DISSERTACAO LUIS FLAVIO DA SILVA - CPS – Centro Paula ... · II. Centro Estadual de Educação...
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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA SOUZA
UNIDADE DE PS-GRADUAO, EXTENSO E PESQUISA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO E DESENVOLVIMENTO DA
EDUCAO PROFISSIONAL
LUIS FLAVIO DA SILVA
PARCERIAS EDUCACIONAIS COMO FATOR DE TRANSFERNCIA DE
TECNOLOGIA E CONHECIMENTO ENTRE EMPRESAS E INSTITUIES DE
ENSINO: RELATO DE EXPERINCIA
So Paulo
Junho/2017
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LUIS FLAVIO DA SILVA
PARCERIAS EDUCACIONAIS COMO FATOR DE TRANSFERNCIA DE
TECNOLOGIA E CONHECIMENTO ENTRE EMPRESAS E INSTITUIES DE
ENSINO: RELATO DE EXPERINCIA
Dissertao apresentada como exigncia parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional do Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, no Programa de Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional, sob a orientao da Profa. Dra. Helena Gemignani Peterossi.
So Paulo
Junho/2017
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Silva, Luis Flavio da
S586p Parcerias educacionais como fator de transferncia de
tecnologia e conhecimento entre empresas e instituies de ensino:
relato de experincia / Luis Flavio da Silva. So Paulo : CPS, 2017.
136 f. : il.
Orientadora: Profa. Dra. Helena Gemignani Peterossi
Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento
da Educao Profissional) - Centro Estadual de Educao Tecnolgica
Paula Souza, 2017.
1. Parcerias educacionais. 2. Relato de experincia. 3. Educao
profissional. 4. Transferncia de tecnologia. 5. Transferncia de
conhecimento. I. Peterossi, Helena Gemignani. II. Centro Estadual de
Educao Tecnolgica Paula Souza. III. Ttulo.
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LUIS FLAVIO DA SILVA
PARCERIAS EDUCACIONAIS COMO FATOR DE TRANSFERNCIA DE
TECNOLOGIA E CONHECIMENTO ENTRE EMPRESAS E INSTITUIES DE
ENSINO: RELATO DE EXPERINCIA
Profa. Dra. Helena Gemignani Peterossi
Prof. Dr. Nome do Professor Convidado
Prof. Dr. Nome do Professor Convidado
So Paulo, 20 de junho de 2017
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Ao meu pai Luiz Christovo (in memorian),
a minha me Natalina, a minha esposa
Simone e ao meu filho Gustavo.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a todos que de forma direta ou indireta contriburam para a realizao desta
dissertao. De forma especial:
Professora Helena G. Peterossi, pessoa fsica, minha orientadora;
Professora Helena G. Peterossi, pessoa jurdica;
Assessora de Ps-Graduao do Centro Paula Souza;
aos professores da Unidade de Ps-Graduao do Centro Paula Souza: Celi, Darlarn,
Giordano, Ivanete, Marilia, Duduchi, Sergio;
a todos funcionrios da Unidade de Ps-Graduao e aos meus colegas do Programa
de Mestrado;
ao Professor Luiz Fernando e a todo pessoal do CETEC/GFAC;
ao meu diretor na IBM Brasil, Claudio Schlesinger - um exemplo que,
verdadeiramente, me apoiou e possibilitou esta minha jornada;
a minha colega Valeria Santana, grande parceira de trabalho;
a Professora Dra. Marcia Ito, por ter me apresentado Ps-Graduao do Centro
Paula Souza;
aos meus colegas do Instituto Eldorado de Campinas;
aos meus colegas da Truckvan;
aos meu irmos e irms da Igreja Metodista Wesleyana em Artur Alvim que
compreenderam as minhas ausncias;
a minha esposa Simone eterna namorada, ao meu filho Gustavo meu orgulho que
suportaram toda esta jornada e aos meus familiares que compreenderam as
ausncias; e
ao Meu Deus, pois sem Ele, nada disso seria possvel.
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Quando um homem no tem nenhuma
fora, se ele se inclinar diante de Deus,
ficar poderoso.
D. L. Moody (1837 - 1899)
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SILVA, L. F. Parcerias educacionais como fator de transferncia de tecnologia e conhecimento entre empresas e instituies de ensino: Relato de experincia. 136 f. Projeto de Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional). Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2017.
RESUMO
Este trabalho apresenta um relato de experincia da parceria educacional entre a IBM
Brasil por meio do programa IBM Academic Initiave1 e a CETEC-GFAC2 do Centro
Paula Souza, que teve como objetivo auxiliar na atualizao dos currculos dos cursos
tcnicos de informtica. Durante quase dois anos, as duas entidades trabalharam na
atualizao dos currculos e no treinamento de professores em novas tecnologias.
Tanto o Centro Paula Souza quanto a IBM consideraram, na ocasio, a parceria um
sucesso. Com 149 professores treinados para serem replicadores, as aes
beneficiariam um grande nmero de professores e contribuiriam para a melhor
adequao dos currculos s necessidades do mercado de trabalho. Passados alguns
anos, entretanto, este estudo procurou analisar como o Centro Paula Souza se
beneficiou da parceria e, se os conhecimentos adquiridos pelos professores
continuam sendo utilizados em sala de aula e laboratrios, assim como se as
ferramentas e metodologias so utilizadas como referncia pelos alunos egressos e
professores em sua atividade profissional.
Palavras-chave: Parcerias Educacionais; Relato de Experincia, Educao
Profissional; Transferncia de Tecnologia; Transferncia de Conhecimento.
1 O IBM Academic Initiative um programa de aprimoramento tcnico e de acesso gratuito com o apoio de ferramentas, softwares IBM, equipamentos, materiais didticos e incentivo a certificaes. direcionado para professores, pesquisadores e membros acadmicos dei Instituies de ensino de nvel mdio e superior e institutos de pesquisa sem fins lucrativos (IBM BRASIL, 2016). 2 CETEC-GFAC: a CETEC a unidade de ensino mdio e tcnico dentro da estrutura organizacional do Centro Paula Souza, o GFAC o Grupo de Formulao e Analise Curriculares tambm conhecido como Laboratrio de Currculos; sua funo a elaborao e reformulao curricular juntamente com professores, especialistas, instituies pblicas e privadas priorizando a formao de parcerias.
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SILVA, L. F. Educational partnerships as a factor for the transfer of technology and knowledge between companies and educational institutions: experience report. 136 f. Dissertations Project (Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional). Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2017.
ABSTRACT
This research work intends to present an experience report about the educational
partnership between IBM Brazil through the IBM Academic Initiative Program and
CETEC-GFAC of Centro Paula Souza, which aimed to assist in updating their technical
IT syllabus courses. For almost two years, the two entities worked on updating the
syllabus and training of teachers in these new technologies. Both Centro Paula Souza
and IBM considered the partnership a success. With 149 teachers trained to be
replicators, the actions benefit many teachers and contributed to the better adaptation
of new curricula to the needs of the labor market. After a few years, however, further
studies should be conducted to verify that knowledge acquired by teachers is being
used in the classroom and the tools and methodologies are being used by students in
the classroom or laboratories, and if the tools and methodologies will be used, as a
reference, by the students graduated in their professional activity.
Keywords: Educational Partnership; Experience Report, Professional Education;
Technology Transfer; Knowledge Transfer.
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Lista de quadros
Quadro 1: As motivaes do setor privado para parcerias .......................... 57 Quadro 2: As motivaes das instituies de ensino para parcerias........... 60 Quadro 3: Mdulo I Qualificao tcnica de nvel mdio de auxiliar de
informtica................................................................................... 79 Quadro 4: Mdulo II Qualificao tcnica de nvel mdio de auxiliar de
programao de computadores................................................... 80 Quadro 5: Mdulo III Habilitao profissional tcnica de nvel mdio de
tcnico em informtica ................................................................ 81 Quadro 6: Mdulo I....................................................................................... 85 Quadro 7: Mdulo II...................................................................................... 86 Quadro 8: Mdulo III..................................................................................... 86
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Lista de tabelas
Tabela 1: Curso e nmero de professores capacitados............................. 83 Tabela 2: Professores capacitados e respondentes dos questionrios...... 90 Tabela 3: Quais eram suas expectativas com relao s capacitaes?... 96 Tabela 4: Como as ferramentas e contedos apresentados durante as
capacitaes que voc participou esto sendo adotados na prtica de sala de aula?..............................................................
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Tabela 5: O que mais representou para voc as capacitaes realizadas na IBM?.......................................................................................
