas
variáveis: o processo e o produto. O processo se trata daquilo que o aluno já
conhece, e o produto é o que o aluno já possui mais os conteúdos ensinados pelo
professor que se transformam em novos conceitos.
Não basta incluir algumas aulas de informática e vídeo, é preciso criar
situações de aprendizagem em que o aluno construa autonomia e motivação na sua
utilização. Finalmente, para que isso seja possível, é necessário um planejamento
de ensino que una os profissionais da educação nesse processo (professores,
coordenadores, agentes educacionais, diretores), ou seja, um trabalho em equipe.
Assim se compreendem as novas propostas didáticas e se constrói uma educação
para os novos tempos.
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4 DIFERENTES TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS: LIBERAIS E PROGRESSISTAS
Pensar sobre a escola é entender que em seu meio estarão sendo
preparados estudantes para conviver bem em sociedade, apropriando-se das
produções da cultura humana e das condições necessárias para atuar no mercado
de trabalho e exercer a sua cidadania. Para atingir tais objetivos educacionais, pode-
se considerar que as aptidões individuais desses alunos são determinantes para o
seu desempenho escolar, ou, ainda, que possam existir outros fatores intervenientes
nesse processo, como a classe social a que eles pertencem ou quaisquer outros
tipos de desigualdade que venham a enfrentar.
4.1 A pedagogia liberal e suas ramificações
Com o tempo, as ideias sobre a finalidade da escola e as concepções de
aluno e de professor passaram por mudanças e se reconfiguraram, seguindo as
tendências presentes em cada período histórico. Isso se deve ao fato de que, de
acordo com as tendências e a presença de determinadas teorizações em cada
período histórico, as práticas escolares materializam-se de formas diferenciadas.
Entende-se por tendência pedagógica “[...] as diversas teorias filosóficas que
pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em
diversos momentos e circunstâncias da história humana” (LUCKESI, 1994, p. 53).
Você com certeza já deve ter ouvido inúmeros comentários e até mesmo
críticas a respeito da escola “tradicional”, não é mesmo? Ou deve ter manifestado
interesse sobre escolas diferentes, consideradas de vanguarda. Mas o que seria
uma escola tradicional? O que a diferenciaria das demais? Essas perguntas serão
respondidas à medida que aprendermos um pouco sobre a chamada pedagogia
liberal.
Uma das principais características da pedagogia liberal é a ênfase que coloca
nas aptidões individuais dos estudantes para que o processo de ensino e
aprendizagem ocorra. Nessa perspectiva, o aluno é visto, prioritariamente, de forma
individual e independente do seu contexto. Dessa forma, são minimizados os
aspectos que compõem a realidade social do aluno, e enfatizam-se os
conhecimentos e conteúdos a serem transmitidos pelo professor, que protagoniza o
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processo de ensino. Cabe ao aluno receber as explicações e, a partir de suas
capacidades, aprender como portar-se e ocupar, assim, os papéis destinados a ele
na vida social.
Embora possamos entender que a nossa sociedade atualmente valoriza muito
os conhecimentos adquiridos via educação formal, que ocorre na escola, a grande
crítica que alguns autores apresentam à pedagogia liberal é justamente o fato de
não discutir ou considerar que outros fatores possam intervir na educação escolar,
como a classe social à qual o aluno pertence ou os diferentes aspectos da
desigualdade que podem existir entre os diversos estudantes da escola. Ao referir-
se à pedagogia liberal, Libâneo (2002, p. 21), comenta que, no interior da escola:
[...] os indivíduos precisam aprender a adaptar-se aos valores e às normas vigentes na sociedade de classes, através do desenvolvimento da cultura individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classe, pois, embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições [...].
Em outras palavras, o autor chama a atenção para a necessidade de refletir, a
partir de sua análise sobre a pedagogia liberal, se as condições a partir das quais os
estudantes se apresentam às escolas seriam as mesmas, mesmo existindo
igualdade de oportunidades ou de acesso à educação. Ainda, provoca a pensar
sobre o fato de existirem escolas mais bem-estruturadas, com mais recursos,
professores mais bem-preparados e até mesmo valorizados, e currículos de maior
qualidade.
Dentro do espectro da pedagogia liberal, encontramos quatro
subclassificações (LIBÂNEO, 2002):
tendência pedagógica liberal tradicional;
tendência pedagógica liberal renovada progressista;
tendência pedagógica liberal renovada não diretiva;
tendência pedagógica liberal tecnicista.
Vamos agora conhecer o que constitui cada uma dessas classificações
propostas pela pedagogia liberal. Ao realizar a leitura, procure imaginar o seu tempo
de escola e perceba se já vivenciou alguma dessas características e desses modos
de atuar por parte de seus professores e gestores escolares.
22
4.1.1 Tendência pedagógica liberal tradicional
Essa tendência pedagógica é a mais antiga que vamos encontrar no Brasil,
pois remete à sua colonização inicial. Queiroz e Moita (2007, p. 3) comentam que
“[...] a tendência tradicional está no Brasil, desde os padres jesuítas. O principal
objetivo da escola era preparar os alunos para assumirem papéis na sociedade, já
que quem tinha acesso às escolas eram os filhos dos burgueses”.
Algumas características compõem o que se denomina como pedagogia
liberal. Segundo Libâneo (2002), uma delas é o distanciamento do cotidiano dos
alunos e de sua realidade social, nos aspectos que se referem aos conteúdos a
serem ensinados e às técnicas e metodologias didáticas a serem colocadas em
prática. Outra característica marcante é a relação entre o professor e o aluno: existe
a “[...] predominância da palavra do professor, das regras impostas, do cultivo
exclusivamente intelectual” (LIBÂNEO, 2002, p. 22).
Então, o professor transmite os conteúdos, que representam as verdades que
devem ser aprendidas; o aluno, passivamente, deverá absorvê-los. Caso esse
processo não seja bem resolvido, usa-se a disciplina para corrigir possíveis
condutas estudantis, que se desviem do que foi estabelecido, fazendo com que
impere o silêncio e a ordem em sala de aula.
23
4.1.2 Tendência pedagógica liberal renovada progressivista
A tendência pedagógica renovada é fruto do Movimento da Escola Nova,
iniciado na Europa, que procurou “[...] mudar o rumo da educação tradicional,
intelectualista e livresca, dando-lhe sentido vivo e ativo. Por isso se deu também a
esse movimento o nome de ‘escola ativa’” (LUZURIAGA, 1984, p. 227). Esse
movimento gerou modificações na estrutura da escola no Brasil, a partir do
Manifesto da Escola Nova, de 1932. O escolanovismo, como foi chamado, produziu
duas tendências de pensamento pedagógico: a tendência pedagógica liberal
renovada progressivista e a tendência pedagógica liberal renovada não diretiva.
A pedagogia liberal renovada progressivista parte do entendimento de que a
educação é um processo interno do indivíduo e que, por esse motivo, devem ser
consideradas as experiências que o aluno vivencia, bem como a problematização e
os desafios, como estratégia didática por parte do professor. Essa pedagogia
entende que a principal função da educação é preparar o indivíduo, adaptando-o
para o meio social do qual faz parte. Libâneo (2002, p. 25) afirma que “[...] é mais
importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito”. Por
esse motivo, são valorizados os processos de autoeducação e autoaprendizagem,
estimulando o aprender a aprender, ou seja, maneiras para que os estudantes
aprendam de forma mais eficiente. Essa pedagogia apresenta autores bem
significativos para a área da educação, como Maria Montessori, John Dewey, Ovide
Decroly e Jean Piaget.
4.1.3 Tendência pedagógica liberal renovada não diretiva
Assim como a anterior, essa tendência também é oriunda do Movimento da
Escola Nova. Entretanto, a tendência liberal renovada não diretiva foi desenvolvida a
partir do trabalho do psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902–1987). Ele
propôs que os principais aspectos a serem considerados na escola são as questões
psicológicas em que os alunos se encontram envolvidos, com maior grau de
importância do que os aspectos sociais ou pedagógicos. Ao referir-se a essa
pedagogia, Libâneo (2002, p. 27) destaca que:
24
[...] os procedimentos didáticos, a competência na matéria, as aulas, livros, tudo tem muito pouca importância, face ao propósito de favorecer […] um clima de autodesenvolvimento e realização pessoal, o que implica estar bem consigo mesmo e com seus semelhantes.
Logo, se os conteúdos e métodos de ensino são secundários ou menos
importantes, o professor vai, nessa pedagogia, apresentar uma postura que favoreça
e estimule as relações interpessoais com o estudante, o seu jeito de ser e a crença
de que, agindo assim, ele vai se autodesenvolver. São amplamente utilizadas nessa
tendência pedagógica as autoavaliações, em detrimento de outras avaliações
quantitativas e disciplinares.
De acordo com Queiroz e Moita (2007, p. 6), ao se referirem às escolas
renovadas (progressivista e não diretiva):
[...] essa tendência retira o professor e os conteúdos disciplinares do centro do processo pedagógico e coloca o aluno como fundamental, que deve ter sua curiosidade, criatividade, inventividade, estimulados pelo professor, que deve ter o papel de facilitador do ensino.
4.1.3 Tendência pedagógica liberal tecnicista
Essa pedagogia relaciona diretamente a escola e o ambiente produtivo do
mercado de trabalho. Nesse caso, cabe à escola ensinar aos estudantes as técnicas
necessárias para que se tornem competentes nas funções a serem desempenhadas
em seus empregos. Dessa forma, como o que se objetiva é a aprendizagem de
técnicas específicas, esses princípios científicos, normas e leis (conteúdos) serão
repassados aos alunos de forma lógica, sequencial e objetiva, proporcionando que o
conhecimento adquirido possa ser facilmente observado e medido. Nessa
pedagogia, “[...] o professor é apenas um elo [...] entre a verdade científica e o aluno,
cabendo-lhe empregar o sistema instrucional previsto” (LIBÂNEO, 2002, p. 30).
Saviani (2010, p. 381) comenta que “[...] com base no pressuposto da
neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência e
produtividade, a pedagogia tecnicista advoga a reordenação do processo educativo
de maneira que o torne objetivo e operacional”. Dessa forma, ao valer-se de técnicas
e procedimentos que favoreçam a transmissão e a recepção de informações, ela
restringe o espaço para discussões, debates ou eventuais questionamentos em sala
de aula. Essa tendência é fundamentada nas teorias do psicólogo norte-americano
25
Burrhus Frederic Skinner e, por esse motivo, a aprendizagem é considerada como
condicionamento, que pode ser realizado a partir do reforço sobre as respostas dos
alunos, modificando o seu desempenho. Queiroz e Moita (2007, p. 8) acrescentam
que:
O chamado “tecnicismo educacional”, inspirado nas teorias da aprendizagem e da abordagem do ensino de forma sistêmica, constituiu-se numa prática pedagógica fortemente controladora das ações dos alunos e, até, dos professores, direcionadas por atividades repetitivas, sem reflexão e absolutamente programadas, com riqueza de detalhes.
4.2 A pedagogia progressista e suas tendências
Segundo Queiroz e Moita (2007), as tendências progressistas surgiram na
França a partir de 1968. Já no Brasil, coincidem com o início da abertura política e
sua efervescência cultural (início da década de 1980). A pedagogia progressista
apresenta algumas características gerais, que a distinguem e diferenciam
especialmente das pedagogias liberais. Entre elas, destaca-se o aspecto de
entender que professor e aluno se encontram numa relação horizontal, ou seja,
ambos se encontram sem uma hierarquia que os separe, permitindo uma atuação
baseada no diálogo. Dessa forma, não existirá uma imposição do que precisa ser
aprendido por parte do docente, pois tanto o aluno quanto o professor podem
aprender durante o processo de ensino-aprendizagem.
Outro aspecto interessante é o objetivo de desenvolver a criticidade dos
estudantes, possibilitando que aspectos de suas realidades sociais cotidianas sejam
a base de sua aprendizagem. Segundo os autores que seguem essa tendência, isso
26
propicia que esses indivíduos se tornem atuantes no contexto no qual estão
inseridos. A pedagogia progressista é dividida em (LIBÂNEO, 2002):
tendência pedagógica progressista libertadora;
tendência pedagógica progressista libertária;
tendência pedagógica progressista crítico-social dos conteúdos.
Veja a seguir as principais características que compõem cada uma delas.
4.2.1 Tendência pedagógica progressista libertadora
Essa tendência pedagógica baseia-se nos pensamentos e nas obras do
educador brasileiro Paulo Reglus Neves Freire, sendo também conhecida como
pedagogia problematizadora.
Nesta tendência pedagógica, a atividade escolar deveria centrar-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações concretas sobre a realidade social imediata. O professor deveria agir como um coordenador de atividades, aquele que organiza e atua conjuntamente com os alunos (QUEIROZ; MOITA, 2007, p. 12).
Paulo Freire trabalha com duas ideias potentes, ao produzir as bases dessa
pedagogia: a educação bancária e a educação libertadora ou problematizadora. A
educação bancária seria aquela na qual o professor, detentor de todo o
conhecimento, é central no processo de ensino. O professor vai transmitir ou
“depositar” o conhecimento que possui no aluno. O aluno, por sua vez, recebe esses
conhecimentos, que passam a compor o seu repertório de conhecimento e cultura.
Nessa educação bancária, não há espaço para que se dialogue ou se exerça a
percepção das realidades ou críticas sobre elas:
[...] o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é ‘encher’ os educandos de conteúdos de sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação (FREIRE, 1987, p. 57).
Já a educação problematizadora parte da análise da realidade social na qual
o aluno se encontra envolvido e, a partir de problematizações, por um processo
dialógico entre professor e aluno, ocorre a aprendizagem crítica dos conteúdos que
precisam ser desenvolvidos.
27
Paulo Freire comenta que “[...] ensinar não é transferir conhecimentos, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou sua construção” (FREIRE,
2003, p. 47). Nessa pedagogia, os alunos e os professores são sujeitos do processo
de ensino e aprendizagem, e ambos aprendem a partir de suas experiências em
sala de aula, quebrando a ideia de verticalidade e imposição do ensino tradicional.
4.2.2 Tendência pedagógica progressista libertária
Essa tendência propõe a ideia de que deve haver a autogestão na educação,
ou seja, ao aluno cabe escolher entre os conteúdos a serem estudados, e a base da
aprendizagem se dá pelo movimento político promovido pelas atividades realizadas
em grupo, o que proporcionaria maior liberdade aos alunos. Libâneo (2002) comenta
que é mais importante essa vivência e participação crítica nas ações em grupo do
que os próprios aspectos relacionados aos conteúdos que se pretenda ensinar.
Esta tendência surge junto com o momento histórico democrático brasileiro e, por esse motivo defende, apoia e estimula a participação em grupos e movimentos sociais: sindicatos, grupos de mães, comunitários, associações de moradores etc.., para além dos muros escolares e, ao mesmo tempo, trazendo para dentro dela essa realidade pulsante da sociedade (QUEIROZ; MOITA, 2007, p. 13).
Essa tendência propõe o início da criação de espaços de participação
democrática da sociedade na escola, como os conselhos escolares, grêmios
estudantis e a própria eleição de diretores. Ainda, na tendência pedagógica
progressista libertária, “[...] o professor é um catalisador, ele se mistura ao grupo,
para uma reflexão em comum” (LIBÂNEO, 2002, p. 37). Ao colocar-se junto aos
alunos, o professor procura criar condições para que estes não se sintam coagidos
ou oprimidos e possam, assim, exercer os seus estudos críticos de forma livre. Essa
pedagogia fundamenta-se nos estudos do pedagogo espanhol Francisco Ferrer
Guardia.
4.2.3 Tendência pedagógica progressista crítico-social dos conteúdos
Essa tendência é pautada na ideia de que, segundo Libâneo (2002), os
conteúdos ensinados na escola são concretos, reais e vinculados com as realidades
28
sociais existentes, uma vez que são “[...] conteúdos culturais universais que se
constituíram em domínios de conhecimento relativamente autônomos, incorporados
pela humanidade, mas permanentemente reavaliados face as realidades sociais”
(LIBÂNEO, 2002, p. 39).
Em essência, admite-se a ideia de que os conteúdos são reconfigurados e
atualizados de acordo com cada momento histórico que a sociedade esteja
vivenciando.
Queiroz e Moita (2007) reforçam as ideias dessa tendência, ao afirmar que a
pedagogia crítico-social dos conteúdos defende a necessidade de se assegurar a
função social e política da escola, por meio do trabalho com conhecimentos
sistematizado e da inserção de classes populares nas escolas, garantindo as
condições para uma efetiva participação nas lutas sociais.
Para que a aprendizagem ocorra, nessa pedagogia, o professor deverá
vincular os conteúdos com a realidade e as experiências dos alunos. Tanto o
professor deve compreender como o aluno se expressa e age, quanto o aluno deve
ter compreensão sobre o que o professor está dizendo. Dessa forma, os estudantes
podem ter uma visão ampliada e mais nítida das realidades analisadas e estudadas.
Essa pedagogia baseia-se nos estudos de Carlos Libâneo e Demerval Saviani.
4.3 As teorias pedagógicas e a escola atual
As escolas encontram-se permeadas por tendências pedagógicas que
norteiam as práticas docentes, servindo de matrizes e de balizadoras das ações de
29
planejamento das atividades cotidianas em sala de aula. É importante perceber,
porém, que:
[...] tendências e procedimentos ganham corpo, são aceitas e depois perdem a sua força, enfraquecidas por novas tendências, por novos procedimentos, que vêm no bojo da própria evolução do pensamento pedagógico, motivados pelo contexto vivido (contexto aqui no seu sentido amplo, político, social e econômico (SILVA, 1996, p. 11).
Dessa forma, vamos discorrer sobre algumas tendências que modificam a
forma como os professores atuam nos tempos contemporâneos, e que apresentam
relação estreita com os campos sociais, políticos e econômicos e suas
reconfigurações.
É importante destacarmos que a possibilidade de o docente escolher atuar de
acordo com as teorizações pedagógicas com as quais mais se identifica é amparada
constitucionalmente. Na Constituição Federal de 1988, no Artigo 206, que
estabelece os princípios nos quais a educação nacional deverá basear-se, temos o
“[...] pluralismo de ideias e concepções pedagógicas” (BRASIL, 1988, documento on-
line). Esse princípio será novamente reforçado na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (BRASIL, 1996), em seu Artigo 3º, Inciso III. Também na LDB
atual determina-se que as escolas deverão elaborar e executar as suas propostas
pedagógicas. Esse processo de elaboração, que normalmente resulta na construção
de um projeto político-pedagógico, requer participação coletiva e estudo de quais as
tendências que vão alicerçar as práticas existentes nessas instituições de ensino.
Na atualidade, ainda há lugar para todas as tendências pedagógicas; mais do
que isso, todas elas disputam espaço no interior das escolas. Além disso, mudanças
nos contextos culturais, sociais, políticos e econômicos têm desafiado as práticas
pedagógicas das escolas. Vamos abordar agora algumas das tendências que se
encontram presentes nos estudos acadêmicos sobre novas formas de ensinar e
aprender, presentes na atualidade, e que envolvem a educação formal escolarizada,
bem como a educação informal. São elas:
pedagogias do consenso e do conflito;
pedagogias culturais;
pedagogias do corpo;
desescolarização.
