do Brasil na Alemanha -...

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Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – ANO 8 – Nº 47 ANO 8 – Nº 47 ANO 8 – Nº 47 ANO 8 – Nº 47 ANO 8 – Nº 47 O relato poético da realidade CRÔNICA ENTREVISTA Beto Brant fala sobre novo filme PÁGINA 9 PÁGINA 10 SEMINÁRIO DE CINEMA JÚLIA PITTHAN MARINA VOLPATTO Em parceria com o Estado, PUCRS transforma em pólo cinematográfico a escola de formação de padres em Viamão EDUARDO MENDES PÁGINAs 6, 7 e 8 O mundo é o desafiante do Brasil na Alemanha Depois do quinto título mundial, todas as seleções correm para impedir o hexa PÁGINA 11 Cláudia Laitano, de ZH Diretor gravou em Porto Alegre

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Um jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – orto Alegre, maio de 2006 – ANO 8 – Nº 47ANO 8 – Nº 47ANO 8 – Nº 47ANO 8 – Nº 47ANO 8 – Nº 47

O relatopoéticoda realidade

CRÔNICA ENTREVISTA

Beto Brantfala sobre

novo filmePÁGINA 9PÁGINA 10

SEMINÁRIODE CINEMA

JÚLIA PITTHANMARINA VOLPATTO

Em parceria com o Estado,PUCRS transforma em pólocinematográficoa escola de formaçãode padres em Viamão

EDUARDO MENDES

PÁGINAs 6, 7 e 8

O mundo é o desafiantedo Brasil na AlemanhaDepois do quinto título mundial, todas as seleções correm para impedir o hexa PÁGINA 11

Cláudia Laitano, de ZH Diretor gravou em Porto Alegre

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Jornal mensal da Faculdade de Comuni-cação Social (Famecos) da Pontifícia Universi-dade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,Porto Alegre, RS, Brasil.

E-mail: [email protected]: http://www.pucrs.br/famecos/

hipertexto/045/index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda Cunha

Coordenadora/Jornalismo: CristianeFinger

Produção dos Laboratórios de Jornalis-mo Gráfico e de Fotografia.

Professores responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (re-

dação e edição), Celso Schröder (arte e editoraçãoeletrônica) e Elson Sempé Pedroso(fotojornalismo).

ESTAGIÁRIOSChefe de Redação: Thaís Almeida

Editores: Ana Carola Biasuz e FábioRausch

Editoras de fotografia: Daiana BeinEndruweit e e Fernanda Fell

Editora de arte: Manuela KananRepórteres: Alessandra Brites, Amanda

Gularte, Carmel Mostardeiro, Francisco D. Pra-to, Guilherme Zauith, Jesus Alberto Bardini,Júlia Pedrozo Pitthan, Laion MachadoEspíndula, Lucca Rossi, Luisa Kalil,MarianaGomide, Mauro Belo Schneider, Natália Gon-

çalves, Rafael Terra, Raíssa de Deus Genro,Renan V. Garavello, Raphael Leite Ferreira,Tatiana Feldens, Tatiana Lemos, ViníciusRoratto Carvalho, Wagner Machado da Silva.

Repórteres fotográficos: Daiana BeinEndruweit, Eduardo Mendez, Elisa Viali,Fabrícia Albuquerque, Fernanda Fell, JulianaFreitas, Lucas Uebel, Manuela Kanan, MarinaVolpatto, Nicolas Gambin, Rodrigo Tolio.

.Diagramadores: Bruno Bertuzzi, JuliaPitthan e Manuela Kanan.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem: 5.000

Na cerimônia em que foi empossadoreitor da PUCRS, em 9 de dezembro de2004, Joaquim Clotet acrescentava ao en-sino, à pesquisa e extensão oempreendedorismo, pois, “com ele, é possí-vel articular a universidade de modo a con-solidar suas metas, para o desenvolvimen-to científico e profissional, aproximandoacadêmicos e pesquisadores ao mundo dotrabalho nos âmbitos regional, nacional einternacional”.

Sob essa lógica, o Hipertexto lembraos dez anos da morte do ex-diretor daFamecos, Antônio González. Em 18

Embora não tenha vindo à Ale-manha como repórter, e sim paraestudar a língua e cuidar de duas cri-anças imaginava que estaria no cen-tro dos acontecimentos, em razão daCopa do Mundo. Estando em Mu-nique, poderia, sim, “dar uma de re-pórter”. Um desafio que eu precisa-va enfrentar.

Nos primeiros meses, não mesentia no centro de nada, não conse-

O olhar de uma jovem repórter na Alemanhaguia nem saber o que acontecia nomundo, pois minha família alemãnão é muito chegada em televisão,não tinha internet e os jornais (issosó descobri aqui) não falavam o mes-mo alemão que eu. O tempo livreera pouco, pois tinha aulas de ale-mão pela manhã, e no resto do dia,em vez de repórter, era babá.

Andando pelas ruas, entrandoem vielas que não fazem parte doguia turístico de Munique, e conver-sando com pessoas dos mais diver-sos países do mundo, lembrei do que

um amigo me disse antes de viajar:“tente contar as coisas através dosseus olhos, de uma estrangeira naAlemanha, pois as notícias serão da-das pelas Agências”. Foi mais oumenos isso que me recomendou ojornalista Flávio Porcello. A partir daícomecei a escrever, mesmo que nãotivesse para onde mandar, aquilo quenão era contado no noticiário.

Fiz amizade com turcos, que osalemães tanto criticam. Descobri queos países ricos reclamam da alta taxade imigração, mas estão pagando

Na primeira vez em que PedroAlmodóvar experimentou discutir olado intimista masculino, em Fale comEla, a trama puxava mais para o ladosensível dos personagens. Até por-que o cineasta espanhol nunca con-seguiu desvincular a feminilidade deseus filmes. A diferença brusca de tra-tamento está no novíssimo longa dodiretor grego Constantin Costa-Gavras, O Corte (França – 2005). Lon-ge de trabalhar o drama psicológicode Bruno (José Garcia) de forma sere-na, a força bruta e selvagemtransparece na tela e surpreende quan-do expõe a disputa cruel no mercadode trabalho francês como se fosse asentranhas de uma guerra calculada.

Depois de passar um bom tem-po discutindo a política com um tomquase panfletário – e utilizando umritmo documental de denúncia – aexemplo de Z (1969) e Estado de Sítio

(1973), Gavras vem solidificando onovo perfil da sua cinematografiadesde o lançamento de O Quarto Po-der (1997). Em Amém (2002), seguiudedilhando polêmicas internacionais,enfocando o antisemitismo, e aper-feiçoando sua maestria em dizer semchocar. A cena em que o espectadorsó enxerga a expressão facial do ge-neral alemão observando os judeussendo mortos dentro das câmaras degás é uma das imagens marcantesdo cinema neste novo século.

O Corte não pode ser classificadoapenas como drama, ou levar rótulode humor negro. Os gêneros se con-fundem tanto que a reflexão por ve-zes invade a reação de repulsa, e nou-tras confirma a identificação. O amore o ódio do protagonista reforçam aambigüidade humana de atuar entreo racional e a intempestivo, sempre àbeira do abismo.

Quando Bruno foi demitido daempresa de papel onde trabalhava

Filme de Costa-Gavras leva à beira do abismo CARTUM

A sociedade de massa se divide emsegmentos de pessoas, que por algummotivo se encontram. Os segmentosnascem em função de um hábito ouconceito comuns ao grupo de indiví-duos. Se gosto de rock, logo minhatribo, como diria o filósofo MichelMaffesoli, é dos roqueiros. Por conse-qüência, detesto pagodeiros. Dos seg-mentos nascem também preconceitos.

O mundo contemporâneo comsuas ferramentas que facilitam o “estarjunto” propiciou o boom dasegmentação. É só olhar no tão glori-ficado Orkut para constatar a avalanchede segmentos, opa, comunidades. Sãopartidárias, religiosas, raciais, sexuais,midiáticas e outras tantas formas decolocar o indivíduo numa espécie decadeia de conceitos, onde quem pensadiferente é tido como inimigo.

Segundo o dicionário Aurélio, apalavra segmento significa “pequenaparte de um todo”. Devido a essa pe-quena fatia de verdades, muita gentemata. Veja a interminável guerra entrexiitas e sunitas. O próprio conceito decomunicação de massa deve ser repen-sado. Os empresários dos grandes ve-ículos, atentos ao processo desegmentação da sociedade, investempesado em canais que satisfaçam pú-blicos específicos, o conhecido contra-to de leitura. Se há público para filmesde terror, logo surge um canal exibin-do muito sangue na telinha. Consta-tada demanda pela notícia, dá-lhe ca-nais noticiosos. O mundo é um gran-de nuance de conceitos e hábitos. Cadaprofissão ou religião tem suas caracte-rísticas próprias. Saber percebê-las erespeitá-las, nos faz seres inteligente.Sempre é bom estar junto aos nossos,mas sem caminhar em linha reta.

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por viver às custas da pobreza dosoutros.Participei de um protestocontra uma reunião de Conselho deSegurança da ONU que acontecia nacidade, e vivi muitas outras coisas queestavam nas entrelinhas. Quando fuiprocurar estágio numa rádio, desco-bri que pensavam ser o espanhol alingua dos brasileiros, e por falar por-tuguês, não consegui a vaga. De tudoisso, sem dúvida, o melhor até, ago-ra, foi ter aprendido que nas entreli-nhas pode estar o mais interessantedo que a história que nos contam.

Os segmentos

que a do Brasil, onde todos lutamhá tempos pela sobrevivência diária.E nesse vale-tudo, o diretor propõeuma alternativa até certo ponto bi-zarra, onde só a ira motiva para se-guir em frente ou desistir. Afilmografia de Costa-Gavras caminhapara a análise cada vez mais psicoló-gica, partindo de um indivíduo atéjuntar todos os pontos dessa socie-dade em crise.

num cargo de grande status, decidiuprocurar todos os adversários quepudessem atravancar o seu caminho.Delineou o plano de ataque e partiupara a matança. Aquele homem demeia-idade, com bons princípios eexemplo para os filhos, era só umafachada, que também estava prestesa desabar na primeira garoa. Entre asvítimas escolhidas, todas na mesmasituação e prováveis concorrentes:engenheiros de alto escalãoespecializados em papel, que foramdemitidos por ganharem demais,independente do currículo invejávele da competência.

A vergonha de descer alguns de-graus e ter de trabalhar em outro ofí-cio, como garçom ou vendedor, ex-põe o orgulho ferido da sociedadeeuropéia em ver os senhores da eco-nomia cada vez mais se preocupan-do com o próprio lucro do que coma experiência de seus funcionários. Aselva, para eles, é muito mais cruel

anos de gestão, iniciada em 1976, ele senotabilizou pela capacidade empreendedo-ra no exercício de suas atividades. Famili-ares e colegas garantem que Antoninhochegou a acumular 16 atividadesconcomitantemente, ocupando cargos ju-rídicos e de classe, como o de presidente daAssociação Rio-grandense de Imprensa(ARI) e do Sindicato dos Jornalistas Pro-fissionais do Estado.

