Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 ·...

81
COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR MERIDIONAL FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL LUIS FELIPE FOSCARINI RESISTÊNCIA AO ATAQUE ÁCIDO DE PASTAS GEOPOLIMÉRICAS BASEADAS EM METACAULIM Passo Fundo - RS 2019

Transcript of Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 ·...

Page 1: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR MERIDIONAL

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

LUIS FELIPE FOSCARINI

RESISTÊNCIA AO ATAQUE ÁCIDO DE PASTAS GEOPOLIMÉRICA S

BASEADAS EM METACAULIM

Passo Fundo - RS

2019

Page 2: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

LUIS FELIPE FOSCARINI

RESISTÊNCIA AO ATAQUE ÁCIDO DE PASTAS GEOPOLIMÉRICA S

BASEADAS EM METACAULIM

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia Civil, IMED – Complexo de Ensino Superior Meridional, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil, sob orientação da Profª. Drª. Francieli Tiecher Bonsembiante e coorientação do Profº. Dr. Erich D. Rodríguez Martínez.

Passo Fundo - RS

2019

Page 3: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil
Page 4: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil
Page 5: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, pela oportunidade de vivenciar

as experiências que este curso me proporcionou. Agradeço também pela força,

coragem e bênçãos que recebia a cada dia que passava.

Gostaria de dizer o quão especial é poder agradecer a algumas pessoas que

me acompanharam nesta trajetória. Durante dois anos recebi apoio, compreensão e

amizade que lembrarei para sempre. Aos colegas de curso, agradeço o

companheirismo e a amizade ao longo destes dois anos.

Agradeço aos professores da Faculdade IMED, em especial a minha

orientadora Professora Dra. Francieli T. Bonsembiante e ao meu coorientador

Professor Dr. Erich D. Rodríguez. Obrigado por todo o aprendizado, oportunidades e

conhecimento compartilhado.

Um agradecimento também aos laboratórios de materiais de construção da

Universidade Federal de Santa Maria e da Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, por disponibilizarem espaço físico e equipamentos para análise dos materiais

quando necessário.

Em especial, um agradecimento, aos meus pais Neri Antônio e Marta Cristina,

meu irmão Alexandre, e minha namorada Jéssica, pelo apoio, motivação,

compreensão e incentivo que me eram oferecidos todos os dias. A presença de

vocês foi ímpar e insubstituível neste momento.

Page 6: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

RESUMO

O cimento Portland é o aglomerante mais utilizado mundialmente pela indústria da construção civil. Seu emprego está relacionado ao preparo de concretos e argamassas, conferindo a estes produtos trabalhabilidade no estado fresco, resistência mecânica e durabilidade no estado endurecido. No entanto, mesmo sendo considerados duráveis, os produtos feitos à base deste aglomerante apresentam algumas limitações, entre as quais a baixa resistência a ambientes ácidos, o que pode originar o surgimento de manifestações patológicas. Os problemas geralmente são causados pela descalcificação dos produtos de hidratação do cimento Portland, gerando queda significativa do desempenho mecânico. Isso ocorre devido à alta solubilidade de alguns componentes. Os produtos mais frágeis são os que contém grande quantidade de cálcio, como a Portlandita (Ca(OH)2) e os silicatos cálcicos hidratados (C-S-H). No entanto, existem outros ligantes alternativos com características técnicas semelhantes e até superiores ao cimento convencional. Entre tais ligantes estão os geopolímeros, materiais baseados na ativação química de um mineral amorfo rico em aluminossilicatos (chamados comumente como precursores) por apresentarem uma solução altamente alcalina (ativador). Contudo, devido à falta de padrões e métodos de dosagem, existem dúvidas a respeito da durabilidade destes materiais. Desta forma, esta pesquisa objetiva avaliar a durabilidade de pastas geopoliméricas derivadas da ativação alcalina de metacaulim quando são expostas ao contato direto com duas soluções ácidas. Visando a obtenção de materiais com elevada durabilidade em ambientes ácidos, foram produzidos geopolímeros com diferentes condições de síntese (porcentagem de álcalis e conteúdo de silicatos solúveis ajustado mediante as relações sílica/sódio - Ms). As porcentagens de álcalis foram variadas entre 15 e 20%, já as relações SiO2/Na2O ficaram entre os valores de 0,5 e 1. As misturas foram imersas em soluções de ácidos acético e lático e, posteriormente, foram avaliadas as seguintes características do material: resistência à compressão, perda de massa e profundidade de corrosão. Foi possível verificar que a solução de ativação influencia diretamente a durabilidade e resistência mecânica das pastas geopoliméricas à base de metacaulim. Constatou-se que o incremento de silicatos solúveis proporcionou um ganho significativo de resistência mecânica nas amostras avaliadas. Observou-se também que a perda de massa foi menos intensa em amostras com uma dosagem de 20% de álcalis e módulo Ms de 0,5 (Geo 20-05). Quanto à profundidade de corrosão, todas as amostras apresentaram certo grau de deterioração, no entanto, o traço mais resistente também foi o Geo 20-05. Além disso, percebeu-se que o excesso de silicatos solúveis atrapalha o processo de geopolimerização por reduzir o poder de ativação da solução alcalina, devido a isso, apesar de proporcionar um razoável ganho de resistência mecânica, não é o principal responsável pelo aumento da durabilidade das amostras. Durante as análises constatou-se que o teor de hidróxido de sódio foi a variável que mais influenciou na durabilidade das pastas. É possível perceber que as amostras dosadas com 20% de álcalis apresentaram um desempenho superior se comparadas com as amostras dosadas com 15%. Além disso, foi possível notar que estas amostras apresentaram menor lixiviação e que dificultou a progressão da corrosão para profundidades superiores.

Palavras-chaves: Geopolímeros. Durabilidade. Ácidos. Resistência.

Page 7: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

ABSTRACT

Portland cement is the binder most used worldwide by the construction industry. Its use is related to the preparation of concretes and mortars, giving to these products workability in the fresh state, mechanical resistance and durability in the hardened state. However, even though it is considered durable, the products made from this binder have some limitations. Among them is the low resistance to acidic environments, which can lead to the appearance of pathological manifestations. The problems are usually caused by the decalcification of Portland cement hydration products, leading to a significant drop in mechanical performance. This is due to the high solubility of some components. The most fragile products are those containing a large amount of calcium, such as Portlandite (Ca(OH)2) and hydrated calcium silicates (C-S-H). However, there are other alternative binders with similar technical characteristics and even higher than conventional cement. Among these binders are geopolymers. These materials are based on the chemical activation of an aluminosilicate rich amorphous mineral (commonly referred to as precursor) by a highly alkaline (activator) solution. However, due to the lack of standards and dosage methods, there are doubts about the durability of these materials. Due to this, this research has the objective of evaluating the durability of geopolymeric pastes derived from the alkaline activation of metakaolin when exposed to direct contact with two acidic solutions. In order to obtain materials with high durability in acid environments, geopolymers with different synthesis conditions (percentage of alkalis and soluble silicate content adjusted by the silica / sodium - Ms ratios) were produced. The percentages of alkalis were varied between 15 and 20%, while the SiO2/Na2O ratios were between 0.5 and 1. The mixtures were immersed in acetic and lactic acid solutions and, subsequently, the following characteristics of the material: compressive strength, mass loss and depth of corrosion. It was possible to verify that the activation solution directly influences the durability and mechanical strength of metacaulim based geopolymeric pastes. It was found that the increment of soluble silicates gave a significant gain of mechanical resistance in the samples evaluated. It was also observed that the mass loss was less intense in samples with a dosage of 20% alkali and Ms modulus of 0.5 (Geo 20-05). As for the depth of corrosion, all the samples presented some degree of deterioration, however, the most resistant trait was also the Geo 20-05. Moreover, it was observed that the excess of soluble silicates disrupts the geopolymerization process by reducing the activation power of the alkaline solution, due to this, despite providing a reasonable gain of mechanical resistance, is not the main responsible for the increase of durability of samples. During the analyzes it was verified that the sodium hydroxide content was the variable that most influenced the durability of the pastes. It is possible to notice that the samples dosed with 20% of alkalis presented superior performance when compared with the samples dosed with 15%. In addition, it was possible to note that these samples showed lower leaching and made it difficult for the corrosion progression to higher depths. Keywords: Geopolymers. Durability. Acids. Resistance.

Page 8: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Tipos de metacaulim de diferentes indústrias (a) Metacaulim do Brasil,

(b) Advanced Cement Technologies, (c) Engelhard. .............................. 22

Figura 2 – Modelo conceitual de geopolimerização. ................................................. 26

Figura 3 – Desenvolvimento da resistência à compressão de geopolímero curado

à 10, 20, 40, 60 e 80 °C ao longo do tempo (1, 3, 7 e 28 dias). ............. 31

Figura 4 – Curva de distribuição granulométrica do metacaulim. .............................. 39

Figura 5 – Resultado do ensaio de DRX do metacaulim. .......................................... 40

Figura 6 – Modelo de análise da profundidade de corrosão. .................................... 45

Figura 7 – Resistência à compressão média das amostras de referência. ............... 47

Figura 8 – Evolução da resistência à compressão das amostras Geo 20-05 e

Geo 20-1 em função da relação SiO2/Al2O3. .......................................... 48

Figura 9 – Resistência à compressão média das amostras que sofreram ataques de

soluções ácidas e de amostras de referência. ........................................ 51

Figura 10 – Comparativo do percentual de perda de resistência à compressão das

amostras. ................................................................................................ 52

Figura 11 – Influência do teor de sílica solúvel na perda de massa média das

amostras. ................................................................................................ 56

Figura 12 – Superfície da amostra após (A) e antes da imersão em ácido láctico. ... 58

Figura 13 – Profundidade de corrosão média por teor de ativação para o ácido

acético e láctico. ..................................................................................... 60

Figura 14 – Geopolímero traço G 20-1 após a imersão em ácido láctico por sete

dias. ........................................................................................................ 62

Figura 15 – Aspecto da superfície das amostras após a imersão em ácido acético,

sem tratamento superficial (A), e após o polimento e aspersão da

solução de fenolftaleína (B). ................................................................... 64

Figura 16 – Áreas corroídas, neutralizadas e intactas verificadas nas amostras

imersas em ácido acético. ...................................................................... 65

Figura 17 – Camada rígida verificada após o polimento da seção da amostra

Geo 20-1. ................................................................................................ 67

Page 9: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

Figura 18 – Aspecto das amostras após a imersão em ácido láctico, sem tratamento

superficial (A), e após o polimento e aspersão da solução de

fenolftaleína (B). ..................................................................................... 68

Figura 19 – Áreas corroídas/neutralizadas e intactas verificadas nas amostras

imersas em ácido láctico. ....................................................................... 69

Page 10: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Composição química da argila caulinítica. .............................................. 20

Tabela 2 – Intervalos de ativação. ............................................................................. 29

Tabela 3 – Porcentagem de perda de resistência à compressão de geopolímeros

à base de cinza volante. ......................................................................... 35

Tabela 4 – Resultados dos ensaios de perda de massa e de resistência à

compressão de geopolímeros à base de cinza volante. ......................... 36

Tabela 5 – Composição física e química do metacaulim. ......................................... 38

Tabela 6 – Características do Silicato de Sódio. ....................................................... 40

Tabela 7 – Relações utilizadas para a ativação do metacaulim. ............................... 41

Tabela 8 – Quantidade de materiais para cada traço. ............................................... 42

Tabela 9 – Combinações entre fatores e níveis empregados para análise

estatística. .............................................................................................. 46

Tabela 10 – Cálculo da quantidade de repetições, de acordo com o erro

experimental. .......................................................................................... 46

Tabela 11 – Resistência à compressão média das amostras de referência e das

amostras que sofreram o ataque químico com soluções ácidas ............ 50

Tabela 12 – Análise de variância (ANOVA) da resistência à compressão. ............... 53

Tabela 13 – Perda de massa das amostras geopoliméricas submetidas a ataque

ácido. ...................................................................................................... 54

Tabela 14 – Uma análise de variância (ANOVA) da variável perda de massa.......... 54

Tabela 15 – Uma análise de variância (ANOVA) da variável profundidade de

corrosão. ................................................................................................. 59

Tabela 16 – Interações entre fatores utilizadas para análise. ................................... 59

Page 11: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

LISTA DE ABREVIAÇÕES

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ASTM – American Society for Testing and Materials

C-S-H – Silicatos Cálcicos Hidratados

CV – Cinza Volante

EGAF – Escória Granulada de Alto Forno

GBFS – Granulated Blast Furnace Slag

MC – Metacaulim

Ms – Módulo de Sílica (SiO2/Na2O)

NBR – Norma Brasileira Regulamentadora

Page 12: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

1.1 Objetivos da pesquisa ............................. ....................................................... 16

1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................. 16

1.1.2 Objetivos específicos ...................................................................................... 16

1.2 Estrutura da proposta de dissertação .............. ............................................. 16

2 REVISÃO DE LITERATURA ............................. .................................................. 17

2.1 Geopolímero ....................................... ............................................................. 17

2.1.1 Precursores .................................................................................................... 18

2.1.1.1 Escória granulada de alto forno ................................................................... 18

2.1.1.2 Cinza volante ............................................................................................... 19

2.1.1.3 Metacaulim ................................................................................................... 20

2.1.2 Ativadores ....................................................................................................... 23

2.1.2.1 Hidróxido de sódio (NaOH) .......................................................................... 23

2.1.2.2 Silicato de sódio (Na2SiO3·nH2O) ................................................................ 24

2.2 Geopolimerização .................................. ......................................................... 25

2.2.1 Fatores que influenciam no processo de geopolimerização ........................... 28

2.2.1.1 Dosagem...................................................................................................... 28

2.2.1.2 Temperatura de cura ................................................................................... 30

2.2.1.3 Quantidade de água .................................................................................... 32

2.3 Durabilidade dos aglomerantes ..................... ................................................ 32

2.3.1 Durabilidade de geopolímeros ........................................................................ 34

3 MATERIAL E MÉTODOS ................................ .................................................... 38

3.1 Material .......................................... ................................................................... 38

3.1.1 Precursor ........................................................................................................ 38

3.1.2 Ativador .......................................................................................................... 40

3.2 Métodos ........................................... ................................................................ 41

3.2.1 Síntese de ativação ........................................................................................ 41

3.2.2 Resistência à compressão .............................................................................. 43

3.2.3 Perda de massa ............................................................................................. 43

3.2.4 Profundidade de corrosão .............................................................................. 44

Page 13: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

3.3 Análise estatística dos resultados ................ ................................................. 45

4 RESULTADOS ........................................ ............................................................ 47

4.1 Resistência à compressão .......................... ................................................... 47

4.2 Perda de massa .................................... ........................................................... 54

4.3 Profundidade de corrosão .......................... .................................................... 59

4.3.1 Profundidade de corrosão – lixamento mecânico ........................................... 59

4.3.2 Análise macroscópica da superfície das amostras ......................................... 63

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................. ................................................... 72

5.1 Conclusões ........................................ .............................................................. 72

5.2 Sugestões para futuros trabalhos .................. ............................................... 73

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 74

Page 14: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

13

1 INTRODUÇÃO

O cimento Portland é o aglomerante mais utilizado mundialmente pela

construção civil. (HABERT; D’ESPINOSE DE LACAILLERIE; ROUSSEL, 2011). Seu

emprego está relacionado à produção de concretos e argamassas, conferindo

trabalhabilidade no estado fresco e resistência mecânica no estado endurecido. Os

materiais baseados em cimento Portland têm ampla utilização devido à sua elevada

resistência mecânica, versatilidade e durabilidade. Além disso, apresentam

tecnologia de dosagem teoricamente simples, o que facilita sua aplicação.

No ano de 2010 a produção anual de concreto era de aproximadamente

20 bilhões de toneladas, correspondendo a um consumo médio de cerca de 10 kg

de concreto por pessoa/dia. Para satisfazer esta demanda era necessário uma

quantidade de aproximadamente 4 bilhões de toneladas de cimento Portland por ano

(COSTA et al., 2013). Em 2017 essa quantidade foi ainda maior, a produção de

cimento Portland alcançou 4,2 bilhões de toneladas/ano. (CIMENTO.ORG, 2018).

O aumento expressivo de manifestações patológicas em elementos de

concreto nas últimas décadas acarretou em preocupação com a vida útil de

estruturas produzidas com cimento Portland. (GAIER, 2005; VIEIRA et al., 1997). Os

problemas estão relacionados, principalmente, ao ambiente ao qual a estrutura está

exposta. A degradação em áreas industriais, por exemplo, pode ser acelerada em

até 80 vezes, se comparada a zonas rurais. (BEDDOE; DORNER, 2005; HELENE,

1986).

A elevada quantidade de manifestações patológicas nestes ambientes está

ligada, principalmente, à presença de ácidos que, em contato com o concreto,

provocam reações químicas que reduzem a alcalinidade do material, deixando-o

susceptível à descalcificação dos produtos de hidratação do cimento Portland. Entre

os produtos mais susceptíveis à descalcificação está a portlandita (Ca(OH)2), que é

responsável pela manutenção do pH do concreto. A portlandita solubiliza-se com

facilidade, deixando a matriz cimentícia mais porosa e suscetível a manifestações

patológicas relacionadas, principalmente, com a corrosão do aço presente nas

estruturas de concreto armado. Por sua vez, os silicatos cálcicos hidratados (C-S-H),

também resultantes da hidratação do clínquer, são minerais mais estáveis,

responsáveis pela resistência mecânica do aglomerante e também podem ser

afetados quando em contato com ácidos. (GAIER, 2005).

Page 15: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

14

A degradação precoce do concreto eleva o custo com manutenções das

estruturas. Para se ter ideia, no ano de 2004, na Itália, França e Alemanha, foram

gastos mais de 75 bilhões de Euros com reparos e manutenções de estruturas de

concreto. Este valor equivale ao investido na construção de novas edificações, o que

enfatiza a importância de se empregar materiais mais duráveis em obras da

construção civil. (MEDEIROS; ANDRADE; HELENE, 2011).

Trazendo para o contexto regional, no Sul do Brasil é grande a concentração

de indústrias alimentícias que empregam ácidos orgânicos em seu sistema de

produção. Tais ácidos são muito prejudiciais às estruturas de concreto Portland.