30
Entre as tendências que você vai aprender, que se encontram presentes no
cotidiano escolar e aliam-se à forma como a escola deve ser conduzida, a partir dos
estudos da administração educacional, estão a pedagogia do consenso e a do
conflito, propostas por Benno Sander, em 1983. Baseadas na evolução dos
pensadores da área da sociologia, essas teorias focam a sua análise nas formas
como a administração escolar procura resolver os seus conflitos e organizar os seus
procedimentos nas diversas áreas que compõem a instituição escolar.
A pedagogia do consenso, derivada das ideias de Auguste Comte, Herbert
Spencer, Émile Durkheim e Talcott Parsons, trabalha com a ideia liberal de
integração, procurando “[...] satisfazer simultaneamente tanto as expectativas
institucionais como as necessidades e motivações pessoais, sem comprometer o
alcance dos objetivos de manutenção e reprodução do sistema” (SANDER, 1983, p.
22). Em outras palavras, essa tendência pedagógica entende que a organização
escolar acaba influenciando ou produzindo os indivíduos a partir do que faz, com
mínimas possibilidades do contrário, ou seja, de os indivíduos personalizarem,
adaptarem ou modificarem a escola.
A pedagogia do conflito, por sua vez, origina-se da interpretação das ideias
iniciais de Karl Marx e Friedrich Engels, desenvolvidas por Bourdieu e Passeron, e
Althusser e Gramsci. Essa tendência aparece como uma crítica ao pensamento
anterior (do consenso), propondo uma análise que sai da centralização no aluno ou
no educador e “[...] centra-se no papel das instituições e sistemas de ensino”
(SANDER, 1983, p. 24). A ideia do conflito é justamente a percepção de que as
escolas se encontram imersas nas grandes desigualdades culturais existentes entre
os alunos, mas acabam reproduzindo a cultura da classe dominante e elitizada.
Essas duas formas de enxergar a escola, pelo aspecto da reprodução
(consenso) ou da crítica de suas finalidades e formas de atuar (conflito), acaba se
inserindo fortemente no pensamento e nas ações docentes na escola
contemporânea.
Outra tendência pedagógica muito forte e presente no âmbito acadêmico na
atualidade e que tem gerado inúmeras pesquisas, principalmente na linha teórica
dos estudos culturais em educação são as denominadas pedagogias culturais. As
pedagogias culturais entendem que todo e qualquer artefato cultural, ou seja, algo
produzido pelo homem, pode ensinar algo e exercer função pedagógica. Dessa
31
forma, analisa elementos de nossa cultura que contribuem para essa aprendizagem,
como as mídias eletrônicas e os processos que se estabelecem via internet, e que
possuem força de produzir subjetividades nas pessoas e modificar as suas condutas
e o seu jeito de ser, pensar e agir:
[...] a pedagogia cultural está estruturada pela dinâmica comercial, por forças que se impõem a todos os aspectos de nossas vidas privadas e das vidas de nossos/as filhos/as. Os padrões de consumo moldados pela publicidade empresarial fortalecem as instituições comerciais como os professores do nosso milênio (STEINBERG, 1997, p. 102).
Como podemos perceber pelo conceito de pedagogia cultural, além das
questões que envolvem a mídia, temos também as questões econômicas, que
envolvem o consumo. Estas são analisadas na forma como se encontram inseridas
nos mais diversos setores da sociedade (inclusive na escola), problematizando
como a nossa vida hoje é pautada pelas relações de acumulação e consumo típicas
do capitalismo.
Enfim, apresentando resumidamente a pedagogia cultural, devemos entender
que ela “[...] pode representar uma das muitas alternativas possíveis para considerar
as influências educativas informais em uma era de expansão da globalização e
mercantilização” (HICKEY-MOODY; SAVAGE; WINDLE, 2010, p. 231, tradução
nossa). Dessa forma, inúmeras análises articulam as mudanças que ocorrem nos
aspectos educativos formais e informais, principalmente após a expansão da
globalização, após os anos 1990, no Brasil e no mundo.
Já as pedagogias do corpo propõem uma série de estudos que consideram o
corpo como o veículo que acaba sendo objeto de disputa e sobre o qual são
dispostas ações de governo, no sentido de conduzir as ações individuais que
modelam um jeito de ser e estar no mundo. No viés dessas análises, as discussões
de gênero, corpo e sexualidade se fazem presentes, entendendo que nos tornamos
homens ou mulheres a partir de discursos que estabelecem um status desses
gêneros e um papel social a desempenhar por esse corpo masculino ou feminino.
Dessa forma, as pedagogias do corpo entendem que:
[...] as muitas formas de fazer-se mulher ou homem, as várias possibilidades de viver prazeres e desejos corporais são sempre sugeridas, anunciadas, promovidas socialmente (e hoje possivelmente de formas mais explícitas do que antes). Elas são também, renovadamente, reguladas, condenadas ou negadas (LOURO, 2007, p. 4).
32
Dentro das pesquisas que envolvem as pedagogias do corpo, problematizam-
se as questões do gênero, procurando compreender os parâmetros impostos por
uma sociedade que se constitui tendo a heterossexualidade como caminho certo e
normal a ser seguido.
Se a constituição dos sujeitos homens e mulheres se dá a partir de
regulações sociais e culturais, as representações de indivíduos homossexuais, gays,
transexuais e outras denominações presentes em nossa sociedade atual, da mesma
forma, também merecem respeito e não devem ser discriminadas ou sofrer
preconceitos sociais. As pedagogias do corpo servem de espaço de luta pelos
direitos dessas minorias, que se constituem como cidadãos de direitos tanto quanto
os heterossexuais.
Finalizando, vamos destacar estudos que apontam novos caminhos para as
práticas educativas e que têm ganhado força no mundo inteiro. Trata-se das críticas
e discussões em torno da desescolarização, baseadas nas obras do pedagogo Ivan
Illich. O tema da desescolarização coloca a questão: a escola seria realmente
necessária e positiva para todas as nações existentes no mundo? Os princípios
defendidos pelo autor concentram-se na ideia “[...] de transformar cada momento da
vida em uma ocasião de aprender, geralmente e de preferência, fora do sistema
escolar” (GAJARDO, 2010, p. 13).
Dessa forma, a desescolarização traz uma grande crítica às instituições
sociais existentes, propondo uma sociedade sem escolas. A ideia defendida pela
desescolarização parte do princípio de que a escola institucionalizada na forma
como se encontra acaba privilegiando aqueles que possuem maior capital cultural ao
frequentá-la. Existe a crítica ao valor que é repassado ao aluno a partir do
conhecimento que adquire na escola, sendo este acumulativo e certificado pelos
graus ou diplomas. Para o autor:
[...] a aprendizagem é a atividade humana que menos necessita da intervenção de terceiros; a maior parte da aprendizagem não é consequência da instrução, mas o resultado de uma relação do aprendiz com um meio que tem um sentido, enquanto a instituição escolar o faz crer que o desenvolvimento cognitivo pessoal depende, necessariamente, de programas e de manipulações complexas (GAJARDO, 2010, p. 17).
Esse pensamento nos leva a refletir sobre os processos de aprendizagem que
encontramos hoje, sobretudo aqueles que ocorrem via internet, no ciberespaço.
33
Nesses espaços, aquele que se interessa em aprender algo (aprendiz) tem a
possibilidade de escolher o assunto objeto do conhecimento de que necessita,
estipulando o seu roteiro, horários e formatos a aprender, muitas vezes sem a
mediação de um terceiro.
5 ENSINO E APRENDIZAGEM: DOIS PROCESSOS BÁSICOS DA DIDÁTICA
O ensino e a aprendizagem exercem papéis centrais na didática. Eles
fornecem subsídios para que o professor possa atuar em sala de aula e preparar os
seus alunos para viverem numa sociedade balizada pelo aprender, não só na escola
e durante a infância, mas em todos os campos sociais e ao longo de toda a vida.
Entender o que é o processo de ensino e aprendizagem e como esses conceitos se
encontram presentes em nosso cotidiano de professores significa perceber que
seguimos alguma tendência pedagógica que vai alicerçar as nossas práticas.
5.1 O conceito de ensino
O ser humano tem se dedicado a compreender como ocorre o ensino desde a
Antiguidade Clássica, procurando maneiras, formatos, técnicas e métodos mais
eficazes para fazer com que os conhecimentos produzidos e acumulados da cultura
humana possam ser transmitidos, repassados e ensinados aos demais membros da
sociedade.
Piletti (2010, p. 23) reforça que “[...] o ensino e a aprendizagem são tão
antigos quanto a própria humanidade”, referindo-se à necessidade de as tribos
primitivas ensinarem os seus filhos a caçar e sobreviver num ambiente hostil. Fazer
com que esse acúmulo de informações e conhecimentos se perpetue através do
tempo passa a ser entendido, então, a partir da ideia de ensinar, ou seja, da ação de
transmitir ao outro esses saberes.
Daí vem a primeira característica importante sobre o ensino: ele é realizado
por alguém que tem o conhecimento. Essa pessoa, partindo de um objeto que
deseja ensinar, vai transmitir o que sabe a alguém. Piletti (2010, p. 26) traz o
seguinte complemento: “[...] segundo o conceito etimológico, ensinar (do latim
signare) é ‘colocar dentro, gravar no espírito’. De acordo com esse conceito, ensinar
34
é gravar ideias na cabeça do aluno. Nesse caso, o método de ensino é o de marcar
e tomar a lição”. Assim, podemos entender, a partir dessa ideia inicial sobre o ensino
visto numa perspectiva pedagógica tradicional, que ensinar segue um processo que
envolve três elementos, conforme a Figura abaixo.
Podemos perceber que os assuntos que envolvem o ensino para a área da
educação são muito pertinentes. Com base na sua conceituação, há inúmeras
problematizações possíveis. Qual é a relação existente entre o preparo técnico do
professor para que ensine de forma mais eficiente? Quais as técnicas (didática) mais
adequadas para ensinar determinados objetos de conhecimentos? Como são eleitos
os conteúdos que serão ensinados (currículo)? O ensino que está sendo proposto
tem gerado aprendizagem?
Você poderá constatar que nem todos os esforços em torno do ensino, com
conteúdos ricos, ambiente estimulante, boas técnicas didáticas e preparo do
professor que os ministra poderão garantir que a aprendizagem ocorra. É importante
destacar que considerar o ensino como algo dissociado do aprender e da
aprendizagem em si remonta aos primórdios do surgimento da didática, identificada
como a “arte de ensinar”. Ela propõe técnicas diversas, as quais vão facilitar a
condução e o desenvolvimento das aulas pelo docente (BES, 2017). Para contribuir
com esse argumento, podemos resgatar as ideias propostas por Comenius (1657)
em sua obra Didáctica Magna:
35
Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo, para obter resultados, de ensinar de modo fácil [...] de ensinar de modo sólido, não superficialmente, de qualquer maneira, massa para conduzir à verdadeira cultura, aos bons costumes [...] (COMENIUS, 1976, p. 13).
É claro que a forma como o ensino é entendido fará com que as ações do
professor levem à finalidade de ensinar. Esse conceito se reconfigura com o passar
dos séculos, indo ao encontro das tendências pedagógicas (e até mesmo
psicológicas) que emergem, possibilitando ao docente se posicionar e optar por
aquelas com as quais mais se identifica. Ainda assim, segundo Luck (1994, p. 39),
“[...] o ensino, em geral, centra-se na reprodução do conhecimento já produzido”.
Damis (2010), ao estudar as transformações ocorridas na didática e as ênfases que
recaem sobre o ensinar, comenta que elas seguem as mudanças apresentadas na
Figura abaixo:
Dessa maneira, um professor alinhado com as tendências pedagógicas
liberais tradicionais, por exemplo, é visivelmente identificado como aquele que se
porta como o único detentor do conhecimento. Por essa razão, ele vai transmitir os
conteúdos a serem ensinados, também por considerar que os alunos não possuem
conhecimento algum sobre eles. Os alunos, nesse caso, recebem o ensino de forma
passiva, memorizando informações e não interagindo entre si ou com o docente.
Nessa visão pedagógica tradicional, ensinar é transmitir conhecimentos.
Já se o docente segue uma tendência pedagógica progressista, entenderá
que, ao ensinar, deverá envolver outros elementos no processo, como as vivências e
experiências do aluno sobre os conteúdos abordados, bem como a problematização
36
das realidades sociais nas quais ele se encontra envolvido. Essa maneira de
posicionar-se pedagogicamente propõe que o ensino possa ser visto como uma
relação horizontal entre o professor e os alunos, em que ambos podem ter
conhecimento e aprender juntos.
É conveniente destacar ainda que o movimento da Escola Nova, que
despontou no Brasil na década de 1930, propõe algumas modificações interessantes
em relação ao ensino, deslocando-o da visão pedagógica tradicional, conforme
propõe Piletti (2010, p. 27):
Com a Escola Nova, o eixo da questão pedagógica passa do intelecto (ensino tradicional), para o sentimento; do aspecto lógico, para o psicológico; dos conteúdos cognitivos para os métodos ou processos pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do diretivismo para o não-diretivismo; da quantidade para a qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração experimental baseada principalmente na Biologia e na Psicologia.
Como podemos perceber, as formas como o ensino é entendido pertencem a
cada época histórica e seus acontecimentos. Assim, a escola também se modifica e
apresenta novas maneiras de desenvolver os seus processos de ensino e
aprendizagem, visando dar conta de um mundo em constante transformação. É
importante perceber que as teorias produzidas por outras áreas das ciências, como
a psicologia, a filosofia e a sociologia, repercutem na pedagogia, que incorpora
novos conceitos sobre as maneiras como se deve ensinar e aprender, modificando
as condutas docentes.
Um exemplo dessas contribuições da psicologia sobre o entendimento do
ensino é a definição de aprendizagem como “[...] mudança de comportamento
resultante do treino ou da experiência” (GIUSTA, 2013, p. 22). Essa ideia, que surge
nos trabalhos de psicólogos da corrente conhecida como behaviorismo, entre eles
Skinner, Pavlov e Watson, altera a compreensão do ensino em que o professor era
considerado o centro do processo, passando à percepção de outros elementos,
como a experiência ou o condicionamento.
Já as pesquisas desenvolvidas por Jean Piaget, com a sua epistemologia
genética, propõem a ideia de que “[...] o conhecimento não procede nem da
experiência única dos objetos nem de uma programação inata pré-formada no
sujeito, mas de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas
37
novas” (PIAGET, 1976, p. 4). Da mesma maneira, as teorias de Vygotsky (1977) a
respeito do processo sócio-histórico e cultural e da aprendizagem contribuem de
forma significativa para os conceitos de ensino e aprendizagem, uma vez que, de
acordo com esse autor:
[...] a aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e está ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente (VYGOTSKY, 1977, p. 47).
Como podemos verificar, as ideias da área da psicologia contribuem para que
a pedagogia se renove e passe a entender o ensino a partir de outras lentes.
5.2 O conceito de aprendizagem
Destacamos até aqui o caráter originário do ensinar, que enfatiza as ações
iniciais da didática, traduzido como o ato de repassar a alguém os conhecimentos
produzidos pela humanidade em todas as suas esferas: cultural, científica, religiosa
ou até mesmo do senso comum.
Inicialmente, o ensinar estava associado direta e exclusivamente com a figura
do professor; já o aprender estava relacionado com o aluno (alvo das técnicas de
ensino), devendo apropriar-se dos conhecimentos propostos. Em outras palavras,
aprende-se alguma coisa quando aquilo que foi ensinado a partir de alguém é de
fato apreendido e compreendido pelo aluno ou aprendiz. A partir de então, esse
conhecimento passa a fazer parte do indivíduo, mudando os seus pensamentos ou a
sua conduta. Pilletti (2010) comenta que existem três tipos de aprendizagem:
aprendizagem motora ou motriz;
38
aprendizagem cognitiva;
aprendizagem afetiva ou emocional.
A aprendizagem motriz refere-se ao desenvolvimento das habilidades
motoras necessárias para a vida, como andar, correr, dirigir, falar, escrever, etc. A
aprendizagem cognitiva baseia-se no aprender, assimilar e interpretar todas as
informações e os conhecimentos recebidos. A aprendizagem afetiva, por sua vez,
envolve os sentimentos e as emoções que existem e fazem parte dos processos de
ensino e aprendizagem. É importante destacar que essas aprendizagens ocorrem
simultaneamente, de forma interdependente. (PILLETTI, 2010).
Podemos constatar ainda que inúmeros outros fatores intervêm na
aprendizagem de nossos alunos no interior da escola, conforme a Figura abaixo:
Como podemos perceber, o aprender, segundo as concepções pedagógicas e
psicológicas que circulam na atualidade, envolve aspectos que fogem do ambiente
escolar. Por exemplo, a partir da realidade social que os alunos vivenciam, da sua
estrutura de vida, da classe social que ocupam, tanto poderão ter maior dificuldade
em aprender quanto ser mais favorecidos. Os aspectos nutricionais (desde a
gestação) proporcionarão o desenvolvimento neuronal pleno e, assim, a capacidade
para aprender ocorrerá de forma tranquila. Já crianças que tiveram uma nutrição
precária na gestação e na infância poderão apresentar maiores dificuldades de
aprendizagem.
O ambiente familiar no qual a criança passa a viver a sua infância e a sua
escolarização inicial também afeta a maneira como aprende. Pais ou responsáveis
que se preocupam com um ambiente harmônico, não violento e pautado no diálogo,
39
por exemplo, produzem melhores condições psicológicas para que essa criança
possa aprender em casa e na escola. Da mesma forma, crianças que vivenciaram
ambientes familiares agressivos e violentos tendem a ter maiores dificuldades no
aprender. Os aspectos culturais, e até mesmo étnicos que envolvem as experiências
e vivências nos grupos sociais que as crianças participam desde o seu nascimento
também serão importantes para que possam desenvolver a sua visão de mundo e
valorizar ou não o aprender escolar.
Nesse sentido, a didática utilizada pelo professor e os estímulos que este
adota para ensinar vão motivar e interferir diretamente na aprendizagem de seus
alunos. Podemos admitir uma relação muito estreita entre a motivação para
aprender ou o interesse pela aprendizagem com a maneira como o professor
procura planejar e desenvolver as suas aulas. Segundo Brousseau (apud
ALMOULOUD, 2007, p. 31):
Um processo de aprendizagem pode ser caracterizado de modo geral (se não determinado) por um conjunto de situações identificáveis (naturais ou didáticas) reprodutíveis, conduzindo frequentemente à modificação de comportamentos de alunos, modificação característica da aquisição de um determinado conjunto de conhecimentos.
O autor entende que há outras situações, além das didáticas, que poderão
proporcionar a aprendizagem e aponta algo muito importante, que atesta que algo
foi aprendido: a mudança de comportamento.
Logo, se você quiser verificar se algum conteúdo ou conhecimento foi
aprendido pelos seus alunos, também precisará pensar em um formato de avaliação
que permita visualizar se o comportamento anterior se alterou ou não. Veja um
exemplo bem típico das instituições de ensino da atualidade: as ações educacionais
que procuram evitar o preconceito, a discriminação ou o bullying no interior das
escolas.
