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IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS “Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” Jerônimo (séc. IV) A Bíblia é um livro fascinante. Muitos a tem lido por curiosidade científica, já outros por reconhecerem nela a Palavra de Deus. A Bíblia é o veículo da revelação de Deus ao homem. Ela é composta por duas grandes partes: AT e NT ou 1° e 2° Testamento. DIVINDADE DA BÍBLIA A Bíblia parece ser um livro comum, mas essencialmente é diferente dos demais. Ela é a Palavra de Deus, produto da REVELAÇÃO e INSPIRAÇÃO. REVELAÇÃO ► “processo e ação de Deus em desvendar para o ser humano a natureza e o mistério da Sua vontade e dos seus propósitos através de atos, palavras e intervenções históricas”. Atingiu seu ponto máximo em Jesus. INSPIRAÇÃO ► “termo utilizado para designar a obra do E.S. de capacitar pessoas para transmitir e registrar o que Deus revelou e que desejava que fosse o conteúdo das Escrituras”. II Tm 3.16 – I Pe 1.20:21 A Bíblia é a Palavra de Deus. É preciso então reconhecer a necessidade da iluminação do Espírito Santo, ou seja, a capacitação divina que nos faz ler as Escrituras corretamente, pois o fato de sermos pecadores impõe limites ao trabalho de interpretação da Bíblia. A regeneração e a conversão são portanto, indispensáveis àqueles que interpretam às Escrituras. HUMANIDADE DA BÍBLIA A Escritura é a mensagem do Deus eterno que se faz acessível aos homens através da forma escrita. Deus se revelou a pessoas em situações e em culturas específicas. Pode-se verificar a humanidade da Bíblia em suas histórias, gêneros literários, variações textuais, expressões culturais, bem como em todo o seu processo de formação. FORMAÇÃO DA BÍBLIA Tradição Oral - As origens do AT encontram-se em tradições orais; histórias, fatos, ensinos transmitidos de pai para filho que depois foram sendo fixados. O texto que temos hoje, foi sendo agrupado pouco a pouco. Língua - O AT foi escrito basicamente em hebraico. Entretanto o aramaico está presente em algumas passagens (Ed, Dn, Jr, Gn). No caso do NT, que foi escrito em grego, antes do processo de escrita também houve um tempo/processo de transmissão oral. Processo : A helenização fez surgir uma nova língua, o grego helenístico, que tem suas raízes no ático. A literatura era produzida em grego helenístico. Por vários fatores surge uma língua comum, que se denomina KOINÊ. Era a língua do povo que não possuía dotes literários. A literatura aticista,

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IMPORTÂNCIA DAS ESCRITURAS

“Ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” Jerônimo (séc. IV)

A Bíblia é um livro fascinante. Muitos a tem lido por curiosidade científica, já outros por reconhecerem nela a Palavra de Deus. A Bíblia é o veículo da revelação de Deus ao homem. Ela é composta por duas grandes partes: AT e NT ou 1° e 2° Testamento.

DIVINDADE DA BÍBLIA

A Bíblia parece ser um livro comum, mas essencialmente é diferente dos demais. Ela é a Palavra de Deus, produto da REVELAÇÃO e INSPIRAÇÃO.

REVELAÇÃO ► “processo e ação de Deus em desvendar para o ser humano a natureza e o mistério da Sua vontade e dos seus propósitos através de atos, palavras e intervenções históricas”. Atingiu seu ponto máximo em Jesus.

INSPIRAÇÃO ► “termo utilizado para designar a obra do E.S. de capacitar pessoas para transmitir e registrar o que Deus revelou e que desejava que fosse o conteúdo das Escrituras”. II Tm 3.16 – I Pe 1.20:21

A Bíblia é a Palavra de Deus. É preciso então reconhecer a necessidade da iluminação do Espírito Santo, ou seja, a capacitação divina que nos faz ler as Escrituras corretamente, pois o fato de sermos pecadores impõe limites ao trabalho de interpretação da Bíblia. A regeneração e a conversão são portanto, indispensáveis àqueles que interpretam às Escrituras.

HUMANIDADE DA BÍBLIA

A Escritura é a mensagem do Deus eterno que se faz acessível aos homens através da forma escrita. Deus se revelou a pessoas em situações e em culturas específicas. Pode-se verificar a humanidade da Bíblia em suas histórias, gêneros literários, variações textuais, expressões culturais, bem como em todo o seu processo de formação.

FORMAÇÃO DA BÍBLIA

Tradição Oral - As origens do AT encontram-se em tradições orais; histórias, fatos, ensinos transmitidos de pai para filho que depois foram sendo fixados. O texto que temos hoje, foi sendo agrupado pouco a pouco.

Língua - O AT foi escrito basicamente em hebraico. Entretanto o aramaico está presente em algumas passagens (Ed, Dn, Jr, Gn).

No caso do NT, que foi escrito em grego, antes do processo de escrita também houve um tempo/processo de transmissão oral.

Processo : A helenização fez surgir uma nova língua, o grego helenístico, que tem suas raízes no ático. A literatura era produzida em grego helenístico.

Por vários fatores surge uma língua comum, que se denomina KOINÊ. Era a língua do povo que não possuía dotes literários. A literatura aticista, de certa forma, era "complexa", já o KOINÊ era mais simples. A Koinê do NT não tinha as qualidades artificiais sofisticadas do reavivamento ático, mas possuía todos os tons da vida do povo em ebulição.

O TEXTO : Material

Papiros – provavelmente os textos mais antigos foram escritos em papiros. Este é altamente perecível, precisando de um clima quente e seco (Egito) para conservar-se. Um rolo geralmente tinha altura de 25 a 30cm, e seu comprimento não tinha mais que 10 ou 12 metros – no caso das obras gregas.

Couro (pergaminho) – substituiu os papiros alguns séculos depois de Cristo. Eram devidamente raspados e preparados para receber a escrita;

ORIGINAIS DO TEXTO

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Não temos nenhum dos escritos originais (AUTÓGRAFOS), somente cópias. O texto bíblico tal como temos hoje é produto de comparação dos manuscritos disponíveis.

Do AT as cópias mais antigas que temos são:

Septuaginta1 - temos cópias que datam do séc. IV e V d.C As cópias da Bíblia hebraica datam do séc. IX a XI d.C.

Já as cópias mais antigas do NT datam do século II d.C.

CÂNON

Pode ser definido como a lista oficial dos livros que formam a Bíblia.

Antigo Testamento

Torá (instrução; em geral se traduz “lei”) ou Pentateuco (livro em cinco volumes). Primeira parte do Antigo Testamento a ser escrita e reconhecida como canônica (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio). Já estava completa e já era considerada como canônica por volta do séc. V a.C. Também foi a primeira parte da versão grega no séc. III a.C. (Septuaginta).

Profetas: esta coleção já estava completa e fixada canonicamente por volta de 180 a.C. Hagiógrafos (demais escritos do A.T.): Sua formação e fixação é bem mais complicada de se

entender. Provavelmente o cânon foi totalmente fechado por volta do final do século II ou início do III

d.C. Não foram aceitos os sete livros que constam a mais na Septuaginta.Os reformadores não adotaram tais livros, já a igreja católica sim, com o nome de Deutero-

canônicos.

Novo Testamento

O processo de "canonizar" ou aceitar, como regra de fé, certos escritos cristãos foi estimulado por eventos tanto internos como de fora da Igreja. Vejamos um exemplo:

MARCION - O primeiro cânon é atribuído a Marcion (144d.C). Ele produziu um NT conforme sua própria doutrina. O Deus do AT se revelou cruel e sanguinário; o Deus do NT era amoroso. Seu cânon consistia de dez cartas de Paulo e do Evangelho de Lucas. A ordem do seu cânon era: Gálatas, Coríntios, Romanos, Tessalonicenses, Laodicenses(Efésios), Colossenses, Filipenses e Filemom. Contudo seu cânon não prevaleceu e ele foi banido da igreja.

Na luta contra a literatura pagã e herética a igreja é levada a "produzir" a lista dos livros aceitos como inspirados.