A vocação eclética do ex-diretor resi-de, sobretudo, na idéia de ensino que im-plantou na Famecos. O método levou emconta a inserção dos alunos no mercado

jornalístico. O acerto da política mostrahoje ex-alunos da faculdade com destaquenos principais veículos de comunicação doPaís. As iniciativas de González, contu-do, extrapolaram a metodologia técnica darotina das redações. Entusiasta do Pro-grama de Pós-Graduação, Antoninho viu,na academia, o pólo complementar. AFamecos passou a formar profissionais comcapacidade para o acompanhamento diáriodos fatos, mas também para a pesquisaacadêmica. O número superior de cem te-ses de mestrado e doutorado desenvolvidascorrobora a importância da modalidade

avançada de estudo.No momento, o Campus de Viamão

prepara-se para abrigar o primeiro comple-xo cinematográfico do RS. A área esco-lhida é o antigo seminário de formaçãoreligiosa, erigido na década de 1950. Alémdisso, a nova unidade da IncubadoraMultissetorial da Base Tecnológica Raiarserá inaugurada no final deste mês. APUCRS, assim, ganha tanto no espectrocultural quanto no suporte a novos proje-tos de pesquisa, com ênfase às inovaçõestecnológicas produzidas por empresas doTecnopuc. Fábio Rausch, editor

Exemplo em jornalismo e pólo de cinema

FABIANE BENTO

ARQUIVO PESSOAL

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Falta de doadores impede transplantesCampanha mobiliza voluntários, familiares de enfermos e de pacientes que morrem na fila de espera

Domingo é dia de descanso paramuitos, mas para Letícia Moraes,Juliana de Oliveira, Lúcia Gonçalvese Luciana Johann, residentes do Ser-viço de Gastropediatria do Hospitalde Clínicas de Porto Alegre que estãoà frente da Organização Não-Gover-namental Amigos de Crianças e Ado-lescentes com Doenças de Fígadoesse pode ser um dia de trabalho. Nafolga de abril, elas vestiram as cami-setas da ONG, convidaram parentese amigos e foram ao Brique da Re-denção para chamar a atenção para afalta de doadores de órgãos paratransplantes. Um estudo realizadoem Madri por uma médica gaúcha,se colocado em prática, seria capaz dereduzir esse problema em pelo me-nos 50% dos casos.

No Brique, elas queriam apenasesclarecer mitos e tabus sobre a doa-ção de órgãos, principalmente de fí-gado. Orientadas pela professoraThemis Reverbel da Silveira, coorde-nadora do programa de transplantehepático do Clínicas, que completa11 anos, as jovens estão preocupa-das: “Depois de realizar quase deztransplantes de fígado em criançaspor ano, o programa está há setemeses sem órgãos”, desabafam.Nesse meio tempo, já morreram duascrianças, das oito que aguardavam nalista, Isabela e Isadora.

A pequena Isadora, de sete me-ses de vida, faleceu em março, devi-do à cirrose. A mãe, Cláudia ÁvilaTazio, decidiu transformar o seu so-

Rio Grande do SulPotenciais doadores: 352NAF: 105 (29,8%)Santa CatarinaPotenciais doadores: 167NAF: 69 (41,3%)ParanáPotenciais doadores: 246NAF: 80 (32,5%)São PauloPotenciais doadores: 1533NAF: 426 (27,8%)Rio de JaneiroPotenciais doadores: 504NAF: 143 (28,4)

Fonte: CNCDOs

Teve bomba, mas não foi a guer-ra do Iraque. Quase cem pessoasmorreram, mas não foi uma catás-trofe natural. Escolas, comércio e ae-roportos fecharam, mas não foi feri-ado. Dia 12 de maio era uma datacomum até 2006. A partir de agora,ficou marcada como a primeira expe-riência do Brasil em atentados depolítica terrorista. São Paulo foi o ce-nário e, ao mesmo tempo, o prota-gonista de uma história inesquecí-vel. “Culpa do receitão”, define o ex-deputado do PT, que tem sólida for-mação voltada à política prisional ede direitos humanos, Marcos Rolim.

Jornais do país inteiro e de gran-de parte do mundo publicaram: aotransferir membros da facção crimi-nosa Primeiro Comando da Capital(PCC), São Paulo enfrenta rebeliões.A onda de motins atingiu 73 das 105prisões paulistas. O resultado foicontabilizado, segundo o jornal Cor-reio do Povo, em pelo menos 94mortes. Dentre as vítimas, estavam22 policiais militares, seis policiais ci-

vis, três guardas metropolitanos, oitoagentes de segurança e quatro cida-dãos comuns. Sem falar nos ônibusdestruídos, que chegaram a 85.

Num contexto preocupantecomo esse, muitas pessoas têm asolução na ponta da língua. Sugeremadoção de leis mais severas, execuçãopenal mais rigorosa, maior policia-mento, construção de presídios e in-tolerância. Estes são alguns requisi-tos do “receitão”, mencionado porRolim e que fazem parte do sensocomum. Mas ele alerta: “São Paulo éo Estado que mais se enquadra nes-sa linha e deu nisso”. De acordo como ex-deputado, a maior cidade daAmérica do Sul se transformounuma agência da indústria do crime.“Quando 765 presos recebem a no-tícia de que vão para um presídio desegurança máxima, num regime emque são isolados, ‘enterrados vivos’,reagem, passam a produzir o caos”.Outro fator que aumenta essa revol-ta é o RDD (Regulamento de Disci-plinas Diferenciado), em que o pre-so considerado perigoso pode ficarenclausurado por até um ano. “Eles

não querem ir para um cofre”,compara.

Nos últimos dez anos, SãoPaulo foi o maior investidor de se-gurança pública do país. Há 140mil presos, ou seja, 40% da popu-lação carcerária brasileira ali. Porisso mesmo, Marcos Rolim classi-fica a polícia como muito violenta,mais do que todos os países euro-peus juntos. “É uma ilusão acre-ditar que a solução esteja no rigor ena violência. Está sim nas penasalternativas”. Explica que em regi-ões mais desenvolvidas, só vai parao presídio o indivíduo que come-te crimes muito graves, caso con-trário, cumpre outras formas dereeducação.

O entrevistado do Hipertextoenfatiza que a culpa das rebeliões éda legislação penal. Entrando novemil presos em casas penitenciáriasde São Paulo por mês, saindo ape-nas quatro mil, não tem como ofe-recer um ambiente capaz de tornaro detento uma pessoa melhor. Arealidade leva a esses tipos de im-previstos.

Crime organizado ataca São Paulo

frimento em solidariedade: “As pes-soas devem se conscientizar. Minhafilha não conseguiu fazer o trans-plante, agora pretendo ajudar as ou-tras crianças que precisam, levandoinformações para os lugares”. Cláu-dia já visita o hospital semanalmen-te e quer estender essa atitude paradentro das escolas.

Viviane Oliveira da Luz conhecebem a angústia de quem espera pordoadores. Há seis anos sua filha,Paola, fez o transplante de fígado porter nascido com atresia de vias biliares.“E hoje ela está aqui, 100% normal”,comemora. A professora Themisexplica que qualquer pessoa viva podefazer a doação de fígado, desde queresponda aos critérios de compatibi-lidade sangüínea, tamanho do órgão,peso e alguns outros. Completa,apontando que a cada oito transplan-tes feitos em adultos no Brasil, ape-nas um é realizado em crianças. E omais comum é transplantar o órgãode uma criança morta para uma cri-ança doente. Levando essas dificul-dades em consideração, Viviane clas-sifica a doação como o maior ato deamor que pode existir. “A dor deuma mãe poupou a minha”,relembra emocionada.

Apesar do Brasil ser o país como maior índice de investimentos emtransplantes do mundo, proporcio-nalmente ao seu Produto InternoBruto (PIB), as filas de espera conti-nuam crescendo e o tempo se tornalongo. Na Espanha, as coisas são di-ferentes. Enquanto aqui só sereutiliza órgãos de pessoas com

morte cerebral, lá existe um progra-ma para reutilização de órgãos emcasos de morte com “coração para-do”. Quando ocorre um acidente,por exemplo, todos os profissionaisque lidam com a saúde são prepara-dos para manter os órgãos funcio-nando, mesmo sabendo que a pes-soa pode não voltar a si. Além disso,o reconhecimento de morte encefálicaé muito eficiente. Na verdade, isso é

que mantém o sucesso do progra-ma. Aqui, as pessoas, inclusive mé-dicos, se confundem entre o que émorte cerebral e coma. A morte cere-bral, que corresponde a 0,5 % a 4 %dos óbitos em hospital e quando sepode fazer a doação de órgãos, é to-talmente irreversível. O coma não.Nesse estado, pacientes têm possibi-lidade de voltar à vida normal. “Mor-te cerebral é sinônimo de morte”,alertam as residentes.

A coordenadora da Comissão deTransplantes do Hospital de Clíni-cas, Rosana Nothen, fez sua tese demaster em Gestão na Universidadede Madri com o tema Aspectos técni-cos, éticos e legais do doador de coraçãoparado: módulo piloto baseado na experi-ência de Madri – “Uma proposta viávelpara o Brasil?”. A resposta ela aindanão tem, mas acredita que poderiareduzir consideravelmente as filas deespera. O estudo baseia-se na avalia-ção de 402 casos. Destes, 17% dostransplantes não foram efetuadospor que a família não autorizou, 5%porque não teve liberação judicial e10% por demais problemas. Nada éfeito sem a família ser comunicada.Por isso, o diálogo é indispensável.

A professora Themis tem via-gem marcada para vários lugares domundo, com a missão de debater oassunto em congressos. Porém, avi-sa: “Não me basta falar só para con-vertidos, tenho que chegar aos desa-creditados”. Ela sugere às universi-dades criar uma disciplina “Da doa-ção ao tratamento dos receptores” nocurrículo, por considerar a maioria dosmédicos despreparados para lidarcom a situação. Uma frase dela é ca-paz de justificar a necessidade de ha-ver mais estudos na área: os trans-plantes são vítimas do próprio su-cesso. Explica que as listas de espera

crescem cada vez mais, enquanto onúmero de doadores se mantém. NaEspanha, há 35 doadores por mi-lhão de habitantes. No Brasil, o nú-mero não é superior a seis. Se conti-nuar assim, a previsão é de que: maispessoas terão alegrias interrompidas.

Os profissionais envolvidos re-conhecem que, algumas vezes, devi-do à burocracia ou à falta de conheci-mento, eles colaboram para a escas-sez de doações. A demora nos pro-cedimento de retirada dos órgãos,que pode exceder 24 horas (devidoaos critérios que visam garantir a se-gurança do processo), acaba aumen-tando a dor da família e impedindoque rituais de despedida ocorramnormalmente. Isso é capaz de invali-dar a boa vontade de quem quer di-minuir as estatísticas negativas. Ape-sar das barreiras, Viviane da Luz, amãe de Paola, lembra: “Enquantonão se presencia o problema, a gentesó passa e olha. Até que um dia elepode bater na nossa porta”.

