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E, FORAM FELIZES PARA SEMPRE! INOVAÇÕES: O FRUTO DE VIAGEM MENTAL, DE RELAÇÃO MADURA OU SUPERFICIAL? Francisco Oliveira MAchado (UFPE) [email protected] O presente trabalho é um “Ensaio Teórico”, que tenta integrar algumas questões referentes às competências dos indivíduos que empreendem inovações; como ocorre o gerenciamento do conhecimento, particularmente em comunidades de prática, e commo essas podem ser expandidas para as redes, que em suas interações, dos seus atores, trocam informações e geram conhecimento. O intuito do trabalho é desenvolver melhor a compreensão de como a inovação surge e pode ser gerenciada. Partindo-se da suposição de que o aprendizado e a experiência que são compartilhados por indivíduos é o alicerce de um ambiente propício à inovação, a questão que norteou o delinear da pesquisa foi: Como a inovação pode surgir na interação de indivíduos (atuantes em comunidades de práticas e/ou em redes)? Nesse sentido, alicerçamos em Moura (2009a) que destaca o fato de que há o ciclo de aprendizagem é composto por ciclos / estágios: (1) o das Competências; (2) o das Redes; e (3) os da Comunidades de Prática. Esses foram os três construtos teóricos revisados. Independente do construto teórico, pode-se concluir que a inovação é um fato cíclico. Ao fazer as pessoas refletirem, a novidade resulta em uma nova composição para o estoque de conhecimento do indivíduo, que o reformula diferente dos demais. Na interação, as diferenças interpretativas são postas pra fora. Há o diálogo, a novidade surge e o ciclo é novamente alimentado. Assim, percebe-se que todos os três construtos - competência, comunidade de prática, redes sociais - apresentados no ensaio, só conseguem ser desenvolvidos quando há uma conjuntura propícia. Dessa forma, conclui-se que a cultura é fator determinante para esse desenvolvimento. Ela é fruto de compartilhamento de linguagem comum entre os envolvidos em uma rede ou comunidade, é o cerne do desenvolvimento de inovações de qualquer tipo e modo. Por fim, a contribuição científica do trabalho é, portanto, limitada ao seu contexto, porém, essa limitação torna uma oportunidade de desenvolvimento de estudos teórico-empírico no futuro, ou até mesmo, em despertar da crítica à concepção deste estudo em si. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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E, FORAM FELIZES PARA SEMPRE!

INOVAÇÕES: O FRUTO DE VIAGEM

MENTAL, DE RELAÇÃO MADURA OU

SUPERFICIAL?

Francisco Oliveira MAchado (UFPE)

[email protected]

O presente trabalho é um “Ensaio Teórico”, que tenta integrar algumas

questões referentes às competências dos indivíduos que empreendem

inovações; como ocorre o gerenciamento do conhecimento,

particularmente em comunidades de prática, e commo essas podem ser

expandidas para as redes, que em suas interações, dos seus atores, trocam

informações e geram conhecimento. O intuito do trabalho é desenvolver

melhor a compreensão de como a inovação surge e pode ser gerenciada.

Partindo-se da suposição de que o aprendizado e a experiência que são

compartilhados por indivíduos é o alicerce de um ambiente propício à

inovação, a questão que norteou o delinear da pesquisa foi: Como a

inovação pode surgir na interação de indivíduos (atuantes em

comunidades de práticas e/ou em redes)? Nesse sentido, alicerçamos em

Moura (2009a) que destaca o fato de que há o ciclo de aprendizagem é

composto por ciclos / estágios: (1) o das Competências; (2) o das Redes; e

(3) os da Comunidades de Prática. Esses foram os três construtos teóricos

revisados. Independente do construto teórico, pode-se concluir que a

inovação é um fato cíclico. Ao fazer as pessoas refletirem, a novidade

resulta em uma nova composição para o estoque de conhecimento do

indivíduo, que o reformula diferente dos demais. Na interação, as

diferenças interpretativas são postas pra fora. Há o diálogo, a novidade

surge e o ciclo é novamente alimentado. Assim, percebe-se que todos os

três construtos - competência, comunidade de prática, redes sociais -

apresentados no ensaio, só conseguem ser desenvolvidos quando há uma

conjuntura propícia. Dessa forma, conclui-se que a cultura é fator

determinante para esse desenvolvimento. Ela é fruto de compartilhamento

de linguagem comum entre os envolvidos em uma rede ou comunidade, é o

cerne do desenvolvimento de inovações de qualquer tipo e modo. Por fim,

a contribuição científica do trabalho é, portanto, limitada ao seu contexto,

porém, essa limitação torna uma oportunidade de desenvolvimento de

estudos teórico-empírico no futuro, ou até mesmo, em despertar da crítica

à concepção deste estudo em si.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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Palavras-chaves: Competências; Redes; Comunidades de Prática;

Inovação

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1. Introdução

As organizações, em um contexto que se impõe como globalizado, pode se estruturar em redes,

que têm como um dos fatores de confluência principal o relacionamento entre seus componentes.

