DO SONHO AO PESADELO. Brasileiros tentam evitar altos ... · americano não vire pesadelo, com a...

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Em Destaque DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA- FEIRA, 7, 8 E 9 DE NOVEMBRO DE 2015 3 DO SONHO AO PESADELO. Com a virada do dólar, investidores que compraram bens naquele país agora correm para alugar os espaços e, assim, conseguir bancar todas as contas de manutenção Brasileiros tentam evitar altos custos com imóvel nos EUA INVESTIMENTO Davi Brandão São Paulo [email protected] Os brasileiros que investiram em imóveis nos EUA de olho nos altos ganhos agora correm para conseguir alugar os espa- ços e, assim, rentabilizar seu patrimônio. A meta é evitar que o sonho do estilo de vida americano não vire pesadelo, com a valorização do dólar frente ao real, que elevou mui- to os custos fixos. O número de brasileiros procu- rando um imóvel nos EUA ga- nhou força entre 2008 e 2011, quando o país enfrentava uma das mais graves crises econômi- cas e trazia opções atraentes pa- ra investimento, especialmente no mercado imobiliário. Mas nos últimos 10 meses as vendas de imóveis caíram cerca de 10%, de acordo com o diretor de operações internacionais da RealtOn, Elton Oliveira. “Os brasileiros estavam entre os dez principais consumidores de imóveis na Flórida, mas com a alta do dólar registramos uma retração entre estes investido- res”, explica. Segundo o executivo, além da diminuição de novos negócios, houve perdas em contratos re DREAMSTIME Imobiliárias americanas já sentem retração no mercado cém firmados. “Muitos brasilei- ros que compraram imóveis na planta acabaram desistindo do negócio”, pontua. Para o especialista, o atual cená- rio mexe, especialmente, com um público que ele nomeia como ‘classe alta emergente’, que che- gou a realizar venda de imóveis no Brasil para comprar residên- cias em solo americano. “Não existem perdas de investimentos, mas o mercado percebe que há uma busca por alternativas para sanar as despesas com dólar”. Segundo o diretor, com a varia- ção de quase 150% na moeda nos últimos quatro anos, as despesas como condomínio e imposto predial quadruplicaram. “As idas e vindas de grande parte dos bra- sileiros caíram muito e manter um imóvel parado, com custos fi- xos, se torna algo não lucrativo”. Alternativa rentável Com escritório nos EUA, a con- sultora Simone Oliveira, pro- prietária da América Expert, diz que o número de investidores brasileiros que buscam saber sobre as burocracias contra- tuais do mercado cresceu mui- to. Por isso, atualmente, o área de locação da empresa já repre- senta 35% da demanda. “O esto- pim da mudança de comporta- mento foi quando o dólar ultrapassou a casa dos R$ 4. Quem comprou imóvel agora quer arrumar um jeito para manter o investimento”. Além do custo alto para ope- rar, explica a executiva, em épo- ca de economia difícil, as via- gens ao exterior também recuaram. “Com a economia positiva, o brasileiro fazia visi- tas periódicas e por vezes troca- va a visita ao condomínio do Guarujá para vir para Miami. Agora muitos estão com um grande “elefante branco” nas mãos”, lamenta. De acordo com Simone, um apartamento com 150m², cujo o comprador investiu em média US$ 400 mil, tem custas estima- das de US$ 800 ao mês de con- domínio e US$ 4 mil de IPTU ao ano. A melhor alternativa é alu- gar o espaço, o que pode garan- tir média de US$ 2,5 mil. “Na maioria das vezes os contratos de locação são feitos com em- presas que necessitam da pre- sença do executivo durante um período, intercambistas e até turistas”, disse ela ao DCI. Retomada dos EUA Passado o pior momento da cri- se norte-americana, o só- cio-proprietário da consultoria imobiliária, sediada em Miami, Elite International Realty, Leo Ickowicz, explica que há um momento de adaptação do mercado local. “O setor imobi- liário está em momento de rea- justes de preços, em virtude do desaquecimento das compras realizadas pelos investidores estrangeiros”, disse. Para o empresário, muitos brasileiros que assumiram dívi- da em dólar também mantém negócios no Brasil e a atual si- tuação da economia leva a bus- car novas alternativas. “Um nú- mero crescente de brasileiros que têm de imóveis residenciais buscam opções em áreas co- merciais, por ser mais atrativo”. De acordo com Leo, os loca- dores contam com contratos a longo prazo, que chegam a mais de 20 anos para grupos sólidos . “Sempre ofertamos imóveis co- merciais aos investidores e nos últimos meses temos um au- mento de interessados. O retor- no com rentabilidade anual, por exemplo, gira entre 4% e 8% do ano, além da modalidade que chamamos de triple net, on- de o inquilino assegura despe- sas como manutenção, impos- tos e o seguro do imóvel comercial alugado”, detalha. Bons resultados Com crescimento exponencial, Ickowicz destaca os bons con- tratos realizados por investido- res brasileiros, que elevam sem- pre a rentabilidade do patrimônio adquirido no terri- tório norte-americano. Como exemplo, ele cita um imóvel lo- calizado Jacksonville, na Flóri- da. O imóvel orçado em US$ 1,6 milhão rende de locação o valor de US$ 103 mil ao ano, resultado de uma negociação com a rede Burguer King com vigência até 2027. O consultor cita ainda ou- tra negociação, realizada na mesma cidade, cujo imóvel de 730 metros quadrados, e o pro- prietário investiu US$ 1,1 mi- lhão e conta com locação anual de US$ 67,2 mil, que estão ga- rantidos até 2024.