Pesquisa de 2005 aponta doa-dores potenciais e a Não Auto-rização Familiar (NAF).

MAURO BELO

Residentes do Hospital de Clínicas fazem campanha no Brique da Redenção

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– Qual a diferença entre a ro-tina de uma assessoria de comu-nicação e a de um veículo?

– A rotina de assessoria é maiscomplexa, porque, em uma redação,os níveis de produção estão maisbem delineados, pela grande diversi-dade hierárquica de cargos, como edi-tores, repórteres, diretores, secretári-os. No primeiro caso, entretanto,todo mundo produz ao mesmotempo, desde o coordenador até orepórter. Eu sou um profissionalmuito vinculado ao texto. Por isso,mesmo como coordenador de Co-municação, por exemplo, na Secreta-ria Estadual do Desenvolvimento eAssuntos Internacionais, em 1997,

“O líder deve incentivartrabalho em equipe”

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Coordenador da Assessoria de Comunicação Social da Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul (PUCRS) há quatro meses, Luiz Antônio

Nikão Duarte acumula diversificada experiência no âmbito jornalístico, desderepórter e chefe setorial de veículos, até dirigente de assessorias. À vontade na

cadeira que ocupa na mesa de reuniões do seu gabinete, fala com desprendimen-to de sua trajetória e de especificidades da comunicação. Nikão, como é

conhecido, cita, com orgulho, algumas das vezes em que foi chefe de reportagem(Folha da Tarde, Rádio Guaíba, Jornal do Comércio). Também ocupou a

secretaria de redação do Diário Catarinense e a chefia de redação da sucursalda RBS em Brasília, onde, ao término da década de 1980, tornou-se oprimeiro jornalista homem a integrar a equipe dirigida por Ana Amélia

Lemos, até então composta só de mulheres. Tantos postos de notoriedade nãodeslumbram o multifacetado jornalista, que lembra das suas referências: “AAna Amélia, junto com o Walter Galvani, o Emanuel Mattos, é uma das

profissionais mais completas do jornalismo brasileiro praticado na atualidade”.Para o Hipertexto, Nikão concedeu esta entrevista:

ou por sete anos na Federação dasIndústrias do Rio Grande do Sul(Fiergs), além de todos os locais poronde passei, nunca me furtei de en-trevistar, apurar, redigir, editar e dis-tribuir matérias.

– O fato de ter sido chefe deequipes em diversos veículos in-fluencia na atividade de lideran-ça, ao coordenar uma assessoriade Comunicação Social?

– Certamente. Mesmo que cadaequipe tenha suas peculiaridades,sobretudo do ponto de vista dosseus membros, um cargo mais ele-vado exige um grau de entendimen-to acerca dos diversos comportamen-tos humanos, para otimizar o relaci-

onamento de equipe.– Há diferença significativa no

texto produzido por uma assesso-ria de imprensa, se comparado aode veículo?

– Embora respeite posições con-trárias, acho que não deve haver dife-rença. O texto que uma assessoriaproduz deve, necessariamente, res-ponder a todas as questões busca-das, tecnicamente, em veículo. Por-tanto, a matéria de assessoria deveser escrita como se fosse para jornal,abrindo com o mais importante, hi-erarquizando as informações, tentan-do construir uma tese em torno doassunto apurado. Isso é o ideal. Mas,evidentemente, às vezes, dentro deuma assessoria, não será estabelecidauma informação contrária aos obje-tivos da organização. É possível en-frentar a informação. Talvez, aí, resi-da uma diferença entre o texto jorna-lístico e o de uma assessoria. Mas issoé pontual e deve ocorrer minima-mente. Como regra, um repórter deassessoria de comunicação deve pro-duzir um texto como se estivesse emuma redação, com o título mais fortepossível, fechando o conjunto deinformações posto à disposição doleitor.

– Em razão da experiênciaacumulada, com passagens emveículos, você tem mais facilida-de no entendimento de como di-rigir uma informação, ou de sepronunciar junto a esses meios de

Fórum de professores propõegraduação específica em jornalismo

O 9º Encontro do Fórum Na-cional de Professores de Jornalis-mo, realizado em Campos dosGoyatacazes, no Rio de Janeiro,no final de abril, reafirmou suacontrariedade com a ComunicaçãoSocial Integrada. Defendeu, entreoutra bandeiras, curso específicopara Jornalismo e a imediata sus-pensão do Sistema de Avaliaçãodo Ensino Superior (Sinaes), porentender ser inadequação.

A Carta de Campos tambémpropõe a instalação de uma mesapermanente de negociação, com aparticipação das entidades repre-sentativas para elaboração de umnovo método de avaliação. Defen-de a reavaliação de todos os cur-sos de jornalismo do país. Nodocumento, os professores reafir-mam que a formação universitá-

ria de graduação específica e de quali-dade é condição essencial para o exer-cício profissional e para assegurar oacesso da sociedade à informação pú-blica.

O evento contou com a partici-pação do professor EduardoMeditsch, de Santa Catarina. Em suaconferência, discorreu sobre a profis-são e o ensino de jornalismo, a partirda crise que enfrentam ao se depara-rem com uma nova sociedade do co-nhecimento. Denominou as “velhastendências” de “o horror econômi-co”, “a crítica diletante” e “a miopiatecnicista”. Segundo Meditsch, comestas “três velhas tendências domi-nando os cursos, o barco perde orumo quando açoitado pelo venda-val tecnológico”. Considerou que “ojornalismo e o seu ensino estão à de-riva, e para reencontrar o seu norte,na nova sociedade do conhecimen-to, é preciso que superem as velhastendências”. Para ele, só o reencon-

ENTREVISTA/ NIKÃO DUARTE

comunicação?– Acredito que sim. Por ter rece-

bido, nas redações, informaçõesoriundas de assessorias, é possívelotimizar essa relação, devido à per-cepção do que tem, ou não, valor denotícia. É comum, em eventos, queocorra situações até ridículas para asassessorias, pois só receberão desta-que da mídia, caso haja interesse pú-blico. Mesmo assim, por uma neces-sidade de promoção do evento, osassessores tendem a superdimensi-oná-los.

– Tendo em vista a sua trajetó-ria, qual o conselho que daria aosjornalistas no exercício da profis-são?

– Um jornalista periférico, não doponto de vista pejorativo, mas porlocalização geográfica mesmo, comoos do Rio Grande do Sul, deveriapassar pela experiência de Rio, SãoPaulo e Brasília. Os dois primeirosestados equivalem-se. Mas Brasília éum lugar fundamental para o enten-dimento do Jornalismo, por ser o“centro” dos acontecimentos do país.

Nikão Duarte recomenda aos repórteres atuação em Brasília

tro com os valores mais profundosda profissão permitirá que esta so-breviva no novo contexto. “As esco-las de jornalismo são local privilegia-do para o reencontro”, enfatizou.

O pré-fórum da Federação Naci-onal dos Jornalistas avaliou os 10anos do Programa de Estímulo àQualidade do Ensino em Jornalis-mo e teve como debatedores CelsoSchröder, secretário geral da Fenaj eprofessor da PUCRS; Juliano Carva-lho, do FNPJ e professor da USP, eEdson Spentholf, diretor regional doFNPJ, entre outros.

Durante o encontro, foi eleita asegunda diretoria do FNPJ compostapor Gerson Luiz Martins, da UFRN(presidente); Juliano Carvalho, daUNESP (vice-presidente); EdsonSpenthof da UFG (diretor científi-co); Sandra de Deus/UFRGS (dire-tora administrativa) e ValciZuculoto/UFSC (diretora de Comu-nicação).

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Legalização do estágio serádebatida em Ouro Preto

Motivo de polêmica há algumtempo, a questão da legalização doestágio em jornalismo será examina-da no Congresso Nacional dos Jor-nalistas que se realizará no próximomês, em Ouro Preto, Minas Gerais.Uma proposta de padronização doestágio acadêmico foi elaborada pelaFederação Nacional dos Jornalistas(Fenaj) uma vez que, desde a décadade 90, os estudantes reivindicam apossibilidade legal da prática doaprendizado através do estágio, ale-gando que o contato com o mercadode trabalho contribui na formaçãoprofissional.

Atualmente, segundo o artigo 19do Decreto 83.284/79, que regula-menta a profissão de jornalista, cons-titui-se fraude a prestação de servi-ços profissionais gratuitos ou compagamento simbólico. Assim tam-bém se classifica os “estagiários” queatuam em local de trabalho exercen-do atividade de prática do jornalistaprofissional.

Dentre os cursos de comunica-ção social, apenas para os aspirantesa jornalismo a realização de estágio évetada, mas na prática, é realizado emlarga escala. A coordenadora do Cur-so de Jornalismo da Famecos,Cristiane Finger, é enfática: “Não im-porta que seja ilegal, não importa queas faculdades não reconheçam oestagio extracurricular, ele acontece”.Para a apresentadora do SBT, é me-lhor impostor regras. Por exempo:proporcionalidade nas redações emrelação aos profissionais, remunera-ção razoável, carga horária compatí-vel com os estudos, supervisão deum profissional no local de trabalhoem conjunto com um professor.

A estudante Isabel Bermúdezestá concluindo seu curso e estagiadesde o 1º semestre.Teve passagempela revista digital Cyberfam, naUniTV e na TV Globo de NovaYork. Em sua opinião, o estágio emjornalismo não é regulamentado por-que muitos profissionais se sentemameaçados pelos estagiários, já que émão de obra barata e substituível.

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FERNANDA FELL

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Antônio, Antoninho, González,era dinâmico, idealista, respeitador,metódico, desorganizado, intenso,despojado, obsessivo por trabalho,sempre disposto a contribuir comcolegas e com o jornalismo. É quaseimpossível falar da comunicação ga-úcha das últimas décadas sem citar oprofissional que transpirava jornalis-mo. González é aquele profissionalinigualável, apaixonado pelo que fa-zia. Passados 10 anos de sua morte,ele inspira não só boas lembranças,mas a atuação de estudantes e pro-fissionais.

Nascido em Porto Alegre, no dia30 de julho de 1938, casou-se comMyrthes com quem teve dois filhos:Cid, médico, e a Myrthinha, psicólo-ga. Criado em um internato, pratica-va sua primeira paixão: o boxe. Nes-te esporte, aprendera a não sentir dore não demonstrar emoção. No inter-nato, adquiriu o hábito de ler e escre-ver, principalmente obras de ficção,faroeste e guerra. Aprendeu tambémlições de estratégias e entendeu que,na guerra, se perde e se ganha e istopode ser feito com categoria. Come-çou a fumar aos 12 anos, no colégio,escondido. Contrariando os médi-cos, fumou até o último dia de vida.