As relações estabelecidas, ao longo do tempo, irão culminar em uma forma de cultura própria,

desenvolvida e compartilhada pelos sujeitos envolvidos. Forma-se uma comunidade ao redor de

uma temática comum. O relacionamento, para ser duradouro, deve ter por base o estabelecimento

da confiança e do comprometimento dos envolvidos, que é alicerçado na disseminação e

compartilhamento de informação e de conhecimento, gerando desse modo, identidade, cultura,

senso de pertença comum. Assim sendo, temos evidenciado três, no momento, construtos que

merecem atenção: 1) o indivíduo, em suas competências que são cambiadas no relacionamento;

2) o grupo / a comunidade, com uma cultura alicerçada nas práticas comuns, corriqueiras do dia a

dia; e 3) a rede, o conglomerado de grupos, de pessoas, orbitando em torno de um conhecimento,

de uma questão que exerce força centrípeta neles. Essa força, às vezes, inesperadamente, age de

forma a centrifugar seus membros, em busca de novas identidades.

Dessa forma, o presente trabalho é um “Ensaio Teórico”. O estudo tenta integrar algumas

questões referentes às competências dos indivíduos que empreendem inovações; como ocorre o

gerenciamento do conhecimento, particularmente em comunidades de prática, e como essas

podem ser expandidas para as redes, que em suas interações, dos seus atores, trocam informações

e geram conhecimento. O intuito do trabalho é desenvolver melhor a compreensão de como a

inovação surge e como ela pode ser gerenciada. Normalmente, pode-se supor que o aprendizado e

a experiência que são compartilhados por indivíduos é o alicerce de um ambiente propício à

inovação. Portanto, a questão que norteou o delinear da pesquisa foi: Como a inovação pode

surgir na interação de indivíduos (atuantes em comunidades de práticas e/ou em redes)?

Nesse sentido, destaca-se o fato de que a aprendizagem ocorre no indivíduo. Ela parte do ser

humano para se disseminar no grupo e na sociedade que o cerca. Contudo, o indivíduo sofre

influência para aprender daqueles que lhe são próximos e da cultura estabelecida, no convívio

social, no caso do escopo do trabalho, a cultura organizacional (CROSSAN et al. 1999).

Também, é influenciada pelos relacionamentos estabelecidos pelos indivíduos nas redes por eles

inseridos. Nesse sentido, Moura (2009a), embasado em Easterby-Smith et al. (1998) que

defendem o fato de que aprender é um ato individual, destaca o fato de que há o ciclo de

aprendizagem é composto por ciclos / estágios: (1) o da competências; (2) o das redes; e (3) os da

Comunidades de Prática.

Assim sendo, o objetivo do trabalho é aprofundar as bases teóricas das áreas: (1) competências e

seu desenvolvimento pelo indivíduo; (2) comunidades de prática em suas considerações para o

compartilhamento de informações, e; (3) redes, para a compreensão de como surge o processo de

inovação. Nesse sentido, saber como a aprendizagem, visão e o conhecimento individual podem

ocorrer e ser influenciada devido à inserção do indivíduo em comunidades de prática e/ou em

redes sociais, é fator determinante para se ter inovações. Inovações estas que são adotadas pelas

pessoas que mantêm alguma proximidade entre si. Assim, os três construtos apontados por Moura

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(2009a) serão aprofundados no presente trabalho.

O Ensaio Teórico possui como justificativa de sua execução os seguintes aspectos: Primeiro, pelo

fato de que o tema Inovação ser relevante ao entendimento e adoção pela gestão de organizações,

em particular no entendimento de como elas podem surgir, para que a gestão atue controlando

seu surgimento e desenvolvimento. Segundo, apesar de a academia brasileira de administração e

engenharia de produção possuir estudos sobre o tema, sobre a gestão de inovação, de geração de

conhecimento e de inovações, o enfoque despendido no presente estudo volta-se às relações

estabelecidas pelas pessoas, em particular nas redes e comunidades. Terceiro, pelo fato de o

presente ensaio teórico servir de base para estudos futuros no doutoramento do autor e em outros.

O presente estudo, então, contém, além dessa seção, a (1) Introdução, que apresenta os motivos

iniciais que despertaram o interesse no desenvolvimento do trabalho; (2) Considerações

Metodológicas do Trabalho; (3) Referencial Teórico; (4) Discussões – Algumas Considerações a

enfocar para futuras reflexões; (5) Considerações Finais; (6) Referências Bibliográficas.

2. Considerações Metodológicas do Trabalho

Podemos dizer que o presente estudo é qualitativo. A categorização foi feita tendo por base

características da investigação qualitativa apontadas por Godoy (1995), Bogdan; Biklen (1994),

Merriam (1998). No entanto, destaca-se o fato de que, entre os pontos postos por estes autores, os

pesquisadores qualitativos interessam-se mais pelo processo da pesquisa do que simplesmente

pelos seus resultados ou produto. Esse é o intuito principal do presente artigo, aperfeiçoar o

entendimento de determinados contextos (processos) que possibilitam o surgimento da Inovação.

Outra forma de categorizar metodologicamente o trabalho é a encontrada nas definições, quanto

ao tipo de pesquisa, presentes em Vergara (1997) e Gil (1999). Embasados nesses autores,

podemos classificar o presente trabalho quanto à sua finalidade como exploratório, devido ao fato

de seu intuito ter uma visão geral para a realidade teórica que se delineia. Também, podemos

assim classificar, por ser um estudo de caráter inicial. Quanto aos meios de investigação, pesquisa

bibliográfica, onde livros e artigos que englobam os temas em estudo foram considerados. Assim,

podemos classificar que os dados coletados são secundários, oriundos de fontes diversas de

informação, pois foram confeccionados para sanar problemas distintos que não necessariamente

diretamente ligados à temática ou ao problema que o pesquisador está tentando clarificar

(MALHOTRA, 2006). Dessa forma, esses dados consomem menos recursos para a sua obtenção.