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Em DestaqueDIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS � SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA- FEIRA, 7, 8 E 9 DE NOVEMBRO DE 2015 3

DO SONHO AO PESADELO. Com a virada do dólar, investidores que compraram bens naquele paísagora correm para alugar os espaços e, assim, conseguir bancar todas as contas de manutenção

Brasileiros tentam evitar altoscustos com imóvel nos EUAINVE STIMENTO

Davi BrandãoSão Paulod av i b @ d c i . c o m . b r

�Os brasileiros que investiramem imóveis nos EUA de olhonos altos ganhos agora corrempara conseguir alugar os espa-ços e, assim, rentabilizar seupatrimônio. A meta é evitarque o sonho do estilo de vidaamericano não vire pesadelo,com a valorização do dólarfrente ao real, que elevou mui-to os custos fixos.O número de brasileiros procu-rando um imóvel nos EUA ga-nhou força entre 2008 e 2011,quando o país enfrentava umadas mais graves crises econômi-cas e trazia opções atraentes pa-ra investimento, especialmenteno mercado imobiliário.

Mas nos últimos 10 meses asvendas de imóveis caíram cercade 10%, de acordo com o diretorde operações internacionais daRe a l t On , Elton Oliveira. “Osbrasileiros estavam entre os dezprincipais consumidores deimóveis na Flórida, mas com aalta do dólar registramos umaretração entre estes investido-re s”, explica.

Segundo o executivo, além dadiminuição de novos negócios,houve perdas em contratos re

D R E A M ST I M E

Imobiliárias americanas jásentem retração no mercado

cém firmados. “Muitos brasilei-ros que compraram imóveis naplanta acabaram desistindo don e g ó c i o”, pontua.

Para o especialista, o atual cená-rio mexe, especialmente, comum público que ele nomeia como‘classe alta emergente’, que che-gou a realizar venda de imóveisno Brasil para comprar residên-cias em solo americano. “Nãoexistem perdas de investimentos,mas o mercado percebe que háuma busca por alternativas parasanar as despesas com dólar”.

Segundo o diretor, com a varia-ção de quase 150% na moeda nosúltimos quatro anos, as despesascomo condomínio e impostopredial quadruplicaram. “As idase vindas de grande parte dos bra-sileiros caíram muito e manterum imóvel parado, com custos fi-xos, se torna algo não lucrativo”.

Alternativa rentávelCom escritório nos EUA, a con-sultora Simone Oliveira, pro-prietária da América Expert, dizque o número de investidoresbrasileiros que buscam sabersobre as burocracias contra-tuais do mercado cresceu mui-to. Por isso, atualmente, o áreade locação da empresa já repre-senta 35% da demanda. “O esto-pim da mudança de comporta-mento foi quando o dólarultrapassou a casa dos R$ 4.Quem comprou imóvel agora

quer arrumar um jeito paramanter o investimento”.

Além do custo alto para ope-rar, explica a executiva, em épo-ca de economia difícil, as via-gens ao exterior tambémrecuaram. “Com a economiapositiva, o brasileiro fazia visi-tas periódicas e por vezes troca-va a visita ao condomínio doGuarujá para vir para Miami.Agora muitos estão com umgrande “elefante branco” nasm ã o s”, lamenta.

De acordo com Simone, umapartamento com 150m², cujo ocomprador investiu em médiaUS$ 400 mil, tem custas estima-das de US$ 800 ao mês de con-domínio e US$ 4 mil de IPTU aoano. A melhor alternativa é alu-gar o espaço, o que pode garan-tir média de US$ 2,5 mil. “Namaioria das vezes os contratosde locação são feitos com em-presas que necessitam da pre-sença do executivo durante umperíodo, intercambistas e atétur istas”, disse ela ao DCI.

Retomada dos EUAPassado o pior momento da cri-se norte-americana, o só-cio-proprietário da consultoriaimobiliária, sediada em Miami,Elite International Realty, LeoIckowicz, explica que há ummomento de adaptação domercado local. “O setor imobi-liário está em momento de rea-justes de preços, em virtude dodesaquecimento das comprasrealizadas pelos investidorese s t ra n g e i ro s”, disse.

Para o empresário, muitosbrasileiros que assumiram dívi-da em dólar também mantémnegócios no Brasil e a atual si-tuação da economia leva a bus-car novas alternativas. “Um nú-mero crescente de brasileirosque têm de imóveis residenciaisbuscam opções em áreas co-merciais, por ser mais atrativo”.

De acordo com Leo, os loca-dores contam com contratos alongo prazo, que chegam a maisde 20 anos para grupos sólidos .“Sempre ofertamos imóveis co-merciais aos investidores e nosúltimos meses temos um au-mento de interessados. O retor-no com rentabilidade anual,por exemplo, gira entre 4% e 8%do ano, além da modalidadeque chamamos de triple net, on-de o inquilino assegura despe-sas como manutenção, impos-tos e o seguro do imóvelcomercial alugado”, detalha.

Bons resultadosCom crescimento exponencial,Ickowicz destaca os bons con-tratos realizados por investido-res brasileiros, que elevam sem-pre a rentabilidade dopatrimônio adquirido no terri-tório norte-americano. Comoexemplo, ele cita um imóvel lo-calizado Jacksonville, na Flóri-da. O imóvel orçado em US$ 1,6milhão rende de locação o valorde US$ 103 mil ao ano, resultadode uma negociação com a redeBurguer King com vigência até2027. O consultor cita ainda ou-tra negociação, realizada namesma cidade, cujo imóvel de730 metros quadrados, e o pro-prietário investiu US$ 1,1 mi-lhão e conta com locação anualde US$ 67,2 mil, que estão ga-rantidos até 2024.