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A PONTE HERCÍLIO LUZ E A LEI DA GRAVIDADE A velha ponte Hercílio Luz, prin- cipal cartão postal de Florianópolis (e de Santa Catarina), está há déca- das cai-não-cai. Isso não é surpresa pra ninguém que tenha vivido na capital... nas últimas décadas. Desde que diagnosticaram uma fraqueza justamente no ponto que deveria ser mais firme e forte (o tal de olhal, que une os elos das cor- rentes que seguram o vão central), que existe a possibilidade concreta e real de que, a qualquer momento, o monumento venha abaixo. Projetada em 1922, na época era a maior ponte pênsil de correntes do mundo. As correntes, que subs- tituem os cabos de outras pontes semelhantes, têm pontos fracos nos olhais: a união entre um elo e outro. Se ocorrer uma corrosão ali, danou-se. Todo mundo que já passou algu- ma temporada à beira mar ou tem casa de praia, sabe que a maresia é poderosa. Exige manutenção cons- tante, materiais próprios para resis- tir ao salitre e muita atenção. E uma ponte sobre um braço de água salgada, exposta aos ventos nem sempre carinhosos do sul e do nordeste, precisaria ser tratada como, por exemplo, tratam a torre Eiffel. Se é que realmente querem que dure muito tempo. A RECONSTRUÇÃO O governo LHS não foi muito di- ferente dos anteriores, no quesito “empurrar o problema da ponte HL com a barriga”. Mas inovou no que- sito “bomba de efeito retardado”. Imaginou uma reforma da ponte que implicaria em trocar as corren- tes de sustentação. Para isso, é pre- ciso construir uma espécie de ponte sob o vão central, que o apoie quan- do as correntes forem retiradas para substituição. Não é obra simples, nem bara- ta, nem rápida. E foi iniciada, pelo que se depreende dos resmungos do governo Raimundo, sem que o estado disponha dos recursos para completá-la. A DESCONSTRUÇÃO Agora, a cidade e o estado assis- tem, perplexos, um debate de estar- recer: o consórcio que foi escolhido para a grande obra, com medo de perder a boquinha, vem a público dizer que a ponte pode cair a qual- quer momento. E o governo, por seus portavozes, dá a entender que a ponte não tem solução. Mais ou menos como se es- tivesse dizendo que, se em 30 anos vários governos não conseguiram fazer manutenção correta da ponte, não seria agora, com tudo meio car- comido, que iriam dar jeito. Os manezinhos mais paranói- cos já estão chorando pelos cantos a ponte derrubada: “o governo vai derrubar a ponte, Colombo não tem compromisso com a ponte”. A ponte, que levou uns três anos e meio para ser construída, pode le- var uns 40 anos sendo reformada. E provavelmente já consumiu várias vezes o valor gasto com sua cons- trução. E engordado vários bolsos. Ou vocês acham que não? Os mais pragmáticos já pensam se não seria melhor, então, fazer uma nova, igualmente monumental, que nos desse uma nova imagem para o cartão postal, mas parasse de consu- mir dinheiro público. O deputado Bolsonaro é um en- tusiasta dos governos militares, tem idéias fascistas sobre a organi- zação social e defende seus pontos de vista utilizando o mandato e a imunidade que seus eleitores, que provavelmente acham que ele é o máximo, lhe outorgaram. Desde que foi eleito pela primeira vez, mostrou que era um direitão raivoso. Mas foi preciso que levasse suas idéias a um programa de TV (CQC, da rede Bandeirantes), para que o Brasil inteiro (não vamos exa- gerar, é só uma parte do país que liga pra essas coisas) começasse a rediscutir velhos temas: liberdade, tolerância, limites da liberdade, etc. Assim como talvez Bolsonaro e sua turma gostariam de colocar os negros em guetos, internar homos- sexuais e entregar o poder para os militares, dos outros lados tem mui- ta gente que defende a cassação do deputado, sua prisão ou qualquer outra medida que impeça que ele expresse suas idéias. Há intolerân- cia, portanto, nos vários lados em que os seres humanos se colocam, quando pensam sobre a vida. E o Brasil, embora apareça dian- te do mundo como nação tolerante, sem racismo, sem muros internos é, cá entre nós, um lugar muito compli- cado. A discriminação corre solta e é tão difundida que nem nos damos conta do ódio que nos rodeia. Trata- mos diferente quem está bem vesti- do. Tratamos diferente quem tem ou- tro sotaque. Tratamos diferente quem nos parece feio. E definitivamente desprezamos quem é pobre. Ou mais pobre que a gente. Mesmo que não sejamos ricos. Mesmo que nossos pais sejam ou tenham sido pobres. E é nesse ambiente que surge a discussão principal: a liberdade de expressão. Será que ela só vale quando o beneficiado tem as mes- mas idéias que a gente? E quando não concordamos com as idéias, é legal suprimir a liberdade de ex- pressá-las? Liberdade relativa? Tole- rância de mão única? MOLECAGEM PALHARES PRESS

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A DESCONSTRUÇÃO Agora, a cidade e o estado assis- tem, perplexos, um debate de estar- recer: o consórcio que foi escolhido MolecageM Palhares Press

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A PONTE HERCÍLIO LUZ E A LEI DA GRAVIDADEA velha ponte Hercílio Luz, prin-

cipal cartão postal de Florianópolis (e de Santa Catarina), está há déca-das cai-não-cai. Isso não é surpresa pra ninguém que tenha vivido na capital... nas últimas décadas.

Desde que diagnosticaram uma fraqueza justamente no ponto que deveria ser mais firme e forte (o tal de olhal, que une os elos das cor-rentes que seguram o vão central), que existe a possibilidade concreta e real de que, a qualquer momento, o monumento venha abaixo.

