DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · observação para a construção deste trabalho...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
E A EDUCAÇÃO INFANTIL.
Por: Laila Pinto Vilela
Orientadora
Profª Solange Gomes
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
CONSIDERAÇÕES SOBRE ALFABETIZAÇÃO E A EDUCAÇÃO
INFANTIL.
Monografia apresentada à Universidade Cândido
Mendes- Instituto A Vez do Mestre, como requisito
parcial para a obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia Institucional.
Por: Laila Pinto Vilela
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus por me
permitir chegar até aqui. Em seguida
meus pais, Elaine e Fernando; minha
irmã, Isabela e meu namorado, Thiago.
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DEDICATÓRIA
Dedico a minha família e meu amor, e
cada aluno e aluno com quem tive o
prazer de conviver. Bem como a todos
os mestres que passaram em meu
caminho.
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar e pensar práticas que
contribuam para o processo de alfabetização ainda na educação infantil, de
forma mais específica com crianças do primeiro período da etapa de
escolarização. Como base teórica, além de outros autores, busco Emília
Ferreiro e Adriana Flávia Santos de Oliveira Lima. A parte prática de
observação para a construção deste trabalho se deu em uma escola particular
de alto nível localizada na zona Sul da cidade de Niterói.
Palavras-chave: Educação Infantil. Alfabetização. Leitura.
Escrita.
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METODOLOGIA
A metodologia do presente trabalho de pesquisa tem por base a
minha participação como auxiliar em duas turmas do primeiro período de uma
escola particular com uma atuação participativa e de observação. A base
teórica foi fundamentada a partir de autores como Adriana Flávia Santos de
Oliveira Lima (2004), Emília Ferreiro (1993) e Fernando César Capovilla
(2007).
Não obstante Ferreiro e Capovilla defendam concepções diferentes
de trabalho pedagógico, com Capovilla sendo um dos maiores críticos da
concepção construtivista e grande defensor da utilização do método fônico
como solução para os problemas relacionados ao analfabetismo em nosso
país, vamos poder notar ao longo do trabalho de pesquisa que uma concepção
não excluiu a outra e nem por isso houve contradição na efetivação da prática
pedagógica.
Além disso, esse trabalho tem muito de cada professor que passou
por mim durante o último ano na AVM.
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS 4
DEDICATÓRIA 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
CAPÍTULO I
REVISANDO A TEÓRIA: O QUE NOS DIZEM OS MÉTODOS? 11
CAPÍTULO II
UMA EXPERIÊNCIA COM O MÉTODO FÔNICO 15
CAPÍTULO III
INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO 24
CONCLUSÃO 28
BIBLIOGRAFIA 32
WEBGRAFIA 33
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INTRODUÇÃO
Freire (1989.p.9) "A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele."
A presente pesquisa se dedica a compreender como podemos
estimular na educação infantil a leitura e a escrita, de forma prazerosa,
respeitando tempos e capacidades individuais, diversidades de interesses e
principalmente valorização das produções das crianças para que sejam desde
pequenos produtores de conhecimento, arte, novidade, garantindo que não
sejam meras espectadoras do que o outro produz ou que pense que o lugar de
criador, de autor não possa ser assumido por ela. A pesquisa ocorre no
primeiro período da educação infantil, fase na qual as crianças têm os
primeiros contatos escolares com a leitura, a escrita e o número.
A motivação para pesquisar a alfabetização e o letramento na
educação infantil se deu após divulgação, no início do ano de 2014, pela
Organização das Nações Unidas de dados relativos às perspectivas de
cumprimento das metas assumidas no Fórum Mundial sobre Educação em
Dakar. Os compromissos assumidos em Dakar pelos países membros da ONU
deveriam ser alcançados em 2015, mas de acordo com os dados divulgados o
que foi assinado não se efetivará.
Entre os dados apresentados pelo 11° Relatório de Monitoramento
Global de Educação para Todos, o que mais me causou espanto é o que
afirma que 10 países são responsáveis por 72% da população analfabeta
mundial, e entre eles o Brasil ocupa a nada honrosa oitava posição. O relatório
afirma ainda que em 10 anos o número de analfabetos no mundo diminuiu
apena 1%, a estimativa é que em 2015 sejam 743 milhões com 15 anos ou
mais.
A partir desses dados fica claro que a alfabetização e o letramento
precisam ser tratados com seriedade, estudo e comprometimento pelos
educadores para que o analfabetismo venha a ser eliminado de nosso país.
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Para isso é fundamental que a educação infantil ofereça aos alunos esse
espaço de construção da leitura e escrita antes do ensino fundamental como se
nota em Ferreiro (1993, p.17) “as crianças são facilmente alfabetizáveis; foram
os adultos que dificultaram o processo de alfabetização delas.”
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CAPÍTULO I
REVISANDO A TEÓRIA: O QUE NOS DIZEM OS
MÉTODOS?
Ainda que acredite que o indivíduo se alfabetize ao longo da vida há
processos formais que a nossa sociedade segue e compreender as formas
como se conduzem esses processos é fundamental para pensar como
contribuímos ou não para formarmos sujeitos que tantas vezes saem da escola
sem as capacidades básicas de autoria, leitura, escrita e interpretação, sendo
negados assim, em pelo menos alguns aspectos, em sua capacidade de
participação social plena.
