donc-setembro2011

9
O s antigos costumavam dizer que “o papel aceita qualquer coisa”, quando queriam dizer que não se devia confiar demais no que diziam ou mesmo no que es- tava escrito. Quando o governo do estado anuncia, com toda a pompa, que vai oferecer empréstimo a “juro zero”, parece querer dizer que o dinheiro vai e volta sem qualquer remuneração pelo empréstimo. Ora, isso é só uma meia verda- de. O que, em se tratando de di- nheiro público, vale como meia mentira. O Badesc vai cobrar ju- ros sobre o empréstimo. Juros de 3,07%ao mês. O que não é pouca coisa (dá uns 36% ao ano). O que ocorre, nesse programa nascido de uma experiência que Raimundo fez em Lages e que pa- rece que deu eleitoralmente certo, é que o governo do estado paga os juros. Com dinheiro público. Por- tanto, com nosso dinheiro. Vamos fazer um intervalo para abrir aqui enorme parênteses: for- necer dinheiro barato para micro- empresários individuais, peque- nos empreendedores que em ge- ral lutam com dificuldade, é coisa boa. Ainda mais no país dos ju- ros mais altos do mundo. Inicia- tiva elogiável. Ajuda a oxigenar a economia, melhora o nível de vida de uma porção de gente. Não é nisso, portanto, que resi- de a minha crítica. Fecha parên- teses. Para continuar com ditados an- tigos, vamos aproveitar mais um: gato escaldado tem medo de água fria. O governo vai usar os divi- dendos pagos pelo Badesc (uma espécie de retorno do dinheiro pú- blico investido naquela agência de fomento), para pagar os juros de quem se beneficiar com o progra- ma. De tal forma que quem recebe o dinheiro tenha a impressão de que não paga juros. E a nossa experiência históri- ca demonstra que corremos o ris- co do uso eleitoral desse benefí- cio. Há o perigo desse programa servir, para políticos governistas, como uma forma de gratificar ca- bos eleitorais, eleitores, amigos, eleitores em potencial e gente da “base eleitoral”. Tipo assim: “Vai lá, fala com o fulano, diz que fui eu quem man- dou, que ele te consegue um em- préstimo a juro zero”. RAIMUNDO INTERNÉTICO Ninguém dá muita bola pra isso, mas eu sou um sujeito anti- quado e me preocupo: Raimundo Colombo (e seu pessoal de inter- net) gosta que se enrosca de um culto à personalidade. A impes- soalidade dos atos de governo foi pras cucuias. Informações e comentários so- bre atos administrativos (como esse lançamento do programa juro zero) aparecem antes nos si- tes “pessoais” do governador, do que no site oficial de notícias do governo do estado. E o pior: o ma- terial dos sites “pessoais” é produ- zido por servidores da Secretaria de Comunicação. O site www.raimundocolombo. com.br, não raro, “fura” (jargão jornalístico usado quando um ve- ículo publica uma informação an- tes do outro) o site www.sc.gov. br que é o local onde deveriam ser publicadas as informações sobre os atos de governo. E QUEM SE IMPORTA? Então por que não fecham de uma vez a Secretaria de Estado da Comunicação e lotam todo o pes- soal no diretório do PSD que es- tiver produzindo os sites do Rai- mundo e onde são atualizados seus inúmeros perfis nas tais “re- des sociais”? Os fotógrafos do governo (pa- gos por nós) têm suas fotos divul- gadas no “flickr do Raimundo Co- lombo”, depois no “storify do Rai- mundo Colombo”, no “facebook do Raimundo Colombo”, no “twit- ter do Raimundo Colombo” e, na- turalmente, no www.raimundoco- lombo.com.br. Não tem sentido manter por manter uma estrutura oficial do estado, se o governador quer mes- mo é uma estrutura pessoal, que dê, ao seu nome, todo o destaque. A Constituição, ao que parece, não permite essa exposição exa- gerada, propagandística, do nome do governante. Mas quem ainda se importa com o que a lei diz ou deixa de dizer? JURAS QUE O JURO É ZERO? OU ALGUÉM PAGA PARA ZERAR O JURO? Solenidade de lançamento do “Juro Zero”. Foto do A.C.Mafalda/SECOM. Mas no “Storify do Raimundo” aparece como “Photo by Raimundo Colombo”. Por que? “Ora, porque a foto está no flickr do Raimundo e aí sai com o nome dele no Storify”. Entenderam? Governador 2.0 é isso aí! Abaixo, a capa do site “www.raimundocolombo.com.br”

description

bos eleitorais, eleitores, amigos, eleitores em potencial e gente da “base eleitoral”. Tipo assim: “Vai lá, fala com o fulano, diz que fui eu quem man- dou, que ele te consegue um em- préstimo a juro zero”.

Transcript of donc-setembro2011

Page 1: donc-setembro2011

Os antigos costumavam dizer que “o papel aceita qualquer

coisa”, quando queriam dizer que não se devia confiar demais no que diziam ou mesmo no que es-tava escrito.

Quando o governo do estado anuncia, com toda a pompa, que vai oferecer empréstimo a “juro zero”, parece querer dizer que o dinheiro vai e volta sem qualquer remuneração pelo empréstimo.

Ora, isso é só uma meia verda-de. O que, em se tratando de di-nheiro público, vale como meia mentira. O Badesc vai cobrar ju-ros sobre o empréstimo. Juros de 3,07%ao mês. O que não é pouca coisa (dá uns 36% ao ano).

O que ocorre, nesse programa nascido de uma experiência que Raimundo fez em Lages e que pa-rece que deu eleitoralmente certo, é que o governo do estado paga os juros. Com dinheiro público. Por-tanto, com nosso dinheiro.

Vamos fazer um intervalo para abrir aqui enorme parênteses: for-necer dinheiro barato para micro-empresários individuais, peque-nos empreendedores que em ge-ral lutam com dificuldade, é coisa boa. Ainda mais no país dos ju-ros mais altos do mundo. Inicia-tiva elogiável. Ajuda a oxigenar a economia, melhora o nível de vida de uma porção de gente.

Não é nisso, portanto, que resi-de a minha crítica. Fecha parên-teses.

