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1 Dimensões de Análise para o Reconhecimento de Inovações Sociais: uma Investigação em Empreendimentos Coletivos do Setor de Artesanato Autoria: Angela Maria Maurer, Tania Nunes da Silva Resumo As inovações sociais são vistas como alternativas face aos problemas sociais e ambientais enfrentados pela humanidade. Entretanto, suas definições são amplas e vagas, podendo abranger uma diversidade de iniciativas. Baseando-se em dimensões de análise de inovações sociais, este estudo buscou avaliar em que medida essas dimensões explicam o surgimento de empreendimentos coletivos no setor de artesanato. Para tanto, realizou-se um estudo de casos múltiplos. Constatou-se que grande parte dos elementos das dimensões de análise foram identificados nos casos pesquisados, evidenciando que tais empreendimentos são efetivamente inovações sociais.

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Dimensões de Análise para o Reconhecimento de Inovações Sociais: uma Investigação em Empreendimentos Coletivos do Setor de Artesanato

Autoria: Angela Maria Maurer, Tania Nunes da Silva

Resumo As inovações sociais são vistas como alternativas face aos problemas sociais e ambientais enfrentados pela humanidade. Entretanto, suas definições são amplas e vagas, podendo abranger uma diversidade de iniciativas. Baseando-se em dimensões de análise de inovações sociais, este estudo buscou avaliar em que medida essas dimensões explicam o surgimento de empreendimentos coletivos no setor de artesanato. Para tanto, realizou-se um estudo de casos múltiplos. Constatou-se que grande parte dos elementos das dimensões de análise foram identificados nos casos pesquisados, evidenciando que tais empreendimentos são efetivamente inovações sociais.

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Introdução A possibilidade de escassez dos recursos naturais utilizados para a produção de bens, aliada ao aumento das desigualdades sociais que se enfrenta ao redor do mundo (KAPLINSKY, 2004), tem permitido a discussão de mudanças e a construção de alternativas para suplantar tal situação social e ambiental que impacta direta ou indiretamente a economia local e mundial. Alguns pesquisadores acreditam que o próprio desenvolvimento tecnológico conseguirá resolver os problemas construídos pelas sociedades ao longo do tempo, enquanto que outros, como Robinson (2004), apostam em mudanças que não sejam só tecnológicas para melhorar a complexa relação entre indivíduos, natureza e sociedade. É neste contexto que as inovações sociais podem desempenhar um importante papel no desenvolvimento dos territórios. As definições mais disseminadas de inovação social dizem respeito a soluções inovadoras para as necessidades humanas (MULGAN, 2006; MOULAERT et al., 2005). Outras definições envolvem um maior número de elementos, como a do Centre de Recherche sur les Innovations Sociales (CRISES) que conceitua inovação social como sendo “um processo iniciado pelos atores sociais para responder a uma aspiração humana, suprir uma necessidade, trazer uma solução ou aproveitar uma oportunidade de ação” (CRISES, 2010, p.5). Assim, busca-se acarretar mudanças nas relações sociais, de transformar um quadro de ação ou de propor novas orientações culturais. O CRISES é o principal centro de pesquisa de inovação social do Canadá (ANDREW; KLEIN, 2010), sendo ele composto por diversas instituições de ensino superior que estão interessadas na investigação de soluções sociais para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos.

De forma geral, as inovações sociais são diferenciadas das inovações empresariais ou das inovações tecnológicas. Quando comparadas às inovações empresariais, as inovações sociais diferenciam-se pelo fato de que as soluções empresariais são desenvolvidas com a finalidade de maximização dos lucros, os quais são direcionados à esfera privada (MULGAN et al., 2008; PHILLS JR.; DEIGMEIER; MILLER, 2008). Já em comparação às inovações tecnológicas, as inovações sociais caracterizam-se por não atenderem exclusivamente à lógica de competição de mercado ou às necessidades de clientes. Tais inovações diferenciam-se de outros tipos de inovação porque respondem a uma necessidade urgente de melhorar as práticas sociais ou organizacionais (ROLLIN; VICENT, 2007) Quando analisam-se iniciativas sob a perspectiva das definições de inovação social, constata-se que uma diversidade de soluções podem ser abrangidas por esta temática. Assim, tais definições tornam-se, de certa forma, vagas, não fornecendo elementos necessários para sua identificação e análise. Nesse sentido, alguns autores do CRISES estabeleceram uma série de dimensões que podem auxiliar no reconhecimento de inovações sociais que gerem, efetivamente, transformação social. Mas, no Brasil, ainda não foram desenvolvidos estudos que concebam tal perspectiva de análise de inovação social, ao mesmo tempo em que foram realizados poucos estudos no setor de artesanato. Portanto, este artigo tem o objetivo de avaliar em que medida as dimensões de análise de inovações sociais relacionam-se com o surgimento de empreendimentos coletivos no setor de artesanato. O presente artigo está estruturado da seguinte forma: na primeira seção são apresentadas as principais perspectivas e entendimentos de inovação social, enquanto que na segunda são apresentadas as dimensões de análise de inovações sociais desenvolvidas por Tardif e Harrisson (2005); a terceira seção contempla os procedimentos metodológicos adotados neste estudos; a quarta seção apresenta os resultados obtidos por meio do estudo de casos múltiplos; e, por fim, são apresentadas as considerações finais do estudo.

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1 As Diferentes Perspectivas de Inovação Social A literatura acadêmica apresenta diversas definições e perspectivas de inovação social que foram desenvolvidas de acordo com os objetivos e com os fenômenos de estudo de cada grupo de pesquisa e/ou pesquisador. Alguns desses entendimentos aproximam-se mais da lógica da inovação considerada tradicional (tecnológica), acrescentando a necessidade de se alterar o “social” para que as organizações obtenham um maior crescimento econômico (DADOY, 1998). Nesta perspectiva, uma inovação social é desenvolvida com o intuito de gerar um melhor bem-estar dos funcionários, acarretando em uma maior produtividade e, consequentemente, lucratividade (MOULAERT et al., 2005).