Atanásio (367) apresenta a primeira declaração autorizada do cânon, com os 27 livros do NT como sendo exclusivamente canônicos. Os concílios de Hipona (393) e Cartago (397) reconheceram, como canônicos, os 27 livros.

Critério Canônico

1- Apostolicidade = o livro deveria ter sido escrito por um dos doze apóstolos ou por alguém autorizado a fazê-lo (imprimatur apostólico).

2- Circulação e Uso = O livro antes mesmo de ser reconhecido ou ter alguma relação com um apóstolo já era utilizado pelas comunidades. Desse modo eles recebiam o imprimatur da própria comunidade cristã universal que o utilizava.

3- Ortodoxia = o livro deveria enquadrar o padrão do testemunho apostólico, o repúdio às falsas doutrinas e a preservação da ortodoxia (doutrina dos apóstolos). Livro algum, em desacordo com o padrão doutrinário e moral, ensinado por Jesus e os apóstolos, seria recebido como autoritativoDeutero-canônicos e apócrifos:

1 A.T. em grego. Parece ter surgido na comunidade Judaica de Alexandria (Egito) entre 250 e 100 a.C. Esta versão conserva 7 livros que não entram no cânone hebreu, a saber: Judite, Tobias, 1º e 2º Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc.

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Deutero-canônicos: o termo refere-se aos escritos extracanônicos que têm o seu valor histórico e cultural. Contudo, ferem os conceitos ortodoxos doutrinais ou apresentam origem duvidosa. São eles: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1 e 2 Macabeus.

Em 1548, o Concílio de Trento (movimento de Contra-Reforma) reconheceu os deutero-canônicos com “status canônico”. Os reformadores, então, repudiaram a idéia pelo fato de os livros serem indignos das doutrinas ortodoxas do cânon aceito.Apócrifos: composto pela literatura pagã em geral ou os escritos de extrema dúvida com relação à sua origem e uso.

PANORAMA BÍBLICO - A.T.

Pode-se dizer que houveram três grandes períodos na história de Israel:Pré-Estatal (Gn – I Sm) Estatal Exílio/Pós-exílio

Origens: Criação (Gn 1.1 a 2.3); Queda do homem (Gn 3); Noé/dilúvio (Gn 6.9ss); Babel (Gn11.1-9) Chamada de Abrão (Gn 12.1ss); Abrão no Egito (Gn 12.10ss); Abrão em Canaã (Gn 13.12-18);

Aliança de Deus c/ Abrão (Gn 15); Deus muda o nome de Abrão (Gn 17). A migração de Abraão ocorreu provavelmente entre os anos 2000 e 1800 a.C.

Isaque - Jacó. Jacó teve seu nome mudado para Israel, nome inclusive que o povo de Deus passou a ser

conhecido. Ele teve 12 filhos, e estes se tornaram os cabeças das doze tribos de Israel. José, 11º filho de Jacó (Gn 39-50). Foi vendido pelos irmãos e foi parar no Egito. Tornou-se Administrador Geral do Egito. Num certo tempo toda a família de José se transferiu

para o Egito (provavelmente no período onde os hicsos dominaram o Egito que é de 1650-1540 a.C.).

Mudanças políticas ocorreram e os estrangeiros (descendentes de Jacó no Egito) foram escravizados. Séc. XIV ou XIII

Deus chama Moisés

Moisés - guia o povo rumo à liberdade (Ex 12.37ss) – Êxodo (1300-1250 a.C.). Convocação a um pacto/aliança – “ser povo de Deus” – Ex. 19. Povo em Canaã – Josué (séc. XIII a.C.).

Período dos Juízes (séc. XII e XI a.C.).

Mais do que laços étnicos e sociais, a fé em Javé é que “unia” as tribos.

Os juízes eram líderes/libertadores carismáticos levantados por Javé. Resumo de Juízes (2. 8-23). Tornam-se sedentários; não tinham unidade. Outros povos foram deixados na terra para provar Israel (3.1-6). Não havia rei em Israel (17.6; 18.1; 19.1; 21.25).

Monarquia – Saul, Davi, Salomão (1050 - 931 a.C.).

A arca é capturada pelos filisteus (I Sm 4) devolvida (I Sm 6) A arca passou 7 meses com os filisteus (6.1) e 20 anos em Quiriate-Jearim (7.2). Estes são fortes indícios que Siló fora destruída e o santuário demolido; Jeremias relata isso (Jr

7.12; 26.6) Samuel se levanta como juiz (provavelmente após os Israelitas sofrerem derrotas para os filisteus

[I Sm 7.15] ); antes era profeta (3.20). O povo pede um rei (8).

Saul foi o primeiro rei (10.17:27). Não tinha nenhum modelo a seguir. I Sm 11.7 indica período de transição. Morre da batalha de Gilboa (I Sm 31).

Davi Considerado o grande rei de Israel.

1º reinou no Sul (II Sm 2.4)

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O filho de Saul reinava no Norte (2.8-10) Depois de algum tempo de “guerra” entre a casa de Davi e a casa de Saul (3.1), e de intrigas

políticas (3.6ss), Davi reinou sobre todo o Israel e Judá (5.1-5) Davi conquista cidade cananéia habitada pelos jebuseus, conhecida depois por Jerusalém – a

capital do reino (5.6-9). Davi conquista inimigos; realiza política expansionista (8.1-15).

Salomão – a riqueza aumentou grandemente em seu reinado.

construiu grandes edifícios (Templo, Palácio) I Rs 6 e 7. Arregimentou 30.000 trabalhadores, entre as tribos, envolvidos em projetos públicos (5.13).

Porém não eram escravos (9.22). Sua milícia incluía 4.000 cavalos (4.26)2, 1.400 carros e 12.000 cavaleiros. Política externa baseava-se em alianças – muitas vezes seladas por casamento. (3.1) O comércio era o forte de Salomão. Seus empreendimentos comerciais trouxeram uma riqueza

fabulosa a Jerusalém. Contudo tal riqueza não beneficiou todas as classes em Israel.

Reino Dividido: Roboão e Jeroboão

Jeroboão: Superintendente dos trabalhadores Recebeu uma profecia (I Rs 11:29. 36). Salomão tenta matá-lo, mas ele foge para o Egito (11.40). Roboão Filho de Salomão Implementa política drástica (12.1-15) A divisão (12.16-20); guerra entre o Norte e o Sul (14.30) Religião rival de Jeroboão (12.25-33) – santuários, sacerdotes não levitas, bezerros.

Reino do Norte = Israel (10 tribos); sua capital era Samaria. Mais criativos e menos estáveis Desapareceu em 722 quando Salmanasar V da Assíria a conquistou. Foram 209 anos de

existência – 9 dinastias/19 reis (7 assassinados e 1 suicida).

Reino do Sul = Judá; sua capital era Jerusalém. Menos criativos e mais estáveis. Caiu em 586 diante da Babilônia. Foram 345 anos de existência – 1 dinastia, a de Davi (I Sm

7:16) e 20 reis.

Exílio = 1ª deportação em 597 (rei e sua família; nobres; líderes; artesãos). Na 2ª deportação em 586 Jerusalém foi completamente destruída.

Povo fica dividido em três grupos: Palestina, Babilônia e Egito.

Retorno = retornaram em 539 sob Ciro, rei da Pérsia. Templo reconstruído entre 520 e 515 a.C. Esdras (458) e Neemias (445). Nascimento do Judaísmo. Período de redação definitiva dos escritos do A.T — organização final do Pentateuco. Organização política estável com Neemias e Esdras. Desenvolvimento da literatura sapiencial (Jó, Provérbios, Salmos, Eclesiastes, Cântico dos

Cânticos).

Período Helenista (333-63 a.C.)

Alexandre Magno conquista a Palestina. Após sua morte seu Império se divide em quatro. Dois são mais importantes:

Ptolomeus ou Lágidas (Egito – 320-198 a.C.). Selêucidas (Síria – 198-167 a.C.) Guerra dos MACABEUS ou HASMONEUS – 167 a.C. Império Romano 63 a.C.