Para continuar com ditados an-tigos, vamos aproveitar mais um: gato escaldado tem medo de água fria. O governo vai usar os divi-dendos pagos pelo Badesc (uma espécie de retorno do dinheiro pú-blico investido naquela agência de fomento), para pagar os juros de quem se beneficiar com o progra-ma. De tal forma que quem recebe o dinheiro tenha a impressão de que não paga juros.

E a nossa experiência históri-ca demonstra que corremos o ris-co do uso eleitoral desse benefí-cio. Há o perigo desse programa servir, para políticos governistas, como uma forma de gratificar ca-

bos eleitorais, eleitores, amigos, eleitores em potencial e gente da “base eleitoral”.

Tipo assim: “Vai lá, fala com o fulano, diz que fui eu quem man-dou, que ele te consegue um em-préstimo a juro zero”.

RAIMUNDO INTERNÉTICONinguém dá muita bola pra

isso, mas eu sou um sujeito anti-quado e me preocupo: Raimundo Colombo (e seu pessoal de inter-net) gosta que se enrosca de um culto à personalidade. A impes-soalidade dos atos de governo foi pras cucuias.

Informações e comentários so-bre atos administrativos (como esse lançamento do programa juro zero) aparecem antes nos si-tes “pessoais” do governador, do que no site oficial de notícias do governo do estado. E o pior: o ma-terial dos sites “pessoais” é produ-

zido por servidores da Secretaria de Comunicação.

O site www.raimundocolombo.com.br, não raro, “fura” (jargão jornalístico usado quando um ve-ículo publica uma informação an-tes do outro) o site www.sc.gov.br que é o local onde deveriam ser publicadas as informações sobre os atos de governo.

E QUEM SE IMPORTA?Então por que não fecham de

uma vez a Secretaria de Estado da Comunicação e lotam todo o pes-soal no diretório do PSD que es-tiver produzindo os sites do Rai-mundo e onde são atualizados seus inúmeros perfis nas tais “re-des sociais”?

Os fotógrafos do governo (pa-gos por nós) têm suas fotos divul-gadas no “flickr do Raimundo Co-lombo”, depois no “storify do Rai-mundo Colombo”, no “facebook do Raimundo Colombo”, no “twit-ter do Raimundo Colombo” e, na-turalmente, no www.raimundoco-lombo.com.br.

Não tem sentido manter por manter uma estrutura oficial do estado, se o governador quer mes-mo é uma estrutura pessoal, que dê, ao seu nome, todo o destaque. A Constituição, ao que parece, não permite essa exposição exa-gerada, propagandística, do nome do governante. Mas quem ainda se importa com o que a lei diz ou deixa de dizer?

JURAS QUE O JURO É ZERO?

OU ALGUÉM PAGA PARA ZERAR

O JURO?

Solenidade de lançamento do “Juro Zero”. Foto do A.C.Mafalda/SECOM. Mas no “Storify do Raimundo” aparece como “Photo by Raimundo Colombo”. Por que? “Ora, porque a foto está no flickr do Raimundo e aí sai com o nome dele no Storify”. Entenderam? Governador 2.0 é isso aí! Abaixo, a capa do site “www.raimundocolombo.com.br”

Page 2: donc-setembro2011

D. PEDRO I, ESSE DESCONHECIDOEstamos em plena “Semana da

Pátria” e amanhã muitos de nós irão passear, graças ao feriado do dia da Independência. Claro que, passado o período escolar onde, de-pendendo da escola, fala-se alguma coisa sobre essas datas, nunca mais a gente para pra pensar sobre isso. Basta-nos o feriado.

Ignorar a História, contudo, é de-feito grave. Foi no passado que to-das as qualidades e defeitos que hoje encontramos em nós mesmos e no País começaram a ser forma-dos. Saber, estudar, conhecer, dis-cutir, debater e aprofundar-se nas nossas origens é fundamental para quem quer que pretenda ser cida-dão de primeira classe.

E a separação do Brasil de Portu-gal é um dos eventos mais impor-tantes, está entre aqueles que deve-ríamos saber de cor. Talvez muitos de nós até saibam que, a 7 de setem-bro, às margens de um riacho, perto de São Paulo, o português D. Pedro, filho do rei de Portugal, disse as fa-

mosas palavras: “Inde-pendência ou Morte!”

E não surpreendeu ninguém, porque des-de aquela sua outra declaração (“diga ao povo que fico!”), no começo do ano, quando desistiu de voltar para Portugal, onde seria D. Pedro V, a turma já achava que ele estava mesmo querendo reinar num império tropical.

Há quem diga que a data que de-veria ser comemorada como verda-deiro dia da Independência é a de 12 de outubro. Não só porque foi o dia em que o príncipe foi aclamado como Pedro I, Imperador do Brasil, mas também porque é só a partir daí que se pode dizer que as amarras fo-ram efetivamente rompidas.

Polêmicas à parte, desde que me conheço por gente, nesta época do ano vozes se levantam dizendo que “não há nada o que comemorar, não somos ainda um país independen-te”. Os países ou forças que nos “es-

cravizam” vão mudando, conforme passa o tempo, mas o discurso con-tinua o mesmo.

Quando era pequeno, não enten-dia por que, em vez de ficar recla-mando, os incomodados não iam à luta, à guerra, não se rebelavam em busca da independência definitiva. Depois aprendi que não dá para le-var o discurso político ao pé da le-tra. Às vezes ele não significa muita coisa. Ou não diz nada.

[Nota do autor: Os dois textos pa-trióticos que ocupam esta página já foram publicados aqui, em 2008. Re-pito-os, com pequenas modificações, porque continuo querendo dizer, nes-ta data, essas mesmas coisas. Então, que me desculpem os leitores assíduos e de boa memória, mas aí estão eles, novamente.]

D. Pedro I e a bandeira do Império do Brasil

A PátRIA, A INDEPENDêNCIA E Eu COm ISSOUm dos conceitos que levei mais

tempo para compreender foi o de Pátria. Porque sempre que a coi-sa começava a ficar clara, entrava um complicador: o governo. E por aqui a gente mistura muito e atribui ao governo o poder de fazer coisas que só os habitantes do País podem, se quiserem, fazer. Ao mesmo tem-po, o governo se mete demais onde não é chamado. Cobra impostos de-mais. Promete o que não está ao seu alcance. Cria expectativas vãs.

