Economia e Negocios_Unidade II

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63 ECONOMIA E NEGÓCIOS Revisão: - Diagramação: Everton - 29/04/11 // Redimensionamento - Geraldo - Correção: Márcio - 17/01/2012 Unidade II 5 O SISTEMA CAPITALISTA E OS MERCADOS 5.1 O que são estruturas de mercado? Afinal, o que vem a ser mercado? Mercado é um local de encontro entre alguém que oferece algo para outro alguém que necessita desse algo. Assim, mercado é um local de trocas: trocas de produtos, de serviços, de informações. Podemos pensar, por exemplo, no mercado de trabalho. O trabalho aqui já foi definido como um fator de produção; como fator primordial de produção de que as empresas necessitam e um fator primordial de produção para que a sociedade possa obter renda. O mercado de trabalho é constituído pôr ofertantes de força de trabalho – mão de obra – e demandantes de tal fator. Como as empresas necessitam do trabalho para por em prática seu processo produtivo, ofertam vagas para que sejam preenchidas pelas famílias que oferecem às empresas a sua riqueza, o trabalho. Assim, de forma conduzida pela mão invisível, conforme explicado por Adam Smith, as empresas e as famílias se encontram em tal mercado. Mas, onde se dá tal encontro? Não necessariamente em um espaço ou local específico. Portanto, entende‑se por mercado um local imaginário onde são efetuadas tais trocas. Outro exemplo é o mercado de crédito. Ele é constituído por agentes superavitários, ou seja, poupadores, que colocam à disposição dos bancos um volume de moeda para que seja emprestada a deficitários. Tais agentes necessitados de moeda recorrem ao mercado de crédito para obter esse recurso. Esse mercado é mais visível, pois é percebido nas atividades dos bancos e das sociedades de crédito. Podemos ainda classificar os mais diversos mercados em concentrados e não concentrados. Faremos isso para melhor entender como se dá o padrão de concorrência entre empresas. É nesse âmbito que entra a discussão sobre estruturas de mercado para que, a partir disso, possamos melhor entender como são divididas as mais variadas atividades econômicas e de que forma são identificadas as diversas empresas existentes num sistema econômico. Tal classificação dá‑se em razão do poder exercido por algum agente econômico – no caso, poder de compradores e de vendedores, mais especificamente, por parte dos vendedores. As várias formas ou estruturas de mercado dependem, fundamentalmente, de três características: a) Número de empresas que compõe o mercado; b) Tipo de produto; c) Existência de barreiras ao acesso de novas empresas.

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    Unidade II5 o sistema capitalista e os mercados

    5.1 o que so estruturas de mercado?

    Afinal, o que vem a ser mercado?

    Mercado um local de encontro entre algum que oferece algo para outro algum que necessita desse algo. Assim, mercado um local de trocas: trocas de produtos, de servios, de informaes.

    Podemos pensar, por exemplo, no mercado de trabalho. O trabalho aqui j foi definido como um fator de produo; como fator primordial de produo de que as empresas necessitam e um fator primordial de produo para que a sociedade possa obter renda. O mercado de trabalho constitudo pr ofertantes de fora de trabalho mo de obra e demandantes de tal fator. Como as empresas necessitam do trabalho para por em prtica seu processo produtivo, ofertam vagas para que sejam preenchidas pelas famlias que oferecem s empresas a sua riqueza, o trabalho. Assim, de forma conduzida pela mo invisvel, conforme explicado por Adam Smith, as empresas e as famlias se encontram em tal mercado. Mas, onde se d tal encontro? No necessariamente em um espao ou local especfico. Portanto, entendese por mercado um local imaginrio onde so efetuadas tais trocas.

    Outro exemplo o mercado de crdito. Ele constitudo por agentes superavitrios, ou seja, poupadores, que colocam disposio dos bancos um volume de moeda para que seja emprestada a deficitrios. Tais agentes necessitados de moeda recorrem ao mercado de crdito para obter esse recurso. Esse mercado mais visvel, pois percebido nas atividades dos bancos e das sociedades de crdito.

    Podemos ainda classificar os mais diversos mercados em concentrados e no concentrados. Faremos isso para melhor entender como se d o padro de concorrncia entre empresas. nesse mbito que entra a discusso sobre estruturas de mercado para que, a partir disso, possamos melhor entender como so divididas as mais variadas atividades econmicas e de que forma so identificadas as diversas empresas existentes num sistema econmico. Tal classificao dse em razo do poder exercido por algum agente econmico no caso, poder de compradores e de vendedores, mais especificamente, por parte dos vendedores.

    As vrias formas ou estruturas de mercado dependem, fundamentalmente, de trs caractersticas:

    a) Nmero de empresas que compe o mercado;

    b) Tipo de produto;

    c) Existncia de barreiras ao acesso de novas empresas.

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    So basicamente quatro as estruturas de mercado mais predominantes: o mercado de concorrncia perfeita, o de monoplio, a concorrncia monopolstica e o oligoplio.

    O mercado no concentrado, representado pelo chamado mercado de concorrncia perfeita. Para que um mercado seja classificado assim, algumas caractersticas devem ser reunidas.

    Um mercado de concorrncia perfeita aquele em que h grande nmero de vendedores (empresas), de tal sorte que uma empresa, isoladamente, insignificante, no afeta os nveis de oferta de mercado e, consequentemente, o preo de equilbrio.

    O mercado de concorrncia perfeita um mercado atomizado, pois composto de um nmero expressivo de empresas e de compradores, como se fossem tomos. Alm disso, rene outras caractersticas, como:

    a) Grande quantidade de compradores para uma grande quantidade de vendedores;

    b) Produto homogneo;

    c) Mercado transparente;

    d) Liberdade aos agentes econmicos quanto entrada e sada de novos participantes;

    e) Mercado atomizado.