Outra perspectiva da literatura é a das Ciências da Criatividade, que é liderada por Michael D. Mumford. Para ele, a expressão “inovação social” estaria associada à gênese e à aplicação de ideias novas acerca das diferentes formas pelas quais as pessoas organizam as atividades interpessoais a fim de contemplar objetivos comuns (MUMFORD, 2002; MARCY; MUMFORD, 2007). De acordo com esta abordagem, o processo de criatividade humano seria o grande indutor do desenvolvimento de inovações sociais, como apresentado, por exemplo, no trabalho feito Benjamin Franklin, no século XVIII, com a criação de departamentos voluntários contra incêndios, localizados nos Estados Unidos. Adotando a perspectiva de desenvolvimento de inovações sociais por parte das empresas, o Centro para Inovação Social (CSI) estabelece que as soluções sociais devem contemplar a sociedade como um todo (PHILLS JR.; DEIGMEIER; MILLER, 2008). Como são as empresas as suas promotoras, tais inovações alinham-se aos princípios de Responsabilidade Social Corporativa (RSC). Em outras palavras, as empresas podem desempenhar um importante papel desenvolvendo inovações que tragam melhorias na qualidade de vida das populações, as quais não precisam estar necessariamente atreladas à dimensão social da RSC. Nesse sentido, as tecnologias verdes também podem ser consideradas inovações sociais por reduzirem a emissão de gases no meio ambiente (CONNER, 2010). Mulgan et al. (2008), por outro lado, define uma inovação social como sendo novas soluções para necessidades sociais que são desenvolvidas por organizações sociais, ao contrário do que postulava o CSI (organizações privadas). Grande parte da literatura de inovação social liderada por Geoff Mulgan advém das iniciativas da Youth Foundation, que é uma organização inglesa sem fins lucrativos. De forma geral, organizações sociais são, por natureza, instituições focadas na realização de atividades que atendam às necessidades de grupos específicos ou de uma sociedade. Assim sendo, elas oferecem uma importante contribuição para o desenvolvimento de soluções sociais que sejam inovadoras em um determinado contexto (MULGAN, 2006). As inovações sociais podem também estar atreladas a determinados territórios, como é o caso da Social Innovation, Governance and Community Building (SINGOCOM). O grupo formado pelo SINGOCOM localiza-se na Europa e conceitua inovação social como o desenvolvimento de inovações para a satisfação humana, tendo em vista o desenvolvimento territorial. Nesse sentido, atribui-se a uma solução a terminologia inovação social quando esta proporciona a inclusão social e a satisfação das necessidades humanas em termos de alimentação, educação, cultura, saúde, etc. (MOULAERT et al., 2005). De maneira similar, o Observatório de Inovação Social da Fundação Getúlio Vargas também destaca a transformação das relações de poder no campo social (FLEURY, 2011), contemplando as inovações geradas pelo poder público ou por outros atores para a transformação social de um determinado território.

Mas no Brasil a terminologia “inovação social” é pouco utilizada comparada aos usos do termo “tecnologia social”. O conceito mais disseminado de tecnologia social é o que compreende

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produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social (RODRIGUES; BARBIERI, 2008). Tal definição, difundida principalmente Renato Peixoto Dagnino, da UNICAMP, aproxima-se do conceito de inovação social utilizado pelo Centre de Recherche sur les Innovations Sociales (CRISES): “um processo iniciado pelos atores sociais para responder a uma aspiração humana, suprir uma necessidade, trazer uma solução ou aproveitar uma oportunidade de ação” (CRISES, 2010, p.5). Assim, busca-se acarretar mudanças nas relações sociais, de transformar um quadro de ação ou de propor novas orientações culturais. Em outras palavras, tanto a definição de tecnologia social quanto de inovação social do CRISES consistem no desenvolvimento de soluções com participação de atores visando a transformação social.

O CRISES é um centro de pesquisa multidisciplinar que envolve diversas instuições de ensino e localiza-se no Canadá. Fundado em 1988, este grupo divide seus estudos em três subáreas, ou seja, de acordo com três diferentes eixos de pesquisa: 1) Inovações sociais nas relações de trabalho e na geração de emprego; 2) Inovações sociais nas condições de vida; e 3) Inovações sociais territoriais (CRISES, 2010). Os membros do primeiro eixo, o do trabalho e emprego, estão mais orientados para pesquisas dentro das organizações, sobre o envelhecimento ou equidade no local de trabalho. O segundo eixo de pesquisa, por outro lado, envolve estudos sobre a melhoria nas condições de vida da sociedade, principalmente no que diz respeito ao consumo, ao uso do tempo, ao ambiente familiar, à inserção no mercado de trabalho, à habitação, à renda, à saúde e à segurança das pessoas. Já o terceiro eixo, o do desenvolvimento territorial, interessa-se por práticas e estratégias de atores socioeconômicos que tenham influência sobre o desenvolvimento de territórios (CRISES, 2010).

As diversas perspectivas apresentadas diferem tanto em termos de quem promove (desenvolve) as inovações sociais quanto no nível de impacto desejado. Para representar as diferenças postuladas por cada perspectiva, estabelece-se a Figura 01.

Figura 01 – As perspectivas de inovação social de acordo com os seus promotores e nível de impacto almejado.

De forma geral, as diferentes perspectivas de inovação social destacam a importância do desenvolvimento de soluções inovadoras para melhorar a qualidade de vida de indivíduos. Para se reconhecer uma inovação social, alguns autores (TARDIF; HARRISSON, 2005; CLOUTIER, 2003) estabelecem dimensões de análise que contemplam os aspectos mais importantes no desenvolvimento dessas soluções sociais, o que é abordado na próxima seção deste artigo.

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2 As Dimensões de Análise de Inovações Sociais Apesar do crescimento na utilização do termo “inovação social”, diversas de suas

definições ainda parecem ser vagas, podendo abranger um grande número de iniciativas. Por esta razão, alguns pesquisadores estabeleceram dimensões de análise para o reconhecimento de inovações sociais. Tardif e Harrisson (2005), por exemplo, analisaram 49 estudos desenvolvidos por membros do CRISES e verificaram que os conceitos essenciais na definição de uma inovação social com vistas à transformação social são compostos pelas seguintes dimensões: a) Transformações; b) Caráter inovador; c) Características da Inovação; d) Atores envolvidos; e e) Processo de desenvolvimento da inovação.

A Dimensão Transformações é primeiramente analisada por meio do contexto no qual ocorre o desenvolvimento da inovação social (TARDIF; HARRISSON, 2005). Para identificar este contexto, os autores sugerem o reconhecimento do ambiente problemático, que impulsionaria a criação de inovações. Este contexto é, geralmente, marcado por crises, sejam elas de caráter econômico ou social, como por exemplo, crises de desemprego. Além disso, determinadas mudanças podem levar à ruptura ou à descontinuidade de uma dada estrutura do sistema social que, até então, encontrava-se vigente, como os novos modos de governança dos vínculos trabalhistas. Essas mudanças acarretam, portanto, modificações estruturais.