2 Em Reis relata-se 40.000(provavelmente um erro dos escribas) mas em IICr 9.25 relata 4000.

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Panorama N.T.3

Nascimento de Jesus – 6 ou 4 a.C. Morte e ressurreição – 30 ou 33 d.C. Conversão de Paulo – c. 34 d.C. 1ª visita à Jerusalém – 37 d.C. 1ª viagem missionária – 46-47 ou 47-48 Concílio de Jerusalém – 48 ou 49 2ª viagem missionária – 48-51 ou 49-51 3ª viagem missionária – 52-57 Prisão em Cesaréia – 57-59 Viagem a Roma – 59-60 Prisão em Roma – 60-62 Libertação/Ministério no Oriente – 62-64 Morte de Paulo – 64-65 66 – 73 d.C. Primeira guerra dos Judeus. Último apóstolo a morrer = João – década de 90 d.C. 135 – Segunda guerra dos Judeus (liderados por Bar Cochba). Roma abafou o levante e baniu os

judeus. O estado judaico deixa de existir e só é reavivado em 1948.

LEITURA DA BÍBLIA: análise histórica

A LEITURA DAS ESCRITURAS NO TEMPO DO A.T.A transmissão de fatos e tradições se dava, principalmente, por via oral, de geração em

geração. A redação/escrita, como se sabe, se deu dezenas e/ou até centenas de anos depois (MOSCONI, p. 34).

3 A maioria das datas foram retiradas de Introdução ao Novo Testamento, de D. A. Carson.

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Os leitores do/no tempo do A.T., mais do que ler, atualizavam memórias históricas, procurando descobrir ali a presença do Deus vivo.

Eixo central do A.T. ÊXODO E ALIANÇA

O Êxodo é o acontecimento referencial e a memória fantástica do grupo de pessoas marginalizadas, pobres e oprimidas, lutando por sua liberdade. Por entre essa história de luta revela-se o rosto de JAVÉ, o Deus que marca presença ao lado dos que lutam por liberdade e dignidade.

Fazia-se também o seguinte: tomavam um texto escrito e o reliam em função do presente, sem acréscimos (lsaias 14.24-25 denuncia a invasão da Assíria [701 a.C.]. Cem anos mais tarde esse mesmo texto é lido contra a Babilônia e depois contra todos os inimigos de Israel).

A LEITURA DAS ESCRITURAS DO TEMPO DO N.T.

A leitura da Bíblia feita pelos escribas no tempo de Jesus era feita na sinagoga.

SINAGOGA TEMPLO

Leitura da Torá e Profetas Lugar dos sacrifícios

O direcionamento da leitura e explicação das Escrituras era feita pelos escribas e os doutores da Lei. E, os textos eram lidos em hebraico, a língua sagrada. Em algumas regiões, ou por causa da situação cultural, eram feitas traduções da leitura para o aramaico.

Por causa do trabalho de tradução e interpretação simultânea do texto lido, surgiu a preocupação em se registrar esses momentos. Surgem, então, o Targúm e o Midrash. Targúm: “tradução”. Uma espécie de tradução-comentário ou explicação oral de passagens lidas.

Targumim é o registro escrito desses comentários (targuns).

Midrash: “pesquisar, explicar”. Era o momento de atualização das Escrituras após um estudo intenso de uma passagem. Midrashim é o registro escrito dessas interpretações.

MIDRASHIM Halakah = Caminho da leiHagadah = relato homilético de textos não-legais

O LEGALISMO TOMOU CONTA DA INTERPRETAÇÃO E SE COLOCOU ACIMA DA PRÓPRIA VIDA – JO 7.49 - MT 5.20

A leitura feita por Jesus era um tipo de “leitura da situação e contexto à sua volta”. Ele, desde pequeno, foi aprendendo e vivendo a maneira de entender as Escrituras do A.T. Como todos os meninos da vila de Nazaré, Jesus aos 6 anos de idade começou a freqüentar a escola da sinagoga. Como todo ser humano ele cresceu e se desenvolveu (Lc 2.40/2.52). Ele conhecia muito bem as Escrituras, pois as citou frequentemente (Mt 4.4-10, 12.3-8; Lc 24.27).1) Midrash: Jesus adotou este método de interpretação, a mesma dos demais escribas e doutores,

porém com uma perspectiva diferente: Ele lia e atualizava as Escrituras defendendo a vida e não leis e normas (Mc 2.27; Mt 15.1-20 = Mc 7.1-23). Diferentemente dos escribas, Jesus não se apoiava em nenhum discurso ou modelo autoritativo, com vistas a legitimar seu próprio discurso.

2) Jesus resgatou a memória dos profetas (Mt 9.13, 12.7 = Os 6.6) e o verdadeiro sentido da Lei (Mt 5.17; Jo 8.1-11). Para Ele, conhecimento, ensinamento e vivência das Escrituras eram inseparáveis (Mt 23.1-3, 7.24). Por isso condenava duramente os doutores da lei e os farizeus, pois conheciam e não praticavam.

3) Jesus atualizava as Escrituras com uma consciência crítica e muito lúcida sobre as situações de sua época (Mt 5.21-48; Jo 8.1-11; Mt 12.7). Porém, isso suscitava confronto com os dominadores do povo (Lc 15.1-2; Mc 3.22; Jo 5.16-18).

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Jesus, com sua leitura e seus ensinamentos, enchia as pessoas de fé, esperança e ardor no coração; exigia de todos conversão pessoal. Lc 24.32; Mc 1.15)

A LEITURA DAS ESCRITURAS NAS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS

Eles tinham em Jesus a realização da vida e da missão. Jesus é, então, o eixo para se entender todo o Novo Testamento. Ele não deixou nada escrito. Os discípulos passaram a ler as Escrituras antigas de outra maneira, à luz da vida, morte e ressurreição de Jesus (Lc 24.44-48). Viram em Jesus a realização das promessas antigas; liam o AT, e escreveram posteriormente o NT, a partir de Jesus (Mt 1.22-25, 2.15-23, 4.14; At 3.18, 7.1-60, 13.13-41, 26.1-23).

O AT se abria, a partir de Jesus, sob uma luz completamente nova para todos.

Leitura cristológica do A.T.

PRIMEIRAS COMUNIDADES

A LEITURA DAS ESCRITURAS NO PERÍODO DOS PAIS DA IGREJA

Nos anos 100 e 200 d.C. o cristianismo difundiu-se rapidamente em várias partes do mundo - Império Romano. Esse grande e rápido crescimento do cristianismo trouxe problemas e desafios. A igreja sofria ataques externos (perseguições) e ataques internos (heresias). Houve muitos problemas e tensões por causa dos novos adeptos ao cristianismo, que traziam de suas práticas religiosas passadas costumes, pensamentos e experiências. Exemplo disso é Marcião; um pregador envolvente que negava todo o Antigo Testamento e só valorizava o Evangelho de Lucas e as cartas de Paulo (exceto as pastorais).

Para resolver estes e outros problemas nas comunidades, a igreja tomou algumas iniciativas de forma a combater as heresias: concílios, criação de um credo, definição do cânon.

Aos poucos, entre os Padres da Igreja, foram surgindo duas grande escolas de estudos e interpretação bíblica: a escola de Alexandria, no Egito, e a escola de Antioquia, na Síria.

A Escola de Alexandria no Egito

Alexandria era uma das maiores cidades do Império Romano, com cerca de 700.000 habitantes. Tornou-se um grande centro de cultura, com profundos estudos filosóficos. Foi então que a religião judaica, e depois o cristianismo, buscaram uma maior aproximação da cultura grega. Fílon de Alexandria (13 a.C. - 40 d.C.) – foi um judeu muito culto e preocupado em passar ao

mundo grego as grandes verdades do A.T. Para isso, tentou interpretar as Escrituras à luz da filosofia grega, utilizando uma das características da cultura grega de pensar e falar usando alegorias.

A metodologia de Fílon alcança seu apogeu a partir do século II d.C. Orígenes (185-254), talvez, tenha sido o principal representante da abordagem Alexandrina.