Sobre a adolescência dizia não terdo que se queixar, apesar de ter umpai violento, era também generoso.Tentou ser piloto de avião antes dese decidir pelo jornalismo, mas foireprovado nos exames de visão. Paracontentar o pai, passou entre os pri-meiros no vestibular de medicina,mas cursou jornalismo, seu grandedesejo. Formou-se em Jornalismopela PUC em 1959, entrou na asses-soria de imprensa do Banrisul em 60e na Última Hora em 61. Passou para

Há 10 anos, Antoninho González encerrava uma carreira movida a paixão

Ele transpirava jornalismoa Caldas Júnior, onde foi editor e di-retor de redação da Folha da Tarde eno retorno do Correio do Povo.

Antoninho, como era chamadopelos amigos, tinha muitas ativida-des e chegava dizer que eraonipresente. Paralelamente a jorna-lista, professor e diretor da Famecos,foi juiz classista do Tribunal Regio-nal do Trabalho e diretor-presidenteda Companhia Rio-Grandense deTurismo. Chegou a exercer 16 ativi-dades diferentes ao mesmo tempo.Presidiu a Associação Riograndensede Imprensa (ARI) e o Sindicato dosJornalistas Profissionais do Estado.

Defensor ferrenho da ética, diziaque a decência era uma obrigação dojornalista. Repetia com exaustão quea lealdade aos princípios éticos dojornalismo deveria sempre prevale-cer. Dedicou sua vida à causajornalística, trabalhava 20 horas pordia e tudo que não fosse ligado à pro-fissão ficava em segundo plano, in-clusive a saúde. Teve três infartos,quatro pontes de safena, 11 edemaspulmonares, pneumonia, anemia e35 acidentes de carro. Dirigiu em altavelocidade um Corcel branco enve-nenado e um Opala preto rebaixa-do. “Sou o González que eu queroser, e não o que os outros gostariamque fosse”, repetia.

Recebeu vários títulos e honrari-as, como “Professor Emérito”, daPUCRS; “Cidadão Emérito de Por-to Alegre”, outorgado pela CâmaraMunicipal e a comenda de “MéritoSuperior da Justiça do Trabalho”.

González abandonou a família eos amigos cedo, com apenas 57 anos.Partiu numa quinta-feira (8 de agos-to), no meio da semana como dese-java, pois “no final de semana nãoseria bom para a imprensa e ami-gos”. Viveu a seu modo com inten-

Um professor notável, vaidoso,surpreendente, dificilmente seria es-quecido por quem o conhecia. Anto-nio González foi diretor da Famecospor 18 anos, de 1976 a 1994, colo-cando-a entre as melhores faculda-des do país ao direcionar seu ensinoprioritariamente para o mercado detrabalho. Lecionou também, por 19anos, na Universidade do Vale do Riodos Sinos (Unisinos) de onde saia,ao final das manhãs de sábados, erumava para Santa Maria, onde aju-dou a criar o curso de jornalismo daUniversidade Federal de Santa Mariae o curso de Relações Públicas daUniversidade de Caxias.

González foi grande incentivadorda criação do programa de pós-gra-duação da Famecos e divulgador dafaculdade, conforme muitos profes-

sores. Em 1993, o irmão NorbertoRausch, então reitor da PUCRS, in-formou que seriam incentivadas acriação de programas na área de me-dicina, informática e comunicação,caso a Famecos se sentisse capaz, de-veria implantá-lo. Sem mestrado edoutorado no Estado, os professo-res precisavam ir para São Paulo ouaté para fora do Brasil para se aper-feiçoarem. Então, um grupo que es-tava terminando o doutorado na Uni-versidade de São Paulo (USP), comoa professora Dóris FagundesHaussen e o professor RobertoSimões se reuniram para implantaro mestrado em 1994, junto com oprofessor Francisco Rudiger e ElianaAntonini. No mesmo ano, aUnisinos criou seu programa e aUniversidade Federal do Rio Grande

do Sul (UFRGS) em 1995. O douto-rado foi criado em 1999.

Antoninho defendia a relaçãocom o mercado, mas procurava con-ciliar com a academia, pois acreditavaser importante, mesmo não tendofeito mestrado, diz a professora Dó-ris. Desde então já foram produzi-das na Famecos mais de cem teses demestrado e doutorado e a concor-rência na época de seleção é de 150pessoas para 40 vagas no mestrado e120 para também 40 vagas no dou-torado.

Ex-colegasO professor João Brito foi alu-

no dele em uma disciplina e lembrade Antoninho já como colega, anosmais tarde. Brito foi coordenador dejornalismo enquanto González era

diretor. Brito conta que Gonzáles foi“o primeiro diretor a se impor juntoà administração e às entidades de co-municação para melhorar o curso,sendo o responsável direto pela qua-lidade e reconhecimento”.

O professor Marques LeonamBorges da Cunha quase teveAntoninho como paraninfo de suaturma, em 1970, mas o grupo se di-vidiu e acabou sendo o ministro dasComunicações da época, EuclidesQuandt de Oliveira. Colega deGonzález na Folha, foi trazido porele para lecionar na Famecos,em 1982.Define o ex-diretor como um tiposimples, “sem essas bobagens demetidos. Seu jeito de mandar era nabase da confiança, por isso todos pro-curavam fazer bem seu trabalho”.Pessoalmente era um estóico, decre-

ta. “Ele foi o artífice da melhor facul-dade do Brasil”.

Leonam conta que, quando pu-blicou um livro com outros autores,em 1970, no dia do lançamentoGonzález deixou um bilhete emcima de sua máquina na então Folhada Tarde, dizendo que aquilo “eraexatamente o que esperava dele”.Sobre a saúde, lembra: “Muitas ve-zes assisti o Antoninho tomar o re-médio na mesa de formatura. Paravade colocar o barrete nos alunos, pa-rava para tomar. Tinha ainda proble-mas no coração que o faziam sus-pender o que estivesse fazendo e darumas batidas no peito”.

Levou a vida até onde sua forçapermitiu. “Espero que lembrem doque fiz de bom e esqueçam meu es-tilo de vida”, costumava dizer.

sidade e irreverência. Duas semanasantes de falecer, havia contraído umainfecção nos brônquios, em conse-qüência de gripe, depois uma radio-grafia mostrou que seus pulmõesestavam restabelecidos.

Na véspera de sua morte, apósum dia de trabalho na sua empresaGabinete de Comunicação Integra-da, González tossiu e disse a sua

então sócia Beatriz Dornelles: “Es-tou no fim. Acho que chegou minhahora”. No dia seguinte, teve umahemorragia e concordou em ir aohospital. Antes, exigiu tomar umbanho, escovar os dentes e se pente-ar. No hospital, constatou-se umapneumonia que evoluiu grada-tivamente. Morreu devido a umaparada cardíaca.

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Na década de 70, um grupo dejornalistas decidiu fundar, em PortoAlegre, uma cooperativa de jornalis-tas que editava, entre outros produ-tos, o semanário Coojornal. Por ide-al profissional, González, juntamen-te com sua colega Clarice Aquitstapace,se tornou um dos fiadores das ope-rações financeiras do Coojornal. Osdois assinaram documento comoavalistas de empréstimo feito pelacooperativa junto à Caixa Econômi-ca Estadual para comprar uma im-pressora Composer.

Imersos nas atividades paralelas,ambos souberam tarde demais daevolução da dívida. Na verdade, sósouberam do problema 24 horasantes de seus bens seriam penhora-dos, caso a dívida não fosse quitada.Como os outros avalistas com ativaparticipação na cooperativa nada pos-suíam em seu nome (haviam passa-do seus bens para nomes de tercei-ros), Antoninho e a colega tiveramque pagar a dívida. Ela colocou à ven-da o único imóvel que tinha, mais osdólares que guardava para o caso dealguma emergência e vendeu tambémas jóias da família. González vendeuo imóvel onde morava com a esposae filhos, dois carros que possuía,dólares que guardava, terreno na praiae ficou sem ter onde morar.

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González: irreverente, sedutor, leal, capaz, sem apego pela vida

Em uma das últimas fotos como diretor da Famecos, no auditório

A Famecos era a cara do Antoninho, diretor por 18 anos

ARQUIVO DA FAMÍLIA

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A “ex-usina de padres”, agora, seráuma usina de filmes. A comparaçãopode ser exagerada, mas resume atransformação que ocorre na área de15 hectares e 32 mil metros quadra-dos de construção do CampusViamão da PUCRS – antigo Seminá-rio Maior – que vai abrigar o primeiroComplexo Cinematográfico do RioGrande do Sul. O prédio de corredo-res que parecem uma avenida ondejovens seminaristas conheciam as ope-rações elementares, as ciências, as artese aprofundavam os estudos da reli-gião e da espiritualidade, começa a ser

adaptado para receber a agitada, masnão menos criativa arte da indústriado cinema.

O Seminário Maior de Viamão foierguido na década de 50, numa épocaem que a Igreja Católica tinha objeti-vos religiosos grandiosos e, por isso,mantinha centros de formação para500 seminaristas. A capacidade paracinco centenas de internos logo semostrou ociosa. No início dos anos60, a instituição acomodava apenascerca de 100 alunos, muito menos doidealizado. Hoje, com boa parte de suaestrutura abandonada e corroída pelotempo, uma nova oportunidade sur-ge para melhor aproveitar a área. Pro-

tocolo de intenções foi assinado emmarço entre a PUCRS, Secretaria deEstado da Cultura (Sedac) e Funda-ção Cinema RS (Fundacine). Os recur-sos materiais, humanos e financeirosdestinados à construção do comple-xo serão divididos entre as três insti-tuições.

O complexo ocupará cerca de umquarto do prédio agora administradopela Universidade. São três andares,com enormes salas vazias, onde po-derão ser montados estúdios de mé-dio e grande porte, depósitos de ma-terial cenográfico, oficinas de mar-cenaria e confecção de figurinos, refei-tórios, camarins, além da possibilida-

de de acolher empresas cinematográ-ficas e fornecedores. “O CampusViamão também dispõe de terrenoslivres para a construção de prédiosnovos, no futuro, como um grandeestúdio e área para abrigar cenáriosexternos, cidades cinematográficas.Fica perto de Porto Alegre e distantede congestionamentos de trânsito, oque facilita o trabalho”, explica o pre-sidente da Fundacine, Cícero Aragon.

Segundo o encarregadooperacional do Campus, João CarlosVargas de Oliveira, há várias alternati-vas de acesso ao complexo. “Como éo último prédio, dá para fazer estacio-namento atrás, com entrada pelas la-terais. Local para fazer cinema tem bas-tante aqui”, assegura. O CampusViamão também vai abrigar uma novaunidade da Incubadora Multissetorialde Base Tecnológica Raiar. A empresase situará no local, com objetivo dedar suporte administrativo e gerenciala novos empreendimentos origina-dos dos projetos de pesquisa daPUCRS, as empresas geradas noTecnopuc, e as propostas de empre-endedores voltados à inovação combase tecnológica.

