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ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PROF.FÁBIO BRUSSOLO DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS – DOAR 1 – Significado A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos tem por objetivo apresentar de forma ordenada e sumariada principalmente as informações relativas as operações de financiamento e investimento da empresa durante o exercício, e evidenciar as alterações na posição financeira da empresa. Os financiamentos são representados pelas origens de recursos, e os investimentos pelas aplicações de recursos, sendo que recursos, neste caso, significa o Capital de Giro Líquido ou Capital Circulante Líquido, que é representado pela diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. A DOAR até então obrigatória pela Lei 6404/76, foi substituída pela Demonstração do Fluxo de Caixa pela Lei 11.638/07, atendendo assim, a uma tendência mundial das demonstrações financeiras. 2 – Descrição das Origens As origens de recursos são representadas pelos aumentos do Capital Circulante Líquido (CCL), e as mais comuns são: a) das próprias operações : quando as receitas (que geram ingresso de capital circulante líquido) são maiores que as despesas (que geram aplicações ou reduções do CCL). Assim, ignorando as despesas ou receitas que não afetam o capital circulante líquido, temos simplesmente que: a. se houver lucro, teremos uma origem de recursos; b. se houver prejuízo, teremos uma aplicação de recursos. b) dos acionista : pelos aumentos de capital integralizados por este durante o exercício, já que tais recursos aumentam as disponibilidades da empresa, e consequentemente, seu CCL; c) de terceiros: por empréstimos obtidos pela empresa, pagáveis a longo prazo, bem como dos recursos oriundos da venda a terceiros de bens do Ativo Permanente, ou de transformação do Realizável a Longo Prazo. Os empréstimos feitos e pagáveis a curto prazo não são considerados como origem de recursos, para fins dessa demonstração, pois não alteram o Capital Circulante Líquido. 3 – Descrição das Aplicações As aplicações de recursos são representadas pelas diminuições do Capital Circulante Líquido, e as mais comuns são: a) inversões permanentes derivadas de: aquisições de bens do Ativo Imobilizado, aquisição de novos Investimentos permanentes em outras sociedades e aplicação de recursos no Ativo Diferido; b) pagamento de empréstimos a longo prazo, pois assim, como a obtenção de um novo financiamento representa uma origem, sua liquidação significa uma aplicação. Vale lembrar que o simples fato de uma dívida de longo prazo passar a ser de curto prazo, representa uma aplicação de recursos, pois diminui o Capital Circulante Líquido; c) remuneração de acionistas: derivada dos dividendos distribuídos.

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ESTRUTURA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS PROF.FÁBIO BRUSSOLO

DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS – DOAR 1 – Significado A Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos tem por objetivo apresentar de forma ordenada e sumariada principalmente as informações relativas as operações de financiamento e investimento da empresa durante o exercício, e evidenciar as alterações na posição financeira da empresa. Os financiamentos são representados pelas origens de recursos, e os investimentos pelas aplicações de recursos, sendo que recursos, neste caso, significa o Capital de Giro Líquido ou Capital Circulante Líquido, que é representado pela diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. A DOAR até então obrigatória pela Lei 6404/76, foi substituída pela Demonstração do Fluxo de Caixa pela Lei 11.638/07, atendendo assim, a uma tendência mundial das demonstrações financeiras. 2 – Descrição das Origens As origens de recursos são representadas pelos aumentos do Capital Circulante Líquido (CCL), e as mais comuns são:

a) das próprias operações: quando as receitas (que geram ingresso de capital circulante líquido) são maiores que as despesas (que geram aplicações ou reduções do CCL). Assim, ignorando as despesas ou receitas que não afetam o capital circulante líquido, temos simplesmente que:

a. se houver lucro, teremos uma origem de recursos; b. se houver prejuízo, teremos uma aplicação de recursos.

b) dos acionista: pelos aumentos de capital integralizados por este durante o exercício, já que tais

recursos aumentam as disponibilidades da empresa, e consequentemente, seu CCL; c) de terceiros: por empréstimos obtidos pela empresa, pagáveis a longo prazo, bem como dos recursos

oriundos da venda a terceiros de bens do Ativo Permanente, ou de transformação do Realizável a Longo Prazo.

