ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ISSN 2177-5087 Lorena, SP – Brasil volume 7, número 13, jan./jun. 2016 EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA

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Revista de Educação, Cultura e Comunicação do Curso de Comunicação Social das Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA, Lorena, SP, Brasil.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

ISSN 2177-5087

Lorena, SP – Brasil volume 7, número 13, jan./jun. 2016

EDUCAÇÃO, CULTURA E COMUNICAÇÃO

FACULDADES INTEGRADAS TERESA D’ÁVILA

LORENA - SP

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ISSN 2177 – 5087

ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação

Lorena, SP, volume 7, número 13, jan./jun. 2016

© Faculdades Integradas Teresa D’Ávila – FATEA

Especialização em Educomunicação e Novas Tecnologias

Cursos de Comunicação Social Jornalismo/Publicidade e Propaganda/Rádio, TV e Internet

ECCOM – Revista de Educação, Cultura e Comunicação / Faculdades

Integradas Teresa D´Ávila - vol. 7, n. 13 (2016). – Lorena, SP: Cursos de

Comunicação Social, 2016 –

Semestral

ISSN: 2177-5087

1. Educação - periódicos. 2. Cultura - periódicos. 3. Comunicação - periódicos. I.

Brasil, Faculdades Integradas Teresa D´Ávila.

CDU.001.5(05)

CDU 001.5 (05)

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Equipe Editorial

Editor Científico

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil

Editor Gerente

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil

Revisores

Neide Aparecida Arruda de Oliveira, Fatea, Brasil (Línguas portuguesa e inglesa)

Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, Brasil (Normatização)

Conselho Editorial

Prof. Dr. Adilson da Silva Mello, UNIFEI, Brasil

Prof. Dr. André Luiz Moraes Ramos, UniFOA, Brasil

Prof. Dr. Carlos Manuel Nogueira, Universidade de Lisboa, Portugal

Profª Drª Débora Burini, UFSCar, Brasil

Profª Drª Lucia Rangel Azevedo, FATEA, Brasil

Profª Drª Olga de Sá, PUC-SP, FATEA, Brasil

Prof. Dr. Rosinei Batista Ribeiro, UniFOA, FATEA, Brasil

Prof. Dr. Walter Moreira, UNIMAR, Brasil

Prof. Dr. Wellington de Oliveira, PUC-SP, FAINC, FATEA, Brasil

Prof. Me. Jefferson José Ribeiro de Moura, FATEA, UNITAU, Brasil

Profª Me. Neide Aparecida Arruda de Oliveira, FATEA, Brasil

Publicação On Line

http://publicacoes.fatea.br/

http://www.issuu.com

http://www.doaj.org

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SUMÁRIO

EDITORIAL

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AS REDES SOCIAIS NA DIVULGAÇÃO DE EVENTOS E PROMOVENDO O

TURISMO DE EVENTOS EM PARNAÍBA-PI

André Riani Costa Perinotto, Dilene Magalhães Borges, Julyana Lopes Sousa

7

O ENQUADRAMENTO DA CRISE HÍDRICA NA REVISTA VEJA

Andrea Reis, Carla Montuori Fernandes

27

A ESCOLA CONTEMPORÂNEA E O DIÁLOGO COM A GERAÇÃO Z:

ESTUDO DE CASO DE EDUCOMUNICAÇÃO NO ENSINO MÉDIO DO

COLÉGIO ISRAELITA BRASILEIRO

André Iribure Rodrigues, Fernando Zatz

37

PROFESSOR X TECNOLOGIA: USO DA FERRAMENTA BLENDSPACE EM

SALA DE AULA

Miguel A. de Oliveira Júnior, Luara Aparecida Russo de Castilho, Miriam L. Dias

Macedo Rodrigues Alves

53

A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

SUPERIOR DO VALE DO PARAÍBA: ESTUDO DE CASO

Rachel Duarte Abdala, Rosana do Carmo Montemor

63

CONFRONTING THE CHALLENGES OF DIGITAL MEDIA AND

LEARNING: ADVANCING THE DEBATE ON EDUCATION, YOUTH AND

CITIZENSHIP

Wellington de Oliveira

79

MARKETING INSTITUICIONAL: FORTALECIMENTO DA MARCA

POLÍCIA MILITAR

José Ronaldo Andrade , Ângela Santos

89

O PAPEL DO PROFESSOR E AS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS NO ESTUDO

DA LINGUAGEM DA MÍDIA

Lígia Beatriz Carvalho de Almeida, Mariana Pícaro Cerigatto

105

UM ENSAIO ETNOFOTOGRÁFICO SOBRE O ENVELHECIMENTO

Wilson José Alves Pedro

115

COMUNICAÇÃO, ECONOMIA POLÍTICA E SOCIEDADE MUNDIAL DE

CONTROLE: COMPLEXIDADE E PODER NA CONTEMPORANEIDADE

José Antonio Martinuzzo, Wagner Piassaroli Mantovaneli

129

USOS E APROPRIAÇÕES DE MULTIMÍDIAS NA EDUCAÇÃO PARA A

BIODIVERSIDADE EM ESCOLAS DE BELÉM/PA

Mayara Maciel

147

NORMAS PARA ENVIO DE ORIGINAIS

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EDITORIAL

É com grande prazer que colocamos à disposição da Comunidade, pelo quinto ano consecutivo, o volume 7, número 13, da revista eletrônica científica Educação, Cultura e Comunicação – ECCOM – cujo ISSN é 2177-5087.

Neste volume são apresentados 11 artigos.

O primeiro estudo, de autoria de Julyana Lopes Sousa, Dilene Magalhães Borges e André Riani Costa Perinotto, trata-se das redes sociais na divulgação de eventos e promovendo o turismo de eventos em Parnaíba, Piauí.

Em seguida, apresenta-se “O Enquadramento da Crise Hídrica da Revista Veja”, que pretende elencar como ocorreu o enquadramento da crise e as atribuições de responsabilidade veiculadas por essa mídia, das pesquisadoras Andréa Reis e Carla Montuori Fernandes.

O terceiro artigo intitulado segue abordando “A escola contemporânea e o diálogo com a Geração Z: Estudo de Caso de Educomunicação no Ensino Médio do Colégio Israelita Brasileiro”, parte da inter-relação entre as áreas científicas da Educação e da Comunicação para identificar alternativas que tornem o ambiente escolar e os processos de ensino-aprendizagem mais relevantes às expectativas do jovem contemporâneo.

Como tornar as aulas mais dinâmicas, atrativas e informativas? Esta deve ser a indagação principal da grande maioria dos docentes no Brasil. A partir desta indagação, inicia-se uma reflexão denominada “Professor x Tecnologia: uso da ferramenta Blendspace em sala de aula”, dos autores Miguel Adilson de Oliveira Júnior, Miriam L. Dias Macedo R. Alves e Luara Ap. Russo de Castilho.

O quinto artigo “A extensão universitária em uma instituição de ensino superior do Vale do Paraíba: estudo de caso”, das autoras Rachel Duarte Abdala e Rosana do Carmo Montemor, relata uma análise sobre a extensão universitária por meio de um estudo de caso em uma instituição de ensino superior no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

Já no sexto artigo redigido em língua inglesa intitulado “Confronting the challenges of digital media and learning: Advancing the debate on education, youth and citizenship.”, de autoria do Dr. Wellington de Oliveira, focaliza mídia digital e educação como meios poderosos para criar oportunidades para os jovens como formas de aprenderem aquilo que é relevante para suas vidas e prepará-los para o sucesso na escola, no local de trabalho e nas suas comunidades.

Em seguida, o sétimo relato de pesquisa trata-se de “Marketing institucional: fortalecimento da marca Polícia Militar”, cujos autores José Ronaldo Andrade e Ângela Santos, analisam a viabilidade de implantação da gestão de fortalecimento da marca da Instituição, por meio da contratação de uma empresa especializada para trabalhar o composto integrado de marketing e consequentemente educação e treinamento a todos os policiais, a fim de torna-los gestores da marca da corporação, buscando uma mudança de comportamento que passa da indiferença para colaborador cuidando da marca como se fosse seu próprio nome, com a finalidade de melhorar a imagem e reputação dos serviços prestados pela Polícia Militar.

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No oitavo artigo “O papel do professor e as abordagens pedagógicas no estudo da linguagem da mídia” discute metodologias destinadas à alfabetização para a mídia. O estudo aponta caminhos, calcados na metodologia inglesa, denominada media literacy, para trabalhar com a linguagem da mídia em sala de aula e expõe resultados de atividades aplicadas pelas autoras Ligia Beatriz Carvalho de Almeida e Mariana Pícaro Cerigatto.

No nono artigo intitulado “Um ensaio etnofotográfico sobre o envelhecimento”, de Wilson José Alves Pedro, propõe uma síntese reflexiva – imagética e textual sobre o tema processos de envelhecimento.

Já o décimo relato de pesquisa “Comunicação, economia política e sociedade mundial de controle: complexidade e poder na contemporaneidade”, de José Antonio Martinuzzo e Wagner Piassaroli Mantovaneli, discute como a análise da economia política, conjugada à análise dos sistemas de comunicação, pode ajudar a entender a complexidade da formação de uma sociedade mundial de controle, condição indispensável para a sobrevivência acadêmica frente ao tecido complexo do real com o qual tem de lidar para criar efeitos positivos no campo da ação social.

“Usos e apropriações de multimídias na educação para a biodiversidade em escolas de Belém/PA” é o último relato apresentado pela pesquisadora Mayara Santos Maciel que identificou as percepções sobre o conceito de biodiversidade em duas comunidades escolares de Ensino Fundamental e Médio da cidade de Belém do Pará – Brasil.

Boa leitura a todos!

Neide Aparecida Arruda de Oliveira

Editora Gerente

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As redes sociais na divulgação de eventos e promovendo

o turismo de eventos em Parnaíba-PI

Julyana Lopes Sousa Graduação em Turismo (Bacharelado) pela Universidade Federal do Piauí (UFPI, Parnaíba)

Dilene Magalhães Borges Graduação em Turismo (Bacharelado) pela Universidade Federal do Piauí (UFPI, Parnaíba).

André Riani Costa Perinotto Graduado em Turismo pela Universidade Metodista de Piracicaba; Especialista em Docência para Ensino

Superior em Turismo e Hotelaria pelo SENAC/SP; Mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista -

UNESP/Rio Claro; Doutor em Ciências da Comunicação - UNISINOS/RS. Professor Adjunto - D.E - Curso de

Turismo. UFPI - Universidade Federal do Piauí / CMRV (Parnaíba/PI).

Resumo

Este trabalho trata da utilização das redes sociais como estratégia para a divulgação dos

eventos e da promoção (estratégia de marketing) do turismo de eventos em Parnaíba/PI, além

de identificar as redes sociais mais utilizadas e analisar as ações adequadas de divulgação

de eventos por seus produtores. Para o fundamento teórico do estudo, obtiveram-se

informações de autores ligados ao tema em comum, concebidos de livros, artigos, internet e

revistas especializadas. Os procedimentos metodológicos definiram-se em caráter

bibliográfico, de campo, descritivo, qualitativo e quantitativo com a aplicação de

questionários padronizados às empresas de eventos e aos órgãos municipais, que costumam

realizar eventos na cidade, dos quais se constatou conforme a análise, que utilizam

consideravelmente as redes sociais, deixando claro que a internet e, especialmente o

Facebook, são ferramentas essenciais para a propagação de seus eventos.

Palavras-chave Redes sociais; Marketing; Turismo de eventos; Parnaíba.

Abstract This work is about the use of social networks as a strategy for the dissemination of events and

promotion (marketing strategy) the tourism events in Parnaíba/PI, and identify the most used

social networks and examine the appropriate actions for the dissemination of events their

producers. For the theoretical foundation of the study, we obtained information of authors

related to common theme, designed books, articles, internet and specialized magazines. The

methodological procedures defined in bibliographical, field, descriptive, qualitative and

quantitative character by applying standardized questionnaires to event companies and

municipal agencies, which usually hold events in the city, which was found as the analysis,

using pretty social networks, making it clear that the internet and, especially Facebook, are

essentials tools for the propagation of their events.

Keywords Social networks; Marketing; Tourism Events; Parnaíba.

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1. Introdução

Na contemporaneidade o crescimento tecnológico e o interesse da sociedade pela

tecnologia vêm se desenvolvendo cada vez mais e conquistando espaços em diferentes áreas e

serviços, os quais requerem formas comunicacionais mais rápidas e que favoreçam a interação

entre os indivíduos, ocasionando a troca e o compartilhamento de informações acerca dos

mais distintos lugares em um único instrumento de comunicação.

Neste sentido, com base na observância do seu processo evolutivo, as redes sociais

destacam-se como importantes e essenciais ferramentas de comunicação entre as pessoas.

Estima-se que seu início tenha ocorrido com a troca de e-mails ou correios eletrônicos,

considerados como formas predominantes de interatividade, até enfim, obter esta notável

interação em tempo real formada por uma estrutura de sociabilidade, composta por pessoas ou

organizações que estão conectadas por vários tipos de relações e associadas a valores e

objetivos comuns.

As redes sociais, por meio da internet, passam a ser usadas pelas organizações como

uma nova mídia tornando-se assim, novas ferramentas de marketing. A propósito, pode-se

supor que no Brasil, o marketing estratégico e o marketing eletrônico vêm crescendo

paralelamente à difusão da internet no país, provocando transformações nas organizações e

criando um novo segmento direcionado a estes canais midiáticos.

Desse modo, suspeita-se que o marketing estratégico insere-se nos diversos meios de

comunicação e de relacionamento, ou seja, tudo em que ocorre a troca ou o compartilhamento

de informação, o marketing estratégico pode ser aplicado com o intuito de divulgar uma

informação ou uma marca de determinada empresa.

Neste contexto, observou-se que não há uma análise que permita verificar o uso das

redes sociais como estratégia de marketing na divulgação do turismo de eventos em Parnaíba,

o qual se estima que ainda esteja em fase de desenvolvimento na cidade, dando margem à

seguinte proposição: De que forma as redes sociais, utilizadas como ferramentas do marketing

estratégico, facilitam a divulgação do turismo de eventos na cidade de Parnaíba/PI? Por

conseguinte, vale assim mencionar que, com o auxílio do marketing estratégico, em especial

do marketing eletrônico, este segmento tem-se disseminando e alcançando um crescimento

significativo, no qual a utilização de meios e recursos como as redes sociais, colabora

expressivamente no seu incremento e na sua prática.

Este trabalho, portanto, teve como objetivo analisar a utilização das redes sociais como

ferramenta estratégica de mercado para divulgar o turismo de eventos em Parnaíba, bem

como, identificar as redes sociais e analisar os efeitos e as maneiras adequadas da utilização

das redes sociais como ferramenta difusora dos seus produtores de eventos.

Dessa maneira, a análise das redes sociais como estratégia de marketing dos eventos

realizados em Parnaíba apontou os motivos pelos quais os promotores de eventos são

induzidos a utilizarem como forma de divulgação, uma vez que a ferramenta Facebook é

apontada como a ferramenta mais utilizada para propagação de seus eventos, esclarecendo os

efeitos causados por meio de seu uso para promover o turismo de eventos, e assim, divulgá-la

e atrair os turistas que buscam este segmento.

2. Sociedade e comunicação

Presume-se que, historicamente, a sociedade já passou por várias transições estruturais

e sociais, como sociedade agrícola, sociedade industrial, sociedade da informação, sociedade

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do conhecimento e, atualmente, percorre por uma transformação causada pela internet e as

tecnologias digitais capazes de aflorar um novo paradigma social descrito pela sociedade em

rede.

As tecnologias da comunicação e informação (TIC’s) são vulneráveis aos efeitos

causados pelas formas de uso sociais da própria tecnologia, assim como, a eletricidade ou o

motor elétrico que tiveram papeis importantes para a formação da organização social baseada

na sociedade industrial. Desta forma, a sociedade em rede segue pelo mesmo caminho,

usando a tecnologia como condição fundamental para a elaboração de uma nova organização

social baseada nas redes.

O nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas

décadas. É um processo multidimensional, mas está associado à emergência

de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de

comunicação e informação, que começaram a tomar forma nos anos 60 e que

se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Nós sabemos que a

tecnologia não determina a sociedade: é a sociedade (CASTELLS, 2005,

p.17).

Assim, pode-se afirmar que a sociedade é o grande transformador da tecnologia, capaz

de moldar e desenvolver os avanços tecnológicos de acordo com a necessidade, valores e

interesses das pessoas que a constituem e a tecnologia assume o papel de sustentação dessa

nova sociedade emergente dando existência a esta forma estrutural denominada sociedade em

rede.

A sociedade em rede difunde-se em todos os aspectos de atividades relacionadas à

comunicação, originando um sistema cada vez mais digitalizado e interativo. Esta sociedade,

portanto, entra em fase de um novo conceito que se designa em um paradigma de organização

social, difundido por meio da influência da internet e das tecnologias digitais, capazes de

estruturá-la em redes, as quais proporcionam novas formas de interação globalizada e sem

fronteiras.

Diante desta afirmação, explica Monge e Contractor (2004 apud CASTELLS, 2005)

que a rede é uma estrutura formal e a sociedade em rede é classificada em termos simples,

como uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologia de comunicação e

informação estabelecidas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram,

processam e distribuem informação através de conhecimento acumulado nos laços dessas

redes.

As novas tecnologias de informação e comunicação têm sido, portanto,

elementos fundamentais do ambiente no qual está configurada a sociedade

informacional, que utiliza amplamente tecnologias de armazenamento e

transmissão de dados de baixos custos. Essa generalização da utilização dos

dados e da informação é acompanhada por inovações organizacionais,

comerciais, sociais e jurídicas que estão alterando profundamente o modo de

vida das pessoas na atualidade (ASSMANN, 2000 apud GUIMARÃES e

BORGES, 2008, p. 7).

Deste modo, os avanços tecnológicos ocasionaram certa dependência do homem em

relação aos novos meios de comunicação digital, estruturando um novo arranjo social,

sistematizada por redes de comunicação digital. Esses aparatos revolucionaram as formas

interativas entre as pessoas e que, com o passar do tempo, tem despertado um maior interesse

social por interatividade, informação e conhecimento. Vale acrescentar que as novas TIC’s

ocasionam a oportunidade de democratização e universalização da difusão da informação,

através da inovação dos meios comunicativos transformando a qualidade de vida das pessoas

que integram essa sociedade contemporânea.

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3. Internet e mídias sociais: surgimento, evolução e turismo

Entende-se a internet como um meio de comunicação e mecanismo de propagação da

informática e divulgação mundial em um meio para participação e interação entre indivíduos

e seus computadores, independentemente da localização geográfica, proporcionando aos seus

usuários um mundo virtual capaz de possibilitar uma interação em tempo real. A partir dos

avanços tecnológicos a internet revoluciona o “mundo” dos computadores e das

comunicações como, até então, nenhum outro meio ou outras invenções foram capazes de

consumar.

Sendo um meio de comunicação (mídia) impregnado de informações, a internet se

torna um exemplo de referencial para diversos/diferentes assuntos, e está disponível para os

usuários em vários lugares e, principalmente nos centros urbanos, passando a ser uma

ferramenta indispensável no cotidiano das pessoas.

Dentre as principais tecnologias produzidas nos últimos anos, nenhuma

causou mais impacto para a humanidade do que a internet. Empresas

reinventaram novas formas de trabalho e descobriram oportunidades outrora

inexistentes. A partir dessa tecnologia, surgiram empresas virtuais que nem

mesmo possuem estrutura física tradicional, caso da gigante livraria

eletrônica e pioneira nesse segmento, a Amazon, e de milhares de outras

empresas que são fundadas a cada dia, em todo o mundo (CAIÇARA

JUNIOR, 2007, p.129).

Assim, como os outros meios de comunicação que surgiram, evoluíram e se tornaram

úteis e essenciais para a humanidade, a internet também possui o seu momento histórico e sua

evolução formando uma cronologia desde o seu surgimento nos Estados Unidos até a sua

utilização na sociedade.

De acordo com Caiçara Junior (2007), as décadas de 1960, 1970 e meados de 1980

foram apontados como o período da Guerra Fria, entre a União Soviética e os Estados Unidos,

uma situação em que a informação se tornou um artifício essencial usado como estratégia de

combate pelos dois países.

No intuito de compartilhar com os outros pontos e proteger as informações localizadas

nos servidores dos quartéis generais de algum ataque inimigo durante a Guerra Fria, os norte-

americanos criaram um sistema que interligava diversos pontos, formando uma rede.

Em 1969, surgiu a rede, designada como Advanced Researc Projects Agency

(Arpanet), que interligava laboratórios e universidades americanas, que em seguida tornou-se

um projeto efetivo e eficiente, que se desenvolveu, passando a interligar outras universidades

em redes. Em 1970, a Arpanet foi dividida em duas novas redes, a nova Arpanet, que é

voltada apenas para pesquisas, e a Milnet, empregada para uso em tarefas militares e da

defesa. Em meados da década de 1980, com o aperfeiçoamento das outras tecnologias ligadas

a rede, como email, entre outras, surgiu então, o nome internet, conhecida também como a

rede das redes, e assim a internet foi sendo criada ao longo da década de 80, interligando os

Estados Unidos da América com os outros países, criando uma grande rede (CAIÇARA

JUNIOR, 2007).

A expansão do uso da internet fez com que vários países despertassem o interesse em

participar da Era digital, em busca de usufruir das facilidades e serviços proporcionados por

essa nova tecnologia de informação e comunicação, cuja atração e eficiência proporcionaram

a sua rápida difusão pelo mundo, armazenando e distribuindo todos os tipos de informações

de forma acessível aos usuários. Assim, é pertinente mencionar que “o empoderamento dos

usuários da internet, atores sociais, está na produção de autoridade pelo diálogo. Este cenário

alimenta a base das novas gerações” (VELLOSO e YANAZE, 2014, p. 10).

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Vale ainda destacar que a revolução da internet atingiu também o Brasil, por meio da

criação da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), tendo como objetivo atender e proporcionar a

conexão das redes de universidades e centros de pesquisa, e assim, como os Estados Unidos,

começando a ser utilizadas no meio acadêmico. “A expansão do uso da Internet no Brasil só

está sendo possível, inicialmente, graças à implementação de uma série de medidas

comandadas pelo poder público no setor das telecomunicações” (BENAUKOUCHE, 1997, p.

126).

Diante da sua evolução e desenvolvimento, a internet, capaz de conectar a todos em

uma rede proporcionando facilidades em vários serviços, uma vez que opera em tempo real,

transformou-se em uma ferramenta imprescindível para várias atividades econômicas, como o

Turismo, que envolve troca de informação, comunicação e interatividade entre pessoas.

Sobre o turismo, pode-se dizer que é uma atividade econômica de significativa

importância em diversos países; fenômeno de natureza cultural, social e ambiental,

potencializa a criação de vários produtos no mercado de acordo com o crescimento da

demanda, proporcionando melhoria na situação socioeconômica das inúmeras regiões

turísticas.

Segundo Dutra (2003), o turismo é o movimento de pessoas através da realização de

viagens para locais diferentes dos quais a pessoas habitam, em busca de lazer, diversão,

negócio, religião ou outra atividade ligada à economia, no intuito de vivenciar momentos

diferentes dos quais vividos em seu cotidiano. Por isso, fazem-se necessários grandes

investimentos nessa área, os quais permitem o uso constante da tecnologia de forma a

distribuir informações, em tempo real, aos consumidores e transformar os meios de

comunicação em ferramentas indispensáveis para o setor turístico.

Ainda, vale comentar de acordo com Nielsen (2002) que, logo após a Revolução

Industrial, modificações nos modelos de trabalho e lazer colocaram as rodas do turismo em

movimento. Durante esta era pós-industrial, o turismo encontrou suas origens durante a

primeira viagem de Thomas Cook em suas excursões organizadas, onde foi por seu

intermédio que ficou marcado o nascimento do turismo em massa. Com isso, ficou

comprovado que ele utilizou as impressoras de sua própria tipografia para produzir uma

primeira versão dos folhetos, gerando uma excursão de trem que durou um dia. O resultado

deste empreendimento mostrou o poder da propaganda nos meios de comunicação.

No turismo, considera-se a mídia indispensável no processo de informação turística,

uma vez que as pessoas estão constantemente em contato com uma variedade de anúncios

expostos por comerciais de televisão, internet, outdoors, dentre outros. Neste contexto, não há

dúvida de que os efeitos destes anúncios são fatores que influenciam a tomada de decisões dos

turistas e, com a evolução das TIC’s tem-se influenciado o crescimento do setor turístico e o

desenvolvimento dos negócios virtuais tornando-se assim, uma ferramenta fundamental para o

incremento das atividades turísticas.

Dentro desta perspectiva, devido ao crescimento da utilização da internet como meio

de troca de informação, surgiu então o comércio eletrônico do qual a mídia virtual passa a ser

um canal de distribuição de informação, divulgação e comercialização de produtos,

principalmente para as empresas turísticas que passam a usufruir da internet para promover e

vender seus produtos e serviços, trazendo vantagens para os negócios eletrônicos através do

Marketing Digital.

O marketing digital é o conjunto de estratégias de marketing e publicidade,

aplicadas a Internet, e ao novo comportamento do consumidor quando está

navegando. Não se trata de um ou outra ação, mas de um conjunto coerente e eficaz

de ações que criam um contato permanente da sua empresa com seus clientes. O

marketing digital faz com que os consumidores conheçam seus negócios, confiem

nele, e tomem a decisão de compra a seu favor (TORRES, 2010, p. 7).

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Vale assim frisar que, atualmente, as informações provêm de vários sites,

principalmente das redes sociais, nas mídias sociais que, além de proporcionar comunicação

em tempo real aos usuários, contém informações de todos os tipos de atividades, produtos ou

serviços que ocorrem no cenário mundial e que são produzidos pelos próprios usuários. Desse

modo, os consumidores passaram a se comunicar cada vez mais pela internet, tornando as

redes sociais um canal de comunicação constante entre os consumidores.

4. As redes sociais e seu processo de comunicação

Os meios comunicacionais vêm evoluindo com o decorrer dos últimos anos,

diminuindo a distância entre as pessoas quando se trata de comunicação. É neste sentido que

as redes sociais adquirem destaque ao dispor de atributos que simplificam e favorecem a

interação dos indivíduos, além de oferecer vários recursos que permitem a troca de

informações e geração de conhecimento, a aproximação de amigos, familiares e o

estabelecimento de contados profissionais, ocasionando assim, um fluxo em massa por seu

intermédio.

Desse modo, uma rede social é definida como um conjunto de dois elementos: atores

(pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interação ou laços sociais), ou seja,

estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por vários tipos de

relações, construindo uma interação social (WASSERMAN e FAUST, 1994; DEGENNE e

FORSÉ, 1999 apud RECUERO, 2009). Pode-se, portanto, caracterizá-la como uma metáfora

para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas

entre os diversos atores.

Para Marteleto (2001, p.72), as redes representam “um conjunto de participantes

autônomos, unindo ideias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”.

Pessoas interconectadas formam este novo grupo de usuários que buscam informações

diversas, geram, transmitem e as compartilham em todo o mundo.

As redes sociais na internet possibilitam não apenas uma facilidade na comunicação

entre indivíduos e as organizações, mas também traz para o consumidor um novo canal de

buscas por informação conforme os interesses dos usuários, os quais as utilizam também para

trocar experiências a respeito de algum produto ou serviço que, como afirma Torres (2009) “o

consumidor busca informações relevantes sobre produtos e serviços, para conhecer as

experiências de outros consumidores transformando o ambiente das redes sociais em mídias

sociais”.

Neste sentido, vale mencionar que surgimento das redes sociais se concebeu através

dos grandes avanços tecnológicos que a Web já passou para poder chegar a Web 2.0, que

permite a interatividade entre os usuários, propiciando e potencializando a formação de redes

sociais digitais.

Com advento da web 2.0, a forma de comunicação foi ganhando maior

participação, o que antes era limitado apenas para pessoas de alto nível de

habilidade técnica, passou a ser acessível a qualquer pessoa que poderia ter

seu próprio site e publicar seu conteúdo, o que configura a “explosão dos

blogs”. Em seguida, com o surgimento do Facebook e Twitter, as Redes

Sociais 3.0, que são caracterizadas pela interação com outras redes e uso

generalizado de jogos sociais (CRUZ, MOTA e PERINOTTO, 2012, p. 12).

O efeito dessa ferramenta de comunicação é tão intenso que é capaz de transformar

opiniões e dar força e impulsos nas grandes mudanças que ocorrem mundialmente. No Brasil,

podem-se citar as manifestações que se propagam por todo o país, mobilizando a sociedade

em busca dos direitos da população e de melhorias na saúde, educação e em detrimento aos

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corruptos e ações ilícitas; ou ainda, como bem apontam Velloso e Yanaze, 2014, p. 10:

A sociedade atual se delineia pela interação promovida pelas plataformas

tecnológicas, pela agilidade nos acessos, rapidez na circulação de

informações, liberdade de expressão e necessidade de opinar (...). Uma vez

que o impulso de opinar e expressar suas ideias com liberdade será uma

tendência das novas gerações diante das organizações, seus produtos e

serviços.

De acordo com Marteleto (2001, p. 72), nas redes sociais existe a valorização dos elos

informais e das relações, em oposição às estruturas hierárquicas; a rede é uma forma de

organização presente na vida das pessoas e mesmo nascendo na esfera informal de relações

sociais, seus efeitos podem ser percebidos fora de seu espaço em diversas formas de interação

social.

A rede proporciona um espaço de interação que permite a cada conexão, ligações e

diferentes informações relativas, movidas por interesses, capaz de arquitetar e auxiliar a

sociedade. Assim, aproveitando desse tipo de vantagem que é oferecido pela mídia social, as

empresas de vários setores passam a utilizar as redes sociais como ferramenta de marketing

para a divulgação e promoção de seus produtos, serviços e eventos.

5. As redes sociais como estratégia para eventos

A tecnologia é utilizada consideravelmente no cotidiano das pessoas e, por meio das

mídias sociais a comunicação se torna facilmente manejada. As mídias ou redes sociais

atraem muitos adeptos e esses estão sujeitos a incontáveis fontes de publicidades, informações

e entretenimentos e, desta forma, acabam interagindo com empresas e com pessoas de áreas

geográficas distantes.

Neste sentido, a comunicação digital através das mídias sociais se torna uma

ferramenta essencial para a aplicação do marketing estratégico, posto que, o uso das redes

sociais, já faz parte do dia a dia das pessoas, que buscam por meio das mídias sociais,

informação e socialização, movidas por um determinado interesse sobre um produto, serviço

ou apenas com o intuito de interagir com outras pessoas.

Segundo Cruz, Mota e Perinotto (2012), no caso do turismo, as redes sociais

desempenham uma influência fundamental no momento em que se divulga um determinado

produto ou destino turístico, sendo essa divulgação realizada de várias maneiras,

principalmente através das redes sociais que oferecem participação e interação com público

em redes sociais como Facebook, Twitter, Flickr, Orkut e outras. Estas redes sociais se

transformaram em mídias sociais com grande poder de influenciar os usuários destas mídias.

O crescimento da utilização das redes sociais no cotidiano das pessoas têm levado as

empresas de eventos a buscarem uma forma de obter vantagens sobre isso, com o intuito de

divulgar seus eventos através dos novos meios de comunicação que atingem um número

maior de pessoas, proporcionando uma comunicação em tempo real, e assim, gerando na

maioria das vezes resultados favoráveis ao organizador de evento. Desta forma, observou-se

que a mídia mais utilizada como estratégia de marketing para a divulgação de eventos é a

ferramenta Facebook, pois é uma mídia social que reúne um grande número de usuários, na

qual a informação é disseminada rapidamente.

De acordo com Recuero (2009), o Facebook, é uma rede social que foi fundada em

Fevereiro de 2004, pelo americano Mark Zuckerberg ex-estudante de Harvard. No início,

tinha como objetivo conectar alunos dos Estados Unidos que estavam saindo do ensino médio

e ingressando na faculdade e para participar era necessário que a instituição fosse cadastrada.

Page 15: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

Milhares de perfis foram criados inicialmente nos Estados Unidos e em alguns países, depois

se expandiu para outras fronteiras e chegando ao Brasil.

Antes da chegada da rede social Facebook, já existiam outra rede social que lideravam

no Brasil, como o famoso Orkut que pertence ao Google e foi criado em 2004, pelo Orkut

Büyükkökten. De acordo com Santana (2007 apud Cruz, et. al., 2012), no intuito de fazer com

que os membros desenvolvessem novas amizades e mantivessem relacionamentos, buscando

estabelecer um círculo social. A maioria dos usuários era brasileira, e as principais

ferramentas oferecidas pelo Orkut para divulgar algo como destino turístico, são o Promova,

onde o usuário colocava foto ou alguma referência do que gostaria de promover, e a Eventos,

no qual o usuário pode criar um evento e verificar quantas pessoas aderiram o convite. Além

desta, ainda existia as comunidades, cujo são criadas sobre um tema específico, em que os

usuários pode debater, fazer enquetes e divulgar eventos.

O Orkut possuía 70 milhões de usuários no mundo, e no Brasil teve uma liderança de

mais de sete anos, porém não conseguiu manter essa liderança com a chegada do Facebook,

que acarretou a perda do comando. O Facebook vem crescendo rapidamente e atingindo mais

de 750 milhões de usuários no mundo. No Brasil, expandiu cada vez mais superando e

conquistando o prestígio dos brasileiros, como aponta uma pesquisa do site Ibope e publicada

em setembro de 2011, acerca do seu desenvolvimento no Brasil:

Excepcionalmente e para esclarecimento do mercado, o Ibope Nielsen

Online [...] divulga o número de usuários únicos dos sites sociais. Em

agosto, o Facebook atingiu 30,9 milhões de usuários únicos, ou 68,2% dos

internautas no trabalho e em domicílios, equiparando-se ao Orkut, o maior

site social no Brasil, até então, que registrou alcance de 64%, ou 29 milhões

de usuários.

Dentro desta perspectiva, o Facebook passou a ser um instrumento indispensável para

o turismo, um canal de comunicação para as empresas profissionais e órgãos voltados para as

atividades turísticas, no qual é possível obter e compartilhar informação de qualquer atividade

relacionada a este setor. Neste sentido, vale citar Parnaíba, a qual se localiza no litoral do

Piauí oferecendo inúmeras potencialidades turísticas para o desenvolvimento do turismo na

região, com diversos atrativos turísticos naturais, históricos e culturais que atraem turistas de

todos os lugares com o interesse de conhecer e desfrutar das belezas dessa região, se

destacando cada vez mais no cenário turístico nacional e ganhado grande poder competitivo

no mercado em relação às outras regiões turísticas.

Pode-se dizer que em Parnaíba/PI vários setores do turismo vêm crescendo

rapidamente, em especial o turismo de eventos que está se desenvolvendo bastante por meio

do marketing estratégico realizados nas redes sociais pelos organizadores que buscam por

intermédio dessa ferramenta, atrair cada vez mais turistas, assim promovendo o seu evento em

outros lugares, tonificando a economia e fortalecendo este segmento turístico na localidade.

A propósito, conforme as percepções de Brito e Fontes (2002 apud CEZARIO, 2008),

turismo de eventos é um segmento que cuida de diversos tipos de eventos que acontecem

dentro de um universo amplo e diversificado, respaldando sobre outras áreas, como da saúde,

cultural, econômica, jurídica, artística, esportiva e comercial, proporcionando aos indivíduos

que o praticam, a troca de informação, a atualização, a tecnologia e entre outras ideias que

contribuem para o fortalecimento das relações sociais, industriais, culturais e comerciais que

ocorrem ao mesmo tempo em que são impulsionados os fluxos de deslocamento e visitação.

O Facebook, portanto, se tornou uma ferramenta proveitosa para as empresas de

eventos e, especialmente para a Superintendência de Turismo da cidade de Parnaíba, que criou

um perfil e uma página na rede e passou a utilizar esta mídia social para divulgar os eventos

que iriam ocorrer na cidade, com intuito de divulgar os eventos através da mídia social que

possui milhares de usuários espalhados pelo mundo.

Page 16: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

Neste contexto, o uso do Facebook como mídia social (rede social) vem se

desenvolvendo consideravelmente nas atividades econômicas, principalmente para o turismo,

o qual se torna uma excelente ferramenta de divulgação das atividades turísticas na mídia

social, pois as ideias ligadas ao trade turístico podem ser compartilhadas através de grupos,

páginas e murais da rede social. Diante destas constatações, o Facebook se transformou em

um canal de comunicação direcionado às várias atividades ligadas ao turismo, em especial, as

áreas de turismo e viagens, turismo de negócios e turismo de eventos.

6. Procedimentos metodológicos

O processo de desenvolvimento metodológico caracteriza-se como a ideia de uma

prática de pesquisa para a realização de estudos em diferentes aspectos. Para uma

fundamentação teórica coerente, deve-se utilizar estudos de autores que, de certa forma,

discorram sobre o estudo indagado, no intuito de empregar a metodologia mais adequada.

Os procedimentos metodológicos, conforme Lakatos e Marconi (2003) são

determinados por atividades coerentes, racionais e sistemáticas que ajudam a detectar

desacertos na organização e na elaboração de métodos dos cientistas. Com isso, podem obter

a abrangência de seus objetivos através da configuração econômica e segura desenhando uma

passagem mais adequada para a análise em ação e que necessitará ser seguida futuramente.

Os procedimentos adotados e aplicados na elaboração da análise foram desenvolvidos

com aspectos bibliográficos, no qual a pesquisa se concebe através da coleta de dados e

informações; na biblioteca, por meio de livros, revistas especializadas, artigos e sites com

temas relacionados à internet, redes sociais e eventos, permitindo-se assim, mediante essas

informações, caracterizar as ferramentas e os conceitos aplicados para a análise de dados.

Neste contexto, Lakatos e Marconi (2003, p.158) definem pesquisa bibliográfica como:

A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos

já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer

dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura

pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar publicações e certos

erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até

orientar as indagações.

O estudo também foi realizado por meio de uma pesquisa de campo, na qual provém

da observação de acontecimentos e fenômenos que ocorrem no âmbito real sobre determinada

sociedade, uma vez que deseja adquirir informações nas imediações de um problema,

descobrindo novos fatos e fenômenos relevantes para a análise da pesquisa. Deste modo, a

pesquisa de campo realizou-se através da elaboração e aplicação de questionários, em busca

de fornecer credibilidade ao estudo. Neste sentido, ainda segundo os autores supracitados,

para a realização da pesquisa de campo faz-se necessária a prévia elaboração de uma pesquisa

bibliográfica, que auxiliará no embasamento do assunto proposto.

As fases da pesquisa de campo requerem, em primeiro lugar, a realização de

uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em questão. Ela servirá, como

primeiro passo, para saber em que estado se encontra atualmente o problema,

que trabalhos já foram realizados a respeito e quais são as opiniões reinantes

sobre o assunto. Como segundo passo, permitirá que se estabeleça um

modelo teórico inicial de referência, da mesma forma que auxiliará na

determinação das variáveis e elaboração do plano geral da pesquisa

(LAKATOS e MARCONI, 2003, p.186).

Diante desses pressupostos, Parnaíba/PI foi o objeto de estudo desta análise, no qual se

acredita que os promotores de eventos e proprietários de empresas de eventos, aproveitam-se

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

das facilidades de distribuição de informação e comunicação, oferecidas por meio das redes

sociais para divulgar os eventos dentro da cidade, atingindo públicos de fora da cidade

(possíveis turistas).

Para tal, o instrumento fundamental utilizado para a avaliação e obtenção da pesquisa

refere-se ao questionário, pois somente através da sua aplicação foi possível obter e registrar

resultados verídicos, o qual segundo Lakatos e Marconi (2003) “é um instrumento de coleta

de dados, constituído por uma série de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e

sem a presença do entrevistador”. Pode-se dizer então que é uma ferramenta que busca

recolher informações, fundamentadas na interrogação de um grupo que representa a

população em estudo sendo formulado com uma sequência de perguntas de interesse do

investigador, sem necessidade de interação direta entre o investigador e o entrevistado.

A aplicação do questionário apresenta uma série de vantagens para o investigador, a

saber: rapidez e facilidade em interrogar um número elevado de pessoas em tempo limitado,

obtendo um grande número de dados, economizando tempo e podendo ser enviado por email,

correio, entre outros, além da obtenção de respostas explicitas em relação ao estudo e

credibilidade.

No ambiente da pesquisa, elaborou-se um questionário contendo 12 perguntas, sendo

11 fechadas e padronizadas, e apenas 1 (uma) aberta, totalizando em 7 questionários aplicados

para as empresas/produtores de eventos e para os superintendentes de Turismo e de Cultura

do município, que costumam realizar eventos na cidade. Neste caso 5 questionários foram

explicados e 2 enviados através de rede social. Verificou-se mediante as pesquisas que a

empresa de eventos A e a empresa de eventos B se destacam consideravelmente nas redes

sociais, porém, ambas não possuem cadastros na Prefeitura Municipal de Parnaíba.

A aplicação dos questionários realizou-se nos dias 20, 24, 29 de Janeiro e 06 e 07 de

Fevereiro de 2014. Visando economizar tempo e também por indisponibilidade de tempo dos

responsáveis das empresas A e B, foram entregues dois questionários através da rede social

Facebook, os quais facilitaram o contato com as referidas empresas.

A abordagem da pesquisa referiu-se ao enfoque qualitativo, no qual os dados são

coletados diretamente da fonte, uma vez que o pesquisador mantém contato direto com o

ambiente e o objeto de estudo indagado, abordando as questões relacionadas com o ambiente

de pesquisa, sem a necessidade de utilizar-se de dados estatísticos, focando na natureza e na

essência, assim como afirmam os autores Prodanov e Freitas (2013, p. 70) a respeito da

abordagem qualitativa.

Há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo

indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não

pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a

atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa.

Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural

é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave.

Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados

indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de

abordagem.

Sobre as análises e discussões, são apresentados no próximo item descrições,

cruzamentos de dados e gráficos, desta forma, definindo como os dados estão reunidos. As

amostras das coletas são apresentadas separadamente, no intuito de demonstrar como os

resultados foram avaliados, podendo assim chegar ao objetivo do estudo.

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7. Análises e discussões

As análises e discussões dos resultados demonstram as respostas alcançadas através

dos dados coletados durante a pesquisa e, para compreender e analisar melhor este estudo são

apresentados os dados individuas obtidos em gráficos e tabela com informações e descrições

dos elementos estudados através dos questionários aplicados aos entrevistados.

Teve-se, portanto, como objetivo da pesquisa de campo analisar a utilização das redes

sociais pelas empresas de eventos como estratégia de marketing para divulgar os eventos de

Parnaíba, dentre as quais apenas 5 (cinco) se sobressaem na cidade, devido aos eventos

realizados e aos maiores destaques nas redes sociais e, foram assim denominadas como

Empresa A, Empresa B, Empresa C, Empresa D e Empresa E.

Ademais, foram pesquisados 7 (sete) respondentes que mais se destacam e costumam

realizar eventos na cidade, sendo estes, 5 (cinco) empresas de eventos e 2 (dois) órgãos

municipais, cujos os dados coletados foram transcritos em gráficos, esclarecendo os

resultados e facilitando o entendimento do estudo. Assim, como define Lakatos e Marconi

(2003, p. 170):

Os gráficos, utilizados com habilidade, podem evidenciar aspectos visuais

dos dados, de forma clara e de fácil compreensão. Em geral, são empregados

para dar destaque a certas relações significativas. A representação dos

resultados estatísticos com elementos geométricos permite uma descrição

imediata do fenômeno.

Os questionários aplicados possuíam perguntas referentes aos tipos de eventos, a

frequência em que os eventos são realizados, ao tipo de público que os eventos são

direcionados, aos meios de comunicação utilizados para divulgação, a frequência com que

utilizam a mídia social, as mídias mais utilizadas pelos entrevistados para divulgar os eventos,

de onde vêm o público e o efeito das mídias sociais para a divulgação de eventos. Desse

modo, apresentam-se a seguir os respectivos resultados e discussões obtidos neste estudo.

Tipos de eventos realizados pelos produtores de eventos

Conforme se observa no gráfico 1, 62% (5 empresas) realizam Festas e Shows, 13%

realiza Eventos Acadêmicos, ou seja, apenas uma empresa (Empresa A) é voltada para a

realização de eventos acadêmicos e 13% (Superintendência de Turismo e de Cultura) realizam

Eventos Turísticos. Isso quer dizer para o turismo de eventos, que a maioria das empresas

realiza mais Festas e Shows em Parnaíba, pois são tipos de eventos que englobam diversos

públicos, e apenas 25% dos eventos realizados na cidade são direcionados para turismo de

eventos, porém vale ressaltar que mesmo que os eventos não sejam voltados particularmente

para o turismo de eventos, ainda assim atrai turistas que buscam diversão e entretenimento.

Gráfico 1: Tipos de Eventos Realizados

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

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Frequência dos eventos

Como mostra o gráfico 2, 43% (3 empresas) executam eventos mensalmente, 29% (2

empresas) toda semana e 28% (2 empresas) refere-se a Outros. Nota-se que a maioria os

entrevistados realizam eventos mensalmente, ou seja, todo mês ocorrem eventos em Parnaíba,

no caso um ou dois eventos por semana, devido à sazonalidade do movimento de pessoas na

cidade, isto é, os meses de alta temporada são mais propícios para realização de eventos na

cidade.

Tipos de público

O gráfico 3 exibe que 43% dos entrevistados apontam que os eventos realizados são

voltados para jovens e adultos e 57% dos entrevistados afirmam que os eventos são voltados

para todos os tipos de público. Verifica-se que a maioria dos eventos realizados são

direcionados para todos os tipos de público, ou seja, público que é comum em turismo de

eventos, principalmente quando o evento é organizado para a população como intuito de atrair

também turistas para a cidade.

Meios de comunicação utilizados para divulgar os eventos

Dentre os meios de comunicação utilizados para divulgar os eventos, o gráfico 4

aponta que 23% usam Cartazes, 22% Internet, 19% Boca a boca, 13% Rádio e 13% utilizam

Carro de som e 10% Comerciais de TV. Observa-se que as empresas de eventos utilizam

vários meios de comunicação para divulgar seus eventos, principalmente Cartazes e Internet,

Gráfico 2: Frequência dos eventos.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

Gráfico 3: Tipos de público.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

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no caso os Cartazes são espalhados pela cidade onde ocorrerá o evento e também em

municípios e cidades vizinhas, no intuito de divulgar o evento na cidade e também alcançar os

turistas das cidades vizinhas. Porém, apesar dos Cartazes serem utilizados da mesma forma

que a internet pelos entrevistados, a mídia virtual possui maior alcance, pois propicia maior

distribuição de informação de forma instantânea, e deste modo alcança e atrai vários de tipos

de públicos para o evento, tanto a população local como também os turistas.

Entre as 12 perguntas, apenas uma foi aberta, no qual foi questionado aos

entrevistados que dentre os meios de comunicação utilizados pelas empresas e órgãos para

divulgar seus eventos, quais deles os entrevistados mais utilizam. Observou-se que de acordo

com as respostas, 5 entrevistados afirmam que utilizam mais a internet para divulgar seus

eventos, e apenas 2 utilizam rádio. Neste sentido, cabe mencionar Castells (2003) ao

caracterizar a relevância da internet, bem como do seu uso na atual sociedade da informação.

A internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação é hoje o

que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a Internet poderia ser

equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao motor elétrico, em razão de

sua capacidade de distribuir a força da informação por todo o domínio da

atividade humana. Ademais, à medida que novas tecnologias de geração e

distribuição de energia tornaram possível a fábrica e a grande corporação

como os fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet

passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era da

informação: a rede.

O uso da mídia social e rede social

O uso da mídia social e rede social se tornou algo cada vez mais frequente, pois

percebe-se através do gráfico 5 que 72% utilizam a mídia social todo dia, dados bastante

significativos, e apenas 14% Até 3 vezes na semana e 14% Uma vez na semana. Percebe-se

que a mídia social passou a ser uma ferramenta essencial para as empresas na aplicação do

marketing estratégico, pois proporciona uma comunicação em tempo real e atinge várias

pessoas ao mesmo tempo de forma instantânea. É neste contexto que Tomaél (2005, p.93)

dispõe dos seguintes argumentos que evidenciam a importância da utilização das redes

sociais.

Apenas nas últimas décadas é que as empresas perceberam que as redes

servem como um instrumento organizacional, uma vez que são

descentralizadas, flexíveis, dinâmicas, sem limites definidos e estabelecem-

se por relações horizontais de cooperação. Esta horizontalidade de

cooperação é uma característica importante nas redes, já que não existe

hierarquia definida.

Gráfico 4: Meios de comunicação utilizados para divulgar os eventos.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

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Redes sociais mais utilizadas para divulgar eventos

Verifica-se no gráfico 6, que 4 redes sociais são mais usadas pelos entrevistados

para divulgar seus eventos, como Facebook que obteve 64%, e de acordo com os

entrevistados é a rede social mais utilizadas por eles para divulga-los, o uso do Facebook

deve-se ao grande número de usuários que esta rede social possui, seguido do Instagram com

18%, Twitter com 9% e Youtube com 9%. Visto que as empresas utilizam várias redes sociais

para divulgar seus eventos, constata-se que isto proporciona às empresas maior disseminação

de informação e alcance de diferentes públicos.

O público alvo do evento

Nota-se no gráfico 7, que de acordo com os entrevistados, 86% afirmam que o

público alvo dos eventos vem tanto de Parnaíba como de fora (cidades vizinhas), ou seja,

ambos. Entretanto, ocorreu certa divergência em relação a afirmação do Superintendente da

Cultura, pois o mesmo afirma que o público alvo dos eventos é de Fora (referente aos 14%),

visto que a Secretária de Cultura é órgão municipal voltado inteiramente para atender a

população da cidade de Parnaíba, uma vez que busca preservar e resgatar a cultura da cidade.

Gráfico 5: O uso da mídia social e rede social.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

Gráfico 6: Redes sociais mais utilizadas para divulgar eventos.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

Page 22: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

Observou-se no gráfico 8, que a rede social Facebook mostrou-se

significativamente importante na escala de avaliação de 1 a 5 para a divulgação de eventos

através das mídias virtuais. Esta rede social tornou-se indispensável para os usuários a cada

dia, por ser uma ferramenta de interatividade entre as pessoas. 85,7% dos entrevistados

escolheram alto impacto para o Facebook e apenas 14,3% escolheram médio impacto. Desta

forma, pode-se dizer que de acordo com as escolhas dos entrevistados e considerando a

escolha da maioria, o Facebook tem alto impacto como mídia virtual para a divulgação de

eventos.

Sobre o gráfico 9, 40% dos entrevistados apontaram nenhum impacto para o Twitter e

20% no nível 1, 20% no nível 2 e 20% no nível 3, ou seja, de acordo com os entrevistado, a

maioria escolheram nenhum impacto e o restante ficaram divididos entre médio impacto.

Então, pode-se dizer que o Twitter é uma mídia virtual que não possui muito impacto quando

utilizada para a divulgação de eventos.