Assim, o contexto problemático pode influenciar as estruturas econômicas locais, regionais e até mesmo nacionais. A mudança nessas estruturas é o segundo elemento de análise da Dimensão Transformações. Em outras palavras, crises, descontinuidades, rupturas e modificações estruturais podem acarretar impactos no conjunto de relações econômicas, que trazem mudanças mais ou menos radicais. Estas mudanças levam os atores a realizar apenas adaptações nesta esfera econômica (caracterizada como “ajustes”), o desenvolvimento de novas trajetórias (chamada de “reconversão”), ou até mesmo a criação de novas estruturas de produção, o que sinaliza uma emergência. As estruturas econômicas desenvolvidas ou adaptadas podem, em um dado sistema social, produzir novas relações de trabalho, de produção ou de consumo.

O terceiro elemento de análise dessa dimensão é a esfera social, ou seja, o impacto do contexto problemático nas estruturas sociais. Tardif e Harrisson (2005) apontam que pode ocorrer uma reestruturação e/ou reconstrução dos laços sociais por meio da adoção de novas práticas, sejam elas em termos de relações de trabalho, produção ou consumo, e mudanças nas relações sociais, inclusive entre gêneros, caso sejam incentivadas. Estas mudanças podem levar à marginalização ou à exclusão social de alguns indivíduos. Desta forma, as mudanças nos contextos acarretam impactos tanto nas estruturas econômicas quanto nas estruturas sociais.

Na Dimensão Caráter Inovador, Tardif e Harrisson (2005) descrevem a ação social que leva à formação de uma inovação, o tipo de economia ao qual ela pertence e os diferentes modelos que podem ser gerados a partir de sua implantação e disseminação. Assim, a partir do contexto de mudanças, os atores são impulsionados a agir, ou seja, a desenvolver soluções para mitigar uma determinada situação-problema. Essas soluções devem ser “novas”, ou seja, inéditas nos ambientes específicos onde elas emergem (TARDIF; HARRISSON, 2005). Para desenvolvê-las, os atores constituem novos arranjos institucionais, que são fruto de sua atuação coletiva.

A fase inicial de implantação de uma inovação social passa por tentativas e experimentos. Com o passar do tempo, as experiências inovadoras que demonstrem seus benefícios sociais e/ou econômicos tendem a ser institucionalizadas, gerando modelos de desenvolvimento, onde o Estado é o ator principal (BOUCHER, 2001), de trabalho (novas formas de organização do trabalho), de governança (parceria entre poder público e outras instituições), de Quebec (pertencentes à Economia Social). Também é destacado o papel das novas políticas ou programas

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públicos durante a fase de tentativas e experimentos, os quais podem auxiliar ou restringir o sucesso de uma inovação social. Além disso, as inovações sociais gerariam novos tipos de economia, como a Economia do Conhecimento, a Economia Mista e a Economia Social.

A Dimensão Inovação é a terceira dimensão do modelo de Tardif e Harrisson (2005) e aborda o tipo de inovação, sua escala e suas finalidades. Para o CRISES, as inovações sociais podem estar em um continuum de técnica à social. As inovações sociais técnicas são inovações em forma de produto ou tecnologia. As inovações sociotécnicas, por outro lado, geralmente ocorrem dentro das organizações, com o desenvolvimento de alguma tecnologia. Outro tipo de inovação que ocorre dentro das organizações é chamada de “inovações sociais organizacionais”, as quais buscam trazer melhorias para as necessidades dos funcionários. Já as inovações sociais que mais apropriadamente tomam a forma de “sociais” são principalmente as desenvolvidas por atores da sociedade civil, que não sejam promulgadas em uma organização, em uma empresa ou como soluções mais amplas desenvolvidas pelo Estado. A Economia Social do Quebec, no Canadá, é discutida sob esta perspectiva, por gerar empregos e novas relações de trabalho através de uma forma de governança cooperativa (LÉVESQUE; CREVIER, 2002; LÉVESQUE, 2002). A última forma de inovação social analisada é a institucional, que se refere principalmente às soluções que possuem a atuação do Estado, como a formulação de novas leis.

Independente da forma de inovação social, Tardif e Harrisson (2005) mencionam que estas inovações possuem um caráter local ou localizado. Ainda nesta dimensão está inclusa a finalidade de uma determinada inovação social, a qual deve atender aos objetivos gerais dos envolvidos, buscando conciliar os objetivos individuais e os coletivos. O alcance destes objetivos gerais deveria buscar atender ao bem comum e, para isso, deve haver cooperação entre os atores.

A quarta dimensão de análise, chamada de Dimensão Atores, descreve os diversos atores envolvidos no desenvolvimento e na implantação de uma determinada inovação social, os quais podem ser de diversos tipos, como: Sociais, Organizacionais, Institucionais e Intermediários (TARDIF; HARRISSON, 2005). Os atores sociais podem ser atores da sociedade civil, de movimentos cooperativistas, de sindicatos ou de associações comunitárias. Já a categoria de atores organizacionais inclui empresas, organizações da Economia Social, empresas coletivas e beneficiários (shareholders) de empresas. Os atores institucionais abarcam as instituições do Estado e a identidade, as normas e os valores de cada ator. Na categoria de atores intermediários incluem-se os chamados “atores híbridos”, que são fruto da relação entre diversos atores e resultam em comissões bi ou tripartites e redes sociais de alianças ou de inovação.

Rollin e Vicent (2007), por sua vez, estabelecem uma classificação de atores que se diferencia da postulada por Tardif e Harrisson (2005). Os primeiros destacam o papel dos atores em uma inovação social, enquanto que os últimos classificam-nos basicamente em sociais, privados, públicos, e a parceria entre atores. Assim, os atores, de acordo com Rollin e Vicent (2007), podem ser classificados em: 1) os titulares da ideia; 2) os financiadores; 3) os apoiadores ou parceiros; e 4) os usuários. Os atores titulares são os atores que criam ou desenvolvem a ideia de uma inovação social. Os financiadores são responsáveis por financiar o processo de uma inovação social e podem ser organizações privadas ou públicas, fundações, etc. Os apoiadores e parceiros têm o papel de acompanhar, apoiar ou divulgar uma inovação social. Os usuários ou proprietários são os atores que efetivamente se beneficiam com a inovação social desenvolvida.