Vários estudiosos fizeram parte dessa escola; Clemente, Orígenes Tertuliano, Santo Agostinho, Basílio de Cesaréia, Ambrósio, Jerônimo, Gregório. Eles liam a Bíblia como verdadeiros pastores e não como estudiosos afastados do povo.

VidaMorte

Ressurreição

Após a morte dos apóstolos inicia-se a chamada era pós-apostólica, que vai do II século até o IV século, época dos grandes concílios ecumênicos na igreja. Nesse período, a igreja de Cristo era liderada por pastores e bispos que vieram a exercer considerável influência sobre a cristandade daquela época. São os chamados “Pais da Igreja”. É uma época de intensos debates teológicos sobre questões doutrinárias vitais para a sobrevivência da igreja. Os Pais da Igreja procuram entender qual a verdade de Deus examinando as Escrituras.(Nicodemos, p. 129).

ALEGORIA — palavra de origem grega que significa “outro sentido”. Consiste em buscar um significado mais profundo oculto no texto, indo além do sentido literal e real das palavras. (MOSCONI, p. 47)

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PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOSa) (+) Preocupação em ligar a Bíblia à vida. É o sentido-para-nós da Palavra de Deus;b) (+) Leitura espiritual da Bíblia, para alimentar a fé e a caridade do cristãos;c) (+) Leitura pastoral da Bíblia, entre o povo e não longe dele;d) (-) Pouca fidelidade ao texto em si;e) (-) Diminuía o caráter histórico de algumas passagens;f) (-) Algumas interpretações chegam a ser extravagantes;g) (-) Favorece um espiritualismo subjetivista.

A Escola de Antioquia, na Síria Antioquia localizava-se na Síria, ao norte da Palestina, perto do Mar Mediterrâneo. Ali nasceu e existiu uma das principais comunidades cristãs. Por isso, ela se tornou ponto de referência de muitas comunidades. Aos poucos surgiu ali uma maneira de ler as Escrituras que privilegiava mais o sentido literal do texto. São vários os pensadores antioqueanos: Atanásio, Gregório de Nazianzo, Basílio o Grande, João Crisóstomo (“Boca de Ouro”), Teodoro de Mopsuéstia.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOSa) (+) Valorização do texto em si:b) (+) Superação de interpretações excessivamente individuais, subjetivistas e fantasiosas;c) (+)Permite ao leitor ater-se ao sentido simples e evidente do texto das Escrituras;d) (-) Relativizaram o sentido alegórico;e) (-) A leitura literal pode provocar uma leitura ingênua, ao pé da letra, que só enxerga o texto no

passado e não consegue ver sua importância para o presente.

Lições a aprender com os Pais da lgrejaOs Pais da Igreja foram sobretudo pastores das comunidades, influentes líderes e seus

estudos bíblicos tinham por função a práxis pastoral. Os Pais se preocupavam em ler a Bíblia a partir do contexto social dos pobres, da vida da igreja (eclesial) e por uma espiritualidade profunda (leitura orante). Aproximavam-se das Escrituras com humildade e paixão. Além de pensadores e intelectuais, os Pais buscavam a todo o momento serem testemunhas vivas da Palavra de Deus.a) Leitura a partir dos pobres: leitura preocupada em atender às necessidades do povo. “As riquezas

são injustas, porque são fruto da miséria dos outros” ou “Jesus não nasceu no lugar sagrado do Templo, onde o ouro, as pedras preciosas e a prata reluziam. Nasceu numa estrumeira, para reerguer os que jazem no meio do estrume” (Jerônimo).

b) Leitura eclesial: contra uma leitura individualista e desligada da comunhão com a igreja. “A fé na igreja dos apóstolos é fundamental para interpretar fielmente as Escrituras” (Ireneu). “É preciso ter alma de igreja para compreender a Bíblia” (Jerónimo). “A Escritura é arma de dois gumes.

MÉTODO ALEGÓRICO DE LEITURA DA BÍBLIA Na Bíblia encontra-se dois sentidos. O primeiro é aquele que aparece na letra do texto, o mais evidente, o sentido literal do texto (interpretação histórico-gramatical). Destina-se a iniciantes da fé. O segundo é o mais profundo, indo além do sentido literal; é um sentido mais espiritual, acessível somente a pessoas eruditas e espirituais. É o sentido alegórico

MÉTODO DE LEITURA LITERAL DA BÍBLIA Só se pode tirar mensagens daquilo que o texto escrito diz. Os fatos devem ser encarados como verdadeiros assim como estão contados na Bíblia. O sentido espiritual não existe sem o sentido literal. O sentido literal é o sentido espiritual do texto. O objetivo é descobrir a intenção do autor humano como meio de se determinar o sentido de uma passagem bíblica.

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Depende de quem lê. Somente a igreja fiel aos apóstolos é habilitada para ler as Escrituras” (Tertuliano).

Leitura orante: leitura e oração são inseparáveis. Cada dia temos de voltar às fontes da Escritura. É absolutamente necessário rezar para compreender as coisas divinas” (Orígenes).

A LEITURA DAS ESCRITURAS NO PERÍODO MEDIEVAL (600 – 1400 d. C.)

A queda do Império Romano fortaleceu, mais ainda, a Igreja. Antes, em 445 d.C., o imperador Valentiniano III, através de um edito, já havia reconhecido a supremacia do bispo de Roma em negócios espirituais, tornando “lei para todos” o que este estabelecesse. Mas foi com Gregório Magno (590 d.C.) que o bispo de Roma passou a gozar do poder e autoridade que os Papas tiveram durante a Idade Média. A partir de Gregório, a Igreja Católica Romana influenciou poderosamente a religião, a cultura e o modo de viver de toda a Europa.

Nesta época os comentários bíblicos dos Pais foram assumidos como material oficial da Igreja. Entretanto, chegou-se a dar mais atenção aos comentários dos Pais do que às Escrituras e, aos poucos, a leitura da Bíblia tornou-se uma leitura repetitiva e vazia de sentido. Durante esse período, o método de interpretação mais utilizado foi o da quadriga, ou seja, a Bíblia deveria ser interpretada a partir de quatro sentidos:

1. Sentido literal ou histórico: o sentido óbvio e evidente do texto.2. Sentido alegórico ou cristológico: o sentido mais profundo, geralmente apontando para Cristo.3. Sentido tropológico ou moral: o sentido que relacionava a Palavra de Deus às obrigações do

cristão e sua conduta prática.4. Sentido anagógico ou escatológico: sentido que aponta para os fins dos tempos, coisas que o

cristão deveria esperar futuramente.Durante a Idade Média, se enfatizava a autoridade da Igreja e não a Bíblia. O paganismo

havia entrado na Igreja e gerado um grande misticismo.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DO PERÍODO MEDIEVALa) (-) A hierarquia da Igreja foi se afastando cada vez mais do povo;b) (-) Papas e bispos tornaram-se pessoas ambiciosas e poderosas:c) (-) A corrupção dos lugares eclesiásticos era grande;d) (-) Justificação dos erros com base em duas fontes de “revelação”: as Escrituras e o Magistérioe) (+) Vários “movimentos de resistência” (cátaros, valdenses, franciscanos, entre outros) surgiram

em defesa da leitura e interpretação correta das Escrituras e de uma preocupação com o povo;f) (+) Esses movimentos denunciavam o luxo e o autoritarismo das elites;g) (+) A ênfase na leitura da Bíblia era em viver a radicalidade do Evangelho e da vida de Jesus

(discípulo - Mt 19.21, At 2.44-45);h) (+) Esses movimentos monásticos desenvolveram uma leitura orante das Escrituras, a Léctio

Divina.

A LEITURA DAS ESCRITURAS NO PERÍODO DA REFORMA PROTESTANTE

Os pilares da Reforma Protestante surgiram de situações concretas, de um conjunto de fatores que culminariam, de uma maneira ou de outra, num tipo de luta e protesto contra o sistema político-religioso da época. O pano de fundo foi a Renascença.

A partir do século XVI, desenvolveu-se uma grande revolução cultural que iria influenciar a vida, a forma de pensar e viver do homem. Trata-se do movimento renascentista, que influenciou o homem mudando-lhe conceitos valores e atitudes.

