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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO DIAGNÓSTICO E CONTROLE DA INDISCIPLINA Por: Elisberto Francisco Luz Orientador Profa. Maria da Conceição Maggioni Poppe Picos Piauí 2005 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO DIAGNÓSTICO E

CONTROLE DA INDISCIPLINA

Por: Elisberto Francisco Luz

Orientador

Profa. Maria da Conceição Maggioni Poppe

Picos Piauí

2005

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NO DIAGNÓSTICO E

CONTROLE DA INDISCIPLINA

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Psicopedagogia.

Por: Elisberto Francisco Luz.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, inspirador e provedor de todas

as minhas necessidades;

À meus pais (in memoriam), e de modo

especial à minha mãe, que embora não

tendo uma formação acadêmica,

batalhou para que os filhos pudessem

estudar;

Aos parentes, amigos e colegas de

trabalho que me apóiam sempre que

necessito;

À professora Maria da Conceição pelas

orientações prestadas neste trabalho.

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DEDICATÓRIA

À todos os homens de bem que lutam

objetivando promover a paz mundial;

À minha mãe (in memoriam), que com

seu jeito simples demonstrou aos filhos

e amigos a força que tem a humildade.

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“Tolerar que o aluno viva sem

disciplina, deixá-lo que cresça com

seus defeitos e pemitir-lhe que faça o

que lhe apraz não é amá-lo nem

respeita-lo”

(Marcelino )

RESUMO

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Este trabalho não tem a pretensão de apresentar soluções à

problemática da indisciplina, mas apontar algumas diretrizes capazes de

conduzir uma nova ação pedagógica, viável à superação de obstáculos que

impedem os educadores trilharem em direção de um novo horizonte.

A pesquisa apresentada tem um significado especial para o

pesquisador devido abrir novas possibilidades de trabalho que poderá ser

praticada em instituições escolares acometidas ou não pela indisciplina

visando impedir o seu aparecimento ou à sua disseminação e

consequentemente melhorar a qualidade educacional nas escolas.

Não se trata de uma receita a ser aplicada pelo psicopedagogo, mas

de uma série de possibilidades de movimentar de forma produtiva toda a

comunidade escolar.

Fica evidente que não há como descrever formas fixas de atuação

deste profissional, que precisa ter ao mesmo tempo, clareza do seu papel e da

necessidade de intervir com entusiasmo e sensibilidade nos problemas

contidos na escola. No entanto, devem-se compreender como necessidade

constante e em todas as realidades a promoção de encontros para

capacitação permanente de todos os profissionais através de estudos,

reflexões, discussões e troca de experiências a fim de que, todos os envolvidos

no processo de ensino adquiram as competências necessárias para oferecer

ao educando as oportunidades apropriadas de aprendizagem.

O trabalho está dividido em três partes que se inter-relacionam. A

primeira focaliza, sobretudo, os tipos de indisciplina mais comuns e as

conseqüências para alunos e professores; a segunda aborda algumas

variáveis propulsoras da indisciplina e por fim, as intervenções que deve ser

feito pelo psicopedagogo visando diminuir o índice de ocorrência no interior da

escola.

METODOLOGIA

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Na busca da resposta ao problema investigado, este estudo de natureza

extensiva e compreensiva foi realizado em três escolas da Rede Estadual de

Ensino, sendo que, o grupo de pesquisa são alunos e educadores do primeiro

ano do Ensino Médio Noturno – zona urbana de Picos Piauí ( tabela I)

TABELA I – Questionários aplicados aos alunos, professores, coordenadores e diretores.

ESCOLAS INFORMANTES

ALUNOS EDUCADORES A 07 07 B 08 09 C - 06

TOTAL 15 22

As técnicas de pesquisa foram aplicação de questionário, observação in

loco, tabulação, análise e interpretação dos dados. As informações obtidas

serão apresentadas e discutidas a partir de alguns autores como: Nádia Bossa,

Paulo Freire, Içami Tiba, Heloísa Lück, Carlos Libâneo, Miriam Abramovay e

Clarice Escott.

Foram realizados dois tipos de questionários (vide anexo III) -

elaborados depois de um longo período de convivência com alunos e

professores – direcionados a grupos diferentes: um composto por diretores,

coordenadores, professores e outro formado por alunos com perguntas abertas

e fechadas. Na tabela acima referentes a informantes, foi utilizado a

terminologia educadores para se referir ao primeiro grupo.

As informações contidas nas próximas tabelas aparecerão com o

número de respostas dadas a cada um dos itens e o percentual

correspondente.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

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CAPÍTULO I - A Indisciplina escolar sob os diversos pontos de vista 11

CAPÍTULO II - Principais causas da indisciplina escolar 19

CAPÍTULO III – Intervenções psicopedagógicas no controle da indisciplina 35

CONCLUSÃO 56

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 74

BIBLIOGRAFIA CITADA 77

ANEXOS 58

ÍNDICE 80

FOLHA DE AVALIAÇÃO 82

INTRODUÇÃO

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As instituições escolares estão encontrando grandes dificuldades para

alcançar seus objetivos: o de formar cidadãos críticos, conscientes, livres,

autônomos, participativos e transformadores da realidade em que estão

inseridos. Muitos são os fatores que servem de empecilho à concretização

desse intento, dentre eles, a indisciplina que reina no interior da maioria das

escolas brasileiras, fruto de um ensino fragmentado e descontextualizado, que

não atende aos reais interesses e necessidades dos alunos e nem as novas

exigências do mundo globalizado.

Essa questão vem se agravando ao longo do tempo e se tornando uma

das maiores preocupações da escola e um de seus maiores desafios. A sua

presença é um fator que tem causado um grande prejuízo para os educandos

tanto nos aspectos cognitivos quanto nos afetivos. São vários os

comportamentos considerados indisciplinados pelos educadores que se

traduzem desde a entrada do aluno em sala de aula fora do horário

estabelecido pela instituição até agressões físicas e psicológicas contra

colegas e professores.

Ao observar o cotidiano escolar, percebe-se que conquistar a disciplina

em sala de aula e na escola é um verdadeiro desafio, tornando assim, uma das

dificuldades fundamentais a serem superadas para o bom desenvolvimento do

trabalho educativo. Frente a essa realidade este projeto monográfico que tem

como tema “O papel do psicopedagogo no diagnóstico e controle da

indisciplina” se torna de fundamental importância por abordar de forma objetiva

um dos males que se infiltrou nas escolas e atualmente ocupam grande

espaço. A indisciplina escolar sempre foi um entrave ao bom andamento dos

trabalhos pedagógicos, de forma que hoje as escolas passam por um

momento crítico devido essa situação vir se agravando progressivamente,

tornando assim um dos fatores que mais impede o desenvolvimento de um

ensino aprendizagem eficaz e eficiente.

Diante do caos instalado, professores e dirigentes não conseguem

exercer com eficiência seu papel sentindo-se impotentes diante do

comportamento dos alunos que ignoram os princípios básicos das relações

humanas, o regimento escolar e a hierarquia existente na escola. Portanto,

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pretende-se através desta pesquisa identificar as principais causas da

indisciplina dos alunos em escolas do 1º ano do Ensino Médio, como também

o papel do psicopedagogo no sentido de desenvolver estratégias coerentes

com o problema diagnosticado a fim de controlá-la. Para alcançar o objetivo a

que se propõe foi feito um trabalho sistemático que se apresenta com a

estrutura descrita abaixo.

O primeiro capítulo enfoca a indisciplina escolar sob os diversos pontos

de vista dando destaque aos tipos de indisciplina escolar mais comuns e as

conseqüências da mesma para alunos e professores. O segundo, discute as

principais causas da indisciplina escolar abordando um conjunto de fatores que

dentre outros, inclui a questão curricular e a estrutura física da escola. Por fim,

o terceiro capítulo, obedecendo a lógica da intervenção psicopedagógica,

apresenta um conjunto de ações voltadas para o controle da indisciplina

retratando o difícil e amplo papel que os psicopedagogos devem

desempenhar.

CAPÍTULO I

A INDISCIPLINA ESCOLAR SOB OS DIVERSOS

PONTOS DE VISTA

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A indisciplina escolar se configura em uma terminologia com

significado bastante complexo e muitas vezes com sentido divergente entre os

estudiosos. Sua definição varia de acordo com o olhar de cada um, pois nela

estão contidas as ideologias que variam muito em função do sexo, da idade e,

sobretudo do status de quem a define. Isso porque, como diz o educador

Leonardo Boff:

“ ...Cada um ler com os olhos que tem. E interpreta a

partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a

vista de um ponto. Para entender como ele lê, é

necessário saber como são os seus olhos e qual é a sua

visão do mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.

A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para

compreender, é essencial conhecer o lugar de onde olha.

Vale dizer: como alguém vive, que experiência tem, em

que trabalha, que desejos alimenta, como assume os

dramas da vida e da morte e que esperanças o animam.

Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.

Sendo assim, fica evidente que cada leitor é um co-autor.

Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque

compreende e interpreta a partir do mundo que o habita.”

(BOFF, 1997).

Costuma-se compreender a indisciplina, no meio educacional, como

a manifestação de um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia,

intransigência, desacato, traduzida na falta de educação ou de respeito às

autoridades, na bagunça ou agitação, enfim, na incapacidade do aluno se

ajustar às normas e padrões de comportamento que se espera em uma

instituição de ensino como a escola.

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Para alguns professores a disciplina é vista como obediência cega a

um conjunto de regras e, principalmente, como um pré-requisito para o bom

aproveitamento do que é oferecido na escola. É curioso observar que qualquer

inquietação, discordância, conversa ou desatenção por parte dos alunos é

entendida como indisciplina, já que se busca obter a tranqüilidade, o silêncio, a

docilidade, a passividade dos alunos de tal forma que não haja nada que os

possa distrair dos exercícios aplicados em sala de aula.

A maioria dos educadores entende a indisciplina como a descrita

acima, ou seja, como a inadequação do comportamento do aluno àquilo que o

professor espera. Frequentemente o desejo do professor é que o aluno fique

quieto, ouça as explicações que tem para dar e faça corretamente os

exercícios.

Já na forma de pensar dos alunos, a indisciplina só é perceptível

quando se trata de situações que os incomodam muito. Conversas paralelas,

saídas e entrada em sala de aula a qualquer momento é uma situação

bastante comum que causa desconforto a apenas um pequeno grupo.

Apesar da diversidade de interpretação que pode ser atribuída,

nesse trabalho considera-se indisciplina a violação às normas instituídas pela

escola através do seu regimento interno. Toda e qualquer atitude que ignorem

as normas de convivências estabelecidas deve ser negociada com os alunos

para que eles tenham clareza dos objetivos de cada regra. Pois é mais fácil

segui-las quando sabem que vai ser benéfico ao processo ensino-

aprendizagem e que eles participaram na sua construção.

Os problemas de indisciplina devem ser contornados gradualmente

através do diálogo constante a fim de evitar problemas maiores. Dupâquer

(1999, apud Abramovay et alii, 2003, p.24) afirma que “(...) existe um consenso

sobre a necessidade de se prestar atenção à ocorrência de incivilidades no

ambiente escolar, pois as mesmas podem tornar o ambiente hostil.”

1.1 – O que é (in)disciplina

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Costuma-se compreender a indisciplina educacional, como sendo a

manifestação de comportamentos inapropriados por parte do indivíduo ou de

seu grupo, sejam alunos ou professores. Então pode-se entender que a falta

de disciplina ocorre quando há intolerância aos acordos firmados, ou seja, o

não cumprimento de regras capazes de pautar a conduta de um indivíduo ou

de um grupo.

O dicionário Aurélio (1988), define a disciplina como o “regime de

ordem imposta ou livremente consentida. Ordem que convém ao

funcionamento regular de uma organização ( militar, escolar, penitenciária,

etc.). Relações de subordinação do aluno ao mestre ou instrutor. Observância

de preceitos ou normas. Submissão a um regulamento.” E o termo indisciplina

refere-se ao “procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desordem,

rebelião”.

Tratar da disciplina nas escolas significa lidar com uma interseção de

objetos e seus significados, para Chagas (2001), é “um conjunto de regras que

devem ser obedecidas para o êxito do aprendizado escolar. Ela é uma

qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em

uma sala de aula e, consequentemente, na escola.” ( p.11)

Percebe-se que a (in)disciplina é compreendida e definida de forma

bastante diversificada. Seu conceito na escola varia de acordo com a situação,

o tipo de aula a ser dado e até mesmo com o perfil do professor. Assim, o que

é considerado comportamento normal em algumas escolas, pode ser visto

como indisciplina em outro contexto, dependendo das normas explícitas ou

implícitas que estejam sendo desrespeitadas. Um aluno que saia da sala de

aula sem pedir licença pode ser considerado indisciplinado ou não

dependendo do professor e do que foi concordado no regimento da sala. Essa

concepção varia de acordo com a experiência profissional, a formação e o

meio em que o professor desenvolve os seus trabalhos educacionais. Portanto,

para definir (in)disciplina na escola, é necessário considerar uma série de

questões de âmbito institucional e social.

1.2 – Tipos de indisciplina escolar mais comuns

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A indisciplina é uma realidade existente em todas as escolas picoenses,

se apresentando de forma diferenciada e em graus diferenciados. Essa

ocorrência se constitui como um objeto de reflexão por se tornar um gravíssimo

problema que atualmente vem ocupando cada vez mais espaços.

De acordo com relatos dos professores e observação in loco, a

indisciplina se manifesta em vários níveis, tais como: falta de respeito dos

alunos para com os colegas e professores com palavras grosseiras, uso de

drogas, delitos como destruição de cadeiras, mesas e portas, intimidações

físicas, empurrões, xingamentos e desmandos com o uso dos banheiros e

outras dependências. Infelizmente muitas dessas ações são consideradas na

atualidade como situações corriqueiras e inevitáveis, atentando-se como

imprescindível de intervenção mais acurada apenas as transgressões mais

elevadas.

Com base no depoimento dos professores e alunos em visita às escolas

onde foram realizadas o trabalho de pesquisas, os comportamentos que

merecem destaque são os expostos nas tabelas abaixo:

TABELA II – Respostas dadas pelos educadores em relação a comportamentos indisciplinados.

ESCOLAS

COMPORTAMENTOS INDISCIPLINADOS

Agressões verbais contra

professores

Agressões verbais contra alunos

Agressões físicas (brigas,

empurrões)

Ameaças

(humilhações)

Depredação

das instalações escolares (carteiras, mesas, portas,

janelas e etc.)

A 06 04 03 03 07 B 05 01 01 02 05 C 04 - 02 - 01

TOTAL 15 05 06 05 13 PERC. 34,1 11,4 13,6 11,4 29,5

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NOTA: Os educadores foram questionados da seguinte forma: Que acontecimentos você já presenciou na escola que considera como comportamentos indisciplinados? Os educadores podiam marcar mais de uma alternativa. TABELA III - Respostas dadas pelos alunos a respeito de comportamentos indisciplinados. ESCOLAS COMPORTAMENTOS INDISCIPLINADOS Agressões

verbais con- tra profes- sores

Agressões verbais con- tra alunos

Agressões físicas (bri- gas, empur- rões)

Ameaças (humilhações

)

Depredação das instala- ções escola-

res (carteiras, mesas, por- tas, etc.)

A 01 02 04 02 06 B 02 02 01 02 04

TOTAL 03 04 05 04 10 PERC. 11,5 15,4 19,2 15,4 38,5

NOTA: Foi questionado aos alunos: Que acontecimentos você já presenciou na escola que considera como comportamentos indisciplinados? Nessa questão os alunos podiam marcar mais de uma alternativa. Percebe-se que 34,1% dos educadores atribuem os comportamentos

indisciplinados às agressões verbais contra eles, colocando assim, esse item

em primeiro lugar das ações presenciadas e consideradas como sendo

indisciplinadas. Este item para os alunos ficou em quinta colocação com uma

diferença de 22,6 %, comprovando, mais uma vez a possibilidade de perceber

e interpretar de forma diferente uma mesma realidade.