Projetada em 1922, na época era a maior ponte pênsil de correntes do mundo. As correntes, que subs-tituem os cabos de outras pontes semelhantes, têm pontos fracos nos olhais: a união entre um elo e outro. Se ocorrer uma corrosão ali, danou-se.

Todo mundo que já passou algu-ma temporada à beira mar ou tem casa de praia, sabe que a maresia é poderosa. Exige manutenção cons-tante, materiais próprios para resis-tir ao salitre e muita atenção.

E uma ponte sobre um braço de água salgada, exposta aos ventos

nem sempre carinhosos do sul e do nordeste, precisaria ser tratada como, por exemplo, tratam a torre Eiffel. Se é que realmente querem que dure muito tempo.

A RECONSTRUÇÃOO governo LHS não foi muito di-

ferente dos anteriores, no quesito “empurrar o problema da ponte HL com a barriga”. Mas inovou no que-sito “bomba de efeito retardado”.

Imaginou uma reforma da ponte que implicaria em trocar as corren-tes de sustentação. Para isso, é pre-ciso construir uma espécie de ponte sob o vão central, que o apoie quan-do as correntes forem retiradas para substituição.

Não é obra simples, nem bara-ta, nem rápida. E foi iniciada, pelo que se depreende dos resmungos do governo Raimundo, sem que o estado disponha dos recursos para completá-la.

A DESCONSTRUÇÃOAgora, a cidade e o estado assis-

tem, perplexos, um debate de estar-recer: o consórcio que foi escolhido

para a grande obra, com medo de perder a boquinha, vem a público dizer que a ponte pode cair a qual-quer momento.

E o governo, por seus portavozes, dá a entender que a ponte não tem solução. Mais ou menos como se es-tivesse dizendo que, se em 30 anos vários governos não conseguiram fazer manutenção correta da ponte, não seria agora, com tudo meio car-comido, que iriam dar jeito.

Os manezinhos mais paranói-cos já estão chorando pelos cantos a ponte derrubada: “o governo vai derrubar a ponte, Colombo não tem compromisso com a ponte”.

A ponte, que levou uns três anos e meio para ser construída, pode le-var uns 40 anos sendo reformada. E provavelmente já consumiu várias vezes o valor gasto com sua cons-trução. E engordado vários bolsos. Ou vocês acham que não?

Os mais pragmáticos já pensam se não seria melhor, então, fazer uma nova, igualmente monumental, que nos desse uma nova imagem para o cartão postal, mas parasse de consu-mir dinheiro público.

O deputado Bolsonaro é um en-tusiasta dos governos militares, tem idéias fascistas sobre a organi-zação social e defende seus pontos de vista utilizando o mandato e a imunidade que seus eleitores, que provavelmente acham que ele é o máximo, lhe outorgaram.

Desde que foi eleito pela primeira vez, mostrou que era um direitão raivoso. Mas foi preciso que levasse suas idéias a um programa de TV (CQC, da rede Bandeirantes), para que o Brasil inteiro (não vamos exa-gerar, é só uma parte do país que liga pra essas coisas) começasse a rediscutir velhos temas: liberdade, tolerância, limites da liberdade, etc.

Assim como talvez Bolsonaro e sua turma gostariam de colocar os negros em guetos, internar homos-sexuais e entregar o poder para os militares, dos outros lados tem mui-ta gente que defende a cassação do deputado, sua prisão ou qualquer outra medida que impeça que ele expresse suas idéias. Há intolerân-cia, portanto, nos vários lados em que os seres humanos se colocam, quando pensam sobre a vida.

E o Brasil, embora apareça dian-te do mundo como nação tolerante, sem racismo, sem muros internos é, cá entre nós, um lugar muito compli-cado. A discriminação corre solta e é tão difundida que nem nos damos

conta do ódio que nos rodeia. Trata-mos diferente quem está bem vesti-do. Tratamos diferente quem tem ou-tro sotaque. Tratamos diferente quem nos parece feio. E definitivamente desprezamos quem é pobre. Ou mais pobre que a gente. Mesmo que não sejamos ricos. Mesmo que nossos pais sejam ou tenham sido pobres.

E é nesse ambiente que surge a discussão principal: a liberdade de expressão. Será que ela só vale quando o beneficiado tem as mes-mas idéias que a gente? E quando não concordamos com as idéias, é legal suprimir a liberdade de ex-pressá-las? Liberdade relativa? Tole-rância de mão única?

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TAÍ UMA QUINTA-FEIRA GORDA!1HOJE OS MÉDICOS NÃO

ATENDEM PLANOS DE SAÚDEOs médicos estão em guerra com

os tais convênios de assistência médica (tipo Unimed), pela forma como são tratados e pagos. Mas, como em toda briga de grande, sem-pre sobra pro pequeno.

Eles escolheram justamente hoje, que é o Dia Mundial da Saúde, para fazer essa espécie de “greve de ad-vertência”. Com isso, quem tinha consulta marcada pelo plano de saú-de pra hoje, dançou.

O caso é sério: os planos cobram uma banana da gente e dão uma ba-nana pros prestadores de serviços. Isso cria uma situação ruim, onde o cliente, que paga muito e quer um serviço à altura, acaba sendo tratado como se tivesse culpa no cartório.

O mais curioso é que o principal plano de saúde em Santa Catarina, quase monopólio, é uma coopera-tiva de médicos. Que teve eleições há poucos dias, com grande troca de farpas. Mas continuou a mesma turma de antes. Donde, talvez, o au-mento da pressão.

2ELEFANTE BRANCO DA ERA LHS VAI A DEBATE NA ALESC

Na chegada a Canasvieiras, o vi-sitante poderá ver, à direita, uma enorme estrutura inacabada (tá pa-rada desde 2009). É um dos mais escandalosos elefantes brancos da megalomanoera do trio LHS, Gallina (secretário regional) e Dário (prefei-to queridinho do LHS).