A Renascença pode ser definida como “ o período de reorientação cultural, entre 1350 e 1650, em que os homens trocaram a compreensão religiosa e medieval da vida por uma visão individualista, secular e moderna”.4

Características:1. O homem deixou de ter uma visão teocêntrica da vida (Deus é o centro de todas as coisas) para

uma vida antropocêntrica (o homem se torna o centro).2. As classes médias urbanas (burguesia) tornaram-se mais importantes do que a velha sociedade

agrária do período feudal.

4 Apostila História da Igreja, ISI. pg. 74.

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3. O comércio passou a ter mais importância do que a agricultura como meio de subsistência.4. Adotou-se uma forma humanista, otimista e experimental de ver as coisas desta vida.5. O homem não deixou de ser religioso, mas havia um divórcio entre a vida religiosa e sua vida

diária.6. A espiritualidade passou a ser um plano secundário da religião formal.7. Advento da imprensa (1456) que possibilitou a rápida disseminação da informação.

Martinho Lutero (1453-1546) foi o principal líder da Reforma alemã. Filho de um industrial bem sucedido, teve os melhores estudos. A Reforma “começou” em outubro de 1517, quando Lutero protestou contra um grande abuso na venda de indulgências, em suas 95 Teses. Sempre contestado, Lutero quase sempre respondia a seus oponentes de modo polêmico, usando uma linguagem extremamente grosseira. Dedicou sua vida à reforma da igreja e à restauração da doutrina paulina da justificação pela fé à posição de doutrina central na teologia cristã. Para isso, contestava os poderes eclesiásticos de sua época e as formas lucrativas que a igreja impunha aos fiéis para que estes obtivessem a salvação.

A Reforma e a Bíblia

A Reforma Protestante foi, em muitos sentidos, um movimento hermenêutico, tanto das Escrituras quanto da própria vida. O domínio de séculos da interpretação alegórica é finalmente quebrado. O retorno aos princípios de interpretação defendidos pela Escola de Antioquia marca a leitura das Escrituras, a pregação, o ensino e os princípios dos reformadores.Alguns pontos foram centrais na discussão reformadora:

1. Combate e rejeição do conceito que a hierarquia da igreja era a autoridade máxima em questões religiosas e sociais. Com isso, então, a Bíblia deveria ser o “juiz” maior de todas as discussões; deveria ser a autoridade, acima do Papa e da Igreja.

2. Os reformadores rejeitaram as leis de interpretações eclesiásticas e apelaram para uma volta às fontes bíblicas, os Pais;

3. O lema central da Reforma foi: “A Escritura Sagrada á a única fonte da fé” (M. Lutero). “A fé faz nascer o homem novo e somente esse homem novo é capaz de entender diretamente as Escrituras, sem precisar de intermediários”. (Mosconi pg. 58).

4. Como os reformadores rejeitaram a autoridade da hierarquia eclesiástica sobre as Escrituras (Tradição) e os métodos alegóricos, o caminho foi o de interpretar as Escrituras com as próprias Escrituras (Sola Scriptura), visando harmonizar as aparentes contradições presentes com uma leitura literal do texto;

5. Os reformadores recusaram o uso de muitos comentários utilizados na Idade Média:6. Uso da Bíblia hebraica — os reformadores recusaram o texto bíblico oficial católico (Vulgata –

trad. da Septuaginta), e adotaram a versão Hebraica (de Jerusalém) que foi traduzida. A tradução foi impressa e colocada nas mãos do povo.

7. Abandono dos ritos e símbolos religiosos por uma concentração em torno das Escrituras

Características da Interpretação Bíblica dos Reformadores.

Enfase no sentido literal, histórico-gramatical do texto

Os reformadores defendiam a idéia de que cada texto tem só um sentido, o literal, a não ser que o próprio contexto do texto sugira uma interpretação figurada ou metafórica. A preocupação pelo sentido óbvio e simples do texto, levava os intérpretes a uma observação cuidadosa da gramática e do contexto. Segundo Lutero, “A alegoria de um sofista é sempre retorcida. Tudo que Orígenes escreveu não vale uma única palavra de Cristo”.

1. A necessidade da iluminação do Espírito Santo

O homem, por si só, é incapaz de conhecer as coisas de Deus e entendê-las porque uma “cegueira espiritual” o afetou em decorrência da Queda. Dessa maneira, o Espírito Santo é indispensável àquele que lê as Escrituras e tenta interpretá-las. Ninguém pode interpretar as Escrituras sem a ação iluminadora do Espírito Santo.

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2. A necessidade de estudar as Escrituras: As Escrituras deveriam ser estudadas a fundo, visto que também eram produções humanas. Pelo estudo cuidadoso das línguas originais, pelo conhecimento da cultura e época em que foram escritas, poder-se-ia chegar ao sentido das passagens.

3. O Sola Scriptura : Esse princípio da Reforma estabeleceu que a única regra de interpretação das Escrituras é a própria Escritura.

4. Intenção do autor humano: Contrários aos quatro sentidos de interpretação propostos pelos medievais (literal, alegórico, moral e escatológico), os reformadores defendiam que havia apenas um sentido em cada texto e que este era o sentido pretendido pelo autor humano. Esse sentido era encontrado após um minucioso estudo da sociedade do tempo do autor. Conseqüentemente, essas idéias geraram algumas discussões e más interpretações.

5. Uso de outras obras : Os reformadores não desprezaram por completo aquilo que o Espírito já havia feito e revelado a outros intérpretes — retomo as fontes. Muitos comentários dos Pais da Igreja (principalmente Santo Agostinho), dos pensadores medievais (os escolásticos) e dos contemporâneos eram utilizados como auxílio nas novas leituras.

A LEITURA DAS ESCRITURAS NO PERÍODO DA CONTRA-REFORMA

A reação dos católicos ao movimento protestante foi imediato. Mas, mesmo assim, levou-se algum tempo para que o movimento de Contra-Reforma se estabelecesse ideologicamente forte e teologicamente sistematizado.

O concílio da Igreja Romana, realizado na cidade de Trento (Itália), em 13 de dezembro de 1545 a 4 de dezembro de 1563, fixou aquilo que seria durante um bom tempo à doutrina e a práxis católica romana a partir de todo o burburinho surgido com a Reforma Protestante.

O concílio de Trento

A agenda do concílio foi tão complexa e tão volumosa que foram precisos 18 anos, abrangendo os reinados de 3 papas, para que ela se cumprisse. Veja:

1. Sessões 1 a 10 (13/dez/1545 a 02/jun/1547) - Papa Paulo III 2. Sessões 11 a 16 (O1/mai/1551 a 28/abr/1552) - Papa Juliano III 3. Sessões 17 a 25 (17/jan/1562 a 04/dez/1563) - Papa Pio IV

Principais decisões do concílio:

1. Condenou a livre e individual interpretação da Bíblia. A interpretação não pertence a qualquer pessoa, mas tão-somente aos sacerdotes e estudiosos;

2. Aceitou os comentários dos Pais da Igreja como unicamente válidos;3. Adotou a versão Vulgata (latim) como texto oficial e o latim como língua oficial da celebração

litúrgica;4. Definiu o cânon bíblico com os 73 livros (texto da Vulgata);5. Decretou como autoridade última na interpretação dos textos sagrados o Magistério Eclesiástico.

Com isso, a tradição tem autoridade inspirada igual à das Escrituras;6. Enfatizou a importância dos estudos da crítica textual e das línguas originais;7. Valorizou a exteriorização da fé(ritos, celebrações, procissões, etc);8. Determinou a existência de 7 sacramentos instituídos por Cristo: o batismo, a confirmação, a

eucaristia, a penitência, a extrema unção, as ordens e o matrimônio;9. Condenou os que afirmavam que os sacramentos não são necessários para salvação, mas

somente a justificação pela fé;10. Confirmou a transubstanciação como doutrina do sacramento da Ceia.

A Contra-Reforma e a Bíblia

Como visto acima, a interpretação das Escrituras ficou reservada à Igreja (sacerdotes e estudiosos) e vedada a um conjunto de normas e preceitos rígidos.

