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Universidade Federal de Pelotas Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia Dissertação de Mestrado PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE ÁLCOOL E FATORES ASSSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA ZONA RURAL DE UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE BASE POPULACIONAL. Gustavo Pêgas Jaeger Orientadora: Mariângela Freitas da Silveira Coorientador: Christian Loret de Mola Pelotas, 2016.

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Universidade Federal de Pelotas

Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia

Dissertação de Mestrado

PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE ÁLCOOL E

FATORES ASSSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA ZONA RURAL DE UMA CIDADE

DE MÉDIO PORTE DO SUL DO BRASIL: ESTUDO DE BASE POPULACIONAL.

Gustavo Pêgas Jaeger

Orientadora: Mariângela Freitas da Silveira

Coorientador: Christian Loret de Mola

Pelotas, 2016.

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Gustavo Pêgas Jaeger

PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE

ÁLCOOL E FATORES ASSSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA ZONA

RURAL DE UMA CIDADE DE MÉDIO PORTE DO SUL DO BRASIL:

ESTUDO DE BASE POPULACIONAL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduaçāo em Epidemiologia da Universidade

Federal de Pelotas como requisito parcial à obtenção

de título de Mestre em Epidemiologia.

Orientadora: Mariângela Freitas da Silveira

Coorientador: Christian Loret de Mola

Pelotas, 2016

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Gustavo Pêgas Jaeger

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduaçāo em

Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas para obtenção do Título

de Mestre

Banca Examinadora:

___________________________

Prof Dra Beatriz Franck Tavares

______________________________

Prof Dr Fernando César Wehrmeister

Pelotas, RS

Novembro de 2016

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Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família e amigos. Em especial à minha

mãe, Carmen Vera Pêgas Jaeger, à minha avó, Diva Borges Pêgas, à

minha mulher, Daiane Schmachtenberg, a meu pai, Mauro José da Silva

Jaeger e a meu amigo André Bianchini.

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Agradecimentos

Agradeço a todos aqueles que, de certa maneira, têm contribuído na

minha jornada de vida. A todos aqueles que sintam fazer parte do meu

processo de evolução pessoal.

Para evitar cometer o erro de esquecer pessoas importantes, opto por

citar aqueles que contribuíram de maneira mais próxima nos dois últimos

anos de minha vida. Pessoas que contribuíram de diversas maneiras, em

áreas bastante distintas, porém com a mesma importância.

Agradeço novamente à minha mãe. Sem ela, esta vida não existiria;

não teria nenhum sentido.

À minha mulher e grande parceira Daiane Schmachtenberg. Sem ela,

isto não estaria acontecendo.

À minha orientadora e amiga Mariângela Freitas da Silveira, cuja ajuda

durante todo o processo de mestrado é imensurável.

Ao meu coorientador Christian Loret de Mola, parceiro e amigo. Um

perspicaz guia em quem pude confiar durante esta jornada.

À Marília Arndt Mesenburg. Sempre muito amável e prestativa. Minha

segunda coorientadora.

Ao meu “Mestre”, grande amigo e professor de tênis Mauro Brandão.

Parceiro de todas as horas e para todas as coisas.

A dois médicos e parceiros: Dr. Othello Moreira Fabião Neto e Dr.

Sérgio Haussen.

Finalmente, porém não menos importante, à minha turma de

mestrado. Palavras não exprimem os sentimentos que tenho por cada um

de vocês. Vocês sabem o quanto são importantes para mim. E seguirão

para sempre sendo.

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“It is not the strongest of the species that survives, nor the most intelligent,

but the one most responsive to change”

Charles Darwin

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Sumário

Apresentação

1. Projeto de Pesquisa

2. Relatório do Trabalho de Campo

3. Artigo Original

4. Apêndices

5. Nota para Imprensa

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Apresentação

A presente dissertação acadêmica é um pré-requisitos à obtenção do

título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia (PPGE)

da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O volume está apresentado de

acordo com o recomendado pelo manual de normas para teses,

dissertações e trabalhos acadêmicos da UFPel, sendo composto pelo

projeto de pesquisa, relatório do trabalho de campo, artigo científico e nota

para imprensa.

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1. PROJETO DE PESQUISA

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Universidade Federal de Pelotas

Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia

Projeto de Pesquisa

Mestrado

Padrão de Consumo de Bebidas Alcoólicas entre Adultos na Zona Rural do

Município de Pelotas, RS: estudo de base populacional.

Gustavo Pêgas Jaeger

Orientadora: Mariângela Freitas da Silveira

Coorientador: Christian Loret de Mola

Pelotas, 2016.

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Índice

1. Introdução ................................................................ ........................................ 1

2. Revisão da Literatura ........................................................................................ 5 2.1 Prevalência de Transtornos Relacionados ao Uso de Bebidas Alcoólicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.2 Fatores Associados ao Consumo Alcoólico de Risco .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3. Marco Teórico ................................................................................................. 15 3.1 Modelo Teórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

4. Justificativa .................................................................................................... 21

5. Objetivos ................................................................ ........................................ 22 5.1 Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 5.2 Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

6. Hipóteses................................................................ ........................................ 23

7. Metodologia .................................................................................................... 23 7.1 Delineamento .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 7.2 Justificativa do Delineamento .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 7.3 População Alvo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 7.4 Critérios de Inclusão .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 7.5 Critérios de Exclusão .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 7.6 Definição Operacional das Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

7.6.1 Definição Operacional da Variável Dependente (Desfecho) ......................................... 25 7.6.2 Definição Operacional das Variáveis Independentes .................................................... 26

7.7 Tamanho de Amostra: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 7.8 Amostragem... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 7.9 Instrumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 7.10 Estudo Pré-Piloto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 7.11 Estudo Piloto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 7.12 Recrutamento, Seleção e Treinamento dos Entrevistadores.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 7.13 Trabalho de Campo .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 7.14 Controle de Qualidade .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 7.15 Análise dos Dados .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 7.16 Aspectos Éticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 7.17 Orçamento .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 7.18 Divulgação dos Resultados .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 7.19 Cronograma .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

8. Referências Bibliográficas ................................ ............................................... 36

9. Anexos ................................ ................................ ............................................. 39 9.1 Anexo 1 – A versão Brasileira do AUDIT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 9.2 Anexo 2 : Questionário sobre variáveis independentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 9.3 Anexo 3 – Resumo de Artigos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

10. Alterações no Projeto Original ................................ ............................................. 48

11. Relatório ................................................................ ......................................... 49 11.1 Relatório Trabalho de Campo .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

12. Artigo ................................ ................................ ............................................. 76

13. Tabelas e Figuras ................................ ............................................................. 88

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14 Nota para Imprensa ........................................................................................... 96

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Definição operacional do desfecho

Tabela 2 Definição operacional das variáveis independentes .

Tabela 3 Tamanho de amostra de acordo com a prevalência estimada do desfecho

( AUDIT ≥ 8)

Tabela 4 Tamanho de amostra de acordo com fatores associados com o desfecho

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Lista de Abreviaturas e Siglas

OMS

HIV

AIDS

LENAD

PNS

CID - 10

DSM - 5

CAGE

AUDIT

MAST

HABLAS

PPGE

TCLE

UFPel

CAPES

Organização Mundial da Saúde

Vírus da imunodeficiência humana

Síndrome da imunodeficiência humana adquirida

Levantamento nacional de álcool e drogas

Pesquisa nacional de saúde

Classificação internacional de doenças - 10

Manual diagnóstico e estatístico - 5

Questionário de rastreamento para dependência de

álcool – Acrônimo (Cut-down; annoyed; guilty; eye

opener)

Questionário de rastreamento de transtornos

relacionados ao álcool (Alcohol use disorders

identification test)

Teste de rastreamento de consumo de álcool de

Michigan (Michigan alcohol screening test)

Questionário para avaliação de consumo de álcool

em hispano-americanos (Hispanic americans alcohol

survey)

Programa de Pós-Graduaçāo em Epidemiologia

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Universidade Federal de Pelotas

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior

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1. Introdução

O consumo de bebidas alcoólicas é um ato comum na grande maioria das

sociedades contemporâneas. O álcool, conhecido como a “droga” favorita do mundo,

tem sido utilizado há séculos em situações muito diferentes, desde atividades

recreativas e sociais até rituais religiosos.1

Nas sociedades ocidentais, incluindo a brasileira, o consumo de bebidas

alcoólicas é ampla e socialmente aceito. Está entre as substâncias com efeitos

psicoativos consideradas lícitas pela legislação nacional.

O álcool etílico é um componente químico muito simples. Faz parte de

diversos tipos de bebidas produzidas ao redor do mundo. A partir de diferentes

processos de produção, podem-se obter concentrações variadas desta substância.

De maneira geral, a cerveja contém uma concentração de 2 a 5%, vinhos de 10 a

19% e destilados de 24 a 90% de álcool puro. A Escócia, por exemplo, é

mundialmente conhecida pela produção de uísques, bebida com concentração

elevada de álcool, obtida através do processo de destilação.2; 3

Há, certamente, uma relação ambivalente em relação a esta substância. Por

um lado, pode ser fonte de prazer e, por outro, fonte de grandes problemas de

saúde, não somente no nível individual, mas também no âmbito de saúde pública de

nações.2

Em 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um relatório

sobre a situação atual do consumo de álcool e saúde pública em nível mundial,

intitulado “Global Status Report on Alcohol and Health”. Neste, cita o álcool como

uma substância psicoativa capaz de levar à dependência; causa de grandes

problemas de saúde, sociais e econômicos nas sociedades.3

A OMS estima que o consumo mundial por pessoa no ano de 2010 tenha

sido de 6,2 litros de álcool puro. Apesar das diferenças encontradas entre países,

em todas as regiões do mundo o consumo de álcool durante a vida foi mais

frequente entre os homens. Outro dado bastante relevante é o fato de que 16% dos

consumidores de álcool já estiveram envolvidos em episódios de consumo pesado

(cinco ou mais doses em uma única ocasião, em curto período de tempo).3

O consumo de bebidas alcoólicas, segundo a OMS, é maior, também com

maior número de pessoas que consomem álcool, em países com maior pujança

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2

econômica. Como regra, estes países têm um maior consumo per capita e maior

prevalência de episódios de consumo pesado, ou binge drinking.3

O consumo de álcool, especialmente o consumo nocivo, aquele que já está

causando danos evidentes a quem consome, está relacionado com maior frequência

e maior volume consumido. É causa de mais de 200 tipos de doenças e danos

pessoais. Como exemplos marcantes e bem estabelecidos estão a cirrose hepática,

pancreatite e diversos tipos de câncer, como laringe, boca e esôfago. Além disso, a

relação entre lesões por trauma em acidentes automobilísticos, quedas e

relacionadas à violência e ao trabalho também já estão bem estabelecidas.3; 4

O uso de álcool durante a gestação, principalmente em fases mais precoces,

pode gerar diversos danos ao feto, até mesmo dar origem a grave síndrome

alcoólica fetal. Além disso, vem sendo relatado um aumento de ocorrência doenças

infectocontagiosas como tuberculose e HIV/AIDS relacionadas ao uso nocivo de

álcool. 3-4

A OMS estima que, no ano de 2012, cerca de 3,3 milhões de mortes, ou 5,9%

de todos os óbitos no mundo foram atribuídos ao consumo de álcool. Além disso, o

consumo de álcool esteve fortemente relacionado os DALYs – (Disabilities-ajusted

life years), o que de maneira simplificada significa anos de vida saudáveis perdidos,

em comparação com a média populacional.3

Dados referentes ao Brasil, apresentados neste relatório, demonstram

números preocupantes. Do início da década de 60 até o ano de 2010, houve um

aumento significativo no consumo de álcool. No ano de 1960, os brasileiros tinham

um consumo per capita (15 anos ou mais) de menos de 2,5 litros de álcool puro e

passaram, no ano de 2010, para 8,7 litros, sendo este valor maior entres os

homens. Quando se leva em conta apenas os dados daqueles que consomem

álcool, o volume per capita chega a 15,1 litros. De maneira geral, a bebida mais

consumida de forma lícita no Brasil é a cerveja, com 60% do total, seguida pelos

destilados com 36% e vinhos com 4%.3

Ainda de acordo com dados deste mesmo relatório, encontrou-se uma

prevalência no Brasil de transtornos relacionados ao uso álcool, que inclui uso

nocivo e síndrome de dependência, em população com quinze anos ou mais, de

5,6%, sendo 8,2% em homens e 3,2% em mulheres. O consumo episódico pesado,

ou em binge, 5-6 doses ou 60 gramas ou mais de álcool puro foi de 12,7% da

população nos 30 dias anteriores à entrevista.3

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3

O álcool é a droga que mais gera violência urbana e familiar. É responsável

por cerca de 10% de toda a carga de doenças no Brasil. Os problemas ligados ao

uso dessa substância estão diretamente relacionados com o padrão do consumo: a

quantidade, a frequência e o tipo de bebida.5

Nos últimos anos, o Brasil apresentou um considerável crescimento

econômico. Sabe-se, a partir de evidências científicas, que o consumo de álcool está

diretamente relacionado com a pujança de uma nação. Dessa forma, o Brasi l, que já

era um grande consumidor deste tipo de substância, torna-se mais vulnerável a ter

um aumento na quantidade de consumo e, consequentemente, a maiores e mais

graves problemas advindos deste.5

No Brasil, nos anos de 2006 e 2012, foram realizados dois grandes

levantamentos sobre uso de álcool e outras drogas. No primeiro levantamento

nacional de álcool e drogas (LENAD I), no ano de 2006, demonstrou-se que

aproximadamente a metade da população brasileira não era consumidora de álcool;

entretanto, entre os bebedores, foram demonstrados altos índices de uso nocivo e

dependência.5

No segundo levantamento (LENAD II), no ano de 2012, a proporção de

abstinentes manteve-se praticamente a mesma. Entre os consumidores, 62% eram

homens e 38% mulheres. Entre os homens, 63% relataram beber pelo menos uma

vez por semana, sendo que o consumo de cinco doses ou mais em uma única

ocasião também foi maior entre os homens, 66%, comparados com apenas 49% em

mulheres.5

Em relação à idade em que os brasileiros experimentam bebidas alcoólicas,

encontrou-se uma prevalência de 37% até os 17 anos de idade. Houve uma clara

tendência a experimentação mais precoce no sexo masculino.5

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), publicada em 2013, estudou o

consumo de bebidas alcoólicas na seção que incluía os hábitos de vida.

Demonstrou, entre outras coisas, que o consumo de bebidas alcoólicas é um dos

principais fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, bem como para

acidentes e violência.6

Ainda de acordo com a PNS, o percentual da população brasileira, com

dezoito anos ou mais de idade, que relatou consumir bebidas alcoólicas uma vez ou

mais por semana foi de 24%. Este hábito, foi bem mais prevalente entre os homens,

com 36,3%, contra 13% em mulheres. Também foi encontrada diferença no hábito

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4

de consumir bebidas alcoólicas uma vez ou mais por semana entre diferentes níveis

de escolaridade, com aqueles que completaram o ensino superior apresentando

uma prevalência de 30,5%, enquanto aqueles sem instrução ou com ensino

fundamental incompleto, uma prevalência menor, de 19%.6

Mesmo após séculos de uso de álcool pelos seres humanos, não há um

consenso acerca da segurança dos diferentes tipos de beber. Nem mesmo um

consenso sobre a possibilidade de haver algum tipo de consumo seguro. No

entanto, há evidências científicas que apontam para o grande potencial que esta

substância tem de levar a um aumento progressivo de seu consumo, culminando,

em alguns casos, com a síndrome de dependência.2

A Organização Mundial da Saúde, através da Classificação Internacional de

Doenças, em sua décima edição (CID-10), e a Associação Psiquiátrica Americana,

com sua mais recente edição do Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-5) ,

apresentam critérios clínicos para o diagnóstico das patologias relacionadas ao uso

de álcool, sendo estes similares, porém com algumas nomenclaturas diferentes.7;8

Na prática clínica, tais manuais são fundamentais para a avaliação de

indivíduos que consomem e abusam de bebidas alcoólicas. Possibilitam diagnosticar

indivíduos com problemas relacionados ao uso de álcool, o que permite elaborar

estratégias individuais para prevenção e tratamento, de acordo com a gravidade de

cada diagnóstico.7;8

No entanto, o uso de critérios destes manuais em estudos de base

populacional, apresenta algumas limitações. Entre elas, e muito importante, a

necessidade de aplicação de entrevistas estruturadas baseadas nos critérios de

cada manual, o que torna a logística de todo o processo muito mais complexa.4;9

Desta forma, algumas estratégias mais simples são, às vezes, utilizadas com

intuito de avaliar o status de populações em relação ao consumo de álcool. Alguns

questionários, como CAGE (Cut-down, Annoyed, Guilty, Eye-opener), MAST

(Michigan Alcohol Screening Test) e AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification

Test), mais breves e com boa acurácia vêm sendo utilizados com esse objetivo.9; 10

Em nosso país, alguns estudos têm sido realizados ao longo dos últimos anos

utilizando questionários como os acima citados, com intuito de investigar o consumo

de bebidas alcoólicas na população brasileira. Entretanto, a imensa maioria tem sido

realizada apenas com populações urbanas. Raros são os estudos realizados no

Brasil que se propõem a estudar exclusivamente populações rurais.5; 6

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5

Tendo em vista o contexto apresentado, o presente estudo pretende avaliar o

padrão de consumo de bebidas alcoólicas na população rural de um município de

médio porte do sul do Brasil. Será utilizado, para tal fim, o questionário AUDIT,

elaborado pela OMS, já validado em nosso país, como ferramenta de rastreamento

para problemas relacionados ao consumo de álcool.4; 9; 10; 11; 12

2. Revisão da Literatura

A revisão da literatura foi realizada nas bases de dados LILACS e PubMed. O

objetivo principal foi encontrar artigos, relevantes para este estudo, que estimassem

a prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool, principalmente em

zonas/populações rurais, e os fatores associados a estes transtornos.

Foram utilizados como descritores principais, os seguintes: “alcoolismo”,

“transtornos relacionados ao uso de álcool”, “transtornos induzidos por álcool”;

“alcoholism”, “alcohol-induced-disorders”, “alcohol-drinking”. Com cada um destes

descritores, foram combinados, separadamente, os descritores “zona rural” e

“população rural”. Além disso, os três descritores relacionados ao álcool foram

combinados, também separadamente, com os descritores “prevalência” e fatores de

risco”. Esta estratégia foi utilizada nas duas bases de dados, LILACS e PubMed, em

português e inglês, respectivamente.

Além disso, utilizou-se a estratégia de pesquisar as referências bibliográficas

dos artigos selecionados, com intuito de encontrar possíveis artigos de interesse

para este estudo, que eventualmente não tivessem aparecido nas bases de dados.

Ao final, para elaboração desta revisão, foram selecionados 16 artigos para

leitura na íntegra (tabela1). Além destes, foram utilizados dois grandes

levantamentos nacionais sobre álcool e drogas (LENAD) e uma pesquisa nacional

de saúde (PNS).

Atualmente, na literatura mundial, as duas fontes mais importantes para

diagnóstico de transtornos mentais e de comportamento, incluindo as relacionadas

ao consumo de álcool são:

- A Classificação Internacional de Doenças (CID-10), através de sua classificação de

transtornos mentais e de comportamento.7

- O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da

Associação Psiquiátrica Americana.8

Page 21: Dissertação de Mestrado PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ... Gustavo.pdf · intitulado “Global Status Report on Alcohol and Health”. Neste, cita o álcool como uma substância psicoativa

6

Na CID-10, encontramos, na categoria F10, os transtornos mentais e

comportamentais decorrentes do uso de álcool. Serão descritas as duas subdivisões

mais importantes para este estudo, a F10.1, uso nocivo de álcool, e a F10.2,

síndrome de dependência de álcool.7

O Uso Nocivo de Álcool (F10.1), para esta classificação, é definido como um

padrão de uso de álcool que esteja causando danos à saúde, tanto físico como

mental. Este diagnóstico requer a presença de um dano real. Nos padrões de uso

nocivo, o usuário normalmente é criticado por outras pessoas por seu hábito, está

envolvido em negativas consequências sociais, familiares, laborais e, até mesmo,

legais. O fato de um consumidor apresentar um ou mais episódios de intoxicação

aguda por álcool não é por si mesmo evidência de dano para codificar como uso

nocivo. Por outro lado, o diagnóstico de síndrome de dependência exclui o de uso

nocivo.7

Por sua vez, a síndrome de dependência de álcool (F10.2) representa um

diagnóstico mais grave. Muitas vezes, ocorre após um período de consumo nocivo

que acaba por evoluir para dependência.7

A Síndrome de Dependência de Álcool (F10.2) tem critérios diagnósticos

claros, definidos como a presença de três ou mais dos seguintes em algum

momento do ano anterior:

a) um desejo ou senso de compulsão para consumir a substância;

b) dificuldade em controlar o comportamento de consumo em termos de seu início,

término ou níveis de consumo;

c) um estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessa ou foi

reduzido; síndrome de abstinência característica para o álcool ou uso da substância

com intuito de aliviar os sintomas;

d) evidência de tolerância;

e) abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso do

álcool;

f) persistência no consumo do álcool, a despeito de evidências claras de

consequências manifestamente nocivas, tais como dano hepático ou transtornos do

humor.7

O DSM-5, na sua seção de transtornos relacionados ao álcool, apresenta

nomenclaturas diferentes das encontradas na CID-10 para os diagnósticos

Page 22: Dissertação de Mestrado PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ... Gustavo.pdf · intitulado “Global Status Report on Alcohol and Health”. Neste, cita o álcool como uma substância psicoativa

7

relacionados ao uso do álcool. O Transtorno por Uso de Álcool do DSM-5, de certa

maneira, engloba os diagnósticos de uso nocivo e dependência da CID-10.7; 8

O Transtorno por uso de álcool apresenta critérios diagnósticos semelhantes

aos apresentados pela CID-10. No entanto, o transtorno por uso de álcool é divido

em categorias, de acordo com o número de sintomas presentes: leve (presença de

dois ou três sintomas), moderada (presença de quatro ou cinco sintomas) e grave

(presença de seis ou mais sintomas).8

O DSM-5 não inclui uma categoria diretamente correlata ao Uso Nocivo da

CID-10. Entretanto, pode-se, dependendo dos critérios diagnósticos preenchidos,

presumir que os níveis leves, ou até moderados, englobariam estes casos.8

Analisando as duas fontes citadas acima, as mais importantes para

diagnósticos de transtornos psiquiátricos, já se percebe uma falta de uniformidade

de termos para conceituar os diferentes diagnósticos relacionados ao uso de álcool.

Na literatura pesquisada, e na vasta literatura mundial sobre o tema, encontram-se

diversos termos distintos; muitas vezes, o mesmo termo utilizado em um artigo, é

utilizado com significado diferente em outro.