Chama-se de “Arena Multiuso”, mas também é conhecida como “Gi-násio dos Trapalhões”. Hoje, a partir das 14h, terá uma audiência pública no plenário da Assembléia Legisla-tiva justamente para debater esse monstrengo comedor de dinheiro.

Proposta pela deputada Ângela Albino (PCdoB), a audiência quer respostas para várias perguntas, do tipo destas aqui:

Por que o governo federal suspen-deu o repasse dos R$ 7,8 milhões previstos para a obra? Por que fi-zeram a arena a poucos metros de um dos trevos mais movimentados do Norte da Ilha? Por que tem só 1,5 mil vagas no estacionamento se tem capacidade para 5 mil pessoas?

3O CAOS DA SAÚDE PÚBLICA TAMBÉM TEM AUDIÊNCIA

A manezada que fica injuriada com os maus tratos nos hospitais públicos costuma dizer que, quando os políticos (e os riquinhos) tiverem que ser atendidos pelo SUS, a coisa melhora. Eles acham que ninguém dá bola para a situação porque os ba-canas não precisam ficar na fila, nem esperar meses pela consulta, nem têm que ficar na maca, no corredor.

O deputado (e ex-prefeito de Itajaí) Volnei Morastoni (PT), à frente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa, tá tentando levantar o tapete que esconde o tal “caos da saúde” na região da capital. Primei-ro, fez uma série de visitas de sur-presa. Hoje de manhã (a partir das 9h), promove uma audiência pública no Plenário da Alesc, para debater “A atenção básica em saúde nos muni-cípios da Grande Florianópolis e os hospitais”. Entram na dança alguns dos principais hospitais públicos do estado, todos em grave crise: Regio-nal, Infantil, Celso Ramos, Nereu Ra-mos e Florianópolis.

O ROLO DO MERCADO PÚBLICOÀ medida em que se aproxima a

data determinada pela Justiça para licitação dos boxes do Mercado Pú-blico de Florianópolis, a turma vai esperneando cada vez mais.

Um dos esperneios foi uma ação popular na Justiça Federal, proposta pelo presidente da Associação dos Comerciantes Varejistas do Merca-do (que atende pela sonora sigla de Acovemapuf). Deu em nada.

Nesta terça a juiza Marjôrie (com circunflexo e tudo) extinguiu a ação sem julgamento, pelo simples fato de que a União não tem nada a ver com o caso. Nem se trata de defesa de patrimônio público, é defesa de interesses particulares, dos comer-ciantes que estão ocupando os bo-xes e não querem sair.

“DEIXEM-NOS EM PAZ”Na terça-feira, os comerciantes

do mercado fizeram uma passeata até a prefeitura (que fica ali perti-nho), com palavras de ordem do tipo “queremos trabalhar”. Depois, deram um abraço simbólico no mercado porque, claro, não querem nem pensar em entregar aquilo sem luta. Eles temem que, na licitação, percam os espaços para empresas grandes e melhor estruturadas.

HEREDITARIEDADEPor mais simpáticos que sejam os

ocupantes dos boxes do mercado, o fato é que aquilo ali é um bem pú-blico, que não pode passar de pai pra filho como se fosse uma capita-rina hereditária.

As cidades estão cheias desses pequenos donatários vitalícios em praças, mercados e outros espaços. Chegam de mansinho e vão ficando, pro resto da vida.

SÓ SOBRARAM ELES!O outono é uma das melhores estações para usufruir o que Florianópolis tem de melhor. Clima ameno, dias ensolarados, pouco turista... A foto acima foi tirada ontem de manhã e mostra a praia de Jurerê num dia quente, com céu azul e mar iluminado. Vazia. Nos finais de semana ainda aparece mais gente. Mas dia de semana, mesmo com sol e calor, tem mais vendedor de roupa (chinesa?), do que gente aproveitando a paisagem. Uma pena.

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Mudar a capital? Como assim?Desde que me entendo por gente

ouço falar numa idéias recor-rente: mudar a capital de Santa Ca-tarina. É uma idéia tão antiga que levou à construção da ponte Hercílio Luz, na década de 20 do século pas-sado, para acabar com o isolamento físico da ilha capital.

A campanha recente tem, como diferença das anteriores, o discur-so de que a mudança “será melhor para Florianópolis, que se livrará dos malas”.

A criação de Brasília e a mudança da capital do Rio de Janeiro para o planalto central foi um evento úni-co, engendrado e realizado numa conjuntura política e econômica que não se repetiu, mas deixou sequelas.

Uma delas, talvez a principal, é a idéia de que é viável fazer novas cidades e lá instalar capitais. So-nham com isso tanto os corruptos gananciosos, quanto os bem inten-cionados.

Outro exemplo que também pode influenciar essas idéias, é a criação do estado do Tocantins e a cons-trução de Palmas, sua capital. Que teve, por falar nisso alguma parti-cipação catarinense que não cabe agora detalhar. No caso, a capital não existia. Desmembrado de Goi-ás, sem nenhum centro urbano de maior expressão, o novo estado precisou ser literalmente criado do zero. Mas fez a felicidade, a alegria e a fortuna de muita gente.

UMA COISA É UMA COISA…O que poderia acontecer com

Florianópolis, se os deputados e suas famílias desistissem de morar no litoral, se os desembargadores e suas famílias estivessem cansados dos apartamentos à beira mar, se os ocupantes dos milhares de cargos de confiança não quisessem mais ficar longe de seus municípios de origem, submetidos ao vento nordeste, à lu-minosidade marinha e à geografia caprichosa da Ilha de Santa Catarina?

Primeiro, um fantástico rombo nas contas públicas. Porque mesmo tendo como origem alguma cidade ao lado da nova capital, duvi-d-o-dó que o barnabé de qualquer poder se mude de Florianópolis sem receber substancial ajuda de custo, gratifica-

ções de incentivo, auxílio para adap-tação e tícket “saudade do mar”.