O professor prepara-se para essa atividade e planeja as mais diversas ações
e metodologias que possam conduzir ao objetivo de acabar com tais situações na
escola. Após colocá-las em prática com o seu grupo de alunos, vai verificar se estes
aprenderam o que foi proposto a partir da modificação de suas condutas em relação
ao tema. Se as ações continuarem apontando atitudes preconceituosas e
discriminatórias ou o próprio bullying, é provável que a aprendizagem não tenha
ocorrido a todos como deveria, pois não atingiu os seus objetivos iniciais.
40
Logo, podemos perceber que desenvolver a aprendizagem não é tarefa
simples, uma vez que:
[...] aprendizagem não é somente um processo de aquisição de conhecimentos, conteúdos ou informações. As informações são importantes, mas precisam passar por um processamento muito complexo, a fim de se tornarem significativos para a vida das pessoas (PILETTI, 2010, p. 29).
É nesse processamento complexo citado pelo autor que se encontram as
capacidades individuais e as questões afetivas e motoras existentes naquele que
aprende.
A aprendizagem também tem sido muito enfatizada na atualidade, uma vez
que vivemos numa sociedade que se encontra com grande profusão de informações
advindas do universo digital e que contribui para que o seu conceito se reconfigure.
Embora seja contestável que as informações disponíveis na internet possam sempre
traduzir-se em qualidade de aprendizagem, ainda assim sabe-se que é possível
aprender de forma autônoma a partir da rede.
Essas possibilidades de aprendizagem que surgiram a partir da globalização
e das novas formas de comunicação também modificam o papel do professor nas
instituições de ensino: é visto agora como mediador do conhecimento. Conforme
Moran (1997, p. 151):
[...] precisamos de mediadores, de pessoas que saibam escolher o que é mais importante para cada um de nós em todas as áreas da nossa vida, que garimpem o essencial, que nos orientem sobre as suas consequências, que traduzam os dados técnicos em linguagem acessível e contextualizada.
Das novas associações que falam da aprendizagem, relacionando-a com a
sociedade da informação ou com a sociedade aprendente atual, fica a ideia de que
esse conceito é visto como algo novo, quase que incontrolável em relação aos seus
resultados finais. Da mesma forma, a aprendizagem via internet, por meio da
intertextualidade proposta pelos hipertextos, com suas camadas de informações
sobrepostas e complementares, produz um novo modo de aprender, mais dinâmico
e instável. Dessa forma, podemos entender que, na atualidade, o:
[...] aprender não pode aludir, nunca, a uma tarefa completa, a um procedimento acabado ou a uma pretensão totalmente realizada; ao contrário, indica vivamente, à dinâmica da realidade complexa, a finitude das soluções e a incompletude do conhecimento (DEMO, 2000, p. 49).
41
5.3 Os quatro pilares da educação e o ensino e a aprendizagem
As questões que envolvem a educação e, consequentemente, os aspectos
relacionados ao ensino e à aprendizagem têm um destaque muito grande no mundo
inteiro na contemporaneidade, sobretudo pelos aspectos relacionados a uma
sociedade que passa de pautada na informação para aprendente fenômeno
verificado principalmente nas últimas décadas.
Assmann (1998) faz uma interessante constatação ao analisar que, com a
universalização da internet e das tecnologias da informação e comunicação, que
caracterizam a chamada sociedade da informação, tivemos uma mudança radical
nas questões de tempo/espaço. Isso também altera as exigências no mercado de
trabalho, principalmente nos aspectos relacionados a uma maior
formação/qualificação e flexibilidade por parte dos colaboradores que atuam nas
empresas globais.
Dessa forma, percebemos que a denominada sociedade aprendente surgiu
nos ambientes organizacionais e, posteriormente, deslocou-se para as escolas, que
mudaram as suas ênfases também para a aprendizagem. Para darmos apenas um
pequeno exemplo dessa argumentação, em 1990, Peter Senge lançava o seu livro A
Quinta Disciplina, que se tornou um best seller seguido e praticado em muitas das
grandes organizações públicas e privadas mundiais. Ele argumenta:
Muitos se referem às organizações emergentes como “organizações baseadas no conhecimento” ou como “organizações que aprendem”: organizações inerentemente mais flexíveis, adaptáveis e mais capazes de constantemente “reinventarem-se”. Tais organizações terão por base a crença de que, em um mundo de mudanças cada vez mais aceleradas e crescente interdependência (…) a fonte básica de toda vantagem competitiva está na capacidade de aprender mais rápido do que seus concorrentes (SENGE, 2002, p. 12, grifo nosso).
42
Como podemos verificar, alguns fatores econômicos, políticos e sociais
contribuem para essa mudança de ênfase. O aprender ganha destaque e a
aprendizagem passa a ser entendida como algo que deva ser realizado pela vida
toda. Preocupada em propor condições universais para equilibrar as questões que
envolvem a educação da população global, a UNESCO braço da Organização das
Nações Unidas (ONU) relativo aos cuidados com a educação lançou, em 1996, o
Relatório da Comissão Internacional da Educação para o Século XXI, intitulado Um
Tesouro a Descobrir. Esse documento aponta os quatro pilares sobre os quais a
educação deverá se pautar (Figura abaixo). Esses pilares vão se relacionar
diretamente às questões que envolvem o ensino e principalmente aquilo que deve
ser aprendido nas escolas dos sistemas de ensino das nações que fazem parte da
ONU.
Segundo as próprias palavras do documento, dentro de um mundo que se
encontra imerso em tantos infortúnios, violências e desigualdades sociais, e que
busca ser coeso e global, é coerente entender que:
[...] o indivíduo deve dispor de todos os elementos de uma educação básica de qualidade; melhor ainda, é desejável que a escola venha a incrementar, cada vez mais, o gosto e prazer de aprender, a capacidade de aprender a aprender, além da curiosidade intelectual (UNESCO, 2010, p. 12).
43
Em essência, como a sociedade torna-se mais dinâmica e suscetível a
mudanças, e para que se alcance o objetivo de um mundo sustentável no futuro,
“[...] é imperativo impor o conceito de educação ao longo da vida com suas
vantagens de flexibilidade, diversidade e acessibilidade no tempo e no espaço”
(UNESCO, 2010, p. 12). Como podemos perceber, a busca pelo aprender está
sendo enfatizada e reforçada, e o relatório propõe ainda que essa educação e essas
aprendizagens ocorram não somente durante a vida escolar, mas por toda a
extensão da vida, de forma permanente.
Conheça os quatro pilares da educação e como se articulam com as questões
do processo de ensino e aprendizagem, conforme apresentado no documento da
UNESCO (2010).
Aprender a conhecer: é necessário que os indivíduos tenham acesso e
aprendam sobre determinada cultura geral, sobre uma base cultural relacionada a
tudo o que foi desenvolvido nos aspectos científicos. Esses conhecimentos devem
ser suficientemente amplos, fornecendo capacidade intelectual e permitindo que
essas pessoas possam ter condições de selecionar os que mais lhe interessar e,
assim, planejar seus estudos no decorrer da vida. Aqui percebemos que a
escolarização inicial é de importância fundamental, pois pelo sucesso no alcance de
seus objetivos educacionais, estará proporcionando que os seus alunos adquiram
essa base de conhecimentos que darão suporte às suas aprendizagens posteriores.
Aqui cabe ressaltar que vivemos na atualidade a emergência de uma Base Nacional
Comum Curricular, construída a partir de um esforço do Ministério da Educação e
com a participação popular, que propõe um nivelamento de conteúdos a serem
adquiridos por todos os que frequentam as escolas brasileiras.
Aprender a fazer: esse item refere-se especificamente à aquisição de uma
profissão, a aprender competências que qualifiquem o indivíduo para as
imprevisibilidades do mercado de trabalho. Propõe-se ainda a desenvolver, dentro
da escola, o trabalho em equipe, por meio de processos de ensino e aprendizagem
que simulem, testem e aproximem a escola dos ambientes de trabalho encontrados
pelos estudantes ao se tornarem trabalhadores. Percebemos esse pilar no interior
de muitas escolas que procuram projetar situações empresariais aos alunos e
desenvolver as suas competências para exercer algumas atribuições específicas. Da
mesma maneira, as dinâmicas de trabalhos em equipe e grupos, o desenvolvimento
44
de lideranças, o empreendedorismo e as habilidades voltadas para a comunicação,
inteligência emocional e relacionamento interpessoal, tão valorizadas no mercado de
trabalho, têm feito parte importante dos projetos educacionais atuais em muitas das
escolas de nosso sistema de ensino.
Aprender a conviver: esse pilar vai destacar o quanto o respeito pelo
outro é necessário e deve ser constante nos processos de ensino e aprendizagem
da escola. Propõe que se conheçam a história, as tradições e até mesmo as
questões espirituais que fazem parte da vida dos diversos grupos culturais que
convivem na sociedade. Visa-se assim uma convivência social menos conflituosa.
Podemos entender, a partir desse pilar, como os temas que envolvem o
multiculturalismo, a diversidade e a própria inclusão escolar vão fazendo parte dos
projetos de trabalho realizados nas escolas na última década, buscando construir
uma sociedade mais tolerante e pacífica.
Aprender a ser: esse pilar reforça os compromissos individuais que
possuímos em nos tornarmos melhores, no desenvolvimento pleno de nossas
capacidades, visando o benefício da coletividade. Aqui são apontadas algumas das
capacidades necessárias: “[...] a memória, o raciocínio, a imaginação, as
capacidades físicas, o sentido estético, a facilidade de comunicar-se com os outros”
(UNESCO, 2010, p. 14). Também aponta a necessidade de autoconhecimento.
Partindo desse pilar, ao frequentar a escola, os alunos devem conseguir expandir ao
máximo as suas habilidades ou os seus talentos, como refere o documento, pois
assim também estarão contribuindo para uma sociedade melhor no futuro.
Como você pode ver, ao abordar os quatro pilares da educação propostos no
relatório da UNESCO, as questões relacionadas à educação escolar em nível global
são cada vez mais importantes. Entende-se que, a partir delas, será possível a
construção de um projeto de sociedade capaz de viver em harmonia e enfrentar os
seus problemas, as desigualdades e os conflitos de forma sustentável. Para isso, é
preciso que se aprenda na escola a ser o melhor que puder, que se adquiram
capacidades ou competências profissionais e que se entenda a importância do
convívio com os seus semelhantes. Além disso, é necessário ter o conhecimento
cultural produzido pela sociedade que o capacite a viver e projetar novos estudos de
seu interesse no futuro, uma vez que a educação será a sua acompanhante durante
toda a vida.
45
5.4 As abordagens metodológicas e os métodos no processo de ensino-
aprendizagem
Dada uma determinada concepção metodológica, teremos então os métodos
e estratégias de ensino coerentes com os fundamentos que orientam tal concepção.
Segundo Araújo (2015), a análise etimológica da palavra método, advém do
grego, e compõe-se da junção dos termos metá (que significa além de, em seguida)
e de hodós (caminho). Assim, a origem da expressão já nos fornece alguns
indicativos dos seus sentidos. Os métodos são, portanto, os caminhos, as técnicas,
os meios escolhidos e definidos pelo professor para se atingir os objetivos.
A ideia de método como um caminho nos ajuda a compreender que sempre
há uma direção escolhida, ou seja, os métodos guardam em si escolhas,
pressupostos teórico-metodológicos e, por isso, não podem ser compreendidos
apenas como técnicas e procedimentos neutros. Nessa esteira, Libâneo (2013, p.
166) afirma:
Os métodos de ensino não se reduzem a quaisquer medidas, procedimentos e técnicas. Eles decorrem de uma concepção de sociedade, da natureza da atividade prática humana no mundo, do processo de conhecimento e, particularmente, da compreensão da prática educativa numa determinada sociedade. Nesse sentido, antes de se constituírem em passos, medidas, e procedimentos, os métodos de ensino se fundamentam em um método de reflexão e ação sobre a realidade educacional, sobre a lógica interna e as relações entre os objetos, fatos e problemas dos conteúdos de ensino, de modo a vincular a todo momento o processo de conhecimento e a atividade prática humana no mundo.
Os métodos de ensino derivam da conjunção entre conteúdo, objetivo e
pressupostos pedagógico-didáticos e é baseada nessa tríade que o método é
elaborado.
46
Os objetivos de aprendizagem não ocorrem naturalmente. Eles requerem uma
ação programada, uma sequência de ações planejadas, um meio ou um método
adequado para alcançá-los. Os métodos de ensino dependem, portanto, dos
objetivos construídos. Pode-se constatar, então, a relação de interdependência entre
conteúdo, objetivo e método. Os “[...] métodos [...] são as formas pelas quais os
objetivos e conteúdos se manifestam no processo de ensino” (LIBÂNEO, 2013, p.
169).
Buscou-se mostrar até aqui que o método é uma das dimensões contidas no
processo de ensino-aprendizagem, inserido em uma dada metodologia e construído
a partir de determinadas concepções pedagógico-didáticas. Ademais, o método
ganha sentido, se tomado conjuntamente com os conteúdos e, especialmente, com
os objetivos de ensino. Tendo em vista todos esses elementos em jogo é possível
afirmar que o método de ensino de um professor é sempre algo em construção, ou
seja, o professor, como intelectual criativo, arquiteta o seu método e constrói
estratégias diante de uma determinada realidade escolar. Desta forma, ainda que
47
possamos compartilhar experiências e modelos, há sempre um trabalho a ser feito
pelo professor e, nesse sentido, as metodologias são sempre, em alguma medida,
inacabadas. Há riscos diversos em pretender encaixar hermeticamente uma
determinada proposta metodológica em outros contextos.
Entretanto, como profissionais em formação constante, diante de um contexto
social e cultural que mudam constantemente, em contextos escolares sempre
desafiadores, conhecer, discutir e compreender métodos diversos são sempre
tarefas relevantes. Diferentes autores agrupam e nomeiam de formas variadas os
métodos de ensino. Libâneo (2013), por exemplo, apresenta o que ele denomina de
métodos gerais de ensino, que podem ser utilizados em diferentes perspectivas
pedagógico-didáticas, ajustando-se aos objetivos propostos. Veja a seguir.
1. Método de exposição pelo professor ou método expositivo – este
método é centrado na ação do professor, que explica e demonstra, em geral, de
forma verbal os conhecimentos. No método expositivo, o aluno assume uma postura
mais receptiva, que não significa necessariamente ser passiva. É importante
salientar que, embora este método receba críticas por presumir pouca participação
do aluno, a exposição verbal e sistemática dos conhecimentos é um recurso
importante e valioso para a assimilação e compreensão de alguns conteúdos. O
desafio aqui é não o utilizar como único método de ensino-aprendizagem pois, como
em qualquer outro, há possibilidades e limites em sua utilização.
2. Método de trabalho independente ou método de trabalho individual –
conforme o próprio nome sugere, a estratégia central neste método é que o aluno
realize de maneira individual e independente algumas tarefas, que podem se
apresentam de inúmeras formas, mobilizando diferentes aprendizagens. Podem ser
tarefas de aplicação de conteúdos, estudos dirigidos, resolução de problemas,
leituras, produção escrita individual, etc. A aplicação desse método ao longo das
aulas é um importante recurso para acompanhar a aprendizagem dos alunos.
3. Método de elaboração conjunta ou coletiva – neste método, pressupõe-
-se a interação e participação de professores e alunos na elaboração dos
conhecimentos e realização das tarefas. Ele pode se dar, por exemplo, por meio de
uma conversa ou uma exposição dialogada em que, de maneira conjunta, serão
construídas hipóteses e conclusões. Ou, por exemplo, durante a elaboração de
textos coletivos, na qual há a participação e intervenção ativa dos alunos e do
48
professor. O funcionamento deste método se dá, sobretudo, por meio de perguntas,
instigações e provocações que o professor faz à turma.
4. Método de trabalho em grupo – prevê a realização e elaboração coletiva
de tarefas entre grupos de alunos. A proposta intenta construir o conhecimento em
colaboração com o outro, promovendo trocas, escuta, diálogo, divisão de tarefas e
coordenação de atividades. O trabalho em grupo pode assumir inúmeros formatos:
um projeto de pesquisa, um debate, a simulação de um júri, organização de um
teatro ou apresentação de trabalhos. É importante, independente das modalidades,
que sejam acompanhadas e orientadas por um plano de trabalho, com objetivos
claros e construção de um relatório com uma síntese das aprendizagens
construídas.
5. Atividades especiais – envolvem, de maneira geral, uma estrutura ou
recursos especiais que não são comumente encontrados no espaço limitado de uma
sala de aula. Envolvem desde recursos diferenciados (vídeos, materiais, etc.) a
espaços que ultrapassam, em alguns casos, os muros da escola, como, por
exemplo, as atividades exploratórias extraclasse, experimentos em laboratórios,
visitas a museus, cinemas, entre outros espaços.
Além dos métodos mais gerais, como denomina Libâneo (2013), que podem
ser adaptados às diferentes perspectivas metodológicas, há metodologias que se
apresentam de maneira mais delineada, com pressupostos bastante explicitados em
que há tipificação de atividades, sequenciamento de etapas e métodos específicos.
Por exemplo, se nos voltarmos às experiências de alfabetização, há inúmeras
metodologias e métodos desenvolvidos, específicos a essa modalidade, que
envolvem pressupostos teóricos distintos sobre o processo de ensino-aprendizagem
da língua materna. Há, para isso, diversos conhecimentos produzidos e uma
literatura especializada para discutir essas questões.
Com alguma frequência, surgem novos materiais dispostos a apresentar
novas metodologias e métodos mais gerais aos professores. Ao longo dos últimos
anos, as metodologias ativas têm ganhado grande notoriedade no cenário da
didática. Convém lembrar que as metodologias ativas em si não se tratam de fato
novo no cenário educacional, e possuem suas raízes na pedagogia da escola nova
e, especialmente, nas formulações de John Dewey, como vimos na parte inicial
deste capítulo.
49
Nesta concepção há um deslocamento da perspectiva do docente para o
estudante, que passa a ocupar o centro do processo de ensino-aprendizagem,
contrapondo-se à abordagem tradicional, centrada no professor. Assim, alunos
passam a assumir um papel ativo na aprendizagem, com “[...] suas experiências,
saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para construção do
conhecimento” (DIESEL, BALDEZ, MARTINS, 2017, p. 270). As metodologias ativas
buscam estimular a autoaprendizagem, envolvendo os estudantes em pesquisas,
reflexões, tomadas de decisão e outras estratégias que promovam o seu
desenvolvimento autônomo, como preconizavam os autores do movimento
escolanovista.
Os defensores das metodologias ativas apoiam-se ainda nas contribuições
advindas da neurociência, conforme sinaliza Bacich e Moran (2018, p. 3):
A aprendizagem é ativa e significativa quando avançamos em espiral, de níveis mais simples para mais complexos de conhecimento e competência em todas as dimensões da vida. Esses avanços realizam-se por diversas trilhas com movimentos, tempos e desenhos diferentes, que se integram como mosaicos dinâmicos, com diversas ênfases, cores e sínteses, frutos das interações pessoais, sociais e culturais em que estamos inseridos. [...]. As pesquisas atuais da neurociência comprovam que o processo de aprendizagem é único e diferente para cada ser humano, e que cada pessoa aprende o que é mais relevante e o que faz sentido para si, o que gera conexões cognitivas e emocionais.