98
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Lista de figuras
Figura 1: Gerenciamento do conhecimento na organizao voltada ao aprendizado.................................................................................. 31
Figura 2: Tringulo de Sbato ..................................................................... 38 Figura 3: As interrelaes no triangulo de Sbato ...................................... 40 Figura 4.1: Modelo estatista........................................................................... 44 Figura 4.2: Modelo laissez-faire.................................................................... 44 Figura 5: Estrutura social da Hlice-Trplice ............................................... 45 Figura 6: Modelo de relacionamento Universidade-Empresa..................... 55 Figura 7: Arcabouo legal para a Lei de Informtica .................................. 63 Figura 8: O Segmento de Hardware ........................................................... 76
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Lista de grficos
Grfico 1: Avaliao geral do curso de Segurana de Rede..................... 89 Grfico 2: Avaliao do conhecimento prvio sobre os temas das
capacitaes .............................................................................. 90 Grfico 3: Avaliao sobre o contedo das capacitaes........................... 91 Grfico 4 Qual sua avaliao sobre o material do curso............................ 91 Grfico 5: Os objetivos das capacitaes foram atingidos.......................... 92 Grfico 6: Avaliao geral das capacitaes............................................... 92 Grfico 7: De quais capacitaes voc participou na IBM?......................... 95 Grfico 8: Voc fez downloads das ferramentas, materiais de estudo e
exerccios de laboratrios disponibilizados pelo Programa IBM Academic Initiative?..................................................................... 98
Grfico 9: Voc tem acessado o Portal do IBM Academic Initiative?..................................................................................... 99
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Lista de abreviaturas e siglas
BRASSCOM Associao Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informao e
Comunicao
CEETEPS Centro Estadual de Educao Tecnolgica de So Paulo
CETEC Coordenao de Ensino Mdio e Tcnico do CEETEPS
CMMI Capability Maturity Model Integration
CNI Confederao Nacional da Indstria
CTR Computing Tabulating Recording Company
DIEESE Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos
EAD Educao Distncia
FIC Formao Inicial e Continuada
FNDCT Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
GFAC Grupo de Formulao e Anlise Curricular
IBM International Business Machines
IDS Intrusion Detection System
IEL Instituto Euvaldo Lodi
MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia, Inovaes e Comunicaes
OECD Organisation for Economic Co-operation and Development
OERI Office of Educational Research and Improvement
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
SEI Secretaria Especial de Informtica
SNI Sistema Nacional de Inovao
SDECTI Secretaria de Desenvolvimento Econmico, Cincia, Tecnologia e
Inovao
SOA Service-Oriented Architecture
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SUMRIO INTRODUO................................................................................................... 16 Captulo 1 TECNOLOGIA, CONHECIMENTO E INFORMAO................ 20 1.1 Economia do conhecimento e do aprendizado................... 27 1.2 Inovao............................................................................ 33 1.3 Interao Governo, Indstria, Instituies de Ensino........ 37 Captulo 2 TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA E PARCERIAS
EDUCACIONAIS........................................................................ 47 Captulo 3 RELATO DE EXPERINCIA DA PARCERIA DA IBM BRASIL
POR MEIO DO PROGRAMA IBM ACADEMIC INITIATIVE E A CETEC/GFAC DO CENTRO PAULA SOUZA............................ 65
3.1 As instituies parceiras ................................................... 65 3.1.1 O Centro Paula Souza............................................ 65 3.1.2 A IBM...................................................................... 68 3.2 O processo de desenvolvimento da parceria..................... 71 3.3 Os novos currculos dos Cursos Tcnicos de Informtica
e a criao do FIC de Mainframe....................................... 84 3.4 Anlise das pesquisas realizadas com professores sobre
as capacitaes realizadas entre 2014 e 2015.................. 88 Captulo 4 PESQUISA COM PROFESSORES E
COORDENADORES: RESULTADOS E DISCUSSES............ 94 4.1 Pesquisa com professores................................................. 94 4.2 Pesquisa com os coordenadores do projeto...................... 100 CONSIDERAES FINAIS.............................................................................. 112 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................. 116 Apndices......................................................................................................... 126 Apndice A Questionrio para os professores capacitados.......................... 127 Apndice B Roteiro de entrevista para os profissionais da IBM.................... 131 Apndice C Roteiro de entrevista para os coordenadores da CETEC.......... 132 Anexos.............................................................................................................. 133 Anexo A Autorizao de uso do termo IBM Anexo B Termo de consentimento livre e esclarecimento
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INTRODUO
Minha histria com capacitao de pessoas comea em 1996, trs meses
depois de ser admitido na IBM Brasil (International Business Machines). Como no
havia em meu departamento pessoas que tivessem conhecimentos avanados em
Windows 95, logo fui envolvido na criao de um curso de capacitao de meus
companheiros de trabalho. Conforme avanava na carreira tcnica dentro da
empresa, o desafio de treinar pessoas sempre esteve presente. Em 2007, alm de
exercer a funo tcnica, recebi a tarefa de identificar e solucionar as carncias e
deficincias tcnicas de todo o time de tcnicos de campo para automao comercial
e bancria da IBM Brasil. Esse trabalho obteve excelentes resultados, consolidando a
imagem de profissional capaz de identificar necessidades tcnicas e de criar as
capacitaes para solucion-las. Neste trabalho de identificao das deficincias e
carncias dos tcnicos, verifiquei que havia problemas que iam alm da capacitao
tcnica. Necessidades no seriam resolvidas apenas com treinamentos, pois estavam
relacionadas formao formal das pessoas. A partir disso, busquei dentro da
empresa uma oportunidade de alm de cumprir o trabalho formal em uma empresa
privada, pudesse tambm beneficiar a sociedade. Foram alguns anos procurando esta
oportunidade, at que, finalmente, em janeiro de 2011, fui transferido para o
Departamento de Parcerias Educacionais da IBM Brasil. Essa unidade de negcio tem
como misso promover a qualificao de profissionais na rea das Tecnologias da
Informao e Comunicao (TIC). Passados seis anos, pude ajudar a criar e a
gerenciar inmeros projetos que atingiram os objetivos formais de negcio da IBM e
que tambm beneficiaram a sociedade, passando desde auxlio na criao de curso
de programao para cegos at de cursos de ps-graduao e criao de laboratrios
de alta tecnologia. Desses quero destacar alguns: o Oficina do Futuro3, um portal de
internet que j capacitou gratuitamente mais de 20 mil pessoas. Essas pessoas foram
capacitadas em ferramentas de softwares consagradas no mercado de tecnologia.
Tenho notcias de que muitos atravs destes treinamentos hoje esto trabalhando. O
Projeto Hackatruck4, um laboratrio mvel que tem cruzado o Brasil levando s
universidades uma capacitao para que os alunos aprendam a criar aplicativos para
3 Disponvel em http://www.oficinadofuturo.com.br/ 4 Disponvel em http://www.hackatruck.com.br/
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celular. O Curso de Especializao em Cincia de Dados5 na Universidade
Presbiteriana Mackenzie de So Paulo que tem como objetivo formar profissionais
aptos para trabalhar em equipes de negcios os futuros CDO Chief Data Officer -
chefe executivo de dados. E, finalmente, o que objeto deste trabalho: a parceria
educacional entre o Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza de So
Paulo e a IBM Brasil atravs do programa IBM Academic Initiative, para a atualizao
dos cursos tcnicos em Tecnologia da Informao.
Para analisar e discutir essa parceria, optamos, metodologicamente, pelo relato
de experincia, que uma variao dentro dos denominados mtodos de estudo de
caso. Nos relatos de experincia no so encontradas interpretaes completas sobre
fatos ou eventos, pois sua finalidade estabelecer uma estrutura para debat-los. O
relato de experincia permite que se possa ter uma perspectiva do mundo real (YIN,
2015, p. 4-11). No h experimentos sobre os fatos ocorridos, pois, a proposta
relatar os eventos.
O estudo conta com a observao do participante pesquisador. Esta
modalidade especial de observao tira o pesquisador de uma posio passiva e
permite que tenha um papel atuante dentro do relato apresentado. A observao
participante d ao pesquisador oportunidades mpares para uma coleta de dados e o
envolve em desafios importantes, na medida em que permite o acesso direto ao
evento ou s pessoas e seus pontos de vista, que, de outro modo, seriam mais difceis
de se captar.
No diferente neste trabalho, uma vez que o que se pretende discutir se o
modelo de parceria educacional analisado atingiu seus objetivos e pode ser replicado
e aplicado em outras situaes.
Como cenrio mais amplo deste relato de experincia, temos a questo da
transferncia de conhecimento e tecnologia entre empresa e instituio de ensino e,
nesse caso especifico, a indagao se o conhecimento e as tecnologias
disponibilizadas pela IBM ao Centro Paula Souza chegaram sala de aula e foram
incorporadas por professores e alunos em suas atividades profissionais na rea da
Tecnologia da Informao.
Buscamos na pesquisa bibliogrfica e na pesquisa documental o suporte
terico para o relato de experincia. Na pesquisa bibliogrfica, a explicao para os
5 Disponvel em < http://up.mackenzie.br/lato-sensu/sao-paulo/tecnologia-da-informacao/ciencia-de-dados-big-data-analytics/>
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conceitos de tecnologia, conhecimento, inovao, transferncia e parcerias. Na
pesquisa documental, realizada entre 2013 e 2015, recuperamos material como atas
de reunio, correspondncias e documentos, bem como propostas de treinamento,
currculos, avaliao das atividades elaboradas pelos profissionais da IBM Brasil e os
professores do Centro Paula Souza envolvidos diretamente no projeto de parceria. Os
dados da avaliao que os participantes fizeram ao trmino das atividades foram
recuperados. Os resultados dessas avaliaes entre 2014 e 2015, onde foram
levantados os ndices de satisfao em termos de desempenho dos treinamentos
realizados para a aquisio de novos conhecimentos e tecnologias, foram objetos de
nova anlise. Para tanto elaboramos questionrios e roteiro de entrevista com
professores e coordenadores do Centro Paula Souza e profissionais da IBM Brasil,
cuja finalidade foi avaliar, depois de dois anos, como o Centro Paula Souza tem-se
beneficiado da parceria.
O tema parcerias educacionais est presente no dia a dia da minha atividade
profissional, no entanto a sua escolha, enquanto objeto deste trabalho de dissertao,
levou a situ-lo a partir de um contexto mais amplo de anlise e reflexo que est
organizado em trs captulos:
O primeiro Tecnologia, conhecimento e inovao procura no s explicar
esses conceitos, como tambm trazer para a discusso o papel das Tecnologias da
Informao e Comunicao TIC. Tais tecnologias ampliaram de uma forma no
prevista h algumas dcadas a velocidade com que novos conhecimentos e
tecnologias so disseminados. Fala-se hoje em uma economia do conhecimento e do
aprendizado, e o papel dos governos, das instituies de ensino e das empresas
ganhou novos matizes e importncia estratgica para desenvolver a sociedade.
Nesse contexto, a constatao da distncia que vai se estabelecendo entre os
avanos do conhecimento e da tecnologia, o saber disponibilizado pelas instituies
de ensino e aquele demandado pela sociedade e, em especial, pelas empresas, leva
indagao se possvel a transferncia de tecnologia entre essas instituies. Tal
fato o foco da investigao do segundo capitulo intitulado Transferncia de
tecnologia e parcerias educacionais ".
Todas essas abordagens subsidiam, no terceiro captulo, a anlise e discusso
de uma experincia vivenciada de parceria educacional entre uma empresa da rea
de servios de tecnologia IBM Brasil e uma instituio de ensino tcnico e
tecnolgico, o Centro Paula Souza.
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A principal questo que norteia todo o trabalho : As parcerias educacionais
seriam o caminho para promover atividades que permitam a transferncia de
conhecimento e tecnologia entre empresas e instituies de ensino de modo a
assegurar a qualificao dos profissionais demandados pelo setor produtivo?