Gráfico 7: Público alvo do evento.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

Gráfico 8: Facebook.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

Gráfico 9: Twitter.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

Page 23: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

No gráfico 10, percebe-se que para 40% dos entrevistados a rede social Instagram

possui nenhum impacto, 20% médio impacto no nível 4 e outros 40% dos entrevistados

apontaram alto impacto. Deste modo constata-se, que o Instragram é uma mídia virtual

utilizada por alguns dos entrevistados, mas que, para os sujeitos, a mídia possui alto impacto.

Em relação ao Foursquare, notou-se de acordo com as escolhas dos entrevistados, que

100% o apontaram como rede social que causa nenhum impacto, quando utilizadas para a

divulgação de eventos.

Sobre o uso da internet para a divulgação de eventos, observa-se, que de acordo com

as avaliações realizadas nos gráficos e nas tabelas através das respostas dos entrevistados, que

todos os respondentes utilizam a mídia virtual como meio de comunicação e a maior parte

deles utiliza-a todo dia. A internet é utilizada como ferramenta de pesquisa e divulgação de

eventos, que são realizados mensalmente na cidade de Parnaíba, visto que a maioria indicam

62% Festas e Shows e 25% Eventos turísticos, voltados 57% para todos os tipos de públicos e

43% para Jovens e adultos.

Destaca-se o uso do Facebook com 64% em relação às outras redes sociais, e nota-se

também seu impacto bastante significativo em relação às outras mídias avaliadas pelos

entrevistados, seguido do Instragram, Twitter e o Foursquare que foi a ferramenta que obteve

maior número de votos apontando nenhum impacto quando utilizadas para a divulgação de

eventos, por isso os entrevistados utilizam mais a esta rede social para divulgar seus eventos

na cidade de Parnaíba.

É importante salientar que os usos das redes sociais, podem acarretar, também, em

divulgações indiretas, pois as diversas ferramentas das diferentes redes como:

compartilhamento, curtidas, marcações de contatos, grupos, perfis, entre outras ferramentas,

fazem com que outros contatos possam ter acesso ao que foi postado na rede. Tal como Cruz,

Mota e Perinotto (2012, p. 85) comentam, algumas vezes não fazendo usos adequados dessas

ferramentas:

É importante salientar que a circulação dessas postagens e dessas

repostagens significam um aumento de pessoas que podem ter acesso aos

conteúdos, imagens e até mesmo vídeos de localidades com potencial de

atração turística, sendo assim as redes sociais uma importante ferramenta de

divulgação dos atrativos e recursos turísticos do Litoral do Piauí. Porém,

acredita-se que os usuários não estão fazendo uso total dessas duas

ferramentas por desconhecerem as ferramentas oferecidas pelas duas Redes

Sociais e o quanto elas podem ser importantes no crescimento de uma

empresa que trabalha com o turismo assim como para região que está sendo

divulgada.

Gráfico 10: Instagram.

Fonte: Pesquisa direta (Dados primários)

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

O crescimento do uso das redes sociais, fez com que as empresas considerassem as

redes sociais como meio de comunicação instantâneo, que acelera o fluxo de informação e

atingem várias pessoas ao mesmo tempo. De acordo com Ogata (2011), a vantagem em que

qualquer empresa vê em relação ao uso das mídias sociais, é que são ferramentas gratuitas, no

qual as empresas podem realizar a promoção de negócio e fomentar as relações com os

clientes.

Observa-se que, de acordo com as respostas contidas nos questionários, as redes

sociais, através da mediação da internet, estão inseridas no cotidiano das empresas, se

tornando um meio de comunicação indispensável e eficaz para atenderem às necessidades dos

clientes e dos potenciais clientes.

Considerações Finais

É perceptível a evolução, o poder e a rapidez dos meios de comunicação sobre a

sociedade e a forma como transformam os conhecimentos, as opiniões, as informações e o

modo de ver a realidade. A fluidez e a troca de informação, como textos, imagens e

mensagens auditivas e visuais conduzidas pelos meios de comunicação através das

importantes redes sociais são capazes de influenciar e mobilizar as pessoas em geral,

tornando-se uma ferramenta poderosa e eficaz para diversos setores relacionados à

comunicação entre as pessoas.

Nos setores do turismo e eventos, os meios de comunicação são indispensáveis para o

desenvolvimento da atividade, principalmente para o turismo de eventos, pois através das

tecnologias de informação e comunicação se aplica o marketing estratégico das empresas dos

eventos devido à facilidade da disseminação de informação. Neste sentido, a internet e o

turismo formam uma constituição perfeita de trabalho em conjunto, visto que o turismo

desenvolve uma elevação profissional de forma clara e positiva e, no momento em que ocorre

a combinação com a mídia virtual torna-se mais acessível e instantâneo. Desse modo, é

perceptível que em Parnaíba as empresas de eventos utilizam bastante os meios de

comunicação para promover os seus eventos, principalmente com a mídia virtual.

Diante da questão apresentada, submeteu-se uma pesquisa a respeito da utilização das

redes sociais pelas empresas para a divulgação de seus eventos em Parnaíba em busca de se

obter respostas sobre a importância do uso das redes sociais para as empresas e produtores

que empregam o uso desta ferramenta para promover seus eventos na cidade.

Fica claro na pesquisa, conforme as respostas dos 7 (sete) questionários, que a rede

social através da internet (mídia social) é utilizada por 100% dos entrevistados, por ser um

importante meio de socialização e interatividade. Centralizando o estudo nas redes sociais e

avaliando os impactos provocados por estas mídias sociais, quando utilizadas na divulgação

de eventos pelos entrevistados, constatou-se que o Facebook é a rede social mais usada e de

maior importância para os entrevistados, como também, pelos, e para, os produtores e

empresas de eventos em Parnaíba/PI. Neste contexto, pode-se dizer que, a internet é uma

ferramenta estimada e de grande relevância para o homem pós-moderno (na sociedade

midiatizada), como também, uma grande aliada ao campo turístico comunicacional.

Desta forma, pode-se aferir que as redes sociais se transformaram em um espaço de

comunicação para as empresas de eventos e tornaram-se ferramentas fundamentais para a

divulgação de eventos, com base na facilidade de acesso que permite obter e distribuir

informação de forma instantânea para várias pessoas (demandas reais ou potenciais).

Page 25: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan./jun. 2016

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O Enquadramento da Crise Hídrica na Revista Veja

Andrea Reis

Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É docente da Faculdade

Carlos Drummond de Andrade. Atua como pesquisadora do Núcleo de Estudo em Arte, Mídia e Política da

PUC-SP.

Carla Montuori Fernandes

Doutora e Pós-doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É

docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura das Mídias da Universidade Paulista

(UNIP). Atua como pesquisadora do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política da PUC-SP.

Resumo

O artigo tem por objetivo estudar o enquadramento midiático construído em torno da crise

hídrica que se instalou no Estado de São Paulo, com maior período de seca entre os anos de

2014 e 2015. No intuito de analisar como o tema foi retratado pelos meios de comunicação, a

revista Veja foi eleita objeto deste estudo, que pretende elencar como ocorreu o

enquadramento da crise e as atribuições de responsabilidade veiculadas por essa mídia, ao

governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB), a Companhia de Saneamento Básico do

Estado de São Paulo (Sabesp), aos cidadãos e ao meio ambiente, no período de 1º de janeiro

a 31 de março de 2015.

Palavras-chave

Mídia; Política; Crise hídrica; Enquadramento; Revista Veja.

Abstract

The article aims to study the media framework built around the water crisis that settled in São

Paulo, with the driest period between the years 2014 and 2015. In order to analyze how the

subject was portrayed by the media, Veja magazine was elected object of this study, which

aims to list as did the framework of the crisis and the responsibility assignments conveyed by

this medium, the re-elected governor Geraldo Alckmin (PSDB), the Basic Sanitation

Company of the State of São Paulo (Sabesp), citizens and the environment in the period from

January 1 to March 31, 2015.

Keywords

Media; Policy; Water crisis; Framework; Veja magazine.

Introdução

O cenário de campanha das eleições para governador do estado de São Paulo, assim

como o início do novo mandato de Geraldo Alckmin (PSDB), reeleito em 2014, foi marcado

por um clima de grande preocupação em relação à questão hídrica, no qual os meios de

comunicação atuaram como instrumento de produção e veiculação de notícias com os mais

variados vieses políticos. Uma das razões para isso é o fato de o estado de São Paulo estar

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enfrentando o pior período de estiagem, desde 1953.1

O Sistema Cantareira, que abastece 47% da Região Metropolitana de São Paulo,

principal fonte de captação de água pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo (Sabesp), apresentou diminuição significativa dos reservatórios. Os demais sistemas

que abastecem a região, por ordem de importância, Guarapiranga, Alto Tietê, Rio Claro, Rio

Grande, Alto Cotia, Baixo Cotia e Ribeirão Estiva, também recuaram,2 em razão das quedas

provocadas, em parte, pela falta da chuva em todo o estado.

Diante da possibilidade de uma crise hídrica mais severa, Geraldo Alckmin (PSDB),

governador e candidato à reeleição, iniciou em 15 de maio3 de 2014 a utilização do volume

morto4 do Sistema de Abastecimento Cantareira. Vale ressaltar que, em ordem de

responsabilidade, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo detém 50,26% das ações da

Sabesp, ao lado dos 49,74% das ações que pertencem aos acionistas privados.5

No ano de 2004, ao receber a concessão para utilização do Sistema Cantareira, a

Sabesp e o governo do estado foram informados pelo artigo 16, do documento de Outorga do

Sistema Cantareira, sobre a necessidade de planejamento e investimento em novas formas de

captação, por causa do risco de redução do sistema de abastecimento.6

Nos anos posteriores, ações para reparos de vazamento das tubulações, novas formas

de captação de recursos, campanhas para uso consciente de água, aumento da cobrança na

conta dos consumidores em função de consumo excessivo etc. não foram priorizadas pela

Sabesp e pelo governo do Estado, que esteve sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), nos

anos de 2002-2006; José Serra (PSDB), de 2006-2010, e, novamente, Geraldo Alckmin

(PSDB), de 2010-2014.

A escassez de água, em véspera da campanha eleitoral para escolha dos governadores

do país, acalorou o debate político-midiático. Os meios de comunicação conferiram uma

ampla cobertura à crise hídrica, com diversos vieses, entre os quais merecem destaque o papel

do cidadão no controle de gastos excessivos e/ou consumo consciente, o impacto climático da

falta de chuva no estado de São Paulo, a ausência de infraestrutura e investimentos da Sabesp

e as ações do governo do estado para minimizar a crise.

Em análise preliminar, notou-se que as reportagens veiculadas sobre o tema adotaram

uma ampla variedade de enquadramentos, com diferentes ênfases e atribuições de

responsabilidades. Nesse sentido, pretende-se identificar como foi retratada a crise hídrica

pela revista Veja, durante o período posterior ao pleito eleitoral de 2014, com o intuito de

responder qual foi a representação de sentido construída por essa mídia em relação ao

governo na instância estadual.

A amostra abrangerá as reportagens que retrataram a crise hídrica, no editorial Brasil,

da revista Veja, nos três primeiros meses do novo mandato governamental de Geraldo

Alckmin (PSDB), de 1o de janeiro a 31 de março de 2015. A escolha da Veja se justifica pelo

fato de ser a segunda maior revista semanal de informação, com cerca de 1,2 milhões de

exemplares em circulação no mundo. Além disso, tem-se o fato de que os meios de

comunicação, em especial a mídia impressa, atuam como veículos de representação de

sentido, em constante processo de reconstrução e reinterpretação da realidade social.

1 Estado de São Paulo vive pior seca em 70 anos. Disponível em: <http://www.climatempo.com.br/noticias/266765/estado-de-sao-paulo-

vive-pior-seca-em-70-anos/>. Acesso em: 20 abr. 2015. 2 Complexo Metropolitano. Disponível em: <http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=36>. Acesso em: 20 abr. 2015. 3 Alckmin inicia retirada do volume morto do Cantareira. Disponível em: <http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral, alckmin-inicia-

retirada-do-volume-morto-do-cantareira, 1167092>. Acesso em: 20 abr. 2015. 4 O volume morto é considerado uma reserva técnica, que se encontra abaixo do nível de captação das represas. 5 Informação retirada do site da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp. Disponível em:

<http://www.sabesp.com.br/sabesp/filesmng.nsf/6B9EDD2E0EBB914883257CAA0007D3B7/$File/DFs_2013.pdf>. Acesso em: 20 abr.

2015. 6 Redução da dependência da Sabesp em relação ao Sist. Cantareira (artigo 16). Disponível em: <http://agua.org.br/wp-

content/uploads/2014/11/dados.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015.

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O conceito de representação social se expande por vários campos dos saberes, como

psicologia, semiótica e antropologia, e adquirem fundamental importância nos estudos de

comunicação. A tarefa de descrever como determinados grupos são representados é

fundamentada por Stuart Hall (1997), em um entrelaçamento com o imaginário social.

Definida por Hall como parte fundamental do processo por meio do qual os sentidos são

produzidos e trocados pelos membros de uma cultura, a representação envolve o uso da

linguagem, de signos e de imagens que respondem ou representam as coisas.

O conceito de representação é considerado parte essencial do processo de produção de

significado por meio da linguagem e compartilhado entre membros de uma cultura. Adotando

uma abordagem construcionista, Hall argumenta que a produção de sentido ocorre no interior

da linguagem, por meio dos “signos, organizados em linguagens de diferentes tipos, para nos

comunicarmos significativamente com os outros” (HALL, 1997. p. 17).

Soares (2007) acrescenta que a representação de sentido por meio da linguagem é

produzida de forma intensa pelos meios de comunicação, uma vez que os produtos culturais

produzidos pela mídia geram imagens colhidas do mundo empírico para apresentá-las “na

categoria de ‘representantes’ de pessoas, situações e fatos” (SOARES, 2007, p. 51).

Soares (2009) aponta ainda que as representações ocupam papel distinto nos gêneros

ficcional, persuasivo e informativo (jornalístico). Na produção ficcional, as narrativas

veiculadas no formato de telenovelas, filmes, minisséries etc. são construídas sem um

compromisso com a realidade, ainda que criadas no contexto de verossimilhança de fatos,

operando em um sincretismo entre o real e o imaginário (SODRÉ, 1977). Já a publicidade,

para o autor, por patrocinar boa parte da comunicação midiática, possui o notório objetivo de

despertar e persuadir a audiência para o desejo do consumo.

O jornalismo, gênero definido pela veiculação de um relato particular dos

acontecimentos, no qual se busca uma relação referencial com a realidade narrada, possui uma

relação controversa com o sentido das representações. A contestação envolve a precisão e a

propriedade das representações, já que a narrativa jornalística é em grande parte construída

sob um determinado aspecto do mundo selecionado (SOARES, 2009).

O conceito de enquadramento surge diante da capacidade dos meios, em especial da

esfera jornalística, de produzir e disseminar uma interpretação de mundo, através de uma

retórica, em que algumas ideias e imagens tornam-se mais salientes no texto do que outras,

que se apresentam de maneira menos destacada ou até mesmo invisível. Para Porto (2004, p.

11), “enquadramentos noticiosos são padrões de apresentação, seleção, ênfase utilizados por

jornalistas para organizar seus relatos”.

Reconhecido como importante instrumento de poder informativo, o enquadramento

pode atuar no sentido de auxiliar na construção ou na definição de determinada realidade

(PORTO, 2004). Desta forma, o referencial teórico-metodológico do enquadramento foi

selecionado para análise das reportagens da revista Veja.

O enquadramento da mídia: uma metodologia para análise da

produção jornalística

A primeira sistematização sobre o conceito de enquadramento, denominado framing

analysis, foi realizada por Erving Goffman, em sua obra Frame analysis: an essay on the

organization of experience7, publicada em 1974. A ideia de enquadramento (frames) derivava

da preocupação de Goffman em entender como cada sujeito particular classificava e

7 A versão traduzida para o português chegou às livrarias em 2012 sob o título Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise.

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organizava uma dada situação social e atribuía sentido à realidade ao seu redor. Para o autor,

“enquadramentos são entendidos como marcos interpretativos mais gerais, construídos

socialmente, que permitem às pessoas dar sentido aos eventos e às situações sociais”

(GOFFMAN apud PORTO, 2004, p. 78).

Durante o período de pesquisa, Goffman atentou para a questão da audiência, com o

intuito de verificar como o público recebia e interpretava as informações enquadradas pela

mídia. Entretanto, a primeira aplicação do conceito de enquadramento no campo de

comunicação foi publicada em 1978 pela socióloga Gaye Tuchman, no livro Making news. A

pesquisa buscou demonstrar como o enquadramento de uma informação pode atuar no sentido

de reforçar o poder político, auxiliando a construção ou a definição de uma determinada

realidade (PORTO, 2004).

Mais adiante, após o surgimento de inúmeros estudos que ampliaram as noções de

enquadramento com análises do discurso da mídia nas esferas sociais e políticas, o sociólogo

Eatman propôs uma revisão sistemática do conceito, ao definir que enquadrar envolve seleção

e saliência:

Enquadrar é selecionar alguns aspectos de uma realidade percebida e fazê-

los mais salientes no texto comunicativo de modo a promover uma definição

particular de um problema, interpretação causal, avaliação moral e/ou um

tratamento recomendado para o item descrito. (EATMAN, 1993, p. 52)

Reconhecido como importante instrumento de poder informativo, Porto (2004) aponta

que, para mapear os diferentes tipos de enquadramento utilizado nos relatos jornalísticos, faz-

se necessário adotar um modelo sistemático de análise que permita maior criticidade na

aplicação da metodologia. Com o objetivo de romper com a retórica funcionalista, em que os

meios de comunicação orientam-se a partir de um enquadramento dominante, Porto (2004)

estabeleceu uma classificação para análise das reportagens, cuja proposta busca sistematizar a

presença ou ausência de mais de um enquadramento nos segmentos do conteúdo da mídia.

Assim, o autor denomina segmento restrito as mensagens que possuem um único

enquadramento interpretativo sobre determinado evento ou tema político e nomeia de

segmentos plurais os que possuem mais de um enquadramento. Os segmentos plurais se

dividem em plurais fechados, nos quais é possível identificar certo privilégio ou ênfase a um

determinado aspecto da notícia, e plurais abertos, em que nenhum enquadramento é

apresentado como válido ou verdadeiro. Os segmentos que adotam forma episódica não

incluem enquadramentos interpretativos, adotando um estilo mais descritivo de reportagem

(PORTO, 2001).

A característica principal do enquadramento episódico é a ausência de entrevistas nas

reportagens, já que se trata de um formato em que geralmente o conteúdo jornalístico é

exibido de maneira descritiva. Neste caso, o texto se limita em relatar o fato apenas. Já no

formato restrito o conteúdo jornalístico privilegia apenas um enquadramento interpretativo

sobre o fato divulgado, com uma única interpretação do veículo de comunicação sobre o

evento.

As matérias de formato plural aberto têm como característica principal a presença de

mais de um enquadramento, com espaço compatível da reportagem para abordar o tema a

partir de variados ângulos. No plural aberto são apresentadas mais de uma interpretação da

notícia, sendo que nenhumas das opções são confirmadas como mais válida (correta). As

matérias de plural fechado, ao contrário, comportam mais de uma interpretação noticiosa,

sendo que uma delas é privilegiada e apresentada como mais correta.

O passo seguinte para a correta aplicação metodológica reside na identificação das

principais controvérsias e enquadramentos presentes nas notícias, com o intuito de averiguar

quais atores sociais distintos possuem capacidade para influenciar o processo de

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enquadramento, além dos grupos dominantes e influentes, já que é imprescindível, segundo

Porto (2004, p. 94), “incluir as interpretações promovidas por movimentos sociais ou de

oposição, inclusive aquelas que são excluídas pela mídia”, explicitando, quando possível, “as

razões que levam ao predomínio de certos enquadramentos, em detrimento de outros”.

Por fim, a definição de uma análise sistemática de conteúdo aparece como item

fundamental para identificar as práticas de enquadramento. Independentemente do método

adotado, Porto (2001) alerta para a importância de eleger um enfoque integrado que inclua

uma análise de conteúdo quantitativa e uma análise textual de teor qualitativo.

Na aplicação do método ao conteúdo jornalístico da revista Veja, foram selecionadas

apenas as matérias com enquadramento interpretativo, a fim de entender a seleção e a ênfase

atribuída pelas reportagens ao retratar a crise hídrica e a relação com o governador Geraldo

Alckmin (PSDB), após o início de sua segunda gestão, de 1 de janeiro até 31 de março de

2015.

Para compreender o conteúdo veiculado pela narrativa jornalística, recorreu-se à

análise de conteúdo (BARDIN, 2006) e às três etapas que compõem essa metodologia. Na

primeira etapa, denominada pré-análise, foi realizada a seleção das reportagens que serviram

como objeto do estudo. Nesse caso, foram privilegiadas apenas as matérias que retrataram a

crise hídrica, no estado de São Paulo, na editorial Brasil. Após a visualização do conteúdo

jornalístico, na etapa nomeada de exploração do material, as unidades de análise foram

agrupadas, com base nos formatos episódico, restrito, plural aberto e plural fechado. Na

terceira e última etapa, os resultados obtidos foram interpretados e comparados às luzes do

contexto político e do cenário eleitoral.

Análise das reportagens

Como mencionado acima, o período amostral foi de 1º de janeiro a 31 de março de

2015. Foram analisadas 95 reportagens da revista Veja, sendo que nestas, apenas ocorreram os

enquadramentos dos tipos restrito e episódico, conforme a tabela abaixo.

Tabela 1. Enquadramento - Crise Hídrica na revista Veja. (de 1º de Jan. a 31 de Mar.)

Tipo de

Enquadramento

Total

Restrito 69

Episódico 29

Fonte: Dados obtidos pelas autoras para o artigo.

Tais tipos de enquadramentos indicam que a revista somente limitou-se a informar o

problema da crise hídrica sem uma análise mais aprofundada sobre o tema, desconsiderando

outros ângulos para relatar a questão. Não houve uma investigação ou um debate com a

sociedade civil sobre o problema, e muitas vezes as suas reportagens apenas reproduziram o

que foi publicado pelos jornais O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo. Somente

9,5% destas reportagens foram assinadas por seus próprios jornalistas, sendo no caso

redigidas por Felipe Frazão, Carolina Farina, Gabriel Castro, Mariana Zylberkan, Eduardo

Gonçalves, Mariana Barros e Jennifer Ann Thomas.

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A maioria das reportagens apresentava como assunto principal as informações a

respeito dos níveis das represas, o que poderíamos até denominá-las como sendo do tipo

“placar”, conforme a matéria veiculada em 4 de fevereiro de 2015, com o título: “Nível de

água do Cantareira sobe pelo 2º dia consecutivo. Esse é o segundo registro de alta do

reservatório, que opera com 5,2% da capacidade, em 2015”. Durante o período da análise

foram identificadas 29 reportagens com o formato “placar”, no qual os volumes dos

reservatórios, suas altas e baixas, eram noticiados frequentemente pela revista.

A revista praticamente não deu voz à sociedade civil. Não aparecem especialistas ou

Organizações Não-Governamentais (ONGs) envolvidas com o problema da água, e nem

mesmos os consumidores estão presentes. As únicas vozes ouvidas são as do governador

Geraldo Alckmin e da Sabesp, entretanto, Alckmin é pouco responsabilizado pela crise.

Segundo a reportagem “Datafolha: 60% apoiam rodízio de água em São Paulo. Já no

levantamento nacional, 65% defendem racionamento imediato de energia” publicada no dia 9

de fevereiro de 2015 demonstrou que entre os moradores de São Paulo, 37% atribuíram a falta

de água ao governo do Estado, enquanto que para 22% a responsabilidade é de "todos".

Outros 20% culparam a população e 9%, o Governo Federal.

A revista Veja, em inúmeras reportagens investiu no enquadramento restrito, ao

veicular que o consumo excessivo de água pela população acaba por contribuir para

consolidação da crise hídrica no Estado. A reportagem “Vida Seca na grande cidade”,

publicada em 24 de janeiro, reafirma que diminuir o consumo é o caminho natural em

períodos sem abundância. Ainda que o texto jornalístico apresente certa crítica ao governo

estadual, ao mencionar que o problema da seca é reflexo da falta de gerência e descaso das

autoridades, não isenta o cidadão comum sobre a necessidade de mudança de comportamento

no consumo do recurso natural.

O cidadão é colocado à frente do problema, ainda que de maneira sutil, na reportagem

de formato episódico, publicada com a chamada “Jundiaí: a cidade paulista onde não falta

água”. A matéria aponta que apesar da falta de chuva que assola a região desde dezembro de

2013, quando a cidade recebeu a primeira previsão de estiagem drástica feita pelo Consórcio

Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (Consórcio PCJ), a

conscientização da população sobre a falta de água, por meio de campanhas para redução do

consumo, permitiu que a cidade controlasse seus reservatórios e não sofresse mais com

problemas de escassez.

As reportagens que abordaram as multas proferidas contra os cidadãos que excederam

o consumo de água estipulado pela Sabesp e pelo governo do Estado de São Paulo foram

abordadas pela revista com reportagens de formato restrito, no qual apenas o quesito

culpabilidade obteve destaque. A reportagem não concedeu voz para a sociedade civil ou

outras instituições responsáveis pelo Código de Defesa dos Consumidores. Para exemplificar,

a reportagem veiculada no dia 26 de janeiro, com o título “Multa da água atinge 12% dos

clientes da Grande SP”, aponta que 19% dos consumidores da Grande São Paulo continuam

consumindo água acima da média, sendo que 12% dos clientes na região metropolitana foram

multados porque aumentaram o consumo de água em fevereiro de 2015.

Na mesma linha de atribuição de responsabilidade aos cidadãos, a reportagem com a

chamada “Apesar de multa, 22% gastam mais água em janeiro”, publicada em 10 de

fevereiro, apontou que mesmo diante de aplicação de multas pelo consumo excessivo de água,

22% dos consumidores das 31 cidades da grande São Paulo gastaram mais no mês passado do

que a média antes da crise hídrica.

A falta de chuva durante o ano de 2014 e o início de 2015 ganhou ênfase nas

reportagens de formato episódico e restrito, e tornou-se elemento balizar para o início de

adoção de medidas emergenciais, proferidas pela Sabesp e pelo governador Geraldo Alckmin.

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Para exemplificar essa dependência, a matéria de formato restrito, publicada em 29 de janeiro,

com o título “Rodízio proposto há 1 ano pouparia 12,3% do Cantareira”, aponta que o rodízio

proposto pela Sabesp há mais de um ano e descartado pelo governador Alckmin,

possivelmente seria colocado em ação, já que “as chuvas esperadas pelo governo para esse

verão não vieram”.

A mesma conduta jornalística foi observada na reportagem de enquadramento

episódico, “SP: chuva de fevereiro adia decisão sobre rodízio de água”, veiculada em 11 de

fevereiro, ao divulgar um parecer da Sabesp sob possível trégua ao rodízio, caso se mantenha

o cenário de chuva do mês de fevereiro. Nesse sentido, o maior vilão da crise hídrica foi o

fator climático, seguido pelo uso abusivo por parte dos consumidores, mas não aparece nas

reportagens a má gestão por parte do governo estadual.

Muitas vezes as reportagens apresentavam uma conotação positiva para o governador

ao demonstrá-lo como o grande defensor para a não aplicação do rodízio de água, mesmo que

diante de uma clara “restrição hídrica”. As menções ao governador Geraldo Alckmin, nas

reportagens proferidas pela revista Veja, estão envoltas em uma agenda que aponta os esforços

e as medidas adotadas pelo governador para resolver o problema. A matéria “Alckmin cria

grupo para preparar plano em caso de rodízio”, publicada em 4 de março, aponta que o

governador vem trabalhando em prol de resolver o problema da crise. A criação de um Comitê

de Crise Hídrica representa parte dessas ações para minimizar os efeitos da seca.

Medidas estudadas e adotadas pelo governo estão presentes em inúmeras reportagens,

com destaque para as chamadas: “Não há decisões sobre o rodízio de água”, “São Paulo

estuda restringir a captação de água pela indústria”, “Alckmin reduz imposto sobre galões de

água”, “Governo de São Paulo prepara pacote com 8 obras para enfrentar crise hídrica” e

“Alckmin financiará projetos de uso racional de água” publicadas em 30 e 31 de janeiro; 2 e 4

de fevereiro e 23 de março, respectivamente.

As matérias citadas demonstravam o empenho do governador para que a crise hídrica

fosse resolvida, além da busca por apoio junto ao Governo Federal para captação de recursos

para as obras emergenciais. Como exemplo, a reportagem sobre os rumos da crise hídrica e a

indecisão sobre um possível rodízio de água, relatou o encontro do governador Geraldo

Alckmin com a Presidente Dilma Rousseff (PT) e os Ministros Aloizio Mercadante (PT), da

Casa Civil, e a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, ocorrido em Brasília, no Palácio

do Planalto, com o objetivo de debater a crise hídrica paulista e buscar apoio financeiro para

conter o agravamento do problema. Entre os trechos da coletiva de imprensa concedida após a

reunião entre membros do governo, a matéria concedeu destaque para o fato de Alckmin

mencionar que sua gestão está distribuindo gratuitamente caixa de água para famílias de baixa

renda.

A falta de previsão sobre um possível rodízio no abastecimento de água no Estado de

São Paulo, fato veementemente recusado pelo governador no período da campanha eleitoral

de 2014, obteve um enquadramento enviesado pela revista Veja. A ausência do um discurso

uníssono entre as duas instituições supostamente reflete a tentativa de blindar a imagem do

governador no início do segundo mandato, atribuindo à Sabesp a responsabilidade de proferir

todos os anúncios que repercutiam de maneira negativa junto à população.

A reportagem publicada em 8 de fevereiro com a chamada “Governo de SP cria

‘gatilho’ para racionamento de água” é reveladora dessa dicotomia, já que retrata o pedido de

Geraldo Alckmin ao presidente da Sabesp, Jerson Kelman, para que estabeleça um nível

mínimo de segurança do Sistema Cantareira para evitar o desabastecimento, antes de decretar

o rodízio, medida que o governador tenta evitar, segundo informa a reportagem.

De maneira semelhante, em 21 de janeiro, a reportagem “Governo de SP estuda usar a

Billings para atender Alto Tietê”, com enquadramento restrito, reproduz trechos da entrevista

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do governador Geraldo Alckmin, em que ele reafirma que o racionamento oficial de água no

Estado de São Paulo está fora de cogitação. Sem qualquer questionamento sobre o tema, a

matéria reproduz o termo redução da pressão ao invés de racionamento para retratar os cortes

no fornecimento de água que já ocorriam na maior parte das regiões do Estado de São Paulo.

As reportagens com menções sobre a possibilidade de adoção do rodízio, quando

associadas ao governador Geraldo Alckmin reproduziam os esforços do governo para que as

medidas fossem adotadas com o mínimo de impacto à população, como explícita a matéria

jornalística “Alckmin cria grupo para preparar plano em caso de rodízio”, de enquadramento

restrito, veiculada em 4 de março, em que aponta a criação de um grupo executivo dentro do

Comitê de Crise Hídrica para preparar um plano de contingência em caso de implantação do

rodízio.

Sem maiores aprofundamentos, as reportagens publicadas pela revista Veja sobre a

falta de abastecimento de água em São Paulo e a adoção de um provável rodízio privilegiou

enquadramentos restritos e episódicos, desassociando, quando possível, o governador Geraldo

Alckmin das matérias que apontavam quadros mais severos sobre a crise hídrica, como a

reportagem “Sabesp fala em rodízio drástico: 5 dias sem água e 2 com”, publicada em 27 de

janeiro, no qual o diretor da Sabesp, Paulo Massato, declarou que em um cenário extremo, a

companhia poderia decretar um rodízio "drástico" na região metropolitana: algumas regiões

ficariam até cinco dias sem água, semanalmente.

Em 14 de fevereiro, a reportagem com de enquadramento restrito, publicada com o

título “Secretário reconhece que Sabesp fecha registros de distribuição”, atribui aos

funcionários da Sabesp a manobra, que segundo o Secretário da Empresa, Benedito Braga,

eram realizadas manualmente, para fechar o registro de 40% da rede de distribuição de água

da grande São Paulo. O corte no abastecimento de água que assolou parte significativa da

população paulista foi tratado como uma ação isolada da Sabesp, aparentemente desvinculada

do governo estadual.

Interessante pontuar que até o reajuste nas contas de água da população paulista foi

enquadrado como uma medida da Sabesp, na reportagem publicada em 31 de março, com o

título “Sabesp alega crise e agência autoriza aumento de 13,8% na conta de água”. Segundo

informou a reportagem, o aumento, que seria de 5,4%, havia sido autorizado pela Agência

Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (ARSESP) em abril de 2014,

mas sua aplicação foi adiada pela companhia por decisão do governador Geraldo Alckmin,

que disputou e venceu a reeleição em outubro do mesmo ano.

Por fim, deve-se esclarecer que os problemas econômicos enfrentados pela sociedade

civil causados pela crise hídrica ficaram praticamente ausentes nas reportagens, e até mesmo

o prejuízo que a crise trouxe à própria Sabesp não foram densamente discutidos pela revista.

Considerações Finais

Se em análise preliminar, notou-se que as reportagens veiculadas sobre o tema

adotaram uma ampla variedade de enquadramentos, com diferentes ênfases e atribuições de

responsabilidades, na análise das reportagens durante o início do segundo mandato de Geraldo

Alckmin notou-se que existiu apenas um tipo de direcionamento sobre a crise hídrica, fato

confirmado pela predominância dos enquadramentos do tipo restrito e episódico.

Tais tipos de enquadramentos indicam que a revista somente se limitou a informar o

problema da crise hídrica sem uma análise mais aprofundada sobre o tema, desconsiderando

outros ângulos para relatar a questão, ficando desta maneira ausente das reportagens,

entrevistas com representantes da sociedade civil.

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O conceito de enquadramento confirma a capacidade dos meios, em especial da esfera

jornalística, de produzir e disseminar uma interpretação de mundo, através de uma retórica,

em que algumas ideias e imagens tornam-se mais salientes no texto do que outras. Após a

análise é possível afirmar que a revista Veja isentou o governador Geraldo Alckmin em

relação ao caos do setor hídrico, demonstrando-o sempre contrário às medidas que poderiam

prejudicar a população, como o rodízio de água. Não obstante, todas as ações impopulares

adotadas pelo governo estadual ficaram sob a responsabilidade da Sabesp.

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A escola contemporânea e o diálogo com a Geração Z:

Estudo de caso de educomunicação no ensino médio do

Colégio Israelita Brasileiro.

André Iribure Rodrigues

Doutor em Comunicação e Informação PPGCOM/UFRGS – doutorado-sanduíche PPGCOM/UFRJ; Mestre em

Comunicação e Informação PPGCOM/UFRGS; Bacharel em Comunicação Social – habilitação em Publicidade

e Propaganda; atualmente, ocupa o cargo de Vice-diretor e Coordenador Acadêmico da Fabico/UFRGS.

[email protected]

Fernando Zatz

Bacharel em Comunicação Social – Publicidade e Propaganda. Foi educador comunitário pelo movimento

juvenil Chazit Hanoar na América Latina. E-mail: [email protected]

Resumo

Este texto parte da inter-relação entre as áreas científicas da Educação e da Comunicação

para identificar alternativas que tornem o ambiente escolar e os processos de ensino-

aprendizagem mais relevantes às expectativas do jovem contemporâneo. Para contextualizar

a educação de Ensino Médio foram investigadas as novas formas de se relacionar com o

conhecimento a partir da Cibercultura e sob a perspectiva da Geração Z, que representa o

atual corpo discente. Tal investigação teórica foi confrontada com um estudo de caso no

Colégio Israelita Brasileiro, o qual visa organizar e analisar as práticas educativas em um

Ecossistema Comunicativo. Assim, foi possível reconhecer desafios para promover processos

de ensino-aprendizagem vinculados ao diálogo com a Geração Z, entre os quais se destacam:

investir nos espaços transdisciplinares; estimular à docência orientadora e incluir as

tecnologias de forma estratégica.

Palavras-chave

Educomunicação; Geração Z; Diálogo; Ecossistema Comunicativo; Escola.

Abstract

This text takes into consideration the interrelation between the scientific areas of Education

and Communication in order to identify alternatives which make the school environment and

the teaching-learning processes more relevant to the expectations of the contemporaneous

young person. In order to contextualize the education during High School, the new ways of

relationship with the knowledge from the Ciberculture under the perspective of Generation Z

– which represents the present student body – were investigated. Such theoretical

investigation was confronted with a case study in the Brazilian Israelite School, which aims to

organize and analyze the educative practices within a Communicative Ecosystem. Thus, it was

possible to recognize challenges to promote teaching-learning processes linked to the

dialogue with the Generation Z, among which some stands out: investing on transdisciplinary

spaces; stimulating the orienting teaching and including the technologies in a strategic way.

Keywords

Educommunication; Generation Z; Dialogue; Communicative Ecosystem; School.

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Introdução

No dia 1º de janeiro de 2015, a Presidenta reeleita Dilma Rousseff1 anunciou o novo

lema da nação: “Brasil, Pátria Educadora”. Tal lema está alinhado ao momento fundamental

da Educação para os municípios, estados e Distrito Federal, já que, com a aprovação do Plano

Nacional de Educação (PNE) em 2014, todos supracitados devem estar em processo de

planejamento para elevar a qualidade do ensino e cumprir com as metas estabelecidas no

PNE. Paralelo aos desafios da universalização do ensino, da inclusão das minorias excluídas e

outras pautas fundamentais à Educação, há um problema iminente a toda educação pública e

privada contemporânea: estudos demonstram baixo índice motivacional dos alunos na escola

atual. Segundo pesquisa nacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO), de 2008, metade dos alunos brasileiros de ensino médio

acredita que entre os principais problemas da educação está o desinteresse dos alunos.

Recente pesquisa da Fundação Getúlio Vargas2 (2009) também chamou a atenção para a falta

de interesse dos jovens no ambiente escolar: ela demonstrou que 40% daqueles que

abandonaram a escola o fizeram por falta de interesse, enquanto 27% por necessidade de

trabalhar e 10% pela falta de escolas. Percebemos que os problemas da educação não se

encontram apenas na democratização do acesso às escolas, mas na necessidade de tornar os

jovens interessados nos processos de ensino-aprendizagem.

É justamente diante do desafio de tornar a escola mais interessante à juventude que

este trabalho se apropria da inter-relação entre a Educação e a Comunicação. O objeto de

estudo escolhido foi o da gestão comunicacional no ambiente escolar e, para um recorte mais

sucinto, definiu-se o ensino médio, com jovens entre 15 e 17 anos, como contexto a ser

investigado.

O objetivo geral deste trabalho, portanto, é investigar a inter-relação entre

Comunicação e Educação no contexto escolar de ensino médio com a intenção de cumprir

uma série de objetivos específicos: I) contextualizar a escola com as novas formas da

sociedade se relacionar com o conhecimento; II) apontar as características da juventude no

ambiente escolar; III) identificar, organizar e reconhecer as principais áreas de intervenção da

Educomunicação no ambiente escolar; IV) apontar caminhos e questionamentos para a

promoção do diálogo nos processos de ensino-aprendizagem no ensino médio.

Primeiro, então, estrutura-se a fundamentação teórica, separada nos seguintes

aspectos: o epistemológico da inter-relação entre Educação e Comunicação; o das novas

formas da sociedade contemporânea de se relacionar com o conhecimento; o das principais

características da Geração Z como educandos e o organizacional que promove áreas de

intervenção no contexto escolar a partir da Educomunicação. Para aproximar a

fundamentação teórica da prática educativa foi escolhida a metodologia do Estudo de Caso,

na qual o Colégio Israelita Brasileiro (CIB) de Porto Alegre foi escolhido por ser uma escola

tradicional e que se posiciona como inovadora, principalmente através da inserção das

tecnologias em sala de aula. Por fim, o artigo faz as considerações finais do trabalho.

O diálogo está no centro das confluências epistemológicas

O paralelo entre as tradicionais áreas da Educação e Comunicação está vinculado ao

papel do diálogo. A partir do levantamento bibliográfico, identificou-se que a perspectiva dos

1 Recuperado 25 março 2014, em: http://www.brasil.gov.br/governo/2015/01/dilma-toma-posse-e-anuncia-lema-do-novo-governo-

201cbrasil-patria-educadora201d. 2 Recuperado 25 março 2014, em: http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1169/motivos-da-evasao-escolar/

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estudos de recepção na Comunicação é uma possibilidade de concordância com os estudos da

Educação, mais especificamente, com as teorias do currículo.

Os estudos da recepção tratam, segundo Jacks e Escosteguy (2005), da comunicação

enquanto relação dos meios com suas audiências. Tais estudos surgem no escopo da

comunicação no ambiente acadêmico desde a década de 1920, época na qual o polo da

emissão foi amplamente privilegiado já que analisava o receptor via os efeitos das mensagens

enviadas. Um dos primeiros modelos de comunicação, chamado de “Teoria Matemática da

Comunicação3”, punha a transmissão de informação de forma linear e descartava o contexto.

Somente a partir da década de 1970 houve uma mudança de paradigma e “[...] a recepção

começa a ser concebida como ativa, admitindo-se a participação dos sujeitos na reconstrução

dos significados das mensagens.” (BACCEGA & GUIMARÃES, 2006, p.409). É nesta

mudança que se faz a relação com a Educação.

Já as teorias do currículo, da Educação, são definidas por Silva (2010) como as

escolhas por quais conhecimentos devem ser ensinados na escola. O termo obteve força em

época análoga aos primórdios dos estudos da recepção com a obra The Curriculum4 (1918)

que tratava o sistema educacional como um estabelecimento comercial, já que previa

resultados fixos em seus educandos para cada processo. No entanto, na década de 70 as

teorias críticas do currículo “desconfiam do status quo, responsabilizando-o pelas

desigualdades e injustiças sociais” (SILVA, 2010, p.30), e passam a conotar um papel ativo ao

educando.

Assim, tal qual a comunicação pode ser concebida e até realizada sob a prerrogativa

linear de emissor-mensagem-receptor, inquestionável na década de 20, a pedagogia também a

pode fazer, sendo tal paradigma denominado por Paulo Freire (1987) de educação bancária,

em que vige a opressão em contrapartida da liberdade. Segundo Baccega e Guimarães (2006),

o modo como o professor concebe o aluno está diretamente conectado ao modo que a

comunicação concebe o receptor. Ao considerar o receptor ativo, através do diálogo, se

vinculam Educação e Comunicação.

O conceito do diálogo, entretanto, é amplamente discutido academicamente e cabe

fazer uma breve ressalva sobre a diferenciação entre duas correntes de pensamento: a

freireana e a buberiana. Comecemos pelas consonâncias: primeiramente, como nos aponta

Martín-Barbero (2014), o diálogo jamais pode ser entendido como simples e direto, como se

fora uma simples fórmula matemática. Tal qual a linguagem, o diálogo não se constitui apenas

no entendimento das atribuições do símbolo, mas também na própria constituição da

subjetividade: é o que Martín-Barbero (2014) chama de mediação. Neste ponto concordam as

filosofias de Martim Buber e Paulo Freire; entremos nas diferenças.

Buber, através de seu teorema Eu-Tu, posiciona o diálogo enquanto ontologia: o ser -

Eu - não existe sem o Tu. Ou seja, a relação e o diálogo não são apenas ferramentas ou

potências para fins; são, afinal, as próprias formas de existirmos no mundo. Já para Freire, os

homens, através do diálogo, pronunciam o mundo. Chama tal conceito de “palavra”. Ou seja,

através da linguagem, a pronunciação do mundo se dá sempre em duas esferas: ação e

reflexão. Quando a “palavra” é apenas uma, está destituída de diálogo.

Neste ponto encontra-se a diferença nas concepções do diálogo entre os dois autores:

na presença da finalidade política e emancipadora dos sujeitos na abordagem freireana. Então,

enquanto para Freire o diálogo serve ao direito de todos a pronunciarem o mundo unindo ação

e reflexão, para Buber (2001) não há intencionalidade, nem estratégias: é simplesmente o que

somos.

Mas, afinal, por que isso é importante? É justamente neste sentido que o artigo se

3 Shannon, C. & Weaver, W. (1975). The mathematical theory of communication. Chicago: University of Illinois Press. 4 Bobbitt, John Franklin. The Curriculum. Boston: Houghton Mifflin, 1918.

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desdobrará ao se afastar da epistemologia. O ecossistema comunicativo de um ambiente

escolar, que será abordado adiante, sugere que o aporte da Educomunicação vá além da

imersão de tecnologias ou da manutenção do direito à expressão, por exemplo. Ele preza por

uma estrutura dialógica que provoca o coletivo ao conhecimento incessante, sem finalidades,

mas como uma ontologia: uma forma de ser Escola que se posiciona no espaço do entre. Para

nós, esse entendimento é uma alternativa para promover o diálogo com os jovens e aumentar

o interesse frente às escolas contemporâneas.

O conhecimento vive a crise da modernidade

Não há quem defina, com segurança, uma inexata pós-modernidade. Entretanto, a

crise do pensamento moderno já está consolidada e enquanto a sociedade reinventa o mundo,

muitas estruturas, entre as quais a escola, não acompanham as mudanças. A crise da

modernidade é, sobretudo, aquela que descentra o sujeito cartesiano5 e que questiona as

metanarrativas, ou seja, os pensamentos totalizantes do saber do pensamento moderno.

Para Silva (2010), o currículo predominante é justamente uma encarnação do

pensamento moderno: é linear, sequencial, estático, realista, objetivista, disciplinar,

segmentado, eleva o conhecimento “científico” em detrimento ao cotidiano. Tampouco as

teorias críticas da Pedagogia respondem à crise, já que focam em demasia na emancipação do

sujeito Moderno.

É no contexto da crise da Modernidade que surge o conceito de Cibercultura,

sobretudo nos estudos de Comunicação. Lemos (2010) define Cibercultura como uma forma

cultural da pós-modernidade, já que resulta da convergência entre a sociabilidade e as

tecnologias microeletrônicas.

Lévy (1999) faz referência à evolução do conhecimento na história: antes da escrita, o

saber era ritual, prático e encarnado por toda comunidade. Depois, pertencia aos livros e aos

seletos intérpretes. Com o tempo, passou a uma biblioteca, e era sábio o homem que

dominava todo o conhecimento. Hoje, é tempo de Cibercultura e o que o autor chama de

“desterritorialização da biblioteca”: o conhecimento tem possibilidades infinitas e pertence à

rede, não a determinado grupo.

Gómez (2006) faz importantes aportes para o conhecimento não ficar sujeito nem à

visão tecnocêntrica - que dá demasiada importância às tecnologias - nem à sociocêntrica - que

dá demasiada importância aos atores sociais. Para ele, a contemporaneidade se caracteriza

justamente pela “explosão de mediações”: há tanto a descentralização das mediações entre os

meios midiáticos, como o enfraquecimento das mediações de tradicionais instituições, tal qual

a Escola e o Estado.

A perspectiva que se segue aqui é justamente essa: a da complexidade, a da “explosão

de mediações”. Martín-Barbero (2014) apresenta um conceito pertinente a essa perspectiva,

chamado de “ecossistema comunicativo”, que se define como o entorno educacional que nos

envolve e tem como características ser difuso, pois conta com uma mistura de saberes e

linguagens circulando por dispositivos midiáticos interconectados, e descentrado, por ir além

dos meios tradicionais da educação como o livro e a escola. Soares (2012), principal autor da

Educomunicação, posiciona o ecossistema comunicativo dialógico como o ideal a ser

alcançado pelos ambientes educativos.

5 Em referência a René Descartes (1596-1650), símbolo da centralidade do Modernismo, autor da frase: “penso, logo existo”. Descartes, R.

(1996). Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes.

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A cibercultura muda o paradigma do conhecimento

A partir desse cenário de complexas mediações entre atores humanos e tecnológicos,

algumas características se tornam proeminentes para o ambiente do conhecimento e surge um

novo paradigma. Castells (2000) o define como o “paradigma da tecnologia da informação” e

aponta algumas características, entre elas destaca-se: informação é sua matéria prima - as

tecnologias agem sobre múltiplas informações e não apenas para gerar novas informações;

lógica das redes - cenário com crescimento mais horizontal, favorável à inovação e que

diminui importância das estruturas; flexibilidade - favorece reconfigurações e mudanças

constantemente; e convergência tecnológica - tendência na qual as tecnologias se

complementam e dependem uma da outra. Junto ao valor da lógica das redes de Castells

(2000) cabe ressaltar o conceito de “inteligência coletiva” de Lévy (2007), que muda o

paradigma moderno “penso, logo existo6” para “formamos uma inteligência coletiva, logo

existimos eminentemente como comunidade”. No contexto da educação, Lévy (2007) acredita

que o caminho mais promissor é o da aprendizagem cooperativa, justamente por coadunar

com esse conceito. Para o autor, a transmissão de saberes não deixa de existir, simplesmente é

mais eficiente por outros meios que não a escola e o professor. Lévy (1999, p.169) incita,

também, que “os indivíduos toleram cada vez menos seguir cursos uniformes ou rígidos que

não correspondam às suas necessidades reais e à especificidade de seu trajeto de vida”, por

isso a educação precisa sair da metáfora da pirâmide, de pré-requisito para saberes superiores,

e entrar no modelo da navegação, que promove conhecimentos diversos com maior

personalização e crescimento em rede.

Mais recente que os primórdios dos estudos da Cibercultura, o debate acerca do valor

da realidade móvel ganhou enorme relevância a partir do crescimento dos smartphones e

tablets. Para Lemos (2009), os meios de comunicação massivos tradicionais, como a

televisão, implicavam em pouca mobilidade comunicacional, restando-se restrita ao consumo.

Já os recentes meios pós-massivos, móveis e em rede, além do consumo, ampliam também as

possibilidades de produção e distribuição de informação. Se então já vivíamos um contexto de

conexão, a mobilidade amplia as formas de conexão entre homens e homens, homens e

máquinas e máquinas e máquinas. É o momento em que Lemos (2007, p.2) define que “a rede

transforma-se em um ‘ambiente’ generalizado de conexão, envolvendo o usuário em plena

mobilidade”. Esta liberdade para se movimentar pelo tempo e espaço, com possibilidades

múltiplas e constantes de buscar informações torna os homens o que o autor define como

“nômades por conhecimento”.

De volta à prática, no contexto escolar, três termos envolvendo aprendizagem com

tecnologia aparecem com frequência: e-learning, caracterizado pela educação eletrônica à

distância, via internet; m-learning, referente às metodologias com dispositivos móveis e, por

fim, a u-learning, alusivo ao ensino ubíquo, ou seja, apoiado na tecnologia, mas com

liberdade para transitar em qualquer ferramenta. As três modalidades são relevantes aos

jovens “nômades” que, através das tecnologias móveis, situam o espaço e o tempo como

constantes oportunidades de acesso à informação e à comunicação. Mesmo que se possa

prever um cenário no qual o u-learning seja realidade a toda sociedade, o caminho não é

basear toda a educação nas tecnologias, mas considerá-las mediações permanentes e

importantes em um amplo e diversificado ecossistema comunicativo.