A concepção de uma alfabetização ao longo da vida vem do
conceito de Freire (1987), de incabamento humano. Ele nos fala que o homem
por ser histórico, sabe-se inconcluso, a consciência desta inclusão, deste
inacabamento é exclusivamente humana, por isso a educação humana não
tem fim, seria por tanto um permanente que-fazer.
Mortatti (2006) nos mostra em seu artigo que a história da
alfabetização se mostra na história dos métodos de alfabetização, que segundo
a autora, vem buscando resposta para as dificuldades de leitura e escrita,
especialmente dos alunos que frequentam a escola pública de nosso país.
No que se refere a escola pública acredito que a discussão vá para
além da metodologia escolhida pela instituição ou pelo governo, mas sim deve
recair principalmente sobre as condições de escolarização e as condições
socais as quais estão submetidas nossas crianças e suas famílias, ao nível de
escolaridade de suas famílias.
Além disso, a possibilidade de uma educação que abranja material
didático, possibilidade de atividades culturais, acesso a livros, cadernos,
internet, biblioteca de qualidade para que as crianças possam ter acesso a
bens culturais que montem o seu acervo pessoal, que ampliem seus
conhecimentos e sua visão de mundo, essas crianças precisam encontrar uma
escola que, além de ampliar seu conhecimento, respeite e valorize os
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conhecimentos que elas trazem consigo, que conheçam e respeitem suas
práticas culturais, religiosas, sua história pessoal e da comunidade da qual faz
parte.
Desta forma elas não vão encontrar uma escola que venha
desconstruir seus saberes, colocá-los em inferioridade em relação ao saber
socialmente imposto e reconhecido como único saber válido. Uma criança
valorizada consegue se expressar sem medo, e ganha confiança para explorar
os saberes desconhecidos, sem se desvincular das suas raízes, do seu eu, da
sua história.
Rubem Alves (2008, p.29- 30), afirmou “Há escolas que são gaiolas.
Há escolas que são asas”, nos falou ainda que é preciso dar condições para
que se possa voar, mas que não haveria como ensinar o voo, que ele já
nasceria dentro de cada um. Independente de onde estejam, em uma escola
pública ou particular, nossas crianças precisam ter condições de voar, e as
condições mudarão de acordo com cada realidade, o método ou os métodos
escolhidos precisam se modificar e se adaptar de acordo com cada uma das
necessidades reais, engessar a educação em uma única metodologia, não
analisar critica e coletivamente a eficácia do caminho assumido para
alfabetização é uma visão que não cabe para a eficiência do processo.
Como afirma Ferreiro (1993. p.20-21), “a escrita é importante na
escola porque é importante fora da escola.”, por isso a necessidade da
aprendizagem lúdica, significativa e de acordo com a realidades dos sujeitos.
Há duas grandes metodologias que tradicionalmente tiveram lugar
de destaque na discussão metodológica. Os métodos sintéticos e analíticos. O
ensino da leitura, em relação ao que se refere ao método sintético se dividiu
em silábico-alfabético, soletração e fônico. A soletração se caracteriza pelo
nome das letras, a silabação a partir dos sons da sílaba e o fônico ou fonético a
partir do som das letras. Os três são conhecidos como métodos sintéticos pois
partem da parte para o todo, das menores unidades da palavra para a
formação do todo, mais complexo.
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Por outro lado desenvolveram-se também os métodos analíticos,
que partiam do todo para a parte: palavração, sentenciação e global. Na
palavração o aprendiz parte da palavra, na sentença o estudo se dá a partir da
frase e no global a partir de um pequeno conto, dessa forma parte-se de
unidades maiores que vão ser decompostas em unidades menores, mais
simples na condução do processo alfabetizatório.
Mortatti (2006) nos esclarece ainda que as discussões de
metodologia entre analítico e sintético perdem um pouco de sua força a partir
de 1934, quando ganha destaque questões psicológicas e de maturidade das
crianças para a eficiência do processo de alfabetização. Já a partir dos anos
1980 e das pesquisas de Ferreiro, o construtivismo ganha força nas discussões
educacionais da época. A autora chama esse momento de desmetodização da
alfabetização. Nesse período também se inicia a discussão do interacionismo
na alfabetização.
A teoria construtivista é a incentivada pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, que estabelece maior proximidade com o universo da criança e a
valorização dos saberes que cada uma delas trazem consigo, esses saberem
seriam o ponto de partida para a prática escolar, rejeita assim a uniformização
da aprendizagem e aplicação indiscriminada de uma única metodologia, de
uma cartilha, de um manual comum a todos, sem o respeito as necessidades,
experiências e desejos de cada criança. No documento Parâmetros
curriculares nacionais: Introdução aos parâmetros curriculares nacionais da
Secretaria de Educação Fundamental, 1997 o MEC afirma:
A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais reconhece a importância da participação construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que favoreçam o desenvolvimento das capacidades necessárias à formação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de ensino e aprendizagem como um processo que se desenvolve por etapas, em que a cada uma delas o conhecimento é “acabado”, o que se propõe é uma visão da complexidade e da provisoriedade do conhecimento. (MEC, 1997, p.33).
É uma visão consoante com a de Emília Ferreiro que afirma:
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Por mais que se repita nas declarações iniciais dos métodos, manuais ou programas, que a criança aprende em função da sua atividade, e que se tem que estimular o raciocínio e a criatividade, as práticas de introdução à língua escrita desmentem sistematicamente tais declarações. O ensino neste domínio continua apegado às práticas mais envelhecidas da escola tradicional, aquelas que supõem que só se aprende algo através da repetição, da memorização, da cópia reiterada de modelos, da mecanização. (FERREIRO, 1993, p.22).