A Dimensão Processo de uma inovação social, de acordo com Tardif e Harrisson (2005), é descrito em termos de modos de coordenação, dos meios envolvidos e das restrições à sua implantação. Os modos de coordenação representam a maneira pela qual os atores interagem e coordenam o desenvolvimento de uma inovação social. Uma de suas características é, então, a

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mobilização e a participação de atores. Como uma inovação social envolve a interação e cooperação entre diversos atores, Cloutier (2003) afirma que ocorre uma “mistura” entre as identidades, normas e valores de cada ator, o que resulta em uma aprendizagem coletiva. Em outras palavras, os atores aprendem novos conhecimentos e novas habilidades, ocorrendo um intercâmbio de informações e de formação. Esta aprendizagem coletiva pode levar, então, à geração de novas regras e de novos padrões sociais. O modo de coordenação também envolve a avaliação da inovação social que foi desenvolvida, a qual visa identificar principalmente os aspectos que podem ser melhorados para que a inovação alcance o seu objetivo de criação.

Os aspectos negativos ou que não estejam em conformidade com o processo de uma inovação social são chamados, por Tardif e Harrisson (2005), de restrições e de fatores desfavoráveis por Perreault e Rollin (2008). Estas restrições incluem, por exemplo, a complexidade e a incerteza das dinâmicas sociais, a resistência dos atores e as tensões que estes apresentam em decorrência da novidade, e as exigências para a formulação de um compromisso. Além disso, a rigidez institucional do ambiente pode até mesmo impedir a difusão da inovação social desenvolvida. Ainda, outro elemento de análise desta dimensão faz referência aos meios pelo qual o processo desta inovação se estabelece. Um dos principais objetivos dos projetos de inovação social é o de que todos os atores estratégicos estejam envolvidos no processo de uma inovação, necessitando, assim, de cooperação entre as partes. Além da cooperação, o CRISES aponta a necessidade de negociação, integração, diálogo e acordos formais e informais (parceria) para permitir que seja desenvolvido um bom relacionamento entre os atores. Os elementos destacados em cada dimensão de análise de uma inovação social são apresentados no Quadro 01.

Transformações Caráter inovador Inovação Atores Processo

Contexto micro - crise - ruptura - descontinuidade - modificações estruturais Econômico - emergência - adaptação - relações do trabalho/ produção e consumo Social - recomposição - reconstrução - exclusão/ marginalização - prática - mudança - relações sociais

Modelo - de trabalho - de desenvolvimento - governança - Quebec Economia - do saber/ conhecimento - mista - social Ação social - tentativas - experimentos - políticas - programas - arranjos institucionais - regulamentação social

Escala - local Tipos - técnica - sociotécnica - social - organizacional - institucional Finalidade - bem comum - interesse geral - interesse coletivo - cooperação

Sociais - movimentos cooperativos/ comunitários/ associativas - sociedade civil - sindicatos Organizações - empresas - organizações economia social - organizações coletivas - destinatários Instituições - Estado - identidade - valores/ normas Intermediários - comitês - redes sociais/ de alianças/ de inovação

Modo de coordenação - avaliação - participação - mobilização - aprendizagem Meios - parcerias - integração - negociação - empowerment - difusão Restrições - complexidade - incerteza - resistência - tensão - compromisso - rigidez institucional

Quadro 01 – As dimensões de análise de uma inovação social de acordo com o CRISES. Fonte: Adaptado de Tardif e Harrisson (2005).

Após a apresentação das dimensões de análise de inovação social, a próxima seção

contempla os procedimentos metodológicos para realização deste estudo.

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3 Procedimentos Metodológicos Para atingir o objetivo proposto, realizou-se um estudo de casos múltiplos. Na concepção

de Yin (2005), o estudo de caso é um tipo de pesquisa empírica de um fenômeno contemporâneo, que está dentro de um contexto conhecido, mas no qual não se distinguem claramente os limites entre o fenômeno analisado e o contexto no qual ele pode ser verificado. Ainda segundo Yin (2005), os pesquisadores podem optar pela realização de estudos de casos únicos ou múltiplos. A opção por casos múltiplos fornece mais robustez ao estudo e suas evidências são consideradas mais convincentes. Além disso, tais casos devem prever resultados semelhantes entre si – uma replicação literal – ou produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis – uma replicação teórica (YIN, 2005). No presente estudo, por se buscar fazer uma replicação literal e uma análise comparativa, foi feita a opção pela realização de estudo de casos múltiplos.

A escolha pelo setor de artesanato foi orientada pelo crescimento que, mais recentemente, pôde ser observado neste setor, tendo o número de notas fiscais expedidas aumentado significativamente. Este também é um importante setor de empregabilidade para mulheres, pessoas de baixa escolaridade e pessoas acima dos 40 anos. Além disso, o Rio Grande do Sul possui o maior número de empreendimentos solidários do Brasil, mostrando o forte envolvimento do Estado com a Economia Solidária, que é equivalente à Economia Social do Canadá. Já o setor de artesanato, envolve aproximadamente 70% dos empreendimentos das áreas urbanas do RS.

Para se escolherem as organizações objetos deste estudo, foram realizadas entrevistas exploratórias com três profissionais envolvidas com organizações de Economia Solidária, no setor de artesanato do RS: Coordenadora do Programa de Artesanato da EMATER/ASCAR a nível estadual; Coordenadora do Programa de Artesanato do SEBRAE/RS; Coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança de Economia Solidária. O principal critério para a seleção dos casos foi a transformação social gerada pelos empreendimentos, visto que as inovações sociais analisadas pelo CRISES objetivam, principalmente, este tipo de transformação.

Empreendimento Ano de

Formação Nº. de

Artesãos Matérias-primas

utilizadas Entrevistado (a): cargo e instituição

Cooperativa Lã Pura

2005 39 Lã ovina e tecidos.

Presidente da Cooperativa Tesoureira da Cooperativa Extensionista da EMATER Ex-gerente de Projetos do SEBRAE

COOPARIGS 1980 90 Palha de trigo, palha de milho, lã ovina, couro bovino, vime e vidro.