Além disso, quando se utilizam questionários padronizados, como o CAGE ou

o AUDIT, para rastreamento de casos, os pontos de corte nos escores dos

questionários também podem variar. Por exemplo, pode-se encontrar estudos que

usem, no questionário CAGE, o ponto de corte de um para diagnóstico de

dependência de álcool, enquanto a maioria dos estudos utilizam o ponto de corte de

dois. O AUDIT também é usado com diferentes pontos de corte; às vezes, até dentro

do mesmo estudo, pontos de corte diferentes são usados de acordo com o sexo do

entrevistado. Alguns estudos, uti lizam pontos de corte menores para mulheres ou

para pessoas com mais de 65 anos.4

A título de exemplo, encontramos na literatura termos como os seguintes:

consumo abusivo de álcool, consumo excessivo de álcool, uso nocivo, uso de risco,

consumo pesado, dependência de álcool, transtorno induzido por álcool, e muitos

outros. Dessa forma, ao analisar a literatura sobre o tema, deve-se estar atento para

as definições conceituais de cada termo, já que, infelizmente, não existe um

consenso.13; 14; 15

Um dos questionários amplamente utilizado em pesquisas de rastreamento

ao redor do mundo é o AUDIT. Este questionário foi elaborado pela OMS com o

propósito de identificar não somente casos mais graves relacionados com o uso de

Page 23: Dissertação de Mestrado PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ... Gustavo.pdf · intitulado “Global Status Report on Alcohol and Health”. Neste, cita o álcool como uma substância psicoativa

8

álcool, mas também casos em estágios mais precoces, menos graves, os

considerados bebedores de risco e os que fazem uso nocivo. Este questionário é

composto por 10 perguntas, que, ao final, podem conduzir a um somatório to tal de 0

a 40 pontos.4

A própria OMS, em guias mais recentes, propôs uma subdivisão dos

resultados do questionário AUDIT em quatro zonas (padrões), de acordo com os

escores obtidos: zona I (0-7 pontos), sem risco; zona II (8-15 pontos), bebedores de

risco; zona III (16-19 pontos), uso nocivo; zona IV (20 ou mais pontos), provável

dependência.4

Outro questionário amplamente utilizado para rastreamento de problemas

relacionados ao uso álcool é o questionário CAGE, composto apenas por quatro

perguntas, de aplicação bem mais simples. Geralmente, a presença de duas

respostas afirmativas neste questionário é considerada o ponto de corte para

diagnóstico de síndrome de dependência de álcool. Diferente do AUDIT, o CAGE

não consegue, normalmente, fazer diagnósticos de problemas relacionados ao

álcool em estágios mais precoces.4; 11

A literatura mundial apresenta um número bem maior de estudos

relacionados ao uso de álcool utilizando amostras de populações urbanas. Estudos,

principalmente no Brasil, com populações rurais são raros.5; 6

A grande maioria dos estudos se uti liza de questionários de rastreamento

para identificação de seus casos de interesse. Os resultados dos artigos, que serão

apresentados a seguir, basearam-se, principalmente, nos questionários já citados

CAGE e AUDIT. Optou-se por escolher estudos que utilizaram principalmente estes

dois questionários, pois o primeiro, o CAGE, é largamente conhecido e utilizado, e o

segundo, o AUDIT, também bastante utilizado, será o instrumento empregado no

trabalho de campo deste estudo. No APÊNDICE 1 encontram-se os resumos dos

artigos apresentados nesta revisão.

2.1 Prevalência de Transtornos Relacionados ao Uso de Bebidas Alcoólicas

A OMS, em relatório publicado em 2014, apresenta dados do Brasil referentes

ao ano de 2010. Foi estimada uma prevalência de transtornos relacionados ao

álcool, em indivíduos com quinze anos ou mais, de 5,6% e uma prevalência de

dependência de álcool de 2,8%.3

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9

Ainda, no mesmo relatório, a OMS estimou uma prevalência de consumo

pesado de álcool, nos trinta dias anteriores à entrevista, de 22,1%, sendo este

percentual ainda mais alto em homens, 29,9%. Também foi encontrada uma

prevalência de abstêmios de 42,3%.3

Kumar et al, em 2013, realizaram um estudo transversal, de base

populacional, na zona rural de Tamil Nadu, Índia. Selecionaram uma amostra de 946

indivíduos, os quais responderam ao questionário AUDIT. Encontraram uma

prevalência geral, com ponto de corte >7, de 9,4%, sendo 16,8% em homens e

apenas 1,3% em mulheres. Destes, 33,7% preenchiam critérios para provável

dependência, ou seja, 20 ou mais pontos.16

Giang et al, realizaram em 2008 um estudo transversal em um distrito rural do

Vietnã. Para consumo problemático de álcool consideraram, no questionário AUDIT,

os pontos de corte >7 para homens e >5 para mulheres. Encontraram uma

prevalência de 25,5% e 0,7% respectivamente.17

O segundo levantamento nacional de álcool e drogas, publicado no ano de

2012 – LENAD-II - , incluiu também a população rural. Não há dados, até o

momento, discriminando o consumo de álcool nas populações rurais e urbanas.

Neste levantamento foi encontrada uma prevalência de 6,8% de dependência e de

50% de prevalência geral de consumo, sendo 62% em homens e 38% em mulheres.

Em relação à regularidade do consumo, 53% relataram consumir bebidas alcoólicas

mais de uma vez por semana. Outro dado importante encontrado foi a alta

prevalência, 59%, de consumo em binge (quatro doses para mulheres e cinco doses

para homens em um intervalo de duas horas).5

No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013, pesquisou, dentro

da seção de hábitos de vida, o consumo de bebidas alcoólicas. Não foi utilizado na

descrição dos resultados, nomes de diagnósticos adotados pelos dois principais

manuais, a CID-10 e o DSM-5. Entretanto, esta pesquisa levou em conta toda a

população nacional, inclusive populações rurais, que carecem de estudos,

principalmente no que diz respeito ao consumo de álcool.6

A PNS demonstrou que, em média, há menor consumo de bebidas alcoólicas

na zona rural do Brasil. Em indivíduos com 18 ou mais anos, 26,5% relataram

consumir álcool no mínimo uma vez por mês, contra 20,3% da zona rural. Em

relação ao consumo de álcool uma vez ou mais por semana, a prevalência na

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10

população urbana também foi maior do que na população rural, 24,9% e 17,9%,

respectivamente.6

Os dados que mais podem aproximar-se de um consumo mais grave de

álcool, dizem respeito ao consumo abusivo em quatro ou mais dias nos últimos 30

dias. Na amostra, com indivíduos com 18 anos ou mais, foi encontrada uma

prevalência de 6,2% na zona urbana e de 4,2% na zona rural.6

A idade média de iniciação de consumo foi similar entre as populações,

urbana e rural, em torno dos 18 anos de idade. Houve uma tendência de início mais

precoce no sexo masculino.6

Mendoza-Sassi e Béria realizaram estudo transversal de base populacional

na cidade de Rio Grande, RS, sul do Brasil, publicado no ano de 2003. Pesquisaram

a prevalência de transtornos relacionado ao uso de álcool, utilizando o questionário

AUDIT com ponto de corte >7, e fatores associados em uma amostra representativa

da população, composta por 1260 pessoas com quinze anos ou mais. Os autores

encontraram uma prevalência geral de 7,9%, com prevalência de 14,5% em homens

e 2,4% em mulheres. Além disso, encontraram uma prevalência de consumo em

qualquer momento da vida de 43%, sendo 56,8% em homens e 31,2% em

mulheres.18

Também na cidade de Rio Grande, RS, no ano de 2004, Primo et al

realizaram estudo transversal de base populacional. A amostra foi composta por

1044 indivíduos com idades de 12 a 75 anos. Para definir abuso de álcool,

considerou-se o consumo de 30 gramas ou mais diárias para homens; para

mulheres, 24 gramas ou mais. Para definir dependência, considerou-se duas ou

mais respostas positivas no CAGE. Foi encontrada uma prevalência de abuso de

álcool de 5,5% e de 2,5% de dependência de álcool.14

Em 2004, estudo transversal também de base populacional foi realizado na

cidade de Pelotas, R.S. Obteve-se uma amostra da zona urbana, composta por

2177 indivíduos com idades entre 20 e 69 anos. O critério para consumidores

abusivos de álcool foi definido como um consumo de 30 gramas ou mais de álcool

puro diariamente, o que equivale a três doses padrão, como, por exemplo, três latas

de cerveja. Encontrou-se uma prevalência geral de 14,3%, sendo 29,2% em homens

e 3,7% em mulheres.13

Barros et al, no ano de 2007, aplicaram o questionário AUDIT em amostra

composta por 515 indivíduos residentes em zona urbana da cidade de Campinas,

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11

SP. Consideraram, como a maioria dos estudos, o ponto de corte >7, classificando

os casos como abuso/dependência de álcool. Foi encontrada prevalência geral de

8,4%, sendo de 13,1% em homens e 4,1% em mulheres.19

No ano de 2009, em estudo transversal realizado na cidade de Bebedouro,

SP, foi selecionada amostra de indivíduos que procuraram atendimento em serviço

de saúde primário. Foi utilizado o questionário AUDIT, com ponto de corte igual ou

maior do que 20, como classificação de dependência de álcool. Encontrou-se uma

prevalência de 9,8%.20

Laranjeira et al, em 2010, no estudo Padrão de uso de álcool em brasileiros

adultos, selecionaram uma amostra de 2346 indivíduos, obtida a partir de toda a

população brasileira. Aplicaram o questionário HABLAS para rastreamento. Desta

amostra, 3% preencheram critério para uso abusivo e 9% para dependência.21

Freitas et al, em 2011, realizaram estudo de base populacional em região

urbana de Ribeirão Preto, S.P, com indivíduos com idade igual ou maior a 30 anos.

Utilizaram o questionário AUDIT da seguinte maneira: 0-7 pontos, ausência de

dependência; 8 a 40 pontos, algum grau de dependência. Dessa maneira,

encontraram uma prevalência de dependência, ou seja, AUDIT igual ou maior a 8,

de 20,2%, sendo 43,5% em homens e 10,2% em mulheres.22

Em 2012, em estudo transversal de base populacional, realizado no sul do

Brasil, na cidade de Florianópolis, por Reisdorfer et al, foi encontrada uma

prevalência geral de consumo problemático de álcool, AUDIT com pontuação >7, de

18,4%. Em homens a prevalência encontrada foi de 29,9%, e em mulheres de

9,3%.15

Em estudo realizado em zona urbana de um município baiano no ano de

2013, Ferreira et al, utilizando o questionário AUDIT com ponto de corte >7

encontraram uma prevalência de uso abusivo de álcool de 18,5%, sendo 34,9% em

homens e 7,9% em mulheres. No mesmo estudo, optaram por também utilizar o

questionário CAGE, considerando como dependência alcoólica os casos com dois

ou mais pontos. Encontraram uma prevalência de dependência de 10,4%, sendo

17% em homens e 6,1% em mulheres.23

No ano de 2014, Brittes et al realizaram estudo transversal para avaliar o

padrão de consumo de bebidas alcoólicas entre trabalhadores de um serviço público

na cidade do Rio de Janeiro. Utilizaram o questionário AUDIT com ponto de corte

>7. Aqueles que tiveram escores maiores ou iguais a 7 foram considerados como

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12

tendo algum consumo de risco. A prevalência encontrada foi de 12,7%. Destes,

65,9% eram homens e 34,1% eram mulheres.24

2.2 Fatores Associados ao Consumo Alcoólico de Risco

Diversos fatores estão associados ao consumo de álcool, bem como ao

padrão de consumo, podendo atuar como risco ou proteção. Entre os grupos de

fatores mais importantes associados ao consumo de álcool estão os seguintes:

demográficos, socioeconômicos, comportamentais, relacionados à saúde mental e

física, ambientais e genéticos.

Giang et al realizaram estudo em distrito rural do Vietnã no ano de 2008, com

intuito de avaliar o consumo de álcool e os problemas relacionados em diferentes

grupos sócio-demográficos. Encontraram uma prevalência mais alta entre homens,

porém pouca diferença entre os grupos sociodemográficos estudados. Apesar disso,

mulheres solteiras, divorciadas ou viúvas e com maior nível de escolaridade,

apresentaram maior risco para problemas relacionados ao consumo de álcool do

que as casadas e com menor nível educacional.17

Em outro estudo transversal, realizado em 2013 na área rural de

Cumanayagua, Cuba, Hidalgo Pereira et al pesquisaram a presença de alcoolismo e

fatores de risco apenas em indivíduos do sexo masculino, maiores de quinze anos,

já com diagnóstico de dependência de álcool, realizado pelo questionário CAGE e

por entrevista baseada na CID-10. Como resultados deste estudo, cita-se que a

maioria havia desenvolvido dependência de álcool após os trinta e cinco anos de

idade; mais de um terço não tinha consciência da sua condição ou crítica de sua

doença; a maioria apresentava problemas familiares, sociais e judiciais.25

Merikangas et al, em estudo publicado em 1998, intitulado “Familial

Transmission of Substance Use Disorders”, encontraram um risco duas vezes maior

de transtornos relacionados ao uso de álcool em familiares de primeiro grau de

indivíduos com este mesmo problema em comparação com familiares de um grupo

controle. Além disso, demonstraram um maior risco de dependência de nicotina em

familiares de primeiro grau de indivíduos alcoolistas.26

A OMS, no relatório publicado em 2014, no qual, entre outros, cita o estudo

acima, afirma que uma história familiar de transtornos relacionados ao álcool é

considerada um grande fator de risco para o desenvolvimento destes transtornos,

tanto por razões genéticas como por razões ambientais.3

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13

Kumar et al, em estudo realizado no ano de 2013 em zona rural da Índia,

encontraram como fatores associados positivamente ao consumo de álcool: idade,

entre 15-44 anos (OR=3,56), sexo masculino (OR=11,23), analfabetismo (OR=6,16),

baixos níveis educacionais (OR=2,57) e tabagismo (OR=17,78).16

Em estudo realizado por Mendoza-Sassi e Béria na cidade de Rio Grande,

RS, publicado no ano de 2003, os seguintes fatores tiveram associação positiva,

estatisticamente significativa, com o diagnóstico de transtornos relacionados ao

consumo de álcool: sexo masculino (RP= 6,9; IC=3,6-13,2); classe social E (RP=

2,36; IC=1,1-5,2); tabagismo, (RP= 3,3; IC=1,9-5,6); e presença de transtornos

psiquiátricos menores (RP= 2,5; IC=1,4-4,6). Além disso, os testes de tendência

para classe social e tabagismo foram estatisticamente significativos (P<0,001) com

maiores prevalências entre as classes sociais mais baixas e entre ex-fumantes e

fumantes.18

Também em Rio Grande, RS, no ano de 2004, Primo et al, em estudo de

base populacional, encontraram associação positiva entre alcoolismo e sexo

masculino (OR=6,3; IC=2,8-14,0); classe social E (OR=5,4; IC=1,3-22,0) e

tabagismo (OR=5,4) e condição atual de ex-tabagista (OR=3,4), com P-valor <

0,001.14

Estudo de base populacional realizado por Costa et al, no ano de 2004, com

população urbana do município de Pelotas, R.S, encontrou associação positiva

entre consumo abusivo de álcool e os seguintes fatores, após análise ajustada: sexo

masculino (OR=10,1; IC=7,1-14,3), idades entre 30 e 39 anos (OR=1,6; IC=1,1-2,4),

idades entre 60 e 69 anos (OR=2,3; IC=1,46-3,7); cor da pele preta ou parda

(OR=1,9; IC=1,4-2,7), nível social E (ANEP) (OR=2,8; IC=1,3-6,2); presença de

doença crônica (OR=1,6; IC=1,1-2,2) e tabagismo, com fumantes pesados

apresentando maior OR (OR=4,6; IC=3,04-7,0).13

Barros et al, em estudo realizado em 2007 na cidade de Campinas, S.P, com

residentes de região urbana, encontraram os seguintes fatores associados

positivamente ao consumo abusivo de álcool (AUDIT 20): idade, de 14-39 anos

com maior risco; renda > 2500 US$ (P-valor<0,001); educação, menos do que 12

anos de estudo, comparados com 12 anos ou mais (OR=13,42; IC=3,0-61,0); uso de

drogas ilícitas durante a vida (OR=4,47; IC=1,8-10,1). A religião evangélica teve

associação inversa com o consumo abusivo de álcool, sendo, portanto, um fator de

proteção, com significância estatística.19

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14

Em Bebedouro, S.P., estudo realizado em serviços de atenção primária por

Vargas et al, encontrou-se associação positiva entre dependência alcoólica e os

seguintes fatores: sexo masculino e escolaridade, maiores razões de Odds em

indivíduos com ensino médio e superior em comparação com os da categoria de

referência, ensino fundamental (P<0,001).20

Em estudo realizado no ano de 2011 em região urbana de Ribeirão Preto,

S.P, Freitas et al encontraram os seguintes fatores associados, de forma positiva, à

dependência de álcool: sexo masculino (RP=3,3; IC=2,5-4,5); idade, entre 30-39

anos (RP=2,5; IC=1,5-4,0); nível educacional, de 4-7 anos (RP1,3; IC=1,1-1,7);

estado marital sem companheiro (RP=1,5; IC=1,2-1,8); condição de trabalho positiva

(RP=1,4); hábito de fumar, com maiores riscos em ex-fumantes (RP=1,9) e fumantes

(RP=2,8), teste de tendência linear com P<0,001; estado de saúde,

regular/ruim/péssimo (RP=1,3; IC=1,1-1,7). Ao contrário das acima, a religião

protestante teve associação inversa com a dependência de álcool (RP=0,37;

IC=0,21-0,64).22

Em 2012, estudo realizado na cidade de Florianópolis, S.C., Reisdorfer et al

encontraram associação positiva entre transtornos relacionados ao uso de álcool,

medido pelo questionário AUDIT, e os seguintes fatores: sexo masculino (RP=3,2;

IC= 2,4-4,2); idade(20-29) (RP=2.1; IC=1,1-2,1); estado civil solteiro (RP=2,03; IC=

1,3-2,0) e tabagismo, com maiores riscos entre os fumantes mais pesados

(P<0,001).15

Ferreira et al, em estudo realizado na Bahia, encontraram associação

positiva, estatisticamente significativa, após análise ajustada entre o uso abusivo de

álcool e sexo masculino (OR=5,56), indivíduos jovens, de 14 a 29 anos, (OR=5,41).

Diferente das acima, foi encontrada associação inversa, de proteção, com prática de

religião evangélica (p=0,002).23

No estudo de Brittes et al, publicado em 2014, com trabalhadores de serviço

público na cidade do Rio de Janeiro, foram encontradas associações positivas,

estatisticamente significativas, com sexo masculino e menor nível de escolaridade,

até ensino médio completo. (P<0,01)27

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15

3. Marco Teórico

Há a possibilidade de entender a relação do ser humano com o consumo de

bebidas alcoólicas sob a forma de um continuum. Em um extremo, encontram-se os

abstêmios, que em levantamento nacional feito em 2012, eram cerca de 50% da

população brasileira; no extremo oposto, estão os alcoolistas ou dependentes de

álcool. No meio deste continuum encontra-se um grande número de pessoas que

consomem álcool das mais diversas maneiras.5; 28

Para fins deste texto, salienta-se o consumo de risco, aquele que ultrapassa

valores máximos de consumo, convencionados por diferentes órgãos de saúde, e o

uso nocivo, aquele que já causa danos evidentes aos que consomem bebidas

alcoólicas. Entre estas duas últimas categorias, há em comum a possibilidade real

de evoluírem para níveis mais avançados de gravidade, até alcançar o extremo mais

grave.7

Mesmo havendo a possibilidade de evolução para padrões mais graves de

consumo, a grande maioria daqueles que usam bebidas alcoólicas consegue fazer

um uso “controlado”. Apesar disso, não há consenso sobre níveis seguros de

consumo de álcool. Há, por outro lado, evidências de que o consumo de pequenas

quantidades diárias de álcool seja um fator de proteção contra doenças

cardiovasculares.3; 24

Os transtornos relacionados ao álcool, como os demais transtornos

psiquiátricos, não têm uma origem etiológica uni causal. Os transtornos psiquiátricos

são entendidos como o resultado da ação de diversos fatores, isto é, transtornos de

origem multicausal.8; 29

O alcoolismo ou dependência de álcool, que serão tratados ao longo deste

trabalho como sinônimos, é fruto, em uma análise mais ampla, de uma interação

entre ambiente e genética. Entretanto, ainda não há evidências suficientes que

consigam apontar algum deles como fator causal principal.29

No primeiro nível deste modelo teórico, encontram-se as variáveis sexo e

idade. Variáveis que, da maneira conceitual como pensamos este processo

etiológico, precedem os transtornos relacionados ao uso de álcool.

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16

Ainda neste primeiro nível encontram-se o ambiente rural e a carga genética

dos indivíduos em permanente interação. Ou seja, o ambiente no qual vive o

indivíduo, considerado em toda a sua gama de particularidades, pode interferir sobre

a constituição genética do indivíduo, podendo, até mesmo, alterar características

fenotípicas e comportamentais deste. Por outro lado, a genética individual,

principalmente a relacionada às características comportamentais e cognitivas, pode

levar a mudanças do ambiente, sejam elas positivas ou negativas.26; 29

Neste modelo teórico, optou-se por posicionar fatores ambientais e genéticos

no primeiro nível hierárquico, principalmente por entender que sejam fatores que

agem muito precocemente no desfecho estudado. Como variáveis que pudessem

refletir estes fatores acima, de maneira indireta, se inclui as variáveis história familiar

de problemas com álcool e cor da pele.

O ambiente rural, que será objeto de estudo desta pesquisa, difere dos

ambientes urbanos. De maneira geral, o ambiente rural tem pior acesso à educação,

serviços de saúde e informação. Estes três componentes, que estão melhor

caracterizados no segundo nível hierárquico deste modelo, são indissociáveis do

ambiente. Um ambiente com pior acesso a estes componentes pode ser um fator de

risco para o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Pode ser um elemento

importante na cadeia de eventos que leva um indivíduo a tornar-se um dependente

de álcool.

Os fatores genéticos, apesar de esquematicamente estarem colocados no

topo do modelo hierárquico, assim como o ambiente, permeiam todos os demais

níveis. Há evidências de que indivíduos que tenham familiares com problemas

relacionados ao álcool, têm um risco mais elevado de também desenvolverem estes

problemas.26

Descendo um pouco na cadeia hierárquica, no segundo nível, é importante

salientar o ambiente social e cultural em que a população brasileira, de maneira

geral, está inserida. Este ambiente inegavelmente é extremamente permissivo ao

consumo de bebidas alcoólicas. Além disso, fomenta-o de diversas maneiras.

Provavelmente os maiores incentivos ao consumo de álcool venham através de

enormes campanhas publicitárias, veiculadas em meios de comunicação de massa.