    Nesse mercado, no longo prazo, no existem lucros extraordinrios (em que as receitas superam os custos), mas apenas os chamados lucros normais, que representam a remunerao implcita do empresrio.

    Do ponto de vista da teoria microeconmica, a estrutura de concorrncia perfeita uma construo terica, simplificadora da realidade. Mas, construo terica ou no, o fato que uma empresa atuando nesse mercado tambm ter o objetivo de lucro. Melhor ainda, ter como objetivo a maximizao de seu lucro e, dessa forma, precisa decidir quais quantidades produzidas so aquelas que atingem o objetivo. Como se trata de um mercado em que h muitos vendedores de um mesmo produto, a margem de manobra em relao ao preo de venda da mercadoria fica bastante prejudicada, sendo, dessa forma, o preo estabelecido pelo mercado.

    Nenhuma firma, isoladamente, tem condies de alterar o preo ou praticar valor superior ao estabelecido. Contudo, acatando o preo dado pelo mercado, ela poder vender o quanto puder, limitada apenas por sua estrutura de custos.

    Em uma concorrncia perfeita como as quantidades demandadas e ofertadas da mercadoria dependem de muitos compradores e de muitos vendedores o preo da mercadoria estabelecido a partir do encontro das curvas de demanda e oferta. Portanto, o preo da mercadoria estabelecido pelo mercado e, a partir disso, as firmas seguem o valor estabelecido. Dessa forma, so tambm chamadas de

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    seguidoras ou tomadoras de preos.

    De forma oposta do mercado de concorrncia perfeita, temos o mercado de monoplio, quer dizer, o mercado em que existe um nico poder, j representando o mercado concentrado.

    O mercado de monoplio apresenta condies diametralmente opostas s da concorrncia perfeita. Nele existe, de um lado, um nico empresrio dominando inteiramente a oferta, e, de outro, todos os consumidores. No h, portanto, produto substituto perfeito ou concorrente. Nesse caso, ou os consumidores se submetem s condies impostas pelo vendedor ou simplesmente deixam de consumir o produto.

    Para existir monoplio deve haver barreiras que impeam a entrada de novas firmas no mercado. Essas barreiras podem advir de diversas formas, sendo o monoplio puro ou natural uma delas. Esse caso ocorre quando o mercado, por suas prprias caractersticas, exige a instalao de grandes plantas industriais que operam normalmente com economias de escala e custos unitrios bastante baixos, possibilitando empresa cobrar preos baixos por seu produto, o que acaba praticamente inviabilizando a entrada de novos concorrentes.

    Podemos ainda elencar como barreiras o elevado volume de capital requerido para montar uma indstria monopolista, as marcas e patentes, o controle de matriaprima bsica, bem como as instituies. A legislao brasileira acerca do tema probe a existncia de monoplio, permitido apenas para aqueles segmentos de mercado em que, para perfeito funcionamento, deva existir apenas uma empresa. So os chamados monoplios institucionais ou estatais, considerados estratgicos ou de segurana nacional. Observase atualmente, porm, que h uma movimentao para que segmentos monopolizados sejam privatizados.

    Como existem barreiras entrada de novas empresas, os lucros extraordinrios devem persistir tambm no longo prazo nos mercados monopolizados. Nessa estrutura de mercado, a curva de demanda da empresa a prpria curva de demanda do mercado como um todo. Ao ser exclusiva no mercado, a empresa no estar sujeita aos preos vigentes. Isso no significa, porm, que poder aumentar os preos indefinidamente. Deve, pois sim, de alguma forma, se adequar aos padres de demanda dos consumidores.

    Outra estrutura de mercado aquela formada pelos oligoplios. O oligoplio um tipo de estrutura caracterizada por um pequeno nmero de empresas que dominam a oferta de mercado, como o da indstria automobilstica, ou ento, no qual h um grande nmero de empresas com poucas dominando o mercado, como a indstria de bebidas.

    No oligoplio, tanto as quantidades ofertadas quanto os preos so fixados entre as empresas, muitas vezes, por meio de conluios ou cartis (NOGAMI e PASSOS, 2003). Normalmente, as empresas discutem suas estruturas de custos, embora isso no ocorra com relao a sua estratgia de produo e de marketing. H uma empresa lder que, via de regra, fixa o preo, respeitando as estruturas de custos das demais, e h empresas satlites que seguem as regras ditadas pelas lderes. Esse o modelo chamado de liderana de preos.

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    Quanto aos objetivos da empresa oligopolista de maximizao de resultados, a teoria microeconmica aborda duas correntes: aquela apresentada pela teoria marginalista e a apresentada pela organizao industrial.

    Pela abordagem neoclssicomarginalista, a maximizao de lucros se d por:

    LT = RT CT

    onde: LT = lucro total; RT = receita total; CT = custo total

    De acordo com essa abordagem, basta que os custos de produo sejam menores do que as receitas de vendas para que haja lucros para a empresa oligopolista.

    A abordagem industrial no enfatiza a maximizao de lucros pura e simples, mas, sim, a maximizao do markup. A teoria do markup repousa na constatao emprica de que as empresas no conseguem prever adequadamente a demanda por seu produto e, portanto, suas receitas, mas conhecem seus custos. Difere da teoria marginalista, segundo a qual a empresa, para fixar seu preo no lucro mximo, precisa prever tambm as receitas, o que envolve conhecer a demanda por seu produto para igualar suas receitas marginais aos custos marginais.

    Para que a empresa chegue ao preo de venda, dever ento ter em mente seus custos de produo e saber qual sua taxa de markup. Ento:

    p = (1 + m)c

    onde: p = preo do produto; m = taxa de markup, que uma porcentagem sobre os custos diretos; c = custo direto unitrio

    Dessa forma, o markup ser dado pela diferena entre a receita de vendas e os custos diretos. A taxa de markup deve cobrir, alm dos custos diretos, os custos fixos; deve tambm atender uma certa taxa de rentabilidade desejada pela empresa oligopolista.