Essa questo parcialmente maximizada quando colocada para o mercado
das TIC e suas necessidades relacionadas formao de profissionais. O mercado
de TIC no Brasil apresenta, nas ltimas dcadas, uma demanda crescente de
recursos humanos (BRASSCOM, 2012; MEIRELES, 2012). Porm, h um dficit
tambm crescente de oferta de profissionais qualificados para atuar nesse mercado
(GUSSO; NASCIMENTO, 2011).
Esperamos assim que o presente trabalho possa contribuir para a temtica e,
pelo relato e anlise da experincia vivenciada, possa identificar alternativas de
solues inovadoras e criativas para a rea do ensino tcnico voltado s TIC.
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1.TECNOLOGIA, CONHECIMENTO E INOVAO
Quando falamos em tecnologia, o senso comum nos leva, na maioria das
vezes, a pensar em smartphones, tablets, internet e outros dispositivos que ligamos
informtica, porm outras realidades devem ser tambm analisadas, uma vez que,
apesar de sua influncia inquestionvel, a internet e outras tecnologias de
comunicao no so as nicas responsveis por todas as mudanas que ocorrem
na sociedade.
Por exemplo as novas metodologias de gesto, novos materiais ou mesmo as
novas formas de trabalho .Tomemos como exemplo os espaos compartilhados de
trabalho, os coworkings6, geralmente destinados s startups7, que no
necessariamente criam aplicativos para celulares ou programas para computadores,
mas tambm trazem consigo metodologias inovadoras de gesto, venda, promoo
do produto e servios, relacionamento de mercado e at estilo de vida diferenciado
destes novos empresrios (CASTELLS, 1999; p. 43).
As inovaes, invenes e novas tecnologias sempre estiveram presentes
durante a existncia humana e, se olharmos para a histria, veremos muitas delas,
desde a descoberta do fogo ao uso da pedra lascada. De muitas temos conhecimento
porque foram adotadas, outras no, e provavelmente existiram aquelas que
simplesmente ficaram em seu tempo sem nenhum registro histrico.
Um exemplo seria a inveno do estribo para cavalos. A partir de sua inveno foram construdas as cavalarias que por sua vez influenciaram as estruturas polticas e sociais do feudalismo. Entretanto ele s um dispositivo material no a causa principal do feudalismo europeu (LVY, 2010, p. 25).
6 Coworking (ou Co-working) um modelo de trabalho que se baseia no compartilhamento de espao e recursos de escritrio, reunindo pessoas que trabalham no necessariamente para a mesma empresa ou na mesma rea de atuao, podendo inclusive reunir entre os seus usurios os profissionais liberais e usurios independentes. uma maneira utilizada por muitos profissionais autnomos para solucionar o problema de isolamento do modelo de trabalho conhecido como home office. Pessoas e empresas usurias de Coworking tambm utilizam este modelo de trabalho para estabelecer relacionamentos de negcios que oferecem e/ou contratam servios mutuamente. Alguns desses relacionamentos tambm visam favorecer o surgimento e amadurecimento de ideias e projetos em grupo. Um servio j ofertado em Escritrios Virtuais e que hoje est mais difundido. As prticas de conduta do Coworking fazem com que este modelo aproxime-se mais ao modelo das cooperativas, onde o foco no est apenas no lucro, mas tambm na sociedade (WIKIPDIA, 2015). 7 O conceito startup pretende designar empresas recm-criadas que se encontram em fase de desenvolvimento e identificao de mercado. Caracterizadas por serem inovadoras e apresentarem risco muito mais elevado que do para empresas convencionais, apesar disso, estas empresas apresentam um custo operacional baixo e possuem condies de escalonamento de negcio (COSTA et al 2015, p. 3).
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O exemplo dado por Lvy (2010) sobre a inveno de um estribo de cavalo
bem didtico. Um dispositivo criado para se colocar os ps durante a montaria foi
aceito dentro da sociedade, afinal facilitava muito cavalgar, por outro lado foi
fundamental na constituio das cavalarias, mas poderia uma pea que no fala, no
emite opinies, no conduz discusses e no lidera, influenciar nas estruturas
polticas e sociais? Claro que no. Como foi dito, seu uso foi aceito dentro sociedade.
A partir desta aceitao e de sua utilizao que ocorreram as mudanas na
sociedade medieval.
Da mesma forma vemos hoje as redes sociais; elas, efetivamente, so somente
linhas de cdigos escritos em determinada linguagem de programao
acondicionadas em equipamentos e dispositivos fsicos que utilizam sinais eltricos
para comunicar e transferir informao por meio digital. Contudo, tanto sua adoo,
quanto sua aceitao pela sociedade tm transformado a maneira como as pessoas
relacionam-se, comunicam-se, locomovem-se, vendem, trabalham, etc.
A tecnologia no determina a sociedade. Nem a sociedade escreve o curso da transformao tecnolgica, uma vez que muitos fatores, inclusive a criatividade e iniciativa empreendedora, intervm no processo da descoberta cientfica, inovao tecnolgica e aplicaes sociais de forma que o resultado final depende de um complexo padro interativo. Na verdade, o dilema do determinismo tecnolgico , provavelmente, um problema infundado, dado que a tecnologia a sociedade e a sociedade no pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnolgicas (CASTELLS, 1999, p. 43).
Sob a influncia desta mesma sociedade, o cdigo fonte tem sido alterado para
se adequar quilo que as pessoas esperam dele. Fala-se de tecnologia o tempo todo,
mas como definir e no confundir com tecnologia da informao e comunicao?
Como tecnologia entendo, [...] o uso de conhecimentos cientficos para especificar as
vias de se fazerem as coisas de maneira reproduzvel" (CASTELLS, 1999, p. 43).
A definio dada por Castells (1999) pode ser exemplificada de vrias
maneiras. Na pr-histria, o homem descobriu o fogo e aprendeu a reproduzi-lo; a
escrita criou os smbolos, e, a partir deles, a comunicao foi transformada,
reproduziu-se conhecimento e assim sucessivamente.
Falando em termos de tecnologia da informao, cria-se um sistema
operacional de computadores, como o Linux8. Ele foi desenvolvido por programadores
8 Sistema operacional gratuito idealizado por Linus Torvalds; a diferena entre este sistema operacional e os outros primeiramente ser gratuito, alm de de ter sido desenvolvido e continuamente atualizado por uma comunidade global de programadores e especialistas em diversas reas da tecnologia da informao baseada na internet. Outro ponto interessante o fato de haver uma regra imutvel em que ele deve ser sempre distribudo livremente.
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e so, basicamente, linhas de cdigo que utilizam as instrues binrias dos
processadores de computadores para executar as tarefas que conhecemos, seja
utilizar uma planilha eletrnica, escrever um texto, ouvir msica, ver ou editar fotos ou
mesmo navegar na internet (CASTELLS, 1999, p. 441 ). Enfim, de que isso adiantaria,
se ele no pudesse ser reproduzido?
Esse sistema operacional para computadores s est disponvel porque
desenvolveu-se uma maneira de torn-lo reproduzvel; especificando um pouco mais
no caso Linux, ele reproduzido e disponibilizado gratuitamente atravs de vrias
comunidades Open Source9 por meio da internet.
Todas as inovaes tecnolgicas provocaram, quando foram aceitas pela
sociedade, grandes transformaes. possvel verificar esses fatos atravs das
Revolues Industriais. A primeira, situada entre o final do sculo XVIII e o incio do
XIX, foi caracterizada por novas tecnologias, como a mquina a vapor, a fiandeira e o
processo de Cort em metalurgia. De forma geral, foram trocadas as ferramentas
manuais e a fora fsica do homem pela energia das mquinas.
A segunda Revoluo Industrial ocorre, aproximadamente, cem anos depois
destacando-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor a combusto, de
produtos qumicos com base cientfica, pela fundio mais eficiente do ao e pelo
incio das tecnologias de comunicao com a difuso do telgrafo e a inveno do
telefone, mas sobretudo a utilizao da eletricidade (CASTELLS, 1999; SCHAFF;
CASTELLS).
Todas as revolues dentro de seus perodos contriburam fortemente para
mudanas na sociedade.
Alguns historiadores insistem que o conhecimento cientfico para a primeira revoluo industrial estava disponvel cem anos antes, entretanto ainda aguardava condies mais maduras e de certa forma a engenhosidade tcnica de inventores [...] capazes de transformar o conhecimento cientfico disponvel, combinado com a experincia artesanal em novas e decisivas tecnologias industriais (CASTELLS, 1999, p. 72).
A analogia com a primeira revoluo industrial est no alto qualitativo operado
no desenvolvimento da tecnologia de produo que acabou de romper a continuidade
dos avanos quantitativos que se acumulavam nas tecnologias j existentes. A
9 Comunidade de programadores e especialistas de tecnologia da informao que se dedicam a criar programas, sistemas operacionais de cdigos fontes livres, abertos e gratuitos.
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diferena, porm, est no fato de que a primeira revoluo conduziu a diversas
facilidades e a um incremento no rendimento humano; a segunda, por suas
consequncias, aspira eliminao total dela. Isto significa, por um lado, a libertao
do homem da maldio divina do Velho Testamento, segundo o qual ele deveria
ganhar o po de cada dia com o suor do rosto10 mas, por outro lado, esta nova
revoluo coloca uma srie de problemas sociais ligados necessidade de se
encontrar uma instituio que possa substituir o trabalho humano tradicional, seja
como fonte de renda que permita o homem satisfazer suas necessidades materiais,
seja como fonte tradicional de sentido da vida, entendido como fundamental para a
satisfao de suas necessidades no materiais, isto , das suas necessidades
espirituais (SCHAFF, 1994, p. 22-23).
Manuel Castells (1999) e Adam Schaff (1994) afirmam que a revoluo
tecnolgica que estamos vivendo, a partir do final do sculo XX, est ligada
engenharia gentica e isto no se deve apenas ao fato de a engenharia gentica
concentrar-se apenas na decodificao, mas tambm na possibilidade da
manipulao e consequente reprogramao dos cdigos de informao da matria
viva. Os autores ainda citam que essa revoluo tambm consistiria em que as
capacidades intelectuais do homem fossem ampliadas por meio da tecnologia. Assim,
tarefas repetitivas de produo e servios poderiam ser substitudas por autmatos.
