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o e s s e n c i a l s o b r e

o capital social

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O Capital SocialJorge almeida

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9 Introdução

i13 O que é o capital social

ii37 Tipos de capital social

iii55 Verso e reverso do capital social

iv73 Capital social e desenvolvimentoeconómico

v87 Capital social em Portugal

vi97 Vozes críticas

vii105 Conclusões

109 Leituras sugeridas

113 Notas

Índice

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... para a minha Mãe, umalutadora indómita.

Jorge Almeida

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Introdução

A ideia de capital social parte da constataçãoóbvia que as nossas relações interpessoais con-tam,que aforma de nosassociarmos,comquem,onde e para quê, tem uma influência decisiva nanossa vida, na vida da nossa comunidade e deforma agregada na nossa sociedade.

Intuitivamente percebemos que uma socie-dade atomizada, em que as pessoas estão afas-tadas umas das outras, em que não comunicamnem se agregam, não pode funcionar tão bemcomo outra sociedade em que os cidadãos desen-volvem laços comunitários, participam na vidapública, e se associam para os mais diversos finsdesde os desportivos e recreativos, aos sindicaisou políticos.

O Conceito de capital social veio dar umaformulação exacta e científica a esta percepção.Inúmeros estudos têm sido feitos nos últimosanos demonstrando a influência do capital social

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em múltiplas áreas da actividade humana, desdeo desenvolvimento económico à qualidade dademocracia.

No decurso da elaboração da minha tese dedoutoramento em Sociologia verifiquei que nãoexiste em língua portuguesa qualquer trabalhoque apresente de forma resumida, simples e di-recta os principais conceitos do capital social.Nasceu assim o projecto de contribuir para aeliminação desta lacuna, disponibilizando umpequenoopúsculoque,dirigidoaoleigo,apresen-tasse, de forma sucinta, o capital social, sua gé-nese e suas consequências.

Felizmente existem diversos trabalhos cientí-ficos,degrandequalidade,deinvestigadorespor-tugueses que utilizam e aprofundam o conceitode capital social – com especial destaque paraos trabalhos dos Professores José Manuel LeiteViegas, André Freire e Luís de Sousa.

Levar a cabo este trabalho não teria sido pos-sívelsemoapoiodeumconjuntoalargadodepes-soasdequequerodestacarnoplanopessoalami-nhamulherIldaeosmeusdoisfilhosGuilhermeeMatildeenoplanoacadémicopelomuitoquemeensinaramemtermosderigoranalíticoemetodo-lógico os Professores António Firmino da Costa,Fernando Luís Machado e José Luís Casanova emuito especialmente o Professor André Freire,meu orientador. Também uma palavra de grandereconhecimentoaoDoutorEstêvãodeMouraeaoDr. Duarte Azinheira pelo acolhimento caloroso

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doprojectoeportodooapoioquesemprerecebidaImprensa Nacional-Casa da Moeda.

Por último um especial agradecimento aosmeus pais, Ramiro e Edite Almeida, pela curio-sidade que sempre me incutiram, pelos valoresque me transmitiram e pelo exemplo de traba-lho, perseverança, rigor, coragem e estoicismoque sempre deram.

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Capítulo iO que é o capital social

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Na primeira década do terceiro milénio danossa era um conceito, que foi desenvolvido teori-camentenoúltimoquartodoséculoanterior,mascuja origem se pode encontrar cerca de 70 anosantes, tem vindo asertestadoeconfirmado numconjunto alargado de estudos quer nos EstadosUnidos quer noutros continentes: o conceito decapital social.

A saúde mental e física dos indivíduos, o de-senvolvimento económico das sociedades, o graude desigualdades sociais e o vigor e a qualidadedos sistemas democráticos, são algumas dasáreasemqueograueotipodecapitalsocialexi-bido pelos indivíduos e pelas comunidades temimpacto comprovado.

No século iv antes de Cristo, Aristóteles es-creveu na sua obra Política que o Homem é umanimal social. Desde a infância aos seus últimosdiasoserhumanovivenumateiamaisoumenosdensaderelaçõessociaisehumanas.Primeironoseio da família com os pais ou seus substitutos eoutros familiares próximos.

Depois, quando jovem, os relacionamentosmultiplicam-se, estruturam-se e alguns insti-tucionalizam-se mesmo. Nas brincadeiras unssão índios e outros cowboys e para jogar futebolou outros desportos formam-se equipas, distri-buem-se papéis. Algumas organizações institu-cionalizam-secomoasassociaçõesdeestudantesou os grupos de escuteiros prosseguindo para láda saída dos seus fundadores.

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Na idade adulta o ser humano procura denovo socializar, no trabalho, no lazer, na cul-tura, no desporto e mesmo na intervenção cí-vica na comunidade onde se insere. Cada pes-soa tem a sua rede de relacionamentos, desdeos mais fortes, normalmente com a famíliamais próxima, aos mais frouxos. Cada pessoaintervém num número, naturalmente variável,de instâncias.

O número e o tipo de relações em que um in-divíduoseenvolvetêmumimpactodeterminantena sua vida. Porque desses relacionamentos eleretira satisfação pessoal e benefícios materiais eimateriais. Benefícios que são um recurso de quedispõe. Um capital social.

Num estudo pioneiro, publicado sob o títuloPôr a Democracia a Funcionar 1,sobreaexperiên-cia de regionalização italiana, Robert D. Putnamidentificou o capital social das comunidadescomo o principal factor explicativo das diferen-ças abissais de desempenho verificadas entre osvários governos locais. Mais do que o grau dedesenvolvimento económico, que era obviamenterelevante, mais do que as escolhas eleitorais doscidadãos, e Putnam verificou que as regiões go-vernadas pelo Partido Comunista Italiano ti-nham melhor desempenho que as lideradas poroutrosagrupamentospolíticos,maisdoquetodas

1 Making Democracy Worknotítulooriginal,livropublicadopelaPrincetonUniversityPressem1994.

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as outras possíveis explicações, o factor que me-lhor esclarecia as diferenças de resultados dosvários governos regionais ao fim de quase duasdécadas decorridas após a reforma institucionalera o capital social.

Putnam constatou que as regiões com maiorcapital social se desenvolveram economicamentemais depressa, criaram melhores infra-estruturase equipamentos sociais e diminuíram desigualda-des. Nestas zonas os cidadãos intervinham regu-larmente, votando, mas também participando emassociaçõescívicasepolíticaseapoiandocausasge-néricas.Osgovernoseramaquimaisestáveiseaten-diam às preocupações dos eleitores. Inversamenteas regiões de menor capital social, cresceram o seuproduto económico a ritmo inferior à média nacio-nal, não conseguiram construir os equipamentosescolares,desaúdeesociaisnecessáriosàsuapopu-lação e não conseguiram fazer recuar as desigual-dades.Aquioscidadãosnãointervinham,ataxadeabstenção eleitoral era maior, a participação cívicareduzida e os interesses defendidos apenas os indi-viduais e ou de índole familiar. Os governos eramineficientesemuitoinstáveis.

Este trabalho abriu caminho a uma miríadede estudos que visam examinar, identificar emedir o impacto do capital social das elites, dosindivíduos e das comunidades.

De uma forma simplificada, podemos afirmarque o consenso, embora com algumas vozes qua-lificadas discordantes, aponta para a existênciade uma relação entre o grau e o tipo de capital

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social e o grau de desenvolvimento económico esocial. Ainda mais simplificadamente diríamosque em sociedades de baixo capital social é ex-pectável encontrar graus e ritmos de desenvol-vimento inferiores e maiores desigualdades derendimentos e oportunidades.

Definição do conceito

A Sociologia é, ao contrário da generalidadedas ciências ditas «duras», uma ciência pluri-paradigmática, pelo que, neste nosso objectivode definir o conceito de capital social, teremosque explorar não uma única linha de aprofun-damento e alargamento do conhecimento, comoo faríamos se o nosso objecto se inserisse, porexemplo, no âmbito da Química, mas várias que,por seu turno, também se bifurcam.

O pluriparadigmatismo da Sociologia não so-breveio no decurso da sua evolução, não emergecomo ramificações, embora estas tenham tam-bém a seu tempo acontecido, de um tronco co-mum, antes, se é lícita a metáfora, nasce de di-ferentes sementes lançadas ao solo, i. e. surgelogo com os seus «Pais» fundadores, com os seusgrandes autores clássicos. Apesar das várias ten-tativas de síntese, estas não conseguiram maisdo que tornar-se novas sementes originárias denovas árvores na floresta cada vez mais densa daSociologia.

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Por essa razão encontram-se conceitos decapital social muito diferentes e diversos. Nãopodemos elencá-los todos num trabalho curto esucinto como este se pretende, para que possaservir eficazmente de introdução a este tema.Assim, após uma breve nota sobre os primeirosautores a usar a expressão capital social, aborda-remos um pouco mais em profundidade as ideiasdos quatro sociólogos que mais se destacaramno estudo do capital social. Pierre Bourdieu, opioneiro, o primeiro a apresentar um conceitoestruturado de capital social, depois James S.Coleman que desenvolveu uma aproximação aocapital social do ponto de vista racional, RobertD. Putnam que efectuou os estudos mais exten-sosemaisinteressantessobrecapitalsocialequeo popularizou e finalmente Nan Lin o brilhanteacadémico norte-americano que tem propostouma visão original desta temática.

Os precursores

Lyda Judson Hanifan (1879-1932), nascido naVirgíniaOcidentaleresponsável porumagrandereforma educativa nesse estado norte-americanopor altura da I Grande Guerra, foi um dos queprimeiro utilizou a expressão capital social.

Para Hanifan o capital social derivava docontactosocial,nomeadamentenasuaVirgíniarural do início do século xx, do convívio entrevizinhos e consubstanciava-se em aspectos

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intangíveiscomoaboavontade,asimpatiamú-tua, conhecimento pessoal. E foi mesmo maislonge ao perceber e afirmar que o capital so-cialpoderiapotenciaramelhoriadascondiçõesmateriais dos indivíduos e das comunidades.

OutrosautorescomoaurbanistaJaneJacobs(1916-2006) e o economista Glenn Loury i peloscontributos que deram para esta temática sãotambém unanimemente considerados precurso-res do conceito de capital social.

Jacobs falou-nos de capital social no âmbitoda sua análise da vida e morte das cidades ame-ricanas e associou-o à diversidade, humana eeconómica, um elemento essencial para o desen-volvimento, consolidação e expansão das urbes edas nações.

Loury(nascidoem1948),umafro-americanoconservador próximo dos neo-liberais que che-gouaintegrarogovernodeRonaldReagancomosubsecretário da Educação, criou um modelo deanálise explicativo das diferenças de rendimen-tos dos diferentes grupos raciais nos EstadosUnidos.

Partindo da constatação que as diferençasde rendimentos advêm do tipo de trabalho (es-pecializadoouindiferenciado)quecadaumexe-cuta e de que o trabalho especializado se obtémcom investimento em educação, Loury teorizouque os níveis de educação atingidos por cada jo-vem dependem de três variáveis: i) capacidades

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inatas, ii) nível de rendimentos e instrução dafamiliar, e iii) ambiente comunitário onde seinsere.

As capacidades inatas estão igualmente dis-tribuídas entre os jovens, independentementeda raça e das características das famílias. Seriaassim de esperar que para o mesmo tipo de fa-mília o grau de educação atingido fosse igualpara todos os grupos étnicos. Contudo tal nãose verificava – o estudo foi efectuado no finaldos anos 70 do século xx – e, lamentavelmente,continuaanãoseverificaremmuitospaíses,in-cluindo Portugal.

A explicação só podia então ser encontradano ambiente comunitário. Loury constatouque enquanto os americanos brancos viviamem comunidades estratificadas por rendimen-tos, os afro-americanos não podendo integraras comunidades correspondentes ao seu nívelsocial, viviam em comunidades constituídasem base racial. Mesmo os filhos de afro-ame-ricanos que poderiam beneficiar de uma escolamelhor e das vantagens de uma comunidademais afluente, eram confrontados com esco-las degradadas características de bairros maispobres, obrigados a crescer com colegas menosdotados moral e socialmente e a pertencer auma comunidade mais frágil. Assim à descri-minação de rendimentos, existente nas duascomunidades étnicas, esses afro-americanossomavam a descriminação de terem de se con-finar a guetos raciais.

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Dir-se-ia,naactual linguagemdateoriadoca-pitalsocial,queos jovensafluentesafro-america-nos eram confinados em comunidades de menorcapital social não podendo, dessa forma, benefi-ciardeníveisdecapitalsocialsemelhantesaodosseus contrapartes brancos.

Poderíamos, com razão, criticar Loury, porcontemporizar com a segregação residencial ba-seadanosrendimentoseporareivindicarparaosafro-americanos. Preferimos, contudo, e realisti-camente considerando a sociedade americana daépoca, salientar que essa segregação residencialexistente entre as comunidades brancas e negadaaos afro-americanos era de facto um dos factoresdeimpedimentodoacessodosjovensafro-ameri-canos a profissões mais qualificadas.

Pierre Bourdieu – Primeiroconceito de capital social

Oprimeiroautoradefinirclaramenteumcon-ceito estruturado e científico de capital social foio sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2003),que vê o capital social como uma das três formasde capital:

… o capital pode apresentar-se emtrês formas fundamentais: como ca-pital económico, que é directa e ime-diatamente convertível em dinheiro, e

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pode ser institucionalizado na formade direitos de propriedade; como ca-pital cultural, que é convertível, emcertas condições, em Capital econó-mico e pode ser institucionalizado naforma de qualificações académicas; ecomo capital social, constituído porobrigações sociais (conexões) que éconvertível, sob certas condições, emCapital económico, e pode ser institu-cionalizado na forma de um título denobreza … ii

Para Bourdieu as três formas de capital – ca-pital económico, capital cultural e capital social –podem ser convertidas, em certas circunstânciasumas nas outras, num processo que chama detransubstanciação.

Pierre Bourdieu define então capital socialcomo uma das formas de capital, e como sendo oconjunto de recursos de uma rede de contactos,ou de um grupo, que um indivíduo pode mobili-zar. O capital social assemelhar-se-ia a um reser-vatóriocolectivodecapitalaquecadamembrodogrupo poderia recorrer, em certas circunstâncias.Seria assim uma parte dos recursos alheios, per-tencentesaosoutrosmembrosdeumdadogrupoque, em condições pré-determinadas, um indiví-duo poderia reclamar para si.

