DW Debate 2015/04/10: Ermelinda Liberato - Tribalismo e seu Impacto no Desenvolvimento Social
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Transcript of DW Debate 2015/04/10: Ermelinda Liberato - Tribalismo e seu Impacto no Desenvolvimento Social
Raça, Miscigenação, conotações e desracialização da mente
Ermelinda Liberato
Luanda, 10 de Abril de 2015
É uma questão de raça?
“O termo raça é, por definição, um termo em trânsito entre o émico e o ético, o analítico e o nativo, o erudito e o popular, o nacional e o transnacional” (Sansone, 2014: 409)
passou a ser usada para classificar biológica e psicologicamente os indivíduos que apresentem determinadas características consoante os diversos pontos geográficos do mundo de onde são oriundos e que, consequentemente, pertencem a “nações” e a “culturas” diversificadas” (Pinto, 2013: 97-98).
“o branco é uma raça que evolui e o negro é uma raça estagnada” (Pinto, 2013: 431) o que quer dizer que, “quanto mais negróide o fenótipo, mas baixa seria esta posição” (Sansone, 2014: 4014).
“Raça é uma construção social e histórica” (Sansone, 2014: 408), uma “mania intelectual” (Barbeitos, 2011: 152)
Ou de Etnia?
Unidade social fechada e duradoura
A sua origem reside na acção colonizadora
Goza de uma cultura homogénea, fala uma língua comum, constituindo também uma unidade política
A etnologia cultural passou a utilizar o termo para melhor estudar a diferenciação interna dos povos componentes de uma tribo
Etnia...
Europa: sentido de nacionalidade, como unidade política, cultural e territorial
África: culturas ancestrais em relação às sociedades modernas
José Pedro de Oliveira Martins
Exemplar de uma intelligentsia portuguesa
Representative man de Portugal do século XIX
Homem branco - missão “civilizar” os negros
Homem negro – bárbaros, “seres biologicamente inferiores”, antropologicamente inferior, não raro próximo do antropoide e bem pouco digno do nome de homem” (Martins, 1953 [1880]: 254), com capacidades limitadas de aprendizagem
Sem rosto próprio, uma massa natural e anónima, reduzida à condição de mão-de-obra inteiramente dependente do dominador
António Enes
ressalta a relação civilizado/primitivo,
Negros - “vadios”, “ociosos” “ignorantes e irresponsáveis”, seres inferiores para quem nem a “instrução [seria] meio essencial de aperfeiçoamento” (1946 [1899]: 33), pelo que só com o trabalho e sob vigilância dos “filhos apurados das raças policiadas” se conseguiria “aperfeiçoar a personalidade do africano bronco” (1946 [1899]: 26).
Norton de Matos
classificou a população angolana em cinco categorias:
“i) os selvagens com os seus costumes próprios,
ii) os europeus que se embruteceram em contato com os nativos e adotaram costumes e hábitos correspondentes,
iii) os nativos assimilados mas sem ocupação útil, os conhecidos “calcinhas”,
iv) os nativos que adotaram costumes e hábitos civilizados, integrando-se perfeitamente na vida social,
v) os europeus que formavam o grupo orientador por excelência, promotores da elevação cultural, económica e social da província”
Brancos vs Brancos
Essa separação racial vai criar diferenças mesmo entre os brancos, separando os brancos naturais de Angola, considerados inferiores, dos brancos naturais da metrópole, vistos como agentes da civilização. Os brancos oriundos da metrópole tinham acesso privilegiado a bens e serviços bem como às funções na administração pública já “os brancos propriamente angolanos – os naturais do país – eram tidos como brancos de segunda e etiquetados pela administração colonial de euro-africanos” (Pimenta, 2008: 198), sujeitos às ordens dos agentes da civilização.
Mestiços
Mestiçagem: ideia ligada ao colonialismo
Até o fim do século XVI, a cor da pele não era critério de exclusão
A partir do século XVII o negro e o mulato são progressivamente associados à impureza, ilegitimidade e desonra à medida que se dissemina a utilização de mão-de-obra africana nas colónias portuguesas (Daflon, 2014: 313)
Mulatos
termo derivado de mula, o animal híbrido, entre o cavalo e o burro, que não se reproduz, o que já denota uma ideia de degenerescência em relação ao produto da união de dois seres humanos vistos como biologicamente diferentes entre si (Pinto, 2013: 81)
Cabrito
é aquele que é quase branco (como o pai, o bode) mas não o chega a ser na perfeição – uma animalização perjorativa, se não do homem europeu (o bode), pelo menos da mulher africana (a cabra). (Pinto, 2013: 83)
Cafuzo
deriva do verbo kufunzaka (desbotar, perder a cor), significando, portanto, literalmente “aquele (a) que perdeu a cor. (Pinto, 2013: 83)
Assimilados
Saber ler, escrever e falar português, ter meios suficientes para sustentar a família, ter bom comportamento, ter a necessária educação e hábitos individuais e sociais, de modo a poder viver sob a lei pública e privada de Portugal e fazer um requerimento à autoridade administrativa da área que o levará ao governador do distrito para ser aprovado (Mazula, 1995: 97).
Africano desenraizado que cortou os laços com a cultura africana para doptar os hábitos e costumes europeus
um tipo intermédio entre os brancos e os negros
“Vamos Descobrir Angola”
Final da década de 1940
Movimento literário-cultural – nasce uma literatura de combate pelo seu povo
“Angolanizar Angola”, ou seja, conhecer Angola
Objectivo: conhecer Angola: reencontro do homem angolano consigo mesmo
Brancos, negros, mestiços
António Jacinto, Agostinho Neto, Viriato da cruz, Mário António…
Cultura
“Cultura envolve, pois, à partida, uma ideia de socialização ou de relacionamento dos indivíduos entre si “ (Pinto, 2013: 59)
Cultura angolana = mosaico Cultural = resultado da mistura entre africanos, europeus e mais tarde mestiços = congrega 2 “mundos” distintos
Desracializar a mente. Como?
Contínuas conotações ligadas à cor da pele
“assimilados”
“os brancos estão de regresso”
Aprendeu com o branco”
Herança cultural + Meio social precário = prolongamento das teses darwinistas, desta feita no sentido inverso
Raça – utilizada como desculpa para os nossos falhanços, a nossa própria incapacidade para fazer melhor do que aqueles que nos antecederam
Desenvolvimento Social
“ O Desenvolvimento Social é portanto entendido como o processo de garantia de condições sociais mínimas, bem como de promoção da dimensão social do bem-estar, por parte dos responsáveis dos vários países e organizações internacionais” (Amaro, 2004: 15)
Desenvolvimento Social, surgiu em 1995, na Conferência de Copenhaga, organizada pela O.N.U. para discutir e inventariar os problemas sociais do desenvolvimento. Visava também estabelecer alguns compromissos entre os países-membros, para se garantir níveis mínimos de bem-estar social, fixando-se limiares para essas garantias (ao nível, por exemplo, da educação, da saúde e dos valores de um salário mínimo, de um rendimento mínimo ou de uma pensão mínima)