O álcool, nestas campanhas, frequentemente aparece associado a “mulheres

bonitas”, jovens felizes e saudáveis, festas, diversão, etc. Cenário muito parecido

com o que havia com a publicidade de cigarros anos atrás.30; 31

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17

Além disso, o álcool no Brasil é uma substância lícita, acessível, em teoria, a

qualquer indivíduo maior de 18 anos. Na prática, o acesso a bebidas alcoólicas é

obtido facilmente por crianças e adolescentes, sem que haja uma restrição e

fiscalização efetivas.28

Neste cenário de grande incentivo ao consumo, tolerância legal, frágil

fiscalização e acesso fácil a diversos tipos de bebidas alcoólicas, é previsível que o

consumo de bebidas que contenham álcool e os problemas relacionados a ele sejam

enormes. É exatamente neste ponto em que se encontra a sociedade brasileira e,

por conseguinte, o ambiente rural desta sociedade.

Neste contexto, tenta-se compreender o papel da família na origem destes

transtornos relacionados ao álcool, seja ele protetor ou promotor. A família está

inserida neste ambiente atual, descrito acima, em que as bebidas alcoólicas são

onipresentes. Famílias estruturadas, saudáveis e sem histórico de problemas

relacionados ao álcool agem como um fator de proteção aos seus membros. No

sentido oposto, famílias desestruturadas, nas quais, algumas vezes, haja um

membro dependente de álcool, ou uma história familiar positiva para este problema,

agem como importante fator contribuinte nesta cadeia causal.28

Ainda neste mesmo nível hierárquico, influenciando e sendo influenciado pelo

ambiente cultural e familiar, estão as condições socioeconômicas e demográficas.

Este grande grupo de características pode ser desmembrado, por exemplo, em

escolaridade e estado civil, sendo a baixa escolaridade geralmente um fator de risco

para problemas relacionados ao álcool, e estado civi l casado ou amasiado como

fator de proteção.15

De forma um tanto resumida, teríamos o seguinte cenário concernente aos

elementos socioeconômicos e demográficos, que estão no segundo nível hierárquico

do modelo, interagindo com os ambientes familiar, social e cultural: indivíduos do

sexo masculino são mais vulneráveis a transtornos relacionados ao álcool; aqueles

que possuem relacionamentos estáveis apresentam menores taxas de consumo

abusivo de álcool; a prática de religião evangélica é, geralmente, um fator de

proteção. Quanto a escolaridade, há divergência entre os estudos; entretanto, a

maioria apresenta dados que demonstram maiores prevalências de consumo,

principalmente de padrões mais graves de consumo nos grupos com menor

escolaridade. Quanto a renda individual, parece haver maior prevalência de

problemas em pessoas com menor renda.13; 15; 23

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18

No terceiro nível deste modelo, encontram-se a predisposição individual, que

engloba a resiliência, a saúde mental e a exposição a bebidas alcoólicas, sendo esta

mais prejudicial, quanto mais precoce ocorrer. Aqui, os elementos hierárquicos

parecem confundir-se e sobrepor-se. De certa maneira, não há como evitar que isto

de fato aconteça, pois, a cadeia causal deste tipo de doença, como de tantas outras,

é complexa e imbricada.

A ideia, ao longo deste modelo teórico, é tentar montar uma linha que parta,

hipoteticamente, do ambiente rural e do indivíduo abstêmio que nele vive, com sua

carga genética, até chegar ao quarto nível hierárquico. Nele, estarão em um polo os

abstêmios, e no outro os dependentes de álcool.

Sabe-se que quanto mais precocemente o indivíduo for exposto a bebidas

alcoólicas, maior é a probabilidade de que venha a tornar-se um bebedor

problemático no futuro. Além disso, quanto maior a oferta de bebidas alcoólicas,

mesmo que não em estágios precoces da vida, maiores também serão as

probabilidades de que um indivíduo tenha problemas com o álcool.5; 21; 28

Neste mesmo nível hierárquico estão a saúde mental e a predisposição

individual. Estes podem atuar como fatores de risco ou proteção. Podem interferir na

resiliência do indivíduo, que, de maneira simplificada seria a capacidade de alcançar

objetivos, vencer obstáculos, mesmo enfrentando situações sociais, econômicas e

familiares adversas.

Neste ponto do caminho, o indivíduo que iniciou a trajetória em um ambiente

rural, pode ter atravessado diversos tipos de cenários ao longo dos níveis

hierárquicos. Para fins deste tema, o desenvolvimento de problemas relacionados ao

consumo de álcool, vamos supor um cenário hipotético, desfavorável: um indivíduo

de baixa renda e escolaridade; solteiro; não religioso. Oriundo de família pobre,

desestruturada e com forte histórico familiar de alcoolismo. Pertencente a sociedade

moderna, permissível e incentivadora ao consumo de álcool. Se a isto forem

somadas a exposição precoce ao álcool, a exposição permanente às possibilidades

de consumo, uma baixa resiliência e a comorbidade com outro transtorno mental,

temos o caminho ideal para conduzir o indivíduo ao polo mais grave do quarto nível

hierárquico, a dependência de álcool.

Por fim, chega-se ao quarto nível hierárquico: o continuum que parte, em

nosso modelo, de indivíduos abstêmios em um polo, até indivíduos alcoolistas no

outro polo. Normalmente, o caminho percorrido por aqueles que tornar -se-ão

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19

indivíduos alcoolistas segue do consumo eventual, para o consumo de risco,

passando pelo consumo nocivo até chegar à dependência.

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20

3.1 Modelo Teórico

Hereditariedade Ambiente Rural

Ambiente sociocultural -Permissivo ao

consumo -estimulador-Mídia

-Acesso a outras substâncias

Ambiente familiar

(familiares consumidores, estrutura familiar

deficiente)

Perfil socioeconômico (Sexo, estado

civil, escolaridade, renda, prática religiosa)

Exposição a bebidas alcoólicas

(Exposição precoce)

-Predisposição individual

-Saúde mental

Abstêmios

Uso de risco

Uso nocivo de

álcool

Provável

dependência

Nível 2

Nível 3

Nível 4

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21

4. Justificativa

O consumo de bebidas alcoólicas é um hábito presente há séculos na história

da humanidade. Consumido com propósitos diversos ao longo do tempo, os

problemas oriundos deste consumo, mais especificamente a dependência de álcool,

foram entendidos, predominantemente até o final do século XVIII, a partir de um

ponto de vista moral, considerado pela igreja como um pecado passível de

arrependimento e “cura” através de penitências. Mais claramente, a partir do fim

século XIX e início do século XX, a dependência de álcool passou a ser entendida,

de forma mais racional, como uma enfermidade, a qual necessitava de tratamento

com base na ciência.1

Este consumo, tão frequente atualmente, com prevalência que pode chegar a

50% de consumidores nos últimos doze meses, e prevalência de consumo durante a

vida que pode aproximar-se dos 75%, pode dar origem a diversos tipos de

transtornos. Entre eles, encontram-se o uso nocivo e a dependência de álcool, que

são os de maior importância para este estudo.5

As prevalências de dependência de álcool diferem de acordo com as

populações estudadas. Países, culturas, religiões, métodos diagnósticos diferentes,

entre outros, acabam por fornecer dados de prevalência, por vezes, muito

distintos.3;8

Nos Estados Unidos, estima-se que a prevalência geral seja de 8,5% em

adultos a partir dos 18 anos de idade, com importantes diferenças entre gêneros e

faixas etárias.8

A OMS, no ano de 2010, encontrou uma prevalência de 5,6% de transtornos

relacionados ao álcool no Brasil, os quais incluem uso nocivo e síndrome de

dependência. Além disso, demonstrou que neste mesmo ano, 22,1% da população

brasileira havia apresentado, nos últimos trinta dias, pelo menos um episódio de

consumo pesado, ou binge drinking.3

No Brasil, dados do II LENAD, apontaram uma prevalência de dependência

de 6,8% e prevalência geral de consumidores de 50%. A PNS, publicada em 2013,

demonstrou que 24% da população brasileira, com dezoito anos ou mais, referiu

consumir bebidas alcoólicas pelo menos uma vez por semana.5; 6

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22

A intoxicação aguda, o uso nocivo e, principalmente, a dependência de álcool

constituem problemas de saúde pública. Os efeitos tóxicos causados pelo uso do

álcool, especialmente pelo uso crônico, são fatores de risco para diversos tipos de

doenças, como cirrose e alguns tipos de câncer. Além disso, as consequências

advindas do consumo exagerado de bebidas alcoólicas são de grande impacto para

a sociedade como um todo. Há forte associação entre o consumo de álcool e

violência, acidentes, consumo de outras substâncias lícitas e ilícitas, etc. Além disso,

em termos de saúde pública, os custos financeiros decorrentes do consumo

exagerado de álcool são enormes para o estado.3

Pelos dados apresentados pela literatura até o momento, constatam-se altas

prevalências de consumo de álcool, bem como de dependência, principalmente em

populações urbanas. Além disso, percebe-se o grande custo financeiro e humano

que estes problemas representam para a sociedade. No entanto, há ainda uma

lacuna de conhecimento acerca deste problema em populações rurais, que por sua

própria posição geográfica, afastada dos grandes centros, muitas vezes de meios de

informação e, mais importante, de serviços de saúde que poderiam agir sobre os

problemas relacionados ao consumo de álcool, ao realizar prevenção em diversos

níveis e tratamento de indivíduos doentes.

5. Objetivos

5.1 Gerais

- Estudar o padrão de consumo de álcool entre pessoas com 18 anos ou mais

residentes na zona rural do município de Pelotas- RS.

5.2 Específicos

- Estimar a prevalência de uso de risco, uso nocivo e provável dependência

de álcool na zona rural do município de Pelotas – RS.

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23

- Avaliar fatores associados aos transtornos relacionados ao uso de álcool ,

tais como: gênero, idade, estado civil, religião, história familiar, ocupação, renda,

escolaridade, tabagismo e sintomas depressivos.

6. Hipóteses

- Será encontrada uma prevalência maior de transtornos relacionados ao uso

de álcool (AUDIT>7) na zona rural de Pelotas em comparação com as encontradas

em estudos prévios em populações urbanas.

- Será encontrada prevalência maior de transtornos relacionados ao uso de

álcool (AUDIT>7) na população rural de Pelotas do que as encontradas nos grandes

estudos nacionais que incluíram as zonas urbana e rural do país.

- Os transtornos relacionados ao uso de álcool estarão associados

diretamente com sexo masculino, faixa etária de 18 a 40 anos, menor nível de

escolaridade e renda, estado civil (solteiros, divorciados, viúvos), tabagismo,

presença de sintomas depressivos e história familiar positiva para alcoolismo.

- Os transtornos relacionados ao uso de álcool serão menores em indivíduos

que professem ser adeptos a religião evangélica. Além disso, a prática religiosa, de

forma independente do tipo de religião, também será fator de proteção.

- A prevalência de alcoolismo será mais alta em indivíduos cujas atividades

principais de trabalho estejam relacionadas à pesca.

7. Metodologia

7.1 Delineamento

Neste estudo será utilizado o delineamento do tipo transversal na população

rural do município de Pelotas, RS.

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24

7.2 Justificativa do Delineamento

Os estudos transversais são adequados para descrever as condições de

saúde e doença de populações. Permitem a coleta de informações sobre o objeto

em estudo bem como os possíveis fatores relacionados a ele no mesmo momento.

Dessa forma, são, em geral, realizados em um período de tempo mais curto e

demandam menores custos para sua execução, quando comparados com outros

delineamentos.

Como os objetivos do estudo são descrever o padrão de consumo de bebidas

alcoólicas na população estudada, a prevalência dos diferentes níveis de gravidade

deste consumo e os fatores relacionados a eles, entende-se que um estudo do tipo

transversal será adequado para alcançar os objetivos propostos.

Além dos objetivos acima, pretende-se também analisar os resultados obtidos

em busca de possíveis associações entres fatores de exposição e diferentes tipos

de consumo. Desta maneira, é importante ressaltar que o delineamento escolhido

possibilita este tipo de análise, porém não permite que inferências causais sejam

feitas, pela maneira com que os dados são coletados, devendo-se ficar atento para a

possibilidade de ocorrência de causalidade reversa.

7.3 População Alvo

Indivíduos residentes na zona rural do município de Pelotas, RS, com idade

igual ou superior a 18 anos.

7.4 Critérios de Inclusão

Residentes na zona rural do município de Pelotas, RS, com idade igual ou

superior a 18 anos.

7.5 Critérios de Exclusão

- Pessoas com deficiência mental e/ou transtorno mental grave que não

tenham a capacidade de fornecer informações confiáveis, e que não tenham um

cuidador ou responsável capaz de responder adequadamente ao questionário.

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25

- Pessoas que estejam institucionalizadas durante todo o período de pesquisa

de campo.

- Pessoas que estejam residindo na zona rural do município de Pelotas há

menos de um ano, cujos locais anteriores de domicílio tenham sido sempre em

zonas urbanas.

7.6 Definição Operacional das Variáveis

7.6.1 Definição Operacional da Variável Dependente (Desfecho)

O desfecho deste estudo será pesquisado através do questionário AUDIT

(Alcohol Use Disorders Identification Test) (ANEXO 1). Serão considerados

positivos, usuários de álcool com consumo de risco, aqueles indivíduos que tiverem

uma pontuação maior ou igual a oito.

O questionário AUDIT será também utilizado para definir desfechos

secundários, como usuários de risco, de 8 a 15 pontos; usuários nocivos de álcool,

de 16 a 19 pontos; e possíveis dependentes, aqueles com 20 ou mais pontos.

Quadro 1: Definição Operacional do Desfecho:

Variável Definição Tipo

Consumo de Bebidas

Alcoólicas

Consumo de Bebidas Alcoólicas medido

pelo questionário AUDIT.

Escore > 7 – Transtorno Relacionado

ao Uso de Álcool

Escore 8 a 15 = Uso de Risco

Escore de 16 a 19 = Uso Nocivo

Escore de 20 ou mais =Provável

Dependência

Categórica

Ordinal.

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26

7.6.2 Definição Operacional das Variáveis Independentes

Quadro 2: Variáveis independentes

Variável Definição Tipo

Variáveis Demográficas e Socioeconômicas

Sexo Masculino / Feminino Categórica

Dicotômica

Idade Idade em anos completos Numérica

Discreta

Cor da Pele Cor da pele autorreferida Categórica

Nominal

Escolaridade Anos completos Numérica

Discreta

Estado Civil Solteiro / Casado – Morando Junto

/ Divorciado – Separado / Viúvo

Categórica

Nominal

Nível Econômico ABEP (A/B/C/D/E) Categórica

Ordinal

Religião Católica / Evangélica / Espírita /

Afro-brasileiras / Outras / Sem

Religião / Não sabe

Categórica

Nominal

Variáveis Comportamentais e Relacionadas à Saúde

Depressão Sim / Não Categórica

Dicotômica

Tabagismo Nunca fumou /

Ex-fumante /

Fumante

Categórica

Ordinal

História Familiar de

Transtorno Relacionado ao

Uso de Álcool

Sim / Não Categórica

Dicotômica

Idade em que experimentou

bebidas alcoólicas

< 18 anos

≥ 18 anos

Categórica

Dicotômica

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27

7.7 Tamanho de Amostra:

Quadro 3: Cálculo de Tamanho de Amostra de Acordo com Prevalência de

Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool (AUDIT8)

Prevalência

Antecipada

Erro

Aceitável /

Limite de

Confiança

Efeito de

Delineamento

Intervalo de

Confiança

(%)

Tamanho de

Amostra (10%

para perdas e

recusas)

10% 1 2 95 7.580

10% 2 2 95 1.901

10% 3 2 95 845

15% 1 2 95 10.723

15% 2 2 95 2.691

15% 3 2 95 1.197

20% 1 2 95 13.440

20% 2 2 95 3.376

20% 3 2 95 1502

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28

Quadro 4: Cálculo de Tamanho de Amostra para Fatores Associados ao

Desfecho (AUDIT > 7):

Variável Nível de Significância

Poder Razão Expostos/Não

Expostos

Prevalência em Não

Expostos

Risco Relativo

Odds Ratio

Total (10%

para perdas e recusas)

Total (10% para

perdas e recusas + 15% para

fatores de confusão)

Sexo (Masculino)

95 80 1.32 3.8 9.53 97 112

Idade (Anos

completos)

95 80 2.29 11.9 1.81 937 1078

Escolaridade (0 anos)

95 80 3.8 7 2.21 690 794

Cor da Pele (Preta/Parda)

95 80 4.9 12.6 1.76 1460 1679

Nível Social

(ANEP Classe E)

95 80 1.23 13.8 2.59 270 311

Estado Civil Solteiro

95 80 2.07 13.9 RP 2.02 357 411

Tabagismo (Fumante

Pesado)

95 80 3.36 6.2 RP 6.13

142 164

Religião (Evangélica)

95 80 0.3 33 RP 0.37

204 235

História Familiar de

Uso Abusivo de Álcool

26

95 80 1.6 13.9 2 351 404

7.8 Amostragem

O processo de amostragem será realizado em múltiplos estágios, cujas

particularidades de cada estágio serão definidas posteriormente em oficina de

amostragem.

7.9 Instrumentos

O estudo faz parte de um consórcio de pesquisa integrado por mestrandos do

Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas.

A partir dos dados coletados neste consórcio, cada mestrando desenvolverá seu

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29

tema de pesquisa. Estes dados serão coletados através de aplicação de

questionário único, composto por questões socioeconômicas, demográficas e

comportamentais, de uso comum de todos os mestrandos.

Além disso, será utilizado o questionário AUDIT (Alcohol Use Disorders

Identification Test) (Anexo2) que é de interesse principal deste estudo. Também

serão uti lizadas questões acerca de fatores relacionados ao consumo de álcool,

demonstrados em diversos estudos, como, por exemplo, história familiar de

transtornos relacionados ao uso de álcool, religião e prática religiosa, ocupação e

idade em que iniciou o consumo de bebidas alcoólicas. (ANEXO 2)9

O AUDIT foi desenvolvido pela OMS com o propósito de ser um método

simples para rastreamento de consumo excessivo de álcool, e uma ferramenta para

avaliação breve, que possibilitasse intervir nos consumidores de risco, ajudando-os

à cessação ou à redução do consumo. A primeira edição do manual para uso do

AUDIT foi publicada em 1989, e atualizada no ano de 1992. Em 2001, foi publicada

a segunda edição, que será utilizada como um dos pilares teóricos deste trabalho.4

Inicialmente criado para ser usado em serviços de atenção primária de saúde,

o AUDIT, desde sua publicação, passou a ser utilizado nos mais diversos contextos,

como em estudos epidemiológicos populacionais, e traduzido e validado em diversas

línguas e países.4

O AUDIT é um questionário composto por 10 perguntas; em sua maioria,

apresentam cinco opções de resposta, de 0 a 4, que ao final, podem gerar um

somatório de 0 a 40 pontos. O AUDIT pode ser utilizado como um questionário

autoaplicável ou aplicado por entrevistador treinado. O ponto de corte sugerido pela

OMS para detectar algum tipo de problema relacionado ao álcool é o escore igual ou

superior a 8.4

Há a possibilidade, sugerida pela OMS em seu último guia, de subdividir os

escores acima de 8 da seguinte maneira: 8 a 15 - usuários de risco; 16 a 19 –

usuários nocivos; 20 ou mais – provável dependência.4

Os usuários de risco constituem um grupo que apresenta um padrão de

consumo que aumenta o risco de consequências danosas para si ou para outrem. O

padrão de consumo de risco é de grande importância para a saúde pública, apesar

de que em alguns casos não haja dano ao indivíduo.7

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30

Os que fazem consumo nocivo apresentam necessariamente algum tipo de

dano físico ou mental. Muitos também consideram os aspectos sociais como

possível terreno para danos.7

A síndrome de dependência é um grupo de fenômenos comportamentais,

cognitivos e fisiológicos que podem desenvolver-se após consumo longo e repetido

de álcool. Apresenta diversas características, como uma grande compulsão para o

consumo, dificuldade de controlar o uso após iniciado e sintomas físicos de

abstinência quando o consumo cessa ou diminui.7

7.10 Estudo Pré-Piloto

Um estudo pré-piloto será realizado no município de Arroio do Padre, próximo

a Pelotas, cujas características assemelham-se, em muitos aspectos, as da zona

rural do município de Pelotas.

Uma subamostra será selecionada em uma unidade básica de saúde desta

cidade vizinha à Pelotas no mês de agosto de 2015. Os indivíduos, que

preencherem os critérios de inclusão para a pesquisa final, serão convidados a

participar do estudo pré-piloto.

O objetivo do estudo pré-piloto será avaliar o desempenho dos instrumentos

de pesquisa, bem como detectar possíveis falhas e/ou dificuldades no entendimento

de questões ou na aplicação de métodos de aferição antropométrica.

7.11 Estudo Piloto

Um estudo piloto está previsto para ser realizado nos meses de dezembro de

2015 e janeiro de 2016, em município vizinho a Pelotas, o mesmo em que será

realizado o estudo pré-piloto.

Neste estudo serão entrevistados aproximadamente 300 indivíduos. O

processo de amostragem para a seleção dos indivíduos para o estudo piloto será

definido posteriormente.

As características sociodemográficas deste munícipio vizinho assemelham-se

muito as da população que será estudada neste consórcio. Sendo assim, o estudo

piloto servirá como uma preparação, um ensaio, para o trabalho de campo da

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31

pesquisa a ser realizada na zona rural do município de Pelotas. Os instrumentos de

pesquisa serão novamente avaliados, possibilitando a detecção de falhas e

inadequações.

Além disso, o estudo piloto possibilitará aos entrevistadores exercitarem a

aplicação dos questionários, bem como o surgimento de possíveis dúvidas em

relação a aplicação destes, que poderão, assim, ser solucionadas, antes da

pesquisa propriamente dita.

7.12 Recrutamento, Seleção e Treinamento dos Entrevistadores

Esta parte da pesquisa será realizada em mais de uma etapa. Inicialmente,

serão recrutadas entrevistadoras do sexo feminino, com idade igual ou superior a 18

anos e grau mínimo de escolaridade de ensino médio completo. A opção por

entrevistadoras (sexo feminino) vem sendo adotada pelo Programa de Pós-

Graduação em Epidemiologia devido ao fato de que mulheres, geralmente, são

melhor recebidas nas residências para a realização de entrevistas, principalmente

por questões relacionadas à segurança.

O processo de treinamento será baseado em aulas teórico-práticas, com

carga horária mínima de 40h, e realizado nos meses de dezembro de 2015 e janeiro

de 2016. No treinamento, as entrevistadoras serão informadas acerca de questões

relacionadas ao projeto de pesquisa, temas dos mestrandos, trabalho de campo e

processo de trabalho. Além disso, serão familiarizadas com os instrumentos de

pesquisa, e, principalmente, treinadas para a aplicação destes, com os manuais de

instrução e com os instrumentos digitais para o registro dos dados de cada

entrevistado.