    A concorrncia monopolista uma estrutura intermediria entre a concorrncia perfeita e o monoplio, mas que no se confunde com o oligoplio.

    Na concorrncia monopolista h um nmero relativamente grande de empresas com poder concorrencial, porm, com segmentos de mercado e produtos diferenciados, seja por caractersticas fsicas, pelas embalagens ou pela prestao de servios.

    Tais empresas detm alguma margem de manobra para fixao dos preos, que no muito ampla, uma vez que existem produtos substitutos no mercado. Essas caractersticas acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preo de seu produto, embora o mercado seja competitivo. O quadro 3, a seguir, resume caractersticas acerca das estruturas de mercado.

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    saiba mais

    Temos disposio uma literatura bastante vasta sobre as estruturas de mercado. Recomendamos que voc leia Polticas de concorrncia: tendncias recentes e o estado da arte no Brasil, de Lucia Helena Salgado. Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011. Na obra a autora discute polticas antitrustes.

    Tambm sugerimos a leitura do texto Do vinho ao caf: aspectos sobre a poltica de diferenciao, de Alexandre Macchione Saes, que analisa o caso da diferenciao de produtos em dois diferentes mercados. Disponvel em: . Acesso em 23 mar. 2011.

    Estrutura Nmero de empresas Tipo de produtoCondies de

    entrada e sadaInfluncia

    sobre o preo Exemplos

    Concorrncia perfeita Muitas

    Produto homogneo Fcil

    Nenhuma, pois so tomadoras de

    preos

    Alguns produtos agrcolas

    Monoplio Uma Produto nico sem substituto prximo Difcil ForteServios de energia

    eltrica

    Concorrncia monopolista Muitas

    Produto diferenciado Fcil Leve

    Comrcio varejista, restaurantes, farmcias

    Oligoplio Poucas Homogneo ou diferenciado Difcil ConsidervelHomogneo: alumnio

    Diferenciado: automveis

    Quadro 3 Resumo das caractersticas das estruturas de mercado12

    lembrete

    Guarde bem: o estudo das estruturas de mercado divide a economia em mercados concentrados e no concentrados. Certifiquese de que reconhece facilmente as caractersticas de cada um deles.

    5.2 como se formaram os grandes oligoplios?

    O sculo XIX (conhecido como o sculo da paz), impulsionado pelo crescimento econmico, progresso tecnolgico e pelos desenvolvimentos polticos advindos da Revoluo Francesa, seria o sculo das interpretaes da razo. Nesse momento, o imprio britnico assentar suas bases, e a conta de tamanho desenvolvimento ser paga depois, com a crise do final do sculo e as lutas dos trabalhadores que,

    12Nogami e Passos (2003).

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    inspirados pelos ideais socialistas, procurariam melhorar as condies de trabalho. Tambm ser paga nas duas ltimas dcadas do sculo e no incio do sculo seguinte, com os movimentos do capital em busca de novos mercados nas colnias e com o imperialismo econmico que acabaria por provocar a I Guerra Mundial.

    No campo das cincias, buscavase um nico e mesmo mtodo para o encontro da verdade, independentemente da rea do conhecimento: era a nova cincia que fascinava a todos. A cincia do sculo XIX seria aquela resultante das heranas do Renascimento mesclada s do Iluminismo e em que se notaria o carter preferencialmente mecanicista e o uso da matemtica como linguagem. Afinal, se o universo era um grande organismo, faltava apenas descobrir uma grande lei que explicasse o seu funcionamento e, do ponto de vista do estudo da economia poltica, isso significava buscar a demonstrao matematicamente rigorosa da superioridade da ordem burguesa e do sistema de mercado: essa ser a principal razo para a busca de uma formalidade metodolgica que conferiria economia o mesmo estatuto de cincia da fsica e para a utilizao constante de metforas derivadas da fsica e da biologia para estudos de pensamento econmico.

    Essa quantificao tambm vir sob a forma de estatsticas e recenseamentos que no mais se dedicam exclusivamente administrao pblica, passando a municiar de dados os que pretendem estudar a sociedade a partir de um mtodo racional e cientfico.

    O desenvolvimento das tcnicas e dos instrumentos para mensurao estatstica permitir aos primeiros rgos e instituies oficialmente responsveis pelas pesquisas estatsticas a descrio de todas as facetas da sociedade, numa verdadeira febre de contagem: nascimentos, bitos, doenas (que serviriam de material para os higienistas), preos, produo, animais, condenados por crimes, prostituio, uso do solo, da gua e do ar. Esses seriam os nmeros que subsidiariam a compreenso da realidade a partir de leis explicativas. Na Inglaterra vitoriana, as leis que j existiam (as de Adam Smith, Malthus e Ricardo) sobre a distribuio econmica eram poucas, mas definitivas. Essas leis pareciam explicar no apenas como a produo da sociedade tendia a ser distribuda, mas tambm como ela devia ser distribuda (HEILBRONER, 1996, p. 120).

    A crise surgiria como resultado da expanso da produo acompanhada de reduo da lucratividade dos negcios: saturao paulatina de novas oportunidades, rapidez na acumulao de capital, limites para extrao da maisvalia, tudo contribuiu para a gestao da crise que romperia ao final do sculo XIX, aparentemente to promissor nos seus primrdios.

    Ao final do sculo XIX, a concorrncia, antes bemvinda, agora sugeria a criao de mecanismos de defesa contra a reduo de preos e de margens de lucro. Essa maior preocupao com os perigos da concorrncia sem barreiras veio numa poca em que a crescente concentrao da produo, principalmente na indstria pesada, lanava os alicerces de uma centralizao maior da propriedade e do controle da poltica dos negcios (DOBB, 1987, p. 310). Surgem trustes, associaes de produtores industriais e cartis. Necessitadas de mercado, as empresas europeias (especialmente as de capital britnico) iro exportar bens de capital para a sia, a frica e a Amrica.