Oacessoaestetipodecapital,ocapitalsocial,seria obtido através da pertença a uma rede ex-clusiva, normalmente identificada por um nome,

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título ou símbolo, e através do preenchimento deuma série de actos específicos:

Para Bourdieu o capital social era essencial-mente construído, uma vez que estas redes e co-nexões não são inatas mas antes laboriosamenteedificadas pelos indivíduos. Nesse sentido nãobastariaser-se,porexemplo,nobre,masanobreza,por assim dizer, para além do nascimento teria deser construída através da criação de redes sociaiscomaspessoasadequadas.Esseprocessoinicia-sena família, os amigos dos pais e os filhos destes,continuanaescolhadaescolaeconsequentementedoscolegaseamigosdeliceueuniversidadeecon-solida-se ao longo da vida profissional e social.

Mas, no fundo, este património colectivo, se-ria constituído essencialmente pelo capital eco-nómico e cultural possuído pelos membros darede, embora o capital social pudesse exercer umefeito multiplicador sobre esses recursos:

Ovolumedecapitalsocialpossuídoporum dado agente depende assim da di-mensão da rede de conexões que podeefectivamente mobilizar e pelo volumede capital (económico, cultural e sim-bólico)decadaumdosindivíduosaqueestá conectado. iii

Essas redes são constituídas essencialmentepor pares, i. e. por indivíduos com níveis eleva-dos de capital económico e capital cultural. Paratercapitalsocialénecessário,pois,possuirouterpossuído capital económico ou capital cultural.

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O capital social seria, então, exclusivo daclasse dominante, a classe Capitalista, comomuitobemassiná-laJonhField:«Elecertamentevê o capital social como propriedade exclusivadas elites.» iv

James Coleman: Uma visãoracionalista

Numa linha diferente, assente na perspectivado individualismo metodológico e da escola daEscolha Racional, o sociólogo norte-americanoJamesS.Coleman(1926-1995)desenvolveuoutraperspectiva do conceito de capital social.

Para ele o capital social deve ser definido pelasuafunçãofacilitadoradaacçãodosactores,sejamestesindivíduosouentidadescolectivas.Essafun-çãofacilitadoraéasseguradapordiversosaspectosdasestruturassociais.Destaformaocapitalsocialnãoseriaumaentidadeúnicamassimconstituídopor uma pluralidade de entidades:

O capital social é visto como um bem público,umtipodebemqueapresentaduascaracterísticasessenciais:

i) Não-rival – a sua utilização/consumo por uma pessoa não reduz a possibilidade de utilização/consumo dos outros; e ii) Não-excluível–nãopermitequeninguém dele seja excluído.

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O exemplo típico de um bem público é o ar.O ar respirado por uma pessoa não reduz a pos-sibilidade dos outros respirarem e por outro ladoninguém pode ser excluído da utilização do arna Terra. Naturalmente que com a crescente po-luição atmosférica alguns autores questionam jáse o ar se manterá como bem público por muitotempo.

Claramente que Coleman associa o capi-tal social a um bem público. Desde que existatodos dele podem participar. Esta visão é ra-dicalmente diferente da que encontrámosem Bourdieu que associava o capital social acapital apropriável por um grupo restrito deindivíduos.

Robert D. Putnam:A consolidação do conceito

Na senda de Coleman vem Robert D.Putnam. No seu trabalho sobre os governos re-gionais italianos, Putnam conclui que um dosfactores que explicava o desempenho muitodesigual destas instituições era o capital socialdiferente de que cada região dispunha. Estaobra conserva um entendimento do capital so-cial muito próximo do de Coleman e cito: «porcapital quero dizer, aspectos da vida social –redes, normas e confiança – que permitem aosparticipantes agir em conjunto para alcançarobjectivos comuns». v

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Temos assim três elementos chave no capitalsocial:

• Redessociaisaqueosindivíduospertencem (família, amigos, associações culturais, re- creativas,sindicais,políticas,etc.); • Normas que essas relações pessoais permi- temdesenvolvereconsolidar; • Confiança quer nos outros indivíduos, quer nas instituições.

É com base nestes três elementos que se de-senvolveram técnicas de aferição do capital so-cial, medindo o número e o tipo de pertençasa associações e redes informais, os níveis deConfiança e as normas seguidas pelos indivíduosou presentes numa sociedade.

Putnam dá uma forte primazia ao estudo dasassociações voluntárias, escolas de democracia edecooperação,dasredesinformaisedaconfiança.E estudos como o seu colossal Jogando Bowling Sozinho 2 são um marco na utilização de múltiplosindicadores provenientes de várias fontes paraanalisar o capital social nos Estados Unidos.

A Confiança

Abrimos aqui um pequeno parêntesis paraumas breves palavras sobre a Confiança, um dos

2 Bowling Alone no título original, livro editado por Simon &SchusterPaperbacksem2000.

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elementos centrais do capital social. Mas o queé a Confiança? Para percebermos bem o que é aconfiança é preciso primeiro definir-lhe os con-tornos, isto é precisar o seu conceito, e depoisdeterminar a sua função social.

O conceito de Confiança não é exclusivo daSociologiasendoutilizadonumconjuntoalargadode outras ciências e ramos do conhecimento, nointerior dos quais se encontram também visõesdivergentes. McKnight encontrou dezenas de de-finições diferentes de Confiança vi.

No entanto o enfoque das diferentes ciênciasé muito distinto. Por exemplo a Psicologia privi-legia o estudo da Confiança na perspectiva dasrelações interpessoais e das dinâmicas de grupo,enquantoaEconomiadámaiorênfaseàsquestõesda reputação dos agentes e dos custos de tran-sacção.Pornossapartevamosconcentrar-nosnoque a Sociologia tem a dizer sobre a Confiança.

Um dos primeiros sociólogos a reflectir sobre

a Confiança foi Georg Simmel (1858-1918). Fê-lode forma breve, em cerca de 10 páginas, disper-sas por várias obras, mas de forma de tal modobrilhante e profunda que ainda hoje é um dosautores mais citados a propósito do conceito deConfiança. A sua definição é simples e sucinta: aconfiança é «uma forma fraca de conhecimentoindutivo» vii. Isto é, partindo de alguns indícios oindivíduo generaliza e forma expectativas sobreacontecimentos ou sobre pessoas. Sem essas ex-pectativas a vida torna-se impossível.

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Por exemplo Simmel refere que o agricultornão semearia os seus produtos se não tivesseConfiança que estes se desenvolveriam. Em quese baseia essa Confiança? Na experiência pas-sada, isto é na generalização dessa experiência,isto é num conhecimento indutivo. No entanto,este não é base suficientemente sólida para con-cluir que o que aconteceu no passado se passarátambém no futuro. Daí que esta forma de conhe-cimento indutivo seja fraca.

Simmel acrescenta contudo que em certos ti-pos de Confiança, nomeadamente nalguns casosde Confiança interpessoal, existe outro elementopresente, um ingrediente irracional: uma Fé dotipo quase religioso. Este elemento explicariacomo é que por vezes confiamos em algumaspessoassemmesmotermosumabasemínimadeexperiência em comum com elas.

Mas o primeiro a elaborar explicitamente oconceito de Confiança de um ponto de vista teó-ricofoiosociólogoalemãoNiklasLuhmann(1927--1998).NumadassuasprincipaisobrasConfiança: Um Mecanismo de Redução da Complexidade Social 3 viii foi publicada em 1968 sendo, pois, umtrabalho perfeitamente contemporâneo.

Nesta obra Luhmann define a Confiança pelasua função. A Confiança seria, então, um meca-nismo de redução da complexidade. O mundo

3 Vertrauen: Ein Mechanismus der Reduktion sozialer Komplexitätnotítulooriginal.

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físicoesocialédeumacomplexidadeenorme,ex-cessivaparaascapacidadesdosindivíduos.Seemcadasituaçãotivéssemosdeponderarosmilharesdealternativasdequedispomosedequedispõemas outras pessoas, não conseguiríamos agir emtempo útil. Precisamos, então, de simplificar oreal de forma a podermos tomar decisões e agir.

O mundo dispersa-se numa comple-xidade incontrolável … Mas devo agiraquieagora.Nãotenhosenãoumcurtoinstante para ver o que fazem os ou-tros e reagir consequentemente. Nesseinstante, não posso captar e processarsenão uma pequena parte da comple-xidade; o ganho de racionalidade é mí-nimo. ix

Para reduzir a complexidade, para simplifi-

car o real, usamos vários mecanismos, entre osquais Luhmann refere para além da Confiança alinguagem e a consciência de si mesmo. Assim aConfiança seria um mecanismo de simplificação,de generalização e de selectividade.

Das múltiplas hipóteses de acção que um es-tranho que se aproxima na rua pode empreendere às quais tenho de responder, posso escolherConfiar nele e portanto reduzir o leque dessashipóteses aquelas que me não são nocivas. Dessemodo posso facilmente decidir o que fazer, isto écontinuar calmamente no meu caminho. Se poroutroladoescolhernãoConfiarneleasmúltiplashipótesesdecomportamentodooutromantêm-se

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todas de pé. Decidir o que fazer torna-se maisproblemático. Como vemos a Confiança reduz asopções a considerar e torna mais fácil a decisão.

Uma visão completamente diferente da Con-fiança é a que é avançada pela escola do indi-vidualismo metodológico. Esta escola estuda aConfiançacomoumarelaçãointerpessoal.Aper-gunta que coloca é simples: que elementos exis-tem numa relação de Confiança.

Na relação de Confiança entre um confiante,aquelequeconfia,eumdepositáriodaconfiança,respondeJamesS.Colemanexistemtrêselemen-tosbásicos:oqueoconfiantetemaganhardepo-sitando a sua confiança, o que o confiante tem aperder se o depositário se revelar não confiável,e a probabilidade de o depositário vir de facto acumprir as expectativas que o confiante dele es-pera.Estestrêselementosaproximamoconceitode Confiança do de aposta. Também nas apostaso apostador tem uma expectativa de ganho, umcusto e uma probabilidade de ganhar.

Não admira que o sociólogo polaco PiotrSztrompka tenha escrito que «a Confiança é umaaposta no comportamento futuro e contingentedos outros» x.

Comestestrêselementos–montantedeganho,montante de perda e probabilidade de sucesso – éfácil ver que confiar ou não confiar noutra pessoaé uma decisão racional. Decisão que pode inclusi-vamente ser descrita numa fórmula matemáticasimples.

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De facto se G for o montante a ganhar e L omontante passível de ser perdido e p a probabi-lidade de sucesso (de o depositário ser digno daConfiança nele depositada), então um indivíduoracional só pode confiar quando

p / (1-p) > L / G

Vejamos um exemplo concreto. Imaginemosque devemos decidir confiar ou não num Clientee vender-lhe fiado. Imaginemos que o custo dobem é de 90 e o nosso lucro na venda é de 5 econsequentemente o preço do bem, sem impos-tos, é de 95. Assim o nosso ganho G é de 5 e anossa possível perda L é de 90. Consideremostambém que a probabilidade deste Cliente nospagar é elevada situando-se nos 80 %. Devemosconfiar?

A resposta é não. Vejamos porquê:

p / (1-p) = 80% / (1 – 80%) = 4 eL / G = 90 / 5 = 18

Vemos então que 4 não é maior que 18, sendopelo contrário inferior, e que portanto com estesdados concretos não se cumpre a condição ne-cessária para que se deva Confiar: isto é que p /(1-p) seja superior a L / G. É, neste caso, exces-sivamente arriscado confiar, sendo mais racionalnão vender fiado ao nosso Cliente. Com aquelesvalores de L e de G só deveríamos confiar se aprobabilidade de sucesso fosse superior a 94%.

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Oactorracionalfaceaumadecisãodeconfiarou não confiar deve procurar munir-se de todaa informação necessária que lhe permita estimarcom a maior precisão possível estes três elemen-tos base. Nem sempre é possível, nem sempreé necessário. E a busca de precisão deve pararquando claramente se está de um dos lados dadecisão(confiarounãoconfiar).Nocasodescritoacima a maior incógnita era a probabilidade de oClientevirapagar.Masopatamarparaessapro-babilidade é muitíssimo alto. Qualquer informa-ção que permitisse situá-lo abaixo dessa fasquiaseriasuficienteparatomarumadecisãoracional.

Saímos assim da nebulosa de Simmel em queumelementoirracionaledeFéquasereligiosaseintroduzia na definição de Confiança e estamosagora no reino do explicável e do racional.

Fechamos aqui este breve parêntesis sobre aConfiança e retomámos ao nosso tema principal ocapitalsocial,agoracomaperspectivadeNanLin.

Nan Lin

NanLinéumacadémicodeorigemchinesadeTaiwan, que desempenhou já o prestigioso cargode vice-presidente da Associação Americana deSociologia e que tem exercido funções académi-cas em várias universidades dos EUA. A sua obrasobre capital social é vasta e controversa.

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A sua abordagem do conceito de capital socialé muito directa e pragmática e parte da ideia dequeaspessoasinvestemnassuasrelaçõessociaiscom vista a obter benefícios com valor no mer-cado xi.

Para Lin o capital é um recurso valorizadopelas pessoas e pode assumir várias formas – in-cluindo riqueza, poder, conhecimento, estatutosocial ou outra. O capital divide-se em dois tiposdiferentes:i)pessoaleii)social.Ocapitalpessoalé aquele que pertence a um indivíduo. O capitalsocialéaquelequeestáembutidonumaestruturasocial,masquetambémpodevirabeneficiarumoumaisindivíduosemesmoatransformar-seemcapital pessoal.

Sebemqueanoçãodecapitalembutidonumaestruturasocialpossaparecerumaideiaabstracta,um exemplo chega para a clarificar. Nas estrutu-rassociais,queparaLinassumemsempreaformadeumahierarquiapiramidal,existemváriasposi-ções sociais. Algumas dessas posições, por exem-plo presidente da República, primeiro-ministro,bispo,administradordegrandeempresa,eoutras,têm acesso a recursos (capital) – dinheiro, infor-mação, poder – que são independentes de quemas ocupa. Quando Ramalho Eanes deixou de serpresidente deixou de ter acesso aos recursos depresidentedaRepúblicadePortugalporqueessesrecursos pertencem à posição e não ao seu ocu-pante. Ramalho Eanes não os pôde, pois, levarconsigo.Podeentãodizer-sequetaisrecursoses-tão embutidos na estrutura social.