Ainda como parte do treinamento, as entrevistadoras que forem selecionadas

nas primeiras etapas participarão do estudo piloto, que também servirá como forma

de avaliação. Nesta fase, o treinamento ocorrerá no campo de trabalho, bem como

em aulas expositivas para sanar dúvidas que eventualmente tenham surgido e

corrigir possíveis falhas de aplicação dos questionários.

Ao final do processo, baseando-se em critérios teóricos e práticos,

observados e avaliados durante todo processo de treinamento, será selecionado um

grupo com as entrevistadoras melhor colocadas.

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32

7.13 Trabalho de Campo

O trabalho de campo será realizado na zona rural do município de Pelotas.

Terá como objetivo principal a coleta de dados para os mestrandos da turma de

2015/2016 que integram o consórcio do Programa de Pós-graduação em

Epidemiologia da UFPel.

O trabalho de campo será realizado no período de janeiro a maio de 2016.

Neste trabalho, as entrevistadoras aplicarão os instrumentos de pesquisa nos

indivíduos selecionados para compor a amostra.

As entrevistadoras serão divididos em grupos e supervisionadas pelos

mestrandos que integram o consórcio. Os mestrandos participarão ativamente do

trabalho de campo, estando presentes, na maioria das vezes, nos distritos da zona

rural em que estejam sendo realizadas as entrevistas.

As entrevistas com os indivíduos se darão nos domicílios selecionados para

compor a amostra. Cada entrevistadora terá uma meta diária de entrevistas a ser

realizada. Serão consideradas perdas as entrevistas que não puderem ser

realizadas após, no mínimo, três novas tentativas de entrevista em dias e horários

diferentes. Pelo menos uma das tentativas terá que ser feita pelo supervisor do

trabalho de campo.

O Centro de Pesquisas em Saúde Dr. Amilcar Gigante da UFPel servirá como

base para o trabalho de campo do consórcio. Será o local do trabalho no qual um

determinado número de mestrandos estará presente diariamente para lidar com as

tarefas desta etapa do processo.

7.14 Controle de Qualidade

O controle de qualidade será realizado em 10% dos domicílios já

entrevistados, sorteados aleatoriamente, sob a forma de contato telefônico realizado

pelos próprios mestrandos. Estes contatos deverão ser feitos em um período não

superior a 15 dias após a visita inicial, na qual terá sido realizada a entrevista

completa, por uma entrevistadora.

Neste segundo contato, realizado pelos mestrandos, será aplicado um

determinado número de questões, ainda não definidas, com o objetivo de encontrar

falhas e/ou respostas falsas, possibilitando, assim, a correção imediata.

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33

A consistência das informações obtidas será realizada através da análise de

concordância com o Índice de Kappa, comparando as respostas obtidas nas

entrevistas iniciais, com aquelas obtidas nos segundos contatos.

Além disso, para garantir ainda mais qualidade aos dados coletados, os

mestrandos manterão supervisão das entrevistadoras e verificação semanal dos

bancos de dados.

7.15 Análise dos Dados

A análise dos dados será realizada no programa estatístico STATA versão

13.1. Inicialmente, será realizada uma análise descritiva dos desfechos e variáveis

independentes para caracterização da amostra.

Serão realizadas análises bivariadas e multivariáveis para as associações

entre cada desfecho e as variáveis independentes de interesse para o estudo (sexo,

cor da pele, estado civil, escolaridade, classe social, religião, história familiar de

doenças relacionadas ao álcool e tabagismo.

Nas análises multivariáveis será utilizada a técnica de regressão (logística,

Poisson, linear, etc.), para o controle das possíveis variáveis de confusão. Os

possíveis fatores de confusão serão analisados através de modelo hierarquizado. As

análises levarão em conta o efeito de delineamento amostral.

7.16 Aspectos Éticos

O projeto final, composto pelos projetos de cada mestrando integrante do

consórcio 2015/2016, será encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade Federal de Pelotas, para que seja submetido a processo de avaliação

e possível aprovação.

Em relação aos aspectos éticos envolvidos no processo de entrevista, será

utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Este termo será

entregue aos entrevistados, em duas cópias, para que possa ser apreciado e

assinado, se houver concordância em participar da pesquisa. Uma cópia ficará com

o próprio entrevistado/responsável e a outra ficará armazenada no Centro de

Pesquisas em saúde Dr. Amilcar Gigante, sob a responsabilidade dos mestrandos

integrantes do consórcio.

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34

Além disso, aos entrevistados será garantido o direito de recusa à

participação na pesquisa, bem como a não responder quaisquer perguntas do

questionário, ou mesmo interromper a participação na pesquisa ou entrevista a

qualquer momento.

7.17 Orçamento

O Consórcio de Pesquisa será financiado pelo Programa de Pós-Graduação

em Epidemiologia (PPGE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), pela

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e, se

necessário, pelos mestrandos da turma de 2015/2016.

O orçamento será destinado, principalmente, a pagamento de pessoal,

transporte e materiais de consumo necessários ao longo de todo o trabalho de

pesquisa.

7.18 Divulgação dos Resultados

Os resultados do estudo serão divulgados através da apresentação de

dissertação, exigida para obtenção do título de mestre em Epidemiologia, bem como

da publicação dos resultados em formato de artigo em periódico científico.

Os principais resultados da pesquisa também serão divulgados em notas à

imprensa local. Além disso, materiais informativos sobre estes resultados serão

entregues à população-alvo do estudo.

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7.19 Cronograma

Etapas

2015

2016

M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D

Definição do Tema de Pesquisa

Elaboração do Projeto

Revisão Bibliográfica

Estudo Pré-Piloto

Qualificação do Projeto

Processo de Amostragem

Seleção e Treinamento de

Entrevistadores

Estudo Piloto

Trabalho de Campo

Processamento e Análise dos Dados

Redação da Dissertação

Entrega e Defesa da Dissertação

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8. Referências Bibliográficas

1 EDWARDS, G.; JANE MARSHALL, E.; C H COOK, C. O Tratamento do

Alcoolismo: Um Guia para Profissionais da Saúde. Porto Alegre: Artmed, 2005.

2 EDWARDS, G. Alcohol: the world's favorite drug. London: Penguin Books,

2000.

3 WORLD HEALTH ORGANIZATION - W.H.O. Global Status Report on Alcohol

and Health. W.H.O. Geneve, Switzerland 2014.

4 BABOR, T. F. et al. The Alcohol Use Disorders Identification Test - Guideline

for Use in Primary Care. WHO 2001.

5 A A JEI A, .; A , E. II evantamento acional de lcool e Drogas

E AD – 1 . I I O ACIO A DE CI CIA E EC O OGIA A A

O ICA B ICA DE COO E O A D OGA I AD , NIFESP. São

Paulo 2014.

6 MINISTÉRIO DA SAÚDE - FIOCRUZ - IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde -

Percepção do Estado de Saúde, Estilos de Vida e Doenças Crônicas. IBGE, I. B. D.

G. E. E.-. Rio de Janeiro - R.J. 2014.

7 WHO. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10.

Porto Alegre: Artmed, 1993.

8 APA. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. DSM-5. Porto

Alegre: Artmed, 2014.

9 MENDEZ, B. E. Uma versão brasileira do Audit: Alcohol use disorders

identification test. Pelotas, R.S: Universidade Federal de Pelotas 1999.

10 LIMA, C. T. et al. Concurrent and construct validity of the audit in an urban

brazilian sample. Alcohol Alcohol, v. 40, n. 6, p. 584-9, Nov-Dec 2005.

11 BABOR, T. F.; HIGGINS-BIDDLE, J. C. Brief Intervention for Hazardous and

Harmful Drinking: a manual for use in primary care. WHO 2001.

12 MORETTI-PIRES, R. O.; CORRADI-WEBSTER, C. M. Adaptação e validação

do Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT) para população ribeirinha do

interior da Amazônia, Brasil. Cad Saude Publica, v. 27, n. 3, p. 497-509, 2011.

13 COSTA, J. S. D. D. et al. Consumo abusivo de álcool e fatores associados:

estudo de base populacional. Rev Saude Publica, v. 38, n. 2, p. 284-291, 2004.

36

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37

14 PRIMO, N. L. N. P.; STEIN, A. T. Prevalência do abuso e da dependência de

álcool em Rio Grande (RS): um estudo transversal de base populacional. Rev.

psiquiatr. Rio Gd. Sul, v. 26, n. 3, p. 280-286, 2004.

15 REISDORFER, E. et al. Prevalência e fatores associados a transtornos

devido ao uso de álcool em adultos: estudo populacional no sul do Brasil. Rev. bras.

epidemiol, v. 15, n. 3, p. 582-594, 2012.

16 KUMAR, S. G. et al. Prevalence and Pattern of Alcohol Consumption using

Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) in Rural Tamil Nadu, India. J Clin

Diagn Res, v. 7, n. 8, p. 1637-9, Aug 2013.

17 GIANG, K. B. et al. Alcohol use and alcohol consumption-related problems in

rural Vietnam: an epidemiological survey using AUDIT. Subst Use Misuse, v. 43, n.

3-4, p. 481-95, 2008.

18 MENDOZA-SASSI, R. A.; BERIA, J. U. Prevalence of alcohol use disorders

and associated factors: a population-based study using AUDIT in southern Brazil.

Addiction, v. 98, n. 6, p. 799-804, Jun 2003.

19 BARROS, M. B. D. A. et al. Prevalence of alcohol abuse and associated

factors in a population-based study. Rev Saude Publica, v. 41, n. 4, p . 502-509,

2007.

20 VARGAS, D. D.; OLIVEIRA, M. A. F. D.; ARAÚJO, E. C. Prevalência de

dependência alcoólica em serviços de atenção primária à saúde de Bebedouro, São

Paulo, Brasil. Cad Saude Publica, v. 25, n. 8, p. 1711-1720, 2009.

21 LARANJEIRA, R. et al. Padrão de uso de álcool em brasileiros adultos. Rev

Bras Psiquiatr, v. 32, n. 3, p. 231-241, 2010.

22 FREITAS, I. C. M. D.; MORAES, S. A. D. Dependência de álcool e fatores

associados em adultos residentes em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, 2006:

Projeto OBEDIARP. Cad Saude Publica, v. 27, n. 10, p. 2021-2031, 2011.

23 FERREIRA, L. N. et al. Prevalência e fatores associados ao consumo

abusivo e à dependência de álcool. Ciênc. saúde coletiva, v. 18, n. 11, p. 3409-3418,

2013.

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38

24 FERREIRA, L. N. et al. Perfil do consumo de bebidas alcoólicas e fatores

associados em um município do Nordeste do Brasil. Cad Saude Publica, v. 27, n. 8 ,

p. 1473-1486, 2011.

25 HIDALGO PEREIRA, F. I. et al. Alcoholismo y factores de riesgo: estudio

descriptivo de corte transversal en área rural de Cumanayagua, Cuba. Medwave, v.

13, n. 1, 2013

26 MERIKANGAS, K. R. et al. Familial transmission of substance use disorders.

Arch Gen Psychiatry, v. 55, n. 11, p. 973-9, Nov 1998.

27 BRITES, R. M. R.; ABREU, Â. M. M. D. Padrão de consumo de bebidas

alcoólicas entre os trabalhadores e perfil socioeconômico. Acta paul. enferm, v. 27,

n. 2, p. 93-99, 2014.

28 VIEIRA, D. L.; RIBEIRO, M.; LARANJEIRA, R. Evidence of association

between early alcohol use and risk of later problems. Rev Bras Psiquiatr, v. 29, n. 3,

p. 222-7, Sep 2007.

29 MESSAS, G. P.; VALLADA FILHO, H. P. The role of genetics in alcohol

dependence. Rev Bras Psiquiatr, v. 26 Suppl 1, p. S54-8, May 2004.

30 PINSKY, I.; EL JUNDI, S. A. Alcohol advertising and alcohol consumption

among youngsters: review of the international literature. Rev Bras Psiquiatr, v. 30, n.

4, p. 362-74, Dec 2008.

31 VENDRAME, A.; PINSKY, I. Inefficacy of self-regulation of alcohol

advertisements: a systematic review of the literature. Rev Bras Psiquiatr, v. 33, n. 2,

p. 196-202, Jun 2011.

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39

9. Anexos

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40

9.1 Anexo 1 – A versão Brasileira do AUDIT Circule o número que ficar mais próximo à resposta dada:

1. Com que frequência o(a) Sr.(a) toma bebidas de álcool?

(0) Nunca (1) Uma vez

por mês ou

menos

(2) Duas a

quatro vezes

por mês

(3) Duas a

três vezes

por semana

(4) Quatro ou mais

vezes por semana

2. Nas ocasiões em que bebe, quantas doses, copos ou garrafas o(a) Sr.(a) costuma beber?

(0) 1 ou 2

“doses”

(1) 3 ou 4

“doses”

(2) 5 ou 6

“doses”

(3) 7 a 9

“doses”

(4) 10 ou mais

“doses”

3. Com que frequência o a r. a toma “seis ou mais doses” em uma ocasião?

(0) Nunca (1) Menos

que uma vez

ao mês

(2) Uma vez

ao mês

(3) Uma vez

por semana

(4) Todos os dias ou

quase todos

4. Com que frequência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) achou que não seria capaz de controlar a

quantidade de bebida depois de começar?

(0) Nunca (1) Menos

que uma vez

ao mês

(2) Uma vez

ao mês

(3) Uma vez

por semana

(4) Todos os dias ou

quase todos

5. Com que frequência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) não conseguiu cumprir com algum

compromisso por causa da bebida?

(0) Nunca (1) Menos

que uma vez

ao mês

(2) Uma vez

ao mês

(3) Uma vez

por semana

(4) Todos os dias ou

quase todos

6. Com que frequência, durante o último ano, depois de ter bebido muito, o(a) Sr.(a) precisou beber

pela manhã para se sentir melhor?

(0) Nunca (1) Menos

que uma vez

ao mês

(2) Uma vez

ao mês

(3) Uma vez

por semana

(4) Todos os dias ou

quase todos

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41

7. Com que frequência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) sentiu culpa ou remorso depois de beber?

(0) Nunca

(1) Menos

que uma vez

ao mês

(2) Uma vez

ao mês

(3) Uma vez

por semana

(4) Todos os dias ou

quase todos

8. Com que frequência, durante o último ano, o(a) Sr.(a) não conseguiu se lembrar do que

aconteceu na noite anterior por causa da bebida?

(0) Nunca

(1) Menos

que uma vez

ao mês

(2) Uma vez

ao mês

(3) Uma vez

por semana

(4) Todos os dias ou

quase todos

9. Alguma vez na vida o(a) Sr.(a) ou alguma outra pessoa já se machucou, se prejudicou por causa

de o Sr.(a) ter bebido?

(0) Não (2) Sim, mas

não no último

ano

(4) Sim, durante o

último ano

10. Alguma vez na vida algum parente, amigo, médico ou outro profissional da saúde já se

preocupou com o(a) Sr.(a) por causa de bebida ou lhe disse para parar de beber?

(0) Não (2) Sim, mas

não no último

ano

(4) Sim, durante o

último ano

as questões número 1 e 3, caso não seja compreendido, substitua “com que

frequência” por “quantas vezes por ano, mês ou semana” ; nas de 4 a 8,

substitua por “de quanto em quanto tempo”.

as questões de 4 a 8, caso não seja compreendido, substitua “durante o

último ano” por “desde o mês de ______ corrente do ano passado”.

a questão 3, substitua “seis ou mais doses” pela quantidade equivalente

da(s) bebida(s) no(s) recipiente(s) em que é são consumida s . Ex: “três

garrafas de cerveja ou mais”.

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(Preencha as questões 2 e 3, transformando as quantidades em “doses”, baseado no quadro

abaixo)

CERVEJA: 1 copo (de chope - 350mL). 1 lata – 1 “DO E” ou 1 garrafa - “DO E "

VINHO: 1 copo comum grande (250mL) – “DO E ” ou 1 garrafa – 8 "DO E ”

CACHAÇA, VODCA, Q E ou CO HAQ E: 1 “martelinho” 6 m – “DO E ”

1 “martelo” 1 m – 3 “DO E ” ou 1 garrafa – mais de “DO E ”

I Q E, M, ICO , etc.: 1 “dose de dosador” 45-50mL) – 1 “DO E”

9.2 Anexo 2 : Questionário sobre variáveis independentes

1 – O(a) Sr.(a) consumiu qualquer tipo de bebida alcoólica em algum momento da vida?

(1) Não

(2) Sim

2- Se sim, com que idade o(a) Sr.(a) experimentou bebidas alcoólicas pela primeira vez?

Resposta em anos completos:

3 - Algum familiar do(a) Sr.(a) já teve problemas relacionados ao consumo de álcool a ponto

de precisar de algum tipo de tratamento?

NAO SIM IGN (4) Recusa em responder

4 - Se sim, qual o grau de parentesco familiar?

(1) Pai

(2) Mae

(3) Irmãos(especificar quantos)

(4) Avós maternos

(5) Avós Paternos

(6) Parentes de segundo grau maternos(tio/tia/primos)

(7) Parentes de segundo grau paternos(tio/tia/primos)

(8) Outro (Especificar):

5 - O(a) Sr.(a) tem alguma religião?

(1) NAO

(2) SIM

(3) IGN

6 - Sem sim, qual religião?

(1) Católica

(2) Evangélica

(3) Espírita

(4) Afro- Brasileira

(5) Outra. Qual?

(6) NSA (7) IGN

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7 - Nos últimos 30 dias, quantas vezes o (a) Sr.(a) foi à missa, culto ou sessão religiosa

8 – O(a) Sr.(a) tem atualmente algum trabalho ou ocupação?

(1) NÃO

(2) SIM

(3) IGN

9 – Se, sim, qual o tipo de profissão ou ocupação? Especificar detalhadamente:

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País Ano de Publicação

Brites RMR, Abreu Padrão de consumo de alcoólicas entre os e perfil socioeconômico.

322 trabalhadores de serviço público no Rio Janeiro que responderam ao questionário AUDIT. Utilizaram ponto de corte maior ou igual a 8 no

Prevalência de 12,7% consumo de risco. Entre estes, 65,9% do sexo masculino.

Hidalgo Pereira FI, López G, Fernández Juviel González Suárez V, Fernández Y. Alcoholismo factores de riesgo: descriptivo de corte en área rural de

Amostra composta por 77 indivíduos masculinos maiores de 15 anos já diagnosticados como alcoolistas no Conselho

Popular do local.

Kumar SG, K CP, L S, E S, Vinayagamoorthy, Kumar V. Prevalence and Pattern of Alcohol Consumption using Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT) in Rural Tamil Nadu, India. J Clin Diagn Res. 2013;7(8):1637

10 anos, da zona rural Tamil Nadu, Indivíduos responderam questionário AUDIT. Utilizado ponto de corte maior ou igual a 8.

Entres estes, 29,2% eram bebedores de risco, faziam uso nocivo e 33.7% prováveis dependentes. Variáveis associadas ao desfecho: sexo masculino (OR=11.2 (IC=4,5 27,7)); grupo etário de 15(OR=3,5 (IC=1,4 9,0)); analfabetismo (OR=6,1 IC=2,1

9.3 Anexo 3 – Resumo de Artigos

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Ferreira LN, Bispo Júnior JP, Sales ZN, Casotti CA, Braga Junior ACR. Prevalência e fatores associados ao consumo abusivo e à dependência de álcool. Ciênc saúdecoletiva.2013;18(11):3409- ­­ 18.23

Brasil 2013

Estudo Transversal

Amostra de 270 indivíduos, com 14 anos ou mais, residentes na zona urbana do município de Jequié Baiano. Utilizado AUDIT (≥8) e CAGE (>2).

Prevalência de 18,5% (AUDIT≥8) e 10,4% para dependência. (CAGE) Após análise ajustada, associação entre uso abusivo e sexo masculino ( O.R=5.56 IC=2,66 -­­ 11,6)), indivíduos jovens, de 14- ­­29 anos (O.R=5.41 (IC=1,11 -­­ 26,3)). Associação inversa com prática de religião evangélica (OR= 0,4 IC=0,01 -­­ 0,31)).

Reisdorfer E, Büchele F, Pires ROM, Boing AF. Prevalence and associated factors with alcohol use disorders among adults: a population- ­­based study in southern Brazil. Rev bras epidemiol. 2012;15(3):582-­ ­94. 1 5

Brasil 2012

Estudo Transversal de base populacional. Parte do estudo EpiFloripa.

Amostra de 1720 pessoas de 20 a 59 anos da população urbana de Florianópolis. O uso problemático de álcool foi mensurado pelo AUDIT, com escore ≥8.

A prevalência geral foi de 18,4%. Em homens 29,9% e em mulheres 9,3%. Variáveis associadas ao desfecho após análise multivariada: sexo masculino (RP=3,18 (IC=2,41-­­4,19)); estado civil solteiro (RP=1,59 (IC=1,29 -­­ 1,97)) e divorciado ou viúvo (RP=1,60 (IC=1,11 -­­ 2,3)); idade de 20 a 29 anos (RP=1,51 IC=1,07 -­­ 2,11)); tabagismo (RP=3,46 IC=2,65 -­­ 4,51)).

Moretti-­ ­Pires RO, Corradi-­ ­ Webster CM. Adaptação e validação do Alcohol Use Disorder Identification Test (AUDIT) para população ribeirinha do interior da Amazônia, Brasil. Cad Saude Publica. 2011;27(3):497- ­­509. 1 2

Brasil 2011

Estudo Transversal. Validação de Instrumento (AUDIT).

Amostra de 361 habitantes de uma população ribeirinha do interior da Amazônia.

A versão do AUDIT validada mostra-­­se internamente consistente e estável no contexto investigado. O ponto de corte ≥ 7 apresentou sensibilidade de 76,5% e especificidade de 75% O ponto de corte ≥ 8 apresentou sensibilidade de 73,5% e especificidade de 76,4%.

Freitas ICMd, Moraes SAd. Dependência de álcool e fatores associados em adultos residentes em Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, 2006: Projeto OBEDIARP. Cad Saude Publica. 2011;27(10):2021-­ ­31. 2 2

Brasil 2011

Estudo Transversal de base populacional realizado em Ribeirão Preto-­­ SP.

Amostra com 930 indivíduos com idade igual ou maior a 30 anos. Participantes responderam ao questionário AUDIT. Ponto de corte ≥ 8.

Utilizando o escore ≥ 8 como ponto de corte para dependência, foi encontrada prevalência de 20,18%. Entre os homens 43,47% e entre as mulheres 10,18%. Fatores associados após análise ajustada: Sexo masculino (RP=3.32 (IC=2,48 -­­ 4,45)); idade de 30 a 39 anos (RP=2,48 (IC=1,53 -­­ 4)), nível educacional de 4 a 7 anos de estudo (RP=1,33 (IC=1,05 -­­ 1,68)); estado marital solteiro (RP=1,45 (IC=1,18 -­­ 1,77), condição de trabalho (RP=1,4 (IC=1,08 -­­ 1,81)), tabagismo (RP=2,75) ex-­­tabagista (RP=1,86) P-­­Valor para tendência linear < 0,001; filiação religiosa protestante

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(RP=0,37 (IC=0,21 -­­ 0,64)) e autopercepção do estado de saúde regular/ruim/péssimo (RP=.1,33 (IC=1,05-­­ 1,69)).