Como exemplo, pode-se citar os ácidos acético e lático, comumente usados na

fabricação de vinagre e refrigerante, respectivamente (GUBOLINO, 2007; RIZZON;

MENEGUZZO; MANFROI, 2006).

Nesse contexto, os geopolímeros surgem como aglomerantes alternativos,

podendo apresentar durabilidade elevada se comparados com o cimento Portland,

quando em contato direto com substâncias ácidas. (DUXSON; PROVIS et al., 2007).

Chamam-se geopolímeros, os aglomerantes que são baseados na ativação

de um mineral aluminossílicato amorfo, através de uma solução altamente alcalina.

As principais vantagens deste aglomerante, quando comparado com o cimento

Portland, são: elevadas resistências iniciais, principalmente nas primeiras 24 horas,

além de elevadas resistências a substancias ácidas, devido a menor solubilidade

dos produtos de reação. (BAKHAREV; SANJAYAN; CHENG, 2003; BERNAL LOPEZ

et al., 2009; PINTO, 2004; PROVIS; BERNAL, 2014; SEVERO et al., 2013).

Contudo, para que essas vantagens sejam alcançadas, o processo de

dosagem de geopolímeros precisa ser criterioso, passando pela determinação de

diferentes parâmetros. Um exemplo é o teor de álcalis e as relações entre

SiO2/Na2O. Contudo, o processo de dosagem é dificultado por não existirem normas

ou padrões para a dosagem destes materiais. (DUXSON; LUKEY; VAN DEVENTER,

2007).

Os materiais constituintes dos geopolímeros são as adições minerais com

características amorfas, ricas em alumínio e sílica, que são usualmente

denominados precursores, e as soluções altamente alcalinas, chamadas ativadores.

Durante a dosagem dos materiais para obtenção do geopolímero, busca-se obter o

teor de álcalis ideal da solução de ativação que consiga dissolver totalmente o

Page 16: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

15

precursor. Ainda, pode-se adicionar à mistura silicatos solúveis durante a ativação,

com o intuito de aumentar a quantidade de reações de geopolimerização.

Conforme já mencionado, o processo de dosagem não é simples, as mesmas

proporções de materiais podem culminar em resultados distintos. Isso ocorre porque

o processo depende das características físicas e químicas dos constituintes da

mistura, assim como as condições de produção (tipo de mistura, temperatura e

umidade). De qualquer forma, muitos autores citam os resultados positivos sobre a

resistência a ácidos, especialmente para compostos geopoliméricos à base de cinza

volante (CV) e escória de alto forno (EAF). (BAKHAREV; SANJAYAN; CHENG,

2003; THOKCHOM; GHOSH; GHOSH, 2009).

Tanto a CV quanto a EAF são subprodutos de processos industriais e, por

isso, tem um custo relativamente baixo, se comparados com outros materiais

precursores, como o metacaulim, por exemplo. O metacaulim é obtido através da

calcinação de uma argila caulinítica. No entanto, devido à energia necessária para

se produzir este material, seu custo é superior, se comparado com outros materiais

pozolânicos como a EAF e a CV.

A indústria cimenteira, no entanto, emprega tanto a EAF quanto a CV como

adição mineral na produção de diversos tipos de cimento Portland em todo o mundo.

Por isso, esses materiais, na grande maioria das indústrias que os produzem, não

ficam excedentes, logo, não há EAF e CV suficientes para produção de um

aglomerante alternativo, como o geopolímero. Além disso, nos poucos lugares que

estes materiais estão disponíveis, a distância e o custo de transporte acabam

inviabilizando sua utilização. Diante desse contexto, a produção de geopolímeros,

em escala industrial só é tecnicamente viável se os materiais empregados forem

suficientes para suprir a demanda, além, é claro, de apresentarem características

técnicas equivalentes ou superiores ao cimento Portland. Sendo assim, o presente

estudo se propõe a avaliar o comportamento do metacaulim como material

precursor, na produção de pastas geopoliméricas submetidas ao ataque de

substâncias ácidas.

Page 17: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

16

1.1 Objetivos da pesquisa

1.1.1 Objetivo geral

Avaliar a resistência ao ataque de substâncias ácidas em pastas

geopoliméricas à base de metacaulim, produzidas com diferentes ativadores

alcalinos.

1.1.2 Objetivos específicos

A partir do objetivo geral surgem os seguintes objetivos específicos para a

presente pesquisa:

Analisar a influência do tipo de ativador alcalino utilizado sobre as

propriedades físicas e mecânicas de pastas geopoliméricas;

Verificar qual relação de ativação, dentre as analisadas, é menos

susceptível a degradação quando em contato direto com soluções de

ácido acético e lático;

Identificar qual ácido, dentre os analisados, influencia de forma mais

significativa na perda de massa, profundidade de corrosão e resistência à

compressão das pastas geopoliméricas avaliadas.

1.2 Estrutura da proposta de dissertação

Esta dissertação está dividida em cinco capítulos. O capítulo 1 apresenta uma

breve descrição da pesquisa e traz a definição do problema que será estudado. O

capítulo 2 traz a revisão bibliográfica, onde são abordados os conceitos a respeito

de geopolímeros (precursores e ativadores), ambientes ácidos, sua relação com as

manifestações patológicas em estruturas de concreto e durabilidade dos

geopolímeros. A descrição da metodologia utilizada se encontra no capítulo 3. Os

resultados e discussões a respeito dos ensaios são apresentados no capítulo 4. No

capítulo 5 são apresentadas as conclusões e considerações finais da pesquisa.

Page 18: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

17

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Geopolímero

O termo geopolímero foi dado pelo professor francês Davidovits em 1972

quando estudava a ativação alcalina de uma argila de natureza caulinítica. O

pesquisador trabalhava no desenvolvimento de novos cerâmicos, resistentes ao

fogo, devido a vários incêndios catastróficos ocorridos na França. (DAVIDOVITS,

2002). Na busca por materiais inorgânicos resistentes ao calor, Davidovits, junto com

um grupo de pesquisadores, desenvolveram um material silício-aluminoso baseado

em caulim que foi posteriormente ativado alcalinamente, denominaram-no de

geopolímero. Antes de Davidovits, mais precisamente em 1950, o ucraniano

Glukhovsky já havia estudado materiais ativados alcalinamente, o qual chamou de

“solos cimento”. (GLUKHOVSKY, 1959). Estas pesquisas foram impulsionadas por

estudos de estruturas antigas que apresentavam elevada durabilidade. Desde então

os materiais ativados alcalinamente foram alvo de estudo e grande parte das

pesquisas relacionadas aos geopolímeros está voltada ao reduzido impacto

ambiental do produto, devido ao emprego de materiais, que geralmente são

provenientes de resíduos e, também, por não haver necessidade de empregar altas

temperaturas no processo produtivo, como ocorre com o cimento Portland ou

produção de cerâmicas tradicionais.

Em misturas que empregam cimento Portland a relação água/ligante é o

principal parâmetro a ser controlado, influenciando diretamente nas características

finais dos concretos e argamassas. Entretanto, nos geopolímeros, a tecnologia de

ativação leva em consideração mais parâmetros e variáveis, dentre as quais estão o

teor da solução de ativação, as condições de cura, a presença de silicatos solúveis,

o tipo do íon alcalino, a concentração de álcalis, a quantidade de água e as

características físicas e químicas dos materiais precursores. (PROVIS; BERNAL,

2014; BERNAL LOPEZ et al., 2009; DUXSON; PROVIS et al., 2007).

Page 19: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

18

2.1.1 Precursores

Os precursores são materiais aluminossilicatos geralmente com alto conteúdo

de fases amorfas, altamente reativas e solúveis em soluções alcalinas. Os

precursores podem ser divididos em dois grupos: com alto teor de cálcio e com baixo

teor de cálcio. Os aglomerantes baseados na ativação alcalina de um mineral amorfo

são comumente chamados de álcali ativados, mas aqueles cujo precursor possui

baixo teor de cálcio são denominados geopolímeros. (PROVIS; VAN DEVENTER,

2009).

São exemplos de aglomerantes álcali-ativados os constituídos por escória de

alto forno (EAF) e cinza volante (CV) com alto teor de cálcio (a tipo C segundo a

ASTM C618 (2019). Já os aglomerantes produzidos com cinza volante com baixa

quantidade de cálcio (a tipo F segundo a ASTM C618 (2019) ou com metacaulim são

exemplos de geopolímeros.

2.1.1.1 Escória granulada de alto forno

A escória granulada de alto forno (EGAF ou GBFS, como comumente é

mencionada internacionalmente) é um subproduto do processo de produção do

ferro. É composta, basicamente, de silicatos e sílico aluminatos de cálcio amorfos. O

processo de fabricação do ferro é realizado a uma temperatura de aproximadamente

1500 °C. A EGAF é obtida a partir da combinação do minério de ferro, do coque, do

calcário e do dolomito, empregados no alto forno durante a redução do óxido de

ferro. Após a fusão do material, o rejeito, ainda aquecido, é retirado da fornalha e

resfriado rapidamente, o que leva à amorficidade dos cristais constituintes.

(LOTHENBACH; SCRIVENER; HOOTON, 2011).

As propriedades das escórias podem variar de acordo com a quantidade de

impurezas presentes nas matérias primas utilizadas na fabricação do ferro. No Brasil

a referência utilizada para EGAF na construção civil é a ABNT NBR 5735/91, que foi

cancelada em 03/07/2018 e substituída pela ABNT NBR 16697 (2018). Também é

comum encontrar muitos trabalhos que adotam a norma americana como referência

para as diretrizes quanto à utilização da escória na construção civil. (ASTM C989,

2018).

Page 20: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

19

Por ser um subproduto derivado de um resíduo industrial, a EGAF apresenta

baixo custo, quando comparada com outros tipos de adições pozolânicas. Outro

fator importante na reutilização deste material é a questão ambiental. No ano de

2007 fabricou-se 35 milhões de toneladas de ferro gusa no Brasil (MAGALHÃES,

2007), levando em conta que cada tonelada de ferro gusa produzido gera,

aproximadamente, 300 kg de escória, gerou-se cerca de 10,5 milhões de toneladas

de EAF em um ano. (NEVILLE, 1997).

A construção civil é a grande responsável pelo reaproveitamento deste

material, principalmente como adição na produção de cimentos, mais

especificamente os cimentos o CPII-E (Cimento Portland Composto, que pode

conter e até 35% de EGAF) e CPIII (Cimento Portland de Alto Forno, que contém até

70% de EAF), de acordo com a ABNT NBR 16697 (2018). A EGAF é um material

muito apreciado pela indústria cimenteira, principalmente pelo fato de ter

hidraulididade latente. Devido a isso é capaz de substituir grandes quantidades de

clínquer, tornado o cimento mais econômico e com um valor de comercialização

reduzido.

2.1.1.2 Cinza volante

A cinza volante (CV) também é um precursor bastante estudado para

produção de geopolímeros. Este material é um resíduo originado da combustão do

carvão pulverizado na produção de energia em usinas termelétricas. (VARGAS,

2006; ASTM C618, 2019; SOARES, 2013; VARGAS et al., 2007).

A combustão do carvão mineral ocorre a uma temperatura entre 1200 °C a

1700 °C. (MEJÍA; RODRÍGUEZ; DE GUTIÉRREZ, 2014; SIL VA et al., 1999;

SOARES, 2013). A temperatura, assim como as condições de combustão e sistema

de coleta das cinzas estão diretamente relacionados à composição química,

quantidade de carbono, finura dos grãos e características microestruturais da CV.

Estas características também sofrem influência das propriedades do próprio carvão

mineral utilizado. (VARGAS, 2006; CAMÕES, 2002).

As CVs são constituídas basicamente por SiO2, Al2O3, Fe2O3 e em alguns

casos podem conter CaO. Segundo a ASTM C 618 (2019), as CVs a quantidade de

cálcio influencia diretamente na pozolanicidade do material. (ASTM C618, 2019;

CAMÕES, 2002; SOARES, 2013; VARGAS, 2006; MEHTA; MONTEIRO, 1994).

Page 21: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

20

Devido à sua composição química e ao seu custo, que é relativamente baixo

se comparado com outros materiais pozolânicos, a CV é amplamente utilizada pela

indústria de cimento Portland, assim como a EAF, como adição mineral. No Brasil, a

CV é utilizada em dois tipos de cimento Portland, CP II-Z pode conter até 25% de CV

e CP IV até 50% da adição, de acordo com a NBR 16697 (ABNT, 2018).

2.1.1.3 Metacaulim

O metacaulim (MC) é um aluminossilicato térmicamente ativado, obtido

através da calcinação controlada de uma argila caulinítica. (PALOMO et al., 1999;

ROCHA, 2005; SANTA, 2016; VASSALO, 2013). O Brasil tem a segunda maior

reserva de caulim do mundo, com 28% de um total de 15 bilhões de toneladas

existentes. A maior concentração se encontra nos Estados Unidos, que tem uma

reserva de 53%. (SANTA, 2016). O Brasil é responsável por aproximadamente 6,4%

da produção mundial do metacaulim, ficando na quinta posição mundial entre os

produtores do material. A produção nacional é de aproximadamente 2 milhões de

toneladas por ano. Entre os principais consumidores estão os setores de produção

de papel, cerâmicas e tintas. (LONGHI, 2015; LONGHI et al., 2016).

O principal mineral presente no caulim é a caulinita [Al2Si2O5(OH)4], mas pode

conter traços, quartzo, cristobalita e de outros minerais como ferro (Fe), rutilo (TiO2),

entre outros, em menor quantidade. (PALOMO et al., 1999; ROCHA, 2005;

VASSALO, 2013). A Tabela 1 apresenta a composição química que comumente é

encontrada em argilas cauliníticas. No entanto, a composição química pode variar de

acordo com a região onde está localizada a reserva do caulim.

Tabela 1 – Composição química da argila caulinítica.

Composto Argila Caulinítica Típica (%) SiO2 > 40,0 e < 60,0 Al2O3 > 25,0 e < 45,0 Fe2O3 < 8,0 Na2O < 0,1 K2O < 3,0 TiO2 < 1,0 CaO < 1,0

H2O (PF) > 8,0 e < 18,0 Outros < 1,0

Fonte: Rocha (2005).

Page 22: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

21

De acordo com Silva e Silva e Santana (2013), o processo de beneficiamento

do metacaulim é dividido em etapas. Em temperaturas de até 400ºC ocorre

principalmente a perda de massa, que pode ser atribuída à eliminação de moléculas

de água adsorvidas sobre a superfície do caulim natural e de materiais orgânicos

presentes. Normalmente a eliminação da água livre ocorre com temperaturas entre

100 e 150ºC. Para Cheng et al. (2012), a existência de outro tipo de água é

naturalmente descartada, pois o caulim não apresenta cátions entre as camadas ou

água intercalada naturalmente.

Entre as temperaturas de 450 e 650ºC ocorre uma perda de massa que

usualmente atinge valores próximos a 14%, atribuída à formação do metacaulim,

que pode ser apresentado de acordo com a formula:

Al2[Si2O5](OH4) → AlO3 .2SiO2+2H2O

A reação que ocorre neste intervalo consiste na eliminação de duas

moléculas de água por desidroxilação dos grupos OH, que estão ligados às folhas

octaedrais do Alumínio. Essa etapa é marcada por um pico intenso e endotérmico e

usualmente ocorre entre as temperaturas de 450 e 650º C. (SILVA E SILVA;

SANTANA, 2013; CHENG et al., 2012).

Em temperaturas superiores aos 1000 °C durante a ca lcinação pode ocorrer a

cristalização de mulita (3Al2O3.2SiO2), e em temperaturas de aproximadamente

1100º C, ocorre a cristalização da cristobalita.

Davidovits (1999) sugere que para atingir alta reatividade o caulim deve ser

calcinado por um período de duas horas. O aumento na reatividade do caulim após

a calcinação ocorre porque sua estrutura, que é laminar, com tetraedros de sílica e

alumínio unidos por pontes de hidrogênio, é destruída pela calcinação, tornando o

material altamente reativo.

O material obtido através da calcinação do caulim pode apresentar diferentes

granulometrias e colorações. A granulometria vai depender do processo de moagem

empregado no beneficiamento do material. Já a cor é influenciada, principalmente,

pelo conteúdo de ferro (Fe2O3). Na grande maioria das situações, a cor mais

amarelada indica uma maior quantidade de ferro na composição química do caulim.

E em alguns casos, dependendo da aplicação final, um metacaulim com coloração

branca tem tendência de ter um custo maior. (VASSALO, 2013). Este material

normalmente apresenta coloração branca, bege, marrom, laranja ou rosa, conforme

mostra a Figura 1, tendo sido produzidos por diferentes indústrias.

Page 23: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

22

Figura 1 – Tipos de metacaulim de diferentes indústrias (a) Metacaulim do Brasil, (b) Advanced Cement Technologies, (c) Engelhard.

Fonte: Vassalo (2013).

As fontes de caulinita podem influenciar no tamanho de partícula, pureza e

cristalinidade do metacaulim. Para produção de geopolímeros com metacaulim estas

características afetam significativamente o comportamento reológico e o grau de

reação durante o processo de geopolimerização. (VASSALO, 2013). Por isso, é

importante avaliar a pureza da matéria prima.

A utilização de metacaulim para a produção de geopolímeros tem aumentado,

especialmente pelas vantagens técnicas apresentadas por este precursor, quando

comparado aos demais. Dentre as principais vantagens pode-se citar sua alta

reatividade, a formação de produtos de reação homogêneos e com boas

características químicas e físicas, tais como pureza e granulometria. (SHI et al.,

2012).

O uso de metacaulim como uma fonte de aluminossilicato na produção de

geopolímeros proporciona um material de partida mais puro, livre de outros

compostos químicos comumente encontrados em subprodutos industriais, fazendo

com que o metacaulim tenha sua caracterização facilitada. (DUXSON; PROVIS et

al., 2005). Devido à grande quantidade de caulinita disponível no Brasil, o uso deste

material como matéria prima para um novo ligante na construção civil é

potencializado, uma vez que com mais indústrias consumindo este material, novas

tecnologias de exploração de jazidas poderiam ser empregadas para reduzir os

custos de produção e, com isso, o valor de comercialização do metacaulim seria

menor.

Além disso, é importante ressaltar que a indústria de minério do caulim gera

também grandes volumes de rejeitos. Como estes rejeitos comumente apresentam

Page 24: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

23

elevados teores de caulim, também é possível reaproveitar este material para uso

em geopolímeros. (LONGHI, 2015).