Todavia, os mesmos são uma fonte valiosa para identificar o problema de pesquisa e,

conseqüentemente, melhor defini-lo e fazer uma melhor abordagem da situação. Contudo,

Malhotra (2006) atenta para o fato de se ter cautela nas análises desses dados (secundários) haja

vista o fato de que os mesmos foram coletados para fins diversos do que a pesquisa que está se

desenhando.

Porém, uma pesquisa de caráter qualitativo nada mais é do que um “guarda-chuva conceitual”

que abarca amplas formas de investigação para auxiliar o pesquisador no entendimento dos

significados do fenômeno social, sem interferir o mínimo sobre eles (MERRIAM, 1998). Dentre

essas formas de investigar, caminhos de condução da pesquisa qualitativa, insere-se a pesquisa

qualitativa básica na qual o ensaio teórico pode ser classificado. Também, pode-se denominar o

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estudo como a pesquisa bibliográfica (GIL, 1999). A pesquisa qualitativa básica, segundo

Merriam (1998), inclui descrições, interpretação e entendimentos. Tenta, portanto, identificar

padrões recorrentes na forma dos temas ou categorias de estudo.

No entanto, ao se tratar de um corpus teórico, o problema da representatividade se faz presente,

contudo, não é possível determinar como o corpus será determinado. Nesse sentido, surge o

conceito de que o corpus estará equilibrado quando o esforço de acrescentar mais conteúdo

acrescenta pouca variância dialética. O problema é determinar o quanto esse acréscimo será de

fato um acréscimo (BAUER; AARTS, 2002). Dessa forma, a “seleção arbitrária” de material

teórico na qual o pesquisador irá alicerçar o seu trabalho está presente e será relatado no

referencial teórico do estudo. Também, a questão do corpus pode ser interpretada como

categorias a serem entendidas, daí a delimitação arbitrária de quem está conduzindo a pesquisa,

numa tentativa de o pesquisador compreender melhor o problema/fenômeno que busca o

entendimento. Assim, a necessidade de entrar no referencial teórico surge, pois os conteúdos

categorizados nele são inerentes à classificação de corpus de Bauer; Aarts (2002).

3. Referencial Teórico

3.1. Iniciando com as Competências Individuais– quais questões considerar?

Sendo as pessoas o principal recurso da organização, elas são as responsáveis, devido ao que

sabem, pelo desenvolvimento das vantagens competitivas da organização. (cf. BARNEY, 1991).

Portanto, quais competências as pessoas devem possuir deve ser o cerne da questão a ser

desenvolvida pela organização para competir no mercado em que atua. Assim sendo, destaca-se a

relação do conceito de competência com a aprendizagem no contexto de transformação do mundo

de trabalho: “A competência não se limita, portanto, a um estoque de conhecimentos teóricos e

empíricos detidos pelo indivíduo, nem se encontra encapsulada na tarefa” (FLEURY; FLEURY,

2001, p. 19). Também, a competência do indivíduo é concebida como características que

envolvem diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos, que são influenciados

pela capacitação, educação, experiência, questões demográficas do indivíduo e sua historia

familiar (PAIVA Jr. et al., 2007).

Tendo por base o entendimento de competência em sua obra, Zarafian (2001) propõe um modelo,

tentando esclarecer melhor o que vem a sê-la. Nesse sentido, aborda competência relacionando-a

a três questionamentos do que ela significa: 1) Saber? – relaciona-se a tomada de iniciativa e de

responsabilidade do indivíduo; 2) Saber fazer? – relaciona-se a inteligência prática das situações,

na qual os conhecimentos adquiridos se apóiam e se transformam ao longo do tempo; 3) Saber

ser? – relaciona-se à capacidade de mobilizar atores em torno das mesmas situações vivenciadas,

com co-responsabilidade e partilha do que está em jogo.

Dessa forma, temos que a competência do indivíduo é fator que vai impactar no processo do

desenvolvimento de inovações. Zarafian (2001) atenta ao fato de se ter a organização com seus

funcionários trabalhando tendo por alicerce a competência, ao invés das descrições de cargos,

para culminar com flexibilidade e permeabilidade da pessoa nas funções requeridas. Desse modo,

os três tipos de saberes mencionados passam a ser exercitados. Competência passa a ser vista

como um conjunto de aprendizado adquirido e compartilhado pelo indivíduo em

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grupo/organização na qual esteja inserido. Nesse sentido, Fleury; Fleury (2001) defendem que as

organizações aprendem não só quando elaboram novos mapas cognitivos, mas também quando

recuperam conhecimentos acumulados, que produzirão inovações.

As empresas constantemente enfrentam o dilema de como priorizar o desenvolvimento de suas

competências. Crossan et al. (1999) mencionam existir uma tensão ao abordar os desafios e

conseqüências das escolhas (implícitas e explícitas) entre inovação (idéia de busca, procura,

pesquisa, experimentação, descoberta) e exploração (refinar, escolher, selecionar, implementar,

executar) e sua relação com a aprendizagem organizacional. Contudo, o aprendizado ocorre,

diversas vezes, como uma resposta a problemas e dificuldades, ocorrendo de forma incremental

(emergente), através de um processo de questionamento, identificação de falhas/erros,

modificação de visões, crenças e pressupostos iniciais e solução da lacuna entre as metas

desejadas e aquilo que foi realizado. Dessa forma, as inovações que surgem desse processo e são

adotadas, ocorrem de modo incremental também.