Laranjeira R, Pinsky I, Sanches M, Zaleski M, Caetano R. Padrão de uso de álcool em brasileiros adultos. Rev Bras Psiquiatr. 2010;32(3):231- ­­41.2 1

Brasil 2010

Estudo Transversal.

Amostra obtida a partir de toda a população brasileira. Foram selecionados 2346 indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos. Utilizado questionário HABLAS.

Entre os estudados, 3% preencheram critérios para uso abusivo e 9% para dependência. Neste estudo, 48% dos indivíduos relataram não ter consumido álcool no ultimo ano. Na amostra total, 28% de binge drinking; 25% de problemas relacionados ao álcool.

Vargas Dd, Oliveira MAFd, Araújo EC. Prevalência de dependência alcoólica em serviços de atenção primária à saúde de Bebedouro, São Paulo, Brasil. Cad Saude Publica. 2009;25(8):1711-­ ­20. 2 0

Brasil 2009

Estudo Transversal.

Amostra composta por 755, com 18 anos ou mais, indivíduos que procuraram atendimento em serviço de saúde primário em Bebedouro, SP. Foi utilizado o questionário AUDIT, com ponto de corte

≥ 20, para provável dependência.

Adotando como ponto de corte o escore ≥ 20 pontos, encontrou-­­se uma prevalência de dependência de 9,8%. Associações estatisticamente significativas com: sexo masculino (OR=5,18 (IC=4,68 -­­ 5,74)); tabagismo (OR=7,02 (IC=6,37 -­­ 7,33)); nível médio de educação (OR=1,5 IC(1,42 -­­ 1,78)), nível superior de educação (OR=2,11 (IC=1,7 -­­ 2,64)); renda de 1-­­5 salários (OR=0,7 (IC=0,63 -­­ 0,77)) e ≥ 6 salários (OR=0,58 (IC=0,46 -­­0,75)); religião evangélica (OR=0,43) e católica (OR=0,62).

Giang KB, Allebeck P, Spak F, Van Minh H, Dzung TV. Alcohol use and alcohol consumption-­­rel ated problems in rural Vietnam: an epidemiological survey using AUDIT. Subst Use Misuse. 2008;43(3-­­4):481-­ ­95. 1 7

Vietnã 2008

Estudo Transversal.

Amostra obtida em um distrito rural do Vietnã, composta por 3423 indivíduos. Utilizado o questionário AUDIT.

Utilizados os escores >7 em homens e >5 em mulheres para detecção de consumo problemático de álcool. Encontrada prevalência de 25,5% em homens e de 0,7% em mulheres. Entre as mulheres, estado civil ( divorciadas, viúvas) e com maior nível de escolaridade, houve maior associação com o uso problemático de álcool.

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Barros MBdA, Botega NJ, Dalgalarrondo P, M arín-­ ­León L, Oliveira HBd. Prevalence of alcohol abuse and associated factors in a population-­ ­based study. Rev Saude Publica. 2007;41(4):502- ­­9. 1 9

Brasil 2007

Estudo Transversal de base populacional (parte de estudo multi-­­cêntrico sobre suicídio da OMS).

Amostra composta por 515 indivíduos de 14 anos ou mais residentes em região urbana. Utilizados o S-­­R Q e o AUDIT com ponto de corte

≥ 8.

Prevalência geral (abuso/dependência) de 8,4%, sendo de 13,1% em homens e 4,1% em mulheres. O abuso/dependência de álcool mostrou-­­se significativamente relacionado com: idade maior ou igual a 60 anos (OR=0,2 IC(0,06 -­­ 0,73)); renda de US$

2.501-­­10.000 (OR=10,29 IC(1,87 -­­ 56,59)) e ≥ US$ 10.000 (OR=10,20 (IC=1,38 - ­­ 75,54)); escolaridade menor do que doze anos (OR=13,42 (IC=3,00-­ ­59,99)), religião não evangélica (OR=4.77) e sem religião (OR=9,16) ; uso de drogas ilícitas (OR=4,47 (IC=1,82-­­ 10,59).

Primo NLNP, Stein AT. Prevalência do abuso e da dependência de álcool em Rio Grande (RS): um estudo transversal de base populacional. Rev psiquiatr Rio Gd Sul. 2004;26(3):280- ­­6. 1 4

Brasil 2004

Estudo Transversal de Base Populacional.

Amostra composta por 1044 indivíduos, na cidade de Rio Grande, com idades entre 12 e 75 anos. Utilizado questionário CAGE e relato de consumo diário.

Neste estudo encontrou-­ ­se uma prevalência de abuso de álcool, considerado pelo consumo de mais de 30 gramas diárias para homens e de 24 gramas para mulheres, de 5,5%. Dentre estes, obteve-­­se uma prevalência de dependência de 2,5%. (CAGE≥2)

Encontrada associação significativa com: sexo masculino (OR=6,28 IC=2,82 -­­ 14,00)), tabagismo (OR=5,42 (IC=2,18 -­­ 13,49)) e ex-­­fumante (OR=3,36 (IC=1,05 -­­ 10,75)); classe social E (0R=5,37 (IC=1,31-­­ 21,96)).

Costa JSDd, Silveira MF, Gazalle FK, Oliveira SS, Hallal PC, Menezes AMB, et al. Consumo abusivo de álcool e fatores associados: estudo de base populacional. Rev Saude Publica. 2004;38(2):284- ­­91.1 3

Brasil 2004

Estudo transversal de base populacional.

Amostra selecionada em zona urbana da cidade de Pelotas -­­ RS, composta por 2177 indivíduos com idades entre 20 e 69 anos.

Considerando como consumidores abusivos aqueles com uso de 30g/d ou mais, encontrou- ­­se uma prevalência de 14,3%, sendo 29,2% em homens e 3,7% em mulheres. O consumo abusivo esteve associado com: sexo masculino (OR=10,09 (IC=7,13 -­­ 14,28)); idade de 30 a 39 anos (OR=1,6) e 60 a 69 anos (OR=2,33) (P=0,01 em teste de tendência linear); cor preta ou parda (OR=1,94 (IC=1,39 -­ ­ 2,71)), menor nível social –ANEP E (OR=2,81 (IC=1,27 - ­­ 6,22)) (P=0,001 para tendência linear); ex -­­ fumante (OR=2,34), fumante leve/moderado (OR=2,54) e fumante pesado (OR=4,62) (P<0,001 em teste para heterogeneidade); e presença de doença crônica (OR=1,60 (IC=1,14 -­­ 2,24)).

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10. Alterações no Projeto Original

O nome original do projeto intitulado “Padrão de consumo de bebidas

alcoólicas entre adultos residentes em uma população rural de uma cidade de

médio porte do ul do Brasil: estudo de base populacional” foi modificado para

Prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool e fatores associados

entre adultos residentes na zona rural de uma cidade de médio porte do sul do

Brasil: estudo de base populacional.

Os autores optaram pela mudança seguindo a sugestão da banca

examinadora do projeto de qualificação, que entendeu, assim como nós, após

processo de reflexão que o título agora adotado condiz muito mais com a

pesquisa realizada.

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11. Relatório

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11.1 Relatório Trabalho de Campo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA

RELATÓRIO DO TRABALHO DE CAMPO

CONSÓRCIO DE PESQUISA 2015/2016

Pelotas - RS

2016

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1. INTRODUÇÃO

O Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia (PPGE) da Universidade Federal de

Pelotas (UFPel) foi criado em 1991, por um grupo de docentes da Faculdade de Medicina. Na

avaliação trienal de 2007 o curso recebeu nota “7”, conceito máximo – que mantém até os

dias atuais - da avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), sendo o primeiro na área de Saúde Coletiva e considerado de excelência

internacional.

Desde 1999 o PPGE realiza, a cada dois anos, inquéritos populacionais sobre aspectos

de saúde na zona urbana do município de Pelotas, cidade localizada no sul do Rio Grande do

Sul. Esses estudos ocorrem sob a forma de “Consórcio de Pesquisa”, o qual consiste em um

estudo transversal de base populacional realizado pelos mestrandos do PPGE1. Essa

metodologia de pesquisa permite que ocorra redução do tempo de trabalho de campo e

otimização de recursos financeiros e humanos. Adicionalmente, tem como um dos objetivos

que os alunos vivenciem experiências em todas as etapas de um estudo epidemiológico,

resultando nas dissertações dos mestrandos e, ainda, no reconhecimento da situação de saúde

da população investigada.

Nos anos 2015/2016, pela primeira vez, o consórcio de pesquisa do PPGE estudou a

população adulta e idosa da zona rural do município de Pelotas. A pesquisa contou com a

supervisão de 12 mestrandos, sob a coordenação de quatro docentes do Programa (Dra. Elaine

Tomasi, Dra. Helen Gonçalves, Dra. Luciana Tovo Rodrigues e Dra. Maria Cecília Assunção)

e uma professora colaboradora do Programa (Dra. Renata Moraes Bielemann). Ao idealizar

tal pesquisa, antes dos mestrandos ingressarem no Programa, as coordenadoras do consórcio

iniciaram o processo de contato e divulgação da pesquisa com lideranças da zona rural do

município e entidades públicas, com intuito de analisar a viabilidade da realização do estudo.

Destacam-se, neste período, contatos realizados com: Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), Secretaria de Desenvolvimento Rural, Secretaria da Saúde, EMATER

Pelotas, Sindicato dos Trabalhadores Rurais, líderes comunitários e religiosos atuantes na

zona rural de Pelotas.

Ao longo dos quatro primeiros bimestres do curso, nas disciplinas de Prática de

Pesquisa I a IV, ocorreu o planejamento do estudo populacional, desde a esco lha dos temas

até o planejamento de todo o trabalho de campo pelos mestrandos. Nessa pesquisa foram

investigados temas específicos de cada mestrando (Tabela 1), juntamente com informações

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demográficas, socioeconômicas e comportamentais de interesse comum. Além da aplicação

do questionário, também foram coletadas algumas medidas antropométricas que serão

explicadas com mais detalhes no decorrer deste documento.

Tabela 1. Alunos, formação e temas do Consórcio de Pesquisa do PPGE. Pelotas, 2015/2016.

Mestrando Graduação Tema de Pesquisa

Adriana Kramer Fiala Machado Nutrição Qualidade do sono

Ana Carolina Oliveira Ruivo Medicina Serviços de saúde

Caroline Cardozo Bortolotto Nutrição Qualidade de vida

Gustavo Pêgas Jaeger Medicina Consumo de bebidas alcoólicas

Mariana Otero Xavier Nutrição Tabagismo

Mayra Pacheco Fernandes Nutrição Consumo de alimentos

Rafaela Costa Martins Educação Física Atividade física

Roberta Hirschmann Nutrição Depressão

Thais Martins da Silva Nutrição Obesidade geral e abdominal

Através dos projetos individuais de cada mestrando, foi elaborado um projeto geral

intitulado “Avaliação da saúde de adultos residentes na zona rural do município de Pelotas,

RS”. Este projeto mais amplo, também chamado de projeto geral, contemplou o delineamento

do estudo, os objetivos e as justificativas de todos os temas de pesquisa dos mestrandos, além

da metodologia, processo de amostragem e outras características da execução do estudo.

Foram ainda investigados cinco temas específicos de interesse de docentes do PPGE: saúde

bucal, contato com agrotóxicos, criminalidade, consumo de chimarrão e uso de

medicamentos.

O Projeto Geral foi encaminhado para avaliação ao Comitê de Ética em Pesquisa

(CEP) da Faculdade de Medicina (FAMED) da Universidade Federal de Pelotas em

novembro de 2015, com o número de protocolo 51399615.7.0000.5317. O parecer contendo a

aprovação para início do estudo foi recebido no dia 11 de dezembro de 2015, com o número

1.363.979 (Apêndice 1).

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2. COMISSÕES DO TRABALHO DE CAMPO

O Consórcio de Pesquisa busca capacitar os mestrandos para o trabalho em equipe.

Para que isso fosse possível em 2015/2016, foram estabelecidas comissões a fim de garantir

uma melhor preparação e um bom andamento do trabalho de campo. Todos os mestrandos

participaram das comissões, podendo um mesmo aluno atuar em mais de uma. Ainda, o

referido consórcio contou com a colaboração de alunos vinculados ao Centro de Equidade do

Centro de Pesquisas Epidemiológicas (Janaína Calu Costa, Luis Paulo Vidaletti Ruas e Maria

del Pilar Flores Quispe). Os três participaram das comissões e do trabalho de campo durante

os dois primeiros meses. Seus projetos de dissertação não previam a utilização dos dados

coletados pelo consórcio. O aluno do curso de Doutorado do PPGE, Bernardo Agostini,

também contribuiu durante o trabalho de campo, nos dois últimos meses de coleta de dados,

para ampliar seu aprendizado.

As comissões deste consórcio, mestrandos responsáveis e suas atribuições estão

listadas abaixo.

Elaboração do projeto de pesquisa que reuniu todos os estudos: Ana Carolina Ruivo;

Gustavo Pêgas Jaeger; Luis Paulo Ruas.

Essa comissão foi responsável pela elaboração do projeto geral enviado ao Comitê de

Ética em Pesquisa, com base nos projetos de cada mestrando e professores. Este projeto,

denominado “projetão”, foi composto por 14 projetos individuais, sendo nove de mestrandos

e cinco de professores. Os projetos individuais que formavam o projeto geral foram nele

descritos separadamente. De cada projeto individual foram abordados os seguintes itens:

justificativa para realização, objetivos gerais e específicos e hipóteses do estudo.

O projeto geral contemplou também alguns aspectos comuns a todos os projetos

individuais, como: descrição do PPGE e da forma de pesquisa adotada pelo programa,

delineamento do estudo, população-alvo, amostra e processo de amostragem (amostras

necessárias para cada projeto individual), instrumentos utilizados, logística, seleção e

treinamento de entrevistadoras, estudo piloto, controle de qualidade, processamento e análise

de dados, aspectos éticos, orçamento, cronograma e referências bibliográficas.

Os questionários completos aplicados e cartões visuais, utilizados para auxílio durante

a entrevista, foram anexados como apêndices no Projeto. Além disso, ao longo do texto, duas

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tabelas foram apresentadas: (1) especificando o tamanho amostral necessário para cada

projeto individual e (2) a descrição detalhada do orçamento do projeto.

Elaboração do questionário: Mariana Xavier; Roberta Hirschmann; Thais da Silva.

Essa comissão foi responsável pela incorporação dos instrumentos de cada mestrando

em um questionário comum, bem como a coordenação dos pulos e filtros dos diferentes

blocos. Além disso, elaborou o questionário de controle de qualidade da pesquisa.

Elaboração do manual de instruções: Adriana Machado; Janaína Calu Costa.

Comissão responsável pela elaboração de um manual de instruções contendo todas as

informações sobre o instrumento geral e de cada mestrando, bem como procedimentos a

serem tomados em cada pergunta. As instruções inerentes aos procedimentos adotados para

aplicação ou tomada das medidas de cada mestrando foram elaboradas pelos próprios

estudantes.

Amostragem e banco de dados: Adriana Machado; Mayra Fernandes; Rafaela Martins.

A comissão do banco de dados foi responsável por transcrever o questionário para

meio digital através do website para pesquisas online chamado REDCap (Research Eletronic

Data Capture)3 e inserir este questionário digital nos tablets Samsung GalaxyTab E. Além

disso, tinha como responsabilidade checar as inconsistências do questionário e das respostas,

assim como organizar e gerenciar os dados. Por fim, foi responsável pela entrega da versão

final do banco de dados a ser utilizado por todos os mestrandos em suas análises.

Controle de planilhas: Rafaela Costa Martins.

O controle de entrevistas de cada setor, mantendo uma planilha sempre atualizada com

as informações repassadas pelos mestrandos ao final de cada dia e durante todo o período de

trabalho de campo ficou sob responsabilidade de uma mestranda. Cada setor possuía uma

planilha individual, que alimentava a planilha geral com dados agrupados do trabalho de

campo. Cada uma dessas planilhas era dividida em 31 abas, sendo uma para resumo do setor

e, as outras 30 correspondiam a cada casa. A aba de cada domicílio possuía informações sobre

código de identificação (ID), nome, idade, telefone e o melhor turno para encontrar o

participante em casa, além de informar qual morador do domicílio respondeu o “Bloco B”

(questionário domiciliar), bem como qual morador havia sido sorteado para o controle de

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qualidade. A aba de resumo de cada setor informava o percentual de entrevistas realizadas e

pendentes, perdas, recusas, critérios de exclusão, número de moradores, número de adultos,

controle de qualidade sorteado, domicílios completos, amostrados e com pendência. Todos

esses dados eram convergidos em um dado geral de cada setor e do total do campo com as

informações por setor resumidas.

Logística e trabalho de campo: Caroline Bortolotto; Roberta Hirschmann; Thais da Silva.

Comissão responsável pela aquisição e controle do material utilizado em campo,

previsão de orçamentos, processo de seleção das candidatas a entrevistadoras e organização

dos treinamentos. Além disso, ficou a cargo dessa comissão a escolha de empresas de

transporte para deslocamento durante todo o trabalho de campo.

Divulgação do trabalho de campo: Gustavo Pêgas Jaeger; Maria del Pilar Quispe; Mayra

Fernandes.

Essa comissão trabalhou com o setor de imprensa do Centro de Pesquisas

Epidemiológicas, especificamente com Silvia Pinto (comunicação) e Cíntia Borges (design

gráfico). Foi de responsabilidade dessa comissão a elaboração de todo o material de

divulgação prévia da pesquisa, bem como do material utilizado pelos mestrandos e

entrevistadoras durante o trabalho de campo, como camisetas, bonés e crachás. Ainda,

auxiliou na elaboração do material com os resultados finais da pesquisa a serem devolvidos

aos participantes e instituições de saúde.

Financeiro: Ana Carolina Ruivo; Roberta Hirschmann.

Comissão encarregada de todas as questões relacionadas ao controle financeiro,

orçamento e previsão de compras durante todo o Consórcio de Pesquisa. Essa comissão estava

constantemente em contato com o setor financeiro do PPGE e era responsável também por

controlar o número de entrevistas de cada entrevistadora para posterior pagamento, a

utilização mensal das vans, fornecimento de vales-transportes para as entrevistadoras e toda e

qualquer despesa relacionada à pesquisa.

Elaboração do relatório de trabalho de campo: Caroline Bortolotto; Mariana Xavier;

Rafaela Martins.

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Comissão responsável pelo registro de todas as decisões tomadas nas reuniões com a

coordenação, informações relevantes do trabalho de campo, preenchimento de tabela com

datas de encontros e reuniões com pessoas que auxiliaram antes de iniciar o trabalho de

campo, e pela elaboração do presente relatório do Consórcio de Pesquisa “Saúde Rural” 2015-

2016.

3. QUESTIONÁRIOS

O questionário foi dividido em duas partes chamadas de “Bloco A” e “Bloco B” (Apênd ice

2). As questões individuais e específicas do instrumento de cada mestrando foram incluídas

no questionário geral, denominado “Bloco A”.

O “Bloco A” foi aplicado a todos os indivíduos com 18 anos ou mais, moradores da

zona rural de Pelotas. Este instrumento era composto por 209 questões, incluindo temas sobre

atividade física, qualidade de vida, presença de morbidades, consumo de alimentos, utilização

de serviços de saúde, qualidade do sono, saúde dos dentes e da boca, depressão, tabagismo,

consumo de bebidas alcoólicas, criminalidade, consumo de chimarrão, uso de medicamentos,

uso de agrotóxicos e religião.

As questões referentes aos aspectos domiciliares foram incluídas no “Bloco B”, sendo

respondidas por apenas um indivíduo de cada residência sorteada, preferencialmente o chefe

da família. Esse bloco continha 61 perguntas referentes aos dados socioeconômicos da

família, características do domicílio, escolaridade do chefe da família e posse de bens. Além

dos questionários, foram coletadas as seguintes medidas antropométricas dos participantes:

peso, altura e circunferência da cintura.

4. MANUAL DE INSTRUÇÕES

A elaboração do manual de instruções auxiliou no treinamento e nas entrevistas durante

o trabalho de campo. Todos os tablets utilizados para a coleta de dados possuíam uma versão

digital do manual, sendo de fácil acesso às entrevistadoras. A versão do manual encontra-se

no Apêndice 3 deste documento.

O manual incluía orientações sobre o que se pretendia coletar em cada questão dos

questionários, contendo a explicação da pergunta, opções de resposta e instruções para

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perguntas nas quais as opções deveriam ser lidas ou não. Continha, ainda, as definições de

termos utilizados no questionário e o telefone de todos os supervisores.

Também foi criado um manual para a “batedora” (termo utilizado para se referir a

pessoa que realiza a contagem e identificação de domicílios antes de iniciar o trabalho de

campo propriamente dito), o qual possuía um roteiro com explicações sobre o procedimento

correto a ser realizado na “bateção”. Porém, por dificuldades logísticas específicas da zona

rural, especialmente as distâncias a serem percorridas, as más condições das estradas e o

dispêndio excessivo de tempo nesse processo, a “bateção” não ocorreu conforme esperado,

tendo-se então optado por não realizar essa abordagem prévia aos participantes do estudo na

zona rural.

5. AMOSTRA E PROCESSO DE AMOSTRAGEM

Nos projetos individuais, cada mestrando calculou o tamanho de amostra necessário

para o seu tema de interesse, tanto para estimar o número de indivíduos necessário para

estudos de prevalência, quanto para o exame das possíveis associações. Em todos os cálculos

foram acrescidos 10% para perdas e recusas e 15% para cálculo de associações, tendo em

vista o controle de possíveis fatores de confusão e, ainda, o efeito de delineamento amostral,

dependendo de cada tema. Nos dias 31/08/2015, 01 e 02/09/2015 ocorreu uma oficina de

amostragem coordenada pelo Prof. Aluísio Jardim Dornellas de Barros e pela estatística

convidada da Universidade de São Paulo (USP), Profa. Regina Bernal. Nessa ocasião foi

definido o maior tamanho de amostra necessário (n=2.016 adultos) para que todos os

mestrandos tivessem a possibilidade de estudar os seus desfechos, levando em consideração

as questões logísticas e financeiras envolvidas.

Inicialmente, foram reconhecidos os distritos e setores rurais através dos dados do

Censo de 20102. A zona rural de Pelotas possui oito distritos que estão descritos na Tabela 2.

Nesses, foram sorteados 24 setores e 1.008 domicílios. A decisão sobre o número de setores

a serem amostrados levou em consideração o número de domicílios permanentes de cada um

dos distritos. Foi considerado em média 2 adultos por domicílio, dessa forma o cálculo para a

escolha do número de domicílios foi realizado da seguinte maneira:

24 setores * 2 adultos em média por domicílio = 42 domicílios por setor

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Tabela 2. Descrição dos distritos conforme tamanho populacional e número de setores.