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    Esse impulso ser dado com a explorao do salitre no Chile, com a construo de ferrovias e portos no Brasil, no Mxico, no Japo, no Canad e na Argentina: se o capital j no pode ser traduzido em acumulao nos seus locais de origem, ir ser exportado para o exterior, e l produzir os lucros to desejados pelos empresrios.

    saiba mais

    Sugerimos a leitura de Santa Maria de Iquique, h cem anos, de Ivy Judensnaider, em que a autora relata o ocorrido nas minas de salitre do Chile no comeo do sculo XX. Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

    Como o pensamento econmico ir refletir sobre essa nova realidade? Inspirados pela viso dos sucessivos levantes operrios (levantes esses que encontrariam seu pice em 1848) e pela possibilidade de entender e resolver os problemas oriundos da acumulao capitalista, Marx e Engels iro propor a anlise do capitalismo, advogando sua inexorabilidade rumo destruio. A concepo materialista da histria, escreveu Engels (apud HEILBRONER, 1996, p. 138):

    (...) originase do princpio de que a produo, e com a produo a troca de seus produtos, a base de toda ordem social; que em cada sociedade que apareceu na histria a distribuio dos produtos, e com ela a diviso da sociedade em classes ou Estados, determinada pelo que produzido, como produzido e como o produto trocado. De acordo com essa concepo, as causas finais das mudanas sociais e das revolues polticas devem ser vistas, no na mente dos homens nem em seu crescente impulso em direo da eterna verdade e da justia, mas sim nas mudanas das maneiras de produo e de troca; devem ser vistas no por meio da filosofia, mas sim da economia da poca concernente.

    Marx e Engels empreenderam forte ataque contra as teses clssicas, desmascarando a explorao da classe burguesa sobre os trabalhadores e dando incio a uma corrente de pensamento que extrapolou a prpria economia e ainda hoje se revela muito influente. Marx, em sua clssica obra O capital, de 1867, ao desenvolver conceitos como maisvalia, capital varivel, capital constante, exrcito industrial de reserva e composio orgnica do capital, entre outras contribuies, modificou a anlise do valor, principalmente a teoria do valor trabalho. Nas fbricas, jornadas desumanas de trabalho.

    Fazemos um parntese no pensamento de Marx para citar uma passagem do livro A riqueza do homem, de Leo Huberman, representativa do que era considerado normal, no sculo XIX, em termos de durao de um dia de trabalho em uma fbrica inglesa:

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    As crianas agora trabalhavam em fbricas, sob a direo de um supervisor cujo emprego dependia da produo que pudesse arrancar de seus pequenos corpos, com horrios e condies estabelecidos pelo dono da fbrica, ansioso por lucros. At mesmo um senhor de escravos das ndias Ocidentais poderia surpreenderse com o longo dia de trabalho das crianas. Um deles, falando a trs industriais de Bradford, disse: Sempre me considerei infeliz pelo fato de ser dono de escravos, mas nunca, nas ndias Ocidentais, pensamos ser possvel haver ser humano to cruel que exigisse de uma criana de 9 anos trabalhar 12 horas e meia por dia, e isso, como os senhores reconhecem, como hbito normal (HUBERMAN, 1986, p. 192).

    saiba mais

    O trabalho infantil ainda uma tragdia nos nossos tempos. Se voc quiser saber mais sobre o combate ao trabalho infantil, leia o contedo do site do Ministrio do Trabalho e Emprego e, em particular, as publicaes que ali esto sobre o assunto. Disponvel em . Acesso em: 23 mar. 2011.

    Para Marx, o valor da fora de trabalho determinado, como no caso de qualquer outra mercadoria, pelo tempo e pelo trabalho necessrio produo, consequentemente, reproduo de tal mercadoria. Utilizando esse critrio de valor, Marx analisou a acumulao de capital, a distribuio da renda, as crises econmicas e, por fim, as contradies do capitalismo como sistema de produo de mercadorias.

    A obra de Karl Marx (18181883) extremamente complexa, envolvendo, alm da anlise do funcionamento da economia capitalista, a apresentao de um mtodo de investigao prprio (o materialismo histrico) que, posteriormente, serviu de instrumental para vrias outras reas do saber. Para desenvolver a sua explicao terica do desenvolvimento do capitalismo, Marx partiu de Smith e Ricardo. Segundo Hunt (2005), Marx considerava Mill um oponente intelectual a quem era necessrio respeitar; em relao a Malthus, Bentham, Senior e Say, ele quase que se limitou a criticlos (idem, p. 194): esses autores careciam de uma viso histrica das atividades econmicas e do desenvolvimento social, e suas obras resultavam em anlises fracas e descontextualizadas em relao aos modos de produo e s suas condies particulares em determinados perodos de tempo.

    observao

    Marx faz uma previso: o capitalismo se destruir por si mesmo.

    A produo no planejada, a desorganizao do sistema, constantes oscilaes de preos, tudo conspiraria para a inexorvel crise.

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    O sistema, simplesmente, era complexo demais; desencaixavase de maneira constante, perdia o ritmo, produzia determinada mercadoria em excesso e outra de menos. A segunda, o capitalismo deveria produzir seu sucessor sem o saber. Dentro de suas grandes fbricas ele precisaria no apenas criar a base tcnica para o socialismo produo racionalmente planejada , mas teria, alm disso, que criar uma classe bem treinada e disciplinada que viria a ser o agente do socialismo, o amargurado proletariado. Por sua prpria essncia dinmica, o capitalismo iria produzir a prpria queda e, no processo, alimentaria o inimigo (HEILBRONER, 1996, p. 141).