6 Também faz referência ao filósofo símbolo do Modernismo, René Descartes (1596-1650).

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

A Geração Z7 já nasceu na cibercultura

Há variações entre as definições da geração subsequente a Geração Y, mas o que nos

interessa é o recorte dos jovens que nasceram no mundo pós-internet: os chamados nativos

digitais, nascidos a partir de aproximadamente 1995. Diferente das gerações anteriores, dos

“imigrantes digitais”, a Geração Z é a primeira que cresceu alfabetizada digitalmente e livre

de qualquer “sotaque”. Segundo Tapscott (2010), é a geração que não diferencia o off do

online. Marc Prensky (2001) diz que a singularidade dessa geração está justamente na rápida

disseminação da tecnologia digital nas últimas décadas do século XX. No entanto, ela ocupa

diferentes posições: ora otimista, como uma oportunidade de democratizar e compartilhar

conhecimentos sem distinções de classe, por exemplo, e ora pessimista, como uma ferramenta

que promove uma visão rasa e efêmera do mundo. Tapscott (2010) é otimista ao observar o

comportamento dos jovens frente às tecnologias digitais, inclusive a televisão. Para o autor,

pela primeira vez os jovens assumiram controle dos elementos primordiais para uma

revolução em comunicação, já que outrora o poder era exclusivo às redes de televisão e à

mídia impressa e, por conseguinte, à visão de mundo de seus proprietários.

Diversas críticas também acompanham essa emergente geração. Neste contexto, as de

Mark Bauerlein (2008) estão entre as mais proeminentes. O autor afirma que ao invés da

inquietude e da curiosidade, até então valores centrais da juventude, estão presentes o

consumismo e o imediatismo que perpetuam a infantilidade e assim fazem com que a

juventude abdique de alcançar a profundidade em qualquer tema. No entanto, há poucas

evidências que comprovem o que diz. Entre os extremos do otimismo libertário das

tecnologias e a visão pessimista sobre essa juventude rasa encontram-se os trabalhos de

Palfrey e Gasser (2013) e de Veen e Vraaking (2009), que analisam os desafios para essa

juventude e para aqueles mais responsáveis por ela: pais e professores. É a partir dessa

perspectiva que vamos analisar a relação desses jovens com o ambiente de ensino.

Para Veen e Vrakking (2009) a Geração Z está se moldando a partir da relação com a

tecnologia. Por exemplo, as crianças aprendem desde cedo que há múltiplas fontes de

informação cujas verdades podem ser diferentes. Além disto, estão acostumadas a ter

completo controle sobre o fluxo de informações, seja pelo mouse, controle remoto ou celular.

Nesse aspecto encontra-se uma diferença crucial entre a Geração Z e suas antecessoras:

enquanto a primeira funciona em rede e de forma difusa, a segunda é linear e centralizada.

Enquanto as antecessoras leem o manual para instalar algo, a Geração Z já sai manuseando e

recorre aos fóruns e às informações na rede.

Outro elemento-chave para os autores está justamente no papel dos jogos para essa

geração. Tal qual o jovem exerce o controle sobre o fluxo de informações, ele o faz ao brincar

em ferramentas tecnológicas, inclusive, a partir dos três anos. Ao jogar, eles são estimulados

por desafios cada vez maiores e aprendem por meio da descoberta e da experimentação, afinal

o computador os dá infinitas chances. Os jogos em rede também estimulam a cooperação para

poder vencer, que corrobora com a visão de Palfrey e Gasser (2013), acerca do aprendizado

em times: a escola do futuro segue a tendência ao compartilhamento e da construção do

conhecimento coletivo. Já dizia Lévy (1999), que o caminho mais promissor para a educação

era o cooperativo.

É evidente que a tecnologia tem papel importante nessas mudanças. Porém, as maiores

mudanças pouco tem a ver com inclusão das tecnologias na sala de aula. Para Tapscott (2009),

7 Para entender a abordagem de gerações, utilizamos a definição de condensação relativa de Bauman (2011): “[...] nenhum ser humano é

exatamente igual a outro - e isso se aplica tanto aos jovens quanto aos velhos. Contudo, é possível notar que, em determinadas categorias de

seres humanos, algumas características ou atributos tendem a aparecer com maior frequência que em outras. É essa ‘condensação relativa’ de

traços característicos que nos permite falar, em primeiro lugar, em ‘categorias’, sejam elas nações, classes, gêneros ou gerações.”

(BAUMAN, 2011, p.58).

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a principal mudança de paradigma que essa geração precisa, na qual a tecnologia digital deve

estar inserida, é na mudança da “Aprendizagem Difusora” para a “Aprendizagem Interativa”,

que defende as seguintes mudanças: I) as atividades devem ser centradas no aluno, não no

professor; II) as atividades devem ter uma medida para cada, não uma medida para todos; III)

as atividades devem privilegiar a descoberta, não a instrução; e IV) a aprendizagem deve ser

colaborativa, não individual.

A educomunicação é uma solução consolidada

A inter-relação entre Educação e Comunicação está consolidada como uma área

própria do saber científico, tendo em vista a vasta literatura e os diversos projetos dos últimos

vinte anos. Citelli (2011) a legitima como um campo próprio do saber com o objetivo de, em

síntese, pensar e praticar Educação no âmago do ecossistema comunicativo. Cabe aqui

ressaltar a visão de ecossistema comunicativo de Soares (2012) e própria da Educomunicação:

o termo é uma figura de linguagem para ilustrar um ideal de relações que é decorrência de

uma decisão estratégica de assumir o planejamento e execução da Educomunicação, através

do diálogo no ambiente escolar.

Soares (2000) defende que a Educomunicação se encontra na solução dos destempos8

da educação contemporânea: enquanto para a Educação, o espaço é a escola local e o tempo é

o estudo do passado, para a Comunicação o espaço é desterritorializado, virtual, e o tempo é o

presente. Portanto, é preciso de alinhamento para relacionar as áreas. O autor também

estabelece dois pressupostos teóricos e dois práticos para a Educomunicação, que dão

consistência acadêmica ao debate e que coadunam com o que foi abordado anteriormente

neste trabalho.

O primeiro pressuposto teórico diz que a educação só é possível enquanto ação

comunicativa, já que a comunicação está presente em todos os modos de formação do ser

humano e já que toda comunicação é em si uma ação educativa. O segundo converge com o

primeiro ao posicionar a Educomunicação como um campo de inter-relação entre as duas

áreas da ciência, em oposição a disposições de confronto ou cooperação. Já o primeiro dos

práticos define um campo de práxis abrangente, ao elucidar que a relação da Educomunicação

com a escola extrapola a visão mais comum de educação para a mídia. Para isso, posiciona a

área em três âmbitos: I) o administrativo, voltado à gestão das relações entre públicos

internos; II) o disciplinar, que sugere que a comunicação enquanto linguagem, processo e

produto cultural se transforme em conteúdo disciplinar e que visa garantir um tratamento

educomunicativo a toda grade curricular; e III) o transdisciplinar, que dá mais liberdade a

educandos e educadores, com estímulo aos projetos e à utilização das linguagens midiáticas.

O quarto pressuposto trata de um ponto crucial para a efetuação dessas ideias que é a

formação de profissionais educomunicadores. Para o autor, os preconceitos entre os

profissionais de Pedagogia e da Comunicação afastaram a necessidade dos educadores de

entenderem as linguagens produzidas socialmente na construção da cultura contemporânea.

Atualmente, para Soares (2012), os maiores desafios do campo são justamente colocar

em prática tais pressupostos e disseminar tais informações, tendo em vista que já há diversas

consonâncias legais9 que estimulam projetos dessa índole, assim como há bastante material

acadêmico próprio e de inter-relação entre as áreas para serem usados. Para tanto, o

8 Remete ao conceito apresentado por Martín-Barbero (1997 apud SOARES, 2000) que basicamente, se refere à permanência de uma

determinada ideia sem que acompanhe uma mudança sociocultural. Orozco (2006, p.86), define destempos como “superposições de

temporalidades, modernas, pré-modernas e pós-modernas, [nas quais] ao mesmo tempo que indicam o sentido das mudanças, definem sua

adaptação a elas [...]”. 9 Para mais informações: Soares, I. (2012). Educomunicação: o conceito, o profissional, a aplicação: contribuições para a reforma do ensino

médio. São Paulo: Paulinas.

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“ecossistema comunicativo” baseado no diálogo deve ser entendido como uma meta perante o

planejamento, a realização e a avaliação de processos, produtos e projetos. Para dar sustância

ao ecossistema comunicativo, Soares (2012) sugere as seguintes áreas de intervenção, com os

seguintes objetivos:

Educação para Comunicação: compreender o fenômeno da comunicação

interpessoal, grupal, organizacional e massivo; estudar papel dos meios de

comunicação;

Expressão comunicativa através das artes: explorar o potencial criativo e

emancipador das distintas formas de manifestação artística;

Mediação tecnológica: práticas relacionadas com o uso de Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC) de forma democrática e estratégica;

Pedagogia da comunicação: atentar ao cotidiano da didática; promover a

cooperação e a realização de projetos;

Gestão da comunicação: planejar e executar as práticas referentes às áreas

anteriores; avaliar constantemente - exige auxílio de profissional da área;

Reflexão epistemológica: estudar constantemente a inter-relação entre as áreas da

Educação e Comunicação para analisar diferenças entre teoria e prática.

Portanto, nota-se que a Educomunicação não visa estabelecer características de uma

sociedade contemporânea, mas propor uma abordagem prática para a gestão escolar, levando

em consideração toda a base teórica da inter-relação entre as áreas. Sob essa perspectiva, o

estudo de caso foi realizado em um Ensino Médio de uma escola que não conta com

planejamento em Educomunicação, para descobrir suas dificuldades e oportunidades.

Ecossistema comunicativo no Colégio Israelita Brasileiro (CIB)

Foi feita uma análise de um ecossistema comunicativo sob a perspectiva da gestão

escolar. Primeiro serão apresentados os processos metodológicos, estratégia de pesquisa e

fontes de evidência. Posteriormente, será apresentada a análise dividida em três etapas:

filosofia educacional; ecossistema comunicativo e generalização dos desafios.

O método escolhido foi o estudo de caso único por ser indicado quando a teoria já

fornece diversas proposições que podem ser testadas e analisadas sob as circunstâncias

específicas do caso (YIN, 2001). Também se posiciona como um estudo introdutório, já que

não foram encontrados trabalhos que analisam escolas sob a perspectiva da gestão de um

ecossistema comunicativo.

A estratégia de pesquisa foi dividida em três etapas com os seguintes objetivos: I)

Filosofia Educacional: analisar a presença do diálogo, como conceito, nos documentos

norteadores do CIB. II) Ecossistema Comunicativo: organizar e analisar as atividades de

caráter educomunicativo do ensino médio do CIB em um ecossistema; III) Generalização:

reconhecer desafios do ensino médio para dialogar com a Geração Z e apontar alternativas

para promover o interesse dos educandos.

As fontes de evidência foram escolhidas a partir do conceito de triangulação de Yin

(2001) que entende as informações a partir de múltiplas fontes. Primeiramente, foi feita uma

análise de documentos norteadores da gestão e prática escolar10. Posteriormente, foram feitas

três entrevistas informais, duas com Adriana Beatriz Gandin, a Coordenadora Administrativo

10 Foram analisados três documentos: Valores Institucionais, Mandala Educativa e Triple A. Eles estão descritos no site da escola.

Recuperado 2 junho 2015, em http://www.colegioisraelita.com.br.

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Pedagógica e uma com Iury Carmo de Melo Wald, o Analista de Suporte, responsável pelas

TIC na escola. Por fim, foram feitas duas observações diretas de aulas com mediação

tecnológica para turmas de ensino médio.

A filosofia que norteia e o ecossistema que faz acontecer

Para entender a realidade escolar, primeiro foram analisados os documentos

norteadores. No CIB foi observado que, apesar do diálogo não aparecer de forma direta, os

valores da escola estão à frente das típicas metanarrativas da Modernidade e há espaços para

interpretação que incentivam a comunicação. Vejamos os trechos dos Valores Institucionais,

divididos em Visão, Missão e Proposta.

Primeiro, destaca-se a Visão da escola: “Ser uma instituição reconhecida pela alta

qualidade de ensino, cujo projeto educativo valoriza de forma marcante a cultura e as

relações interpessoais através de práticas inovadoras, vinculadas à preparação para o

empreendedorismo.” (CIB, grifos nossos). Já a Missão da escola declara que “[...] elege a

educação para a Paz e a busca constante pela excelência de ensino com vistas à formação de

cidadãos preparados para a vida e para a construção de uma sociedade plural.” (CIB,

grifos nossos). A Proposta contempla dois principais valores para o cumprimento da missão;

primeiro, define a Cultura como o centro do projeto educativo, através da qual os “[...] alunos

são incentivados a buscar [...] seus próprios espaços de realização pessoal e auto-superação

(sic), em uma perspectiva empreendedora.” (CIB, grifos nossos). Em seguida define

Solidariedade “como a responsabilidade que temos uns pelos outros, é o sentido que o

Colégio atribui à participação no espaço coletivo.” (CIB, grifos nossos).

A partir do posicionamento da escola enquanto instituição, já se notam interfaces com

a fundamentação teórica. O papel da cultura e das relações interpessoais reforça o papel da

comunicação na escola. A cultura tem papel central para a promoção de um ambiente

comunicativo já que a comunicação está sempre imersa na memória comum dos sujeitos, tal

qual o colégio define a Cultura como centro de seu projeto educativo. A inovação vinculada

ao empreendedorismo também representa uma visão dialógica de conceber o educando,

considerando-o ativo e com múltiplos caminhos de evolução, contrapondo-se ao que seria a

visão bancária da educação de Freire (1987).

Ao definir a cultura como espaço para auto-superação, a filosofia coaduna com a

perspectiva freireana do diálogo de atribuir para os processos de ensino-aprendizagem, uma

finalidade emancipadora ao sujeito. No entanto, tal emancipação vinculada à “perspectiva

empreendedora” está assaz reservada à perspectiva individual da “auto-superação”, deixando

de incorporar uma perspectiva da dialogicidade como ontologia, de basear-se nas relações Eu-

Tu (BUBER, 2001), e que incentivaria um cenário contemporâneo de cooperação e

desenvolvimento em rede.

Além da cultura organizacional, outro documento fundamental para a realidade da

escola é a Mandala Educativa, que diz respeito a nove diferentes núcleos de atuação que

propõem um ensino para além dos livros e disciplinas tradicionais. Entre elas destaca-se o

Núcleo de Ciência & Tecnologia que traz “[...] os conteúdos para o ‘mundo real’, para serem

utilizados no cotidiano, na vida dos alunos.”; a Cidade-Laboratório que traz oficinas opcionais

e transdisciplinares; o Núcleo Educacional de Empreendedores que visa “[...] mostrar

caminhos para que os jovens possam gerenciar suas vidas”; e o Currículo Socioafetivo que vai

além da dimensão cognitiva e estimula a convivência e a formação de identidade. Aqui é

necessário reforçar a importância da Cidade-Laboratório como estrutura para uma abordagem

transdisciplinar da educação. Ela dispõe de cinco núcleos: Ciência & Tecnologia, Cultura e

Erudição, Educacional de Empreendedores, Educação Judaica e Política e Cidadania e visa

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oferecer oficinas para todas as etapas da escola. A Cidade-Laboratório conta com prefeitura,

supermercado, banco, centro cultural, centro multimídia de imprensa e também com prefeito,

secretários e vereadores, todos com até 10 anos de idade.

A maior parte dos projetos estimulados pela Mandala Educativa acontece na Cidade-

Laboratório e se encontra no âmbito das práticas transdisciplinares que, segundo Soares

(2012, p.146), são aquelas nas quais “[...] professores e alunos podem encontrar o mais amplo

leque de possibilidades para o exercício da criatividade educomunicativa, mediante ações

através de projetos”. A Mandala Educativa é um importante avanço da gestão frente a um

ecossistema comunicativo dialógico e aos valores do CIB enquanto organização, analisados

anteriormente.

De forma geral, nos documentos analisados, a instituição demonstra estar consciente e

aberta aos novos contextos do conhecimento. Na filosofia, tem uma visão restrita do diálogo,

mas incentiva uma concepção ativa do educando. Ao centralizar a Cultura, motiva a escola a

acompanhar as mudanças na crise da Modernidade, lideradas hoje pela Geração Z, seu

público primário.

Analisada a filosofia, partimos para a análise do ecossistema comunicativo do CIB que

leva à prática os valores da escola. Nesta etapa utilizamos da separação de Soares (2012), ao

considerar os três âmbitos de atuação: administrativo, disciplinar e transdisciplinar; e as

seguintes áreas de atuação, conforme figura abaixo:

Figura 1 – Áreas de intervenção da Educomunicação

Fonte: os autores (2014), baseado em Soares (2012).

No âmbito administrativo, o CIB primeiramente apresenta uma filosofia alinhada com

o pensamento da Educomunicação, mesmo que com pouca clareza. Em segundo lugar, está

vivendo um processo importante que é o planejamento para adoção do Ensino Integral,

movimento que vai ampliar as possibilidades educomunicativas. Além disto, oferece amplo

suporte tecnológico para seus públicos internos: 3 Lousas Eletrônicas; 35 iPads; 35

computadores no laboratório de informática e computadores nas principais salas de aula e

laboratórios. Também, a Superintendência estabeleceu uma meta, na qual todos os professores

têm que incluir as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) pelo menos duas vezes ao

ano. As metodologias com as TIC ficam a cargo do professor, mas tanto a Coordenadora

Administrativo-Pedagógica como o Analista de Suporte obrigatoriamente aprovam os projetos

ou, quando necessário, ajudam a concebê-los. Outro trunfo administrativo da escola é o

investimento na formação de professores. O CIB investe na Universidade Corporativa do

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Colégio Israelita Brasileiro (UniCCIB) que tem encontros mensais obrigatórios para os

professores da escola e ainda oferece vagas para profissionais da rede pública de educação.

Segundo Adriana B. Gandin, Coordenadora Administrativo-Pedagógica do Ensino Médio do

CIB, a UniCCIB está sendo fundamental na efetivação de novos projetos em sala de aula. Em

2013, as atividades foram a respeito do Ensino Integral.

Entretanto, a maior barreira que o CIB encontra para implantar novas mudanças é a

necessidade de focar na preparação para o vestibular. Contudo, Adriana B. Gandin afirma que

o crescimento do Enem oferece mais possibilidades para inovações dentro e fora da sala de

aula, por ser uma prova mais interpretativa e interdisciplinar. A falta de um profissional da

Educomunicação também dificulta o planejamento da comunicação como um ecossistema.

Analisados os principais esforços administrativos, seguimos com os âmbitos

disciplinar e transdisciplinar e suas seis áreas de intervenção. Avaliamos as atividades que

correspondiam às áreas e chegamos à seguinte conclusão: o ecossistema comunicativo do CIB

é contemplado, porém pouco aproveitado. Vejamos área por área:

Na primeira, educação para a comunicação, encontramos tanto práticas disciplinares:

o professor de Filosofia incluiu no currículo a discussão de relacionamentos virtuais a partir

do documentário Catfish11 para todas as séries do ensino médio; como transdisciplinares: com

projeto de leitura crítica da mídia, levado a cabo na Feira do Livro da escola.

Quanto à pedagogia da comunicação, além da filosofia da escola analisada acima, a

escola pede para que cada professor preencha uma ementa da disciplina com os objetivos,

conteúdos e formas de avaliação; neste documento12, a Escola faz uma tripla recomendação:

I) Diversidade didática (diferentes metodologias); II) Presença de tecnologia educacional

(diferentes recursos); e III) Acompanhamento individual do aluno (ensino customizado,

desafios e recuperação paralela). Tais recomendações estão de acordo com os valores da

Geração Z. Quanto às práticas transdisciplinares, na forma de projetos, são diversas as

possibilidades oferecidas pela escola. No entanto, grande parte delas é opcional e não conta

com alto índice de penetração. Entre elas, as oficinas da Cidade-Laboratório, como: Fórum de

Atualidades, Física Avançada, Edição de Vídeo e Música Hebraica. Outros projetos

transdisciplinares já integram o currículo escolar e têm maior adesão, além de serem

amplamente elogiados pela coordenação. Entre eles, destaca-se o projeto “Miniempresa13” de

empreendedorismo em conjunto com a Junior Achievment que visa a gestão de uma empresa

pelos alunos da 2ª série do Ensino Médio. Outro projeto de destaque é o “Mini Parlamento”,

de caráter obrigatório e que acontece no horário das disciplinas também para os alunos da 2ª

série. O projeto transforma os alunos em parlamentares do Estado de Israel com a tarefa de

criar leis que contribuam para o fim dos conflitos do Oriente Médio.

Quanto à mediação tecnológica, o CIB demonstra estar especialmente voltado para a

inclusão das tecnologias no âmbito disciplinar. Na pesquisa, foi observada uma aula de

preparação para o Enem com a utilização de computadores e do aplicativo Nearpod14 - que é

voltado para escolas e possibilita ao professor montar uma apresentação com diversos

recursos de interatividade e de avaliação por meio de questionários corrigidos em tempo real.

A atividade era essencialmente a mesma para todos os alunos, que podiam participar em

velocidades diferentes, mas também possibilitou uma reduzida diversificação ao permitir que

os alunos explorassem algumas páginas virtuais previamente selecionadas. O professor

aplicou ainda um questionário que corrigia automaticamente, mostrando gráficos de erros e

acertos da turma e das duplas. Esta atividade exemplifica que as tecnologias digitais são

ferramentas potentes para a educação, mas não necessariamente significam uma pedagogia

11 Documentário americano de 2010, conta a construção de amizades virtuais e compara as informações virtuais com a realidade.

Informações recuperadas 15 maio 2014 em: http://www.imdb.com/title/tt1584016. 12 A ementa original não foi disponibilizada para anexar a este trabalho. 13 Mais informações em: http://www.jabrasil.org.br/jars/programas/miniempresa 14 Mais informações em: http://www.nearpod.com/

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baseada no diálogo.

Por fim, na área de expressão comunicativa, o colégio tem disciplina de artes

obrigatória até o segundo ano e oferece aulas de dança e esportes como disciplinas opcionais.

No âmbito transdisciplinar, oferece uma oficina opcional de edição de vídeos e fotografias, e

por iniciativa do corpo discente, conta com um jornal do Grêmio Estudantil.

Vimos acima que todas as áreas de intervenção, salvo a Reflexão Epistemológica, são

contempladas pelas variadas atividades da escola, seja de forma disciplinar ou

transdisciplinar. No entanto, cabe salientar que apesar de contempladas, as atividades que

fazem parte do ecossistema comunicativo normalmente não alcançam todo o corpo discente

do ensino médio, nem compreendem em grande parte do currículo escolar.

Em suma, no âmbito administrativo a escola ruma para muitas melhorias, com ampla

formação de profissionais, suporte tecnológico, processos que incentivam o ecossistema

comunicativo, uma filosofia norteadora oportuna e já se prepara para efetivar o Ensino

Integral. Nos âmbitos disciplinar e transdisciplinar, a escola conta com diversas

possibilidades, com destaque para os projetos da Cidade-Laboratório. Mas, ainda esbarra em

dificuldades: a escola sofre primeiramente com o peso do Vestibular, que acaba sufocando

alternativas e priorizando a transmissão de saberes e o treino para provas. Os professores de

ensino médio, por exemplo, são orientados a aplicarem uma prova parcial e uma trimestral,

somando 70% da nota, nas datas previstas para as “semanas de provas”, que concentram todas

as provas, de todas as disciplinas. Resta ao professor, 30% da nota para outras formas de

avaliação, essas orientadas a serem alternativas; em segundo lugar, ao não assumir o ensino

integral para o Ensino Médio, novos projetos e metodologias não encontram espaços frente à

força do currículo para o Vestibular. Mas, assim que o assumir, um novo planejamento e

novas soluções vinculadas a um ecossistema comunicativo dialógico irão surgir.

Desafios para escolas do ensino médio contemporâneas

A escola de ensino médio que está disposta a dialogar com o jovem contemporâneo

tem de estabelecer uma série de mudanças para solucionar os principais destempos da

educação para com a Geração Z e seu entorno de Cibercultura. O trabalho motivou uma série

de considerações que se propõem à generalização dos desafios, desde que avaliadas de acordo

com as realidades locais.

Sugerimos, pois, que os desafios encontram-se divididos em duas macroáreas. A

primeira é a político-administrativa, que diz respeito tanto às estruturas legais e de políticas

públicas, quanto às filosofias educacionais e processos de gestão de cada escola, que norteiam

a prática educativa. A segunda macroárea é a de ensino-aprendizagem, que se refere aos

processos de promoção do conhecimento, sob a responsabilidade de todos os diretores e

educadores.

Na macroárea político-administrativa, o primeiro desafio é se adequar à legislação

brasileira15, a qual já apresenta ampla consonância com os valores e com as novas formas da

Geração Z se relacionar com o conhecimento, principalmente através da interdisciplinaridade,

da inserção de tecnologias e da consideração do educando como sujeito produtor de

conhecimento. O segundo é repensar as estruturas de avaliação. Neste ponto, o maior enclave

resultante das políticas públicas é a preparação para o Vestibular, que perde força com a

progressiva aceitação do Enem pelas universidades brasileiras, mas que segue

impossibilitando inovações nas escolas pela necessidade de “passar” conteúdos para serem 15 Este trabalho não se propôs a publicar uma análise sobre a evolução das leis brasileiras em respeito à educação. No entanto, recomenda-se

a seguinte leitura, que evidencia os valores propostos: Abramovay, M. & Castro, M. (2003). Ensino médio: múltiplas vozes. Brasília:

UNESCO/MEC. Recuperado 22 março 2014 em: http://unesdoc.unesco.org.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

“memorizados”. Deste modo, ressaltamos a importância de se repensar as estruturas de

avaliação, de forma que conceba o educando não apenas como repositório de conhecimento,

mas como propõe Lévy (1999), como “recurso de aprendizagem”. Ao mudar o foco da

avaliação da transmissão para comunicação, surge a necessidade de pensar em políticas que

reconheçam a diversidade dos educandos e, que se aproximem ao máximo, de uma avaliação

personalizada, tendo em vista a crescente velocidade de renovação dos saber e do saber-fazer

(LÉVY, 1999). Avaliar a diversidade é muito difícil ao utilizar apenas uma ferramenta de

avaliação.

Além de seguir a legislação e repensar as estruturas de avaliação, é importante incluir

o diálogo nos documentos norteadores da escola. A perspectiva adotada por esse trabalho é a

de posicionar a dialogicidade no campo da relação, baseada no princípio Eu-Tu de Buber

(2001), sem pré-determinar qualquer finalidade, mas construindo um ecossistema

comunicativo que entende a complexa interação entre atores humanos e técnicos, no qual

através da descentralização da produção de saberes promove a diversificação do

conhecimento. Essa perspectiva não finaliza, mas minimiza a emancipação do sujeito

centrado, da autossuperação, da conscientização para a “pronúncia do seu mundo” (FREIRE,

1987) e da maneira na qual o CIB diz em sua Proposta Educativa que na Cultura “os alunos

são incentivados a buscar [...] seus próprios espaços de realização pessoal e auto-superação

(sic), [...]”. Como vimos a partir de Hall (2000), a fragmentação do sujeito é uma das

características mais marcantes da crise da modernidade. Se por ora o domínio do saber foi

considerado exclusivo ao professor, tampouco se pode deixar levar para uma pedagogia que

centralize em demasia a produção do saber no sujeito-educando. A dialogicidade proposta

aqui contextualiza a produção do saber em um difuso ecossistema comunicativo.

Por fim, é necessário formar profissionais educadores. Neste caso, o CIB é referência

com a UniCCIB que oferece educação continuada para os profissionais e é, segundo Adriana

B. Gandin, o berço da maior parte de projetos inovadores. É preciso incentivar que tanto

educadores, como comunicadores especializem-se na Educomunicação para promover

mudanças em suas escolas.

Partimos para a macroárea de ensino-aprendizagem. O principal destempo é o embate

comunicacional entre uma escola que se mantém vinculada a um currículo proposto na

Modernidade e um corpo discente que é considerado a geração dos nativos digitais e que se

situa justamente além da crise da Modernidade. A perspectiva que se assume aqui é a de

estimular a curiosidade e a participação dos educandos através daquilo que valorizam, para

que se sintam estimulados tanto aos processos de ensino-aprendizagem quanto ao ambiente

escolar.

Neste sentido, o primeiro desafio dos processos de ensino-aprendizagem é o de

promover a transdisciplinaridade. Foi visto na bibliografia e no caso do CIB que as propostas

transdisciplinares, através de projetos, como as oficinas da Cidade-Laboratório, são aquelas

que mais atraem o interesse dos educandos. Soares (2012) afirma que o avanço do Ensino

Integral é uma grande possibilidade para as escolas começarem, aos poucos, a transição de

uma educação principalmente disciplinar, para uma educação principalmente transdisciplinar.

O segundo desafio é que o professor seja mais orientador, ao invés do transmissor. Os

alunos são diferentes e querem ser tratados dessa forma. Junto a essa lógica, surge o terceiro

desafio que é o da diversificação e personalização, para que os alunos se sintam

constantemente desafiados, de acordo com suas velocidades e interesses, seja em grupo ou em

particular.

O quarto desafio é utilizar as tecnologias de forma estratégica. Ou seja, não utilizá-las

apenas como ferramenta, mas a serviço de uma pedagogia que, de fato, dialogue com essa

geração. Por fim, o quinto desafio é aplicar o que Soares (2012) chama de “tratamento

educomunicativo” para que “[...] mesmo ambientes fechados e rígidos possam ser

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beneficiados pela brisa educomunicativa” (Soares, 2012, p.75). Ao ler as provocações

fundamentadas na teoria, reconhece-se uma iminente urgência em inovar nas práticas de

ensino-aprendizagem. No entanto, não deve haver a pretensão de apagar o que é feito. As

mudanças podem ser incorporadas aos poucos, de modo que a instituição siga valorizando

seus profissionais e que as próprias mudanças inspirem inovações.

Relembremos os desafios propostos à generalização para solucionar os destempos da

educação. Primeiro, na macroárea político-administrativa: discutir e seguir a legislação

brasileira; reestruturar as formas de avaliação e de acesso ao Ensino Superior; incluir o

diálogo na filosofia educacional e, por fim, formar continuamente os profissionais. Já na

macroárea do ensino-aprendizagem: promover a transdisciplinaridade; tornar o professor mais

orientador; investir na diversificação e personalização; utilizar as tecnologias de forma

estratégica; dar tratamento educomunicativo a todas as práticas.

Considerações Finais

A investigação acerca da inter-relação entre Comunicação e Educação no ensino

médio contemporâneo permitiu reflexões e ponderações acerca do paradigma escolar vigente.

Viu-se que a Comunicação passa a ter um papel importante na gestão da instituição escolar e

de processos de ensino-aprendizagem, a partir do momento no qual a filosofia e os

profissionais da Educação consideram a escola como um espaço de diálogo, em um contexto

de múltiplas mediações. Mas, de fato, a complexidade que a Educação enfrenta é enorme e

não cabe à Comunicação ou à Educomunicação tomar para si o problema em sua amplitude.

O que pretende a Educomunicação é fazer parte da gestão e planejamento de ambientes

educativos, sejam escolares ou não.

A contribuição de analisar um ambiente educativo sob a matriz do ecossistema

comunicativo, resultado de vinte anos de pesquisa e projetos de inclusão social, é de extrema

relevância para que as escolas despertem o interesse dos educandos frente à escola. A

Educomunicação trabalha com propriedade no campo da dialogicidade e por isso tem o

desafio de apontar caminhos a serem seguidos.

O intuito das provocações aqui apresentadas é justamente de problematizar a realidade

escolar, para que um debate acerca das propostas de ensino-aprendizagem aprimore

constantemente aquilo que está em curso. O caminho que vislumbramos é o da escola que

planeja os momentos de comunicação entre educandos-educandos, educandos-educadores e

educadores-educadores. Como esse diálogo vai acontecer? Há espaço para incluir a todos no

processo de ensino-aprendizagem?

Tais questionamentos devem sempre nortear a escola que investe em estratégias de

comunicação para promover o diálogo com os alunos da Geração Z - imersos na Cibercultura

e multiconectados. A Educomunicação, de fato, contribui para melhorar o ambiente educativo

e para potencializar os processos de ensino-aprendizagem.

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53

ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Professor x tecnologia: uso da ferramenta Blendspace em

sala de aula

Miguel A. de Oliveira Júnior

Mestre em Linguística Aplicada pela UNITAU-Taubaté/SP. Professor das Faculdades Integradas Teresa

D´Ávila-Lorena/SP, Associação Educacional Dom Bosco-Resende/RJ e Escola Superior de Cruzeiro-SP

Miriam L. Dias Macedo Rodrigues Alves

Graduada em Jornalismo pela UNITAU-SP. Especialista em Educomunicação pelas Faculdades Integradas

Teresa D’Ávila

Luara Aparecida Russo de Castilho

Graduada em Jornalismo pelas Faculdades Integradas Teresa D’Ávila. Especialista em Educomunicação pelas

Faculdades Integradas Teresa D’Ávila

Resumo

Como tornar as aulas mais dinâmicas, atrativas e informativas? Esta deve ser a indagação principal da grande

maioria dos docentes no Brasil. A educação passa por constantes mudanças e o aluno do século XXI que está

cercado por novas tecnologias exige que as mesmas também ultrapassem o muro escolar. Para isto o professor

deve buscar mecanismo ou ferramentas que deixem as aulas mais atrativas e dinâmicas. Uma pesquisa recente,

divulgada pelo portal Aprendiz, do UOL, aponta que a web pode ser utilizada para criar uma interatividade

entre alunos e professores, por meio da conexão de mídias. Para isto, ao propomos o uso da ferramenta

Blendspace, em sala de aula, para que aconteça uma interação maior entre aluno/professor. Este recurso

possibilita que a aula se torne mais interessante agregando informações atualizadas ao assunto tratado em

qualquer disciplina do meio escolar. O Blendspace pode servir como um facilitador seja: com o acesso à

internet, por meio das ferramentas Google; trazer novas informações ao conteúdo; dinamizar a forma que o

material é passado ao aluno com apresentação de vídeos, fotos, notícias e músicas e aproximar o educador do

educando tendo em vista os mecanismos disponibilizados pelo Blendspace. Sabemos que neste universo

tecnológico várias ferramentas são oferecidas para auxílio na educação, optamos em apresentar o Blendspace

por considerá-lo completo: rápido, fácil e educativo.

Palavras-chave

Tecnologia; Professor; Educação; Blendspace.

Abstract

How to make classes more dynamic, attractive and informative? This should be the main question of the vast

majority of teachers in Brazil. Education goes through constant changes and the student of the twenty-first

century that is surrounded by new technologies requires them also beyond the school wall. The reason the

teacher should seek mechanism or tools that let the most attractive and dynamic lessons. Recent research

published by the portal Apprentice, the UOL, points out that the web can be used to create a interactivity

between students and teachers, through the media connection. For this, we propose the use of Blendspace tool in

the classroom, so that happens more interaction between student/teacher. This feature allows a class to become

more interesting adding updated information to the subject matter in any school subject. The Blendspace can

serve as a facilitator is: with Internet access, through the Google tools; bring new information to the content;

streamline the way the material is passed to the student with the presentation of videos, photos, news and music

and approach the teacher of the student in view of the mechanisms provided by Blendspace. We know that in this

technological universe where various tools are provided to aid in education, we chose to present the Blendspace

by considers it complete: fast, easy and educational.

Keywords

Technology, Teacher, Education, Blendspace.

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1 Introdução

A necessidade do homem em se manter conectado com o novo vem desde os

primórdios. Já no século XV a humanidade iniciou o processo de mutação com seu meio,

devido a interconexão globalizada, bem como as revoluções na história política, econômica e

das comunicações, e iniciava-se o fenômeno das transformações.

Foi no fim da idade média em que os seres humanos conheceram a Revolução

Industrial, obrigando as pessoas a se adaptarem com o novo, apresentado na metade do século

XX.

O filósofo Pierre Lévy (2010) relaciona o desenvolvimento da comunicação paralelo

aos transportes, por exemplo, o transporte físico pela transmissão de mensagens; o telégrafo e

o avanço das ferrovias; o automóvel e o telefone; bem como o rádio, a televisão, os satélites,

os computadores e os ciberespaços.

Apesar dos avanços históricos, ainda nem todos os usufruem na atualidade, sendo

assim, a educação deve levar às escolas da rede municipal, estadual ou particular os meios de

comunicação e mídias utilizando-as como mecanismos para aproximar os alunos.

Nos últimos anos o ensino no Brasil se mostrou estagnado à nova realidade, o que quer

dizer pouco desenvolvimento enquanto, assim como no período da Idade Média, o homem

deixava sua zona de conforto para acompanhar os recomeços da Revolução Industrial.

Jacques Delors (2012) lamenta o insucesso escolar praticado no país e o classifica

como “irreversível”, dando origem à marginalização e a exclusão social. O universo escolar

tem se tornado desgastante às novas gerações. Na era digital, é preciso que os alunos em

questão sejam motivados ao ensino, ao conteúdo e as disciplinas impostas pela grade

curricular.

Para dinamizar esta realidade, novos recursos podem ser utilizados pelos professores,

tais como o Blendspace, um programa de fácil acesso, gratuito e que basta um computador

conectado à internet.

A ferramenta pode garantir o sucesso de uma aula ao permitir interação, mostra de

conteúdos externos (vídeos, fotos, pesquisas, notícias e conteúdo da rede), além de convidar o

aluno a ser participativo diante da disciplina. O objetivo é aproximar o educador do educando

com atividades mais interativas, criativas e interessantes.

2 Referencial Teórico

O ensino básico no Brasil é dividido em quatro etapas escolares, são elas educação

infantil, fundamental I, fundamental II e ensino médio. Sendo cada uma delas sob

responsabilidade de uma gestão, mas todas dependentes dos repasses do Governo Federal, por

meio do MEC – Ministério da Educação e da Cultura.

Sabemos todos que a distribuição de renda e da riqueza no país determina o

acesso e a permanência dos estudantes na escola. Considerar este contexto

socioeconômico descritiva e analiticamente, vê-lo como suscetível de

superação por meio de políticas sociais redistributivas e considerar a

situação da educação escolar enquanto tal são princípios metodológicos

indispensáveis para uma análise adequada das políticas educacionais.

Afirmar a determinação socioeconômica sobre a educação não é negar as

determinações (CURY, 2014)

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Recentemente, diversos programas de incentivos para a educação básica foram

lançados, como a alfabetização na idade certa, olimpíadas nacional de conhecimento da língua

portuguesa, de matemática e ciências; no entanto nenhum deles tem se refletido com muito

afinco nas escolas do país.

A falta de interesse dos alunos e de adequações na metodologia da educação brasileira

agravam este quadro. O governo federal tem se desempenhado como forma de avaliar o

conteúdo ministrado aos estudantes (Saeb – Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Básica), por exemplo, mas os números ainda não são satisfatórios.

Para a diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o PNE

(Plano Nacional de Educação) só terá um resultado efetivo na educação brasileira se for

cumprido no prazo de 10 anos.

É necessário alfabetizar todas as crianças no máximo até o final do

terceiro ano do ensino fundamental. Além disso, a implantação de escola

integral deve ser ampliada, dos atuais 34,7% para 50% as matrículas nesse

regime. Não existe qualidade no ensino sem professores de qualidade, é

preciso valorizá-los. Para isso, não tem jeito, tem que pagar melhor. Isso

exige muito recurso, mas é o dinheiro mais bem gasto. (CRUZ,

Exame.com.19.08.2014)

O Brasil é o 8º país com maior número de adultos analfabetos do mundo. São mais de

14 milhões. Países como Índia, China, Paquistão, Blangadesh, Nigéria, Etiópia e Egito

lideram o ranking, divulgado no início do ano em reportagem da revista Veja (editora Abril,

de 12 de fevereiro de 2014). Os dados são da Unesco (Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura). Entre os latino-americanos, 38% dos que não sabem ler e

escrever, são brasileiros.

Apesar de preocupante, o índice aponta ligeira queda na comparação com o ano

anterior. Dividido por regiões, 9,5% da população do Norte são analfabetos, enquanto no

Nordeste o valor chega a 16,6%, os mais altos do país. Na região centro-oeste são 6,5%,

sudeste 4,7% e no Sul 4,2% dos habitantes.

As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não

necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não

necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para

envolver-se com as práticas sociais de escrita: não leem livros, jornais,

revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não

sabem preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um

simples telegrama, uma carta, não conseguem encontrar informações num

catálogo telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula

de remédio. (SOARES, 1998)

A taxa de escolarização pode justificar este cenário. No ano passado, três milhões e

meio de pessoas, entre quatro e 17 anos não frequentaram a escola.

Dados do Censo da Educação Superior divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas (Inep) mostram que o crescimento do número de matrículas no ensino superior foi

inferior em relação ao censo anterior. No ano passado, no entanto, mais de 7,3 milhões de

pessoas ingressaram em universidades, o que corresponde a um aumento de 3,8% na

comparação com 2012.

O panorama aponta também que diminuiu o número de formandos, a primeira queda

desde 2003. A proporção de alunos que terminam a faculdade em relação aos que entram é

de 36% e o índice tem retraído nos últimos cinco anos, resultado da criação de programas de

incentivo à graduação, como o PROUNI (Programa Universidade para Todos), o FIES (Fundo

de Financiamento Estudantil) e a própria remodelação do ENEM (Exame Nacional do Ensino

Médio) que já é aceito como um passaporte para o ingresso a uma universidade.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

A evasão no ensino superior pode ser um reflexo da má qualidade dos cursos

oferecidos, pelas muitas faculdades espalhadas em todo o país. Para medir o desempenho

curricular dos cursos oferecidos o Governo cria sistemas de avaliação como o Sinaes (Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Superior) e o Enade (Exame Nacional de Desempenho de

Estudantes).

Os referidos programas apresentados são algumas das tentativas do MEC de

reestruturar o ensino oferecido para formação de profissionais, o que demonstra uma

preocupação com a forma estagnada da atual educação para com a realidade, a começar pelos

avanços das gerações e seus mecanismos.

Para dinamizar esta realidade, novos recursos podem ser utilizados pelos professores,

tais como as ferramentas de web.

De acordo com reportagem “Número de usuários de internet aumenta 11% em um ano

no país”, o número de internautas tem saltado significativamente de um ano para o outro.

O número de usuários ativos de Internet em domicílios continua a crescer no

Brasil, segundo o Ibope Nielsen Online. Do total de 67,8 milhões de pessoas

com acesso em casa, 42,1 milhões foram usuários ativos em setembro. Em

relação ao mês anterior, o crescimento foi de 1,4%; e de 11% sobre os 37,9

milhões de setembro de 2011. Usuário ativo é a pessoa com dois anos ou

mais de idade que usou pelo menos uma vez em setembro o computador com

Internet (SOUZA; GADELHA, 2014)

Os dados ganham ainda mais força ao considerar o público jovem (de 15 a 24 anos)

com acesso a internet já ultrapassa a casa dos 20 milhões, sendo que 80% deles mantêm perfil

em redes sociais, de acordo com Claudia Tozetto, do portal IG São Paulo, de outubro de 2013.

Uma pesquisa recente, divulgada pelo portal Aprendiz, do UOL, afirma que a web

pode ser utilizada para criar uma interatividade entre alunos e professores, inclusive em sala

de aula, mantendo-se conectados às mídias.

Para a diretora presidente da Fundação Telefônica Vivo, Gabriella Bighetti, o uso da

Internet para o aprendizado é uma realidade. “A pesquisa mostra que os jovens têm mais

facilidade para realizar trabalhos escolares e atividades propostas em sala de aula”. Essa tese é

reconhecida pelos próprios alunos. Para 70% dos jovens, o bom professor entende de internet

e tecnologia, segundo pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Pesquisas e

Estatísticas) e pelo Instituto Paulo Montenegro. “Somente 2% dos professores usam a internet

em sala de aula”, Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). (KIDDO, 2014)

Mas a promessa era de mudança com a chegada da Web 2.0, nome dado à segunda

geração de serviços que são ofertados pela internet graças ao avanço da tecnologia. Criada em

2004 pela empresa americana O’Reilly Media, essa tendência fortaleceu o uso de aplicativos,

o que fez aumentar a quantidade de informações que constam na rede.

Estamos falando de dinamismo e por isso, já que os adeptos têm aumentado em instantes, a

importância de levá-los (mecanismos) para sala de aula. Porém quem se animou com a Web

2.0, ainda precisa se inteirar da Web 3.0. Nada mais é do que a terceira geração dos adeptos à

internet, mas com a evolução mais personalizada do seu público.

No entanto, é indispensável à preparação dos educadores para que o uso das

ferramentas da web seja dosado corretamente, para que o educando não perca o censo crítico

e o prazer de trabalhar ativamente os projetos e disciplinas práticas.

3 Metodologia

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3.1. Uso das ferramentas e o professor

Para comprovar o que proposto incialmente, quanto ao uso da web em sala de aula,

optamos em realizada de forma ilustrativa uma pesquisa exploratória de cunho bibliográfico,

no qual foi elaborado um questionário, com três perguntas fechadas e uma aberta, para os

professores do curso de pós-graduação em Educomunicação da FATEA (Faculdades

Integradas Teresa D’Ávila), Lorena, São Paulo. Optou-se em deixar uma questão de forma

aberta para que os professores pudessem passar suas experiências em sala de aula com o uso

de novas ferramentas. Diante disso avaliamos que de uma maneira geral que o uso da web em

sala de aula é observado por todos como uma forma de criar uma interação e participação

efetiva dos alunos. O questionário foi encaminhado, via e-mail, para os sete professores do

curso, no qual apenas dois não responderam. Os professores entrevistados estão nomeados por

números.

3.2 O Blendspace

3.2.1 Página inicial

Barra de menu: Tips (dicas) – Criação de apresentações de Pesquisa Colaborativa;

Contar histórias digitais e criação aos estudantes; Lançando e “misturando” em sala de aula.

Oferece sugestões e suporte para apresentações criativas.

Gallery (galeria) – Publicação de imagens e exemplos de atividades elaboradas por

meio da ferramenta.

Blog – Espaço de publicações sobre a utilização e formato de aulas, relacionando às

realidades do mundo web e seus mecanismos para com a sociedade.

Login (conectar) – Página para que o usuário se cadastre ou acesse sua conta no

Blendspace. Pode ser via e-mail vou vinculado ao Google e ao Facebook.

Sign up (inscreva-se) – Cadastro de novos usuários. Na página, pede para identificar se

você é estudante ou professor.

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Uma vez conectado, o usuário é direcionado para a seguinte página.

Barra de menu: Lessons (aulas) – permite visualizar todos os trabalhos que já foram

criados na conta; classes (classes) – usuário pode organizar, por exemplo, para qual sala ele

está programando a atividade desenvolvida no Blendspace; gallery (galeria) – a mesma da

primeira página.

New lesson (Nova lição) – Link que direciona para o mural de ferramentas do

Blendspace.

Join Class (juntar classe) – grupos.

3.2.2 Criando aula

Page 60: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Standards (padrões) – Encaixar tags padrão no mural.

Templates (modelos) – Forma dos slides no mural; estrutura que pode sofrer

modificações, inclusive na sequência didática.

Themes (temas) – Para personalizar o mural.

Play (iniciar) – Iniciar a apresentação do mural criado pelo usuário.

Print (imprimir) – Imprimir o conteúdo.

Autosave (gravada automaticamente) – Enquanto a lição é criada, cada alteração é

salva automaticamente.

Share (compartilhado) – Comando em que fornece o link para compartilhamento nas

nuvens do conteúdo ou no perfil do usuário nas redes sociais.

No link ao lado, representado por bonecos e o sinal de “+”, o usuário pode adicionar

outras pessoas habilitadas para fazer alterações no mural didático.

À direita segue o espaço destinado para pesquisa de conteúdo digital por meio de

ferramentas Google: You Tube, Google, Flickr, Educreations (Criações educativas), Gooru,

Redes parceiras (educreations, prezi, Khan), Upload (seleciona arquivos da máquina para

adicioná-lo ao mural), Dropbox, GDrive, configurações (comentários e gráficos sobre as

visualizações que o mural teve na rede).

4 Resultados e discussão

Questão um - Você acredita no potencial transformador do uso da tecnologia e novas

mídias em sala de aula?

Ficou comprovado pela analise deste gráfico que 100% dos professores entrevistados

acreditam que o uso da web tem o poder transformador em sala de aula.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Questão dois - Qual ferramenta você utiliza?

Nesta questão foram oferecidas ferramentas de web e uso tradicional em sala de aula

para avaliar a opção do professor. Isto comprova uma mescla entre o uso de ferramentas

tecnológicas como internet e o data show que despontaram como opções mais utilizadas em

50% dos casos. Porém ainda o recurso TV é a primeira opção para 70% dos entrevistados.

Questão três - Quando utiliza essas ferramentas, você observa:

É perceptível que nesta questão em que se discute os resultados quanto o professor

utiliza as ferramentas de web em sala de aula, que 50% dos entrevistados observam que a aula

ganha dinamismo e para 38% há assim uma maior interação.

Questão Quatro - “Qual retorno concreto ao introduzir essas ferramentas em aula?”,

Professor 1 – “Facilidade de compreensão e interação com os alunos”;

Professor 2 – “O aluno ao invés de copiar, ele presta a atenção”;

Professor 3 – “Percebe-se que com essa inserção em utilizar os meios de comunicação

no dia a dia em sala de aula proporciona o enriquecimento do conteúdo. A atividade passa a

ser significativa e com a efetiva participação na realização dos exercícios propostos, que são

próximos da realidade dos alunos (não tornando-os como algo obrigatório, "chato",

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61

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"maçante"; e sim como algo prazeroso, instigante, fazendo a busca por mais e mais

informações), torna-os autônomos e conscientes”;

Professor 4 – “O conteúdo se torna mais claro e objetivo, por mostrar vários exemplos,

simulações, etc”;

Professor 5 – “Poder oferecer uma quantidade maior de material de referência aos

alunos em diversos suportes (vídeo, áudio e texto) que podem ser acessado de modo rápido,

pessoal e sem acumular material físico, além de poder relacioná-los com outras fontes de

pesquisa (links) e permitir um aprofundamento acadêmico e prático com mais autonomia por

parte dos alunos”.

Com esta questão aberta é possível afirmar que o dinamismo e interatividade são

pontos destacados pelos professores, quando questionados sobre o retorno dos alunos ao

utilizarem de novas tecnologias em sala de aula. A possibilidade de ampliar os conteúdos

pesquisados criando vários pontos de vistas, a partir de um tema central foi citada pelos

entrevistados.