Isto no uma realidade distante de ns: hoje temos fbricas totalmente operadas
por robs. Para substituir o atendimento em centrais de suporte ao cliente, que em
sua totalidade operado por humanos, j existe uma alternativa para os
procedimentos repetitivos - um sistema de computao cognitiva, como o Watson11,
da IBM. Esse sistema, alm de servir para ampliar a capacidade cognitiva de
profissionais, tambm pode operar tarefas repetitivas, uma vez que por meio dele
pode-se usar a linguagem natural falada e responder as perguntas para a aplicao
em que ele foi configurado (CASTELLS, 1999; SCHAFF, 1994).
No centro desta revoluo tecnolgica, esto as TIC. A tecnologia da
informao para esta revoluo o que as novas fontes de energia foram para as
revolues industriais sucessivas, do motor a vapor eletricidade, aos combustveis
10 ...no suor do teu rosto comers o teu po, at que te tornes terra; porque dela foste tomado; porquanto s p e em p te tornars... Gnesis 3:19 Bblia Sagrada 11 Watson um sistema de computao cognitiva que tem a capacidade de responder perguntas realizadas em linguagem natural. O projeto foi desenvolvido no projeto DeepQA pela equipe liderada por David Ferrucci. O nome Watson uma homenagem ao primeiro presidente da IBM, Thomas J. Watson
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fsseis e at mesmo energia nuclear, visto que a gerao e distribuio de energia
foi o elemento principal na base da sociedade industrial.
O papel central da tecnologia da informao, muitas vezes, pode ser
confundido com a revoluo atual, porm o nosso atual processo de transformao
tecnolgica ocorreu como as demais revolues. A primeira Revoluo Industrial,
mesmo no estando totalmente baseada na cincia, apoiava-se no amplo uso de
informaes, aplicando e desenvolvendo os conhecimentos preexistentes.
A segunda Revoluo Industrial, aps 1850, foi marcada pelo papel decisivo da
cincia, ao promover a inovao. Foi neste perodo que os laboratrios de pesquisa e
desenvolvimento apareceram pela primeira vez na indstria qumica alem nas
ltimas dcadas do sculo XIX (CASTELLS, 1999; SCHAFF, 1994. Diferente das
demais revolues que ocorreram, as que esto ligadas tecnologia da informao
difundiram-se pelo planeta com uma velocidade muito grande. Isto ocorreu entre os
anos de 1970 e 1990 utilizando uma lgica da aplicao imediata das novas
tecnologias desenvolvidas (CASTELLS, 1999, p. 70).
Evidentemente, a histria das inovaes pode ser contada do ponto de vista de
vrios e bem sucedidos dispositivos pioneiros, para citar alguns: a Calculadora de
Pascal, criada por Blaise Pascal em 164212, o Computador de Hollerith de Herman
Holerite em 189013, Altair 8800 de 1974, a Mquina de Turing em 1936 de Alan
Turing (COPLAND; PROUDFOOT, 2012), o Apple I, criado por Steve Jobs e Steve
Wozniak em 1976, sem esquecer da inveno do telefone por Alexander Graham Bell
em 1876, do rdio por Marconi em 1898 e da vlvula a vcuo por Lee De Forest em
1906.
Porm, a grande virada tecnolgica talvez tenha ocorrido entre final dos anos
1960 e incio dos anos 1970. Com o desenvolvimento e comercializao dos
computadores, diversos processos econmicos e sociais ganharam grande amplitude.
A partir deles foram inauguradas as novas fases nos segmentos de automao
industrial (robtica, linhas de produo flexveis, mquinas industriais com controles
digitais etc.). Por outro lado, um movimento social nascido na Califrnia, na
efervescncia da contracultura apossou-se das novas possibilidades tcnicas e
inventou o computador pessoal. A partir da, o computador progressivamente libertou-
12 Disponvel em https://hestoriadopc.wordpress.com/2011/06/27/maquina-de-pascal/ 13 Disponvel em
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se dos servios de processamento de dados e dos programadores profissionais para
se tornar um instrumento de criao tais como: textos, imagens, msicas etc.
Atualmente, a internet o meio de comunicao pelo qual as pessoas podem
se comunicar, trocar dados, comprar, vender, somar recursos computacionais etc.
Baseado em Castells (1999) e Lvy (2010) torna-se oportuno para o nosso estudo um
relato sobre o surgimento e a evoluo da internet.
Arpanet pode ser considerado o incio do que hoje temos como a internet, que
era uma rede de computadores criada pela Advanced Research Project Agency, com
o propsito de interligar seus vrios computadores e grupos de pesquisas de seus
vrios laboratrios espalhados pelos Estados Unidos com o intuito compartilhar
informaes em tempo real. (CASTELLS, 2001, p. 13).
Os primeiros pontos da rede foram instalados em 1969 e estavam na
Universidade da Califrnia e Los Angeles, no SRI (Stanford Research Institute) da
Universidade da Califrnia em Santa Barbara e na Universidade de Utah. Mas foi em
1973 que dois cientistas da computao, Robert Kahn, da ARPA, e Vint Cerf, ento
na Universidade Stanford, publicaram um artigo apresentando a arquitetura bsica da
Internet. Para que estas redes de computadores pudessem se comunicar umas com
as outras, era necessria uma padronizao na comunicao, e isso foi conseguido
em 1973, durante um seminrio em Stanford, por um grupo liderado por Vint Cerf,
Gerard Lelann e Robert Metcalfe, com o projeto do protocolo de controle de
transmisso (TCP) (CASTELLS, 2001, p.14 ).
Em 1978, pesquisadores da Universidade da Califrnia do Sul dividiram o TCP
com duas partes, acrescentando um protocolo intrarrede (IP), o que gerou o protocolo
TCP/IP, o padro segundo o qual a internet continua operando at hoje (CASTELLS,
2001, p. 14).
Em 1983, o Departamento de Defesa, preocupado com possveis brechas de
segurana, resolveu criar a MILNET, uma rede independente para usos militares
especficos. A Arpanet tornou-se ARPA-INTERNET, e foi dedicada pesquisa. Em
1984, a National Science Foundation (NSF) montou sua prpria rede de
comunicaes entre computadores, a NSFNET, e em 1988 comeou a usar a ARPA-
INTERNET como seu backbone14 . Em fevereiro de 1990, a Arpanet, j estava
tecnologicamente obsoleta e foi retirada de operao. Dessa forma, a internet foi
14 Literalmente a espinha dorsal da internet, a rede que interliga toda a internet.
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liberada de seu ambiente militar. Em 1995, a NSFNET foi extinta, abrindo caminho
para a operao privada da Internet. No incio da dcada de 1990, muitos provedores
de servios da internet montaram suas prprias redes e estabeleceram suas prprias
portas de comunicao em bases comerciais. A partir de ento, a internet cresceu,
rapidamente, como uma rede global de redes de computadores. O que tornou isso
possvel foi o projeto original da Arpanet (CASTELLS, 2001, p. 15).
Nessas condies, a Net pde se expandir pela adio de novos ns e a
reconfigurao infinita da rede para acomodar necessidades de comunicao.
Em 1984, Richard Stallman, programador no Laboratrio de inteligncia
artificial do MIT, numa reao deciso da AT&T de reivindicar direitos de propriedade
sobre o UNIX, lanou a Free Software Foundation propondo a substituio do
copyright pelo que chamou de copyleft15. Mas foi em 1991 que apareceu um sistema
operacional que ser tornaria o cone dos programas de cdigo aberto. Linus Torvalds,
um estudante de 22 anos da Universidade de Helsinki, desenvolveu um novo sistema
operacional baseado no UNIX, chamado Linux, e distribuiu-o gratuitamente pela
internet, pedindo aos usurios que o aperfeioassem e enviassem os resultados
obtidos de volta para a internet. O resultado dessa iniciativa tem sido o continuo
desenvolvimento e aperfeioamento do Linux, trabalho que realizado por milhares
de programadores experientes e milhes de usurios, de tal forma que o Linux hoje
considerado um dos sistemas operacionais mais avanados j desenvolvidos.
(CASTELLS, 2001, p. 15-17 ).
Outra grande inovao que tornou possvel a internet como a temos hoje foi
primeiramente desenvolvida por Bill Atkinson, que em 1980 desenvolveu o programa
Enquire, o primeiro navegador de internet. Embora a internet tivesse comeado na
mente dos cientistas da computao no incio da dcada de 1960, uma rede de
comunicaes por computador tivesse sido formada em 1969, e comunidades
dispersas de computao reunindo cientistas e programadores experientes tivessem
brotado desde o final da dcada de 1970, para a maioria das pessoas, para os
empresrios e para a sociedade em geral, foi em 1995 que ela nasceu (CASTELLS,
2001, p. 13-19).
15 Por copyleft entendia-se que qualquer pessoa que usasse um software gratuito deveria em retribuio distribuir pela rede o cdigo daquele software aperfeioado (CASTELLS, 2001, p. 17)
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1.1 - Economia do conhecimento e aprendizado.
Antes de prosseguirmos tratando do tema, pretendemos diferenciar os termos
conhecimento e informao. O conhecimento est ligado a crenas e compromissos
e uma funo de uma determinada instncia, perspectiva ou inteno e sempre
estar ligada a algum fim, diferente da informao que est ligada ao, entretanto
ambos sempre devem ser especficos e relacionados a um contexto (TAKEUCHI;
NONAKA, 2008, p. 56).
Considera-se que, com a disseminao das TIC, os conhecimentos codificados
podem ser produzidos e difundidos com maior rapidez e facilidade.
Na era da globalizao, o conhecimento, as habilidades e as ferramentas utilizadas atravs de um processo de transferncia de tecnologia (TT) e troca de tecnologia (TE) so vistas como fatores essenciais para grande parte dos pases em desenvolvimento realizarem o crescimento econmico (OMAR et.al, 2010, p. 6, traduo nossa)16
Para que possamos criar um novo conhecimento, produtos, metodologias e
processos preciso que o conhecimento tcito a respeito de um determinado assunto
seja compartilhado de maneira interativa. Trilhar este caminho crucial para
decodificar a informao, para fazer uso eficiente de novas tecnologias e para gerar
novo conhecimento. Por esta razo, importante separar as tecnologias que podem
ser importadas e as capacidades de inovao que devem ser tratadas localmente
como resultantes do funcionamento da sociedade. Vivenciamos um momento
marcado por grandes transformaes na poltica, economia e na sociedade. A
globalizao est mudando nossa identidade, as fronteiras j no existem, os modelos
atuais de governo esto em crise e aquilo que chamamos de conhecimentos talvez
no sejam mais to teis ou eficazes quanto foram no incio do sculo passado
(LASTRES et al ,2005, p. 24-30).