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Nas estruturas sociais piramidais as posiçõesmais altas têm acesso e comando a níveis de re-cursos mais vastos que as posições inferiores.

Por outro lado Lin defende que no que toca arecursos – riqueza, poder, status, etc. – os indiví-duos empreendem basicamente dois tipos de ac-ção: 1) acções expressivas e 2) acções instrumen-tais,asprimeirasdestinadasadefenderemantero seu nível de recursos e as segundas orientadaspara os aumentar. As acções expressivas são le-vadas a cabo entre indivíduos com níveis de re-cursos idênticos e as acções instrumentais entreindivíduos com níveis de recursos diferentes.

AssimLindefinecapitalsocialcomoosrecur-

sos que são obtidos através de laços e conexõessociais. Para a obtenção destes recursos as ac-ções instrumentais são essenciais. Essas acçõesdesenvolvem-se entre indivíduos com posiçõeshierárquicasdiferenciadas,procurandooquede-témaposiçãoinferiorbeneficiardasoportunida-des que o que está em posição superior lhe podeproporcionar.

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Capítulo iiTipos de capital social

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Nestecapítulofalaremosdosdiversostiposdecapital social e das suas respectivas consequên-cias. Antes porém analisaremos sumariamenteas redes de relacionamento interpessoal pelo im-pacto que têm na formação dos diversos tipos decapital social.

Abordaremos igualmente, com algum deta-

lhe, a célebre teoria de Mark Granovetter sobrea intensidade dos laços que unem as pessoas e oparadoxo da importância primordial que têm oslaços fracos, na medida em que esta teoria per-mite perceber melhor os dois tipos principais decapital social.

Redes sociais

Na sua vida quotidiana os indivíduos estabe-lecem várias relações interpessoais. Formam fa-mílias,estabelecemamizadesecompanheirismo,juntam-se em grupos de afinidade cultural, reli-giosa,políticaououtra,criamorganizaçõeseem-presas. Estas ligações podem ser descritas comoredessociais.Asredessociaissão,comovimosnocapítulo anterior, um dos elementos mais impor-tantes do capital social.

As redes sociais são em geral estudadas comrecurso à teoria dos grafos. Um grafo é um con-junto de pontos (ou vértices) que podem estar li-gados por arestas (ver figura 2.1.)

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Freeman(1979) xiiensina-nosquequandodoispontos estão ligados por uma aresta dizem-seadjacentes e que o número de pontos a que umponto é adjacente se designa por grau. Por exem-ploograudopontop5dafigura2.1.éde4eograudep3é1.Poroutroladodoispontosestãoligadosse existir um caminho que os una. Por exemploo ponto p1 está ligado a p2 por que existe um ca-minho entre eles: p1 p5 p2. Quando numgrafo todos os pontos estão ligados a todos os ou-tros, o grafo diz-se ligado. O grafo da figura 2.1. éligado. Cada caminho pode ser medido por umadistância. A distância é o número de arestas queexistem entre os dois pontos. A distância entre oponto p1 e o ponto p2 é de dois.

Continuando a seguir Freeman (1979) nessasua breve explanação dos conceitos básicos dateoria dos grafos diremos que um caminhose designa por geodésico quando é o caminhomais curto (menos arestas) entre dois pontos.Finalmente os pontos que ficam entre os extre-mos de um dado caminho geodésico chamam-sepontos intermédios.

Figura 2.1. – Grafo em estrela

p1

p2

p3

p4

p5

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As redes sociais podem ser estudadas en-tão com base nestes conceitos elementares. Porexemplo o ponto central de uma rede pode serdefinido como aquele que tem maior grau (istoé o que esta ligado ao maior número de outrospontos). Na nossa figura 2.1. o ponto central é oponto p5 – que, como vimos tem um grau de 4,contra um grau de 1 exibido por todos os outrospontos. Outras formas existem para determinaro ponto central.

O ponto central é, muitas vezes, associadocom uma posição de poder sobre a rede ou com apossibilidadedeinfluenciararede.Nocasodafi-gura2.1.oindivíduop5consegue,pelasualocali-zação no ponto central, controlar a comunicaçãoentre os outros membros da rede, porque toda acomunicação entre os outros passa sempre porele. Esse controlo da comunicação dá-lhe certa-mente, pelo menos, o potencial de influenciar oumesmomanipularosoutrosparceirosdestarede.

Uma outra posição relevante segundo algunsautores é a que liga duas ou mais redes distintas(ver figura 2.6.). A ligação entre o indivíduo B eo indivíduo H constitui uma ponte entre duasredes que de outro modo seriam independentes.Esta posição de ligação permite a esses dois in-divíduos os benefícios de pertencerem às duasredes.

Coleman (1999) argumenta que as redes fe-chadas produzem duas consequências: primeiropermitem um acesso mais fluido à informação e

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segundo,emais importante,possibilitamainsti-tucionalizaçãodenormasentreosseusmembrosjá que ninguém está em posição de escapar àssanções por não cumprimento.

Ao estudar o desempenho escolar dos alunosde várias escolas nos Estados Unidos, Coleman,concluiu que os colégios privados de uma dadaorientação religiosa conseguiam em média obtermelhores resultados. A razão para este sucessorelativo, não se encontrava nos ensinamentos es-pecíficos dessa congregação, mas sim no facto deque nesses colégios os pais dos alunos, os alunose os professores pertencerem todos à mesma re-ligião, frequentarem a mesma Igreja e conhece-rem-se mutuamente. Inversamente nas escolaspúblicas ou mesmo em colégios privados laicos,ospaisnãoseconheciamentresinemconheciamos professores dos filhos.

Assim no caso dos colégios bem sucedidos asredes sociais que envolviam os alunos eram fe-chadas e nas outras escolas tendiam a ser aber-tas(verfigura2.2.).Nesteúltimocasoocompor-tamento do aluno A relativamente ao aluno B sópode ser efectivamente supervisionado pelo Paido aluno A e vice-versa. Qualquer norma que sequeira estabelecer por exemplopara o comporta-mento de A em relação a B tem poucas hipótesesde ser efectivamente seguida, já que os pais dosdois alunos, que são os únicos a poder sancioná--losporincumprimento,nãoconcertamasuaac-ção por nem sequer se conhecerem.

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Figura 2.2.

Pai doAluno A

Aluno A Aluno B

Pai doAluno B

Se pelo contrário estivermos em presença deuma rede fechada (ver figura 2.3.) então os paisdos alunos conhecem-se e conhecem os colegasdos filhos. Dá-se então o que Coleman designapor fechamento intergeracional, que permite quecada pai actue como vigilante e sancionador dosalunos e não só do seu filho.

Figura 2.3.

Aluno A

Pai doAluno A

Aluno B

Pai doAluno B

O fechamento da rede permite a criação denormas, como o estabelecimento de regras decivilidade (não agressividade, companheirismo,etc.), de estudo, de comportamento que podemser ensinadas, reforçadas e implementadas portodos os membros da rede.

Os alunos podem recorrer a um conjuntomuito mais alargado de adultos para ajuda emcaso de dificuldade e gozam de um ambientemais estável e propício à sua actividade. Estesbenefícios são, efectivamente, um capital, capital

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social,àsuadisposiçãoesópossíveldeobtercomo fechamento da rede social.

Esteestudo levou Colemanadescobrir queasredesfechadassãoasmaiseficazesparaacriaçãoeimplementaçãodenormaseparaaeficazacçãocolectiva. Nas redes abertas os comportamentosoportunistas acabam por não ser sancionados,e a norma que a todos poderia beneficiar acabapor não ser implementada. Na verdade o com-portamento oportunista, que procura beneficiardo cumprimento da regra pelos outros mas bus-cando em simultâneo os benefícios de se eximirde a seguir, se não for sancionado impede a im-plementação da norma.

Um exemplo clássico é o dos limites de velo-cidade nas cidades: todos querem beneficiar dasegurança proporcionada por uma condução res-peitadora dos limites por parte dos outros, masalguns gostam também de usufruir das vanta-gens de se deslocar mais depressa. Se o compor-tamento oportunista destes últimos não for san-cionado,anormaacabapornãoserimplementadae todos, inclusivamente os oportunistas, acabampor perder a segurança que almejavam.

Numalocalidadeemquetodosseconheçamemantenham relações sociais é mais fácil de apli-car sanções sociais, que podem ser uma simplesreprovação social que afecta a reputação do indi-víduo, aos oportunistase dessa forma implemen-tar a norma. Inversamente em locais em que asrelações sociais são menos densas é mais fácil ao

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oportunista não ser sancionado e, consequente-mente, a regra ser tão desrespeitada que é comose não existisse efectivamente.

Aexistênciadanormadolimitedevelocidadeeoseucumprimento,constituemtambémumre-cursopreciosoqueaspessoaspodemutilizar.Porexemploascriançaspodembrincarnaruadoseubairro sem perigo e os idosos podem continuara atravessar as ruas ao seu ritmo poupando emcustos de apoio domiciliário. Esta norma consti-tui sem dúvida um capital social aberto a todos.

Redes horizontais e verticais

As ligações e os laços interpessoais que pode-mos estabelecer com outras pessoas podem re-pousar na igualdade, por exemplo as relações quese desenvolvem entre amigos, vizinhos, membrosde uma dada associação ou comunidade, ou comumcarácterdedesigualdadequandoumadaspar-tes tem um ascendente, é superior à outra parte.Incluem-se aqui as relações no interior de hierar-quias e as relações clientelares entre outras.

As primeiras são geralmente designadas comoligaçõeshorizontais,jáqueosváriosintervenientesestão situados num mesmo plano (ver figura 2.4.),eassegundasdeligaçõesverticais(verfigura2.5.),umavezqueexistemintervenientesqueestãonumplano superior ao dos outros.

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Figura 2.4. – Ligação horizontal

Nas sociedades modernas as redes verticais ehorizontais coexistem, sendo ambas, obviamentenecessárias. No entanto convém assinalar queos membros de redes verticais não desenvolvementre si níveis elevados de confiança, o que geraem consequência que não consigam cooperareficazmente nem actuar colectivamente. As re-des horizontais ganham assim uma importânciaacrescida, sendo claramente as mais relevantespara o desenvolvimento económico e social deuma sociedade.

Figura 2.5. – Ligação vertical

Superior máximo

Superiorintermédia

Superiorintermédio

inferiores inferiores

Nas empresas, por exemplo, é importante queexistamredeshierárquicas,quepermitamqueasdecisões sejam implementadas de forma célere e

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eficiente,masétambémimportantequeexistamredes horizontais que possibilitem a cooperaçãoentre departamentos, a circulação e a troca deideiasequeporessaviatornemoprocessodede-cisãomaisinformado,maisintegradordosváriosinteresses em presença, em suma mais eficaz.

As sociedades em que a maioria das redes emque as pessoas se inserem for do tipo vertical,acabarão por desenvolver baixos índices de con-fiança recíproca entre os seus membros e entreestes e as instituições. Nessas sociedades a coo-peração e a acção colectiva que permite resolverdeformaequilibradaenegociadaasquestõesqueenvolvam interesses divergentes é muito difícil.

Inversamente as sociedades em que os seusmembrosparticipamactivamenteemredeshorizon-tais, tenderão a exibir níveis elevados de confiançarecíproca o que por sua vez permite a cooperação,a acção colectiva e a busca de soluções de equilíbrionegociadas.

Estes diferentes tipos de relações dão, pois,origem a diferentes ambientes sociais onde sedesenvolve o capital social. Num ambiente ricoem relações horizontais o capital social tende aser mais elevado, as normas sociais a estabele-cer-se e a ser observadas. Pelo contrário numentorno excessivamente caracterizado por rela-ções verticais o capital social não se desenvolvetão intensamente e as normas tendem a não serrespeitadas.

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Figura 2.6. – Ligação de duas redes

A

D

B

C

E

H

F

G

Rede 1 Rede 2

Capital social inclusivoe exclusivo

Robert Putnam distingue claramente dois ti-pos de capital social: o inclusivo e o exclusivo xiii.

O capital social do tipo inclusivo une pessoasde diferentes origens, étnicas, etárias, geográfi-cas, ou de diversos extractos e categorias sociaise actua como uma ponte que liga estes diferen-tes grupos e classes. Este tipo de capital socialaglutina o diferente, reúne o distinto. Esta diver-sidade tende a disponibilizar, aos que dela bene-ficiam, um fluxo de informação rico e o acesso aum conjunto amplo de activos e recursos prove-nientes de várias fontes e comunidades.

O capital social de tipo exclusivo pelo contrárioune o que já é igual ou muito semelhante. Tendea gerar solidariedade grupal e a produzir recipro-cidade do tipo específico e, em muitas circuns-tâncias, pode levar a fortes antagonismos face aosindivíduosexterioresaogrupo.Estetipodecapital

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socialéfechado,centradonumconjuntodepessoascomperfilanálogo,eafastaeexcluiaquelesquenãopartilhamasmesmascaracterísticasouconvicções.O tipo de informação que oferece é, muitas vezes,pobre, repetitivo e de confirmação do já conhecidoeosactivospossíveisdepartilhasãoosdisponíveisnumacomunidadelimitada,oque,obviamente,nãosignificaquesejamsempreescassos.

Temos assim que capital social inclusivo segera em grupos heterogéneos e que o capitalsocial exclusivo em grupos homogéneos.

Estes dois tipos de capital social têm funçõese consequências sociais muito diversas. O capitalsocial de tipo inclusivo promove a integração so-cial,reforçaacolaboraçãoentregruposdiferentes,acomodandoadiversidade,promoveaacçãocolec-tivamaisamplaeacriaçãodenormasdecaráctermais universal. O capital social de tipo exclusivo éo que muitas vezes se encontra nos grupos xenó-foboseracistas,nofanatismoreligioso,clubistaounacionalista,fomentaaseparaçãoentre«nós»eos«outros», a exclusividade e a segregação.