Os alunos elegeram em primeiro e segundo lugares respectivamente as

depredações das instalações escolares e as agressões físicas, deixando os

outros aspectos (agressões verbais contra alunos e professores, ameaças/

humilhações), em posições significativamente distantes das primeiras. Pode se

aferir que estes últimos por se tratar de aspectos que afetam o psicológico não

é tão perceptível “aos olhos” dos alunos, embora desagregue os indivíduos

como um todo. Os alunos vêem com mais precisão o que é totalmente

explícito.

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1.3 – Conseqüências da indisciplina

É de consenso entre todos os educadores que a indisciplina atrapalha o

andamento dos trabalhos educativos como um todo, pois traz problema de

conflitos que afetam a relação professor-aluno e o funcionamento das aulas.

Segundo Abramovay (2003, p.26), o fenômeno “(...) contribui para romper com

a idéia da escola como lugar de conhecimento, de formação do ser, de

educação, como veículo, por excelência, do exercício e aprendizagem, da ética

e da comunicação por diálogo (...).”

1.3. 1 – Para o aluno.

Como mostra a tabela IV os alunos foram enfáticos em afirmar que por

conta da indisciplina não conseguem aprender muito por falta de concentração,

perdem a vontade de assistir aula porque o ambiente fica desagradável e

consequentemente a qualidade do ensino diminui.

TABELA IV - Respostas dadas pelos alunos em relação as conseqüências negativas trazidas pela indisciplina. ESCOLAS CONSEQUÊNCIAS DA INDISCIPLINA Não consegue aprender

por falta de concentração

Perde a vontade de assistir aula porque o ambiente fica desagradável

A qualidade do ensino diminui

A 03 03 04 B 02 03 02

TOTAL 05 06 06 PERC. 29,4 35,3 35,3

NOTA: Foi questionado aos alunos: Em sua opinião, quais as conseqüências negativas trazidas pela indisciplina escolar? Nessa questão os alunos podiam marcar mais de uma alternativa.

Em diálogo com os alunos considerados de comportamento exemplar,

alguns relataram que diante das agressões físicas entre colegas ficam

nervosos e revoltados com os administradores da escola por não retirarem do

colégio os alunos que prejudicam a turma.

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Em uma entrevista o psicopedagogo Içami Tiba, quando questionado

sobre os problemas causados pela indisciplina nas escolas e reflexões sobre a

vida adulta dos indisciplinados, deixou evidente “que uma das piores causas da

indisciplina é a falta de organização interna do indivíduo e que a pior

conseqüência é a queda da qualidade de vida. Não dá para contar com os

indisciplinados para atividades de responsabilidades – eles funcionam

conforme manda sua indisciplina e não seus compromissos. Então quando

adulto a pessoa não conseguirá se adaptar a qualquer atividade pessoal ou

profissional”.(Ver anexo 2)

1.3.2 – Para o professor

A tabela abaixo nos mostra que a principal conseqüência refere-se a

não execução da aula de acordo com o que foi planejado por ter que ser

interrompida constantemente por situações que impedem o desenvolvimento

dos trabalhos. Sabe-se que isso traz conseqüência negativa para o professor

por ocasionar angústia e sentimento de impotência. Entretanto, o maior

prejudicado é o próprio aluno que deixa de estudar os conteúdos

programáticos úteis à sua formação acadêmica. Em segundo lugar, vem o

desestímulo para o trabalho e em terceiro com o mesmo índice percentual a

irritabilidade e o pouco empenho do professor por achar que o aluno não quer

aprender. Os fatores (desestímulos, irritabilidade e pouco empenho) são

péssimos sinais para a educação, pois o primeiro proporciona a evasão do

professor e os outros podem alimentar novos focos de indisciplina.

TABELA V – Resposta dos educadores por escola a respeito de como a indisciplina escolar atrapalha seu trabalho.

ESCOLAS

FORMAS QUE A INDISCIPLINA ESCOLAR ATRAPALHA O TRABALHO DOS EDUCADORES

Fica pouco estimulado para o

trabalho

Se irrita em sala de aula

Não consegue dar aulas de acordo com o que foi

planejado

Não se empenha muito por achar que o aluno não quer aprender

A 04 03 07 01 B 06 02 05 -

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C 01 01 02 05 TOTAL 11 06 14 06 PERC. 29,7 16,2 37,8 16,2

NOTA: Foi questionado aos educadores: Como você acha que a indisciplina escolar atrapalha seu trabalho?

De acordo com o Psicanalista Raymundo de Lima, professor do

departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de

Maringá, no Paraná, os professores estão sofrendo de fobia escolar, antes um

distúrbio psicológico exclusivo das crianças.

O professor que desenvolve fobia escolar sente um pavor profundo da

escola e da sala de aula, acompanhado de alterações físicas como palpitação

e tremores. Os ambulatórios psiquiátricos dos hospitais brasileiros já

registraram o aumento dos casos de professores com distúrbios de ansiedade,

entre eles a fobia escolar. “ O número de professores que tem procurado

atendimento por estarem estressados, deprimidos ou sofrendo de crise do

pânico, aumentou cerca de 20% nos últimos três anos” diz Joel Rennó Júnior,

coordenador do projeto de atenção à Saúde Mental da Mulher do Hospital das

Clínicas de São Paulo. (Revista Veja, 2005)

CAPÍTULO II

PRINCIPAIS CAUSAS DA INDISCIPLINA ESCOLAR

Decifrar o grande enigma da indisciplina não é tarefa fácil. Sempre foi e

é especialmente neste século uma grande interrogação sobre as causas de

uma das principais barreiras que impede ou dificulta o processo ensino-

aprendizagem. Por mais que se investigue com toda a rigorosidade científica

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será muito difícil apontar precisamente seus principais fatores, visto que,

quando se fala de indisciplina escolar estamos nos referindo a alunos que são

seres humanos complexos, que apresentam comportamentos, meios e formas

diferentes de sentir e perceber o mundo. O que pode incentivar um aluno “x” a

participar da aula e tirar suas próprias conclusões, para um aluno “y” pode ser

um tremendo tédio, uma atitude totalmente desmotivadora e sem sentido. Essa

diversidade de percepções e interpretações dos estímulos, coloca o professor

em uma situação bastante desconfortável, pois na sala de aula o velho e

conhecido ditado “não se pode agradar a gregos e troianos” se torna um fato

difícil de ser revertido.

Para identificar variáveis ou fatores comumente inter-relacionados com a

indisciplina nas escolas, percorrem-se diversas outras relações e processos

sociais. A tendência é não isolar um único fator como possível causa ou

antecedente que as potencializariam. Prefere-se em lugar disso, identificar

conjuntos ou ambientes favoráveis à indisciplina. Por isso, além de enfoques

multidimensionais, vários autores defendem a importância da abordagem

transdisciplinar com a contribuição da sociologia, da ciência política, da

psicologia, das ciências da educação e da justiça criminal.

A escola sofre influências de fatores externos. Ao entrar na escola o

aluno não deixa de lado as questões pessoais e sociais que lhes afetam.

Derbabiuex reforça esse pressuposto quando afirma que:

“A escola está mais vulnerável a fatores e problemas

externos ( como desemprego e a precariedade da vida

das famílias nos bairros pobres). O impacto da

massificação do acesso à escola, a qual passa a receber

jovens negativamente afetados por experiências de

exclusão e pertencimentos a gangues, implica

conseqüências para todos os membros da comunidade

escolar: alunos, pais e professores. Esses fatores

externos de vulnerabilidade se somam àqueles

decorrentes do aumento das condutas delinqüentes e de

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incivilidades na escola.” (Derbabiuex,1998, apud

Abramovay, 2003 p.25)

Além de enfrentar esses problemas, a escola passa por um período no

qual a ideologia que sustentou há muitos anos é contestada.

“ A escola é questionada por não preparar para o

mercado de trabalho, por perda da qualidade e

centralidade como fonte de conhecimento sobre

humanidades e transmissora do acervo cultural

civilizatório e por não corresponder à expectativa de abrir

possibilidades para um futuro seguro para os jovens”

(Abramovay, 2003, p.27).

Diante disso, exige-se que a escola tenha um novo olhar sobre a

realidade, devendo se entender a complexidade dos fatos e das relações

presentes, ampliando as perspectivas de observação, análise e reflexão,

objetivando compor ações prospectiva e pertinente, compondo assim, um

trabalho voltado para a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos em

sociedade.

Trabalhar em um contexto permeado pela indisciplina exige um “jogo de

cintura” para perceber e compreender suas causas e conseqüências. Se faz

mister conhecer as causas e intervir em suas raízes. Tal intervenção requer

uma disciplina por parte do professor em não priorizar apenas a dimensão

cognitiva, visto que educar é um termo de significado complexo, em que, em

sua amplitude, compreende a formação do homem integralmente. Implica

formar hábitos e atitudes coerentes com o meio, desenvolver a dimensão

cognitiva e afetiva, visando não só a formação de habilidades, mas também, a

personalidade e os valores morais de cada cidadão.

A esse respeito Rosiska e Darcy de Oliveira enfatiza a necessidade de :

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“Uma educação que não seja apenas uma aquisição

individual de técnicas e de competências especializadas

que cada um vende na idade adulta no mercado de

trabalho, mas sim a formação de homens e mulheres

autônomos e polivalentes, capazes de se inserir em

comunidades dinâmicas e conflitivas e, por isso mesmo,

democráticas, e porque democráticas em permanente

mutação.

Uma educação que permita vivendo e aprendendo

saber porque se vive e porque se aprende” (Rosiska e

Oliveira, 1992).

Desta forma uma educação só é proveitosa para os educandos se esta

for capaz de atender aos seus interesses e expectativas, isto é, se ela der

sentido à vida, permitindo-lhes uma compreensão da realidade que os cercam.

Portando, impõe-se o abandono de um ensino baseados em princípios

tradicionais que não mais se adequam às novas condições de vida social,

econômica e tecnológica. Isso pressupõe o domínio educacional na

transposição dos ideais universais e sociais para a vida cotidiana e concreta

dos alunos.

As opiniões dos educandos em relação às causas da indisciplina (tabela

VII), contrasta muito com a dos professores ( tabela VI), dos primeiros, 36,8%

acham que a indisciplina está associada a questão das aulas serem

desinteressantes, enquanto 11,9% destes admitem está associado à sua

metodologia. No que diz respeito a formação, os resultados evidenciaram que

11,9% dos educadores atribuíram desqualificação dos professores como causa

da indisciplina enquanto que os alunos foi na proporção de 21,1%. Percebe-se

claramente através das respostas que é preciso professores e alunos

refletirem conjuntamente sobre esse fenômeno, pois essa discrepância de

percepção dificulta a solução do problema.

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TABELA VI – Respostas dos educadores em relação às causas da indisciplina dos alunos.

ESCOLAS

CAUSAS DA INDISCIPLINA DOS ALUNOS

Metodologia ineficiente

Fragmenta-ção dos

conteúdos

Escolas sem equipamen-tos e depen-dências necessários ao ensino de qualidade

Falta de limi- te no seio familiar

Fatores psíquicos

Desqualificação do professor

A 01 - 06 06 02 01 B 03 01 02 04 01 02 C 01 02 04 02 02 01

TOTAL 05 03 12 12 05 05 PERC. 11,9 7,1 28,6 28,6 11,9 11,9

NOTA: Foi perguntado ao educador: Em sua opinião o que causa indisciplina nos alunos ? Nessa questão os educadores podiam marcar mais de uma alternativa.

TABELA VII - Respostas dadas pelos alunos em relação as causas da indisciplina escolar. ESCOLAS CAUSAS DA INDICIPLINA DOS ALUNOS Aulas

desinteressantes Desqualificação do professor

Fragmentação dos conteúdos

A falta de limite no seio familiar

A 04 03 03 01 B 03 01 02 02

TOTAL 07 04 05 03 PERC. 36,8 21,1 26,3 15,8

NOTA: Foi questionado aos alunos: Em sua opinião, o que causa indisciplina nos alunos? Nessa questão os alunos podiam marcar mais de uma alternativa.

Pelo exposto, nota-se que o aluno não está contente com a educação

que está recebendo, nem com o conteúdo nem com a forma. Eles querem “(...)

um professor intelectualmente capaz e afetivamente maduro” (Cunha,2001).

Esse professor almejado encontra-se ainda muito tradicional. Por isso, os

alunos manifestam sua insatisfação com incivilidades. Eles exigem aulas

dinâmicas e interessantes que os levem a participarem: falar, debater,

pesquisar e, assim, construir ativamente o conhecimento. O que acontece em

sala de aula é contrário às suas expectativas e necessidades, pois são

orientados a copiar a matéria, calar para ouvir passivamente o professor.

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Os docentes acreditam que os maiores contribuintes para o mau

comportamento dentro da escola são a falta de compromisso dos pais com a

educação dos filhos manifestada também por falta de limite no seio familiar, e

a inexistência de equipamentos nas escolas e dependências necessárias ao

ensino de qualidade.

Os alunos além de acharem as aulas desmotivadoras e conteúdos

fragmentados, isto é, não saber claramente o porquê de aprender

determinados conteúdos, reclamam a falta de pertencimento. Sua revolta não

vem do nada. Ela tem um início e vai aumentando à medida que o estudante

percebe que sua opinião, seus valores e seus direitos não são levados em

consideração dentro da escola. O aluno quer sentir-se valorizado na instituição

que ele passa grande parte de sua vida; dar idéias, perceber a preocupação

dos professores e ser ouvido por eles e demais responsáveis pelo ambiente.

Outro aspecto bastante aceito nas escolas que serviram de base à

pesquisa é associação da indisciplina ao fracasso escolar e vice-versa. Esse

fator afeta o educando em todos os âmbitos e de modo especial em sua auto-

estima. O adolescente sentindo-se subestimado por não atender as

expectativas dos pais, dos professores e de seus colegas pode manifestar um

comportamento temporariamente adverso que pode se tornar freqüente se não

houver uma intervenção imediata. Essa problemática merece uma atenção

muito especial, pois o aluno com uma imagem sumariamente desvalorizada de

si mesmo, compromete o principal objetivo educacional que é o de educar toda

a clientela.

2.1– Fragmentação dos conteúdos e metodologia ineficiente

É bastante comum ouvirmos declarações por parte dos professores a

respeito do desinteresse dos alunos. Estes se queixam quanto as aulas sem

estímulos, sem preparo inclusive metodológicas e da inaplicabilidade dos

conteúdos estudados em sua vida prática.

Abordamos acima que para acontecer desenvolvimento e aprendizagem

é preciso que o aluno interaja com o objeto a ser trabalhado. O professor,

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portanto, tem um papel importante na elaboração de estratégias didáticas que

valorizem as relações sociais estabelecidas no contexto escolar como foco de

desenvolvimento e construção do conhecimento.

Essa transposição didática dos conteúdos para as situações de

aprendizagem deve considerar a identificação do nível atual dos

conhecimentos prévios do aluno em relação ao conteúdo para que ele possa

intervir orientar e promover o desenvolvimento de novas possibilidades de

aprendizagem.

Não adianta apenas o professor ter domínio do conteúdo a ser

ensinado, porque quem está na outra posição – a de aprender – pode não está

motivado a adquirir tais conhecimento por achar que é desnecessário em seu

dia-a-dia.

Todo educador tem o papel de buscar estratégias que sejam capazes

de incentivar os alunos a participarem ativamente do processo de

aprendizagem. Cabe ao professor não só aplicar conteúdos significativos, mas

também, fazer o aluno compreender sua importância e as possibilidades de

uso na solução de problemas rotineiros, e assim, satisfazer as perguntas dos

alunos: por que e para quê aprender. É preciso estabelecer constantemente

uma ligação entre os conteúdos programáticos com a vivência dos alunos para

que eles possam desenvolver as potencialidades satisfatoriamente e aplicarem

na vida o que aprenderam na escola.