A globalizao interconectou comunidades, organizaes desmoronaram as
fronteiras antes to slidas para ns, as novas combinaes de espao-tempo
apontadas por Hall (2014) quebraram paradigmas. E ainda assim a economia
16
In the era of globalization, the knowledge, skills and tools through the process of technology transfer (TT) & technology
exchange (TE) is seen as a key enabler for most developing countries to achieve economic growth (OMAR at. al., 2010; p. 6).
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tradicional v trabalho e capital como os nicos fatores que influenciam a produo.
Ceric (2001) afirma que esta abordagem tem dificuldades para lidar com as causas
do crescimento econmico de longo prazo.
Essas transformaes provocadas pela globalizao tm demolido os
paradigmas sobre a acumulao de conhecimento necessrio, pois somos cada vez
mais dependentes da informao e do conhecimento. A evidencia disto que muitas
empresas tm o conhecimento como seu principal produto, tais como softwares,
equipamentos e biotecnologia. As enormes quantidades de informao influenciam o
funcionamento das empresas mercado e sociedade. Podem levar criao de riqueza
atravs da sua explorao.
Produtos baseados em conhecimento aparecem na forma de "bens de
conhecimento", ou seja, produtos e processos digitalizados (cursos EAD17, aluguis
de artigos cientficos, e-books etc.) assim como produtos palpveis que tenham de
alguma forma uma extenso sobre o conhecimento ligado a elas (um livro que
possibilite acesso a um portal de internet com mais informao sobre o tema). Estes
bens de conhecimento so digitalizados e distribudos pela internet. Enquanto existem
empresas criadoras do conhecimento, existem aquelas que so responsveis pela
sua distribuio, gesto e armazenamento. O progresso tecnolgico baseou-se no
conhecimento que anteriormente se pensava ocorrer em uma taxa constante, mas
novas teorias do crescimento relacionam sua taxa de crescimento com polticas
governamentais. A evoluo tecnolgica pode criar plataformas tcnicas para outras
inovaes, e este o principal motor do crescimento econmico (CERIC, 2001, p. 1).
A informao um produto que pode, seguramente, produzir conhecimento. A
informao que est ligada a ele, que pode ser extrada dele ou a partir de seu uso,
um claro sinal de que podemos efetivamente aprender dela. (TAKEUCHI; NONAKA,
2008, p. 18). Esta evoluo da economia do aprendizado tem o poder de gerar outros
conhecimentos e tecnologias disruptivas capazes de criar novos mercados nunca
pensados ou destruir mercados consagrados. Um bom exemplo so os smartphones
que criaram um novo e inimaginvel mercado ou mesmo o Uber18- que tem o poder
17EAD - Educao a distncia a modalidade educacional na qual alunos e professores esto separados, fsica ou temporalmente e, por isso, faz-se necessria a utilizao de meios e tecnologias de informao e comunicao. Essa modalidade regulada por uma legislao especfica e pode ser implantada na educao bsica (educao de jovens e adultos, educao profissional tcnica de nvel mdio) e na educao superior. Disponvel em Acesso em 10 jul. 2016 18 Uber: Servio de caronas pagas que utiliza a internet e os smartphones como meio de prestao de servios a pessoas que buscam formas alternativas de mobilidade urbana.
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de transformar completamente a mobilidade urbana o que no muito tempo atrs era
restrito, exclusivamente, aos txis.
Ceric (2001) destaca algumas das vrias razes que atualmente influenciam a
crescente importncia do conhecimento sobre questes econmicas e sociais:
- o progresso na tecnologia da informao e comunicao permite baratear o
transporte mundial das informaes e acesso ao conhecimento;
- o incremento de velocidade no avano dos campos cientfico e tecnolgico
levou a uma acelerao do crescimento da quantidade do conhecimento disponvel;
- o aumento da concorrncia global levou reduo dos custos; e
- a evoluo da procura por informao e por conhecimento associada com o
aumento da renda global e com a mudana de gostos nos desejos das pessoas.As
condies apresentadas anteriormente somadas a um mercado de trabalho cada vez
mais pressionado pelas constantes transformaes e sede por inovao tm feito que
a presso seja transferida para os profissionais e,consequentemente, para as
instituies de ensino que muito rapidamente precisaram adaptar-se a esta nova
realidade para poder superar o grande desafio de balancear as necessidades de
criao de novos profissionais com conhecimento (DELORS, 2012, p. 59).
A economia do aprendizado diretamente ligada a esta difuso das TIC que
aprofundou a codificao do conhecimento e a disseminao da informao. Ela
visivelmente verificada no mercado de trabalho onde a proporo da mo de obra
contratada que lida com bens materiais tangveis tornou-se muito menor do que a
fora de trabalho que est engajada na produo, distribuio, manuteno e
processamentos dos produtos intangveis e servios (LASTRES, et al; 2005, p. 17).
Estas mudanas verificam-se tambm atravs das novas prticas de produo,
metodologias de trabalho e aquisio de conhecimento que, cada vez mais, esto se
tornando-se dependentes da informao e do conhecimento que por sua vez esto
tornando-se protagonistas neste novo cenrio econmico. E isso, de certa forma, tem
transformando o modo e a percepo da sociedade sobre a acumulao de
conhecimento, competncias e capacitaes (CALDERAN, 2012; JOHNSON;
LUNDVALL, 2005; LASTRES;SARITA, 1999).
O conceito de economia do aprendizado est relacionado com o processo
social de criao, aquisio, transformao, acumulao, compartilhamento e
tambm destruio do conhecimento. Este conceito contrasta diretamente com o
papel da informao e da tecnologia da informao e comunicao, em que a nfase
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passa a ser na capacidade de aprender e inovar, fundamentais para sobrevivncia,
competitividade e produtividade dos diversos setores da economia produtiva
(LASTRES, et al; 2005, p. 19).
Estas capacidades de aprender e inovar precisam de ambiente propcio, que
pode ser criado por meio de redes de relacionamento, pois o conhecimento e as
competncias criadas dentro das empresas privadas no so facilmente imitveis, e
a propriedade intelectual representa uma forma importante de manterem-se
competitivas, inibindo novos entrantes no mercado ou mesmo o avano de seus
concorrentes. Johnson e Lundvall (2005) afirmam que para que elas continuem
competitivas deve-se ampliar as bases de conhecimento.
A vantagem competitiva de uma empresa est ligada a um conjunto de
competncias por vezes no impossveis de ser imitadas. importante lembrar que o
inverso tambm verdadeiro, ou seja, uma empresa talvez no consiga imitar outra.
Os conhecimentos tcitos esto no cerne das empresas incorporados a indivduos e
podem facilmente desaparecer nestes mercados de trabalhos to fluidos. De acordo
com Jonhson e Lundvall (2005), as empresas mais flexveis destacam-se por
apresentar maior produtividade, taxas de crescimento mais elevadas e maior
estabilidade de emprego, alm de terem constantes sucessos em suas inovaes e
isso deve-se a uma estratgia de trabalho em rede com clientes, fornecedores e
instituies de ensino tanto mdio, quanto superior (figura 1).
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31
Figura 1 - Gerenciamento do conhecimento na organizao voltado ao aprendizado.
Fonte: JOHNSON; LUNDVALL (2005, p.105) Adaptado pelo autor.
A figura 1 traz a representao proposta por Johnson e Lundvall (2005),
demonstrando a importncia dos relacionamentos em rede. As competncias que
esto em movimento em cada um dos quadros mostram que o conhecimento e a
produtividade circulam. Por exemplo, no bloco contratao e demisso podemos
considerar no s entradas de novos funcionrios que trazem seus conhecimentos do
mercado, mas a prpria movimentao interna da rede traz este novo conhecimento
ou leva para outra parte desta rede, fazendo assim com que o conhecimento seja
disseminado e cresa, trazendo novos insights. Ainda nesta representao, no bloco
cliente, fornecedores e instituies do conhecimento e parceiros verifica-se que o
conhecimento compartilhado pode ajudar na melhoria dos processos e produtividade,
bem como criar ou incrementar conhecimentos tcitos da rede (JOHNSON;
LUNDVALL, 2005; TAKEUCHI; NONAKA, 2008).
Os blocos P&D, treinamento interno e ambiente educacional mostram como
a cooperao igualmente essencial para a sobrevivncia das empresas,
corroborando sobre a grande importncia do relacionamento das empresas privadas
com as instituies de ensino para a formao de profissionais, bem como no
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32
desenvolvimento e na pesquisa de novos produtos processos (BONACCORSI;
PICCALUGA, 1994; JOHNSON; LUNDVALL, 2005).
Nas atuais condies histricas, a produtividade gerada, e a concorrncia
feita em uma rede global de interao. Essa nova economia surgiu no ltimo quartil
do sculo XX, isto porque a revoluo da tecnologia da informao forneceu a base
de informaes e conhecimento da economia, seu alcance global, sua formao de
organizao em rede e a revoluo da tecnologia da informao, que por sua vez
tornaram-se elementos cruciais para o desenvolvimento econmico de uma nao ou
regio. A evoluo tecnolgica podendo ser compartilhada atravs destas redes, seria
um dos caminhos para alcanar este desenvolvimento (CASTELLS, 1999, p. 119).
De acordo com Takeuchi e Nonaka (2008) um novo conhecimento sempre
comea com o indivduo. Um funcionrio, um professor, um pesquisador ou um aluno
podem ter insights que podem levar criao de um novo conhecimento. No contexto
de uma empresa, o conhecimento pessoal de um profissional pode ser transformado
em conhecimento organizacional como um todo.