    Algumas das principais ideias de Marx podem ser assim resumidas:

    a) O capital era responsvel pela gerao de lucros para uma especfica e especial classe social;

    b) O conceito de harmonia social s era possvel se fosse tomada como pressuposto a existncia de apenas uma relao econmica: a troca;

    c) As mercadorias tinham um valor de uso (criado pelo trabalho til) e um valor de troca (criado pelo valor abstrato), este ltimo sendo expresso em termos de preo monetrio; ainda, o valor de uso no poderia ser a base do valor de troca (HUNT, 2005, p. 198). Tendo estabelecido a ligao entre o valor de troca de uma mercadoria e a quantidade de tempo de trabalho socialmente necessrio para sua produo, Marx (...) mostrou as condies sciohistricas especficas necessrias para os produtos do trabalho humano se transformarem em mercadorias (idem, p. 200);

    d) Enquanto numa sociedade no capitalista o fluxo de troca poderia ser descrito por mercadoria dinheiromercadoria (quer dizer, o processo envolvia a troca com o objetivo de adquirir outras mercadorias para uso), numa sociedade capitalista o fluxo caracterizavase por dinheiromercadoria dinheiro (ou seja, o capital permitia a produo de mercadorias que, trocadas, geravam mais dinheiro); a diferena entre dinheiro e dinheiro era a maisvalia, gerada no processo de produo e que tinha como origem o fato de os capitalistas comprarem um conjunto de mercadorias (fatores de produo, incluindo o trabalho que o operrio vendia como mercadoria) por um valor abaixo daquele representado pelo conjunto de mercadorias vendidas (resultantes do processo produtivo).

    Essa anlise levou Marx a concluir que a nica forma de o capitalista sobreviver era acumulando cada vez mais capital; a luta pela sobrevivncia geraria concentrao econmica e faria com que a taxa de lucro tendesse queda, provocando crises setoriais, alienao e misria da classe operria (idem, p. 224).

    saiba mais

    Germinal. Dir. Claude Berri, 160 minutos, 1993. Filme baseado na obra homnima de Emile Zola, retrata a situao dos mineiros franceses ao final do XIX, especialmente as condies insalubres de trabalho associadas aos baixos salrios. Vale a pena assistir!

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    Mais: Marx definiria a acumulao de capital como sendo a retransformao ou a utilizao da maisvalia, produzida pela fora de trabalho, no prprio processo produtivo. Essa acumulao teria seu ritmo dependente da composio orgnica do capital, que era a relao entre o chamado capital constante, derivado do valor dos meios de produo, e o capital varivel, advindo do valor da fora de trabalho. Quanto maior a parcela do capital total destinada ao capital constante em relao ao capital varivel, maior seria a acumulao do capital total.

    Como se daria o processo de acumulao de capital e as crises dela decorrentes? O capitalismo levava criao de empresas cada vez maiores, pertencentes a um nmero cada vez menor de proprietrios. Como a taxa de lucro tendia diminuio, a nica forma de compensar essa queda era aumentar a explorao do trabalhador, mantendo os salrios ao nvel de subsistncia. medida que o capital era acumulado, aumentavase o valor dos outros meios de produo que no o trabalho. Os operrios sem emprego formariam o exrcito industrial de reserva e competiriam pelos poucos postos de trabalho. O capital, ento, passaria a controlar o trabalho; aumentaria a alienao e a pobreza em geral. Aos operrios, portanto, apenas restaria destruir o capitalismo.

    Marx estava certo? Segundo Hunt (idem, p. 233),

    o capitalismo sobreviveu a muitas profecias posteriores a sua morte (...). No podemos esperar que Marx ou qualquer outro pensador tenha sido um vidente infalvel da sequncia exata e da ocasio exata dos acontecimentos futuros. O capitalismo ou qualquer outro modo de produo social muito complexo para permitir previses feitas com base em adivinhaes. Marx, porm, apresentou uma anlise estruturada, bem como inmeros esclarecimentos tericos e histricos concretos, que continuam, comprovadamente, muito teis at hoje.

    O final do sculo XIX, portanto, um tempo de mudanas: emergem as grandes corporaes econmicas com tendncia monopolstica (fazendo desaparecer o capitalismo concorrencial) e o Estado passa a interferir cada vez mais na vida econmica da sociedade.

    Temos, agora, no apenas o contexto a partir do qual se gerou a grande depresso da dcada de 1870, mas tambm o instrumental analtico para compreendla em toda a sua extenso.

    O que se tornou conhecido como a Grande Depresso, iniciada em 1873, interrompida por surtos de recuperao em 1880 e 1888, e continuada em meados da dcada de 1890, passou a ser encarado como um divisor de guas entre dois estgios do capitalismo: aquele inicial e vigoroso, prspero e cheio de otimismo aventureiro, e o posterior, mais embaraado, hesitante e, diriam alguns, mostrando j as marcas de senilidade e decadncia (DOBB, 1987, p. 300).

    Se os mercados so to necessrios para a sobrevivncia do capital, as naes desenvolvidas iro entrar em guerra para disputlos.

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    saiba mais

    Se voc quiser lembrar os fatos relacionados Primeira Grande Guerra, consulte o texto disponvel em: . Acesso em 23 mar. 2011.

    Para refletir

    Vamos pensar um pouco mais?

    O texto a seguir trata do monoplio estatal e do oligoplio privado.

    Situao Do monoplio estatal ao oligoplio privado. Sem concorrncia no mercado, operadoras cobram altas taxas da populao por servios insatisfatrios13.