Os empréstimos feitos e pagáveis a curto prazo não são considerados como origem de recursos, para fins dessa demonstração, pois não alteram o Capital Circulante Líquido. 3 – Descrição das Aplicações As aplicações de recursos são representadas pelas diminuições do Capital Circulante Líquido, e as mais comuns são:

a) inversões permanentes derivadas de: aquisições de bens do Ativo Imobilizado, aquisição de novos Investimentos permanentes em outras sociedades e aplicação de recursos no Ativo Diferido;

b) pagamento de empréstimos a longo prazo, pois assim, como a obtenção de um novo financiamento

representa uma origem, sua liquidação significa uma aplicação. Vale lembrar que o simples fato de uma dívida de longo prazo passar a ser de curto prazo, representa uma aplicação de recursos, pois diminui o Capital Circulante Líquido;

c) remuneração de acionistas: derivada dos dividendos distribuídos.

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3 – Importância A DOAR está relacionada tanto com o Balanço Patrimonial como com a Demonstração do Resultado Exercício, sendo complementar a ambas, fornecendo as modificações na posição financeira da empresa pelo fluxo de recursos. Assim, é muito útil no conhecimento e análise da empresa e de sua evolução no tempo. De fato, ela auxilia em importantes aspectos, como:

a) conhecimento da política de inversões permanentes da empresa e fontes de recursos correspondentes; b) constatação dos recursos gerados pelas operações próprias, ou seja, o lucro do exercício ajustado

pelos itens que o integram, mas não afetam o Capital Circulante Líquido; c) verificação de como foram aplicados os recursos obtidos com os novos empréstimos de longo prazo; d) constatação de se e como a empresa está mantendo, reduzindo ou aumentando seu Capital Circulante

Líquido; e) verificação da compatibilidade entre os dividendos e a posição financeira da empresa.

4 – Forma de Apresentação Essa demonstração é apresentada com os seguintes grandes títulos: I – ORIGENS DE RECURSOS

Onde são discriminadas as origens, por natureza, e apurado o valor total dos recursos obtidos no exercício;

II – APLICAÇÕES DE RECURSOS Onde são relacionadas as aplicações, também por natureza, e evidenciado o seu valor total; III – AUMENTO OU REDUÇÃO NO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO Representa a diferença entre o total das origens e o total das aplicações; IV – SALDO INICIAL E FINAL DO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO E VARIAÇÃO

Onde são evidenciados Ativo e Passivo Circulantes do início e do fim do exercício e respectivo aumento ou diminuição, demonstrando a variação no Capital Circulante Líquido.

5 – Receitas e Despesas que Não Afetam o Capital Circulante Líquido Para se elaborar a DOAR deve-se partir do Lucro Líquido demonstrado na DRE ajustado pelas Receitas ou Despesas que não afetam o Capital Circulante Líquido. A Lei 6404/76 menciona essas despesas, a saber:

a) Depreciação, Amortização e Exaustão

De fato, tais itens constam como despesas do exercício, diminuindo o resultado, mas não reduzem o Capital Circulante Líquido. Assim os valores desses itens registrados no ano devem ser relacionados ao lucro líquido para apuração do valor efetivo dos recursos gerados pelas próprias operações.

b) Lucro ou Prejuízo Registrado pelo Método da Equivalência Patrimonial para Investimentos em

Coligadas ou Controladas

Quando é adotado o método de Equivalência Patrimonial na contabilização de investimentos permanentes, faz-se anualmente o registro da receita ou despesas proporcional ao lucro ou prejuízos das

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investidas no período. Este lucro que afeta o Patrimônio Líquido da investidora, não afeta o Capital Circulante Líquido, por isso na apuração das origens e aplicações de recursos, esse valor deve ser diminuído do lucro líquido, ser for receita, ou a ele acrescentado, ser for despesa.

c) Outros

Além dos itens apresentados, pode haver outros que afetam o lucro, mas não afetam o Capital Circulante Líquido, com por exemplo: Vendas a Longo Prazo, Encargos de Dívidas a Longo Prazo, e devem ter o mesmo tratamento dos demais.