Quando voltamos nosso alhar aos países desenvolvidos como
Estados Unidos, França e Reino Unido percebemos o estabelecimento de outra
metodologia concernente a alfabetização. Esses países adotaram oficialmente
o método fônico como método de alfabetização de seus alunos. Fernando e
Alessandra Capovilla (2003) são autores que defendem a adoção do método
pelo Brasil como forma de combater o fracasso escolar no que se refere a
alfabetização.
O método fônico, surgido como uma crítica aos demais métodos
sintéticos, consiste em ensinar ao alfabetizando os sons das letras, o estimula
a consciência grafofônica, ao ver a letra, o grafema a criança “lê” o seu som, a
partir daí a criança seria capaz de inclusive ler palavras que não fazem parte
de seu contexto ou vocabulário, dando a ela maior autonomia e possibilidades
da hora da leitura. Inicialmente a criança começa com as vogais e depois
passa para as consoantes, a partir daí forma as primeiras sílabas, tudo de
forma lúdica.
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CAPÍTULO II
UMA EXPERIÊNCIA COM O MÉTODO FÔNICO
2.1. Caracterização da escola
A educação infantil é o local privilegiado para que se desperte o
prazer em ler, produzir, expressar e dividir sentimentos, impressões, dúvidas e
curiosidades. Mas uma educação infantil autoritária, coercitiva, sem liberdade,
sem experiências e que assuma uma visão negativa do erro pode significar o
tolhimento de capacidades humanas fundamentais para a formação de um
sujeito que consegue pensar a realidade, como a criatividade, a argumentação,
a iniciativa, a construção de uma imagem positiva sobre si, sobre o outro, sobre
sua própria produção. Barbosa afirma que
A criança dá continuidade, na instituição de educação infantil, ao processo de aprendizagem já iniciado no seio familiar. Ela chega à escola como um ser histórico que traz, como resultado de sua interação com o mundo, um conhecimento que precisa ser considerado na ação pedagógica da qual vai participar. (BARBOSA, 2001, p.56).
Investigar como estimular a leitura e a escrita, de forma prazerosa,
respeitando tempos e capacidades individuais, diversidades de interesses e
principalmente valorização das produções das crianças para que sejam desde
pequenos produtores de conhecimento, arte, novidade, garantindo que não
sejam meras espectadoras do que o outro produz ou que pensem que o lugar
de criador, de autor não possa ser assumido por elas, apenas pela outro, mas
que elas são também capazes de ocupar esse lugar é a força motriz desta
pesquisa.
Para compreender esse processo que certamente pode contribuir
para que a fase instituída como alfabetização, nada mais seja que uma
continuidade natural do trabalho de autoria iniciado na educação infantil,
durante o ano letivo de 2014 acompanhei a escolarização de duas turmas de
primeiro período de uma escola particular localizada na zona sul de Niterói, que
adota o método fônico como metodologia do processo de alfabetização,
iniciado desde a educação infantil.
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A escola atende a um grupo seleto de crianças e famílias com
altíssimo poder econômico. É portanto um grupo de alunos privilegiados
economicamente, o que se permite pressupor, com acesso diversos bens
culturais como livros, viagens, famílias letradas e que dominam a norma culta
da língua. Um dos fundadores da escola tem origem inglesa e a equipe
pedagógica conta com pedagogos, fonoaudiólogo, psicóloga e nutricionista.
O total de alunos observados foi de 33, cada turma contava com 16
e 17 alunos para uma professora regente, uma auxiliar e uma terceira pessoa
que se dividia entre as duas turmas. Nessa escola a unidade de educação
infantil é dedicada apenas a essa etapa da educação básica. Os alunos do
ensino médio e fundamental estudam em outra unidade, localizada em outro
bairro.
2.2. Trabalho Pedagógico
A base inicial do processo de leitura e escrita escolhido pela escola
no primeiro período da educação infantil, se baseia no reconhecimento do
nome próprio. Emília Ferreiro (1993. p.35) afirma que “nenhum nome pode
substituir o próprio nome de cada um como uma das primeiras escritas cheia
de significado”. Esse momento de exploração do nome acontece diariamente
através de um momento pedagógico chamado de “Rodinha”. É nesse momento
que as crianças se sentam com a professora para cantar, conversar e iniciarem
o dia escolar. Cada uma delas recebe cada uma um cartão com seu nome.
Em seguida há o sorteio do “Ajudante do Dia”, as professoras
cuidam para que a cada a dia o nome de uma criança diferente seja sorteado.
A partir desse nome há exploração através do método fônico, de cada letrinha.
Com a ajuda dos pequenos a professora vai escrevendo o nome em um
espelho e enfatizando o som das letrinhas que compõem o nome, com
destaque para a primeira letra que é a referência de identificação das crianças.
Nos primeiros meses o cartão do nome é acompanhado de uma foto de cada
criança para que haja fixação visual, em seguida a foto é retirada.
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Nesse momento a professora e a criança sorteada contam o número
de letras do nome sorteado e as sílabas são contadas pelo grupo com auxílio
de “palminhas” a cada pronúncia.