Por isso, a data que comemora a independência do nosso País é tão cercada de contradições. No fundo, eu gostaria de comprar fogos, ves-tir-me de verde e amarelo (ou azul e branco, se fosse avaiano) haste-ar, na frente da casa, uma bandeira nacional. Mas algum vizinho há de pensar que faço isso porque apoio Dilma, ou Colombo, ou porque tra-balho no governo, ou porque algu-ma companhia de telecomunicações está me patrocinando. E o jogo da seleção foi ontem e nem justificaria comemorações prolongadas.

Vivemos num belo País, fazemos parte de uma gente admirada no mundo todo. Temos muita coisa boa que o resto do mundo não tem. Do clima, ao idioma único. E, sabe-se lá por que, só vemos, acima e além de tudo, os problemas. E curvamo-nos impotentes diante de todos eles. Como se fossem fatalidades. Espera-mos, como crianças ingênuas e ton-

tas, que governantes resolvam os problemas que só serão resolvidos quando todos levantarmos a cabeça e colocarmos mãos à obra.

Temos, enfim, uma Pátria que po-demos chamar de nossa. Que, mal ou bem, nos abriga. E se examinar-mos um a um os quase 200 países que existem por aí, é um dos poucos onde nos sentimos em casa.

Às vezes temos vontade de mu-dar. Ir embora. Eu sinto isso sempre que somo tudo o que pago, como pessoa física e como microempre-sa, para o governo, todo ano, o ano todo. Ganho pouco e mesmo assim, a cada queda de renda, baixa tam-bém o limite de isenção. Continuo pagando mesmo tendo a renda toda

rasgada, farrapos que mal e mal co-brem-me as vergonhas. E o dinhei-ro recolhido de todos nós não volta, quase não aparece. A gente não vê.

Ainda assim e com tudo isso, aprendi a gostar deste lugar e da maioria das pessoas que o habita. Do jeitão, da forma de tocar a vida. E sinto mesmo, cá dentro, uma vontade de comemorar a data em que passamos a ter identidade na-cional. É o meu País. O nosso velho e querido Brasil.

Na quinta-feira a gente volta a pensar nos problemas e procurar saídas para as dificuldades, mas agora acho que a gente merece um feriado de tranqüila comemoração. Parabéns.

Page 3: donc-setembro2011

O twitter, vocês sabem, é uma fer-ramenta de publicação na inter-

net, dentro daquela ampla área que muitos gostam de chamar de “redes sociais”.

A gente lê o que as pessoas a quem a gen-te “segue” publi-cam. E quem nos “segue” lê o que a gente escreve ali. Eu sigo pouca gente, dentre aqueles que acho que podem dizer alguma coisa interessante. Ou então, porque ocu-pam cargos públicos e, como vivem do nosso dinheiro, gosto de saber o que andam fazendo e dizendo.

Alguns servidores públicos fi-cam muito incomodados quando o que eles dizem no twitter repercute ou quando a gente republica aqui, por exemplo. Acham que “não tem nada a ver”. Mas tem.

Ao publicar uma frase (o twit-ter só permite textos com no má-ximo 140 caracteres) num veículo de acesso público, a pessoa está falando para centenas ou milhares de leitores. É, sempre, uma mani-

festação pública de um servidor público.

E às vezes os servidores públicos dizem coisas sem importância e às

vezes falam sem pensar. Gosto de provocá-los. Como nesse diálo-

go que transcrevo a seguir e que ocorreu antes do feriado.

C o m e ç o u quando eu pu-bliquei a se-

guinte tuitada, a propósito da deter-minação da Gered da capital, de “re-por” aulas no feriado:

Aluno da rede estadual só se fer-ra. Para punir os professores, go-verno Raimundo manda dar au-las no feriado de 7 de setembro. Sobra pra quem?A diretora de imprensa da Secre-

taria de Comunicação, Cláudia de Conto, resolveu entrar na conversa, com o que ela certamente pretendia que fosse uma defesa do governo Raimundo contra esse Valente bo-quirroto e suas insinuações:

@cvalente ah tá, então não é p repor aula? É p deixar perder o conteúdo?

O twitter tem esse problema sério: não dá para argumentar, pra falar muito. É tudo na base do pá-pum. Aí resolvi explicar o que achei que já estava explicado:

@claudiadeconto não, não é pra deixar perder o conteúdo. Mas, se possível, conduzir o processo com um mínimo de habilidade.Nos feriados, pelo menos na

Grande Florianópolis, os horários dos ônibus são reduzidos e as em-presas não aceitam passe escolar. Pais e professores estavam indigna-dos porque teriam todos grandes di-ficuldades para ir à escola. Profes-sores que têm filhos pequenos te-riam problema adicional: as creches e escolas municipais não funcionam nos feriados.

E todas essas decisões são anun-ciadas com uma falta completa de sensibilidade e um enorme despre-zo pelas situações particulares de quem não dispõe de recursos abun-dantes. Sobra sempre pra quem?

Sem falar no fato de que muitas escolas estaduais estão caindo aos pedaços e, com a chuva de ontem, as aulas no feriado podem ter sido um desastre completo.

E por falar em feriado...

$ A PRINCIPAL QUALIDADE DE UM POLÍTICO $Nossa jovem e frágil democracia

já definiu com clareza qual é a prin-cipal qualidade que um político ou candidato a político pode (e, de preferência deve) ter: o dinheiro, a fortuna, a bufunfa, a grana.

Quanto mais rico o su-jeito, mais chances de ser bajulado pelos partidos políticos, convidado para fazer parte de chapas elei-torais e, principalmente, de ser eleito.

Nisso o eleitor (comu-mente chamado de “povo”) se apro-xima romanticamente dos cartolas dos partidos: todos adoram um can-didato rico. Muito rico. Quanto mais rico, melhor.

Isso ocorre em qualquer muni-cípio, em todos os estados, no país todo: o sujeito mais rico da cidade é o sonho de consumo de todos os par-tidos. Não importa, em muitos casos, a origem da fortuna. Importa a dispo-sição generosa de participar da “luta” do partido para eleger uma bancada que consiga negociar um volume ex-pressivo de cargos públicos. E, natu-ralmente, cargos com possibilidade

de gerenciar verbas vultosas, apetito-sas, que farão a alegria de todos os amigos do esquema.