“Como a experiência tem demonstrado, a leitura individual da Bíblia em língua vulgar moderna causa mais prejuízo que proveito; por isso, nesta matéria o fiel deve ater-se ao juízo do bispo e à orientação do vigário ou do confessor.” – Papa Pio IV (1654)

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Luis Mosconi acentua que leitura da Bíblia que surgiu da contra-reforma católica é literal e acrítica. Enquanto a leitura protestante favorecia o individualismo, a liberdade de consciência e a iniciativa privada, a católica foi massificando e despersonalizando. Entrou em choque com a ciência, que na época estava fazendo importantes descobertas e reivindicando autonomia do poder religioso.

A LEITURA DAS ESCRITURAS DO PERÍODO DO ILUMINISMO (Séc. XVIII)

Final do século XVI: protestantes e católicos disputavam novos espaços. O Novo Mundo (Américas) era descoberto: os católicos ocupando o espaço da América Central e América do Sul, enquanto os protestantes dominavam as terras da América do Norte (EUA e Canadá). A leitura da Bíblia, pelo lado católico, era dominada pelo poder eclesiástico, e pelo lado protestante por uma forma individualista.Início e desenvolvimento dos séculos XVII e XVIII: surgem as várias ciências, fruto das descobertas científicas e dos novos conceitos filosóficos (Racionalismo, Empirismo-Cientificismo, Deismo, etc). “A era do Iluminismo caracterizou-se pelo desejo de um conceito superior e mais racional de tudo” (C. BROWN, Enciclopédia Histórico-teológica, p. 308). Nesse período, o conceito de religião ficou restrito a um simples sistema de educação moral para a raça humana, que ensinava todos os homens a como conviverem socialmente bem como irmãos.

O Iluminismo e a Bíblia

Enquanto nos meios populares católicos e protestantes se Iia a Bíblia de maneira pietista e acrítica, nos ambientes intelectuais crescia uma crítica ferrenha contra esse tipo de leitura.

O racionalismo e o cientificismo figuravam como pressupostos de estudos bíblicos. Estes afirmam só poder existir ou ter existido o que é racional, palpável, o que pode ser experimentado e comprovado pela ciência e pelos fatos.

RESULTADO:

As novas “formas” de abordagem da Bíblia tiveram várias implicações.

1. Rejeição dos relatos miraculosos: as atividades de Deus na História, a criação do mundo, as manifestações de milagres de Moisés, Elias ou Jesus, passaram a ser desacreditados e tratados como simplesmente fenômenos naturais. “Já que milagres não existem, segue-se que esses relatos são fabricações do povo de Israel e depois da Igreja, que atribuiu a Jesus atos sobrenaturais que nunca aconteceram historicamente” (NICODEMUS p.184) - Heinrich Paulus.

2. Distinção entre fé e história: como os relatos de milagres passaram a ser vistos como criação da fé, tanto de israelitas quanto da Igreja primitiva, até o milagre da ressurreição de Cristo foi inventado pelos seus discípulos, ou seja, uma simples construção da fé para justificar sua crença em Jesus Cristo. Assim, a fé é algo irreal e mítico. Para Herman Reimarus (professor alemão) “Jesus não fez nenhum milagre; foi somente um líder político falido que tentou organizar uma revolta contra os dominadores romanos. O golpe faliu, Jesus foi preso e crucificado. Os discípulos não se conformaram com essa derrota. (..) Roubaram o corpo e esconderam o seu corpo e depois começaram a pregar que Jesus havia ressuscitado e estava vivo” (MOSCONI, p. 62) — Bruno Bauer. Herman Reimarus, David Strauss.

DEÍSMO: conceito de Deus que reconhece Sua existência como criador, mas o homem (criação) tem total autonomia vital e racional (idéia do relojoeiro que dá corda no relógio (mundo-criação) e o deixa lá funcionando, sem intervir mais).

Negação da intervenção divina, quer na história, quer nos registros bíblicos. A História passou a ser vista como simplesmente uma relação natural de causas e efeitos. O conceito de que Deus se revela ao homem e de que intervêm e atua sobrenaturalmente na História humana foram excluídos. (NICODEMUS, p.184)

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3. Erros nas Escrituras: nessa época houve uma grande reação contra o dogmatisrno, defendido na Reforma Protestante, afirmando-se que a Igreja havia “engessado” o verdadeiro sentido das Escrituras ao criar os dogmas. O principal dogma rejeitado agora foi o da inspiração divina das Escrituras, visto que isso os impedia de tratar a Bíblia de forma crítica, como um livro humano — Johann Semler, Karl Hase.

4. Exegese controlada pela razão: a razão foi estabelecida como medida única da verdade nas discussões teológicas. Para se interpretar corretamente a Bíblia, seria necessária uma abordagem “não religiosa”, não dogmática (ex.: Inspiração e Revelação). Para se poder chegar aos fatos por detrás do surgimento da religião de Israel e do Cristianismo, seria necessário desconsiderar os dogmas, e através da razão entender e reconstruir os fatos daquela época. Para isso alguns métodos foram usados como por exemplo: crítica bíblica, crítica da forma e crítica literária. Todos estes métodos se enquadram dentro do que se denomina “método histórico-crítico”.Para que a exegese seja feita de forma “neutra”, é preciso que se deixe fora o “dogma” da inspiração; a Bíblia não é mais Palavra de Deus.Assim, o critério de veracidade dos milagres passou a ser a ciência, ou seja, só pode ter acontecido algum fato miraculoso se o mesmo pode acontecer também hoje. Franz Reinhard diz: “Tudo que chamamos de miraculoso e sobrenatural é para ser entendido somente de forma relativa, e não é nada mais que uma exceção óbvia ao que pode ser produzido por causas naturais” (NICODEMUS, p187) — Franz Reinhard. Ernest Renan.

5. Mito na Bíblia – a Bíblia está cheia de figuras e relatos mitológicos, que era a maneira pela qual a raça humana em tempos primitivos articulava aquilo que não conseguia compreender. (Nicodemus)David Strauss concluiu que a vida de Jesus é um grande mito, criado pelas primeiras comunidades cristãs e enriquecido a partir de um pequeno núcleo histórico. Surge, então, a “alta crítica” buscando separar dos relatos bíblicos os acréscimos mitológicos — Rudolf Bultmann. Martin Dibelius, Karl Schmidt.

A tentativa de unir o racionalismo com a exegese bíblica fez surgir um movimento dentro do cristianismo que se chama liberalismo teológico.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS (De acordo com MOSCONI, p65)a) (+) Recuperação do valor da história nos estudos bíblicos;b) (+) Uma leitura mais crítica e menos ingênua da Bíblia;c) (+) Uma leitura que busca situar o texto bíblico dentro do contexto histórico da época em que

surgiu;d) (-) Muitos preconceitos em relação à fé (mito e ignorância);e) (-) Ficou restrita aos grandes centros de estudos;

A RESPOSTA DO FUNDAMENTALISMO

O Fundamentalismo surgiu nos EUA após a publicação da série “Os Fundamentos” (1910-1915), 12 volumes de artigos escritos por conservadores onde defendiam os pontos fundamentais do cristianismo diante do modernismo/liberalismo. Veja alguns pontos:5

A inspiração, - infalibilidade e inerrância das Escrituras – reagindo contra os ataques do liberalismo que considerava que a Bíblia estava cheia de erros de todos os tipos.

A divindade de Cristo – também negada pelos liberais, que insistiam que Jesus era apenas um homem divinizado.

O nascimento virginal de Cristo e os milagres – para o liberalismo, milagres nunca existiram, eram construções mitológicas da Igreja primitiva.

O sacrifício propiciatório de Cristo – para os liberais, Cristo havia morrido somente para dar o exemplo, nunca pelos pecados de ninguém.

Sua ressurreição literal e física e seu retorno – ambas doutrinas eram negadas pelos liberais, que as consideravam como invenção mitológica da mente criativa dos primeiros cristãos.

PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOSa) (+) Postura apologética diante da ameaça liberal, isto é, defenderam a fé buscando salvaguardar

a herança protestante ortodoxa da teologia liberal.b) (+) Sempre ativamente engajados na evangelização.c) (-) Pode levar a uma absolutização do sentido literal do texto.d) (-) Idéia de que cada detalhe do texto é inspirado.

5 Encontram-se em www.ipb.org.br/artigos/artigo_inteligente.php3?id=30. A. Nicodemus.

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e) (-) Pouca sensibilidade para a condição humana dos autores.f) (-) Não preocupação com as questões sociais.g) (-) Separatismo denominacional e eclesiástico como único meio de preservar a verdade cristã.h) (-) Intolerância diante de opiniões diferentes, mesmo quando estas não afetam pontos

fundamentais da fé

GÊNEROS LITERÁRIOS

O que é um gênero ou forma literária?É caracterizado por uma série de idéias, emoções dominantes; formas estilísticas e formas

sintéticas particulares: um vocabulário típico, facilmente perceptível; uma situação vital comum (Sitz in Leben), da qual o gênero provém.Valério Manucci define gênero literário como “várias formas ou maneiras de escrever usadas comumente entre os homens de uma determinada época e região e colocadas em relação constante com determinados conteúdos” (p. 101).

1. NarrativaUma forma de prosa que visa contar a história e a verdade por meio de fatos, histórias, relatos, biografias, etc., a partir de uma perspectiva teológica.Características: revela a verdade de forma indireta; apela às emoções e à imaginação, através da criação de “imagens mentais”. Ex.: JosuéCuidado: não se apegue demais aos detalhes. Alguns são importantes, outros não.

2. DiscursoUma forma de prosa que procura apresentar idéias, conceitos, doutrinas ou fatos de forma lógica e ordenada, geralmente por meio de um argumento, carta, preleção, sermão ou palestra.Características: revela a verdade de forma direta; apela à mente e ao intelecto(racional e ordenadamente); conduz, normalmente, a uma conclusão ou desafia à ação(obediência). Ex.: HebreusCuidado: Não perca o tema central. Não fragmente o texto.

3. Poesia(Salmos)Forma literária utilizada para comunicar emoções, sentimentos, idéias. No texto bíblico deve ser visto como resposta humana às ações maravilhosas de Deus.Característica: revela a verdade através das figuras de linguagem, da forma e do conteúdo; utiliza-se de uma linguagem figurativa, descritiva e simbólica; as palavras empregadas, geralmente não visam ser interpretadas literalmente, mas comunicam sentido e verdade com clareza. Ex.: SalmosCuidado: Não interprete literalmente a linguagem simbólica ou figurativa, perdendo de vista a verdade que está sendo ensinada.

4. ProfeciaUtiliza-se de uma linguagem altamente simbólica e figurativa, mas comunica verdade real. No caso bíblico, sua função é anunciar a aliança e exigir seu cumprimento (veja Dt 4.32-40 e compare com Amós 9.11-15 e Oséias 8.14) e anunciar a Palavra de Deus (Jr 27 e 28). Para ler as profecias é preciso localizar o período em que foram proclamadas e escritas (a fase do reinado, do exílio e do retorno) e do período específico de cada profeta (veja Os 5.8-10). É importante lembrar que os livros proféticos não são uma narrativa linear, mas um conjunto de oráculos6, de declarações. Ex.: Jeremias, Miquéias, Ezequiel.Características: Geralmente contém visões que pedem interpretação cuidadosa.Cuidado: Não se esqueça da natureza simbólica do texto.

5. EpístolasNão formam uma coletânea homogênea, são textos endereçados, ocasionados; visam tratar de situações específicas que envolvem as comunidades ou indivíduos, como: Filemom, Timóteo.Cuidado: As epístolas devem ser lidas como escritos ocasionados, isto é, visam tratar de situações específicas que podem ser atualizadas para nossa realidade.

6. Sapiencial É o tipo de literatura que busca aplicar a verdade à vida em seu cotidiano. No caso do sapiencialismo bíblico parece ser uma Teologia para a vida.Características: É comum a literatura sapiencial ter como foco as pessoas, seu comportamento e vivência na sociedade; os textos sapienciais devem ser lidos como orientações em como conduzir sabiamente a vida, tendo como princípio o temos do Senhor. Ex.: Provérbios.

6 Oráculos: pequenas coleções de sentenças relacionadas com uma situação específica.

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Cuidado: Mesmo no caso dos textos em forma de sentenças não se pode desmerecer a importância do contexto para o entendimento do texto.

7. ParábolasÉ uma história que ensina uma lição de moral ou uma verdade. Embora normalmente fictícia, a parábola é uma história que reflete a vida real. É projetada para mostrar uma proposição central e cada detalhe da parábola reforça essa proposição. As parábolas ampliam ou continuam uma doutrina, mas não a estabelecem por não serem passagens doutrinárias muito claras.Cuidado: Não se deve tentar sempre um significado e uma aplicação espiritual a cada detalhe. As parábolas não devem nunca ser a principal ou única fonte para o estabelecimento de doutrinas.

8. ApocalipseO gênero apocalíptico, muito comum entre os judeus do séc. II a.C. ao séc. II d.C., caracteriza-se por suas “revelações”, sobretudo sobre o futuro, e nele abundam as visões simbólicas, as alegorias enigmáticas, as imagens surpreendentes e as especulações numéricas. Sua aparição se explica pelas duras condições de vida do Judaísmo tardio, que despertaram um grande desejo de tempos melhores e de libertação nacional. O protótipo deste gênero no A.T. é o livro de Daniel, assim como no N.T. o Apocalipse.

LENDO A BÍBLIA – Hermenêutica e Exegese

A Bíblia foi escrita numa cultura totalmente diferente da nossa. Além disso, estamos muito distante do tempo em que o texto foi escrito. Por isso a leitura e interpretação da Bíblia requer algumas etapas ou tarefas. É preciso haver um esforço para que se tenha uma hermenêutica apropriada e uma exegese correta. Hermenêutica?! Exegese?!

Hermenêutica visa revelar, descobrir, tornar compreensível o objeto de estudo – o texto. Significa basicamente “interpretar o texto”, enquanto Exegese seria uma busca pelo significado original do texto, i.é, uma busca pela intenção primeira do texto.

Existem vários métodos que foram surgindo e sendo desenvolvidos de forma a ajudar o leitor da Bíblia. São eles:

Leitura Popular da Bíblia; Estudo Bíblico Indutivo; Leitura Contextual; Lectio Divina; Método LEIA. Destes, quero destacar dois.

Lectio Divina

Lectio Divina é uma expressão latina que significa “leitura divina”. É uma forma de adentrar as Escrituras até chegar ao próprio coração de Deus.Onde surgiu a Lectio Divina?

A expressão foi usada por um dos pais da Igreja chamado Orígenes, que viveu no séc. III. Ele afirmava que se deveria ler o texto com o coração aberto e em clima de oração. O método da Lectio foi sistematizado por um monge chamado Guido, que viveu no séc. XII. Ele organizou um roteiro para a Lectio Divina, composto basicamente de etapas (ou degraus).

1. Leitura:É a leitura atenciosa do texto bíblico feito com espírito investigativo e preocupação por

entendê-lo. Consiste em: ler e reler o texto de forma a identificar os personagens e a ação, com perguntas sobre

contexto, estilo literário,destinatário etc. descobrir o que Deus queria dizer ao povo naquela situação histórica; o que o texto nos

anuncia acerca de Deus.

2. Meditação:

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A meditação nos ajuda a descobrir qual é a Palavra de Deus para sua igreja hoje. Usa perguntas como: Qual a mensagem desse texto para nós hoje?

A meditação procura estabelecer um diálogo entre a Palavra e a realidade da vida; atualiza o sentido do texto até deixar claro o que Deus nos pede. É lido individualmente mas tem um efeito comunitário. É preciso:

repetir o texto até descobrir a mensagem que ele encerra para nós, hoje.

3. Oração:É a atitude de constrangimento e resposta ao encontro com a Palavra de Deus para nós. Na

realidade, a oração é provocada pela meditação. Começa com uma atitude de admiração, seja individual ou comunitária, envolve um momento de ação de graças e reconhecimento da “fala” de Deus para nós, sujeição à Sua vontade soberana, arrependimento, petição e adoração. Devo perguntar:

o que a passagem em que meditei me inspira a dizer a Deus?