História do CampusConstruído em 1954, o Seminá-

rio de Viamão foi uma iniciativa doentão arcebispo dom Vicente Scherer.Em 1948, os bispos gaúchos envia-ram à Sagrada Congregação dos Semi-nários, em Roma, um pedido de au-torização para sua abertura. A inten-ção era ampliar o espaço para os estu-dantes de Filosofia e Teologia do Se-minário Central de São Leopoldo. Olocal escolhido foi Viamão por estarpróximo a Porto Alegre. Três anosapós a inauguração, foi criada a Facul-dade de Filosofia Nossa SenhoraImaculada Conceição (Fafimc).

Em agosto de 2002, a pedido dosbispos, a União Brasileira de Educa-ção e Assistência, mantenedora daPUCRS, assumiu a Fafimc e o imóvel.Segundo o arcebispo da Capital, domDadeus Grings, o prédio foi repassa-do à PUCRS por ser grande demais eter um custo de manutenção muitoelevado. Do terreno de 76 hectares,foram cedidos 16 à Universidade, in-cluindo o prédio do antigo seminá-rio. Os 60 hectares restantes continu-am de posse da Cúria Metropolitanaque construiu um novo seminário,mais moderno e de menor estrutura.

Em 2004, o Campus Viamão co-meçou a funcionar. A antiga Fafimcoferecia cursos de graduação em Filo-sofia e Pedagogia. Com a criação doCampus, foram acrescentados Direi-to, Administração de Empresas e Es-pecialização em Planejamento e Ges-tão Escolar. Foram instalados aindaum moderno laboratório deinformática, duas bibliotecas – umaacadêmica e outra de teologia – maisauditório de 250 lugares e salão de atospara 380 pessoas.

Na antiga escola de formação de padres, surge primeiro pólo cinematográfico do Rio Grande do Sul em parceria da PUCRS com a Secretaria de Cultura do Estado e Fundacine

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Seminário de Viamão vai se transformar em set de cinema

Em setembro de 1963, começa ahistória do Mundo Jovem no Semi-nário Maior de Viamão. Nesse ano,foi lançada a revista S. O. S. Voca-ções, que tinha o objetivo de atrairjovens para os seminários. Era edi-tada em português e espanhol. “Foicriado para ser um boletimvocacional, destinado a padres e frei-ras, sendo utilizado pelas equipesvocacionais das paróquias”, explica oadministrador do MJ, André Birck.

Em agosto de 1964, trocou denome para Lançai as Redes, ainda

com objetivos especificamentevocacionais. Em 67, ainda no Semi-nário, o jornal se expande, passando adirigir-se aos jovens em geral, abor-dando e refletindo suas inquietudes,ansiedades e esperanças. Nesta época,passou a chamar-se Mundo Jovem.

Em 1972, saiu do Seminário paraa PUC, inicialmente sob a responsabi-lidade técnica da Famecos e orientaçãoeditorial da Faculdade de Teologia, queo coordena até hoje. Desde sua trans-ferência para a Universidade, MJ dei-xou de abordar só teologia. Sua linha

editorial voltou-se para a educação, te-mas da juventude, evangelização ca-tólica e testemunhos. Com tiragemde 120 mil exemplares e distribuiçãoem todos os estados brasileiros, éhoje de uma leitura alternativa parajovens e adultos. Em linguagem sim-ples e direta, trata dos mais diversostemas da vida do jovem. “Apesar denão ser mais a revista que nasceu noberço religioso do Rio Grande do Sul,não deixa de lado a marca do idealis-mo e reconhece as pessoas que ajuda-ram a construí-lo”, enfatiza Birck.

MUNDO JOVEM SURGIU ENTRE SEMINARISTAS

Dom Ivo Lorscheiter, hoje bispoemérito da Diocese de Santa Maria, foium dos reitores do seminário. Recém-chegado de Roma, assumiu a direçãoda casa em meados de 1966, perma-necendo na função por vários anos.“O Seminário foi uma grande iniciati-va do arcebispo dom Vicente. Foi tam-bém, muito significativo para os pa-dres do Rio Grande do Sul. Além deum grande número de seminaristas,havia um grupo muito bom de pa-dres formados em Filosofia e Teolo-gia”, contou dom Ivo por telefone aoHipertexto.

O advogado Máriton Silva Limafez curso de Teologia em Viamão de1958 a 1961. Durante o ano de 1959, aconvite de Oscar Bertoldo, o advoga-do foi o redator-chefe da revista O Se-minário, que trazia conteúdo voltado

para a união dos seminaristas brasilei-ros, apresentando matérias úteis à for-mação sacerdotal. Quando chegou aoseminário, com 21 anos, ficou impres-sionado com a estrutura do local. “Vi-nha do Seminário da Prainha, em For-taleza (CE), onde o prédio era peque-no. A lembrança mais viva daquelaépoca, em Viamão, é dos corredoreslargos do prédio. Tudo contribuía paradeixar a mente aberta, a não ter estrei-teza de pensamento, a não ficar presoa um só manual de estudos”. Eleacrescenta que o fato dos professoresterem cursado a UniversidadeGregoriana, de Roma, havendo assimum especialista para cada matéria docurso de teologia, era outro traço forteda formação recebida.

Ao deixar o seminário, Lima vol-tou para sua terra natal, no Maranhão,

onde exerceu o sacerdócio por trêsanos. “No início do meu ministério,eu era uma tocha viva de evangelização.Mas, meu bispo era um homem mui-to atrasado, parado no tempo anteri-or à Segunda Guerra Mundial, total-mente desatualizado. Eu não tinhaamigos no sacerdócio que pudessedialogar comigo. Todos tinham qua-se três vezes a minha idade. Isso mefez, aos poucos, perder o entusiasmoe a pensar em mudar de vida. Então,tomei a decisão de ir para o Rio deJaneiro”. Na capital fluminense, con-seguiu emprego na Petrobrás, fez cur-so de Direito e se casou. Depois de 30anos na área jurídica, aposentou-se.Hoje trabalha na terceira vice-presidên-cia do Tribunal de Justiça do Rio deJaneiro, além de divulgar o institutode difusão da língua portuguesa.

Dom Ivo, o antigo diretor, destacaprofessores e a formação de padres

EDUARDO MENDES

Longos, amplos e silenciosos corredores eram utilizados para meditar e oracões

EDUARDO MENDES

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O prédio do antigo Semináriode Viamão está imerso em histó-ria. Nos corredores e salas há sinaisde uma época em que fé e conheci-mento se confundiam. Os passosde quem caminha pelas salas vazi-as ecoam sem obstáculos, pois oteto está a mais de quatro metrosde altura. O eco só é quebrado pelovento que faz ranger velhas portasde madeira, levantando a grossa ca-mada de poeira do chão. Das jane-las, a única coisa que se vê são asárvores, que contornam o prédio eajudam na composição do cenáriode isolamento e contemplação, tí-picos de um seminário.

Os vestígios do tempo estãoem toda parte. São móveis, utensí-lios e ornamentos de uma épocade grande movimento no antigoseminário. No refeitório, por exem-plo, há modelos de antigas panelasindustriais e outros equipamentos,alguns ainda em perfeito estado deconservação. Um minielevador cha-ma a atenção. Instalado entre a co-zinha e a lavanderia, era usado paraa passagem de alimentos e roupas.Numa ante-sala do refeitório, umacâmara refrigeradora contém trêssalas internas, todas para estocagemde alimentos congelados. Sem uti-lização, a câmara mostra sinais dotempo, com azulejos quebrados eaparelhos enferrujados. No andarinferior, na parte externa, estão pe-ças antigas, imagens religiosas, ca-mas, poltronas, mesas, cadeiras,quadros, móveis que foram dispen-sados por não ter mais possibili-dade de uso, formando um grandeentulho.

O Salão de Atos, que ocupa aárea da antiga capela, continuaintacto. De acordo com o encarre-gado operacional João CarlosVargas de Oliveira, a única mudan-ça foi uma pintura e a colocação deum forro no encosto das cadeiras.Os vitrais mostram pinturas queretratam a história da vocação sa-cerdotal, além de imagens de per-sonalidades da época, como domVicente Scherer e o Papa Pio XII.Para Oliveira, funcionário da Uni-versidade há mais de 30 anos e,desde 2002 no Campus Viamão,

não há local melhor para se traba-lhar. “É uma tranqüilidade, não seouve nada, só sabiá cantando”.

A funcionária Rosimeri deMoura Aguiar, há quatro anos emViamão, concorda com o colega.Conta que, no início, acostumadaao barulho de Porto Alegre, estra-nhou o silêncio. “O local ativa acuriosidade para saber como era naépoca do Seminário. Ouvimos his-tórias de padres que moraram aquidurante vários anos e ficamos ten-tando imaginar como seria issocheio de pessoas”, comenta. Paraela, a construção do Complexo Ci-nematográfico vai tornar conheci-do o Campus. “Isso aqui é tão bo-nito, é uma pena que as pessoasnão saibam que existe um cantinhoassim. Temos um jardim de inver-no maravilhoso, que você senta eparece estar num mundo à parte”.

Um dos pontos de visita obri-

Teccine forma primeira turma em julho

A primeira turma do curso deProdução Audiovisual – Cinema eVídeo da Famecos se forma em ju-lho e a produção dos trabalhos deconclusão está a todo vapor. Osformandos devem fazer um filme noformato que desejarem, utilizandoroteiro proposto no semestre passa-do. São quatro filmes feitos, cada umsob a responsabilidade de um grupodiferente de alunos.

O primeiro, “Rosa Negra”, temroteiro e direção de Sérgio De Boni econta a história de um motorista(Rafael Kerber) que se envolve comum casal de ladrões prestes a dar umgrande golpe. Uma ágil trama urba-na, com muita ação, gravada no for-mato digital.

Quase todas as locações aconte-ceram no Clube Geraldo Santana eduraram quatro dias. O segundovídeo é um documentário feito porBruna Leite, Cristina Flores e BrunaGiordani. Com o título provisóriode “A Teia e o Ponto”, o trio prome-te inovar com uma idéia de cinemade ensaio.

“Placebo” é o nome da produ-

ção do terceiro grupo.Gravado no formato35mm, é o primeirofilmado na Famecosutilizando este tipo depelícula. MarceloRestore, diretor eroteirista, ousou aonarrar a busca de umpsicótico (Fábio Cu-nha) por sua amantedesaparecida (SimoneM.)As filmagens du-raram seis dias e acon-teceram na Usina doGasômetro, numbordel, no HospitalSão Pedro e no Cemi-tério São João. O fil-me contou com a aju-da de muitos volun-tários, como alunosda Famecos de níveisanteriores como deamigos e conhecidosdos envolvidos.

Com o título provisório de “Suí-te”, o quarto filme trata da briga entretrês casais em seus respectivos quartos,hospedados todos num mesmo ho-tel. Os diálogos se complementam,

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com uma dinâmica montagem parale-la que dá um toque especial à história.A formanda Roberta Bastos assina adireção e o roteiro do filme, gravadona primeira semana do mês de maio.A produção é de Patrícia Barbieri,Daniela Mazzilli e Laura Salimen.