Esta pesquisa reforça o que já foi proposto. O uso da web como ferramenta em sala de

aula no ensino superior é de potencial importância. Visto isto na primeira questão quando

100% dos professores entrevistados apontam no potencial transformador que o uso da

tecnologia e novas mídias oferecem em sala de aula.

O uso da internet é o comum entre os entrevistados, no qual 50% utiliza de alguma

maneira, a rede para aprimorar o estudo e dinamizar as aulas.

Por fim, ficou claro que o uso das tecnologias dinamizam as aulas e aproximam o

aluno do professor. A nova era digital obriga que os docentes estejam antenados com as novas

ferramentas, já que os alunos em sua grande maioria respiraram este novo ar tecnológico. Por

isso, podemos concluir efetivamente a pesquisa pela fala do professor 3, na quinta questão,

que apontou a inserção dos meios tecnológicos no dia a dia em sala de aula como um

mecanismo de enriquecimento do conteúdo, no qual deixa a atividade mais significativa,

participativa e mais próxima da realidade dos alunos.

5 Considerações Finais

Após as pesquisas bibliográficas e analise da pesquisa realizada, podemos concluir que

o uso das ferramentas da web em sala de aula e inseri-las na educação pode ser um estímulo

para atrair o aluno à sala de aula.

O uso das novas tecnologias é indispensável para deixar o dia a dia escolar mais

dinâmico, atrativo e interativo. Chamar a atenção do aluno se tornou um desafio a ser vencido

pelos educandos. No entanto, é preciso dedicação e investimentos para efetivo resultado, tanto

às escolas, universidades e instituições de ensino – ao trabalharem com laboratórios e

equipamentos tecnológicos - como aos professores – que ainda engatinham quanto à

capacitação profissional.

O uso da internet já está inserido no contexto social do aluno.

As pesquisas apontam que o currículo escolar necessita de atualizações, tendo em

vista, que o uso de data show, por exemplo, é visto pela maioria como um avanço tecnológico.

Ao longo do levantamento verificamos a praticidade do Blendspace, por isso, a sua sugestão.

Levando em consideração que para haver comunicação é preciso entendimento, o

recurso proposto é um canal para que a mensagem (conteúdo interdisciplinar) chegue até o

receptor (aluno), para tanto o emissor (professor) deve utilizá-la de maneira correta. O

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62

ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

objetivo é ensinar por meio de um produto (mídia) de forma criativa e motivadora.

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Page 64: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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A extensão universitária em uma instituição de ensino

superior do Vale do Paraíba: estudo de caso

Rachel Duarte Abdala

Doutora e mestre em História da Educação pela Universidade de São Paulo (USP), onde se graduou e licenciou

em História. É professora de Teoria da História e Didática Específica de História no Curso de História da

Universidade de Taubaté, do qual é coordenadora pedagógica. Líder do Núcleo de Pesquisa em História da

Universidade de Taubaté e integra como pesquisadora o Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em

História da Educação-NIEPHE, da Universidade de São Paulo. Atua na formação inicial de professores de

História e em Projetos de Extensão Universitária, na própria UNITAU e no Projeto Rondon, do Ministério da

Defesa. Atualmente, coordena o subprojeto de História do PIBID-Programa Institucional de Incentivo à

Docência na Universidade de Taubaté, promovido pela CAPES. Faz parte do corpo docente permanente do

Programa de Mestrado Strictu Sensu em Desenvolvimento Humano e Educação da Universidade de Taubaté

Rosana do Carmo Montemor

Graduada em Relações Públicas - UNITAU (1993), Pós Graduada em Gerenciamento Administrativo -

Fundação Álvares Penteado- FAAP (2000), MBA em Gestão Avançada de Recursos Humanos pelas Faculdades

Integradas Teresa D'Ávila (2012), Mestranda em Desenvolvimento Humano-Universidade de Taubaté-UNITAU

(2014). Coordenadora do Núcleo de Extensão - Relações Universitária - FATEA - desde 2006, Conselheira

Municipal do Fundo Social de Solidariedade do Município de Lorena, Conselheira do COMTUR- Conselho de

Turismo de Lorena, Docente das Faculdades Integradas Teresa DÁvila nos Cursos de Rádio Tv e Internet,

Biblioteconomia e FATI- Faculdade Terceira idade. Diretora Social do Grupo de Recursos Humanos de Lorena

e Vale Histórico.

Resumo

Nesta pesquisa, o objetivo foi analisar a Extensão Universitária em relação à relevância dessa dimensão

acadêmica em uma instituição de ensino superior no Vale do Paraíba na perspectiva do estudo de caso.

Metodologicamente, optou-se pela pesquisa qualitativa, com caráter exploratório, utilizando como instrumento

a técnica do grupo focal. Selecionando-se oito sujeitos, estudantes de graduação, representando cada uma das

áreas temáticas definidas pelo Plano Nacional de Extensão Universitária: Comunicação, Cultura, Direitos

Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde, Tecnologia e Produção e Trabalho. Como resultados foi

possível verificar que, de modo geral, a instituição estudada oferece condições para a realização de atividades

de extensão universitária e que os estudantes envolvidos com essas atividades percebem a sua função na sua

formação acadêmica. Verificou-se também que a instituição valoriza e realiza a indissociabilidade entre a

extensão, o ensino e a pesquisa, preconizada pela Constituição Federal.

Palavras-chave

Extensão universitária; Instituição universitária; Indissociabilidade.

Abstract

In this research, the aim was to analyze the University Extension in relation to the relevance of academic

dimension in a higher education institution in the Paraíba Valley in view of the case study. Methodologically

opted for the qualitative research, with exploratory using as a tool the technique of focal group. Selecting eight

subjects, graduate students, representing each of the thematic areas defined by the National Plan of University

Extension: Communication, Culture, Human Rights and Justice, Education, Environment, Health, Technology

and Production and Labour. As a result it found that, in general, the studied institution offers conditions for

holding university extension activities and that students involved in such activities realize their role in their

education. It was also found that the institution values and realizes the inseparability of the extension, teaching

and research, advocated by the Federal Constitution.

Keywords

University Extension; University; inseparability.

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Introdução

Ao buscar estudos sobre a função da Extensão, encontram-se vários questionamentos

em textos produzidos e divulgados sobre o assunto, principalmente no que se refere à

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, preconizada na Constituição, e ao fato de

a extensão ser considerada atividade de menor valor acadêmico.

Araújo (2011) aponta como problema o fato de a Extensão Universitária ser muitas

vezes objeto de controvérsias e de conflitos, devido à dificuldade de compreensão do que

sobre ela está disposto em lei. A autora enfatiza a importância da Extensão Universitária a

partir do princípio de sua indissociabilidade, e defende a percepção de que no ensino também

se realiza o desenvolvimento do espírito crítico e criativo dos estudantes.

Nogueira (2013) afirma que se faz necessário reconhecer o impacto da extensão como

componente formativo, considerando-a articuladora do ensino e da pesquisa, trazendo

contribuições, mudanças, novos olhares e até mesmo críticas e novos aprendizados.

A proposta desta pesquisa foi investigar como a extensão vem sendo realizada em

instituições universitárias, a partir do estudo de caso de uma instituição particular da região

metropolitana do Vale do Paraíba/SP. Um estudo sobre essa temática favorece a reflexão de

mecanismos para desenvolver novas e mais atividades de extensão, e para subsidiar, por meio

do estudo, reformulações que fundamentariam seu reconhecimento como parte constitutiva da

formação acadêmica.

Discussões teóricas sobre a extensão universitária

Como apresenta Frantz (2002), a preocupação com as mudanças de referenciais dos

alunos a partir da experiência acadêmica e, sobretudo, a partir da interação com as atividades

de extensão das Universidades, não fomentaram pesquisas sobre como tais atividades

interfeririam no desenvolvimento humano – cognitivo, cultural, operacional e funcional – dos

graduandos. Nas palavras do autor:

Há poucos estudos sobre experiências concretas capazes de nos levar a

entender, de forma mais ampla, o papel que a extensão vem assumindo para

ajudar a universidade a cumprir seus fins sociais, ou mesmo as suas

diretrizes Interdisciplinares (FRANTZ, 2002, p. 43).

Sugahara (2012) avaliza a extensão universitária como uma forma de conceber a

educação, além dos muros da universidade, como um caminho de descobertas, uma abertura a

novas dimensões do conhecimento humano, admitindo que as Instituições de Ensino Superior

ao gerirem a extensão assumem-na como uma forma de abordagem das questões sociais que

se efetiva com a difusão de conhecimentos, propondo a preparação de atividades de

intervenção em cooperativas a partir de oficinas socioeducativas de cunho interativo

estimulando o desenvolvimento de habilidades para lidar com desafios típicos da autogestão

como conflitos, divisão das tarefas e autonomia.

Fernandes et al. (2012) investigou, por meio de pesquisa de natureza descritiva com

abordagem qualitativa, a relação atual existente entre uma universidade e as comunidades

circunvizinhas, no município de Fortaleza/CE, a partir da visão dos seus moradores, por meio

da qual pode-se perceber que a extensão universitária possui uma função essencial no ensino

superior brasileiro principalmente para a formação de uma integração entre a comunidade e a

universidade, concluindo que uma das estratégias que a universidade utiliza para a formação

de um profissional cidadão é baseada na extensão universitária.

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Follmann (2012) faz um questionamento amplo sobre a defasagem existente entre

academia e sociedade, para, em seguida, estabelecer alguns pontos de reflexão sobre a

importância e pertinência da transdisciplinaridade para ajudar a dirimir esta defasagem,

realçando a importância do papel da extensão universitária.

Rodrigues et al. (2013) apresenta o contato dos acadêmicos com o público em geral,

onde as teorias aprendidas em sala de aula se concretizam, mostrando que a extensão

universitária traz para a sociedade grande contribuições, pois possui papel essencial, tanto na

vida dos acadêmicos, que colocam em prática tudo o que aprenderam em sala de aula, quanto

na vida das pessoas que usufruem deste aprendizado.

Santos (2014) por meio de uma investigação científica, de abordagem qualitativa,

apresenta a extensão universitária como “laboratório” de ensino, pesquisa científica e

aprendizagem profissional, a partir de um estudo de caso realizado com estudantes do curso

de Licenciatura em Pedagogia de uma faculdade particular localizada no município de Ponta

Grossa, Estado do Paraná. Discorre sobre a indissociabilidade do trinômio ensino, pesquisa

científica e extensão na universidade brasileira contemporânea, comentando sobre as

contribuições da extensão universitária para o ensino, a pesquisa científica e a aprendizagem

profissional. A atividade extensionista em questão configurou-se como sendo de extrema

relevância para a formação acadêmica das futuras pedagogas em termos teórico-práticos,

metodológicos, didático-pedagógicos e de ensino-aprendizagem; visando assim a conquista de

uma educação escolar de melhor qualidade e, consequentemente, a construção de uma

sociedade cada vez mais justa, ética, fraterna, equânime e democrática.

A historicidade da extensão universitária no Brasil

Numa conjuntura de política de ditadura, a prática de uma Extensão Universitária

emancipadora passou a ser entendida como ação de risco ao regime militar no Brasil. Assim, a

Lei da Reforma Universitária “[...] é um mecanismo que colocou a educação superior a

serviço do Estado. Mas não se pode negar que foi ela, igualmente, que definiu um perfil da

universidade brasileira e abriu espaços para novas reformulações” (GURGEL, 1986, p. 87). A

partir das considerações do referido autor, como forma de se contrapor e de cooptar os

estudantes para o trabalho assistencial comunitário que se consolidam nos anos posteriores,

cita-se, aqui: o serviço de extensão cultural da Universidade de Pernambuco e da

Universidade Volante do Paraná; o aparecimento do primeiro Centro Rural Universitário e

Ação Comunitária (CRUTAC), projeto de extensão com o desenvolvimento de programas de

ação comunitária; e, o Projeto Rondon, sob a gerência do Ministério do Interior, com o

objetivo de colocar os estudantes a serviços do Estado.

Num processo de construção político-democrático, as Universidades Católicas iniciam

uma reflexão sobre a importância da extensão, por meio de vários encontros de Ação

Comunitária e Extensão, promovidos pela Associação Brasileira de Escolas Superiores

Católicas (ABESC), ampliando as discussões, a fim de aventarem a questão da atuação da

Universidade na sociedade. O primeiro encontro, em 1983, na Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo (PUC/SP), iniciou esta reflexão sobre a identidade das Universidades

Católicas no Brasil e sua relação com a sociedade, em função de debates já acontecidos em

julho de 1982, na Universidade Santa Úrsula (RJ), em função dos resultados de uma grande

pesquisa de avaliação realizada em todas as Universidades Católicas brasileiras e latino-

americanas. O instrumento de interlocução foram os setores que se dedicavam à Ação

Universitária e Extensão, nascendo assim o Fórum Nacional de Extensão (FOREXT), que

atualmente é denominado Fórum de Pró-Reitores de Extensão (FORPROEX), o qual se

tornou um encontro de referência para a discussão sobre o caminho da Extensão nas

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universidades brasileiras, trazendo às instituições sua dimensão como processo educativo,

promovendo a participação da educação superior brasileira, pública, privada ou comunitária.

A extensão foi mencionada no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional – LDB (Lei nº 9.394), especificamente em seu Art. 43, itens VI e VII (in verbis):

Art. 43 [...] VI. Estimular o conhecimento dos problemas do mundo

presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços

especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de

reciprocidade; VII. Promover a Extensão, aberta à participação da

população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da

criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.

Outro aspecto da atual política de educação superior no Brasil que deve ser salientado

é o de que o Ministério da Educação (MEC), como gestor maior dessa política, implantou

uma série de mecanismos de avaliação institucional específicos para as Instituições de Ensino

Superior (IES). No âmbito interno de cada Universidade e no campo específico das atividades

de Extensão, tal fato constitui-se num importante parâmetro de acompanhamento e

desenvolvimento dessas atividades,

Por mais distintas que sejam as experiências e realidades de nossas

universidades, a sobre a importância da extensão universitária foi

historicamente impulsionada por um aspecto comum a todas: o da percepção

de que a universidade caminhava distanciada da realidade social do país. Em

outras palavras, a extensão se construiu e se desenvolveu como atividade

universitária em conexão com o reconhecimento de que ensino e pesquisa

não respondiam aos interesses de tal realidade; ela poderia reduzir esse

distanciamento (FREIRE, 2012, p. 14).

No Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras –

FORPROEX (BRASIL, 2003), para consecução de sua missão fundamental, a de oferecer

respostas às necessidades da sociedade, optou-se por sistematizar o trabalho de extensão das

Instituições de Ensino Superior Públicas de acordo com as seguintes áreas temáticas:

Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde,

Tecnologia e Produção e Trabalho. Cabe observar, aqui, que a instituição pesquisada adotou

este modelo.

Os espaços formativos de aprendizagem são as salas de aula, o laboratório e a

biblioteca. Por meio da extensão esses ambientes podem ser ampliados, considerando-se as

comunidades locais, as organizações sociais ou as regiões culturais como lugares alternativos,

amplificadores do processo educativo não formal de aprendizagem.

Portanto, é pertinente salientar que a extensão desenvolve um modo específico de

aprender, porque proporciona a ampliação do espaço, a otimização do tempo e a significação

do processo, possibilitando o desenvolvimento das competências humanas, pedagógicas e

profissionais.

Para Zanella (2003, p. 70),

[...] a aprendizagem deve ser entendida como um processo mais amplo que a

aquisição de conhecimentos, pois no processo de aprendizagem o estudante

amplia seu volume de conhecimentos. Aprendizagem significa a própria

mudança que via se operando no sujeito através das experiências.

Almeida (2012) salienta que o aprendizado na extensão universitária não se limita à

técnica de determinada área profissional, pois propicia outros conhecimentos diferenciados

que contribuem para o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes extensionistas.

Zanella (2003) observa que a aprendizagem deve ser entendida como processo mais

amplo que a aquisição de conhecimentos, porque vai se constituindo por meio da experiência

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do sujeito. Seguindo esse pensamento sobre a aprendizagem, e que o sujeito desta pesquisa é

o adulto, que se torna o sujeito educacional dentro do processo da extensão que ele vivencia,

faz-se coerente discutir o processo metodológico da andragogia, uma terminologia que estuda

como os adultos aprendem.

Nesta perspectiva, para a proposta de discussão da extensão universitária desenvolvida

nesta pesquisa, a questão a ser observada é a que se refere a aprender experimentalmente, pois

como afirma Bellan (2010), a experimentação é um recurso didático que deve ser

considerado, na contemporaneidade, no processo educacional com foco no conteúdo, e

principalmente na fase adulta.

A partir das atividades de extensão, não apenas se daria o contato com uma realidade,

mas também se faria com que novos sujeitos de diversas áreas de conhecimento – tanto

formal quanto informal – expusessem conhecimentos de modo a compartilhá-los

equitativamente. Ao final, o conjunto integra uma experiência que contempla áreas de

conhecimentos das mais diversas. Além de servir como instrumento desse processo de

movimento entre teoria/prática, a atividade de extensão na universidade é um trabalho

interdisciplinar que favorece a construção, no aluno, de uma visão mais integrada da

sociedade e do exercício de seu papel social (GUARESCHI, 1988; CHAUÍ, 2003).

Para que tal procedimento seja significativo, é oportuno que a relação da academia

com a sociedade, por meio de seus projetos pedagógicos abertos à comunidade, constitua-se

em um tempo e em um espaço favorável ao processo de aprendizagem.

No que se refere às diretrizes sobre a indissociabilidade - ensino, pesquisa e extensão,

apolítica nacional de extensão universitária apresenta o aluno como protagonista de sua

formação técnica, sendo a extensão uma oportunidade de aprendizado para obtenção de

competências necessárias para a sua atuação profissional e sua formação cidadã. Permite-lhe

também reconhecer-se como agente de direitos e garantias de direitos, deveres e

transformação social. Na prática extensionista, emerge um novo conceito de sala de aula, que

não limita o aprendizado ao espaço físico tradicional. Salientada na política como um novo

saber, em que o eixo pedagógico clássico estudante-professor é substituído pelo eixo

estudante-professor e comunidade, é considerada, assim, como uma possibilidade acadêmica

do estudante e do professor (BRASIL, 2003).

Assim, um importante aspecto a ser refletido é o de que as atividades extensionistas

realizadas na Universidade pesquisada devem ser consideradas a partir de sua institualização

normativa, e também como um processo de democratização e socialização do conhecimento.

Consideram-se, pois, as relações sociais como um espaço formativo educativo, indicando as

várias possibilidades que a extensão proporciona e despertando uma nova cultura para a

academia. Síveres (2013) reafirma o caráter que deve compor as ações educativas como

espaço/tempo da vivência e da experiência universitária, o que coloca o conhecimento como

bem público produzido e socializado por/e para todos.

Partindo do pressuposto de que as universidades têm por objetivo zelar pelo

aprendizado e pela construção do conhecimento em um indivíduo consciente de seu papel na

sociedade, são necessárias pesquisas que apresentem de forma mais concreta a contribuição

dessas instituições para o aprimoramento pessoal de seus educandos, pelo menos quanto às

atividades de extensão universitária.

Segundo Alvarez (1996), ao participar de um projeto o aluno está envolvido em uma

experiência em que o processo de construção do conhecimento está integrado às práticas

vivenciadas. Esse aluno deixa de ser, nessa perspectiva, um aprendiz do conteúdo de uma área

de conhecimento qualquer. É um ser humano que está desenvolvendo uma atividade complexa

e que, nesse processo, está se apropriando, ao mesmo tempo, de um determinado objeto de

conhecimento cultural e se formando como sujeito cidadão, corresponsável pelo lugar em que

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atua.

Método

Propôs-se a realização de uma pesquisa de natureza pesquisa qualitativa, com caráter

exploratório. Conforme apontado por Minayo (2008, p. 57),

O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações,

das crenças, das representações, das percepções e das opiniões, produtos das

interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem

seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam. [...] Se conforma melhor a

investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias

sociais sob a ótica dos atores [...] Permite desvelar processos sociais ainda

pouco conhecidos e propicia a construção de novas abordagens, revisão e

criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Caracteriza-

se pela empiria e sistematização progressiva do conhecimento até a

compreensão da lógica interna do grupo estudado.

Para o desenvolvimento desta pesquisa optou-se pela pesquisa qualitativa para se ter

uma percepção da extensão universitária na instituição pesquisada. Isso corresponde a uma

“[...] proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de

depoimentos [...]” (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003, p. 15).

A pesquisa foi feita em uma instituição de ensino superior da região metropolitana do

vale do Paraíba Paulista, que conta atualmente com 2100 estudantes, distribuídos em 12

cursos, dos quais selecionou-se uma amostra, considerando-se a experiência consolidada dos

alunos com a extensão universitária durante dois anos, para a participação no grupo focal,

conforme Gatti (2005), oito estudantes, cada um de uma das áreas temáticas.

No campo das abordagens qualitativa da pesquisa, o grupo focal vem sendo cada vez

mais empregado, conquistando um lócus privilegiado nas mais diversas áreas de estudo.

Esclarece-se que os partícipes devem ter alguma vivência com o tema a ser discutido, de tal

modo que sua participação possa trazer elementos ancorados em suas experiências cotidianas

(GATTI, 2005). Bomfim (2009) corrobora o pensamento de Gatti, afirmando que se

identificam outros propósitos na utilização desse método na pesquisa, como “[...] focalizar a

pesquisa e formular questões mais precisas de investigação; [...] avaliar um serviço ou

programa; desenvolver hipóteses de pesquisa para estudos complementares” (BOMFIM,

2009, p. 781 – grifo nosso).

Os dados coletados foram analisados visando a descrição dos conteúdos de

mensagens, e a obtenção de indicadores que permitam deduzir sobre as condições de

produção e/ou recepção das mensagens.

Extensão Universitária na Instituição pesquisada

A instituição pesquisada é confessional católica, fundamentando-se no Evangelho em

diálogo aberto com as outras religiões, com a ciência e a tecnologia. Tem como filosofia, em

seus pilares Razão, Afeto e Religião, a busca do saber como construção, privilegiando o

protagonismo juvenil e a cidadania. Com base nessa filosofia, faz com que o educando saiba

que é amado e respeitado como ser humano, com suas diferenças e sem discriminação,

promovendo a educação inclusiva. Acredita-se que esse sistema orienta o educando para o

transcendente, como valor e sentido da vida.

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Situada na Região Metropolitana do Vale do Paraíba, foi fundada em 19 de dezembro

de 1954. De acordo com o PDI (Projeto de Desenvolvimento Institucional), constitui-se como

uma instituição sem fins lucrativos que prioriza o atendimento às necessidades sociais da

juventude, especialmente a empobrecida. Tem como princípio a valorização da vivência

extracurricular, inclusive as relacionadas a contribuição para melhoria de seu entorno, pois

entende que a ciência e a tecnologia têm sentido somente se buscarem a felicidade da pessoa

em comunhão com a humanidade. O compromisso declarado em sua filosofia é formar

profissionais, cidadãos e pessoas capazes de compreender, com atitude reflexiva e lucidez, a

dinâmica cultural hodierna, para agir sobre ela e transformá-la, de acordo com os anseios de

sua comunidade.

A instituição oferece curso de graduação em bacharelado e licenciatura. Nas áreas do

conhecimento de Ciências Sociais e Aplicadas: curso de Administração, Arquitetura e

Urbanismo, Design e Biblioteconomia. Na área do conhecimento de Ciências da Saúde: curso

de Farmácia e Enfermagem. Na área de Ciências da Comunicação: Jornalismo, Rádio, Tv e

Internet e Publicidade e Propaganda. Na área de Ciências Biológicas: Biologia. Na área de

conhecimento de Linguística, Letras e Artes: Letras e Pedagogia. Oferece curso de pós-

graduação Lato Sensu e Stricto Sensu. Cursos na área de Administração: MBA em Gestão

Empresarial e Responsabilidade Social; MBA em Finanças, Controladoria e Auditoria. Na

área de Educação, oferece Especialização em Educomunicação, na área de Ciência da

Informação, Especialização em Projetos e Desenvolvimento de Aplicações WEB.

A política extensionista da instituição fundamenta-se na missão institucional, que

orienta o educando ao transcendente, como valor e sentido da vida. O educando deverá

vivenciar, nas ações extensionistas, a realidade comunitária e descobrir a importância de ser

corresponsável pelo espaço social. Ele é estimulado a refletir sobre seu papel como agente da

construção de uma sociedade melhor e mais igualitária, e a desenvolver uma visão da vida e

do mundo que reconheça os valores humanos.

Nessa instituição, os projetos são distribuídos de forma a criar programas e fortalecer

projetos relacionados com as áreas temáticas definidas pelo Plano Nacional de Extensão

(Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio Ambiente, Saúde,

Tecnologia e Produção, Trabalho), especialmente no âmbito da região.

Ao longo da realização da pesquisa, verificou-se que a instituição tem se preocupado

com a realização e com investimentos na extensão universitária desde a instituição legal da

indissociabilidade na Constituição Federal, pois “durante longos períodos da história

brasileira a educação como fator do desenvolvimento foi total ou parcialmente negligenciada”

(FREITAG, 1986, p. 13). Neste sentido, tal como ocorreu com outras áreas voltadas para a

questão social, “no campo educacional passou-se a produzir estudos que privilegiam a

abordagem da educação na sua dimensão de política pública” (AZEVEDO, 1997 p. 1-2). Essa

preocupação é revelada pela institucionalização da extensão com a criação do NEXT-Núcleo

de Extensão, em 1998. Na última década, a instituição tem intensificado suas ações nessa

área, percebendo os limites e os desafios que esse tipo de atividade exige, na perspectiva do

novo papel que a Conferência Mundial de Educação Superior (CMES, 2009) apontou de a

universidade estar comprometida com o desenvolvimento econômico, social e humano das

sociedades, defendendo o princípio de considerar o ensino superior como um bem público e

um direito humano fundamental. Sobre esse dever Fernando Haddad enfatizou:

É claro que nossos países têm um contingente da população que não teriam

acesso à educação se não fosse pela ação estatal. Imaginar que o setor

privado pode agir como o Estado no sentido de expandir matrículas,

inclusive através de empréstimos educativos não vai resolver o problema. O

que vai resolver o problema é a expansão do investimento público na

educação e a garantia do direito de cada cidadão ao ensino público e gratuito

em todos os níveis (CMES, HADDAD, 2009 apud ZAINKO, 2012, p. 4).

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Neste contexto, de acordo com Paulilo e Abdala (2010, p. 133), “A formulação de leis

de diretrizes e bases para a educação e a busca de formas e alternativas para implementar seus

propósitos, expõe um processo recorrente de polêmicas e lutas pelo poder na condução das

políticas públicas de educação”.

Percebe-se que a extensão vem contribuindo com “a relação transformadora entre a

universidade e a sociedade” (BRASIL, 2003, p. 5), diante do que se apurou na pesquisa do

diálogo com a comunidade e com as políticas públicas implementadas no município,

defendendo, como Paulo Freire (2000a) que é preciso acreditar nas utopias, na transformação,

numa sociedade mais justa e igualitária, percebendo na Educação não apenas um lugar de

produção de conhecimento, mas, também de transformação social.

Frigotto e Ciavatta (2003) reafirmam o pensamento de Freire, afirmando que:

A educação é, portanto, ao mesmo tempo determinada e determinante da

construção do desenvolvimento social de uma nação soberana. Além de ser

crucial para uma formação integral humanística e científica de sujeitos

autônomos, críticos, criativos e protagonistas da cidadania ativa, é decisiva,

também, para romper com a condição histórica de subalternidade e de

resistir a uma completa dependência científica, tecnológica e cultural

(FRIGOTTO, CIAVATTA, 2003, p. 103).

Neste contexto, necessita-se visualizar a Educação como um conjunto onde todos

devem se sentir responsáveis e comprometidos no processo de ensino-aprendizagem,

ressaltando-se que o processo educativo, onde quer que aconteça, será sempre permeado a

partir do contexto social e político que determina seus objetivos e meios de ação.

Segundo Bellan (2010) somente a perspectiva de receber um certificado de conclusão

não cativa um adulto, com maior faixa etária, pois este tem plena consciência de suas ações,

do seu modo de aprender.

Identificou-se que a questão de gênero tem estreita relação com a distribuição dos

cursos, pois de acordo com Pennebaker e Bael (1986) as mulheres têm consciência mais

acurada que os homens, elas se baseiam no que ocorre a sua volta. Essa reação natural, que

está vinculada ao cuidar e acolher reforça a tendência de evitar confrontos de ameaças

potenciais. Ao contrário a reação masculina de lutar ou fugir expõe os homens a mais

ameaças, mas lhes dá oportunidade de combatê-las adquirindo mais firmeza. Para Pennebaker

e Graybeal (2001) as mulheres são mais conscientes de seu estado emocional do que os

homens. Nesta perspectiva percebe-se, que as mulheres estão na maioria (55%) distribuídas

pelas áreas temáticas da Educação e da Saúde, ligadas ao cuidar e acolher, e os homens (52%)

distribuídos pelas áreas temáticas de Tecnologia e Produção e Direitos Humanos e Justiça.

Verificou-se, também, que o fato da maior parte dos pesquisados procurarem a

extensão pode estar associado ao conceito de Bordieu (1983, p. 17) no sentido de representar

a vontade dos sujeitos de conhecer a sociedade em que vivem, pois ela “revela coisas ocultas

e às vezes reprimidas”, construindo um estranhamento1 diante dela, como se tudo aquilo que

nela existe e acontece não lhes fosse familiar. Como dizia Freire: "Trata-se de aprender a ler a

realidade (conhecê-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transformá-la)"

(FERRARI, 2004). Tal estranhamento, também pode ser entendido por postura metodológica

que orienta a prática científica no sentido de desenvolver a atitude de se propor a conhecer a

realidade social como observador, que olha de fora, e não de dentro, como se fizesse parte

dela (TOLEDO, 1971; TODOROV, 2013).

1 Estranhamento foi um termo utilizado pelo formalista russo Viktor Chklovski em seu trabalho “A Arte como processo” publicado pela

primeira vez em Poetika (1917). O estranhamento para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de arte literária para nos distanciar (ou

estranhar) em relação ao modo comum como apreendemos o mundo e a própria arte, o que nos permitiria entrar numa dimensão nova, só

visível pelo olhar estético ou artístico (TODOROV, 2013).

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Trata-se, portanto, de olhar para as coisas que ocorrem na sociedade, as quais,

aparentemente, nos parecem naturais e familiares, pois se reproduzem, com elas se convive e

acha-se que as entendemos, pois “Em si próprio haveriam coisas que se fazem visíveis ao se

lhes prestar atenção, ao dirigir a elas o próprio olhar” (LARROSA, 1994, p. 59).

De acordo com Gadotti (2000, p. 6), “a escola é um instrumento que deve ser capaz de

possibilitar a liberdade e a autonomia do educando”. A instituição pesquisada tem primado

por esse caminho, propondo uma pedagogia "fundada na ética, no respeito à dignidade e à

própria autonomia do educando" (FREIRE, 2000b, p. 11), proporcionando, por meio dos

projetos de Extensão, contextos formativos que sejam adequados para que os educandos

possam se fazer autônomos, pois conquistar a própria autonomia alude Freire, que implica em

libertar-se das estruturas opressoras.

Para Bauman e May (2010) vive-se na atualidade um processo de interação com

outros indivíduos e de direcionamentos para a liberdade de escolha, justificando a

participação desses alunos em extensão. Nesse sentido, em Educação, essa liberdade é

limitada a fatores internos ou externos à ação pedagógica, pois se acredita, que quando um

indivíduo consegue transformar-se a partir da relação dialógica teoria-prática, nisso consiste a

autêntica liberdade do encontro entre o ser e o saber.

Então como nos adverte Saramago (2008), “se podes olhar, vê; se podes ver, repara”,

acredita-se que esses índices possam ser maximizados, pois muitos alunos não teriam

reparado o que a extensão pode oferecer para sua práxis. E é neste movimento de se ver e de

se reparar que os alunos identificaram (e se identificaram) o processo formativo vivido na

extensão, pois “São eles interlocutores, parceiros que ao participarem desta investigação

ajudaram na construção de um novo olhar” (YAMAMOTO, 2013, p. 36), “um olhar mais

sistêmico e complexo sobre a realidade observada, sentida e compartilhada” (YAMAMOTO,

2013, p. 267).

“Olhar” a própria experiência com “olhos de ver” traz um compromisso maior a ação

docente com o planejamento da ação pedagógica. Consequentemente, “amplia-se a função

docente e as exigências formativas quando a ação pedagógica extrapola uma perspectiva

reprodutora e transmissiva” (ROCHA, 2010, p. 16).

Nesta perspectiva, recorre-se a Fazenda (2001) que ensina ser o planejamento uma

atividade interdisciplinar, envolvendo a tríade: necessidade, intenção e cooperação de modo,

para que o movimento gerado tenha como finalidade, a construção do saber como exercício da

autonomia pessoal e prática da liberdade dos alunos participantes dos projetos, pois:

Educar e educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que

pouco sabem – por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber

mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem,

para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que

pouco sabem, possam igualmente saber mais (FREIRE, 2012, p. 25).

A instituição vive na atualidade um momento de reorganização em torno de uma

gestão socialmente responsável, para que haja a interação com os problemas sociais,

cumprindo a função das IES que abrange além do ensino e da pesquisa, a extensão, a qual se

incumbe da aproximação com a sua comunidade, construindo uma ponte para conectarem-se

com as questões reais da mesma. Para tanto é preciso à conscientização de todo o corpo

docente quanto à relevância da Responsabilidade Social para os alunos (CALDERÓN, 2006).

De acordo com Bolan e Motta (2007, p. 206) “A prestação de serviços sempre fez

parte da realidade das instituições de ensino superior, até mesmo porque, enquanto atividade

de extensão constitui precioso instrumento de aprendizado”, nesta perspectiva, atuando no

campo da cidadania, o voluntariado dos alunos nos projetos aprofunda o compromisso de

todos com a coletividade, fortalece as políticas públicas, contribui para ampliar as

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perspectivas de vida das comunidades, disseminando uma cultura de paz.

Segundo as definições: "O voluntário é o jovem ou o adulto que, devido a seu interesse

pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte de seu tempo, sem remuneração alguma, a

diversas formas de atividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos"

(ONU, 2006 apud SESC, 2007, p. 7); e a de que voluntário é “ator social e agente de

transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu

tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário,

atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas

próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político,

emocional” (WILHEIM; CORULLÓN, 1996, p. 1), partindo-se das proposições de Armani

(2000), e com base nos dados coletados, pode-se inferir que os projetos, na instituição, são

atividades voluntárias que viabilizam as ações sociais planejadas, estruturadas em objetivos,

resultados e atividades baseadas em uma quantidade de recursos e de tempo dos alunos em

um exercício de cidadania, bem como seu papel na sociedade, despertando o sentimento de

solidariedade ao próximo.

Percebeu-se na fala dos sujeitos que “a experiência da atuação, o contato com a

sociedade”, chama sua atenção, pois “a integração com a comunidade”, por meio das “turmas

de vários cursos unidas em um só propósito” e a própria “integração com as pessoas e a troca

de conhecimento”, lhes proporcionou a possibilidade de “experiência e ajuda” na “troca de

experiência e a oportunidade de poder contribuir com a sociedade” ao incorporarem “a união

da equipe e a boa vontade em ajudar” durante essas atividades em seu percurso escolar. “A

harmonia entre os cursos em um único projeto” e “a intensidade do projeto” objetivaram

também aumentar sua consciência social e cidadã nas relações construídas nesse meio, pois “a

quantidade de pessoas envolvidas” e “a carência da comunidade e por serem muito

receptivos” e “o modo de como são acolhidas e como demonstraram estarem felizes por

estarmos ali”, mostrando-lhes a Extensão como um espaço de construção do conhecimento

científico.

Nesta perspectiva, os alunos chegaram a constatar que os saberes desenvolvidos a

partir da atividade de extensão se relacionam, tanto às experiências vividas nos projetos em

que participavam, atendendo às demandas da população assistida, como ao estreitamento de

intercâmbio desse conhecimento com a sociedade. Síveres (2003, p. 19) observa que as

instituições “[...] procuram caracterizar sua missão institucional por meio do desenvolvimento

de um processo educativo, cientifico, social, artístico e cultural, com base nas seguintes

questões: Quem somos? Por que existimos? O que fazemos? Como atuamos? Para onde

movemos?”.

A análise dos resultados identificou o reconhecimento, pelos graduandos, de que as

atividades realizadas devem ser socializadas, com o intuito de servirem de inspiração para

futuros projetos acadêmicos. Lembra-se o ensinamento de Yamamoto (2013, p. 99) sobre

valorização de “novas perspectivas da construção do conhecimento que consideram o “estar

no mundo” uma fonte inesgotável de conhecimento”. A partir disso, pode-se afirmar que a

instituição tem como responsabilidade face a realidade acadêmica, incentivar os jovens a

participarem dos projetos de extensão e que estes sejam momentos de discussão, de

crescimento intelectual, de trocas de conhecimentos.

Apresentar a experiência desenvolvida na instituição de ensino analisada, assim como

de notificar seu aparente sucesso, deu visibilidade aos projetos, de modo que instituições de

porte semelhante ao da pesquisa possam incorporar projetos similares, em consonância com

as demandas sociais de seu entorno, fortalecendo e consolidando a importância das atividades

de extensão nos núcleos acadêmicos, que muitas vezes são minadas, como já apresentado,

pelas necessidades de mercado que se impõem aos cursos de graduação, sobretudo nas

universidades particulares, pois, como assevera Melo Neto “[...] a universidade, com todas as

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73

ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

suas contradições, tem sido um lugar privilegiado para a construção do conhecimento”

(MELO NETO, 2002, p. 28).

Nessa perspectiva, Chauí (2003) corrobora o pensamento de Melo Neto (2002), de a

realização das atividades de extensão, permitindo à instituição e aos alunos um foco na

formação cidadã como processo educacional, para que, em parceria possam construir

melhores condições de cidadania.

Considerando as funções sociais do ensino relacionadas à construção da cidadania e do

pressuposto de que as instituições têm por objetivo zelar pelo aprendizado e pela construção

de conhecimento de um indivíduo consciente de seu papel na sociedade e no mundo, a fala

dos sujeitos apresenta, entre a variedade de entendimentos, que o apreendido do ensinamento

de Síveres (2013) deve estar vinculado ao projeto social.

O reflexo causado na formação dos sujeitos diante da participação nas atividades de

extensão foi analisado por meio do Grupo Focal, para que, como em Villar (2011) e Tavares e

Freitas (2012), fosse possível perceber como é vista a Extensão Universitária pelos sujeitos, e

para avaliar o grau de importância que eles dão a essa atividade na formação acadêmica

cidadã.

Na esteira das lições sobre a Extensão ao longo dos anos, há que se considerar que

“[...] as instituições de ensino superior, por meio de suas atividades de extensão,

proporcionarão aos seus corpos discentes oportunidades de participação em programas de

melhoria das condições de vida das comunidades e no processo de desenvolvimento”

(BRASIL, 1968 art. 40, alínea “a”). Como, ao participar dos projetos, os alunos se envolvem

em experiências em que o processo de construção do conhecimento está totalmente integrado

às práticas vividas, eles se apropriam de conhecimento sobre novas funções sociais e

dimensões políticas, transformando-se em sujeito cidadão, corresponsável pelo

desenvolvimento do lugar em que atuam.

Aragão (2002) e Severino (2007) reiteram a importância das atividades de extensão na

universidade, com a função primordial de gerar e difundir o saber, para afirmação do diálogo

entre realidade social e conhecimento, no intuito de promover uma significativa participação

da sociedade, pois é neste diálogo que a geração e a difusão do saber encontram sua

relevância, pois “a extensão se torna exigência intrínseca do ensino superior em decorrência

dos compromissos do conhecimento e da educação com a sociedade, uma vez que tais

processos só se legitimam, inclusive adquirindo sua chancela ética, se expressarem

envolvimento com os interesses objetivos da população como um todo” (SEVERINO, 2007,

p. 31).

Todas as ações que estimulam as atividades extracurriculares conectam ensino,

pesquisa e extensão, como aquelas que exigem que professor e aluno se dediquem à

investigação, à leitura, ao contato com a comunidade, por meio de diferentes eventos

promovidos na instituição. Os grupos de pesquisa que envolvem professores, alunos dos

níveis de graduação e pós-graduação tornam indissociáveis o ensino, a pesquisa e a extensão,

quando se realizam pesquisas, buscam-se resultados que terão utilidade para a comunidade em

geral, seja ela produtora ou consumidora, então, o que se aprendeu na sala de aula está sendo

utilizado na pesquisa e que deverá ser divulgado por meio da popularização da ciência,

visando chegar à comunidade em geral e não apenas à científica.

O grupo focal permitiu chegar à conclusão de que uma vez que a proposta da

Extensão Universitária é realizar a articulação entre as partes, envolvendo os docentes,

discentes, gestores das instituições formadoras e comunidade do entorno, podemos inferir que

essa é uma perspectiva da educação problematizadora, buscando trabalhar com a perspectiva

de olhar para o serviço, visto que envolver todos os atores que estão diretamente e

indiretamente relacionados com a ação formadora é um dos princípios da problematização

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

para que se possa efetivamente atender às necessidades da comunidade.

Considerações Finais

Com base nas reflexões realizadas no desenvolvimento da pesquisa, pode-se dizer que

as iniciativas e os avanços obtidos na instituição, a respeito da importância da extensão

universitária como atividade imprescindível à formação cidadã, e como espaço privilegiado

de compromisso social da universidade na sociedade, ainda se tem um longo caminho a

percorrer para que seja materializada uma extensão universitária.

Percebe-se que a instituição conhece o seu papel social perante a comunidade interna e

externa, porém ainda existem falhas, como acadêmicos que não participam e não conhecem

esse trabalho. Neste contexto, necessita a adoção de políticas que favoreçam o processo de

ensino aprendizagem, por meio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão como

princípio, para que se possa formar um estudante que absorva conhecimento teórico e que

tenha condições de relacionar a teoria com a prática.

A extensão na instituição vivência um momento extremamente importante, pois a ideia

de uma extensão a serviço de um processo transformador, emancipatório e democrático, para

consolidação como fazer acadêmico, e ainda, desenvolvida no diálogo e no respeito a cultura

local, permite perceber quanto o pensamento freiriano foi marcante e está presente nas

práticas institucionais por meio do próprio fazer extensionista e das normatizações

universitárias que necessitam melhor dispor-se diante das funções acadêmica e social da

universidade, o que é um grande desafio visto que o Plano Nacional de Extensão está longe de

ser uma realidade plena nas universidades brasileiras.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Confronting the challenges of digital media and

learning: Advancing the debate on education, youth and

citizenship1

Wellington de Oliveira

Mestre e doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo e pós- doutorado em Psicologia da Educação pela mesma universidade. Atualmente é Diretor Geral das

Faculdades Integradas Teresa D'Avila- FATEA; professor permanente no Programa de Estudos Pós-Graduados

em Design, Inovação e Tecnologia da FATEA e Coordenador do LAPED: Laboratório Interdisciplinar em

Design, Tecnologia e Educação. Pesquisador do Grupo LACE- Linguagem e Atividade em Contextos Escolares

na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC/SP e no Grupo Atividade e Formação Docente na

mesma universidade.

Abstract

Our discussion in this paper is focused on digital media and education as powerful means for

creating more opportunities for more youth to engage in learning that is relevant to their lives

and prepares them for success and good life in school, the workplace, and their community.

We will discuss how new media builds up a new social reality at school and how new media

influences the configuration of the subjectivity of students and the implications of learning

and development in newer forms of digital environments for issues like democracy, citizenship

and ethics as debated in the DIGIT-M-ED Project.

Keyword

Digital media; Education; Student; DIGIT-M-ED Project.

Resumo

Nossa discussão neste trabalho focaliza mídia digital e educação como meios poderosos para

criar oportunidades para os jovens como formas de aprenderem aquilo que é relevante para

suas vidas e prepará-los para o sucesso na escola, no local de trabalho e nas suas

comunidades. Discutiremos aqui, como a nova mídia constrói uma nova realidade social na

escola e como as novas influências a configuração da subjetividade dos alunos e as

implicações da aprendizagem e desenvolvimento em novas formas de ambientes digitais para

questões como democracia, cidadania e ética debatidas no Projeto M-ED-DIGIT.

Palavras-chave

Mídia digital; Educação; Aluno; Projeto M-ED-DIGIT

1 Paper presented in 4th International Congress of International Society for Cultural and Activity Research – Sydney –Australia, financial

support by CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior.

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New Media and Learning: starting debate

The rapid development of communication technology in the last fifty years enabled the

creation of an array of new artefacts to convey, recreate and produce the signs of modern

society. This wide variety of means presents, organizes, materializes and institutionalizes the

contents carried out in our culture, constantly and dialectally recreating modes of

participation.

The instructional potential of multiple media is clearly promising. New digital

technologies are said to contribute to disseminate information, to help incorporate material

from the sites in daily instruction, and to display student-produced projects and comments on

the sites (DESMET, 2009; MAYORA, 2009).

The large picture shows that these possibilities still remain a potentiality in Brazil.

Although the majority of urban public schools in Brazil have computers connected to the

internet – 92% according to research conducted by the Brazilian Internet Steering Committee

(CGI.br) in 2011 – only 4% of these are located in classrooms.

Schools are faced with the challenge of keeping up with a fast changing society. The

2010 Census showed a pronounced increase on the number of home computers and mobile

phones. In fact, the number of households with a computer with access to the internet doubled

in only five years (see table below). The number (27.4%) may seem minor when compared

with over 95% of households with a television. On the other hand, the rate of growth in which

digital media are entering lives, homes and work places in Brazil demands an immediate

response from schools.

According to Maddux and Johnson (2011: 196), “it could be argued that in every case,

the technology that succeeds and that is widely adopted in education is the technology that

first achieves so much cultural momentum through wide implementation in the culture at

large that the innovation simply cannot be ignored by educators.” That was certainly true with

some analogical technology, such as televisions and VCRs, which were incorporated to many

school classrooms and are now becoming obsolete. On the other hand, within classroom

contexts these technologies remained in the hands of the teacher and, though offering an array

of possibilities for incrementing lessons, were often underused and posed no shifts of power

among teachers and students.

Now new digital media – computers, digital cameras, mobiles and handheld

computing devices - have been at the centre of a commercial success story for over a decade,

and gaming among both children and adults has hit new levels of popularity. At a much lower

rate, some of these media are being incorporated by schools. Nonetheless they seem to be

referred to as occasional activities and their role in the classrooms has not yet been integrated

to schools’ routines. As indicated in the CGI report, “despite all investments in introducing

ICT in education, there are still great challenges to the effective use of computers and the

Internet by teachers in activities with students. The results of the ICT Education 2011 indicate

that the most frequent classroom activities are the ones in which teachers use ICT the less”.

Moreover, the use of computers in classrooms has nearly entirely been dedicated to

word processing and lecturing support. In other words, computers have been introduced as an

alternative to notebooks and blackboards. Their actual potential has not begun to be fully

exploited. The act of reading, for instance, has changed radically with the emergence of

digital texts

It’s important to clarify that we use the term digital media to describe media

articulation where more traditional media, such as books, television, and radio, are converging

with digital media, specifically interactive media and media for social communication. We are

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interested in the media articulation that youth inhabit today. We have used the term digital

media rather than terms such as new media or interactive media because we are examining a

number of changes to media technology that can’t be reduced to a single technical

characteristic. Current digital media often rely on a convergence of digital and online media

with print, analog, and non-interactive media types.

Although some of these applications can, and sporadically have, been used for

educational purposes, they threaten the constraints of a predetermined curriculum, classroom

space, controlled practices, predisposed views, fixed contents, and more. They threaten the so

treasured control over the learner. Once the students are able to use the resources available by

the media, they can operate more independently and play a more active role in their learning.

This poses a demand for a change in the role of the teacher as well.

We claim that the use of multiple media in schools – with the operational

understanding of their possibilities, the relational reading of their multiple modes and signs,

and the encounter of their multiculturality – can transform the basis of relation among

teachers and students. Furthermore, it could bring real life into the classroom, instead of

creating this parallel, unrealistic life to be assimilated.

Lorenzi (2012:37) points out that "the presence of digital technologies in our

contemporary culture creates new possibilities for expression and communication." However

it is worth noting that the domain of its intricacies is not intuitive, demand learning. The

school is the privileged space of learning that begins at home and spreads throughout the

community in which we live and the spaces in which it circulates, whether real or virtual

spaces. Therefore, as shows Lorenzi (2012:37), digital technologies increasingly longer part

of our daily lives and, "as well as the technology of writing, should also be acquired."

Although we understand that schools draw on a not varied range of modes of

representation and communication to introduce and dispose its subjects to students, it is even

harder to realize that teachers have fairly few contact with media apart from the most obvious

and basic ones. Brown (2008:16) states that new media use “raises important issues about

traditional learner–teacher relationships, ownership of lecture content, and of control over the

dialogue in a classroom.” Based on Illich (1971), he reminds that the roles of learner and

teacher would not be fixed and learning would be far more collaborative, distributed, and

personalised than either then or now.

The new digital media are a frontier that is rich with opportunities and risks,

particularly for young people. Through digital technologies, young people are participating in

a range of activities, including social networking, blogging, vlogging, gaming, instant

messaging, downloading music and other content, uploading and sharing their own creations,

and collaborating with others in various ways.

Define digital media as online conduct that is meaningful and engaging to the

participant and is responsible to others in the community and society in which it is carried out.

We argue that the new digital media, with all their participatory potentials, are a space in

which the technologies of the new digital media; related technical and new media literacies;

person-centered factors, such as cognitive and social development, beliefs, and values; peer

cultures, both online and offline; and ethical supports, including the participatory citizenship

and educational curricula.

Digital media can help learners to become more active participants in public life and,

moreover, can facilitate critical pedagogy and social engagement. This also means that we

need to stop ignoring the ways in which we teach behind closed doors and radically focus on

media pedagogy as an urgent topic on which we should work together. In terms of digital

media as a tool for education in a digital age, Flusser offers beyond all else is a vision; a

vision and a warning. Flusser, who writes ‘all prediction damages the future’ (p. 159),

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uncovers the materiality of media and suggests that society, has the potential to move toward

a complete freedom of exchange and that the mediated interaction of the electronic era will

herald a cultural revolution. Technical images are the absurd means by which to embrace and

make meaning from an absurd existence.

However, the reverse side of this is the invention and creativity are those

using the digital to find new way of educating would be aided by Flusser;

Into the Universe of Technical Images provides a means of navigating what

is still to come, a partial map for plotting a path through the thickness and

thickets of a new techno-social reality. And soon, as Flusser himself puts it,

‘there will be nothing more we can say to one another, so now is the moment

to talk it over’ (FLUSSER, 2011, p. 86).

Thus, we can understand that digital media allow for a degree of freedom and

autonomy for youth that is less apparent in a classroom setting. Youth respect one another’s

authority online, and they are often more motivated to learn from peers. Their efforts are also

largely self-directed, and the outcome emerges through exploration, in contrast to classroom

learning that is oriented toward set, predefined goals in a relationship of mediation.