Questões como “o que fazer”, “como fazer” e “por que” devem fazer

parte diariamente das reflexões docentes, pensadas e repensadas para uma

tomada de decisão. Desta forma é necessário que o professor se torne um

perito em investigar a própria prática tendo em vista aprimorar seus atos

pedagógicos.

Ao assumir-se como investigador de sua ação educativa ele passa a

desenvolver pesquisas concretas que possibilitam o alcance de metas na

construção de um fazer pedagógico que reúnam teoria e prática, tornando o

processo ensinar um (re)construir reflexivo e democrático proporcionando uma

aprendizagem de qualidade.

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O exercício constante da reflexão acerca dos conhecimentos adquiridos

pelo professor deve considerar as diferenças entre a teoria aprendida e a

prática desenvolvida, o pensar e o agir em sala de aula. Esse exercício

individual ou coletivo, certamente, apontará, em sua grande maioria, a

contradição entre o proposto e o executado.

Através de uma parábola, Alves ( 1999), afirma que:

“O professor é um chef que prepara e serve refeições de

palavras a seus alunos (...). Se os alunos recuarem diante

da comida e se, uma vez engolida a comida promover

vômitos e diarréia, isso não quer dizer que os processos

digestivos dos alunos estejam doentes. Quer dizer que o

cozinheiro professor desconhece o segredo do sabor”

(Alves,1999, p.38-39)

A aula para ser prazerosa tem que ser planejada com todo amor e

carinho como se o facilitador estivesse preparando uma comida para os

anoréxicos. Não basta apenas o professor ter conhecimento, tem que ter

muita sensibilidade, ética, justiça e paciência para lidar com o aluno. Só

transmitir conteúdo não desperta no aprendiz o prazer. É preciso ir além

ajudando o aluno a refletir sobre a vida, sobre as coisas, sobre o mundo,

perceber o aparente, descobrir o oculto, aprender a aprender, aprender a ser,

viver e a conviver. Assim ele descobre o gosto pelo estudo porque encontra no

professor um amigo que pode ajudá-lo a crescer como cidadão.

Cunha (2001), recomenda que os professores desenvolvam habilidade

como por exemplo:

“(...) incentivar o aluno à participação que inclui

indicadores como formular perguntas; valorizar o diálogo;

provocar o aluno para realizar as próprias perguntas;

transferir indagações de um aluno para outro ou para toda

a classe; usar palavras de reforço positivo; aproveitar as

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respostas dos alunos para dar continuidade à aula; ouvir

as experiências cotidianas dos alunos. No grupo de

indicadores da habilidade de variação de estímulos, o

professor poderá usar adequadamente recursos

audiovisuais; movimentar-se no espaço de ensino;

estimular a divergência e a criatividade, preocupando-se

em instalar a dúvida. A habilidade do uso da linguagem

devem reunir aspectos como a clareza nas explicações, o

senso de humor no trato com os alunos entre outros

aspectos” .(Cunha, 2001, p.164)

No mesmo sentido, quanto a ação do professor, Libâneo (1992)

enfatiza, como importante, as relações professor-aluno na sala de aula: “A

interação professor-aluno é um aspecto fundamental da organização da

situação ’didática’ , tendo em vista alcançar os objetivos do processo de

ensino: a transmissão e assimilação dos conhecimentos, hábitos e

habilidades”.

Libâneo (op.cit) explica que uma das dificuldades mais comuns

enfrentadas pelo professor é o que se chama de controle da disciplina, “o que

está diretamente ligada ao estilo da prática docente, ou seja, à autoridade

profissional, moral e técnica do professor. Quanto maior for a autoridade do

professor mais os alunos darão valor às suas exigências”.

A aceleração das mudanças e das inovações trouxe um problema de

natureza essencialmente educacional: o modelo de aprendizagem

comportamental não é mais suficiente para interagir com o mundo, da forma

como ele vem se apresentando de vinte anos para cá. Hoje não faz mais

sentido o professor adotar uma postura vertical em sala de aula e nem

trabalhar conteúdos estanques e distantes da realidade, ou seja, desligado do

contexto do educando.

A construção do conhecimento deve partir da realidade local, onde

está inserida a escola. Entretanto, não um território delimitado, onde se

busquem todos e quaisquer problemas que possam aparecer nestes limites,

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mas uma problematização que por um lado seja prioritária para a intervenção

da comunidade escolar e por outro que seja pedagogicamente interessante.

Seguindo esta visão a escola é um ambiente adequado aos futuros

atores sociais que, tomando consciência dos problemas globais, podem trazer

estes conhecimentos adquiridos para a sua vivência e experiência locais,

contribuindo para a solução dos problemas que afetam sua comunidade. Seria

exatamente a reflexão, levando a organização dos conceitos para a elaboração

de propostas e projetos que intervenham de forma construtivas dos problemas

identificados.

2.2– Estrutura escolar deficiente

As escolas públicas – a maioria delas - ainda não estão estruturadas

com os recursos materiais nem dependências físicas que favoreçam ao aluno

a se interessar pela aprendizagem devido a grande distância que existe entre

o mundo escolar e o mundo globalizado. Ao analisar o contexto educativo

constata-se que o ato de educar está desprovido de um projeto que leve em

consideração os interesses, necessidades e os anseios dos alunos por estar

distantes das novas exigências educacionais impostas pelos avanços

científicos e tecnológicos.

Sabe-se que hoje as escolas públicas, pelo menos a grande maioria, é

muito carente. Elas não dispõem de recursos suficientes para comprar

equipamentos tão úteis e necessários às novas exigências educacionais. Isso

é um fato incontestável. Mas o pior, é que muitos educadores se valem disso

para justificar a falta de aulas dinâmicas e inovadoras. Sabe-se que isso

dificulta e muito o trabalho, no entanto, não justifica a falta de atividades mais

interessantes e diversificadas. É possível com o que a escola dispõe e a

criatividade do educador, modificar as estratégias em benefício de uma

educação de melhor qualidade. Deixar de fazer isso faz parte também do

comodismo e do medo de sair da zona de conforto.

Foucambert ao destacar o quanto a escola se mantém distante do

mundo real e o quanto promove, mesmo com uma ação com vistas no futuro, a

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construção do homem de ontem, alerta para o fato de que “uma nova cultura

nascerá de uma educação no real, não em meio fabricado para transmitir

nossos sonhos humanitários.” (1994, p.101)

Para se ter uma educação no presente com vista no futuro profissional e

na formação intelectual, moral e ética é preciso dentre outras coisas uma

escola que seja capaz de promover o desenvolvimento e a descoberta das

múltiplas habilidades inerentes a todos os seres humanos.

Alguns professores (28,6% - tabela VI), acreditam que uma das

principais causas da indisciplina, deve-se ao fato da inexistência nas escolas

de equipamentos e dependências necessárias a um ensino de qualidade de

acordo com os novos tempos e as novas exigências.

O mundo contemporâneo exige novas habilidades e formação que

origina a necessidade de mudança urgente, pois é uma sociedade diferenciada

dos outros momentos históricos. Essa necessidade de mudança está

relacionada a constatação das lacunas ocasionadas entre o que a sociedade

está pedindo da formação dos indivíduos e o que o espaço escolar está

oferecendo.

Essa é a razão dos alunos explicitarem um desejo que as escolas sejam

mais bem estruturadas e possam oferecer um ensino de mais qualidade. Entre

todas as dependências escolares que os alunos demonstraram sentir falta

conforme tabela abaixo, estão por ordem de preferência o laboratório de

informática com 37,5%, quadra de esporte com 25% , biblioteca com 20,8% e

12,5% e 4,2% para sala de vídeo e auditório respectivamente.

TABELA VIII - Respostas dadas pelos alunos em relação ao que mais sentem falta na escola. ESCOLAS DO QUE OS ALUNOS SENTEM MAIS FALTA Bibliotecas Quadra de

esportes Laboratório de informática

Sala de vídeo

Auditório

A 04 02 05 01 - B 01 04 04 02 01

TOTAL 05 06 09 03 01 PERC. 20,8 25,0 37,5 12,5 4,2

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NOTA: Foi questionado aos alunos: Do que você sente mais falta na escola? Pôde-se observar na escola “A” uma das escolas onde o pesquisador

desenvolveu o trabalho de pesquisa, que muitos alunos iam para o colégio mas

não entravam na sala de aula. Indagados sobre o motivo, diziam que as aulas

eram “chatas” e que nada ali os interessava. Esse discurso foi comprovado

através do questionário de pesquisa. Na questão sobre do que não gostavam

na escola conforme tabela a seguir, 29,4% disseram ser da sala de aula. Esse

desprazer é reiterado através das respostas contidas na tabela XIV em que

80% dos alunos dizem gostar de ir à escola, no entanto, apenas 66,7% gostam

de assistir às aulas. O motivo, refere-se as aulas serem desinteressantes

conforme a tabela X em que 20% consideram-nas ruins, 60% regulares e

apenas 20% acham boas. O que chama a atenção é que mesmo não gostando

das aulas não detestam os professores, pois apenas 5,9% afirmaram não

gostar da maioria deles.(vide tabela IX)

Embora o maior índice de insatisfação sejam em relação à escola

representado por 52,9%, é importante que a comunidade escolar ( diretores,

professores e profissionais da secretaria), reflitam para que possam

proporcionar um melhor serviço dando atenção especial aos alunos e tratando-

os com toda a dignidade e respeito que eles merecem, pois 47,1% dos alunos

disseram não gostar desses funcionários o que é um índice bastante elevado,

retratando assim, um serviço prestado de qualidade inferior às expectativas

dos alunos.

TABELA IX – Respostas dada pelos alunos à respeito do que não gostam na escola. ESCOLAS DO QUE NÃO GOSTAM

ESTRUTURA FÍSICA DA ESCOLA

COMUNIDADE ESCOLAR

Da sala de aula

Do pátio

Da cantina

Dos corredo-res

Da maio-ria dos profes-sores

Da coor-dena-ção peda-gógica

Da maio-ria dos alunos

Da dire- ção

Dos funcionários da secre- taria

A 05 02 02 02 01 - 03 03 01

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B 05 - 01 01 01 - 02 01 04 TOTAL 10 02 03 03 02 05 04 05 PERC. 29,4 5,9 8,8 8,8 5,9 0 14,7 11,8 14,7 MÉDIA 52,9 47,1

NOTA: Os alunos foram orientados através do questionário a marcarem com um (X) o que não gostam na escola no que diz respeito à estrutura física e à comunidade escolar. Podia ser marcado mais de uma alternativa em cada um dos itens. 2.3 – Falta de limite no seio familiar

Muitos educadores (28,6%) do grupo pesquisado – tabela VI- atribui

grande parte da indisciplina à educação recebida no seio familiar. Sabe-se que

a falta de firmeza dos pais e a permissividade leva a criança a impor desde

muito cedo a sua vontade determinando o que quer comer o que vai vestir, que

canal de televisão assistir e quando e com quem sair.

Essa liberdade excessiva sem associar à responsabilidade, cria filhos

indisciplinados, cheios de dengos, que não conseguem conviver com

obrigações rotineiras e nem aceitam serem contrariados. Grande parte dos

alunos vem de lares desestruturados, são filhos de pais separados ou

convivem com a violência doméstica, o alcoolismo, a droga, a ausência de

valores. É aí que os alunos adquirem o modelo de comportamento que

exteriorizam nas aulas.

A pedagoga Tânia Zagury autora do livro Escola sem conflito:

Parceria com os pais, diz que:

“Hoje, a punição é cada vez mais rara, tanto na

escola como em casa . É uma situação cada vez

mais comum: eles trabalham muito e tem menos tempo

para dedicar à educação das crianças. Sentindo-se

culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e

esperam que a escola assumam a função que deveria ser

deles: a de passar para a criança os valores éticos de

comportamentos básicos”. (Revista Veja, 2005)

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No pensamento de Tiba (1996), alguns pais não se

comprometem com a educação dos filhos “quando a escola reclama de maus

comportamentos ou das indisciplinas dos alunos, os pais jogam a

responsabilidade sobre a escola”.

2.4– Formação deficiente do professor

As respostas dadas pelos alunos nos diversos itens nos fazem

questionar sobre alguns aspectos inerentes à prática do professor. A principal

delas põe em dúvida a sua formação de forma que venha atender as

expectativas do aluno e as novas exigências educacionais.

Na tabela VII pudemos perceber que 36,8% dos alunos acham as aulas

desinteressantes, mas apenas 21,1% consideram o professor desqualificado.

Em consonância com a tabela abaixo, nenhum aluno julgou as aulas ótimas e

20% alegaram ser ruins. Na tabela VI, apenas um índice de 11,9% dos

professores reconheceram ser desqualificado.

TABELA X - Respostas dadas pelos alunos a respeito de como consideram a maioria das aulas. ESCOLAS MAIORIA DAS AULAS

Ruins Regulares Boas Ótimas A 03 03 01 - B - 06 02 -

TOTAL 03 06 03 - PERC. 20,0 60,0 20,0 0

NOTA: Os alunos foram questionados: Como você considera a maioria das aulas?

Se um percentual elevado de alunos acham as aulas desinteressantes

e um número reduzido de professores admitem ser desqualificado, resta a

indagação: por que a maioria dos professores que se dizem ter uma formação

sólida não conseguem dar uma aula reconhecida como ótimas aos “olhos” dos

alunos? Será que a estrutura escolar abordada como deficiente é a culpada de

tudo? Ou esses professores que se nomeiam competentes não se empenham

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muito por se sentirem desvalorizados ou acharem que o aluno não quer

aprender?

A função do professor é hoje muito desvalorizada, não só pelos baixos

níveis salariais, mas também pelo tratamento que o professor recebe, seja do

poder público, seja da sociedade de forma geral, ainda muito preza a

concepção de que o professor é um mero técnico e que ensinar é algo simples,

que depende apenas da vontade e treinamento. A esse respeito Freire(1999),

diz que “(...) transformar experiência educativa em pleno treinamento técnico é

amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o

seu caráter formador”.

Evidentemente, quando se delineia o perfil do profissional, o que se leva

em conta é o conjunto de características comum à maioria, e não a todos.

Sabe-se que existem professores que embora se sentindo desvalorizados

pelos pais, pelos alunos e por todas as dificuldades que se interpõem pela falta

de condições de trabalho, se esforçam, pesquisam para buscar novas

alternativas e poder ensinar mais e melhor.

Segundo os Referenciais de Formação de Professores a afirmação de

que a formação de que dispõem os professores hoje no Brasil não contribuem

suficientemente para que seus alunos se desenvolvam como pessoas, tenham

sucesso nas aprendizagens escolares e, principalmente, participem como

cidadãos de pleno direito no mundo cada vez mais exigente sob todos os

aspectos.

“Assim, a formação de professores destaca-se como um

tema crucial, e sem dúvida, uma das mais importantes

dentre as políticas públicas para a educação, pois os

desafios colocados à escola exigem do trabalho educativo

outro patamar profissional, muito superior ao hoje

existente. Não se trata de responsabilizar pessoalmente

os professores pela insuficiência das aprendizagens dos

alunos, mas de considerar que muitas evidências vêm

revelando que a formação de que dispõem não tem sido

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suficiente para garantir o desenvolvimento das

capacidades imprescindíveis para que crianças e jovens

não só conquistem sucesso escolar, mas, principalmente

capacidade pessoal que lhes permita plena participação

social (...)” (Referências de Formação de Professor, p.26)

Todos os professores do campo de pesquisa que atuam no Ensino

Médio são formados em nível superior. De acordo com os estudiosos nenhuma

formação inicial, mesmo em nível de graduação é suficiente para o

desenvolvimento profissional o que torna indispensável a criação de sistemas

de formação continuada e permanente para todos os professores, para que

estes desenvolvam suas competências no âmbito técnico, político e social.