Sem falar nas passagens (aére-as, claro, do novíssimo aeroporto da nova capital para o velhíssimo campo de aviação da velha capital), para poder voltar a Florianópolis, onde continuarão a viver as famí-lias. As amigas, os amigos. E as ca-sas de praia.

Depois, outro estouro espetacular nas burras da viúva, porque o metro quadrado de construção e o preço da terra que hoje são praticados no interior, subirão para a estratosfera assim que a mudança for anuncia-da. Quem acha que os preços em Florianópolis são altos, verá que não há limites para a ganância humana. E tudo isso, acrescido naturalmen-te de uma taxa de urgência, fará a felicidade, a alegria e a fortuna de muita gente.

E OUTRA COISA É OUTRA COISA…Há quem tenha fundados temores

sobre o efeito deletério que a econo-mia da ex-capital poderá sofrer, com a brusca queda do poder aquisitivo de seus moradores remanescentes. Hoje a economia da região ainda é muito dependente da generosa irri-gação dos proventos dos servidores públicos. Sem isso, restaria uma ci-dade sustentada apenas por um tu-rismo que tem movimentação signi-ficativa três meses por ano, se tanto.

Particularmente acho que, com a profissionalização dos operadores de turismo e a implantação de algumas obras de infraestrutura, a tendên-cia é que Florianópolis se consolide como destino turístico o ano todo. E, tal como Miami, receba um volume grande de aposentados que querem um lugar tranquilo para usufruir sua boa situação financeira. Isso vai ocorrer independentemente do volu-me de barnabés que disputarem es-paço nas ruas, avenidas e praias.

E quem ingenuamente acha que “tirar a capital de Florianópolis” pode melhorar alguma coisa na ci-dade, precisa repensar suas ilusões: se como sede de governo a cidade não consegue resolver alguns de seus principais problemas, como balneário sem expressão política, terá ainda maiores dificuldades. Es-

tar no litoral e ter belezas naturais não garante nada. Que o digam La-guna, Balneário Camboriú, Itajaí e São Francisco do Sul.

E ao pessoal do interior, que so-nha com alguma melhoria pelo fato da capital ficar mais perto, devemos dizer exatamente a mesma coisa: se a região de Florianópolis não conseguiu resolver seus principais problemas sendo sede do governo por tantos anos, quando será que a região da outra sede de governo conseguirá resolver seus probemas? E preparem-se para a invasão de gente em busca de emprego, com a inevitável criação de cinturões de pobreza que caracteriza as capitais brasileiras.

ESTÃO FALANDO SÉRIO?Outro dia ouvi um dos defensores

da mudança da capital dizer que se-ria bom faze-la porque tirariam os deputados, secretários, desembarga-dores e outros barnabés da poluição, dos engarrafamentos e da violência da Grande Florianópolis. Em que mundo será que vive uma pessoa que pensa dessa forma? Decerto nunca foi a Brasília. E se foi nunca prestou atenção nos pedintes, na violência crescente, no trânsito com-plicado e, principalmente, na corrup-ção que nasce da ocupação de terras e sua utilização e chega ao governo distrital e ao Congresso Nacional.

Quaisquer que sejam os argumen-tos, não consigo ver um só milímetro de seriedade nas várias propostas. Ou é gente que tem terras que quer valorizar, gente que tem ligações com construtoras, gente que tem ne-cessidade de aparecer, gente que não tem noção, gente que tem a perfei-ta noção de como colocar a mão no baleiro e uns poucos ingênuos que embarcaram no bonde, acham que são protagonistas, mas não passam de figuração pitoresca, porque “não inflóem nem contribóem”.

Guardadas as proporções, coisas como mudar a capital e mudar de partido se equivalem: quando o su-jeito está “sem espaço” sempre pen-sa nessas opções, para ir para um “novo mundo” onde, se não puder ser rei, pelo menos seja amigo do rei. Ou do tesoureiro.

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A turma resolveu se unir (final-mente!) para pressionar o gover-no federal, que anda duplicando o trecho sul da BR 101 a passos de cágado manco. O tal Fórum Parlamentar, que reúne deputa-dos catarinenses de todos os par-tidos, levou governador e outras autoridades estaduais para uma reunião em Brasília.

Deram com a cara na porta. Sorte que estavam com narizes de palhaço que, como vocês sa-bem, são acolchoados e macios.

Na reunião não apareceu nem o ministro dos Transportes, nem o diretor do DNIT em Santa Ca-tarina, que poderia explicar a embromation, enrolation e pouca vergonhation que tem ocorrido. Ele “saiu de férias” pouco antes da reunião. E os principais execu-

tivos das empreiteiras contratadas para os trechos em questão tam-bém não deram o ar da graça.

Os ilustres representantes cata-rinenses ouviram o diretor geral do DNIT contar o que estavam cansados de saber: que as obras estão indo devagarzinho e que devem terminar lá por 2014. Se não chover.

Ontem, no começo da tarde, o governador tentou, no tuíter (onde atende pelo nome de @RaimundoColombo), fazer de conta que não estava muito cha-teado com a falta de respeito:

“Sobre a BR 101/Sul: não falo em frustração e sim em espe-rança. Vamos cobrar e fisca-lizar, briga política não cons-trói nada. Bom senso é tudo”

ILUSTRAÇÃO: MOLecAgeM SObRe fOTO dO A.c.MAfALdA/SecOM

Palhaço, eu?DEFASAGEM CRÔNICAAs obras públicas em Santa Ca-

tarina parece que têm a sina de já nascerem defasadas. Quando ficam prontas já não atendem mais à de-manda.