Mediation is understood here for us as intervention of the learning experience by

focusing on experience during the processes of thinking and learning (metacognition) and has

as its aims facilitating effective learning behaviour expansion of the transference of learning

into new situations which the learner will encounter increasing the capacity of the learner to

mediate their own learning in future, and thus, is largely about learning how to learn.

This discussion also finds support in new media theorists that try to look at how

emerging kinds of media like websites, blogs, wiki pages, and digital video both delimit the

ways people can use them, and provide, new avenues for the production of social relations

and meanings. For Bolter and Gusin (1999, p.55) all mediation is remediation. We are not

claiming this as an a priori truth, but rather arguing that at this extended historical moment, all

current media function as remediators and that remediation offers us a means of interpreting

the work of earlier media as well. Our culture conceives of each medium or constellation of

media as it responds to, redeploys, competes with, and reforms other media. In the first

instance, we may think of something like a historical progression, of newer media remediating

older ones and in particular of digital media remediating their predecessors. But ours is a

genealogy of affiliations, not a linear history, and in this genealogy, older media can also

remediate newer ones.

For the authors remediation lines up the logic of mediation for social actors in light of

advent of new media, is not to suggest that all of our culture's claims of remediation are

equally compelling or that we could necessarily identify all of the strategies through which

digital media remediate and are remediated by their predecessors. Thus, in the Bolter and

Gusin’s words, the double logic of remediation can function explicitly or implicitly, and it can

be restated in different ways: As they explain:

Remediation as the mediation of mediation. Each act of mediation depends

on other acts of mediation. Media are continually commenting on,

reproducing, and replacing each other, and this process is integral to media.

Media need each other in order to function as media at all.

Remediation as the inseparability of mediation and reality. Although

Baudrillard's notion of simulation and simulacra might suggest otherwise, all

mediations are themselves real. They are real as artifacts (but not as

autonomous agents) in our mediated culture. Despite the fact that all media

depend on other media in cycles of remediation, our culture still needs to

acknowledge that all media remediate the real. Just as there is no getting rid

of mediation, there is no getting rid of the real.

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Remediation as reform. The goal of remediation is to refashion or

rehabilitate other media. Furthermore, because all mediations are both real

and mediations of the real, remediation can also be understood as a process

of reforming reality as well. (BOLTER and GUSIN, 1999, p.55-56)

DIGIT-M-ED: the project

DIGIT-M-ED is a project coordinate by Michalis Kontopodis & Manolis Dafermakis,

co-funded by Marie Curie Action. The focus of the proposed investigation is the digital

capturing, editing and circulating of audio-visual data, although the digital technologies

employed by young people in marginalized urban spaces differ across the geographic áreas.

It is widely recognised today that we live in a ‘globalized media world’, yet few

researchers are trained to study the complexities this involves. Young people around the world

today have significantly greater access to globalised media and to technologies. This

development challenges some of the theoretical and methodological assumptions of earlier

research on youth, culture, education and digital media and technologies use. This

collaborative research endeavour will explore these crucial issues, consider current and future

directions for research on media use by youth across the globe, and address issues of how to

use digital media and technologies in order to facilitate learning and intercultural

understanding. This interdisciplinary international research staff exchange will thus contribute

to new knowledge and understandings of a very complex issue that has major implications for

Europe and the whole world. It will be highly beneficial to the researchers, greatly expanding

their possibilities to contribute to socially responsible cutting-edge research in Europe as well

as in Brazil, Russia and India with regard to media and youth.

The exchange will concern the social, cultural, historical, media-analytical,

psychological and educational dimensions of digital media practices with a focus on the

devices that are used for capturing, editing and circulating video data. It will apply inter-

disciplinary perspectives and knowledge to analyse how these digital media and technologies

practices are shaped by and shape today’s global youth. Solid research synergies between

German and Indian traditions of anthropological and sociological youth research, British

scholarship in media analysis, Greek and Brazilian educational and youth research and

Russian learning theories will be constructed more fully and creatively. Moreover, the

methodological contribution of the project is very important. One of the main project aims is

to develop an innovative methodology for the interdisciplinary and comparative/cross-cultural

study of emerging digital media and technologies practices and constellations with special

attention to the voices and perspectives of the young people involved in research.

With its focus on marginalized urban youth populations, DIGIT-M-ED addresses

directly the following issues which are of high priority both as seen from a European

perspective and on global level: 1) media and competitiveness in a knowledge society, 2)

media, youth policies and social exclusion, 3) global interdependence and transfer of

knowledge through media use, 4) well-being of democracies and political participation, and 5)

promoting sensitization to cultural diversity and social justice through media. The transferred

knowledge will thus be an important resource for educational policy makers, legal

institutions, non-government organisations, web-designers and teachers[1].

By bringing together some of the world’s leading senior researchers with talented early

career scholars from Europe, Brazil, India and Russia, DIGIT-M-ED will offer advanced

training in innovative approaches and research methodologies; will enhance the understanding

of emerging digital media and technologies practices; and strengthen quantitatively and

qualitatively the human potential in research focusing on the specific processes of media use

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in the everyday lives of young people across diverse cultural contexts. On long term basis: the

exchange will be a terrain for the early career researchers to acquire and reinforce research

management and methodological skills, global thinking and intercultural understanding and

acquire additional competencies necessary to interdisciplinary cross-cultural research. These

skills will enable the early career researchers from the different countries to establish solid

leadership positions and maintain/ further develop lasting research collaboration.

At the same time, DIGIT-M-ED also creates opportunities for long-lasting

collaborations among world’s leading research centres such as the London Institute of

Education, the Free University Berlin and more peripheral – but outstanding – universities

such as the University of Crete, the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brazil as

well as the Jawaharlal Nehru University. In this way, the proposed IRSES supports the

development of periphery (European and global) and concomitantly promotes European

traditions of theory and research. Moreover, DIGIT-M-ED aims to provide the framework for

the development of joint postgraduate training and/or project-related exchanges of young

researchers.

New media and youth: exploring boundaries in Digitmed Project

As Michalis Kontopodis explored in his recent book “Neoliberalism, Pedagogy and

Human Development” young students and their parents throughout the industrialized

countries know that they can no longer expect a job for life. In Brazil the situation looks quite

better for now – but the chances that a crisis will emerge are quite high. Individual success

can no longer be the quest of education and human development in this context. Tomorrow’s

citizens and workforce need to be prepared to solve real problems, using multiple disciplines,

and drawing on the very best knowledge that the world has to offer, as to face global

challenges such as climate change, global economic crises and poverty or increased levels of

violence and national hostility.

Education is a complex process. It demands the very best from parents, teachers,

students, and administrators. Here newer forms of digital media have a strong potential: fast,

secure, reliable, and integrated internet networks provide collaboration tools that can

transform learning. Teachers can work together to develop new material and learn from each

other. Students no longer face the choice of either working flexibly at home or in school in

teams: they can do both. All can benefit from virtual experiences, places, and events never

before possible.

The DIGIT-M-ED teams in several parts of world have recently explored the purpose

and the mission of education and the uses innovative technology to connect communities and

people, thereby helping people improve their lives. This impact, this cross-communication,

enhances cultural sensitivity and helps us better understand differences in views, perceptions,

and potentially solutions. When technology meets humanity, the way we work changes and

the way we live changes. We call this the social technical citizenship.

In the classroom, the use of new media, more precisely digital cameras, may lead to a

rich, collaborative learning experience focused around authentic, project-based learning

depending on how teachers introduce and use these media. Students and teachers should have

access to materials, formative assessments and each other "anytime and anywhere," and be

able to draw in experts from around their system or around the world at the touch of a button.

This use includes:

Collaboration: Solutions that facilitate inclusiveness and encourage collaborative decision-

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making among students, faculty, staff, citizens, and public/private partners and help

effectively harness the efforts to solve problems and create value.

Borderless Networks: As the interactions of students, faculty, staff, outside experts,

community members, and other resources extend beyond physical classrooms and school

buildings, a "borderless network" provides security, flexibility, and access that enables

institutions to implement their learning model at any time, using a wide range of devices.

The DIGIT-M-ED project allowed teachers to learn about ideas outside of their school

or school district. Too often we are isolated within our classrooms, within their schools, and

within their school districts, and they made assumptions about how certain educational

practices should be done. When they see other schools doing things differently, it makes us

wonder how they could change or improve their own practices. While other digital media

have this capability, social media enables teachers to both find out about an alternative

practice and discuss the details of implementing this practice directly with whoever has

created.

Our project is still in the beginning, but some examples of this type of communication

can be found on our You-Tube channel:

https://www.youtube.com/channel/UCow1jHEY3TgMb4QdrD1h_RA

The activities with digital filming typically included one or more of the following:

- Generating new knowledge

- Acquiring valuable knowledge from outside sources

- Using this knowledge in decision-making

- Embedding knowledge in processes, products, and/or services

- Facilitating knowledge growth

- Transferring knowledge to other places (Brazil/ Europe, Urban/ Rural etc.)

Using films, digital and social media educators from different places, as network,

collaborated to solve problems that none of them could individually solve. It is a collective

attempt to capture a glimpse of how modern individuals face and negotiate the crisis of global

capitalism, as well as the formation of identity in the realm of media, education, and culture in

a highly dense, networked world.

There were also a few problems (or maybe they are more accurately named

opportunities?) with digital media. In DIGIT-M-ED we have seen many examples (and

participated in many examples) of miscommunication that occurred because of the general

terseness of the medium, and sometimes because of a fundamental disagreement about what

the language being used means. For example, in a meeting to discuss media and

empowerment in Greece, we had a half-an-hour-long argument with another educator, who

only ended when we realized that she was using a completely different definition of learning

than us. It is important to take the time to clarify language, and where necessary, link to less

concise explanations of what we mean. This is one reason why we think that every educator

who participates in digital media should have some web-space available to which they can

link when necessary.

We are living in times within which even the existence of a solidity that “melts into air”

is questioned, and where individuals are forced into a type of identity-virtual mode that

requires the complex and simultaneous negotiations of time, space, nation, and self simply to

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remain intact. It is in this rapidly moving and changing terrain of social relations that the

contributors of Virtualized Identities explore issues that range from popular culture and

education to digital technologies and the fluidity of race and identity.

The newer forms of digital media facilitated the cross-communication, which was very

significant for information sharing and especially in citizenship education. Citizenship

education need not always be formal; it can be carried out in an informal manner in most

communities. Using new digital media in evaluating social education is an imminent need

between youth continuing to improve it, wherever it is available, is important.

Our further aims in this direction include: visible reduction in social conflict, shaping

perceptions, promoting integration, sharing case studies, peace and conflict awareness, as well

as a wider reach to different groups in the society. This expanded outreach would make it

easier to learn from conflict indicators and trends in other parts of the world, train students

and lecturers to acquire skills in the use of new digital media, reduce social violence, increase

in social harmony and cooperation, and increase positive activities in the school, because this

use reveals possibility and belonging to voiceless people in communities.

Digital media by itself will not change education - that responsibility lies with the people,

who use it, but change starts with desire, and social media can provide information, which

may lead to a desire to change.

Conclusions

With the support of new digital media, social education may be promoted to address

social justice, conflict drivers in Brazil, Greece and all over the world; it may be redirected

toward global citizenship, and disadvantaged youth may be transformed. The issue of

attitudinal change in educational processes may benefit the war against corruption, reduce

ethnic conflict, maintain constructive social controls, promote interpersonal relations, and

encourage joint problem solving in terms of 21st Century issues such as virtual economy and

casino capitalism, transnational movements of immigration and ecological crisis, emergence

of nationalist movements and war.

With newer forms of digital media we envisage a social justice and global citizenship

education based on the core values of citizenship and integrity, and respect for diversity.

Through the integration of newer digital media into the schools, both teachers and students

alike will gain the ability to make and reflect upon media and in the process, acquire

important skills in teamwork, leadership, problem solving, collaboration, brainstorming,

communications, and creating projects.

Our point is digital media represents a new social space where individuals are

becoming who they are. Ontologically speaking: the use of digital media in classrooms with

youth reveals a new space of living and being. It (re)presents our individual and social

subjectivities, our social intra-actions. As responsible educators we should inquire,

interrogate, seek understanding, and re-imagine what identity and human subjectivity look

like in a post-Cartesian, midiatic and emergent world.

In short, we comprehend that digital media offers the promise of a new learning

system that motivate individual talents, skills, and interests. Discussing about media aims to

drive positive change in education that builds on the new modes of learning observed among

young people using digital media and related tools.

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References

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Marketing institucional: fortalecimento da marca

Polícia Militar

José Ronaldo Andrade

Bacharelado e Mestrado Profissional em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na

Academia Militar do Barro Branco. Bacharel em Direito na Universidade Cruzeiro do Sul.

Ângela Santos

Tecnólogo em Processamento de Dados. Universidade de Taubaté

Resumo

Este artigo visa ressaltar a importância do fortalecimento da marca da Polícia Militar do Estado de São Paulo, que influência nas atividades operacionais e imagem da instituição, uma vez que compromete a

reputação e sensação de segurança da população e que devido a sua importância precisa ser constantemente

aprimorado. A finalidade da presente pesquisa é analisar a viabilidade de implantação de uma Gestão de

Fortalecimento da Marca da PMESP, baseado na implantação de um sistema integrado de marketing, educação

e treinamento do policial militar, com o objetivo de colocar essa gestão dentro dos padrões de excelência

preconizados pela gestão contemporânea. Os métodos empregados baseiam-se em pesquisa bibliográfica, com

fundamentos conceituais, legais e pesquisa de campo, realizada por meio de pesquisa qualitativa, questões

direcionadas ao Centro de Comunicação Social em virtude de possuir parte das informações desejadas e

facilidade de acesso a outros órgãos da Corporação, com o objetivo de se verificar se há algum trabalho de

educação e treinamento na área de marketing relacionado à marca, recursos financeiros suficientes e se é

utilizado um sistema integrado de marketing. O resultado da pesquisa aponta para a necessidade de se adotar

um modelo de gestão da marca que privilegie a participação de todos, desde a alta gerência até o soldado

recém-ingressado para atingir metas em direção à proteção da marca da polícia. Ao final, conclui-se que a

proposta apresenta-se como um instrumento capaz de fortalecer a marca da Instituição e provocar uma

mudança de atitude nos policiais militares, contribuindo para o legado institucional.

Palavras-chave

Fortalecimento; Marca; Polícia Militar; Gestão; Educação.

Abstract

This article aims to highlight the importance of strengthening the brand of the Military Police of São Paulo State,

which influence the operating activities and image of the institution as it compromises the reputation and sense

of security of the population and because of its importance needs to be constantly improved. The purpose of this

research is to analyze the feasibility of implementing a Strengthening the Management of the PMESP mark,

based on the implementation of an integrated marketing system, education and training of military police in

order to place this management within the standards of excellence recommended by the contemporary

management. The methods employed are based on bibliographic research, with conceptual, legal foundations

and field research, conducted through qualitative research, questions directed to the Media Center by virtue of

owning part of the desired information and easy access to other bodies of corporation, in order to check for any

work of education and training in marketing related to the brand, sufficient financial resources and whether to

use an integrated marketing system. The result of the research points to the need to adopt a model of brand

management that favors the participation of everyone from top management to the newly joined soldier to

achieve goals toward the police brand protection. Finally, it is concluded that the proposal is presented as a tool

to strengthen the brand of the institution and bring about a change of attitude in the military police, contributing

to the institutional legacy.

Keywords

Fortification; Brand; Military police; Management; Education.

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1 Introdução

A pesquisa será direcionada quanto à viabilidade da implantação de uma gestão

voltada ao fortalecimento da marca da Polícia Militar do Estado de São Paulo buscando a

participação de todos, desde o escalão superior da Instituição aos policiais militares,

principalmente aqueles que têm contato direto com a população, através da contratação de

uma empresa terceirizada para cuidar do composto integrado de marketing da corporação,

educação e treinamento pessoal.

Desta forma, com base nos argumentos expostos, tem-se que o problema descrito

consiste na resposta à seguinte pergunta: Como adaptar a gestão de fortalecimento da marca

da Polícia Militar do Estado de São Paulo, a fim de elevar a imagem e reputação dos serviços

prestados à população?

O objetivo principal da pesquisa é analisar a viabilidade de implantação da gestão de

fortalecimento da marca da Instituição, por meio da contratação de uma empresa

especializada para trabalhar o composto integrado de marketing e consequentemente

educação e treinamento a todos os policiais, a fim de torna-los gestores da marca da

corporação, buscando uma mudança de comportamento que passa da indiferença para

colaborador cuidando da marca como se fosse seu próprio nome, com a finalidade de

melhorar a imagem e reputação dos serviços prestados pela Polícia Militar.

Os objetivos específicos da pesquisa são:

a) Adequar a gestão de fortalecimento da marca ao ambiente de trabalho da Polícia

Militar do Estado de São Paulo;

b) Levantar os benefícios tangível e intangível que a gestão de fortalecimento da

marca possa trazer à imagem e reputação da Instituição, se comparada à forma

tradicional de gestão da marca anteriormente utilizada;

c) Identificar e demonstrar os potenciais de ganhos através da correta administração

do composto integrado de marketing além da educação e treinamento pessoal; e

d) Conscientizar a administração da importância que a gestão de fortalecimento da

marca tem na motivação do Policial Militar, e por consequência, nos resultados da

Polícia Militar.

A hipótese sugerida é a de que a implantação da Gestão de Fortalecimento da Marca

da Polícia Militar, conforme os objetivos expostos melhorará a gestão administrativa que

envolve essa atividade de comunicação social, melhorando a imagem e reputação dos serviços

prestados pela Instituição, prevenindo e administrando crise de imagem.

O tema proposto é inovador e relevante, pois vem ao encontro das necessidades

estratégicas da Instituição e do Governo do Estado, visto que, se as hipóteses forem

confirmadas, será possível melhorar a gestão do fortalecimento da marca, as rotinas

administrativas, que reduzirá as despesas e retrabalhos originados a partir dessa atividade e ao

mesmo tempo melhorará a imagem e reputação da Instituição.

O método empregado baseou-se em pesquisas bibliográficas, por meio da consulta a

livros, legislação e normas vigentes, trabalhos científicos disponíveis em sítios na internet e

foi concluída com pesquisa de campo, realizada por meio de um questionário direcionado ao

escalão superior da corporação, que evidenciou a forma de trabalho e recursos atuais em

relação à gestão da marca.

A delimitação espacial restringir-se-á a Polícia Militar do Estado de São Paulo que

possui experiências positivas na gestão de sua marca. A pesquisa concentra-se na área de

Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, na linha de Gestão e Organização.

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A pesquisa foi estruturada em seis seções. Na primeira, aborda o tema marca de forma

genérica, abrangendo seu surgimento e evolução ao longo do tempo, conceitos, funções, bem

como a importância estratégica para as organizações. Constitui-se, pois, na fundamentação

teórica desta pesquisa. A segunda seção descreve, de forma sucinta, a percepção da imagem

da Polícia Militar por parte da população, com ênfase na letalidade policial, índice de

confiança e ameaça de extinção. A terceira seção aborda a estrutura de ensino da Polícia

Militar do Estado de São Paulo e a aproximação com a população. A quarta seção trata das

ações para fortalecer marca da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com destaque para a

importância do composto integrado de marketing, contratação de empresa de marketing,

indicadores para mensurar as ações de marketing, gestão de crise de imagem e comunicação e

a relação entre o consumidor e as marcas amadas. Na quinta seção apresenta proposta de

formulada no sentido de adoção da gestão de fortalecimento da marca. Por fim, a última

seção, conclui esse trabalho.

1.1 Origem e evolução das marcas

Desde a mais remota Antiguidade existiam várias maneiras de promover as

mercadorias. Sinetes, selos, siglas e símbolos eram as mais comuns, utilizadas como um sinal

distintivo e de identificação para assinalar animais, armas e utensílios. Naqueles tempos, bem

antes de as marcas terem adquirido o seu sentido moderno, era costume indicar a proveniência

do produto agrícola ou manufaturado, a marca servindo muitas vezes para atestar a excelência

do produto e seu prestígio (PINHO, 1996).

Na Idade Média, as corporações de ofício e de mercadores adotaram o uso de marcas

como procedimento para o controle de quantidade e da qualidade da produção. As chamadas

marcas de comércio tornaram possível a adoção de medidas para o ajuste da produção e

comercialização de determinados bens à demanda do mercado. E ainda constituíram uma

proteção para o comprador, que podia identificar o produtor e resguardar-se da má qualidade

que caracterizava grande parte das mercadorias na época (TAVARES, 2003).

Para as corporações, as marcas tinham também um sentido prático. Os ourives na

França e Itália, os tecelões na Inglaterra e muitos membros das guildas na Alemanha eram

forçados a usar marcas individuais, que permitiam às corporações preservar o monopólio e

identificar as falsificações ou os artesãos cuja produção estivesse em desacordo com as

especificações técnicas da agremiação (PINHO, 1996).

As marcas individuais tornaram-se obrigatórias e adquiriram, já no século XI, um

sentido comercial, com o surgimento das comunas e cidades e com a divisão de mercado,

trabalho e competência. As operações comerciais eram efetuadas longe do centro produtor,

deixando de existir uma relação direta entre o produtor e o comprador. Assim, a marca Ra o

elemento que estabelecia um vínculo entre o fabricante sediado na cidade de origem do

produto e o consumidor que estava em lugar distante. Por meio dela, o comprador tinha

assegurada a garantia de qualidade do produto e podia reclamar quando a mercadoria não

apresentasse as qualidades devidas (RUÃO, 2003).

No Brasil, o Código Criminal do Império era completamente omisso quanto a qualquer

tipo de proteção legal às marcas comerciais e de indústria. Até que, por volta de 1875,

conforme relata Domingues (1984: 47-48), a firma Meuron & Cia., fabricante de rapé com a

marca Arêa Preta, ingressou em juízo contra uma empresa concorrente, a Moreira & Cia., que

lançou no mercado o mesmo produto com o nome Arêa Parda, alegando a primeira a

usurpação da sua marca. A causa teve Rui Barbosa como advogado da reclamante, sendo

julgada improcedente pelo Tribunal da Relação da Bahia, já que nenhuma lei qualificava o

fato como delito (TAVARES, 2003). Nova representação foi encaminhada pelo autor ao

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Poder Legislativo, merecendo dessa vez a acolhida pela Comissão de Justiça Criminal da

Câmara dos Deputados, que na sua exposição de motivos manifestou o perigo que a certeza

de impunidade poderia acarretar para a indústria e elaborou um projeto de regulamentação

que, depois de aprovado, se transformou na Lei nº 2.682 de 23 de outubro de 1875 (PINHO,

1996).

1.2 Conceituações de marca

Ofertam-se conceitos de marca, a partir de textos legais e da doutrina, sem limitação

geográfica e sem se prender na legislação brasileira em vigor, uma vez que, na elaboração

conceitual não se pode dispensar o concurso da legislação estrangeira, ou comunitária, e o

processo histórico, ainda mais em sendo a matéria embasada em modelos marcados no âmbito

dos tratados internacionais (AAKER e JOACHIMSTHALER, 2007).

Antes de declinar sua preferência pelo conceito elaborado por Carvalho de Mendonça,

João da Gama Cerqueira cita os que foram elaborados por Afonso Celso, Bento de Faria e

Almeida Nogueira, advertindo que esses autores acentuaram como finalidade da marca a

indicação ao consumidor da origem ou procedência dos produtos e não a de identificá-los e

distingui-los dos similares. Carvalho de Mendonça (apud CERQUEIRA, 1946), assim elabora

a definição:

Essas marcas consistem em sinais gráficos ou figurativos, destinados a

individualizar os produtos de uma empresa industrial ou as mercadorias

postas à venda em uma casa de negócio, dando a conhecer sua origem ou

procedência, e atestando a atividade e o trabalho de que são resultado.

O Decreto-Lei nº 7.903, de 27-8-1945, conceituou marca no artigo 89 da seguinte

forma:

Considera-se marca de indústria aquela que for usada pelo fabricante,

industrial, agricultor ou artífice, para assinalar os seus produtos, e marca de

comércio, aquela que usa o comerciante para assinalar as mercadorias do seu

negócio, fabricadas ou produzidas por outrem.

Pontes de Miranda (1983) vê na marca um sinal “que se apõe em produtos ou

mercadorias para servir de indicação da sua qualidade, algumas vezes também da

quantidade”, sendo “o mais típico sinal distintivo de produto ou de mercadoria”.

O artigo 59 do antigo Código da Propriedade Industrial Brasileiro (Lei nº 5.772, de 21-

12-1971) dispõe:

Será garantida no território nacional a propriedade da marca e o seu uso

exclusivo àquele que obtiver o registro de acordo com o presente Código,

para distinguir seus produtos, mercadorias ou serviços, de outros idênticos

ou semelhantes, na classe correspondente à sua atividade.

Nota-se que o legislador, portanto, preferiu realçar, como traço conceitual, a

distintividade do signo marca em relação a outros produtos e serviços de concorrentes,

reafirmando ainda no artigo 64 do Código revogado que:

São registráveis como marca os nomes, palavras, denominações,

monogramas, emblemas, símbolos, figuras e quaisquer outros sinais

distintivos que não apresentem anterioridades ou colidências com registros já

existentes e que não estejam compreendidos nas proibições legais.

O traço distintivo, numa primeira leitura dos textos legais, implicava caracterização

gráfica ou visual, propícia a diferenciar os produtos e serviços. Excluída, nesses termos, era a

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marca sonora, produto da elaboração fonética, para distinguir os bens industrializados,

comerciáveis ou serviços do empresário.

Douglas Gabriel Dominguez (1984), seguindo orientação de Franceschelli, apontou o

desenvolvimento da radiodifusão para incluir no conceito de marca, como traço distintivo, a

impressão visual e sonora para afastar o risco de confusão dos consumidores, com supedâneo

na jurisprudência nacional, inclusive.

Como último conceito recolhido na doutrina nacional, temos o alinhavado por Newton

Silveira (1987) “todo nome ou sinal hábil para ser aposto a uma mercadoria ou produto

indicar determinada prestação de serviços e estabelecer entre consumidor ou usuário e a

mercadoria, produto ou serviço uma identificação, constitui marca”.

1.3 Funções da marca

Através dos tempos, as marcas têm sido usadas basicamente para identificar e

diferenciar uma mercadoria, produto ou serviço em relação aos seus concorrentes.

Modernamente, encontramos na marca as seguintes funções: concorrencial, identificadora,

publicitária, individualizadora, de descobrimento ou revelação, de diferenciação e de

diferenciação interna (PINHO, 1996). A seguir, estão descritas tais funções:

a) Função concorrencial: as marcas que assimilam os produtos concorrem diretamente

entre si;

b) Função identificadora: ao assinalar os produtos e serviços, as marcas os identificam

individualmente;

c) Função individualizadora: o produto marcado e identificado torna-se um bem

individualizado e único perante um conjunto de bens de marcas diferentes;

d) Função de descobrimento ou revelação: depois de um produto novo ser lançado no

mercado, a marca é que vai revelar sua existência ao consumidor. E ao comprar o

bem, o consumidor descobre o produto que a marca assinala;

e) Função de diferenciação: por meio de uma marca o produto torna-se diferenciado na

sua categoria;

f) Função publicitária: a publicidade busca divulgar e promover a marca do produto

junto ao consumidor para que, assim, ele deixe de ser uma mercadoria anônima;

g) Função de diferenciação interna: o popular Fusca, da Volkswagen, era apresentado em

três versões: Volkswagen 1200, 1300 e 1500. Domingues (1984: 90) sustenta que

esses números, acrescentados pelos fabricantes como elementos de diferenciação

interna das versões, acabaram constituindo um elemento de diferenciação interna das

versões, acabaram constituindo um elemento de diferenciação externa para o mercado.

Embora aparentemente idênticos, os modelos apresentavam diferenças concretas de

qualidade, preço e acabamento, que fizeram o consumidor estabelecer uma diferença

de status entre os proprietários de cada uma das versões.

2 Percepção da imagem da Polícia Militar do Estado de São Paulo

Neste tópico, nota que a visão que o cidadão possui em relação ao Polícia Militar por

meio de pesquisas, noticia jornalística e as ameaças que a Instituição está sujeita por parte de

representantes políticos. Hoje a estudos que relatam sobre a imagem da Polícia Militar do

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Estado de São Paulo, dentro dele destacam-se alguns pontos, são eles: letalidade, confiança e

ameaça de extinção.

2.1 Letalidade Policial

Dentre os números dessa violência fatal, uma parcela significativa tem sido atribuída a

ações das Polícias estaduais, em especial à militar, que no Estado de São Paulo as polícias

utilizam a força letal e não a inteligência para controlar o crime, que esta força letal é utilizada

para a proteção do patrimônio não da vida (GOMES, 2011).

As polícias têm agido com alto grau de letalidade em suas ações, utilizando a força e a

violência de forma desproporcional à ameaça representada e sem respeito aos direitos das

pessoas e aos procedimentos legais, que em São Paulo/SP apesar dos homicídios dolosos

terem reduzidos entre os anos de 2000 a 2010, as mortes provocadas pela polícia não

apresentaram uma queda (GOMES, 2011).

O relatório trimestral do Instituto Sou da Paz aponta um aumento desproporcional da

chamada letalidade policial, que as polícias militar e civil protagonizam um crescimento

alarmante, 206, 9% do número de pessoas mortas por policiais em serviço, comparação

realizada em relação ao primeiro trimestre de 2013 e 2014 (GOMBATA, 2014).

2.3 Confiança na Polícia Militar

A população brasileira está confiando menos na polícia, segundo dados do 7º Anuário

do Fórum Brasileiro de segurança Pública, cerca de 70, 1% dos brasileiros ouvidos na

pesquisa não confiam na polícia, alguns fatores que contribuem para a desconfiança é a baixa

taxa de resolução dos crimes, a burocracia no atendimento ao cidadão e a imagem de

violência que está associada às polícias, principalmente à Polícia Militar (RIBEIRO, 2013).

2.4 Ameaça de extinção da Polícia Militar

Tramita na Câmara dos Deputados e do Senado Propostas de Emenda à Constituição,

propondo mudanças radicais que afetam os interesses dos policiais civis e militares de todo o

Brasil, pois quer instituir uma nova organização policial civil e extinguir as atuais Polícias

Militares, são as PEC nº 21, 51, 102, 430.

3 Estrutura de ensino da Polícia Militar e aproximação do cliente

No presente tópico comenta que por meio de uma pesquisa qualitativa encaminhada ao

escalão superior da Polícia Militar a deficiência da Instituição quanto às questões relativas ao

fortalecimento da marca, os meios utilizados pela Polícia Militar para instruir e preparar sua

força de trabalho, Importância da aproximação com o cliente/comunidade.

Aplicar uma pesquisa ao Centro de Comunicação Social da Polícia Militar tendo em

vista a maior facilidade de obtenção das informações necessárias para instrução deste estudo,

em razão do Centro de Comunicação deter parte dos dados e facilidade de acesso a outros

órgãos da Instituição.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

3.1 Pesquisa formulada junto ao Escalão Superior da Polícia Militar de São

Paulo

Em resposta às questões encaminhadas ao escalão superior da Polícia Militar do

Estado de São Paulo foi informado o seguinte.

Que desde 2012 há recursos destinados ao centro de comunicação da Polícia Militar,

no montante de R$ 1.100.000,00; que tal recurso ainda não é suficiente tendo em vista a

demanda imposta pelos inúmeros projetos na área de marketing. As ações de marketing da

Polícia Militar não são uniformes e integradas; que não existe empresa contratada para lidar

com o composto de marketing da Polícia Militar e que o curso de Media Training iniciou em

2006, passou por mudanças estruturais e é voltado apenas a Oficiais.

Nos cursos de formação de Oficiais, Sargentos, Soldados e de aperfeiçoamento

profissional não há matéria específica que trate do marketing na Polícia Militar de forma a

tornar o Policial Militar um gestor de crise de imagem e da marca da Polícia Militar, só

diretrizes e instruções orientando como criar e manter sítios na Internet, utilização da internet,

lidar com a administração de crise de imagem, uso do Facebook; que o fortalecimento da

marca é trabalhado nas campanhas institucionais e ações voltadas a valorização profissional,

cujo principal mote é o fortalecimento do sentimento de pertencimento a Instituição.

3.2 Sistema de formação, instrução e prevenção da Polícia Militar do Estado

de São Paulo

A Polícia Militar possui seu próprio sistema de formação e instrução de seus policiais,

que ocorre desde a sua entrada na Instituição e se mantêm por toda a carreira, tais sistemas

são imprescindíveis para a educação para essa nova maneira de agir e perceber a importância

de se cuidar da marca da Instituição, desta forma deveria ser inserido no currículo desta

formação aulas referente ao fortalecimento de sua marca, promovendo uma educação e

conscientização da importância da marca e de como preservá-la.

O ingresso na Polícia Militar poderá ser feito através de concurso público, a carreira

do policial militar se inicia com a graduação de soldado, após concluir o Curso Superior de

Técnico de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública. Poderá ingressar diretamente

na Escola de Formação de Oficiais, onde cursará o Curso de Bacharelado em Ciências

Policiais de Segurança e Ordem Pública.

No quadro médico por meio de Concurso Público para Admissão aos cargos de 2º

Tenente Médico PM Estagiário e 2º Tenente Farmacêutico PM Estagiário do Quadro de

Oficiais de Saúde da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Posteriormente o colaborador

poderá ascender na carreira cursando a Escola Superior de Sargentos (ESSgt) fazendo o Curso

Superior de Tecnólogo de Polícia Ostensiva e Preservação da Ordem Pública I.

No caso dos Oficiais terão que realizar o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, Curso

Superior de Polícia para galgar os últimos postos da Instituição; ao longo da carreira todos

terão que se submeter a outras instruções para se atualizar profissionalmente, como por

exemplo, o Estágio de Aprimoramento Profissional, Instrução Continuada do Comando e

Programa Vídeo Treinamento.

3.3 Importância da aproximação com o cliente/comunidade

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Neste item mostraremos que a união de esforços entre polícia e população é

fundamental para um relacionamento duradouro onde ambas as partes obterão ganhos de

confiança, eficiência nas questões de segurança, o Conselho Comunitário de Segurança se

constitui em uma oportunidade para a Polícia Militar conhecer a real necessidade do seu

público alvo.

Estabelecer um diálogo com o cliente é fundamental no sentido de conhecer sua real

necessidade ou desejo em relação ao serviço prestado pela Polícia Militar, e dentro deste

aspecto o CONSEG (Conselho Comunitário de Segurança) é uma ótima ferramenta de

aproximação da entre a Polícia Militar e a sociedade.

Esta aproximação se encaixa perfeitamente à orientação do art. 144 da Constituição

Federal do Brasil, quando diz que a preservação da ordem pública é dever do Estado, porém,

direito e responsabilidade de todos. Contudo, a ideia do Conselho Comunitário de Segurança

surgiu para criar um espaço onde todos poderiam se reunir e pensar estratégias de

enfrentamento dos problemas de segurança, tranquilidade e insalubridade da comunidade,

orientados pela Filosofia de Polícia Comunitária (SCARDUELIEeeCASAGRANDE,E2011).

O Conselho Comunitário de Segurança é uma entidade de apoio às polícias estadual.

Em outras palavras, são grupos de pessoas de uma mesma comunidade que se reúnem para

discutir, planejar, analisar, e acompanhar as soluções de seus problemas, o qual se reflete na

segurança pública. São meios de estreitar a relação entre comunidade e polícia, e fazer com

que estas cooperem entre si. A Secretaria da Segurança Pública tem como representantes, em

cada CONSEG, o Comandante da Polícia Militar da área e o Delegado de Polícia Titular do

Distrito Policial (TROJANOWICZEeeeBUCQUEROUX,e2003).

Sua legitimidade tem sido reconhecida pelas várias esferas de Governo e por

institutos independentes, o que permite afirmar que os CONSEGs representam hoje, a mais

ampla, sólida, duradoura e bem-sucedida iniciativa de Polícia orientada para a comunidade

em curso no Brasil e investir nesta aproximação trará benefícios para a marca da Polícia

Militar (SCARDUELI e CASAGRANDE, 2011).

Os objetivos dos CONSEGs são os de integrar a comunidade com as autoridades

policiais, com as ações que resultem na melhoria da qualidade de vida da população; a

comunidade propor às autoridades as definições de prioridade na Segurança Pública na sua

região; articular a comunidade visando à prevenção e a solução de problemas ambientais e

Sociais; fazer com que a comunidade interaja com as unidades policiais tendo em vista a

resolução de seus problemas, enfim, criar uma sinergia entre a polícia e a comunidade na

solução de problemas.

4 Ações para fortalecer a marca da Polícia Militar do Estado de

São Paulo

Aqui, vamos apresentar medidas para fortalecer a marca da Polícia Militar como, por

exemplo, a importância do Composto Integrado de Marketing, a possibilidade e necessidade

de Contratação de Empresa de Marketing, a importância dos Indicadores para mensurar as

ações de marketing, a relevância da Gestão de crise de imagem e comunicação, e como deve

ser a relação entre o consumidor e as marcas amadas.

4.1 Importância do Composto Integrado de Marketing

A comunicação de marketing, também conhecida como comunicação mercadológica,

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tem como objetivo promover a troca de produtos e serviços entre o produtor e o consumidor,

logo abrange a comunicação institucional e a ela deve estar integrada. Isso porque, a

comunicação integrada pressupõe o desenvolvimento conjugado das atividades de

comunicação institucional, abrangendo jornalismo, editoração, relações pública, propaganda,

publicidade, promoção de vendas, exposições, treinamento (AMARAL, 2008).

Desse modo, a comunicação integrada de marketing é a forma encontrada para fazer o

planejamento global de comunicação, com as técnicas e os métodos específicos de cada área,

usando uma só linguagem, para realizar a promoção/comunicação dos produtos e serviços

entre o produtor e o consumidor. Nessa linha de pensamento, a comunicação de marketing é o

meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir e lembrar os consumidores – direta ou

indiretamente – sobre os produtos e marcas que comercializam (SANTIAGO, 2002).

Para Toledo, Nakagawa e Yamashita (2008) a comunicação de uma empresa pode

explorar inúmeras possibilidades para proporcionar uma aproximação entre ela e seus

consumidores, todo contato com a marca transmite uma impressão que pode fortalecer ou

enfraquecer a visão do cliente sobre a empresa, o contato pessoal passou a ser considerada

uma categoria de venda pessoal, por se tratar de uma alternativa de realização que pode ser

utilizada ou não, conforme opção do promotor em outras diversas atividades para promover,

mas a venda pessoal só se realiza pelo contato pessoal.

O composto integrado de marketing visa identificar o DNA da marca, estabelecer um

território para a marca ocupar na comunicação baseado em seu DNA, nos objetivos da

empresa e nos pontos de relevância para o consumidor, o território propõe o terreno aonde vai

se apoiar o tom da comunicação, criando o conceito BIG IDEA (AMARAL, 2008).

As decisões da empresa estão ligadas a parte estratégica da empresa, caracterizada por

buscando afetar o comportamento, começar pelo cliente ou prospecto de fora para dentro, usar

toda e qualquer forma de contato, gerar sinergia – declaração de posicionamento, construir

relacionamentos. O problema está no fato de algumas organizações ainda teimarem em tratar

as ferramentas de comunicação como práticas separadas direcionando verbas para: mídias

mais especializadas, altamente segmentadas, comunicação focada (SANTIAGO, 2002).

4.2 Contratação de Empresa de Marketing

A lei nº 12.232 estabelece normas gerais sobre licitações e contratações pela

administração pública de serviços de publicidade prestados necessariamente por intermédio

de agências de propaganda, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, se subordinam ao disposto nesta Lei os órgãos do Poder Executivo, Legislativo e

Judiciário, as pessoas da administração indireta e todas as entidades controladas direta ou

indiretamente pelos entes referidos.

Considera-se serviços de publicidade o conjunto de atividades realizadas

integradamente que tenham por objetivo o estudo, o planejamento, a conceituação, a

concepção, a criação, a execução interna, a intermediação e a supervisão da execução externa

e a distribuição de publicidade aos veículos e demais meios de divulgação, com o objetivo de

promover a venda de bens ou serviços de qualquer natureza, difundir ideias ou informar o

público em geral.

Nas contratações de serviços de publicidade, poderão ser incluídos como atividades

complementares os serviços especializados pertinentes é planejamento e à execução de

pesquisas e de outros instrumentos de avaliação e de geração de conhecimento sobre o

mercado, o público-alvo, os meios de divulgação nos quais serão difundidas as peças e ações

publicitárias ou sobre os resultados das campanhas realizadas, as pesquisas e avaliações

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previstas terão a finalidade específica de aferir o desenvolvimento estratégico, a criação e a

veiculação e de possibilitar a mensuração dos resultados das campanhas publicitárias

realizadas em decorrência da execução do contrato.

4.3 Indicadores para mensurar as ações de marketing

Os indicadores são importantes medidas utilizadas por uma organização para resolver

problemas conjunturais, para assegurar que os procedimentos internos sejam aplicados;

outros, ainda, para levantar aspectos econômicos da organização, qualidade de seus produtos,

satisfação de sua clientela, validar a ação adotada. A busca pela excelência exige o

sistemático levantamento de dados e informações, com a finalidade não somente de avaliar os

serviços, mas, principalmente, utilizá-los como elementos do planejamento estratégico. Nesta

perspectiva, entendem-se indicadores de desempenho como uma ferramenta para mensurar a

satisfação do usuário e a qualidade dos serviços, com vistas à avaliação e à tomada de

decisão. Seu uso sistemático aponta os pontos fortes e as debilidades da organização, bem

como permite a comparação, tanto da organização com ela mesma, em diferentes momentos,

como dela com outras organizações, facilitando o benchmarking, por exemplo (ROZADOS,

2005).

4.4 Gestão de crise de imagem e comunicação

Para Forni (2013) crise é uma ruptura na normalidade da organização; uma ameaça

real ao negócio, a reputação e ao futuro de uma corporação ou de um governo. As empresas

precisam estar organizadas e dispostas a criar mecanismos de prevenção de crise, o plano de

prevenção de crises também não pode ser um relatório feito por algum grupo restrito de

pessoas ou pelo gabinete ou assessoria da presidência, sem o envolvimento de toda a

organização.

Toda instituição deve ter um processo sistemático de identificação de potenciais crises,

deve ser uma rotina incorporada ao planejamento estratégico da corporação. Identificar riscos

potenciais deve ser um componente mensal e anual do planejamento, incutindo no quadro

pessoal da empresa a ideia de que administrar o risco é mais fácil do que gerenciar a crise.

Prevenção não é um gasto inútil, pelo contrário, representa investimento, pois o

planejamento prévio pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma organização, na

hora da crise; prevenir acontecimentos negativos que representem ameaça à marca, à

reputação. Torna-se necessário, portanto, irradiar por toda a organização uma efetiva educação

e treinamento do risco, como uma competência apropriada de preparação e treino para a

gestão das crises (CARVALHO, et al., 2010)

A comunicação de crise é parte do processo de gestão e deve contemplar as ações

necessárias para informar a opinião pública e tentar reduzir o impacto negativo. Se a

organização não tem um rápido e efetivo plano de comunicação de crise, a imprensa

preencherá o vácuo da mídia com informações, comentários ou opiniões, que servirão mais

para vender história do que para sua reputação.

A chave do sucesso na comunicação de crise é estabelecer a organização no centro da

crise como a única fonte autorizada de informação sobre o que está acontecendo e o que está

sendo feito sobre a crise. A mídia explora as crises porque são fatos inusitados, fogem da

normalidade, envolvem a imagem das organizações e despertam o interesse da audiência.

Vivemos hoje no mundo da visibilidade total, as crises são globais e dizem respeito a toda a

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comunidade, toda a sociedade.

A imagem e reputação de uma marca, de um produto ou de uma empresa são

construídas com base em percepções, o preço de uma crise de graves proporções é

extremamente alto, não saber se comunicar agrava o efeito negativo das crises, a internet e as

mídias sociais afetaram as práticas de gestão de crises, com ameaças mais sérias à reputação,

também mudou a forma e o tempo de resposta dos gestores. As crises acontecem quase em

tempo real (FORNI, 2013).

4.5 A relação entre o consumidor e as marcas amadas

Uma marca só existe quando existem pessoas que fazem questão da sua existência.

Marcas que não conseguem criar nenhum tipo de laço com o seu público não sobrevivem em

uma realidade onde as prateleiras das lojas estão transbordando produtos, cores e embalagens

diversas. Se não há quem compre, vai estar na prateleira por quê? Simplesmente não vai

(GRÄTSCH, 2013).

É nos conhecido que uma das funções das marcas é auxiliar o consumidor a identificar

produtos e serviços. Nem sempre a utilização de informação explícita é necessária, importa

que a mensagem da marca signifique alguma coisa às pessoas. O processo que perdura entre o

conhecimento e a tomada de decisão de compra de um consumidor deve contar com profundo

conhecimento da marca em relação ao público que ela quer alcançar; quem é ele? Quais suas

preferências? O que ele faz? Que lugares ele frequenta? Dentre outras (GRÄTSCH, 2013).

A marca é uma promessa criada na mente do consumidor, e o relacionamento entre

eles é definido pelo laço emocional que se forma a partir de trocas entre marca e consumidor.

A força dessa ligação emocional é definida pelo nível de intimidade entre a pessoa e a marca.

As empresas não criam marcas expressivas sem o auxílio de seu consumidor, mas podem

facilitar o desenvolvimento do relacionamento do público com a sua marca (GRÄTSCH,

2013).

É indispensável à marca, criar uma mensagem em volta de si que comunique ao seu

público o essencial para a formação de um vínculo. Segundo Solomon (2008), a mensagem

usada a favor da comunicação com o consumidor soma como atributo ou benefício único do

produto. A mensagem deve ser clara e não ser repetida constantemente para não gerar

desgaste e afastar a massa consumidora. Portanto, é importante variar e renovar seu conteúdo

e prezar sempre por elementos que mantenham a familiaridade ao cliente (GRÄTSCH, 2013).

5 Proposta de implantação da gestão de fortalecimento da

marca

Para que a PMESP possa implantar a solução proposta, haverá a necessidade seguir

algumas etapas, garantindo a geração de produtos ou serviços de alta qualidade a preços

competitivos ou mais baratos, além disso, desenvolve conhecimentos capazes de reeducar as

pessoas para ações de prevenção e melhoria contínua, garantindo o fortalecimento da marca, a

confiabilidade dos cidadãos e da qualidade dos processos ou serviços.

5.1 Fases do Plano de Implantação

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

A estimativa média de implementação da Gestão do Fortalecimento da Marca a é de 3

a 6 meses para a fase preparatória, e de 2 a 4 anos para início do estágio de consolidação,

considerando que seja feita segundo as doze etapas sugeridas:

1ª etapa - Manifestação da Alta Administração sobre a Decisão de Introduzir a

Gestão do Fortalecimento da Marca da PMESP;

2ª etapa - Campanha de Divulgação e Treinamento para Introdução da Gestão

do Fortalecimento da Marca;

3ª etapa - Estrutura para Implantação da Gestão do Fortalecimento da Marca

da PMESP;

4ª etapa - Estabelecimento de Diretrizes Básicas e Metas para a Gestão do

Fortalecimento da Marca;

5ª etapa - Elaboração do Plano Diretor para Implantação da Gestão do

Fortalecimento da Marca;

6ª etapa - Início do Programa de Gestão do Fortalecimento da Marca;

7ª etapa - Melhoria Individualizada dos Policiais Militares e do composto

integrado de marketing para Maior Fortalecimento da Marca;

8ª etapa - Estruturação para a mudança de atitude para Maior Fortalecimento

da Marca;

9ª etapa - Estruturação da Gestão de Fortalecimento da Marca pelo Centro de

Comunicação Social da Polícia Militar e subunidades;

10ª etapa - Treinamento para Melhoria do Nível de Capacitação da Força de

Trabalho quanto ao Fortalecimento da Marca;

11ª etapa - Estruturação do Controle da Fase Inicial de Implantação da Gestão

de Fortalecimento da Marca aos Policiais Militares e do composto integrado de

marketing;

12ª etapa - Execução Total da Gestão de Fortalecimento da Marca e Elevação

do Nível Geral.

O treinamento será ministrado a um grupo pré-determinado de policiais militares, que

posteriormente difundirão os conhecimentos adquiridos aos demais Polícias Militares, na

forma de multiplicadores, Diretoria de Ensino da Polícia Militar organizar o currículo das

unidades formadoras, treinamento e fornecer todos os materiais e recursos necessários para a

sua realização, que ocorrerá nas Unidades de Ensino, Batalhões, Companhia, Pelotão e

Grupamento Policial Militar ou em local por elas definido.

Para consolidar a filosofia da nova Gestão, sugere-se que a Instituição normatize os

procedimentos a ser adotada por meio da edição e da publicação de Nota de Instrução (NI),

bem como a inserção do assunto em edições do Programa de Vídeo Treinamento (PVT),

Instrução Continuada de Comando etc, que gerará bons resultados na assimilação da nova

Gestão.

5.2 Projeto Piloto

A complexidade que envolve a implantação do novo modelo de gestão de

fortalecimento da marca, ao mesmo tempo, em toda a Polícia Militar, sugere-se o

desenvolvimento de um projeto piloto a ser implantado e avaliado em três batalhões

territoriais distintos, um na capital, um na região metropolitana de São Paulo e outro no

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101

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interior do Estado.

A sistemática proposta permitirá confrontar o desempenho da gestão de fortalecimento

da marca em unidades do mesmo Comando de Policiamento ou do mesmo Batalhão, que

estarão utilizando modelos gerenciais distintos, assim, sugere que o projeto piloto seja

desenvolvido de 3 a 6 meses para a fase preparatória, e de 2 a 4 anos para início do estágio de

consolidação, considerando que seja feita segundo as doze etapas sugeridas, a fim de que seja

possível aferir efetivamente as vantagens de melhoria da imagem e da marca aqui propagadas.

6 Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo demonstrar a importância que o gerenciamento da

marca tem para as organizações, em especial a Polícia Militar do Estado de São Paulo

levando-se em consideração que o ciclo de vida de qualquer produto ou serviço que, por

consequência representa ou é representado pela marca da Instituição, só pode obter sucesso se

for devidamente acompanhado de perto por uma equipe de gerenciamento capaz de identificar

as ações necessárias e o momento certo para aplicá-las quando alguma variável no mercado

exige mudanças no posicionamento da empresa.

A marca também pode se tornar um bem intangível incrivelmente valioso para a

Corporação se for trabalhada corretamente e vista por seus gestores como um capital que

agrega valor à Polícia Militar e seus produtos/serviços. A Corporação não pode se dar ao luxo

de aceitar que a organização viva em um estado de complacência, ou seja, mantendo-se

apática quando as circunstâncias demandam mudanças de extrema importância nas ações

praticadas pelos integrantes da organização.