2.1.2 Ativadores

Para que o processo de geopolimerização ocorra, o precursor precisa ser

colocado em um meio altamente alcalino, na forma aquosa. Este meio pode ser

obtido por soluções alcalinas únicas, ou combinadas, referidas como ativadores.

(GÖRHAN; KÜRKLÜ, 2014). Dentre os vários materiais existentes, os mais

tradicionais são os hidróxidos alcalinos (NaOH, Ca(OH)2, KOH) e os silicatos

(Na2SiO3 e KOH) (LONGHI, 2015), os quais podem ser utilizados separadamente,

ou em conjunto. Por serem os materiais mais comuns e amplamente estudados na

produção de geopolímeros, nesta pesquisa serão utilizados os hidróxidos e silicatos

à base de sódio.

2.1.2.1 Hidróxido de sódio (NaOH)

A solução composta de NaOH e água é amplamente utilizada na produção de

geopolímeros. (PROVIS; BERNAL, 2014). Isso se deve, principalmente, ao custo

inferior, quando comparado com outros ativadores alcalinos como hidróxidos de

potássio, por exemplo. Além disso, este insumo possui ampla disponibilidade no

mercado e proporciona uma alta alcalinidade na mistura durante o processo de

dosagem de geopolímeros. (LONGHI, 2015).

Por ser um material altamente corrosivo, é necessário o uso de equipamentos

adequados para o manuseio do NaOH. Os hidróxidos de sódio geralmente são

produzidos eletricamente a partir de sais de cloreto. Durante sua produção, o

consumo energético necessário é relativamente baixo, o que torna o material

ecologicamente amigável, em função do pequeno volume de CO2 gerado durante

sua produção. (PROVIS; BERNAL, 2014).

Como desvantagem do ativador NaOH pode-se citar a tendência à formação

de eflorescências nos materiais geopoliméricos. Isso ocorre devido à baixa

reatividade do material antes do endurecimento, que leva à formação de uma

solução com excesso de álcalis. Devido a este excesso, parte dos álcalis não fica

Page 25: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

24

quimicamente ligada, tornando-se susceptível à lixiviação com a água e formação de

cristais na superfície do material (reação com o CO2 do meio ambiente). Dessa

forma, é importante encontrar a concentração ideal de ativação, evitando o excesso

de álcalis na mistura. (LONGHI, 2015; PROVIS; BERNAL, 2014).

2.1.2.2 Silicato de sódio (Na2SiO3·nH2O)

Assim como o hidróxido de sódio, o silicato de sódio também é um ativador

muito utilizado na fabricação de geopolímeros. Este insumo possui um processo de

produção simplificado, tornando seu preço mais acessível, se comparado aos

materiais à base de potássio, por exemplo. (LONGHI, 2015).

Na produção de geopolímeros, os silicatos são os componentes que mais

agregam custos. Geralmente são produzidos a partir de sais de carbonato e sílica,

através da fusão em temperaturas entre 1400 °C e 15 00 °C. (LONGHI, 2015;

PROVIS; BERNAL, 2014). Como resultado se tem a combinação de SiO2 e Na2O,

originalmente em estado sólido. (LONGHI, 2015). Este composto sólido é, então,

dissolvido em água para formar uma solução de elevada viscosidade, também

conhecida como vidro solúvel. (PROVIS; BERNAL, 2014).

O silicato de sódio pode ser representado quimicamente pela equação

Na2SiO3·nH2O. Quanto maior for o valor do pH da mistura, maior será a viscosidade

do material. (PROVIS; BERNAL, 2014).

No processo de produção de geopolímeros, o uso de silicato de sódio implica

em maiores benefícios, quando comparado com o silicato de potássio, porque

proporciona uma maior reatividade durante a geopolimerização, formando uma pasta

mais compacta. Isso ocorre, devido à presença de espécies de silicatos solúveis

(SiOH4) na mistura. A presença destas espécies facilita a formação de produtos de

reação, principalmente em idades iniciais. Com isso se tem um maior número de

produtos de reação, deixando o material mais denso e favorecendo a resistência

mecânica dos geopolímeros. (ZHANG et al., 2012; ZHANG et al., 2013).

Page 26: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

25

2.2 Geopolimerização

O mecanismo exato responsável pelo processo de geopolimerização é

complexo. No entanto, nos últimos anos, os estudos têm avançado muito,

especialmente com técnicas de nano caracterização desse tipo de material.

Primeiramente este processo foi estudado por Glukhovsky, entre os anos de 1950 e

1970. Ao longo dos anos alguns pesquisadores formularam teorias. Segundo Provis

e Van Deventer (2009), o processo de geopolimerização pode ser dividido em três

etapas: (a) destruição-coagulação; (b) coagulação-condensação; (c) condensação-

cristalização. No entanto, Provis e Bernal (2014) afirmam que o processo está

dividido em quatro fases: (a) Dissolução; (b) Precipitação de espécies ativas;

(c) Condensação; (d) Re-solidificação. Cabe ressaltar que o mecanismo com quatro

fases é o mais aceito pelos pesquisadores desse tema. Os autores ainda trazem um

fluxograma ilustrando o processo de geopolimerização, como pode ser verificado na

Figura 2.

Page 27: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

26

Figura 2 – Modelo conceitual de geopolimerização.

Fonte: Adaptado de Provis e Bernal (2014).

No modelo apresentado por Provis e Bernal (2014), a primeira fase do

processo é a dissolução. Esta ocorre quando os aluminossilicatos (precursor) entram

em contato com a solução alcalina (ativador). A partir desta combinação a

substância sólida é dissolvida na solução de ativação e os componentes do

precursor (Si e Al) são dissolvidos para a fase aquosa, ocorrendo a ruptura das

ligações dos componentes do precursor. (MELO, 2011). No caso do metacaulim, a

primeira ligação a ser rompida é a Al-O, por ser a de menor energia. Para que ocorra

Page 28: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

27

a ruptura das ligações de maior energia, como as Si-O, é necessário uma maior

alcalinidade, por isso a liberação das espécies ativas de sílica (Si(OH)4) demanda

mais tempo. (PROVIS; BERNAL, 2014).

A dissolução dos compostos depende de algumas características da

superfície dos sólidos e do grau de saturação da fase líquida. (GARTNER;

MACPHEE, 2011). A dissolução de aluminossilicatos sólidos é acelerada em meios

com pH elevado. No entanto, a presença de sílica solúvel, proveniente do ativador,

faz com que, à medida que ocorre a liberação das espécies de Al(OH)3, se unam

imediatamente com a sílica solúvel do ativador, contribuindo para a formação de

produtos de reação em tempos mais curtos e, portanto, com melhor desempenho

mecânico em idades iniciais. (BURCIAGA-DÍAZ; ESCALANTE-GARCÍA, 2012).

A dissolução do precursor cria uma solução complexa e supersaturada de

aluminossilicatos, permitindo a formação de uma cadeia pelo rearranjo das ligações

(SiO2-Al2O3), gerando um gel polimérico. (DUXSON; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ et al.,

2007; LONGHI, 2015; SCOPEL, 2016). As espécies de alumínio e sílica dissolvidas

interagem e formam oligômeros de aluminossilicatos. Ainda na etapa de dissolução,

os oligômeros da fase aquosa formam grandes redes de ligação a partir de

policondensação. Além disso, nesta fase, a água utilizada para dissolver os

componentes é liberada, mas boa parte permanece preenchendo os poros do gel.

(DUXSON; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ et al., 2007).

A etapa de formação do gel é a mais crítica do processo de geopolimerização.

Em geopolímeros, onde o precursor apresenta baixos teores de cálcio, o principal

produto gerado é o gel de aluminossilicato alcalino, composto por sílica, sódio,

alumínio, podendo conter água quimicamente ligada, conhecido como (N-A-S-H).

Este gel apresenta uma baixa cristalinidade devido às ligações do tipo Q4 que o

compõem. As ligações Q4 são aquelas em que o tetraedro de sílica é compartilhado

com outros três tetraedros, por isso, o N-A-S-H tem grande amorficidade. Segundo

Provis e Bernal (2014), a formação do gel polimérico pode ser muito parecida com a

síntese das zeólitas, mas o mecanismo exato responsável por este processo ainda é

objeto de estudo de muitos pesquisadores.

Na etapa final ocorre o processo de ressolidificação, na qual o gel, que

apresentava uma forma totalmente desordenada, forma estruturas tridimensionais

que são formadas a partir de mecanismos de condensação entre as unidades

monoméricas liberadas do precursor durante a sua dissolução. (PROVIS; VAN

Page 29: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

28

DEVENTER, 2009). As estruturas tridimensionais são as responsáveis pelo

desenvolvimento da microestrutura e da resistência mecânica do material,

finalizando o processo de geopolimerização. (GARTNER; MACPHEE, 2011).

2.2.1 Fatores que influenciam no processo de geopolimerização

Nem todos os produtos geopoliméricos possuem as mesmas propriedades.

Existem fatores que influenciam diretamente nas suas propriedades finais, dentre

eles os que serão discutidos nos itens a seguir deste capítulo.

2.2.1.1 Dosagem

A dosagem de aglomerantes geopoliméricos necessita de conhecimento e

compreensão das propriedades das matérias primas e das etapas do processo de

geopolimerização.

Dentre os principais fatores a serem levados em consideração na dosagem

de geopolímeros está a natureza do íon alcalino, que pode ser à base de sódio ou

potássio (Na e K). De acordo com Duxson; Mallicoat et al. (2007), os geopolímeros

sintetizados com potássio possuem um grau de concentração de Si/Al menor do que

os sistemas de sódio ou de sistemas combinados (sódio + potássio).

As alterações na natureza do ativador podem resultar em alterações na

estrutura molecular de géis geopoliméricos e, consequentemente, influenciar as

propriedades mecânicas. (DUXSON; MALLICOAT et al., 2007). Segundo Duxson;

Lukey et al. (2005), os diferentes íons alcalinos estão relacionados às mudanças

microestruturais como, por exemplo, o tamanho e a distribuição dos poros.

Em complemento, Lloyd, Provis e Van Deventer (2012) verificaram que

geopolímeros ativados com materiais à base de sódio apresentam características

técnicas superiores aos materiais ativados com potássio. Os ativadores à base de

sódio dissolveram melhor o precursor e aumentaram a densidade do material.

Outro fator importante é a presença de silicatos solúveis . A concentração

de sílica na solução de ativação, em sistemas de geopoliméricos com baixo teor de

cálcio (metacaulim ou cinzas volantes) exerce um papel primordial na

geopolimerização do material. Duxson; Mallicoat et al. (2007) observaram, em

sistemas desenvolvidos com metacaulim, que a melhora das propriedades

Page 30: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

29

mecânicas correlaciona-se com o aumento do volume de gel geopolimérico quando

há adição de sílica na solução ativadora.

A maior quantidade de silicatos solúveis provenientes da solução de ativação

acelera a formação do gel polimérico por facilitar as ligações SiO2-Al2O3. Burciaga-

Díaz e Escalante-García (2012) verificaram que as resistências mecânicas iniciais de

geopolímeros ativados com silicato de sódio apresentaram valores superiores aos

geopolímeros ativados sem a presença de silicatos solúveis.

No entanto, o excesso de silicatos solúveis pode causar problemas na

formação do gel polimérico. O excesso de sílica no sistema reduz a alcalinidade da

solução de ativação causando problemas na dissolução do precursor. Por isso,

existem intervalos de ativação, os quais são indicados para obter os melhores

desempenhos. Contudo, por ser uma tecnologia nova, não existem padronizações

dos parâmetros de dosagem. Devido às diferentes composições químicas e físicas

dos materiais utilizados e às diversas condições de ativação, são encontradas na

literatura diferentes relações utilizadas para produzir geopolímeros, conforme pode

ser observado na Tabela 2.

Tabela 2 – Intervalos de ativação.

Precursor Ms* (SiO 2/Na2O) % Na2O Referência

Cinza Volante 0,03 - 1,23 5 - 15 (FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ; PALOMO, 2005)

Metacaulim 0,83 - 1,77 - (BURCIAGA-DÍAZ; ESCALANTE-GARCÍA, 2012)

Metacaulim - 12,56 - 18,75 (GRANIZO; PALOMO; FERNANDEZ-JIMÉNEZ, 2014)

Cinza volante 0,19-1,17 - (CRIADO; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ; PALOMO, 2010)

Cinza volante 1 7 (LLOYD; PROVIS; VAN DEVENTER, 2012)

* Módulo de Sílica (SiO2/Na2O) Fonte: O autor (2019).

As relações comumente citadas na literatura quanto ao módulo Ms

(SiO2/Na2O) variam de 0,03 a 1,77. Este módulo normalmente é alterado de acordo

com do precursor utilizado. Em virtude do grau de amorfidade do precursor, as

relações entre SiO2/Na2O podem aumentar ou diminuir. Usualmente quanto menor a

reatividade do precursor, maior a alcalinidade necessária para dissolvê-lo. Por isso,

para a produção de geopolímeros a partir de materiais pouco reativos é necessário

maior teor de sódio na solução de ativação, ou seja, valores de Ms baixos. Porém,

valores elevados para o módulo Ms indicam maior quantidade de sílica solúvel, o

que favorece elevadas resistências mecânicas iniciais.

Page 31: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

30

Contudo, mesmo não existindo uma padronização dos valores de Ms e de

percentagem de álcalis (%Na2O) para a produção de geopolímeros, existem valores

indicados para a ativação de cada tipo de precursor. O Ms indicado para ativação de

metacaulim deve ficar entre 0 e 1,5. Já a porcentagem de álcalis indicada em

relação à massa do precursor é de 10 e 20% para geopolímeros à base de

metacaulim.

2.2.1.2 Temperatura de cura

A temperatura de cura é uma variável importante no preparo de

geopolímeros. De acordo com Longhi (2015), a temperatura de cura pode acelerar

as relações de dissolução do aluminossilicato e, consequentemente, permitir que o

produto atinja maiores resistências em períodos de tempo mais curtos. Como

resultado se obtém produtos com melhores características mecânicas em menores

períodos de tempo.

No estudo de Mo et al. (2014) as temperaturas de cura de 60 °C propiciaram

as melhores resistências mecânicas aos geopolímeros, obtendo até 100 MPa de

resistência à compressão. Da mesma forma Granizo, Palomo e Fernandez-Jiménez

(2014) avaliaram geopolímeros baseados em metacaulim com diferentes

temperaturas de cura. Os autores chegaram à conclusão de que os geopolímeros

curados com temperaturas de 60 °C e 80 °C reagiram mais rapidamente nas

primeiras idades (24 horas). Em complemento Scopel (2016) e Shi et al. (2012)

verificaram que quando curados em temperatura ambiente os geopolímeros

apresentam menores resistências mecânicas iniciais, se comparadas com as obtidas

com cura térmica. Contudo, Rovnaník (2010), ao avaliar as resistências mecânicas

de argamassas geopoliméricas à base de metacaulim, observou que quando curado

em temperatura entre 10 °C e 40 °C, o material atin ge uma maior resistência

mecânica em idades avançadas. A Figura 3 mostra os resultados de resistência à

compressão encontrados pelo autor.

Page 32: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

31

Figura 3 – Desenvolvimento da resistência à compressão de geopolímero curado à 10, 20, 40, 60 e 80 °C ao longo do tempo (1, 3, 7 e 28 dias).

Fonte: Adaptado de Rovnaník (2010).

De acordo com Rovnaník (2010) a cura dos geopolímeros com temperatura

elevada acelera a formação dos produtos de reação do gel. Os corpos de prova

submetidos a 60 e 80 °C atingiram a resistência de até 47 MPa e 52 MPa,

respectivamente em apenas 24 horas de cura. Entretanto, segundo o autor, a

formação rápida do geopolímero impede que a estrutura da matriz geopolimérica

seja compacta e resistente. Como resultado, o geopolímero curado a temperaturas

elevadas apresenta densidade inferior ao geopolímero curado em temperaturas de

até 40 °C.

Quando o processo de cura dos geopolímeros não é acelerado, ou seja, a

cura acontece de forma lenta durante longos períodos de tempo (30 dias), existe

uma tendência de que os geopolímeros apresentem maiores quantidade de produtos

de reação formados durante este processo. Este fator origina geopolímeros com

maior densidade e, consequentemente, com uma menor permeabilidade,

aumentando a durabilidade do produto em ambientes agressivos. (ROVNANÍK,

2010).

Da mesma forma, Vaidya, Díaz e Allouche (2011) verificaram que mesmo

quando curados sob o calor gerado a partir de sua própria reação de polimerização

exotérmica, ou seja, sem o emprego de calor durante o processo de cura, os

produtos geopoliméricos podem atingir resistências superiores a 40 MPa. Isto

Page 33: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

32

elimina a necessidade de aplicar calor durante a cura, o que potencializa sua

utilização na construção civil, uma vez que pode facilitar o processo de produção do

material.

2.2.1.3 Quantidade de água

Em materiais geopoliméricos a água não exerce influência direta no processo

de geopolimerização. Nestes materiais a água somente promove algumas

propriedades no estado fresco, como a homogeneidade e a trabalhabilidade da

mistura. (LONGHI, 2015). Neste sentido, a presença de água gera o meio aquoso

para que as reações de geopolimerização possam acontecer. Porém, a água e/ou

seu excesso na dosagem podem afetar o desempenho de geopolímeros devido a

um aumento na porosidade. Isso ocorre porque a água pode tornar o pH da solução

ativadora mais alcalino, o que indiretamente reduz a dissolução do metacaulim e

como consequência pode-se ter um material mais poroso no estado endurecido.

Contudo, mesmo sem exercer influência direta no processo de

geopolimerização, a água pode influenciar na durabilidade do geopolímero. Isso

ocorre porque a maior parte da água presente em geopolímeros baseados em

metacaulim encontra-se sem ligação química, ficando dentro da estrutura dos poros,

desempenhando um papel importante na etapa de secagem. Esta água não ligada,

ou livre, pode evaporar do gel de aluminossilicato durante o processo de cura

trazendo micro fissuras causando perda de resistência mecânica e redução da

durabilidade. (KUENZEL et al., 2012; LONGHI et al., 2016).

2.3 Durabilidade dos aglomerantes

O cimento Portland é o principal aglomerante utilizado pela construção civil.