Ainda que as fundações dessas correntes metodológicas não sejam
necessariamente todas recentes, a novidade em questão é que diversos estudiosos
têm aprofundado o estudo de métodos e técnicas que se inscrevem nessa
perspectiva, oferecendo aos professores um acervo em expansão de práticas de
metodologias ativas.
A visibilidade dessas metodologias também decorre do fato de que o método
ativo tem sido amplamente divulgado em universidades estrangeiras, que têm
recriado propostas e incorporando, sobretudo, contribuições e inovações
oportunizadas pelas TICs. Tudo isso produz um grande apelo (comercial, inclusive)
pela aplicação desses métodos nos diversos níveis da docência, causando um
primeiro e maior impacto em instituições privadas e na docência do ensino superior,
de modo especial.
50
Inseridas no amplo espectro das metodologias ativas, há uma série de
métodos específicos à disposição dos professores, para que eles possam combinar
as estratégias conforme a necessidade e interesse do grupo.
Já mais conhecida pelos educadores, a metodologias de projetos, tem sido
reconhecida amplamente como uma importante prática ativa. Nesta metodologia de
ensino-aprendizagem os alunos se envolvem com tarefas e desafios para resolver
um problema ou aprofundar um assunto de interesse dos estudantes. Hernández
(1998), um dos estudiosos contemporâneos da metodologia de projetos, que
também possui suas origens no pensamento de John Dewey, argumenta que esta
abordagem, além de reunir diversos procedimentos capazes de mobilizar ativamente
os alunos, também permite o trabalho interdisciplinar. Segundo ele, a metodologia
de projetos promove:
1) o tratamento da informação 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio (HERNÁNDEZ, 1998, p. 37).
Na metodologia de projetos e nas demais estratégias apresentadas, o aluno é
corresponsável e protagonista do processo de construção do conhecimento, porém,
em todas elas, o papel do professor segue sendo primordial. Como vimos, o
professor é o sujeito responsável que fará a conexão entre os conteúdos, os
51
objetivos e as concepções pedagógico-didáticas, processos fundamentais para que
vislumbrem os meios a seguir. Ademais, é novamente importante reforçar que sejam
quais forem as opções metodológicas escolhidas pelo professor, há ainda um longo
trabalho criativo e intelectual a ser feito, adequando as práticas pedagógicas ao
contexto de cada realidade escolar.
Antes de encerrarmos este capítulo, é importante levantarmos algumas
questões sobre a relação entre os recursos materiais e as metodologias.
5.5 Metodologias e recursos materiais: as contribuições das TIC’s
Como foi argumentado ao longo do texto, há diversos caminhos possíveis
para um professor assentar a sua metodologia. O uso de recursos materiais,
sobretudo tecnológicos, pode, sem dúvida, agregar muito neste processo. Porém,
conforme bem nos lembram Diesel, Baldez e Martins (2017, p. 284), “Percebe-se
que a utilização de novos recursos tecnológicos durante as aulas não altera esse
cenário de insatisfação coletiva, posto que, sozinha, a tecnologia não garante
aprendizagem, tampouco transpõe velhos paradigmas”.
Assim, não restam dúvidas de que inundar a aula de recursos de tecnologia e
informação não asseguram o funcionamento, tampouco o sucesso de metodologias,
sejam quais forem as abordagens utilizadas.
Entretanto, também é amplamente reconhecido que a geração atual de
estudantes, seja ela oriunda de classes favorecidas ou não, é permeada, com maior
ou menor intensidade, por formas diversas de tecnologias. É fato considerado raro
uma sala de aula em que professores não precisem conviver e disputar a atenção
com smartphones e outros dispositivos eletrônicos. Conhecer essas tecnologias e
utilizá-las em favor da aprendizagem, torna-se cada vez mais necessário. Neste
sentido, Candau (2015, p. 331) afirma:
O impacto das tecnologias da informação e da comunicação sobre os processos de ensino–aprendizagem obriga a buscar novas estratégias pedagógicas. Os sujeitos da educação, crianças e adolescentes, apresentam configurações identitárias e subjetividades fluidas que escapam à compreensão dos educadores/as.
Assim, conhecer e dominar gradativamente as TICs é uma tarefa central para
os professores de quaisquer segmentos. Não se trata apenas de deixar a aula mais
52
atrativa e dinâmica, mas, sobretudo, de conhecer e dominar o potencial que essas
ferramentas trazem consigo de promover mais aprendizagem. Além disso, é
igualmente relevante promover estudos e reflexões sobre o uso e a presença das
TICs na vida dos estudantes.
Tendo em vista as incontáveis e distintas realidades que temos, não é
possível apontar uma listagem de sites, aplicativos ou softwares, ferramentas
tecnológicas ou dispositivos eletrônicos que possam ser úteis e estejam disponíveis
a todos docentes. Uma rápida consulta em sites de busca e localiza-se facilmente
inúmeras sugestões que podem deixar as aulas mais interativas, aproximando as
relações e tornando-as mais atrativas e significativas para todos. (CANDAU, 2015).
Entretanto, é importante enfatizar que, em muitos contextos, antes de utilizar
esses recursos, é necessário primeiro auxiliar os alunos a fazerem o uso consciente
e crítico dessas ferramentas. Trata-se de educar para a cidadania que também se
manifesta, atualmente, de maneira virtual.
Por fim, enfatizamos que o sucesso e eficácia das metodologias não
dependem exclusivamente da existência de recursos tecnológicos mais sofisticados.
Livros, filmes, músicas, pesquisas e visitações, por exemplo, são fontes ricas de
aprendizagens que podem favorecer o processo de ensino-aprendizagem.
53
6 DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
A didática se caracteriza pela mediação e pelo estudo dos saberes
necessários à prática docente, sendo um dos principais instrumentos para a
formação do professor. A partir dela, é possível conceber os ensinamentos
necessários e pertinentes à prática diária. Seguindo essa concepção, a partir da
formação continuada, é possível desenvolver um conhecimento profissional que
permita instigar o professor a buscar, refletir, questionar e investigar ações que
estejam pautadas em práticas cotidianas. (CANDAU, 2015).
Fonte de: www.genexatas.com.br
Por meio desse aperfeiçoamento contínuo, abrem-se novas possibilidades de
discussões, socializações e desenvolvimento de práticas permanentes de pesquisa
colaborativa. Com isso, a escola que pensa a formação como uma prática coletiva
em um processo permanente toma como referência as ações cotidianas e
integradas, promovendo produções autônomas de saberes e experiências.
6.1 A importância da didática na formação de professores
É importante iniciar, discutindo sobre o que é a didática novamente, qual a
sua importância para a formação de professores e qual a real necessidade de se
articular a teoria e a prática no processo de ensino-aprendizagem. Primeiramente,
54
vamos ao conceito de didática: o dicionário Aurélio refere-se à “[...] arte de ensinar,
de transmitir conhecimento por meio do ensino” (DIDÁTICA, 2018, documento on-
line). Libâneo (1994, p. 25) amplia esse conceito:
A Didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Ela investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. A ela cabe converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos, estabelecer os vínculos entre ensino e aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos.
Masetto (1997) acrescenta que a didática se refere ao estudo das teorias do
ensino e da aprendizagem que se aplicam no processo educativo escolar, assim
como os resultados alcançados. Além disso, Libâneo (1994, p. 26) complementa,
afirmando que a didática “[...] generaliza processos e procedimentos obtidos na
investigação das matérias específicas, das ciências que dão embasamento ao
ensino e à aprendizagem e das situações concretas da prática docente”. Nesse
entendimento, esse conceito “[...] é uma contínua interpenetração entre teoria e
prática, a teoria vinculada aos problemas reais postos pela experiência prática e a
ação prática orientada teoricamente” (LIBÂNEO, 1994, p. 28).
Diante da importância da didática, vale destacar que o seu conceito não se
refere à transmissão de conteúdos e conhecimentos do professor para o aluno,
tampouco está restrito a uma forma única de realizar a aula e o planejamento. Em
resumo, não significa acumular informações sobre as melhores técnicas e práticas
de trabalho para alcançar o processo de ensino-aprendizagem. Pelo contrário, a
didática estuda a ação pedagógica e propõe ao professor que ele estenda e amplie
o diálogo e a capacidade dos alunos de questionar e fazer reflexões sobre as
informações e os conhecimentos adquiridos ao longo do processo de aprendizagem.
Dessa forma, ela prepara o docente para criar estratégias de ensino pautadas na
reflexão entre teoria e prática.
A didática, nesse sentido, estuda os saberes necessários à prática docente e
é um dos principais instrumentos para a formação do professor, visto que a partir
dela é possível conceber os ensinamentos necessários e pertinentes à prática diária.
Mizulami (2013 apud GATTI, 2017), destacando que a docência é uma profissão
complexa e, assim como as demais, pode ser aprendida.
55
O autor complementa dizendo que, para a profissão do magistério, são
necessários conhecimentos acerca dos fundamentos da educação e do campo da
didática, que trata especificamente do ensino. Libâneo (1994, p. 27) destaca que a
formação profissional é um processo pedagógico, intencional e organizado, que
abrange duas dimensões: a formação teórico-científica e a formação técnico-prática.
Para o autor:
[...] formação teórico-científica inclui a formação acadêmica específica nas disciplinas que farão com que o docente se especialize; e a formação pedagógica, que envolve os conhecimentos acerca da Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria Pedagogia que contribuem para o esclarecimento do fenômeno educativo no contexto histórico-social.
Já a formação técnico-prática visa a “[...] preparação profissional específica
para a docência, incluindo a Didática, as metodologias específicas das matérias, a
Psicologia da Educação, a pesquisa educacional e outras” (LIBÂNEO, 1994, p. 27).
Gatti (2017) aponta que esses conhecimentos, imbricados com outros
específicos das demais áreas de conhecimento, constituem a base da formação
para a docência e para o exercício do magistério, numa perspectiva interdisciplinar.
Tardif (2012) complementa com algumas questões a respeito dos saberes
docentes na formação profissional. O autor destaca que os saberes docentes são
plurais, que perpassam elementos distintos, entre eles os saberes advindos da
formação profissional, os saberes disciplinares, curriculares e experienciais.
Os saberes oriundos da formação profissional são aqueles incorporados pelas
instituições de formação, como escolas ou universidades, tanto no âmbito da
formação inicial como da formação contínua. Eles podem ser relacionados com as
ciências humanas e da educação, e também com os saberes pedagógicos da
prática docente.
Os saberes disciplinares integram-se à formação contínua dos professores,
atendendo aos diversos campos do conhecimento e da sociedade. Esses são os
saberes transmitidos em cursos de formação e agregados aos conhecimentos
específicos de cada área ou disciplina.
Os saberes curriculares correspondem a metodologias, propósitos, metas,
conteúdos e assuntos que os educadores precisam aprender a empregar, cujos
propósitos são definir, proporcionar e apresentar saberes sociais da cultura erudita
aos seus alunos.
56
Por fim, os saberes experienciais são aqueles específicos de cada educador,
de cada prática vivenciada no cotidiano do trabalho com os alunos, com a escola e
com os demais parceiros. Esses saberes, como o próprio nome diz, advêm das
experiências e das práticas, sejam individuais ou coletivas, que os professores
possuem.
[...] os saberes experienciais surgem como núcleo vital do saber docente, núcleo a partir do qual os professores tentam transformar suas relações de exterioridade com os saberes em relações de interioridade com sua própria prática. Neste sentido, os saberes experienciais não são saberes como os demais; são, ao contrário, formadores de todos os demais, mas retraduzidos, “polidos” e submetidos às certezas construídas na prática e na experiência (TARDIF, 2012, p. 48).
Partindo desse pressuposto, os saberes experienciais facilitam a integração
do educador com os demais envolvidos com a educação, pois permitem que o
contexto de trabalho e o meio social sejam analisados sob diferentes enfoques,
propiciando e estabelecendo novas relações com os atores da instituição,
trabalhando coletivamente e refletindo sobre a sua prática. A formação, nesse
sentido, aparece como importante ferramenta na implementação desses saberes,
pois contribui para que o educador possa rever a sua prática, discutir temáticas
inerentes à educação e refletir sobre as melhorias para as suas atividades diárias.
Ser professor não é apenas exercer uma profissão: é um processo que
contempla aspectos pessoais, formativos e particulares do sujeito, os quais não
podem ser fragmentados ou subdivididos. Não se separa o professor enquanto
profissional e o professor enquanto pessoa, porque os seus sentimentos e as suas
percepções estão diretamente relacionados à prática e a reflexão desse processo.
Não se trata, portanto, de dois seres distintos, mas de uma pessoa que compreende
a sua profissão, identifica-a e a exerce conforme a sua concepção de educação e
sociedade.
Nessa perspectiva, é fundamental que o educador possa revisitar as teorias
da sua formação, como alicerce que fundamentará a prática pedagógica, de maneira
individual ou coletiva, promovendo a interação entre os profissionais e a flexibilidade,
ao partilhar as suas experiências.
Com isso, é importante destacar que o trabalho coletivo e o estabelecimento
de relações e interações com os seus pares contribuem para que a prática docente
seja constantemente revista, tanto no campo teórico como no prático, pois permite
57
que o educador construa novos vínculos com os seus próprios alunos, por meio de
um processo dinamizado, produtivo e relacionado ao trabalho cotidiano.
É importante, nesse sentido, que o educador assuma uma postura de
renovação frente ao ensino que oportuniza aos seus alunos, de maneira que sejam
possibilitadas novas tendências, novos progressos e novos conhecimentos rumo a
uma educação aberta às oportunidades e ao espírito participativo.
Diante das questões levantadas e considerando a importância da didática na
formação profissional, é possível relacionar que um dos principais responsáveis por
movimentar a escola e os processos educacionais ainda é o professor. Além de
promover a reflexão, por meio de questionamentos, dúvidas e debates, sobre as
questões voltadas à escola, à comunidade e à sociedade como um todo, ele ainda
possibilita que os alunos se desacomodem e busquem soluções para os problemas
enfrentados.
Nessa relação recíproca envolvendo professor e aluno, Arroyo (2000, p. 19)
destaca: “Quanto mais nos aproximamos do cotidiano escolar, mais nos
convencemos de que ainda a escola gira em torno dos professores, de seu ofício, de
sua qualificação e profissionalismo. São eles e elas que fazem e reinventam”.
Essa é a grande questão da educação: promover atitudes de conscientização
entre alunos, pais e professores. Essas mudanças auxiliarão os educadores a
assumirem novos papéis frente aos processos educacionais, contribuindo para que
sejam produzidas questões pertinentes ao cotidiano dos alunos. Afinal, professores
não são meros transmissores de saberes, mas profissionais responsáveis por
promover o diálogo, a reflexão e a problematização, a partir de processos coletivos
voltados à didática e à formação continuada.
58
6.2 A formação continuada na área da didática como uma necessidade
docente
A formação continuada, tão necessária para a prática docente, envolve todas
as aprendizagens decorrentes da atualização e das experiências profissionais, que
ampliam a formação inicial e servem como um processo contínuo e permanente. No
entanto, antes de aprofundar tal temática, é necessário começar pelo seu conceito.
Formação vem do latim formare e, como verbo transitivo, significa dar forma; como
verbo intransitivo, significa colocar-se em formação.
É possível afirmar que o conceito apresenta múltiplos significados e não está
apenas relacionado à formação profissional, mas sim ao envolvimento com algum
tipo de atividade, seja no campo pessoal, social ou profissional. Do mesmo modo, a
formação não está ligada apenas à educação ou ao ensino.
Nesse sentido, a formação enquanto algo inerente à pessoa pode envolver
inúmeros fatores e possibilitar diferentes aprendizagens e experiências aos sujeitos,
à medida que eles discutem e aprofundam os conhecimentos com seus pares.
Trata-se de algo que está em constante movimento, por envolver não somente os
sujeitos, mas as instituições como um todo, num processo de ir e vir, cujos fatores
internos e externos assumem importantes influências.
Nörnberg (2008, p. 56) destaca:
[...] é preciso considerar que a formação pode assumir diferentes aspectos de acordo com o olhar que lhe é lançado, ou seja, se a considerarmos na perspectiva de objeto, a formação que se oferece é organizada exteriormente ao sujeito; se considerarmos a partir do sujeito, ela é ativa no e com o sujeito como iniciativa pessoal. Dentre as multifaces do conceito formação, tracejado até aqui, parece latente o caráter externo e interno; no caráter externo, a formação é para o sujeito; e no caráter interno, a formação com o sujeito.
Nessa perspectiva, a formação envolve duas facetas: o sujeito enquanto
pesquisador, que busca a sua própria formação e conhecimento, e o meio no qual
esse sujeito está inserido, nesse caso, voltado especialmente para a instituição
escolar.
Do mesmo modo, para que a formação desenvolvida pela instituição seja
efetiva, é necessário que os educadores tenham em si a busca pela própria
formação e o desejo de se sentir parte integrante da escola. É esse movimento que
59
caracteriza a relação entre professores e escola: um envolvimento pautado no
empenho, na participação e no comprometimento. Nóvoa (1995, p. 28) acrescenta:
“[...] as escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores; e estes
não podem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham”.
Por isso, é fundamental que tanto a escola quanto os professores estejam
trabalhando em prol do mesmo objetivo: a melhoria da qualidade do ensino. Assim,
ambos devem propor mudanças, discussões, estudos e articulações por meio de
práticas coletivas de formação docente.
Nesse sentido, a escola, quando pensa a formação como uma prática coletiva
e um processo permanente, toma como referência as ações cotidianas e integradas
que os educadores promovem, propondo produções autônomas de saberes e
experiências. Além disso, é importante pensar na formação enquanto
desenvolvimento profissional. Segundo Garcia (1995, p. 55): “[...] a noção de
desenvolvimento tem uma conotação de evolução de continuidade que nos parece
superar a tradicional justaposição entre formação inicial e aperfeiçoamento dos
professores”.
As escolas como um todo devem, antes de tudo, reconhecer as suas
dificuldades, deficiências e os seus projetos de mudanças, para que, a partir desse
estudo possam desenvolver, em parceria com os educadores, práticas e ações
transformadoras, que valorizem o desenvolvimento profissional desses sujeitos.
Nóvoa (1995, p. 27) destaca:
A formação pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores, no quadro de uma autonomia contextualizada da profissão docente. Importa valorizar paradigmas de formação que promovam a preparação de professores reflexivos, que assumam a responsabilidade do seu próprio desenvolvimento profissional e que participem como protagonistas na implementação das políticas educativas.
Assim, a escola pode contribuir para enraizar esse espírito de coletividade,
reflexão, autonomia e autodesenvolvimento nos seus educadores, a fim de investir
na formação do grupo de trabalho e prepará-lo para enfrentar as demandas
existentes no cotidiano da sala de aula. Quando os saberes e as experiências são
valorizados, a escola constrói uma relação aberta, dinâmica e processual,
estabelecendo novos contextos pautados no diálogo, na escuta e nas possibilidades
de transformações.