Distrito População Nº de setores Nº de setores selecionados

Z3 3165 8 3

Cerrito Alegre 3075 6 4

Triunfo 2466 4 2

Cascata 3074 6 4

Santa Silvana 2443 8 2

Quilombo 2649 5 3

Rincão da Cruz 1970 7 2

Monte Bonito 3201 6 4

No decorrer do trabalho foram necessárias mudanças logísticas devido às dificuldades

de locomoção na zona rural, custo e tempo para o término do estudo. A principal mudança

consistiu na redução do número de domicílios, sendo mantidos o número de setores e a média

de adultos/domicílio. O número de domicílios por setor passou a ser 30, resultando em 720

domicílios, finalizando em 1.440 indivíduos.

Devido à grande diferença na distribuição geográfica das residências na zona rural em

comparação com a zona urbana, foi necessário adotar uma estratégia peculiar para este estágio

do processo. Optou-se por utilizar o software Google Earth, que está disponível para uso

gratuito, juntamente com um mapa virtual do estado do Rio Grande do Sul, fornecido pelo

IBGE. Com a utilização destas duas ferramentas foi possível sobrepor as delimitações

geográficas da cidade de Pelotas, que inclui as subdivisões em setores censitários, sobre as

imagens feitas por satélite fornecidas pelo Google Earth.

A partir das imagens aéreas, com as subdivisões geográficas sobrepostas, os setores

censitários foram divididos em núcleos, da seguinte maneira: foi considerado um núcleo cada

aglomerado com no mínimo cinco casas, localizadas em um raio de um quilômetro a partir do

centro do núcleo – maior ramificação de ruas ou vias/estradas. Estes núcleos foram ordenados

em cada setor, de maneira decrescente e de acordo com o número de casas identificadas pelas

imagens de satélite.

Finalmente, para a seleção das residências, foi adotado o seguinte procedimento:

iniciava-se pelo maior núcleo (com maior número de residências) e, ao chegar ao centro deste

núcleo, um dos mestrandos responsáveis pelo trabalho de campo girava algum objeto

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pontiagudo (como, por exemplo, uma garrafa) para dar a direção do início a ser percorrido

para encontrar as residências a serem incluídas na amostra, garantindo certa aleatoriedade no

processo. Se, eventualmente, o objeto girado apontasse no meio de duas ramificações, seguia-

se sempre pela via à direita da direção indicada. Quando chegava-se ao fim da direção

apontada dentro do núcleo sem que 30 casas fossem identificadas, voltava-se ao centro do

núcleo e dava-se continuidade ao processo pela próxima via, à direita da primeira. Após o

rastreamento de todo o primeiro núcleo, caso não se alcançasse o total de 30 residências,

seguia-se em direção ao centro do segundo núcleo do setor com maior número de residências

e repetia-se o processo, até que as trinta residências habitadas fossem selecionadas.

6. SELEÇÃO E TREINAMENTO DAS ENTREVISTADORAS

Antes do início do trabalho de campo, a comissão de logística foi responsável por criar

propostas para a implementação do trabalho de campo, como número de entrevistadoras, rota

e tipo de transporte para as entrevistadoras, as quais deveriam se deslocar do Centro de

Pesquisas Epidemiológicas, localizado na zona urbana, até a zona rural do município. Após

estas definições, o próximo passo foi selecionar as candidatas que iriam atuar no trabalho de

campo.

Os critérios de seleção para as candidatas às vagas de entrevistadora foram os

seguintes: ser do sexo feminino, ter ensino médio completo e ter disponibilidade de tempo

para realização do trabalho. Outras características também foram consideradas, como:

experiência prévia em pesquisa, desempenho no trabalho, organização e relacionamento

interpessoal.

As inscrições para seleção ocorreram no período de 4 a 11 de dezembro de 2015, com

o objetivo de contratar 14 entrevistadoras. A divulgação do edital de inscrição foi através do

website e via Facebook do PPGE e dos mestrandos. O total de 74 candidatas inscreveram-se

para o treinamento. Destas, 52 foram selecionadas para a participação do treinamento.

O treinamento foi realizado no período de 15 a 18 de dezembro de 2015 e, novamente,

nos dias 11 e 12 de janeiro de 2016, durante os turnos manhã e tarde. Este consistiu de uma

parte teórica, através de apresentação expositiva de cada mestrando referente ao seu

instrumento e pela apresentação da comissão quanto a parte geral do questionário. Tamb ém

houve uma parte prática do treinamento, onde foram feitas simulações de entrevistas tanto em

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papel, quanto em tablets, para o completo entendimento das interessadas em realizar esta

tarefa.

Após conclusão desta etapa, foi realizada avaliação teórica, quando uma prova com

perguntas específicas sobre os conteúdos do treinamento foi aplicada (Apêndice 4). Foram

selecionadas as candidatas que atingiram melhor pontuação final nos critérios de avaliação

(nota da avaliação teórica, presença, participação e interesse nos treinamentos). As 17

aprovadas na primeira etapa participaram de um estudo piloto no dia 13 de janeiro de 2016,

realizado no município de Arroio do Padre. A escolha deste local se deu em virtude da

similaridade de suas características com a zona rural a ser estudada, uma vez que este

município pertencia à zona rural de Pelotas antes de sua emancipação. O estudo piloto foi

realizado com o objetivo de avaliar o desempenho de cada entrevistadora durante uma

simulação prática do trabalho de campo. Ao final do estudo piloto, os mestrandos

selecionaram 14 entrevistadoras com melhor desempenho durante os treinamentos, prova e

piloto.

Além dos treinamentos para aplicação dos questionários foi realizada a padronização

de medidas antropométricas (altura, peso e circunferência da cintura), coordenada por duas

mestrandas (Thaís e Caroline) consideradas “padrão-ouro” na tomada das mesmas. Além das

entrevistadoras, os mestrandos também foram padronizados, como uma prevenção para

eventual perdas da equipe.

A padronização de medidas ocorreu nos dias 14, 15, 18 a 20 de janeiro de 2016.

Realizou-se o treinamento prático para a padronização da coleta das medidas antropométricas,

com carga horária de 20 horas com as pré-selecionadas na sede do PPGE. Durante o processo

de padronização, as candidatas foram orientadas sobre a realização da técnica correta das

medidas de peso, altura e circunferência da cintura. Todo o procedimento foi baseado na

metodologia proposta por Habicht4, a qual diz respeito à adequação da técnica de coleta para

aumentar sua precisão e exatidão.

Para cada candidata, assim como para os mestrandos, foi construída uma planilha

(Apêndice 5) com as médias dos erros técnicos das medidas de peso, altura e circunferência

da cintura observadas, segundo os erros intra e inter-observador e de acordo com a

metodologia supracitada – erros entre os resultados obtidos pela própria entrevistadora e erros

de cada entrevistadora comparados ao padrão-ouro, respectivamente. Durante o treinamento,

as mestrandas padrão-ouro mensuraram o peso, altura e circunferência da cintura de 10

voluntários, em duas rodadas distintas (Apêndice 5). O mesmo processo foi realizado pelas

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candidatas ao cargo de entrevistadora, quantas vezes fosse necessário até se obter

concordância entre os resultados encontrados.

As medidas foram digitadas em planilhas Excel® para cálculo dos valores de precisão

e exatidão aceitáveis conforme a metodologia de Habicht4. O processo de padronização foi

realizado novamente 60 dias após o início do campo, a fim de manter a qualidade das medidas

mensuras durante o processo.

O início do trabalho de campo ocorreu no dia 21 de janeiro de 2016. Para o trabalho de

campo foram montados kits que continham: mochila, crachá de identificação, camiseta, pasta

plástica, prancheta, carta de apresentação (Apêndice 6), questionários impressos (Apêndice

2), termos de consentimento livre e esclarecido (TCLE) (Apêndice 7), tablet (com case),

anexos aos questionários (cadernos a parte que incluíam escala de faces, dosagens de bebidas

alcoólicas, cartões com imagens para auxílio no preenchimento dos questionários de atividade

física, depressão, qualidade de vida e qualidade do sono) (Apêndice 8), canetas, lápis,

borracha, apontador, calculadora, fita métrica, estadiômetro, balança digital, caderno de

anotações (diário de campo) e almofada para impressão digital.

7. DIVULGAÇÃO

O trabalho da comissão de divulgação do consórcio de pesquisa na zona rural contou

com a colaboração das profissionais de design gráfico e comunicação social do PPGE, Cíntia

Borges e Sílvia Pinto, respectivamente. Este trabalho iniciou antes mesmo da formação desta

comissão, mediante os contatos das docentes coordenadoras com pessoas e instituições

importantes para esse trabalho, conforme citado anteriormente.

Ainda no primeiro semestre de 2015, a turma de mestrandos reuniu-se por diversas

vezes, muitas delas junto às professoras responsáveis pelo consórcio, para pensar, elaborar e

planejar todas as etapas da divulgação da pesquisa, levando em conta a peculiaridade da

população-alvo. Decidiu-se por denominar o presente consórcio de pesquisa da seguinte

maneira: nome principal “Saúde Rural”; complementado por “Pesquisa sobre saúde da

população rural de Pelotas”. Além disso, foram reunidas as ideias para subsidiar o trabalho de

construção de uma logomarca para o estudo.

O processo de criação da logomarca do consórcio foi realizado pelas profissionais

Cíntia Borges e Sílvia Pinto, com as ideias sugeridas pelo grupo de mestrandos. Com um

trabalho realizado em equipe, brevemente foi possível definir a logomarca que representasse

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bem os objetivos e o alvo da pesquisa. Com a logomarca e o nome do projeto definidos, a

comissão começou a colocar em prática a divulgação do estudo. Um dos primeiros e mais

importantes passos foi realizar uma reunião na Secretaria de Saúde, em maio de 2015, para

apresentar a pesquisa, coletar informações importantes sobre a zona rural e esclarecer

dúvidas. Nessa ocasião estavam presentes, além da Superintendente de Ações em Saúde,

trabalhadores das 13 Unidades Básicas de Saúde (UBS) que fazem parte da zona rural de

Pelotas. Houve também outras reuniões nas quais participaram alguns alunos juntamente com

as professoras coordenadoras, como na reunião com a EMATER Pelotas e com o IBGE. Os

mestrandos também realizaram diversas visitas a cada um dos distritos para reconhecimento

dos locais e participaram de Pré-Conferências de Saúde nos distritos Quilombo e Santa

Silvana, em junho de 2015, para divulgar a pesquisa. Outra reunião muito importante ocorreu

em setembro de 2015 com os subprefeitos de cada distrito da zona rural de Pelotas, na

Secretaria de Desenvolvimento Rural. Nessa reunião os alunos explicaram de maneira clara e

sucinta o projeto de pesquisa. Cabe ressaltar que os subprefeitos foram muito solícitos,

apoiaram a iniciativa e indicaram as principais maneiras através das quais os moradores da

zona rural obtinham informações, ou seja, os mais efetivos meios para informar a esta

população sobre a realização da pesquisa.

Com base em informações obtidas nas diversas reuniões e contatos com pessoas

conhecedoras da zona rural, foram elaborados cartazes e panfletos que transmitissem

informações sobre a pesquisa que seria realizada, de uma forma clara, concisa e amigável

(Apêndice 9). O principal objetivo, neste momento inicial, era fazer com que a população

tivesse um primeiro contato com a pesquisa e com ela se acostumasse, entendendo a

importância do projeto. Além disso, um dos objetivos da d ivulgação foi de conquistar a

confiança da população-alvo, demonstrando a seriedade da pesquisa, o que facilitaria a

aceitação dos moradores em participar.

A divulgação na região geográfica do estudo iniciou na metade do segundo semestre de

2015. Os mestrandos foram divididos em quatro grupos, ficando cada grupo responsável pela

divulgação em dois distritos. A estratégia adotada foi a de colocar cartazes nos locais de

referência de cada distrito, locais bastantes frequentados pelos moradores, como, por

exemplo, Subprefeituras, Unidade Básicas de Saúde, escolas, salões de igrejas, mercados,

pontos de ônibus, entre outros específicos de cada distrito. Além disso, panfletos com

explicações sobre a pesquisa foram deixados nestes lugares para que os moradores pudessem

ter uma melhor compreensão do estudo. Em alguns locais, como Subprefeitura e Unidades

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Básicas de Saúde, os próprios funcionários colocaram-se à disposição para entregar ou indicar

os panfletos aos moradores que fossem ao local.

Outra estratégia de divulgação da pesquisa foi através de programas de rádio, meio de

comunicação importante para alcançar a população alvo. Um texto padrão foi elaborado em

conjunto com o serviço de comunicação social, com linguagem adequada ao meio de

comunicação e ao público-alvo, e enviado a diversas rádios, inclusive as rádios comunitárias,

ouvidas na zona rural de Pelotas, para ser veiculado. Além disso, a divulgação através do

rádio foi complementada de maneira muito efetiva com duas entrevistas, dadas em momentos

diferentes, por professores e mestrandos para explicar o projeto.

O processo de divulgação foi intensificado no período que antecedeu o início do

trabalho de campo, para assegurar que uma boa parcela dos moradores da zona rural já

tivessem tido algum contato com informações sobre a pesquisa. Mais cartazes foram

colocados em lugares estratégicos, como pontos em que os moradores da zona rural esperam

por ônibus no centro da cidade, e mais panfletos foram distribuídos.

À comissão de divulgação coube também a responsabilidade de providenciar a

confecção de camisetas, bonés e crachás com o nome e logomarca da pesquisa. Estes serviram

para identificar mestrandos e entrevistadoras e, também, como uma forma de divulgação.

Durante todo o trabalho de campo o processo de divulgação continuou sendo feito. A

forma principal de divulgação neste período foi através da distribuição dos panfletos

explicativos aos moradores. Estes panfletos foram levados pelos mestrandos em todos os dias

de trabalho de campo sendo entregues aos participantes da pesquisa e também aos demais

moradores das localidades visitadas. Neste período, também houve novas entrevistas de rádio,

nas quais os mestrandos participaram, divulgando a pesquisa e esclarecendo dúvidas.

Após a conclusão de todo o consórcio de pesquisa, com os resultados das pesquisas

individuais de cada mestrando, será realizado um amplo processo de divulgação dos achados

mais relevantes para toda a comunidade de Pelotas, RS. Ênfase maior será dada a divulgação

dos resultados a população rural da cidade de Pelotas, RS, que foi a população alvo desta

pesquisa, e que dela efetivamente participou.

Não serão poupados esforços para que estes importantes resultados sejam devolvidos à

população, com objetivo principal de que estes possam contribuir para a melhora das

condições de vida da população rural do município de Pelotas, RS. Melhoras que, pelo caráter

da pesquisa, estão diretamente relacionadas com o conhecimento sobre a saúde e necessidades

relacionadas a ela desta população especifica.

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65

Tendo em vista que este foi o primeiro estudo de base populacional que dedicou-se a

estudar exclusivamente a população adulta residente na zona rural do município de Pelotas,

RS, supõe-se que os achados desta pesquisa serão pioneiros e de grande importância para a

população e também, muito importante, para os gestores municipais e estaduais de saúde.

O grupo que coordenou e realizou este grande trabalho de pesquisa pretende divulgar

seus achados de maneira diversificada e de acordo com as pessoas que a receberão. Para as

comunidades, será elaborado um material gráfico informativo, de fácil compreensão,

contendo os principais achados, os quais serão distribuídos em pontos chave de cada distrito,

locais onde a população possa ter fácil acesso.

Além disso, em uma etapa mais elaborada de divulgação, a equipe responsável, com

auxílio do pessoal de comunicação social, irá divulgar o trabalho realizado e os achados da

pesquisa em meios de comunicação mais abrangentes, como em rádios locais, jornais de

veiculação local e estadual, e através de espaços em meios televisivos.

Finalmente, o CPE irá realizar um evento de divulgação em suas dependências, para

divulgar de maneira mais detalhada os achados e a importância de seu trabalho, para o qual

serão convidadas personalidade locais, como gestores públicos, aí incluídos os subprefeitos de

cada distrito, vereadores e imprensa.

8. ESTUDO PILOTO

O estudo piloto com as entrevistadoras selecionadas na primeira etapa da seleção foi

realizado no dia 13 de janeiro de 2016, em Arroio do Padre, cidade que por muitos anos fez

parte da zona rural de Pelotas e, mesmo após ser emancipada, ainda possui características

muito semelhantes às que seriam observadas posteriormente na zona rural de Pelotas. Cada

mestrando acompanhou uma a duas entrevistadoras e realizou uma avaliação baseada em um

checklist criado pela comissão de logística e trabalho de campo. Essa etapa também foi

considerada parte da seleção das entrevistdoras.

Após o estudo piloto, foi realizada uma reunião entre os mestrandos para a discussão

de situações, problemas e possíveis erros nos questionários. As modificações necessárias

foram realizadas pela comissão do questionário, manual e banco de dados antes do início do

trabalho de campo. Nessa reunião foi discutido entre a turma o desempenho de cada candidata

e 14 entrevistadoras foram selecionadas.

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9. LOGÍSTICA E TRABALHO DE CAMPO

O início do trabalho de campo se deu no dia 21/01/2016. Na rotina diária de trabalho

sempre havia pelo menos um mestrando de plantão para organizar o material que viria a ser

utilizado no trabalho de campo naquele dia. Pelo fato de não haver estadiômetros e balanças

digitais em quantidade suficiente para todas as entrevistadoras, era necessário realizar o

controle de quem estava em campo com estes instrumentos e, por isso, cada entrevistadora

assinava sempre uma planilha com a distribuição deste material, atestando o recebimento.

Também era de responsabilidade do mestrando plantonista ter o controle de que todas as

entrevistadoras recebessem os vales-transportes e assinassem o livro-ponto. Cada

entrevistadora possuía um número de identificação na sua mochila e tablet. Logo após, as

entrevistadoras e os mestrandos, escalados para irem a campo no dia, deslocavam-se ao

estacionamento do prédio, onde uma micro-van os aguardava. Ao iniciar o trabalho de campo

eram escalados em média seis mestrandos por dia e 12 entrevistadoras. No decorrer do

trabalho de campo houve desistência e dispensa de algumas entrevistadoras, o que resultou na

redução do número de entrevistadoras em campo.

O local de destino era decidido a priori. Inicialmente foram escolhidos os locais mais

afastados com intuito de otimizar a utilização da van, pois alguns distritos eram próximos à

zona urbana e com maior possibilidade de deslocar-se de outras maneiras. As comissões de

amostragem e de banco de dados providenciaram mapas de todos os setores sorteados, os

quais deveriam estar em campo obrigatoriamente para facilitar a localização por parte da

equipe. Primeiramente, três mestrandos foram considerados os guias da equipe. Os guias eram

responsáveis pela utilização do GPS para registrar as coordenadas de cada uma das casas

amostradas com o objetivo de facilitar o retorno àquele local em um próximo momento, caso

fosse necessário. Além disso, manuseavam os mapas e abasteciam a planilha de número de

entrevistas realizadas e pendentes em cada casa. Após todo o reconhecimento de todos os

domicílios amostrados a equipe dos guias foi desfeita e todos os mestrandos que estavam em

campo foram responsáveis pelo manuseio do GPS, mapas e planilha a partir de então.

O horário de partida e chegada variou conforme local, períodos de safras, clima e

turnos preferenciais de algumas entrevistadoras. Essa variabilidade deu-se pelo fato do estudo

ter iniciado no verão. O horário de partida era, geralmente, às 12 horas e 30 minutos e o

tempo médio de deslocamento até a zona rural era de 1 hora e 30 minutos. Além disso, os

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moradores relatavam estar em suas residências logo após o horário de almoço, devido às altas

temperaturas. Ao longo do estudo a escala de trabalho semanal foi alterada. Nos primeiros

meses o trabalho acontecia durante os sete dias da semana, quando cada entrevistadora

possuía uma folga por semana. No decorrer do estudo, por motivos logísticos e financeiros,

houve uma redução dos dias de trabalho, que passou a ocorrer conforme a necessidade de

atender cada setor (completar os domicílios com entrevistas pendentes).

Ao chegar ao local estabelecido, em cada residência selecionada, a abordagem inicial

era realizada por um dos mestrandos responsáveis pelo consórcio, o qual primeiramente

apresentava a pesquisa aos moradores e convidava os indivíduos maiores de 18 anos a

participarem do estudo. Em seguida era perguntado o número de indivíduos que morava

naquela residência, seu(s) nome(s), idade(s), telefone(s) e melhor turno para encontrar o(s)

morador(es) em casa (Planilha de domicílio - Apêndice 10). Sempre que possível, as

entrevistas eram realizadas no mesmo momento da seleção da residência ou era agendada uma

visita na data que o participante estivesse disponível. Quando aceito o convite, a

entrevistadora com menos entrevistas contabilizadas até o momento era chamada para realizar

a entrevista e assim sucessivamente. Em algumas poucas ocasiões também foi necessário que

os mestrandos realizassem entrevistas.

Foram considerados critérios de exclusão indivíduos com incapacidade cognitiva ou

mental e que não contavam com auxilio de cuidadores/familiares responsáveis para ajudá- los

a responder o questionário, hospitalizados ou institucionalizados durante o período de coleta

de dados e aqueles que não falavam/compreendiam português (pequena parcela da população

rural tem origem Pomerana e não fala português). Ainda, definiram-se como perdas os casos

em que os indivíduos não foram encontrados após pelo menos três tentativas de contato

pessoal, em dias e horários distintos, e como recusas todos aqueles que não aceitaram

participar do estudo.

Para as medidas antropométricas os critérios de exclusão foram os seguintes:

ALTURA:

Indivíduos impossibilitados de permanecerem na posição ereta (cadeirantes e/ou

acamados).

Gestantes

Mulheres que tiveram filho há menos de 6 meses

Amputação de membros inferiores

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PESO:

Indivíduos com gesso em qualquer parte do corpo.

Indivíduos impossibilitados de ficar em pé (cadeirantes e/ou acamados).

Gestantes

Mulheres que tiveram filho há menos de 6 meses

Amputação de membros inferiores

CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA:

Indivíduos impossibilitados de permanecerem na posição ereta (cadeirantes e/ou

acamados).

Gestantes

Mulheres que tiveram filho há menos de 6 meses

Devido ao pouco acesso à rede telefônica na maioria dos locais, os guias eram

responsáveis pela anotação do horário em que cada entrevistadora havia deixado a van para

realizar a entrevista, sendo contabilizado em torno de 1 hora e 30 minutos para retornar à

residência para buscá- la. Após o término da rotina diária, ao longo do trajeto de volta, era

conferido todo o material de uso das entrevistadoras e assinada a planilha de materiais pelas

mesmas. Ao retornar ao CPE todas as entrevistadoras deveriam remover seus materiais da van

e entregar aos mestrandos que estavam em campo. No dia seguinte a rotina se mantinha,

porém com uma nova escala de supervisores.