Dessa forma, as organizações não aprendem simplesmente por aprender, portanto, por que as

organizações precisam aprender? O processo de aprendizagem tem um propósito para as

organizações. A construção de competências é um deles, que vai se desenvolvendo no indivíduo

e passa a ser adotada pela organização (FLEURY; FLEURY, 2001). Na institucionalização

dessas práticas inovadoras, caso a organização assim, proceda, é que pode haver um ambiente

propício para a inovação.

3.2. As Comunidades de Prática: para troca de informação e geração de conhecimento

Quando os indivíduos participam de uma comunidade, interagindo e trocando conhecimento,

comumente de modo informal e, até de diversas organizações, podemos dizer que se trata de

“comunidades de prática” (WENGER, 1998). Trata-se de grupos de pessoas que informalmente

conectados, que compartilham expertise e paixão em um empreendimento gratificante. Essas

pessoas podem seguir uma agenda ou não, podendo se conectar pessoalmente ou por

comunicação eletrônica (WENGER; SNYDER, 1999).

Mas, afinal o que vem a ser uma comunidade de prática (CdP)? Wenger (2006) alega que são

comunidades formadas por pessoas engajadas em processos de aprendizado coletivo, com um

domínio compartilhado de esforço humano. Define a comunidade de prática como sendo grupos

de pessoas que compartilham uma responsabilidade ou uma paixão por algo que estão fazendo.

Nesse compartilhamento, aprendem como fazer melhor por meio da interação entre os membros,

que ocorre de forma regular. Para esse autor, então, três aspectos devem ser trabalhados em

conjunto ao se delimitar uma comunidade como sendo de prática: 1) o domínio: significa que as

pessoas inseridas têm uma identidade definida com o compartilhamento do domínio, e este seria a

competência coletiva compartilhada e recriada por todos envolvidos, não importando o

reconhecimento de pessoas externas; 2) a comunidade: por terem interesse no domínio, as

pessoas se engajam em comunidade (para ajudar umas as outras e disseminar informações), que é

entendida como pautada nas interações estabelecidas; e 3) a prática em si: seus membros não

apenas realizam interações por meio da relação estabelecida, eles compartilham dúvidas e

aprendizados sobre uma prática que executam em comum.

Diferentemente de comunidade de interesse ou geográfica, que não compartilham suas práticas, a

CdP é definida ao longo de três dimensões: 1) renegociação de seus significados pelos seus

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membros; 2) engajamento mútuo de seus membros; 3) compartilhamento dos recursos (rotinas,

artefatos, vocabulário, etc), que seus membros desenvolveram ao longo do tempo. Trata-se de um

sistema auto-organizado na qual seus membros refletem sobre o que consideram importante

(WENGER, 1998). Portanto, é diferente de: 1) unidades funcionais ou de negócio, devido ao fato

de que seus membros são oriundos da identidade e da contribuição com a prática em questão; 2)

times, pois o enfoque é despendido ao aprendizado e não na tarefa; e 3) de redes, por não ter o

senso de relações mas sim de identidade como comunidade (WENGER, 1998).Vale ressaltar o

fato de que na inserção de um indivíduo em rede, a questão identitária se faz determinante,

embora, a questão relacional seja mais enfatizada.

As comunidades de práticas (CdPs) surgem naturalmente, porém não quer dizer que as

organizações possam incentivar o seu desenvolvimento. Nesse sentido, a comunidade deve

atentar para o conhecimento que vem de fora, que perpassa essa delimitação. Portanto, para uma

comunidade de prática sobreviver dentro de uma organização, a liderança interna é fator

importante, em especial ao conduzir a participação e envolvimento de todos (WENGER, 1998).

Ao se tornarem membros de uma CdP, os novatos passam a ser seres ativos nela. A sua

identidade passa também a ser definida pela relação entre os membros da comunidade, porém,

ressalta-se o fato de que as pessoas também definem as relações (LAVE; WENGER, 1991). O

processo pelo qual os indivíduos passam a pertencer a uma CdP é conhecido como participação

periférica legítima. Essa participação está relacionada ao desenvolvimento da inserção e

envolvimento dos novatos em uma CdP. Um indivíduo atinge a participação plena quando tem

acesso a uma grande quantidade de atividades, aos veteranos e a outros membros da comunidade,

acessando plenamente informações e recursos (LAVE; WENGER, 1991).

No entanto, nem tudo são rosas no jardim conceitual de comunidades de prática. Na revisão da

literatura de Roberts (2006) está presente como principais críticas ao conceito de comunidades de

prática, por não ser ainda de pronto resolvido e esclarecido, os seguintes aspectos: Poder;

Confiança e Predisposição. Poder, de modo geral, pode ser definido como a capacidade ou

habilidade de alguém adquirir algo por influencia, força ou controle, no caso na construção

desses significados da comunidade. Nem que seja em um processo de influência puro e simples.