Filmes estão sendo rodados pelos alunos

MANUELA KANAN

A poeira do tempo e o eco da fé

Espaços estão sendo restaurados para abrigar o novo pólo de cinema do Rio Grande do Sul

A antiga cozinha industrial do Seminário criado para ter 500 alunos

EDUARDO MENDES

EDUARDO MENDES

gatória é a Capela Central ,construída em 1958. Um belo eenorme órgão se impõe bem aofundo, atrás do altar. O instrumen-to musical foi montado com recur-sos vindos de doações de cristãosda Alemanha. O seu tamanho cha-

ma atenção: ocupa toda a parede equase chega ao teto. É uma peçaúnica grandiosa.

Outra obra de destaque é a tor-re, onde está a imagem daImaculada Conceição, padroeira doseminário. Junto à imagem, há um

relógio raro. O encarregado diz queesse ponto “é uma referência emViamão. Todo mundo conhece ese localiza através do seminário. Ànoite, quando está tudo ilumina-do, é possível ver a Santa lá deGravataí”.

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“Filmar écontar históriaspara si mesmo”

– O que te fez despertar para ocinema?

– Comecei com 18, 19 anos fa-zendo super 8. Daí passei a estudarteatro, entrei na faculdade de cinema.Naquela época não era como hoje, oacesso à câmera digital, hoje o carafaz muitos exercícios. Fiz um filme nagraduação, o Aurora que me abriumuitos caminhos. Foi para Gramadoe o Festival de Brasília. Foi o que medeu credibili-dade para fazer o filmeque ganhou o “Prêmio Estilo” da Se-cretaria de Cultura de São Paulo, queé o Dov’e Meneghetti. Aí a vida come-çou. Teve um período bem ruim, nogoverno Collor, quando acabou o ci-nema nacional. Aí, fui me virar, tra-balhei em cinema publicitário, até fi-nal de 1994, início de 1995, quandosurgiu novamente uma política parao audiovisual. Ganhei um prêmio jun-to com Baile Perfumado, CarlotaJoaquina. Na época eu realizei OsMatadores. Aí começa a parceria comMarçal Aquino, o escritor.

– Como ficaste sabendo doDaniel Galera?

– Eu vim lançar O Invasor aquicom o Marçal, o Galera entregou aele o livro de contos Dentes Guardados,aí o conheci. Quando Galera lançouAté o dia em que o Cão Morreu, o Pilla,artista plástico sócio da editora Livros

do Mal colocou em minhas mãos olivro. Quando eu li, fiz o roteiro como Marçal.

– Seus filmes são sucesso decrítica. E de público?

– O Marçal costuma falar que oprimeiro leitor do livro dele é ele pró-prio. Isso é uma coisa que costuma-mos fazer. Procuramos, na hora deescrever o roteiro e filmar, se sentirmuito satisfeito com aquilo. Sentir queo filme está sendo revelado pra gen-te. Não é que a gente faça para críticaou para o público. A gente está bus-cando essa integridade de contar pranós mesmo os filmes, em primeirolugar. Depois vai encontrar o públi-co, o mercado, a crítica. Acho que épara mim a única maneira de fazercinema e de gostar e querer fazer maisé mantendo essa integridade. A gentenunca faz filmes com as “majors”, es-sas empresas grandes, já fomos atéprocurar. Mas o diálogo é muito difí-cil, eles querem palpitar no roteiro, naescolha do elenco e isso pra nós é umponto de integridade mesmo. Filmaré muito trabalhoso, é muita entrega,uma imersão profunda, o corpo, amente, o coração. Se você tiver queservir a esse patrão, que quer enqua-drar tua vontade, acho que perde osentido.

Estamos fazendo o quinto filme,

e nós somos absolutamente respon-sáveis pelo resultado dele. Ali foi co-locado a cada momento da nossa his-tória o melhor filme que pudemos fa-zer naquele momento. Não houve im-posição de nenhum fator fora, comoprodutor e distribuidor. Nunca hou-ve nenhuma intervenção na monta-gem, roteiro, escalação de ator.Logicamente nossas ambições não sãofilmes de orçamento alto, filmes forado Brasil, porque gostoso é assim.

– No Brasil, cineasta ainda temcerto status...Dá para viver de cine-ma?

– Essa resposta todos gostariamde ter. Quando comecei a estudar ci-nema, tinha sete alunos na minha clas-se. O Renato e eu tivemos que enco-rajar amigos para fazer o curso. Naverdade, o curso dava prejuízo parauniversidade (FAAP). Tivemos quebrigar muito. Me formei em 86, quan-do ninguém botava fé no curso de ci-nema. É como todo mercado de tra-balho, muito disputado, instável econcorrido. Não tem carteira assina-da, 13º salário, FGTS. Você não pen-sa a longo prazo, está sempre bata-lhando o hoje. Com certeza, a carrei-ra é arriscada e com grande concor-rência. Não é uma ciência exata, nãotem fórmula de sucesso. Agora vãofazer o filme do Chorão. É muito pro-

vável que se ganhe dinheiro com ofilme, como foi com Zezé deCamargo e Luciano.

– A formação é imprescindível?– Não sei. Nunca peguei meu di-

ploma. Mas conheci o Renato, meusócio até hoje. Fui na Unisinos, ago-ra, tem computador para todos,câmeras, estúdios. Uma infra-estrutu-ra muito boa. Independente de nãoser película, é linguagem audio-visu-al. O curso melhorou muito em 20anos, embora não seja tão procuradoquanto Medicina. Se tem procura, éporque as pessoas acreditam. Na mi-nha época, o público era 0,2% da bi-lheteria, hoje oscila entre 10 e 20% deocupação de salas. A atividade estámuito mais profissional.

– Depois de dirigir atores glo-bais, trabalhar com elenco só deatores gaúchos, é diferente traba-lhar com gente famosa?

– Todo ator com quem trabalheinão tem frescura. Ou tá ou não tá.Não tem essa coisa de “gravandonovela”. Mergulha junto ou não. Osmais famosos com que eu trabalheitêm uma carreira de teatro superconstruída, Marco Ricca, AlexandreBorges, Chico Díaz. Estou trabalhan-do com atores muito legais, além doJúlio Andrade há a Tainá, que tinhamuita vontade de atuar e deu certo.

Cineasta paulista esteve em Porto Alegre rodando Cão sem dono, adaptado do livro de Galera

ENTREVISTA/ BETO BRANT

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O quarto limpo de hotel poderia ser o de qualquer lugar domundo. Mas, era Porto Alegre e o entrevistado o cineasta paulistaBeto Brant. Pilhas de CDs, DVDs e livros sobre a mesa sem estiloadiantavam o personagem e o tema da conversa.

Música gaúcha da Cachorro Grande e de Ney Lisboa: “Vai teruma música dele no filme, a gente colocou porque um persona-gem toca no violão.” A trilha é de Cão sem dono, ficção adaptada dolivro Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera, que o cineastafilmou na Capital gaúcha.

Beto Brant diz que adora ficar no Mercado Público, sentado,vendo o povo passar, e que é uma delícia descer a Rua da Praia,encontrar a Praça da Alfândega. Como um porto-alegrense adoti-vo, encantou-se com a Casa Mário Quintana, o Gasômetro e “aque-la rádio na vitrine”, Estúdio de Cristal da Guaíba, na esquina daAndradas com a Caldas Júnior. “Acho tudo lindo o que tem aqui.”

Apesar de ser considerado independente, nega o rótulo de di-retor underground. “Isso é Zé do Caixão”, diz. E fala do brasilienseZé Eduardo Belmonte, cujo primeiro filme nem chegou a ser dis-tribuído. “Esse é um cara valente, faz um cinema inventivo compouco recurso”, elogia.

Com olheiras resultado dos primeiros meses de gravação, emque a equipe trocou o dia pela noite, filmando de madrugada edormindo pela manhã, o diretor preparava-se para mais duas diá-rias em Arroio dos Ratos e já antevia a catarse no último dia defilmagem. “As pessoas vão ficar bem felizes, bem enlouquecidas eaí a gente vai filmar”, disse sobre a festa que aconteceu no Beco.Veja abaixo a entrevista:

Roberto Oliveira e Sandra Possanisão muito bons. O Contreiras, a Jana.Montamos um elenco muito legalaqui. Gosto de trabalhar com diálo-gos abertos, não impor. Por não do-minar a prosódia gaúcha, dou muitaliberdade de reconstrução aos ato-res. Esses com quem trabalhamossão muito fabuladores, são muitobons no improviso. Jogo eles no fogotodo dia e eles tem que se virar. Oroteiro é um ponto de partida.

– Quais são suas influênciascinematográficas?

– Vejo filme muito pelo tema.Cláudio Assis é uma grande influên-cia.Gosto muito de filme europeu.Exílios é muito bom. E se vê que sãoatores e diretores desconhecidosTony Gatliff. Na época de faculdadetinha muito cineclube em SP. Hojeos cineclubistas se tornaram donosde salas de cinema. Via muito filmenessa época. Os italianos são mara-vilhosos, os alemães, Herzog. Quan-do viajo para lançar meus filmes medá oportunidade de conhecer a ci-nematografia contemporânea de vá-rios países. Vi um filme rodado noSri Lanka e a fotografia me encan-tou. Muito suave, escuro, mas mui-to visível. Filmado naquele horáriomágico de pouca luz e tal. Adorei ofilme.

JÚLIA PITTHAN

PPPPPorto Alegre, maio de 2006orto Alegre, maio de 2006orto Alegre, maio de 2006orto Alegre, maio de 2006orto Alegre, maio de 20061 01 01 01 01 0 C U LC U LC U LC U LC U LT U R AT U R AT U R AT U R AT U R A HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Como uma namorada infiel, elaflerta com duas linguagens. Do jor-nalismo apropria-se dos fatos e daliteratura rouba-lhe a fantasia. Onome dela é Crônica, narrativa queganhou características próprias noBrasil e é tida pelos leitores como omomento de quebra do aspecto me-ramente informativo da notíciajornalística.

As notícias são prato principal dequalquer veículo jornalístico, seja eleimpresso ou eletrônico. A crônicapode ser considerada como a sobre-mesa. Elas fazem com que o leitor,ouvinte e espectador pensem e, aomesmo tempo, relaxem. Entretan-to, tentar conceituá-la é tarefa com-plicada para os especialistas no assun-to. Alguns como o professor e críti-co literário Antonio Candido, a con-sideram como um gênero literáriomenor; outros, como o escritorEduardo Portella, afirmam que a crô-nica assume uma importância literá-ria enorme, oferecendo-a o título degênero literário autônomo. Porém,os mais polêmicos, entre elesFernando Sabino, afirmam que “acrônica não existe. O que existe é ocronista”.

A professora do Curso de Letrasda PUCRS, Dileta Silveira Martins,que em 1984 conquistou o título dedoutora com a tese História eTipologia da Crônica no Rio Grandedo Sul, afirma que rotular o gêneroou estabelecer conceitos seria atrelar-se à eventualidade: “O que, realmen-te, se sobreleva, na crônica, é a har-moniosa convergência do coloquialcom a invenção que, transfigurado ofato, o acontecimento, faz dela umamanifestação suprema de literatura”,conceitua.