4. ContemplaçãoÉ o que fica nos olhos e no coração, uma vez terminada a etapa da oração. É o mergulhar no

interior dos acontecimentos para descobrir e saborear a presença ativa e criadora da Palavra de Deus. É o momento de regozijo. Não se trata de sair da realidade, mas adentrar mais e mais na história de salvação através do ato contemplativo. É o ponto de chegada da Lectio Divina e o ponto de um novo início. A pergunta chave é:

o que eu preciso mudar na minha vida, a partir de tudo o que li, meditei e orei?Por meio da Lectio Divina podemos nos encontrar com a Palavra de Deus, de forma que esta

nos fará mudar a nossa mentalidade e atitude diante do mundo (Rm 12.1-2).

Método LEIA7

Podemos comparar as riquezas da Bíblia como tesouros preciosos no fundo do mar. Para muitos estão ocultos, mas nos foi anunciado que estão lá e que podemos e devemos buscá-los. Do que precisamos então? De um barco, roupas de mergulho e, principalmente, ir até onde os tesouros estão: no meio do mar.

Precisamos mergulhar nessas águas e explorar as profundezas, os arredores, com os olhos bem abertos e atentos para chegar aos nossos tesouros. Mas, não basta achá-los, precisamos trazê-los para fora, para o barco. Levá-los para a nossa casa, nossa família, para o mercado, para a cidade, pois os tesouros sempre mudam as condições de nossa vida!

Precisamos ir até a Bíblia, mergulhar na sua leitura, explorar o texto bíblico, conhecer seu contexto, o seu universo, e, então, trazer conosco essas riquezas da sabedoria de Deus, interpretando o texto. Não somente guardá-las conosco, mas, também, atualizar as mensagens que nos trazem, aplicando-as a nossa realidade, para que façam sentido e mudem as condições da nossa vida.

Nessa aventura o método é simples: LER, ENTENDER, INTERPRETAR e ATUALIZAR. Então, LEIA. Antes, é preciso ressaltar que alguns cuidados são necessários para esse mergulho na Palavra

L - LER O TEXTO

É preciso, antes de tudo, orar e pedir ao Espírito Santo seu auxílio. Precisamos estar equipados! O texto bíblico deve ser lido com muita atenção. Leia-o devagar e mais de uma vez. Explore os arredores: dê uma olhada nos trechos que vêm antes e depois do trecho que você leu.

Se encontrar palavras ou expressões que não são muito claras para você, leia o mesmo texto em outras traduções da Bíblia, para ver se outros termos usados o ajudam a entender o significado, ou, busque a ajuda de um Dicionário Bíblico.

E - ENTENDER A SITUAÇÃO DE VIDA DO TEXTO QUE LI

É importante lembrar que os textos bíblicos não são “palavras soltas ao vento”, mas dizem respeito a situações concretas da vida. É preciso ter uma idéia mais clara sobre esse contexto do qual o texto faz parte se quisermos entendê-lo. Identificar o estilo literário pode ajudar nessa tarefa, isto é, ver se o trecho que foi lido é uma história (uma narrativa), uma profecia, um cântico, uma oração, um salmo ou uma carta. Mas, seja o que for, não está ali sem função ou à toa: está

7 O presente método foi desenvolvido por Regina Fernandes Sanches e Súsie Helena Ribeiro, ambas professoras da FATE-BH.

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respondendo a uma situação específica, relacionando-se a pessoas, histórias, eventos. Para entender essas situações de vida, é interessante que se explore o texto, levantando questões como: que tipo de texto é esse? É um salmo, uma profecia, uma carta, um diálogo? Quais são as pessoas envolvidas no texto? Quem fala e para quem fala? Onde essas pessoas estão e o que estão fazendo? (os mapas que as Bíblia trazem no final ajudam a visualizar melhor os lugares e acontecimentos); Quem é a pessoa que exerce o papel principal, o centro do trecho lido? Onde ela está e o que está fazendo? Há indicações de tempo ou de lugar?

Outras perguntas também são relevantes, como, por exemplo, qual o tipo de linguagem é utilizada, mais formal ou mais informal? Há repetições? Se há, o que está sendo repetido ou enfatizado? Usam-se comparações para explicar alguma coisa? Que tipo de comparação? Qual o objetivo? Há descrições ou referências a costumes próprios de outros lugares, culturas e de outras épocas? Como são essas descrições e referências?

Os trechos que vêm antes e depois também trazem informações importantes para sua exploração. É interessante questionar o que o texto que vêm antes mostra que é relevante para o trecho que está sendo estudado, assim como o trecho que vem logo depois.

Outras perguntas poderão ser feitas a partir do próprio texto.

I - INTERPRETAR O TEXTO QUE ENTENDI

Interpretar significa tornar claro o sentido do texto, ou seja, compreender o que ele significou em sua origem, para aqueles que o vivenciaram em sua época, em sua situação de vida. Para buscar o melhor sentido para o texto bíblico e encontrar com a Palavra de Deus que o interpela, você precisa levar em consideração todo o percurso que fez até aqui: a leitura e a busca pelo entendimento das situações de vida do texto.

Contudo o que construiu até agora, lendo e explorando o texto para entendê-lo, você pode agora passar a outras perguntas que o ajudarão a interpretar: qual a mensagem do texto para as pessoas de sua época? Qual a resposta do texto para as situações de vida de sua época? O que o texto ensina acerca de Deus e da Sua vontade para aquelas pessoas?

A – ATUALIZAR O TEXTO QUE INTERPRETEI

Atualizar significa aplicar, praticar. É trazer para nossos dias e para nossas situações de vida o que se entendeu. A Palavra de Deus nos interpela, nos chama não somente para ouvir (entender), mas para a prática.

Mas não se pode atualizar qualquer texto para qualquer situação, pois, se fazer isso é forçar a Bíblia.

Como se pode então fazer essa aplicação? Pensando em como aquela mensagem para os primeiros leitores do texto pode ser uma

mensagem para mim e para minha realidade hoje. Refletindo sobre qual situação da minha vida, da minha Igreja ou sociedade é parecida com a

situação do texto, e como a mensagem do texto responde a essas minhas situações de vida. Entendendo o que o texto ensina acerca de Deus e da Sua vontade para a minha vida, minha

Igreja, meu país e o mundo em que vivemos hoje.Então, LEIA !

Agora que você leu, entendeu, interpretou e atualizou o texto somente resta agir como um bom missionário e anunciar o conhecimento de Deus e da Sua vontade que você obteve a partir da LEITURA DA BÍBLIA.

ANEXO

PROFETAS E REIS PROFETAS E REIS

Elias (Acabe e Acazias de Israel) c. 870 – 850

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Eliseu (Acabe e Jeoás de Israel) c. 860 – 795

Amós (Uzias de Judá e Jeroboão II) c. 760

Oséias (Antes da queda da dinastia de Jeú) c. 750 – 722

Miqueias (Jotão, Acaz, Ezequias) c. 735 – 700

Isaias (Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias) c. 750 – 690

Sofonias (Josias) c. 640 – 609

Naum – entre 663 – 612

Habacuque c. 625 – 598 ???

Jeremias (Josias, Jeoacaz, Jeoaquim, Zedequias) 626 – 586

Obadias c. 590 ou 580 ???

Ezequiel (Exílio) 592 – 572

Daniel (Exílio) Final do século VI (605 – 538) ???

Ageu (Pós-exílio) 520 – 518

Zacarias (Pós-exílio) c. 520 – 518

Joel 835 – 796 ou 600/550/500 (Pós-exílio) ??? Obs.: a mensagem de Joel não depende de sua

data.

Malaquias (Pós-exílio) entre 515 – 460 ou posterior a 458.

Jonas (cf. II Rs 14.25) 780. A forma atual do livro parece ser pós-exílica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MOSCONI, Luis. Para uma leitura fiel da Bíblia. São Paulo: Loyola, 1996.