Em geral confere às estruturas elevadas resistências mecânicas e durabilidade.

Contudo, em algumas situações, a sua durabilidade pode ser reduzida. Podendo-se

citar como exemplo o contato direto com substâncias ácidas ou ambientes industriais

que, em geral, são altamente agressivos. (GAIER, 2005).

Os ácidos têm a capacidade de dissolver a pasta de cimento Portland e

lixiviar as partes internas. Depois de degradarem a superfície do concreto, os ácidos

reagem com o hidróxido de cálcio Ca(OH)2, formando sais solúveis, que podem ser

Page 34: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

33

facilmente lixiviados pela água. A consequência do ataque de ácidos é a

desintegração da pasta de cimento, deixando os agregados expostos e, se estes

forem calcários, também poderão ser atacados.

De acordo com o tipo de ácido em contato com matrizes de cimento Portland,

a cinética e agressividade do ataque pode ser significativa ou progredir lentamente.

Ao ingressar no interior da massa de concreto, alguns ácidos podem formar sais

insolúveis e expansivos, causando fissuração e posterior deterioração do material.

Se, ao contrário, os produtos resultantes forem solúveis, há o incremento da

porosidade e se acelera o processo de perda de massa e deterioração.

Contudo, devido à susceptibilidade de degradação do cimento Portland ser

maior em alguns meios, foram estabelecidos parâmetros para quantificar o grau de

agressividade que o ambiente exerce sobre a estrutura de concreto. A NBR 6118

(ABNT, 2014) que trata de Projeto de Estruturas de Concreto: procedimento,

estabelece diferentes graus de agressividade/exposição para as estruturas de

concreto: (a) marinha, (b) urbana e (c) industrial (d) rural. Dentre as condições

apresentadas pela norma, de acordo com Gaier (2005), uma das atmosferas mais

agressivas para as estruturas de concreto é a industrial. Exemplos muito comuns

são as indústrias alimentícias onde, devido ao uso constante de produtos químicos,

existe o contato frequente destes com a estrutura da edificação.

Nas indústrias produtoras de vinagre, por exemplo, é comum encontrar o

ácido acético (CH3COOH), um ácido orgânico com um pH em torno de 4,0. Outro

exemplo é da indústria de extratos, e de refrigerantes. Nestas indústrias é comum o

uso do ácido lático (C3H6O3), o qual também é encontrado em produtos

farmacêuticos, cosméticos e na indústria química. (MELLADO et al., 2017).

Como em algumas situações não é possível evitar o contato direto dos

materiais à base de cimento Portland com as substâncias ácidas, as estruturas

podem ter sua durabilidade reduzida. Devido à necessidade de empregar materiais

mais eficientes para aplicações em casos como os citados anteriormente, os

aglomerantes geopoliméricos emergiram como uma das alternativas possíveis para

substituir o cimento Portland. Em geral, os geopolímeros apresentam características

interessantes, que potencializam suas aplicações em ambientes ácidos, como:

elevada resistência mecânica inicial, baixa permeabilidade e não propensão a

reações tipo álcali-agregado. Além disso, diversos autores vêm relatando altos níveis

de resistência a sulfatos em misturas geopoliméricas. Ainda, quando comparados

Page 35: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

34

com os concretos tradicionais, a principal vantagem dos geopolímeros baseados em

metacaulim é a ausência do produto de reação Ca(OH)2. Como o metacaulim não

possui cálcio em sua composição, estes produtos que são altamente solúveis não

são produzidos, o que, de certa forma, torna os geopolímeros menos susceptíveis de

serem degradados. (PALOMO; GRUTZECK; BLANCO, 1999; THOKCHOM;

GHOSH; GHOSH, 2009).

2.3.1 Durabilidade de geopolímeros

A eficiência em relação à durabilidade dos materiais geopoliméricos vem

sendo relatada por diversos autores. No entanto, ainda existem algumas dúvidas,

decorrentes, principalmente da ausência de métodos padronizados para avaliar o

desempenho destes aglomerantes quando em contato direto com substâncias

deletérias. As pesquisas relacionadas utilizam diferentes condições de exposição,

dosagem e procedimentos para a avaliação da durabilidade destes materiais, o que

acaba dificultando a correlação e confiabilidade nos resultados obtidos.

Bakharev (2005) afirma que o mecanismo de deterioração de materiais

geopoliméricos em ambientes ácidos está relacionado com a despolimerização de

polímeros de aluminossilicato e com a liberação de ácido silícico. Também são

fatores que influenciam neste processo a substituição de cátions de Na+ e K+ por

hidrogênio, ou íon de hidróxido. Além disso, pode ocorrer uma redistribuição da

estrutura do geopolímero.

Em complemento, Mellado et al. (2017) afirmam que o mecanismo de ataque

ácido em materiais geopoliméricos pode ser dividido em três etapas: (a) Dissolução:

o teor de sódio e cálcio são lixiviados e trocados por íons de hidróxido da solução

ácida; (b) Eletrofílico: ligações de Si-O-Al poliméricas são atacadas e íons de

alumínio são removidos da estrutura de aluminossilicato e (c) Realinhamento de

cadeias: as vagas de quadros são reocupadas pelo silício, e então é formada uma

estrutura imperfeita altamente siliciosa.

De acordo com Bakharev (2005), em ambientes ácidos a deterioração dos

geopolímeros ocorre a partir da formação de fissuras na matriz do material. No

entanto, também pode ocorrer a partir da cristalização de zeólitas e da formação de

estruturas granuladas frágeis. O mesmo autor, ao estudar a resistência química de

Page 36: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

35

geopolímeros baseados em cinza volante, quando em contato com soluções ácidas,

encontrou os resultados demonstrados na Tabela 3.

Tabela 3 – Porcentagem de perda de resistência à compressão de geopolímeros à base de cinza volante.

Resistência à

compressão inicial (MPa)

Tipo de ativador utilizado Tipo de ácido

Perda da resistência à compressão (%)

após 30 dias após 60 dias após 180 dias

56-58 Hidróxido de sódio e potássio Acético 4,50% 10% 38,30%

66 Silicato de Sódio Acético * * 60%

57-59,5 Hidróxido de sódio Acético * 45% 40%

56-58 Hidróxido de sódio e potássio Sulfúrico * 89% *

66 Silicato de Sódio Sulfúrico * 82% *

57-59,5 Hidróxido de sódio Sulfúrico 6,40% 10,40% 30,40% Fonte: Bakharev (2005).

No estudo de Bakharev (2005) (Tabela 3) as amostras apresentaram as

menores porcentagens de queda de resistência à compressão quando ativadas com

hidróxido de sódio e colocadas em contato com a solução de ácido sulfúrico, o que

possibilita dizer que este ativador funcionou de maneira mais eficaz na ativação dos

sistemas. Nestas amostras a redução de resistência mecânica foi significativamente

inferior. A adição de hidróxido de potássio (KOH) junto à solução de ativação na

mistura causou um aumento no diâmetro médio dos poros e reduziu a durabilidade

frente à solução ácida. No estudo, os geopolímeros preparados com hidróxido de

sódio foram mais estáveis, ou seja, tiveram menores perdas de resistência

mecânica. Já os geopolímeros preparados com soluções de ativação combinadas,

contendo silicato de sódio e hidróxido de potássio, apresentaram maiores

percentuais de perda de resistência à compressão.

Thokchom, Ghosh e Ghosh (2009) também avaliaram a resistência química

de argamassas geopoliméricas à base de cinza volante através de ensaios de

compressão diametral e perda de massa. Na pesquisa foi utilizada como solução

ativadora uma combinação de hidróxido de sódio e silicato de sódio. As amostras

foram expostas a uma solução de ácido sulfúrico com concentração de 10%, durante

18 semanas. A Tabela 4 mostra os resultados encontrados pelos autores.

Page 37: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

36

Tabela 4 – Resultados dos ensaios de perda de massa e de resistência à compressão de geopolímeros à base de cinza volante.

Material Teor de Na 2O (%)

Perda de massa (%) Perda de resistência à compressão (%)

Argamassa I 5,00 0,41 52

Argamassa II 6,50 0,92 42

Argamassa III 8,00 1,23 28 Fonte: Thokchom, Ghosh e Ghosh (2009)

Os resultados apresentados na Tabela 4 mostram que uma maior quantidade

de álcalis (Na2O) na mistura proporcionou maior resistência à compressão das

argamassas após a exposição ao ácido sulfúrico. Lloyd, Provis e Van Deventer

(2012) também identificaram um aumento da durabilidade devido a maior

concentração de Na2O na mistura. Os autores concluíram que o teor de ativação

influenciou diretamente na durabilidade do material sob ataque ácido.

Burciaga-Díaz e Escalante-García (2012) verificaram que o aumento da

quantidade de silicatos solúveis proporcionou um aumento na resistência à

compressão dos geopolímeros antes do contato com ácidos (aproximadamente

30%). No entanto, após a exposição do material às soluções ácidas, os autores

verificaram que os geopolímeros preparados com maiores quantidades de sílica

solúvel apresentaram maior queda na resistência mecânica do que os geopolímeros

com menor teor de sílica solúvel. Segundo os autores, a quantidade de silicatos

solúveis acelera as ligações Si-Al durante o processo de geopolimerização, o que

favorece o ganho de resistência inicial. No entanto, a maior quantidade de sílica

solúvel no ativador causa uma redução no pH da solução, diminuindo a eficiência do

ativador em dissolver o precursor, o que acaba gerando um geopolímero menos

denso. Devido à falhas no processo de geopolimerização, algumas ligações Si-O

acabam não se rompendo e geram problemas na microestrutura do geopolímero no

estado endurecido. Quando expostas à ambientes ácidos, as ligações Si-O que não

foram rompidas se dissolvem facilmente e permitem a entrada da solução ácida para

dentro da matriz do geopolímero, acelerando o processo de deterioração do

material.

Além da quantidade de sílica, Lloyd, Provis e Van Deventer (2012) verificaram

que a quantidade de água na mistura também interfere diretamente na profundidade

de corrosão. Quanto menor a quantidade de água adicionada melhores os

Page 38: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

37

resultados de resistência devido à redução na porosidade do material. Ainda, o

menor teor de água aumenta o poder de ativação da solução alcalina, o que propicia

a formação de um gel mais denso.

O desempenho dos geopolímeros é diretamente influenciado por diversos

fatores, entre eles destacam-se citar: percentual de álcalis, teor de silicatos solúveis

e quantidade de água. Baseando-se nisso, diversos autores avaliaram a resistência

a soluções ácidas visando encontrar teores ótimos de ativação.

Shi e Stegemann (2000) compararam a resistência ao ataque químico de

aglomerantes álcali ativados à base de escória de alto forno expostos a soluções de

ácido nítrico (pH 3) e ácido acético (pH 3 e 5), com o cimento Portland. De acordo

com os resultados há maior durabilidade nos materiais álcali ativados, no entanto,

ambos materiais, após a corrosão feita pelo ácido, formaram uma camada superficial

rica em sílica (SiO2·nH2O) que, de acordo com os autores, fornece uma barreira que

evita que a corrosão atinja maiores profundidades. De qualquer modo, o estudo

mostrou que a camada de gel de sílica produzida pelo aglomerante álcali ativado é

mais densa e resistente que a do cimento Portland. Esta diferença tem relação,

principalmente, com a maior quantidade de cálcio presente no cimento Portland, o

que acaba fragilizando esta capa protetora.

Bakharev, Sanjayan e Cheng (2003) também compararam o cimento Portland

com materiais ativados alcalinamente. Em sua pesquisa, os autores testaram

concretos geopoliméricos em contato direto com soluções ácidas e compararam com

concretos de cimento Portland. Os resultados mostraram que quando em contato

com solução de ácido acético, de pH 4, por 12 meses, o concreto geopolimérico teve

redução de resistência mecânica de cerca de 33%. Já para o concreto de cimento

Portland, a redução foi de 47%, ou seja, os geopolímeros foram mais duráveis. De

acordo com os autores, seu bom desempenho foi atribuído ao baixo teor de Ca

(40%) comparado ao cimento Portland (65%), que tornou o material menos solúvel a

substâncias ácidas.

Desta forma, e com base no que foi exposto, a utilização de aglomerantes

geopoliméricos pode ser uma alternativa para reduzir manifestações patológicas em

áreas de contato direto com substâncias ácidas. Levando-se em conta que os

materiais comumente empregados para produção desse tipo de aglomerante são

consumidos em sua totalidade pela indústria de cimento Portland, justifica-se o

estudo da produção de geopolímeros baseados em metacaulim.

Page 39: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

38

3 MATERIAL E MÉTODOS

Neste capítulo são descritas as principais características dos materiais

utilizados para a produção de aglomerantes geopoliméricos, bem como o programa

experimental previsto, com o detalhamento dos procedimentos de ensaio adotados

para atingir os objetivos desta pesquisa.

3.1 Material

3.1.1 Precursor

O precursor utilizado nas sínteses dos geopolímeros foi um metacaulim obtido

através da calcinação do caulim natural de elevada pureza, extraído da jazida

localizada na cidade de Pantano Grande/RS.

Para que o caulim fosse transformado em metacaulim, o material foi calcinado

a uma temperatura de 750 °C durante o período de 2 horas, de acordo com métodos

desenvolvidos em pesquisas anteriores e testes de laboratório. (LONGHI, 2015;

LONGHI et al., 2016). Após a calcinação, o metacaulim passou por um processo de

moagem por um período de 120 minutos, em um moinho de bolas metálicas de 5-

10mm de diâmetro, com capacidade para 3,3kg de metacaulim (volume de 3,7

litros).

Após a moagem realizou-se o ensaio para a determinação da composição

química do metacaulim. A Tabela 5 apresenta os resultados obtidos através de

espectrometria por fluorescência de raios X (FRX).

Tabela 5 – Composição física e química do metacaulim.

Componentes Valores

SiO2 57%

Al2O3 40%

CaO + MgO < 0,1%

SO3 < 0,1%

Na2O < 0,1%

Eq. Alcalino Na2O < 0,1%

Fe2O3 < 2 %

TiO2 < 1 % Fonte: O autor (2019)

Page 40: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

39

A distribuição granulométrica das partículas de metacaulim foi obtida através

da análise por Cilas LASER. O tamanho médio dos grãos obtido no ensaio é de

24,81 µm. A Figura 4 mostra a curva de distribuição granulométrica do material.

Figura 4 – Curva de distribuição granulométrica do metacaulim.

Fonte: O autor (2019)

A fim de avaliar as condições de cristalinidade do metacaulim produzido, foi

realizada a análise de difratometria de raios X (DRX). Para tanto, foi empregado um

difratômetro de marca Siemens (BRUKER AXS), modelo D-5000 (θ-θ), equipado

com tubo de ânodo fixo de Cu (λ = 1.5406 Å), operando a 40 kV e 40 mA no feixe

primário e monocromador curvado de grafite no feixe secundário. O intervalo angular

analisado foi de 5 a 75°, escala 2 θ, em passo de 0,05°/s, utilizando-se fendas de

divergência e anti-espalhamento de 1° e 0,2 mm no d etector. A Figura 5 mostra o

resultado da análise através de DRX do material. De acordo com o resultado, a

amostra apresenta-se, quase que em sua totalidade, amorfa. Isso pode ser

evidenciado através da presença de um desvio considerável da linha base

(background) ou halo identificado no intervalo 2θ entre 20-30º. Dois picos de baixa

intensidade foram observados e classificados como fases quartzo (SiO2).

Page 41: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

40

Figura 5 – Resultado do ensaio de DRX do metacaulim.

Fonte: O autor (2019)

3.1.2 Ativador

A solução ativadora empregada no estudo foi o silicato de sódio alcalino

(Na2SiO3·nH2O). A concentração do produto foi 53% H2O, 15% Na2O e 32% SiO2,

uma relação SiO2/Na2O de 2,14. O silicato de sódio (SS) desta pesquisa foi

fornecido pela empresa Nilla Comércio de Produtos Ltda., da cidade de Porto

Alegre/RS e suas características podem ser avaliadas através da Tabela 6.

Tabela 6 – Características do Silicato de Sódio.

Características Especificação Unidade Características Organolépticas Liquido Viscoso -

Viscosidade Brookfield RVT 600,000 - 1300,000 cPs* Densidade 52,00 - 54,20 g/cm3

Óxido de Sódio 14,00 - 16,00 % Relação Na2O/SiO2 2,10 - 2,40 %

Sílica 31,00 - 34,00 % Sólidos Totais 45,00 - 50,00 %

* Centipoises

Fonte: O autor (2019)

O reagente empregado também é uma fonte de sílica para a mistura

geopolimérica, além da sílica fornecida pelo precursor (metacaulim). Para atingir o

teor de álcalis necessário para a ativação do metacaulim, foi utilizado, em conjunto

Page 42: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

41

com o silicato de sódio, hidróxido de sódio (NaOH), de origem industrial, em

escamas, da marca Sodabel, com concentração de 99%.

3.2 Métodos

3.2.1 Síntese de ativação

Para a síntese dos geopolímeros o precursor foi ativado com quatro diferentes

concentrações de ativadores alcalinos. O processo consistiu em ativar quimicamente

o metacaulim submetendo-o a uma solução de silicato de sódio alcalino combinado

com hidróxido de sódio (NaOH). As quantidades de material adicionadas podem ser

visualizadas na Tabela 7. As pastas foram elaboradas à temperatura ambiente

(aproximadamente 23 °C).

Tabela 7 – Relações utilizadas para a ativação do metacaulim.

Nome

% Álcalis expressado como % de

(Na2O)

Módulo MS (SiO2/Na2O)

Água/ Sólidos

Relação molar total SiO2/Al 2O3

Relação molar total Na2O/Al 2O3

Geo 15 - 05 15 0,5 0,45 3,1 0,67 Geo 15 - 1 15 1 0,45 3,4 0,67

Geo 20 - 0,5 20 0,5 0,45 3,2 0,89 Geo 20 - 1 20 1 0,45 3,6 0,89

Fonte: O autor (2019)

A relação água/sólidos utilizada para a dosagem das pastas foi de 0,45, esta

foi definida de acordo parâmetros verificados por Foscarini e Tiecher (2018) que,

após testes laboratoriais, concluíram que utilizando esta relação era possível obter

pastas com trabalhabilidade adequada para moldar as amostras. Esta relação

corresponde à soma da água presente no silicato de sódio com a água livre,

divididos pela quantidade de materiais sólidos. Consideram-se materiais sólidos o

metacaulim, o hidróxido de sódio em escamas e os componentes sólidos do silicato

de sódio.