A criança sorteada também desenha seu corpo no espelho e monta
um quebra cabeça corporal, a medida que o traçado ganha formas a criança
passa a ser convidada a escrever, junto com as orientações da professora, o
seu nome no quadro. A escrita é ditada pela professora e com o tempo eles
chegam a fazê-la sozinhos. É notável o orgulho que cada criança sente ao
produzir o seu nome no quadro, local que em algumas instituições é dedicado
exclusivamente ao uso do professor.
Todas as letras são feitas em caixa alta. Nesse momento a criança
se sente valorizada e admirada não só pelas professoras mas pelos amigos
que batem palmas e comemoram a conquista. A escrita no quadro deixa a
criança livre dos limites da folha A4 e proporciona outra forma de experimentar
a escrita pois ela está de pé, olhando na mesma direção do espaço em que vai
escrever.
Os cartões dos nomes são uma fonte inesgotável de possibilidades.
Ao longo dos meses as crianças são capazes de reconhecer seus nomes em
meio a outros diferentes e reconhecer o nome dos colegas.
Uma das brincadeiras que mais animava a criançada era o “Caça ao
nome”, uma professora fica na sala com os alunos enquanto a outra espalha o
nome das crianças pela escola. A brincadeira pode se desenrolar de duas
formas:
1°) A criança deve caçar o próprio nome.
2°) Com a turma mais segura no reconhecimento do nome dos
colegas cada criança pega o nome que achar, eles reúnem na sala novamente
e cada um entrega o nome para o seu dono.
Sempre que há dúvida entre as crianças sobre o nome a ênfase
recai sobre a primeira letra do nome e seu som, quando há possibilidades
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outros aspectos são destacados, como a segunda letra, o fato de ter ou não
acento ou por se tratar de um nome composto.
A esse respeito Ferreiro (1993, p.46) afirma que “As letras
começam a ter proprietários concretos dentro de um grupo, o que ajuda a
identifica-las, já que cada qual quer conservar as distinções que lhes
concernem.”. E a pesquisadora continua nos dizendo que
O que no início é fonte de satisfação (descobrir uma extensão da sua própria identidade através da escrita) se converte, mais adiante, em fonte de conflito, quando já não basta saber reconhecer o nome, mas que, além disso, se quer compreender por que devem essas letras e não outras, e por que devem estar nessa ordem e não em outra. A análise das partes da escrita do nome coloca-se então em outro nível, onde é preciso reestruturar as informações anteriores. (FERREIRO,1993, p.46)
Outra possibilidade de trabalho com nome próprio que gerava
intensa participação e contribuía para a expressão das crianças no grupo era
um “Caça aos Objetos” que iniciavam com a mesma letra do nome próprio.
Cada criança devia encontrar na sala um objeto que começasse com a mesma
letra de seu nome e ao final devia apresentá-lo ao grupo, ao final do segundo
semestre poucas crianças ainda precisavam de auxílio do professor para
realizar a caça, a grande maioria realizava a busca sozinha e trazia mais de um
objeto para ser apresentado.
A criança de 2 a 5/6 anos é a criança pré-operatória na classificação
de Piaget. O jogo, o brincar e o lúdico são características essenciais para o
trabalho com essa faixa etária e o desenvolvimento de todos os aspectos da
nossa constituição. É através do brincar que a criança internaliza o meio, ela
vai se relacionar com seu meio através da fantasia, do faz de conta, a
inteligência vai deixando de ser prática e surgem as representações, a
experiências se tornam mentais são as bases para o estágio das operações
concretas. Algumas características são marcantes nessa etapa como o
egocentrismo, hedonismo, imediatismo e irreversibilidade.
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Outras características são marcantes nessa faixa etária e de
fundamental importância para que uma escola possa proporcionar o
desenvolvimento de qualidade para seus alunos. Ao falar sobre essa etapa
Lima (2004. p. 34) afirma que “com o nível simbólico (dois/três a cinco/seis
anos), devemos usar a fantasia, contar história”.
O faz de contas e a contação de histórias abrem inúmeras
possiblidades para o ensino da leitura e da escrita. Uma das estratégias
utilizadas pela escola consiste nas “Rodas de Leituras”. A partir de um livro de
histórias é montada uma série de atividades para crianças que abordam as
diferentes áreas do conhecimento: artes, linguagem, raciocínio lógico-
matemático e conhecimento de mundo.
Situações chaves dos livros são abordadas nessas atividades e
cada área do conhecimento é contemplada, assim no que tange a linguagem o
universo de palavras estudadas e de letras e fonemas conhecidos ultrapassa
os do nome próprio. Em 2014 por exemplo, durante um certo período de tempo
o projeto da escola foi a “Copa do Mundo”, um dos livros utilizados foi “Gabriel
e a Copa do Mundo” de Ilan Bremmam da Editora Brinque-Book. O livro conta
as histórias de Gabriel ao percorrer as 12 cidades sedes no Brasil, além do
conhecimento de mundo os alunos tiveram contatos as novas palavras, sons,
letras de forma significativa e contextualiza.
Outra atividade dentro deste tema foi a de comparação das letras do
nome do jogador Neymar com o nome do aluno. Cada criança recebeu uma
folha com nome Neymar e logo abaixo vinha o nome da criança, cada um
identificava as letras que havia em comum, a única letra em ambas as turmas
que não encontrou semelhança foi a letra Y, o que gerou a possibilidade de
trabalho com essa letrinha que muitas vezes, quando não faz parte do nome
próprio de algum dos alunos, encontra dificuldades para uma abordagem
significativa não só na educação infantil mas também no ensino fundamental.
