Direitos Humanos e o Serviço Social

download Direitos Humanos e o Serviço Social

of 6

description

Direitos Humanos e o Serviço Social

Transcript of Direitos Humanos e o Serviço Social

  • DIREITOS HUMANOS E O SERVIO SOCIAL

    Edite Magri Adriana Batista de Oliveira

    Lucas Haygert Pantaleo Vanessa Fiorini.

    RESUMO

    O presente artigo prope uma discusso a cerca da constituio histrica dos Direitos Humanos, em conjunto com o Cdigo de tica e o papel do Servio Social na garantia destes direitos. Entendendo a premissa de que os Direitos Humanos e as liberdades so indissociveis e que a plena realizao destes depende tambm da plena realizao dos direitos econmicos, polticos, culturais e sociais. Palavras chave: Direitos Humanos, Cdigo de tica e Servio Social.

    ABSTRACT

    This paper proposes a discussion about the historical constitution of Human Rights, together with the Code of Ethics and the Role of Social Service in ensuring these rights. Understanding the premise that human rights and freedoms are indivisible and that the full realization of these also depends on the full realization of economic, political, cultural and social. Keywords: Human Rights, Code of Ethics and Social Services.

  • 1. INTRODUO

    O Servio Social norteado pelos Direitos Humanos e uma das mudanas feitas no Cdigo de

    tica de 1993, foi incorporao dos onze princpios fundamentais. O objetivo do deste artigo

    elaborar uma discusso sobre o segundo principio deste cdigo enunciado como: Defesa intransigente

    dos direitos humanos e recusa do arbtrio e do autoritarismo. Mas compreendemos que os demais

    princpios do cdigo esto diretamente interligados, e trabalham em uma lgica de garantir a efetividade

    de um projeto amplamente comprometido com a construo de uma nova ordem societria.

    A direo social do projeto tico-poltico profissional supe o amadurecimento terico-crtico em relao aos limites da luta pelos direitos humanos, a partir de sua possibilidade real na sociedade em que vivemos, tendo-a como uma ferramenta estratgica complementar na construo de uma nova ordem. (CFESS, 2005/2008)

    Os direitos humanos assim como os direitos sociais, acabam ficando em segundo plano, visto

    que os direitos polticos e civis viabilizam a sociedade burguesa, pois vivemos em uma sociedade onde

    o direito a propriedade s concedido a uma pequena parcela da humanidade, o que contraria a lgica

    da universalidade e justia social, prevista pela declarao dos direitos humanos.

    As lutas pela garantia dos direitos humanos so construes histricas e se constituem de

    diversos avanos, no que concerne a mentalidade da sociedade apesar de encontrarem barreiras nesse

    pensamento que muitas vezes parecem intransponveis.

    Trabalharemos neste artigo, a constituio histrica dos direitos humanos, em conjunto com o

    Cdigo de tica e o papel do Servio Social na garantia destes direitos.

    2. DIREITOS HUMANOS NA MODERNIDADE

    A histria dos direitos humanos est divida em duas etapas: no antes e depois da segunda

    guerra mundial, esta que marca essa diviso por representar um perodo em que o mundo presenciou e

    vivenciou momentos de terror e de violao dos direitos principalmente do direito a vida e a liberdade.

    A concepo moderna dos direitos humanos baseia nos princpios da universalidade, do direito

    natural a vida liberdade e ao pensamento. Mas temos que considerar que somos herdeiros de uma

    concepo de direitos humanos que tem por essncia a perspectiva liberal, que baseia-se nos direitos

    humanos civis, como os de propriedade e a sustentabilidade poltica e ideolgica da sociedade

    capitalista. Conceito que aprofunda o antagonismo, com as concepes atuais, porque apresenta em

    seu teor que alguns direitos so mais importantes que outros, sustentando uma hierarquia dos direitos

    polticos e civis em relao aos direitos sociais.

    As declaraes dos direitos humanos alm de assinalarem situaes histricas e traumticas, de

    servirem para preservar a humanidade da violncia (Barroco, 2008), e de buscarem a transformao,

  • assinalam uma busca de um consentimento social e poltico de direitos que no so reconhecidos por

    todos.