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CAPÍTULO III

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NO

CONTROLE DA INDISCIPLINA

O trabalho do Psicopedagogo institucional é por excelência de cunho

preventivo. É mais fácil e racional prevenir a indisciplina antes que ela se

instale na escola em grandes proporções do que intervir para contornar a

situação em estágio mais avançado. Por isso, todas as ações

psicopedagógicas devem está voltada para sua prevenção e controle através

de um modelo de relação que viabilize a integração entre toda a comunidade

escolar e da capacitação dos professores para que estes compreendam o

processo de aprendizagem e de como acontece a construção do

conhecimento. Portanto, o psicopedagogo deve lançar mão de conceitos e

fundamentos teórico-práticos da pedagogia e psicologia, visto que as

concepções contidas nessas ciências influenciam a prática pedagógica como

um todo.

A escola deve minorar a incidência da indisciplina com aplicação de

medidas eficazes e eficientes. Tais medidas não dependem apenas do

psicopedagogo, mas de toda a comunidade escolar, e do Sistema

Educacional. No entanto, atribui-se a este profissional o papel de no âmbito

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escolar e comunitário mobilizar alunos, professores e pais de alunos no sentido

de promover a conscientização a respeito das responsabilidades de cada um e

a integração de todos na construção de uma escola cidadã.

Sabe-se que a solução de um problema tão complexo como a

indisciplina que tem sua origem a partir de vários fatores, requer várias

medidas pelo poder público como: redistribuição de renda, combate à exclusão

e reforma do Sistema Educacional. É necessário também que haja um

reconhecimento dos profissionais do magistério, não só pelo poder público,

mas também pela sociedade em geral, para que estes, sintam-se respeitados

e motivados a conduzir um ensino dinâmico e inovador. A valorização de

acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN –

9.394/96, em seu artigo 67, diz respeito “a condições adequados do trabalho;

período reservado a estudos, planejamento e avaliação; piso salarial e

aperfeiçoamento profissional continuado.” O educador por sua vez em

contrapartida, deve efetivamente cumprir o seu dever, buscando desempenhar

seu papel com amor e ética. Acredita-se também que na prevenção e controle

da indisciplina é importante a criação de um ambiente respeitoso, onde

professores e alunos se admirem e se aceitem, se valorizem e valorizem o

outro. Essa valorização está ligada diretamente ao clima agradável de

participação, nas decisões da escola, onde o que prevalece é a autoridade de

todos, e não a o autoritarismo do professor; a democracia e não a libertinagem

dos alunos.

O psicopedagogo deve considerar todos os aspectos que envolvem as

condições de aprendizagens atuais e pregressas. Seu papel é analisar os

fatores que intervém, favorecendo ou prejudicando a aprendizagem numa

determinada instituição.

Alícia Fernandez (1990), defende que a intervenção psicopedagógica,

nas escolas, deve dirigir seu olhar simultaneamente para seis instâncias, são

elas:

“- ao sujeito aprendente que sustenta cada aluno;

-ao sujeito ensinante que abita e nutre cada aluno;

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-a relação particular do professor com seu grupo e com

seus alunos;

-a modalidade de aprendizagem do professor e em

conseqüência à sua modalidade de ensino;

-ao grupo de pares real e imaginário a que pertence o

professor;

-do sistema educativo como um todo”.

3.1- Sugestões de intervenções psicopedagógicas

A partir de experiências já realizadas como coordenador pedagógico

que surtiram efeitos positivos e considerando o resultado da pesquisa de

campo (anexo III) e bibliográfica, pode-se sugerir um conjunto de práticas

pedagógicas a serem aplicadas na escola no sentido de prevenir a indisciplina,

assim como controlar a sua reincidência. Vale enfatizar que é necessário uma

participação efetiva de todos os envolvidos direta e indiretamente na

educação, para a implementação e acompanhamento de medidas que

venham beneficiar toda a comunidade escolar e de modo especial os alunos.

Como toda a intervenção não pode estar desvinculada das raízes do

problema, cabe ao psicopedagogo analisar profundamente a realidade

educacional para que as ações considerem os sujeitos dentro do contexto, pois

não se pode “a priori” definir modelos válidos para todas as realidades. A esse

respeito, Bossa (2000) diz::

“ A metodologia do trabalho, a abordagem de tratamento,

enfim, a forma de atuação se vai tecendo em cada caso,

na medida em que a problemática aparece. Cada

situação é única e requer do profissional atitudes

específicas em relação àquela situação.” (p.85)

De acordo com o que foi abordado por Bossa, compreende-se que

nenhuma ação psicopedagógica pode ser feita sem considerar o contexto

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social,isto é, cada caso deve ser tratada considerando sua especificidade.

Portanto as intervenções não se tratam de um manual que oriente passo-a-

passo o fazer psicopedagógico, mas de algumas atitudes capazes de

dinamizar e alimentar o dia-a dia da escola.

Tem-se a premissa que cada vez mais, a prevenção e erradicação da

indisciplina nas escolas exigem a criação de um clima agradável e

participativo, com conhecimento especializado e transdisciplinar. Cabe ao

psicopedagogo articular com os demais membros da escola a construção de

uma cultura de valorização do ser humano, do diálogo e da participação:

“Uma cultura baseada na tolerância, solidariedade e

compartilhamento em base cotidiana, uma cultura que

respeita todos os direitos individuais – o pluralismo, que

assegura e sustenta a liberdade de opinião (...). A cultura

da paz procura resolver os problemas através do diálogo,

da negociação e da mediação (...).” (Werthein, apud

Noleto, 2001 p.6)

3.1.1– Integração entre todos os funcionários da escola

É praticamente impossível o trabalho isolado surtir os efeitos

necessários em uma instituição escolar, seja ele do professor, do pedagogo,

da direção ou mesmo do psicopedagogo. É preciso congregar dos mesmos

ideais e falar a “mesma língua”, isto é, decidir juntos e cada um observar

individualmente o cumprimento das decisões. Por isso, uma das primeiras

ações do psicopedagogo no controle da indisciplina é articular o diálogo

permanente com o maior número possível de participantes. Somente a partir

de um trabalho coletivo é que se pode construir bases sólidas capazes de

desmoronar o fantasma da indisciplina que amedronta e ameaça o bem-estar

de todos os educadores.

Içami Tiba (1998), fala dessa conjugação de forças como sendo o

“avental” do professor e dá grande ênfase à sua importância quando diz:

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“Todos os professores de uma escola deveriam se reunir

com coordenadores e diretores para estabelecer entre si

um padrão para cada tipo de transgressão que os alunos

cometem. Assim poderiam ser avaliados as transgressões

mais freqüentes dos alunos. Para chegar a esse avental,

todos os professores deveriam participar da sua

confecção. Mesmo que um professor não concordasse

com o avental votado e aprovado pela equipe, terá que

vesti-lo.Se se recusarem, ele estará dando um exemplo

de desobediência aos alunos que assim se sentirão

autorizados a também infringir outras normas

escolares.”(p.122)

A reflexão e o diálogo grupal são ferramentas de grande poder, pois

permite aos membros identificar seus pontos fracos e fortes e assim,

diagnosticar as causas da indisciplina e apontar as possíveis soluções. O

pensar/agir coletivo abre um leque de novas possibilidades de vê e

compreender o problema, além de gerar uma autoconfiança em cada um dos

integrantes e confiança no grupo, possibilitando assim uma prática educacional

mais coerente e consistente.

3.1.2– Estabelecer um diálogo aberto com a família

Um fato bastante interessante nesta pesquisa de campo é que 87% dos

educadores entrevistados, conforme tabela abaixo, acharam importante a

participação da família na escola, embora a pesquisa tenha sido realizada em

escolas do Ensino Médio que funcionam no turno noturno.

TABELA XI - Respostas dadas pelos alunos e professores a respeito da necessidade da presença dos pais nas escolas.

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ESCOLA

FREQUÊNCIA DOS PAIS NA ESCOLA

Professor Aluno

Sim Não Sim Não

A 07 - 02 05 B 09 - 02 06 C 04 03 - -

TOTAL 20 03 04 11 PERC. 87,0 13,0 26,7 73,3

NOTA: Foi questionado aos alunos: Você acha que seus familiares devem freqüentar à escola? NOTA: Foi questionado aos educadores: Você acha que os familiares do aluno do Ensino Médio devem freqüentar a escola?

Na realidade das três escolas não é comum haver reuniões de pais e

mestres sob a alegação por parte dos dirigentes que os alunos por serem de

nível mais elevado já teriam capacidade de si auto-representar e assumir as

conseqüências dos seus atos. Isso fica evidenciado também no pensamento

dos alunos de forma contundente, que contrário à opinião da maioria dos

educadores, 73,3% acham dispensável a presença dos pais. O que não se

pode esquecer é que a maioria dos alunos é menor de idade. Além disso, é

preciso extinguir a idéia de participação da família apenas em reuniões

convocadas pela escola para tratar apenas de problema de ordem

comportamental.

A escola precisa ser transformada num espaço onde as dúvidas,

anseios, preocupações possam se apresentar, serem escutados e

transformados em questionamentos a respeito do papel de cada um no

processo de aprendizagem e de produção do sucesso escolar de todos os

alunos.

É importante escutar os pais para saber quais são suas expectativas

com relação à escola, à equipe técnica e pedagógica e em relação aos filhos

para poder pensar com eles e não por eles, no papel atribuído à escola, ao

ensino e a educação. Desta forma abre-se caminho para que novas saídas

sejam apontadas, novas versões sejam alcançadas e muitos obstáculos sejam

vencidos. A família deve ser vista pelos educadores como uma instituição co-

responsável pela manutenção da ordem, da disciplina e da aprendizagem. Por

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mais que a escola seja eficiente não dispensa a cooperação dos pais, pois eles

são de fundamental importância na construção e desenvolvimento de valores e

hábitos saudáveis e atitudes éticas como o respeito mútuo, justiça e

solidariedade. A escola consegue mostrar sua eficácia quando é capaz de

articular e integrar os mais diversos segmentos da sociedade na prevenção e

na resolução de problemas e não através do desenvolvimento de atividades

fechadas tentando mostrar à sociedade uma auto-eficiência que não existe.

É preciso que os pais sintam-se pertencente ao espaço, reconhecer

como sujeitos importantes para que possam se envolver, dialogar, criar,

despertar, ouvir e acima de tudo apostar e acreditar no potencial de cada um

que lá estiver.

Isabel Solé (2001), destaca que é papel do psicopedagogo ter

informações sobre o aluno de maneira contextualizada e compartilhada.

Entendendo que cada história escolar diz respeito a um contexto específico e

sempre deve ser compartilhado, não somente pela equipe pedagógica, mais

também com a família.

Todos que trabalham em educação sabem a grande dificuldade que se

tem em integrar a família à escola. Segundo uma pesquisa realizada pela

fundação Carlos Chagas, em 1996, apenas 8,5% dos pais apontaram a

possibilidade de aglutinação de forças, para melhoria das escolas. Para que se

possa reverter essa situação é preciso que se mude a “cara” das reuniões. Os

pais não se sentem à vontade em ir à escola para ouvir as denúncias que os

professores fazem de seus filhos, e sentem-se impotentes em contribuir na

educação escolar de sua prole.

A escola pode conquistar a presença e participação da família desde

que solicite que compareçam, em datas comemorativas, festas em que os

alunos sejam os organizadores e atores de apresentações artísticas. Além

disso, eles devem ser convidados a participarem de encontros para

capacitação e ajudarem a tomar decisões importantes.

É consenso que a participação da família é muito importante para o

desempenho escolar dos filhos, pois “eles tendem a faltar menos à escola e

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tem menos distúrbio de comportamento e dedicam-se mais as tarefas

escolares.” (Rodrigo e Palácios, 1998)

Portanto uma iniciativa do psicopedagogo que pode render resultado

bastante satisfatório é a criação de um programa de capacitação para as

famílias, visando auxiliá-los no desempenho de suas funções. Afinal de contas,

para que os pais possam intervir é preciso que se conheça quais suas

atribuições e quais as possibilidades de participação.

3.1.3 – Melhoria das relações interpessoais

O clima emocional e o tipo de relacionamento professores-professores,

professores-alunos, escola-comunidade, dependem, sobremaneira, da atuação

dos elementos que ocupam a administração da escola, dentre eles o

psicopedagogo. Sabe-se que o bom relacionamento é a porta de entrada para

o desenvolvimento de um bom trabalho e sobremaneira de satisfação em

conviver junto aos outros.

Na escola, nem sempre as relações interpessoais são pautadas em

harmonia, o que acaba por atrapalhar o desenvolvimento de atividades

diversas. Lück (2002), demonstra a concepção sistêmica da escola, isto é, o

quanto as interferências negativas atrapalham o andamento dos trabalhos:

“A escola como um sistema social, se compõem de um

conjunto de funções, todas elas mais ou menos inter-

relacionadas e todas elas inter-influentes, de sorte que a

maneira como são conduzidas as ações em uma

determinada área afetam, de alguma forma, as ações de

outra área. Dessa inter-influência nem sempre se tem

consciência e, portanto, nem sempre se age de maneira a

somar esforços, de acordo com o ponto de vista e

objetivos comuns. As conseqüências, nesses casos, são

sempre negativas.” (p.7-8)

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Hoje o aluno precisa ser visto pela educação de forma globalizada. É

preciso insistir nesse aspecto para que fique claro a importância de não deixar

de lado, em favor do aspecto cognitivo os aspectos psicomotores e os afetivos,

envolvendo não só a valorização, mas a vivência de um bom relacionamento

na escola, pois se uma área estiver sendo desenvolvida em detrimento de

outra, certamente esse desequilíbrio acarretará uma desorganização do

indivíduo em sua dimensão global.

O bom relacionamento professor aluno-aluno é de fundamental

importância tanto na conquista dos objetivos educacionais, nos aspectos

cognitivos e afetivos quanto na formação de valores. Através do diálogo

permanente elimina-se a verticalidade sustentada ainda hoje por muitos

professores tradicionais. Estes sustentam a tese de que para manter à ordem,

a disciplina e a aprendizagem é necessário o professor se portar como o

detentor do conhecimento e do poder em sala de aula. Tal posicionamento

hoje, pode desencadear nos educandos sentimentos de revolta e

consequentemente impulsos de agressividade, pois na atualidade a

onipotência juvenil não aceita mais imposições.

Quanto maior o espaço em sala de aula, mediada por uma relação

horizontal, para discussão sobre temas interessantes como moral e ética,

respeito, solidariedade, maior a possibilidade de resolver o problema da

indisciplina de forma construtiva. Essa troca ativa de idéias é um meio eficaz

para se praticar as experiências da conduta moral pela vivência e participação

através da mediação do educador. Desta forma os alunos sentem-se mais

valorizados e motivados porque sabem que são capazes intelectualmente de

aprender conteúdos, debater temas, resolver problemas do cotidiano, assim

como reverter a realidade em que estão inseridos.

A falta de comunicação entre professores e alunos ou agressão verbal

por parte do professor em relação aos estudantes, causam neles muita revolta,

independentemente da idade ou da série em que se encontram. Essa atitude

afeta a auto-estima dos estudantes que não aceitam ser ignorados ou

desrespeitados. Há uma forte tendência dos professores em si restringir a sua

atividade ao repasse de conteúdos sem interesse de interagir com a turma. Na

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questão aberta a respeito das atividades que os alunos consideram

importantes ser implementados, explicitam seus anseios de participação

através das afirmações: ”além das aulas teóricas, ouvir mais a opinião dos

alunos” ( aluno da escola “A”); “os professores aprenderem a respeitar mais os

alunos para poder serem respeitados” (aluno da escola “B).

Os alunos valorizam mais os professores que estão sempre abertos ao

diálogo e a negociação e que demonstrem interesse nos aspectos emocional e

cognitivo. Os alunos confiam e por isso, respeitam o professor que se

preocupam em saber suas dificuldades e necessidades, o que desejam e o

que sentem. O educador que transcende a distância gerada pela escola

tradicional e se aproxima do aluno para orientar e ser amigo tem a chance de

ser admirado positivamente e de não ter problemas com eles. Abramovay

(2003), diz que “dialogar para os alunos significa tratar os assuntos que

despertam o interesse deles, conversar, trocar opiniões sobre as principais

decisões a serem tomadas nas escolas.”