PERSONA NON GRATA?O prefeito de Florianó-

polis, Dário Berger, e seu irmão, prefeito de São José, Djalma Berger (na foto), são muito ricos. Tão ricos que o Djalma está processando o colu-nista Paulo Alceu porque ele comentou o aumen-to do patrimônio do en-

tão deputado, detectado nas decla-rações enviadas ao TRE-SC. Ora, só os muito ricos se incomodam com esse tipo de coisa.

Pois bem, o Dário sempre entrou nos partidos que quis quando quis. Está agora no PMDB, mas todos sa-bem que assim que achar que não tem “espaço”, muda pra outro. Ou cria mais um.

Por isso, todo mundo estranhou quando o PMDB de São José re-cusou a entrada do Djalma Berger (que está caindo fora do PSB, onde perdeu “espaço”). Naturalmente, como ele é rico (ou peixe grande,

como preferirem) e amigo do Lula, a ida para o PMDB estava sendo ar-ticulada “por cima”, na diretoria. E a turma do diretório municipal se re-belou. Não quer o Djalma de candi-dato a prefeito pelo PMDB.

Um sujeito muito rico, num dire-tório municipal, arrebenta com as chances de candidatura de todos os que, ao longo dos anos, vinham ten-tando ganhar “espaço”.

Em Florianópolis o veterano Edi-son Andrino, ex-prefeito, era candi-datíssimo do PMDB em 2004. Aí o riquíssimo Dário Berger, que tinha sido eleito duas vezes prefeito de São José pelo PFL, resolveu, sob o patrocínio do LHS, mudar-se para a capital e para o PMDB, para conti-nuar sua “carreira” de prefeito. An-drino se ferrou.

O PMDB de São José não quer passar por situação semelhante com a chegada, às vésperas da eleição, de um milionário. Mas é claro que um humilde diretório municipal, que luta para tentar eleger um pre-feito (e de tempos em tempos é sa-botado pelo diretório estadual), tem tudo para ser novamente colocado de escanteio. O tempo dirá.

Page 4: donc-setembro2011

Uma lição nosespertalhões imorais

Uma recomendação simples, mas que pode ajudar-nos a mostrar aos espertalhões que não somos tão tolos quanto eles pensam que somos: anotem com cuidado o nome de todos aqueles comerciantes que “enfiaram a faca”, elevando os preços durante a enchente. Teve gente que mais que dobrou o preço da água, por exemplo, pra tentar ganhar uns trocados com a desgraça alheia. E agora, quando as coisas forem se normalizando, mantenham distância. E avisem para os amigos também passarem longe. O espertinho vai sentir, no bolso, a dor de uma saudade, se um número grande de clientes parar de aparecer para comprar as coisinhas de todo dia ou de toda semana.

LÁ VÊM OS SALVADORES DA PÁTRIA COM SUAS ROUPINHAS DE DOMINGO

Toda vez que acontece um desastre que deixa um monte de gente no prejuízo, é a mesma coisa: na hora ou logo depois,

Cansaço...Tá difícil engatar a quarta e ga-

nhar alguma velocidade em mais esta semana. Pra todo lado que a gente olhe é tanta mesmi-ce, tanta mediocridade, tanta fal-ta de respeito pelas coisa mais simples, que o desânimo sobe em ondas, como uma enchente de água suja, irrefreável, inescapá-vel, engolindo a mobília que du-rante tantos anos fomos acumu-lando na alma, encharcando de lodo fétido toda aquela roupinha cuidadosamente dobrada que es-tava nas gavetas do camiseiro sentimental, que é o coração.

Olho para minhas mãos e vejo ali, como numa miragem de filme B, as cicatrizes dos tantos murros em ponta de faca. Do que adian-ta tanto desgaste? A que leva tan-to berro ecoando no vazio? Pra que tentar falar com surdos que não

entendem nossos gestos e viram a cara, cegos diante das letrinhas que insistimos todos os dias em co-locar diante de suas bocas mudas?

Pra que desperdiçar as últimas reservas de fosfato com iro-

nias, sátiras, tiradas de humor (do bom, do mau e do horrível), se cada vez menos há cultura e ilustração nas cabeças coroadas? Eles simplesmente não entendem a língua que falamos. Não alcan-çam a mordacidade da crítica, não compreendem o que queremos di-zer. E não fazem questão de saber, porque lhes falta, como à cucara-cha da música folclórica, las dos patitas de atrás. Ou marijuana a que fumar. Vocês escolhem.

Ontem mesmo fiquei horas sen-tado à frente deste teclado, com a luminosidade da tela gritando na

minha retina, sem sucesso. Co-meçava a falar nisso, ia um pou-co adiante, desistia. Pérolas aos porcos. Depois tentava comen-tar aquilo, escrevia um parágrafo, deixava as mãos caírem como fo-lhas mortas e parava. Não adian-ta, os que entendem não precisam que lhes diga, os que precisam, não entendem. E, finalmente, pre-ocupado porque lá adiante, em alguma ponta desta sinistra rede abstrata e real poderia ter alguma leitora, algum leitor, esperando coisas novas, recomeçava.

Mas não tem jeito. O céu azul esplendoroso, o sol brilhante e o vento gentil, que deveriam en-cher-me de ânimo, alegria e for-ça, têm efeito contrário. E desisto. Desligo a máquina sem conseguir escrever nada do que gostaria.

Talvez na quinta-feira.

MAIS UMA DAQUELAS CRONIQUINHAS ENJOADINHAS DO TIO CESAR

tem muito sabichão com soluções definitivas para todos os males. Aquilo nunca mais vai se repetir. Aí o tempo passa, a memória esmaece e nem metade do prometido se realiza. E quando menos se espera (ou mesmo quando se espera), acontece tudo

de novo. Do mesmo jeito. Porque pouca coisa foi feita pra mudar o que é preciso mudar.

Desastre “natUral” não DeVia ser natUral

Minha amiga Márcia Estela da Costa, de Balneário, nos idos de janeiro de 2009, me mandou uns comentários sobre enchentes (ela sobrenadou em algumas). E entre algumas outras considerações encharcadas de bom senso e sabedoria, disse ela:“A maioria das pessoas não tem opções. São Pedro e os fenômenos naturais não podem servir de cortina de fumaça (água? barro?) para a omissão generalizada das autoridades em planejamento urbano e ecologia. Depois que tivermos saneamento básico, que a construção civil dos ricos e dos pobres seja bem fiscalizada e ordenada, que existam praças verdes (não moeda verde), etc, aceitarei a parte realmente natural dos fenômenos. Não podemos achar natural ver pessoas morrer em casas desmoronadas. “

Mo

leca

gen

s so

bre

foto

s d

o M

ina

Ma

r Jú

nio

r

Vocês, que são espertos, me contem: o que que o Raimundo tinha nas costas, que fez a alegria do prefeito Jandir e do Fabrício da SDR?