Confiança é a base para que haja a troca entre os envolvidos na relação de conhecimento tácito,

especialmente. Confiança é relacionada com crenças ao invés de comportamento na ação, bem

como na percepção da espera de um comportamento específico de um outro indivíduo. A

confiança presente no relacionamento entre indivíduos indica a habilidade de compartilhar um

entendimento mútuo em uma sociedade compartilhada em um contexto cultural. Esse contexto

pode ser estimulador ou inibidor da confiança. Predisposição está relacionada ao hábito que é

desenvolvido por entre os membros de uma comunidade e que é resistente a ser modificado.

Dessa forma, pode-se dizer que ao longo do tempo, as comunidades desenvolvem preferências e

predisposições que irão influenciar a sua habilidade de criar e absorver novos conhecimentos.

Contudo, destaca-se o fato de as CdPs poderem ser excelentes para desenvolvimento de

conhecimento incremental e restritivas para a inovação radical.

3.3. As Redes (Sociais) surgem apenas para ser um emaranhado de atores? Então...

O ser humano, ao viver em sociedade, estabelece interações dos mais diversos tipos. “Nas nossas

interações diárias, usamos e construímos redes de relacionamentos. Uma rede é um conjunto de

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pessoas ou empresas (denominadas, tecnicamente, nós) interligadas por meio de relações dos

mais diversos tipos (laços)” (LAZZARINI, 2008, p. 2). Currás (2009) desenvolveu o

entendimento de redes como sendo um construto desenvolvido por meio da consolidação do

entendimento da sociedade da informação. Menciona o fato de que a informação, enquanto

construto humano, sempre existiu, no entanto, devido à conjuntura atual, tornou-se um aspecto de

importante entendimento haja vista o fato de que é base para a geração de conhecimento, que é o

alicerce da competitividade.

Ao entendimento do que vem a ser redes, Currás (2009) aponta alguns conceitos. Alega que para

a constituição de uma rede, é necessário o estabelecimento do “nós”, que também podem se

denominar “objetos”, por serem elementos que fazem referência às pessoas que constituem a rede

em consideração. A união dos “nós” uns com os outros é denominada por “vínculo” ou “aresta”.

Desse entendimento, é possível ser visualizada a “estrutura” da rede, na qual deve ser coerente

com a “função” para a qual foi concebida.

“Assim, „estruturas‟, „função‟ e „finalidade‟ são questões imprescindíveis quando se estuda uma

rede e levam, em seus conceitos, para o „morfismo‟ característico de cada rede” (CURRÁS,

2009, p. 63 – tradução nossa). A autora destaca o fato de que a estruturação de uma rede

embasada em uma estrutura e em sua função a confere uma dinâmica concordante com o seu fim.

Outros aspectos como “centralidade” e “centralização” também se fazem presentes, para que se

tenha uma “saída”. Por fim, destaca o fato de que uma rede pode ser “aberta” ou “fechada” de

acordo com a sua relação com o ambiente. Ou seja, pode-se tecer um paralelo com o Modelo de

Transformação, entradas, processamento, saídas e feedbacks presente em Slack et al. (2002).

Complementando a conceituação exposta, Souza; Quandt (2008) mencionam os seguintes

conceitos relacionados ao entendimento do que vem a ser rede, além dos mencionados: “ator”, os

indivíduos que compõem a rede; “elos relacionais”, tipo de relação embasada na troca ou no

fluxo entre dois atores; “díade”, par de atores com relação; “tríade”, três atores e o possível elo

entre eles formados; “subgrupos”, qualquer subgrupo formado, independentemente de seu

tamanho e a relação estabelecida entre eles; “relação” conjunto de relação estabelecida entre seus

membros; dentre outros.

O trabalho de Matos; Braga (2004) apresenta conceitos como a densidade da rede (razão entre o

número de relações presentes e os laços possíveis, demonstra o nível de conexões que existem),

tamanho da rede (quantidade de atores e quantidade que é possível ser comportada), medidas de

centralidade (atores com posições estratégicas, que têm um certo grau de poder na rede).

Após a explanação de alguns conceitos que estão contidos no entendimento do que vem a ser

redes, Marteleto (2001) ao início de seu trabalho aponta a diferenciação conceitual presente no

entendimento do que vem a ser a utilização dinâmica da estática do conceito de redes. A

utilização estática é que aborda a estrutura da rede, em seus nós e ramificações. A utilização

dinâmica atenta à rede como sistema, de ação do nível pessoal ou de grupo para tentar mobilizar

recursos. Ao término do trabalho, a autora menciona o fato de que as pessoas buscam as redes

sociais em busca de conhecimento prático. Pode-se, então, traçar um paralelo no que tange ao

desenvolvimento de competências pelo indivíduo como propõe Zarafian (2001)

Em sua revisão de literatura, Hoffman et al. (2004) apontam às questões que fazem uma

organização se integrar em rede, embora questione também o fato de que diversos autores

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apontam para vantagens da inserção. “As motivações para a formação de uma rede podem ser

diversas: complexidade de produtos, a troca de conhecimento, aprendizagem organizacional e

disseminação da informação; demanda por rapidez de resposta; confiança e cooperação; e defesa

contra a incerteza” (HOFFMANN et al. 2004, p. 2). Assim, pode-se concluir que a inserção em

uma rede é proveniente da busca por vantagens competitivas, ao trocar, entre os atores

envolvidos, conhecimento e capacidades, aperfeiçoando a capacidade de desenvolvimento de

inovações e aprendizagem (KERR PINHEIRO et al., 2005).