Paulo Freire em sua obra “Pedagogia da esperança: um reencontro com

a pedagogia do oprimido” enfatiza a importância do aluno ser colocado em um

patamar de igualdade com os demais funcionários, pois deixa bem explícito

através da citação abaixo que a amizade, o sentimento de camaradagem

impulsiona a vontade de aprender, pois o aluno não se sente inferiorizado e

nem impelido a fazer algo fora de sua vontade porque numa relação entre

amigos não existe maior ou menor, todos são iguais.

“Escola é, o lugar onde se faz amigos. Não se trata só de

prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos...

Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, gente que

estuda, gente que se alegra, se conhece, se estima. E a

escola será cada vez melhor, na medida em que cada ser

se comporta como colega, como amigo. Nada de ilha

cercada de gente por todos os lados. Nada de ser como

tijolo que forma parede indiferente, frio, só. Importante na

escola não é só estudar, é também criar laços de

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amizade, é conviver, é se amarrar nela. Ora é lógico... em

uma escola assim vai ser fácil estudar, crescer, fazer

amigos, educar e ser feliz.”(Freire, 1999)

O espaço educacional para adolescentes nunca pode ser visto apenas

como uma instituição formada por alunos e professores onde as relações são

distantes e frias. E sim, como um espaço de amor, afeto, respeito e

solidariedade. Pois estamos querendo formar são homens de bem preparados

para a vida e não máquinas para exercer mecanicamente uma função.

Portanto, o espaço escolar deve ser um espaço de convivência harmoniosa,

não apenas, enquanto um espaço de produção e divulgação do saber, mas

também, enquanto um espaço de troca e intercâmbio de relações, isto é de

aprendizagem social. A valorização das relações interpessoais e de um clima

positivo, em termos de respeito e liberdade, são tão fundamentais quanto os

conteúdos trabalhados em sala de aula para o desenvolvimento do educando.

O entendimento de que o conhecimento é simultaneamente, processo e

produto de uma construção cognitiva, social e emocional nos possibilita

entender a importância do ambiente escolar ser pautada em relações

interpessoais sadias, pois elas podem contribuir para encorajar ou

desencorajar o processo ensino-aprendizagem.

Soares (1999), considera a escola como:“Um texto escrito por várias

mãos e sua leitura pressupõem a compreensão não apenas de suas conexões

com a sociedade, mas também das suas relações internas, ou seja, da rede de

relações desenvolvidas entre os alunos, pais, professores e comunidade

escolar em geral.” (1999, p.6)

Nesse sentido, não há como o psicopedagogo e demais componentes

da escola ignorar os conflitos e tensões resultantes do relacionamento entre os

diferentes membros da escola, visto que “(...) a aprendizagem e o

desenvolvimento da criança, do educador e também dos pais é a tradução

ativa de uma rede de relações sadias entre esses grupos no que diz respeito

ao conhecimento.” (Scott,2001, p.201.)

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3.1.4 – Discutir (re)construir junto ao aluno o regimento

interno da escola

O funcionamento de toda e qualquer instituição, pressupõe a criação e o

cumprimento de regras e preceitos que devem nortear as relações, possibilitar

o diálogo e cooperação entre todos os membros que a compõem. A escola por

sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras do seu

funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam.

As regras a fazerem parte do Regimento Interno, devem ser construídas com a

participação efetiva dos alunos. Nesse sentido, as normas deixam de ser vistas

apenas como prescrições castradoras e passam a ser compreendidas como

condições necessárias ao convívio social. Um regimento imposto

verticalmente traz uma sensação de repressão e de antidemocracia. Os jovens

gostam de desafiar o proibido para experimentar novas sensações. Por isso,

os alunos devem ser elementos fundamentais nas decisões que a escola tem

que tomar. Assim, terão prazer em cumprir o que foi decidido

democraticamente e exigir que os outros também cumpram.

Segundo Debarbieux (1998), “dos problemas que se colocam hoje,

entre todos os docentes e o corpo escolar em geral, emergem, prioritariamente

as de contestação da própria ordem escolar, que se manifestam como

incivilidades, como comportamento de rejeição.” (apud Abramovay, 2003 p.34)

TABELA XII - Respostas dadas pelos alunos e professores a respeito do conhecimento do regimento interno da escola. ESCOLA REGIMENTO INTERNO

Alunos Professores Sim Não Sim Não A - 07 04 03 B 02 06 06 03 C - - 03 04

TOTAL 02 13 13 10 PERC. 13,3 86,7 56,5 43,4

NOTA: Foi questionado aos alunos e professores: Você conhece o regimento interno de sua escola?

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Ao analisar a tabela XII, é bastante triste os resultados apresentados e

as conclusões que se pode chegar. Um número elevadíssimo de professores

(56,5%) negou ter conhecimento do regimento interno da própria escola onde

trabalha.

Como pode o educador que é agente fundamental no processo de

construção do regimento não conhecê-lo? Se não conhecem é porque não

participaram de sua construção e, se não participaram, não terão o firme

compromisso de fazer valer o que está no papel. Desta forma o regimento

passa a existir apenas por questões burocráticas, por exigência do sistema.

O fato dos professores não ter se integrado gera novas indagações: o

regimento existente foi imposto pelos dirigentes escolares ou os educadores se

recusaram a participar de sua elaboração por achar que podem em sala de

aula ditar suas próprias leis? Será que os professores foram convidados, mas

coincidentemente por trabalharem em outras instituições não puderam

comparecer?

Esta desinformação é um problema que os dirigentes precisam

encontrar uma solução, pois um regimento desconhecido pelos professores é

como se não existisse para a escola. O psicopedagogo tem que articular com

os professores um trabalho de aprofundamento sobre o conteúdo do regimento

e a importância de agir conforme seus preceitos.

Outra questão intrigante que chama a atenção é o desconhecimento

também por parte dos alunos do Regimento Interno da escola, (86,7%),

afirmaram não ter nenhum conhecimento. O fato mais curioso é que segundo a

direção de ambas as escolas nos primeiros dias de aula o regimento é

divulgado na sala especificamente os direitos e deveres do aluno. No entanto,

ele não é convidado a participar de sua elaboração. Diante desse fato, resta-

-nos os questionamentos: será que os alunos negam conhecer o regimento

porque faltou uma divulgação mais sistematizada por parte da escola, ou

negam como forma de protesto por não participarem de sua elaboração?

É preciso dar ao aluno o direito de participar desse momento, visto que

a escola é o melhor local para se vivenciar a democracia. Isso implica respeito

pelos mesmos, considerando que suas falas e ações são importantes, não

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apenas necessárias, uma vez que possibilita o crescimento, o bem estar e um

melhor relacionamento entre os membros da comunidade escolar ajudando,

assim, no exercício da liberdade responsável.

O psicopedagogo deve orientar aos educadores que estabeleçam em

sala de aula uma conversa reflexiva com os alunos sem preconceito sobre

como cada ação indisciplinada pode atrapalhar a si e ao outro e a importância

de se cumprir regras de convivência estabelecida no regimento da escola. É

preciso que fique bem claro o que se pode fazer e até onde o direito da cada

um não atrapalha o direito do outro.

A (re)construção tem que iniciar a partir de um diálogo coletivo com os

alunos de todas as turmas. Deve-se leva-los a pensar sobre os direitos e

deveres relacionando os direitos que gostariam de ter em sala e fora dela e

quais os deveres que pensam ter. Após uma discussão profunda sobre a

cidadania construir coletivamente o que devem e o que não devem fazer na

escola.

3.1.5 – Promover a formação continuada do professor

Vimos anteriormente a opinião dos alunos em relação às aulas

oferecidas pela escola. Percebe-se que eles não estão satisfeitos com o tipo

de aula que está sendo trabalhado. Diferentemente da opinião dos alunos, os

professores não admitem que as aulas sejam tão desmotivadora, pois os

resultados nos mostram essa disparidade. Enquanto os alunos (veja tabela X)

atribuíram 20,0% para o item ruim em relação de como consideram a maioria

das aulas, 60,0% para regulares e 20,0% para o item bom, os professores

atribuem apenas 4,3% para ruim, 26,0% para regulares, 65,2% para boas e

4,3% para ótimas (confira tabela abaixo)

TABELA XIII – Respostas dadas pelos educadores por escola em relação de como considera a maioria de suas aulas.

ESCOLA

AULAS MINISTRADAS Ruins % Regulares % Boas % Ótimas %

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S A 01 4,3 02 8,7 04 17,4 - - B - - 01 4,3 07 30,4 01 4,3 C - - 03 13,0 04 17,4 - -

TOTAL 01 4,3 06 26,0 15 65,2 01 4,3 NOTA: Foi questionado ao professor: “ Como você considera a maioria de suas aulas?

Esse contra-senso se não resolvido é um problema de conseqüências

severas. O professor não busca melhorar por achar que sua aula está num

nível satisfatório e o aluno não consegue permanecer em sala por achar a aula

desinteressante.

É mais racional para se chegar a uma conclusão mais condizente com a

realidade considerar a opinião dos sujeitos que sofrem a ação, por saberem

exatamente o que lhes afetam positivamente ou negativamente. Por isso, essa

diferença de opiniões nos faz concluir que a formação do professor é

deficiente, pois não é capaz de perceber com lucidez se está agradando ou

não seus alunos.

Reforçando essa constatação a tabela abaixo, mostra que 80,0% dos

alunos gostam de ir para a escola, mas 33,4% não gostam de assistir às

aulas. Certamente um dos motivos é a pouca dinamicidade na execução dos

conteúdos o que remete a ausência no trabalho do professor de várias

dimensões e principalmente da dimensão técnica. Normalmente a tendência

de todo professor, é agir, às vezes, até movidos por processos inconscientes,

da mesma forma de seus antigos professores. Diante da velocidade do fluxo

de informação e a complexidade da vida moderna em todos os setores nos

quais os indivíduos encontram-se relacionados, as crises são evidentes, pois

no momento atual, já não conseguem mais responder os fatos cotidianos, à luz

das idéias sedimentadas no passado.

TABELA XIV - Respostas dadas pelos alunos a respeito da escola e das aulas ESCOLAS GOSTA DE IR À ESCOLA GOSTA DE ASSISTIR AS

AULAS Sim Não Sim Não A 05 02 04 03

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C 07 01 06 02 TOTAL 12 03 10 05 PERC. 80,0 20,0 66,7 33,4

NOTA: Foi questionado aos alunos: Você gosta de ir à escola? Você gosta de assistir as aulas?

Por isso, a escola deve ser um ambiente aberto à construção do

conhecimento e ressignificação da aprendizagem. Todos, independente da

posição social que ocupa deve está submetido a momentos que lhes sejam

favoráveis à construção de novos conhecimentos, de reflexões que viabilizem

o questionamento de suas concepções, ações estratégicas e comportamentos.

Aos professores especialmente deve ser oportunizados um estudo

sistematizado, visto que, o exercício da profissão professor requer a aquisição

de conhecimentos e experiências construídas paulatinamente durante a

formação inicial e continuada. Sua formação deve está fundamentado num

modelo que garanta o desenvolvimento progressivo das habilidades que se

espera desses profissionais. O paradigma de formação continuada deve

desenvolver suas aptidões de modo que o capacite efetivamente para o

manejo prático de objetivos, conteúdos e metodologias compatíveis e

coerentes com a formação de um cidadão crítico, autônomo e participativo.

Os profissionais que atuam no processo educacional, precisam ser

estimulados a uma reflexão constante, sobre as múltiplas formas de romper

com os estereótipos que norteiam o seu trabalho em sala de aula para que

possa adquirir autoridade descrita por Libâneo (1992):

“A autoridade profissional se manifesta no domínio da

matéria que ensina e dos métodos e procedimentos de

ensino, no trato em lidar com a classe e com as

diferenças individuais, na capacidade de controlar e

avaliar o trabalho dos alunos e o trabalho docente. A

autoridade moral é o conjunto das qualidades de

personalidade do professor, sua dedicação profissional,

sensibilidade, senso de justiça, traço de caráter.”

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O autor fala que a autoridade técnica constitui o conjunto de capacidades,

habilidades, e hábitos pedagógicos, didáticos, necessários para dirigir com

eficácia a transmissão e assimilação de conhecimentos aos alunos para

empregar, com segurança os princípios didáticos de modo que os alunos

compreendam e assimilem os conteúdos das matérias e sua relação com a

atividade humana e social. Diz também que um professor competente se

preocupa em dirigir e orientar a atividade mental dos alunos, de forma que

cada um deles sejam um sujeito consciente, ativo e autônomo:

“Entre os requisitos para uma boa organização do ensino

destacam-se um bom plano de aula (...), a estimulação

para aprendizagem (...), o controle da aprendizagem (...) e

o conjunto de normas e exigências que vão assegurar o

ambiente de trabalho escolar favorável ao ensino e

controlar as ações e o comportamento dos alunos.”

(Libâneo,1992)

Cunha (2001) em o “Bom Professor e sua Prática”,cita a formação do

professor como um exercício contínuo, necessário como aprendizagem

docente o que contribui para eliminar certos transtornos entre professor e

alunos, que desestimulam o interesse que pode existir por ambas as partes.

Diz que a formação do professor é um processo que acontece no interior das

condições históricas em que ele mesmo vive que faz parte de uma realidade

concreta e determinada, que não é estática e definitiva e, sim, uma realidade

que se faz no cotidiano. Por isso, é importante que este cotidiano seja

desvendado. Afirma a autora:

“(...) os programas de formação e de educação de

professores precisam dar a dualidade competência

técnica e compromisso político. Uma pedagogia

transformadora só se dará com o concurso de ambas as

dimensões. O esclarecimento do significado de cada uma

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é fundamental para que se operacionalize uma prática

eficiente e comprometida.” (p.169-170)

Na verdade, o docente deve buscar em cursos, em reflexões e em

leituras a competência técnica para ensinar e, juntando-se ao compromisso

político, a sua pedagogia resultará em ação transformadora, eliminando assim,

a indisciplina, a evasão e a defasagem de conteúdos.

O psicopedagogo deve assumir a formação continuada, como uma

ferramenta de profissionalização capaz de proporcionar aos professores

espaços sistemáticos de reflexão conjunta e de investigação do contexto da

escola, acerca das questões e dos problemas enfrentados pelo coletivo da

instituição a fim de elevar o nível de qualidade escolar.

3.1.6 - Incentivar a promoção de atividades significativas

e diversificadas

A escola para cumprir o seu valor social precisa vencer vários desafios.

Um deles é o de assumir perante os educandos o compromisso de tornar a

escola um ambiente prazeroso, construtivo e buscar alternativas capazes de

inseri-los o aluno no processo de aprendizagem com êxito, responsabilidade,

qualidade, gosto em participar e freqüentar assiduamente às aulas. Essa é

uma necessidade que desafia a instituição escolar, visto que muitos

educadores têm uma visão conservadora, outros uma formação inicial

deficitária e a maioria encontram-se desiludido e revoltado com a imensa

desvalorização dos profissionais do magistério.

Diante das barreiras surgidas, o psicopedagogo não pode cruzar os

braços. Tem que aceitar o desafio, uma vez que a aprendizagem significativa

pode ser considerada como o antídoto contra o fracasso escolar dos alunos,

das angústias em assistir às aulas e das ações indisciplinadas. Por isso, a

formação a ser oferecidas na escola aos professores deve ser capaz de

desestabilizar velhas concepções, romper antigos paradigmas e vencer o

misoneísmo. Afinal de contas, para que o projeto político pedagógico da escola

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possa prevê a realização de atividades diversificadas, é preciso que o quadro

de professores estejam encorajados e aptos a desenvolvê-los.