O capital social inclusivo tende a ser umaforça positiva na sociedade, enquanto o papel docapitalsocialexclusivo tendeasermaisambíguo,tomando configurações positivas, por exemplonas ligações familiares, alargadas e densas, mastambém ganhando contornos negativos, nomea-damente nos grupos violentos de base raciais oufundamentalista.

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Laços fortes e fracos

Mark Granovetter publicou, em 1972, um ar-tigonoAmerican Journal of Sociology intitulado«Aforça dos laços fracos» xivem que analisava as rela-ções que as pessoas estabelecem umas com as ou-tras.Nassuasrelaçõesaspessoasestabelecemlaçosumas com as outras. A força desses laços dependede vários factores entre os quais o tempo passadoem conjunto, a intensidade emocional da relação, aconfiança recíproca e os serviços recíprocos pres-tados.Podeentãoescalonaraintensidadedoslaçosnumaescalaemquenumextremoseencontramoslaçosfortesenooutroextremooslaçosfracos.Umlaçoforteuneospaisaosfilhos,omaridoàmulher,os amigos, os familiares próximos. Por outro ladooslaçosfracosunemcolegasdetrabalho,merosco-nhecidos, familiaresdistantes(verfigura2.6.).

Figura 2.6. – Intensidade dos laços sociaisConhecido

Vizinhos

Amigo

Pai

Filha

Mãe

Cônjuge

Irmão

Amigo

Amigo

Colegas

Conhecido

Conhecido

Membros da mesma associação

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Oque Granovetter descobriu foi que os laços fra-cos são os mais importantes na integração socialdos indivíduos e são os que mais oportunidadesabrem às pessoas. Pelo contrário os laços fortesgeram pequenas comunidades muito unidas masmenos integradas na sociedade em geral e aca-bam por proporcionar poucas oportunidades aosseus membros.

Um exemplo típico da força dos laços fracoscostuma encontrar-se no mercado de trabalho,em que, muitas vezes, um desempregado temmais probabilidade de encontrar nova colocaçãoatravés de oportunidades que lhe são proporcio-nadas por conhecidos, antigos colegas, pessoascom que mantêm laços fracos e não por aquelescom quem tem laços fortes.

Naturalmenteumequilíbrioentrelaçosfortes

e laços fracos é fundamental para todos os indi-víduos. Cada um destes laços tem as suas fun-ções. Os fortes de suporte emocional e familiar.São laços que se estabelecem com um conjuntolimitado de pessoas. Os laços fracos, que se po-demestabelecercomumnúmeromaiselevadodepessoas, têm uma função de integração social ede acesso a um conjunto amplo de recursos. Doponto de vista da sociedade é muito importanteque os seus membros mantenham entre si umconjunto amplo e activo de laços fracos.

Oslaçosfortesunempessoasafins,próximas,semelhantes e geram um capital social do tipoexclusivo. Pelo contrário os laços fracos, mais

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diversificados,maisfluidosemaisintermitentes,podem ser convertidos em capital social do tipoinclusivo.

Classificação de Woolcocke Sweetser

Existem outras classificações de capital so-cial de que se destaca a avançada por Woolcocke Sweetser xvque distingue três tipos: i) unitário,que liga pessoas próximas como familiares, ami-gosevizinhos;ii)travessiaqueunepessoasmaisdistantes como colegas de trabalho, e iii) ligaçãoque agrupa pessoas de diferentes comunidades,o que permite o acesso a recursos não disponí-veis na comunidade de cada um dos membros.Note-se que o tipo ligação de Woolcock é muitopróximo do que Putnam designa de inclusivo.

Woolcock mostrou, através de estudos empí-ricosemváriascomunidades,queocapitalsocialdo tipo unitário é útil num estádio de desenvol-vimento económico inicial, ou como estratégiaeficaz contra a pobreza, na medida em que per-mite a acção colectiva de pequenos grupos, masque para estádios superiores de desenvolvimentoénecessária uma cooperaçãoassentenoutrotipodecapitalsocial,nomeadamentenocapitalsocialde ligação. Assim nas sociedades mais avançadasencontraríamos um maior peso do capital socialdotipoligaçãoenasmaisatrasadasotipopredo-minante seria o unitário.

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Um interessante estudo, efectuado com basena classificação de Woolcock mostrou que os va-lores sociais e religiosos dos indivíduos parecemter influência sobre os tipos de capital social.

Analisando a intensidade e o tipo de capitalsocial nas diferentes comunidades religiosas naAustrália Rosemary Leonard e John Bellamy xvimostramqueexistemdiferençasmuitomarcadasentreosseguidoresdasváriasigrejas.Ascongre-gações moderadas e liberais mostram um fortecapital social do tipo ligação. As comunidadespentecostais e carismáticas são fortes exclusiva-mente em capital social do tipo unitário. Os gru-pos New Age são fracos nos três tipos de capitalsocial. As comunidades das Igrejas Evangélicas eReformada mostram um nível médio a alto emcapital social de ligação. E nas duas igrejas commaior representatividade na Austrália: a IgrejaCatólica e a Igreja Anglo-Católica a maioria doscrentes exibem baixos níveis de capital social dequalquer dos tipos.

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Capítulo iiiVerso e reverso do capital social

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Desde os primeiros trabalhos de Bourdieu,Coleman e de Putnam que os efeitos negativosdo capital social foram evidenciados.

Para Bourdieu o capital social como uma dasformas de materialização do capital tem sempreassociado um lado negro de injustiça e de explo-ração do Homem pelo Homem. O capital socialpropriedade de uma elite pode ser transformadoem capital cultural ou capital económico, peloque os seus detentores são descritos como capi-talistas e membros das classes dirigentes, numdomínio assente, não em relações de igualdade,mas em relações de dominação e exploração.

Coleman, por seu lado, sublinha a possibili-dade de redes positivas e inofensivas serem usa-das para fins políticos e sociais duvidosos.

Esta possibilidade de dupla utilização, istoé a utilização de uma organização para um fimdiferente daquele para o qual foi constituída, émuito importante ao nível do capital social, poispotenciaoseusefeitosenamaiorpartedasvezesé benéfica. Um exemplo histórico positivo é o dautilizaçãodosclubesdeleitura,emqueumaper-centagem muito elevada dos membros era cons-tituída por mulheres, como base organizativa domovimento feminista nos Estados Unidos.

Mais recentemente, no último quarteldo século xx, o sindicato, de base operária,Solidariedade na Polónia serviu de plataformapolítica para os opositores ao regime socialista

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então vigente nesse país. O sindicato, num gestoinédito, apresentou-se inclusivamente a eleições,substituindo-se aos partidos políticos, e obteveexpressiva votação. Os eleitos pelo sindicatochegaram mesmo a formar governo. Temos aquicomo um sindicato, normalmente organizadopara defesa dos direitos laborais dos seus mem-bros, pode servir para outros fins radicalmentediferentes do seu propósito habitual.

Mas a possibilidade de dupla utilização podeter também efeitos negativos. A colonização deorganizações religiosas por elementos extremis-taspermitiuaactuaçãoindetectadadeterroristasem vários países. As máfias do Leste da Europautilizaram, por vezes, antigos laços profissionaisdeunidadespoliciaisoumilitaresdesmembradasou dissolvidas mas cujos membros mantiveram aestruturaemfuncionamentomasagoraparafinscriminosos.

Neste capítulo vamos analisar os limites docapital social e perceber que este nem sempretem um papel positivo na sociedade.

A Cooperação é semprepositiva?

A geração mais velha ainda recorda com al-guma frustração o momento quando na final dos10 000 metros dos Jogos Olímpicos de Montrealno Canadá o finlandês Lasse Viren ultrapassou o

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nosso campeão Carlos Lopes, que vinha a fazeruma corrida extraordinária, e correu vitoriosopara a meta. Carlos Lopes, é claro, teve outrosmomentos de glória ganhando inúmeras provasdeatletismoeobtendomesmoamedalhadeourodamaratonanosJogosOlímpicosdeLosAngelesalguns anos depois. Mas sem dúvida que CarlosLopeseLasseVirennãoestavampropriamenteacooperarnaqueledia.Pelocontrárioestavamen-volvidosnumarenhidacompetiçãopeloprimeirolugar na corrida.

O capital social promove a cooperação e a ac-ção colectiva que por sua vez facilitam o desen-volvimentoeconómicoesocial.Masseráacoope-raçãosempre positiva?Haverácasosemqueserápreferível menos cooperação e maior recurso aoutras alternativas como por exemplo a compe-tição ou a concorrência?

Diogo Gambetta chamou a atenção para estaquestão de forma enfática quando escreveu que

Eapesardetudoumacertadosedecon-corrência é notoriamente benéfica namelhoria do desempenho, promovendoa inovação tecnológica, melhorandoos serviços e a alocação de recursos,espalhando os genes mais aptos pelasgerações futuras, buscando a excelên-cia, evitando os abusos de poder – emsuma, no enriquecimento da espéciehumana. xvii

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Os sucessivos recordes mundiais de atletismoseriam possíveis se em vez de competirem osatletas cooperassem? Não parece plausível. Umgoverno democrático e que responda perante oscidadãos será possível de estabelecer se os parti-dospolíticosemvezdecompetirempelovotodoseleitores se limitassem a cooperar entre si? Nãose conhece nenhum exemplo.

E de facto em muitas situações, do desportoà ciência, passando pela política e até pela esco-lhadeparceirossexuais,umadoseequilibradadecompetição é fundamental para estimular o de-senvolvimento e para promover uma maior rea-lização pessoal e social.

Convém,contudo,deixarclaroquemesmoacompetição, de que a concorrência económicaé uma manifestação, assenta na Confiança,como vimos um dos aspectos principais docapital social. É a Confiança que permite aaceitação por todos os intervenientes quer dasregrasdacompetiçãoquerdosresultados.SemConfiança e, consequentemente sem o graunecessário de capital social, a competição pa-cífica e regulamentada não é possível. Eis umaparente paradoxo, mas uma realidade muitopalpávelefirme,acompetiçãopacíficaassentana cooperação.

Carlos Lopes e Lasse Viren não poderiamcompetir se ambos não tivessem Confiança naorganização dos Jogos Olímpicos, no seu con-trolo anti-doping apertado, na sua correcta

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medição da distância da corrida, na competên-ciadosjuízesdaprova,nasregrasdoatletismo.Nemcompetiriamsemconfiançamútua,CarlosLopes acreditando que Viren não lhe pregariauma rasteira e Viren que Lopes não lhe dariauma valente cotovelada. Ambos sabendo queo comportamento anti-desportivo lhes vale-ria a desclassificação e a vitória do oponente.A competição positiva é a competição regula-mentada. É a competição em que os interve-nientes se submetem voluntariamente a umconjunto de regras e de normas e onde existemmecanismos actuantes e eficazes de sanção dosprevaricadores.

Naturalmente que a competição nem sempreprecisa de uma base de Confiança para existir.Mas aí estamos a falar de formas extremadas eviolentas de competição que se apoiam tantasvezes na desconfiança e no ódio. Esse tipo decompetição é totalmente negativa e reprovável,embora seja infelizmente a forma predominantede competição em muitas áreas e lugares.

Percebemosassimquenemsempreacoopera-çãoépositivaequeporoutroladonemsempreoseu contrário, a competição, é negativo. Na reali-dadeambas,cooperaçãoecompetição,sãoneces-sárias e a sua coexistência tem sido a prática aolongodostempos.Oqueéimportanteéprocurara fórmula que permita um justo equilíbrio entrecooperação e competição. Mas como o salientaGambettaaindaestamoslongedesaberondeestáesse ponto de equilíbrio xviii.

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Encontrar o justo equilíbrio entre a com-petição e a cooperação, entre a regulação e aconcorrência, entre a entreajuda e a emulação,quer no domínio económico quer, também, nasáreas da Política, da Ciência e da Cultura é umdos grandes desafios da modernidade do iníciodo século xxi, quando enfrentamos na Europauma crise que tem os seus fundamentos numaglobalização demasiado assente na competiçãodesregulamentada.

Efeitos negativos do capitalsocial

De uma forma sistemática Alejandro Portesidentifica quatro tipos de efeitos negativos que ocapital social pode gerar:

Estudos recentes identificaram pelomenos quarto consequências negativasdo capital social: exclusão de pessoasexteriores, exigências excessivas sobreos membros, restrições às liberdadesindividuais e normas de nivelamentopor baixo. xix

Algumas das vantagens do capital social parauns podem revelar-se graves restrições paraoutros. James Coleman descreve como o fortecapital social entre os judeus nova-iorquinoslhes permite controlar o comércio local de dia-mantes xx. Mas esta vantagem dos judeus leva,

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simultaneamente, à exclusão dos membros deoutras confissões religiosas deste interessante emuito rentável comércio.

O que suporta estes comerciantes judeus quemonopolizam este lucrativo nicho de mercadoé a densa teia de relações pessoais que mantêmentre si – todos pertencem à mesma religião, asfamílias são cruzadas, moram no mesmo bairro–quelhespermiteterumníveldeconfiançain-terpessoal muito elevado – emprestam uns aosoutros, sem qualquer contracto, garantia jurí-dica ou seguro, pedras avaliadas em dezenas demilhar de dólares – o que se traduz numa forteredução de custos relativamente a concorrentesem que este alto grau de confiança não existe.Também sabem que quem não se mostrar dignodesta confiança será expulso e ostracizado pelacomunidade e consequentemente perderá onegócio.

Este é um capital social do tipo exclusivoem que os membros da rede são muito seme-lhantes – partilham a religião, a profissão, eas famílias são relacionadas. A rede é densa,os relacionamentos entre os seus membrossão múltiplos e em variados planos, fechadae exclusiva – quem não tiver as característi-cas certas não pode ser admitido. É uma redemuito eficaz na geração de um capital socialsignificativo para os seus membros, mas asvantagens destes fazem-se à custa dos outrosconcorrentes e potenciais concorrentes que sevêm arredados do negócio.

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Este exemplo vem confirmar o alerta dePutnam,quandonosdizqueumreforçodocapitalsocial do tipo exclusivo pode levar ao ostracismodos que lhe sejam exteriores.