    Passaramse oito anos desde a privatizao do Sistema Telebrs, estatal que controlava a telefonia fixa brasileira, cujo ramo de atividade foi dividido entre as empresas Telemar, Brasil Telecom e Telefnica. A proposta de privatizao que, em tese, pretendia estimular a concorrncia justa, criou um oligoplio de corporaes. As pequenas empresas, chamadas espelho, que detm concesses limitadas, no conseguem concorrer com as grandes operadoras. De acordo com dados de um estudo feito por um dos diretores da Agncia Nacional de Telecomunicaes (Anatel), Jos Pereira Filho, em julho do ano passado, Telemar, Telefnica e Brasil Telecom possuiam 93% do mercado. As empresasespelho, mesmo sendo aproximadamente 60, administravam apenas 7% desse mercado.

    A falta de concorrncia mantida porque as trs grandes concessionrias atuam em regies diferentes do pas, tendo assim consumidores distintos. Mesmo com o domnio do mercado na telefonia fixa e sem o risco de perderem clientes para outras empresas, os servios prestados so os campees de reclamao nos servios de proteo ao consumidor.

    Acredito que alguns fatores levaram a essa situao. A ideia inicial era de que as empresasespelho entrariam no mercado, no teriam concesses, portanto no teriam obrigaes, como acontece com as concessionrias. Por outro lado, as concessionrias teriam suas obrigaes. Entendiase que as empresas autorizadas, por entrarem no mercado sem essas obrigaes de universalizao, teriam o interesse de atender a todos os clientes. Mas elas acabaram optando pelo mercado corporativo, que mais lucrativo. Como elas no so obrigadas a oferecer o servio para todos os grupos, optaram pelo grupo que oferece mais lucratividade, explica Daniela Batalha, advogada do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

    Proposta: os termos monoplio e oligoplio esto sendo usados corretamente pelo autor do texto?

    13Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    6 a crise de 1929, o sistema capitalista e a mo visvel do estado

    6.1 a crise

    A revista Veja publicou o texto a seguir sobre o famoso outubro de 192914:

    Um alvoroo incomum nos arredores da Bolsa de Valores de Nova York chamou a ateno do comissrio de polcia da cidade, Grover Whalen, na ltima quintafeira, dia 24. Por volta das 11 horas, um rugido cavernoso comeou a escapar do edifcio. Alguns minutos depois, j no era possvel identificar se o bramido vinha de dentro ou de fora da Bolsa; uma multido estrepitosa tomara as cercanias de Wall Street e Broad Street, como formigas rodeando um torro de acar esquecido na pia da cozinha. Alarmado, o comissrio logo enviou um destacamento especial para a regio. A turba, contudo, no representava uma ameaa ordem pblica, como o oficial perceberia mais tarde. Com olhares horrorizados e incrdulos, os novaiorquinos, espremidos uns aos outros, estavam inertes. Eles apenas esperavam, no se sabe ao certo quem ou o qu. Era o pnico.

    Dentro do prdio, a consternao era semelhante e estava ainda mais evidente na agitada face de corretores e operadores, protagonistas e testemunhas do acontecimento que pode mudar os rumos da economia mundial. Smbolo maior da pujana econmica dos Estados Unidos, o mercado de aes, que se tornou verdadeira mania nacional nesta dcada gloriosa para os americanos, via seu baluarte, a rica e poderosa Bolsa de Nova York, despedaarse em poucos minutos naquela que j entrou para os anais como a quintafeira negra. Uma onda sbita e sem precedentes de vendas tomou de assalto o prego novaiorquino. Aes outrora valorizadas simplesmente no encontravam novos compradores, nem mesmo por verdadeiras ninharias. Os preos dos papis, fossem eles da United States Steel ou da American Telephone and Telegraph, caam vertiginosamente, arrastando com eles as economias, esperanas e sonhos de milhares de americanos levados bancarrota instantnea.

    A notcia dizia respeito quebra da bolsa da maior economia do mundo em 1929, que, por sua dimenso, disseminou a crise por todos os continentes. Para Dobb (1987, p. 322), o que rua era o sonho de um paraso econmico:

    14O primeiro nmero da revista Veja impressa foi publicado em 1968. Por meio da internet, porm, sob o nome Veja na Histria, a publicao tem colocado disposio dos interessados edies especiais sobre fatos histricos relevantes que aconteceram no mundo nas mais diversas pocas, como o crash na Bolsa de Nova York. Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    Recomendamos fortemente a leitura do livro As vinhas da ira, de John Steinbeck, editora Record. Romance de 1939 em que o autor narra a trajetria dos camponeses sem trabalho que vagam pelo territrio americano em busca de alguma oportunidade de sobrevivncia.

    Os prprios fatos desses anos sombrios, com suas falncias repentinas, fbricas abandonadas e filas de gente a pedir po, foraram nos espritos j refeitos a concluso de que algo muito mais fundamental do que uma adaptabilidade lenta de desordenadas relaes de preos devia estar errado no sistema econmico, e que a sociedade capitalista teria sido tomada por algo com todos os sinais de ser uma doena crnica que ameaava tornarse fatal.

    Vejamos as origens da crise. Aquele era um tempo em que a atividade econmica tinha como principal caracterstica a produo de massa, resultante de mtodos de fluxo contnuo, pelos quais o movimento do produto atravs de suas etapas sucessivas governado por um s processo mecnico (idem, p. 357). O antigo arteso, o produtor independente da mquina e o agente que operava a mquina, todos eles so substitudos por mquinas que operam e comandam a produo, mquinas essas apenas supervisionadas pelo homem. A produo se torna um processo de equipe, mecanizado e que no pode variar, j que ditado pelo processo mecnico unificado.

    Como era o ambiente econmico nas primeiras dcadas do sculo XX? Tudo parecia funcionar perfeitamente, de acordo com a ideia mtica da mo invisvel, faltando to somente aguardar os movimentos do mercado que conciliariam os interesses da demanda e da oferta. No entanto, no foi isso que se observou. Elevao do grau de monopolizao das empresas, rigidez de preos, manuteno das margens de lucro, reduo do emprego como estratgia para reduo de custos e otimismo infundado: essa era uma mistura improvvel, mas que, ocorrendo, levaria o mundo ao colapso de 1929.