Uma das posturas assumidas pela escola é da experimentação,
antes estar diante de uma folha A4, as crianças experienciam os temas dos
projetos de formas diversas, um dos mecanismos utilizados pela escola são as
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Oficinas que podem ser de artes, culinária, visitação, educação física ou algum
evento que venha até a escola. A esse respeito
Brincar, observar e experimentar são atividades fundamentais, pois aprendemos a partir da experiência. Isto é válido não só para o período sensório-motor, mas também para todos os demais períodos do desenvolvimento da criança. (LIMA 2004, p.76)
É bem verdade que essa multiplicidade de opções não se aplica a
realidade na maioria das escolas brasileiras, sejam elas públicas ou
particulares, mas o fundamental é o destaque dado as vivências, a experiência
significativa e a prática. Após o projeto “Copa do Mundo”, a escola vivenciou o
projeto “Circo”, esse momento foi muito rico em experiências significavas.
A abordagem por eles assumida envolveu mágico na escola, visita
uma escola circense, pernas de pau, bailarinas, palhaços, carrocinhas de
comidas e guloseimas de circo, enfim, cada personagem ou hábito do circo era
apresentado de maneira concreta com participação das crianças para em
seguida vir o trabalho com as palavras, com as letras.
Em uma dessa apresentações, após a vista do palhaço nas salas
de aula, houve a confecção coletiva do palhaço de cada turma para ser
colocado na porta das salas de aula, em seguida veio o trabalho com o som da
letra P e todos os desdobramentos possíveis para a ampliação e consolidação
desse conhecimento. Tudo contextualizado, vivenciado por cada um deles,
nessa fase a riqueza e qualidade das experiências e estímulos são
fundamentais para o seu desenvolvimento. Assim
A pedagogia deveria explorar essa característica espontânea da criança, trazendo sempre novidades, fazendo perguntas, colocando problemas, fazendo experiência. Ora, se a criança está conhecendo o mundo, observando-o e experimentando-o, confina-la em sala de aula, sentada, ouvindo o professor falar, parece-nos realmente coisa anormal. A pedagogia deve ter sempre em vista o próprio modelo de desenvolvimento da criança, devendo ser questionadora e criativa. Ao invés de inibir, deve estimular o espírito científico, a criatividade e a curiosidade da criança. (LIMA, 2004, p.39).
Outro ponto largamente enfatizado pela escola é o dever de casa. A
casa quinze dias os alunos do primeiro período levam para um livro de histórias
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escolhido por eles com uma atividade para ser feita a partir dele. No segundo
período a frequência aumenta para duas vezes e no terceiro período os
deveres são diários.
Todas as atividades realizadas pela escola são produzidas pelos
próprios professores apoiados pela equipe pedagógica, não há adoção de
cartilhas, ou outro recurso que venha pronto de fora da escola. No caso dos
deveres de casa, eles só podem ser realizados com a ajuda da família, cada
atividade é pensada com esse objetivo de participação familiar, de ser um
momento prazeroso entre pais e filhos. Dessa forma é possível estender a
leitura para o ambiente familiar e estimular a família a participar da vida escolar
dos filhos.
As atividades variam desde a produção de uma receita da família
para levar para turma à confecção de invenções com material reciclado. É claro
que a manutenção desse tipo de estratégia de estímulo a leitura só é possível
plenamente quando a criança vive em uma casa com pais alfabetizados e que
se disponham a ter tempo para realizá-las. Caso se tratasse de uma escola
pública, que tem grande variedade de público, este tipo de atividade, pode
representar uma estratégia inicial para perceber o nível de escolaridade dos
pais e também a sua disponibilidade.
Nessa relação cabe ressaltar a importância da relação escola e
família. Na educação infantil as crianças estão em crescente desenvolvimento.
É importante que ambas instâncias socializadoras de maior importância nessa
faixa etária “falem a mesma língua”.
Se a escola espera das crianças uma atitude de constante
crescimento, estímulo a autonomia e de conquista das independências
possíveis em cada faixa etária, fica confuso para a criança que pela família
ainda é tratada como bebezinho da casa, que precisa que pos adultos realizem
as atividades cotidianas por elas se na escola ela é estimulada a realizá-las
sozinha. Ser uma “mocinha” e um “rapazinho” na escola e o “bebezinho da
vovó, da mamãe e do papai” em casa pode vir a confundir as crianças sobre os
limites e possibilidades de suas ações e conquistas. O diálogo permanente
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entre escola e família pode evitar essa diferença de estímulo e tratamento
dados às crianças.
Além disso, embora a mudança do papel da mulher na sociedade,
sendo deslocada do ambiente familiar para o mercado de trabalho, não exime
as famílias das responsabilidades para com a escolarização dos filhos. A
própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (2014, p. 21) deixa
claramente expresso que “desenvolvimento integral da criança até 6 anos de
idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade”.
A importância da educação infantil no desenvolvimento influenciou
uma importante alteração legislativa. Recentemente uma alteração significativa
foi feita no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação: a idade mínima
obrigatória para o ingresso na Educação Infantil foi reduzida dos 6 para os 4
anos, aumentando a responsabilidade do governo e oferecer as vagas e dos
pais em buscarem a matrícula. Estados e Municípios tem até 2016 para que a
oferta de vagas seja garantida.
Inicialmente, a creche e a pré-escola surgiram como demanda das
mães que ingressaram no mercado de trabalho e precisaram deixar seus filhos.