Na mesma direcção, mas com tonalidadesainda mais marcadamente negativas, é apon-tado o caso dos brancos nos Estados do Sul dosEstados Unidos. Durante anos, depois da guerracivil, a segregação persistiu e qualquer empresá-rio ou lojista branco que empregasse ou servisseum afro-americano seria ostracizado pelos seuscompatriotas caucasianos. Aqui o capital socialde tipo exclusivo, só entre brancos, contribuiupara impedir uma harmoniosa integração racial.

A exclusão dos outros pode mesmo desenca-dear violência sectária como aquela que encon-tramos em baixa escala entre claques de clubesrivais ou, já assumindo proporções criminosas,à violência racista entre tribos como aquela quelevou ao genocídio no Ruanda.

O desenvolvimento de normas de conduta en-tre membros de grupos ou de redes significa emsi mesmo uma restrição ao comportamento indi-vidual.Essasrestriçõessãoemgeralbenignas.Noentanto,emcertosgrupospodemsurgirrestriçõesexcessivas que limitem fortemente a acção indivi-dual e que vão muito para lá do que seria naturalpara a consecução dos objectivos do grupo.

O excesso de imposições sobre os membrosdo grupo é também um efeito negativo do capital

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social.AlejandroPortessugeremesmoqueomaiorefeito do protestantismo no desenvolvimento doCapitalismo foi o de libertar os seus fiéis das ex-cessivas dádivas e dézimas que a Igreja Católicalhes impunha, libertando assim fundos para o in-vestimentoprodutivoeproporcionandoumavan-tagem competitiva para os protestantes.

Oexcessodeimposiçõespodetambémafastaros membros do grupo e consequentemente levaràsuadesagregação.Muitosgrupospolíticosradi-cais portugueses dos anos 70 e 80 do século xxperderam muitos seguidores quando passaram aexigir aos seus membros a estrita adesão a códi-gos de moral que ditavam inclusivamente regrasparaovestuárioeparaocomprimentodocabelo.

Estamos perante casos em que o excesso deimposições leva os membros a afastarem-se ea organização a perder influência ou mesmo adesagregar-se. Mas existem outras instâncias emque os membros se submetem às exigências dogrupo com grave dano para a sua liberdade indi-vidual e até, por vezes, com prejuízos para toda acomunidade.

Nesta categoria podemos assinalar a disci-plina partidária a que os deputados dos partidospolíticos portugueses se submetem e que os levaa votar favoravelmente diplomas com que nãoconcordamoucomqueosseuseleitoresnãocon-cordam.Particularmenteinstrutivoéadisciplinade voto dos deputados dos partidos da direita ecentro direita, normalmente fortes advogados da

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iniciativa privada, que é muito evidente no nossoParlamento. Todos recordamos as longas discus-sõesinternasdoPSedoPSDsobrealiberdadedevoto dos deputados a propósito de temas como odivórcio,ocasamentoentreindivíduosdomesmosexo, o aborto ou a eutanásia. Mesmo nesses ca-sosemquenãoestavaemcausaaestabilidadego-vernativamantiveram-seemgeralasrestriçõesàliberdade de voto dos deputados e reafirmada achamada disciplina partidária.

As restrições às liberdades individuais surgemem grupos muito fechados e em que os membrostêmmuitoaperder,económica,socialouemocional-mente,seoptarempeladesobediênciaoupelasaída.

O nivelamento por baixo, fruto da busca deum mínimo denominador comum ao grupo, pode,igualmente, ter consequências negativas em ter-mos quer de desenvolvimento individual, porqueos melhores elementos são impedidos de progre-dir,queremtermosdodesenvolvimentocolectivo.

Éconhecidaadinâmicaquesedesenvolveemalguns locais de trabalho em que parte ou todaa retribuição é paga à peça. O colectivo dos tra-balhadores, sentindo-se ameaçado pelos mais rá-pidos, exerce uma forte pressão sobre esses tra-balhadores no sentido de os fazer abrandar o seudesempenho e levá-lo para níveis próximos damédia do grupo. Esta é uma das razões porque,em geral, o pagamento à peça leva a piores resul-tados em termos de produtividade do que outrasformas de pagamento.

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Redes informais e contactos

A investigadora finlandesa Åse Berit Grødelandtem vindo a desenvolver um conjunto de pesqui-sas sobre a informalidade e a corrupção em vá-rios Estados no Leste Europeu, nomeadamentea República Checa, a Eslovénia, a Roménia e aBulgária.Nestassociedadesainformalidadeeacor-rupção assumem proporções preocupantes e alas-traramaquasetodasasáreasdasociedade,desdeosistemajudicial,àeconomiaeaosserviçospúblicos.

Ainformalidadeeacorrupçãoassentamsobredois tipos de estruturas sociais: os «contactos»e as «redes informais». Grødeland define como«contacto» alguém que esteja disposto a aju-dar outra pessoa e que tenha o poder para issoe «rede informal» como um círculo informal depessoasdispostasaajudar-semutuamenteecomcapacidade para isso xxi.

Tal como Coleman também Grødeland con-clui que os contactos e as redes informais tantopodem ser usadas para obter informações e re-cursos legais, como para servir para objectivosilegais tais como viciar a concorrência, nomea-damente em concursos públicos, promover inte-resses ilegítimos e a corrupção xxii. No primeirocaso constituirão um capital social positivo e nosegundo um capital social negativo. Como vimosno início deste capítulo, as mesmas estruturaspodem ser apropriadas por diferentes indivíduospara diferentes fins.

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A apropriação destas estruturas sociais parafins criminosos é facilitada pela ineficiência dasestruturasformaisdoEstadoquenãoconseguemcaptar a confiança dos cidadãos.

Nestascircunstânciasorecursoaredesinformaistorna-se,infelizmente,socialmenteaceitável.Floresceentãoumaculturadeinformalidade,queaoenraizar--senasociedade,lheacrescentacustosdetransacçãoeadministrativoseimpedeumaverdadeiraacçãoco-lectivadosseusmembros.Nessassociedadesaúnicaacção concertada que tem possibilidade de sucessoé subterrânea, envergonhada e difícil e tantas vezesforadoslimitesdaleiedatransparência.

Este capital social negativo pode trazer van-tagensmomentâneasaosquedelelucramemter-mos pessoais, mas numa perspectiva mais globalactuacomo um travãoaodesenvolvimento sociale económico da sociedade.

Grødeland identificou traços desta culturade informalidade nos países do Centro Leste eSudoeste Europeu. Nestas sociedades a maioriados cidadãos reconhece que as redes informaisligando interesses económicos e interesses polí-ticos são simultaneamente as mais influentes eas mais corruptas xxiii.

Em Portugal

Portugal partilha também desta cultura deinformalidade? Alguns investigadores como Luís

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de Sousa e João Triães têm vindo a estudar o fe-nómeno da corrupção no nosso país.

AAssociaçãoTransparênciaeIntegridade,ca-pítulo português da Transparency International,divulgou os resultados do inquérito «BarómetroGlobal de Corrupção» 2010, levado a cabo simul-taneamente em mais de oito dezenas de países.De entre os resultados salienta-se o facto de que83% dos inquiridos, uma amostra representativada população nacional, considerarem que a cor-rupçãotinhaalastradonotriénioanterior(2007--2010). Na Europa apenas os romenos apresenta-ram percepção pior (87 % do romenos pensamque a corrupção aumentou no seu país).

No mesmo inquérito os portugueses apontamas instituições em que as práticas corruptas sãomaisprevalentes.«Numaescalade1a5,emque1énadacorruptoe5évistocomomuitocorrupto,os portugueses classificam da seguinte forma asseguintes instituições e sectores de actividade:

• Partidos políticos: 4,2;• Parlamento: 3,7 (acima da média da UE);• Polícia: 3,2 (acima da média da UE);• Sector privado: 3,6 (acima da média da UE);• Media: 2,8;• Função pública: 3,2;• Sector da Justiça: 3,4;• ONGs: 2,6;• Corpos religiosos: 2,6;• Militar: 2,6;• Sistema educativo: 2,5.» xxiv

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Verifica-se que o sistema político (partidos,parlamento) surgem no topo da lista e o sistemaeducativo, as Organizações Não Governamentais(ONGs),osCorposReligiososeasForçasArmadassão os menos afectados por esta praga social.

Ainda de acordo com o Barómetro Global deCorrupção 2010 (ver figura 3.1.) apenas 3 % dosportugueses indicaram ter pago um suborno auma lista de 9 entidades nos 12 meses anterioresao inquérito. Esse valor está ao nível dos paísesmais íntegros e honestos (Dinamarca com 0 %,Noruega e Reino Unido com 1 %, e 6 países com2%) e melhor do que o Canadá (4%), os EstadosUnidos (5 %), a França (7 %) ou o Luxemburgo(16%). Parece assim existir um fosso entre a po-pulação e as elites, entre governados e governan-tesemtermosdecomportamentoereputação.Osgovernadosexibemcomportamentosirrepreensí-veiseosgovernantestêmumareputaçãocomple-tamente machada.

Figura 3.1. – Percentagem de pessoas que declara terpago um suborno nos últimos 12 meses

País % País % País %

1Denmark 0% 30Singapore 9% 59Belarus 27%

2Norway 1% 31Austria 9% 60Romania 28%

3UnitedKingdom 1% 32AsiaPacific 11% 61Bolivia 30%

4Australia 2% 33Fiji 12% 62ElSalvador 31%

5Korea(both) 2% 34Argentina 12% 63Mexico 31%

6Finland 2% 35Italy 13% 64Turkey 33%

7Germany 2% 36CzechReplubic 14% 65Lithuania 34%

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8Netherlands 2% 37Latvia 15% 66Lebanon 34%

9Switzerland 2% 38Poland 15% 67Ukraine 34%

10Iceland 3% 39Philippines 16% 68Moldova 37%

11Portugal 3% 40Vanuatu 16% 69Ghana 37%

12Georgia 3% 41Luxembourg 16% 70Zambia 42%

13NewZealand 4% 42Kosovo 16% 71Vietnam 44%

14Ireland 4% 43Serbia 17% 72Kenya 45%

15Slovenia 4% 44Indonesia 18% 73Azerbaijan 47%

16Brazil 4% 45Greece 18% 74Mongolia 48%

17Israel 4% 46SolomonIslands 20% 75Pakistan 49%

18Canada 4% 47Venezuela 20% 76Palestine 51%

19HongKong 5% 48Chile 21% 77India 54%

20Spain 5% 49FyrMacedonia 21% 78Cameroon 54%

21NorthAmerica 5% 50Peru 22% 79Iraq 56%

22UnitedStates 5% 51Armenia 22% 80Senegal 56%

23Croatia 5% 52Thailand 23% 81Afganista 61%

24Taiwan 7% 53LatinAmerica 23% 82Nigeria 63%

25France 7% 54Bosnia&Herzegovina 23% 83SierraLeor 71%

26Bulgaria 8% 55Hungary 24% 84Cambodia 84%

27China 9% 56Colombia 24% 85Uganda 86%

28Japan 9%57PapuaNew

Guinea26% 86Liberia 89%

29Malaysia 9% 58Russia 26%

Fonte: Barómetro Global de Corrupção 2010

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Capítulo ivCapital sociale desenvolvimento económico

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O impacto da forma e das características daorganização social na esfera económica é temacujapersistêncianaliteraturaeconómicaesocio-lógica é inegável. «A ideia de que o tipo de socie-dadeéimportanteparaocrescimentoeconómicoé tão antiga como a própria economia.» xxv

A ideia de que diferentes tipos de sociedadeproduzem diferentes graus de crescimento eco-nómico é hoje bem evidente, depois do colapsodassociedadesqueadoptaramomodelosocialdaUnião Soviética pós Estaline. De facto esses paí-sesdaEuropaCentraledeLestenãoconseguirammodernizar-seedepoisdefalharemafaseinicialda revolução das tecnologias de informação tive-ram de desistir do seu modelo social e político eadoptar outro radicalmente diferente. O impactodessa mudança no crescimento económico aindanão é clara. Há exemplos de países que efectua-ram uma transição mais «suave» e que se lança-ramnasendadocrescimentoeoutrosquedepoisdo «choque» da mudança, estagnaram ou mesmoretrocederam. As alterações do sistema social doantigo bloco do Comecom têm, evidentementedefensores e detractores, mas raros são os quesustentam que tal mudança não teve impacto nodesenvolvimento económico desses países.

Reciprocidade

Putnam coloca a questão a um nível mais bá-sico «Uma sociedade caracterizada por uma re-ciprocidade generalizada é mais eficiente do que

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uma sociedade desconfiada pela mesma razão doque o dinheiro é mais eficiente do que a troca di-recta» xxvi. De facto a substituição primeiro datroca directa por moeda metálica e depois destapor papel-moeda exigiu a cada passo um cres-cente nível de confiança dos agentes económicosuns nos outros.

Areciprocidadetraduzamáxima«fazaosou-tros o que te fizeram a ti ou o que gostarias quete fizessem a ti». Por exemplo se um amigo meoferece um presente pelo meu aniversário criaráuma legítima expectativa que eu retribua e lheofereça algo de valor semelhante nos seus anos.Esta retribuição é a acção de retorno e em con-juntocomaacçãoinicialformamumarelaçãodereciprocidade.

Esta reciprocidade está presente em muitasacções humanas e é uma norma de conduta pra-ticamente universal. Algumas das suas variantespodem ser cruéis, como aquela que prescreveuma justiça de «olho por olho, dente por dente»,outrasmaisbenevolentescomoadatrocadepre-sentes nos aniversários.

A reciprocidade pode ser directa ou gene-ralizada. Directa quando o dador inicial sabeexactamente de quem e em que quantidade deveser a sua retribuição. A oferta de presentes nosaniversários gera reciprocidade directa, já queo dador sabe o que deve esperar (algo de valorgrosso modo equivalente) e de quem (do aniver-sariante) e quando (no dia dos seus anos). Mas

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a reciprocidade pode ser de tipo generalizadoquando o dador inicial faz o seu gesto esperandoreciprocidade mas não sabendo de quem, nemquando.