A história tem demonstrado que a falta de gerenciamento eficiente pode levar

verdadeiros impérios à falência ou, no mínimo, causar prejuízos que muito provavelmente

poderiam ser evitados. Integrar ações de gerenciamento e educação eficientes com

ferramentas de comunicação adequadas a cada situação é fundamental para que se obtenha

sucesso em qualquer serviço.

Cabe também, ao responsável pelo marketing da organização, implantar e desenvolver

uma cultura de identificação, preservação, reconhecimento e proteção da marca, iniciando

este trabalho dentro da polícia, passando após para as ações externas utilizando-se das

ferramentas e estratégias adequadas. Porém, devemos nos lembrar de que nosso parecer sobre

qualquer trabalho a que nos dedicamos nunca é o suficiente em um mundo que se modifica a

todo momento, de forma que devemos estar sempre em busca de novas possibilidades.

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O papel do professor e as abordagens pedagógicas

no estudo da linguagem da mídia

Lígia Beatriz Carvalho de Almeida

Profa. adjunta da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, Campina Grande, PB. Doutora em

Educação, Mestre em Comunicação Midiática. Licenciada em Pedagogia e Bacharel em Comunicação Social.

Pesquisadora da relação entre educação e tecnologias da informação e da comunicação. Integrante do grupo

de pesquisa EpisCom. E-mail: [email protected]

Mariana Pícaro Cerigatto

Jornalista, mestre em TV Digital e doutoranda em Ciência da Informação pela Universidade Estadual Paulista

(Unesp). Integrante do grupo de pesquisa EpisCom. E-mail: [email protected]

Resumo

Os estudos sobre mídias e novas tecnologias na educação ganham cada vez mais relevância

mediante iniciativas que seguem uma tendência internacional de educação para a mídia e

fomentam a participação na cultura digital. Entretanto, no Brasil ainda faltam materiais

pedagógicos e metodologias de trabalho apropriadas para atividades dessa natureza. Nesse

contexto, se insere o presente artigo, que discute metodologias destinadas à alfabetização

para a mídia. O estudo aponta caminhos, calcados na metodologia inglesa, denominada

media literacy, para trabalhar com a linguagem da mídia em sala de aula e expõe resultados

de atividades aplicadas pelas autoras. Percebe-se, em linhas gerais, que a exploração da

linguagem midiática no contexto educacional contribui para desenvolver o senso crítico, a

criatividade, a expressividade, entre outras competências.

Palavras-chave

Mídia-educação; Linguagem; Formação de professores; Media literacy; Educomunicação.

Abstract

Studies on media and new technologies in education are increasingly gaining importance

through initiatives that follow an international trend of media education and promoting

participation in digital culture. In Brazil, however, there is a lack of appropriate teaching

materials and working methods for activities of this nature. This article discusses pedagogical

approaches to media literacy, presenting activities, based on the British methodology know as

media literacy, to work with language media in the classroom. The results of authors’

experiences in educationals institutions are also disclosed. It is considered that to work with

media language at school helps the kids to develop several skills, such as critical thinking,

creativity, expression.

Keywords

Media Education; Language; Teacher Training; Media Literacy; Educommunication.

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1 Introdução

A capacidade de se comunicar por meio das tecnologias e das mídias, além da

capacidade de ler criticamente os conteúdos midiáticos, são habilidades cada vez mais

valorizadas para exercer a cidadania.

Seguindo essa perspectiva, sabe-se que existem tentativas de políticas públicas

brasileiras promoverem o uso de mídias na educação e a inserção das tecnologias no ambiente

educacional. Apesar disso, ainda faltam materiais pedagógicos e metodologias de trabalho

apropriadas para atividades dessa natureza, as quais envolvem habilidades de leitura

multimodal, conhecimentos técnicos específicos e formação de critérios de julgamento que

não se limitem a criticar o gosto do aluno pela cultura de massa (CERIGATTO; SIQUEIRA,

2008).

Mais recentemente, está em discussão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para

o Ensino Básico, despachada pela Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação.

Na área de Linguagens, o texto faz referência a cerca de oitenta componentes curriculares de

interesse para os estudos de mídia-educação (SOARES, 2015, p.01).

Até a elaboração deste artigo, a discussão do texto preliminar para o documento do

BNCC estava disponível no sistema de consulta pública por meio da internet

(http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/contribua-inicio).

Conforme aponta o próprio Ministério da Educação, a BNCC será um documento

norteador da Educação Básica sobre os conhecimentos indispensáveis para todos os

estudantes brasileiros:

A Base será mais uma ferramenta que vai ajudar a orientar a construção do

currículo das mais de 190 mil escolas de Educação Básica do país,

espalhadas de Norte a Sul, públicas ou particulares. Com a BNC, ficará claro

para todo mundo quais são os elementos fundamentais que precisam ser

ensinados nas Áreas de Conhecimento: na Matemática, nas Linguagens e nas

Ciências da Natureza e Humanas. A Base é parte do Currículo e orienta a

formulação do projeto Político-Pedagógico das escolas, permitindo maior

articulação deste. A partir da Base, os mais de 2 milhões de professores

continuarão podendo escolher os melhores caminhos de como ensinar e,

também, quais outros elementos (a Parte Diversificada) precisam ser

somados nesse processo de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos.

Tudo isso respeitando a diversidade, as particularidades e os contextos de

onde estão. (BRASIL, documento eletrônico)

O documento proposto é dividido em áreas de Linguagens, Matemática, Ciências

Humanas e Ciências da Natureza. Na área de Linguagens, há tópicos que relacionam o

trabalho com linguagens da mídia e tecnologias, separadas por nível de ensino.

Dentre alguns exemplos de atividades propostas destacadas do documento, estão: no

primeiro ano do Ensino Fundamental (E.F), há a proposta de trabalhar com a compreensão de

slogans em campanhas educativas. No segundo ano do mesmo nível de ensino há a proposta

de se trabalhar com a estrutura de notícias e reportagens. Já no terceiro ano do E.F há a

proposta de trabalhar com a compreensão dos recursos de persuasão e apelos publicitários. No

4º ano do E.F, há a indicação de produção de textos multimodais com a utilização de

diferentes mídias digitais; no 5º ano há a proposta de trabalhar com a seleção e a relação entre

a informação transmitida por mídias diferentes. No 6º ano há a inserção de produção de textos

publicitários em meios diversos; e no 7º ano há a proposta de estudar a construção do discurso

e da linguagem em diferentes gêneros e textos comunicativos. No 8º ano há referência e

análise de narrativas em quadrinhos (HQs) e no 9º do E.F mais uma vez há proposta de

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trabalhar com o consumo e a publicidade, além de gêneros jornalísticos. E, até o terceiro ano

do Ensino Médio, há propostas de atividades didáticas voltadas à análise, comparação e

tratamento da informação em diversos meios de comunicação e tecnologias.

Contudo, apesar do documento se mostrar interessante e atualizar as antigas bases

curriculares, prevendo mais atividades que engajem os estudantes juntos aos estudos das

mídias e tecnologias, considerando tanto o eixo da leitura crítica quanto o da produção, é

preciso considerar e reforçar a necessidade da formação do professor conseguir acompanhar o

conteúdo curricular proposto, de forma que o discurso não permaneça afastado da prática.

Mesmo em relação a conteúdos tradicionais, como o ensino da Língua Portuguesa e de

Matemática, sabe-se que estão em constante debate o desdobramento de metodologias de

ensino que garantam o desenvolvimento de certas competências comunicativas. O que pensar

então sobre uma área emergente na educação, que engloba a leitura crítica e a produção de

conteúdo através de mídias e tecnologias, para a qual se exige a competência de professores e

alunos? Como propor experimentações com diferentes linguagens e instrumentos de

produção, a fim de despertar a sensibilidade e o sentido da observação, tanto dos docentes

como dos alunos? (ALMEIDA; POLESEL; ANDRELO, 2008).

Sabe-se, ainda, que há entraves relacionados a reformas, recursos insuficientes,

desmotivação e “pânico moral” de parte dos docentes e gestores para lidar com mídias e

tecnologias.

É notável que a construção de um novo documento norteador para a Educação Básica,

como visto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reforce a necessidade de

atualização assim como a importância da inserção do trabalho didático com as “velhas e

novas” mídias. Apesar da urgência dessas temáticas, vemos ainda que o estudo da linguagem,

do discurso e a produção com as mídias permanecem em desvantagem nas escolas. A

expressão textual ainda é ensinada se aproximando mais de uma postura passiva, que inibe a

criatividade dos alunos. A imagem é utilizada de maneira muito tímida, como simples recurso

ilustrativo, e devidamente legendada, inviabilizando qualquer possibilidade de construção

subjetiva de significado (ROSSETO, 2010). Nessa perspectiva, “o mundo legal do discurso

pedagógico parece esconder a pluralidade das linguagens institucionais não-escolares ou, pelo

menos, não reconhecê-las e mesmo esquivar-se dela” (CITELLI, 2004, p. 161).

Neste contexto se insere o presente artigo, que propõe discutir metodologias - baseadas

nos estudos ingleses de mídia-educação, a media literacy – que oferecem subsídios para o

trabalho com linguagens midiáticas em sala de aula, como a do cinema, do jornalismo, da

publicidade, entre outras. O propósito é desenvolver o senso crítico e proporcionar a

apropriação dos códigos culturais que compõem essas linguagens. Assim, propõe-se agregar

conhecimento a respeito do trabalho com as mídias em sala de aula, e espera-se que a

metodologia apresentada a seguir seja um caminho para reforçar o trabalho com conteúdos

midiáticos na Educação Básica, assim como na formação do professor, de qualquer área.

Os próximos tópicos do artigo explanam os fundamentos da abordagem da media

literacy, seis técnicas pedagógicas que auxiliam o desenvolvimento das atividades de leitura e

escrita da mídia, além de discussões de como o professor deve agir em sala de aula ao abordar

conteúdos de mídia e novas tecnologias.

Nas conclusões, há a apresentação de resultados referentes a trabalhos desenvolvidos

anteriormente, nos quais se adotou a metodologia inglesa, assim como reflexões e indicação

de projetos futuros que fortaleçam a ideia de inserir os meios de comunicação na cultura do

professor e no currículo das instituições de educação formal.

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2. Desenvolvimento

2.1 Media literacy: metodologia inglesa para alfabetização às mídias

A media literacy é uma área de estudos que se preocupa em desenvolver formas de

ensinar e aprender aspectos relevantes da inserção dos meios de comunicação na sociedade

(CERIGATTO; SIQUEIRA, 2008). No Brasil, as terminologias usadas são as mais diversas:

mídia-educação, educação para a mídia, leitura crítica dos meios, educomunicação etc. são

alguns dos termos usados para caracterizar essa área interdisciplinar do conhecimento. Na

Inglaterra, os objetivos da media literacy preveem que o cidadão seja capaz de:

separar fato de ficção, identificando diferentes graus de realismo; 2) entender

os mecanismos de produção e distribuição que resultam nos sistemas através

dos quais as emissoras comerciais sobrevivem com a venda de espaços de

publicidade; 3) distinguir uma reportagem da mera defesa de pontos de vista,

comparar padrões de apresentação de evidências e reconhecer mensagens

comerciais embutidas na programação; 4) explicar e justificar as escolhas de

assistir os programas e veículos de comunicação, apresentando opções

ponderadas e distância crítica1 (DCMS, 2001, p.5).

Especificamente na Inglaterra, o Communications Act de 2003 (a lei geral das

comunicações), estabeleceu como uma das tarefas do Ofcom, órgão regulador de mídia no

país, a de promover a media literacy. De lá para cá, uma série de medidas estão sendo postas

em prática, entre elas o fomento de programas de educação para a mídia em espaços de

educação formal e não-formal (CERIGATTO; SIQUEIRA, 2008).

Ao estudar recursos da linguagem cinematográfica, publicitária, jornalística, entre

outras, estudo este que é proposto em atividades da BNCC, não se busca apenas apresentar a

linguagem da mídia aos educandos, e sim, a possibilidade de apropriação dos elementos

linguísticos, de maneira crítica. O aluno, assim como o professor, tem que ser provocado a

entender como funciona todo processo de produção, seja de uma peça publicitária, uma

reportagem de jornal etc., não só do ponto de vista do receptor como também do produtor da

mensagem, e da instituição de mídia.

Outro aspecto a ser considerado, ao propor o trabalho com a mídia e seus conteúdos em

sala de aula, diz respeito ao modo como são desenvolvidas e implementadas as ações

pedagógicas para ensinar sobre a mídia. De um lado, há educadores que adotam a postura da

chamada “fé cega na tecnologia”; outros defendem a concepção originada do “pânico moral”

(GREEN; HANNON, 2007). Para uma parcela dos educadores, há de se defender a inserção

das tecnologias e mídias como objeto de estudo, porém sem considerar o olhar crítico. Para

outros, a cultura das mídias e o uso de tecnologias devem ser combatidos e são tidos como

ameaça ao saber e à cultura escolar. Entre esses dois extremos, podemos recorrer a visões

mais equilibradas, que, conforme Buckingham (2003), preocupam-se não em promover nem

em “inocular”, mas sim em preparar as pessoas para usar as mídias, tanto como consumidoras,

quanto como cidadãs.

Segundo Halloran e Jones (1986), a abordagem inoculativa perante às mídias não é

novidade, e está fortemente relacionada aos estudiosos da indústria cultural, adeptos da

famosa Escola de Frankfurt, tendo como principais pensadores Max Horkheimer e

Theodor Adorno. Buckingham (2003) alega os argumentos dessas duas posições extremistas

(Quadro 1) e sugere um caminho equilibrado:

1 Texto originalmente em língua inglesa, tradução livre feita pelas autoras.

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Quadro 1 – Argumentos das duas posições extremistas

NEIL POSTMAN

(falando da televisão)

DOM TAPSCOTT

(falando da internet)

- A mídia dilui os limites entre a infância

e a vida adulta;

- A leitura do livro exige aprendizado; a

TV não;

- Não há distinção evidente entre

conteúdo para adulto e para criança na

cultura televisiva;

- A TV é uma mídia totalmente

publicizada, aberta, sem limites: as

crianças aprendem todos os segredos da

vida adulta sobre sexo, drogas,

violência... esses conteúdos costumavam

ficar escondidos no tempo da cultura

majoritariamente impressa.

- É verdade que a mídia dilui as bordas entre

infância e vida adulta, e que a tecnologia é

mesmo a principal responsável por isso;

- Mas não se trata de uma catástrofe e sim de

uma forma de libertação para a criança e para

o jovem, que agora têm meios de se

expressar;

- Além disso, há uma diferença entre as

velhas e as novas mídias:

- TV: induz à passividade, banaliza, forma

pessoas estúpidas, isola, enfatiza uma visão

única;

INTERNET: ativa, desenvolve a inteligência,

fornece visão pluralista, cria comunidades.

Fonte: Buckingham (2003) apud Siqueira (2007).

Seguindo a perspectiva de um novo paradigma pedagógico, não mais se sustenta a ideia

de mídia como direcionadora de opiniões, crenças e ideologias, nem como vazia de valores

culturais (CERIGATTO; SIQUEIRA, 2008). E ainda:

O novo paradigma não pretende agir como um escudo para proteger os

jovens da mídia e conduzi-los para atividades melhores, mas sim torná-los

habilitados a tomar decisões mais informadas, para o seu próprio interesse

(BUCKINGHAM, 2003, p.13).

Para o trabalho com os conteúdos midiáticos, a proposta inglesa prevê o uso de quatro

conceitos-chave e algumas técnicas pedagógicas, como veremos a seguir.

2.2 Conceitos-chave e abordagens pedagógicas

A leitura crítica da mídia está embasada em conceitos-chave tais como linguagem,

audiência, instituições de mídia e representação (SIQUEIRA, 2012). Importante salientar que

a leitura crítica não ignora o prazer contido na leitura do texto midiático, mas não deixa de

fomentar o olhar crítico.

O quadro 2 exemplifica esses conceitos:

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Quadro 2 - Conceitos-chave da mídia-educação

Conceitos-chave Objetivos

Linguagem Criar atividades que ajudem o estudante a experimentar a linguagem

midiática e, assim conhecê-la por dentro;

Instituições de

mídia

Simular e produzir conteúdo aplicando rotinas de produção profissional

para compreender em que medida o produto final é mais resultado de

práticas institucionalizadas do que uma suposta capacidade que a mídia

tem de refletir a realidade como ela é;

Audiência Compreender o comportamento da audiência que, basicamente, negocia

significado com a mensagem. Na prática, algumas mensagens são

interpretadas exatamente do modo como seus autores queriam que

fosse, enquanto outras são interpretadas de modos alternativos e até

completamente inesperados. Desse estudo, ao menos potencialmente,

emerge uma compreensão do poder relativo das mídias, que não deve

ser nem sub, nem superestimado. Compreendido já é o bastante para a

mídia-educação;

Representação Aprender a avaliar criticamente o modo como os recursos da linguagem

e as rotinas de produção resultam em valores comumente associados a

sujeitos, hábitos, instituições. Ao comparar (com metodologia) o modo

como mensagens diferentes apresentam o mesmo assunto, os estudantes

têm a oportunidade de se afastar das mídias e observá-las “de cima”.

Tal procedimento cria as bases para uma análise crítica, que

compreende a mídia como representação e não como cópia da

realidade.

Fonte: Adaptado de Siqueira (2012).

Assim, ao utilizar uma reportagem de um jornal, um filme, uma peça publicitária etc.

pode-se trabalhar com os quatro conceitos para entender os processos midiáticos, que utilizam

a linguagem para atingir uma determinada audiência; e que as práticas institucionais e a rotina

de produção são carregadas de valores, interesses, e interferem na representação de mundo

construída. Todo produto da mídia, portanto, é uma representação, uma versão elaborada a

respeito de algum fato, pessoa ou objeto; dispõe de pontos de vista sectários querendo parecer

universais. Assim, os conteúdos midiáticos – inclusive, muitas vezes usados como fontes de

pesquisa para um trabalho escolar - precisam passar por uma avaliação crítica: já é um

primeiro passo saber diferenciar uma reportagem de uma fonte primária, por exemplo, já que

o texto passou por um processo de interpretação, de edição.

A seguir, apresenta-se um exemplo de atividade de educação para a mídia utilizando os

quatro conceitos-chave, se delimitando pelo eixo da leitura crítica:

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Figura 1: Publicidade de cerveja

Fonte: Blog Quase Publicitários (https://quasepublicitarios.wordpress.com/2010/06/23/anuncios-da-skol)

No aspecto da linguagem, podemos analisar o plano verbal e o não verbal da

propaganda da Skol. A linguagem nos dá pistas de valores embutidos na mensagem: no plano

verbal, a publicidade é dividida em dois quadros; o primeiro mostra um provador de roupas

como ele realmente é; do lado direito temos a mudança no provador, destacando o corpo da

mulher, de biquíni, e tapando seu rosto apenas. O plano fotográfico utilizado destacou todo o

corpo da mulher, do joelho para cima, para reforçar a mensagem da campanha: o corpo da

mulher é o que se quer ver, ainda mais trocando de roupa.

No plano verbal, temos a frase, “se o cara que inventou o provador bebesse Skol, ele

não seria assim”, do lado esquerdo. A utilização da gíria “cara” nos mostra que a escolha da

palavra atende o perfil do público masculino jovem, assim como o destaque para o corpo da

mulher. As cores da propaganda também remetem à mesma cor da bebida, no caso, a cerveja,

o que reforça a marca e a sua representatividade.

No aspecto da representação e da prática institucional, podemos analisar a empresa

que promove a peça publicitária; no caso, trata-se da Skol, uma das maiores empresas do

segmento de cerveja no Brasil e no mundo. Para vender a bebida, a Skol associou em sua

propaganda valores e interesses, postos por meio da linguagem para cativar o público-alvo.

Logo, entendemos que o interesse é atingir o público masculino, jovem, e para isso o corpo da

mulher, escultural, bem delineado, bronzeado, foi utilizado como apelo para chamar a

atenção. A propaganda nos passa a ideia de que quem gosta de Skol também prefere aquele

tipo de mulher, tido como padrão de beleza pela Skol.

De certa forma, a representação da mulher na propaganda feita pela Skol reforça a

imagem da “mulher objeto” em sociedade, após a análise de elementos da linguagem que

levaram a isso.

Ao utilizar a propaganda em sala de aula e os conceitos-chaves para promover a leitura

crítica, o educador ainda pode criar diferentes situações que recorrem a determinadas técnicas

pedagógicas específicas. Buckingham (2003) apresenta seis abordagens mais comuns da área,

a partir da experiência inglesa: análise textual, estudo do contexto, análise de conteúdo,

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estudo de caso, tradução (de um livro para um filme, por exemplo) e simulação-produção. As

etapas englobam desde a leitura crítica até a produção de mídia, e os conceitos-chaves podem

ser trabalhados nas diversas situações.

Vamos detalhar mais especificadamente cada uma dessas seis técnicas pedagógicas

baseadas em Cerigatto e Siqueira (2008), ilustrando com exemplos:

1. Análise textual – técnica que consiste em fazer do familiar, estranho, a fim de

encorajar a formação de um ponto de vista a partir de uma reflexão. Por exemplo:

selecionar um filme, descrever o script, identificar os recursos usados para ligar as

sequências, as conotações e associações das intertextualidades.

2. Análise contextual: Complementa a análise textual – estuda a linguagem mais a

fundo, a fim de identificar padrões e valores. Nessa técnica, podemos caracterizara

audiência idealizada pelos produtores, analisar os recursos técnicos e estéticos

empregados, recursos criar apelos e manter a audiência do filme.

3. Estudo de caso: Conhecer o processo de produção: como se define o público-alvo,

como se constrói a mensagem, onde se insere o marketing e publicidade e que

respostas gera na audiência. Por exemplo: identificar quem é o espectador de um

filme violento, quais são as expectativas em relação ao filme, onde o filme é

anunciado e quais são os argumentos das pessoas que criticam filmes desse tipo.

4. Tradução: São as mudanças que ocorrem quando um conteúdo é tratado em mídias

diferentes e em gêneros diferentes, para audiências diferentes. Por exemplo, analisar

como cada peça cinematográfica, de cada gênero, formula um conflito.

5. Simulação: Identificar personagens, traços físicos, comportamentais, valores,

atitudes. Construir o personagem oposto a esse e simular os acontecimentos.

6. Produção: Criar situações-problema da cultura midiática para serem resolvidas pelos

estudantes em equipes, como criar um filme. Dentro disso, os estudantes terão que:

definir o público-alvo; duração; gênero; orçamento; captação de recursos; atribuição

de tarefas; criar critérios de avaliação.

3 Considerações Finais e recomendações

Atividades envolvendo a mídia, se trabalhadas dentro da perspectiva inglesa e com as

devidas adaptações, podem alcançar sucesso mesmo no contexto brasileiro, como

demonstraram experiências práticas, desenvolvidas por Almeida (2012) e Cerigatto (2009),

envolvendo atividades de educação para a mídia em escolas públicas da rede estadual, em

Bauru, São Paulo, tanto com alunos e docentes. O trabalho desenvolvido demonstrou o

potencial das atividades para fomentar o debate, a expressão e a criatividade tanto de

educandos e educadores.

Essas pesquisas se desenvolveram entre os anos de 2007 e 2010, com alunos de ensino

médio, fundamental e formação de professores. Entre as instituições de ensino participantes

pode-se mencionar a Escola Estadual Joaquim Rodrigues Madureira, também o centro

socioeducativo Irmã Adelaide – com os assistidos do Ensino Fundamental II, além de

professores do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Professor Ernesto Monte,

todas em Bauru.

Com os alunos do ensino médio da Escola Joaquim Rodrigues Madureira, foram

trabalhadas oficinas que exploraram a linguagem do cinema. Já com as crianças e

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adolescentes, de 11 até 14 anos, do centro socioeducativo, trabalhou-se com a linguagem e

apelo publicitário. Segundo observações pontuais feitas em relatórios, o trabalho desenvolveu

habilidades de leitura, especialmente na expressão dos juízos de gosto e valor, estimulou a

produção, o raciocínio crítico, a expressividade e a criatividade.

Com os docentes do ensino fundamental da Escola Estadual Prof. Ernesto Monte foram

trabalhadas também atividades relacionadas ao cinema, sendo as mesmas oficinas praticadas

com os alunos. Foi possível perceber alguma resistência e posturas relativas ao “pânico

moral”. Também observou-se que, conforme a área em que atuavam, o grau de interesse era

menor ou maior; ou seja, professores da área de humanas eram mais cativados.

Mesmo com a tímida participação de alguns professores, a qualidade da compreensão

dos conceitos-chave sobre linguagem e narrativa cinematográfica foi expressa durante as

oficinas. Os professores discutiram em grupo as atividades e conheceram também mais a

fundo as suas dificuldades em lidar com as mídias e tecnologias e a importância de mudar este

cenário, frente às novas possibilidades e necessidades de aprendizado.

Assim, tendo em mãos experiências empíricas, sugere-se que, tanto a escola como as

instituições formadoras de docentes trabalhem os conteúdos das diversas mídias a partir de

uma perspectiva crítica, contemplando eixos de leitura e escrita.

Percebe-se que essa perspectiva de leitura e escrita críticas está presente em atividades

propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o Ensino Básico. Apesar de

esforços reunidos para que novos parâmetros curriculares contemplem demandas atuais de

aprendizagem, não se vê o mesmo esforço para construir bases mais sólidas na formação de

docentes e currículos de formação inicial que acompanhem as discussões e propostas pelos

documentos vigentes da Educação Básica.

Mesmo que a BNCC traga à tona cerca de 80 componentes curriculares de interesse

para a media literacy, além das diversas dificuldades estruturais narradas por Almeida (2012),

o que se vê são poucas disciplinas na formação de docentes que trabalham as habilidades

exigidas nesse documento. As licenciaturas, inclusive, em algumas universidades e

faculdades, tiveram sua grade “enxugada” para redução de custo.

Reforça-se, portanto, a valorização das licenciaturas, da carreira de docente da

Educação Básica, assim como infraestrutura e base curricular adequadas à realidade das

necessidades de aprendizagem. Fica aqui a nossa contribuição para que o trabalho com as

mídias em sala de aula, em específico, não caia no engodo da fé cega ou do pânico moral, mas

que se torne um trabalho que contribua para consumidores mais críticos e ativos.

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Page 116: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Um ensaio etnofotográfico sobre o envelhecimento

Wilson José Alves Pedro

Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Gerontologia, São Carlos (SP),

Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação Ciência, Tecnologia e Sociedade e do Programa de Mestrado

Profissional – Gestão das Organizações e Sistemas Públicos. Investigador Visitante do Instituto do

Envelhecimento – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (2013-2014). E-mail:

[email protected]

Resumo

O presente artigo propõe uma síntese reflexiva – imagética e textual sobre o tema processos

de envelhecimento. Trata-se de um ensaio etnofográfico, a partir de registros do diário de

campo, realizados em Portugal. A partir de um enquadre teórico sociológico propõe uma

reflexão sobre a complexidade da apreensão dos processos de envelhecimento, enquanto

fenômeno-objeto de estudo e seus determinantes. Aponta-se a necessidade de saberes

interdisciplinares e procedimentos plurimetodológicos no âmbito dos estudos gerontológicos

para compreender e agir sobre as multideterminações deste processo.

Palavras-chave

Gerontologia Social; Envelhecimento; Fotografia; Etnografia.

Abstract

This article proposes a reflective synthesis - imagery and text on the subject of aging

processes. This is a test etnofográfico, from records of the diary, made in Portugal. From a

sociological theory fits proposes a reflection on the complexity of the seizure of the aging

processes as a phenomenon - object of study and its determinants. It points up the need for

interdisciplinary knowledge and plural methodological procedures in gerontological studies

to understand and act on multideterminações this process.

Keywords

Social Gerontology; Aging; Photography; Ethnography.

Incursões pela Gerontologia

Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se

sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se

sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.

Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada nova

madrugada, numa revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a

pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos. Esta

madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelada para

branco quente ousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia

de olhos vidrados o silêncio que vem na luz crescente. Nunca houve esta

hora, nem esta luz, nem este meu ser. Amanhã o que foi será outra coisa, e o

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que eu vir será visto por olhos recompostos, cheios de uma nova visão. Altos

montes da cidade! Grandes arquiteturas que as encostas íngremes seguram e

engradecem, resvalamentos de edifícios diversamente amontoados, que a luz

tece de sombras e queimações – sois hoje, sois eu, porque os vejo, sou o que

[não sereis] amanhã, e amo-vos da amurada como um navio que passa por

outro navio e há saudades desconhecidas na passagem” (PESSOA, p. 113-

114).

Nos últimos anos a opção em trabalhar com envelhecimento ativo e saudável

mobilizou as incursões acadêmicas, políticas e pessoais bastante complexas. Parafraseando o

poeta... “envelhecer é preciso, envelhecer não é preciso...” Atuo na vertente social da

gerontologia (PEDRO, 2012, 2013a, 2013b) um emergente campo científico, bastante

desafiador, pois demanda estudos e intervenções para aprimorar “o lugar da velhice na

sociedade” (BEAUVOIR). Será possível? Grandes são os paradoxos e contradições dos

processos individuais e coletivos do envelhecer, destacando que “uma vida que nem sempre é

vivida, no emaranhado das relações sociais” (CIAMPA, 1993). Afinal qual é o lugar da

velhice nas sociedades contemporâneas?

Figura 1: A espera da procissão. Festa de Santo Antônio, Lisboa, junho de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

Defendo que as pessoas devem ocupar lugares sociais cidadãos, construindo

identidades com autonomia, emancipação e respeito às diferenças (PEDRO, 2014). Tendo

delimitado o estudo das estratégias de promoção do envelhecimento ativo no contexto luso-

brasileiro, como fenômeno-objeto para os estudos pós-doutorado junto ao Instituto do

Envelhecimento – Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e considerando a

natureza e complexidade do tema, tornou-se imperativo a imersão deste pesquisador social

brasileiro, na realidade portuguesa. A cultura é um fator determinante dentro da estrutura para

compreender o envelhecimento ativo. Segundo a OMS “a cultura, que abrange todas as

pessoas e populações, modela nossa forma de envelhecer, pois influencia todos os outros

fatores determinantes do envelhecimento ativo” (WHO, 2005). Esta etapa foi importantíssima

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para compreender as especificidades e as formas de viver e envelhecer em Portugal na

contemporaneidade (PEDRO, 2014).

As regiões delimitadas para estudo, suas características e especificidades são

dialeticamente singulares e plurais. Cruzar informações sobre a região metropolitana de

Lisboa - Portugal com o interior do Estado de São Paulo – Brasil, foi e continua a ser um

processo inesgotável. A identificação e caracterização das singularidades, especificidades,

indicadores e boas práticas públicas de promoção do envelhecimento ativo são elementos-

chave do estudo. Nestas, o trabalho e a participação social são elementos centrais da

investigação e constitutivos da promoção de saúde e cidadania. São dimensões se amalgamam

requerendo delimitações e enquadres teóricos e metodológicos.

A abrangência geográfica das regiões do estudo foram pré-definidas pelo pesquisador,

tendo por referência a localização as instituições âncoras do estudo - Universidade de Lisboa

e Universidade Federal de São Carlos (PEDRO, 2013b). As escolhas destas regiões

justificam-se também pelas características sócio demográficas, e pela relevância da população

com 60+ anos nos universos investigados (INE, 2013; IBGE 2013).

O trabalho de campo proporcionou interações significativas com diversos atores

sociais, tanto na etapa de identificação dos documentos para análise, como na etapa das visitas

técnicas. Parcela significativa dos informantes do estudo se inserem num perfil sênior, ou seja,

são pessoas com 50+ anos. A quase totalidade das organizações, programas e serviços

investigados são destinadas e/ou dirigidas por pessoas com 60+ anos. Muitas foram as

interações decorrentes do estudo com pesquisadores e profissionais, estudantes em formação,

representantes de movimento sociais. Demandas e desafios das múltiplas determinações do

envelhecimento foram revisitadas in locus; sendo na postura de estranhamento o fio condutor

para viabilizar a presente investigação. E no processo de trabalho, o Diário de Campo foi

essencial para registros, apontamentos e reflexões,

Inquestionavelmente cuidados éticos são imprescindíveis. Portanto, todos os registros

fotográficos foram realizados em espaços públicos, o que permite o direito de publicização

das imagens.

Neste mundo globalizado, a diversidade de identidades é essencial para a garantia da

autonomia, o respeito à diferença e à emancipação, em todo o curso da vida e nos processos

de envelhecimento.

O trabalho se desenvolveu entre os meses de fevereiro de 2013 e janeiro de 2014, com

idas e vindas entre Portugal e Brasil. A proposta de cruzar fronteiras provoca inquietações e

reflexões acadêmicas e pessoais.

Neste contexto o presente ensaio apresenta algumas reflexões sobre os bastidores da

pesquisa. Denominado um estudo etnofográfico sobre o envelhecimento em Portugal, propicia

ao leitor o compartilhamento de imagens e reflexões, enfatizando a importância do diário de

campo na pesquisa social e a emergência de inovação nas investigações sociais sobre o

envelhecimento.

O envelhecimento, um fenômeno individual e coletivo, complexo e multideterminado;

requer esforços inovadores, para o enfretamento de sua ideologização e mercantilização e

mesmo a sua banalização. É preciso um amplo empreendimento científico, tecnológico e

político, para a promoção de condições objetivas e subjetivas, éticas e humanas para o

envelhecimento ativo e saudável digno. Se de um lado as imagens registradas expressam

manifestações de autonomia e independência, condições sine qua non para a construção de

uma velhice ativa; os textos complementarmente contextualizam e problematizam aportes

teóricos e metodológicos para a análise dos processos de envelhecimento.

Neste ensaio optei pela apresentação de fotografias realizadas exclusivamente em

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Portugal. Fruto das incursões cotidianas, em um cenário até então (des) conhecido pelo

pesquisador, cujas imagens apresentadas não remetem direta ou exclusivamente às estratégias

investigadas no estudo principal. Conforme apontado o empreendimento de observar, interagir

e compreender os processos de envelhecimento ativo em Portugal é extremamente instigante.

O encantamento e a inquietação provocadas pelo cotidiano transcendiam aos objetivos do

estudo. As várias manifestações individuais e coletivas, as ruas e lugares, as produções

simbólicas revelavam o cotidiano de um país envelhecido e com expressões singulares de

“autonomia e independência”. Isto pode ser constatado a olho nu. Pairava a dúvida: O que

fazer? Como captar este movimento? Como demonstrar este processo de envelhecimento?

Como evidenciar e integrar este cenário ao estudo em andamento.

Figura 2: Bairro Alto, Lisboa, março de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

O diário de campo tornou-se, portanto, um recurso essencial na pesquisa. Tomou

forma e consistência, a partir de anotações, leituras, registros fotográficos, gravações em

áudio e outros recursos, que compunha um mosaico de informações e que agora, revisitadas

estão contempladas no presente ensaio.

Apesar da clareza e foco do objeto de estudo - concepções paradigmáticas de

envelhecimento ativo, em documentos e na produção científica; o perfil sócio demográfico

com ênfase na população sênior (+50) e as estratégias de promoção do envelhecimento ativo,

tendo o trabalho a centralidade (PEDRO, 2013), ou seja, as concepções, políticas e práticas de

promoção do envelhecimento ativo, suas interfaces com a saúde, trabalho e a participação

social, nos contextos luso-brasileiro, a imersão na cultura portuguesa foi uma etapa

fundamental na identidade do pesquisador. Uma oportunidade singular.

O planejamento da investigação contemplava a proposta de realização de registros

fotográficos dos locais visitados. A literatura sobre pesquisa social destaca a importância do

diário de campo e enfatiza que “observar não é apenas ver. A validade – será que se está

observando aquilo que de fato se deseja observar? A confidencialidade ou fidedignidade –

será que sucessivas observações do mesmo fato ou situação oferecerão resultados

semelhantes?” (MARTINS, THEOPHILO, 2007, p. 84). Assim a opção pela realização de

registros fotográficos como recurso complementar do trabalho de campo possibilitava

registros importantes para evidenciar elementos complementares, porém essenciais ao estudo.

A fotografia é uma paixão antiga e companheira de viagem. Na condição de pesquisador

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social foi importante rever e (re) significar a possibilidade de seu uso.

Lisboa, com sua geografia, sua arquitetura e sua gente revelara-se um observatório

social interessantíssimo sobre os processos de envelhecimento. O macro contexto econômico,

político e social português que me defrontei, revela também um cenário que requer um grande

empreendimento hermenêutico (AMARAL, 2010; CENTENO, 2013; ROSA, 2012).

Figura 3: Avenida do Alecrim, Lisboa, 16 de fevereiro de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

No processo de investigação os aportes teóricos e metodológicos foram assumindo

novos contornos, a partir de revisões sobre o individualismo metodológico nas teses de

Boudon (1986) e Ansart (2002) (1986), as diferentes formas de pensar o social com Becker

(2009) e as análise sobre os processos de envelhecimento de acordo com Caradec, Cabral e

Cols (2013) corroboram os pressupostos do estudo e aguçam as reflexões: como apreender o

fenômeno-objeto de estudo – processos de envelhecimento individual e coletivo – em suas

múltiplas determinações? Que saberes são necessários? De que forma?

Com Boudon a problematização sobre o lugar do indivíduo e dos indivíduos no

pensamento sociológico. Se enquadrarmos o princípio do individualismo metodológico,

visando compreender o envelhecimento – individual e coletivo tem-se com Ansart (2002) que

o fenômeno observado na consequência do comportamento dos indivíduos, ou seja, o objeto

situa-se no estudo dos comportamentos individuais no interior de um determinado sistema

social. Ora o revela-se o potencial? O individualismo metodológico “questionará o

comportamento real dos actores, considerando os papéis como possibilidades de acção

atribuídas aos actores, e não como normas constrangedoras (...) a tarefa do individualismo

metodológico não será verificar os papéis impostos, mas examaminar de que modo assumes

os actores os seus papeis, avaliam os ´subpapéis´que lhes são propostos e com que

consequências de ordem geral” (ANSART, 2002, p. 98-99).

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Figura 4: Avenida do Alecrim, Lisboa, 16 de fevereiro de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

Complementarmente as reflexões sobre a representação da realidade social. Becker

(2009) afirma que através de um filme documentário, um estudo demográfico ou um romance

realista as representações são sempre parciais. E os outros recursos devem ser também

problematizados? Neste direcionamento refletíamos sobre a proposta de trabalho e as formas

de representações da realidade social: “menos do que experimentamos e teríamos à nossa

disposição para interpretar se estivéssemos no contexto real que ela representa. Afinal, é por

isso que se fazem representações: para relatar apenas aquilo que os usuários precisam para

realizar o que quer que queiram fazer Uma representação eficiente nos diz tudo que

precisamos saber para nossos objetivos, sem perder tempo com aquilo que não precisamos”

(BECKER, 2009, p. 31).

O autor destaca:

Somos todos curiosos em relação à sociedade em que vivemos. Precisamos

saber, na base mais rotineira e da maneira mais comum, como nossa

sociedade funciona. Que regras governam as organizações de que

participamos? Em que padrões rotineiros de comportamento outras pessoas

se envolvem? Sabendo essas coisas, podemos organizar nosso próprio

comportamento, aprender o que queremos, como obtê-lo, quanto custará, que

oportunidades de ação várias situações nos oferecem. Onde aprendemos

essas coisas? Da maneira mais imediata, a partir das experiências de nossa

vida diária. Interagimos com todas as espécies de pessoas, grupos e

organizações. Conversamos com pessoas de todos os tipos e em todos os

tipos de situação. Evidentemente, não de todos os tipos: a experiência social

de tipo face a face é limitada pelas relações sociais, a situação na sociedade,

os recursos econômicos, a localização geográfica. Podemos nos virar com

esse conhecimento limitado, mas, em sociedades modernas (provavelmente

em todas as sociedades), precisamos conhecer mais do que aprendemos com

a experiência pessoal. Precisamos – ou pelo menos queremos – saber sobre

as outras pessoas e lugares, outras situações, outras épocas, outros estilos de

vida, outras possibilidades, outras oportunidades’. (BECKER, p. 17-18).

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:

Figura 5: Explicações do Avô. Autor: Francisco Romano Esteves (1882-1960). Óleo sobre tela.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor. Registro fotográfico: Museu Casa Santa Maria

Para Becker, as fotografias, objeto cultural, ganha sentido a partir do contexto. Assim

o documentário, o fotojornalismo e a sociologia visual, oferecem um cenário mínimo para

tornar as imagens inteligíveis.

Assim, procuramos “representações da sociedade” em que outras pessoas

nos falam sobre todas essas situações, lugares e épocas que não conhecemos

em primeira mão, mas sobre os quais gostaríamos de saber. Com a

informação adicional, podemos fazer planos mais complexos e reagir de uma

maneira mais complexa às nossas situações de vida imediatas. Para

simplificar, uma “representação” da sociedade é algo que alguém nos conta

sobre algum aspecto da vida social. Essa definição abarca um grande

território. Num extremo situam-se as representações comuns que fazemos

uns dos outros como leigos, no curso da vida diária. (BECKER, p. 17-18).

Para a sistematização do Diário de Campo a proposição da fotoetnografia (ACHUTTI,

1997) foi fundamental. Trata-se de uma vertente na pesquisa qualitativa, pautada em

pressupostos da etnografia, utilizando-se de técnicas fotográficas aliadas à observação e

escrita, descrevendo através de imagens o fenômeno-objeto investigado (DUARTE, 2002).

Esta técnica permite alimentar a observação, o ato de olhar e captar emoções, sutilezas e

sensibilidades (Andrade, 2002).

Aprendemos a ver apenas o que praticamente precisamos ver. Atravessamos

nossos dias com viseiras, observando apenas uma fração do que nos rodeia.

Os homens modernos não são bons observadores e o uso de uma máquina

fotográfica pode auxiliar sua percepção. No caso da antropologia, o ato de

fotografar pode dar uma visão global e uma observação detalhada

(DUARTE, 2002, p. 54)

Esta proposição dá aderência aos pressupostos de Becker, ao reconhecer e legitimar

outras possibilidades de representar o social – objetiva e subjetivamente e nos conduzia:

Meus próprios colegas de profissão – sociólogos e cientistas sociais –

gostam de falar como se tivessem o monopólio da criação dessas

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representações, como se o conhecimento da sociedade que produzem fosse o

único conhecimento “real” sobre esse assunto. Isso não é verdade. E eles

gostam de fazer a afirmação igualmente tola de que as maneiras que

possuem de falar sobre a sociedade são as melhores ou as únicas pelas quais

isso pode ser feito de forma apropriada, ou que suas maneiras de fazer esse

trabalho protegem contra todas as espécies de erros terríveis que poderíamos

cometer. Esse tipo de conversa é apenas uma tomada do poder profissional

clássica. Levar em conta as maneiras como as pessoas que trabalham em

outros campos – artistas visuais, romancistas, dramaturgos, fotógrafos,

cineastas – e os leigos representam a sociedade revelará dimensões analíticas

e possibilidades que a ciência social muitas vezes ignorou serem úteis em

outros aspectos. (BECKER, p.19).

Portanto, mobilizado pela apreensão e representação do fenômeno-objeto de estudo,

concomitante às evidências de estudos teóricos e empíricos sobre o envelhecimento, interagi

com os seniores, pesquisadores e gestores portugueses da área do envelhecimento.

No cotidiano do Bairro Alto, que completou 500 anos de fundação; os deslocamentos

para a Universidade e organizações visitadas, bem como tempo livre retroalimentava

continuamente a tônica do envelhecimento: na dimensão vivida e representacional (artes,

mídia, instituições e afins) o envelhecimento se manifestava. Muitas eram as evidencias

fenomenológicas, cujos registros fotográficos tornavam o indizível em visível.

A Fotografia não fala (forçosamente) daquilo que não é mais, mas apenas e

com certeza daquilo que foi. Essa sutileza é decisiva. Diante de uma foto, a

consciência não toma necessariamente a via nostálgica da lembrança

(quantas fotografias estão fora do tempo individual), mas sem relação a

qualquer foto existente no mundo, a vida da certeza: a essência da Fotografia

consiste em ratificar o que ela representa. (BARTHES, 1984, p.127-128)

Figura 6: Alameda da Linha das Torres, Lisboa, outubro de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Por ocasião do Simpósio Ciências Sociais Cruzadas (2013) interagi com a do Prof. Dr.

José de Souza Martins, um dos mais importantes cientistas sociais brasileiros

contemporâneos. Faço remissão a este encontro, além das conferências, a identificação do

livro Sociologia da Fotografia e da Imagem (2008) e visita ao ensaio fotográfico Fronteiras

(2013), foram fundamentais e decisivos para definição deste ensaio.

Martins afirma que “das formas de expressão visual da realidade social, a fotografia é

aquela que ainda procura o eu lugar na sociabilidade contemporânea. Talvez, porque tenha

sido, por muito tempo, a mais popular de todas, ao alcance de um leque amplo de usuários e

instrumentalizada por uma variedade significativa e imaginários. A que se deve agregar, em

consequência, a diversidade de funções: das puramente técnicas à puramente artísticas,

passando pelas relativas ao lazer e à memória do homem comum” (MARTINS, 2008, p. 33)

Figura 7: Marchas de Santo Antonio. Avenida da Liberdade. Lisboa, junho, 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

Martins afirma que a fotografia procura o seu lugar na Sociologia:

Tanto como forma peculiar de expressão do imaginário social e da

consciência social como recurso da Sociologia para compreendê-los. Ou,

melhor dizendo, procura a Sociologia um lugar para ela no elenco dos

recursos metodológicos que possam enriquecer os seus meios de observação

e registro das realidades sociais. Como ocorreu com os antropólogos, não é

raro que os sociólogos busquem nela a técnica capaz de reter e documentar a

dimensão ontológica do social. O uso da fotografia pela Antropologia e pela

Sociologia chegou a ser considerado, e ainda é por muitos, um recurso

objetivo de pesquisa, e por isso complementar da objetividade nas Ciências

Sociais. Sujeito, porém a ressalvas relativas ao risco da subjetividade própria

de uma modalidade de expressão visual no trânsito na arte. Howard Becker

assinalou esse temor em Margareth Mead, pioneira no uso antropológico da

fotografia.

Vai ficando evidente, porém, que a imagem fotográfica constitui mais do que

um recurso da técnica de pesquisa nas Ciências Sociais. Antes de ser

procurada pelos cientistas sociais, já havia sido cortejada pelo senso comum

e com ele contraíra matrimônio. Mais do que se tem hoje, essa busca tinha

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sentido quanto a Sociologia ainda se sentia segura no interior da fortaleza da

objetividade e das técnicas aparentemente precisas de observação e estudo

das estruturas sociais, dos processos sociais e das situações sociais. Uma

época, também em que uma certa inocência social limitava o ímpeto de

expressão do homem comum e o mantinha relativamente confinado no

interior do castelo forte das regras sociais” (MARTINS, 2008, p. 33-34).

E cada vez mais o estudo elucidava a relevância da inovação. Evidências emergiam e

não se tratava apenas de um flagrante. A intencionalidade do pesquisador em evidenciar o

trabalho e a participação social como elemento-chave na promoção do envelhecimento ativo

era recorrente. E cotidianamente observava-se.

Figura 8: Mercado de Almerin. Almerin, junho, 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

A idéias sociologicamente densa do momento decisivo opõe-se frontalmente

à banalidade anti-sociológica do flagrante e do congelamento. O flagrante,

para chegar à Sociologia, depende do que no casual e no repentino se fixou

em imagem fotográfica. Depende, então, de paciente busca na imagem já

feita, quase sempre improfícua, não raro com resultados ingênuos e

simplistas. A fotografia que expressa e documenta o momento decisivo

chega com um quadro visual de referência que é em si interpretativo, com o

deciframento da imagem já proposto esteticamente, socialmente

dimensionado, na tensão entre a obra fotográfica e a imagem fotográfica. O

flagrante é um acaso; o momento decisivo é uma construção, uma espera

elaborada, esteticamente definida. Não é acidental que o fotógrafo procure

previamente o cenário em que transcorrerá a cena do que vai fotografar

(MARTINS, 2008, p. 61).

Meu foco de estudo, entretanto é a promoção do envelhecimento ativo através do

trabalho. Flagrantes do cotidiano foram registrados. Os indicadores e estudos apontam a

ampliação da carreira e também outras formas de permanência na vida ativa e laboral após a

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

aposentadoria (citar). O cotidiano traduzia,

Figura 9: Baixa Chiado. Lisboa, outubro, 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

O diário de campo se compunha, contemplando elementos subsidiários essenciais para

a compreensão dos processos de envelhecimento. As visitas técnicas aos programas e

organizações, as participações em eventos sobre envelhecimento e políticas públicas (e foram

muitos os eventos em 2013, com efetivas contribuições após as discussões do Ano Europeu de

Promoção do Envelhecimento Activo e Solidariedade entre as gerações ocorrido em 2012) e

as leituras e discussões corroboravam os dados.

Portanto, o envelhecimento humano, um dos problemas centrais do século XXI e

também de Portugal, investigado por Cabral et all (2013) era corroborado no trabalho de

campo, exigindo elementos para aprofundar o “paradoxo do envelhecimento”. De um lado, o

envelhecimento é visto como fenômeno positivo - individual e coletivo; corroborado em

termos econômicos, sociais, biomédicos, nos quais as políticas públicas promotoras do acesso

universal aos cuidados de saúde são conduzidas, traduzindo o aumento da expectativa e vida.

De outro lado, este fenômeno do envelhecimento interage com a diminuição da taxa de

fecundidade.

Os usos do tempo, as redes sociais e as condições de vida compunham dados

importantes de estudo em processo de finalização na ocasião (CABRAL e COLS, 2013) eram

também confirmados no cotidiano, corroborando as evidências.

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Figura 10: Bairro Alto, Lisboa, março de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

Organismos internacionais - Organização das Nações Unidas - ONU, a Organização

Mundial de Saúde - OMS, a Comissão Europeia - CE e a Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Económico - OCDE preconizam diretrizes e orientações para a promoção

de hábitos saudáveis de envelhecer durante todo o curso da vida, visando a necessidade de

assegurar a inclusão social das pessoas à medida que envelhecem e garantir a participação na

vida coletiva. E a despeito de tudo, o meu desassossego me faz revisitar Pessoa (2013), pois

precisava também de inspiração poética para o enfrentamento deste processo. Meus colegas

do Instituto do Envelhecimento foram co-responsáveis deste processo, uma vez me acolheram

como Investigador Visitante e me incentivam a buscar elementos da mutideterminação do

envelhecimento em Portugal: o perfil e especificidades dos seniores em Lisboa e Portugal, as

redes interpessoais, as relações de apoio emocional, instrumental e de aconselhamento; a

participação social, as ocupações de tempos livres, saúde e bem estar, as possibilidades de

trabalho e ocupação do tempo livre, dentre outros temas afetos ao envelhecimento.

Nas entrelinhas dos estudos compartilhados e na vivência cotidiana de Lisboa muitas

informações e cenas me pungiram. Inúmeros foram os registros fotográficos. Confesso, que

quando iniciei estes registros não tinha muita clareza dos outputs. Ficava uma mescla do

desejo de manter o vivido em fragmentos da fotografia, registrar meu trabalho de campo ou

até mesmo fotografias para poder compartilhar com amigos minha estada em Lisboa.