Hoje essa perspectiva vendo mudando e sendo cada vez mais observada
como um direito da criança. Em seu artigo 29, a LDB (2014) afirma que a
finalidade desde etapa é o desenvolvimento integral do educando. A lei da
educação, que sofreu outras modificações, no que se refere a
acompanhamento, registro e frequência, nos orienta para que a as crianças se
desenvolvam integralmente, ou seja, é preciso qualidade no atendimento às
crianças que frequentam a pré-escola. Dessa forma cada vez mais a educação
é vista como um direito da criança.
Outro fator valorizado pela escola é importância da educação física
no desenvolvimento infantil, tratada em segundo plano em grande parte das
escolas brasileiras, nesta escola o movimento é contrário ao da maioria. As
crianças contam com aulas de educação física de 45 minutos, duas vezes por
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semana. A equipe é composta por profissionais qualificados, graduados, pós
graduados e inclusive um mestre.
Os conteúdos das aulas vão muito além do vemos em muitas
escolas, resumidos em futebol, vôlei, basquete e handball. Há de fato um
trabalho voltado para cada faixa etária e os projetos abrangem temas como
equilíbrio, lateralidade, coordenação motora ampla e fina, consciência corporal,
relaxamento e autocontrole.
O uso de materiais utilizados nas aulas é diversificado, há variedade
de bolas, tecidos, pregadores, bambolês, quadras de diferentes tipos, banhos
de tintas
Colello (1993) discute a importância do desenvolvimento corporal
para escolarização. A autora em seu artigo intitulado “Alfabetização e
Motricidade: Revendo essa antiga parceria”, nos aponta que as discussões
construtivistas acabaram deixando em segundo plano o desenvolvimento
corporal, a importância da educação física e qual o lugar do corpo na escola.
Conquanto o artigo tenha mais de 20 anos ele traz colocações atualíssimas na
realidade escolar brasileira. No que se refere a alfabetização a autora afirma
que
Os benefícios conquistados pela educação do corpo interferem positivamente nesse processo, incluídas ai as dimensões figurativa (caligrafia, posição das letras e disposição do traçado no papel) e construtiva da escrita (compreensão do seu significado e funcionamento). Sem dúvida alguma, podemos afirmar que a vivencia corpórea significativa amplia as possibilidades de expressão autêntica, na medida em que garante à criança uma posição no mundo mais consciente. É preciso aprender a desenhar as letras mas antes disso, é preciso aprender a ser interlocutor, um emissor e receptor crítico das linguagens próprias do ser humano, capaz de se posicionar em casa momento nesse meio tão dinâmico que é a nossa sociedade. (COLELLO, 1993, p.61).
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CAPÍTULO III
INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO
O psicopedagogo ainda não é um profissional exigido em todas as
escolas da nossa sociedade, mas em virtude de um número crescente de
transtornos, dificuldades de aprendizagem e muitas vezes de fracasso escolar,
muitos profissionais vem buscam essa especialização de forma a melhorar sua
capacidade de atender as demandas apresentadas e consequentemente
favorecer a aprendizagem. Mas muitos ainda desconhecem qual o lugar desse
profissional.
Ainda que não tenha sido uma psicopedagoga, Emília Ferreiro nos
fala que
É necessário imaginação pedagógica para das às crianças oportunidades ricas e variadas de interagir com a linguagem escrita. É necessário formação psicológica para compreender as respostas e as perguntas das crianças. É necessário entender que a aprendizagem da linguagem escrita é muito mais que a aprendizagem de um código de transcrição: é a construção de um sistema de representação. (FERREIRO, 1988, p.102).
Esse novo olhar promovido pela pesquisadora nos leva a
compreender o processo de alfabetização de acordo com necessidades das
crianças, a referência deixa de ser o olhar do adulto, do professor, do
alfabetizado para compreendê-lo pela ótica do desenvolvimento, necessidades,
potencialidades e limites que são trazidos pela criança, a partir dos estudos da
pesquisadora sobre a linguística, considerando que a escrita não é transcrição
mas sim representação.
O psicopedagogo pode levar, especialmente para escolas
tradicionais e com profissionais de menos formação, este novo olhar. Ser uma
ponte entre a escola, os estudos e a variedade de áreas envolvidas no pleno
desenvolvimento da criança.
Em nossa formação nosso olhar foi trabalhado para considerar
aspectos pedagógicos, psicomotores, emocionais, familiares e psicológicos que
influenciam na aprendizagem. Durante a pós graduação tivemos contato
25
inclusive com a neurociência, uma demonstração da complexidade do
desenvolvimento humano e dos caminhos para aprendizagem eficaz.
Nós, psicopedagogos, em contato com os estudos, pesquisas
podemos contribuir para as escolas encontrem a melhor metodologia, o melhor
caminho a seguir dentro daquela realidade, considerando suas peculiaridades,
e possibilidades daquela instituição. É fundamental não se confundir,
entretanto, a atuação da psicopedagogia com um “milagre”, o trabalho
realizado pelo psicopedagogo é um trabalho de equipe que envolve todos os
sujeitos presentes na escola: professores, equipe pedagógica, direção, alunos
e, inclusive, as famílias. Sozinho, o psicopedagogo não pode transformar.