É comum a idéia entre os estudiosos que para a aprendizagem

acontecer, é preciso que se tenha um motivo além do que tirar uma boa nota

nas avaliações e passar de ano. O aluno precisa saber o que vai aprender e

por que aprender, para agir ativamente sendo construtor de sua aprendizagem

e não mero espectador. A esse respeito, Salvador (1998) diz que:

“Quando se despoja o conceito de aprendizagem

significativa de suas conotações mais individualistas e se

aceita que a atribuição de sentidos e a construção de

significados no âmbito escolar e muito provavelmente em

qualquer outro âmbito da vida humana – são processos

fortemente impregnados e orientados, pelas formas

culturais e que, portanto, tem lugar necessariamente num

contexto de relação e de comunicação interpessoal que

transcende amplamente a dinâmica interna dos processos

de pensamento dos alunos; quando se aceita essa

colocação, a tese construtivista aplicada à aprendizagem

escolar adquire uma nova dimensão. Com efeito a

construção do conhecimento é, nesta perspectiva, uma

construção claramente orientada a compartilhar

significados e sentidos enquanto que o ensino é um

conjunto de atividades sistemáticas mediante as quais

professor e aluno chegam a compartilhar parcelas

progressivamente mais amplas de significados com

relação aos conteúdos do currículo escolar.” (p.157)

A escola deve, pois, oferecer atividades em que os alunos possam falar

e ouvir, propor novas questões que os levem a perceber a necessidade de

estar sempre presentes no processo dinâmico da construção do conhecimento.

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Quando se estabelece a relação objetivando esse processo, teremos

assim, a possibilidade de reconstruir o saber e a aprendizagem significativa,

com trocas e não por imposições sociais ou pessoais. Assim, esta relação,

implicará a aprendizagem significativa - é uma relação de trocas de

significados.

Na questão aberta (Quadro único) o conjunto de educadores,

abordaram uma série de atividades que consideram importantes serem

implantadas na escola. Percebe-se que elas contemplam atividades de cunho

transdisciplinar, cultural, artístico, artesanal, educação para a cidadania e

direitos humanos e de combate à indisciplina. Todas elas contribuem para

movimentar à escola, dar vida e sentido aos conteúdos, aproximar professores

e alunos, criar possibilidades de uma relação marcada pelo trabalho em

equipe, participação, criatividade e autonomia, pois contemplam as mais

variadas estratégias capazes de desenvolver o potencial dos alunos.

QUESTÃO ABERTA (QUADRO ÚNICO) NOTA: Foi perguntado aos educadores: Além das atividades que a escola desenvolve cite outras que você considera importantes serem implementadas. ESCOLA ATIVIDADES CONSIDERADAS IMPORTANTES SEREM

IMPLEMENTADAS

A Cont. escola A

- gincanas -jornais informativos confeccionados pelos alunos -intensificar mais as palestras oferecidas -olimpíadas das disciplinas -feiras culturais -comemoração de algumas datas -projetos -trabalhar individualmente o “aluno-problema”delegando funções -punição aos depredadores do patrimônio público -aulas com os pais.

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B

-aulas passeio -campeonato de xadrez -torneios de futebol -oficina pedagógica -palestras -aulas educativas -festas comemorativas -feira cultural -gincanas -arte, pintura, música, dança -desenvolvimento de projetos -aulas extra-classe -dinâmicas -teatro -jogos de futebol -exploração de leitura -trabalhar a interdisciplinaridade - curso de capacitação para professores - apoio pedagógico

C

-gincanas escolares em todas as turmas -atividades comemorativas durante todo o ano -palestras com temas variados -campeonato de esportes entre as escolas (masculino e feminino) -reuniões com os pais dos alunos e “impor” com mais seriedade as regras do colégio -atividades esportivas -aulas de informática -feira cultural -festa de confraternização para professores e alunos -palestras proferidas por filhos ilustres da cidade -aula de espanhol -incentivo ao patriotismo (canto do Hino Nacional do Piauí e de Picos) -lembrar as datas comemorativas na sala de aula.

CONCLUSÃO

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A dificuldade encontrada na escola, de natureza indisciplinar, afeta a

instituição como um todo. O problema gerado por esse fato torna o trabalho

dos educadores difícil e a aprendizagem dos educandos deficiente. Vivemos

num momento de grandes transformações em que as antigas concepções de

educação estão sendo colocadas em discussão. A transitoriedade a qual

estamos vivenciando exige, no âmbito escolar, ações mais completas e

complexas, pois os antigos paradigmas que ainda hoje norteiam o trabalho

educativo são questionados e contestados por vários estudiosos, mas ainda

seguidos por muitos educadores.

A escola não pode mais ignorar as transformações sociais decorrentes

dos avanços no campo da ciência e da tecnologia, à vista disso, a contradição

que existe entre o que a escola ensina e o que a sociedade pós-moderna exige

afeta diretamente o ser humano no aspecto cognitivo e comportamental.

Procurando estudar a questão da indisciplina, que hoje é uma das mais

graves da pedagogia constata-se a importância da promoção - por parte dos

professores, da equipe pedagógica, incluindo o psicopedagogo - de espaços

de discussão e reflexão que fomentem a livre expressão dos alunos, suas

expectativas, inseguranças e interesses, para que possam se envolver no dia-

a-dia da escola e descobrir o prazer de aprender, apropriando-se das

experiências vividas mediante os conteúdos e as relações sócio-afetivas.

Acreditamos que o grande objetivo da escola deve ser o de possibilitar

a construção ativa do conhecimento pelo aluno e não o de transmitir

conhecimentos prontos e estanques. Um ensino baseado exclusivamente na

transmissão elimina as possibilidades do prazer proporcionado pela pesquisa e

pela descoberta.

Diante das transformações sócio-econômicas, tais como a globalização

da sociedade, os avanços na informática, a produção e divulgação acelerada

do conhecimento, o agravante da exclusão social, a predominância do

relativismo moral baseado no interesse exclusivamente pessoal, a escola

precisa repensar o seu papel, para que o educando possa ser reconhecido

como um sujeito social e do conhecimento, que lhe seja dado e instigado o

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direito de participação na exposição de suas idéias, dúvidas e

descontentamento para que ele perceba o seu valor social e se sinta acolhido

por todos da escola e dispostos a, também, acolher os outros.

Considera-se que para acontecer essa transformação positiva no seio

educacional é preciso que se busque coletivamente transcender – autoridades

políticas e profissionais da área educacional – todas as dificuldades de

natureza estrutural das escolas e de caráter pedagógico, para que se possa

oferecer um ensino condizente com a nova realidade.

A complexidade dos problemas das instituições educacionais

decorrente do comportamento indisciplinado dos alunos envolve vários

elementos de natureza distinta, haja vista que cada uma delas possui um

histórico em que os problemas e conflitos são gerados a partir de fatores e

condicionantes diferentes. Portanto, a tarefa do psicopedagogo está exposta à

influência de muitas variáveis. Nesse contexto o modelo de intervenção não é

aplicável da mesma forma em diferentes situações.

Para se fazer uma intervenção positiva em qualquer problema é

necessário, antes de tudo, entendê-lo e contextualizá-lo para começar a agir.

Nesse sentido, é importante que o psicopedagogo e demais envolvidos no

processo ensino-aprendizagem estejam seguros de seu papel diante da

tomada de decisões.

A atuação do psicopedagogo pode ser considerada como um processo

de construção coletiva entre escola e família, de forma que todos participam

conforme suas possibilidades, contribuindo com seus conhecimentos,

vivências e pontos de vista, visando a conquista dos objetivos educacionais, ou

seja, incentivar o progresso e desenvolvimento pessoal do educando, no que

diz respeito a aprendizagem articulada com os meios e recursos necessários

para efetivação dos diversos saberes.

ANEXOS

Índice de anexos

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Anexo 1 >> Conteúdo de revistas especializadas;

Anexo 2 >> Internet; Anexo 3 >> Questionários

ANEXO 1

Educação

Com medo dos alunos

Revista Veja, Edição 1904 . 11 de maio de 2005

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Provocado pela indisciplina na sala de aula, um distúrbio psicológico se alastra entre os professores: a fobia escolar.

Há um problema novo nas escolas brasileiras: a indisciplina nas salas de aula assumiu tais proporções que muitos professores estão com medo dos alunos. Não se trata da violência que, nos bairros pobres, ultrapassa os muros escolares e ameaça fisicamente os educadores, mas sim de um fenômeno de subversão do senso de hierarquia que ocorre em grandes redes de ensino privadas e também está presente em colégios tradicionais. Uma explicação parcial para essa mudança de comportamento é a seguinte: os alunos ignoram a autoridade do professor porque o vêem como uma espécie de empregado ou prestador de serviços, pago por seus pais. Uma das queixas mais comuns dos professores diz respeito ao sentimento de impotência diante de alunos indisciplinados. Certas escolas agem como se a lógica do comércio - aquela que diz que o freguês sempre tem razão - também valesse dentro da classe. "Os professores estão sofrendo de fobia escolar, antes um distúrbio psicológico exclusivo das crianças", diz o psicanalista Raymundo de Lima, professor do departamento de fundamentos da educação da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná.

O professor que desenvolve fobia escolar sente um pavor profundo da escola e da sala de aula, acompanhado de alterações físicas como palpitações e tremores. Os ambulatórios psiquiátricos dos hospitais brasileiros já registraram o aumento dos casos de professores com distúrbios de ansiedade, entre eles a fobia escolar. "O número de professoras que têm procurado atendimento por estar estressadas, deprimidas ou sofrendo de crise do pânico aumentou cerca de 20% nos últimos três anos", diz Joel Rennó Júnior, coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher do Hospital das Clínicas de São Paulo. Até meados dos anos 90, esse tipo de distúrbio psicológico era um quase monopólio daqueles professores que trabalham em escolas públicas. Hoje, afeta igual quantidade de educadores de colégios particulares. Sempre fez parte do desafio do magistério administrar adolescentes com hormônios em ebulição e com o desejo natural da idade de desafiar as regras. A diferença é que, hoje, em muitos casos, a relação comercial entre a escola e os pais se sobrepõe à autoridade do professor. "Ouvi em muitas reuniões com coordenadores o lembrete de que os pais e os alunos devem ser tratados como clientes e, como tais, têm sempre razão", diz lole Gritti de Barros, de 54 anos, professora aposentada. Durante 33 anos ela ministrou aulas de história para alunos da 5a série em colégios particulares de São Paulo. Em algumas escolas, o temor de desagradar aos pais e perder os alunos acaba se sobrepondo à necessidade de impor ordem na sala de aula.

A postura leniente com a disciplina explica-se, em parte, pelo número crescente de carteiras vazias. Em cinco anos foram abertas 2.000 novas instituições particulares de ensino fundamental e médio, enquanto a quantidade de alunos permaneceu inalterada. Todo professor se prepara para as diabruras tradicionais dos alunos, como colocar tachinhas na cadeira em que ele vai sentar ou barbantes estendidos no chão da sala para vê-lo tropeçar. São comportamentos que fazem parte do folclore escolar. A diferença agora é que em muitas escolas os bagunceiros não são mais castigados. "Há quarenta anos um jovem que adotasse esse tipo de postura seria punido pela escola e receberia uma ronca em casa, tornando-se motivo de vergonha para os pais", diz a pedagoga carioca Tânia Zagury, autora do livro Escola sem Conflito: Parceria com os Pais. "Hoje, a punição é cada vez mais rara, tanto na escola como em casa." Os pais têm larga

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parcela de culpa no que diz respeito à indisciplina dentro da classe. É uma situação cada vez mais comum: eles trabalham muito e têm menos tempo para dedicar à educação das crianças. Sentindo-se culpados pela omissão, evitam dizer não aos filhos e esperam que a escola assuma a função que deveria ser deles: a de passar para a criança os valores éticos e de comportamento básicos. É uma relação contraditória.

Os pais entregaram a educação dos filhos aos colégios, mas alguns acham exageradas as exigências escolares ou as punições impostas aos indisciplinados. Também se vêem no direito de deixar o filho na escola com atraso ou buscá-lo mais cedo, a pretexto de viajar ou ir ao dentista - como se o horário de estudo não tivesse importância. Sem poder impor regras aos alunos, os professores acabam ficando impossibilitados de fazer aquilo que os pais esperam deles, A escola é um lugar onde as crianças aprendem a convivência em sociedade, com todas as suas regras. Ao perceberem que os pais estão sempre do seu lado, os estudantes ficam com a impressão de que tudo é permitido. "Um aluno chegou a me dizer que não iria fazer o que eu estava pedindo porque, como o pai dele pagava a escola, ele se comportava como queria lá dentro", diz a pernambucana Sandra Helena de Andrade, professora de português em duas escolas privadas do Recife. O professor acaba submetido a múltiplas pressões. É seu dever ensinar, impor disciplina aos alunos e, ao mesmo tempo, evitar que a escola perca "clientes". "Os esforços para passar a matéria equivalem a uma parcela mínima do desgaste físico e mental do professor", diz Marcos Hideaki Ono, de São Paulo, professor de física durante dez anos. O restante da energia é aplicado para controlar a classe, motivar os alunos e, às vezes, ensinar aos adolescentes princípios morais e éticos básicos. Ono, de 37 anos, conta que não suportava mais a agressividade dos alunos e, recentemente, abandonou o ensino para seguir carreira académica em física. "Nos intervalos das aulas, era comum ver colegas tremendo de raiva ou chorando na sala de convivência dos professores" diz Ono. Uma de suas colegas pediu demissão depois que os alunos começaram a atirar-lhe moedas, insinuando que ela, por ser negra, era indigente. A autoridade do professor é importante no processo de aprendizagem do aluno. No passado, o respeito ao mestre era imposto de forma autoritária, sem deixar espaço para um relacionamento informal. Castigos e palmadas eram considerados excelentes métodos para moldar a personalidade de alunos rebeldes e prepará-los para a vida adulta. Em geral, as escolas incorporavam um estilo disciplinar de inspiração militar. Esse modelo começou a ser substituído na década de 60, com a difusão da psicologia e de métodos pedagógicos que valorizavam o respeito à individualidade da criança e do estudante. Passou a valer o conceito de que punir e reprimir os alunos era ruim para o desenvolvimento da criatividade e do espírito crítico. Nas décadas de 70 e 80, ainda predominava um meio-termo entre o respeito à autoridade do professor e a liberdade concedida aos alunos. "Nos últimos anos,esse equilíbrio foi desfeito pela postura dos pais de se colocar sempre em defesa dos filhos e pela necessidade das escolas de manter os alunos a qualquer custo", diz Dante Donatelli,coordenador do Colégio Sidarta, de São Paulo. Com reportagem de José Eduardo Barella O retrato da indisciplina Dante Donatelli, coordenador de escola e autor do livro Quem Me Educa? A Família e a Escola Diante da (In)Disciplina, compilou dez atitudes comuns em colégios particulares de São Paulo e que demonstram o desrespeito dos alunos em relação aos professores 1. Tratar o professor como empregado