Presidente da Cooperativa Ex-presidente da Cooperativa Ex-coordenadora do Programa de Artesanato do SEBRAE

Grupo Novo Horizonte

1999 08 Fios, fitas, botões e

pedras.

Integrante 01 Integrante 02 Integrante 03 Coordenadora do Projeto Esperança

Grupo Misturando Arte

2005 10

Camisetas, banners, sacos plásticos já utilizados e lixo

hospitalar.

Integrante 01 Integrante 02 Assistente de Projetos Sociais da AVESOL Repres. do Fórum Gaúcho de Econ. Solidária

Associação dos Artesãos de Vila

Flores 2002 45

Palha de milho, palha de trigo, tecidos e fios.

Presidente da Associação Extensionista da Emater Dirigente da Secretaria de Turismo

Associação Tecelagem Lavrense

1992 32 Lã ovina. Presidente da Associação Extensionista da Emater Assistencionista Regional da Emater

Quadro 02 – Empreendimento, ano de formação, número de artesãos, matérias-primas utilizadas e entrevistado(a).

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As seis organizações de Economia Solidária de artesanato indicadas foram: 1) Cooperativa Lã Pura; 2) Cooperativa dos Artesãos do RS (COOPARIGS); 3) Grupo Novo Horizonte; 4) Grupo Misturando Arte; 5) Associação dos Artesãos de Vila Flores (AAVIF); e 6) Associação Tecelagem Lavrense. A coleta de dados nesses empreendimentos foi feita por meio de 22 entrevistas semi-estruturadas, possuindo um certo grau de estruturação (GIL, 2008), as quais ocorreram nos meses de outubro e novembro de 2010. As entrevistas foram realizadas nas cidades dos empreendimentos, sendo elas: São Borja, Porto Alegre, Santa Maria, Vila Flores e Lavras do Sul. Na cidade de Porto Alegre localizam-se dois dos empreendimentos pesquisados: COOPARIGS e Misturando Arte. Estas entrevistas foram gravadas com recursos de áudio, e foram inteiramente transcritas, com uma média de tempo 46 minutos cada. Algumas características dos empreendimentos e dos entrevistados estão dispostas no Quadro 02. A pesquisa também utilizou fontes de dados secundários (websites e documentos).

A análise dos dados foi feita à luz das abordagens teóricas contempladas na revisão de literatura deste artigo. As categorias norteadoras da análise foram as dimensões de inovação social postuladas por Tardif e Harrisson (2005): tranformações, caráter inovador, inovação, atores e processo. Cada dimensão foi analisada de acordo com os elementos que a compõe, sendo acrescida, na Dimensão Atores, a classificação de Rollin e Vicent (2007). Por fim, realizou-se uma análise comparativa entre os casos pesquisados. 4 Apresentação e Análise dos Resultados A análise dos resultados será apresentada de acordo com as dimensões de inovação social destacadas por Tardif e Harrisson (2005). Em cada uma dessas dimensões serão destacados os aspectos mais relevantes da formação dos empreendimentos coletivos de artesanato pesquisados. 4.1 Dimensão Transformações

A Dimensão Transformações é analisada por meio do contexto, estruturas econômicas e estruturas sociais (TARDIF; HARRISSON, 2005). Apenas duas cooperativas apresentaram esses três elementos de análise, e uma das razões para tal constatação é que os indivíduos envolvidos não haviam desenvolvido soluções anteriores para determinada problemática. Na cidade de São Borja – contexto da cooperativa Lã Pura, havia uma descontinuidade na compra de peças artesanais feitas em lã ovina, o que levou à adaptação na forma de venda de artesanato, passando a ser realizada por meio de feiras. Isso acarretou a adoção de novas práticas por parte dos artesãos do município, e o estabelecimento de novas relações sociais com outros artesãos da cidade. Já no caso da COOPARIGS, no contexto da Ilha Grande dos Marinheiros, houve uma descontinuidade na produção de ovinos no local, impactando a quantidade de matéria-prima disponível. Essa dificuldade motivou a busca por adaptações (empregos nos grandes centros) através de novas práticas de trabalho, o que gerou mudanças nas relações sociais dos moradores de tal ilha.

Tanto os contextos das duas cooperativas citadas (Lã Pura e COOPARIGS) quanto os outros quatro casos analisados continuaram a enfrentar situações problemáticas. O principal problema enfrentado pelas artesãs da cooperativa Lã Pura referia-se à dificuldade de comercialização das peças feitas em lã. Outros empreendimentos também foram formados a partir de uma problemática que se referia à dificuldade na comercialização de peças artesanais: Grupo Novo Horizonte, Grupo Misturando Arte e Associação Tecelagem Lavrense. Já o contexto da COOPARIGS remete a uma situação desfavorável onde muitas mulheres não sabiam exercer nenhum ofício, agravando ainda mais a situação socioeconômica dos habitantes que lá viviam. O empreendimento AAVIF também teve um contexto de formação diferenciado devido à

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preocupação das autoridades locais com a continuidade do projeto de preservação das técnicas de artesanato do município de Vila Flores que já estava em andamento.

Assim, os contextos problemáticos referiram-se à dificuldade na comercialização de peças artesanais, à continuidade das técnicas artesanais e à preocupação com mulheres que não haviam aprendido qualquer ofício. Ou seja, apenas o empreendimento formado para a preservação da cultura local não estava diretamente envolvido com a problemática de geração de renda. Outros empreendimentos também destacaram uma situação social desfavorável, como sintomas de depressão e baixa autoestima por parte das artesãs envolvidas. De qualquer forma, todos os casos analisados apresentaram uma problemática e uma demanda insatisfeita. E estes são os ambientes propícios para soluções inovadoras, conforme foi destacado por Cloutier (2003). 4.2 Dimensão Caráter Inovador

A Dimensão Caráter Inovador contempla o desenvolvimento de uma solução inovadora que suplantaria a problemática identificada na dimensão Transformações. Em todos os casos analisados, o desenvolvimento de soluções inovadoras diziam respeito à formação de empreendimentos solidários que produziriam peças artesanais para serem comercializadas. Estes empreendimentos ligados à Economia Solidária buscariam contemplar necessidades sociais e econômicas, sendo o seu valor revertido para a coletividade de indivíduos envolvidos. Nos casos da Lã Pura, da AAVIF e da Tecelagem Lavrense, conforme proposto por Tardif e Harrisson (2005), foi feito o estabelecimento de arranjos institucionais para a implantação das soluções inovadoras. A Lã Pura, por exemplo, teve um arranjo formado por um acordo entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o SEBRAE e a EMATER da cidade. Todos os acordos visavam a cooperação para o melhor desenvolvimento das atividades dos empreendimentos coletivos. Já os outros casos analisados – COOPARIGS; Novo Horizonte; e Misturando Arte – não apresentaram a formação de arranjos institucionais no início de suas atividades.