Ou vocês acham que a parte du-plicada da BR dá conta perfeitamen-te do movimento? Claro que não. Já está pedindo uma terceira pista.

Isso acontece também com o novo aeroporto de Florianópolis, cujo projeto, que nem começou a sair do papel, tem uma previsão de movimento inferior ao que o velho aeroporto teve em 2010.

Lá por 2014, quando começar a ficar pronto, já estará ultrapassado.

A “via expressa” que liga a BR 101 ao centro de Florianópolis, po-deria perfeitamente ter oito pistas para dar conta do movimento. Tem quatro. E agora começam a falar em colocar mais duas.

SENSAÇÃO DE ABANDONONos últimos 15 dias os bandi-

dos já incendiaram cinco carros na Grande Florianópolis. Ninguém sabe se é um recado para a polícia, se estão só “zoando” com a cara das autoridades. O fato é que a estrutura da (in)segurança não parece muito preocupada com isso.

O último carro incendiado foi uma kombi, na madrugada de ontem. Testemunhas viram os malacos fa-zendo arruaça e chamaram a polícia. Ali pelas 3h da madrugada. Os caras soltaram rojões, tentaram tocar fogo no carro, mas não deu muito certo. Saíram, voltaram com gasolina e aí o fogo pegou. Uma hora depois de terem começado a festa, os malacos foram embora, tranquilamente. Só então, é claro, apareceram os bom-beiros e a polícia, não necessaria-mente nessa ordem.

Desnecessário dizer que ninguém foi preso. Mas se é um evento que está se repetindo, eles não deveriam ter um pouco mais de pressa?

“DO QUE ADIANTA?”Um dos atentos e preocupados

leitores desta coluna manda um comentário que é bem a síntese do que todos pensamos a respeito:

“De que adianta registar uma ocorrência, se o policial diz que nada pode fazer, a não ser que eu diga quem praticou o delito? E de que adianta chamar a PM no momento em que se vê a prática de um crime, se a mesma demo-ra tanto a aparecer que dá tempo para os bandidos fugirem a pé?”

O PAPEL(ÃO) DA UFSCA Universidade Federal de Santa

Catarina, quando foi criada, na dé-cada de 60, ocupava uma chácara, longe do centro da cidade.

Mas a capital cresceu e hoje, como grande geradora de tráfego e centro de cultura e informação, era de se esperar que a UFSC aju-dasse a cidade a resolver seus pro-blemas.

Só o que se ouve falar, é que a UFSC não quer ceder na negociação para duplicar uma avenida que mar-geia o campus (e que beneficiaria inclusive seus alunos e professores). Ou que está difícil ampliar o aero-porto porque a UFSC tem um terre-no lá perto que não usa, mas não troca por qualquer coisa.

Claro que a administração da universidade enumera várias ra-zões para agir assim. Mas pra quem amarga nos engarrafamentos fica a sensação que a cidade e seus ha-bitantes, que cederam em primeiro lugar o espaço onde a UFSC se insta-lou, agora está sendo inconvenien-te ao exigir, da sua universidade, maior colaboração.

Sem falar no fato que a adminis-tração municipal da capital e a UFSC nunca se uniram para buscar solu-ções tecnicamente adequadas para o planejamento da cidade. Parece que vivem em planetas distantes e não na mesma e apertada ilha.

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Invasão consentida ou estimulada?

QUADRIFÔNICO QUADRILÁTEROFalar, tal como escrever, exige um

certo conhecimento. Alguns, que precisam falar em público, procu-ram estudar, para fazerem-se enten-der melhor.

Mas desde que tivemos um presi-dente que se gabava da falta de estu-do e se orgulhava de falar pelos coto-velos sobre qualquer assunto tendo apenas um curso técnico de torneiro mecânico, parece que virou moda ostentar uma certa ignorância.

Ontem, no rádio, o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, estava indignado, com toda razão, com a falta de obras do governo federal na região em que ele e seu irmão Djal-ma têm suas capitanias municipais.

Nada contra os prefeitos da Gran-de Florianópolis, que começam a se organizar para pressionar pelo anel viário da BR 101 e pela...

Putz, é justamente aí que o cal-do entorna, que a coisa engrossa e que a falta de noção vocabular do alcaide aflora: o Dário (e todos nós), quer que o governo federal amplie a via expressa que liga a BR 101 ao centro de Florianópolis, mas não sabe dizer isso corretamente.

Hoje a via tem duas faixas de rolamento em cada uma das duas pistas. Duas pra ir, duas pra voltar. O que se reivindica é que a rodovia seja duplicada: ganhe mais duas fai-xas em cada direção. Tem quatro, passará a ter oito.

O raciocínio prefeitural, contudo, não alcança essas sutilezas. Para o prefeito, é importante “quadruplicar” a rodovia. E não se enganem, o pre-fei-t-o-Dário não quer 16 faixas (oito em cada pista), que seria o resultado de uma efetiva quadruplicação. Quer apenas quatro faixas em cada pista. Como são quatro, ele acha correto dizer, alto e bom som, que a solução é “quadruplicar”. E tem “jornalistas” que entram na dele.

TEM PM QUE É CEGOPróximo ao heliponto da avenida

Beira Mar Norte (que, por coinci-dência, fica bem em frente ao hotel Majestic) estava estacionada ontem, no começo da tarde, uma vistosa viatura de monitoramento de câme-ras de vigilância. Ou coisa parecida.

O fato é que ali estavam vários policiais e até uma viatura comum, de patrulha. Decerto para aumentar a tal “sensação de segurança”.

Só que diante deles, a poucos metros, nas sinaleiras que ficam em frente, um grupo grande de garotos, com no máximo doze anos, circula-va entre os carros, pedindo dinhei-ro. Alguns ainda paravam à frente, quando o sinal estava fechado, fa-zendo malabarismo com limões.