60
Os educadores, por sua vez, também devem ter incutida em si a ideia de que
formação não consiste apenas em conhecer os conteúdos determinados para cada
disciplina que lecionam, tampouco em utilizar os mesmos métodos, recursos e
linguagens. É imprescindível que o professor se desacomode e assuma novas
posturas, pesquisando, buscando e introduzindo diferentes assuntos e discussões
em sala de aula, e preparando esses alunos como seres pensantes.
Aqui, a discussão pode ser aberta para dois sentidos. Num primeiro momento,
tem-se a formação voltada para o professor enquanto ser incompleto, que não
detém todo o conhecimento e necessita de um constante desenvolvimento
profissional. Num segundo momento, tem-se a formação voltada para o aluno e a
sua relação com os saberes desenvolvidos em sala de aula.
O primeiro sentido refere-se à constante formação a que os sujeitos estão
submetidos, pois, ainda que não se perceba, o conhecimento acontece por meio de
diferentes contextos e relações, em um processo dinâmico e permanente, no qual o
sujeito internaliza alguns conceitos, saberes e práticas. Freire (1996) complementa
dizendo que o professor crítico está predisposto à mudança e à aceitação do
diferente, na medida em que é um ser cultural, histórico e inacabado. Nessa
compreensão de ser humano enquanto ser inconcluso, a formação permanente
assume um papel fundamental, visto que ela está relacionada não somente ao
aspecto escolar, mas a toda e qualquer etapa da existência do ser humano.
Nessa perspectiva, Freire (1991) traz a questão da formação de professores
como indispensável para a prática da escola e apresenta alguns princípios básicos
que orientam o exercício docente, com vistas à educação para a qualidade social:
1. O educador é o sujeito de sua prática, cumprindo a ele criá-la e recriá-la.
2. A formação do educador deve instrumentalizá-lo para que ele crie e recrie a
sua prática por meio da reflexão sobre o seu cotidiano.
3. A formação do educador deve ser constante e sistematizada, porque a
prática se faz e refaz.
4. A prática pedagógica requer a compreensão da própria gênese do
conhecimento, ou seja, de como se dá o processo de conhecer.
5. O programa de formação de educadores é condição para o processo de
reorientação curricular da escola.
61
6. O programa de formação de educadores terá como eixos básicos a
fisionomia da escola que se quer, enquanto horizonte da nova proposta pedagógica;
a necessidade de suprir elementos de formação básica aos educadores nas
diferentes áreas do conhecimento humano; a apropriação, pelos educadores, dos
avanços científicos do conhecimento humano que possam contribuir para a
qualidade da escola que se quer.
Fonte de: www.site.geekie.com.br
A formação permanente, nesse sentido, consiste em desenvolver um
conhecimento profissional que permita instigar o professor a buscar, refletir,
questionar e investigar ações que estejam pautadas em práticas cotidianas.
Por meio desse aperfeiçoamento contínuo, abrem-se novas possibilidades de
discussões, socializações e desenvolvimento de práticas permanentes de pesquisa
colaborativa. Além disso, enfrentar desafios, rever ações e articulá-las à prática
pedagógica é o modo mais concreto de promover a formação e instituir novas
relações com os professores. Para Giovanni (2003, p. 214):
Situações de formação continuada na escola são situações de natureza coletiva. O esforço reflexivo empreendido por cada um dos profissionais envolvidos nessas situações é, sem dúvida individual, mas demanda perseverança, necessita de apoios. E, sendo assim, tais situações são tanto mais efetivas, quanto mais coletivas e solidárias puderem ser.
É evidente que o desejo pela busca do conhecimento é algo que acontece de
maneira intrínseca, ou seja, é uma disposição natural e espontânea, que impulsiona
o sujeito a buscar novidades, desafios e oportunidades, com persistência e
determinação. No entanto, o meio, as situações e os fatores externos não podem ser
62
tratados de forma isolada e individual, como algo distante da realidade da escola.
Todas as situações ocorridas no cotidiano da instituição contribuem para que o
processo de ensino-aprendizagem seja repensado e reorganizado.
Por isso, fazem-se importantes os espaços de formação. Diante das inúmeras
mudanças sociais, econômicas e culturais, a escola precisa assumir novas posturas
e discutir novas questões, a fim de definir rumos pedagógicos e políticos que
delinearão a sua proposta, assim como envolver os profissionais no debate
educacional.
Para tanto, é necessário que as formações sejam repensadas,
transformando-as em um espaço que articule os saberes e a prática diária. Deve-se
contemplar a formação inicial, a profissão enquanto experiência de docência e as
condições oferecidas para que esta se realize, em um exercício de transformações
que acarretam a mudança de práticas e paradigmas.
A partir do momento em que escolas e profissionais desenvolvem tais ações,
o segundo ponto passa a ser discutido: a formação voltada para o trabalho com o
aluno. Tal processo consiste em uma tomada de consciência por parte do professor,
o qual, após uma internalização da importância da formação, sente-se preparado e
instigado a disseminar essa ideia aos demais envolvidos, estabelecendo uma nova
relação com o conhecimento e com a docência. A partir desse contexto, os alunos
se tornam capazes de analisar os conteúdos sob diferentes perspectivas, realizando
reflexões acerca do que é trabalhado e relacionando-as com práticas e experiências
de sua realidade. Nóvoa (1995, p. 29) destaca ainda que “Para a formação de
professores, o desafio consiste em conceber a escola como um ambiente educativo,
onde trabalhar e formar não sejam atividades distintas”.
Partindo desse pressuposto, o educador, ao articular a formação continuada e
o trabalho direto com os alunos, estará se fortalecendo enquanto sujeito em um
processo permanente de formação profissional. Além de estabelecer a comunicação
entre o projeto pedagógico da escola e a sua prática cotidiana, ele estará
contribuindo para que os alunos estejam presentes nas decisões, com autonomia,
liderança e criticidade. Quando nos permitimos discutir e pensar sobre esse
trabalho, estamos propiciando uma autoformação, uma reflexão sobre a prática e
uma ligação entre escola e comunidade. Formação nada mais é do que um trabalho
integrado ao dia a dia dos professores e das escolas, em que se propõem mudanças
63
e articulações entre os envolvidos, sejam eles alunos, pais, educadores ou equipe
diretiva. A formação deve ser vista sob um novo enfoque e tratada com um olhar
diferenciado, pois ela não ocorre de maneira isolada, restrita ou fragmentada. Ela se
dá nas relações, nas experiências, nas intervenções e na construção de propostas
que fundamentam essa prática.
Na medida em que apresentam desafios ao pensamento e à ação dos profissionais envolvidos, as ações de formação continuada na escola reconhecem que as situações de trabalho favorecem o processo cognitivo desses profissionais. Ou seja, reconhecem que práticas e situações cotidianamente vivenciadas pelos professores e demais profissionais das equipes técnicas das escolas podem gerar pensamentos, problematizações, interrogações, questionamentos que, por sua vez, são capazes de desencadear ações, mecanismos, movimentos, individuais e coletivos, de busca de soluções e respostas, cujo desenvolvimento, por seu turno, pode promover mudanças e gerar novas situações (GIOVANNI, 2003, p. 214).
Essas propostas consistem em ações que poderão auxiliar na transformação
da prática. Por meio desse envolvimento, é possível estabelecer relações e pensar
nos rumos, nas metas e nos objetivos que a escola e os professores desejam
alcançar, com um trabalho pautado na busca de soluções e respostas para os
problemas enfrentados pela instituição.
Além disso, é necessário levantar mais um aspecto importante: a participação
de diferentes parceiros no processo de formação. Durante toda a trajetória, os
profissionais da educação se deparam com diferentes contextos e ambientes
escolares, assim como inúmeros organismos dos sistemas de ensino que
contribuem para que a formação esteja sempre em movimento.
Essas possibilidades oferecidas complementam o discurso proposto pelas
escolas e contribuem para compreender os educadores como sujeitos das
transformações, que precisam ser revistas continuamente nas escolas e na
sociedade, sob uma perspectiva colaborativa, em que sejam valorizados os seus
conhecimentos e os de seus parceiros.
Nesse sentido, para acompanhar tais transformações, o professor deve
compreender as relações entre sociedade e os conhecimentos produzidos. Desse
modo, desenvolve atitudes voltadas à pesquisa como forma de aprendizagem para
si e para os que estejam envolvidos com ele, em um processo de tomada de
consciência e reflexão. Esse é sem dúvida um processo contínuo e permanente de
articulação entre todos os envolvidos na instituição.
64
Primeiramente, é necessário implementar o desenvolvimento de novas
práticas e posturas, no sentido de se discutir com os professores ações e propostas
de melhoria para a formação contínua de profissionais e de estudantes. Enfatiza-se
assim que esses sujeitos deixem de ser meros consumidores de conhecimento para
assumir a sua produção, uma vez que formação nada mais é do que um trabalho
integrado de gerar e proporcionar diferentes conhecimentos e competências.
Para finalizar, a fala de Giovanni (2003) resume a luta e dedicação dos
profissionais enquanto educadores investigadores, que caminham e buscam a
constante formação, sem, contudo, perder de vista o objetivo primordial da escola:
as práticas, as aprendizagens e as demandas existentes no cotidiano da sala de
aula para professores e alunos. A autora destaca que problematizar certezas sobre
a escola e a profissão são exercícios fundamentais e urgentes. Esse é o nosso
compromisso profissional como pesquisadores (GIOVANNI, 2003).
6.3 Os espaços coletivos escolares como espaços privilegiados para o
debate sobre a didática
Estar aberto às transformações e enfrentar obstáculos e novos desafios são
características que devem estar presentes no dia a dia de educadores, gestores e
demais envolvidos com a educação. O processo de ensino-aprendizagem requer
profissionais competentes, habilitados e comprometidos em enfrentar as
diversidades, com vistas à melhoria da qualidade de ensino.
Fonte de: www.revistaeducacao.com.br
65
A teoria e a prática pedagógica somente serão concretizadas a partir do
momento em que o diálogo, a troca de experiências e a socialização das diversas
áreas e disciplinas dentro e fora das escolas se tornarem presentes nas instituições
de ensino e nos indivíduos. Por isso, pensar a prática pedagógica e a profissão
docente, promover debates didáticos, refletir sobre o que acontece na sala de aula e
na escola e problematizar com o grupo questões pertinentes à melhoria do processo
de ensino-aprendizagem são propósitos da formação continuada.
Pensar a prática não é somente pensar a ação pedagógica na sala de aula, nem mesmo a colaboração didática com os colegas. É pensar a profissão, a carreira, as relações de trabalho, e de poder nas organizações escolares, a parte de autonomia e de responsabilidade conferida aos professores, individualmente ou coletivamente (PERRENOUD, 1993, p. 200).
Nesse sentido, é importante que a escola valorize e respeite o trabalho
coletivo, dando abertura à tomada de consciência e à reflexão sobre a prática,
propondo discussões que possibilitem aos educadores expressar as suas opiniões e
compartilhar experiências com os demais colegas. Além disso, quando os assuntos
pertinentes à realidade da escola são conduzidos e implementados, o espaço se
torna mais produtivo e as construções coletivas ocorrem com maior resultado.
Mas como propiciar esses espaços diante de tantas diversidades
apresentadas nas escolas? Como problematizar essas discussões frente às
demandas do corpo docente? Com certeza, uma das melhores maneiras de
possibilitar tais práticas é por meio dos espaços de construção coletiva ou das
reuniões pedagógicas oferecidas pelas instituições e pelos profissionais
responsáveis, como forma de proporcionar uma formação continuada a todos os
educadores. Por meio desses espaços, os educadores poderão consolidar os seus
conhecimentos e discutir temáticas inerentes à educação, aperfeiçoando a sua
prática docente e favorecendo a qualificação do processo de ensino-aprendizagem.
Fazendo uma breve reflexão sobre o significado de reuniões pedagógicas, é
possível considerar que esse é um importante espaço para a construção coletiva de
saberes e práticas entre as equipes docente e gestora. O seu objetivo é discutir,
compartilhar novas possibilidades de trabalho e buscar alternativas que possam
auxiliar todos os envolvidos. Entretanto, algumas vezes, as reuniões assumem um
papel burocrático e administrativo, deixando de lado as questões pedagógicas, que
realmente integram a prática do educador.
66
É importante lembrar que esse espaço deve ser propício à formação
continuada dos educadores, visto que eles precisam repensar e aperfeiçoar
constantemente a sua prática docente, de forma que possam enfrentar os desafios
existentes e corresponder às expectativas da comunidade. Para isso, porém, a
escola deve proporcionar espaços de conhecimentos coletivos que contemplem a
tematização de saberes e práticas num contexto de desenvolvimento profissional
permanente.
As reuniões pedagógicas, quando bem elaboradas, podem ser um importante
espaço de reflexão sobre o cotidiano da escola, pois são capazes de auxiliar os
envolvidos a conhecer os impasses, problemas e encaminhamentos feitos diante
das demandas e dificuldades apresentadas na prática diária desses profissionais.
As reuniões com os docentes são um espaço privilegiado para avaliar a condução das ações planejadas. Elas têm o potencial de desvelar avanços, fracassos, dúvidas, inseguranças, entraves e dificuldades que afetam a equipe de docentes, dados que, se bem dimensionados, servem como orientação para a elaboração de um projeto de trabalho para as reuniões pedagógicas (FRANCO, 2010, p. 70).
Trata-se de um importante momento para reflexões e construções conjuntas
de conhecimentos, bem como para reorganização dos trabalhos diários e dos
problemas pedagógicos. Abrem-se assim espaços para discussões e
problematizações, por meio de ideias, valores e significados sobre aspectos relativos
ao processo de ensino-aprendizagem, compartilhados e estabelecidos
coletivamente.
Fonte de: www.mundocarreira.com.br
67
No entanto, para que isso aconteça, é fundamental a presença de um
profissional que possa problematizar esses espaços, possibilitando aos educadores
a construção da autonomia, da liderança e da dialogicidade. O coordenador
pedagógico ou supervisor escolar é o principal responsável por mediar as questões
pedagógicas e burocráticas, dando ênfase à formação docente.
Para fundamentar tal proposta, o coordenador deve conduzir e articular a
ação pedagógica, de forma a garantir o desenvolvimento do currículo proposto. Além
disso, deve viabilizar articulações no processo de ensino-aprendizagem,
promovendo abertura no interior da escola para que os professores possam estudar,
discutir e avaliar a qualidade dos conteúdos trabalhados, bem como o material
didático, os procedimentos de ensino e avaliação, e os programas, ou seja, tudo o
que faz parte do trabalho pedagógico na sua totalidade. No entanto, mais importante
ainda é que o coordenador discuta com o grupo práticas docentes e experiências, e
que este seja um espaço para descobertas e diálogos.
A reunião é fundamental para despertar e/ou enraizar a nova postura educativa. Na medida em que possibilita a unidade entre o sujeito da ação e o da reflexão, este espaço é revolucionário. Devemos nos empenhar para consegui-lo, pois desta forma há condições para se criar na escola uma nova prática pedagógica e um novo relacionamento (VASCONCELLOS, 2009, p. 120).
Desse modo, cabe aos gestores proporcionar espaços de autonomia em que,
por meio da dinâmica, das competências e atribuições de seus colaboradores, seja
desenvolvido e ampliado o trabalho coletivo, qualificando a eficiência de todo o
funcionamento da escola. No momento em que promovemos a participação e
distribuímos as demandas existentes, estamos contribuindo para instigar o grupo a
interagir, dialogar, tomar decisões, realizar e compartilhar ações conjuntas, que
venham ao encontro das propostas da gestão democrática.
Nesse sentido, as questões propostas nas reuniões devem servir de subsídio
para a elaboração de uma prática fundamentada nos princípios da formação
continuada, da construção de conhecimentos, do compartilhamento de experiências
e da resolução de conflitos. Proporciona-se assim um espaço rico em diálogo,
participação e construção da identidade.
As reuniões contribuem para implementar a proposta da escola e discutir o
projeto pedagógico que a fundamenta. É nesse momento que gestores poderão dar
abertura às opiniões, à tomada de decisão, clareza dos objetivos e metas e
68
construção de um ambiente acolhedor, participativo, democrático e decisório. Esse
processo deverá se refletir nos diferentes contextos da escola e contribuir para que
haja o contato direto entre equipe e professores, a fim de abrir espaços para o
trabalho com temáticas que permeiam o fazer diário em sala de aula. Vasconcellos
(2009, p. 122) destaca que “[...] este espaço não é, pois, um ‘requinte’; é uma
absoluta necessidade; sua inexistência dificulta muito qualquer mudança na escola.
Sem ele, não se tem condições mínimas de criar algo coletivamente, de se assumir
junto um projeto”.
Dessa forma, é importante que todo o conjunto de decisões que esses
processos supõem seja produtivo para as escolas e contribua para melhorar a
qualidade da educação. Reconhecer ideias e sugestões, pesquisar, buscar, refletir e
compartilhar experiências sobre os problemas é o modo mais fácil de encontrar
soluções e torná-los significativos para a instituição e as pessoas que estão
inseridas nela. A reunião pedagógica é um espaço coletivo, pois propõe aos sujeitos
que o processo de ensino-aprendizagem necessita ser repensado constantemente.
Isso se dá porque as atividades escolares fazem parte de um sistema aberto,
dinâmico e repleto de transformações, propício a discussões e conhecimentos e
voltado à participação dos integrantes da escola como um todo.
Franco (2010, p. 9) destaca aspectos pertinentes a esses espaços:
As reuniões no contexto escolar propiciam momentos relevantes de reflexão, encaminhamentos e tomadas de decisão, com o potencial de aprimorar o processo democrático no seio da escola e garantir a efetiva participação de toda a comunidade escolar.
Fonte de: www.gestaoescolar.org.br
69
Nesse sentido, por meio do coletivo e da proposta de trabalho apresentada
pela escola, é possível estimular a participação, promover o espírito de equipe e
trabalhar de maneira efetiva o planejamento, a avaliação e as metodologias
desenvolvidas pelos professores. Objetiva-se com isso a implementação de ações
que estejam voltadas para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem,
propício à tomada de decisão entre os envolvidos.
Vasconcellos (2001, p. 147) destaca: “[...] O espaço de reflexão crítica,
coletiva e constante sobre a prática é essencial para um trabalho que se quer
transformador, na medida em que possibilita a unidade entre o sujeito da ação e da
reflexão”.
Essa unidade baseia-se na interação entre teoria e prática, que possibilita que
o sujeito reflita sobre as suas ações e saberes, transformando o seu trabalho em
algo produtivo, inovador e socializador. Além disso, Nóvoa (1995) acrescenta a
importância de se estabelecer um diálogo aberto e contínuo entre todos os
envolvidos na escola, propondo um trabalho centrado no professor e na sua
experiência cotidiana, na sua prática diária e na capacidade de intervir frente às
inovações e mudanças.
O diálogo entre os professores é fundamental para consolidar saberes emergentes da prática profissional. Mas a criação de redes coletivas de trabalho constitui, também, um fator decisivo de socialização profissional e de afirmação de valores próprios da profissão docente (NÓVOA, 1995, p. 26).