Existem três métodos que são usualmente utilizados para a ativação de

materiais a fim de torná-los aglomerantes geopoliméricos, o que dificulta a

padronização das relações. Para esta pesquisa, utilizou-se o método de ativação

Page 43: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

42

que considera, inicialmente, a percentagem de Na2O necessária, com base na

quantidade de precursor que será ativado. Posteriormente, adicionam-se à mistura

os silicatos solúveis. Estes foram ajustados de acordo com a relação entre

SiO2/Na2O (Ms), determinada previamente. Este método foi selecionado por ser,

atualmente, o mais difundido internacionalmente para sistemas geopoliméricos.

(FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ; PALOMO, 2005; LLOYD; PROVIS; VAN DEVENTER,

2012; BERNAL et al, 2016).

Embora as relações utilizadas nesta pesquisa não sejam exatamente iguais

às sugeridas pela literatura, as dosagens foram estabelecidas dentro de limites

baseados em trabalhos já existentes, tais como os apresentados na Tabela 2. As

variações nos teores de ativação se justificam pela diferença entre as condições de

ativação e a composição química e física dos materiais utilizados. Após definidas

essas relações, os materiais foram pesados e as quantidades de cada traço estão

apresentadas na Tabela 8.

Tabela 8 – Quantidade de materiais para cada traço.

Nome Metacaulim (g)

Sil icato de Sódio (g)

Hidróxido de Sódio (g)

Água (g)

Geo 15 - 05 100 22,3 15 44,8 Geo 15 - 1 100 44,5 10,7 35,8

Geo 20 - 0,5 100 29,7 20,1 44,7 Geo 20 - 1 100 59,4 14,3 32,8

Fonte: O autor (2019)

Inicialmente, o hidróxido de sódio foi dissolvido em água. Por esta ser uma

reação de natureza exotérmica, ocorre a liberação de calor. Devido a este fator, a

solução ficou em repouso durante 30 minutos para a redução da temperatura. Em

seguida, adicionou-se o silicato de sódio alcalino e, posteriormente, o metacaulim.

Com o auxílio de um misturador mecânico, os materiais foram

homogeneizados durante cinco minutos. Em seguida foram moldados corpos de

prova cilíndricos, com 36 mm de diâmetro e 72 mm de altura. O adensamento dos

corpos de prova foi feito em uma mesa vibratória para a retirada do ar incorporado

nas amostras, durante 60 s. Em seguida, os corpos de prova foram submetidos à

cura úmida, à temperatura ambiente (aproximadamente 23 °C), durante um período

de 28 dias.

Page 44: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

43

Após o período de cura, as amostras foram imersas em soluções de ácido

acético e ácido lático. As soluções ácidas foram preparadas adicionando-se uma

concentração de 10 Molar de ácido acético e 10 Molar de ácido lático, em água

destilada, seguindo o mesmo procedimento realizado por Lloyd, Povis e Van

Deventer (2012). O pH da mistura foi monitorado diariamente com o auxílio de um

medidor de pH portátil. Baseado no método proposto por Gorninski e Kazmierczak

(2008), após sete dias de imersão em soluções ácidas, as amostras foram retiradas

e lavadas com água para posterior análise de durabilidade.

3.2.2 Resistência à compressão

Para avaliar a resistência à compressão das amostras, realizaram-se ensaios

de acordo com a NBR 7215. (ABNT, 1996). Esta norma destina-se à avaliação de

cimento Portland, mas como não existem padrões para a caracterização de

argamassas geopoliméricas, esta pesquisa empregará o procedimento experimental

da referida norma para avaliar a resistência à compressão das misturas.

Para a determinação da resistência à compressão média foram moldados seis

corpos de prova para cada traço de geopolímero. Estes foram submetidos ao ensaio

como (amostras de referência) e após a imersão nas soluções ácidas (resultados),

sendo três exemplares para cada avaliação de resistência.

A ruptura dos corpos de prova ocorreu sete dias após a retirada das amostras

das soluções ácidas. Durante o ensaio, a velocidade de aplicação da carga foi de

0,7 mm/min, em uma prensa modelo PC200C, da marca EMIC, com capacidade de

2000 kN e precisão de aproximadamente 1% da carga aplicada.

Como as resistências foram avaliadas antes e após a imersão das amostras

nas soluções ácidas, foi possível verificar se houve perda de resistência mecânica

nos geopolímeros e, além disso, determinar qual ácido se mostrou mais agressivo às

pastas geopoliméricas.

3.2.3 Perda de massa

Para esta avaliação, utilizou-se o método adaptado de Gorninski e

Kazmierczak (2008). Após o período de cura de 28 dias, três amostras de cada traço

de geopolímero foram pesadas e, posteriormente imersas em soluções de ácido

Page 45: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

44

acético e lático, durante sete dias. As amostras foram então lavadas com água e

permaneceram em ambiente de laboratório durante sete dias para a secagem. Após

a secagem, as amostras foram pesadas novamente, podendo-se, assim, determinar

o percentual de redução de massa das mesmas. As pesagens foram realizadas no

ambiente de laboratório em uma balança semi-analítica, da marca Behaca, modelo

bk 300.

3.2.4 Profundidade de corrosão

Também com o intuito de avaliar a resistência dos geopolímeros expostos a

soluções ácidas, realizou-se a análise da profundidade de corrosão. Esta etapa foi

dividida em duas partes, conforme se descreve a seguir:

1. Para a primeira análise empregou-se o método proposto por Lloyd,

Provis e Van Deventer (2012). Após sete dias de imersão das amostras

nas soluções ácidas, realizou-se escovação manual das mesmas com uso

de escova de aço. Este procedimento de escovação foi realizado para

retirar o material deteriorado pela solução. De acordo com os princípios

do método, o material não atingido pelo ácido não é danificado. Com o

auxílio de um paquímetro eletrônico mediram-se a altura das amostras,

sendo empregados três corpos de prova por traço. Com os resultados

obtidos antes e após a imersão nas soluções ácidas foi possível estimar a

profundidade de penetração do ácido na pasta geopolimérica.

2. Na segunda etapa da análise as amostras foram serradas ao meio e, a

partir de imagens fotográficas, realizou-se uma análise macroscópica da

superfície das amostras. Para auxiliar as leituras aplicou-se uma solução

de fenolftaleína 1% na superfície cortada. Assim, através da mudança de

coloração do material, foi possível determinar a área deteriorada pelo

ácido. O método utilizado para tal analise foi adaptado de Mellado et al.

(2017). Realizaram-se medições de cada área verificada na superfície das

amostras como se ilustra na Figura 6. A partir destas medições, baseadas

na mudança de tonalidade, foram determinadas: profundidade corroída,

profundidade neutralizada e profundidade intacta. As medições foram

realizadas com auxílio do software ImageJ, que permitiu converter a

distância em pixels para milímetros. Onde o marcador identificou o pH

Page 46: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

45

alcalino, determinou-se que o ácido não atingiu tal profundidade na

amostra, podendo ser identificado pela cor rosa, que mostra que esta

camada foi determinada como intacta. A parte sem sinais de degradação

e tonalidade idêntica à amostra original foi considerada como camada

neutralizada, ou seja, o pH não é mais alcalino, porém o ácido não

deteriorou a amostra. As amostras que apresentavam sinais físicos de

deterioração e/ou alteração da coloração original da amostra foram

classificadas como corroídas.

Figura 6 – Modelo de análise da profundidade de corrosão.

Fonte: O autor (2019)

3.3 Análise estatística dos resultados

Para análise estatística dos resultados utilizaram-se dois parâmetros de

controle: (a) concentração de ativação; (b) solução ácida. Para o primeiro parâmetro

utilizou-se quatro níveis, para o segundo, dois níveis. Ao todo foram feitas oito

combinações para que todos os resultados fossem devidamente avaliados, conforme

apresenta-se na Tabela 9.

Page 47: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

46

Tabela 9 – Combinações entre fatores e níveis empregados para análise estatística.

Ordem Precursor Água/Sólidos % Álcalis Módulo Ms Solução Ácida 1 Metacaulim 0,45 15 0,5 Acético 2 Metacaulim 0,45 15 0,5 Lático 3 Metacaulim 0,45 15 1 Acético 4 Metacaulim 0,45 15 1 Lático 5 Metacaulim 0,45 20 0,5 Acético 6 Metacaulim 0,45 20 0,5 Lático 7 Metacaulim 0,45 20 1 Acético 8 Metacaulim 0,45 20 1 Lático

Fonte: O autor (2019).

As variáveis de resposta analisadas foram a resistência à compressão, a

perda de massa e a profundidade de corrosão. A análise dos dados baseou-se em

um modelo estatístico fatorial completo. Para cada análise foram feitas três

repetições, a fim de evitar erros sistemáticos. Foram necessárias 96 amostras para

que todas as variáveis de resposta fossem analisadas.

Tabela 10 – Cálculo da quantidade de repetições, de acordo com o erro experimental.

Fatores Graus de liberdade Ativadores alcalinos (AA) 3

Soluções ácidas (SA) 1 Interação entre (AA) x (SA) 3

Erro Experimental 16 Total 23

Fonte: O autor (2019).

Page 48: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

47

4 RESULTADOS

4.1 Resistência à compressão

A fim de avaliar se as pastas se mantinham estáveis após a imersão nas

soluções ácidas, três amostras de cada traço foram avaliadas antes do contato com

os ácidos, sendo denominadas amostras de referência. A Figura 7 apresenta os

valores de resistência à compressão dos geopolímeros dosados neste estudo antes

do ataque ácido.

Figura 7 – Resistência à compressão média das amostras de referência.

7,86

28,26

15,11

40,88

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Geo 15-05 Geo 15-1 Geo 20-05 Geo 20-1

Geopolímeros

Res

istê

nci

a à

com

pre

ssão

(M

Pa)

Fonte: O autor (2019).

A partir das resistências apresentadas na Figura 7, nota-se que houve

influência tanto do incremento na quantidade de sódio (Na2O) das misturas, quanto

da adição de sílica solúvel (SiO2). Tais resultados são coerentes com os

apresentados por Wang, Li e Yan (2005) para concentrações semelhantes,

indicando que as condições de ativação utilizadas foram adequadas para a

produção das pastas geopoliméricas do presente estudo.

Através da Figura 8 verifica-se que os geopolímeros do traço Geo 15-05

resultaram em resistência à compressão média de 7,86 MPa, enquanto a resistência

dos geopolímeros do traço Geo 15-1 foi de 28,26 MPa. Isso sugere que, mantendo-

se fixa a quantidade de álcalis do sistema (Na2O), com o aumento apenas da

Page 49: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

48

quantidade de sílica solúvel, ocorre um aumento médio de 72,17% na resistência à

compressão das amostras.

Comportamento semelhante foi verificado para as amostras Geo 20-05 e Geo

20-1, cujas resistências médias foram de 15,11 e 40,88 MPa, respectivamente. Para

estas amostras o aumento de resistência foi de 60,20%. Em ambas as comparações

verificou-se que, mesmo mantendo constante a quantidade de álcalis do sistema

(relação Na2O/Al2O3), as resistências aumentaram devido ao incremento de sílica

solúvel junto à solução de ativação.

É possível afirmar que em todas as relações de ativação, testadas quanto à

compressão, apresentaram resultados estatisticamente significativos, o que

possibilitou avaliar a influência do teor de ativação na resistência mecânica das

amostras.

Tal fenômeno está ligado à síntese de ativação dos geopolímeros. Observa-

se o aumento na resistência quando a relação SiO2/Al2O3 foi aumentada de 3,1 para

3,4 e 3,2 para 3,6. Isso ocorre devido ao incremento na quantidade de sílica no

sistema. A evolução da resistência à compressão das amostras que obtiveram os

melhores resultados (SiO2/Al2O3 3,2 e 3,6) pode ser verificada na Figura 8, onde

percebe-se a diferença nas resistências das amostras avaliadas apenas alterando o

teor de silicatos solúveis da mistura.

Figura 8 – Evolução da resistência à compressão das amostras Geo 20-05 e Geo 20-1 em função da relação SiO2/Al2O3.

Fonte: O autor (2019).

Page 50: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

49

Segundo o que traz a literatura, ao adicionar sílica solúvel no sistema,

proveniente do silicato de sódio alcalino mais ligações entre sílica-alumínio ocorrem,

possibilitando a formação de uma quantidade maior de gel polimérico (N-A-S-H) e,

por consequência, acarretando um ganho de resistência mecânica. Isso ocorre

porque as ligações Si-O são as de maior energia no precursor (metacaulim) e,

portanto, demandam, além de um ambiente altamente alcalino, mais tempo para

serem rompidas e liberarem espécies ativas de sílica (Si(OH)3-). Já as ligações Al-O

são mais fracas e se rompem facilmente liberando espécies ativas de alumínio

(Al(OH)4) com velocidade superior (DUXSON; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ et al., 2007;

PROVIS; BERNAL, 2014).

Contudo, com a adição de sílica solúvel no sistema, ao ser dissolvido, o

alumínio liga-se com as moléculas de sílica rapidamente, acelerando o processo de

formação de produtos de reação, uma vez que não há necessidade de esperar que

a sílica presente no metacaulim seja dissolvida. As espécies ativas, com o avanço

das reações, aumentam suas concentrações, condensam e precipitam, formando

oligômeros, que posteriormente se polimerizam e formam o gel N-A-S-H. (PROVIS;

BERNAL, 2014).

Ao empregar soluções alcalinas com silicatos solúveis (de sódio) aumentou-

se a cinética das reações, quando comparadas às soluções de hidróxidos alcalinos,

levando à formação de uma estrutura mais compacta e de maior estabilidade.

Diversos autores também citam que o incremento de resistência também pode ser

atribuído ao aumento da relação SiO2/Na2O do sistema, resultando estruturas com

maior grau de amorficidade e resistências mecânicas mais elevadas. (ALONSO;

PALOMO, 2001; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ; PALOMO, 2005; LEE; VAN DEVENTER,

2002). Para Fernández-Jiménez e Palomo (2005) os valores ideais para o módulo de

sílica (SiO2/Na2O) ficam entre 1 e 1,4, o que é coerente com os valores encontrados

nesta pesquisa, indicando que o aumento da quantidade de sílica solúvel tende a

ocasionar ganho de resistência mecânica.

No entanto, cabe salientar que, ao aumentar o Ms a valores superiores a 1, o

custo de produção se torna economicamente inviável, uma vez que o silicato de

sódio é o insumo mais caro. Além disso, em alguns casos, o excesso de silicato de

sódio pode implicar em queda na resistência mecânica e, para exemplificar, cita-se o

estudo de Scopel (2016), que avaliou a ativação da cinza de fundo e constatou

queda na resistência ao aumentar o módulo Ms de 1 para 1,5.

Page 51: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

50

A fim de avaliar a durabilidade das amostras após a imersão em soluções de

ácido acético e láctico, realizou-se um novo ensaio de resistência à compressão.

Após o ensaio verificou-se que todas as amostras avaliadas apresentaram reduções

na resistência. A Tabela 11 mostra as resistências à compressão médias das

amostras de referência e das amostras que foram imersas nas soluções ácidas.

Tabela 11 – Resistência à compressão média das amostras de referência e das amostras que sofreram o ataque químico com soluções ácidas

Amostras Referência (MPa) Ácido acético (MPa) Ácido láctico (MPa) Geo 15-05 7,86 2,01 2,97 Geo 15-1 28,26 23,25 24,57 Geo 20-05 15,11 13,00 13,81 Geo 20-1 40,88 34,81 36,09

Fonte: O autor (2019).

A partir dos resultados da Tabela 11 calcularam-se as porcentagens de perda

de resistência das amostras, a tabela mostra a resistência à compressão de

referência e as resistências residuais encontradas. Nota-se que ocorre uma perda

significativa da resistência mecânica em todos os traços avaliados.

Para os traços com 15% de álcalis (Geo 15-05 e Geo 15-1), a redução na

resistência foi de 62,12% e 13,06% para soluções de ácido acético e láctico,

respectivamente. Já, para os geopolímeros com 20% de álcalis, as reduções foram

de 8,60% para o Geo 20-05 e 11,73% para o Geo 20-1.

A solução de ácido láctico se mostrou mais agressiva às amostras

geopoliméricas avaliadas. O traço mais afetado foi o Geo 15-05, no qual a perda de

resistência atingiu 74,39%. Já a amostra Geo 15-1 teve a resistência reduzida em

17,71%. As amostras Geo 20-05 e Geo 20-1 tiveram perdas de 13,96% e 11,57%,

respectivamente.

Page 52: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

51

Figura 9 – Resistência à compressão média das amostras que sofreram ataques de soluções ácidas e de amostras de referência.

7,8

6

28

,26

15

,11

40

,88

2,0

1

23

,25

13

34

,81

2,9

7

24

,57

13

,81

36

,09

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Geo 15-05 Geo 15-1 Geo 20-05 Geo 20-1

Res

istê

nci

a à

com

pre

ssão

(M

Pa)

Referência MPa Ácido Acético MPa Ácido Láctico MPa

Fonte: O autor (2019).

É possível verificar que o traço Geo 15-05 apresentou grande perda de

resistência à compressão quando em contato com ambas as soluções ácidas, em

média as amostras apresentaram uma redução de 60 a 70%. Possivelmente a

redução ocorreu pelo fato de ter um teor reduzido da solução de ativação, assim, as

reações de geopolimerização não ocorreram da forma esperada. Ou seja, a

quantidade de material de ativação não foi suficiente para que todo o metacaulim

reagisse. A queda expressiva de resistência indica que, provavelmente, a solução

ácida lixiviou as partículas de metacaulim que não reagiram, possibilitando que o

ácido atingisse camadas mais profundas da amostra.

Os danos mais profundos ocorreram de forma mais acentuada nas amostras

com ativação Geo 15-05. No entanto, todas as amostras sofreram danos na matriz

geopolimérica, sendo que as ligações Si-O-Al foram atacadas. Esse efeito causou

enfraquecimento da estrutura do geopolímero, conforme mostra a Figura 10, que

apresenta os percentuais de perdas de resistência. (BURCIAGA-DÍAZ;

ESCALANTE-GARCÍA, 2012).