Nossa formação pode nos levar a ser um agente desencadeador da
mudança apontando novos caminhos, possibilidades, olhares e novos
conhecimentos, mas que para mudanças aconteçam a comunidade escolar
precisa participar, é a união e a soma dos conhecimentos e ações que tornarão
o trabalho psicopedagógico eficaz. Para Masini
“Pensar a escola à luz da psicopedagogia significa analisar um processo que inclui questões metodológicas, relacionais e socioculturais, englobando o ponto de vista de quem ensina e de quem aprende, abrangendo a participação da família e da sociedade. (MASINI, 1994, p. 112).
O trabalho com a educação infantil exige pleno domínio do
desenvolvimento humano, especialmente para as etapas desse
desenvolvimento. De forma que os tempos sejam respeitos, nem sub, nem
superestimado para que os momentos de construção não sejam confundidos
com erros, o que a crianças ainda não é capaz de fazer não pode assumir uma
conotação negativa sob pena de prejudicarmos a autoestima e construção da
confiança e conceito de si. Essa atenção é fundamental para que nossa prática
educativa não leva a criança a ter medo de errar, de experimentar, de
perguntar, para que sua iniciativa e sua curiosidade não encontrem barreiras
no julgamento que vem do outro.
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Dessa forma,
Todos os trabalhos feitos pelas crianças devem servir para diagnosticar como elas pensam, que estruturas estão utilizando para resolver problemas, para que possamos organizar-lhes tarefas correspondentes ao seu nível mental, de maneira gradualmente mais complexas, possibilitando, assim, estimular seu desenvolvimento de uma maneira contínua. (LIMA. 2004, p. 29).
A autora nos fala que erro nada mais é que a falta de uma estrutura
mental capaz de resolver a situação.
Da mesma forma nossa segurança na compreensão do
desenvolvimento infantil pode contribuir para que como educadores e
psicopedagogos possamos estar atentos aos sinais que a criança envia
quando algo não vai bem. Esse conhecimento precisa estar associado a
sensibilidade e proximidade da relação com os alunos, de acordo com
Guinzburg (1989) o olhar atento aos pormenores que passariam
despercebidos, que muito poderiam negligenciar, não dar a atenção devida ao
que as crianças deixam transparecer por mais sutis que venham a ser, não
podem passar despercebidos.
O psicopedagogo precisa ter também o olhar solidário e atento para
o professor. Se o fim e objetivo primordial na nossa ação é a aprendizagem, o
educador não pode receber um olhar negligente por parte do psicopedagogo.
Sobre o professor alfabetizador, Ferreiro (1993) nos fala de sua solidão, da sua
falta de prestígio diante dos demais professores da escola. Emília Ferreiro
(1993.p.51) afirma que “É frequente que se atribua as aulas de alfabetização
precisamente aos professores com menos experiência ou àqueles que são
“castigados” por alguma razão. Ferreiro (1993. p.52) continua afirmando que:
“Não é estranho que, nessas condições, ninguém esteja motivado para pensar
criticamente sobre sua prática...”
Muitas vezes o professor que rege a turma de alfabetização
instituída na maioria da escola como o primeiro ano do ensino fundamental é
condenado por não conseguir fazer de seus alunos indivíduos plenamente
alfabetizados ao fim do ano letivo, ou é visto como o único responsável pelo
sucesso de uma turma considerada alfabetizada.
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Os próprios profissionais e familiares esquecem que o indivíduo vem
se alfabetizando ao longo da vida e que o trabalho realizado na educação
infantil pode repercutir na fase instituída como alfabetização de maneira
positiva ou negativa.
O papel do psicopedagogo é o de orientação para aprendizagem.
Esse é cerne da atividade psicopedagógica. Ele deve ter o conhecimento das
metodologias existentes, estar ciente dos seus pontos positivos e negativos e
ter a sensibilidade de perceber os fatores que cercam a escola, seus
professores e seus alunos para contribuir de fato para que a aprendizagem
ocorra e que o seja da melhor forma possível.
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CONCLUSÃO
Apesar da escola objeto da análise se assumir como conteudista e
adotar o método fônico como sua base metodológica para alfabetização
podemos perceber as marcas e influências de outras concepções como a
ênfase na aprendizagem significativa, uma forte marca do construtivismo.
Mesmo que muitos autores, como Capovilla (2007) façam ferrenhas
críticas, chegando inclusive a responsabilizar o construtivismo pelo fracasso da
alfabetização no nosso país, especialmente das classes menos favorecidas, a
análise crítica dos aspectos que cada uma das correntes nos trás e a utilização
dos aspectos positivos e adequados a cada realidade e necessidade das
escolas podem trazer ganhos para a prática pedagógica e principalmente para
o sucesso dos nossos alunos.
Há que se destacar que a ênfase do trabalho realizado pela
instituição é o desenvolvimento das crianças a partir de suas capacidades e
potencialidades. Por se tratar de uma escola de elite, as condições financeiras
possibilitam um variado número de possibilidades e variedades de experiências
que contribuem para aprendizagem significativa, a escola de fato conta com a
“bagagem” trazida de casa pelas crianças e com a qualidade e a diversidade
de experiências e possibilidades que a condição financeira privilegiada traz a
cada uma delas.
De fato essa não é a realidade da maioria das escolas brasileiras,
mas projetos como esses impulsionam a nós, educadores e psicopedagogos, a
buscar a ampliação da educação de qualidade, com profissionais capacitados e
o olhar global do desenvolvimento, nos aprofundando nas linhas teóricas e
selecionando os aspectos positivos que podemos extrair de cada uma delas.