Continuando sua exposição, Hoffmann et al. (2004) elencam seis características das redes: (1)

Relatividade nos atores dos papéis sociais; (2) Interação:; (3) Interdependências das partes; (4)

Complementaridade; (5) Especialização das atividades das empresas; (6) Competitividade entre

Redes. Eles propõem uma tipologia, após sua revisão de literatura e da análise dos casos

estudados que classifica as redes perante quatro indicadores: direcionalidade, localização,

formalização e poder. Desses indicadores, destaca-se o último. O indicador poder pode

categorizar as redes em orbitais, nas quais as decisões/influências partem de um centro e tudo

gira em torno dele. Ou não orbitais, quando o poder é distribuído igualmente por entre os

membros. Quando a distribuição ocorre, teorias de governança de rede se fazem presentes para

melhor entendimento do tema.

Contrapondo esses quatro indicadores de Hoffmann et al. (2004) com o estudo de Lave; Wenger

(1991), podemos concluir que as redes não orbitais e horizontais são as que permitem com maior

facilidade a participação periférica legítima. Chega-se a essa inferência devido ao fato de que

como o poder estar disperso e não há uma especialização nas tarefas a serem executadas, a troca

do conhecimento é mais facilitada por atender um determinado pedido. Assim sendo, pode-se

dizer que a relação dos novatos (atores mais dispersos na rede) com os mais velhos (os que têm

mais tempo ou ligações fortes estabelecidas) podem trocar conhecimento de forma mais livre,

reconstruindo seus significados, pois há uma maior intenção em aprender.

No entanto, pode-se concluir que esses conceitos estão atrelados ao humano, como sua atitude de

integração com base no ato integrativo. Talvez, fosse redundante falar em rede como sendo rede

social, porém é um conceito que se faz necessário haja vista o fato de haver outros conceitos que

a palavra rede foi disseminado. “Redes sociais são, antes de tudo, redes de comunicação que

envolvem linguagem simbólica, restrições culturais, relações de poder etc.” (CAPRA, 2008, p.

22). Dessa forma, para se entender como se estrutura tais redes, o autor alega ser necessário

subsídios da teoria social, filosofia, antropologia, ciência cognitiva e outras. Currás (2009) alega

que a concepção de uma rede social, em uma sociedade de informação na qual julga que estamos

inseridos, pressupõe a ligação de três ambientes distintos, na qual seus conceitos são

entrelaçados, que são: (1) social-humano; (2) técnico-físico; e (3) econômico. Integrar os

componentes desses três ambientes, é que gera valor à sociedade em suas demandas sociais.

Nas interações entre as pessoas é que vai sendo construída e concebida a rede, portanto. “Cultura,

então, emerge da rede de comunicação entre os indivíduos e, assim que emerge, produz restrições

a suas ações” (CAPRA, 2008, p. 23). Ou seja, tendo por base esse autor, podemos inferir que a

cultura é um fenômeno que emerge das interações sociais para depois tolher as ações individuais

em prol de objetivo, ideal ou norte comum. Também, Capra (2008) destaca o fato de que teóricos

se referem às redes autogenerativas como sendo comunidades de prática. Faz inclusive a menção

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de que em organizações pode haver mais de uma comunidade de prática interconectadas.

3.3.1.. Relacionamento entre os envolvidos – Capital Social

A literatura é diversa e procura explicações das vantagens decorrentes da formação de redes

interorganizacionais a partir da compreensão das relações entre os atores sociais. O despertar do

interesse em estudar capital social em administração, segundo Lazzarini (2008) aumentou no

sentido em entender em como as relações sociais facilitam a troca ou o acesso a recursos,

tangíveis e intangíveis. As interações possíveis de se estabelecer em uma rede de relacionamento

ocorrem no intuito de melhorar o nível presente de capital social, que é desenvolvido por meio da

ativação das relações do indivíduo na sua rede de contatos, para, na interação, desenvolver as

oportunidades. Assim, caracteriza-se como um capital de cunho privado (COLEMAN, 1988).

O capital humano é desenvolvido com o ganho de conhecimento que o indivíduo tem e que pode

ser compartilhado de forma tácita ou explícita (COLEMAN, 1988). A definição do capital

humano é respaldada no conhecimento adquirido e internalizado no desenvolvimento das

competências individuais. Essas competências são alicerçadas na experiência e aprendizagem.

Essa captação culmina com o despertar de detecção de oportunidades oriundas de buracos

estruturais na rede (LAZZARINI, 2008). De certa forma, o conceito de competência se assemelha

aos descritos na seção 3.1 do trabalho.

Tendo como as perspectivas de análise apontadas por Sacomano Neto; Truzzi (2002), podemos

dizer que em determinadas situações, indivíduos empreendedores ou gestores se associam a uma

determinada rede para não vir a sucumbir perante os imperativos ambientais. O empreendedor

usa a interação para minimizar problemas e incertezas de origem ambiental, bem como, para

aprender e trocar informações. Ele busca as novidades vindas das interações provenientes de

laços fracos estabelecidos na rede (cf. DUARTE et al., 2008; GRANOVETTER, 1985).