Page 53: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

52

Figura 10 – Comparativo do percentual de perda de resistência à compressão das amostras.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Geo 15-05 Geo 15-1 Geo 20-05 Geo 20-1

Per

cen

tual

de

Per

da

de

Res

istê

nci

a

Acético

Láctico

Fonte: O autor (2019).

Apesar dos teores de ativação irem aumentando entre as amostras, não foi

possível identificar diferença significativa de perda de resistência entre as amostras

Geo 15-1, Geo 20-05 e Geo 20-1, apesar do traço Geo 20-05 se mostrar mais

estável. Também é possível afirmar que para os teores ativados, as duas soluções

ácidas (ácidos acético e láctico) e sua interação com o teor de ativação não exercem

influência significativa na resistência das amostras, o que pode se verificar na Figura

10, na qual não se pode perceber uma diferença acentuada nos percentuais de

perda de resistência à compressão residual nas amostras imersas em ácido acético

e láctico.

Contudo, apesar de o percentual de redução na resistência à compressão dos

geopolímeros avaliados parecer elevado, se se comparar os resultados à avaliações

semelhantes realizadas com cimento Portland, poder-se-á notar que os resultados

obtidos foram satisfatórios.

Bakharev, Sanjayan e Cheng (2003) ao avaliar a durabilidade de concretos

tradicionais expostos a solução de ácido acético (pH 4) verificaram um percentual

médio de perda de resistência 14% superior quando comparado com os

aglomerantes ativados alcalinamente avaliados pelos autores. Em média, os autores

constataram que, a perda de resistência à compressão foi de 47% para os concretos

à base de cimento Portland. Comparando os resultados citados aos obtidos nesta

pesquisa é possível perceber que os melhores resultados (Geo 20-05 e Geo 20-1),

Page 54: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

53

apresentaram percentuais de perda de resistência de aproximadamente 14%, o que

mostra uma redução de aproximadamente 33% na perda de resistência.

Contudo, vale ressaltar que vários fatores podem influenciar os resultados,

portanto não se pode tomar como regra esta diferença. Vale lembrar que os teores

de ativação, a concentração da solução ácida e o tempo de exposição usados nesta

pesquisa não foram idênticos ao da pesquisa citada. Devido a isso, os resultados

podem sofrer variações.

Realizou-se uma análise estatística (ANOVA) para verificar se os teores de

ativação e o tipo de solução ácida influenciavam na resistência à compressão das

amostras avaliadas (Tabela 12). Através da Tabela 6 é possível afirmar, com 95% de

confiabilidade, que o teor de ativação exerce influência direta na resistência à

compressão das amostras. Antes de realizar a análise ANOVA testou-se a

normalidade dos dados através do teste de D’Agostine Pearson, por meio do qual

verificou-se que os dados seguem uma distribuição normal.

Tabela 12 – Análise de variância (ANOVA) da resistência à compressão.

Fatores Soma dos quadrados

Graus de liberdade

Média quadrática Valor – F Valor - p

Solução ácida 218,38 1 218,38 1,6016 0,223796 Teor de ativação 13787,26 3 4595,75 33,7054 0,000000

Interação SxT 59,95 3 19,98 0,1466 0,930386 Erro 2181,61 16 136,35 -- --

Fonte: O autor (2019).

Para as amostras com 20% de álcalis (Geo 20-05 e Geo 20-1) a perda de

resistência foi menor, o que está relacionado ao processo de ativação do

metacaulim. A dissolução do metacaulim está diretamente relacionada com a

alcalinidade da solução de ativação, por isso, quanto maior o percentual de solução

empregado (20%), maior a resistência.

A análise estatística também evidenciou que o teor de álcalis influenciou nas

resistências obtidas. Com o incremento de hidróxido de sódio, a solução de ativação

alcançou maior alcalinidade, promovendo melhor dissolução do metacaulim para

fase aquosa e posteriormente, facilitou a formação do gel N-A-S-H (PROVIS;

BERNAL, 2014). O aumento na quantidade de gel indica uma maior quantidade de

produtos reagindo, o que significa que mais metacaulim foi dissolvido e que menos

Page 55: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

54

material não reativo se encontra no interior da amostra. Isso sugere que o material

terá uma menor quantidade de vazios e possivelmente uma maior densidade.

4.2 Perda de massa

A Tabela 13 apresenta os valores médios de perda de massa, obtidos a partir

de três amostras individuais para cada traço. Conforme descrito anteriormente, no

capítulo 3, depois do período de cura, as amostras ficaram sete dias em ambiente de

laboratório e, posteriormente, tiveram seus valores de referência medidos. Após, as

amostras foram imersas nas soluções de ácido acético e láctico durante sete dias.

Então, as amostras foram retiradas da solução e lavadas em água corrente,

permanecendo em ambiente de laboratório por mais sete dias para secagem,

quando procedeu-se a medição das massas novamente.

Tabela 13 – Perda de massa das amostras geopoliméricas submetidas a ataque ácido.

Material Teor de Álcalis (%) Módulo Ms Solução Ácida Perda de Massa

(%) Geopolímero 15 0,5 Acético 9,30 Geopolímero 15 1 Acético 7,19 Geopolímero 20 0,5 Acético 6,73 Geopolímero 20 1 Acético 8,05 Geopolímero 15 0,5 Láctico 10,24 Geopolímero 15 1 Láctico 7,59 Geopolímero 20 0,5 Láctico 7,40 Geopolímero 20 1 Láctico 8,33

Fonte: O autor (2019).

A partir dos resultados obtidos na análise de variância (ANOVA, Tabela 14) é

possível afirmar que o tipo de solução ácida não exerceu influência significativa na

perda de massa das amostras, assim como a interação entre as soluções ácidas e o

teor de ativação. O único fator que influenciou a perda de massa foi o teor de

ativação dos geopolímeros.

Tabela 14 – Uma análise de variância (ANOVA) da variável perda de massa.

Fatores Soma dos quadrados

Graus de liberdade

Média quadrática Valor – F Valor - p

Teor de Ativação 56,374 3 18,791 8,438 0,001368 Soluçã o Ácid a 3,963 1 3,963 1,779 0,200914 Ativação*Ácido 0,903 3 0,301 0,135 0,937589

Erro 35,633 16 2,227 - - Fonte: O autor (2019).

Page 56: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

55

As amostras com traço Geo 15-05 e Geo 20-1 foram as que obtiveram as

maiores porcentagens de perda de massa. Ambas as amostras apresentaram um

comportamento parecido após o ataque ácido, independente do ácido testado.

Assim como foi observado na análise da perda de resistência, o traço 15-05 se

mostrou mais frágil e nele notou-se a maior perda de massa, dentre todos os traços

avaliados.

A Figura 11 evidencia que, apesar da pequena diferença, houve maior perda

de massa nas amostras atacadas com ácido láctico. As amostras Geo 15-1 e 20-05

foram as que apresentaram melhores resultados. O traço Geo 15-1 possui relação

SiO2/Al2O3, de 3,4, sugerindo que o aumento na quantidade de sílica solúvel no

sistema possibilitou a formação de maiores quantidades de produtos de reação.

Para o traço Geo 20-05, a relação SiO2/Al2O3 foi de 3,2. Contudo, comparando os

traços, houve redução de aproximadamente 33% na quantidade de silicato alcalino

durante a dosagem do traço Geo 20-05, mas, mesmo assim, a perda de massa foi

menor, o que indica que o incremento de sílica solúvel é importante até certo ponto,

conforme já foi descrito por Fernández-Jiménez e Palomo (2005). Segundo os

autores, o excesso de silicato alcalino pode prejudicar o desempenho do

geopolímero. E, além disso, nota-se um fator custo/desempenho muito melhor para

o traço Geo 20,05, visto que a redução de 33% de silicato solúvel durante a ativação

corresponde a uma queda significativa no custo de produção deste traço, uma vez

que o silicato de sódio é o insumo com maior custo.

A variação no percentual de perda de massa, foi influenciada principalmente

pelas alterações no teor de sódio. Quando se analisou a influencia no teor de sílica

(relação SiO2/Al2O3), foi percebido que o aumento de 100% na quantidade de sílica

solúvel adicionada no teor de ativação causou uma redução de 2,38% na perda de

massa (em média), quando comparadas às amostras Geo 15-05 e Geo 15-1 (Figura

14). Fazendo-se a comparação com as amostras Geo 15-05 e Geo 20-05, nota-se

uma redução média na perda de massa de 2,72%. Contudo, nestas amostras a

concentração de sílica solúvel foi praticamente a mesma, a única alteração foi o

incremento de 25% de hidróxido de sódio. Esta alteração se mostrou mais efetiva,

tanto tecnicamente quanto economicamente, para a redução da perda de massa.

Page 57: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

56

Figura 11 – Influência do teor de sílica solúvel na perda de massa média das amostras.

Fonte: O autor (2019).

A principal diferença entre os traços Geo 15-1 e Geo 20-05 é a quantidade de

álcalis no sistema. Para o traço Geo 15-1, a relação Na2O/Al2O3 foi de 0,67, já para o

traço Geo 20-05 de 0,89. Sendo assim, a partir dos resultados, nota-se que, apesar

da quantidade de sílica auxiliar diretamente no ganho de resistência mecânica, por

acelerar as reações de geopolimerização, não se mostra eficaz no aumento da

durabilidade das amostras, quando se avalia a perda de massa. Além disso, quando

é adicionada em excesso no sistema, a sílica solúvel, reduz o poder de ativação da

solução ativadora (Na2O + H2O) e, consequentemente, reduz a durabilidade dos

geopolímeros. Esse comportamento foi observado por autores como Scopel (2016) e

Topçu, Toprak e Uygunoǧlu (2014).

A redução do pH da solução ativadora explica o que foi exposto, ou seja, para

dissolver o precursor, neste caso o metacaulim, é necessário um meio aquoso

altamente alcalino. Contudo, o principal responsável pela alcalinidade do sistema é o

hidróxido de sódio e, ao aumentar a relação SiO2/Al2O3 ocorre o incremento da sílica

solúvel no sistema, mas mantém-se fixa a quantidade de sódio. Como resultado

deste processo tem-se a má dissolução do metacaulim, isto é, algumas ligações de

maior energia do metacaulim não são rompidas. Segundo Burciaga-Díaz e

Escalante-García (2012), Duxson; Fernández-Jiménez et al. (2007) e Provis (2014),

comumente as ligações de maior energia ocorrem entre a sílica e o oxigênio (Si-O).

Em decorrência disso as moléculas de sílica que não se dissolvem na solução de

Page 58: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

57

ativação, não se ligam às moléculas de sódio e alumínio, e acabam não reagindo.

As moléculas que não reagiram são facilmente lixiviadas, principalmente por

soluções ácidas.

No caso da mistura Geo 15-1, os resultados sugerem que o incremento na

quantidade de sílica promoveu falhas no processo de geopolimerização, e as

moléculas de sílica que não reagiram foram facilmente lixiviadas, o que implicou em

maior de perda de massa. Além disso, após a lixiviação, o vazio deixado serve como

caminho para que o ácido penetre mais profundamente e acabe aumentado a

extensão de lixiviação, conforme poderá ser melhor avaliado no próximo item deste

capítulo (item 4.3), a respeito da profundidade de corrosão promovida pelo ácido. De

qualquer modo, é possível afirmar que, apesar da quantidade de sílica influenciar

diretamente na resistência à compressão dos geopolímeros, seu uso em excesso

acarreta redução da durabilidade frente às soluções ácidas das amostras avaliadas.

Também é possível afirmar que, mesmo o traço que obteve o pior

desempenho (Geo 15-05), com percentual de perda de massa de 9,30%, quando

submetido ao ácido acético, e 10,24% para o ácido láctico, em termos de

durabilidade, comparativamente aos resultados de concretos à base de cimento

Portland expostos às mesmas soluções ácidas (acético e láctico), foi superior. No

estudo realizado por Viera et al. (1997), verificou-se perda de massa de até 30% em

concretos sujeitos a soluções de ácido láctico, e de até 12% para soluções de ácido

acético.

Vale ressaltar que as comparações a respeito do comportamento de amostras

geopoliméricas com amostras de cimento Portland, mesmo que submetidas às

mesmas condições de ataque, podem variar de acordo com os traços usados para a

dosagem de cada material, uma vez que a dosagem de geopolímeros é totalmente

diferente da dosagem de materiais à base de cimento Portland. Além disso, é

importante ter cautela ao determinar a durabilidade às soluções ácidas de

geopolímeros através de ensaio de perda de massa, especialmente porque, após a

imersão dos geopolímeros na solução, a superfície da amostra fica danificada, mas

esta parcela não se desprende da matriz intacta e, devido a isso, não é contabilizada

como parcela do material perdido. Por isso, a principal influência neste ensaio é

dada pelas partes que são lixiviadas. A Figura 12 mostra a superfície de uma

amostra, evidenciando que, apesar de deteriorada pelo ácido, a superfície não se

Page 59: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

58

desprendeu da matriz, ou seja, ao medir a massa dessa amostra não foi

contabilizada a perda dessa parte, que já está deteriorada.

Figura 12 – Superfície da amostra após (A) e antes da imersão em ácido láctico.

Fonte: O autor (2019).

De qualquer forma, segundo o estudo de Lloyd, Provis e Van Deventer

(2012), não é possível afirmar que a camada superficial degradada seja totalmente

ineficiente na resistência à corrosão. Segundo os autores, mesmo sem aglutinação,

a camada corroída continua fornecendo uma barreira física, dificultando, mesmo que

em menores proporções, a migração da solução ácida para o interior da amostra.

Também vale ressaltar que o ensaio de perda de massa é muito sensível ao

formato da peça que está sendo analisada. Por exemplo, um disco terá uma perda

de massa superior a uma peça cilíndrica. Devido a isso, é importante que a perda de

massa seja analisada em conjunto com outros ensaios para avaliar a resistência à

corrosão de materiais geopoliméricos.

Não é possível definir com certeza a durabilidade de amostras a partir deste

método, visto que a parte de material corroído fica presa na matriz mesmo sem

exercer resistência mecânica. Os ensaios de perda de massa não são

suficientemente sensíveis para detectar a deterioração de misturas geopoliméricas

devido ao ataque ácido. No entanto, apesar das limitações do método, os resultados

foram coerentes com os demais testes realizados.

Page 60: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

59

4.3 Profundidade de corrosão

4.3.1 Profundidade de corrosão – lixamento mecânico

A fim de avaliar a influência do tipo de solução ácida, do teor de ativação e da

interação de ambos na profundidade de corrosão devido aos ataques químicos

promovidos no estudo, foi realizada uma análise de variância dos resultados

medidos de profundidade de corrosão após o lixamento mecânico das superfícies

deterioradas, conforme foi detalhado no capítulo de descrição dos métodos.

A partir da Tabela 15 é possível afirmar, com 95% de probabilidade, que o

teor de ativação influenciou diretamente a profundidade de corrosão. Todavia, o tipo

de solução ácida empregado (acético ou láctico) e a interação entre teor de ativação

e tipo de solução, não apresentaram resultados que possam ser considerados

estatisticamente diferentes, ou seja, não exercem influência significativa para a

ocorrência da deterioração das amostras geopoliméricas.

Tabela 15 – Uma análise de variância (ANOVA) da variável profundidade de corrosão.

Fatores Soma dos quadrados

Graus de liberdade

Média quadrática Valor - F Valor - p

Solução ácida 0,22042 1 0,22042 0,5031 0,488353 Teor de ativação 22,26809 3 7,42270 16,9420 0,000032 Ativação x ácido 0,10015 3 0,03338 0,0762 0,971944

Erro 7,01000 16 0,43813 Fonte: O autor (2019).

Tabela 16 – Interações entre fatores utilizadas para análise.

Material Teor de Álcalis (%) Módulo Ms Solução Ácida

Profundidade de Corrosão média

(mm) Geopolímero 15 0,5 Acético 2,88 Geopolímero 15 1 Acético 1,72 Geopolímero 20 0,5 Acético 0,49 Geopolímero 20 1 Acético 0,80 Geopolímero 15 0,5 Láctico 3,22 Geopolímero 15 1 Láctico 1,79 Geopolímero 20 0,5 Láctico 0,55 Geopolímero 20 1 Láctico 1,10

Fonte: O autor (2019).

A influência do teor de ativação na profundidade de corrosão do material pode

ser mais bem visualizada através da Figura 13. É possível verificar que a maior

Page 61: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

60

profundidade de corrosão foi obtida no traço com menor teor de sódio e sílica (Geo

15-05), sendo esta correspondente a 3,22 mm, quando exposta à solução de ácido

láctico. Também é possível verificar que a profundidade de corrosão diminui a partir

do incremento de mais solução ativadora. Para o traço Geo 15-1 a maior

profundidade média de corrosão foi de 1,79 mm. A principal alteração entre estes

traços foi a quantidade de silicatos solúveis. A diferença na quantidade de sílica

solúvel entre estes dois traços foi de 20%, ou seja, aumentando 20% o teor de

silicato solúvel notou-se uma redução de 44,40% na profundidade de corrosão das

amostras.

Ainda, é possível afirmar que no traço Geo 15-05, a matriz geopolimérica

ficou fragilizada, devido a deficiência na dissolução do precursor pela solução

ativadora durante o processo de geopolimerização, possibilitando a lixiviação de

sódio e a sua substituição por íons de hidróxido da solução ácida. Do mesmo modo,

com o avanço da solução para o interior da amostra, as ligações Si-O-Al foram

atacadas, o que, possivelmente, fragilizou a amostra em camadas mais profundas.

(MELLADO et al, 2017).

Figura 13 – Profundidade de corrosão média por teor de ativação para o ácido acético e láctico.

Fonte: O autor (2019).

Através da Figura 13 é possível avaliar com maior detalhe a influência do teor

do ativador na profundidade de corrosão. Na figura nota-se que o traço Geo 20-05,

Page 62: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

61

foi o que apresentou menor taxa de corrosão para o ácido acético (0,49mm e 0,55

mm, respectivamente). O traço cuja quantidade de solução ativadora é maior, Geo

20-1, apresentou profundidade de corrosão de 0,80 mm para o ácido acético e de

1,10 mm para o ácido lático, evidenciando o papel do teor de sílica da mistura, uma

vez que ambos possuem o mesmo teor de álcalis (20%).