As soluções criadas passaram por pelo menos uma etapa de tentativa e experimento, conforme descrito por Tardif e Harrisson (2005). As “tentativas” referiram-se aos encontros feitos para a formação dos empreendimentos. Nestes encontros, foi discutida a atuação no coletivo, e também foram apresentados o ensino de técnicas (na COOPARIGS), o desenvolvimento de coleções de artesanato (na Lã Pura) e a qualificação do artesanato já existente (na Tecelagem Lavrense). A fase de experimento, nos casos analisados, referiu-se ao início da realização das atividades de forma coletiva. Entretanto, a fase de tentativa e de experimento teve uma duração diferenciada em cada caso pesquisado. Alguns empreendimentos permaneceram diversos anos nessa fase, como foi o caso da COOPARIGS e da Tecelagem Lavrense, enquanto que outros conseguiram se desenvolver de forma mais rápida. Ainda, as políticas públicas apresentaram um importante papel na criação e no desenvolvimento da Lã Pura, da AAVIF, da Tecelagem Lavrense pelo fato de serem empreendimentos que foram induzidos por atores da esfera pública, ou seja, a influência das políticas públicas ocorreu desde a formação desses empreendimentos. Os outros empreendimentos pesquisados beneficiaram-se de incentivos ou de políticas públicas durante o seu processo de desenvolvimento.

Uma solução torna-se institucionalizada, em um dado contexto, quando passa a ser vista como exemplo ou modelo a ser seguida por outras organizações ou instituições. Nos casos analisados, esta etapa, basicamente, referiu-se ao término da fase de tentativa e de experimento, passando para o início da fase de modelo. A institucionalização dos empreendimentos ocorreu, principalmente, perante os grupos de artesanato com os quais eles interagiam. A Lã Pura, por exemplo, foi sendo reconhecida como legitimada ou institucionalizada frente às demais

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cooperativas de artesanato que fazem parte do projeto Talentos do Brasil do Ministério do Desenvolvimento Agrário, visto que foi este projeto deu origem à própria cooperativa.

Os empreendimentos de artesanato tornaram-se, então, modelos de desenvolvimento emergente, nos termos de Tardif e Harrisson (2005). Estes modelos originalmente referem-se às iniciativas de Economia Social da província de Quebec, no Canadá. Porém, todos os casos pesquisados no Rio Grande do Sul também apresentaram a disseminação do modelo de organização, ou seja, da forma autogestionária de atuar coletivamente. Além da disseminação desta forma de atuar, alguns grupos destacaram-se por seus produtos inovadores ou por seus processos produtivos. E, assim como foi descrita a variabilidade de tempo da fase de tentativa e experimento, a fase de modelo também evidenciou diferenças entre os seus períodos de tempo para os empreendimentos pesquisados, justamente por esta fase ser uma decorrência da primeira. 4.3 Dimensão Inovação

A Dimensão Inovação, nos casos que foram pesquisados neste estudo, apresentou similaridade em grande parte de seus elementos de análise. Estes elementos referiram-se ao tipo de inovação desenvolvida, à sua escala e à sua finalidade. Em todos os casos, o tipo de solução desenvolvido referiu-se à inovação do tipo social, ou seja, a uma inovação que reuniu atores sociais (e também outros atores) para a criação para o desenvolvimento de uma solução que atendesse às necessidades dos envolvidos. Essas inovações não atenderam à lógica de competição do mercado, diferenciando-se, também, de tipos de inovação apontados pelo CRISES (técnica, sociotécnica, organizacional e institucional), pois não foram desenvolvidas dentro de uma organização e não abarcaram um contexto mais amplo, como nas inovações sociais institucionais.

Tardif e Harrisson (2005) afirmam que as inovações sociais pesquisadas pelo CRISES referem-se a soluções mais específicas a um local ou território. A escala das inovações sociais analisadas também mostrou o seu caráter local ou localizado em um dado município ou bairro gaúcho. Entretanto, apenas a COOPARIGS, que foi inicialmente formada por moradores da Ilha Grande dos Marinheiros, expandiu sua atuação para o interior do Estado, principalmente a partir de 1989, o que não ocorreu com os outros empreendimentos pesquisados.

A finalidade das inovações sociais desenvolvidas visava, na maioria dos casos, possibilitar uma geração (ou complementação) de renda e de trabalho. Com este intuito, os empreendimentos coletivos formados buscavam contemplar as necessidades dos atores envolvidos e o bem comum. Tardif e Harrisson (2005), quando desenvolveram seu estudo, analisaram diversas inovações sociais, sendo que algumas delas envolviam a elaboração de soluções que necessitavam da negociação, como por exemplo, entre sindicatos, empresas e Estado. Por esta razão, estes autores apontam a importância de se ter um consenso e um acordo comum. Nos casos analisados, os atores envolvidos com os artesãos ou moradores buscaram contribuir para a formação dos empreendimentos, não havendo a manifestação de diferentes interesses, podendo ser evidenciado o alcance das necessidades da coletividade. 4.4 Dimensão Atores

Na dimensão Atores são analisados os participantes do processo de criação e de implementação de uma inovação social (TARDIF; HARRISSON, 2005). A análise dos casos evidenciou diferentes atores envolvidos na formação dos empreendimentos pesquisados. Como as soluções desenvolvidas buscavam atender as necessidades dos moradores de um dado local, atores da sociedade civil, nos termos de Tardif e Harrisson (2005), se fizeram presentes em todos os casos. Estes atores foram também os usuários das inovações sociais estudadas.