    Se havia reduo da demanda e, portanto, formao dos estoques em nveis acima dos normais, utilizavase a reduo da produo (e do emprego, em consequncia) como instrumento corretivo; os preos, no sistema monopolista, estavam dados e no seriam alterados, da mesma forma que no se alteraria a taxa de lucros dos capitalistas. De acordo com Dobb (idem, p. 360), ainda havia outro fator a ser considerado:

    Na medida em que o processo de produo se torna um todo unificado, em vez de uma coleo de unidades atomsticas, impese pelo menos um tamanho mnimo, abaixo do qual uma fbrica no pode operar. E, na medida em que os custos fixos ou gerais so aumentados, enquanto os custos diretos ou primrios (ou variveis) so simultaneamente rebaixados, a praticabilidade de variar a produo de uma dada fbrica (por exemplo, pela sua dotao com uma fora de trabalho menor) fica ao mesmo tempo reduzida.

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    O otimismo infundado, que mencionamos anteriormente, encontrava apoio nos lucros obtidos em operaes na bolsa de valores: os lucros eram to imensos, que todos compravam aes. Do padeiro ao motorista de nibus, todos compravam aes, embalados pelo sonho da prosperidade rpida e sem riscos, sequer imaginando que o fim estava muito mais prximo do que se imaginava. Mas, por qual motivo?

    Desde muito, o governo americano incentivava o cidado a participar do mercado acionrio. Afinal, o crescimento da produo industrial americana havia ocorrido custa de uma grande quantidade de dinheiro aplicado em bolsa de valores por meio de aquisio de aes de empresas.

    no mercado financeiro que as empresas, ao disponibilizar aes para negociao, conseguem elevar seu capital e investir no crescimento da produo. nesse tipo de mercado que agentes superavitrios encontram formas alternativas de valorizar suas riquezas, deixandoas disposio dos empresrios que investiro mais e mais na produo de coisas teis. Ao final do processo, o empresrio vende sua produo e repassa parte dos lucros aos agentes superavitrios que acreditaram no negcio. Simples e bonito, no? Nem sim, nem no!

    O fato de as empresas utilizarem o mercado acionrio como forma de angariar recursos para aumentos de produo louvvel, assim como promissor o fato de pessoas acreditarem e apostarem na produo alheia como forma de valorizao do capital. O que no est correto, ou pelo menos no se mostrou correto poca, foi a nsia capitalista de querer acumular mais e mais capital, a ponto de algumas pessoas hipotecarem seus imveis para arriscar lucros alvissareiros no mercado financeiro. Ora, para que lucros maiores sejam repartidos entre mais pessoas, maiores devero ser os lucros das empresas, ou seja, sua margem de lucro ser, portanto, maior que sua rentabilidade como negcio.

    Vimos em pginas anteriores certa tendncia para a mecanizao da produo. Para que a produo seja mecanizada, o homem d espao para a mquina. Quem recebe salrios para trocar sua remunerao por produtos? Homens ou mquinas? Pensemos mais um pouco.

    Com o processo de acumulao e concentrao do capital aliado aos aumentos de eficincia e produtividade da produo permitidos pelo crescente uso da maquinaria um volume de produtos cada vez maior lanado ao mercado para consumo.

    Faamos, ento, a conta. As empresas industriais desempregam pessoas. As empresas industriais aumentam as quantidades de produtos produzidos. Quem compra? Quem gera receitas s empresas? De que forma essas empresas sero lucrativas? Como devolvero o capital anteriormente investido, agora crescido em funo dos lucros prometidos? Ademais, grande quantidade de consumidores no estava interessada em comprar e adquirir produtos, mas em investir seu dinheiro na produo! Percebe? Assim,

    quando os escombros foram varridos, o estrago era assustador. Em dois insanos meses o mercado perdera todo o terreno que ganhara em dois anos delirantes; US$ 40 bilhes em valores haviam simplesmente desaparecido. Houve tambm o fato de que o americano mdio usara sua prosperidade de forma suicida; ele se hipotecara at o pescoo, esticara seus recursos de forma perigosa sob a tentao de compras a prestao e acabara por selar o prprio destino comprando

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    avidamente fantsticas quantidades de aes cerca de 300 milhes de quotas, a estimativa com dinheiro emprestado (HEILBRONER, 1996, p. 233).

    O sistema monopolista tambm impedia a entrada de novas empresas, e a queda de investimentos logo se faria sentir. Capacidade ociosa: esse seria o resultado da adoo desse conjunto de prticas, e a ociosidade seria no apenas de equipamentos e ativos imobilizados, mas especialmente da mo de obra, que se caracterizaria como exrcito industrial de reserva de dimenses alarmantemente ampliadas.

    Os Estados Unidos, antes reconhecidos como osis do mundo para se viver, passaram a ser identificados como geradores de crises.

    Os milhes de desempregados eram como uma embolia na circulao vital da nao; e enquanto sua evidente existncia argumentava com mais fora do que qualquer texto para demonstrar que algo estava errado no sistema, os economistas retorciam as mos, espremiam os crebros e invocavam o esprito de Adam Smith, mas no conseguiram estabelecer qualquer diagnstico nem remdio. Desemprego este tipo de desemprego simplesmente no se encontrava na lista dos possveis problemas do sistema; era absurdo, irracional e, portanto, impossvel. Mas estava ali. (HEILBRONER, 1996, p. 234).

    O mecanismo da crise est representado no quadro 4 a seguir.