6) Alteração e Baixa de Investimentos de Bens e Direitos do Ativo Imobilizado

Esse é um dos itens que tem havido maior diversidade, quanto ao tratamento, da Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos.

No caso da venda de um bem do imobilizado, a alteração no Capital Circulante Líquido é pelo valor da venda. Como o lucro (ou prejuízo) na transação está computado no lucro líquido do exercício e, por outro lado, há uma redução no imobilizado por seu valor líquido contábil, basta soma-los para se ter esse valor de venda.

Suponha a seguinte operação:

Valor da venda de um imóvel R$ 1.000,00

Valor líquido contábil do imóvel R$ 600,00

Lucro na Transação R$ 400,00

O lucro na transação que afetou o lucro líquido do ano foi de R$ 400,00, mas a origem total foi de R$ 1.000,00, e baixa do imobilizado foi de R$ 600,00.

Nessa situação, há duas formas de apresentação como se segue (supondo-se lucro líquido de R$ 5.000,00 após o cômputo do resultado de R$ 400,00):

FORMA 1

I – ORIGENS DE RECURSOS Lucro Líquido do Exercício 5.000,00 (+) Valor Contábil da Baixa do Ativo Imobilizado 600,00 Total Gerado pelas Operações 5.600,00 Total das Origens 5.600,00 FORMA 2 I - ORIGENS DE RECURSOS Lucro Líquido do Exercício 5.000,00 (-) Lucro na Venda do Imobilizado (400,00) (=) Total Gerado pelas Operações 4.600,00 Outras Origens Valor de venda de bens do imobilizado 1.000,00 Total das Origens 5.600,00 Na primeira forma, adicionamos ao lucro líquido o valor contábil das baixas para se chegar ao total das origens das operações.

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Na segunda forma, fazemos o inverso, reduzindo do lucro líquido o valor do lucro não operacional da venda do imobilizado e, ao mesmo tempo, registrando como origem o valor total produzido por essa transação não operacional. A primeira forma, apesar de muito utilizada, é desaconselhável. Já a segunda forma tem a vantagem de mostrar qual foi o valor efetivo originado pelas operações normais da empresa, segregando os recursos de natureza esporádica e não operacional, e deve ser adotada, particularmente quando envolver valores significativos dessas transações. 7 – Um modelo

I - ORIGENS DE RECURSOSDAS OPERAÇÕES

Lucro Líquido do Exercício 108,00 (+) Depreciação e Amortização 300,00 (+) Encargos de Dívidas de Longo Prazo 415,00 (-) Resultado da Equiv.Patrimonial (25,00) (-) Lucro na Venda de Imobilizado (293,00) (=) Lucro Ajustado 505,00

DOS ACIONISTASIntegralização de Capital 400,00

DE TERCEIROSIngresso de Novos Empréstimos 500,00 Baixa do Ativo Imobilizado (valor de venda) 500,00 Venda de Investimentos 20,00 Resgate de Investimentos de Longo Prazo 60,00

TOTAL DA ORIGENS 1.985,00

II - APLICAÇÕES DE RECURSOSAquisição de Ativo Imobilizado 950,00 Adições no Ativo Diferido 100,00 Integralização de Novos Investimentos 10,00 Aumento de Depósitos Judiciais 10,00 Transferência para o PC de Dívdas de Longo Prazo 565,00 Dividendos Propostos 100,00

TOTAL DAS APLICAÇÕES 1.735,00

III - AUMENTO NO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO 250,00

IV - VARIAÇÃO NO CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO

ANO 1 ANO 2 VARIAÇÃO560,00 1.000,00 440,00 360,00 550,00 190,00 200,00 450,00 250,00

ACPC

CCL

DEMONSTRAÇÃO DAS ORIGENS E APLICAÇÕES DE RECURSOS - DOAREMPRESA MODELO S/A

ANO 2

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BIBLIOGRAFIA Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras. – Manual de Contabilidade das sociedades por ações : aplicável às demais sociedades / FIPECAFI; Diretor responsável Sérgio de Iudícibus; coordenador técnico Eliseu Martins, supervisor de equipe de trabalho Ernesto Rubens Gelbcke – 5 Ed rev. e atual. – São Paulo : Atlas, 200