Apesar de os termos "informao" e conhecimento serem com frequncia
intercambiados, existe uma ntida distino. A informao permite-nos investigar,
analisar, guardar e interpretar eventos ou objetos, pois torna visveis e interpretveis
assuntos ou conexes inesperadas. Desta forma podemos afirmar que a informao
um meio necessrio ou material para extrarmos ou construrmos novos
conhecimentos, afetando o conhecimento, sempre acrescentando algo total ou
parcialmente (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p. 56).
Assim pode-se dizer que a informao transforma um conhecimento de algo
preexistente ou existente, acrescentado, reestruturando, acrescentando um novo
conhecimento ou ponto de vista.
Takeuchi e Nonaka (2008) ainda afirmam que a informao um meio
necessrio ou material para extrair e construir o conhecimento. Ela afeta o
conhecimento, acrescentando algo a ele ou reestruturando-o.
Portanto, pode-se definir a informao como um fluxo de mensagens, enquanto
o conhecimento criado pelo mesmo fluxo de informao, ancorado nas crenas e no
compromisso de seu portador. Este entendimento enfatiza que o conhecimento ,
essencialmente, relacionado com a ao humana (TAKEUCHI; NONAKA, 2008, p.
56).
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O conceito de informao, enquanto conhecimento codificado, est implcito na
ideia de saber o que (know what). O conhecimento, por sua vez, implica a elaborao
da informao e de variados insumos para atingir um novo nvel: saber por que e
quem (know why e know who). por esta razo que a ideia de "economia do
aprendizado" em vez de economia do conhecimento, argumentando que deste modo
enfatiza-se mais o processo que o produto (isto , o estoque de conhecimento
adquirido), o contato pessoal e a interao como forma bsica de obter acesso a novo
conhecimento e tecnologias (LASTRES, et al. 2005, p. 19).
O desenvolvimento de novos conhecimentos e tecnologia/inovao so
processos interativos que envolvem indstria e instituies voltadas para o
conhecimento e sociedade. Portanto deve contribuir para o aprimoramento de todo
esse conjunto (JOHNSON; LUNDVALL; 2005, p. 121).
1.2 - Inovao
Para as empresas, inovao essencial a sua sobrevivncia, pois
exatamente ela que modifica as relaes entre os concorrentes em um determinado
mercado trazendo vantagens competitivas ou anulando-os por certo tempo (POSSAS,
2006; p. 34).
Uma inovao a implementao de um produto (bem ou servio) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo mtodo de marketing, ou um novo mtodo organizacional nas prticas de negcios, na organizao do local de trabalho ou nas relaes externas (OECD, 2005, p. 47, traduo nossa)19
Enquanto Possas (2006) apresenta a inovao do ponto de vista das empresas
em seus mercados, Szmrecsnyi (2006), baseado nos princpios de Schumpeter,
apresenta a definio econmica para inovao. Segundo ele, as inovaes
correspondem aquisio de tecnologia (conjunto de conhecimentos tcnicos), na
produo e distribuio de bens ou servios para o mercado, alm das novas
metodologias de administrao da produo e distribuio, bem como as novas
combinaes de servios e produtos.
19 Na innovation is the implementation of a new or significantly improved product (good or service), or process, a new marketing method, or a new organizational method in business practices, workplace organization or external relations (OECD, 2005; p.47).
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As novas metodologias, tcnicas e processos de produo e distribuio e
novos produtos originados dela sempre sero os precursores no desenvolvimento de
outros novos produtos, seja de maneira sequencial ou mesmo simultnea de trs
processos correlacionados: descoberta ou inveno, a inovao propriamente dita
e a sua divulgao e difuso nas atividades econmicas (SZMRECSNYI, 2006; p.
112).
A condio de empresrio no permanente ou imanente ao indivduo, nem
pode ser considerada uma profisso ou classe social. Antes est intrinsicamente
ligada funo de inovar, ento um indivduo s continua sendo empresrio enquanto
estiver inovando, ou seja, criando, introduzindo ou consolidando novos produtos,
servios e formas de comercializao. No se trata de invenes as quais, por sinal,
permanecem economicamente irrelevantes, enquanto no forem incorporadas
produo e circulao de mercadorias (SZMRECSNYI, 2006; p. 116).
As inovaes abrem novos caminhos e novos mercados, destruindo-os ou
criando novos, ou transformando os mercados no momento onde esto inseridos. Nas
consideraes de Schumpeter, apresentadas por Szmrecsnyi (2006), os
empresrios so os lderes no capitalismo, tendo como prmio de suas inovaes os
lucros, entretanto estas remuneraes atraem inmeros imitadores que, se no
combatidos, podem tomar suas posies de liderana, reduzindo seus lucros.
Portanto possvel afirmar que no havendo inovao, no h lucro; se no h lucro
no h inovao. A inovao a essncia de transformao da sociedade e as
pessoas, rapidamente se adaptam s mudanas decorrentes dessa dinmica
(TERRA et al.,2012; p.82).
Como exemplo, temos a Apple que em junho de 2007 lanou um dispositivo
que transformou a indstria de TIC e a sociedade. Ela transformou um aparelho celular
que era utilizado apenas para realizar ligaes telefnicas em um equipamento
disruptivo, o smartphone20, que destruiu alguns segmentos de mercado e criou outros,
transformou a maneira como as pessoas se comunicam e tornou-se um produto com
aplicaes ilimitadas.
Essas mudanas no surgiram simplesmente porque o smartphone apareceu
20 Cellphones: celulares comuns, de visor pequeno e teclado numrico ainda ativos que tm como funes principais realizar ligaes e enviar mensagens (SMS, Torpedos); Feature Phone: celulares que dispem de teclado alfanumrico, tm os visores maiores, muitas vezes colorido, j dispem de acesso internet e vrios aplicativos para o seu usurio, o grande cone desta gerao era o Blackberry. Smartphones: Aparelhos com tela sensvel ao toque, acesso integral internet e um grande nmero de aplicaes para seu usurio.
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35
e decidiu transformar a sociedade, pelo contrrio, somente quando os smartphones
foram aceitos pela sociedade que puderam provocar as mudanas que vemos
atualmente. Um bom exemplo da mesma empresa foi o Newton, um equipamento que
se propunha a ser um assistente pessoal do usurio. Tal dispositivo no foi aceito pela
sociedade: lanado em 1997, deixou de ser comercializado em fevereiro de 1998. J
aceito pela sociedade, os smartphones realizam estas e outras milhares de outras
tarefas.
Como visto anteriormente, as inovaes no dependem apenas da grande
engenhosidade de empreendedores, empresrios, cientistas, inventores; depende de
uma srie de fatores que possam favorecer a sua aceitao pela sociedade.
Para desvincularmo-nos da ideia de que inovao s pode ter origem ou estar
ligada informtica, eletrnica e microeletrnica, importante salientar que os
avanos em medicina, em novas terapias, em novos mtodos de capacitao
esportivo ou suas tticas tambm so inovaes.
Inovar no essencial apenas para as empresas, reiteramos que ela
importante para toda a humanidade, somos mais de 7 bilhes de habitantes21 e os
recursos naturais so finitos, cada vez mais estaremos merc dos recursos
disponveis, desta forma inovar torna-se essencial. Rifkin (1996) em O Fim dos
Empregos, j apontava que o emprego tambm estaria ameaado pela inovao.
senso comum dizer que nunca haver vagas de trabalho para todos. O ambiente
econmico e as necessidades de gesto dos recursos naturais disponveis so um
ambiente propcio a inovar!
Aqui destacamos que para inovar h que observar, analisar, estudar,
pesquisar, criar e submeter sociedade as inovaes alcanadas.
Para o processo de inovao tecnolgica e sua difuso necessrio: um ambiente propcio a ela com estabilidade poltica e macroeconmica; existir ambiente de negcios flexvel, competitivo e dinmico; tornar a viso tecnolgica uma tica comum a sociedade, criar parceria entre agentes do processo; identificar as futuras demandas da sociedade e tecnologia; promover articulaes entre a cincia e a tecnologia e as necessidades econmicas e sociais; criar infraestrutura (telecomunicao, internet, etc.) competitiva; estimular a Pesquisa e Desenvolvimento e o empreendedorismo; repensar e redefinir os sistemas educacionais (MENINO, 2004; p. 50).
A inovao um processo interativo, envolve a indstria e instituies voltadas
21 Populao mundial estimada em 2014 7,3 bilhes (NAES UNIDAS, 2016; p. 4).
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para o conhecimento e a sociedade. Portanto, ela deve contribuir para aprimoramento
de todo esse conjunto. Um dos maiores problemas das abordagens tradicionais sobre
o processo de inovao seria no relacionar os fatores de produo ao crescimento
econmico de um pas ou regio. Assim, os autores comparam trs abordagens
diferentes: os sistemas nacionais de produo, de negcios e de inovao
(JOHNSON; LUNDVALL; 2005, p. 95)
O sistema nacional de produo baseia-se na premissa de que setores
diferenciados ou emergentes afetam mais o crescimento econmico do que os mais
tradicionais de um pas ou regio. Assim pde-se afirmar que pases mais
desenvolvidos so mais fortes, pois teriam sistemas de produo mais diversificados
e especializados como, por exemplo, os Estados Unidos que produz maquinrio em
comparao com a Frana, que utiliza esse maquinrio para produzir bens
semimanufaturados.
A partir deste enfoque de diferenciao, Johnson e Lundvall (2005) afirmam
que o desenvolvimento de novas tecnologias e o enfoque na qualidade tornam-se
fatores fundamentais para o desenvolvimento econmico de um pas ou regies.
Ainda sobre a diferenciao dentro do contexto de economia do aprendizado, cada
vez mais globalizada, as redes dentro dos sistemas de inovao so e sero aquelas
que traro um verdadeiro impacto na capacidade de aprendizado dos indivduos,
organizaes e regies. Atualmente, os estudos sobre os sistemas nacionais de
inovao tm dado pouca ou quase nenhuma nfase aos subsistemas relacionados
com desenvolvimento de recursos humanos, que incluem todos os sistemas formais
de educao, capacitaes presentes no mercado de trabalho e nas indstrias, e nas
redes formadas por estas partes. Provavelmente em curto espao de tempo, esses
subsistemas sero confrontados com necessidades mais fortes de inveno social,
visto que grande parte das peculiaridades dos sistemas nacionais tem raiz nesses
subsistemas (JOHNSON; LUNDVALL, 2005, p. 96).