10. CONTROLE DE QUALIDADE

Para garantir a qualidade dos dados coletados foi realizado treinamento das

entrevistadoras, elaboração de manual de instruções, verificação semanal de inconsistências

no banco de dados e reforço das questões que frequentemente apresentavam erros. Além

disso, os mestrandos participaram ativamente do trabalho de campo fazendo o controle direto

de diversas etapas.

Após a realização das entrevistas, através do banco de dados recebido semanalmente,

eram sorteados 10% dos indivíduos para aplicação de um questionário reduzido, elaborado

pela comissão do questionário, contendo 10 questões (Apêndice 11). Este controle era feito

pelos mestrandos por meio ligações telefônicas aos domicílios sorteados, a fim de identificar

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possíveis problemas no preenchimento dos questionários e calcular a concordância entre as

respostas, através da estatística Kappa.

11. RESULTADOS GERAIS

A coleta dos dados terminou no dia 12 de junho de 2016 com três entrevistadoras em

campo. A comissão do banco de dados trabalhou durante quatro semanas, após a conclusão do

trabalho de campo, para a entrega do banco final contendo todas as informações coletadas e

necessárias para as dissertações dos mestrandos.

Durante todo o trabalho de campo foram realizadas, periodicamente, reuniões entre os

mestrandos e as professoras coordenadoras, com intuito de repassar informações, auxiliar na

tomada de decisões e resolução de dificuldades, bem como avaliar o andamento do trabalho.

No dia 22 de agosto foi realizada uma última reunião do Consórcio de Pesquisa 2015/2016,

entre mestrandos e professoras coordenadoras, para definição das próximas etapas que ainda

deveriam ser realizadas em conjunto, prazos de entrega de trabalhos de cada comissão e

decisão sobre a forma de repasse dos resultados finais para a comunidade.

Conforme a Tabela 3, observa-se que dos 1.697 indivíduos elegíveis, 1.519 (89,5%)

responderam o questionário e 178 (10,5%) foram computados como perdas ou recusas. Dos

entrevistados, a maioria era do sexo feminino (51,7%), com idade entre 40 e 59 anos e a

maior proporção (cerca de 17%) morava no distrito Cascata. As perdas e recusas foram

diferentes entre os indivíduos que responderam ou não ao questionário em relação às variáveis

sexo, idade e distrito de moradia (p<0,05).

A mediana de idade foi 47 anos (intervalo interquartil = 28 anos) e a amplitude foi de

18 a 93 anos. O percentual atingido no final do trabalho de campo foi de 89,5%. Já o

percentual de controle de qualidade atingido foi de 9,7% da amostra, 3 pontos percentuais

abaixo do esperado.

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Tabela 3. Percentual de perdas e recusas no estudo “Saúde Rural - Pesquisa sobre saúde da população rural de Pelotas”

Variáveis Total

N (%)

Perdas

N (%)

Recusas

N (%)

Amostra

N (%)

Valor-

p*

Sexo

Masculino 860 (50,7%) 63 (7,3%)

63 (7,3%)

734 (85,4%) <0,001

Feminino 837 (49,3%) 28

(3,3%)

24

(2,9%)

785 (93,8%)

Idade (anos

completos)

18 – 24 206 (12,2%) 11

(5,3%)

21

(10,2%)

174 (84,5%)

0,007

25 – 39 387 (22,9%) 25 (6,5%)

21 (5,4%)

341 (88,1%)

40 - 59 658 (38,8%) 31

(4,7%)

34

(5,2%)

593 (90,1%)

60 ou mais 441 (26,1%) 19 (4,3%)

11 (2,5%)

411 (93,2%)

Distrito

Z3 196 (11,6%) 14

(7,1%)

19

(9,7%)

163 (83,2%)

<0,001

Cerrito Alegre 266 (15,7%) 10 (3,8%)

11 (4,1%)

245 (92,1%)

Triunfo 201 (11,8%) 11 (5,5%)

6 (3,0%) 184 (91,5%)

Cascata 279 (16,4%) 23 (8,2%)

5 (1,8%) 251 (90,0%)

Santa Silvana 184 (10,8%) 14 (7,6%)

3 (1,6%) 167 (90,8%)

Quilombo 180 (10,6%) 8 (4,5%) 15

(8,3%)

157 (87,2%)

Rincão da Cruz

134 (8,0%) 6 (4,5%) 8 (6,0%) 120 (89,5%)

Monte Bonito 256 (15,1%) 5 (2,0%) 20

(7,8%)

232 (90,2%)

Total 1697 (100) 91 (5,1) 87 (5,4) 1519 (89,5)

*Qui-quadrado para diferença entre a amostra e as perdas/recusas

Foram totalizados 27 indivíduos como critério de exclusão, ou seja, 1,6% dos adultos

moradores nas residências selecionadas. A caracterização desses indivíduos encontra-se na

Figura 1, estratificada por sexo. Cada indivíduo poderia ser classificado como co m

incapacidade física, ou seja, algum problema físico que o impedia de responder o questionário

(por exemplo alguém que sofria de paralisia cerebral) ou com incapacidade mental, ou seja,

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algum problema mental que o impedia de responder o questionário (por exemplo alguém que

sofria de depressão profunda e não se comunicava nem mesmo com agentes comunitários de

saúde) ou, ainda, foram considerados como critérios de exclusão também aqueles que só

falavam a língua pomerana. Os indivíduos com incapacidade física contabilizaram 33,3%, os

com incapacidade mental, 44,5%, e os que só falavam pomerano contabilizaram 22,2%.

12. CRONOGRAMA

As atividades do consórcio iniciaram em março de 2015 e terminaram em agosto de 2016.

Atividades 2015 2016 2017

Meses M-

J

A S O N D J F M A M J J A S O N D J F

Reconhecimento dos

setores

Oficina de

amostragem

Avaliação CEP

Divulgação do

estudo

Questionário e

manual

Treinamento

Estudo Piloto

Trabalho de campo

Organização/Análise

dos dados

Redação das

dissertações

Divulgação dos

resultados

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13. ORÇAMENTO

O Consórcio de Pesquisa foi financiado por recursos provenientes da Comissão de

Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES), no valor de R$ 98.000,00, por

recursos obtidos através de patrocínio de empresas do município (R$ 1.600,00) e por recursos

dos mestrandos (R$ 1.689,90), totalizando R$ 101.289,90. Ao final, foram utilizados R$

99.732,07, conforme demonstrado nas Tabelas 4 e 5, restando um saldo de R$ 1.557,83 a ser

utilizado para divulgação dos resultados.

No total, dez tablets, com custo total de R$ 5.500,00, foram utilizados no trabalho de

campo para a coleta de dados. Os mesmos foram comprados com verba de outro pesquisador

sendo devolvidos ao mesmo ao final do trabalho de campo

Tabela 4. Gastos finais da pesquisa com recursos disponibilizados pelo programa para a realização do consórcio de mestrado 2015/2016.

Item Quantidade Custo Total (R$)

Amostragem* - 2.663,67

Vales transporte 3.600 9.900,00

Transporte (Van) 103 diárias 35.570,00

Entrevistadoras (salário base) 14** 24.540,00

Pagamento de entrevistas*** 1530 16.212,50

Camisetas / Serigrafia 46 1.670,00

Bonés / Serigrafia 50 900,00

Cases para Tablets 10 165,40

Cópias / Impressões**** 19.500 4.820,60

Total 96.442,17

* Pró-labore e custeio/despesas de viagem da Profa. Regina Bernal para o processo de amostragem do estudo

** Número de entrevistadoras variou conforme andamento do campo

*** Inicialmente o preço por entrevista completa realizada era de R$10,00, posteriormente passou para R$15,00

**** Reprodução de materiais: questionários, planilhas, TCLE, crachás, flyers, folders e cartazes

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Tabela 5. Gastos finais da pesquisa com recursos obtidos através de patrocínio e dos

mestrandos. Consórcio 2015/2016, Pelotas-RS.

Item Quantidade Custo Total (R$)

GPS Garmin nuvi 2415LT* 1 497,00

Seguro de vida das entrevistadoras 14 315,00

Kit primeiros socorros 1 114,75

Material de escritório - 91,37

Conserto de 01 balança e 02 tablets 3 671,78

Bateção** 1 1.600,00

Total 3.289,90

* Esse modelo de GPS pode ser utilizado em modo offline, ideal para zona rural onde o acesso à internet é

limitado

** Embora não tenha sido finalizado o processo de “bateção”, houve pagamento para a pessoa a cargo dessa

tarefa durante sua execução

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REFERÊNCIAS

1. Barros AJD, Menezes AMB, Santos IS, Assunção MCF, Gigante D, Fassa AG, et al. O Mestrado do Programa de Pós-graduação em Epidemiologia da UFPel baseado em consórcio de pesquisa: uma experiência inovadora. Revista Brasileira de Epidemiologia. 2008; 11:133-44. 2. IBGE. Censo Brasileiro 2010. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2011. 3. REDCap. Nashville: Research Eletronic Data Capture; [updated 2016 May; cited 2016 Aug 30]. 4. Habicht JP. Estandarizacion de metodos epidemiologicos cuantitativos sobre el terreno. oletin de la oficina Sanitaria Panamericana. 1974

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12. Artigo

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Prevalência de Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool e Fatores associados entre Adultos da Zona Rural de uma cidade de médio porte do Sul do

Brasil: estudo de base populacional. Jaeger, Gustavo Pêgas1; Loret de Mola, Christian2; Silveira, Mariangela Freitas3.

1 Programa de Pós-Graduaçāo em Epidemiologia, Faculdade de Medicina, UFPel 2 Departamento de Enfermagem, Faculdade de Enfermagem, UFPel 3 Departamento Materno Infantil e Programa de Pós-Graduaçāo em Epidemiologia, Faculdade de Medicina, UFPel

Abstract

Objective: To investigate the prevalence of alcohol use related disorders and associated

factors in an exclusively rural population.

Methods: A cross-sectional population-based study, part of a larger rural research

consortium was conducted in a mid-sized city in southern Brazil, with an estimated

target population of 22,000 people, using the AUDIT (Alcohol Use Disorders

identification Test). Analysis included the prevalence of disorders related to alcohol use

and associated factors, with a confidence interval (CI) of 95%, and a Poisson regression

using a hierarchical model.

Results: The final sample was of 1519 people. The prevalence of alcohol use related

disorders (AUDIT ≥ 8) was 8.4% (95% CI 7.0-9.8). Risk factors for disorder related to

alcohol use were male (PR 7.99; 95% CI 4.65- 13.53), aged between 18-24 years (PR

3.72; 95% CI 1. 53-5.00) and smoking (PR 2.15; 95% CI 1.22-3.78). Practicing a religion

was a protective factor with statistical significance (PR 0,38; IC 95% 0,25-0,58). Marital

status, education and income were not associated with the study outcome.

Conclusions: The prevalence of disorders related to alcohol use in this population is

high, however, on average, lower than those found in studies based on urban

populations. Risk and protective factors were similar to those already found in previous

studies. In relation to rural populations in other countries, there were divergent results

regarding to prevalence and associated factors. There is a lack of information on rural

populations in this subject and a clear need for more studies.

Key Words: Alcoholism, alcohol drinking, alcohol-induced disorder, alcohol related

disorder, rural population, rural zone, prevalence.

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Resumo

Objetivo: Pesquisar a prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool e fatores

associados em um população exclusivamente rural.

Métodos: Estudo transversal de base populacional, integrante de um consórcio maior de

pesquisa rural, realizado em cidade de médio porte do sul do Brasil, com população alvo

estimada em 22.000 pessoas, utilizando o AUDIT (Alcohol Use Disorders Identificaton

Test). A análise incluiu a prevalência dos transtornos relacionados ao uso de álcool e

fatores associados, com intervalo de confiança (IC) de 95% sendo utilizada regressão de

Poisson utilizando modelo hierárquico.

Resultados: A amostra final foi de 1519 indivíduos. A prevalência de transtornos

relacionados ao uso de álcool (AUDIT ≥ 8) foi de 8,4% (IC 95% 7,0-9,8). Os fatores de

risco para transtorno relacionado ao uso de álcool foram sexo masculino (RP 7,99;

IC 95% 4,52-13,56), faixa etária entre 18-24 anos (RP 3,71; IC 95% 1,53-5,00) e

tabagismo (RP 2,15; IC 95% 1,15-5,00). Como fatores de proteção com significância

estatística encontramos a prática de religião (RP 0,38; IC 95% 0,25-0,58). Estado civil,

escolaridade e renda não estiveram associados com o desfecho estudado.

Conclusões: A prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool na população

estudada é alta, porém, em média, mais baixa do que as encontradas em populações

urbanas. Os fatores de risco e proteção foram similares aos encontrados em estudos

prévios. Em relação a populações rurais de outros países, houve divergência de

resultados de prevalência e de alguns fatores associados. Há falta de informação sobre

populações rurais e clara necessidade de mais estudos.

Descritores: Alcoolismo, consumo de álcool, transtorno relacionado ao uso de álcool,

transtorno induzido por álcool, alcoolismo, população rural, zona rural, prevalência.

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1. Introdução

O padrão de consumo de bebidas alcoólicas entre adultos da população brasileira

vem sendo objeto de diversas pesquisas nas últimas décadas. A importância de tais

estudos advém do fato de que o padrão de consumo está relacionado a diversos

problemas de saúde, além de sociais e econômicos.1

Em relatório publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no ano de

2014, o álcool, mais especificamente as bebidas alcoólicas, é descrito como substância

capaz de levar à dependência química, causador de agravos sérios à saúde, como cirrose

hepática, diversos tipos de câncer, pancreatite, entre outros. Estima-se que no ano de

2012, 3,3 milhões (5,9%) de todos os óbitos ocorridos no mundo foram atribuídos ao

consumo desta substância.2 O consumo nocivo de álcool, aquele que começa a gerar

danos mais importantes ao indivíduo, também leva a enormes custos econômicos às

nações. A Coreia do Sul, um país de renda média, teve no ano de 2006 um custo total com

o uso abusivo de bebidas alcoólicas de aproximadamente 3,3% de seu produto interno

bruto (PIB).3

No Brasil, grandes estudos nacionais têm pesquisado o consumo de álcool. O II

Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD-II), em 2012, encontrou uma

prevalência geral de dependência de álcool de 6,8%.4 Outro grande inquérito, a Pesquisa

Nacional de Saúde (PNS), realizada no ano de 2013, demonstrou uma prevalência de

10,3% de consumo abusivo de álcool, cinco ou mais doses para homens e quatro ou mais

doses para mulheres em uma única ocasião nos últimos 30 dias, nas zonas rurais do

Brasil.5

Além destes grandes estudos de âmbito nacional, uma maior quantidade de

estudos de menor porte tem sido realizados visando conhecer e estudar de maneira mais

detalhada o padrão, a prevalência e os fatores associados ao consumo de álcool no Brasil.

Um exemplo destes foi o estudo realizado em 20126, com população urbana da cidade de

Florianópolis, SC, utilizando o questionário Alcohol Use Disoorders Identification Test

(AUDIT)7, no qual foi encontrada uma prevalência de 18,4% de transtornos relacionados

ao uso de álcool. Em Pelotas, RS, no ano de 2004, em estudo também realizado com

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população urbana, demonstrou-se uma prevalência de 14,3% de consumo abusivo de

álcool (30 gramas ou mais por dia).8

Alguns fatores de risco para um maior consumo de álcool são conhecidos e

consistentes na literatura atual sobre o tema, como, por exemplo, ser do sexo masculino,

estado civil solteiro/divorciado e tabagismo. No entanto, a relação com alguns

importantes fatores sociodemográficos, como faixa etária, classe social, escolaridade,

renda, e alguns outros, não está bem estabelecida.1; 4; 5; 6; 8; 9

Apesar de o conhecimento acerca do padrão de consumo de álcool na população

brasileira ter crescido bastante, com algumas pesquisas de abrangência nacional, poucos

dados são encontrados na literatura sobre o consumo de bebidas alcoólicas em

populações rurais. Exceção feita aos grandes inquéritos que incluíram estas populações

rurais, pouquíssimos estudos dedicaram-se a estudar este tema exclusivamente nestas

populações.5; 9 Em um dos poucos estudos realizados em uma população rural do Brasil,

com comunidades quilombolas, em 2015 foi encontrada uma prevalência de 10,7% de

consumo excessivo de bebidas alcoólicas, consumo regular de 15 ou mais doses ou

esporádico de 5 ou mais doses para homens e 10 ou mais doses e 4 ou mais doses,

regular e esporádico, respectivamente, para mulheres, estando associado com maior

escolaridade, tabagismo e exercício de atividade laborativa.10 Em estudo realizado em

região rural da Índia em 2013 encontrou-se uma prevalência de 9,4% de qualquer tipo

de consumo de álcool e de 3,7% de consumo de risco. Neste estudo indiano, o consumo

de álcool esteve associado com sexo masculino, faixa etária intermediária (15-44 anos),

baixa escolaridade e tabagismo.11 Já em outra pesquisa realizada em uma população

rural do Vietnã, em 2013, os autores encontraram uma prevalência de problemas

relacionados ao uso de álcool de 11,8%, estando fortemente associado com sexo

masculino.12

O presente estudo, com delineamento transversal, de base populacional, teve

como objetivo principal estudar a prevalência dos transtornos relacionados ao uso de

álcool e fatores relacionados a eles na população rural de uma cidade de médio porte do

sul do Brasil.

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2. Materiais e Métodos

O presente estudo teve um delineamento transversal, de base populacional,

sendo realizado em indivíduos com 18 anos ou mais de idade, na zona rural do

município de Pelotas, RS. O município de Pelotas localiza-se na região sul do estado do

Rio Grande do Sul, Brasil. A população total do município, no ano de 2010, era de

328.275, sendo 22.082 destes, residentes na zona rural. Esta, por sua vez, é composta

por oito distritos, divididos de acordo com critérios do IBGE, em 50 setores censitários. 13

Este estudo faz parte do consórcio de pesquisa do biênio 2015/16 do Programa

de Pós-Graduaçāo em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).14

A amostra foi composta por indivíduos de todos os distritos da zona rural do

município de Pelotas, RS, com o tamanho da amostra do consórcio definido a partir das

necessidades de cada projeto dos nove mestrandos pertencentes a este consórcio. O

tamanho amostral mínimo necessário foi de 1440 indivíduos, para este estudo em

particular, sendo calculado no programa OpenEpi.15 Os parâmetros utilizados para o

cálculo do tamanho amostral foram uma prevalência estimada de 15% do desfecho

principal (transtornos relacionados ao uso de álcool) com erro aceitável de 3 pontos

percentuais (p.p.), efeito de delineamento de 2, intervalo de confiança de 95%, poder

estatístico de 80%, razão de Odds mínima de 1,8, acrescidos de 10% para perdas e

recusas e 15% para fatores de confusão.

O processo de amostragem foi realizado em múltiplos estágios. Inicialmente

foram sorteados 24 dos 50 setores censitários da zona rural. Após, 30 domicílios de cada

setor foram selecionados aleatoriamente para alcançar o valor amostral mínimo,

estimando-se que em cada domicílio haveria no mínimo dois adultos. Utilizou-se o

software GoogleEarth para identificação dos possíveis domicílios a serem sorteados em

cada setor.

O trabalho de campo foi realizado entre os meses de janeiro e junho de 2016. Um

grupo de entrevistadoras foi treinado na aplicação dos instrumentos da pesquisa, com

questionários eletrônicos em tablets, através do software RedCap (ResearchElectronic

Data Capture), e também em questionários tradicionais, em papel, além de terem

recebido treinamento e padronização nas aferições de medidas antropométricas. O

trabalho de campo tinha a supervisão de, no mínimo, dois mestrandos responsáveis pelo

consórcio.

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No campo de pesquisa, foi fundamental a utilização de um aparelho de GPS

(Global Positioning System). A partir de processo previamente definido para seleção

amostral, iniciava-se percurso utilizando as coordenadas geográficas fornecidas pelo

GPS, para a localização das residências a serem pesquisadas. Maiores detalhes sobre a

metodologia do trabalho de campo estão disponíveis em artigo metodológico deste

consórcio de pesquisa.

Para a avaliação do consumo de álcool, utilizamos o Alcohol Use Disorders

Identification Test (AUDIT). O AUDIT é um instrumento de rastreamento elaborado pela

OMS, já validado no Brasil.7; 16; 17, sendo constituído por dez perguntas cuja soma pode

gerar um escore de 0 a 40 pontos. A OMS7; 18 propõe uma subdivisão, de acordo com os

escores alcançados no AUDIT, em quatro categorias ou padrões de consumo de álcool: 0

a 7, uso sem risco; 8 a 15, uso de risco; 16 a 19, uso nocivo e 20 ou mais, provável

dependência. Além disso, o AUDIT é utilizado de forma dicotomizada, sendo de 0 a 7

pontos considerado uso sem risco, e de 8 a 40 pontos, transtornos relacionados ao uso

de álcool.

As variáveis de exposição estudadas foram assim categorizadas: sexo (masculino

e feminino), faixa etária (18-24, 25-39,40-59 e ≥ 60 anos), cor da pele autorreferida

(branca; negra, preta ou mulata; parda, amarela ou indígena), descendência familiar

auto referida (alemã ou pomerana; brasileira ou mista; italiana; portuguesa; africana ou

quilombola; polonesa ou polaca; outras), história familiar de problemas com uso de

álcool (não ou sim), escolaridade em anos completos (0, 1-4, 5-8, 9-11 e ≥ 12), estado

civil (casado e/ou companheiro – divorciado e/ou separado e/ou viúvo – solteiro),

trabalho atual (não ou sim), classe social(ABEP), quintis de renda familiar anual em

salários mínimos, religião (não ou sim), opção religiosa (católica, evangélica, afro -

brasileira, espírita e outras), prática religiosa nos últimos 30 dias (nenhuma ou ≥ 1 vez),

tabagismo (atual, ex-tabagista e nunca fumou), provável diagnóstico atual de

depressão(não ou sim)19; 20, uso de álcool em algum momento da vida (não ou sim),

idade em que experimentou bebidas alcoólicas (<18 ou ≥ 18 anos).

Para realizar as análises de associação, bivariada e multivariável, optou-se pelo

uso da variável de consumo de álcool dicotomizada, por questões de poder estatístico.

Nestas análises, foi utilizado o teste de heterogeneidade de Wald e de tendência para

calcular os valores de p. As análises multivariáveis foram realizadas a partir de modelo

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conceitual e teórico hierarquizado21, em quatro diferentes níveis, partindo do mais

distante para o mais proximal ao desfecho.

No primeiro nível do modelo incluímos as variáveis sexo, idade, descendência familiar e

história familiar de alcoolismo. No segundo, estado civil, escolaridade, trabalho atual,

quintis de renda, ABEP e tipo de religião. O terceiro nível foi composto apenas pela

variável prática religiosa. O quarto, e último nível hierárquico, incluiu tabagismo,

provável diagnóstico de depressão e idade em que experimentou bebidas alcoólicas.