Raimundo na onda do DIARINHO

Page 5: donc-setembro2011

Essas fotos aí foram tiradas na terça-feira, no Palácio da Agro-nômica, em Florianópolis, du-

rante a solenidade em que o Minis-tro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (o da esquerda) entregou ao governador Raimundo Colombo, os cartões recheados de dinheiro, que devem ser usados para pagar des-pesas da Defesa Civil nos municípios que ficaram debaixo dágua na sema-na da Independência de 2011.

Tudo muito certo, muito justo, o governo federal tem mesmo que coçar o bolso. E se o cartão agiliza a liberação e facilita o controle, para-béns para todos.

O que não pega bem, contudo, porém, todavia, é comemorar a en-trega dos cartões com grande ale-gria. Como se fosse uma conquista esportiva importante. Será que es-queceram por que esses cartões vie-ram para SC?

Esses cartões estão sendo entre-gues porque houve uma calamidade. Uns 99 municípios tiveram prejuízos, umas 981 mil pessoas sofreram com a desgraça, alguns milhares perde-ram tudo, ou quase tudo.

Por isso que eu, do fundo da mi-nha ranzinzice, pergunto lá em cima em letras bem grandes e repito aqui: qual é o motivo de toda essa alegria?

GREVE NA CAIXA POSTALMais uma greve no serviço pú-

blico. Desta vez a paralisação é nos Correios. As coisas por lá já anda-vam meio lentas e parece que ago-ra pararam de vez. Vejam só: sou de um tempo em que não dava pra con-fiar nos Correios. As cartas, quando chegavam, levavam meses. E tam-bém sou de um tempo em que se passou a confiar nos Correios. Era rápido, eficiente, seguro.

Mas, ao que parece, tanto um tem-po quanto outro já passou. Quando vimos a cena do diretor dos Correios embolsando R$ 3 mil, no espetácu-lo que deu origem à divulgação pela TV do escândado do mensalão do PT, deveríamos ter desconfiado que a coisa ia desandar.

Os servidores públicos têm todo o direito do mundo de espernear quando o sapato aperta ou quando o cobertor está curto. E nós, usuá-rios dos serviços públicos, também temos todo o direito de chiar. Afi-nal, não somos nós que decidimos sobre os salários deles ou qualquer outra coisa. Mas somos nós que aca-bamos prejudicados. Sempre. Pelos dois lados.

Ou será que estão nos punindo porque colocamos, nos governos, gente que não sabe administrar?

UM ELOGIO PRO GOVERNO!A turma do governo me acha “o

fim do mundo” porque só vejo de-feito e nunca elogio. Como eu “mor-ro de preocupação” com o que os puxassacos acham ou deixam de achar, permito-me elogiar uma ação de governo: os filmetes que a Secre-taria da Saúde de SC colocou na TV, com o médico Dráuzio Varela.

A linguagem é adequada, a men-sagem é precisa e oportuna e o mé-dico que apresenta é um craque da comunicação. Muito bom.

A criação e produção é da Fórmu-la Comunicação, agência que aten-de a Secretaria. E embora eu tenha visto como novidade, é uma cam-panha que foi criada em 2008, para ajudar o pessoal do Vale do Itajaí, depois daquela grande enchente.

Como a veiculação, da primeira vez, foi concentrada na região atin-gida, eu, distraído morador de Floria-nópolis, ainda não tinha visto. Desta vez a divulgação foi maior porque fo-ram atingidos mais municípios.

Na época, como agora, o Dráuzio não cobrou nada, porque entendeu a importância daquelas mensagens. Que, espero, tenham cumprido seu objetivo, de fazer com que os atin-gidos pela enchente tomem alguns cuidados básicos e simples.

OPOSIÇÃO? NEM PENSAR!Ontontem os deputados e a pre-

feitada do PP (partido dos Amin, que fazia oposição ao governo LHS, lembram?) abraçaram-se com o go-verno Raimundo e dançaran de ros-tinho colado durante jantar no Palá-cio da Agronômica.

Dos 55 prefeitos, 48 estavam lá e o presidente Joares Ponticelli saiu da festinha derramando-se em elogios ao seu mais novo amigo de infância.

Aposto que vocês não estão en-tendendo como é que o PP deixou de ser oposição se o governo, apa-rentemente, continua nas mãos dos mesmos, né? Pois então, eu também não sei direito o que aconteceu, pra turma mudar de idéia tão rápido.

TÁ CHOVENDO MINISTRO!O ministério da Dilma parece um

pé de fruta madura sacudido pela molecada: cai um monte. No caso dos ministros, há quem diga que estão caindo não de maduros, mas de podres mesmo. O fato é que, em poucos meses, o chão da esplanada dos ministérios ficou coalhado de ministro caído.

E os maledicentes de plantão nem apostam mais se o ministro vai cair. A única dúvida é quando. Se será cedo ou... tarde demais.

Foto

s: J

am

es t

ava

res/

seCo

m

TÃO COMEMORANDO O QUE MESMO?

Page 6: donc-setembro2011

Não tem jeito. O sistema penal brasileiro é uma verdadeira

“casa de passagem”. Claro que a ra-pidez com que o sujeito passa depen-de bastante da grana que tem para pagar escritórios competentes de ad-vocacia. Mas mesmo quem não tem lá muito recurso acaba ficando pou-co tempo preso. Não importa o tama-nho ou a atrocidade do crime.

A corrupção é um dos crimes mais graves que se pode cometer. Porque envolve dinheiro público. Empobre-ce o Estado, ao encarecer as obras públicas e dificultar o bom uso dos impostos. Só facínoras da pior espé-cie metem a mão no suado dinheiri-nho que a gente paga pro governo.

Pois mesmo esses acabam tendo vida mansa, deitados no berço es-plêndido da nossa mania de não pu-nir os criminosos.