As discussões sobre iniciar o processo de alfabetização da pré-
escola segundo Sonia Kramer e Miriam Abramovay (1985) devem ceder a lugar
a discussão de como podemos alfabetizar em nossas escolas, na escola em
que cada um trabalha, em suas condições atuais, esse olhar vai nos permitir
conhecer a realidade e as necessidades que ela traz.
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As autoras questionam como alfabetizar em situações tão adversas
como salas de aula lotadas, falta de recurso, escolas que são vistas apenas
como depósitos de crianças, escolas que precisam ensinar aos alunos
comportamentos sociais básicos como lavar as mãos e comer.
As autoras destacam ainda que
A função social da alfabetização se refere ao “para quê” da leitura e da escrita. Lemos e escrevemos para nos comunicar, para falar da nossa vida, dos objetos que conhecemos, das coisas que fazemos, gostamos e pensamos, das histórias ouvidas, dos trabalhos e brincadeiras que realizamos e para conhecer as ideias, produções e sentimentos dos outros.” (KRAMER e ABRAMOVAY, 1985, p.105)
Cabe à escola despertar nos alunos, independentemente da idade e
respeitando seus limites e possibilidades, o gosto e o interesse pelo uso social,
a necessidade da leitura e da escrita, para que esse desenvolvimento siga um
caminho natural e prazeroso, cheio de descobertas para os pequenos
aprendizes.
Um início de escolarização prazeroso e que desperte a curiosidade e
que desenvolva os aspectos biológicos, sociais, psicológicos e emocionais,
possibilita o desenvolvimento pleno do educando. O respeito por seus saberes,
sua história e sua cultura vai contribuir para sua segurança, autoestima e para
a construção de uma imagem positiva e segura sobre si mesmo.
Em nosso país, para além das discussões metodológicas,
precisamos discutir as condições sociais e dentro da realidade e das
possibilidades escolher a metodologia que melhor se adapta, ou combinar nos
aspectos positivos que diferentes concepções podem trazer a educação sem,
contudo, nos esquecer da busca por melhores condições efetivas de estudo,
trabalho e recursos para professores, alunos e comunidade, cobrando assim
uma atuação positiva do governo em prol da resolução dessas dificuldades.
De fato de acordo com os dados apresentados em 2014 pelo 11°
Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos da Organização
das Nações Unidas, nosso país é o oitavo país no mundo com a maior
população de analfabetos adultos no mundo. O já referido relatório é um alerta
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importante para o nosso país. Não podemos esquecer que esses adultos um
dia foram crianças e que a educação não cumpriu com eles o seu objetivo de
desenvolvimento pleno, em todos os seus aspectos. Países com uma realidade
social muito mais perversa do que a nossa com guerras e miséria são a nossa
frente, como Etiópia e Bangladesh.
Sobre a alfabetização Goulart,
Pode-se afirmar que alfabetizar é menos impor modelos que permitir que os sujeitos desenvolvam suas formas de captar o simbólico social nos textos (e aí está incluído o sistema de escrita), a partir de sua subjetividade, com a sua marca, a sua assinatura. A construção da identidade individual no processo de produção de textos parece estar fundada na construção da identidade social. (GOULART, 2000, p. 173).
Pessoalmente, acredito que esses dados nos revelam a
necessidade de continuarmos a pesquisar, discutir, analisar a alfabetização em
nosso país. Há ainda longo caminho a ser percorrido, e nós educadores e
psicopedagogos, precisamos estar atentos a realidade da educação brasileira
buscando sempre as alternativas para transformar e melhorar a nossa
realidade.
Ainda que o trabalho psicopedagógico seja mais presente e
difundido nas escolas particulares, é preciso também, dentro de nossas
possibilidades, levar esse trabalho a todas as crianças independente do local
de estudo, bairro, cidade.
Em Niterói e no Rio de Janeiro ainda não há concurso para a
especialidade de psicopedagogo, mas nós pedagogos, que atuamos nas
escolas não podemos negligenciar nossos estudos e conhecimentos advindo
da pós graduação, mesmo que não seja possível atuar formalmente como
psicopedagogo, essa formação nos proporciona um novo olhar na relação com
nossos alunos e com a aprendizagem.
Pessoalmente, um dos olhares que mais se modificou em mim foi o
olhar com relação ao erro, como um sinalizador fundamental para os limites,
possibilidades e interpretações possíveis sobre como os nossos alunos
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aprendem e principalmente como eles estão interpretando os conteúdos que os
professores têm o objetivo que eles internalizem.
Esse novo olhar influência e exige de nós reflexão e criticidade a
respeito do nosso próprio trabalho e muitas vezes vai exigir de nós mudança de
postura, relacionamento, organização, propostas pedagógicas, buscas da
capacitação, conhecimentos, instrumentos, enfim, vai exigir de sair do local
seguro de confortável que rotina na sala de aula muitas vezes nos oferece.
Ensinar e aprender vão ganhar um sentido desafiar, motivador para
nós profissionais da educação, que vamos estar desafiados e nos reeducar e
reinventar diante as necessidades, interesses e curiosidades que nossos
alunos trazem diariamente a sala de aula e que muitas vezes não encontram
oportunidade de expressar, como se a sala de aula não fosse exatamente o
lugar da busca pelo novo, pelo conhecimento, pelo prazer de descobrir,
pesquisar, aprender e criar novas possibilidades e novos questionamentos num
delicioso ciclo sem fim de educar-se continuamente. Uma educação infantil de
qualidade pode plantar uma semente que se vai propagar durante a vida dos
alunos.
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