Polêmicas à parte, um fato é co-mum em torno da crônica: a sua li-gação com o tempo. Filha deKhronos, deus grego do tempo, apalavra deriva do latim chronica, quesignificava o relato de acontecimen-tos em ordem cronológica. Portan-to, um breve registro de eventos. Odesenvolvimento da imprensa noséculo 19, entretanto, fez com que acrônica gradualmente fosse se modi-ficando quanto narrativa.

A crônica deriva de um novo for-mato de texto, polêmico, popular eaté agressivo, que apareceu pela pri-meira vez em 1799, no impressoparisiense Journal de Débats. Fazia crí-tica cultural contundente e relia a his-tória numa postura iconoclasta, semrespeitar celebridades. Os textos

No Rio Grande do Sul, as pri-meiras manifestações de cronistas sãoregistros de 1605, quando se fez sen-tir a ação dos jesuítas até o ano de1801. Pode-se dizer que aqui, a crô-nica surgiu com o propósito inicial:narrar fatos em ordem cronológica.Os jesuítas Antônio Vieira eJerônimo Rodrigues, em suas ob-servações, davam as primeiras con-tribuições para a crônica gaúcha, mes-mo eles sendo estrangeiros. Em1869, com a publicação da revista

A crônica é um texto escrito, salvoraras exceções, para ser publicado emum veículo de comunicação. Isso dáao conteúdo vida curta. Como o re-pórter, o cronista sustenta seus deva-neios em fatos do dia-a-dia. Entretan-to, na crônica, seja ela escrita por umjornalista ou escritor, é permitido dia-logar com o leitor e envolvê-lo na fan-tasia, ficção e crítica, elementos exco-mungados na informação jornalística.

A editora do Segundo Caderno deZero Hora, Cláudia Laitano, foi inti-mada a escrever sua primeira crônicaquando o jornalista Paulo Sant’ Annaentrou de férias. Faltava uma semanapara ganhar sua filha Pilar, hoje comsete anos. Apavorada em substituir ocronista mais lido de ZH, ficou diasmexendo no texto que falava de mu-danças, inspiradas na história de umamãe de primeira viagem. Passado osusto, Cláudia assina, há três anos, umacoluna aos sábados e explica que o as-pecto positivo de escrever crônica é fa-lar sobre coisas inusitadas, dividir dú-vidas e não impor um modo de ver ascoisas.

Cronista é o poetado cotidiano

eram publicados no rodapé de pági-na e deram origem, no mesmo espa-ço, aos folhetins – romances de dra-mas e aventuras, publicados em ca-pítulos. No desenrolar das histórias,os autores dos folhetins passaram aincluir discussões sobre comporta-mento e problemas do cotidiano, aexemplo do que as novelas televisivasfazem até hoje. A transição do folhe-tim para a crônica foi um processolento e típico do jornalismo brasilei-ro, do qual Nelson Rodrigues nuncase afastou por completo, partindoseus textos sempre de histórias hu-manas e personagens reais e

ficcionais. “No Brasil, a crônica começa a

consolidar-se em meados do século19 e, desde então, tornou-se um gê-nero habitual, aparecendo até nasprimeiras páginas dos jornais”, ex-plica a professora Dileta SilveiraMartins. O escritor FranciscoOtaviano de Almeida Rosa é consi-derado o percussor da crônica nopaís. Era folhetinista no Jornal doComércio e Correio Mercantil do Riode Janeiro, onde, em 1854, foi subs-tituído por José de Alencar. O autorde Iracema, na época com 25 anos, éapontado como o primeiro a dar

peculiaridades literárias a crônica.Mais tarde, no ano de 1859, Macha-do de Assis também se dedicara naspróximas quatro décadas à crônica efoi o primeiro a preocupar-se emteorizar esta nova modalidade narra-tiva que estava nascendo, a qual sin-tetizou: “uma fusão admirável doútil e do fútil, o sério consorciadocom o frívolo”. Os escritores Joãodo Rio, Rubem Braga, Rachel deQueiroz, Fernando Sabino,Drummond de Andrade e NelsonRodrigues também foram nomesimportantes na consolidação no gê-nero no país.

mensal do Partenon Literário, organi-zada pelos primeiros intelectuais daProvíncia de São Pedro – entre eles oescritor Apolinário Porto Alegre – éque a crônica se fixa enquanto formanarrativa. Atualmente, o estado con-solidou-se como celeiro dos princi-pais cronistas do país. Tendo nomescomo Moacyr Scliar, MarthaMedeiros, Lya Luft e Luis FernandoVerissimo, cronista mais lido no país,presente nas principais publicaçõesdo Brasil.

A crônica moderna brasileiracomo é caracterizada – leve, lúdica,literária, contemporânea e fiel aospreceitos do jornalismo - distanciou-se daquele texto com sentido mera-mente documentário originado naFrança. O escritor e jornalista WalterGalvani, que transformou as aulasda Oficina de Crônica ministradas háquatro anos, no livro Crônica, o Vôoda Palavra (Ed. Mediação, 2005), dizque o rumo que a crônica brasileiratomou foi uma vocação, embora vejaque nos demais países de língua por-tuguesa, como Moçambique e Por-tugal, também se pratique muitobem a arte da crônica, tantojornalística quanto com algum saborliterário.

“A língua portuguesa tem umainclinação especial pra isso, assim comdizemos que o espanhol fica muitobonito na música ou na poesia, eudiria que a crônica é um terreno mui-to adequado à língua portuguesa.Nós possuímos uma riqueza de ex-pressões muito bonitas, que é resul-tado dos valores culturais que culti-vamos”, enfatiza Galvani, autor decrônicas na Folha da Tarde e Correio.

Ela explica que não quer trazer paraseus textos a postura de alguém queolha a humanidade de cima, de umavaranda, dizendo como as pessoascomo devem se portar. “Eu gosto maisde perguntar do que responder. Voucitar um exemplo bem idiota. Euodeio pipoca no cinema, mas me per-gunto até que ponto posso ocupar umespaço e assumir com arrogância quecomer pipoca no cinema é maléfico.Acho que contribuo mais investigan-do e divulgando coisas que não sei, doque ocupar o espaço para dizer coisasque seriam boas para a humanidade”.

Juliana Coll, 23 anos, faz três cur-sos e quer se tornar cronista. Além deJornalismo, cursa Letras, em busca deembasamento literário, e Filosofia, paraenriquecer o conteúdo. “Letras me dá afórmula da crônica, a linguagem. Filo-sofia me oferece conteúdo. Sem ela, nãohaveria material para escrever. Nãoposso falar sobre fatos como blocosde tijolos, mas da minha compreen-são deles. O jornalismo paga minhascontas, é um bom conjunto”, imaginaa universitária.

“Ofício decronista é comovôo de gaivota,rente às ondas,até o ponto e ahora de fisgar o

peixe. Então vemo difícil: voar

mais e mais, semdeixá-lo cair”.Walter Galvani.

Surge no estado com o Partenon Literário Uma fantasia literária doUma fantasia literária doUma fantasia literária doUma fantasia literária doUma fantasia literária dodia-a-dia com vida curdia-a-dia com vida curdia-a-dia com vida curdia-a-dia com vida curdia-a-dia com vida curtatatatata

ANA CAROLINA PAN

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Professora Dileta SilveiraMartins, doutora em Teoria

Literária

NICOLAS GAMBIN

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Bares decorados com bandeirasde diversos países, cardápios em di-ferentes idiomas, treinamento paraensinar os funcionários da área deserviços a serem “gentis” com os vi-sitantes. Até mesmo as rígidas leisque regulam o horário de funciona-mento do comércio abrirão uma con-cessão para a Copa do Mundo. AAlemanha está pronta, e os visitan-tes perceberão. Para os alemães, asmudanças não serão tão significati-vas. Escolas e horários de trabalhonão serão alterados, nada deixará defuncionar normalmente por contado mundial, nem mesmo nos diasem que a seleção alemã joga.

Dez dos 16 estados alemães per-mitirão que o comércio funcione atémais tarde, dez da noite, e tambémaos domingos, durante a Copa.Normalmente, o horário de atendi-mento vai até as oito da noite, e nãoabre aos domingos. A rede hoteleiraespera cerca de 5,5 milhões de per-noites entre 9 de junho e 9 de julho,de acordo com a Central de TurismoAlemã. Já não se encontram diáriaspor menos de 35 ou 40 euros. Mas

Conselho Africano, uma organizaçãocomunitária africana na Alemanha,criou o guia “Não vá” que indica, par-ticularmente, áreas de Berlim e cida-des como Leipzig e Dresden, ondegrupos neonazistas e extremistas dedireita tradicionalmente se encon-tram.

A programação cultural prometeser uma das principais atrações paraquem não tem ingresso aos jogos.Segundo a Central de Turismo Ale-mã, o Governo investiu cerca de 30milhões de euros para a realização doPrograma Nacional de Arte e Cultu-ra. O calendário cultural do Brasil naAlemanha inclui mostras fotográfi-cas, exibições de filmes, danças emúsicas. Em Munique, onde a sele-ção brasileira joga no dia 18 de ju-nho, estão agendados shows deDaniela Mercury, Olodum e IveteSangalo, esse com direito a telão paraa torcida acompanhar o jogo do Bra-sil contra Austrália.

O slogan criado em Muniquepara a Copa “München mag dich”(Munique gosta de você), revela a in-tenção da Alemanha de mostrar aomundo que todos serão bem-vin-dos e o país se esforça para agradarseus visitantes.

Que venha o mundo!

A seleção brasileira já está emWeggis, pequena localidade da Suíça,com 3.600 habitantes, para se prepa-rar nos próximos 13 dias para suaestréia na Copa do Mundo, em bus-ca no hexacampeonato. A estréia seráem 13 de junho, em Berlim, contra aCroácia.

A lista dos 23 jogadores que co-meçam a luta pelo hexacampeonatona Alemanha é composta por joga-dores que acompanham o técnico daseleção brasileira, Carlos Alberto Par-reira, desde 2003. A novidade é Ro-gério Ceni, escalado para ser reservado goleiro Dida, pois Marcos que serecupera de uma lesão foi descarta-do. O ala Gilberto do Hertha Berlimfoi convocado junto com o zagueiroCris que entra no lugar de RoqueJúnior. O técnico disse que a lista éresultado de três anos e meio de ob-servações. Parreira não acredita que aseleção volte cedo para casa e vê oBrasil em plenas condições de vencerpela sexta vez o mundial. Lamentouainda que outros grandes nomes te-nham ficado de fora.

A seleção chega à Alemanhacom:Dida, o titular do gol, RogérioCeni e Júlio César. Nas laterais jo-gam Cafu, Cicinho, Roberto Carlos e

há alternativas, como albergues e oschamados mitwohnzentralen (agênci-as imobiliárias de curto prazo), exis-tentes por toda a Alemanha. Elas alu-gam moradias para uma ou maispessoas durante um prazo curto esob um contrato em que o inquilinoassume as despesas – aluguel,logicamente, energia elétrica e telefo-ne, por exemplo.