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2. Jogar objetos no professor em sala de aula 3. Xingar o professor com palavrões 4. Negar-se a sair da sala de aula quando expulso 5. Exigir o direito de escolher a data de entrega dos trabalhos escolares 6. Ignorar a presença do professor em classe 7. Entrar e sair da aula à vontade, sem se importar com o professor 8. Discutir os critérios das notas das provas dadas pelo professor 9. Dar ordens ao professor 10. Negar-se a fazer prova e entregar atestados médicos falsos como desculpa procurar os orientadores para tirar satisfação. Isso é ruim porque, ao menor sinal de deslize, os alunos fazem o que querem. Por isso temos de ser duros. Sem respeito com os professores, é impossível qualquer aprendizagem e a escola perde o sentido." Neide Maria Negrini, 49 anos, professora de português na Escola Pueri Domus, em São Paulo "Os alunos me enlouqueciam, por isso resolvi deixar o ensino e me dedicar a um doutorado. Eu me sentia humilhado. Não havia nenhum respeito pêlos professores. Durante o intervalo, meus colegas chegavam à sala de convivência tremendo de raiva. Alguns choravam. E o pior é que não recebíamos apoio nem dos pais, que protegem demais os filhos, nem dos coordenadores, que têm medo de perder alunos." Marcos Hideaki Ono, paulista de 37 anos, ex-professor do ensino médio "Nas reuniões com os coordenadores eles exigiam que a gente tratasse os alunos como clientes, lembrando que freguês tem sempre razão. Um absurdo. Eu sei que a escola é uma empresa, mas tratar os alunos como clientes ou patrões é uma total inversão dos papéis. Uma vez um aluno me disse que não ia me obedecer porque quem pagava a escola era ele. Fiquei furiosa. Não sei o que será desses alunos, com valores morais deturpados. Eles acham que podem tudo." lole Gritti de Barros, 54 anos, professora de história aposentada O desafio de ensinar na periferia procurar os orientadores para tirar satisfação. Isso é ruim porque, ao menor sinal de deslize, os alunos fazem o que querem. Por isso temos de ser duros. Sem respeito com os professores, é impossível qualquer aprendizagem e a escola perde o sentido." Neide Maria Negrini, 49 anos, professora de português na Escola Pueri Domus, em São Paulo "Os alunos me enlouqueciam, por isso resolvi deixar o ensino e me dedicar a um doutorado. Eu me sentia humilhado. Não havia nenhum respeito pêlos professores. Durante o intervalo, meus colegas chegavam à sala de convivência tremendo de raiva. Alguns choravam. E o pior é que não recebíamos apoio nem dos pais, que protegem demais os filhos, nem dos coordenadores, que têm medo de perder alunos," Marcos Hideaki Ono, paulista de 37 anos, ex-professor do ensino médio "Nas reuniões com os coordenadores eles exigiam que a gente tratasse os alunos como clientes, lembrando que freguês tem sempre razão. Um absurdo. Eu sei que a escola é uma empresa, mas tratar os alunos como clientes ou patrões é uma total inversão dos papéis. Uma vez um aluno me disse que não ia me obedecer porque quem pagava a escola era ele. Fiquei furiosa. Não sei o que será desses alunos, com valores morais deturpados. Eles acham que podem tudo." lole Gritti de Barros, 54 anos, professora de história aposentada

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O desafio de ensinar na periferia Se o professor de escola particular precisa ter jogo de cintura para lidar com a falta de disciplina em classe, o de rede pública necessita ser pós-graduado em regras de sobrevivência. Ambos defrontam com o problema da falta de disciplina, mas as salas superlotadas dos bairros mais pobres incluem agravantes. O jovem da periferia entra na escola sem grandes perspectivas de futuro e essa frustração acaba se refletindo em sua relação com o professor. O aluno não sonha em ser médico ou advogado. Quer ser pagodeiro, jogador de futebol; o que importa é fazer sucesso e ganhar dinheiro rápido. Essa inversão de valores contém enorme potencial de violência. "Quem sobressai socialmente numa escola de periferia não é mais o aluno estudioso, mas o valentão, o sujeito esperto", diz Douglas Martins Izzo, professor de geografia numa escola estadual em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. "As agressões verbais são as mais comuns, mas eu já fui ameaçado dentro da classe por um aluno que mostrou uma arma escondida sob o casaco e me disse: 'Aqui dentro você é o professor, mas lá fora é uma pessoa comum'." De acordo com uma pesquisa da Unesco de 2002, mais da metade dos professores da rede pública de ensino do Brasil já foi agredida por alunos dentro ou nos arredores da escola. O tráfico de drogas é apontado pêlos professores como o grande desafio da escola pública. Muitos alunos são usuários e o tráfico age à vontade. O diretor e os professores sabem quem são os traficantes, mas se recusam a delatá-los à polícia por uma questão de sobrevivência. Em Itaquaquecetuba, uma professora que decidiu dar nomes ficou com o rosto deformado de tanto apanhar. Um funcionário que tentou impedir a venda de drogas levou um tiro dentro da própria escola. "Nas áreas urbanas mais pobres, as crianças vivem em um ambiente de violência em casa e no bairro, o que acaba se refletindo dentro da escola", diz a socióloga Minam Abramovay, vice-coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas, da Universidade Católica de Brasília, e coordenadora da pesquisa da Unesco.

O professor de inglês Carlos Gomes Martins, que desde o ano passado dá aulas em uma escola estadual em Poá, também na Grande São Paulo, enfrentou uma situação de perigo logo no primeiro mês de trabalho. "Um aluno do ensino médio com o qual eu havia discutido partiu para cima de mim para me agredir durante a aula", diz Martins. "Por sorte foi contido pêlos colegas." Uma diferença entre a escola pública e a particular diz respeito ao comportamento dos pais. Na rede privada, o professor é visto como um prestador de serviço e a família reage mal quando o aluno é repreendido. Na periferia, ao contrário, os pais vêem o professor como a última chance de os filhos terem educação. Significa que, em geral, apoiam o professor quando ele é severo com seus filhos.

ANEXO 2

INTERNET

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Içami Tiba trabalha relações humanas em sala de aula

http://www.tiba.com.br

Autoridade em psicopedagogia, ele diz que muitas instituições de ensino estão interessadas em mudar paradigmas. "Desenvolvi meu trabalho levando a vida para a psicologia e daí para a sala de aula. Estou tornando os professores

mais 'psicologizados'." Leia mais sobre o assunto na entrevista a seguir.

Dr. Içami Tiba é pop. Está entre os mais requisitados psicopedagogos do país. Em se tratando de psicologia educacional, é o profissional predileto da mídia – leia-se televisão, onde já teve quadros fixos (Record e Bandeirantes) e freqüentemente é convidado para participar de programas. Içami Tiba assina 12 livros, somando mais de meio milhão de exemplares vendidos. Há 20 meses lançou mais um sucesso: Disciplina - O Limite na Medida Certa (Editora Gente), que contém dicas aplicáveis no ambiente escolar e familiar. A tônica do trabalho do Dr. Tiba é inserir princípios básicos das relações humanas em todas as instâncias – especialmente a sala de aula. É a chamada Teoria da Integração Relacional, que traduz a psicologia para fácil entendimento e aplicação por leigos, principalmente pais e educadores. Ele trabalha diretamente com várias empresas e instituições de ensino, como os colégios paulistanos Mackenzie, Arquidiocesano, Bandeirantes, Batista Brasileiro, Dante Alighieri, Porto Seguro, Santo Américo e Santa Cruz, além do Bom Jesus (Curitiba) e Pitágoras (Belo Horizonte). Dr. Içami Tiba é uma grife brasileira (de origem japonesa) em psicopedagogia, não apenas por seu extenso e respeitável currículo, mas também pela maneira bem-humorada e objetiva como ele coloca suas opiniões e conclusões, acumuladas em 30 anos de estudos e cerca de 65 mil atendimentos psicoterápicos entre adolescentes. Ele afirma, por exemplo, que "a maioria dos jovens foi educada para consumir drogas". A frase, obviamente, gera polêmica. Essa sinceridade devidamente explicada e desenvolvida leva multidões aos seminários e palestras do Dr. Tiba, no Brasil e exterior. Médico e psiquiatra (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), psicodramista (Federação Brasileira de Psicodrama), é ex-coordenador Grupo de Prevenção às Drogas do Colégio Bandeirantes e ex-integrante do Fórum Nacional de Educação e Sexualidade. Atualmente é Membro da Equipe Técnica da Associação Parceira contra Drogas e membro do Board of Directors of the International Group Psychotherapy. Na entrevista a seguir, Dr. Içami Tiba discorre sobre seu trabalho aplicado em questões cotidianas como disciplina, saúde social, comportamento, modernidade, educação, ética, cidadania e conflitos familiares. O assunto é árduo, mas soa tranqüilo na linguagem solta desse ex-professor universitário e

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de judô. Em seu livro Disciplina - O Limite na Medida Certa, o sr. diz que a indisciplina é "o maior mal da educação moderna" e aponta maneiras de reestabelecer a disciplina, como uma arte do bem viver, na família e na escola. Como o sr. vê a discussão da disciplina, aos pés do século 21, quando temos um exemplo polêmico na Inglaterra, onde escolas que foram obrigadas por lei a extinguir castigos corporais disseram que iriam recorrer e pedir revisão da lei? O que difere o conceito de disciplina hoje do de antigamente? Dr. Içami Tiba - Existe uma diferença fundamental entre autoritarismo e disciplina. Proponho uma forma disciplinar sem que haja uma relação vertical. Meu conceito de disciplina é baseado na religiosidade – que não quer dizer uma prática religiosa específica, relacionada a Deus, e sim gente que gosta de gente. Trata-se de uma composição. Essa religiosidade pode se manifestar até em quem é ateu, e serve, fundamentalmente para unir os seres, um grupo. Aquele que vai coordenar o grupo é o líder – aquele que vai puxar pelo interesse do grupo. Ninguém está acima do grupo e o líder é aquele que defende o grupo. Ele nunca pode colocar seu interesses acima dos do grupo e usar o poder para benefício próprio. A disciplina antiga era resultado do interesse individual do autoritário e dono do poder, em detrimento do grupo. E a disciplina atual é que cada um deve saber e cumprir seus deveres individuais, a partir da composição do grupo. Exemplo: o aluno que transgride a norma da classe pode prejudicar outro professor mas não a classe como um todo. Nessas alturas é que se vê a diferença entre o líder e o professor-salário. O que proponho com a disciplina é que todos funcionem de acordo com a saúde social. Na realidade a proposta dessa mudança está relacionada com a Teoria da Interação Relacional. Acho ridículo a imposição da força bruta. O viver social é o caminhar na velocidade do mais fraco. É outro modo de falar que a corrente arrebenta no elo mais fraco. Neste novo milênio é preciso mudar o conceito saúde psíquica – não basta a pessoa ser equilibrada individualmente e sim é preciso que ela tenha saúde social, ou seja, deve saber que pertence a uma sociedade e que a sociedade é mais forte que ela como indivíduo. E que o indivíduo deve contribuir com a sociedade. Quais são, na sua opinião, os maiores problemas causados pela indisciplina nas escolas e que reflexos isso vai ter na vida adulta dos indisciplinados? Dr. Içami Tiba - Uma das piores coisas da indisciplina é a falta de organização interna do indivíduo. A pior conseqüência é a queda da qualidade de vida. Não só de si mesmo, mas de todas as pessoas que dele dependerem. Não dá para contar com os indisciplinados para atividades de responsabilidade – eles funcionam conforme manda sua indisciplina e não seus compromissos. Então, quando adulta a pessoa não conseguirá se adaptar a qualquer atividade

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pessoal ou profissional. O sr. acha que a falta de disciplina nas escolas é responsável pelo declínio da qualidade do ensino? É possível o professor ser amigo do aluno, sem que este se torne um indisciplinado? Quais são os limites? Dr. Içami Tiba - A falta de disciplina atrapalhou a vida das pessoas porque confundiram isso com liberdade. A disciplina é um ingrediente da liberdade. Não há meio termo. Para ter esta disciplina é necessário se voltar para a saúde social e não apenas para o bem estar pessoal. É necessária uma mudança radical, rumo a este conceito. Para esta mudança é necessário conhecimento. Os professores que desejam aplicar esse conhecimento precisam estudar. É a Teoria da Integração Relacional. Os pontos altos das minhas palestras são essas mudanças no conceito de disciplina. Os professores devem se capacitar – não há como fazer testes com alunos. É como um cirurgião, que não pode fazer testes com pacientes. O professor pode ser amigo com disciplina e inimigo com indisciplina. Os limites são os interesses do grupo. Relate experiências vitoriosas vivenciadas por meio dos conceitos de disciplina propostos pelo sr. Dr. Içami Tiba - Por exemplo, pense numa briga em escola. Um aluno machuca o outro. Não adianta o pai do que bateu pagar hospital para o machucado e a escola suspender o agressor. A melhor coisa é o que bateu cuidar de quem foi agredido: fazer curativos, acompanhá-lo junto aos médicos. Independente da idade dos alunos. O agressor vai ver, com clareza, o estrago que provocou vai tentar mudar seus métodos. Em família isso é muito interessante – as pessoas se redescobrem. É como alunos que têm uma doença e que querem ser médicos. Outra situação comum em casa é a criança que brinca e depois não quer guardar os brinquedos. Por quê? Porque os pais só dão o meio do processo – o brincar. A criança não cuida dos brinquedos e não quer guardá-los. Brincadeira tem começo, meio e fim. Para mudar isso, os pais devem ser duros. Na hora que a criança pegou o brinquedo deve ser avisada para arrumá-los depois de brincar – senão não vai brincar. O segundo passo é depois que ela brincou, fazê-la arrumar os brinquedos. Se não quiser arrumar, os pais têm de combinar o seguinte: sendo assim, terão de dar os brinquedos para uma criança carente. A criança precisa sentir que pode perder o brinquedo. Aprender um gesto de cidadão: o que não nos serve, serve para muita gente. Há crianças que têm de perder muitos brinquedos para aprender a valorizar. Apesar dos avanços comportamentais deste século, problemas com drogas e gravidez na adolescência entre jovens de famílias de classe média e alta no Brasil se multiplicam. Então, tirando a problemática da falta de informação e recursos, onde estaria o principal erro dos pais e onde as escolas têm falhado nesses aspectos? O sr. defenderia a inclusão de uma matéria sobre comportamento em currículo, que

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abordaria esses temas em sala de aula? Dr. Içami Tiba - Sobre gravidez precoce e drogas, a verdade é que nós estamos criando uma geração onde cada um faz o que lhe dá prazer – isso é errado. E os compromissos como ficam? O que vale é ter prazer sem medidas de conseqüências. O jovem de hoje foi educado para usar drogas – é por isso que dizem que o que eu falo é polêmico. Os pais também têm de fazer o que é correto – se ele usa drogas não pode exigir que o filho não use. "Uso cocaína e é meu direito", dizem alguns adultos. É uma mentira, que contraria o conceito de saúde social. Pais alcoólatras e drogados prejudicam a família, a sociedade. Não há como ser pai ou mãe sem estar capacitado para tal. A escola também tem de entrar nessa luta. Os pais estão jogando responsabilidades para os professores e a escola acha que não tem de educar nesse sentido. Defendo a educação a seis mãos. As da escola, do pai e da mãe – desde que sejam coerentes. Escolas têm de incluir trabalhos sobre relacionamentos humanos. O jovem deve saber que é natural ter tesão e que para isso não precisa necessariamente amar. Deve ser preparado para enfrentar situações da vida. Eles não sabem nem colocar uma camisinha. Eu fiz o manual da camisinha – ela tem de ser filosofia de vida. Os pais devem falar e conversar muito com os filhos sobre sexo e estudar sobre drogas – não é ler qualquer livro. Há aqueles que fazem apologia da droga, o que não é ético. O sr. acha que o jovem pode ou não experimentar uma droga, para matar sua curiosidade? Essa justificativa deve ser aceita? Dr. Içami Tiba - Acho que isso é mais uma falha. Ele não deve experimentar porque nem tudo que dá prazer deve ser experimentado. É a mesma coisa de experimentar uma roleta russa ou esportes radicais, porque o medo dá prazer. É arriscado e quase nunca compensa. A mídia, principalmente a televisão, exerce uma influência forte sobre adolescentes com relação ao consumismo, a cultura do prazer pelo prazer, a erotização e a ausência de limites. Como o sr. aconselha educadores e pais a lidar e se contrapor a essa influência? Que papel a escola tem nesse sentido? Dr. Içami Tiba - Acho que a mídia funciona assim porque tem mercado para isso que é oferecido. Ela não é muito culpada. Oferece o que é consumido. O consumo não é problema de uma pessoa e sim de todas as gerações. É uma questão social. É importante que cada família reaprenda a ver televisão. Esperar que a TV regule sua programação por sua ética é algo em vão. São empresas que visam lucro. Se o preço de um apresentador como o Ratinho cair é porque caiu a audiência. Casas onde cada um tem um aparelho de TV em seu quarto, multiplica a oferta para o consumo. Independentemente disso, cada família deveria ter uma visão crítica dos produtos e comportamentos oferecidos pela TV. A TV proíbe o diálogo, necessita da atenção visual do espectador. Mesmo assim, o costume de dialogar e trocar idéias deve ser