SARNEY, O TODO-PODEROSOO Superior Tribunal de Justiça

(STJ) acaba de mandar um recado claro para todos os criminosos ricos e poderosos: “fiquem tranquilos, a gente sempre acha uma brecha para livrar a cara de vocês”.

Pelo menos foi assim que entendi a decisão de anular completamente todas as provas obtidas pela Polícia Federal contra o filho negociante do coronel imortal José Sarney.

Tá certo que é preciso obedecer al-guns ritos processuais e assegurar o direito que todos temos, a uma in-

vestigação dentro da lei. Mas se es-sas escutas e outras provas mostram indícios de crime, que se mande apu-rar direito, antes de dar um tapa na cara de cada um dos cidadãos hones-tos deste país, ao inocentar por de-creto o imperador Sarney e seu clã.

PORTAS ABERTASMesmo na área da chinelagem,

basta dar uma olhada no noticiário para ver que, quando a polícia con-segue prender algum bandidinho, lá vem a ficha corrida: “ele tem várias passagens pela polícia”. E por que está na rua assaltando e matando em vez de estar preso? Aí depende: tanto pode ser porque “progrediu” para o regime aberto, ou porque aproveitou uma saída para “visitar a família”, ou porque a cadeia esta-va superlotada e não tinham como mantê-lo preso, ou porque aprovei-tou a política de “portas abertas” do governo catarinense, e fugiu.

Sim, porque os poucos que são presos, ainda desfrutam, em SC, de uma enorme facilidade adicional: é sempre possível fugir, a qualquer momento, sem grandes dificuldades e até com alguma ajuda da falta de pessoal, de interesse ou de compe-tência das “autoridades”.

Sem falar na questão do Estatuto do Menor, uma boa idéia que aca-bou sendo implantada pela metade

e aos poucos vem se transformando, aos olhos da parcela mal informada da sociedade, numa aberração, cau-sa maior de todos os males.

Não se deve tratar jovens infrato-res como criminosos comuns. Mas adolescentes criminosos reincidentes deveriam ser tratados como o que de fato são. Não se trata mais de um jo-vem infrator. Trata-se, em muitos ca-sos, de um idiota deformado que foi criado e treinado por adultos crimi-nosos, para fazer o serviço sujo, va-lendo-se da imunidade etária.

CAUSA PRÓPRIAA cada crime bárbaro noticia-

do, assanham-se as “autoridades” e os “parlamentares”, querendo fa-zer novas leis. Mas ninguém quer, de fato, ter muito trabalho: reformar (melhor seria revolucionar) os códi-gos de processo, eliminar os recur-sos infinitos, rever as progressões generosas e cegas, construir peni-tenciárias adequadas, dá trabalho.

E ainda correm o risco, os políti-cos (que andam cada vez mais de-linquindo), de serem condenados sem possibilidade de ficar recorren-do durante 200 anos. Ou irem para a cadeia e ter que ficar lá. Melhor dei-xar quieto. Portanto, cada vez mais, a melhor expressão para definir nos-so sistema penal, é mesmo a “pas-sagem”. Preso hoje, na rua amanhã.

Itajaí em 2004

Itajaí em 2009

MÁQUINA DO TEMPOImagino que todos vocês conhe-

çam essas fantásticas ferramentas de descobrir o nosso mundo e de viajar de graça, que são o Google Maps (maps.google.com) e o Goo-gle Earth (earth.google.com). O primeiro está disponível em qual-quer “browser”, o programa com que vocês acessam a internet (Ex-plorer, Firefox, Chrome, Safari, etc). O segundo, precisa “baixar” e instalar no computador, para só então poder “navegar”.

Pois bem, o Google Earth, entre outras novidades, agora nos dá a possibilidade de ver a mesma re-gião em fotos mais antigas. Nas vistas de Itajaí, por exemplo, tem--se duas opções: a “atual”, que é de 2009, e a anterior, que é de 2004. Em outras cidades e regiões, há mais opções e fotos até mais antigas. Dá pra ver se o “progres-so” está fazendo bem ou mal.

Page 7: donc-setembro2011

Uma das coisas mais divertidas de uma viagem é o planejamento dessa viagem. OK, provavelmente sou a única pessoa no mundo que pensa assim. Mas o fato é que os dias que antecedem uma viagem (percurso grande, claro, que me leve a lugares ainda não visitados) são tão cheios de emoção quanto a viagem propriamente dita.

Antigamente era legal, mas não tão divertido. Há 20 anos, o que a gente tinha para planejar uma via-gem? Mapas, enciclopédias, livros de viagem. E uma internet disca-da com meia dúzia de sites toscos.

Daquelas enciclopédias gran-des, que às vezes alguém conse-guia vender para os pais da gen-te, o volume mais manuseado e cobiçado, pelo menos lá em casa, era o Atlas. Com suas centenas de possibilidades de “viagem”.

Mas hoje a coisa é outra. É tudo muito diferente. Dá pra ler o que centenas de pessoas que estive-ram naquele hotel dizem a respei-to. Dá pra saber os preços e se tem vaga. Dá pra ver a fachada do ho-tel e como é a rua onde ele está.

Em uma tarde é possível plane-jar um roteiro completo, num país onde nunca estivemos, sabendo até o preço dos pedágios que se-rão pagos. A distância e a quilo-metragem entre cada ponto. A si-tuação das estradas e o trajeto mais curto. E, dentro das cidades, quanto tempo se leva indo a pé. O horário dos ônibus urbanos, a fre-quencia e onde são os pontos.

Bom, essa parte dos horários de ônibus, bondes e trens online não tem em todos os países. No Brasil não tem em todas as cidades. Mas a gente quer ir pra longe, pra luga-res desconhecidos.

Pois bem. Em vários locais do mundo, como Roma e Veneza, por exemplo, o Google Maps tem um recurso fantástico: fotos aére-as em 45º. Pra acionar é só ir até a cidade e aproximar (aumentar o zoom, saca?). Dá pra passear pela cidade como se estivesse num he-licóptero a pouca altura. E onde quiser, é só usar aquele bonequi-nho amarelo e ver a vista do nível da rua (“street view”). Exatamen-te como se estivesse passando, a pé ou de carro, naquela rua.

Nos sites das empresas aéreas e no amadeus.net, dá pra ver os ho-rários de todos os aviões, os pre-ços e até a distribuição dos assen-tos nas aeronaves, para escolher o melhor lugar.