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Os casos pesquisados apresentaram diferentes atores que podem ser denominados “titulares da ideia”, conforme a classificação de Rollin e Vicent (2007). Os grupos de artesanato analisados – o Novo Horizonte e o Misturando Arte – foram idealizados pelos próprios atores da sociedade civil, sendo estes titulares da ideia de inovação e também seus usuários. Já os empreendimentos Lã Pura e AAVIF foram promovidos por esforços de atores híbridos, nos termos de Tardif e Harrisson (2005). O ator híbrido que atuou na fundação da Lã Pura foi composto por três atores representantes do Estado: Ministério do Desenvolvimento Agrário, EMATER e SEBRAE. No caso da AAVIF, o ator híbrido foi formado pela associação Atuaserra e também pela Secretaria de Turismo do município de Vila Flores. O caso da COOPARIGS foi idealizado pela líder da SADI, que é um ator de movimento comunitário, enquanto que a Tecelagem Lavrense foi estabelecida pela EMATER de Lavras do Sul. Assim, constata-se que, dos seis casos pesquisados, quatro foram induzidos por entidades ou organizações.

Os atores apoiadores das inovações sociais, que é outra classificação de Rollin e Vicent (2007), também foram identificados em todos os casos analisados. Uma diversidade de atores apoiadores foi evidenciada no decorrer das atividades dos empreendimentos pesquisados: atores representantes do Estado, empresas, ONGs e movimentos. Os atores apoiadores, nos empreendimentos que foram induzidos – Lã Pura, COOPARIGS, AAVIF e Tecelagem Lavrense, são basicamente atores representantes do Estado. O apoio é dado principalmente em termos de qualificação e formação de equipe para que os empreendimentos consigam ser independentes, podendo, assim, atingir suas finalidades de geração de renda e trabalho. Os empreendimentos não induzidos – os grupos Novo Horizonte e Misturando Arte – foram apoiados principalmente pelo movimento de Economia Solidária e pelos próprios empreendimentos que compõem este movimento. Esse apoio refere-se às trocas de conhecimento e de informação entre os empreendimentos e à legitimação oferecida pelos referidos movimentos.

Rollin e Vicent (2007) também destacam que o processo de desenvolvimento de inovações sociais geralmente conta com atores financiadores. Nos casos pesquisados, muitos dos atores representantes do Estado, os quais, por um lado, são apoiadores, por outro, também são financiadores. Apenas a Lã Pura e a Tecelagem Lavrense apresentaram atores que podem ser classificados exclusivamente como financiadores (empresas). Os atores financiadores auxiliam os empreendimentos com recursos econômicos para a participação em feiras ou em cursos. 4.5 Dimensão Processo

O processo de formação das inovações sociais é analisado por meio dos elementos “modo de coordenação”, “meios” e “restrições” (TARDIF; HARRISSON, 2005). O modo de coordenação diz respeito ao envolvimento dos atores no processo de desenvolvimento de uma inovação social. Nos casos analisados, a mobilização dos atores se fez presente no início do processo de formação dos empreendimentos, sendo esta feita pelos atores titulares da ideia de cada inovação social. A participação dos atores também esteve presente em todos os casos pesquisados e dependeu, principalmente, dos papéis exercidos pelos atores neste processo. Nos casos que foram estabelecidos por organizações ou entidades (Lã Pura, COOPARIGS, AAVIF e Tecelagem Lavrense), a participação não foi somente dos artesãos ou dos moradores de um determinado local, mas também dos atores indutores, como por exemplo, o SEBRAE e a EMATER, no caso da Lã Pura. Já nos grupos Misturando Arte e Novo Horizonte, a participação foi feita, principalmente, pelos artesãos diretamente envolvidos no empreendimento. A participação dos atores é uma constante no processo de formação das inovações sociais pesquisadas, visto que são empreendimentos autogeridos.

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As inovações sociais, como requerem a participação dos atores, geralmente resultam em um processo de aprendizagem (CLOUTIER, 2003). Nos casos analisados, a aprendizagem foi destacada durante todas as fases de desenvolvimento dos empreendimentos pesquisados. Essa aprendizagem deu-se tanto em termos de atuação no coletivo quanto em questões mais relacionadas aos produtos, como por exemplo, envolvendo o aprimoramento de técnicas. Destaca-se, ainda, o aprendizado gerado pela troca de experiências entre os empreendimentos participantes do movimento da Economia Solidária (Novo Horizonte e Misturando Arte), que estabelecem relacionamentos interorganizacionais com vistas a trocas de experiências.

Restrições ao processo de desenvolvimento das inovações sociais foram evidenciadas nos seis empreendimentos pesquisados. Em todos os casos, as diferentes dificuldades enfrentadas pelos emprendimentos geraram incerteza e tensão nos artesãos. No caso da Lã Pura, essas restrições referiram-se aos problemas de gestão com um vendedor, ao restrito capital de giro para compra de matérias-primas ou de equipamentos e à dependência do empreendimento em relação a seus parceiros. A COOPARIGS enfrentou a dificuldade de comercialização de peças de lã ovina. Já o grupo Novo Horizonte também apresentou incerteza quanto à insuficiência de vendas. O grupo Misturando Arte, por sua vez, evidenciou a geração de incerteza e tensão pela desistência de muitos dos artesãos filiados ao grupo, e apenas incerteza por ter seu foco na militância do movimento de Economia Solidária, não havendo uma maior preocupação com a sustentabilidade do empreendimento. Na AAVIF houve uma dependência em relação aos seus parceiros que contribuiu para a incerteza na continuidade da associação. O último caso também apresentou essa dependência, e os conflitos internos mais recentes geraram tensão no grupo.

Destaca-se, ainda, que três dos empreendimentos estudados apresentaram dificuldades com relação ao pequeno nível de compromisso assumido pelos artesãos, o que é uma das restrições apontadas por Tardif e Harrisson (2005). Na Lã Pura, as artesãs, principalmente as da zona rural, não se mostram participativas nos processos de tomada de decisão. Já na COOPARIGS, porque seus cooperados moram em diferentes municípios do Estado, são enfrentadas dificuldades maiores para se reunir os artesãos e para fazer com que eles se interessem pela gestão do empreendimento. Na AAVIF, a restrição de participação deve-se, de acordo com as entrevistadas, aos diferentes públicos compreendidos no empreendimento. Desta forma, mesmo que as soluções inovadoras envolvam a participação dos atores usuários, alguns empreendimentos apresentam dificuldades em reter tais participantes. Por outro lado, destaca-se que os grupos de Economia Solidária pesquisados – Novo Horizonte e Misturando Arte – não apresentaram dificuldades quanto à participação dos integrantes.