    Avanos significativos ocorreram no processo histrico de construo dos direitos humanos, e

    conforme assinala Barroco, esse avano se d no momento em que os direitos humanos passam para o

    mbito da prxis dirigida a emancipao, ou seja, incorporaram-se nessa prxis os princpios e valores

    da racionalidade, liberdade, universalidade, tica, justia e da poltica, alm de incorporar as conquistas

    ao longo do desenvolvimento histrico da humanidade.

    A luta pela garantia dos direitos humanos proveniente das lutas de classes, da presso

    popular, da militncia, das pessoas oprimidas e reprimidas, exploradas e subalternizadas, resultado

    da defesa intransigente dos direitos, da emancipao poltica e humana, alm de contriburem para que

    a reproduo ampliada das desigualdades sociais seja denunciada e desnaturalizada pela sociedade.

    As lutas ampliam e afirmam o reconhecimento e universalizao dos direitos, mobilizam e conformam

    polticas.

    Compreendemos que mudanas aconteceram, mas reconhecemos que os direitos humanos so

    resultados das contraditrias relaes sociais, e que no so construdos todos ao mesmo tempo e sem

    passarem pelo processo de avanos e retrocessos no curso da histria, ou seja, preciso entender que

    na sociedade moderna se expressam nos diversos segmentos as contradies inerentes ao prprio

    sistema econmico: o capitalismo. E observa-se que ainda existe um descompasso com a realidade

    quando se discute os direitos humanos, no mbito do fenmeno da globalizao que se gesta no

    mundo. Maria Lucia Barroco sintetiza essas contradies nos princpios dos direitos humanos, e

    elaboramos uma tabela de avanos e limites conforme segue:

    Quadro 1 Alguns avanos e limites

    Avanos Limites

    Os direitos humanos:

    1 - Supem universalidade Esbarram em limites estruturais do capitalismo.

    2 - Supem a democracia e a cidadania.

    Esbarram em limites reais: econmicos e scio-

    polticos.

    3 - Supem propriedade como direito natural

    e o Estado e as leis como universais.

    Evidenciam a contradio do discurso abstrato da

    universalidade e a defesa de interesses privados.

    a partir dessa lgica que se realiza a contradio entre os direitos humanos e o capitalismo,

    onde se gesta um quadro de consequncias que afetam uma grande parcela da sociedade, pois dessa

    contradio amplia-se o abismo entre a riqueza e a pobreza, entre a liberdade e a desigualdade, a

    misria de milhares de pessoas em detrimento da riqueza de uma minoria. O Estado passa a diminuir

    os gastos sociais, com os servios e programas pblicos como sade, habitao, educao,

    previdncia, etc.

  • 3. DIREITOS HUMANOS E O SERVIO SOCIAL

    dentro dessas contradies e antagonismos que o Cdigo de tica do Servio Social abraa

    essa causa entendendo que a garantia dos direitos humanos so essenciais sobrevivncia de grande

    parte de nossa populao.

    Na formulao do Cdigo de 1993, a incorporao desse segundo princpio, surge diante do

    quadro que se gestava no Brasil, de uma total crueldade, e do posicionamento dos assistentes sociais

    diante desse quadro considerando os valores ticos, contra todo tipo de abuso de autoridades, torturas

    e violncias.

    Perante esse quadro de crise social e tica, onde sobressai a imoralidade consentida e incentivada para alguns, delineia-se o retrato mesquinho de uma nao cuja elite apodreceu e arrasta tudo e todos para dilemas srdidos: a bolsa ou a vida, ou sem bolsa nada de vida. Ainda segundo Jurandir Freire Costa, quem pode prever [numa realidade destas] o que se torna necessrio para defender o valor da vida?. (pg. 184)

    No h como negar que a violao dos direitos humanos se faz presente na sociedade

    brasileira, onde o senso comum atua de forma legitimadora da ideologia dominante, que acaba por

    naturalizar a violao dos direitos humanos, e por maquiar a negligencia do Estado. Importante lembrar

    que somos herdeiros de uma cultura scio histrica fruto de um sistema econmico que prioriza as

    questes do capital em detrimento das questes humanas, o que de certa forma explica o senso

    comum, mas no justifica.

    O senso comum importante componente da personificao do modelo de sociedade vigente faz

    com que as pessoas no percebam a influencia que ele exerce no pensamento cotidiano, podemos

    observar que a partir dele que passamos por um tipo de estranhamento a uma realidade comum,

    como por exemplo: uma mulher que tenha preconceito contra outra mulher, um trabalhador que tem

    preconceito contra o outro trabalhador, etc. Mas observa-se essa atuao do senso comum quando

    tratamos da questo dos direitos humanos, pois h uma tendncia a desvalorizar a importncia da luta

    pela garantia desses direitos, alm de criminalizarmos os movimentos sociais nesse sentido.