No fim, a gente acaba viajan-do sem sair de casa e sem gastar um tostão. Tira as dúvidas sobre as principais atrações, descobre como são as cidades e locais onde foram filmadas as cenas dos nos-

sos filmes favoritos. E, se tiver um pouco de paciência, pode dar a volta ao mundo, de aeroporto em aeroporto.

Com tudo isso, viajar ficou muito mais interessante. Nin-guém precisa sair de casa sem sa-ber nada sobre o lugar que vai vi-sitar. Descobre a história, as pe-culiaridades, o que tem de bom pra ver. E tudo o mais que ajuda a tornar a viagem um passeio re-almente inesquecível.

E nem precisa ficar com medo de que toda essa investigação pre-liminar estrague a surpresa ou o mistério de chegar a um local onde não estivemos antes: ir pes-soalmente a um lugar, por mais que a gente tenha estudado a res-peito, é sempre uma experiên-cia incomparável. Insuperável. E é muito enriquecedora, por mais que o preço das passagens nos faça supor que sairemos mais po-bres da aventura.

VIAJE DE GRAÇA SEM SAIR DO LUGAR

Praça San Marco, em Veneza, com a vista 45º do Google Maps

PICADINHO DE QUINTACASAN, A PRIVADA

Não consigo entender por que tanto “auê” com a manobrinha bási-ca do governo Raimundo, para ven-der umas ações da Casan.

Muitas empresas públicas têm só-cios privados. E muitas empresas que eram públicas, passaram para o controle privado.Tanto no governo FHC, que os petistas adoram cha-mar de “privatista”, quanto no go-verno Lula, que os petistas adoram.

Claro que essa história que a ad-ministração privada é sempre mais competente, ágil e honesta que a pú-blica, é lenda. Às vezes é o contrário. Mas as lendas têm lá sua força e deve ter muita gente achando que é auto-mático: se privatiza, melhora.

A LEI ATRAPALHA? É SÓ MUDAR!Achei muito “criativo” o governo,

nesse caso. Alguns parágrafos das leis em vigor estavam no caminho da negociação da Casan. Aí, o que o governo fez? Mudou a lei.

Não é genial? Simples e direto. Achar que a lei foi feita para ser cumprida é coisa de gente pobre. De gente sem uma Augusta Alesc nas mãos. De gente sem imaginação.

Não é a primeira vez que isso ocorre e nem será a última. E podem ter certeza que toda vez que um go-verno estiver com alguma dificulda-de legal, tentará remove-la. Não à dificuldade, mas à lei que estiver no caminho. Afinal, como diz o ditado, “o poder corrompe”.

DÁRIO SAFOU-SE DE OUTRAEsse título aí é daqueles que nun-

ca perde a atualidade. O prefeito per-pétuo e itinerante de São José, Flo-rianópolis e no futuro, quem sabe, de Palhoça, Biguaçu e Bom Retiro, está sempre se livrando de alguma.

Não encontraram provas de cri-me eleitoral no carro oficial usado por ele, que foi apreendido com pro-paganda eleitoral e dinheiro. Nem vamos discutir o mérito da coisa. O fato é que, para quem gosta ou precisa “safar-se” de suspeitas de vez em quando, este é o país dos sonhos. Além da justiça ser lenta e protelatória, o eleitor tem memória minúscula e coração generoso. É só partir para a re-re-reeleição.

Page 8: donc-setembro2011

SÓ DÁ PEIXE PEQUENOJá notaram que em todos os es-

cândalos envolvendo ministros e outros servidores públicos, nunca se mexe com peixe grande? Nem se vai muito fundo em nada?

Caem ministros, é verdade, mas nada acontece com quem realmen-te tem o controle daquela “vaga”. Como, por exemplo, o presidente do Senado, José Sarney. Vários de seus indicados de confiança já se envol-veram em malfeitos. E ele continua indicando ministros, tirando minis-tros, faz, desfaz, tem a família en-volvida em inúmeras suspeitas, mas ninguém toca nele. Imagina se o Jornal Nacional vai dizer alguma coisa comprometedora do eterno presidente?

Os esquemas de arrecadação de dinheiro não contabilizado do PT criaram embaraços para muita gen-te. Mas nada aconteceu com os prin-cipais chefes. Lula escapou incólu-me de todas as suspeitas que enla-mearam quase todos os seus princi-pais auxiliares.

Da mesma forma, este é um país só de corruptos: ninguém fala nos corruptores. São grandes empreitei-ras e empresas de diversos ramos, que atuaram em sucessivos gover-nos, sempre encontrando formas de conseguir mais facilmente seus ob-

jetivos. E basta olhar os jornais, ao longo dos anos, para ver quem esta-va nos governos, de Sarney pra cá, fazendo bons negócios. Grandes ne-gócios que sempre supõem uma aju-dinha desinteressada de quem está no centro do poder. Com a chave do cofre e a caneta na mão.

Outro dia alguém que acompanha de perto a faxina que não é faxina, me contou que um dos que fora pre-so numa das operações da Polícia Federal, tinha movimentado, em di-reção a seu próprio bolso, algumas centenas de milhões de reais em “comissões”. Mas só está sendo in-vestigado por causa de um um caso pequeno, de poucos milhões. Mes-mo se tiver que devolver (e prova-velmente não terá), é café pequeno. Não causará o menor abalo.

Por isso, não se incomodou em ser preso, até porque já foi solto, respon-de em liberdade e, demitido do servi-ço público, passará a dar consultoria. Expertise não lhe falta. E nem clien-tes de todos os tamanhos.

SE SERVE DE CONSOLO...Passei, há poucos dias, pelo aero-

porto do Galeão, a caminho da Itá-lia. Achei o aeroporto meio abando-nado, mal cuidado. Aí, quando che-guei ao Fiumicino, em Roma, levei um susto. Encontrei um troço igual ou pior ao Galeão. E o trem que leva do aeroporto ao centro da cidade, também está bem caidaço. Taí, não dá mais pra achar que tudo que tem no estrangeiro é melhor que o que temos por aqui...

Seus problemas serão todos resolvidos com essa ponte de “apenas” R$ 1 bilhão

O governador Raimundo entrou com tudo na grande e confusa ma-çaroca da (i)mobilidade urbana de Florianópolis. Como vocês sabem, a capital e seus municípios vizinhos não têm um projeto claro de integra-ção viária e de transporte coletivo.