As análises foram realizadas através de regressão de Poisson, com ajuste de

variância robusta, para o cálculo de razões de prevalência (RP), tendo permanecido a

cada nível no modelo, as variáveis com valor de p<0,20 na análise bivariada, ou aquelas

consideradas de grande relevância para o modelo teórico pensado para este estudo. Em

todo o processo de análise estatística, utilizou-se o comando SVY, para lidar com o fato

de que o processo amostral foi realizado em múltiplas etapas, sendo sorteados clusters,

e não indivíduos. As análises foram realizadas utilizando-se o pacote estatístico

Stata14.1.

O controle de qualidade foi realizado através da aplicação de questionário

contendo dez questões do questionário original. Estes foram aplicados por telefone à

10% da amostra total. A concordância foi calculada através do teste de Kappa.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Medicina da Universidade Federal de Pelotas em 11 de dezembro de 2015, com o

parecer de número 1.363.979. Todos os indivíduos que participaram da pesquisa

assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

3. Resultados

O consórcio de pesquisa identificou 1697 indivíduos residentes na zo na rural.

Destes, 1519 indivíduos completaram a pesquisa, o que caracterizou 10,5% de perdas e

recusas. O coeficiente de Kappa ponderado foi de 0,81 para questão sobre tabagismo, e

de 0,51 para a que perguntava a idade em que o indivíduo havia experimentado bebidas

alcoólicas. Da amostra, 51,7% eram do sexo feminino, 58,9% tinham trabalho no

momento da pesquisa, a maior parte se auto-definiu como branca (85,2%), 41,6%

declarou-se descendente de alemães ou pomeranos, e 25,4% de brasileiros. Quanto ao

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estado civil, 60,6% declararam ser casados ou morar com companheiro e apenas 4,4%

declararam ser divorciados ou separados. A maioria (86%) relatou ser adepto a algum

tipo de religião. Destes, 45,9% declararam-se católicos e 45,6% evangélicos. Além disso,

50,6% relataram a prática da religião no mínimo uma vez por mês.

O transtornos relacionados ao uso de álcool (AUDIT ≥ 8) foram encontrados em

8,4% dos 1519 indivíduos adultos estudados, com uma diferença marcante entre os

sexos, sendo 15,5% nos homens e 1,9% nas mulheres. Entre os padrões de consumo, o

de provável dependência apresentou uma prevalência de apenas 0,7%. (Tabela

1.)(Figuras 1 e 2 .)

Na análise multivariável encontrou-se que o risco de transtornos relacionados ao

uso de álcool foi maior no sexo masculino, (RP=7,99 [IC 95% 4,5-13,63]); a faixa etária

de 18-24 anos apresentou um risco 3,7 vezes maior (IC 95% 1,5-5,0) em relação à

categoria de 60 anos ou mais, constatando-se, além disso, que o risco diminuía à medida

em que a faixa etária aumentava (p<0,001). (Tabela 2.)

Indivíduos que autodeclararam-se evangélicos apresentaram menor risco, ou

seja, proteção, [RP=0,73 (IC 95% 0,4-1,3)], porém com o IC incluindo a unidade. A

prática religiosa uma ou mais vezes nos últimos trinta dias também foi um fator de

proteção relacionado com a presença de transtornos relacionados ao uso de álcool,

tendo aqueles que não praticaram sua religiões nos últimos trinta dias um risco 1,8

vezes maior [RP= 1,86 {1,2-2,7]). (Tabela 2.)

Também foi encontrada relação entre tabagismo e transtornos relacionados ao

uso de álcool. Após análise ajustada, os fumantes atuais apresentaram um risco 2,1 vezes

maior (IC 95% 1,2-3,7) em relação aqueles que nunca haviam fumado. (Tabela 2.)

4.Discussão

A prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool encontrada neste

estudo foi de 8,4%. No entanto, o diagnóstico de provável dependência foi de apenas

0,7%. Encontramos riscos mais elevados no sexo masculino, na faixa etária de 18-24

anos, nos que não praticavam atividade religiosa pelo menos uma vez por mês e nos

tabagistas.

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No entanto, neste estudo, não encontramos associação entre transtornos

relacionados ao uso de álcool com história familiar de problemas com álcool, estado

civil, escolaridade, renda, opção religiosa, provável diagnóstico de depressão e idade em

que experimentou bebidas alcoólicas.

Os achados de prevalência deste estudo são similares aos encontrados em alguns

estudos, porém diferentes aos encontrados em outros. A PNS, por exemplo, encontrou

uma prevalência de consumo abusivo de álcool de 10,3% em indivíduos adultos

residentes nas zonas rurais do Brasil.5; 7. Em estudo realizado em comunidades,

predominantemente rurais, quilombolas na Bahia, foi encontrada prevalência de 10,7%

de consumo excessivo. Estudo recente, realizado em algumas regiões rurais da Índia,

encontrou uma prevalência de 33,2% de consumo de risco (AUDIT ≥ 8) 22. Em 2013,

também na Índia, estudo com mesmo instrumento e ponto de corte, encontrou

prevalência de 9,4%. Tais diferenças encontradas, em parte, devem ser explicadas pelas

peculiaridades de cada população estudada. Entretanto, parte dessas diferenças devem-

se aos diferentes métodos de mensuração.

Alguns estudos realizados em populações urbanas do Brasil demonstraram

resultados tanto diferentes quantos similares aos encontrados por nós utilizando o

AUDIT com mesmo ponto de corte6; 23. As diferenças podem indicar que a prevalência e

os padrões de consumo de bebidas alcoólicas realmente sejam diferentes de acordo com

os hábitos e características de cada população.8; 23; 24.

Principalmente no Brasil, temos dificuldade em encontrar estudos realizados

exclusivamente com populações rurais. Isto limita, de certa forma, a comparabilidade

entre os resultados encontrados. No entanto, percebe-se uma tendência de valores mais

altos de prevalência em relação aos encontrados neste estudo. Além disso, analisando

resultados da PNS e de Pelotas, por exemplo, parece haver maiores prevalências de

consumo de risco em populações urbanas5; 8. A menor prevalência encontrada de

consumo de risco em nosso estudo em comparação ao realizado na zona urbana de

Pelotas possivelmente seja explicada, em parte, pelos diferentes métodos de mensuração

utilizados nos dois estudos.8 No entanto, parte desta diferença talvez possa ser explicada

realmente pelas diferenças entre os indivíduos que residem nestas duas zonas

distintas13; 25.5

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De maneira geral, a prevalência de transtornos relacionados ao uso de álcool de

8,4% mostrou-se mais baixa do que as encontradas na maioria dos estudos8; 11; 12; 23.

Além disso, a prevalência de provável dependência de apenas 0,7% foi notavelmente

menor do que as encontradas em diversos estudos nacionais1; 24; 27

É possível que estas menores prevalências, principalmente a de provável

dependência, bem como a ausência de algumas associações, estejam relacionadas ao

perfil da população estudada, a qual, boa parte, reside em áreas mais isoladas.13; 25

Talvez o estilo de vida desta população, com menor comunicação interpessoal, hábitos

mais reservados quanto à expressão de seus comportamentos e costumes, possa ter

influenciado os valores mais baixos de prevalências de nossos achados.23; 25

O fator mais fortemente associado aos transtornos relacionados ao uso de álcool

encontrado neste estudo foi pertencer ao sexo masculino. Este achado corrobora os

encontrados em praticamente todos os estudos sobre o tema.8; 9; 23 A literatura ainda não

tem explicações sólidas para tal achado. Entretanto, os autores acreditam que uma

combinação de fatores genéticos e comportamentais inerentes ao sexo expliquem essa

forte associação26.

Em relação à faixa etária, encontrou-se como fator de risco pertencer à situada

entre 18-24 anos. Este achado vai ao encontro dos demonstrados por alguns autores,

porém divergem dos encontrados por outros8; 23. Alguns fatores poderiam atuar como

risco para os mais jovens, como a fase transicional de vida, com a entrada na vida adulta,

uma maior frequência de conflitos pessoais e familiares e uma maior susceptibilidade às

apelativas campanhas publicitárias que incentivam o consumo. De maneira geral, a

maior parte dos estudos encontra maiores riscos em populações mais jovens 8; 27; 28.

Este estudo não encontrou associação entre estado civil e maior risco de

transtornos relacionados ao uso de álcool. Encontrou-se maiores riscos entre os

solteiros, assim como muitos estudos, porém sem significância estatística na análise

ajustada.6; 29; 30 Tal achado pode ser entendido de diversas maneiras. Talvez aqueles que

estejam em, relacionamentos mais estáveis apresentem melhores hábitos relacionados à

saúde e, consequentemente, menor consumo de bebidas alcoólicas. 30; 31

Em relação à opção religiosa, encontramos resultados que seguem a mesma

direção da grande maioria dos estudos sobre o tema. Indivíduos que alegam ser adeptos

de religião evangélica apresentam proteção a ter transtornos relacionados ao uso de

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álcool27. Além disso, indivíduos que praticam suas religiões, ou seja, frequentam uma vez

ou mais por mês os locais de prática, também apresentaram proteção a ter este tipo de

transtorno. Provavelmente tal associação protetiva também esteja relacionada a um

contexto mais amplo de suporte e apoio social. Além disso, também pode-se tentar

compreender tal proteção pensando nos dogmas e orientações de cada religião, que

podem ser seguidos mais fortemente pelos adeptos a algumas. 27

Este estudo também encontrou associação positiva entre tabagismo e transtornos

relacionados ao uso de álcool. Os tabagistas apresentaram maior risco do que os ex -

fumantes e do que aqueles que nunca fumaram. Tal achado corrobora os encontrados na

literatura atual8; 11; 22; 23. Provavelmente a explicação para esta dupla adição esteja na

complexa interação genético-ambiental32; 33.

O grande diferencial desta pesquisa está no fato de ser um estudo de base

populacional realizado em uma população exclusivamente rural. No entanto, algumas

limitações deste estudo são relevantes e devem ser discutidas. A melhor forma

encontrada para realizar um processo amostral adequado para este estudo pode ter

levado à possibilidade de que domicílios muito distantes, realmente isolados, possam

não ter tido a mesma chance de entrar na pesquisa. Entretanto, mesmo que possa ser

uma limitação, acredita-se que não tenha sido capaz de distorcer os resultados. Além

disso, e muito importante, o consumo de álcool foi pesquisado através da aplicação de

questionário por entrevistadoras, o que pode ter levado alguns indivíduos, por

constrangimento, a minimizar seus padrões de consumo de bebidas alcoólicas.

A pesquisa chega à conclusão de que, como em todo o país, a prevalência de

problemas relacionados ao uso de álcool é alta e preocupante. Os fatores de risco para

apresentar tais problemas tendem a se repetir nos diversos estudos realizados em

diversos contextos, o que torna mais fácil a adoção de medidas de saúde pública em

níveis diferentes de prevenção. Há uma evidente falta de dados sobre este tema em

populações rurais. Certamente mais estudos devem ser realizados com estas populações

com intuito de conhecer de maneira mais aprofundada suas características e

necessidades.

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13. Tabelas e Figuras Tabela 1. Descrição das características sociodemográficas, comportamentais e de saúde de indivíduos

com 18 anos ou mais de idade residentes na zona rural do município de Pelotas, RS, em 2016. (N=1519)

Características

%

N*

Sexo

Masculino 48.3 734 Feminino 51.7 785 Faixa Etária (anos) 18-24 11,5 174 25-39 22,5 341 40-59 39,0 593 60 ou mais 27,0 411 Cor da Pele Branca 85,2 1296 Preta/Negra 6,1 92 Mulata/Parda 6,7 101 Amarela 1,4 21 Indígena 0,6 9 Descendência Familiar

Alemã/Pomerana 41,6 632 Brasileira/Mista 25,4 386 Italiana 11,3 171 Portuguesa 5,8 88 Africana/Quilombola 4,9 75 Polonesa/Polaca 0,9 14 Outras 10,1 153 História familiar de problemas com álcool

Não 70,9 1074 Sim 29,1 441 Escolaridade 0 2,6 39 1-4 28,6 435 5-8 42,7 648 9-11 23,7 360 12 ou mais 2,4 37 Estado Civil Casado/Companheiro 60,6 920 Divorciado/Separado 4,4 67 Solteiro 26,1 397 Viúvo 8,9 135 Trabalho atual

Não 41,1 624 Sim 58,9 895 ABEP A 1,7 25 B 19,2 291 C 53,5 814 D 21,3 324 E 4,3 65 Renda familiar£ 1° 20,1 286 2° 19,9 284 3° 20,1 286 4° 20,1 286 5° 19,8 282 Religião Não 14,0 212

Sim 86,0 1307

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Opção religiosa Evangélicos 45,6 595 Católicos 45,9 599 Espíritas 2,9 38 Afro-brasileiras 0,9 11 Outra 4,7 61 Prática religiosa (n/mês)

0 49,4 660

1 ou mais 50,6 645

Tabagismo Nunca Fumou 65,0 987 Ex-Fumante 18,7 285

Fumante Atual 16,3 247

Diagnóstico de Depressão§

Não 89,2 1287 Sim 10,8 155 Uso de álcool Nunca usou 11,1 169 Pelo menos 1x 88,9 1350 Idade em que experimentou bebida alcoólica

< 18 anos 67,2 497 18 ou mais 32,8 1022 Transtorno relacionado ao uso de álcool¥

Não 91,6 1392 Sim 8,4 127 Padrão de consumo de bebidas alcoólicas€

Nunca bebeu 11,1 169 Uso sem risco 80,4 1221 Uso de risco 6,9 105 Uso nocivo 0,9 14

Provável Dependência 0,7 10

* diferentes valores amostrais devido a missing. £ Renda familiar anual em quintis de salários mínimos §Escala de depressão pós-natal de Edimburgo – ponto de corte>=13 ¥ Instrumento AUDIT – ponto de corte = 8 € Instrumento AUDIT – 0 a 7, 8 a 15, 16 a 19 e 20 ou mais.

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Tabela 2. Análise multivariável entre o Transtorno rel acionado ao uso de álcool (AUDIT>7) e variáveis

sociodemográficas, comportamentais e de saúde.

Análise Bruta

Análise Ajustada

N(%)

Valor de P

RP(95% IC )

N(%)

RP(95% IC)

Nível¢

Sexo

P<0,001# P<0,001#

Masculino 112(15,3) 7,99(4,61-13,80) 112(15,3) 7,99(4,65-13,73)

Feminino 15(1,9) 1 15(1,9) 1

Faixa Etária# P<0,001## P=0,001##

18-24 22(12,6) 3,99(1,83-8,70) 22(12,7) 3,71(1,53-5,00)

25-39 36(10,6) 3,34(1,80-6,13) 36(10,6) 3,03(1,60-5,71)

40-59 56(9,4) 2,99(1,68-5,29) 56(9,4) 2,77(1,75-7,84)

≥ 60 13(3,2) 1 13(3,2) 1

Cor da Pele P=0,278# P=0,163#

Demais

2(6,7) 0,84(0,19-3,55) 2(6,7) 0,67(0,17-2,67)

Negra/Preta

Mulata/Parda

22(11,4) 1,42(0,92-2,23) 22(11,4) 1,43(0,99-2,06)

Branca 103(8,0) 1 103(8,0) 1

História

familiar de

problemas com

álcool

P=0,187#

P=0,068#

Não 82(7,6) 0,76(0,50-1,14) 82(7,6) 0,72(0,50-1,02)

Sim 44(9,9) 1 44(9,9) 1

Nível£

Escolaridade P=0,131# P=0,962#

0-4 30(6,3) 0,46(0,14-1,05) 30(6,3) 0,48(0,22-,1,06)

5-8 64(9,9) 0,61(0,24-1,49) 64(9,9) 0,68(0,33-1,39)

9-11 27(7,5) 0,46(0,21-1,00) 27(7,5) 0,38(0,19-0,79))

≥ 12 6(16,2) 1 6(16,2) 1

Estado civil P=0,015# P=0,327#

Solteiro 55(13,9) 2,,05(1,27-3,32) 55(13,9) 1,39(0,83-2,31)

Divorciado

Viúvo/Separado

10(4,9) 0,73(0,40-1,32) 10(5,0) 1,28(0,68-2,41)

Casado 62(6,7) 1 62(6,7) 1

Trabalho atual P<0,001# P=0,11#

Não 29(4,7) 0,42(0,29-0,60) 29(4,7) 0,71(0,47-1,09)

Sim 98(11,0) 1 98(11,0) 1

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# valor de P de teste de heterogeneidade. ## valor de P de tendência linear. ¢ Análise ajustada para todas as variáveis do primeiro nível hierárquico: sexo, faixa etária, cor da pele, história familiar. £ Análise ajustada 1° nível e para as variáveis do 2°: escolaridade, estado civil, trabalho atual, renda familiar e opção religiosa. ¥ Análise ajustada para as variáveis dos níveis superiores, e para prática religiosa. € Análise ajustada para as variáveis que permaneceram até o terceiro nível, além de tabagismo. diagnóstico atual de depressão e idade em que experimentou álcool.

ABEP P=0,120 P=0,142

A 4(16) 1,15(0,41-3,24) 4(16,0) 1,15(0,41-3,24)

B 30(10,3) 0,74(0,27-2,04) 30(10,3) 0,74(0,27-2,04)

C 55(6,8) 0,48(0,19-1,20) 55(6,8) 0,48(0,19-1,20)

D 29(9,,0) 0,64(0,28-1,48) 28(8,7) 0,64(0,28-1,48)

E 9(13,9) 1 9(13,9) 1

Renda familiar!

P=0,564#

P=0,409#

1 24(8,4) 1,12(0,57-2,20) 24(8,4) 0,82(0,43-1,72)

2 16(5,6) 0,75(0,39-1,44) 16(5,6) 0,59(0,33-1,05)

3 26(9,1) 1,22(0,60-2,47) 26(9,1) 0,83(0,41-1,70)

4 25(8,7) 1,17(0,63-2,17) 16(8,7) 0,93(0,50-1,65)

5 24(7,4) 1 24(7,4) 1

Opção Religiosa P=0,012## P=0,051#

Evangélicos 33(5,6) 0,47(0,28-0,78) 31(5,5) 0,73(0,41-1,31)

Outras 8(7,3) 0,61(0,28-1,32) 5(5,0) 0,90(0,45-1,79)

Católicos 61(10,2) 0,86(0,57-1,30) 53(9,4) 1,28(0,83-1,98)

Sem religião

25(11,8) 1 23(11,7) 1

Nível¥

Prática

religiosa

P<0,001# P=0,002#

Nenhuma/mês 73(11,3) 2,58(1,71-3,87) 65(10,7) 1,86(1,27-2,70)

≥ 1 /mês 29(4,4) 1 24(3,9) 1

Nível€

Tabagismo P<0,001# P=0,038#

Fumante 43(17,4) 3,06(1,92-4,89) 43(17,4 2,15(1,22-3,78)

Ex-fumante 28(9,8) 1, 73(1,19-2,50) 28(9,8) 1,57(0,98-2,52)

Nunca fumou 56(5,7) 1 56(5,7) 1

Diagnóstico

atual de

depressão

P=0,472# P=0,645#

Não 114(8,9) 0,79(0,40-21,53) 83(8,0) 0,82(0,34-1,94)

Sim 11(7,1) 1 4(3,3) 1

Idade em que

experimentou

bebida alcoólica

P=0,025#

P=0,344#

<18 anos 65(8,3) 1,57(1,06-2,3) 65(8,3) 1,21(0,80-1,85)

>18 anos 22(5,9) 1

22(5,9) 1

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Figura 1. Prevalência de Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool (AUDIT≥8)

Figura 2. Padrão de Consumo de Bebidas Alcoólicas

91,6

8,4

15,5

1,9

0

20

40

60

80

100

Sem Risco TranstornosRelacionados ao

Uso de Álcool

Homens Mulheres

Prevalência de Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool

91,5

6,9 0,9 0,7

0

20

40

60

80

100

Uso Sem Risco Uso Com Risco Uso Nocivo Provável Dependência

Padrão de Consumo de Bebidas Alcoólicas

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14 Nota para Imprensa

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Pesquisa da UFPel avalia consumo de álcool na população rural de Pelotas Um em cada doze moradores da zona rural de Pelotas consome bebidas de álcool em quantidades que representam risco para a saúde. É o que mostra estudo inédito da Universidade Federal de Pelotas, que investigou o consumo de bebidas alcoólicas entre pessoas de 18 anos de idade ou mais nos oito distritos da zona rural do município. “ ão raros os estudos sobre o consumo de bebidas alcoólicas exclusivamente em populações rurais. O consumo exagerado, de risco, está ligado a doenças como cirrose, pancreatite e câncer. Nossa pesquisa investiga o hábito pela primeira vez na zona rural de Pelotas, preenchendo essa lacuna e atendendo à sugestão de lideranças comunitárias da região”, afirma o médico psiquiata Gustavo Pêgas Jaeger, autor do trabalho de dissertação sobre o tema, desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, sob orientação da professora Mariângela Freitas da Silveira. A coleta dos dados integrou o inquérito da Pesquisa sobre a Saúde da População Rural de Pelotas, realizada pelo curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel. Entre janeiro e junho de 2016, o estudo entrevistou 1519 moradores da zona rural na faixa etária a partir dos 18 anos. Os participantes responderam a questões sobre a frequência e a quantidade do consumo de bebidas alcoólicas e sobre a preocupação de médico, familiares ou amigos em relação ao hábito do entrevistado. De acordo com as respostas, os participantes somaram de 1 a 40 pontos, com o escore de oito pontos para classificação de consumo de risco de álcool. “Esse escore sinaliza o consumo de bebidas de álcool que começa a gerar danos à saúde de quem bebe: uma agressão pequena ao fígado, uma gastrite, um risco maior de se envolver em acidentes de qualquer tipo, de assumir comportamento violento”, explica Jaeger. Os resultados apontam 8,4% de pessoas com consumo de risco de álcool na população rural. A prevalência é maior entre os homens, com proporção de oito homens para cada mulher com consumo de risco. Em relação à idade, quanto mais jovem, maior a propensão ao comportamento. O consumo de risco é mais frequente entre os jovens de 18 a 24 anos do que entre os adultos de 25 a 39 anos – nessas duas faixas etárias, é três vezes maior do que na faixa etária a partir dos 60 anos. Os dados também revelam maiores prevalências entre os que vivem sem companheiro, experimentaram o álcool antes dos 18 anos e são tabagistas. Além disso, os índices de consumo de risco tenderam a ser menores entre os praticantes de religião evangélica. “O senso comum propaga que o consumo de bebidas de álcool é alto na zona rural, mas nosso estudo quantifica isso, apresenta dados concretos sobre a questão. Quase uma em cada dez pessoas tem problemas com álcool nessa população, e os dados despertam preocupação com o maior número entre os mais jovens. Os resultados fornecem subsídios para o planejamento de políticas na região, apontando para estratégias de prevenção do início precoce, antes dos 18 anos, e para intervenções dirigidas em especial ao público masculino”, conclui o autor.