A restrição “complexidade” foi identificada nos casos da Lã Pura, da COOPARIGS, da AAVIF e da Tecelagem Lavrense. Esta restrição referiu-se principalmente às dificuldades de atuação no coletivo, que estão relacionadas ao compromisso dos associados e ao espírito empreendedor dos artesãos. Outra restrição identificada nos empreendimentos diz respeito à resistência de alguns dos artesãos vinculados às iniciativas, como pela falta de comprometimento dos artesãos para a entrega dos produtos no prazo combinado com os clientes ou pela possibilidade de perda dos benefícios de aposentaria. Apenas a associação Tecelagem Lavrense destacou a rigidez institucional como uma dificuldade, por conta da necessidade de que existam mais políticas públicas, as quais possam incentivar o seu projeto de artesanato.

Para que o processo de uma inovação social seja bem-sucedido, as restrições identificadas devem ser avaliadas a fim de que possam ser suplantadas (TARDIF; HARRISSON, 2005; MULGAN, 2006). A avaliação de restrições foi evidenciada em dois dos casos pesquisados: o da Lã Pura e o do grupo Novo Horizonte. Na Lã Pura, foi feita a avaliação da restrição enfrentada

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quanto ao vendedor, o que possibilitou que a cooperativa retomasse suas atividades. Já no grupo Novo Horizonte, o grupo avaliou a resistência de alguns de seus artesãos em relação à concorrência de seus produtos, e resolveu este conflito interno, suplantando tal restrição.

Na dimensão Processo também são analisados os meios pelos quais ocorre o processo de desenvolvimento das inovações sociais (TARDIF; HARRISSON, 2005). Em todos os casos pesquisados, os meios que se destacaram foram a integração, a parceria e a difusão das inovações sociais. Na fase de tentativa e experimento, os empreendimentos realizaram a integração entre os atores envolvidos, e também a parceria com organizações ou instituições. Já na fase de modelo de desenvolvimento emergente, os meios que mais se destacaram foram os da parceria e da difusão das inovações sociais. O empoderamento foi destacado nos casos da COOPARIGS e da Tecelagem Lavrense, quando alguns artesãos foram capacitados e conseguiram abrir seus próprios negócios. A COOPARIGS passou, ainda, por uma fase de negociação, com o SEBRAE, da marca Mão Gaúcha. Destaca-se também que os grupos Novo Horizonte e Misturando Arte, mesmo em sua fase de desenvolvimento emergente, tiveram uma integração com os empreendimentos, principalmente entre os ligados à Economia Solidária.

A Figura 02 apresenta os principais elementos das dimensões de inovação social identificados nos casos pesquisados. No retângulo azul tem-se o contexto de transformações, enquanto que os retângulos roxos mostram os atores envolvidos. Já no retângulo rosa apresenta a fase de tentativas e experimentos e os elementos de processo identificados, e o retângulo verde mostra fase modelo de desenvolvimento emergente, assim como os elementos de processo que a compõem.

Figura 02 – A formação de empreendimentos coletivos de acordo com os principais aspectos das dimensões de

inovação social. Após a apresentação dos resultados do estudo, a próxima seção contempla as considerações finais deste artigo.

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5 Considerações Finais O objetivo do presente artigo era o de avaliar em que medida as dimensões de análise de inovações sociais relacionam-se com o surgimento de empreendimentos coletivos no setor de artesanato. Para isso, foi realizado um estudo de casos múltiplos. Constatou-se que a maior parte dos elementos das dimensões de inovação social propostas principalmente por Tardif e Harrisson (2005) e Rollin e Vicent (2007) foram identificadas nos casos pesquisados. De forma geral, os empreendimentos analisados foram criados e desenvolvidos de acordo com diferentes processos que envolveram diversos atores interessados, os quais desempenharam diferentes papéis ao longo desses processos.

Os empreendimentos pesquisados foram desenvolvidos a partir de contextos problemáticos, passaram por fases de tentativa e de experimento, as quais foram institucionalizadas, e tais empreendimentos se tornaram modelos de desenvolvimento emergente. Estes empreendimentos também contemplaram a necessidade da coletividade e o bem comum. Diversos atores foram identificados na formação destes empreendimentos, sendo que todos contaram com atores titulares da ideia, financiadores, apoiadores e usuários. A mobilização e a participação dos atores também foram representativas, bem como a aprendizagem gerada pelo processo de desenvolvimento das inovações sociais pesquisadas. Este processo envolveu restrições que geraram incerteza e tensão nos artesãos. Ainda, o processo foi feito por meio da integração e da parceria entre os atores, e ocorreu a difusão das soluções desenvolvidas para outros contextos.

Assim, as dimensões de análise de inovações sociais de Tardif e Harrisson (2005) podem ser consideradas adequadas para a compreensão da formação de empreendimentos coletivos do setor de artesanato, visto que elas permitem identificar os principais elementos de soluções desenvolvidas com um número considerável de atores. As inovações sociais pesquisadas buscaram atender às necessidades principalmente de geração de renda e trabalho e, em alguns casos, também sociais dos indivíduos envolvidos. Este estudo possibilita, então, o entendimento de como soluções sociais são construídas coletivamente, podendo ser utilizado para a geração de outras inovações sociais ou para melhoria das já existentes. Destaca-se, ainda, que os empreendimentos formados por políticas públicas apresentaram baixos níveis de participação e alto níveis de dependência em relação a seus parceiros. Dessa forma, cabe, especialmente aos coordenadores dessas propostas, o desenvolvimento de medidas para suplantar essa dificuldade. Estudos futuros podem aprofundar os processos de aprendizagem entre os atores envolvidos no processo de desenvolvimento de inovações sociais, assim como as características de governança necessária para o melhor gerenciamento desse processo. Por fim, sugerem-se estudos com a totalidade de integrantes de um determinado empreendimento coletivo para que os elementos analisados sejam ainda mais aprofundados. Referências ANDREW, C.; KLEIN, J. L. Social innovation: what is it and why is it important to understand it better. In: CRISES. Centre de Recherche Sur Les Innovations Sociales Cahiers du CRISES. Québec, 2010. BOUCHER, J. L. Transformations sociales et orientation de la société. In: BOUCHER, J. L.; FOTEV, G.; KOLEVA, S. (Orgs.). Mutations de société et quête de sens: une rencontre entre des sociologues bulgares et québécois. Sofia: Éditions LIK, 2001. p. 19-44. CLOUTIER, J. Qu’est-ce que l’innovation sociale? In: CRISES. Centre de Recherche Sur Les Innovations Sociales Cahiers du CRISES. Québec, 2003.

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