Na sinaleira ao lado do Shopping Beira Mar, também ali perto, outros

garotos, da mesma idade, também esmolavam entre os carros.

Como a prefeitura tem uma polí-tica de tirar os pedintes dos semá-foros e até oferece um telefone para denunciar os casos, fazia tempo que isso não acontecia.

Aí fiquei imaginando: vai ver que a PM faz de conta que não vê, por-que essa deve ser mais uma tarefa que passaram para a Guarda Muni-cipal. E aí, como a GM não faz nada além de multar carros com tiquete vencido na zona azul, a gurizada to-mou conta dos cruzamento.

Cada vez mais a gente se con-vence que ninguém quer nada com nada na capital dos catarinenses. O problema é sempre responsabilida-de do outro que, lógico, não está ali.

O REI DO FUNILO prefei-t-o-Dário está desenvol-

vendo uma técnica espetacular na construção de viadutos. Além dos

pilares terem sempre o formato de pessoas com os braços levantados (mão ao alto?), tem sempre um afu-nilamento, uma curva ou os dois.

O novíssimo viaduto da Rita Maria, que está em construção ao lado da rodoviária, será em curva. O do trevo da Seta, tem um acesso esquisito no sentido bairro-centro, que se o sujeito descuidar vai parar em cima dos carros da outra pista. O do Itacorubi, lançou a moda do funil viário: começa em duas pistas e termina em uma. E o da Av. Ivo Silveira não funciona direito porque um vereador (!!!) virou a planta e ele foi construído na direção errada.

Mas viaduto, todos sabem, não é feito para resolver problemas viá-rios. Dá uma amenizada e pronto. O essencial do viaduto é permitir que, na campanha eleitoral, sejam mos-trados como “grandes obras”. É só pra isso que os viadutos são feitos. E também pra gastar nosso dinheiro.

A imagem aérea acima, rou-bada do seu Google, mostra um trecho da rodovia que leva ao aeroporto de Florianópolis (e ao estádio da Ressacada). É logo de-pois daquele novíssimo viaduto--funil no assim chamado “Trevo da Seta”. Mas podia ser qualquer outro lugar, onde áreas de preser-vação, como mangues, estão sen-do invadidas pelo casario.

Essa história também é co-mum a vários municípios bra-sileiros: passa uma estrada e a seguir suas margens começam a ser invadidas. Se é mangue, área em que não se deveria edificar nada, ou se é lugar próprio para moradia, não importa. A turma entra de qualquer jeito.

Bom, quer dizer, de qualquer jeito, não. Sempre há alguém in-teressado em que essa ocupação prospere. Seja o candidato ou grupo de candidatos que estão de olho nos títulos eleitorais, se-

jam os grileiros que não têm ver-gonha de vender terras públicas para pobres coitados.

O fato é que a coisa leva anos, mas ninguém nota, vê ou impe-de. Em pouco tempo tem eletri-cidade e água potável. E, claro, chega o carnê do IPTU.

Aí, quando a via precisa ser duplicada, o valor das indeniza-ções quase entorna o caldo. Se alguém contesta e diz que não pode indenizar invasões irregu-lares, surge outro problema: “é preciso dar moradias dignas para essa gente”. E lá vamos nós ir-rigar, com dinheiro público, um golpe que, desde o primeiro ran-cho, levantado às pressas num final de semana, sabemos todos no que vai dar.

Burros somos nós, que conti-nuamos pagando impostos que ninguém sabe para onde vão e votando em espertalhões que se aproveitam da nossa cegueira.

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ACONTECEU EM LAGES (QUE É A NOVA JOINVILLE)

A SAIA JUSTA DO COMANDANTE

POLÍTICA DE “PORTAS ABERTAS”Vai de vento em popa a implanta-

ção da política de “portas abertas” nas prisões, cadeiras e penitenciá-rias de Santa Catarina. Iniciada pelo já saudoso governador LHS, a gente pensava que o governador Raimun-do fosse dar um freio na coisa, mas, pelo jeito, deve estar faltando fluido ou as pastilhas estão gastas.

Ontem fugiram mais uns oito em Florianópolis. O sistema de câmeras de vigilância não está funcionando e a guarita que fica no local mais fácil de fugir, está sempre vazia. Os guardas, que não são to-los, têm medo de ficar ali, por causa da bandidagem.

E bem fazem os PMs. Do jeito que a coisa está, com bomba e tiro pra cima dos pos-tos policiais, ninguém vai ser louco de arriscar a vida só pra impedir que mais alguns fujam. Afinal, já saíram tantos que mais dez, menos dez, não faz diferença.

RIQUINHOS NO PROTESTOTem um prédio na avenida Beira

Mar Norte, em Florianópolis, que é famoso por abrigar uma porção de caixas altas: o La Perle.

Assim de cabeça lembro que moram ou já moraram lá o, Wilfredo Gomes (publicitá-rio do LHS), o Sávio (ex-Fla-mengo/Avaí), o deputado/secretário César Souza Júnior, o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho, o Gastãozinho e o em-presário de futebol, Paulo Tonieto.

Pois bem, um jornal da capital, ontem, publicou um edital do

Cartório Silva Jardim (da Ta-beliã Adelaide da Silva Jar-dim), onde se informa que o condomínio La Perle está

sendo protestado pela Santa Rita Com. e Eng. S.A. e Banco

do Brasil, por não ter pago um tí-tulo de R$ 259,00. Muito estranho, porque isso deve equivaler a um dé-cimo da taxa mensal de condomínio.

A CAPITAL DA (I)MOBILIDADEOntem à tarde boa parte do centro

de Florianópolis ficou sem energia elétrica. Segundo a Celesc o conser-

to demorou mais do que deveria, porque os técnicos e engenhei-ros não conseguiam chegar ao local: ficaram presos nos en-garrafamento sque infernizam

o dia-a-dia da capital. Como é véspera de feriado e não tinha

luz em algumas sinaleiras, a coisa ficou ainda pior.