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alimentado na família – mesmo que seja sobre os programas assistidos. Não dá para ser uma sessão de ordens, onde os pais dão lições de moral e impõem seus pensamentos. Deve ser uma conversa gostosa, onde todos impõem seus pontos de vista. Os pais devem deixar os filhos falarem e falarem também. Assim estão ensinando que seus filhos devem aprender a pensar e a discutir, para usufruir da melhor maneira da informação e da globalização. As experiências devem ser compartilhadas. Isso fará os pais crescerem. O papel da escola entra em determinadas matérias, como estudos da atualidade brasileira, ou nos conteúdos transversais (assuntos vistos por diversas matérias em determinados ângulos). A TV seria um objeto de debate crítico em sala de aula. Por exemplo: o programa Você Decide. Para o jovem é importante ele ser participativo. Esse modelo de que o bom aluno é que aquele que absorve o que o professor fala, faz as lições, tira boas notas e não dá um pio é totalmente equivocado. Como o sr. avalia a influência da internet na educação e formação do adolescente? O sr. está desenvolvendo estudos a respeito? Dr. Içami Tiba - Acredito que internet é um grande ganho social e educacional, desde que se selecione a informação que se quer obter. Não importa a quantidade de informação, mas sim como se faz uso delas. Hoje em dia vale muito mais alguém que saiba aplicar bem conhecimentos específicos do que alguém com uma vasta quantidade de diplomas. Atualmente, valoriza-se a aplicabilidade da informação. No começo de contato com a internet é aquele turbilhão de informação. Com o tempo, as pessoas vão saber selecionar o que querem e porque querem. O que apavora os pais é quando eles não têm conhecimentos sobre isso. A internet passa ser vista como um bicho de sete cabeças – e simboliza perda do poder e do controle dos pais sobre os filhos. É importante que os pais estimulem os filhos a ensinarem para eles como se mexe na internet – é um dos princípios do livro Ensinar Aprendendo. Qual é o maior trunfo do livro Ensinar Aprendendo? Fale sobre o conceito de ensino e suas mudanças nestes tempos de globalização. Dr. Içami Tiba - Há um grupo de escolas em Brasília que me contratou para fazer um trabalho baseado no livro com os professores e os pais. O livro também está sendo adotado em escolas. Minha consultoria consiste em pegar as escolas no ponto em que estão para dar um direcionamento específico. No Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais muitas escolas estão seguindo meus estudos. É sinal de que, mesmo sem receitas fáceis, muitas instituições estão interessadas em mudar paradigmas. Desenvolvi meu trabalho levando a vida para a psicologia e daí para a sala de aula. Estou tornando os professores mais "psicologizados". Na sua opinião e de acordo com sua experiência, porque as escolas brasileiras e professores têm aumentado seu interesse pela psicopedagogia?

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Dr. Içami Tiba - Porque a pedagogia pura não funciona mais. O elemento relacional tem de entrar. Enquanto o adolescente não aceita uma pessoa, não aceita o que ela diz. Quando um burro fala o outro baixa a orelha e não escuta. O aluno que abre a boca, abre os ouvidos. Quando ele fala, se compromete, dá pistas do que pensa e por onde os professores podem ser melhor entendidos. Em quase 30 anos de experiência com adolescentes e seus conflitos, quais foram suas maiores lições? Dr. Içami Tiba - A minha maior lição é que meus melhores professores são os adolescentes. Quando comecei na psicologia, quase nada batia na prática com o que estava escrito a respeito. Até meu comportamento, quando adolescente, também não batia. Daí o desenvolvimento da biopsicologia social. Tabelei, por exemplo, que com 13 anos, o menino pode usar a rebeldia como autoafirmação. Consegui organizar a cabeça dos estudiosos sobre os adolescentes. Há várias etapas na adolescência. Assim, fica fácil focalizar o que é patológico ou não. Esse estudo fez com que as escolas reformulassem até alguns currículos, em decorrência do mau atendimento ao adolescente. Como educador mexo com a prevenção – mudando o conceito de saúde social. É o princípio da Integração Relacional. Essa teoria vem crescendo em mim há 10 anos.

Juliana Resende/BR Press Especial para o Educacional

ANEXO 3

QUESTIONÁRIOS

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

ESCOLA:_______________________________________________________ SÉRIE:_________________________________SEXO:___________________

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Caro (a) aluno (a), Esse trabalho tem como objetivo fazer um diagnóstico acerca das principais causas da indisciplina escolar. Peço-lhe que responda com sinceridade, pois a sua identidade não será revelada em hipótese alguma. Todas as suas respostas devem estar relacionadas ao ano de 2005. Obrigado, Elisberto Francisco Luz 1 – Marque com um (X) o que você não gosta na sua escola: A – No que diz respeito à estrutura física: ( ) das salas de aula ( ) do pátio ( ) da cantina ( ) dos corredores B – No que diz respeito à comunidade escolar: ( ) da maioria dos professores ( ) da coordenação pedagógica ( ) da maioria dos alunos ( ) da direção ( ) dos funcionários da secretaria 2- Do que você sente mais falta em sua escola? ( ) de biblioteca ( ) quadra de esporte ( ) laboratório de informática ( ) sala de vídeo ( ) auditório 3 - Como você considera a maioria das aulas? ( ) ruins ( ) regulares ( ) boas ( ) ótimas 4 – Como seria um bom professor para você? ( ) rígido ( autoritário) ( ) flexível ( democrático) 5 – Além das atividades que a escola desenvolve cite outras que você considera importante ser implementada.

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__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6 – Você gosta de ir à escola? ( ) sim ( ) não Por que? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7 – Você gosta de assistir as aulas? ( ) sim ( ) não Por que? _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8 – Que acontecimentos você já presenciou na escola que considera como comportamentos indisciplinados? ( ) agressões verbais contra professores ( ) agressões verbais contra alunos ( ) agressões físicas ( brigas, empurrões) ( ) ameaças (humilhações) ( ) depredação das instalações escolares ( carteiras, mesas, janelas etc. ) 9 – Que medidas devem ser adotadas pelas escolas a fim de conter a indisciplina? ( ) oferecer aulas mais dinâmicas ( ) adoção de medidas punitivas ( suspensão, transferências, expulsão) ( ) criação de grêmio estudantil 10 – Você conhece o regimento interno de sua escola? ( ) sim ( ) não 11 – Você acha que seus familiares tem que freqüentar a escola? ( ) sim ( ) não 12 – Na sua opinião, quais as conseqüências negativas trazidas pela indisciplina? ( ) não consegue aprender por falta de concentração ( ) perde a vontade de assistir aula porque o ambiente fica desagradável ( ) a qualidade do ensino diminui 13 - Em sua opinião o que causa indisciplina nos alunos?

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( ) aulas desinteressante ( ) desqualificação do professor ( ) fragmentação dos conteúdos ( ) a falta de limite no seio familiar

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

ESCOLA:_______________________________________________________ SÉRIE:_________________________________SEXO:___________________ Caro (a) colega professor(a), Esse trabalho tem como objetivo fazer um diagnóstico acerca das principais causas da indisciplina escolar. Peço-lhe que responda com sinceridade, pois a sua identidade não será revelada em hipótese alguma. Todas as suas respostas devem estar relacionadas ao ano de 2005. Obrigado,

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Elisberto Francisco Luz 1 – Que acontecimentos você já presenciou na escola que considera como comportamentos indisciplinados? ( ) agressões verbais contra professores ( ) agressões verbais contra alunos ( ) agressões físicas ( brigas, empurrões) ( ) ameaças (humilhações) ( ) depredação das instalações escolares ( carteiras, mesas, janelas etc. 2 - Como você considera a maioria das suas aulas? ( ) ruins ( ) regulares ( ) boas ( ) ótimas 3 – Além das atividades que a escola desenvolve cite outras que você considera importantes de seremserem implementadas. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 4 – Que medidas devem ser adotadas pelas escolas a fim de conter a indisciplina? ( ) oferecer aulas mais dinâmicas ( ) adoção de medidas punitivas ( suspensão, transferências, expulsão) ( ) criação de grêmio estudantil 5 – Você conhece o regimento interno de sua escola? ( ) sim ( ) não 6 – Você acha que os familiares do aluno do Ensino Médio devem freqüentar a escola? ( ) sim ( ) não 7 – Como você acha que a indisciplina escolar atrapalha seu trabalho? ( ) fica pouco estimulado para o trabalho ( ) se irrita em sala de aula ( ) não consegue dar aula de acordo com o que foi planejado ( ) não se empenha muito por achar que o aluno não quer aprender 8 - Em sua opinião o que causa indisciplina nos alunos? ( ) metodologia de ensino ineficiente

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( ) fragmentação dos conteúdos ( ) escolas sem equipamento e dependências necessários ao ensino de qualidade ( ) a falta de limite no seio familiar ( ) fatores psíquicos ( )desqualificação do professor

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1 – ALVES, Rubens. A alegria de ensinar. Campinas:Papirus, 2000.

2 - BORDENAVE, J;PEREIRA. Estratégias de ensino-aprendizagem.

Petrópolis: Vozes:2000.

3 - CONCEIÇÃO Regina de Jesus da. O jogo no processo ensino-

aprendizagem. Mod. Recreação e Artes – UCAM – Projeto A Vez do Mestre.

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4 – FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro:Paz e Terra,

1999.

5 – FREITAS, N. Guedes Pedagogia do amor: caminho da libertação na

relação professor-aluno. Rio de Janeiro: WAK, 2000.

6 - ____________________ A relação professor aluno. Mod. Pedagogia e

didática no contexto preventivo – UCAM – Projeto A Vez do Mestre.

7 - _______________________& ROCHA, R. H.Machado. Compreendendo

as teorias da aprendizagem. Mod. Pedagogia e didática no contexto

preventivo – UCAM – Projeto A Vez do Mestre.

8 – GOLEMAN, Daniel. A mente emocional: a teoria que redefine o que é ser

inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.

9 – LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e

prática.5. ed. Ver. Amp.. Goiânia: Alternativa, 2004.

10 -LOURO, Maria Cristina. Sobre brincar:considerações clínicas. Mod.

Teorias operacionais da personalidade – UCAM _ Projeto A Vez do Mestre.

11– MARIA, Antônio. C. de Carvalho; MARANHÃO D. N. M. Machado.

Processos criativos na Educação. Mod. Recreação e Artes – UCAM – Projeto

A Vez do Mestre.

12 - MARANHÃO, Diva. M.M. Vínculo e afetividade. Mod. Recreação e Artes

– UCAM – Projeto A Vez do Mestre.

13- ____________________. O desenvolvimento moral e o jogo. Mod.

Recreação e Artes – UCAM – Projeto A Vez do Mestre.

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14- MOREIRA, A (Org.). Currículo: políticas e práticas. Campinas: Papirus,

1999.

15 PERRENOU, P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes

Médicas, 2000.

16 - PEREIRA, M. S. Carvalho. A psicologia da teoria à prática. Mod.

Psicologia do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem - CAM –

Projeto A Vez do Mestre.

17 - _____________________. Introdução ao fracasso escolar. Mod.

Psicologia do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem - CAM –

Projeto A Vez do Mestre.

18 - POPPE, Maria da Conceiç& JORDÂO, Soraya. Perspectiva preventiva.

Mod. Psicologia do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem - CAM

– Projeto A Vez do Mestre.

19 - SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. São Paulo: Autores

Associados, 1987.

20 - SIMÕES, A. C. K. DE M & ROCHA S. Silva. A pedagogia e o tempo.

Mod. Pedagogia e didática no contexto preventivo – UCAM – Projeto A Vez

do Mestre.

21 - ___________________. Educação ressignificando a vida. Mod.

Pedagogia e didática no contexto preventivo – UCAM – Projeto A Vez do

Mestre.

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22 - SOUSA. S. S. Afetividade, desenvolvimento e cognição no cotidiano

escolar. Mod. Pedagogia e didática no contexto preventivo – UCAM – Projeto

A Vez do Mestre.

23 - URRUTIGARAY, M. C. Fontes. Intervenções psicopedagógicas. Mod.

Psicologia do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem - CAM –

Projeto A Vez do Mestre.

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 - ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças. Violência nas escolas: versão

resumida. Brasília:UNESCO Brasil, REDE PITÁGORAS, Instituto Ayrton Senna,

UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2003.

2 - ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São

Paulo, 1999

3 - BARBOSA, Serrat M. Laura. Um diálogo entre a psicopedagogia e a educação.

2. ed. ver. amp. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro, 2006.

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4 - BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana.

Petrópolis: Vozes, 1997.

5 - BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil no. Porto Alegre: Artmed, 2000.

6 - CECCON, C., Oliveira, M. D. de e OLIVEIRA, R. D.de. A vida na escola e a

escola na vida. Rio de Janeiro: Vozes, 1992.

7 - CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Campinas. Papirus,

2001.

8 - DUSKA, R & WHELAN, M. O desenvolvimento da idade evolutiva – um guia a

Piaget e Kolberg. São Paulo: Loiola, 1994.

9 - ESCOTT, Clarice. ARGENT, Patrícia W. A formação em psicopedagogia nas

abordagens clínica e institucional numa construção teórico-prático. Nova Hamburg.

Freevale, 2001.

10 - FERNÁDEZ Alícia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artmed, 1990.

11 - FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do

oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

12 – LEI 9394/96. Diretrizes e Bases do Ensino Nacional/MEC/BRASILIA-. Brasil, 2006.

13 - LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez: 1992. 14 - __________________.Organização e gestão da escola: Teoria e prática. 5.ed.

Goiânia: Alternativa, 2004.

15 - LÜCK, Heloísa. Administração, supervisão e orientação educacional. 19. ed.

Petrópolis: Vozes, 2002.

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16 - NOLETO, Marlova J. (coord.). Abrindo espaços: Educação e cultura para a

paz. Brasília. UNESCO, 2001.

17 - REVISTA VEJA. 1904. ed. 11 de maio de 2005.

18 - REVISTA PROFISSÃO MESTRE, ano – nº 67, abril de 2005.

19 - RFP – Referenciais para Formação de Professores. 2.ed. MEC/Brasília/DF,

2002.

20 - RODRIGO, M. José e PALACIOS, Jesus (coors). Família Y desarrollo

humano. Madri: Alianza, 1998.

21 – SALVADOR, César, Coll. Aprendizagem escolar e construção do

conhecimento [s.n], 1998

22 - SOARES, k. Projeto Político-pedagógica: uma construção dinâmica e

participativa. Monografia UCAM – Projeto A Vez do Mestre. Rio de Janeiro: 1999.

23 - TIBA, Içami. Ensinar aprendendo: como superar os desafios de

relacionamento professor-aluno em tempos de globalização. 6. ed. Editora Gente.

São Paulo, 1998.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO

2

AGRADECIMENTO

3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 6

METODOLOGIA 7

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

INDISCIPLINA ESCOLAR SOB DIVERSOS PONTOS DE VISTA 11

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1.1 – O que é (in)disciplina 13

1.2 – Tipos de indisciplina escolar mais comuns 14

1.3 - Conseqüências da indisciplina 16

1.3.1 – Para o aluno 16

1.3.2 – Para o professor 17

CAPÍTULO II

PRINSIPAIS CAUSAS DA INDISCIPLINA ESCOLAR 19

2.1 – Fragmentação dos conteúdos e metodologia ineficiente 24

2.2 – Estrutura escolar deficiente 27

2.3 – Falta de limite no seio familiar 30

2.4 – Formação deficiente do professor 30

CAPÍTULO III

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NO CONTROLE

DA INDISCIPLINA 35

3.1 – Sugestões de intervenções psicopedagógicas 37

3.1.1 – Integração entre todos os funcionários da escola 38

3.1.2 – Estabelecer um diálogo aberto com a família 39

3.1.3 – Melhoria das relações interpessoais 42

3.1.4 – Discutir (re)construir junto ao aluno o regimento

interno da escola 46

3.1.5 – Promover a formação continuada do professor 48

3.1.6 – Incentivar a promoção de atividades significativas e

Diversificadas 52

CONCLUSÃO 56

ANEXOS 58

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 74

BIBLIOGRAFIA CITADA 77

ÍNDICE 80

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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