A análise dos resultados de resistência mostrou que o acréscimo de sílica foi

benéfico. Nos traços com menor conteúdo de álcalis (15%), no qual houve variação

do modulo de sílica (Ms) de 0,5 para 1, foi possível perceber os maiores efeitos do

aumento do conteúdo de sílica solúvel. Nestes traços, a redução na profundidade de

corrosão foi de 40,27% para as amostras expostas ao ácido acético e de 44,40%

para as amostras imersas em ácido láctico.

Os resultados obtidos no presente estudo estão de acordo com os obtidos por

Lloyd, Provis e Van Deventer (2012), que verificaram uma redução de 10% na

profundidade de corrosão devido ao aumento na quantidade de sílica solúvel na

solução ativadora. Contudo, apesar dos resultados encontrados nesta pesquisa

serem bastante coerentes, há diferenças devido ao tipo de precursor utilizado. Nesta

pesquisa os geopolímeros foram baseados em metacaulim, enquanto na pesquisa

citada os autores utilizaram a cinza volante. A principal diferença entre os materiais é

a quantidade de cálcio. Sabe-se que o metacaulim possui uma quantidade muito

pequena de cálcio em sua composição química, no geral o percentual de cálcio em

metacaulim fica próximo a 1%, ao contrário da cinza volante, na qual a presença

deste marcador depende de sua origem, entretanto, comumente, a quantidade de

cálcio presente neste material é superior a do metacaulim.

Contudo, quando se analisaram os traços com 20% de álcalis (Geo 20-05 e

Geo 20-1), cujas relações SiO2/Na2O foram de 0,5 e 1 respectivamente (Ms),

percebeu-se que o aumento na quantidade de sílica solúvel, apesar de proporcionar

um grande aumento na resistência à compressão das amostras, não foi benéfico

para a durabilidade do material, uma vez que verificou-se aumento na camada

corroída. Para as amostras imersas em ácido acético o aumento foi de 38,75% já

para as amostras imersas em ácido láctico, o aumento foi de 50%.

Pode-se verificar que para os sistemas com 15% de álcalis, o aumento no

teor de sílica foi benéfico, é possível que mesmo que a quantidade de sódio não

fosse suficiente para dissolver por completo o metacaulim, o incremento de sílica

solúvel facilitou a formação dos produtos de reação e possibilitou que as amostras

Page 63: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

62

apresentassem uma melhora nos resultados de profundidade de corrosão. No

entanto, nos sistemas com 20% de álcalis, nos quais os resultados indicam que o

teor de sódio era suficiente para dissolver o precursor, o incremento de mais sílica,

ou seja, o aumento do modulo Ms de 0,5 para 1, não apresentou benefícios para a

durabilidade das amostras, apenas agregou maior custo para a produção destes

sistemas.

Com o incremento de sílica o pH da solução reduziu e a dissolução do

precursor foi comprometida, acarretando em falhas no processo de

geopolimerização e reduzindo a durabilidade das amostras Geo 20-1, quando

comparadas à Geo 20-05. A Figura 14 mostra a superfície da amostra Geo 20-1, na

qual pode-se notar parte da camada corroída que desplacou-se da matriz intacta.

Figura 14 – Geopolímero traço G 20-1 após a imersão em ácido láctico por sete dias.

Fonte: O autor (2019).

Os resultados do presente estudo mostram que o aumento na quantidade de

álcalis de 15% para 20% acarretou em redução na profundidade de corrosão em

Page 64: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

63

ambas as amostras. A redução foi de aproximadamente 80% na profundidade de

corrosão, decorrente de possível maior dissolução do metacaulim na solução

ativadora, que promoveu a formação de maior quantidade de produtos de reação,

reduzindo as quantidades de alumínio e sílica não dissolvidas no sistema. Essa

redução minimiza a quantidade de poros na matriz e reduz a profundidade de

corrosão, conforme explicam Duxson e Provis (2008) e Provis e Bernal (2014).

Apesar dos resultados obtidos não terem apontado uma diferença significativa

entre a degradação dos geopolímeros expostos ao ácido acético e ao ácido láctico,

devido ao fator dissociação, é possível que o ácido láctico cause maior deterioração,

uma vez que a dissociação do ácido acético é mais fraca, pKa = 4,8, enquanto a do

ácido láctico é mais forte, pKa = 3,86. A dissociação implica no atingimento de um

pH menor para o ácido láctico em relação ao acético, causando maior deterioração.

(ATKINS; BERAN, 1992).

4.3.2 Análise macroscópica da superfície das amostras

Para complementar a análise de profundidade de corrosão realizou-se uma

medição através de imagens fotográficas das seções transversais das amostras

depois de expostas ao ácido. Para tanto, aplicou-se uma solução de fenolftaleína 1%

na superfície, a qual marcou a área com pH alcalino. Por fim, realizaram-se

medições das áreas corroídas, neutralizadas e intactas que foram identificadas em

cada imagem (Figura 15).

Page 65: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

64

Figura 15 – Aspecto da superfície das amostras após a imersão em ácido acético, sem tratamento superficial (A), e após o polimento e aspersão da solução de fenolftaleína (B).

Fonte: O autor (2019).

Page 66: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

65

Na Figura 15 verifica-se que a superfície da amostra Geo 15-05, apesar de

parecer intacta na imagem, apresentou uma textura bastante pulverulenta e com a

incidência de algumas fissuras que, provavelmente, auxiliaram a solução ácida a

penetrar na amostra. Devido a isso, apesar de parecer intacta, verificou-se uma área

corroída 10,60% maior que na amostra Geo 15-1, que continha a mesma

porcentagem de sódio, porém aumentou-se o Ms de 0,5 para 1.

Com o incremento de sílica solúvel, as amostras do traço Geo 15-1

apresentaram uma tonalidade mais fraca ao aspergir fenolftaleína, o que indica que

houve redução do pH da amostra. No entanto, verifica-se uma redução da camada

corroída (Figura 16), o que corrobora com os demais resultados, que evidenciaram

que o incremento de sílica para essa amostra proporcionou maior quantidade de

reações de geopolimerização e acarretou a melhoria da durabilidade, o que está de

acordo com o estudo de Duxson, Fernánez-Jiménez et al. (2007).

Figura 16 – Áreas corroídas, neutralizadas e intactas verificadas nas amostras imersas em ácido acético.

Fonte: O autor (2019)

Além da questão da coloração proveniente da avaliação da alteração do pH, a

superfície da amostra Geo 15-1 apresentou uma maior quantidade de poros visíveis,

o que pode ser explicado pela redução na concentração de álcalis na solução de

ativação. Duxson, Fernández-Jiménez et al. (2007) comentam que, uma vez mantida

a quantidade de álcalis constante e aumentado o teor de sílica, há uma alteração no

processo de geopolimerização, em decorrência da redução do pH da solução, e

Page 67: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

66

enfraquecimento do poder de dissolução da solução ativadora e, por consequência,

há surgimento de poros na superfície da amostra.

As imagens evidenciam que a amostra Geo 20-05 mostra-se mais íntegra,

comparativamente às demais, após o ataque ácido. Não foram observadas fissuras

na superfície, bem como não houve lascamentos. Em relação à avaliação do pH, foi

percebido um tom mais esmaecido comparativamente às demais amostras. Foi

medida uma área corroída de 1,45 cm2 neste traço. Contudo, a camada corroída

mostrou-se pouco quebradiça e, apesar da mudança de tonalidade, ainda

apresentava certa resistência, o que provavelmente auxiliou como barreira para

impedir que a solução ácida penetrasse para dentro da matriz. (LLOYD; PROVIS;

VAN DEVENTER, 2012).

Em contrapartida, para o traço Geo 20-1 constatou-se uma superfície

bastante fissurada. Mellado et al. (2017) explicam que, possivelmente, a maior

quantidade de sílica solúvel presente na solução ativadora torna a amostra menos

deformável, ficando suscetível à fissuração superficial. Em decorrência disso, o

ácido acético penetrou para o interior da amostra, resultando em uma camada

corroída de 1,57 cm2.

Se se comparar os sistemas com 20% de álcalis, pode-se perceber a variação

no Ms de 0,5 para 1 causou um aumento de 7,64% aproximadamente na camada

corroída. Ademais, tal camada mostrou-se quebradiça e frágil, se comparada à

amostra Geo 20-05, que continha menor quantidade de silicato solúvel. Entretanto,

devido à grande quantidade de solução ativadora no sistema Geo 20-1, a solução de

fenolftaleína marcou a amostra de forma mais intensa, o que indica um elevado pH.

Se se comparar os dois traços nota-se que apesar de apresentar uma camada

corroída maior, o traço Geo 20-1 apresentou uma camada intacta 6,30% superior ao

traço Geo 20-05.

Através da Figura 17 é possível verificar que o traço Geo 20-1, que continha

maior quantidade de sílica solúvel, apresentou uma camada rígida no interior da

amostra, dificultando a penetração da solução ácida para camadas mais profundas

da amostra. A camada é possivelmente formada por silicatos, que são provenientes

da maior quantidade de sílica solúvel na solução de ativação.

Page 68: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

67

Figura 17 – Camada rígida verificada após o polimento da seção da amostra Geo 20-1.

Fonte: O autor (2019).

Pode-se inferir que o excesso de sílica reduz o poder de ativação da solução

ativadora, causando danos à durabilidade na amostra. (PROVIS; BERNAL, 2014).

Contudo, em alguns casos, devido à grande quantidade de sílica na mistura, pode

formar-se uma camada rica em sílica em seu interior. O que em alguns casos pode

ser benéfico para a durabilidade dos geopolímeros.

Na Figura 17 é possível identificar que a camada corroída se propagou até a

camada indicada pela seta. Observa-se que, a partir da camada corroída, tem-se pH

neutralizado, mas a camada permanece íntegra e, ao centro, nota-se a camada

intacta com alteração de cor obtida pela aspersão de fenolftaleína, ou seja, esta

região possui pH alcalino, mesmo após a imersão em solução de ácido acético por

sete dias. (BERNAL et al., 2011; SHI; STEGEMANN, 2000).

Para complementar esta análise, a Figura 18 apresenta as amostras imersas

em ácido láctico, nas quais realizou-se o mesmo tratamento superficial e

posteriormente as análises.

Page 69: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

68

Figura 18 – Aspecto das amostras após a imersão em ácido láctico, sem tratamento superficial (A), e após o polimento e aspersão da solução de fenolftaleína (B).

Fonte: O autor (2019).

Page 70: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

69

Após a imersão em ácido láctico as amostras apresentaram aspectos

superficiais de deterioração mais intensos que as amostras imersas em ácido

acético. Todavia, para este ácido, as amostras não apresentaram divergência na

coloração que permitisse diferenciar com clareza a camada corroída da neutralizada.

Devido a isso, as medições consideraram uma camada intacta e uma camada

corroída/neutralizada.

No entanto, é possível que mesmo não apresentando sinais físicos de

degradação, a camada superficial esteja degradada pelo ácido. Mellado et al. (2017)

sugerem que o ataque ácido provoca uma lixiviação dos íons de sílica e sódio da

superfície, que são parcialmente substituídos por íons da solução ácida. Por isso,

em alguns casos, a camada superficial pode estar aparentemente intacta e mesmo

assim apresentar um elevado grau de deterioração na matriz geopolimérica. A

Figura 19 mostra os resultados obtidos através da quantificação das áreas das

imagens. Observa-se que quando se compara os sistemas com 15% nota-se que

área intacta foi 29,27% maior para a amostra com Ms de 0,5.

Figura 19 – Áreas corroídas/neutralizadas e intactas verificadas nas amostras imersas em ácido láctico.

Fonte: O autor (2019).

Já nos sistemas com 20% de álcalis, é possível notar o inverso. A amostra

contendo mais sílica solúvel apresentou coloração mais intensa após a aspersão da

solução de fenolftaleína. Os valores medidos para área neutralizada nas amostras

Geo 20-05 e Geo 20-1 foram 4,39 e 4,69 cm2 respectivamente.

Page 71: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

70

No caso das amostras com 20% de sódio, o aumento da quantidade de sílica

solúvel facilitou as ligações Si-Al, e proporcionou um aumento na quantidade de

produtos de reação e, com isso, obteve-se um material menos poroso, ou seja, o

ácido láctico atacou somente a camada externa das amostras. Também pode se

dizer que apesar da sílica solúvel reduzir o pH da solução de ativação, neste caso,

não visualizou-se tal ocorrência, uma vez que o traço Geo 20-05 apresentou uma

camada intacta 6,39% maior que o traço Geo 15-05.

Entretanto, é possível observar que a superfície da amostra Geo 20-1

apresentou fissuração em toda sua extensão. Conforme mencionado anteriormente,

de acordo com Mellado et al. (2017) o aumento da quantidade de sílica solúvel gera

maior quantidade de produtos de reação, tornando o material mais rígido e frágil.

Todavia, Burciaga-Díaz e Escalante-García (2012) sugerem que as fissuras

verificadas sejam provocadas pelo encolhimento do gel N-A-S-H oriundo do

processo de geopolimerização que reduz seu volume após o ataque da solução

ácida.

Contudo, tais fissuras não aumentaram a penetração do ácido láctico, uma

vez que a camada corroída/neutralizada foi 5% menor se comparada à amostra Geo

20-05. Em contrapartida, apesar de a camada corrida/neutralizada apresentar

valores superiores (5,77 cm2) o traço Geo 20-05 exibiu uma superfície mais

conservada, e, a partir disso, é possível estimar que no caso de uma exposição em

longo prazo, ou seja, períodos de vários meses ou anos, a deterioração neste traço

aconteceria de forma menos intensa que o traço Geo 20-1.

Por fim, é importante notar que nos geopolímeros mesmo a camada mais

externa, que é altamente atacada pelos ácidos, não se desintegra ou se desprende

da matriz na maioria dos casos, como comumente ocorre em materiais à base de

cimento Portland. De acordo com Shi e Stegemann (2000), isso possibilita que

mesmo não tendo mais influência na resistência mecânica, esta camada ainda

auxilie como barreira física, impedindo que o ácido penetre na matriz.

De modo geral, após a análise visual de ambos os traços após a imersão em

ácido acético e láctico, é possível afirmar que o traço que se mostrou mais estável

foi o Geo 20-05. Neste traço, a camada corroída/neutralizada sempre se manteve

entre os menores valores, quando se compara com os demais traços avaliados. E,

ainda, a sua superfície sempre se mostrou mais integra, o que indica maior

durabilidade quanto à lixiviação dos componentes químicos da matriz.

Page 72: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

71

Não obstante, vale ressaltar que os resultados obtidos por este método de

análise podem sofrer variações. Os resultados verificados são baseados na análise

visual das tonalidades que são verificadas na superfície da amostra e podem sofrer

variações dependendo do software usado para análise. Além disso, a fenolftaleína é

um indicador de pH para valores próximos a 9,0 e os geopolímeros podem, em

alguns casos, apresentar valores de pH mais elevados. Por isso, apesar dos

resultados encontrados terem se mostrado coerentes, podem ter sofrido interferência

devido a este aspecto. Outro fator a ser levado em conta é que, durante o processo

de corte e polimento para análise, algumas amostras quebraram, o que dificultou a

análise de camada corroída, já que não é possível afirmar se a área que desplacou

estava deteriorada ou não.

Page 73: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

72

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Conclusões

A partir dos resultados obtidos no presente estudo, sob as condições

adotadas e ensaios escolhidos para avaliar a resistência de misturas geopoliméricas

à base de metacaulim ao ataque de soluções ácidas, foi possível concluir que:

O teor de ativador alcalino empregado influencia diretamente na

resistência à compressão dos sistemas avaliados. Isto possivelmente ocorre devido

à adição de silicatos solúveis que facilita a formação de produtos de reação

possibilitando maior desempenho mecânico. No entanto, o estudo mostrou que

existe um teor ótimo de dosagem e, ao empregar teores superiores ao teor ótimo,

pode haver prejuízo à resistência mecânica do material;

Não foi possível verificar uma diferença significativa entre os resultados

das amostras imersas em ácido acético e láctico. Possivelmente como ambos foram

dosados com a mesma concentração (10 molar), e após as medições o pH

verificado em ambos os ácidos apresentou valores próximos, os danos causados

pelos ácidos nas amostras não tiveram diferença estatística significativa;

A avaliação da perda de massa das amostras geopoliméricas devido ao

ataque ácido mostrou que, ao aumentar a quantidade de álcalis nas misturas,

propicia-se maior resistência ao ataque ácido e, consequentemente, aumenta-se a

durabilidade do material. Isso ocorre provavelmente porque quando se aumenta a

quantidade de sódio na ativação possibilita-se uma melhor dissolução do

metacaulim, resultando em maior quantidade de produtos de reação (Si-O-Al);

Ao avaliar a profundidade de corrosão das amostras geopoliméricas

verificou-se que o incremento de álcalis na solução ativadora dificultou a penetração

da solução acida de acordo com os resultados obtidos. Isso ocorre provavelmente

porque o incremento de sódio no sistema (15% para 20%) origina um geopolímero

mais denso, principalmente devido à redução da quantidade de partículas de

metacaulim não ativados no interior da amostra. O que acaba reduzindo a lixiviação

das partículas pela solução ácida;

A análise macroscópica das áreas atacadas pelo ácido nas amostras

permitiu aferir que para o precursor avaliado, o teor de ativação que se mostrou mais

efetivo continha 20% de álcalis e Ms de 0.5. Teores de sílica solúvel acima destes

Page 74: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

73

valores, bem como teores de álcalis inferiores a 20%, se mostraram pouco benéficos

para a durabilidade das amostras avaliadas;

O emprego de excesso de sílica solúvel mostrou-se prejudicial às

características dos geopolímeros avaliados no presente estudo. Foi possível

perceber maior fissuração nas superfícies de amostras ricas em sílica solúvel, bem

como redução da durabilidade em algumas amostras. Devido a isso, sempre é

necessário avaliar as características do precursor antes de se estabelecer traços de

ativação. Uma vez que esses fatores influenciam diretamente no desempenho de

geopolímeros.