Essa perspectiva teórica é também referenciada por Hall (2004) como modelo de custos de

transações na qual, as organizações se inserem em redes para minimizar os seus custos tirando

proveito do ganho de possíveis parcerias. As parcerias ocorrem devido ao fato de que as

organizações não vivem isoladas no meio ambiente. No entanto, deve ser destacado às críticas a

esse modelo produzidas por Granovetter (1985) no que tange ao papel e a participação dos atores

em rede. A crítica é tecida quanto ao fato de que as hierarquias de redes como trabalhadas na

visão de relações empresariais, na qual gravita o poder de influência de um ator. Destaca,

Granovetter (1985), o fato de que por meio do estabelecimento das redes sociais, as relações são

construídas, ainda mais tendo a confiança como elemento de ligação entre as relações sociais

obtidas e não a lógica do proveito econômico pura e simples. Nessa linha de raciocínio encontra-

se a distinção entre redes empresariais, embasadas na lógica econômica, e as redes sociais,

baseada nas relações interpessoais de confiança entre os elos.

Nesse sentido, a confiança surge como um fator consolidador das relações e teorias sobre o que

vem a ser um relacionamento devem ser consultadas. Mais especificamente sobre confiança, que

é parte necessária a permanência do ator de forma integrada em uma rede e do mantenimento das

relações estabelecidas. Cunha; Melo (2006) desenvolveram um estudo abordando confiança em

relacionamentos que são mantidos em decorrência da confiança entre os envolvidos. A confiança

estimula a motivação para a continuação da cooperação e, conseqüentemente, da troca de

conhecimento, ou, quando não, ao término do relacionamento. Nessa mesma direção, Zaheer et

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al. (1998), ao estudarem a confiança estabelecida nas relações interpessoais e

interorganizacionais, chegaram a propor um conjunto de hipóteses que são direcionadas ao maior

consolidar das relações entre as organizações e indivíduos, aumentam o nível de confiança e,

conseqüentemente, os benéficos na performance organizacional. Ao final da leitura do estudo de

Zaheer et al. (1998) pode-se concluir, conforme os autores demonstram, que a constituição de

relações de confiança entre empresas ocorre na maioria das vezes, pela confiança interpessoal dos

indivíduos que trabalham nessas firmas, remetendo ao conceito de redes de capital social.

4. Discussões – Algumas Considerações a enfocar para futuras reflexões

Inovação é um termo que significa a ocorrência de renovação de uma prática antiga ou uma

novidade introduzida em um costume antigo. Assim sendo, o questionamento que surge é: Como

é possível o surgimento de inovações? É fruto das competências empreendedoras? Da identidade

em comunidades de prática? Ou das interações das Redes Sociais? Brown; Duguid (1991)

mencionam o fato de que trabalho, aprendizagem e inovação são formas de atividades humanas.

Eles vêem a aprendizagem como conectora entre trabalho e inovação. “Tendo todas as três teorias

juntas, nós argumentamos que dentro de suas constantes adaptações para trocas de membros e

circunstâncias, envolver comunidades de prática é uma possibilidade para inovar” (BROWN;

DUGUID, 1991, p. 41 – tradução nossa).

Nesse sentido, Moura (2009b) destaca o fato de que a linguagem exerce uma função central. Ao

se ter intensificada a comunicação entre pessoas, normalmente com auxílio de tecnologias de

informação, tende-se a ter esse fator como elemento agregador e facilitador da cooperação entre

seus membros. Assim procedendo, seja em comunidades de práticas ou em redes sociais,

constituindo uma linguagem própria, os indivíduos tenderão a ser mais integrados. Dessa forma,.

A relação objeto, sujeito e prática discursiva é inerente a inovação (cf. MOURA, 2009b). Nesse

sentido, podemos concluir que, o discurso que perpassa os nós da rede, pelos seus atores sociais,

que constituem os laços fortes, proporciona uma melhor integração desses atores sociais na

assimilação e discussão das práticas adotadas em comum. O entendimento e o senso de

identidade com o contexto é fortificado, o aprendizado de uma memória coletiva comum é

consolidado e inovações incrementais podendo vir a ocorrer oriundo de uma troca e

compartilhamento comum. No entanto, ao se ter pessoas cambiando de redes, ou ter vínculos na

periferia da mesma, não sendo um ator central da rede, podem vir a trazer informações e

conhecimentos novos, ainda não assimilados pela memória coletiva comum. Quando esse

comportamento ocorre, caracteriza a adoção de laços fracos. Esses laços são normalmente

elaborados por atores conectados perifericamente com poucos outros. Não têm, portanto, relações

densas com atores centrais. Os laços fracos atraem novidades para a mesma, um novo significado

e visão de mundo que ao serem implementados, mudam os costumes anteriormente adotados. Há,

portanto, o rompimento com as práticas adotadas radicalmente, caracterizando, assim, as

inovações radicais (cf. POBLACIÓN et al., 2009; DUARTE et al., 2008). Os dois tipos são

evidenciados, porém, as incrementais são mais assimiladas por terem mais identificação com o

contexto que surgem. Porém, os relacionamentos fortes ou fracos são os determinantes para

ocorrência de inovações.

Outro aspecto posto à discussão é que, como Schön (1983) aponta, a surpresa faz com que as

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pessoas reflitam no que aconteceu, sobre a novidade que se apresenta. Cria-se um novo

aprendizado e uma nova forma de trabalho que é disseminada e compartilhada pela organização

(cf. BROWN; DUGUID 1991). O elo para esse novo comportamento é o empreendedor, que ao

ver uma novidade presente na rede, une os esforços dos outros atores, devido a suas competências

para trabalhar melhor a inovação. A rede e a comunidade são os celeiros para o enraizamento da

nova memória coletiva. O novo irá tornar a mente humana propícia ao surgimento de insights.