Os sistemas de negcios, ao explicar as diferenas internacionais de
organizao e comportamento das empresas, afirmam que estas esto mais ligadas
s culturas e s instituies formais. Esse enfoque no diz haver uma melhor prtica
de organizao de empresas, nem enfatiza que qualquer coisa serve, mas considera
aquela mais adaptada ao contexto local. Por exemplo, o modelo japons, consagrado
naquele contexto pode no ser mais adequado a outros pases. Novamente deve-se
lembrar o peso cultural da regio. Mesmo no Brasil, um modelo de gesto pode ser
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37
muito eficiente e eficaz no Rio de Janeiro e completamente ineficiente em So Paulo
em funo do capital social. De fato, o capital social no apenas um estoque de
alguma coisa que pode ser acumulada, mas um conjunto de instituies densamente
composto por relaes sociais que vo alm das instituies e podem se estender
para alm da famlia. Os sistemas nacionais de inovao podem ser considerados
uma sntese entre os sistemas nacionais de negcio e os de produo, pois alm de
ser a evidncia de que inovao um processo interativo, enfatiza a especializao
da indstria, das organizaes e, consequentemente, da economia, assim como o uso
dentro da sociedade deste capital intelectual gerado pelas inovaes (JOHNSON;
LUNDVALL, 2005, p. 97).
Estas ligaes entre indstria, governo, instituies de ensino e sociedade
podem ser entendidas a partir de alguns modelos tericos sobre os relacionamentos
destes setores e sua influncia para inovao. Dentre eles, neste trabalho,
destacamos o Tringulo de Sbato, de Sbato e Botana e a Hlice Trplice, de
Etzkowitz e Leydesdorff.
1.3 Interao: Governo, Indstria, Instituio de Ensino
Na viso de Jorge Sbato (ex-diretor da Comisso Nacional de Energia
Atmica da Argentina) e Natalio Botana (na poca pesquisador do Instituto para a
Integrao da Amrica Latina), os latino-americanos deveriam e poderiam deixar de
ser coadjuvantes ou espectadores e assumir papis de protagonistas no cenrio
mundial atravs da inovao cientfica-tecnolgica.
A superao para o subdesenvolvimento da Amrica Latina ser resultado de uma ao simultnea de diferentes polticas e estratgias. Em todo caso, e quaisquer que sejam os caminhos escolhidos, o acesso a uma sociedade moderna que o objetivo que se pretende alcanar por meio do desenvolvimento supe necessariamente uma ao decisiva no campo da pesquisa cientfico-tecnolgica (SBATO; BOTANA, 2011, p. 215, traduo nossa)22.
Eles afirmam que o caminho do desenvolvimento da Amrica Latina viria de
uma ao contundente no campo da pesquisa cientfica-tecnolgica, pois seria uma
22 La superacin del subdesarrollo de Amrica Latina resultar de la accin simultnea de diferentes polticas y estrategias. En todo caso, y cualesquiera sean los caminos elegidos, el acceso a una sociedad moderna que es uno de los objetivos que se pretenden alcanzar por el desarrollo supone necesariamente una accin decisiva en el campo de la investigacin cientfico-tecnolgica (SBATO; BOTANA, 1968; p. 1).
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poderosa ferramenta de transformao da sociedade.
Baseados em estudos prospectivos com o horizonte do ano 2000, Sbato e Botana advogavam que a regio podia e devia participar no desenvolvimento cientfico-tecnolgico [...] Essa configurao foi descrita graficamente por meio de um tringulo "apoiado" numa base: o governo ocupa o vrtice superior, enquanto os outros dois elementos que ocupam os vrtices dessa base. No que passou a ser denominado Tringulo de Sbato (PLONSKY, 1995; p. 35).
Figura 2 Tringulo de Sbato.
Fonte: SBATO; BOTANA (2011) Adaptado pelo autor.
De acordo com Sbato e Botana, o tringulo (figura 2) seria a forma mais
dinmica de representar graficamente os fluxos de demanda entre os trs vrtices que
seriam:
A infraestrutura cientfica e tecnolgica como um conjunto de diferentes
estruturas que englobam:
O sistema educacional [...] os laboratrios, institutos e centros de pesquisa, plantas piloto. [...] os sistemas de planejamento, promoo, coordenao e estmulo pesquisa. [...] os mecanismos jurdico-administrativos. [...] os recursos econmicos e financeiros aplicados a seu funcionamento (SBATO; BOTANA, 2011, p. 217, traduo nossa)23.
A estrutura produtiva, segundo eles, trata-se do conjunto de setores produtivos
de bens e servios que so demandados por uma determinada sociedade. O governo
compreende o conjunto de regras institucionais e tem como objetivo formular polticas
e mobilizar os recursos disponveis nos vrtices da estrutura produtiva e da
infraestrutura cientfica e tecnolgica por meio de processos legislativos e
23 El sistema educativo [...]los laboratorios, institutos, centros, plantas pilotos [...]El sistema institucional de planificacin, de promocin, de coordinacin y de estmulo a la investigacin[...]Los mecanismos jurdicoadministrativos[...]Los recursos econmicos y financieros aplicados a su funcionamiento (SBATO; BOTANA, 2011, p. 217).
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administrativos (SBATO; BOTANA, 1970, p. 220). Segundo os autores, o tringulo
a forma mais simplificada para representar graficamente as relaes (figura 3) que
existem entre cada um dos vrtices: governo, empresas e instituies de ensino.
Ainda de acordo com eles, os possveis tipos de relacionamento seriam:
intrarrelacionamento, interrelacionamento e extrarrelacionamento.
As diferentes relaes que se estabelecem dentro de cada vrtice tm objetivo bsico de transformar estes centros de convergncia em centros capazes de gerar, incorporar e transformar demandas em um produto final que a inovao cientfico-tecnolgica (SBATO; BOTANA, 2011, p. 222, traduo nossa)24.
No vrtice Governo, o Poder Executivo pode, por exemplo, trabalhar em
parceria com o MCTI Ministrio da Cincia, Tecnologia, Inovaes e Comunicaes
- para edio de medidas que possam estimular a estrutura produtiva a criar
laboratrios de inovao.
Por sua vez empresas, o vrtice Estrutura Produtiva, de diversos segmentos
podem atuar juntas para acessar a vrtice Infraestrutura Cientfica e Tecnolgica,
que engloba educao, para com relao ao assunto formao de profissionais,
auxiliando e fomentando o estudo de matemtica.
As interrelaes se afiguram com as mais interessantes para serem exploradas. Em primeiro lugar porque elas evidenciam o fato de que o esforo pelo aprimoramento das intrarrelaes, ainda que necessrio, condio insuficiente para o desenvolvimento da sociedade (PLONSKY, 1995, p. 35).
Como afirmou Plonsky sobre o Tringulo de Sbato, as interrelaes mostram-
se mais interessantes, pois pode-se discutir, por exemplo, a atualizao da lei de
pesquisa e desenvolvimento. Neste caso h um interesse de todas as partes para que
haja uma atualizao que beneficiaria a todos no tringulo.
Imaginemos que em uma determinada regio com forte indstria beneficiadora
de madeira haja uma escassez de profissionais. As empresas desta localidade
poderiam contatar as escolas (que pertencem ao vrtice Infraestrutura Cientfica e
Tecnolgica) profissionalizantes da regio, as quais com algum tipo de ajuda tcnica
ou material, por meio de uma parceria, poderiam combater essa escassez. Sbato e
24 Las relaciones que se establecen dentro de cada vrtice tienen como objetivo bsico el de transformar a estos centros de convergencia en centros capaces de generar, incorporar y transformar demandas en un producto final que es la innovacin cientficotecnolgica (SBATO; BOTANA, 2011, p.222).
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Botana ainda acrescentam que este processo estabelece um fluxo de demandas que
circulam num sentido vertical (interrelaes recprocas entre governo e infraestrutura
cientfico-tecnolgica e estrutura produtiva) e em sentido horizontal (interrelaes
entre infraestrutura cientfico-tecnolgica e estrutura produtiva). A interrelao
governo-estrutura produtiva depende fundamentalmente da capacidade de
discernimento de ambos os vrtices acerca do possvel uso do conhecimento
existente para incorpor-lo a novos sistemas de produo.
As interrelaes horizontais so mais complexas de se estabelecer, pois a no
ser que a infraestrutura cientfica-tecnolgica esteja ligada diretamente estrutura
produtiva, depender diretamente das empresas. Quando se trata de atividades
diferentes, no basta somente um acordo, h tambm a necessidade de um acordo
institucional. Se ele aceito, os sujeitos de ambos os vrtices contam com a
capacidade criadora e empresarial, as vias de comunicao estaro abertas
(SBATO; BOTANA, 2011, p. 222).
Figura 3 As interrelaes, intrarrelaes no tringulo de Sbato.
Fonte: SBATO; BOTANA (2011, p. 224, traduo nossa).
At agora temos falado sobre as intra e interrelaes dentro dos tringulos,
porm temos que concordar que as sociedades no vivem isoladas; outras relaes
fora do tringulo podem ocorrer. As relaes de tringulos no modelo de Sbato
podem ocorrer com outros tringulos os quais h vrtices que so desconectados ou
integrados em outros sistemas de relaes. Em uma sociedade em que ocorrem os
tringulos de relaes, as aberturas efetivam-se por meio da exportao de cincia e
tecnologia original ou de adaptao de tecnologia importada, desta forma pode-se
produzir benefcios reais, seja a longo ou a curto prazo (SBATO; BOTANA, 2011; p.
226).
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Este modelo foi estabelecido por Sbato como uma poltica voltada cincia e
tecnologia fortemente baseada em um modelo estatista para pases em
desenvolvimento. Segundo Sbato, somente o governo teria a capacidade e os
recursos para estar frente dos outros vrtices na criao da indstria baseada na
cincia.
A importncia de se compreender o tringulo de Sbato , de acordo com
Calderan (2012), alm de ser a primeira representao do Sistema Nacional de
Inovao (SNI), tambm demonstrar o papel da cooperao universidade-empresa-
governo no compartilhamento de recursos para a inovao tecnolgica e sua
relevncia para o desenvolvimento econmico e social (CALDERAN, 2012;
PLONSKY, 1995).