Nesse período também será res-suscitado o controle de fronteira quehavia sido abandonado com a con-solidação da União Européia(UE), em 1992. A preocupação éimpedir ou minimizar, a ação dehooligans, terroristas e gangues orga-nizadas. Até mesmo cidadãos depaíses pertencentes à UE precisarãoapresentar documentos para ingres-sar na Alemanha.

Outra preocupação é evitar a açãode grupos neonazistas, atuantes prin-cipalmente na região leste do país. Oataque a um cidadão alemão negrode origem etíope em Postdam, nodomingo de Páscoa, fez reacender adiscussão com relação à segurança.Não só os estádios terão controlereforçado, como também os locaisde comemoração, onde deve haveração policial e uso de câmeras. O

Seleção de Parreira treina na Suíça em busca do hexa na Copa da Alemanha

Gilberto. Fechando a área completamos zagueiros Lúcio, Luisão, Juan eCris. No meio-campo entramEmérson, Zé Roberto, Edmílson ,Juninho Pernanbucano, Gilberto Sil-va, Ricardinho, Kaká e o craqueRonaldinho Gaúcho. No ataque fi-cam: o já veterano de copas RonaldoNazário, Robinho, Adriano e Fred.

É para este time que os brasilei-ros deverão torcer no dia 9 de junho.O Brasil joga pelo grupo F que con-tém as seleções da Croácia, Austráliae Japão. O grupo não é forte e a Sele-ção deve passar para as oitavas de fi-nal sem grandes dificuldades, isso éo que se imagina. Parreira alertou que,a partir do quarto jogo, a Copa entraem caráter eliminatório e o mais fra-co dos adversários pode acabar coma festa dos favoritos.

Campeonato BrasileiroDevido aos jogos mundiais, o

campeonato brasileiro será breve-mente interrompido. Os últimosjogos serão no dia 4, primeiro do-mingo de junho, data da décima ro-dada do Brasileirão. O campeonatoserá retomado em 12 de julho. Coma paralisação, o Internacional concen-tra-se no Brasileirão, já que o próxi-mo jogo pela Libertadores só serádisputado depois da Copa do Mun-do. O Inter, que está nas primeiras

A constelação verde-amarela

colocações na tabela geral, é um dosfavoritos à taça brasileira, junto como São Paulo, derrotado por 3x1 peloColorado no último dia 14. Após afaçanha, o fiasco: no jogo seguinte,levou 4 a 2 do Figueirense, em plenoBeira Rio. O próximo jogo do timeserá na capital paulista contra o cam-peão do ano passado Corinthians ea seguir o Cruzeiro, em Porto Ale-gre.

O tricolor gaúcho continua semganhar nada. Nos últimos dois jo-gos empatou: 2 a 2 com o Botafogoe 1 a 1 com a Ponte Preta. O pesadeloda segunda divisão volta a assom-brar o Grêmio. Na zona de rebaixa-mento e sem ganhar há alguns jo-gos, o time ainda espera por reforçosque devem ser contratados nos pró-ximos meses, enquanto isto, a dire-toria do clube descarta a idéia de de-mitir o técnico Mano Menezes.

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ANTÔNIO SCORZA/FIFA

FIFA WORLD COP

Cilw Stadion, em Berlim

Ronaldinho e Cia. prontos para a estréia com a Croácia

Zagallo e Parreira: os comandantes do tetra estão de volta

FOTOS DIVULGAÇÃO CBF

Fred submetido a exames médicos já na Suíça

Roberto Carlos e Júlio César em clima de confiança

FOTOS DIVULGAÇÃO CBF

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Há 250 anos nasceu WolfgangAmadeus Mozart, grande composi-tor do classicismo, considerado umdos maiores gênios da música detodos os tempos. A celebração dadata impõe uma reflexão sobre ohomem Mozart e o rebuliço em tor-no da divinização do personagem.

“Quando falamos de Mozart,não podemos negar que estamosdiante de um fenômeno, mas deve-mos tentar refletir como os fenôme-nos são utilizados pelo mercado paraatingir fins diferentes do que o artis-ta queria para si, ou para a música,”afirma o maestro e doutor em filo-sofia Ronel Alberti da Rosa.

“Muitos ainda acreditam quepara ser genial é preciso inovar, al-guns foram inovadores, mas Mozartescrevia dentro do estilo estabeleci-do na época. A genialidade desteWolfgang Amadeus Mozart é con-seguir fazer, mesmo dentro da obraclássica, algo inesperado,” comenta omaestro. A desrespeito das normasdo classicismo, o mais rígido dos es-tilos, Mozart consegue deixar a suamarca nas composições e fugir dasfórmulas predefinidas de forma ge-nial. “O tempo em que vivemos hojeé a antítese do classicismo, pois per-mite a total intromissão do artistano estilo, cada um é o seu estilo”,explica Rosa.

“Mozart é um clássico bem aca-bado, mas é um homem de seu tem-

Os 250 anosde um prodígioincompreendido

po, pois fez tudo o que fez semescancarar a porta para a nova estéti-ca, sem sair do método”, lembra oprofessor. É importante conhecer anatureza da música e do artista parainterpretá-lo de forma correta. Adivinização do artista só leva ao ufa-nismo e à falta de reflexão. Deve-setentar entender o homem para me-lhor aproveitar a arte.

Retrato do artistaWolfgang Mozart foi considera-

do um prodígio da música desdemuito pequeno. Praticando com seupai, aos três anos aprendeu a tocarpiano e violino. Aos seis, em turnêcom a família, estreou como músicoem viagens que percorreram toda aEuropa. Além da habilidade comoinstrumentista, desenvolveu-secomo compositor prematuro e, com12 anos de idade, já havia criado suaprimeira ópera e sendo nomeadopara um cargo de músico na corte doarcebispo de Salzburgo, na Áustria.“O risco seria acreditar que Mozartnasceu pronto, sem ter que estudar etrabalhar duramente em sua músi-ca”, observa o maestro Rosa. “Suasprimeiras sinfonias foram criadascom graça, mas ele estudou muitoantes de escrever suas peças mais ge-niais”.

Apesar da infância célebre e dacrescente capacidade de criação musi-cal, Wolfgang foi, aos poucos, desen-tendendo-se com seu contratante,algo que, para um músico do século

ELISA VIALI

18, seria um grande problema. Com-positores, regentes e outros artistasda época tinham como único modode sustento os empregos em orques-tras na corte, assim, se não satisfi-zessem a nobreza local, estariam fa-dados à pobreza e ao ostracismo.

Como toda a burguesia do perí-odo anterior à pré-revolução france-sa e antes da queda dos governosabsolutistas na Europa, qualquermúsico, por maior que fosse seu ta-lento, não passava de um cidadão desegunda classe, um artesão contrata-do para atender aos desejos das cor-tes absolutistas. Por serem conside-rados inferiores socialmente,freqüentemente sofriam humilha-ções e tinham toda a sua produçãoartística controlada por nobres quenem sempre entendiam de música.

Mozart, burguês de nascimento,apesar de ter ciência de seu grandetalento musical, era oprimido pelosdesejos de seus contratantes e, ansi-oso por mais liberdade de criação,acabou dispensado. Maestro Rosadescreve: “O arcebispo de Salzburg,quando o despediu, deu literalmen-te um pé na bunda. Mozart realmen-te rolou vários lances de escada abai-xo,” lembra o maestro. Decidido anão mais se vincular a cortes, partepara Viena para viver como realmen-te desejava: ser artista autônomo”.Ele foi um dos primeiros a tentarescapar da destinação social do mú-sico da época, ressalta o professor emaestro.

É importante lembrar que as con-dições necessárias à vida almejada porMozart não existiam na época. Opúblico de orquestras era formadopraticamente só por nobres que com-pareciam apenas como convidadosàs apresentações. As atividades edi-toriais não estavam devidamentedesenvolvidas para um compositorsustentar-se com o lucro das partitu-ras vendidas. Ainda não existiam es-truturas, nem mercado consumidor,para que um músico autônomo ga-rantisse sustento. Mesmo em Viena,Mozart estava, mais uma vez, depen-dente dos favores da corte.

O compositor sempre conheceuo público que ouvia suas músicas e,por algum tempo, soube agradaràqueles que compareciam às apresen-tações em Viena. Aos poucos, ape-sar da genialidade com que compu-nha as músicas, foi abandonado pe-los nobres que o favoreciam e paga-vam por seus serviços; trejeitos pes-soais de Mozart influenciaram mui-to neste abandono. Segundo o ma-

Isaac Karabtchevsky regeu a Ospa em maio, na CatedralMetropolitana, com repertório de Mozart

“Ele era um sujeito informal e atrevido”

MOZART

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estro Ronel Alberti, “ele era um su-jeito informal e atrevido”. Devido àalta conta que tinha de si e de seutalento musical, nunca aceitou as in-tromissões da nobreza em suasobras. Nunca teve a capacidade deadulação dos cortesãos, nem aceitousua posição como tal, assim perdeuos favores da corte real de Viena.

Nem com o crescente reconheci-mento que começava a alcançar emoutras partes da Europa, principal-mente em Paris, Mozart conseguiuascender na escala social em Viena.Com a perda de interesse da aristo-cracia após a apresentação de Fígaro(1786), ópera baseada em uma peçafrancesa proibida na Áustria, Mozartentrou em decadência financeira esocial, mas não musical.

A fase autônoma de Mozart foimarcada por suas composiçõesmais conhecidas das suas 19 ópe-ras, entre elas: Don Giovani, Fígaro eA Flauta Mágica. Seis ainda são re-presentadas com freqüência emtodo o mundo. Isto mostra queapesar da decadência financeira, osúltimos anos de vida do composi-tor foram de grande qualidade. Aúltima produção musical, o Réqui-

em K.626, é reconhecida como umadas mais impressionantes obras deMozart.

Há versões controversas sobre aúltima obra. Documentos falam deuma encomenda do conde WalseggSur Stupach, nobre que, para se fazerpassar por músico, comprava parti-turas por um bom preço e as assina-va, como se fossem suas. Outros au-tores acreditam que foi escrita em cir-

cunstâncias misteriosas a pedidos deum senhor não identificado. Auto-res com visão mais romântica do au-tor afirmam que a missa RéquiemK.626 foi escrito por Mozart para simesmo pouco antes de morrer.

Independentemente das condi-ções do pedido e dos motivos que olevaram a criar com tanta inspiração eesforço a obra musical, Mozart fale-ceu antes de terminar a obra. Um

Compôs a missa Réquiem pouco antes de morreraluno chamado Süssmayr termi-nou-a através de alguns esboçosdeixados.

Wolfgang Mozart morreu, aos35 anos, dia 5 de dezembro de 1791em Viena. Amargurado por nãoentender seu insucesso com o pú-blico e totalmente endividado, foienterrado em uma vala comum,pois sua família não teve condiçõesde pagar um túmulo.

Vida e Obra de W.A. Mozart,de Hans RennerMozart: Sociologia de um Gê-nio, de Norbert Elias

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