Vejamos um exemplo. A casa do vizinho estáem chamas. Eu e outros vizinhos acudimos deimediato e ajudamos a retirar os bens e a apagaroincêndio.Claroqueseaminhacasavierumdiaa pegar fogo (o que espero sinceramente que nãoaconteça, mas nunca se sabe) a minha expecta-tiva é que os meus vizinhos me ajudem. Mas es-ses vizinhos podem não incluir, se entretanto elese mudar, o vizinho ajudado, e espera-se que in-clua muitos que nunca foram ajudados. Este tipode reciprocidade é muito menos directo e óbviodo que a troca de presentes nos aniversários.

Outroexemplo.Vounarua.Alguémcai.Corroparaoajudaralevantar-se.Vejoqueestáferidoefaço uma chamada para o 112. Não conheço o in-divíduo e muito provavelmente não o verei maisnenhumaveznavida.Masaminhaexpectativaémais geral. É a de que se (indefinição temporal)for eu a cair conto com os outros (indefinidos)para me ajudar. Mas, obviamente, posso nuncavir a cair.

A reciprocidade pode também ser positiva ounegativa. Positiva quando permite acumular umconjunto de expectativas que são recursos paraos membros do grupo ou da sociedade. A trocade presentes é um recurso positivo para o grupodeamigosefamiliares.Aentreajudadosvizinhos

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em caso de incêndio é um recurso dos morado-res desse bairro e funciona como um seguroadicional. Ajudar o transeunte caído aumenta asexpectativas de toda a comunidade ou de toda asociedade e é um recurso com que todos podemcontar. Nestes casos vemos como a acção indivi-dual ajuda a criar capital social para um grupo,uma comunidade ou toda uma sociedade.

Mas a reciprocidade também pode ser ne-gativa. Quando as acções individuais em vez decriaremrecursosajudamadestruí-los.Arecipro-cidade negativa envolve também um custo paraquem retribui negativamente. Se vivo no 12.º an-dar e o meu vizinho do rés-do-chão não paga aprestação devida ao condomínio e em retaliaçãofaço o mesmo, não haverá dinheiro para manteroelevadoretereiocustodeterdesubirpelases-cadasapé.Setodosfizeremomesmooproblemaagrava-se ainda mais e todos ficam prejudicados.É claro que os recursos colectivos se reduzem.

Areciprocidadenegativa,quedestróiocapitalsocial e diminui os recursos colectivos dos gru-pos, das comunidades e das sociedades, tem ób-vios custos económicos. Vários estudos atestamnesse sentido.

Os economistas portugueses Paulo TrigoPereira, Nuno Silva e João Andrade e Silva es-tudaram os efeitos da reciprocidade negativa nomercado de trabalho, nomeadamente nas situa-ções em que os salários oferecidos eram inferio-resaoesperado,situaçãoemqueostrabalhadores

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respondiam oferecendo um esforço mínimo e,inversamente, em situações em que os salá-rios ultrapassavam a barreira do normal e emque os trabalhadores ofereciam um nível de es-forço tanto maior quanto o salário recebido xxvii.Naturalmentequandoaumaofensa(saláriosbai-xos) se segue uma reciprocidade negativa (baixoesforço) ambos os lados da equação ficam a per-der. Pelo contrário se a relação laboral consegueser transformada numa relação de reciprocidadepositiva, com salários mais altos retribuídosconsequentemente com maior empenho e es-forço, ambos os lados veem aumentadas as suasretribuições.

Percebe-se agora as palavras de Putnam deque as sociedades fundadas sobre relações de re-ciprocidadepositiva generalizada funcionamme-lhor do que as que são baseadas na desconfiançae na reciprocidade negativa.

Mecanismo de impacto do capital social na economia

O impacto do capital social no desenvolvi-mentodascomunidadesedasnaçõesé,hoje,am-plamentereconhecido.Aprová-loestáoempenhocom que instituições como o Banco Mundial têmvindo a procurar as melhores formas de estimu-lar a sua criação e fortalecimento como requisitoparaodesenvolvimentosustentado.Nestecamposaliente-se os contributos do académico egípcio

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IsmailSerageldimaquandonasuapassagempeloBanco Mundial quer pelos seus trabalhos querpelas múltiplas iniciativas de estudos que foramdesenvolvidos sob a sua égide. Serageldim chegamesmo a afirmar que «o capital social é melhorestudado no contexto da contribuição que dápara o desenvolvimento sustentado» xxviii.

O impacto do capital social na esfera econó-mica dá-se através de, pelo menos, três tipos deexternalidades: i) conhecimento sobre os agen-tes; ii) conhecimento sobre o meio ambiente, eiii)acçãocolectiva.Oconhecimentomútuoentreos agentes permite, por um lado reduzir os cus-tosdetransacçãoeporoutrocriarummeiomaisconfiável e transparente. O conhecimento sobreo meio, possibilita a exploração das oportunida-des de negócio/intervenção que se apresentam.Finalmenteaacçãocolectivapermiteultrapassaras dificuldades resultantes das situações do tipodilema do prisioneiro que empurram os indiví-duos para decisões que sendo racionais do pontodevistaindividualnãosãoasóptimasemtermosde desenvolvimento.

Existem três tipos de externalidadesgeradas pela interacção social … co-nhecimento sobre o comportamentodos outros agentes, conhecimento so-bre o ambiente não comportamental.A partilha de conhecimento sobre ocomportamento dos outros agentesdiminui o risco de comportamentosoportunistas e por essa via os custos

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detransacção…apartilhadeinforma-çãosobreaspectosdomundonãocom-portamental, como os preços e as tec-nologias, é a essência do crescimentoeconómico … a terceira externalidadeéconstituídapelosbenefíciosdaacçãocolectiva a qual, quando tem sucesso,ultrapassa o problema do oportunista( free rider)… xxix

Estes três tipos de externalidades constituem omecanismo de transmissão do capital social na es-fera económica. Naturalmente que estes factoressendo importantes não são os únicos a contribuirpara o desenvolvimento económico. Assim níveiselevadosdecapitalsocialpodemnãosersuficientes,na ausência de outros ingredientes (recursos natu-rais, capital humano, etc.) para garantir o desenvol-vimento.Inversamentebaixosníveisdecapitalsocialpodem ser contrabalançados por uma abundânciadeoutroselementos(matérias-primasporexemplo).Oquesepodeefectivamenteafirmarcomsegurançaé que o capital social tem um impacto no desenvol-vimento económico e que em condições semelhan-tesdopontodevistadeoutrosrecursos,asociedadecommaiorcapitalsocialsedesenvolverámais.

A Itália, com divisões regionais extrema-

menteagudastemsidoumcampodeestudopar-ticularmente interessante para a verificação dasteses relativas ao capital social. Desde há muitoquevárioseconomistasassinalaramosefeitosdaconfiança social no desenvolvimento desigual doNorte e do Sul italianos.

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Em 1958 quando Edward C. Banfieldescreveu ‘As bases morais de uma so-ciedade atrasada’ poucos economis-tas com excepção de Kenneth Arrow,se aperceberam da importância destetexto.AsuatesequeosubdesenvolvidoSuldaItáliaseficavaadeveràfaltadeconfiança social fora do estrito círculofamiliar (situação que ele apelidou defamilismo amoral) era de difícil recon-ciliação com os modelos económicosprevalecentes nessa época. xxx

Tipos de capital sociale desenvolvimento

Fabio Sabatini, um dos maiores especialistasmundiais em capital social, elaborou um estudomuitoaprofundadosobreoefeitodosváriostiposde capital social no desenvolvimento económicoitaliano xxxi. Usando sofisticadas técnicas esto-cásticas como a análise das componentes princi-pais e modelos de equações estruturadas 4 e umconjunto muito largo de variáveis, Sabatini, che-gou a conclusões deveras interessante.

4 SEM (Structural equations model) na designação anglo-saxónica éumatécnicamatemática,usadaparatestareestimarasrelaçõesdecausa-efeitoentrevariáveis,desenvolvidapelogeneticistaSewallWri-ghtepeloseconomistasTrygveHaavelmo(PrémioNobeldaEcono-miaem1989)eHerbertSimon(PrémioNobeldaEconomiaem1978).

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Procurando evitar uma identificação muitoestreita entre capital social e associativismo vo-luntário, Sabatini centra a sua análise do capitalsocial nas redes sociais e aí distingue três tipos:

i) Redes familiares (que equaciona a capital social tipo unitário); ii) Redes de laços fracos entre amigos, co- nhecidos e vizinhos (que equipara a capi- tal social do tipo travessia); e iii) Redes de laços fracos unindo membros de associaçõesvoluntárias(queassimilaaca- pital social do tipo ligação).

Para cada um destes três tipos de redes cons-truiu um indicador que resume um muito con-junto alargado de variáveis base. Por exemplo nocaso das redes familiares algumas das variáveisbaseincluíamotamanhodafamília,afrequênciacom que os membros de uma família se encon-tram, a distância a que moram, etc.

Por outro lado utilizou três indicadores dedesenvolvimento económico e social: i) o índiceajustadodedesenvolvimentohumano;ii)oíndicedequalidadesocial,eiii)oíndicedequalidadedoecossistema urbano. O primeiro inclui variáveiscomo o rendimento das famílias, a esperança devida dos indivíduos e os níveis de escolaridadeda população, o segundo variáveis como satis-fação com os sistemas de saúde e de ensino, ataxa de precariedade do trabalho e a taxa de de-sigualdades de género no mercado de trabalho eno acesso a cargos políticos e o terceiro variáveis

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como qualidade do ar, os níveis de reciclagem delixo, a taxa de utilização de transportes públicose de carros, as áreas pedonais, etc.

Cruzando os indicadores dos três tipos de ca-pital social com os três indicadores de desenvol-vimentoeconómicoesocial,Sabatiniconcluique:

i) Fortes laços familiares (capital social do tipo unitário) têm uma influência ne- gativa no desenvolvimento humano e no desempenho económico; ii) Laços fracos entre amigos e vizinhos (ca- pitalsocialdotipotravessia)têmtambém umefeitonegativosobreodesenvolvimento; iii) Laços fracos entre membros de associa- ções voluntárias (capital social do tipo li- gação) – sindicatos, clubes desportivos e recreativos, associações de solidarie- dade,etc.–têmumefeitopositivosobreo desenvolvimento.

Sabatini conclui pela vantagem do associati-vismo e participação cívica dos indivíduos sobrea apatia, a abstenção e o desinteresse no desen-volvimento económico e social das sociedades.

Capital social e saúde

O capital social tem também um impacto re-levante sobre a saúde dos indivíduos. Por doismotivos essenciais: i) por facilitar o acesso a cui-dados de saúde primários e secundários e ii) por

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impactodirectonasaúdefísicaementaldossereshumanos.

Lisa Berkman, do Departamento de Epi-demiologia e Saúde Pública da Universidade deYale nos Estados Unidos, conduziu com LeonardSyme da Universidade da Califórnia um estudosobre a mortalidade na região administrativa deAlamedanoEstadodaCalifórniaxxxii.Em1965foiescolhidaumaamostradapopulaçãolocale10anosmaistardeamesmaamostrafoidenovoinquirida.Entreasduasdatas6,4%daspessoasinicialmenteinquiridasmorreram.O maior númerodemortesocorreu,comoseriadeesperar,entreapopulaçãomais velha – no grupo entre os 60 e os 69 anos.

Lisa Berkman testou para cada grupo de ida-des quatro variáveis: i) casados contra não casa-dos; ii) pessoas com contactos frequentes comamigos e familiares contra pessoas sem essescontactosfrequentes;iii)pessoasquefrequentama igreja contra pessoas sem essa frequência, e iv)pessoas que pertencem a associações formais ouinformais contra pessoas sem essa pertença. Osresultados foram esclarecedores.

As pessoas casadas tinham uma menor taxade mortalidade em todas as idades do que as pes-soas sozinhas. O risco de mortalidade acrescidaeraparticularmentemaisaltonoshomensdoquenasmulheresmasmesmonestaseranotóriaadi-ferença de taxa de mortalidade. Por exemplo nasidades dos 30 aos 40 anos tinham morrido 8,6%dos homens não casados contra apenas 3 % doscasados.Nasmulheresdogrupoetárioentreos60

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eos69anostinhammorrido20,7%dasmulheresnão casadas contra apenas 14,4% das casadas.

Os que tinham contacto frequente com ami-gos e familiares também exibiram taxas de mor-talidade inferiores e o mesmo acontecendo comosquepraticamumareligiãocontraosqueanãopraticam. Por exemplo nos homens dos 50 aos59anosataxademortalidadeerade11%paraosque mantinham contactos frequentes com ami-gos e familiares e de 14,5 % nos que não manti-nham estes contactos.

Porúltimooassociativismotinhatambémumimpacto positivo na mortalidade quer de homensquer de mulheres.

Este trabalho foi seguido de muitos outrosque globalmente confirmam estes resultados emostram que a sociabilidade acrescenta anos devida e o isolamento e a falta de participação so-cial aumenta a mortalidade.

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Capítulo vCapital social em Portugal

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Existe um acervo recente, mas crescente e dequalidade, de estudos sobre o capital social dasociedade portuguesa efectuados por investiga-dores portugueses e estrangeiros.

A inclusão do nosso país nos grandes inquéri-tos europeus e internacionais, como o EuropeanSocial Survey, o World Values Survey e outros,permitiu o desenvolvimento de um corpo signifi-cativo de análises comparativas do capital sociala nível internacional.

Nummuitocitadotrabalhode1997,StephenKnackePhilipKeefer,combaseemresultadosdo inquérito do World Values Survey envol-vendo 29 países de todos os continentes, cons-truíram indicadores para medir a Confiança,Civismo, Associativismo e Confiança noGoverno.

Portugalapresentavaloresmuitoreduzidosemtermos de Confiança (26.º lugar, atrás de paísescomo a Itália, o Chile ou a Nigéria ou a África doSul), de Civismo (26.º lugar, atrás de países comoaNigéria,oBrasileaTurquia),deAssociativismo(7.º a contar do fim) e de Confiança no Governo(27.º lugar) xxxiii.

Outros estudos, van der Meer (2010) eMorales (2010), construindo um conjunto deindicadores diferentes, chegam a conclusõessemelhantes em termos do posicionamentode Portugal em termos de capital social e deassociativismo.

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Laura Morales faz mesmo uma retrospectivada evolução do associativismo em 18 países eu-ropeus entre 1981 e 2002, um período de maisde 20 anos, e Portugal surge sempre nas últimasposiçõeseem2002surgemesmoemúltimolugardestacado (ver figura 5.1.).