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Figura 11: Exposição Fotográfica Freguesia São José, Lisboa, novembro de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

Ora finalizo, reacendendo expectativas de que as reflexões advindas deste processo

possam fomentar reflexões e novas estratégias de promoção do envelhecimento ativo.

Agradeço aos sujeitos registrados nas imagens, com o reconhecimento que apesar de

identidade manter-se “anônima e indizível”, fotografia permite-nos refletir sobre a

independência e da autonomia necessárias para o curso da vida, de forma tão especial quando

nos veem com velhos e quando assim também nos sentimos... Envelhecer é preciso,

envelhecer não é preciso.

Figura 12: Estação Metro Campo Grande, Lisboa, novembro de 2013.

Fonte: Acervo Pessoal do Autor

E mais uma vez, é na poesia de Pessoa que conduzimos o encerramento do presente

ensaio, de modo reflexivo e poético, compartilhando com o leitor uma vez mais a

complexidade – teórico e metodológica de refletir sobre o lugar da velhice na

contemporaneidade. Se estes evidenciam alguns dos lugares ocupados é preciso destacar que

são apenas alguns. Há outros lugares... visíveis ou não, acessíveis ou não, solitários ou

compartilhados... Velhos, idosos, sêniores, pessoas idosas, terceira idade... acomodados ou

desassossegados, como o poeta, outras pessoas buscam....

Mover-se é viver, dizer-se é sobreviver. Não há nada de real na vida que o

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não seja porque se descreveu bem. Os críticos da casa pequena soem apontar

que tal poema, longamente rimado, não quer, afinal, dizer senão que o dia

está bom. Mas dizer que o dia está bom é difícil, e o dia bom, ele mesmo

passa. Temos pois que conversar o dia bom em uma memória florida e

prolixa, e assim constelar de novas flores ou de novos astros os campos ou

os céus da exterioridade vazia e passageira. Tudo é o que somos, e tudo será,

para os que nos seguirem nas diversidades do tempo, conforme nós

intensamente o houvermos imaginado, isto é, o houvermos, com a

imaginação metida no corpo, verdadeiramente sido. Não creio que a história

seja mais, em seu grande panorama desbotado, que um decurso de

interpretações, um consenso confuso de testemunhamos distraídos. O

romancista é todos nós, narramos quando vemos, porque ver é complexo

como tudo. Tenho neste momento tantos pensamentos fundamentais, tantas

coisas verdadeiramente metafísicas que dizer, que me canso de repente, e

decido não escrever mais, não pensar mais, mas deixar que a febre de dizer

me dê sono, e eu faça festas como os olhos fechados, como a um gato, a tudo

quanto poderia ter dito. (PESSOA, 2013, p. 55-56)

Referências

BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.

BECKER, Howard Saul. (2009) Falando da Sociedade. Ensaios sobre as diferentes

maneiras de representar o social. Rio de Janeiro, Zahar, 2009.

CABRAL, Manuel Villaverde e cols (org). Processos de Envelhecimento. Lisboa, Portugal,

Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2014.

MARTINS, José de Souza. Sociologia da Fotografia e da Imagem. São Paulo, Contexto,

2008.

PEDRO, Wilson José Alves Estratégias de promoção do envelhecimento ativo através do

trabalho. Projeto de pesquisa. UFSCar, Brasil; Instituto do Envelhecimento, Instituto de

Ciências Sociais, Lisboa, Portugal, 2013.

PESSOA, Fernando Livro do Desassossego. Assírio & Alvim. Porto, Portugal, 2013.

WHO. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. World Health Organization; trad.

Suzana Gontijo. Brasilia, Organização Pan-America de Saúde, 2005.

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129

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Comunicação, economia política e sociedade mundial

de controle: complexidade e poder na

contemporaneidade

José Antonio Martinuzzo

Professor Doutor no Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades, na mesma instituição, do qual é

coordenador-adjunto. Lidera os grupos de pesquisa Laboratório de Comunicação e Cotidiano (ComC) e

Sociedade Midiatizada e Práticas Comunicacionais Contemporâneas.

Wagner Piassaroli Mantovaneli

Mestre em Comunicação e Territorialidades pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Graduado em

Comunicação Social (UFES) e Graduando em Direito (UFES). Pesquisador no grupo de pesquisa Sociedade

Midiatizada e Práticas Comunicacionais Contemporâneas, na linha de pesquisa Economia Política da

Comunicação.

Resumo

Objetivamos discutir como a análise da economia política, conjugada à análise dos sistemas

de comunicação, pode ajudar a entender a complexidade da formação de uma sociedade

mundial de controle, condição indispensável para a sobrevivência acadêmica frente ao tecido

complexo do real com o qual tem de lidar para criar efeitos positivos no campo da ação

social. As técnicas metodológicas utilizadas são análises bibliográficas de autores específicos

do campo da economia política da comunicação e da sociologia. Nossos resultados desvelam

a intricada complexidade que compõe a sociedade mundial de controle em termos de sistemas

econômico, político e comunicacional.

Palavras-chave

Sistemas de comunicação; Economia política; Sociedade mundial de controle; Comunicação.

Abstract

This paper aims to discuss how the political economy analysis joint a communication systems

analysis can help understand the complexity of global society of control, an indispensable

condition for academic survival given the complexity of reality which we have to deal with to

create positive effects in the social action structure. The methodological technique used is a

bibliographic analysis of particular authors of the political economy of communication field

and sociology. Our results unveil the intricate complexity that makes up the global society of

control in terms of economic, political and communication systems.

Keywords

Communications systems; Political economy; Global society of control; Communication.

Introdução

Aproximar-se do social é sempre uma difícil tarefa, pois envolve organizar o

complexo continuum do real com o qual devemos nos defrontar enquanto pesquisadores

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encarregados de providenciar à sociedade um conhecimento rigorosa e sistematicamente

fundamentado. Organizar essa complexidade é tarefa que irresistivelmente faz-nos debruçar

nas atividades de seleção e decisão entre opções metodológicas que comporão o método de

toda a pesquisa.

Com uma complexidade organizada em mãos, o pesquisador tem condições de

controlar as variáveis que conhece e promete relacionar. Caso contrário, estaria apenas

entregando o caos do real ou o senso comum àqueles que por ele são direta ou indiretamente

afetados. Junto a essa complexidade organizada, a forma com que conhecemos deve sempre

ser-nos consciente para que possibilite um conhecimento apto a se integrar nas discussões

acadêmicas e sociais de maneira profícua.

Nossa complexidade aqui se organiza de acordo com o entendimento do papel dos

sistemas no saber humano, que separam sua ordem da desordem do meio (LUHMANN,

2011). Na vida, o mesmo ocorre: “nosso mundo organizado é um arquipélago de sistemas no

oceano da desordem” (MORIN, 2013, p. 129). Deste modo, o humano faz parte de “um

sistema social, no seio de um ecossistema natural, que está no seio de um sistema solar, que

está no seio de um sistema galáctico”. Por sua vez, ele, o humano, é constituído de “sistemas

celulares, que são constituídos de sistemas moleculares, que são constituídos de sistemas

atômicos” (MORIN, 2013, p. 129).

Os sistemas atuam na organização do saber e na organização de toda a vida. Não há

como viver sem ordem. Não há como viver sem um poder instituído. Não há como não

conviver dentro de uma civilização. Os sistemas atuam para organizar as condições de

possibilidade em que a vida ocorre. Ao se fechar operacionalmente em si mesmo, como nos

ensinou Luhmann, o sistema consegue organizar seus elementos e probabilidades de relações

entre eles e, assim, reproduzir-se (autopoiesis). O mundo fora de um sistema tem um

gradiente muito maior de complexidade, uma complexidade com a qual o sistema só consegue

se relacionar no âmbito do ruído.

A economia política, ciência, assim como tantas outras, que organiza a complexidade a

seu modo, é uma disciplina que pode nos oferecer o entendimento do sistema social em seu

todo a partir da seguinte definição proposta pelo sociólogo Vincent Mosco (2009): economia

política é controle e sobrevivência em vida social. Controle é metáfora para os processos de

organização da complexidade interna do poder social, referindo-se, portanto à política (do

grego: polis, referindo-se à organização de uma cidade, nação, país, território). Sobrevivência

é metáfora para os processos de produção e reprodução social, isto é, como a sociedade e o

homem, por meio de sua própria produção, resultado do trabalho, consegue produzir a si

mesmo. O interessante que vamos notar é que ambos, sobrevivência e controle, imbricam-se

na realidade por meio da comunicação.

A comunicação também será tratada em termos de sistema. Ela é a operação básica de

uma sociedade, segundo Luhmann (2001; 2011), e que é capaz de tornar qualquer sociedade

apta a se observar e produzir-se continuamente. A comunicação se torna preposto da ordem

sistemática, servindo para criar e recriar a todo momento estruturas e processos econômicos

(observação dos preços) e políticos (observação da opinião pública).

Economia política: uma forma de conceber o social

Entendemos que devemos conhecer um objeto e ao mesmo tempo conhecer as

possibilidades e limites do saber que nos permite ter acesso à realidade do objeto. Assim,

afastamos o risco do que acusou Rosa Luxemburgo [s.d], em 1925, de que “por mais incrível

que possa parecer, é um fato que a maior parte dos especialistas em economia política apenas

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têm noções confusas sobre o verdadeiro objeto de seu saber” (p. 35). Desse modo, trataremos

primeiro de explicar o que é a economia política e como esse conhecimento pode, logo após,

ser atrelado a uma realidade formada por sistemas comunicacionais, que nos leva à uma

sociedade mundial de controle.

Para o estudo da economia política, Vincent Mosco (1996; 2009) elabora uma

definição ampla. Essa definição ampla – de economia política como controle e sobrevivência

na vida social – foi sugerida a Mosco por Dallas Smythe, uma das figuras fundadoras, junto a

Herbert Schiller e outros, da economia política da comunicação, em uma entrevista para a

primeira edição do livro de Mosco, The political economy of communication (1996).

A definição em sentido lato, que Mosco chama de “uma definição mais geral e

ambiciosa de economia política” (2009, p. 3), trata esta disciplina como “o estudo do controle

e sobrevivência na vida social” (p. 3). Junto a essa definição, o autor já delimita o que seria o

controle e a sobrevivência. São, primeiramente, metáforas para os processos políticos e os

econômicos (MOSCO, 2015) que, juntos, conformam a disciplina e que nos permitem um

alcance de sentido mais abrangente que na definição estrita. O controle significa

especificamente “como uma sociedade se organiza, conduz seus problemas e se adapta ou não

às inevitáveis mudanças que todas as sociedades enfrentam”. O controle, portanto, “é um

processo político porque molda as relações dentro de uma comunidade”. Sobrevivência, por

sua vez, significa “como as pessoas produzem o que elas necessitam para se reproduzir e

manter o andamento da sociedade”. Assim, sobrevivência “é principalmente um processo

econômico porque envolve o processo de produção e reprodução” (p. 3). A constituição mútua

de controle e sobrevivência é a tarefa mais interessante a se observar, isto é, como poder

social e reprodução social se imbricam.

Adicionalmente, segundo Mosco (p. 3), para descrever a economia política podemos

ampliar seu significado para além das definições mais comuns, realçando características

centrais que a caracterizam. Para isso, a economia política tem como pressupostos básicos: 1)

Entender a mudança social e a transformação histórica; 2) Examinar o todo social ou a

totalidade das relações sociais que conformam as áreas econômicas, políticas, sociais e

culturais da vida. Segundo Mosco, “a economia política sempre acreditou existir o todo de

uma sociedade e que nós deveríamos tentar entendê-lo” (p. 4). Mosco ainda vai mais longe ao

dizer que fazer uso do todo social não requer essencialismos ou reducionismos. “Na verdade,

como Marx e intérpretes do século XX como Gramsci e Lukács nos lembram, o pensamento

dialético nos leva a reconhecer que a realidade é compreendida de partes e do todo,

organizados na totalidade concreta de integração e contradição que constitui a vida social”

(2009, p. 31); 3) Ter o compromisso com a filosofia moral, isto é, procurar entender o dever-

ser na forma de valores, princípios e normas morais e legais capazes de constituir e também

mudar o comportamento social; e 4) Executar o pensar e o fazer em unidade, o que constitui a

ideia de práxis social.

Essas quatro características, portanto, colaboram para o entendimento da relação

controle-sobrevivência na vida social para além da própria definição, pois destacam

elementos que são pressupostos centrais da própria economia política. Assim, ao tempo em

que descrevemos a relação da distribuição de poder em uma organização social e de sua

reprodução, não devemos nos esquecer de que tal definição está atrelada à compreensão de

mudanças sociais, que se relacionam com um todo social, que processa mutuamente ser e

dever-ser e que, por isso, dá azo a uma práxis social.

Na conclusão de Political economy of communication, Vincent Mosco (2009) também

nos deixa claro algumas tendências para as quais a economia política da comunicação pode

ajudar a construir. Vemos no conceito de controle e sobrevivência um notável ponto de partida

para ajudar nessas tarefas, que são: 1) construir pontes com ajuda dos estudos da ciência e

tecnologia; 2) um projeto maior, que ajudaria a unir o amplo programa das ciências sociais e

Page 133: ECCOM 13 – Revista de Educação, Cultura e Comunicação.

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humanidades, das quais a economia política, os estudos culturais e estudos de política são

parte e o programa de ciências, principalmente a física, a química e a biologia, que se arroga

quase completa autoridade na vida intelectual de hoje. Obstruir essa separação, segundo

Mosco, é um desafio enorme, porém vital (2009).

Ora, tanto a primeira ponte, quanto a segunda, a economia política da comunicação

pode ajudar a construir a partir da definição da qual partimos aqui neste estudo, utilizando,

como complementação de sentido a perspectiva da complexidade de Edgar Morin, que nada

mais requer, dentre outros desafios, a religação de saberes hoje afastados na Academia,

sobretudo criando uma relação circular virtuosa, como diz, e não viciosa, entre física, biologia

e antropossociologia (p. 30-32, 2013).

A economia política da comunicação atinge um estágio ambicioso, como Mosco nos

coloca, se seguirmos essa tendência. A ideia não é, portanto, a de retomar perspectivas

antigas, mas de retornar a elas por um estudo crítico da epistemologia e da história das

ciências, e delas avançar nesse projeto de construção de uma economia política coerente com

a complexidade inerente ao conhecimento da vida desde sempre, e também desvelar truísmos

que a humanidade moderna inocentemente codificou por detrás de conceitos meteóricos e

também por conta de sua perplexidade ante a novidade do aparato tecnológico que

rapidamente construiu. Assim, é importante não só reestabelecer o conhecimento que

lentamente foi se acumulando, mas de expô-lo criticamente na forma de uma economia

política que dê conta da complexidade cada vez mais mistificada pela ignorância e pela

influência do pragmatismo decorrente da marcha de aceitação do poder econômico

(COMPARATO e SALOMÃO FILHO, 2014).

Para uma história da economia política, podemos sempre partir de dois pontos

comumente utilizados, conforme Mosco (2009): 1) Período da Grécia clássica, o que permite

um ponto de partida pela análise etimológica do termo; e 2) Período dos filósofos escoceses

da moral iluminista do século XVIII, culminando em Adam Smith. Não é difícil perceber que

em sua raiz grega a economia política que hoje discutimos na forma de ciência referia-se

àquilo que nos evidencia a etimologia da palavra economia, uma junção de oikos (casa,

ambiente, meio) e nomos (lei, organização, controle), isto é, a lei ou organização da casa, o

que requer pensar na complexidade de nossa sociedade, uma evolução que nos remonta à

organização política de toda uma economia, que deixa de ser familiar para ser controlada por

um estado. Política originou-se, por sua vez, do termo grego polis, para cidade-estado, “a

unidade fundamental da organização política no período clássico” (MOSCO, 2009, p. 23).

Economia política se origina, portanto, na organização da casa familiar e da casa

propriamente política. A etimologia nos atenta que o termo “economia política” nada mais é

que o estudo de uma economia adjetivada por características políticas, isto é, a organização de

um meio politizado.

Aristóteles é certeiro, no início de seu opúsculo Econômicos (2011), ao nos dar uma

síntese do que discutimos como economia e política, a partir de uma diferença básica: “a arte

de administrar uma casa e a de administrar uma polis diferem entre si não apenas na medida

em que a casa e a polis também diferem (uma vez que aquela é o fundamento desta), mas

ainda no fato de a administração da polis envolver muitos governantes e de a administração

doméstica depender somente de um” (p. 5, 2011).

Unindo à análise da etimologia do termo, podemos encontrar uma associação a um dos

pilares do Iluminismo, no qual se baseavam a economia política clássica: a visão de

racionalidade de Descartes (MOSCO, 2009, p. 38). Descartes é fundamento, como diz Morin

(2010; 2011; 2013), de toda uma ciência que dissocia res extensa e ego cogitans, que busca

esforços de uma objetividade como que separada da interferência do sujeito pensante. É obvio

que a economia política clássica, derivada desse paradigma cartesiano, não poderia ser outra

em suas primeiras figuras, com destaque para Adam Smith. As preocupações dessa economia

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política giram muito mais em torno de um equilíbrio social por meio de um mercado de livre

conduta, o qual, pela concorrência acirrada de seus constituintes, trataria naturalmente de se

autorregular. A influência cartesiana na economia política continuou com as tentativas de

fundamento da economia enquanto ciência, principalmente na obra Principles of Economics

(1890) de Alfred Marshall. Assim, a economia normativa preocupar-se-ia apenas com

questões de ordem puramente econômica, descrevendo forças em equilíbrio. “Em resumo”,

escreve Mosco (2009, p. 48), “a legitimidade matemática e científica veio com um preço

substancial: deixou de lado a economia política e a integração de história, todo social,

filosofia moral e práxis dentro de um significado de pesquisa e vida intelectual”.

Ao contrário da visão dialética e crítica de Marx da economia política clássica, essa

visão estática tendeu a afastar a história para tratar das mudanças sociais e a tornar, cada vez

mais, a economia uma ciência matemática, que buscasse uma objetividade científica, acima de

quaisquer outras características (MOSCO, 2009). Um retorno da análise da economia política

nos dias de hoje, no âmbito marxiano e marxista, pode ser interpretado como uma tentativa de

retorno do sujeito e suas reflexões críticas na ordem objetivista das ciências.

Sobrevivência e controle retomam o conceito de história e trabalho de Marx, no

sentido de que não há reprodução social sem a organização do poder social; e essa

organização implica uma organização do trabalho social para que possa ser controlada. A

história, para Marx, “significava, acima de tudo, como as pessoas produzem a si próprias por

meio do trabalho” (MOSCO, 2009, p. 42). Nossa visão de trabalho está aqui inclusa na visão

de processamento de energia e matéria para constituição de uma organização social. Neste

sentido, não se diferencia substancialmente da de Marx, entendendo que a sobrevivência na

vida social se dá principalmente na economia social como um processador de matéria, energia

e consequentemente informação, o que possibilita a produção e a reprodução social,

construindo um curso histórico sob o qual, vale sempre lembrar, não tem uma finalidade em

si, mas no qual os homens podem interferir e prever circunstâncias futuras a partir do controle

e da comunicação que circula em sociedade. Assim, lembrando célebre passagem de Marx em

O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, “os homens fazem a sua própria história; contudo, não

a fazem de livre e espontânea vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob

as quais ela é feita, mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram”, e, portanto,

o passado torna-se um problema constante para aqueles que desejam sobreviver, e isso inclui

previsão sobre a insegurança que aguarda o futuro: “a tradição de todas as gerações passadas é

como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos” (MARX, 2011, p. 25).

O sistema de comunicação

Há quem diga que a comunicação é o ponto cego do marxismo ocidental (SMYTHE,

1977). A modernidade está baseada numa constante observação da observação, ou cibernética

de segunda ordem, de modo que esse ponto cego circula sem que sua materialidade seja

apontada. Os sistemas político e econômico têm suas formas de observação de segunda

ordem, para se proteger da complexidade e da contingência. Daí as tarefas de observar a

opinião pública e o sistema de preços para ambos sistemas, respectivamente, serem primordial

à sobrevivência (reprodução) mútua. Se a observação da observação da modernidade

evidencia a existência de um ponto cego, este obviamente não se trata de um ponto

literalmente, mas de um sistema informacional e comunicacional que permite aos sistemas

verem a si próprios. Como observar os preços e a opinião pública? Uma resposta é visível:

pelo controle informacional e comunicacional. Por esse motivo, a informação e a

comunicação não devem ser tratadas como entes abstraídos do mundo material, nem sequer

devem ser consideradas abstrações, pois não existem sem controle e este requer uma

materialidade onde são possíveis os fenômenos comunicacionais. Assim, a revolução da

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informação não é uma revolução na informação, mas, antes, uma revolução no controle, no

modo de processar matéria. A informação, portanto, “só adquire sentido dentro de um

contexto particular (...) do contrário, a informação não possui sentido; é indiferenciável do

ruído” (MULGAN, 1991, p. 10). Uma sociedade da informação é sempre, também, uma

sociedade do controle, onde o propósito é o de controlar por meio da obtenção de informação

a partir de uma dada materialidade. Entretanto, uma sociedade do controle põe logo a questão

de início: quem programa? quem dita a lógica? quem controla? Há uma reprodução milenar de

um sistema de classes e, se ainda existe, é porque seus propósitos estão sendo alcançados

continuamente. O sistema comunicacional é o ponto cego1.

Robert McChesney (2008) enfatiza e explica o papel do sistema de comunicação nas

sociedades modernas. Para ele, “é axiomático em quase todas variantes de teoria política e

social que o sistema de comunicação seja o pilar das sociedades modernas”. Em termos

políticos, “o sistema de comunicação pode servir para elevar a democracia, ou para negá-la,

ou alguma combinação dos dois”. Em termos econômicos, “o sistema de comunicação surgiu

como uma área central para fins lucrativos em sociedades capitalistas modernas” (p. 305). A

relação disso tudo junto, que é o que fazemos aqui em termos de controle e sobrevivência, é

enfatizada por McChesney (2008) ao dizer: “um grande esforço de pesquisa é, portanto,

realizado para avaliar a relação de comunicação enquanto uma atividade privada com os

mais amplos e necessários deveres políticos e sociais que também são operados pelos

mesmos sistemas de comunicação” (p. 305-306). Para McChesney, esse é um ponto central e

recorrente nos estudos de mídia. “A vida dupla do sistema de comunicação, de uma só vez o

pivô da economia global emergente e também um alicerce da democracia política, constitui a

tensão vital no cenário mundial” (2008, p. 306). Essa relação da economia global

contemporânea e da democracia política já é uma materialidade de onde podemos deduzir a

definição de controle e sobrevivência em vida social atrelando o ponto cego: o sistema de

comunicação, no qual se baseiam tanto política (organização interna do poder de controle) e

economia (reprodução social). O sistema de comunicação, apontado por McChesney, é o

mesmo que “compreende as bases institucionais indispensáveis para a deliberação social –

discussão, debate e tomada de decisão – para além dos fóruns de elite” (2008, p. 336). A

dualidade do papel do sistema de comunicação na reprodução social é essencial, portanto,

para ligar economia e política em uníssono.

De la Haye destaca que “durante o desenvolvimento do modo capitalista de produção,

o sistema de comunicação, que não era mais do que um fenômeno periférico e desorganizado

na sociedade feudal, tornou-se um elemento central” (1979, p. 16). Os meios de comunicação

não passam a ser apenas fatores na circulação de mercadorias e de manutenção da indústria

moderna, mas o seu papel passa a ser também como “a condição geral de aparecimento da

figura de um novo homem: o capitalista” (DE LA HAYE, 1979, p. 25). O nascimento de um

mercado mundial do qual o capitalista seria a base dependeu de mudanças no processo social

de produção e reprodução, das quais participavam os meios de transporte (ferrovias) e

comunicações (telégrafo), mas também a presença inconteste do Estado no estabelecimento

dessas condições gerais de produção. O Estado serve à burguesia em vários motivos, com o

uso de sua autoridade para regular salários, coordenar a transformação dos modos de troca e

também “para gerir contradições decorrentes do desenvolvimento desigual dentro da

formação social” (DE LA HAYE, 1979, p. 43). Não é uma questão apenas de um interesse de

1 Apesar da acusação de Smythe de a doutrina marxista não ter se preocupado com a comunicação do modo devido, há autores marxistas que enfatizam o elemento comunicacional em Marx. Um exemplo é o Professor Christian Fuchs, quem já possui um trabalho extenso que

relaciona marxismo e comunicação. Um dos artigos em que trata diretamente sobre o assunto é “Some theoretical foundations of critical

media studies: reflexions on Karl Marx and the Media”. O subtítulo é sugestivo e visa a combater a visão de alguns autores em dizer que Marx não tinha nada a nos oferecer sobre o assunto das mídias, da comunicação e da cultura. Muito pelo contrário, o argumento central de

seu artigo é de que “Marx deveria ser considerado como uma das figuras fundadoras dos estudos críticos de comunicação e da mídia e que

seus trabalhos podem ser aplicados hoje em dia para explicar fenômenos como a comunicação global (...)” (FUCHS, 2009, p. 269). Um outro

importante exemplo de trabalho já existente sobre a relação da obra de Marx e Engels e a comunicação é o de Yves de la Haye – Marx &

Engels on the means of communication (1979), que trataremos neste artigo.

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classe que dirige o Estado, mas de interesse ao próprio Estado nos meios de comunicação e

transporte. O Estado, como de la Haye coloca, é agente para criar o consenso necessário para

a hegemonia, “como um agente que coagula a formação social dentro das fronteiras

nacionais” (1979, p. 43). A questão comunicacional é interessante, em termos de soberania,

inclusive, pois também diz respeito à administração de seu território, de suas forças armadas,

de sua polícia, inteligência (DE LA HAYE, 1979). A comunicação passa a ser também uma

utilidade pública na medida em que não só conduz a vida dentro de um território, mas também

é fator essencial para decidir sobre a continuidade dessa vida em um território, principalmente

em momentos de guerra, onde a defesa da soberania e da população correm risco. Podemos

observar que inventos importantes da comunicação também surgem em momento de guerra,

impulsionados pelo investimento em pesquisa e desenvolvimento estatal. O Estado, em

momentos de crise, é quem carrega a legitimidade sobre o monopólio da força e precisa

utilizar essa força não só para manter a coesão da produção e reprodução sociais, mas também

a defesa e controle de seu território e territorialidades2.

Para de la Haye, “as forças armadas, de um lado, e a indústria, de outro, devem ser

considerados as matrizes históricas reais do setor da comunicação” (1979, p. 46). E esta

afirmação nos basta para perceber, mais uma vez, a relação de mútua constituição de controle

e sobrevivência e o papel do sistema de comunicação. Assim, a comunicação não pode ser

simplesmente “resumida como uma vasta superestrutura industrial”. A “‘comunicação’ como

uma atividade social compreende o conjunto de formas sociais pelas quais as relações sociais

são expressas, materializadas e modificadas”; a “comunicação estabelece a moldura, os

limites e as implicações dessas relações sociais, seja lá uma questão de nações, classes,

mercados ou impérios” (DE LA HAYE, 1979, p. 55). Essa afirmação complementa, portanto,

a noção de comunicação de Luhmann (2006; 2011), um sistema fechado que produz a si

mesmo e operador central do sistema social. A autopoiesis do sistema comunicacional se

confirma na materialidade do sistema social, que possui múltiplas formas responsáveis, como

diz de la Haye (1979), a dar expressão, materialidade e a modificar as relações sociais. A

comunicação é uma atividade social que estabelece os próprios limites dessa atividade. Uma

economia política da comunicação, como dissemos, deve relacionar poder e reprodução

sociais por meio desse sistema autopoiético: a comunicação social. A comunicação,

pensamos, deveria não ocupar o lugar, mas ter considerado um grau de relevância equiparado

ou, talvez, maior que os estudos de ideologia, seguindo a esteira de la Haye: “‘comunicação’

enquanto uma atividade social não pode ser restringida à pura ideologia, ao comércio de

mensagens ou às relações individuais e sociais, como faz a dominante sociologia da

comunicação” (1979, p. 55).

Luhmann nos possibilita pensar a sistemicidade das operações comunicacionais, o que

pode complementar a ideia de mútua constituição entre economia e política de Mosco.

Atentando à cibernética de um sistema autopoiético, que sobrevive na clausura para diminuir

a complexidade do mundo, Luhmann, para construção de uma teoria dos sistemas sociais,

partiu da comunicação como operação fundamental para que esse sistema exista. A

comunicação de Luhmann “é uma realidade emergente, uma situação sui generis” (1992, p.

252). A comunicação, como uma “situação sui generis”, não há de ser confundida, portanto,

com o sistema psíquico humano, onde opera a consciência. Sistemas social e psíquico, assim,

são coisas, apesar de suas relações na realidade fática, diferentes. Este último está ligado à

operação da consciência e aquele primeiro, o social, às operações de comunicação. Há um

entendimento corrente de que são indivíduos ou sujeitos que comunicam. Como uma situação,

a comunicação não pode estar ligada ao ato de um indivíduo, pois trata-se de um sistema em

sua complexidade, em primeiro lugar. Dessa maneira, o conceito de comunicação não é

atribuído à ação individual, a qual faz parte da realidade comunicacional, mas não pode ser

2 Territorialidade, para Soja (1971, p. 19), “é um fenômeno comportamental associado a organização do espaço em esferas de influência ou

territórios claramente delimitados que são feitos distintos e considerados ao menos parcialmente exclusivos por seus ocupantes”.

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encarada como aquela que comunica. Nesse sentido, para Luhmann, somente a comunicação

pode comunicar e é somente dentro dessa rede de comunicação que está o que entendemos a

ação criada. A comunicação é assim um sistema de complexa organização. Se fôssemos

definir apenas a comunicação enquanto realidade emergente, a definição de Luhmann nos é

esclarecedora: “a comunicação surge por meio da síntese de três seleções diferentes, a saber,

seleção de informação, seleção de expressão ou modo de emissão (utterance) dessa

informação e seleção do entendimento ou desentendimento dessa expressão ou da

informação” (1992, p. 252). Esses três componentes só podem criar comunicação em sua

síntese e não separados. Assim, a seleção da informação em conjunto com a seleção do modo

de expressá-la e do decorrente entendimento ou desentendimento dessa informação, ou de seu

modo de expressar, constituem a síntese que faz emergir a comunicação enquanto situação

complexa. A comunicação ocorre, portanto, “somente quando a diferença de expressão e

informação é entendida”, e isso quer dizer que comunicação é diferente da mera percepção do

comportamento dos outros. Ambos, o comportamento expressivo e a informação, apenas

formam a situação comunicacional, pois “são experimentados como seleção e, por esse modo,

distinguidos” (LUHMANN, 1992, p. 252). “Em outras palavras”, resume Luhmann, “alguém

deve ser capaz de assumir que a informação não é auto-compreendida, mas requer uma

decisão separada. Isso também é verdade quando o enunciador enuncia algo sobre ele

mesmo”. Assim, “enquanto essas distinções não são feitas estamos lidando apenas com mera

percepção” (LUHMANN, 1992, p. 252). A distinção de percepção e comunicação é sempre

necessária ser feita para o entendimento da definição de Luhmann: “o que alguém percebeu

não pode ser confirmado nem repudiado, ou questionado nem respondido. A percepção

permanece fechada dentro da consciência e opaca ao sistema de comunicação assim como

para outra consciência” (1992, p. 253). Um sistema de comunicação é, para Luhmann, “um

sistema completamente fechado que cria componentes dos quais ele surge por meio da própria

comunicação”. Nessa visão cibernética de comunicação, Luhmann quer nos dizer que a

comunicação é um sistema autopoiético e que não existe informação nem controle fora desse

sistema de comunicação. Assim, as atividades de processamento de informação, comunicação

mútua e controle são possíveis de serem separadamente descritas, mas em Beniger (1986)

veremos que todos os sistemas vivos mantêm os três inter-relacionados, sendo que um não

existe sem o outro. A visão de Luhmann é estritamente voltada ao sistema social e não aos

sistemas vivos de uma forma geral, daí sua ênfase na comunicação como a situação ou a rede

de onde a informação e o controle são possíveis existir. Seja lá o que for que os participantes

desse sistema entendem no fechamento de suas consciências, “o sistema de comunicação

elabora seu próprio entendimento ou desentendimento. E, para esse propósito, ele cria seu

próprio processo de auto-observação e auto-controle”. O processo de entendimento ou

desentendimento é uma condição de autopoiesis do próprio sistema, pois é pelo entendimento

ou desentendimento que há uma conexão com comunicação posterior dentro do sistema de

comunicação (LUHMANN, 1992, p. 253). Quem quer que seja pode comunicar sobre

entendimento, não compreensão ou mal-entendido, mas dentro das condições de autopoiesis

do sistema de comunicação (LUHMANN, 1992). Mesmo quando alguém diz não entender, a

comunicação procura resolver o problema por intermédio dela mesmo, uma comunicação

sobre a comunicação.

Comunicação, que enlaça em um sistema as três seleções – informação, expressão e

entendimento –, não pode ser também considerada simplesmente uma transmissão de

mensagens, informações ou expectativas de compreensão (LUHMANN, 1992, p. 254). A

seleção (e o fluxo comunicacional decorrente) é, portanto, uma situação emergente da própria

comunicação, não podendo se falar, inclusive, de comunicação fora da comunicação. Com a

criação de sistemas de processamento de informação, seja pela invenção da escrita, ou seja

pela invenção da imprensa, do telégrafo, do rádio, da televisão, do computador etc., a

formação desse sistema autopoiético só se tornou mais complexo com grande consequência

para a estrutura social, para a semântica, para a linguagem (LUHMANN, 1992). Assim, a

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própria seleção da qual depende a atividade comunicacional é afetada pela própria

comunicação. As escolhas da informação, da expressão dessa informação e de seu

entendimento (ou não) são afetadas pela situação comunicacional do sistema. Assim, como

um sistema fechado, a comunicação produz a si própria (autopoiesis), produzindo e

reproduzindo tudo que funciona como uma unidade para o sistema por meio do próprio

sistema. Neste momento que a crítica deve entrar, ao analisar quem tem maior influência

sobre esse sistema que produz e se reproduz e se esse sistema está de acordo ou não com

determinados valores sociais. Assim, a produção da comunicação por ela mesma depende de

um meio e de restrições desse meio para ser efetivada (LUHMANN, 1992). Um crítico pode

entrar e perguntar: mas quem impõe as restrições, quem controla o meio? Essa, todavia, é

tarefa que distingue Luhmann ao fazer sua teoria dos sistemas sociais.

Sejam quais/quem forem seus elementos, o sistema de comunicação, por ele mesmo,

em sua autorreferência, cria seus próprios elementos e estruturas. Assim, “o que não é

comunicado não contribui nada para o sistema” (LUHMANN, 1992, p. 254), sendo visível

que a falta de quaisquer uma daquelas seleções que definem a comunicação não gera

comunicação. Assim, na torrente informacional que invade a sociedade da informação, é fácil

entender que a confusão, o ruído e o caos dentro da ordem das estruturas dos sistemas sociais

(econômicas e políticas) surgem em algum momento pela não-seleção e, portanto,

descontinuidade do processo comunicacional que só pode ser revertida se a seleção for feita,

isto é, se a diferença se realizar. Daí a importância da troca de sentido dentro de uma

sociedade, para reforçar a ordem social pela própria comunicação que a produz e que a

reproduz. O sistema social produzido e reproduzido pelo da comunicação, entretanto, é

processado pelas operações comunicacionais até que encontre os limites para o

processamento, que devem ser resolvidos pela própria comunicação, pondo em relação

recursiva ordem e desordem. A não resolução do limite comunicacional implica a morte do

sistema social, o que, entretanto, não nos aconteceu até hoje, como veremos com a Revolução

do Controle, de Beniger (1986). A dificuldade do sistema em se comunicar, devido à expansão

social levada pela industrialização, tanto no âmbito político como no econômico, foi resolvida

pela própria comunicação, por novos meios de processamento de informação (burocracia e

racionalização) e feedback (marketing, pesquisa de mercado, técnicas de recenseamento,

sondagem de opinião etc.).

A sociedade mundial de controle

O conceito de Sociedade de Controle foi posto por Deleuze (2013) em seu Post-

scriptum sobre as sociedades de controle e desenvolvido mais a fundo por Hardt (1996) e

também Hardt e Negri (2000). Alguns preferem tratar essa sociedade em termos de vigilância

(LYON, 2011; BAUMAN, 2013), mas consideramos a palavra controle com maior

profundidade teórica, de acordo com o que já vimos na biologia, na cibernética, na sociologia,

na filosofia etc. Continuando o pensamento de Foucault (1998; 2015) sobre as sociedades

disciplinares, e lembrando Burroughs, Deleuze trouxe ao conhecimento a crise generalizada

institucional de espaços tradicionais de construção subjetiva como a escola, a família e a

fábrica. É como se “os muros das instituições” estivessem “desmoronando”. Portanto, sem

barreiras rígidas ou restrições, a livre circulação do poder hegemônico global tem a habilidade

de ser ubíquo e, portanto, o controle sobre o comportamento. As instituições passam a estar

constantemente se corrompendo. Esta característica que as torna muito próximas do que quer

a mais complexa fase do capitalismo: sua habilidade de se esfacelar, pois sem essa

flexibilidade o poder de controle social não se torna efetivo. O dispositivo de construção

subjetiva do indivíduo controlado por uma sociedade mundial de controle só pode ser aquele

em que as comunicações estejam presentes vinte e quatro horas por dia. Assim, o tempo livre

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do trabalhador é também tempo de trabalho. No seu próprio lazer, o indivíduo tem seu

comportamento registrado, avaliado e alimentado na grande máquina. Isso é simples de ver

com a utilização da propaganda massiva, tanto por governos quanto por mercados, e também

outros elementos simples de estímulo da demanda social e retorno comportamental como as

pesquisas de mercado, as relações públicas. Verdadeiras indústrias da consciência, como

lembrou Dallas Smythe (1977).

Deleuze, para retratar a passagem da disciplina ao controle, equipara os dois

momentos respectivamente, aos “túneis estruturais da toupeira” e às “ondulações infinitas da

serpente”, fazendo referência aos moldes pré-definidos da disciplina e à modularidade

reajustável do controle. Tal metáfora se refere basicamente às novas ferramentas de

realimentação do poder social. O espectro eletromagnético, por exemplo, que é o que nos

mais remete às ondulações infinitas dessa serpente, para não causar abstrações exageradas,

passa a ser um elemento de disputa com a invenção do rádio, tanto pelo Estado, como pelo

mercado. Ora, o controle desse elemento ubíquo, nada mais é que o controle sobre a

informação em momentos de guerra que põem em risco a soberania estatal e o controle sobre

a demanda para o mercado. A família e a fábrica não podem dar mais contas sozinhas, em

seus muros, de uma demanda de controle global. A família e a fábrica tradicionais precisam se

corromper o máximo possível para dar lugar ao controle ubíquo da população e das

demandas, que precisam ter suas subjetividades produzidas e reproduzidas no mesmo ritmo da

expansão populacional e industrial.

O mercado mundial, os Estados e suas ligações a instituições transnacionais formam

hoje instâncias globais que ditam a nova ordem mundial. Elas surgem, em sua maioria, dos

Estados Unidos. Chega-se ao império, após a crise do imperialismo colonialista, conforme

Hardt (1996). O poder não possui mais limites claros e não respeita fronteiras, mas possui

origem material bem clara: os países industrializados e detentores de know-how e tecnologias

de ponta. A fluidez exigida pelos mercados na contemporaneidade solapou a concepção da

“soberania moderna”. A delimitação de locais é substituída por fluxos que não permitem

mais, segundo Hardt, estabelecer os contornos de um espaço “de fora”. O dentro e o fora cada

vez mais se tornam hibridizados e confusos. A construção das civilizações, agindo

constantemente sobre a natureza humana, reprimindo seus instintos em nome da ordem,

alcança seu ápice nessa nova era. A artificialidade da ordem civil chegou a um extremo onde

o natural não é mais reconhecido, pois se hibridiza com a estrutura que foi construída pelo

humano. É como que se anunciassem o fim da natureza, para Hardt. Entretanto, nosso

trabalho, ao passo que é uma descrição de uma Sociedade de Controle, é também uma

alternativa a ela pelo estudo de sua complexidade e da compreensão de sua necessidade para

que uma consciência possa de fato efetuar mudanças na realidade social.

Hardt também nos informa sobre a privatização dos espaços tidos antes como

públicos. Há aí também uma evidente tendência à hibridização ou de quase eliminação do

“fora”. Por isso, entende-se que há um déficit do pensamento político na sociedade de

controle. Separar, portanto, “um dentro de um fora – o natural do social, o privado do

público” é tarefa complexa no abstracionismo da sociedade de controle. Mulgan (1991, p.

243-261), nesse sentido, leva-nos a repensar o que seria o controle público e a ideia de

“interesse público”, especialmente em um contexto democrático. Se a comunicação é privada

e pública ao mesmo tempo e se subjuga ao processamento social de reprodução, qual o espaço

ético a ser buscado? O espetáculo de Debord, utilizado pela mídia hodiernamente, é nada mais

que estratégia que desemboca nas fusões pós-modernas, onde o mercado se confunde com a

cultura (JAMESON, 2001).

O “fim da história”, em Fukuyama (apud HARDT, 1996), introduz o reino da paz. Isso

porque não cabe mais à potência soberana confrontar diretamente o “fora”. A ideia é de

extensão de seus domínios não mais pela força, mas pela persuasão. O “lugar da soberania” é

indistinto e o soberano se impõe difusamente. Na arquitetura do poder panóptico foucaultiano,

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a disciplina mostrava sua estrutura. Na sociedade controlada, o mercado mundial instala seu

poder de tal forma que não mais é possível conceber seu lugar e sua estrutura. “O planeta

inteiro é seu domínio” (HARDT, 1996, p. 361). Assim, não existe algo que possa ser chamado

de espaço de “fora” para o mercado mundial, tal como existia para o poder na era

disciplinada. “Nesse espaço liso do império, não há mais lugar do poder: ele está em todos os

lugares e em nenhum deles. O império é uma utopia, ou, antes, um não-lugar” (HARDT,

1996, p. 362).

A não existência de um fora deve ser interpretada como a crescente sistemização das

sociedades em torno de um mercado mundial. Deve-se tomar muito cuidado, pois a falta de

conhecimento do que é um sistema, pode levar um a achar que a não existência do fora é uma

realidade. Mas não é. O que o sistema faz é fechar-se operacionalmente para reduzir

complexidade e controlar. Durante essa operação contínua, que envolve o processamento de

informação e comunicação mútua, os sistemas processam também ruídos, caos. Estes são

informados por feedback e os limites reajustados de acordo com o conhecimento deles pelo

sistema. Esse sistema cibernético não se iguala a uma máquina fechada, pois diz respeito à

complexidade social. A realidade social é um jogo de reprodução que encontra, para tal

finalidade, conflitos que determinam os próprios limites dessa reprodução e que são

resolvidos para que o sistema não morra. Dizer que não existe um fora, é uma visão

unicamente que parte do ponto de vista interior ao sistema, mas que não diz respeito à

realidade complexa.

As estratégias do poder na era controlada evidenciam sua realidade amorfa e moldável.

São estratégias de reorganização de empresas, por exemplo, na concepção de um mercado

mundial que trarão à mostra esse “não-lugar”. A descoberta ou a ilação do caminho do poder

contribui para evidenciar as diferenças entre era disciplinar e era do controle e, ainda,

contribui para afastar a ideologia persuasiva que a todos cega. A “desdiferenciação” entre o

dentro e o fora, para usar terminologia de Jameson (2001), na sociedade de controle, não

obstante, vem interferir diretamente na construção da subjetividade dos indivíduos. A fluidez

que diluiu as barreiras entre instituições provoca uma intensificação do contato dos indivíduos

com elas e, consequentemente, uma intensificação na produção de subjetividades. Segundo

Hardt, o lugar de cada instituição foi estendido a todo campo social. Disso se depreende que

os indivíduos não deixam de participar das instituições, mas se perde a limitação que era

inerente a todas elas.

A relação das desregulamentações institucionais com o capitalismo é essencial para

explicar o mundo em que vivemos. “Assim como o capitalismo, quanto mais elas [as

instituições] se desregram, melhor elas funcionam” (HARDT, 1996, p. 369). A lógica do

capitalismo está em seu esfacelamento ou corrupção, como nos mostra Hardt. É se

aproveitando da corrupção da subjetividade, portanto, que o capitalismo se aperfeiçoa. O

controle é, assim, uma intensificação e uma generalização da disciplina, em que as fronteiras

das instituições foram ultrapassadas, tornadas permeáveis, de forma que não há mais distinção

entre fora e dentro. Dever-se-ia reconhecer que os aparelhos ideológicos do Estado também

operam na sociedade de controle, e talvez com mais intensidade e flexibilidade do que

Althusser jamais imaginou (HARDT, 1996, p. 369).

A sociedade de controle, consoante conclusão de Hardt (1996), conforma um “ponto

de chegada” do capitalismo. Há a constituição de uma nova “axiomática social” que

contempla uma “soberania propriamente capitalista”. Chega-se, logo, à sociedade

genuinamente capitalista que Marx definiu como “sociedade da subsunção real” (apud

HARDT, 1996, p. 372). É de grande importância, portanto, sublinhar o que esclarece Dênis de

Moraes (1998, p. 251). A diversidade de ofertas e os grandes fluxos de informação

proporcionados pela era digital contribuem para modificar a lógica entre mídia e público. O

que existe de diferente entre a mídia atual da mídia pré-digital, com relação ao controle, é que

hodiernamente não se pressupõe uma atuação disciplinar clássica, baseada na coerção. “A

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antiga disciplina era de longa duração, infinita e descontínua. As novas práticas de controle

social passam a ser de curto prazo, com rotação rápida e contínua” (MORAES, 1998, p. 251).

Embora o modelo disciplinar clássico não desapareça, aquele que impõe a informação,

justamente por saber que esta emana dele e apenas dele, o modelo atual de controle social,

segundo Moraes, conduz essa disciplina através de “modelos discursivos, fluidos e

sugestivos”. É uma (aparente) contradição perigosa que emerge nessa nova era: de um lado

megacorporações condicionando o mercado simbólico; de outro, a (aparente) diversidade de

oferta de informação.

James Ralph Beniger (1986), procurando compreender a centralidade da informação

para a vida material dos dias de hoje, já inicia sua grande obra – The Control Revolution – nos

convidando a pensar o porquê, como já demos sinal anteriormente, dentre as muitas coisas

que os seres humanos valorizam, de a informação ter sido aquela que dominaria as maiores e

mais avançadas economias do mundo. Por que agora os computadores, as máquinas

cibernéticas, que processam informação? A informação não haveria de se tornar bem e serviço

à toa. Simplificando: por que informação? Por que agora? Resposta: Por conta de uma

revolução na forma de o controle social operar. Isto é, a Revolução do Controle se trata de

“um complexo de rápidas mudanças nos arranjos econômicos e tecnológicos pelos quais a

informação é coletada, armazenada, processada e comunicada e pelos quais decisões

programadas ou formais podem afetar o controle social” (p. vi). A história apenas, sozinha,

argumenta Beniger (1986), não consegue explicar porque é a informação que passa a ser tão

crucial à economia e à sociedade. O cérebro mecânico que operaria e controlaria esse novo

processo de informação na era da cibernética só existe por conta da centralidade dada à teoria

da informação. Isto é, matéria não se confunde com informação, mas uma depende da outra.

“O cérebro mecânico não secreta pensamento ‘como o fígado faz com a bílis’, tal como

pretendiam os primitivos materialistas, nem o externa sob a forma de energia, como o

músculo externa sua atividade”. Assim, “informação é informação e não matéria ou energia.

Nenhum materialismo que não o admita pode sobreviver hoje em dia” (WIENER, 1970, p.

171). O caminho descrito pela cibernética para pensar um “cérebro mecânico” abriu outros

para pensar os mesmos processos em todos os sistemas vivos, o que faz com que a

informação tenha sua contrapartida e fundamento de validade naquilo que há de mais

complexo nas ciências: a própria vida. A resposta, assim, deve ser buscada “na natureza de

todos sistemas vivos – em última análise, na relação entre informação e controle” (BENIGER,

1986, p. vi). A razão disso é simples e complexa ao mesmo tempo: a vida já implica controle,

em células e organismos, não menos do que em economias nacionais ou qualquer outro

sistema finalista (purposive system) (BENIGER, 1986, p. vi).

Sociedades são sistemas de processamento de matéria e esse papel se tornava mais

claro na medida em que a Revolução Industrial aumentou o ritmo e a velocidade com as quais

a matéria se tornava processada. Houve um momento em que a necessidade de um

processamento mais rápido ultrapassou as possibilidades humanas, sendo necessários novos

avanços econômicos e tecnológicos com vistas em se criar ferramentas propícias ao

processamento daquilo de que sempre precisou a vida: informação. A razão da informação

também é clara: a necessidade de controle se tornou cada vez maior. Controle sempre gera

controle e, nisso, a velocidade para controlar ultrapassou o ritmo humano nos momentos

próximos e posteriores à Revolução Industrial, necessitando de extensões para controlar o

próprio controle e, como consequência, para processar informação e comunicação. Entender a

economia da informação em expansão como meio de controle parece ser apenas um modo

diferente de olhar as coisas. Apesar disso, as pretensões de Beniger são maiores: propor uma

síntese dos conhecimentos parcelares sobre as sociedades de informação, trazendo todas as

verdades produzidas dentro de outras que abarquem o todo (p. VIII). Assim, criamos uma

série de teorias com termos diferentes (Sociedade de controle, Sociedade do conhecimento,

Sociedade pós-fordista etc.) que, a fundo, referem-se a uma verdade em comum: necessidade

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de controle, daí a Revolução do Controle. Controle tem raízes no biológico, no físico e no

antropossociológico, compondo um pondo de partida importante para realização de um

pensamento complexo, conforme proposto por Morin (2013). O termo “revolução”, explica

Beniger, é um termo emprestado da astronomia que somente apareceu no discurso político na

Inglaterra do século XVII, referindo-se à “restauração de uma forma prévia de governo”,

sendo somente com a Revolução Francesa que a palavra ganhou um significado oposto até

hoje utilizado: “de mudança abrupta e frequentemente violenta” (1986, p. 7). No estudo de

Beniger, esse cuidado com a etimologia implica dizer que seu trabalho encara a palavra

revolução na combinação dos dois sentidos, não somente no popular, pois a Revolução à qual

Beniger se refere também tem seu sentido de restabelecimento de uma ordem que se

encontrava em crise – é o que ele chama de “crise do controle”, iniciada com a Revolução

Industrial e que levou mais tarde à Revolução do Controle, o que podemos encarar como uma

sobrevivência por meio do controle do sistema capitalista. Até mesmo a palavra “crise” pode

passar a ganhar uma autorreflexão nesse contexto, sendo levada às suas origens na medicina

como sinônimo de um ponto máximo de adoecimento de um sistema que, passado esse

momento por meio das realimentações vitais para combater seu enfraquecimento, voltaria à

sua homeostase; ou não, à sua morte. Isso é, entretanto, muito complicado para dizer sobre os

sistemas complexos humanos na forma de sociedades. Há quem diga que estamos em crises

constantes. Mas, esse não é nosso ponto aqui, já que controle absoluto é improvável e não

deve ser encarado no trabalho de Beniger, nem neste, como uma forma de absoluta

dominação. A renovação constante da crise é uma forma dialética de ver a mudança social, de

acordo com sua necessidade de manutenção de controle sobre a vida.