5.2 Sugestões para futuros trabalhos

Ao final desse trabalho verificou-se que alguns estudos podem contribuir para

elucidar questionamentos que vão além do que se propôs este estudo, mas que com

sua realização foram levantados e podem ser objeto de pesquisas futuras. Assim,

podem ser definidas as seguintes sugestões para futuros trabalhos:

Estudo da profundidade de corrosão de misturas geopoliméricas

atacadas por soluções ácidas empregando-se microscopia eletrônica de

varredura (MEV);

Avaliação das diferenças de composição química das amostras

submetidas ao ataque ácido em relação às não atacadas;

Análise do comportamento de diferentes precursores na composição de

misturas geopoliméricas frente ao ataque ácido.

Page 75: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

74

REFERÊNCIAS

ALONSO, S.; PALOMO, A. Alkaline activation of metakaolin and calcium hydroxide mixtures: Influence of temperature, activator concentration and solids ratio. Materials Letters, v. 47, n. 1–2, p. 55–62, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Cimento Portland de alto forno. NBR 5735. Rio de Janeiro: ABNT, Dez/1991. Disponível em: <https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=5868>. Acesso em: 14 dez. 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Cimento Portland: determinação da resistência à compressão. NBR 7215: 1996. Rio de Janeiro: ABNT, 1996. Disponível em: <https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=4534>. Acesso em: 14 dez. 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto: procedimento. NBR 6118, Rio de Janeiro: ABNT, 2014. 238p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Cimento Portland: requisitos. NBR 16697:2018. Rio de Janeiro: ABNT, 2018. Disponível em: <https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=400221>. Acesso em: 15 abr. 2019.

ASTM C618-19 - Standard Specification for Coal Fly Ash and Raw or Calcined Natural Pozzolan for Use in Concrete, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2019. Disponível em: <http://www.astm.org>. Acesso em: 15 fev. 2019.

ASTM C989 / C989M-18a - Standard Specification for Slag Cement for Use in Concrete and Mortars, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2018. Disponível em: < http://www.astm.org>. Acesso em: 15 fev. 2019.

ATKINS, P. W.; BERAN, J. A. General chemistry. New York: Scientific American Books, 1992.

BAKHAREV, T. Resistance of geopolymer materials to acid attack. Cement and Concrete Research, v. 35, n. 4, p. 658–670, 2005.

BAKHAREV, T.; SANJAYAN, J. G.; CHENG, Y. B. Resistance of alkali-activated slag concrete to acid attack. Cement and Concrete Research , v. 33, n. 10, p. 1607–1611, 2003.

BEDDOE, R. E.; DORNER, H. W. Modelling acid attack on concrete: Part I. The essential mechanisms. Cement and Concrete Research , v. 35, n. 12, p. 2333–2339, 2005.

BERNAL LOPEZ, S.; GORDILLO, M.; MEJÍA, R.; MARTINEZ, E.R.; ARJONA, S. D.; CUERO, R. Modeling of the compressive strength of alternative concretes using the response surface methodology. Revista Facultad de Ingenieria-Universidad de Antioquia , v.1, n. 1, p. 112–123, 2009.

Page 76: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

75

BERNAL, S. A.; RODRÍGUEZ, E. D.; MEJÍA DE GUTIÉRREZ, R., GORDILLO, M.; PROVIS, J. L. Mechanical and thermal characterization of geopolymers based on silicate-activated metakaolin/slag blends. Journal of Materials Science , v. 46, n. 16, p. 5477-5486, 2011.

BERNAL, S. A.; VAN DEVENTER, J. S.; NICOLAS, R. S.; PROVIS, J. L. Alkali-activated slag cements produced with a blended sodium carbonate/sodium silicate activator. Advances in Cement Research , v. 28, n. 4, p. 262-273, 2016.

BURCIAGA-DÍAZ, O.; ESCALANTE-GARCÍA, J. I. Strength and durability in acid media of alkali sílicate-activated metakaolin geopolymers. Journal of the American Ceramic Society, v. 95, n. 7, p. 2307–2313, 2012.

CAMÕES, A. Betões de elevado desempenho com incorporação de ci nzas volantes. Universidade do Minho. Escola de Engenharia. Braga, Portugal. 2002.

CHENG, H.; LIU, Q.; YANG, J.; MA, S.; FROST, R. L. The thermal behavior of kaolinite intercalation complexes: a review. Thermochimica Acta , v. 545, p. 1-13, 2012. Doi: 10.1016/j.tca.2012.04.005.

CIMENTO.ORG. Cimento no Brasil. Disponível em: <https://cimento.org/cimento-no-brasil/>. Acesso em: 12 dez. 2018.

COSTA, E. B. D.; NOBRE, T. R. S.; GUERREIRO, A. Q.; MANCIO, M.; KIRCHHEIM, A. P. Portland cement clinker with reduced environmental impact. Ambiente Construído , v. 13, n. 2, p. 75-86, 2013.

CRIADO, M.; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ, A.; PALOMO, A. Effect of sodium sulfate on the alkali activation of fly ash. Cement and Concrete Composites , v. 32, n. 8, p. 589–594, 2010.

DAVIDOVITS, J. Chemistry of geopolymeric systems, terminology. Geopolymer International Conference, France, 1999. Disponível em: <https://www.scirp.org/(S(351jmbntvnsjt1aadkposzje))/reference/ReferencesPapers.aspx?ReferenceID=1161598>. Acesso em: 20 dez. 2018.

DAVIDOVITS, P. J. 30 years of successes and failures in geopolymer applications. Market trends and potential breakthroughs. Geopolymer 2002 Conference , p. 1–16, 2002.

DUXSON, P.; PROVIS, J. L.; LUKEY, G. C.; MALLICOAT, S. W.; KRIVEN, W. M.; VAN DEVENTER, J. S. Understanding the relationship between geopolymer composition, microstructure and mechanical properties. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 269, n. 1–3, p. 47–58, 2005.

DUXSON, P.; LUKEY, G. C.; SEPAROVIC, F.; VAN DEVENTER, J. S.Effect of alkali cations on aluminum incorporation in geopolymeric gels. Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 44, n. 4, p. 832–839, 2005.

DUXSON, P.; PROVIS, J. L.; LUKEY, G. C.; VAN DEVENTER, J. S. The role of inorganic polymer technology in the development of “green concrete”. Cement and Concrete Research , v. 37, n. 12, p. 1590–1597, 2007.

Page 77: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

76

DUXSON, P.; FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ, A.; PROVIS, J. L.; LUKEY, G. C.; PALOMO, A.; VAN DEVENTER, S. J. Geopolymer technology: The current state of the art. Journal of Materials Science, v. 42, n. 9, p. 2917–2933, 2007.

DUXSON, P. S. W. M.; MALLICOAT, S. W.; LUKEY, G. C.; KRIVEN, W. M.; VAN DEVENTER, J. S. The effect of alkali and Si/Al ratio on the development of mechanical properties of metakaolin-based geopolymers. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 292, n. 1, p. 8–20, 2007.

DUXSON, P.; LUKEY, G. C.; VAN DEVENTER, J. S. J. Physical evolution of Na-geopolymer derived from metakaolin up to 1000 ??c. Journal of Materials Science , v. 42, n. 9, p. 3044–3054, 2007.

DUXSON, P.; PROVIS, J. L. Designing precursors for geopolymer cements. Journal Ceramic Society, v. 9, n. 12, p. 3864-3869, 2008.

FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ, A.; PALOMO, A. Composition and microstructure of alkali activated fly ash binder: effect of the activator. Cement and Concrete Research, v. 35, n. 10, p. 1984–1992, 2005.

FOSCARINI, L. F.; TIECHER, F. Influência da adição de sílica solúvel na resistência à compressão de pastas geopolimericas baseadas em metacaulim. XVII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído , 2018.

GAIER, C. V. Análise do desempenho de materiais de reparo indust rializados para estruturas de concreto frente ao ataque ácido. (Dissertação). Mestrado Profissionalizante em Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2005.

GARTNER, E. M.; MACPHEE, D. E. Cement and concrete research a physicochemical basis for novel cementitious binders. Cement and Concrete Research, v. 41, n. 7, p. 736–749, 2011.

GLUKHOVSKY, D. V. Soil sílicates. Kiev-USSR: Gostroiizdat Publish, 1959.

GÖRHAN, G.; KÜRKLÜ, G. The influence of the NaOH solution on the properties of the fly ash-based geopolymer mortar cured at different temperatures. Composites Part B: Engineering, v. 58, p. 371–377, 2014.

GORNINSKI, J. P.; KAZMIERCZAK, C. S. Avaliação da resistência química de concretos poliméricos em ambientes agressivos. Ambiente Construído, v. 8, n. 1, p. 105–113, 2008.

GRANIZO, N.; PALOMO, A.; FERNANDEZ-JIMÉNEZ, A. Effect of temperature and alkaline concentration on metakaolin leaching kinetics. Ceramics International, v. 40, n. 7, part A, p. 8975–8985, 2014.

GUBOLINO, Sandra Isabel Franzotti. Qualidade físcio-química e microbiológica de refrigerantes sabor guaraná em embalagens PET-2000mL e ocorrência de leveduras. 2007. 71 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas , 2007.

Page 78: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

77

HABERT, G.; D’ESPINOSE DE LACAILLERIE, J. B.; ROUSSEL, N. An environmental evaluation of geopolymer based concrete production: reviewing current research trends. Journal of Cleaner Production , v. 19, n. 11, p. 1229–1238, jul. 2011.

HELENE, P. R. L. Corrosão em armaduras para concreto armado. São Paulo: Pini, 1986.

KUENZEL, C.; VANDEPERRE, L. J.; BOCCACCINI, A. R.; CHEESEMAN, C. Ambient temperature drying shrinkage and cracking in metakaolin-based geopolymers. Journal of the American Ceramic Society, v. 95, n. 10, p. 3270–3277, 2012.

LEE, W. K. W.; VAN DEVENTER, J. S. J. The effects of inorganic salt contamination on the strength and durability of geopolymers. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 211, n. 2–3, p. 115–126, dez. 2002.

LLOYD, R. R.; PROVIS, J. L.; VAN DEVENTER, J. S. J. Acid resistance of inorganic polymer binders. 1. Corrosion rate. Materials and Structures, v. 45, n. 1–2, p. 1–14, 2012.

LONGHI, M. A. Álcali-ativação de lodo de caulim calcinado e cinza pesada com ativadores convencionais e sílicato de sódio altern ativo. (Dissertação). Mestrado em Engenharia Civil. Escola de Engenharia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil.Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015.

LONGHI, M. A.; RODRÍGUEZ, E. D.; BERNAL, S. A.; PROVIS, J. L.; KIRCHHEIM, A. P. Valorisation of a kaolin mining waste for the production of geopolymers. Journal of Cleaner Production, v. 115, p. 265–272, 2016.

LOTHENBACH, B.; SCRIVENER, K.; HOOTON, R. D. Supplementary cementitious materials. Cement and Concrete Research , v. 41, n. 12, p. 1244–1256, 2011.

MAGALHÃES, G.A. Caracterização e análise macro e microestrutural de concretos fabricados com cimentos contendo escórias de alto-forno. Dissertação (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais. Minas Gerais, 2007, 238 p.

MEDEIROS, M. H. F.; ANDRADE, J. J. O.; HELENE, P. Durabilidade e vida útil das estruturas de concreto. Concreto: ciência e tecnologia, v. 1, p. 773–808, 2011.

MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo: Pini, 1994.

MEJÍA, J. M.; RODRÍGUEZ, E. D.; DE GUTIÉRREZ, R. M. Utilización potencial de una ceniza volante de baja calidad como fuente de aluminosilicatos en la producción de geopolímeros. Ingenieria y Universidad, v. 18, n. 2, p. 309–327, 2014.

MELLADO, A.; PÉREZ-RAMOS, M. I.; MONZO, J.; PAYÁ, J. Resistance to acid attack of alkali-activated binders: simple new techniques to measure susceptibility. Construction and Building Materials, v. 150, p. 355–366, 2017.

Page 79: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

78

MELO, L. G. A. Síntese e caracterização de geopolímeros contendo f ilitos. (Tese). Doutorado. MSc Thesis, IME, Rio de Janeiro, RJ, 2011.

MO, B. H.; ZHU, H.; CUI, X.; HE, Y.; GONG, S. Effect of curing temperature on geopolymerization of metakaolin-based geopolymers. Applied Clay Science, v. 99, p. 144–148, 2014.

NEVILLE, A. M. Propriedades do concreto. São Paulo: Pini, 1997.

PALOMO, A.; BLANCO-VARELA, M. T.; GRANIZO, M. L.; PUERTAS, F.; VASQUEZ, T.; GRUTZEK, M. W. Chemical stability of cementitious materials based on metakaolin. Cement and Concrete Research, v. 29, n. 7, p. 997–1004, 1999.

PALOMO, A.; GRUTZECK, M. W.; BLANCO, M. T. Alkali-activated fly ashes: a cement for the future. Cement and Concrete Research, v. 29, n. 8, p. 1323–1329, 1999.

PINTO, A. T. Sistemas ligantes obtidos por ativação alcalina do metacaulim. (Tese). Doutoramento, Universidade do Minho. Escola de Engenharia. Braga, Portugal, 2004.

PROVIS, J. L. Geopolymers and other alkali activated materials: why, how, and what? Materials and Structures, v. 47, n. 1–2, p. 11–25, 2014.

PROVIS, J. L.; BERNAL, S. A. Geopolymers and related alkali-activated materials. Annu. Rev. Mater. Res , v. 44, n. January, p. 299–327, 2014.

PROVIS, J.L., VAN DEVENTER, J. S. J. (Eds). Geopolymers: structures, processing, properties and industrial applications. eBook: ISBN: 9781845696382. Woodhead Publishing. Publicado em: 22 jun. 2009. 464p.

RIZZON, Luiz A.; MENEGUZZO, Julio; MANFROI, L. Sistema de produção de vinagre. Embrapa uva e vinho, Bento Gonçalves. Dez, 2006.

ROCHA, G. G. Caracterização microestrutural do metacaulim de alt a reatividade. Universidade do Minho. Escola de Engenharia. Braga, Portugal. 2005.

ROVNANÍK, P. Effect of curing temperature on the development of hard structure of metakaolin-based geopolymer. Construction and Building Materials, v. 24, n. 7, p. 1176–1183, 2010.

SANTA, R. A. A. B. Síntese de geopolímeros a partir de cinzas pesadas e metacaulim para avaliação das propriedades de solid ificação/imobilização de resíduos tóxicos. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Florianópolis, 2016.

SCOPEL, M. Valorização de cinza de fundo por meio da síntese d e ligantes geopoliméricos: otimização de traços em pasta e avaliação dos sistemas em argamassas. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Escola de Engenharia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.

Page 80: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

79

SEVERO, C. G. S.; COSTA, D. L.; BEZERRA, I. M. T.; MENEZES, R. R.; NEVES, G. A. Características, particularidades e princípios científicos dos materiais ativados alcalinamente. Revista Eletrônica de Materiais e Processos , v. 8, p. 55–67, 2013.

SHI, C.; FERNÁNDEZ-JIMENEZ, A.; HE, F.; PAVEL, V. Classification and characteristics of alkali-activated cement. Journal of the Chinese Ceramic Society, v. 40, n. 1, p. 69–75, 2012.

SHI, C.; STEGEMANN, J. Acid corrosion resistance of different cementing materials. Cement and Concrete Research, v. 30, n. 5, p. 803–808, 2000.

SILVA, N. D.; CALARGE, L. M.; CHIES, F.; MALLMANN, J. E.; ZWONOK, O. Caracterização de cinzas volantes para aproveitamento cerâmico. Cerâmica. v. 45, n. 296, São Paulo, Nov./Dec. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0366-69131999000600004>. Acesso em: 12 dez. 2018.

SILVA E SILVA, Marcondes; SANTANA, Genilson Pereira. Caulinita: estrutura cristalina, técnicas físicas de estudo e adsorção. Scientia Amazonia , v. 2, n. 3, p. 54-70, 2013.

SOARES, E. M. M. Melhoria do solo residual granítico com recurso à a ctivação alcalina de cinzas volantes. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal, 2013.

THOKCHOM, S.; GHOSH, P.; GHOSH, S. Resistance of fly ash based geopolymer mortars in sulfuric acid. ARPN Journal of Engineering and Applied Sciences , v. 4, n. 1, p. 65–70, 2009.

TOPÇU, I. B.; TOPRAK, M. U.; UYGUNOǦLU, T. Durability and microstructure characteristics of alkali activated coal bottom ash geopolymer cement. Journal of Cleaner Production, v. 81, p. 211–217, 2014.

VAIDYA, S.; DIAZ, E.I.; ALLOUCHE, E.N. Experimental evaluation of self-cure geopolymer concrete for mass pour applications. World of Coal Ash (WOCA) Conference, May 2011, p. 9-12.

VARGAS, A. Cinzas volantes álcali-ativadas para a obtenção de aglomerantes especiais. 2006. 154 f. 2006. Tese de Doutorado. Tese (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007.

VARGAS, A. S.; DAL MOLIN, D. C. C.; VILELLA, A. C. F.; JALALI, S. Fly ash alkali-activated with NaOH and Ca(OH)2 solution. Revista Matéria, v. 12, n. 3, p. 462–469, 2007.

VASSALO, E. A. S. Obtenção de geopolímero a partir de metacaulim ativ ado. (Dissertação). Mestrado em Construção Civil. Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Belo Horizonte-MG, 2013.

Page 81: Dissertação de Mestrado Luis Felipe Foscarini FINAL FELIPE FOSCARINI.pdf · 2019-06-19 · Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil

80

VIEIRA, F. P.; KULAKOWSKI, M. P.; DAL MOLIN, D. C. C.; VILELA, A. C. F. Durabilidade e resistência mecânica de concretos e argamassas com adição de sílica ativa. Workshop: Durabilidade das Construções, n. 1, p. 107–116, 1997.

WANG, H.; LI, H.; YAN, F. Synthesis and mechanical properties of metakaolinite-based geopolymer. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, v. 268, n. 1–3, p. 1–6, out. 2005.

ZHANG, Z.; WANG, H.; PROVIS, J.; BULLEN, F. Quantitative kinetic and structural analysis of geopolymers. Part 1. the activation of metakaolin with sodium hydroxide. Thermochimica Acta, v. 539, p. 23–33, 2012.

ZHANG, Z. WANG, H.; PROVIS, J.; BULLEN, F.; REID, A. Quantitative kinetic and structural analysis of geopolymers. Part 2. Thermodynamics of sodium sílicate activation of metakaolin. Thermochimica Acta, v. 565, p. 163–171, 2013.