A este respeito, a pertença a associa-ções nas democracias ocidentais os-cila entre 92 % na Dinamarca e 21 %na Polónia [Portugal penúltimo com24%]…enquantoaparticipaçãoemac-tividades oscila entre 49 % na Bélgicae no Reino Unido e 11 % para a Grécia[Portugal antepenúltimo com 19%] … efazertrabalhovoluntáriovariaentreos38% para os noruegueses e os 5% paraosportugueses,polacoseitalianos. xxxiv

Para se perceber melhor a situação portu-guesa convêm referir que nesse estudo sobre as18 Democracias Ocidentais Laura Morales clas-sifica os vários países em três grupos: os de altoassociativismo, os de médio associativismo e osde baixo associativismo (ver figura 5.1.). A classi-ficação é feita tendo em conta a percentagem doscidadãos de cada país que são membros de asso-ciações de vários tipos. Portugal classifica-se emúltimo lugar destacado com pouco mais de 25 %dos portugueses pertencendo a uma associação.Dos países de baixa percentagem de associati-vismo o que tem valores mais altos é a Grécia.Neste grupo quer a Grécia quer a Espanha apre-sentam valores superiores a 35%.

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Em contraste os países com maiores níveis de associativismo exibem resultados superiores a 80 %, estando neste grupo a Islândia, a Suécia, a Dinamarca, a Holanda e a Noruega.

Os níveis de associativismo são, como vimos anteriormente, um dos componentes da medida do capital social.

Figura 5.1. – Níveis de Associativismo nas Democracias Ocidentais em 2002

Alto Associativismo Médio Associativismo Baixo Associativismo

Islândia Canadá Grécia

Suécia Bélgica Espanha

Dinamarca Irlanda Itália

Holanda Alemanha França

Noruega Grã-Bretanha Portugal

Estados Unidos

Luxemburgo

Finlândia

Fonte: Laura Morales

Portugal para além de ser o país com a mais baixa percentagem dos seus cidadãos que pertence a associações é também aquele em que os que perten-cem a associações pertencem a um número menor de associações. Em Portugal o número médio de as-sociações a que pertence alguém que é membro de pelo menos uma associação é inferior a 1,5. Este nú-mero compara com valores superiores a 3 na Suécia e na Islândia e a valores superiores a 2,5 nos Estados Unidos, na Holanda, no Canadá e na Holanda xxxv.

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Naturalmente sendo poucos os portuguesesmembros de associações não admira que sejamainda menos os que fazem trabalho voluntárionessas associações. Também nesta variável onossopaíssurgeemúltimolugar.(verfigura5.2.)

5.2. – Percentagem da população que efectua trabalhovoluntário

0

5

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20

25

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3835

29 28

23 2320 19

16 15 1412

9 8 75 5 5

Fonte: Inquérito Social Europeu (European SocialSurvey) 2002-2003

Ainda seguindo os dados de Laura Morales,temos, pois, que em Portugal não só a grandemaioria dos cidadãos não pertence a associaçõescomoosquepertencemsãoemgeralmembrosdeapenas uma associação. E se os que pertencema associações são em geral dos mais activos daEuropa, fazendo trabalho voluntário em prol daassociaçãoaquepertencem,aexíguabasedepar-tidalevaaqueapercentagemglobaldepessoasa

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fazertrabalhovoluntáriosejaemPortugalamaisbaixadaEuropa,emboraaparcomaItáliaecoma Polónia, como também o corrobora o resultadodo Inquérito Social Europeu de 2002-2003 efec-tuadoem22paíseseuropeus(verfigura5.2.)xxxvi.

Cruzando o nível de associativismo, medidopela percentagem da população que pertence aassociações, e a intensidade dessa participação,medido pela percentagem de membros que faztrabalhovoluntário,DekkerevanderBroek xxxviiclassificaram os países em 3 grupos:

• Paroquiais – baixos níveis de associati- vismo mas forte activismo dos que parti- cipam (exemplo: Portugal, Itália); • Activos – elevado nível de associativismo e forte activismo dos que participam (exemplo: Estados Unidos da América); • Completos – elevados níveis de associa- tivismo e activismo médio dos que parti- cipam (exemplos: Suécia, Dinamarca).

Em Portugal o papel das elites deve ser des-tacado porque passam por elas as maiores al-terações sociais do País como assinala ManuelVillaverde Cabral:

Por outro lado, é verdade que, se nos co-locarmos do ponto de vista dos proces-sos de modernização civilizacional, osvalores apregoados pelas elites e contra--elites, minorias em quaisquer dos ca-sos, detiveram historicamente uma certa

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primazia. Com efeito muitas das mudan-ças normativas da sociedade fizeram-se,por assim dizer, de cima para baixo, oumelhor dizendo por difusão selectiva eadaptativadeatitudesecomportamentosa partir de uma minoria político-ideoló-gicaemdirecçãoaumamassasociológica.Poucas vezes a mudança terá ocorrido,historicamente,emsentidooposto. xxxviii

De entre os trabalhos mais recentes desta-cam-se os de Freire (2009) e de Viegas (2009)sobre capital social e participação política. JoséManuelLeiteViegasmostraqueumsubgrupore-levante das elites políticas, os deputados, exibemníveis mais elevados de associativismo do que apopulação em geral e mesmo muito mais altos àpopulação com escolaridade superior. Estes re-sultados vêm reforçar a tese de que:

Portugal enquadra-se com outros paí-sesdoSuldaEuropanotipoparoquial,definido pela fraca participação geraldos cidadãos, mas por elevados níveisde activismo. xxxix

Capital social negativo

Com um baixo nível de associativismo, umaconfiança interpessoal e nas instituições dimi-nuta a sociedade portuguesa tem um baixo índicede capital social. Por outro lado, como vimos nocapítulo iii, a população portuguesa percepciona

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a existência de um elevado índice de corrupçãoentre as elites políticas (partidos políticos, par-lamento) e económicas. Radicará esta corrupçãopercepcionada num capital social negativo?

LuísdeSousaeJoãoTriãesestudaramempro-fundidadeesteassuntoeconstruíramumíndicedecapital social negativo especificamente apropriadoparaacompreensãodacorrupçãonaadministraçãopública xl.Oíndiceagregacincocomponentes:

i) Contexto (desconfiança nos outros e nos funcionários públicos); ii) Predisposição ética negativa (tolerância para violar a lei e agir desonestamente); iii) Meios (recursos mobilizáveis para actos impróprios); iv) Normas de reciprocidade (confiança es- tratégica); e v) Fonte dos meios (sociabilidades infor- maisepertençaaredessociaisorgânicas).

Aplicando esta metodologia aos dados doInquérito Social Europeu que é feito periodica-mente num conjunto muito alargado de paísesdestaáreageográfica,verifica-sequePortugaltemumcapitalsocialnegativorelativamentediminutoequeseintegranogrupodaschamadasdemocra-cias liberais ocidentais (ver figura 5.3. – capitalsocial negativo).

PaísescomoaUcrânia,aPolóniaeaEslováquiaexibemvaloresmuitoelevadosdecapitalsocialne-gativo.Inversamenteospaísesnórdicos–Noruega,

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Dinamarca, Suécia, Finlândia e Islândia – são osque menos capital social negativo têm. Portugal,combaixovalordecapitalsocialnegativoestáaparcompaísescomoaSuíçaeaHolanda.

PodemosentãoconcluirqueemPortugaloca-pitalsocial,queropositivo,quertambémonega-tivo, são baixos.

5.2. – Ranking do capital social negativo (ordenado domais baixo ao mais alto)

Posição País Posição País

1 Noruega 13 ReinoUnido

2 Dinamarca 14 Áustria

3 Islândia 15 Estónia

4 Filândia 16 Alemanha

5 Suécia 17 Bélgica

6 Suíça 18 Grécia

7 Portugal 19 Hungria

8 Holanda 20 Rep.Checa

9 Irlanda 21 Eslovénia

10 França 22 Eslováquia

11 Espanha 23 Polónia

12 Luxemburgo 24 Ucrânia

Fonte:LuísdeSousaeJoãoTriães,«Capitalsocialecorrupção» 5

5 Sousa,LuíseJoãoTriães(2009),«Capitalsocialecorrupção»,capítulodolivroÉtica, Estado e Economia,organizadoporLuísdeSousa,Lisboa,ImprensadeCiênciasSociais.

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Capítulo viVozes críticas

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Como qualquer teoria nova, o conceito de ca-pital social foi alvo de um sério e duro escrutíniopor parte de sociólogos de outras escolas e linhasdepensamento.Essascríticaspodemseragrupadasem três grandes grupos: o primeiro questiona a le-gitimidadedeinclusãodocapitalsocialnoconceitobásicodecapital,osegundoacusaocapitalsocialdeser um conceito tautológico, circular, e por essa ra-zãosemvalorexplicativopróprioeoterceiroécons-tituídoporumamiscelâneadecríticasparcelares.

Capital social é capital?

Uma das primeiras grandes críticas ao capitalsocial é relativa ao uso da palavra capital. Estacrítica surge, na maioria das vezes, do lado daEconomiaquequestionaseocapitalsocialéver-dadeiramente uma forma de capital.

O Prémio Nobel da Economia, laureado em1987, Robert M. Solow, desafia o conceito decapital social de um ponto de vista económicointerrogando:

Dequêqueocapitalsocialéumstock?Qualquer stock de capital é fruto deuma acumulação de fluxos passadosde investimento líquido dos fluxos dedepreciação. Quais são esses investi-mentos passados no caso de capital so-cial? Como base de que princípio é quepoderíamos contabilizá-los, medi-los eacumulá-los? xli

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Apesar de reconhecer o papel da confiança,dasnormassociais,edocomportamentohumanona economia, Solow recusa atribuir-lhes o esta-tutodecapital.Contudoadvogaqueseaprofundeo estudo de como as instituições sociais e as ati-tudespartilhadas interagememoldamasformasde funcionamento da economia.

Dúvidas do mesmo teor são também levantadasporoutroPrémioNobel 6,KennethJ.Arrowqueem-borareconhecendoque«Pareceexistirumconsensoalargadosobreaplausibilidadedahipótesequeasre-des sociais afectam o desempenho económico» xlii,defende que o conceito de capital «implica três as-pectos:a)extensãonotempo;b)sacrifíciodeliberadonopresenteparabenefíciofuturo,ec)seralienável»,aspectosquenãoencontranocapitalsocial... xliii

A estas críticas têm respondido os proponen-

tesdateoriadocapitalsocialafirmandoqueoca-pital social é um recurso, e portanto um capital,que pode ser mobilizado pelos indivíduos paraos seus fins (Coleman) ou que é um activo quese pode converter, em certas circunstâncias, emcapital económico (Bourdieu).

Conceito circular

A crítica de que o capital social é um conceitocircular,tautológico,temencontradobastanteeco

6 KennethJ.ArrowrecebeuoPrémioNobelem1972.

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e deriva, em certa medida, da ambiguidade queresulta das múltiplas definições de capital socialque encontramos na literatura. Alguns autorescolocam maior ênfase nos resultados, outros nasfontes do capital social. Esta ambiguidade pro-move a confusão entre causas e consequências.E quando estas se confundem o conceito torna-seredondoeinútilcomosalientaStevenDurlauf:«O problema com uma definição funcional é queela torna a análise impossível.» xliv

De facto quando o capital social é definidopelas suas consequências – tal sociedade/comu-nidade/pessoa tem mais recursos logo tem maiscapitalsocialeéporissoquetemmaisrecursos–opoderexplicativoperde-seeoconceitoesvazia--se de conteúdo.

Enfrentando esta crítica Alejandro Portes

afirma ser necessário na análise do capital so-cial deixar bem claro: i) quem são os detentoresdo capital social; ii) quem são as fontes do capi-tal social, e iii) quais são os recursos que podemserobtidos xlv.Outrosautoresacrescentariamumquarto factor o mecanismo pelo qual aqueles trêselementos se integram.

Críticas parcelares

Elencamos agora resumidamente aqui um con-junto de críticas diversas mas todas de carácterparcelar, incluindo algumas dissonâncias entre asdiversasescolasquesereclamamdocapitalsocial.

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Coleman defendeu que o capital social neces-sita de redes fechadas para se desenvolver plena-mente, nomeadamente na sua dimensão de cria-ção de normas sociais. Lin pelo contrário afirmaqueasredesfechadasouabertasservemdiferen-tes propósitos. Assim para as acções expressivasque visam manter os recursos que o indivíduo jápossui as redes fechadas são as melhores, masque para as acções instrumentais, que buscamaumentar os recursos que o indivíduo possui, asredes abertas são preferíveis. Nesse sentido des-taca o papel da posição de «ponte» entre redes(ver capítulo ii) que é particularmente favorávelao desenvolvimento de acções instrumentais.

Outras críticas centram-se mais nas teses dePutnam acusando-o de ter uma visão demasiadoEUA-cêntrica e não levar em conta dados sobreoutras sociedades doutros continentes. No en-tantoestescríticosesquecemqueoestudoinicialde Putnam incidiu exactamente sobre a regiona-lização… na Itália.

Putnam num estudo exemplar pelas inúme-ras e diversificadas estatísticas e informaçõesque compila, conclui que o capital social estáem declínio nos Estados Unidos e aponta duasrazões principais para esse efeito – a televisãoque subtrai horas preciosas de sociabilidade e adistância casa-trabalho-compras que tambémretira muito tempo à participação social e cívica.Outros autores defendem que não, que o capitalsocial não está em declínio nos EUA mas quetem actualmente outros contornos e se processa

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essencialmente através de redes sociais virtuaisna Internet. Putnam contrapõe que as redes so-ciais não geram um capital social efectivo e forteentreosseusmembrosealonga-senaanálisedasorganizaçõesbaseadasnaInternetqueapelidadeorganizações «livro de cheques» porque a únicaacção que os seus membros desenvolvem é a depagar as quotas. Esta discussão continua acesa.

Outra discussão interessante é a que decorresobre a natureza do capital social em termos detratar ou não de um bem público, como defen-deu Coleman, ou um bem privado, como deixouentender Bourdieu ou se mesmo de um bem si-multaneamente público e privado como Putname outros sustentam. Os argumentos continuama fluir sem que se tenha formado uma opiniãoconsensual.