Esse espaço, como afirma Vasconcellos (2001), deve ser bem ocupado e ir
ao encontro das necessidades reais do grupo, baseando-se no projeto político-
pedagógico que está sendo construído. Para isso, “[...] é preciso avançar, analisar
criticamente a realidade, estabelecer objetivos e estratégias de intervenção”
(VASCONCELLOS, 2001, p. 149) que envolvam os educadores e os integrem na
proposta e na construção de uma escola democrática.
Além disso, outra questão importante que deve ser considerada é que,
independentemente da carga horária estipulada, as reuniões devem ser bem
aproveitadas. Contudo, é necessário que haja um planejamento do que se deseja
alcançar, o qual deve ser proposto ao grupo de professores. É de extrema
importância que o trabalho seja feito “[...] a partir dos reais problemas da escola, o
70
que exige que seja feita uma problematização da realidade” (VASCONCELLOS,
2009, p. 121).
Com isso, é fundamental que as reuniões assumam um caráter participativo,
e que sejam propostas antecipadamente as temáticas que serão trabalhadas, para
que esse momento se torne produtivo e o tempo, bem administrado. No entanto, é
necessário, acima de tudo, que o educador também tome consciência desse
espaço, tendo discernimento, direcionando as suas ideias e percebendo o valor do
processo coletivo para a prática reflexiva, já que a formação pedagógica é uma
construção social que contribui para repensar os rumos da educação e da escola
como um todo.
Para tanto, é preciso que sejam propostas mudanças que explicitem e
fundamentem tais considerações, com vistas ao alcance dos objetivos e das metas
desenvolvidas pela instituição. Em essência, esse espaço deve propor discussões
acerca do processo de ensino-aprendizagem dos alunos, garantindo ações e
estratégias que visem o seu cumprimento e a sua implementação.
Não se trata de uma tarefa fácil, tampouco de resultados instantâneos.
Todavia, é importante que se leve em conta que esse caminho só poderá ser
trilhado se gestores e educadores perceberem a necessidade de olhar,
compreender, considerar e respeitar as necessidades, considerando cada sujeito
como parceiro na construção de um saber coletivo.
Isso requer que os professores estabeleçam novos saberes, novas práticas e
novas metodologias de trabalho docente, objetivando a qualificação do processo de
ensino-aprendizagem. De acordo com Clementi (2010, p. 58): “O processo de
mudança é contínuo, uma vez que, ao olhar para a própria prática, descobrem-se
novas possibilidades não imaginadas anteriormente”.
71
Isso contribui para que o educador esteja constantemente analisando a sua
própria atuação e buscando soluções para os problemas apresentados, em parceria
com os demais envolvidos.
7 O COTIDIANO ESCOLAR E SUAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
É de extrema importância que as atividades pedagógicas estejam
organizadas e fundamentadas dentro da rotina do professor. Seguindo essa
concepção, a organização do cotidiano escolar é um aspecto que demanda
planejamento, discussões e embasamento teórico e prático para subsidiar o trabalho
docente. (LIBÂNEO,1994).
Fonte de: www.saofranciscodoconde.ba.gov.br
O cotidiano das ações do professor serve para planejar, orientar e propor
atividades diárias que estejam pautadas no propósito da significação da
aprendizagem e da implementação da autonomia, e na problematização de
situações que levem o aluno a refletir, questionar e dialogar.
7.1 O cotidiano escolar para além da sala de aula e do espaço físico
Um dos papéis da escola é desenvolver a autonomia de seus alunos,
prepará-los para o futuro e promover vivências, práticas e conhecimentos
72
diversificados. O professor, seguindo essa concepção, também contribui para esse
importante trabalho, visto que é encarregado de educar para a vida em sociedade, a
fim de que o aluno se torne uma pessoa crítica, reflexiva, consciente e responsável
pela transformação da realidade em que está inserido.
Além disso, é importante que o professor ofereça subsídios aos alunos,
demonstrando comprometimento e interesse com as questões sobre aprendizagem
e conscientizando-se sobre o papel que exerce. É fundamental também que ele vise
ao empenho, contentamento e à participação dos educandos, a partir de
conhecimentos construídos diariamente no decorrer do processo de ensino. Alarcão
(1996, p. 177) destaca:
Ser professor implica saber quem sou, as razões pelas quais faço o que faço e consciencializar-me do lugar que ocupo na sociedade. Numa perspectiva de promoção do estatuto da profissão docente, os professores têm de ser agentes ativos do seu próprio desenvolvimento e do funcionamento das escolas como organização ao serviço do grande projeto social que é a formação dos educandos.
Nesse sentido, é importante pensar na formação de seres humanos críticos,
pensantes, criativos e que também saibam utilizar a memória como base da
criatividade, a partir da mediação da aprendizagem e da promoção de aulas voltadas
para a participação, o pensamento, o diálogo, o comprometimento, o empenho e os
saberes dos educandos. Colocam-se assim alguns questionamentos: afinal, todo
esse trabalho acontece somente dentro da sala de aula? Ele está reservado apenas
a esse ambiente? Como se dá a relação de aprendizagem quando é proposto algo
que transcende o espaço físico de uma sala?
Buscando responder essas questões, é importante pensar que o espaço da
sala de aula acolhe inúmeras realidades, vivências, experiências e conhecimentos.
Consequentemente, é um cenário em que variadas configurações de docência são
exercidas. Essa diversidade pressupõe um diálogo entre teoria e prática, bem como
entre a dimensão interna e externa da docência, no que se refere a o que, a quem e
para que ensinar.
Partindo desse pressuposto, a docência no cotidiano escolar transcende os
limites da sala de aula, revelando outros espaços importantes que são pro motores
de ensino e aprendizagem. Tais espaços contribuem para que sejam
73
proporcionadas novas experiências, saberes, pensamentos e possibilidades de
crescimento e discussão.
Libâneo (1994) destaca que o processo de ensino não deve ser restrito ao
espaço da sala de aula. O autor ainda acrescenta que:
[...] o trabalho docente é uma das modalidades específicas da prática educativa mais ampla que ocorre na sociedade. Para compreendermos a importância do ensino na formação humana é preciso considerá-lo no conjunto das tarefas educativas exigidas pela vida em sociedade (LIBÂNEO, 1994, p. 15).
Nesse sentido, é possível afirmar que, além dos conteúdos escolares
propostos pelos planos de estudo das escolas e mantenedoras, é importante que o
professor contemple em seu planejamento conhecimentos, saberes e discussões
relacionados à vida em sociedade, visto que os alunos estão inseridos nesse
contexto e precisam estar preparados para enfrentar, dialogar e refletir sobre as
questões que norteiam o seu cotidiano.
Para isso, é necessário que o professor crie condições de estudo, bem como
selecione e reorganize os conteúdos de maneira que sejam oportunizadas práticas
educativas pautadas nas exigências da vida social, e que vão além do espaço da
sala de aula. Saviani (2011) considera que a educação vai além dos muros da
escola, partindo da premissa de que o “saber sistematizado” deve ser trabalhado
dentro das escolas, como um conhecimento mais elevado do cotidiano.
Fonte de: www.somospar.com.br
74
Moacir Gadotti (2006, documento on-line), em seu artigo A escola na cidade
que educa, fala a respeito da cidade educadora, conceito que se consolidou no
início da década de 1990, em Barcelona (Espanha) e dispõe, a partir da aprovação
de uma carta no Congresso Internacional das Cidades Educadoras, alguns
princípios básicos que caracterizam uma cidade que educa. Basicamente “[...] é a
cidade, como espaço de cultura, educando a escola e todos que circulam em seus
espaços, e a escola, como palco de espetáculo da vida, educando a cidade numa
troca de saberes e de competências” (GADOTTI, 2006, p. 134, documento on-line).
A escola, numa perspectiva transformadora, tem como papel:
[...] contribuir para criar as condições que viabilizem a cidadania, por meio da socialização da informação, da discussão, da transparência, gerando uma nova mentalidade, uma nova cultura, em relação ao caráter público do espaço da cidade (GADOTTI, 2006, p. 138, documento on-line).
Além disso, Libâneo (2001, documento on-line) afirma que é papel da escola
e do professor criar condições favoráveis de estudo, que tornem o aluno sujeito ativo
de sua própria aprendizagem.
Outra questão importante é compreender que os alunos são parte integrante
do processo de ensino e aprendizagem. Assim, além de transmitir conhecimentos e
conteúdos, cabe ao professor mediar e propor discussões, desafios e problemáticas
que sejam significativas, propícias e pertinentes ao cotidiano da escola, da turma e
dos estudantes. Libâneo (2011, p. 8, documento on-line) acrescenta:
O professor põe-se como mediador entre o aluno e os objetos de estudo, enquanto os alunos estabelecem com o conhecimento uma relação de estudo. A par disso, professores e alunos estão implicados numa relação social que se materializa na sala de aula, mas, também, na dinâmica das relações internas que ocorre na escola em suas práticas organizativas.
Para que essas relações sejam pertinentes e produtivas, é fundamental que o
professor diversifique a rotina escolar a partir de saídas de campo, visitas e
pesquisas, além de propor atividades que possam ser desenvolvidas em outros
espaços da escola. Um exemplo são as aulas realizadas em bibliotecas, laboratórios
de informática, brinquedotecas, entre outros.
Contudo, é importante destacar que muitas escolas não possuem recursos
materiais e espaços físicos para oferecer um trabalho diversificado aos alunos,
dificultando assim a prática docente e a forma como o professor vai planejar as suas
75
aulas. Diante de tais apontamentos, o seu papel é ainda maior, pois ele precisa
mediar as relações sociais, os conteúdos e as necessidades da turma a partir de um
cenário que muitas vezes não é favorável para tal.
Mesmo diante dessas dificuldades, promover atividades no ambiente externo
à sala ainda é uma forma de fazer com que o aluno vivencie o que aprendeu em
aula, de maneira que ele faça ligações e relações ao conteúdo e à teoria. Assim, ele
vivencia, experimenta e aprofunda o que foi aprendido em sala de aula, o que
contribui para que seja autor de seu próprio conhecimento. (TARDIF, 2012).
Essa proposta que ultrapassa os limites da sala de aula estimula o
aprendizado, a vivência em grupo e a descoberta de saberes e experiências ainda
não vivenciados. Além disso, o professor, ao planejar a sua prática, deve também
partir de situações cotidianas, adaptando-as aos conteúdos que precisam ser
trabalhados e aos contextos em que estão inseridos.
Fonte de: www.sinepe-rs.org.br
Pereira (2015, documento on-line) complementa dizendo que o grande
desafio é motivar com criatividade, de maneira que a escola não seja vista como um
espelho fixo de conteúdos direcionados a uma sociedade previsível e distante. Em
vez disso, é importante que esteja aberta às mudanças, seja representada pelas
figuras do professor e do aluno e tenha como base o comprometimento e a reflexão
entre teoria e prática no cotidiano escolar. Tardif (2012, p. 128) aponta:
76
Os professores não buscam somente realizar objetivos; eles atuam, também, sobre um objeto. O objeto do trabalho dos professores são seres humanos individualizados e socializados ao mesmo tempo. As relações que eles estabelecem com seu objeto de trabalho são, portanto, relações humanas, relações individuais e sociais ao mesmo tempo.
Nesse sentido, embora os professores trabalhem com grupos sociais, é a
partir do trabalho com os indivíduos e das diferenças existentes entre eles que a
aula vai se delineando, ganhando riqueza e significado. Dessa maneira, o
profissional do ensino constrói o seu próprio espaço pedagógico de trabalho e
resolve de forma cotidiana as situações que lhe são postas, apoiado a partir de uma
visão de mundo, de homem e de sociedade (TARDIF, 2012).
7.2 Os elementos constitutivos da aula e suas relações
A forma pela qual o processo de ensino-aprendizagem é organizado e
sistematizado passa pelo planejamento de uma aula. É por meio dela que o
professor poderá propor e trabalhar com diferentes conteúdos, metodologias e
recursos que promovam a interação e a construção de novos conhecimentos, com
vistas ao protagonismo estudantil e à implementação de uma postura crítica
reflexiva, inerente à formação humana.
Contudo, para que a aula assuma o papel de interação mútua, propício à
construção do pensamento crítico e reflexivo e ao desenvolvimento de novos
saberes e habilidades, é fundamental que sejam proporcionados espaços de
questionamentos, indagações e investigações, cuja proposta principal seja a
constante busca dos alunos enquanto sujeitos ativos, autônomos e pesquisadores.
Nesse contexto, existem alguns elementos constitutivos da aula que são
importantes e devem ser levados em consideração antes de se pensar em
atividades, conteúdos e propostas de trabalho, por estarem relacionados entre si e
contribuírem para uma aprendizagem mais significativa. Entre eles, destacam-se a
ação docente, tendo o professor como mediador, interlocutor e promotor do diálogo;
o aluno como parte integrante do contexto e responsável por buscar novos saberes;
o processo de construção do conhecimento e como se dá a relação entre o ensino e
a aprendizagem; o planejamento da prática, que permite delinear e nortear os
caminhos para se alcançar a aprendizagem que se deseja; os recursos didáticos
que serão utilizados durante todo o andamento do trabalho.
77
Para especificar melhor cada um desses itens, é importante pensar que todos
eles, em suas especificidades, trabalham de forma integrada e conjunta, visto que
precisam estar interligados para garantir uma educação que esteja pautada na
formação integral do sujeito. Nesse sentido, para compreender melhor os elementos
constitutivos da aula, vale explicitar a importância de cada um deles no decorrer do
processo educativo, a partir de exemplos que nortearão as discussões acerca dessa
temática.
Quando remetemos o nosso pensamento à escola ou às áreas da educação,
logo vem à nossa mente a ação do professor. Esse sujeito, conforme afirma Alarcão
(1996), sem dúvida desempenha um papel de extrema importância na produção e
estruturação do conhecimento pedagógico, visto que é ele o responsável por
contribuir para a formação de um cidadão mais humano, crítico e consciente.
Vasconcellos (2006) complementa dizendo que a atuação do educador contribui
para provocar, desequilibrar e estimular um grupo, no sentido de que este rompe o
seu estágio cognitivo, tornando-o aberto e sensível aos fatos da realidade que
precisa compreender e na qual deve intervir. Além disso, Freire (1996, p. 42)
ressalta: “[...] a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o
movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”.
O professor, nesse contexto, tem a oportunidade de proporcionar momentos
de reflexão, construção e participação de todos. Ele é um mediador e facilitador do
processo de ensino-aprendizagem, oportunizando a construção de conhecimentos
significativos, preparando os alunos para a vida em sociedade e auxiliando-os a se
tornarem cidadãos conscientes de suas responsabilidades.
Nessa perspectiva, o educador deixa de ser informante do saber e assume
papel de mediador entre o sujeito e o objeto do conhecimento, fazendo com que os
estudantes reflitam e explorem as suas ideias. Reforça-se assim a consciência
crítica em relação a tudo o que é desenvolvido em sala de aula.
Por meio desse trabalho orientado pelo professor mediador, cabe refletir
sobre outro importante elemento constitutivo da aula: o aluno. Toda a ação do
educador, e da escola como um todo, gira em torno desses sujeitos, bem como das
estratégias que serão oportunizadas para se alcançar uma educação de qualidade,
visando a ampliação dos conhecimentos que vão além dos conteúdos escolares.
Libâneo (1994, p. 65) reafirma que “[...] o centro da atividade escolar não é o
78
professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador. O professor incentiva,
orienta e organiza situações de aprendizagem, adequando-as às capacidades de
características individuais dos alunos”.
Fonte de: www.novaescola.org.br
Para que tal proposta seja fundamentada, é preciso integrar o aluno nessa
construção, propondo um ensino pautado na autonomia, no diálogo e na criticidade.
A partir dessa relação recíproca entre professor e aluno, muitas possibilidades de
trabalho podem ser fundamentadas, visto que o educando é estimulado e instigado a
refletir sobre as suas ações cotidianas, visando a um pensamento reflexivo acerca
do contexto em que está inserido. Alarcão (1996, p. 181) afirma: “O pensamento
reflexivo é uma capacidade. Como tal, não desabrocha espontaneamente, mas pode
desenvolver-se. Para isso, tem de ser cultivado e requer condições favoráveis para o
seu desabrochar”.
Nesse sentido, é por meio dos conhecimentos construídos no decorrer do
processo escolar que os alunos se tornarão capazes de exercer o seu pensamento
reflexivo e saberão distinguir melhor o seu papel na sociedade, lutando pelos seus
direitos e conquistando diferentes espaços. Freire (1996, p. 35) destaca:
A curiosidade como inquietação indagadora, como inclinação ao desvelamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta faz parte integrante do fenômeno vital. Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos.
79
Quando a relação recíproca entre professor e aluno está bem fundamentada,
é possível garantir que os conhecimentos sejam construídos, ampliando a relação
entre o ensino e a aprendizagem, elemento que também faz parte da aula e que
caminha ao encontro da proposta da educação de qualidade. É possível afirmar que
os conhecimentos são construídos a partir do momento em que há o diálogo entre
os conteúdos formais e as vivências, histórias e individualidades que cada estudante
possui.
Freire (1996) complementa essa ideia dizendo que os professores devem
respeitar os saberes que os educandos trazem à escola e discutir com eles a razão
de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos.
Cabe lembrar que o ato de ensinar não ocorre de forma mecânica e estanque.
Pelo contrário, ele deve ser constantemente revisto, avaliado, aprofundado e
pensado, como forma de buscar uma aprendizagem efetiva.
Nesse sentido, Libâneo (1994, p. 81) destaca: “[...] ensino e aprendizagem
são duas facetas de um mesmo processo. O professor planeja, dirige e controla o
processo de ensino, tendo em vista estimular e suscitar a atividade própria dos
alunos para a aprendizagem”.
A aprendizagem pode ser desenvolvida a partir de qualquer atividade que
uma pessoa possa estar praticando ou vivendo. Voltando esses saberes ao
ambiente escolar, pode-se afirmar, de acordo com Libâneo (1994, p. 83), que a
aprendizagem:
[...] é um processo de assimilação de determinados conhecimentos e modos de ação física e mental, organizados e orientados no processo de ensino. Os resultados da aprendizagem se manifestam em modificações na atividade externa e interna do sujeito, nas suas relações com o ambiente físico e social.
A aprendizagem escolar, assim, não é algo casual e espontâneo, e sim uma
atividade planejada e dirigida, carregada de intencionalidades. Trata-se de um
processo gradativo em que o conhecimento é construído a partir da mediação da
relação cognitiva entre o aluno, as matérias de estudo e a experiência sociocultural
concreta que os estudantes trazem do seu meio social (LIBÂNEO, 1994).
Freire (1996, p. 98) destaca que “[...] o exercício da curiosidade convoca a
imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na
busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser”.
80
Já o ensino, de acordo com Libâneo (1994, p. 89) “[...] é uma combinação
adequada entre a condução do processo de ensino pelo professor e a assimilação
ativa como atividade autônoma e independente do aluno”. Logo, esse autor afirma
que o ensino é uma atividade mediada para que os alunos se tornem sujeitos ativos
na assimilação de conhecimentos, a fim de desenvolver a preparação para a vida
social (LIBÂNEO, 1994).