Esse é um dos efeitos mais gra-ves da falta de solução para os pro-blemas de mobilidade: veículos de emergência também ficam retidos. Imagina deslocar um caminhão de bombeiros em ruas estreitas atulha-das de carros. Ou uma ambulância.

Definitivamente, não dá pra re-solver todos os problemas viários de uma cidade com a complexida-de urbana de Florianópolis, só com alguns viadutinhos meia boca. Ou com lábia de político provinciano.

O novo comandante geral da Polícia Militar, coronel Nazareno Marcinero (na foto ao lado), foi o principal personagem da audi-ência pública que a Câmara de Vereadores de Lages realizou na última terça-feira à noite.

Destacou-se tanto por ser o convidado especial, quanto por ter sido desafiado em público por um companheiro de farda, teori-camente seu subordinado.

O imbroglio foi registrado no blog da Olivete Salmória, que contou a história sob o título “Audiência teve momentos de constrangimento”.

Leiam alguns trechos:“(...) Depois, o presidente

da Câmara, Adilson Appoli-nário, quebra o protocolo para dar espaço ao ex-comandante da PM em Lages, Coronel Pau-lo Della Giustina que por sua vez foi até agressivo com o co-mandante Marcineiro.

Para começar, disse que tí-tulos não garantem um bom trabalho ou trabalho eficien-te. “Entre a teoria e a prática existe uma distância muito grande”. Se referia diretamen-te ao fato de que Marcineiro é um estudioso do assunto, e faz hoje doutorado na área.

Por fim, os praças e solda-dos que lá estavam, inicial-mente pensávamos que para prestigiar o comandante, se mantiveram em silêncio ao final da fala de Marcineiro,

e bateram palmas para Della Giustina.

Talvez não gostaram do que colocou Marcineiro ao apontar os erros detectados na implan-tação da Polícia Comunitária em Lages (...).

Em resposta, o coronel Della Guistina contestou toda a fala de Marceneiro(...).– “É preciso mudar o foco

dessa polícia que temos e de-safio para que atue nas co-munidades”. E para concluir denunciou que:

“Hoje se entrega droga com a viatura e a polícia não sabe. Porque a polícia está distante da comunidade”.

O Milton Barão, outro blo-gueiro local, também comentou a confusão na audiência, dizen-do que Marcinero foi agressivo com um repórter que o questio-nou “sobre o destino das motos, viaturas e dos celulares que a comunidade comprou e entre-gou para os Consegs”. Segundo Barão, o comandante, “além de não responder, partiu para outra linha, a de ataque”.

Sendo Lages a base do governa-dor Colombo, será que não teve uma única boa alma que avisasse o comandante do terreno politica-mente minado em que pisaria?

E ninguém avisou a ele que a polícia comunitária é uma ques-tão delicada e controversa na ci-dade? Será que Colombo não tem amigos e apoiadores em Lages?

A.C

. MA

fALd

A/S

ECO

M

Page 7: donc-abril2011

GOVERNO PINGA-PINGAO governo Raimundo começa

hoje, de ônibus, uma série de visitas às Secretarias do Desenvolvimento Regional (as afamadas SDRs).

Repousa sobre esta iniciativa uma dúvida atroz: as SDR não tinham sido criadas, no reinado de Luiz XV, justamente para aproximar o gover-no do povo e evitar viagens como essa? Não era pra evitar que o pvo tivesse que ir à capital e que a capi-tal tivesse que ir ao povo?

Pois é, parece que não deu mui-to certo e o governo vai ter mesmo que embarcar num ônibus fretado para levar a administração central às regiões e cumprir as tarefas que

as SDR, pelo jeito, não conseguem.Acho que vai demorar para irem

a todas as SDR. Eles vão, esta se-mana, a três delas. Faltam 33.

Aliás, o texto oficial sobre a ex-cursão, distribuído ontem pela Se-cretaria de Comunicação, atribui ao secretário do Planejamento, Fi-lipe Mello (filho do Jorginho, não tem?), uma frase lapidar:

“Este é o momento de colocar as pessoas em primeiro lugar e ul-trapassar os muros das regio-nais até a população”.Como assim? Sua Excelência está

afirmando que as regionais, meni-nas dos olhos do LHS, criaram mu-ros? Hum...

“PAVAN DISSE MERDA”A frase chula acima não foi profe-

rida por algum moleque nem foi la-pidada em jornais malcriados como este nosso querido DIARINHO. Foi nada menos que o Secretário de Co-municação do governo Colombo, jornalista Derly Anunciação, que a divulgou publicamente, ontem.

Disse o secretário no twitter (na internet, portanto), criticando, sem papas na língua, a entrevista do seu ex-chefe, no DC de ontem:

“Amigo Pavan disse merda e co-meteu injustiça hoje no Azevedo/DC. O governo ficou distante da eleição do PSDB e sei de secretario q votou nele”

MontageM coM fotos da neiva daltrozo/secoM (bornhausens) e a.c. Mafalda/secoM (raiMundo)

O ÚLTIMO A SAIR APAGUE A LUZ...Vocês lembram o que o então

presidente Lula disse em Joinvil-le, no dia 13 de setembro de 2010?

“Nós precisamos extirpar [o DEM] da política brasileira”.

Era um discurso de campanha e Lula paz&amor pedia pros elei-tores não votarem no Raimundo, que era de um partido que, segun-do ele, “alimentava o ódio”.

O PT não conseguiu acabar com o DEM nas urnas, Raimundo foi eleito, Ideli comeu poeira. Só que depois, por ironia do destino, o próprio DEM resolveu entrar em processo de extinção. Está sendo implodido diante dos olhos incré-dulos de todos nós.