De fato, a universidade moderna, que combina ensino e pesquisa, surgiu no
incio do sculo XIX. Historicamente, ela passou por uma transio revolucionria no
final deste mesmo sculo; passando de instituio de ensino superior para uma
instituio com novas funes sociais tanto para o aprendizado quanto pesquisa.
Estas diferenciaes de funes podem ser entendidas em termos de mudanas na
infraestrutura de conhecimento (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; ETZKOWITZ,
2001).
Com o surgimento dos laboratrios de pesquisa nas indstrias e a cientificao
da produo, criou-se um amplo e novo mercado de trabalho para o pesquisador
acadmico. Essa relao entre os docentes e as empresas foi muito benfica s
escolas, pois propiciou para a universidade a gerao de conhecimento e inovao, e
aos alunos proporcionou a oportunidade de pesquisa juntamente com o ensino que,
em sntese, a universidade moderna (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000;
ETZKOWITZ, 2001).
A tese da hlice trplice estabelece um papel de destaque para a universidade em inovao nesta sociedade cada vez mais baseada no conhecimento (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 109, traduo nossa)25.
A hlice trplice no afirma que as universidades atuavam de maneira
equivocada, pelo contrrio, a tese refora ainda mais o papel da academia como uma
instituio de extrema importncia para o desenvolvimento econmico regional a partir
25 The Triple Helix thesis state that the university can play enhanced role in innovation in increasingly knowledge-base societies (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 109).
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da inovao e transmisso do conhecimento para a sociedade.
A hlice trplice foi gerada a partir da anlise da relao do governo e a indstria em diferentes sociedades e de seus vrios papis na inovao. O crescimento de novas empresas a partir da pesquisa acadmica e a localizao das empresas fundamentadas em cincia nos arredores das universidades so manifestaes das relaes da hlice trplice em sociedades baseadas no conhecimento (ETZKOWITZ, 2013, p. 10).
Para o desenvolvimento da hlice trplice, o primeiro passo o relacionamento
entre universidade-governo-empresas, que alm desenvolver economicamente a
regio, coopera para a soluo de uma srie de problemas gerando inovao. A
solues desenvolvidas podem ser compartilhadas com outras regies, auxiliando no
desenvolvimento econmico do pas.
A Macrometrpole Paulista26 responde por aproximadamente 80% do PIB do
estado de So Paulo e tem uma populao estimada em 30 milhes de habitantes.
um bom exemplo de economia regional com grandes demandas por educao, postos
de trabalho, mo de obra especializada, inovao e consumo.
A ao de cada entidade ou de todas pode alavancar o desenvolvimento da
regio em todos os aspectos.
O regime da hlice trplice comea quando a universidade, a indstria e o governo do incio a um relacionamento recproco, no qual cada um tenta melhorar o desempenho do outro. A maioria de tais iniciativas ocorre em nvel regional, onde os contextos especficos de cluster 27 industriais, desenvolvimento acadmico e presena ou falta de autoridade governamental influenciam o desenvolvimento da hlice trplice[...]nesse nvel inicial as trs linhas geralmente comeam a interagir para melhorar a economia local, aprimorando o desempenho da indstria existente (ETZKOWITZ, 2013, p. 11).
A partir do momento em que as partes realizam algum tipo de cooperao, a
hlice trplice muda sua configurao, pois a troca de informaes e conhecimentos
que ocorre entre elas comea a produzir novos conhecimentos, tecnologias e
solues que auxiliam no desenvolvimento da economia regional. Juntamente com
desenvolvimento regional ocorre um aumento de desempenho das universidades que
26 [...]chamada Macrometrpole Paulista (MMP) [...]constitui um complexo territrio, onde vivem e trabalham mais de 30 milhes de pessoas que, a cada ano, geram riquezas que superam um trilho de reais (80% do PIB paulista) [...]as regies que compem esse territrio as Regies Metropolitanas de So Paulo, Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraba e Litoral Norte e Sorocaba, alm das Aglomeraes Urbanas de Jundia e Piracicaba (SO PAULO, 2015, p. 5). 27 Concentrao de empresas que se comunicam por possurem caractersticas ou necessidades semelhantes e esto em uma mesma localizao geogrfica, podendo colaborar entre si para tornarem-se mais eficientes.
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a torna questo chave em uma estratgia de desenvolvimento da economia local,
pois, pode trazer renovao para antigos mercados e/ou economias, acaba criando
novas atividades econmicas com base no capital intelectual que resultado da
parceria governo-instituies de ensino-indstria.
As interaes bilaterais entre universidade-governo, universidade-indstria, governo-indstria crescem por meio da tomada de papis. Mesmo que a identidade central de cada instituio seja mantida, ela ampliada de novas formas por meio de relaes com outras esferas. Portanto as universidades treinam organizaes em incubadoras, assim como treinam indivduos em sala de aula (ETZKOWTIZ, 2013, p.13).
Essas novas atividades ou conhecimentos gerados por vrias combinaes
podero se tornar base de criao de novas empresas. Exemplo disso so os polos
tecnolgicos que nascem ao redor das universidades, resultado, muitas vezes, dos
esforos conjuntos entre governo-indstria-universidades (ETZKOWITZ, 2001;
ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; ETZKOWITZ, 2013; CALDERAN, 2012;
GOMES; PEREIRA, 2015).
A evoluo dos sistemas de inovao, e os atuais conflitos sobre qual caminho deve ser tomado nas relaes universidade-indstria, so o reflexo dos diferentes arranjos institucionais das relaes universidade-governo-indstria (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF; 2000; p.111, traduo nossa)28.
Etzkowitz (2013) prope que um prximo passo para o desenvolvimento da
hlice trplice seria que cada uma das suas partes, alm de realizar suas atividades
habituais, mantendo seus core business, tambm assumiria o papel da outra parte. O
autor afirma que se as partes da hlice (universidade-governo-empresas) assumissem
alguma atividade uma das outras poderiam alcanar um novo nvel de inovao.
Essas novas atividades assumidas podem contribuir tanto para a inovao, quanto
ao aprendizado daquele que assumiu ou delegou a atividade.
Tomemos como exemplo uma instituio de ensino que tem como misso
principal ensino e pesquisa (modelo humboldtiano). Entretanto ela assume uma
atividade de pesquisa de opinio sobre um novo produto - atividade que pertence
indstria. O resultado desta atividade de pesquisa, que de certa forma comum, pois
faz parte do dia-a-dia do core business da indstria, mas no de uma instituio de
28 The evolution of innovation systems, and the current conflict over which path should be taken in universityindustry relations, are reflected in the varying institutional arrangements of universityindustrygovernment relations (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000, p. 111).
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ensino ou outro tipo de instituio de ensino, o legado de conhecimento recebido
durante a atividade assumida, conhecimento este que ao ser agregado pode ser
replicado, alm de poder ser a base de diversas pesquisas acadmicas que
enriquecem as instituies de ensino e podem desenvolver a economia local.
De acordo com o Etzkowitz (2013) os caminhos que levam a hlice trplice tm
pontos de vista totalmente opostos. Um dos caminhos est baseado no modelo
estatista (figura 4.1), em que o governo controla a indstria e as instituies de ensino,
do outro lado o modelo laissez-faire (figura 4.2) que tem indstria e universidades
atuando de formas independentes, interagindo de forma muito modesta com o
governo, que tem o papel de regulao do mercado e de fronteiras. Se por um lado
vemos a maior independncia da universidade e da indstria, do outro vemos uma
maior interdependncia das trs esferas.
Figura 4.1 O Modelo estatista. Figura 4.2 O Modelo laissez-faire.
Fonte: ETZKOWITZ (2013, p. 16-17). Adaptado pelo autor.
Quando ocorre a interao da universidade, governo e indstria, atuando em
seus core business realizando alguma tarefa da outra, estas combinaes podem
servir de grande incentivo inovao e criatividade organizacional. Etzkowitz (2013)
afirma que estas inovaes podem surgir especialmente de interaes entre as trs
hlices (figura 5), razo pela qual afirma que a hlice trplice comum pode suplantar
as variaes nos sistemas nacionais de inovao.
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FIGURA 5 A estrutura social da hlice trplice.
Fonte: ETZKOWITZ (2013, p. 22) - Adaptado pelo autor.
A escolha de qual caminho ser seguido no to simples: no modelo estatista
temos em grande parte a universidade distante da indstria e as empresas que
carregam uma expectativa de ser lderes nacionais e dominantes em campo particular.
Em tal configurao vemos a universidade com um papel meramente de criao de
mo de obra. Mesmo podendo conduzir pesquisa, ainda assim no se espera das
instituies de ensino que elas tenham um papel de criao de novas empresas. No
modelo laissez-faire, h um certo ceticismo do governo, que de certa forma obscurece
a criao da hlice trplice. Neste modelo, a universidade uma fornecedora de
pesquisa bsica e pessoas treinadas. Nele a indstria espera que as instituies de
ensino sejam provedoras de publicaes e graduandos que tragam consigo
conhecimento tcito para dentro da indstria e que, consequentemente, gerem novos
conhecimentos e inovaes. Assim a indstria ter o papel de transformar em
produtos os conhecimentos oriundos das instituies de ensino. Nesse modelo,
espera-se que o governo tenha, no papel, uma regulao do mercado (ETZKOWITZ,
2013).
Os atuais modelos demand pull29 e tecnology push30 parecem ser
insuficientes para induzir as transferncias de tecnologia e conhecimento. As
publicaes e patentes assumiram um papel de destaque na transformao do
conhecimento e da inovao, neste novo contexto de sociedade, a universidade e as
instituies criadoras de conhecimento precisaram agregar um novo papel. Assim as
incubadoras e os polos tecnolgicos parecem ser esse novo papel que elas tero que
assumir juntamente com as outras partes da hlice, pois podem suprir e desenvolver
29 Presso por demanda de novas tecnologias (CASSIOLATO; LASTRES, 2005). 30 Modelo linear simples que atravs da pesquisa aplicada ao desenvolvimento tecnolgico de produtos e atividades relacionadas a fabricao, as empresas colocam novos produtos no mercado (CURIO, 2003).
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as necessidades regionais (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; p. 110).
Da mesma forma, as parcerias entre empresas e instituies de ensino
poderiam ser o cam