No entanto, o ensino não pode ser visto como algo estanque. Freire (1996)
parte do termo “inacabamento do ser humano” para expressar que estamos em
constante aprendizado, e que os saberes acontecem em todas as situações nas
quais o sujeito está inserido. O mesmo autor complementa: “É na inconclusão do
ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente.
Mulheres e homens se tornaram educáveis na medida em que se reconhecem
inacabados” (FREIRE, 1996, p. 64).
Nesse contexto, se pensarmos de que forma é possível impulsionar o
processo de ensino e aprendizagem dos alunos, voltamos para o próximo elemento
constitutivo da aula: o planejamento. O planejamento diário é necessário para a
prática de um educador, pois é por meio da sua organização, juntamente com
combinações preestabelecidas com os alunos, que a aprendizagem se tornará
significativa. O professor deve fazer uma avaliação contínua de sua prática,
reestruturando sempre que necessário o seu planejamento, atendendo as falas dos
alunos e suprindo as suas necessidades.
Fonte de: www.educabrasil.blog.br
81
O educador precisa adequar a prática pedagógica às possibilidades de
aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, visando promover espaços de
socialização do conhecimento e ampliação de novos saberes, derivados não
somente das experiências cotidianas, mas de outras áreas do conhecimento.
Para isso, é preciso pensar no currículo, integrado e flexível, como um
instrumento de formação humana, em que o professor, por meio de situações que
problematizem conhecimentos, possa planejar, propor e coordenar atividades
significativas e desafiadoras. É importante, contudo, que haja objetivos claros do que
se deseja alcançar com o trabalho, a fim de ampliar as experiências e práticas
sociais, culturais e pedagógicas.
[...] os currículos não são conteúdos prontos a serem passados aos alunos. São uma construção e seleção de conhecimentos e práticas produzidas em contextos concretos e em dinâmicas sociais, políticas e culturais, intelectuais e pedagógicas. Conhecimentos e práticas expostos às novas dinâmicas e reinterpretadas em cada contexto histórico. As indagações revelam que há entendimento de que os currículos são orientados pela dinâmica da Sociedade. Cabe a nós, como profissionais da Educação, encontrar respostas (LIMA, 2007, p. 9, documento on-line).
Desse modo, os professores deixam de lado exercícios repetitivos e adotam
métodos diversificados, que farão com que o aluno sinta interesse em permanecer
na escola. Gandin e Cruz (1995, p. 64) destacam que “[...] quem compreender o
conceito de necessidade e puder trabalhar eficientemente com ele descobriu a
essência do planejamento”. Fusari (1988, p. 9) complementa:
O planejamento da educação escolar pode ser concebido como processo que envolve a prática docente no cotidiano escolar, durante todo o ano letivo, onde o trabalho de formação do aluno, através do currículo escolar, será priorizado. Assim, o planejamento envolve a fase anterior ao início das aulas, o durante e o depois, significando o exercício contínuo da ação-reflexão-ação, o que caracteriza o ser educador.
No entanto, o termo planejamento não se restringe unicamente àquele
elaborado pelo professor para o trabalho em sala de aula. É importante destacar o
Projeto Político-Pedagógico (PPP) da instituição, cuja intenção é organizar o
trabalho da escola e considerar as necessidades e os anseios da comunidade
escolar. É um processo de planejamento participativo, em que se aperfeiçoa e se
define em qual tipo de ação educativa se quer realizar, a partir de um
posicionamento diante da leitura da realidade e do embasamento estrutural e legal.
82
Todavia, somente terá significado se construído por todos os integrantes da
instituição, de maneira a valorizar as opiniões e buscar respostas às indagações da
comunidade.
Caldieraro (2006, p. 18) destaca:
A construção do Projeto Pedagógico é uma oportunidade para a tomada de consciência dos principais problemas da escola e das possibilidades de solução. É também oportunidade para definição das responsabilidades coletivas e pessoais, na eliminação ou abrandamento dos problemas detectados.
Para isso, ele deve apresentar alguns pressupostos fundamentais, que
caracterizam a sua elaboração, como prever condições para o seu desenvolvimento
a partir das problemáticas e da realidade da instituição; articular as ações com todos
os segmentos envolvidos, respeitando as diversidades; ser construído coletivamente
e de forma integrada; buscar a democratização da escola.
Assim, os recursos didáticos completam os elementos essenciais para uma
boa aula. São eles que farão com que o planejamento do professor seja posto em
prática, de maneira que haja uma maior compreensão dos conteúdos escolares.
Nesse sentido, haverá a relação, apropriação e construção do processo de ensino e
aprendizagem, a partir da interação entre educador, educando e objeto de
conhecimento.
A utilização de materiais, ferramentas e recursos diversificados é de extrema
importância para a vida escolar do educando, pois a aula se torna mais prazerosa
quando o aluno possui variedades e recursos a seu favor, auxiliando na
compreensão dos exercícios propostos e facilitando a aprendizagem.
83
Desse modo, recursos didáticos diversificados podem ser facilmente
utilizados para enriquecer as discussões teóricas, servindo como suporte para as
práticas pedagógicas. Tais possibilidades permitem que as experiências cotidianas
dos alunos ganhem significado, propiciando um maior entendimento acerca dos
conteúdos propostos. É fundamental, nesse sentido, que a escola também
proporcione espaços de integração e auxilie o professor na construção do seu
planejamento, para que ele possa elaborar aulas às quais os alunos sintam prazer
em assistir.
Portanto, são muitos os fatores que contribuem para o bom andamento da
aula e para a efetivação da aprendizagem. Libâneo (1994, p. 93) aponta que “[...] o
professor planeja, dirige, organiza, controla e avalia o ensino com endereço certo: a
aprendizagem ativa do aluno”. No entanto, o mesmo autor destaca que não se trata
de uma tarefa fácil; é preciso resolver a contradição entre o ensino e a
aprendizagem, além de detectar as dificuldades apresentadas pelos alunos na
assimilação ativa dos conteúdos, de maneira que sejam encontrados procedimentos
que os auxiliem a progredir no desenvolvimento intelectual.
7.3 A importância da organização do trabalho do professor em sala de aula
para a aprendizagem dos alunos
Questões referentes ao processo de aprendizagem, à maneira como o aluno
aprende e aos meios que serão utilizados para se alcançar essa aprendizagem sem
dúvida fazem parte das discussões de escolas e professores de todos os cantos do
Brasil. A busca constante por formas diversificadas de ensinar, assim como a
preocupação com objetivos, conteúdos e avaliação, também está entre os anseios
desses profissionais.
Para buscar atender a todas essas questões e melhor refletir sobre a sua
prática docente, o professor deve pesquisar, dialogar, aperfeiçoar os seus
conhecimentos e buscar constantemente a sua formação continuada. A formação,
nesse sentido, assume um papel fundamental na caminhada teórica e prática do
profissional da educação, pois ela permite que o professor articule os seus saberes,
conhecimentos e experiências com a possibilidade de “formação-transformação”
(VASCONCELLOS, 2001, p. 181) advinda da prática pedagógica. Essa formação
84
permite analisar os resultados e possibilita a tomada de consciência da realidade
vivenciada, gerando intervenções e possíveis mudanças.
Seguindo essa concepção, a partir da formação enquanto articulação dos
saberes e do trabalho docente, uma questão de extrema importância deve ser
considerada: a organização do trabalho pedagógico. A partir dele, o professor pode
sistematizar os conteúdos e manter a sua prática centrada na efetivação da
aprendizagem, visando atender a toda a demanda e diversidade de saberes
existentes na sala de aula.
Dentro dessa organização, é importante destacar alguns aspectos relevantes
que devem ser levados em consideração pelos professores. Entre eles estão os
espaços de trocas, discussões e interações concretas com seus pares, que
possibilitam atingir os objetivos propostos pela escola em relação ao processo de
ensino-aprendizagem; a questão do planejamento das atividades que serão
oferecidas aos alunos; o tempo estimado para desenvolver a proposta de trabalho; a
rotina diária, que auxilia tanto professores quanto alunos a sistematizar os seus
conhecimentos e compreender como será decorrida a aula em cada dia.
Contudo, antes de tratar sobre o trabalho pedagógico do professor, é
necessário apontar a importância do trabalho coletivo, para que os profissionais
repensem a sua identidade docente e reflitam sobre novas possibilidades e práticas
de formação continuada.
A partir dessas redes coletivas, o educador busca as informações necessárias
para o seu aperfeiçoamento e crescimento intelectual. Por meio de leituras,
pesquisas, grupos de estudos e formações com os demais docentes, podem ser
levantadas algumas discussões pertinentes ao cotidiano da escola.
Uma dessas discussões diz respeito ao planejamento, que é um dos fatores
mais relevantes para auxiliar o professor na organização do seu trabalho. Conforme
afirma Libâneo (1994, p. 222), o planejamento: “[...] é um processo de
racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade
escolar e a problemática do contexto social”. O mesmo autor ainda complementa,
dizendo que:
[...] o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções e ações; se não pensarmos detidamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes da sociedade (LIBÂNEO, 1994, p. 222)
85
Vasconcellos (2006, p. 36) aponta que o ato de planejar remete a:
1) querer mudar algo; 2) acreditar na possibilidade de mudança da realidade; 3) perceber a necessidade da mediação teórico-metodológica; 4) vislumbrar a possibilidade de realizar aquela determinada ação. Para que a atividade de projetar seja carregada de sentido, é preciso, pois, que, a partir da disposição para realizar alguma mudança, o educador veja o planejamento como necessário (aquilo que impõe, que deve ser, que não se pode dispensar) e possível (aquilo que não é, mas poderia ser, que é realizável).
Cabe destacar que o planejar consiste na forma como o professor vai
organizar e reorganizar o seu trabalho, levando em consideração aspectos
referentes à realidade da turma e à forma como ela é composta. Nesse sentido, o
planejamento deve ser flexível, claro, objetivo e coerente, visto que a educação está
em constante movimento, e os conteúdos, saberes e habilidades que precisam ser
desenvolvidos estão sempre sujeitos a alterações.
Porém, para que o plano proposto pelo professor seja realmente significativo,
é necessário que ele esteja intimamente ligado à prática diária, de maneira que
sejam registradas as situações, conhecimentos e experiências relevantes durante
cada etapa desse processo. Libâneo (1994, p. 225) destaca que “[...] agindo assim,
o professor usa o planejamento como oportunidade de reflexão e avaliação da sua
prática”.
Outra questão importante dentro do planejamento é a possibilidade de um
trabalho conjunto entre as diferentes áreas do conhecimento, na medida em que
promove a interação, colaboração e participação entre os envolvidos num processo
coletivo de saberes. Corsino (2007, p. 59) destaca que “[...] o conhecimento é uma
construção coletiva e é na troca dos sentidos construídos, no diálogo e na
valorização das diferentes vozes que circulam nos espaços de interação que a
aprendizagem vai se dando”.
A interdisciplinaridade, assim, nasce como uma proposta pedagógica cujo
objetivo é envolver as diferentes áreas do currículo de forma integrada,
estabelecendo relações entre as áreas do conhecimento, com o propósito de
aprimorar o processo de aprendizagem. Souza (2012, p. 9) destaca:
Uma abordagem interdisciplinar no tratamento da diversidade de temáticas relacionadas às diversas áreas do saber constitui, portanto, algo de extrema relevância e tal concepção propicia a concordância de que o tempo escolar não deve ser dividido por áreas de conhecimento. O desejo é a integração dessas diferentes áreas.
86
Depois de proposto e elaborado o planejamento, seguindo a proposta
interdisciplinar, é importante que o professor o organize dentro do período que
possui para trabalhar com seus alunos. Assim, a temática tempo é outra questão de
extrema relevância para a organização do trabalho pedagógico em sala de aula.
Fonte de: www.odebate.com.br
É preciso, no entanto, que fique claro que todo esse processo deve acontecer
de forma flexível, sem que a aula seja fragmentada ou que os conteúdos que estão
sendo trabalhados sejam interrompidos. Para isso, o professor deve propor uma
forma diversificada de conduzir as atividades, de maneira que elas sejam
interligadas e relevantes no processo de ensino.
Rodrigues (2009, p. 36) traz algumas considerações sobre o professor,
quando se pensa no tempo escolar:
Na sala de aula, ele produz, em conjunto com seus alunos, o tempo e o trabalho real de ensino, por meio da implementação das atividades e da dinâmica da turma. Essa produção não segue uma ordem, nem uma frequência. Não tem duração. Ela se transforma em experiência e ajuda o professor a organizar o tempo no seu trabalho diário.
A sala de aula, no que diz respeito ao tempo, deve ser vista como um
ambiente propício à aprendizagem, em que os conteúdos sejam trabalhados de
forma integrada, sem compartimentações. São os professores, a partir do seu
planejamento diário, os principais responsáveis em conhecer a realidade e as
necessidades que precisam ser trabalhadas, discutidas e fundamentadas durante
todo o decorrer de sua aula.
87
É importante ressaltar que o professor não deve utilizar esse tempo para
regular, controlar ou deter as atenções para si próprio, tampouco centrar a aula em
suas explicações ou impor o que deve ser realizado em cada momento do dia. Pelo
contrário, o aluno deve ser envolvido nesse processo e ser parte integrante da
organização, tornando-se um sujeito ativo de sua aprendizagem e contribuindo para
que a aula transcorra de forma prazerosa e significativa.
Seguindo essa proposta de organização em que o aluno é envolvido, a rotina
aparece para nortear o andamento da aula, pois é a partir dela que as atividades
serão pensadas e desenvolvidas de acordo com uma sequência. A partir da rotina, o
aluno participa das atividades e conhece o que vai acontecer ao longo do dia, o que
contribui para que sejam desenvolvidas a sua autonomia e a sua iniciativa,
colaborando para o bom andamento da proposta de trabalho do professor, levando
assim à melhoria do ensino como um todo.
Mas, afinal, o que é uma rotina? Como ela deve ser organizada? Para melhor
exemplificar o seu conceito, Barbosa (2006, p. 37) destaca: “[...] as rotinas podem
ser vistas como produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia a dia,
tendo como objetivo a organização da cotidianidade”. A autora ainda complementa,
dizendo que “[...] a rotina pedagógica é um elemento estruturante da organização
institucional e de normatização da subjetividade das crianças e dos adultos que
frequentam os espaços coletivos de cuidados e educação” (BARBOSA, 2006, p. 45).
Contudo, quando se pensa na terminologia rotina, logo se tem a ideia de que
esta é realizada a partir da repetição e sequência de ações que organizam o
cotidiano. Para fugir dessa visão, é preciso considerar que, a partir de uma rotina, é
possível proporcionar às crianças a noção e compreensão de tempo, além de
desenvolver a construção do contexto em que está inserida, possibilitando a
construção da autonomia e da identidade.
A rotina, nesse sentido, auxilia no cumprimento das metas diárias, propostas
pelo professor a partir do seu planejamento, e caminha em parceria com a
organização do tempo escolar, visto que:
[...] é produto de uma construção histórica e cultural, produzida e reproduzida pela escola e pelo professor como processo de aprendizagem e de organização das atividades de ensino. Podemos visualizar a rotina, então, como sendo parte integrante e enraizada do trabalho, ressignificada todos os dias no espaço da sala de aula (RODRIGUES, 2009, p. 35).
88
É preciso, portanto, priorizar a aprendizagem do aluno, seja por meio do
planejamento, da construção da rotina ou do estabelecimento do tempo necessário
para cada proposta de trabalho. Esse processo requer um repensar constante da
prática. Trata-se de características importantes para quem quer investir e
transformar a sala de aula em um espaço prazeroso de aprendizagem. Assim, o
educando se sentirá estimulado a frequentar a escola com motivação; a escola, por
sua vez, poderá alcançar a qualidade do ensino e a educação para todos, sem
discriminações.
Com certeza o trabalho docente é repleto de ambiguidades, incertezas e
desafios, mas também é pleno de esperanças, aprendizados e transformações. Por
meio de erros e acertos, o professor poderá mobilizar conhecimentos, criar um clima
positivo e promissor, impulsionar ações e canalizar o trabalho conjunto, favorecendo
o crescimento dos alunos em relação à sua aprendizagem.
8 A DIDÁTICA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES
A ação educativa não se restringe apenas aos espaços escolares e às
instituições de ensino. Ela pode transcorrer em diferentes esferas e nas mais
variadas situações. Diante do atual cenário da educação, a atuação e o papel do
pedagogo também sofrem modificações, visto que ele deve estar preparado para
atuar em diferentes áreas e campos de trabalho, preocupando-se com o
desenvolvimento social e intelectual do grupo no qual está inserido, promovendo
transformações na sociedade e refletindo constantemente sobre a sua prática.
8.1 A didática existente e a atuação do pedagogo em espaços não escolares
Quando discutimos em quais espaços é oportunizada a educação e de que
maneira ela acontece, logo nos vem à mente o ambiente escolar, a sala de aula e o
profissional preocupado e envolvido com os problemas da educação formal. No
entanto, a partir das ideias de Brandão e Bonamino (1994), não há um único modelo
de educação, e a escola, nessa visão, não é o único lugar em que ela acontece. Da
mesma forma, o ensino escolar não é a única prática, e o professor não é o seu
único praticante.
89
O indivíduo, ao longo de todo o percurso de sua vida, apreende
conhecimentos decorrentes de suas próprias experiências e de relações sociais
estabelecidas com outras pessoas. Essas relações acontecem na família, nos
grupos de amigos e nas instituições educadoras formais e não formais.
Para melhor diferenciar como acontecem as formas de aprendizagem, é
importante destacar que as influências educativas podem ser caracterizadas como
não intencionais e intencionais. Conforme Libâneo (1994, p. 17), a educação não
intencional ou educação informal:
[...] correspondem a processos de aquisição de conhecimentos, experiências, ideias, valores, práticas, que não estão ligados especificamente a uma instituição e nem são intencionais e conscientes. São situações e experiências, por assim dizer, casuais, espontâneas, não organizadas, embora influam na formação humana.
Perez (2013, p. 376) complementa:
Esse tipo de educação acontece nas situações concretas de trocas cotidianas entre seres humanos, quando ocorre a aprendizagem dos modos de vida, da cultura de um determinado grupo e das práticas sociais, construídas nas relações interativas familiares, entre amigos, nas comunidades, etc.
Nesse sentido, é a educação que acontece em situações sociais diversas, no
contato entre pessoas e grupos, a partir de experiências cotidianas que são
fundamentais para o processo de desenvolvimento dos sujeitos e que independem
da mediação de qualquer profissional para que a aprendizagem seja efetivada. Em
contrapartida, a educação intencional, de acordo com Libâneo (1994, p. 17), “[...]
refere-se a influências em que há intenções e objetivos definidos conscientemente,
como é o caso da educação escolar e extraescolar” é um ensino estruturado,
planejado e sistematizado. O autor ainda complementa dizendo que entre as formas
de educação intencional estão a formal e a não formal.