No trabalho de Beniger, como escreve, “a palavra controle representa sua mais geral

definição, influência proposital direcionada a um objetivo predeterminado” (purposive

influence toward a predetermined goal) (1986, p. 7). A ideia de controle como “influência” é

uma possibilidade que confirmamos com o estudo etimológico da palavra feito por

Comparato (2014). A origem do termo do Latim, entretanto, oferece-nos mais informação

importante. A palavra controle deriva do verbo do Latim medieval contrarotulare. Beniger

interpreta o verbo como “comparar algo contra os rolos” (rolos tem o sentido de “registro”),

cilindros de papel que serviam como registros oficiais nos tempos antigos. Essa própria

origem latina já é explicativa do processo de controlar algo, comparando os inputs de

determinados sistemas a seus programas armazenados, registrados. Assim, o programa de um

sistema serve como o registro da história do sistema com o qual o insumo que adentra o

sistema será comparado. Assim, inseparáveis do conceito de controle são as atividades de

processamento de informação e comunicação recíproca, centrais para realização do controle.

O processamento de informação, segundo Beniger, “é essencial para toda atividade com um

propósito, que são por definição direcionadas a um objetivo (goal) e devem, portanto,

envolver a contínua comparação dos estados atuais aos fins futuros, um problema básico de

processamento de informação” (1986, p. 8). Junto à comparação entre inputs e objetivos, uma

interação comunicacional mútua entre controlador e controlado deve também ocorrer, “não

apenas para comunicar a influência daquele para este, mas também para comunicar de volta

os resultados dessa ação (daí o termo feedback, por conta do recíproco fluxo de informação de

volta ao controlador” (BENIGER, 1986, p. 8). Daí, portanto, a centralidade do processamento

de informação e da comunicação mútua entre controlador e controlado. Não apenas essa

concepção influenciou Wiener em sua definição de Cibernética, mas também, conforme

Beniger, os pioneiros da teoria matemática da comunicação, Shannon e Weaver. Para estes,

conforme Beniger, a comunicação era um controle proposital, ou o conjunto de procedimentos

pelos quais uma mente pode afetar a outra. Eles notaram que “ou a comunicação afeta um

comportamento ou não possui qualquer efeito discernível ou provável” (BENIGER, 1986, p.

8).

Pondo tal conceito de controle, inseparável das atividades de processamento de

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informação e comunicação, ao nível de uma sociedade, Beniger (1986) nos afirma, portanto,

que a habilidade dessa sociedade em manter controle, em todos os níveis (do interpessoal ao

das relações internacionais), será diretamente proporcional ao desenvolvimento de suas

tecnologias de informação.

O processamento de informação, explica Beniger, pode ser mais difícil de apreciar do

que o processamento da matéria e energia, como é simples perceber com o processamento

tanto do carvão, da energia à vapor e dos tecidos em algodão pelos inventos que levaram à

Revolução Industrial. Isso ocorre, pois, ao contrário do processamento de matéria e energia, a

informação é epifenomenal, ou seja, “deriva da organização do mundo material no qual ela é

inteiramente dependente para sua existência” (BENIGER, 1986, p. 9, grifo nosso). Aqui,

precisamente, lembramos as palavras de Wiener: de que não há materialismo que se sustente

sem sua relação com a informação. Apesar de ser derivada da matéria e da energia que

constituem esse mundo material, a informação está ligada diretamente aos sistemas vivos que

necessitam de organização, de ordem e de poder. Resumindo, com Beniger: “todos os

sistemas vivos precisam processar matéria e energia para se manter contra a entropia, a

tendência universal da organização rumo ao colapso e à aleatoriedade” (1986, p. 10). Sendo o

controle necessário para tal processamento, a informação é, por sua vez, essencial ao controle.

Em decorrência, o processamento da informação e a comunicação mútua, enquanto elementos

que diferenciam os sistemas vivos do universo inorgânico, são elementos que definem a vida,

“excetuados alguns artefatos recentes de nossa própria espécie” (1986, p. 10).

A crise do controle, que levaria à Revolução do Controle, é encontrada por Beniger na

descrição de Émile Durkheim sobre o processo de industrialização das sociedades. A

industrialização, assim, de acordo com Durkheim (apud BENIGER, 1986), tende a quebrar

barreiras para transporte e comunicação que isolam mercados locais, chamados por ele de

“tipo segmentado”, estendendo a distribuição de bens e serviços para o “tipo organizado” de

mercado, que se trata de mercados em âmbito nacional e global. Quando ocorre isso, há uma

quebra de equilíbrio sob o qual a produção é regulada por intermédio de comunicação direta

entre produtor e consumidor. Essa descrição de Durkheim, presente no livro Da divisão do

trabalho social, é a descrição do que Beniger caracteriza como “crise de controle”. A saída da

crise seria solucionada com novos meios de comunicação com a finalidade de controlar

economias organizadas em níveis mais complexos que o do mero tipo segmentado,

localizado. Há, como diz Beniger, uma crescente “sistemização” (“systemness”) da sociedade,

na qual a capacidade de comunicar e processar informação está diretamente ligada ao que

funcionalistas estruturalistas como Durkheim chamaram de “problema de integração”

(BENIGER, p. 11), ou seja, “a crescente necessidade de coordenação de funções que

acompanham a diferenciação e a especialização em qualquer sistema” (BENIGER, p. 11).

Para Beniger, o que Durkheim descreve como uma crise de controle no âmbito social tem sua

contrapartida no âmbito da psicologia individual. A “anomia” de Durkheim surge, portanto,

do colapso de normas que governam o comportamento grupal e individual. A anomia é um

estado patológico do comportamento, exceção da própria regra de Durkheim que via o

aumento da divisão do trabalho diretamente associado a uma integração normativa e de

solidariedade social. Todavia, o estado de anomia não decorreria primeiramente dessa

mudança na estrutura da divisão do trabalho social, mas do colapso da comunicação entre os

setores sociais cada vez mais isolados. Assim, tanto o problema da integração econômica

quanto o da anomia, resultam da incapacidade de comunicação. O que Beniger segue

mostrando em todo seu livro são exatamente os esforços tecnológicos e econômicos para que

a comunicação se tornasse possível.

Para Beniger, principais respostas tecnológicas à essa crise de controle estão em

Weber, quem primeiro analisou o rápido crescimento da burocracia formal na virada do século

XIX para o XX (BENIGER, 1986), mais notavelmente em Economia e Sociedade. A

burocracia é a tecnologia que controla outros inventos tecnológicos capazes de cuidar dessa

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organização complexa trazida pela crise do controle. Apesar do apelo à formalidade da

burocracia nesse novo momento histórico, não se deve atribuir novidade ao fenômeno. Os

antigos estados-nação da Mesopotâmia e do Egito necessitavam de administrações

centralizadas, sendo daí que surge o aparato burocrático, o qual continuou a ser utilizado e

aperfeiçoado atingindo os impérios pré-industriais de Roma, China e Bizâncio (BENIGER,

1986). As organizações burocráticas, sintetiza Beniger, “tendem a aparecer qualquer que seja

o local em que uma atividade coletiva necessite ser coordenada por muitas pessoas em direção

a objetivos explícitos e impessoais, isto é, ser controlado”. Assim, “burocracias têm servido

como meios generalizados de controle a qualquer sistema social amplo na maior parte das

arenas institucionais e das culturais desde sua emergência em torno de 3.000 a.C.”

(BENIGER, 1986, p. 13, grifo nosso).

Por conta dessa perversidade da forma burocrática, a história e seus historiadores,

segundo Beniger (1986), tendeu a discutir com superficialidade o seu papel no último século

XIX como uma grande tecnologia de controle. É na sua forma moderna, sobretudo, que a

burocracia atinge o grau de tecnologia de controle e também de sobrevivência, isto é, tanto em

termos políticos como em econômicos. Com ajuda de novos meios de comunicação que

entrariam como parte desse aperfeiçoado objeto de controle, a sobrevivência de toda uma

economia social se tornara possível, juntamente com o lucro visado por particulares

detentores do poder econômico cada vez mais centralizado. O aparato estatal, é claro, bem

mais evidente inclusive que o econômico, aproveitou-se dessa nova organização do mundo

material, podendo aplicar a força da lei com a ajuda de meios de controle tentaculares como a

burocracia. A burocracia é, assim, um constituinte, ao mesmo tempo, econômico e político na

modernidade, dela se apropriando o imperium para aplicar suas leis e controlar a ordem

social, e a economia para permanecer sobrevivendo, inclusive mantendo padrões antigos de

exploração. A burocracia não pode deixar de ser vista como um meio de comunicação maior

que organiza outros menores. Se a comunicação, enquanto objeto, está situada nessa

encruzilhada de controles, como podemos falar de comunicação “livre”, em “free” flow of

information? Assim, como o poder não mostra sua materialidade com facilidade para a

sociedade emergente, estando “escondido” em uma rede de controle e sobrevivência,

podemos dizer que a comunicação que ali circula só pode dele “ser serva”.

A afirmação de Morin (2011) de que o poder que está escondido faz a comunicação

sua serva é corolário do pensamento de que à organização do controle e da comunicação não

se tem dirigido tanta atenção. Aliás, o seu pensamento complexo evidenciou que a forma

organizacional das coisas não pode estar imiscuída em um black-box onde os processos não

são vistos e reduzidos ao esquema input-output das máquinas triviais. Controle e

comunicação, em sua relação, só se tornam temas novamente postos em discussão, mesmo

assim marginalmente, com a Cibernética, quando exatamente o homem tem o aparelho ou a

máquina em suas mãos para analisá-lo e controlá-lo, observando nele os fluxos de

comunicação e de controle. Na guerra, mais do que nunca, era preciso dominar os processos

de comunicação e de controle.

Considerações Finais

Como visto, a “‘comunicação’, como uma atividade social, compreende o conjunto de

formas sociais pelas quais as relações sociais são expressas, materializadas e modificadas”; a

“comunicação estabelece a moldura, os limites e as implicações dessas relações sociais, seja

lá uma questão de nações, classes, mercados ou impérios” (DE LA HAYE, 1979, p. 55, grifos

nossos). Essa afirmação complementa, portanto, a noção de comunicação de Luhmann, um

sistema operacionalmente fechado que produz a si mesmo e operador central do sistema

social. A comunicação é uma atividade social que estabelece os próprios limites de tal

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

atividade.

Para organizar e, ao mesmo tempo, por limites à situação de um todo social complexo

que se produz e reproduz continuamente, a comunicação tem de ser relativa ao controle

social. Controle social e comunicação social são faces de uma mesma moeda, de uma mesma

realidade: a dos sistemas vivos (Estados, indivíduos, empresas, sociedades) que produzem e

se reproduzem para sobreviver à tendência eterna à entropia que foi estabelecida pela segunda

lei da termodinâmica (MORIN, 2011).

O caráter central da reprodução social está no movimento de seus limites e isso só é

possível por meio da realimentação sistêmica (feedback). A informação, epifenômeno do

mundo material, passa por todas as barreiras físicas, como lembra Raffestin: “as barreiras em

volta dela não servem para nada”. E Raffestin lembra Wiener em Cibernética e Sociedade ao

dizer que gozará de maior segurança aquele país em que “a situação da informação e da

ciência for apropriada para satisfazer as eventuais exigências – o país no qual se constatar que

a informação interessa na qualidade de um processo contínuo, pelo qual observamos o mundo

exterior e agimos eficazmente sobre ele” (1993, p. 220).

A informação e sua existência no processo comunicacional dos sistemas sociais

(político e econômico) hoje só revelam a vida dupla da comunicação. Ela organiza o poder

social (política) ao mesmo tempo em que estabelece os limites da produção e reprodução

social sistêmica (economia). É na e pela comunicação que se vive e que se permite viver e

sobreviver. O que nos resta é criticar o processo comunicacional engendrado nesse tipo de

realidade – se compatível com a axiologia democrática preconizada pelos territórios

ocidentais ou se a comunicação é apenas serva de uns poucos. Daí, portanto, a tarefa do

sujeito e do intelectual é buscar e criticar os limites dos usos e alcances da comunicação em

sociedade, principalmente na atual complexidade da sociedade mundial de controle.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Usos e apropriações de multimídias na educação para a

biodiversidade em escolas de Belém/PA

Mayara Santos Maciel

Bacharel em Comunicação Social com habilitação em jornalismo, formada pela Universidade Federal do Pará -

UFPA (2013). Foi bolsista PCI-DD/MCTI na Coordenação de Comunicação e Extensão do Museu Paraense

Emílio Goeldi (MPEG) no período de outubro de 2014 a setembro de 2015. Atuou no projeto Academia

Amazônia, produtora de audiovisual e cultural da UFPA, no período de 2010 a 2012. Foi bolsista da Assessoria

de Educação a Distância (AEDi) da UFPA entre os anos de 2010 e 2012. No mesmo período desenvolveu

atividades no Laboratório de Pesquisa e Experimentação em Multimídia da AEDi-UFPA. Atuou na assessoria

de comunicação dos cursos a distância da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa - FADESP, com

início das atividades em 2011. De 2012 a 2013 foi estagiária de jornalismo das Organizações Rômulo Maiorana

- Portal ORM, realizando, principalmente, atividades de apuração e redação jornalística para a web. Tem

experiência e interesse em webjornalismo, assessoria de comunicação e Educomunicação.

Vanja Joice Bispo Santos Mestre em Comunicação e Culturas Contemporâneas. Especialista em Comunicação Cientifica e Tecnológica.

Analista de Ciência e Tecnologia e Chefe do Serviço de Comunicação Social do Museu Paraense Emílio

Goeldi/MCTI.

Lúcia das Graças Santana da Silva

Doutoranda em Museologia na universidade Lusófona em Lisboa, Portugal. Mestre em Teoria Literária pela

UFMG. Chefe do Serviço de Educação do Museu Paraense Emílio Goeldi/MCTI.

Resumo

Esta pesquisa, realizada no âmbito do Programa de Capacitação Institucional através do Museu Paraense Emilio

Goeldi/MCTI, identificou as percepções sobre o conceito de biodiversidade em duas comunidades escolares de Ensino

Fundamental e Médio da cidade de Belém do Pará - Brasil, vinculadas aos sistemas municipal e estadual de ensino, a saber:

Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Professor Eidorfe Moreira e Escola Estadual de Ensino

Fundamental e Médio Vilhena Alves. Também identificou como as Tecnologias da Informação e da Comunicação e

multimídias atuam como mediadoras dos processos de ensino e aprendizado sobre biodiversidade nestas comunidades.

Como metodologia foi utilizada a pesquisa-ação com observação participante (PERUZZO, 2003) e entrevistas em

profundidade do tipo semi-abertas com questões semi-estruturadas (Duarte, 2009). Concluiu-se que o conceito de

biodiversidade deve ser melhor trabalhado em âmbito escolar, de uma forma estruturada e com o auxílio pedagógico das

TICs, cujo uso educativo deve ser favorecido com melhores investimentos na educação pública, principalmente na formação

e sensibilização de professores para o uso pedagógico das TICs e multimídias.

Palavras-chave

Biodiversidade; Educomunicação; Multimídia; Educação; Comunicação.

Abstract

This research, carried out under the Capacity Institutional program through the Paraense Emilio Goeldi Museum/MCTI,

identified perceptions about the concept of biodiversity in two school communities of elementary and high school in the city

of Belém do Pará - Brazil, linked to municipal systems and state education, namely: Reference Center for Environmental

Education Foundation Teacher Eidorfe Moreira and State Elementary School and Middle Vilhena Alves. Also identified as

the Information and Communication Technologies and multimedia, act as mediators of the processes of teaching and

learning about biodiversity in these communities. The methodology used is action research with participant observation

(PERUZZO, 2003) and in-depth interviews of semi-open type with semi-structured questions (Duarte, 2009). It was

concluded that the concept of biodiversity should be better worked in the school environment, in a structured way and with

the pedagogical assistance of ICTs, whose educational use should be favored with the best investments in public education,

especially in training and teachers' awareness of the pedagogical use ICT and multimedia.

Keywords

Biodiversity; Educomunication; Multimedia; Education; Communication.

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Introdução

Ao longo de quase 150 anos o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) pesquisa

diversos aspectos da biodiversidade brasileira, sobretudo da Amazônia. A experiência e

tradição na construção e compartilhamento de conhecimentos científicos sobre biodiversidade

fez da instituição uma referência no assunto.

Há aproximadamente 5 anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi, através da Escola da

Biodiversidade Amazônica (Ebio)1, um dos sub-ptojetos formulados no âmbito do

INCT/Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia2, estuda e experimenta linguagens e

formatos multimidiáticos para a comunicação pública da ciência produzida pela instituição,

através de práticas educomunicativas que buscam formar redes de saberes que valorizem a

sabedoria popular amazônica em diálogo com o conhecimento científico. Para comunicar a

ciência, a Ebio desenvolve produtos adaptados para a web, rádio e mídias locativas como

telefones celulares e tablets. Dentre as ações da Ebio destacam-se o Prêmio José Márcio

Ayres3, a Agência Tubo de Ensaio4, o projeto Viva Amazônia5, e outros.

A experiência da Ebio norteou a elaboração e execução desta pesquisa, executada no

âmbito do Programa de Capacitação Institucional, através do Museu Paraense Emílio

Goeldi/MCTI no período de outubro de 2014 a setembro de 2015. A primeira fase da pesquisa

mapeou práticas de educação e comunicação multimidiáticas em escolas públicas ligadas aos

sistemas municipal e estadual de ensino de Belém e identificou os imaginários dessas

comunidades escolares sobre o tema da biodiversidade e o papel das TICs e multimídias na

construção destes imaginários. Assim, pretendia-se, também, conhecer um dos públicos

prioritários da Ebio, e, portanto, do Museu Goeldi, e analisar como um assunto tão importante

na agenda científica do MPEG, o estudo da biodiversidade, é abordado nas escolas. O Museu

Paraense Emílio Goeldi é uma referência mundial nas pesquisas sobre a diversidade biológica

da Amazônia, e a popularização dessa temática junto ao público escolar é uma meta do

programa institucional Biodiversidade da Amazônia.

O termo biodiversidade ficou conhecido na literatura na década de 1980 e passou a ser

difundido após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a

Rio 92. Apoiada em Primack (1992), Fonseca (2007, p. 65) afirma que, do ponto de vista

biológico, a biodiversidade “refere-se à variedade de formas de vida presente na Terra

(diversidade de espécies), aos genes que as constituem (diversidade genética) e aos

ecossistemas dos quais são parte (diversidade de ecossistemas)”.

Corroborando esta ideia, Wilson (1992 apud CASTRO et al, 2014) afirma que o termo

biodiversidade refere-se à

Variedade de organismos considerada em todos os níveis, desde variações

genéticas pertencentes à mesma espécie até as diversas séries de espécies,

gêneros, famílias e outros níveis taxonômicos superiores. Inclui variedade de

ecossistemas, que abrange tanto as comunidades de organismos em um ou

1A Ebio tem o objetivo de “propor, planejar, experimentar e estudar a organização de processos de aprender-ensinar-comunicar

conhecimentos sobre a biodiversidade amazônica e o uso da terra na Amazônia”. 2 O INCT/Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia é um projeto que foca no desenvolvimento de pesquisas, ações de educação e

comunicação da ciência no Arco do Desmatamento”. Informações retiradas de <http://museu-goeldi.br/inct/>. Acesso em 25/03/2015. 3O PJMA é uma iniciativa do Museu Paraense Emílio Goeldi e da Conservação Internacional (CI Brasil) com o apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia e da Escola da Biodiversidade Amazônica. O Prêmio tem a proposta

de provocar e estimular entre os estudantes de ensino fundamental e médio a curiosidade em relação aos conhecimentos sobre a

biodiversidade da região amazônica, suas interrelações, seus impactos à sociedade e ao meio ambiente. 4A Agência Tubo de Ensaio – a escola no caminho da ciência, é uma rede colaborativa formada por estudantes do ensino médio, professores,

universitários e profissionais de comunicação para reportar assuntos científicos de forma simples e criativa, a partir dos princípios da

comunicação pública da ciência. 5Concebido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, o Projeto “Viva Amazônia” pretende apresentar ao público informações sobre a Amazônia

em seus diversos aspectos, a partir dos acervos científicos do MPEG, como os biológicos, etnográficos, arqueológicos, fósseis e minerais, de

obras raras, documentais e das coleções vivas de fauna e flora do Parque Zoobotânico.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

mais habitats quanto às condições físicas sob as quais elas vivem (WILSON,

1992, p.412 apud CASTRO et al, 2014, p. 2).

Anos depois, em uma publicação posterior, Wilson (1997) faz uma afirmação

diferenciada. Neste trabalho, dá a seguinte definição para biodiversidade:

Biodiversidade é toda variação em todos os níveis de organização, desde os

genes dentro de uma simples população local ou espécie, até as espécies que

compõem parte de uma comunidade local e, finalmente, as próprias

comunidades que compõem a parte viva dos ecossistemas multifatoriais do

mundo. A chave precisa para a efetiva análise da biodiversidade está em cada

nível de organização que está sendo discutido (WILSON, 1997, p.1 apud

OLIVEIRA; MARANDINO, 2011, p. 56).

O Artigo 2 da Convenção sobre Diversidade Biológica, do Ministério do Meio

Ambiente, considera que o termo “diversidade biológica” significa a

Variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo,

dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas

aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo

ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas

(___, 2000, p. 9).

A biodiversidade, no entanto, não se resume à terminologia das ciências naturais, ela

também tem caráter social e cultural, visto que é um produto da relação entre a natureza e as

populações humanas. De acordo com Diegues et al (2000), a biodiversidade

É também uma construção cultural e social. As espécies são objetos de

conhecimento, de domesticação e uso, fonte de inspiração para mitos e

rituais das sociedades tradicionais e, finalmente, mercadoria nas sociedades

modernas (DIEGUES et al, 2000, p. 1).

Em âmbito escolar, a questão da biodiversidade é abordada especialmente nas

disciplinas ciências e biologia, e é visualizada também pela perspectiva da educação

ambiental, área interdisciplinar que conflui entre os campos educativo e ambiental.

Inicialmente, a experiência em educação ambiental no Brasil carregou fortes marcas

conservacionistas e naturalistas originadas no campo ambiental, caracterizadas, entre outros

aspectos, pelas práticas de educação realizadas em espaços de conservação e na sustentação

de uma militância política na área (KAWASAKI; CARVALHO, 2009).

No entanto, o conceito de educação ambiental crítica, de acordo com Loureiro (2007),

ultrapassa a tendência comum até os anos 1980, que associa a educação ambiental apenas ao

ensino de temas relacionados à biologia e ecologia e a práticas ecologicamente corretas. Para

o autor, a educação ambiental crítica

Se insere no mesmo bloco ou é vista como sinônimo de outras denominações

que aparecem com frequência em textos e discursos (transformadora,

popular, emancipatória e dialógica), estando muito próxima também de

certas abordagens da denominada ecopedagogia. A sua marca principal está

em afirmar que, por ser uma prática social como tudo aquilo que se refere à

criação humana na história, a educação ambiental necessita vincular os

processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir na

realidade e de existir na natureza. Reconhece, portanto, que nos

relacionamos na natureza por mediações que são sociais, ou seja, por meio

de dimensões que criamos na própria dinâmica de nossa espécie e que nos

formam ao longo da vida (cultura, educação, classe social, instituições,

família, gênero, etnia, nacionalidade etc.). Somos sínteses singulares de

relações, unidade complexa que envolve estrutura biológica, criação

simbólica e ação transformadora da natureza (LOUREIRO, 2007, p. 66).

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Apesar das diversas compreensões sobre a biodiversidade apontadas pelos autores, que

estão nos níveis da variedade genética, de espécies, de ecossistemas e das relações sociais e

culturais, a abordagem do tema nas escolas de Ensino Médio de Belém (PA) necessita de

maior exploração tanto por parte dos professores quanto dos alunos, já que um estudo

realizado por Fonseca (2007) mostra que maior parte dos docentes entrevistados em sua

pesquisa têm apenas informações básicas sobre os conceitos apresentados, sem

aprofundamento teórico. A afirmação é comprovada pela pesquisadora quando aponta que 17

dos 24 professores consultados entendem a biodiversidade em seu conceito de nível básico de

compreensão (variação do número de espécies existentes) e essa compreensão também é

dirigida a seus alunos por meio de livros didáticos. Dos 503 alunos ouvidos na pesquisa e que

afirmaram conhecer o termo biodiversidade, 352 (69,9%) apresentam construções centradas

em apenas um nível de compreensão, o mesmo que os professores.

Dessa forma, acreditamos que uma das possibilidades para favorecer uma discussão

mais ampla sobre os conceitos de biodiversidade nas salas de aula, visualizada não só pelo

viés biológico, mas alcançando também as questões sociais, econômicas, culturais e as

relações entre homem e natureza, especialmente na Amazônia, é a utilização de Tecnologias

da Informação e Comunicação como mediadoras dos processos educativos, componentes

pedagógicos dentro e fora dos ambientes escolares, desde que não funcionem como simples

aparatos de reprodução de conteúdo, mas como instrumentos importantes no processo de

autonomia da educação (FREIRE, 1983) e na busca por uma educação sensória e integrada

(MORAN, 1994).

Martín-Barbero afirma que o público em idade escolar, prioritariamente jovem, tem

intimidade com o uso das TICs e das multimídias.

Eles têm maior empatia cognitiva e expressiva com as tecnologias e com

novos modos de perceber o espaço e o tempo, a velocidade e a lentidão, o

próximo e o distante. Trata-se de uma experiência cultural nova, ou como

chama Walter Benjamin, um sensorium novo. Novos modos de perceber e de

sentir; uma sensibilidade que, em muitos aspectos, se choca e rompe com o

sensorium dos adultos (MARTÍN-BARBERO, 2000, p. 54).

A atual Pesquisa Brasileira de Mídia mostra que 42% dos brasileiros apontam a internet

como meio de comunicação mais utilizado. 65% dos jovens brasileiros até 25 anos acessam a

internet todos os dias. Quando se trata de mídias sociais, os índices aumentam: 92% dos

usuários de internet estão conectados na rede por meio de mídias sociais. Destes, o Facebook

é a mídia social mais utilizada, com 83% das respostas, seguido do WhatsApp (58%) e do

YouTube (17%).

Estes dados demonstram a presença cada vez mais constante de hipermídias6 e

multimídias na vida dos brasileiros, especialmente dos jovens. O filósofo francês Pierre Levy

(1999) definiu o termo multimídia como

Aquilo que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação.

[...] Hoje, a palavra refere-se, geralmente, a duas tendências principais dos

sistemas de comunicação contemporâneos: a multimodalidade e a integração

digital (LEVY, 1999, p. 58).

Soares (2000) arriscou a previsão de que na metade da primeira década dos anos dois

mil, aproximadamente 60% do ensino do país estaria sendo ministrado fora dos ambientes

tradicionais de educação, ou seja, inteiramente através do ciberespaço7. De maneira geral, as

tecnologias são mediações que permeiam o cotidiano dos brasileiros, assim como as

6 Hipermídia é uma "expressão não linear da linguagem, que atua de forma multimidiática" (BAIRON, 2011, p. 7 apud MELLO;

ASSUMPÇÃO, 2012, p. 1). 7De acordo com Pierre Levy, o ciberespaço é um meio de comunicação oriundo da interconexão mundial de computadores. Não se refere

unicamente a infraestrutura material da comunicação digital, mas também ao universo de informações que esta engloba, bem como as

pessoas que nutrem e estão presentes neste universo. (LEVY, 1999, p. 14).

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

hipermídias.

A incorporação destas tecnologias na educação pode ser a chave para o envolvimento e

protagonismo das juventudes em seus próprios processos de aprendizado. Adilson Citelli

(2000) afirma que a escola vem reconfigurando suas práticas a partir das mudanças que

surgem na contemporaneidade.

A escola está sendo pensada, assim, como espaço mediativo cada vez mais

cruzado pelas novas linguagens e pelas transformações científicas,

tecnológicas, culturais e de comportamentos que marcam o mundo

contemporâneo (CITELLI, 2000, p.83).

Tendo isso em vista e incrementando as pesquisas e experimentações que o Museu

Paraense Emílio Goeldi desenvolve desde 2010 sobre comunicação e educação no âmbito da

Escola da Biodiversidade Amazônica e do Prêmio José Márcio Ayres, mapeamos neste estudo

práticas de educação e comunicação multimidiáticas em algumas escolas municipais e

estaduais de Ensino Fundamental e Médio de Belém (PA) para percebermos como constroem

suas percepções de ensino e aprendizado sobre a biodiversidade amazônica utilizando as TICs

como mediadoras do processo de ensino e aprendizagem.

Objetivos

Esta pesquisa teve o objetivo de mapear práticas de educação e comunicação

multimidiáticas em algumas escolas municipais e estaduais de Ensino Fundamental e Médio

de Belém (PA) e saber como constroem suas percepções de ensino e aprendizado sobre

biodiversidade. Também foram objetivos desta pesquisa realizar um levantamento das escolas

de Ensino Fundamental e Médio da cidade de Belém (Pará – Brasil) que têm afinidade com o

uso das TICs e plataformas multimídia; e investigar de que forma as TICs são utilizadas como

colaboradoras no processo de ensino e aprendizado sobre a biodiversidade nas escolas

selecionadas na pesquisa.

Percurso metodológico

Como metodologia de pesquisa, utilizamos a pesquisa-ação com observação

participante. De acordo com Cicília Peruzzo (2003, p. 2) este método teve forte presença nos

estudos de comunicação no Brasil nos idos de 1980 e 1990, e “consiste na inserção do

pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação

investigada”.

A pesquisa-ação precede da presença do observador no ambiente investigado,

analisando de forma dinâmica os problemas manifestados, para tomar decisões e executar

ações a partir deles, compartilhando das atividades e do contexto do grupo pesquisado para a

proposição de uma ação planejada, de caráter social/educacional/técnico.

De acordo com Peruzzo (2003, p. 13), contextualizada no campo da Comunicação, a

observação participante “objetiva observar como se processa a recepção das mensagens dos

mass media, como elas são entendidas, decodificadas e reelaboradas. Pode também ter a

finalidade de observar os processos comunicativos interpessoais, grupais ou comunitários,

envolvendo os mass media ou outros processos de comunicação como os grupais e meios

alternativos de comunicação”.

O trabalho de pesquisa foi complementado pela aplicação entrevistas em profundidade

do tipo semi-abertas com questões semi-estruturadas, que “conjuga a flexibilidade da questão

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não estruturada com um roteiro de controle” (DUARTE, 2009, p. 66).

Durante o período da pesquisa foram coletados e analisados depoimentos de

professores, gestores e alunos de duas escolas vinculadas aos sistemas públicos de ensino

Municipal e Estadual. Um levantamento elaborado durante a pesquisa identificou 129 escolas

estaduais e 55 municipais que possuem afinidade com o uso das Tecnologias da Informação e

da Comunicação, satisfazendo um dos objetivos da pesquisa. Este levantamento foi realizado

com o suporte do Núcleo de Tecnologia Educacional Professor Washington Luís Barbosa

Lopes (NTE-Belém)8 e do Núcleo de Informática Educativa9.

Dentre as instituições de ensino inventariadas, selecionamos uma escola do sistema

municipal e uma do sistema estadual de ensino para compor o corpus de análise da pesquisa, a

saber: Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Vilhena Alves e Fundação Centro de

Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Funbosque). A

seleção das escolas que formaram o corpus de análise da pesquisa foi motivada pela presença

das TICs, pela relação pré-estabelecida com o Museu Goeldi e pela atuação pedagógica

voltada à educação ambiental.

A escolha da E.E.E.F.M Vilhena Alves é justificada pela relação que a escola mantém

com o Museu Goeldi através da participação de alunos na 5ª edição do Prêmio José Márcio

Ayres para Jovens Naturalistas (PJMA) e outras atividades educativas. Já a escolha da

Funbosque foi motivada principalmente pela valorização da educação ambiental em seu

Projeto Político Pedagógico, sendo esta a prática norteadora de suas ações.

Através da metodologia da pesquisa ação (PERUZZO, 2003) e da aplicação de

entrevistas em profundidade do tipo semi-abertas com questões semi-estruturadas, coletamos

depoimentos de 10 alunos na faixa etária de 13 a 20 anos, cursando o 8º ano do Ensino

Fundamental e o 2º ano do Ensino Médio nessas escolas, por considerar que são etapas de

ensino intermediárias onde os estudantes estão em pleno processo de formação de suas

percepções sobre biodiversidade. Destes, 6 discentes entrevistados fazem parte do corpo de

alunos da Funbosque e 4 da E.E.E.F.M Vilhena Alves. Entrevistamos 3 professores das

disciplinas biologia e ciências, sendo 2 da Funbosque e 1 da E.E.E.F.M Vilhena Alves; além

de 2 gestores, sendo 1 representante da coordenação pedagógica da Funbosque e 1 da vice-

direção da Escola Vilhena Alves.

As entrevistas na Escola Bosque foram realizadas no dia 22 de abril de 2015, já na

E.E.E.F.M Vilhena Alves foram feitas em 14 de abril e 25 de setembro de 2015. As entrevistas

foram gravadas em aparelho celular Samsung, transcritas, lidas, analisadas e selecionadas em

alguns trechos com informações sobre as percepções de ensino da biodiversidade e o papel

das TICs neste processo em ambiente escolar.

Como parâmetro de análise sobre os conceitos de biodiversidade, utilizamos os autores

que compõem a base de referência desta pesquisa: Wilson (1992, apud CASTRO et al, 2014),

Wilson (1997, apud OLIVEIRA; MARANDINO, 2011), Primack (1992 apud FONSECA,

2007) e Convenção sobre Diversidade Biológica (2000). Também utilizamos como parâmetro

para análise das respostas obtidas, o conceito atribuído por Diegues (2000), que assume um

espectro mais amplo para o termo, tomando a biodiversidade como uma construção social.

Para analisar as respostas obtidas a respeito do uso pedagógico das TICs e multimídias

na educação, utilizamos autores como Soares (2011), Citelli (2000), Martín-Barbero (2000),

Moran (1994, 2015), Freire (1983), a Pesquisa Brasileira de Mídia (2015) e outros.

8 O NTE-Belém é vinculado à Coordenação de Tecnologia Aplicada à Educação, da Secretaria Estadual de Educação. Em todo o Brasil, os

Núcleos atuam como multiplicadores do PROINFO, prestando assessoria e formação de professores sobre o uso das TICs na escola e

disseminando os princípios da educomunicação. 9 Órgão da Secretaria Municipal de Educação que oferece formação em informática educativa a professores do sistema público de ensino.

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

Principais resultados

Entre os resultados da pesquisa sobre as percepções das comunidades escolares a

respeito do conceito de biodiversidade, concluímos que os alunos das duas escolas

investigadas não possuem um conhecimento sistematizado sobre o conceito de biodiversidade

e não o definem de forma hierárquica, nos níveis da variedade de genética, variedade de

espécies e variedade de ecossistemas, de acordo com a literatura utilizada nesta pesquisa. A

maioria dos alunos utilizou a variável “diversidade de vidas” em suas respostas, o que

consideramos aproximar-se do nível de variedade de espécies atribuído pelos autores base de

nossas referências sobre biodiversidade, como Wilson (1992, apud CASTRO et al, 2014),

Wilson (1997, apud OLIVEIRA; MARANDINO, 2011), Primack (1992 apud FONSECA,

2007) e Convenção sobre Diversidade Biológica (2000). Além disso, os discursos dos alunos

relacionavam a biodiversidade aos aspectos da natureza e a interação do homem nestes

espaços naturais, o que consideramos aproximar-se do conceito atribuído por Diegues et al

(2000), que define a biodiversidade também como construção social e cultural.

A relação estabelecida entre homem e natureza fica mais evidente nos discursos dos

alunos quando perguntados sobre a importância que eles atribuem à biodiversidade.

Pra mim é uma importância grande porque a gente estuda a vida dos seres,

mas é só estudar? Não! O que eles têm a ver com a gente? Tipo, um

exemplo, eu vou estudar sobre uma preguiça, mas eu só vou estudar sobre

ela, e o que ela vai trazer pra mim depois? Então pra mim não é só estudar os

seres, mas estudar a vida deles com a nossa, entendeu? É juntar eles com a

gente porque as mesmas coisas que eles sentem a gente sente também, tipo,

não é só estudar eles, mas sim ver como é a adaptação (Aluno 4 – 2º ano do

Ensino Médio - Funbosque, 2015).

Notamos que as respostas dos alunos aproximam-se não só do conceito de

biodiversidade como construção social e cultural, mas aproximam-se, também, do conceito de

educação ambiental crítica, apontado por Loureiro (2007), que interliga os processos sociais

aos processos ecológicos, já que, segundo o autor, é através das mediações sociais que nos

relacionamos com a natureza. Para o autor, a principal marca da educação ambiental crítica

Está em afirmar que, por ser uma prática social como tudo aquilo que se

refere à criação humana na história, a educação ambiental necessita vincular

os processos ecológicos aos sociais na leitura de mundo, na forma de intervir

na realidade e de existir na natureza. Reconhece, portanto, que nos

relacionamos na natureza por mediações que são sociais [...] (LOUREIRO,

2007, p. 66).

Entre os entrevistados nas duas escolas, apenas um relacionou biodiversidade ao nível

da variedade genética e ao conceito social de raça.

Percebemos, entre os alunos do Ensino Fundamental das duas escolas, uma diferença de

compreensões sobre os conceitos de biodiversidade. Os discentes do 8º ano do Ensino

Fundamental entrevistados na Escola Vilhena Alves não conhecem o termo biodiversidade,

por isso não conseguiram definir seus entendimentos sobre o tema e nem responder às demais

questões relacionadas no questionário de entrevista. Já os alunos da mesma etapa de ensino da

Funbosque (8º ano) conheciam o termo e relacionaram suas compreensões à diversidade de

vida. Ambas as escolas oferecem em sua grade curricular a disciplina “ciências”, matéria que

relaciona conteúdos afins.

Esta diferença pode estar atrelada à política de ensino da Escola Bosque, pautada na

educação ambiental. A escola está inserida em um ambiente favorável ao ensino da

biodiversidade, permitindo interação entre os alunos e demais elementos da natureza, por

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

estar situada em uma área de mata e preservação ambiental.

Sobre a percepção dos professores de ciências e biologia das duas escolas

investigadas a respeito da biodiversidade, concluímos que a definição deles está baseada na

diferença de espécies existentes em uma determinada área, na grandeza do que seria a

diversidade de vida, na diversidade da natureza e na sua conservação.

Percebemos nos discursos diferenças de abordagens. Enquanto um dos professores foi

mais específico e relacionou biodiversidade a um dos níveis presente nos conceitos vistos na

bibliografia desta pesquisa (nível da diversidade de espécies), os outros professores

entrevistados utilizaram conceitos mais gerais.

Quanto ao uso das TICs e multimídias para o ensino da biodiversidade na

Funbosque, a coordenação pedagógica afirmou que os alunos são estimulados ao uso

educativo, porém, tanto alunos quanto professores afirmam que os recursos didático-

tecnológicos disponíveis (como computadores) são insuficientes para atender a demanda da

escola.

Na Escola Vilhena Alves, a vice-direção mencionou o uso das mídias sociais e o

planejamento para a implementação de produtos de comunicação com finalidade educativa, a

exemplo de um blog e de um jornal escolar. Professores e alunos da E.E.E.F.M. Vilhena Alves

também afirmam que os recursos didático-tecnológicos são insuficientes e que o uso em sala

de aula não é frequente.

Dessa forma, podemos dizer que ambas as escolas possuem TICs com usos voltados ao

ensino da biodiversidade, mas são recursos limitados.

Quanto ao estímulo ao uso das TICs no ensino da biodiversidade, de maneira geral

podemos dizer que os professores da Funbosque estimulam o uso em medidas diferenciadas.

A frequência e a forma de uso das TICs nesta escola dependem da afinidade e identificação do

professor com as ferramentas. Porém, este uso é dificultado pela insuficiência da estrutura de

ensino.

Notamos que um dos professores da Funbosque divide suas aulas em momentos

distintos: as aulas teóricas em sala de aula, onde é sugerido que celulares e demais

ferramentas tecnológicas e multimidiáticas não sejam utilizados, e os momentos extraclasse,

que seriam na sala de informática e no auditório, locais onde é permitido o uso de tecnologias

como datashows e a linguagem audiovisual para ensinar. Por outro lado, o outro professor

entrevistado na Funbosque tenta utilizar este tipo de recurso com mais frequência.

Eu faço o máximo que eu posso pra fazer com que os alunos tenham uma

interação melhor com outras mídias, além de ficar só olhando pro quadro e

fazendo trabalho etc (Professor 1 - Funbosque, 2015).

Podemos dizer que a afinidade que o Professor 1 tem em relação ao uso de diferentes

mídias e linguagens em sala, corresponde à sua formação. Este professor realizou trabalho de

conclusão de curso de licenciatura em jogos eletrônicos e ainda pesquisa o assunto.

Enquanto um dos professores utiliza as multimídias e as TICs de forma pedagógica para

envolver seus alunos em suas aulas, o outro professor entrevistado na Funbosque evita utilizá-

las para que não tirem a atenção dos discentes, e em consequência, atrapalhem o momento da

aula dento da sala.

Eu vou te ser sincera, é um pouquinho complicado trabalhar com alguns

tipos, exemplo, celular dentro de sala de aula, acaba atrapalhando, tirando a

concentração do aluno porque muitas das vezes a gente está falando e ele

está ali no Facebook, então a gente tem que saber lidar com os meios

tecnológicos porque eu acho que tem momento pra tudo, né? [...] Geralmente

eu trabalho com a parte teórica, e quando não estou em sala eu estou no

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ECCOM, v. 7, n. 13, jan. /jun. 2016

auditório preparando um vídeo pra eles [...] só que o laboratório de

informática não atende todos os alunos [...] (Professor 2 – Funbosque, 2015).

José Manuel Moran (1994) atribui tal fato ao receio que educadores sustentam em

relação aos meios.

Diante da fascinação que exercem os meios e da sua aparente transparência,

muitos educadores e intelectuais sentem verdadeiro horror e os criticam de

forma radical, por isso apoiam qualquer curso ou palestra que denuncie os

meios, que aponte seus desmandos, exageros, mecanismos de dominação.

Procuram os cursos de leitura crítica, mas não chegam desarmados; trazem

uma carga de preconceitos, de leituras, que esperam ver confirmados

(MORAN, 1994, p. 46).

Martín-Barbero (2000) afirma que os jovens têm mais empatia cognitiva e expressiva

com as tecnologias, por isso o estímulo do uso dessas ferramentas de forma educativa e

criativa pode ser um importante aliado na otimização do ensino e do aprendizado.

Já na E.E.E.F.M Vilhena Alves, o professor entrevistado afirmou estimular a o uso

pedagógico das TICs e de multimídias, mas esbarra nos problemas de estrutura para o uso das

ferramentas na escola.

O professor entrevistado na E.E.E.F.M. Vilhena Alves afirmou que as informações

fornecidas pelo celular, através da internet, não trazem “grande proveito” e que os jovens não

estariam interessados em pesquisa, pois o ensino não é prazeroso.

Eu queria era incentivar a pesquisa com eles, é essa e sempre foi a minha

intenção, tentar fazer com que eles pensem porque hoje a maioria dos jovens

é imbecil, eles têm muita informação mas não sabem nada, porque o celular

te dá tudo quebrado, nenhuma informação que possa trazer grande proveito.

Ele sabe tudo, na sala de aula de vez em quando aparece um achando que

sabe alguma coisa, mas ele só sabe aquele tópico que apareceu lá, aquela

informação quebrada ali. Genética, por exemplo, “ah, é isso? É e tal”. A

minha intenção, eu queria isso, mas eles também não estão interessados, eles

estão interessados em outra coisa. Estão interessados em celular, estão

interessados em festa, reuniões, acho que bebidas, drogas, porque tu sabes

que o ensino não é prazeroso, eles não têm prazer. Alguns te escutam, mas...

(Professor 1, E.E.E.F.M Vilhena Alves, 2015).

Para que o ensino seja prazeroso, é necessário que professores, alunos, gestão,

comunidade e principalmente os gestores da educação no país estejam interessados e

envolvidos na construção de projetos de educação mais integrados, que não se apoiem em

subdivisões de disciplinas, mas que que integrem corpo e mente, unam os saberes, a razão, as

emoções e sensações. A educação formal bancária considera pedagógico apenas o

conhecimento sistematizado, que destaca a lógica matemática e a escrita e deixa às margens

do fazer educativo o conhecimento abstrato e intuitivo. De acordo com Manuel Moran (2013),

aprendemos de diversas formas, inclusive pelo prazer.

[...] Aprendemos pela credibilidade que alguém nos merece. A mesma

mensagem dita por uma pessoa ou por outra pode ter pesos bem diferentes,

dependendo de quem fala e de como o faz. Aprendemos também pelo

estímulo, pela motivação de alguém que nos mostra que vale a pena investir

num determinado programa, num determinado curso. Um professor que

transmite credibilidade facilita a comunicação com os alunos e a disposição

para aprender. Aprendemos pelo prazer, porque gostamos de um assunto, de

uma mídia, de uma pessoa. O jogo, o ambiente agradável, o estímulo

positivo podem facilitar a aprendizagem (MORAN, 2013, p. 27-29).

Professores da Funbosque e da Escola Vilhena Alves apontaram o uso do celular em

sala de aula como um “empecilho” para a aprendizagem, visto que esta ferramenta tiraria a

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atenção dos alunos ou ofereceriam informações “quebradas”.

Apenas um professor da Funbosque afirmou usar o celular de forma pedagógica durante

suas aulas e ainda disse conseguir maior transdisciplinaridade no ensino utilizando meios

tecnológicos.

Esta discordância nos discursos nos leva a crer que o problema não estaria impresso no

uso das TICs e multimídias na sala de aula, mas sim na forma como elas são utilizadas.

Enquanto um professor acredita que essas ferramentas são aliadas da educação, outros

acreditam que tiram a atenção. Dessa forma, acreditamos que a formação e a sensibilização do

professor para o uso pedagógico e educativo das TICs em sala de aula (virtual, presencial ou

externa) conformaria uma estratégia para que o ensino da biodiversidade seja mais prazeroso

e engaje os educandos de forma integral em seus processos de construção de conhecimento,

dando a eles oportunidades de expressão, baseada em uma pedagogia educativa dialógica.

No discurso do professor entrevistado na E.E.E.F.M Vilhena Alves, notamos que os

alunos foram rotulados como imbecis, pois “eles têm muita informação mas não sabem nada”.

A estrutura da educação bancária sugere uma dicotomia entre homem e mundo, e prega o

homem como espectador e não recriador e transformador do mundo (Freire, 1983). A visão

bancária da educação dá ao educador uma postura de opressor, detentor de conhecimento a ser

transmitido aos educandos, seres que, de acordo com esta concepção, são incapazes de pensar

o mundo de forma crítica e apenas recebem, de forma passiva, informações processadas por

educadores bancários. Para Paulo Freire (1983),

A concepção e a prática da educação que vimos criticando se instauram

como eficientes instrumentos para este fim. Dai que um dos seus objetivos

fundamentais, mesmo que dele não estejam advertidos muitos do que a

realizam, seja dificultar, em tudo, o pensar autêntico, Nas aulas verbalistas,

nos métodos de avaliação dos “conhecimentos’, no chamado “controle de

leitura”, na distância entre o educador e os educandos, nos critérios de

promoção, na indicação bibliográfica, em tudo, há sempre a conotação

“digestiva” e a proibição ao pensar verdadeiro (FREIRE, 1983, p. 73).

Para o autor é necessário superar esta dicotomia e a verticalidade que afasta o educando

do educador e, em seu lugar, pôr em prática uma educação baseada no diálogo, que respeite os

educandos como pessoas autônomas, capazes de pensar e recriar o mundo e suas realidades, e

formar da mesma forma que é formado.

Em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe

com os esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se

como prática da liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os

educandos. Como também não lhe seria possível fazê-lo fora do diálogo.

É através deste que se opera a superação de que resulta um termo novo: não

mais educador do educando, não mais educando do educador, mas educador-

educando com educando-educador.

Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto

educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também

educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos

e em que os “argumentos de autoridade” já não valem. Em que, para ser-se,

funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e

não contra elas.

Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si

mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.

Mediatizados pelos objetos cognoscíveis que, na pratica “bancária”, são

possuídos pelo educador que os descreve ou os deposita nos educandos

passivos (FREIRE, 1983, p. 78-79).

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Reforçando a ideia de Freire (1983), a educomunicação propõe a construção de

ecossistemas comunicativos em ambientes educativos. Os ecossistemas comunicativos são

ideais de relações construídos em um espaço geralmente escolar para favorecer o diálogo e o

convívio social, tendo como metodologia a troca de ideias, considerando o uso das

tecnologias pra potencializar essa relação. Este diálogo tem que ser construído de forma

coletiva, de maneira a congregar os personagens da educação e as TICs. Estes espaços, então,

devem ser abertos, democráticos e participativos, garantindo que os sujeitos sociais

envolvidos tenham possibilidade de se expressar de forma igualitária (Soares, 2011).

A dificuldade que os alunos das escolas investigadas apresentaram na definição do

conceito de biodiversidade de acordo com a literatura utilizada como referência na pesquisa

pode estar relacionada à forma como o ensino é realizado.

Considerações Finais

De maneira geral, acreditamos que o conceito de biodiversidade deve ser melhor

trabalhado em âmbito escolar, de uma forma estruturada e com o auxílio das Tecnologias da

Informação e da Comunicação, que, em certa medida, são utilizadas nestas comunidades

escolares investigadas para favorecer o ensino da biodiversidade e demais temas, no entanto,

este uso é prejudicado pela ausência de estrutura adequada nas duas escolas investigadas, que

não atendem às demandas das comunidades escolares de forma plena, por isso acreditamos

que o uso integral dessas tecnologias seria favorecido com melhores investimentos na

educação pública, principalmente no que diz respeito à formação e sensibilização de

professores para o uso pedagógico das TICs e multimídias e ao estímulo à experimentação de

novas linguagens no ensino da biodiversidade e demais temas.

Como projetos futuros, propomos a sensibilização e a formação dos professores das

escolas investigadas para o uso pedagógico e educativo das Tecnologias da Informação e da

Comunicação, bem como de multimídias para dinamizar o ensino e o aprendizado sobre a

biodiversidade e outros temas.

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