Em Florianópolis, cuja mudan-ça do Plano Diretor parece ter caído em algum buraco negro, as soluções para os problemas dessa área são definidas sobre a perna, com medi-das literalmente “nas coxas”, geral-mente baseadas no método científi-co da tentativa e erro.

Agora, com a chegada do gover-

no do estado e toda a sua faminta e sedenta “entourage”, a capital conti-nua sem um plano consistente para resolver seus problemas de (i)mobi-lidade. Mas ganhou um projeto ma-ravilhoso, de R$ 1 bilhão, que priva-tizará valiosas áreas a serem, mais uma vez, roubadas ao já escasso mar da baía norte.

Fazer a quarta ponte e ligá-la à BR 101, sem que isso faça parte de uma série de outros melhoramentos, pro-vavelmente só transferirá os engarra-famentos de lugar. Mais ou menos a mesma lógica dos viadutos do Dário. Mas quem se importa com isso?

Uma obra gigantesca, que no seu pré-projeto está estimada em R$ 1 bilhão, poderá terminar custando uns R$ 3 bilhões ou mais. E isso é dinheiro para ninguém botar defei-to. Dinheiro que dá e sobra para re-solver todos os problemas. De todo mundo. Exceto, talvez, de quem precisa de transporte público rápi-do, eficiente e barato, para movi-mentar-se em Florianópolis e re-gião. Mas esse pessoal, que já está acostumado a sofrer, não vai achar ruim se depois de tudo a coisa só fi-car um pouco melhor pra quem usa carro individual.

Na extrema esquerda o Berger de São José, na extrema direita o Berger de Florianópolis. De pé, o grande ídolo de todos eles: o governador de 1 bilhão de reais.

A.C

. MA

FALD

A/S

ECO

M

Page 9: donc-setembro2011

Todo mundo que vai escrever sobre uma viagem ao exterior, procura falar das coisas boas

que viu, viveu, comeu e bebeu. É natural que procurem mostrar as coisas diferentes daqui e é até com-preensível que se exibam um pouco.

Tem também aqueles ranzinzas que vivem fazendo comparações onde o Brasil e os brasileiros sempre levam a pior. Acham que tudo o que encontram no exterior é melhor do que o que encontram por aqui.

E isso não é verdade. Tem coisas ruins (e às vezes até bem ruins) em todos os países, em todos os cantos do mundo. E tem coisas boas (e às vezes muito boas) no Brasil, e em especial em Santa Catarina.

Como não sou nem de me exibir (hehehe) nem ranzinza (quáquá), farei algo diferente: vou falar mal (só um pouquinho), do estrangeiro.

LIXO DESCENTRALIZADOO sul da Itália tem lugares mui-

to bonitos. A península amalfita-na (também conhecida como costa amalfitana), por exemplo, é um lito-ral caprichosamente recortado com montanhas altas, água do mar azul turquesa, vilarejos encarapitados e pequenos portos fotogênicos.

Acessível por uma estradinha es-treita e cheia de curvas (mas asfalta-da e sem buracos), tem hotéis e res-taurantes da melhor qualidade.

Só que, como é possível ver nessa foto lá do alto, tirada na saída de um dos vários túneis da estrada, o pes-soal vai depositando lixo em qual-quer lugar. Nesse canto aí tem col-chões, um monitor de computador, um pedaço de estante.

A coisa chamou minha atenção porque não era um caso isolado. Tinha lixo jogado em muitos locais. Parece que a turma estaciona em qualquer cantinho da estrada e dei-xa seu lixo. Na outra foto, de um lugar mais adiante, também está lá o lixo. Só que, se a gente olhar para o outro lado, vê as paisagens mag-níficas da região, como essa vista da cidade de Vietri al Mare, famosa por suas cerâmicas.

Tive a impressão, em uns pou-cos dias circulando por algumas estradas das regiões do sul da Itá-lia (Campania, Basilicata, Calábria e Puglia), que em vez de terem gran-des lixões, como no Brasil, onde o lixo de todo mundo é reunido, eles colocam um pouquinho em cada canto. Descentralizando o lixo.

Claro que esse nem é um grande problema. Não chega a comprome-ter a beleza e o charme das demais atrações da região. Mas fiz questão

LÁ, COMO CÁ, UMA FAXINA SEMPRE AJUDA

de trazer pra cá, para que quem não costuma viajar ao exterior fique sa-bendo que por lá também tem coi-sas que podem ser melhoradas. E que por aqui, tem muita coisa que já está bem legal.

O LADO PAULISTANO DE NAPOLINapoli é uma espécie de porta

de entrada do sul da Itália. Cidade grande, movimentada, tem uma re-gião, perto da estação ferroviária, que lembra São Paulo nos seus pio-res momentos. Trânsito caótico, su-jeira, gente aplicando golpes, ambu-lantes... lembrei, ao passar por ali, de trechos do centrão paulistano.

E senti-me provavelmente como um turista estrangeiro deve se sen-tir ao ter que enfrentar, no Brasil, aquele mar de gente em ruas com calçadas esburacadas, carros de-mais, calor demais e uma sensação concreta de insegurança que nos faz andar com a mochila na barri-ga, em vez de nas costas.

Mas, assim como em São Paulo,

Rio e todas as grandes cidades do mundo, Napoli tem bairros “de pri-meiro mundo” onde, quem tem di-nheiro, pode passear, comer e beber muito bem.

PÉ NA ESTRADADesde o último dia 19 estou, com

dois velhos amigos, na Itália. Fui acompanhá-los em uma visita ao vilarejo de onde seus antepassados saíram, quando emigraram para o Brasil há mais de um século.

Os dois, Lanzetta e Medaglia, são jornalistas. Os dois nasceram no Rio Grande do Sul e se conheceram em Florianópolis, para onde ambos “emigraram” na década de 70. E eu os conheci nessa época.

Os avós e bisavós de ambos eram, por coincidência, da mesma peque-na cidade: Morano Calabro, no sul da Itália. E agora resolveram fazer a viagem tantas vezes adiada. Vim junto porque não ia perder a oportu-nidade. Viajar é comigo mesmo. Ar-rivederci. Até terça.

Fotos: Palhares Press