A educação formal, segundo Libâneo (2002), é composta por práticas
educacionais realizadas tanto nas escolas quanto em empresas, sindicatos e
quaisquer organizações que, de algum modo, estejam voltadas à realização de
processos intencionais de ensino. Já a educação não formal, segundo Libâneo
(1994), é aquela estruturada fora do sistema escolar convencional, que visa ao
desenvolvimento de valores e respeito às diferenças, a partir da qual a
aprendizagem acontece por meio de práticas sociais. Cury (2000) acrescenta que
90
essa modalidade de educação se desenvolve em projetos realizados em áreas e
espaços diferentes da escola e da educação formal. Simson, Park e Fernandes
(2001, p. 3) destacam:
É importante que essa proposta de educação não formal funcione como espaço e prática de vivência social, que reforce o contato com o coletivo e estabeleça laços de afetividade com esses sujeitos. (...). As atividades de educação não formal precisam ser vivenciadas com prazer em um local agradável, que permita movimentar-se, expandir-se e improvisar, possibilitando oportunidades de troca de experiências.
Partindo dessas discussões e da atual realidade em que a sociedade se
encontra, a educação sofre mudanças em seu conceito, visto que deve atender às
demandas educacionais e envolver os sujeitos em contextos diversos que se
transpõem aos muros da escola. Conforme destaca Franco (2011), a educação se
faz em toda a sociedade, por diferentes meios, nos mais variados espaços sociais,
cujo objetivo é expandir a intencionalidade educativa para outros contextos e
situações.
A ação educativa, nesse sentido, não se restringe apenas aos espaços
escolares e às instituições de ensino: ela pode transcorrer em diferentes esferas e
nas mais variadas situações. Espaços como abrigos, penitenciárias, instituições que
atendem medidas socioeducativas, organizações não governamentais, hospitais e
empresas são apenas alguns exemplos de ambientes que proporcionam a educação
para além das dependências escolares.
Para fundamentar a importância que esses espaços assumem e a
legitimidade de suas ações, é possível verificar o Artigo 205 da Constituição Federal,
promulgada em 5 de outubro de 1988 e vigente até os dias atuais:
91
[...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988, documento on-line).
A concepção de educação, de acordo com o Artigo 205, faz-se presente em
diversos ambientes, visto que pode ser efetivada com a colaboração da sociedade.
Libâneo (1994, p. 17) destaca:
Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepará-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social. Não há sociedade sem prática educativa nem prática educativa sem sociedade.
A prática educativa, nesse contexto, é o processo pelo qual o indivíduo, a
partir dos conhecimentos e das experiências culturais que vivencia e constrói, vai se
preparando e se tornando capaz de exercer ações no meio social, a fim de realizar
possíveis transformações no contexto em que está inserido.
Diante de tais apontamentos, é pertinente pensar no papel do pedagogo
nesses diferentes cenários apresentados; assim como a educação não se restringe
à escola, a atuação desse profissional também não é limitada a ela. Pelo contrário,
ele deve se adequar às novas realidades, trabalhando como agente de
transformação na mediação dessas aprendizagens. Contudo, para que ele esteja
inserido nesse contexto de transformações sociais, é importante que se invista em
uma formação pedagógica que o habilite a atuar em diferentes áreas e campos de
trabalho. Imbernón (2011, p. 15) aponta que:
[...] a formação assume um papel que transcende o ensino que pretende uma mera atualização científica, pedagógica e didática e se transforma na possibilidade de criar espaços de participação, reflexão e formação para que as pessoas aprendam a se adaptem para poder conviver com a mudança e a incerteza.
Nesse sentido, a formação do pedagogo rompe com o perfil profissional,
antes exclusivo aos contextos escolares, e parte para a definição de uma prática,
pautada nas mais variadas formas de trabalho e situações de aprendizagem.
Valorizam-se assim a participação, a convivência e o desenvolvimento da
capacidade de interação com os demais envolvidos nos processos. Quanto à área
de atuação do pedagogo, Libâneo (2002, p. 38) destaca que é ampla e o torna “[...]
92
qualificado para atuar em vários campos educativos, para atender demandas
socioeducativas de tipo formal, não formal e informal, decorrentes de novas
realidades”.
Franco (2011) reforça que a educação se faz em toda a sociedade, por
diferentes meios e em diferentes espaços. À medida que a sociedade foi se
tornando multifacetada, houve a necessidade de se expandir a intencionalidade
educativa para outros contextos, abrangendo diferentes tipos de formação que
estejam voltadas ao exercício pleno da cidadania. A prática pedagógica desse
profissional e as reflexões acerca das diversas formas e dos meios de ação na
sociedade também devem ser rediscutidas, visto que o pedagogo tem papel
transformador frente a essa nova realidade.
O pedagogo, nesse sentido, é o profissional que se preocupa com a formação
integral dos indivíduos e trabalha na promoção da aprendizagem. Ele busca
capacitar os sujeitos a exercerem ações na sociedade nos mais diversos espaços,
seja por meio de trabalhos em grupo, cursos, oficinas, trocas de experiências, seja
na organização de atividades que promovam a integração e interação entre os
envolvidos.
Nessa perspectiva de mudança, o pedagogo continua sendo visto como
mediador dos processos educativos; no entanto, agora tem uma atuação mais
abrangente, que não se detém apenas ao universo da educação formal, mas o
qualifica a exercer funções nas diferentes áreas. Desse modo, é preciso que ele
busque novas possibilidades de formação para se adequar ao mundo globalizado e
às exigências da sociedade atual.
A partir desse discurso, não somente o pedagogo deve estar inserido em um
novo contexto social, a fim de exercer relações em diferentes espaços, mas também
o processo de ensino e aprendizagem vai sofrendo alterações, visto que o mesmo
acontece em todo e qualquer segmento da sociedade, e não somente no cotidiano
escolar. No entanto, mesmo que a figura desse profissional esteja atrelada ao
ambiente escolar, é preciso romper algumas barreiras e superar alguns desafios no
que se refere à sua área de atuação, pois, como referenciado anteriormente, a
educação está presente em diferentes espaços. Assim, o pedagogo, a partir desse
novo contexto, deve se preocupar com o desenvolvimento social e intelectual do
grupo no qual está inserido.
93
Portanto, cabe a esse profissional problematizar, promover transformações na
sociedade e refletir constantemente sobre a sua prática. Segundo Freire (1996, p.
43), a prática implicante do pensar certo envolve o “[...] movimento dinâmico,
dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”. Nesse sentido, é fundamental que
esse pensamento se estenda a todos os campos, contextos e possibilidades de
trabalho, intencional ou não intencional, em que o pedagogo puder fazer a diferença.
Somente assim ele vai romper com a ideia da pedagogia estritamente escolar e se
preparar para as transformações contemporâneas em todas as esferas.
8.2 As relações entre o pensamento de Paulo Freire e a prática de ensino em
espaços não escolares
A forma como a educação e as práticas de ensino acontecem faz parte de
discussões de profissionais em escolas e diferentes instituições formais e não
formais. Por muitos anos, o processo educativo foi visto como uma prática
pertencente apenas à escola, mas foi se modificando diante do atual cenário
educacional e do desenvolvimento de uma nova forma de pensar a sociedade.
Nesse sentido, emergiram novas preocupações referentes à aprendizagem e ao
processo educativo, dando início a novas discussões nessa área. Confirmou-se
então que a educação não acontece apenas na escola institucionalizada, mas
também em outros espaços cujo objetivo seja a formação humana.
A educação, a partir da produção de saberes e da formação da identidade,
visa fortalecer a participação dos sujeitos nos diferentes espaços, ampliando a
discussão acerca dos contextos nos quais esses sujeitos estão inseridos. Como
forma de estender esse diálogo, conceitos como educação popular aparecem para
levantar reflexões, questionamentos e ideias que fundamentam que a educação vai
além da sala de aula tradicional.
A educação popular, conhecida e aprofundada a partir das ideias de Paulo
Freire, surge para confirmar que a prática de ensino ultrapassa o espaço escolar. No
entanto, antes de discutir tal abordagem, é importante fazer uma breve retrospectiva
da educação popular, que nasceu fora da escola, mas acabou influenciando práticas
educativas, devido à repercussão que se deu na sociedade.
94
Segundo Escosteguy (2017), até os anos 1940, a educação popular era
concebida numa perspectiva extensionista da educação formal para todos, voltada
especialmente para a população das periferias e da zona rural. Após a Segunda
Guerra Mundial, ascenderam os princípios democráticos que enfatizavam o
movimento de educação voltado para o povo. Ao mesmo tempo, evidenciava-se a
necessidade de criar políticas de educação de base que não se limitassem apenas à
alfabetização da população pobre, mas se estendessem ao mundo moderno, para
aprimorar o desenvolvimento da escrita, leitura e do convívio social, e se adaptar ao
modelo de sociedade.
A autora complementa dizendo que, a partir de 1950, os debates passaram a
questionar as práticas de educação de jovens e adultos oferecidas às classes
populares, na medida em que a proposta estava voltada para a transmissão de
conteúdos. A educação, nesse contexto, começou a se preocupar com a formação
da consciência crítica dos educandos, a partir do desenvolvimento de um processo
educativo voltado para o protagonismo da pessoa como construtora da sua
existência no mundo. Surgem as ideias de Paulo Freire e provocações relacionadas
à prática educativa, sendo a educação popular um pilar para essas discussões.
A educação popular se realiza junto às comunidades, aos grupos menos favorecidos economicamente, beneficiários das políticas de transferência de renda e políticas sociais, junto às pastorais sociais e pequenos grupos organizados que querem formar associações ou cooperativas, grupo de mulheres, juventude, populações tradicionais, agentes de saúde e comunitários, fóruns de economia solidária, de educação de jovens e adultos, enfim a educação popular está onde está o povo do campo e da cidade, que luta dia a dia há anos para que possa ter voz e vez, serem protagonistas e construtores de sua própria história (ESCOSTEGUY, 2017, p. 19).
A educação popular, então, vem para romper com o ensino que antes era
transmitido verticalmente e abre possibilidades de reflexão, diálogo e respeito aos
diferentes saberes, a partir de um trabalho voltado para a realidade e as
necessidades dos envolvidos. Além disso, Maciel (2011) destaca que a educação
popular passa a ter maior organização a partir da articulação dos compromissos
políticos assumidos com movimentos sociais populares, movimentos de classe cujo
objetivo é a condução da transformação da sociedade a partir do lugar político
popular.
95
Os movimentos sociais assumem um caráter popular na medida em que
estão abertos à pluralidade dos grupos humanos e das frentes de lutas em prol dos
direitos humanos, de maneira que o cidadão “[...] é o sujeito de deveres sociais de
teor político, em nome dos quais não apenas reclama os seus direitos”, mas age
para construir “[...] um outro mundo possível” de realização dos direitos humanos
(BRANDÃO, 2002, p. 269).
A partir da presença dos movimentos sociais e da valorização da cultura
popular, Maciel (2011) destaca que Paulo Freire aparece como principal idealizador
de uma educação que proporcione a libertação do oprimido que hospeda o opressor
por meio do movimento de cultura popular. A educação popular, assim:
[…] é um processo coletivo de elaboração do conhecimento que desenvolve
junto a educadores a capacidade de ler criticamente a realidade para transformá-la e
que a apropriação crítica dos fenômenos e de suas raízes permite o entendimento
dos momentos e do processo da luta de classes, ajudando a quebrar toda forma de
alienação e a busca e descoberta do real e para a sua superação (ESCOSTEGUY,
2017, p. 18).
Dessa forma, a autora complementa dizendo que o principal campo da prática
da educação popular parte do trabalho de base, que pode acontecer em diferentes
espaços populares e institucionais: no território, no campo, na cidade, nas periferias,
nos centros e em todo o campo social. Partindo das discussões acerca da luta dos
movimentos sociais para transformar a sociedade e voltando à ideia da educação
popular para humanizar as relações sociais nos diferentes campos e espaços,
podemos dizer que ela está presente no cotidiano dos grupos organizados e não
organizados, quando estes apresentam uma prática educativa comprometida com a
realização dos direitos do povo, possibilitando a inserção dos sujeitos em novos e
diferentes contextos.
Esses diferentes contextos referem-se não exclusivamente à educação
formal, realizada por meio das instituições escolares, mas a todos os espaços em
que essa educação possa ser efetivada. Em outras palavras, incluem-se aí diversos
ambientes não escolares existentes na sociedade, que também contribuem para a
inserção dos indivíduos nas políticas públicas e a valorização dos seus saberes de
acordo com a realidade da qual fazem parte.
96
A educação, segundo a proposta popular, é um processo coletivo e planejado,
que atende às necessidades dos sujeitos e às suas formas de ver o mundo, não de
maneira imposta pela transmissão de saberes prontos, mas como uma metodologia
que incentiva a troca de saberes entre os indivíduos, a partir da realidade da
comunidade. Freire (1996) destaca que é importante respeitar e reconhecer os
saberes socialmente construídos na prática comunitária, a partir de práticas
inovadoras e emancipatórias que visem a autonomia coletiva, o desenvolvimento da
consciência crítica e a reflexão sobre a prática pedagógica.
Além disso, para fundamentar que a educação popular está relacionada
também à educação não escolar, Freire (1996) traz que ela é uma forma de
intervenção no mundo quando luta a favor da liberdade, da esperança e da tomada
consciente de decisões. Nesse sentido, Maciel (2011) complementa que a educação
popular comprometida com a classe trabalhadora é uma educação ético-política e
intelectual, que acontece em todos os espaços educativos, direcionada ao
atendimento das necessidades e dos reais interesses das camadas populares.
Maciel (2011) torna evidente que a pedagogia freiriana contribuiu para que
essa visão de mundo e de sociedade se estabelecesse, com base na possibilidade
de superação das relações verticais contraditórias e dos modelos mecanicistas de
análise da realidade social. Parte-se da teorização de uma prática pautada na
implantação de novas propostas que indicam esperança, necessidade de mudança
e emancipação social.
97
Portanto, cabe destacar que a educação popular está pautada na
dialogicidade e na conscientização de que somos seres inacabados, a partir da
construção de saberes de homens e mulheres, da problematização da realidade da
comunidade e da intervenção dos sujeitos no mundo como agentes
transformadores. Gadotti (2006, p. 163) questiona por que a educação pode ser
transformadora e complementa: “Porque o trabalho educativo é essencialmente
político e é o político que é transformador”.
Assim, o sujeito é um agente político e participante ativo de transformação do
mundo e da sua história, a partir de um projeto de sociedade que tenha como eixo
central o ser humano, a sua autonomia, responsabilidade e capacidade de promover
a superação de sua própria prática. Logo, parte-se do pressuposto da educação
enquanto formação do sujeito e de suas múltiplas potencialidades.
8.3 A didática utilizada na prática de ensino em espaços escolares e não
escolares
As práticas de ensino em espaços escolares e não escolares partem do
pressuposto de que os sujeitos podem aprender de diferentes formas, em diferentes
lugares. Cada um possui saberes únicos, que se constroem a partir de suas histórias
de vida e experiências vivenciadas ao longo de sua trajetória pessoal.
Essas práticas de ensino e a didática utilizada nesses diferentes contextos
estão presentes nas discussões atuais, como forma de se pensar numa educação
que esteja voltada para todos os ambientes nos quais os indivíduos estiverem
presentes. Candau (2004) propõe que a didática é o conjunto de decisões e ações
que vão para além da pura razão instrumental. O entendimento da dimensão do que
fazer na educação requer uma razão crítica e clara às seguintes questões: para que,
por que e a favor de quem se faz educação. Tais questionamentos fazem-se
presentes tanto nos contextos escolares quanto nos não escolares, visto que a
educação se dá em diferentes espaços da sociedade.
98
Na escola, na sociedade, na empresa, em espaços formais ou não formais, escolares ou não escolares, estamos constantemente aprendendo e ensinando. Assim, como não há forma única nem modelo exclusivo de educação, a escola não é o único em que ela acontece e, talvez, nem seja o mais importante. As transformações contemporâneas contribuíram para consolidar o entendimento da educação como fenômeno multifacetado, que ocorre em muitos lugares, institucionais ou não, sob várias modalidades (FRISON, 2004, p. 88).
Pensando nisso, antes de se deter à didática nos espaços escolares e não
escolares, é importante primeiro refletir sobre as palavras de Freire (1993): ele situa
a educação como um ato político, que vai além de um ato de conhecimento. O
envolvimento do sujeito se dá a partir do momento em que há uma maior
compreensão do tipo de sociedade da qual se deseja participar.
Esse ato político explicita os valores de uma concepção de educação voltada
para a qualidade e a favor da construção de um conhecimento crítico-transformador
de uma sociedade justa, democrática e solidária. Assim, a partir dos princípios da
educação popular que expressam efetivas ações de desvelamento da realidade,
respeito aos educandos, aproximação dos movimentos populares e superação dos
preconceitos na defesa da substantividade democrática, fazem-se presentes a
definição do quefazer político-pedagógico nos diferentes espaços de ensino-
aprendizagem nos quais os sujeitos estão inseridos, a fim de se buscar a coerência
entre o discurso e a prática.
Nesse sentido, a didática adotada pelas instituições escolares ou não, deve
estar voltada para a compreensão da realidade e dos saberes comunitários, como
forma de construir uma prática coerente pautada na “[...] educação gnosiológica,
diretiva, política, artística e moral” (FREIRE, 1996, p. 78). Ao educador, na
concepção de Freire, cabem a sensibilidade da prática educativa e as exigências de
saberes especiais que estejam ligados à atividade docente.
Essa didática, dentro e fora da instituição escolar, pode estar pautada nos
“saberes necessários à prática docente”, apresentados a partir do livro Pedagogia da
Autonomia (FREIRE, 1996). Nessa obra, são trazidos alguns apontamentos
importantes, que devem ser considerados pelos educadores em suas práticas
pedagógicas, numa perspectiva crítico-emancipatória.
Entre eles, destaca-se que o processo de ensinar é parte do processo de
aprender, assim como o processo de aprender está incutido no processo de ensinar.
Assim, ambos são indissociáveis e caminham numa mesma direção. Freire (1996, p.
99
27) aponta: “[...] quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender tanto
mais se constrói e desenvolve o que venho chamando curiosidade epistemológica,
sem a qual não alcançamos o conhecimento cabal do objeto”.
Além disso, outro ponto que deve se fazer presente na didática é o fato de
que ensinar não é transferir conhecimento. Para isso, é preciso partir do
conhecimento dos educandos e possibilitar a construção de um conhecimento
crítico. Desse modo, é possível estimular a criatividade, a capacidade de leitura de
mundo e o respeito aos saberes dos educandos. Segundo Saul (2014, p. 11):
[...] partir dos conhecimentos, dos contextos concretos e das necessidades que os sujeitos trazem é condição para o desenvolvimento de saberes críticos que têm, como horizonte, a ampliação de seus direitos e a construção de uma vida digna.
O trabalho com esses contextos concretos possibilita ao professor a reflexão
sobre a sua prática e sobre a realidade em que está atuando.
Diante do papel da didática, é possível concluir que ela está presente em
muitos espaços de aprendizagem formal ou não formal, escolar ou não escolar.
Considerando os princípios expostos, entende-se a necessidade de uma didática
comprometida com a construção de uma educação para a formação social e crítica
dos indivíduos, numa proposta pautada na apropriação do conhecimento de forma
participativa, autônoma, coletiva e crítica.
100
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