O DEM, que já foi conhecido como o partido do Jorge Bornhau-sen, parece que vai ser desidrata-do a ponto de ficar apenas como partido dos Maia (Rodrigo e Ce-sar). Isso se ficar.

A debandada é geral e irrestri-ta. Quem não tem mandato, não tem problema nem de prazo nem de rumo. Quem tem mandato só pode ir pro novo partido (PSD). Ou esperar que aconteça alguma coisa espetacular como a) a fusão com o PSDB ou b) a extinção for-mal do DEM.

Quem conhece os humores da política aposta que essas duas opções só vão ocor-rer no dia de São Nunca do ano que vem. A saí-da, portanto, é esta que tantos já utiliza-ram: abraçar-se com o Kassab e vestir a camiseta do novo PSD.

Claro que a turma nascida e criada na UDN gosta de pensar que o PSD do século XXI não tem nada a ver com o PSD daqueles tempos, quando mudar de parti-do era mais grave do que mudar de time.

Lembro das histórias que mi-nhas tias (UDN roxas) contavam: anunciado o resultado das elei-ções elas iam, como se fossem moleques de rua, soltar rojões na frente das casas de seus desafetos pessedistas. E não se tinha notícia de um udenista ter virado pesse-

dista ou vice-versa.Mas os tempos agora são

outros. A começar pelos partidos, que brotaram às centenas e perderam con-sistência: deixaram de ser

ideológicos e nave-gam no lodoso ria-cho da fisiologia. A

filiação partidária obedece à con-veniência do momento. Como Lula cansou de mostrar, os partidos são todos iguais. Fazem as mesmas coisas. Tanto faz estar aqui ou ali.

Ou vocês conseguem ver algu-ma diferença visível entre DEM, PSDB, PSD, PCdoB, PT, PDT, PTB, PP, PSB, PMDB...?

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PÁ DE CAL NAS SDROntem Raimundo Colombo anun-

ciava faceiro, no twitter, que iria se encontrar com mil estudantes, numa escola de Criciúma.

A comitiva governamental está no sul do estado, teoricamente “vi-sitando as SDR”, mas, na prática, estão fazendo aquilo para o que as Secretarias do Desenvolvimento Re-gional foram criadas: se aproximar do eleitor/contribuinte e ouvi-los.

Aos poucos o governo Raimundo vai desmontando os principais íco-nes da gestão LHS, talvez porque se-jam incomodos, talvez porque não funcionem, talvez porque foram mal engendrados.

A “NOVA CELESC”O colega Paulo Alceu registrou a

euforia do presidente da Celesc, An-tonio Gavazzoni, que se reuniu on-tem com investidores de grandes fundos, no Rio de Janeiro:

“É outra empresa. Pode investir teu dinheiro na Celesc.”Taí mais um passo na “desconstru-

ção do governo LHS”, levada a efei-to pelo governo Raimundo. Os mais ranzinzas certamente entenderão, do que disse o presidente da “nova Ce-lesc”, que antes não se poderia, ou não se deveria, investir na empresa.

O SENADO QUE MERECEMOSCalheiros na comissão de ética,

Requião roubando gravador, Sarney defendendo cinicamente o gesto vio-lento e autoritário, Collor na reforma política, TV Senado com mais fun-cionários que a maioria das TVs...

COLOMBO E O PESO DO “FATOR 2012”“Sem um partido com um bom tempo de TV, fundo partidário e com uma fundação de pes-quisa adequada, a oposição está fadada ao fracasso.”

Jorge Bornhausen

Nessa frase aí o kaiser estava comentando a necessidade do PSDB e do DEM se unirem, mas ela resume bem o grande dilema que emperra a movimentação do governador Raimundo. Como vo-cês sabem o PSD, como partido novo, ainda não tem tempo de TV e não recebe repasse do fun-do partidário.

Segundo entendem os espe-cialistas, os deputados que fo-ram para o partido não o fazem ter tempo de TV automaticamen-te. A legislação diz que o tempo de propaganda obrigatória va-ria conforme o número de parla-mentares eleitos pela sigla. Antes de disputar eleição, o partido não tem como eleger ninguém.

O que faria o governador, na eleição de 2012, num partido que não terá tempo de TV nem fundo partidário (necessário, entre ou-tras coisas, para pagar as pesqui-sas)? Para quem não tem manda-to ou só acha que disputará em 2014, isso não tem problema ne-nhum. Mas esse não é o caso do governador e dos parlamentares que o acompanham.

Como entrar numa campanha municipal sem uma estrutura

partidária nos principais municí-pios? O DEM tem até alguns pre-feitos, em municípios importan-tes. Isso não se monta da noite para o dia.

Já a fusão com o PSDB seria o melhor dos mundos: os tempos se somariam, teriam fundo par-tidário e garantiriam o discur-so oposicionista (a neutralidade do PSD é certamente uma pedra no sapato para os Bornhausen). Donde o empenho do kaiser, em convencer os líderes tucanos.

Mas aí o buraco é mais embai-xo: o PSDB está refratário à idéia porque acha que a fusão abrirá a porteira para a debandada de seus quadros que estão loucos para se abraçar aos partidos do governo.

O fato é que a coisa está feia para a oposição: se ficar o bicho pega, se correr o bicho come.

VAI OU NÃO VAI?Colombo, ao que tudo indica,

está fazendo um jogo para a pla-téia, ao ameaçar ir para o PSD. Apostam algumas velhas raposas que, no final, ele tomará a deci-são mais sensata e pragmática: ficará no DEM por enquanto, se não sair a fusão com o PSDB.

E como ele disse várias vezes, tudo será feito de acordo com Jorge Bornhausen. É um movi-mento conjunto, de dois correli-gionários que sempre andaram de mãos dadas e não teriam por que se separar agora.

MolecageM sobre foto do jaMes tavares/secoM