    Na busca de superar esse modelo justificador da desigualdade, rompendo com o

    comportamento reprodutor do paradigma da desumanizao, o Servio Social ancorado pelo Cdigo de

    tica Profissional que oferece um respaldo no que se refere s atitudes profissionais, vai trabalhar com

    intuito de garantir que esses direitos sejam respeitados, ultrapassando a viso conservadora da

    sociedade diante dessas demandas.

    A atuao do profissional do Servio Social se d de maneira descentralizada, trabalhando nos

    diversos segmentos na busca da consolidao dos diversos direitos que compe os direitos humanos.

    Entretanto esse trabalho necessita ser articulado em quatro etapas: pelos instrumentos polticos,

    administrativos e legais, por mecanismos de proteo social que tem como finalidade viabilizar o acesso

  • aos resultados desses instrumentos, pelos rgos que so os espaos utilizados pelos defensores de

    direitos, e pelas aes que so as praticas sociais implementadas pelos defensores.

    O Servio Social trabalha no mbito das contradies, de extrema importncia que o

    profissional se construa de forma a compreender os mecanismos pelos quais a estrutura social se

    reproduz, o conhecimento dessa dinmica permite ao profissional desmistificar o senso comum,

    somente a partir desse ponto que a interveno poder atingir os objetivos previstos no Projeto tico

    Poltico da profisso, que se coloca no mbito da participao dos sujeitos de direitos, no

    desenvolvimento das lutas sociais para garantia dos direitos humanos. Esse pode ser considerado um

    dos maiores desafios enfrentados pela profisso do Servio Social.

    4. CONSIDERAES FINAIS

    Conclumos que a efetivao dos princpios contidos em nosso Cdigo de tica, remete a uma

    luta continua em favor da democracia e da cidadania, na qual o assistente social tem uma importncia

    fundamental, j que possui uma ao interventiva e investigativa, por isso frisamos a importncia da

    formao acadmica critica, na qual o aluno possa perceber em si a presena do senso comum e a

    partir deste ponto consiga desenvolver seu trabalho de forma a no reproduzi-lo em meio sociedade.

    O Cdigo de tica fornece uma base tica jurdica que tem como finalidade homogeneizar a

    atuao do profissional do Servio Social em todas as ramificaes onde ele est apto a atuar, essa

    penetrao tambm deve ser alcanada no que diz respeito aos direitos humanos uma vez que suas

    diretrizes esto intrinsecamente ligadas ao que se prope no exerccio da profisso.

    Entendemos que existe muito ainda a ser feito para que os Direitos Humanos se efetivem e

    sejam garantidos, estes que compem a pauta diria de nossa profisso, entretanto concordamos que a

    incorporao deste princpio em nosso cdigo j representa um grande avano considerando o pequeno

    espao de tempo em que o Servio Social rompeu com o conservadorismo tradicional da profisso.

    O enorme debate interno que resultou na formulao do atual Cdigo de tica mostra alm de

    tudo o amadurecimento da profisso e um passo enorme nesta direo contra o conservadorismo que a

    permeava desde o inicio, porem a aplicao destes preceitos no cotidiano da profisso se faz

    imprescindvel para que no haja uma dissociao entre a teoria e a prtica.

    REFERNCIAS

    PAIVA, Beatriz A. SALES, Mione A . A nova tica profissional: prxis e princpios. In: Servio Social e tica convite a uma nova prxis. BONETTI, Dilsa. SILVA, Marlise. SALES, Mione. GONELLI, Valria. (orgs). So Paulo: Cortez, 1996. (p.174-208).

    CFESS. Cdigo de tica Profissional do(a) Assistente Social.Braslia, 1993

  • IAMAMOTO, Marilda Villela. Servio Social em tempo de capital fetiche. So Paulo: Cortez, 2008.

    BARROCO, Maria Lucia. O significado scio-histrico dos Direitos Humanos e o Servio Social. CFESS. 2008. Disponvel em: http://www.cfess.org.br/pdf/maria_lucia _ barroco.pdf. Acesso em 15 de junho de 2012.