Se essa reflexão se faz pertinente, então se pode concluir que a inovação é um fato cíclico. Ao

fazer as pessoas refletirem, aprenderem de forma única, resulta, a novidade em uma nova

composição para o estoque de conhecimento do indivíduo. O indivíduo reformula seu estoque de

conhecimento diferentemente dos outros da comunidade. Na interação das redes sociais, as

diferenças interpretativas são postas pra fora. Há o diálogo, a novidade surge e o ciclo é

novamente alimentado. O empreendedor, é que torna a novidade digna de valorização para os

outros integrantes, dinamizando todo o processo. Assim, percebe-se que todos os três construtos

– competência, comunidade de prática, redes sociais – apresentados no presente ensaio, só

conseguem ser desenvolvidos quando têm uma conjuntura propícia. Dessa forma, a cultura é fator

determinante para esse desenvolvimento. Seja como o alicerce da disseminação, ou como alvo de

questionamento pelos indivíduos de uma lógica dominante, tentando modificá-la para uma

melhor sobrevivência comum. Nesse sentido, pode-se dizer que uma nova ordem surge para

questionar uma anterior vigente (cf. HALL, 2003). Esse deve ser o cerne de estudos futuros sobre

inovações.

5. Considerações Finais – Prováveis passos à concretização de entendimento empírico

Ao término do estudo teórico propositivo, resta à sua finalização, mencionar alguns poucos

comentários inerentes a sua consecução, seus objetivos e suas limitações. Por hora, ressalta-se o

fato de ter sido levantada uma das possíveis bases teóricas para consecução de pesquisa no nível

de doutorado. Este terá como um dos nortes a verificação de como ocorre o processo de inovação

e criação de novas soluções em software em empresas situadas em um Arranjo Produtivo Local

(APL) de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC). No caso, pretender-se-á abordar

organizações de soluções de TIC, uma atividade intensiva de conhecimento, presentes no Porto

Digital, o APL do gênero situado em Recife/PE.

Para reduzir o escopo da abordagem, analisar como o processo criativo das inovações ocorre é

fator relevante para entender como as experiências e o aprendizado comum é compartilhado.

Dessa forma, um dos construtos teóricos presentes para compreensão desse fenômeno é ter como

processo de aprendizagem e de interação entre os indivíduos das organizações que interagem no

APL como similar ao propagado pela literatura revisada de Comunidade de Prática,

Empreendedorismo e Redes. “No cenário de mudanças [sic] percebe-se também que tanto as

comunidades de prática, quanto as redes sociais, estão na base da criação e customização dos

novos produtos e serviços de informacionais [sic]” (MOURA, 2009b, p. 12). Outras vertentes do

conhecimento acadêmico também estão em fase de entendimento pelo autor do trabalho, como

governança de APL e aprendizagem e gestão do conhecimento.

A realidade, portanto, do Porto Digital é propícia ao desenvolvimento de inovações e de produtos

que são materializados em decorrência do saber individual que é incorporado pelas pessoas no

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seu desenvolvimento. Portanto, os produtos que se originam desse APL têm por base o

conhecimento. As trocas de informação e o relacionamento entre esses indivíduos, normalmente,

pequenos atores da rede, os pequenos empreendedores, fazem com que o conhecimento seja

desenvolvido e trocado por todos. A troca que ocorre deve ter por base a confiança (cf.

ROBERTS, 2006) e a relação de conhecimento, ativada no desenvolvimento de cada projeto.

Por fim, pode-se dizer que, apesar da limitação do estudo, de ele ser um ensaio teórico, portanto,

só ser alicerçado em dados secundários, pode-se dizer que seu objetivo foi atingido. Nesse

atingir, reside a sua contribuição científica, da qual está sedimentado o entendimento de que a

inovação é inerente aos três construtos analisados. Porém, após a analise de cada vertente no viés

do corpus tomado pelo pesquisador, pode-se concluir que a cultura, fruto de um

compartilhamento de linguagem comum entre os envolvidos em uma rede ou comunidade, é o

cerne do desenvolvimento de inovações de qualquer tipo e modo. Esse achado se assemelha ao

encontrado nos trabalhos de Souza (2008), Souza; Castro-Lucas (2007; 2009), que analisaram o

fenômeno do empreendedorismo sob a ótica cultural, do local onde se desenvolve. Dessa forma,

essas autoras com os seus trabalhos dizem que pensar em empreendedorismo remete a ver a

questão da inovação como característica central e fundamental. No entanto, o que merece

destaque é o fato de que o ato de inovar, de empreender, é determinado, em suas nuances, pela

cultura, ou aspectos culturais, na qual esse indivíduo esteja inserido.

Por ser um estudo teórico, onde os construtos levantados no presente artigo servirão de

embasamento para execução de um doutorado, a contribuição científica do trabalho é, portanto,

limitada ao seu contexto. Porém, essa limitação torna uma oportunidade de desenvolvimento de

estudos teórico-empírico no futuro, sejam na área ao qual o autor do trabalho se propõe a estudar,

ou em outras que o artigo tenha despertado o interesse de seus leitores. Ou até mesmo, em

despertar da crítica à concepção deste estudo em si.

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