Estas críticas e polémicas demonstram que ateoriadocapitalsocialsemantémnoepicentrodemuitapesquisaeanálisesociológicaeeconómica.Mostraavitalidadedeumconceitocapazdesus-citar tamanhas e tão diversas opiniões e contra--opiniões. Mostra a utilidade e a actualidade dasexplicações sobre o real que esta teoria consegueoferecer. Em português corrente diríamos a teo-ria do capital social está viva e recomenda-se.

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Capítulo viiConclusões

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Ao chegar ao fim, sentimos que percorre-mos um círculo completo em que partindo daconstatação óbvia de que as nossas relaçõesinterpessoais contam, que a forma de nos as-sociarmos, com quem, onde e para quê, temuma influência decisiva na nossa vida, na vidada nossa comunidade e de forma agregada nanossasociedade,podemosconcluirqueessaob-servação de bom senso está ancorada em anosdepesquisasociológica,empiricamentesusten-tada, levada a cabo pelos mais proeminentescientistas desta área.

Vimos como o conceito nasceu e amadure-ceu no último quartel do século xx com os tra-balhos de Bourdieu, Coleman, Putnam e Lin.Falámos dos três elementos do capital social, aconfiança,asnormaseasredessociaiseperce-bemos como estas são importantes e como es-tão na base de diferentes tipos de capital socialque por sua vez têm consequências diferentesna sociedade. Consequências que em geral sãomuito positivas mas que também podem dege-nerar em suporte a actividades criminosas.

PercebemosquePortugal,emváriosestudostransnacionais surge como um dos países daEuropa com menor capital social, reflectindoa baixa confiança que os portugueses têm nasinstituições e uns nos outros e a baixa taxade associativismo e participação cívica. As ra-zões para esta situação estão basicamente porestudar e não se sabendo a causa não se podeactuar.

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Verificámos também que existe uma forte re-lação entre o capital social e o desenvolvimentoeconómico e social, sendo que muitos defendemque o capital social contribui decisivamente paraesse desenvolvimento.

Por último assistimos a algumas das discus-sões que animam os estudiosos do capital social– será verdadeiramente um capital se não podeseralienado,teráateoriavalidadeouseráapenasum raciocínio interessante mas circular.

Saímos com uma convicção. A participaçãoemassociaçõesvoluntárias,aparticipaçãocívica,apertençaaredessociaisdiversificadas,sãoposi-tivas quer para o indivíduo que a elas se entregaquer para a sociedade em geral. Esses benefíciossão muitos e diversificados e passam pela saúde,pela longevidade, pelo bem-estar económico epela democracia.

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Para aprofundar o tema do capital social su-gerimos um pequeno conjunto de vinte textosbásicos. Infelizmente muitos destes trabalhosnão estão ainda traduzidos para português. Asobras estão listadas por ordem alfabética e nãopor qualquer, sempre discutível, hierarquia deimportância. O leitor, aqui chegado, dispõe já dainformação necessária para escolher os pontose temas que deseja conhecer em maior profun-didade pelo que lhe não será difícil encontrarnesta lista abaixo os textos mais indicados. Boasleituras.

1. Adam,F.,Roncevic,B.(2005),«SocialCapital:Recent Debates and Research Trends» inSocial Science Information, vol. 42, n.º 2,pp. 155-183.

2. Bourdieu, Pierre (1986), «The forms ofCapital» in Richardson, J., Handbook of Theory and Research for the Sociology of Education, Westport, CT: Greenwood,pp. 241-58.

3. Berkman, Lisa e S. Leonard Syme (1979),«Social Networks, Host resistance andMortality: A nine-Year Follow-up study ofAlameda County Residents» in American Journal of Epidemiology, vol. 109, n.º 2,pp. 186-204.

Leiturassugeridas

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4. Coleman,James(1988),«SocialCapitalintheCreationofHumanCapital»inThe American Journal of Sociology,vol.94,pp.95-120.

5. Coleman, James (1994), Foundations of Social Theory, Cambridge, First HarvardUniversity Press.

6. Field, John (2009), Social Capital, Londonand New York, Routledge.

7. Freire, André, coord. (2001), Recrutamento Parlamentar. Os Deputados Portugueses da Constituinte à VIII Legislatura, Lisboa,STAPE.

8. Freire, André Freire e José ManuelLeite Viegas (org.) (2009), Representação Política – O Caso Português em Perspectiva Comparada, Lisboa, Sextante.

9. Gambetta, Diego (2000), «Can We TrustTrust?» in Diego Gambetta (ed.), Trust: Making and Breaking Cooperative Relations,electronicedition,DepartmentofSociology,University of Oxford.

10. Granovetter, Mark S. (1973), «The Strengthof Weak Ties» in American Journal of Sociology, vol. 78, n.º 6, pp. 1360-1380.

11. Kawachi, I., Kennedy B. P., Lochener K.,Prothrow-Stith D. (1997), «Social Capital,Income Inequality and Mortality» in

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American Journal of Public Health, n.º 87,pp. 1491-1498.

12. Lin, Nan (2001), Social Capital: A Theory of Social Structure and Action, New York,Cambridge University Press.

13. Morales, Laura (2006), Instituciones, movili-zación y participación política. El asociacio-nismo político en las democracias occidentals,Madrid, CEPC.

14. Portes, Alejandro (1998), «Social Capital:Its origins and applications in modern so-ciology» in Annual Review of Sociology,n.º 24, pp. 1-24.

15. Putnam,RobertD.(1994),Making Democracy Work, New Jersey, Princeton UniversityPress.

16. Putnam, Robert D. (2000), Bowling Alone,New York, Simon & Schuster Paperbacks.

17. Simmel, Georg (2004), The Philosophy of Money, editado por David Frisby, London,Routledge.

18. Sousa,Luís(2009),Ética, Estado e Economia,Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais.

19. Sabatini, Fabio (2005), The role of so-cial Capital in Economic Development. Investigating the Causal Nexus through

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Structural Equations Models, Working pa-per, Milão, Fondazione Eni Enrico Matei.

20.Sabatini, Fabio (2006), The empirics of so-cial Capital and economic development: a critical perspective, Working paper, Milão,Fondazione Eni Enrico Matei.

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Capítulo I – O que é o capital sociali Loury,Glenn(1977),«ADynamicTheoryofRacialIncome

Differences» in Women, Minorities, and Employment Discrimination, editado por P. A. Wallace. Lexington,Massachusetts, Lexington Books, pp. 153-186.

ii Bourdieu, Pierre (2010), The Forms of Capital, http://w w w.mar xists.org/reference/subject/philosophy/works/fr/bourdieu-forms-Capital.htm, acedido a 13 deJunho de 2010.

iii Idem.iv Field,Jonh(2009),Social Capital,LondonandNewYork,

Routledge, p. 20.v Putnam,RobertD.(1994),Making Democracy Work,New

Jersey, Princeton University Press, p. 19.vi McKnight, D. H., and Chervany, N. L. (1996), The mea-

nings of trust Technical report, MISRC Working paperseries 96-04, University of Minnesota, ManagementInformation Systems Research Center.

vii Simmel, Georg (2004), The Philosophy of Money, editadopor David Frisby, London, Routledge, p. 179.

viii Título que poderíamos traduzir para português comoConfiança – Mecanismo de Redução da Complexidade Social.

ix Luhmann,Niklas(2000a),La Confiance – Un mécanisme de reduction de la complexité sociale, Paris, Economica– Collection Études Sociologiques, p. 27.

x Sztompka, Piotr (1999), Trust – A Sociological Theory,Cambridge, Cambridge University Press, p. 25.

xi Lin, Nan (2001), Social Capital – A Theory of Social Structure and Action, New York, Cambridge UniversityPress.

Notas

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Capítulo II – Tipos de capital socialxii Freeman, Linton C. (1978), «Centrality in Social

NetworksConceptualClarification»inSocial Networks,n.º 1, pp. 215-239.

xiii Putnam, Robert D. (2000), Bowling Alone, New York,Simon & Schuster Paperbacks.

xiv Granovetter, Mark S. (1973), «The Strength of Weak Ties» inAmerican Journal of Sociology, volume78,Issue6,1360-1380.

xv Woolcock, M. e A. T. Sweetser (2002), «Bright Ideas:Social Capital – The Bonds That Connect» in ADB Review, vol. 34, n.º 2.

xvi Leonard, R. and Bellamy, J. (2010), «The relationshipbetween bonding and bridging social capital amongChristiandenominationsacrossAustralia»in Nonprofit Management and Leadership, n.º 20, pp. 445-460.

Capítulo III – Verso e reverso do capital socialxvii Gambetta, Diego (2000), «Can We Trust Trust?» in

Gambetta, Diego (ed.), Trust: Making and Breaking Cooperative Relations, electronic edition, Departmentof Sociology, University of Oxford, chapter 13, p. 214.

xviii Idem.xix Portes, Alejandro e Patricia Landolt (2000), «Social

Capital:PromiseandPitfallsofItsRoleinDevelopment»in Journal of Latin American Studies, vol. 32, n.º 2,pp. 529-547, http://www.jstor.org/stable/158574, ace-dido a 22 de Março de 2010, p. 532.

xx Coleman, James (1994), Foundations of Social Theory,Cambridge, First Harvard University Press.

xxi Grødeland, Åse (2005), Informal Networks and Corruption in the judiciary: elite interview findings from the Czech Republic, Slovenia, Bulgaria and Romania,trabalho apresentado à Conferência de Arusha de 15de Dezembro de 2005, p. 7.

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xxii Idem, p. 7.xxiii Grødeland, Åse (2005), «Red Mobs», «Yuppies» and

«Lamb Heads»: Informal Networks and Politics in the Czech Republic, Slovenia, Bulgaria and Romania, tra-balho apresentado ao ICCEES VII World Congress,Berlin, 25-30 de Julho de 2005, p 45.

xxiv Comunicado da Transparência e Integridade (2010),«83 % dos Portugueses dizem que a corrupção piorouem Portugal desde 2007», http://www.transparencia.pt/comunicados/, acedido a 5 Janeiro de 2011.

Capítulo IV – Capital social e desenvolvimento económicoxxv Temple, Jonathan e Paul A. Johnson (1998), «Social

CapabilityandEconomicGrowth»inQuarterly Journal of Economics,vol.113,n.º3,pp.965-990,http://www.js-tor.org/stable/2586879,acedidoa22deMarçode2010,p. 965.

xxvi Putnam, Robert D. (2000), Bowling Alone, New York,Simon & Schuster Paperbacks, p. 21.

xxvii Pereira, Paulo Trigo, Nuno Silva e João Andrade e Silva,Positive and negative reciprocity in the labour market,http://pascal.iseg.utl.pt/~ppereira/docs/pereira_ESA.pdf, acedido a 14 de Março de 2011.

xxviii Serageldim, Ismail e Christiaan Grootaert (2000),«DefiningsocialCapital:anintegratingview»inParthaDasgupta e Ismail Serageldim (edt.) Social Capital – A Multifaceted Perspective, Washington, D. C., WorldBank.

xxix Collier, Paul (1998), Social Capital and Poverty, Social Capital Initiative,Workingpapern.º4daSocialCapitalInitiative do World Bank.

xxx Guiso, Luigi, Paola Sapienza e Luigi Zingales (2004), «TheRole of Social Capital in Financial Development» inAmerican Economic Review,vol.94,n.º 3,pp.526-556.

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xxxi Sabatini,Fabio(2006),The empirics of social Capital and economic development: a critical perspective, Workingpaper, Milão, Fondazione Eni Enrico Matei.

xxxii Berkman,LisaeS.LeonardSyme(1979)«SocialNetworks,Host resistance and Mortality: A nine-Year Follow-upstudy of Alameda County Residents» in American Journal of Epidemiology, vol. 109, n.º 2, pp. 186-204.

Capítulo V – Capital social em Portugalxxxiii Knack, Stephan e Philip Keefer (1997), «Does Social

Capital have an economic payoff? A cross country in-vestigation»inQuarterly Journal of Economics,vol.112,n.º 4, pp. 1251-1288.

xxxiv Morales, Laura (2010), Changing Patterns of Associationalinvolvement in Europe – very first draft, http://www.es-sex.ac.uk/ecpr/events/jointsessions/paperarchive/uppsala/ws8/Morales.pdf, acedidoa20deJunhode2010.

xxxv Idem.xxxvi Idem.xxxviiDekker,PauleAndriesvandenBroek(2004),Civil Society

in Longitudinal and Comparative Perspective: Voluntary Associations, Political Involvement, Social Trust and Happiness in a Dozen Countries, trabalho apresentadona 6th International Conference of the InternationalSociety for Third-sector Research, Ryerson University,Toronto, 11-14 Julho.

xxxviii Cabral, Manuel Villaverde (1998), «Maioria sociológicae minorias ideológicas» in Portugal na Transição do Milénio, Lisboa, Fim de Século.

xxxixViegas, José Manuel Leite e Susana Santos (2009),«Envolvimento dos cidadãos e dos parlamentares nasassociações» in André Freire e José Manuel LeiteViegas(org.)Representação Política – O Caso Português em Perspectiva Comparada, Lisboa, Sextante.

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xl Sousa, Luís e João Triães (2009), «Capital social e cor-rupção»inÉtica, Estado e Economia: Atitudes e Práticas dos Europeus, Luís de Sousa (organizador), Lisboa,Imprensa de Ciências Sociais, pp. 93-125.

Capítulo VI – Vozes críticasxli Solow, Robert M. (2000), «Notes on Social Capital and

Economic Performance» in Partha Dasgupta e IsmailSerageldim (edt.), Social Capital – A Multifaceted Perspective, Washington, D. C., World Bank, p. 7.

xlii Arrow, Kenneth J. (2000), «Observations on SocialCapital»inParthaDasguptaeIsmailSerageldim(edt.),Social Capital – A Multifaceted Perspective,Washington,D. C., World Bank, pp. 3-4.

xliii Idem.xliv Durlauf, Steven N. (1999), The Case «Against» Social

Capital.xlv Portes, Alejandro (1988), «Social Capital: Its origins and

ApplicationsinModernSociology»inAnnual Review of Sociology, pp. 1-24.

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