    Mecanismo da crise de 1929

    Subconsumo e

    superproduo

    Desemprego

    Quebra dos rendimentos

    Baixa de preos

    Quebra dos lucros

    Falnciasindustriais

    e comerciais

    Diminuio

    do

    crdito

    Falncias

    bancrias

    Quebra

    das

    aes

    Quadro 4 O mecanismo da crise

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    O que fazer com o mundo que no caminhava automaticamente para o equilbrio, tal como preconizado e previsto pelo liberalismo que marcara a gnese da investigao econmica? O que fazer com as teorias explicativas da poca, notadamente na figura de Jean Baptist Say, de que a oferta cria sua prpria procura e que as economias tendem ao equilbrio geral? Vrias foram as estratgias que inspirariam os governantes dos mais diversos pases do mundo e romperiam com determinados paradigmas do pensamento econmico.

    A partir das guerras mundiais, entremeadas pela crise de 1929 e pela Grande Depresso, a teoria econmica convencional passou a ser objeto de investigao e passvel de mudana. A partir das catstrofes causadas pela Grande Depresso, h uma ruptura com a cincia clssica, pois os chamados economistas clssicos acreditavam que as economias de mercado tinham a capacidade de, sem a interferncia do governo, utilizar de maneira eficiente os recursos disponveis, ou seja, produzir esses recursos com pleno emprego. A partir do momento em que as economias atingissem o ponto de pleno emprego, o produto da economia e o emprego j estariam determinados, representando ento a efetiva disponibilidade de recursos.

    6.2 a interveno do estado

    A macroeconomia at ento prevalecente sugeria a existncia de uma tendncia automtica ao pleno emprego de recursos e, dessa forma, inexistncia de desemprego de trabalhadores. Mas, por conta principalmente da Grande Depresso dos anos de 1930, a evidncia emprica mostrava pessoas buscando constantemente emprego sem alcanar sucesso.

    Costumase creditar quebra da bolsa de valores a responsabilidade pela Grande Depresso dos anos 1930, mas importante notar outros acontecimentos da economia americana da poca que, conjugados euforia especulativa, acabaram por gerar a crise.

    Um desses acontecimentos foi um revs no setor agrcola. Este, caracterstico de um mercado de concorrncia perfeita, produz um bem com demanda inelstica em relao ao preo e renda. O que isso significa? Que se, por exemplo, baixar sobremaneira o preo da alface, o seu consumo no aumentar na mesma magnitude. O mesmo ocorre em funo da renda. Como a sociedade vinha se industrializando, era natural que os salrios dos trabalhadores da indstria fossem maiores em comparao aos trabalhadores agrcolas. Assim, e diante do fato de as sociedades estarem mais concentradas nos centros urbanos em detrimento dos rurais, o consumo de produtos industrializados era maior do que o dos produtos agrcolas, gerando uma crise de superproduo agrcola e diminuindo os lucros dos empresrios desse setor.

    Atrelado ao setor industrial, que remunerava o trabalho conforme sua produtividade, surgiu outro setor: o de servios, que dava suporte e assistncia s indstrias. Para que as empresas do setor de prestao de servios tivessem condies de trabalhar, necessitavam de trabalhadores que seriam roubados do setor da indstria. Tais trabalhadores somente mudariam de emprego se a relao de salrio fosse melhor, ou seja, se o setor de servios pagasse salrios mais elevados do que a indstria. Dessa forma, os lucros no setor de servios eram muito baixos para pagamentos de salrios elevados, comparativamente aos salrios industriais.

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    Em 1933, Roosevelt assumiu a presidncia dos Estados Unidos e uma pesada herana: 17 milhes de desempregados. Para achar uma sada para a crise, sua equipe elaborou um plano que passou a ser conhecido como New Deal (Novo Acordo). Caberia ao Estado intervir na economia, vigiando o mercado e os empresrios, corrigindo as distores e monitorando as atividades nas bolsas de valores.

    Basicamente, o New Deal procurou consertar o desequilbrio na economia por meio de algumas estratgias:

    a) Criao de um portentoso e ambicioso programa de obras pblicas a serem executadas por rgos pblicos e empresas estatais: foram construdas estradas, escolas, hospitais, aeroportos e toda uma infinidade de obras de infraestrutura;

    b) Criao da Previdncia Social e elaborao de leis sociais para a proteo dos trabalhadores e desempregados;

    c) Criao do salrio mnimo;

    d) Diminuio da jornada de trabalho e manuteno dos salrios;

    e) Compra de estoques de cereais e sua posterior queima, para manter a remunerao dos setores da economia envolvidos com o setor primrio;

    f) Arbitragem dos conflitos entre empresrios, forandoos a concretizar acordos sobre os nveis de produo e preos;

    g) Renegociao e perdo das dvidas dos pequenos proprietrios;

    h) Concesso de crdito aos fazendeiros.

    A proposta do New Deal foi a de aumentar a capacidade de consumo da sociedade sem que, num mesmo momento, fosse aumentada a capacidade de produo das empresas. A preocupao maior de Roosevelt era a de proporcionar sociedade novos tempos de consumo e produo. Para tanto, as aes citadas permitiram ao governo transferir renda para a sociedade.

    Acompanhe o raciocnio acerca da construo de infraestrutura mencionada anteriormente.

    Para que o governo possa construir escolas, por exemplo, precisa inicialmente de um espao geogrfico, um local fsico. Para tanto, pode adquirir uma fbrica fechada em funo da crise anterior. Assim, o governo repassa, por meio da compra de um imvel, determinada renda a uma famlia que pode voltar ao mercado de consumo. Essa escola agora precisa ser construda. Ento, o governo adquire do mercado de construo civil todos os materiais necessrios construo. Precisar contratar pessoas que trabalharo nas obras, pedreiros, marceneiros, pintores e demais profissionais. Cada um desses profissionais receber um salrio como forma de remunerao de

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    sua atividade. Portanto, voltam a receber renda e tambm podem voltar ao mercado de consumo de mercadorias. E, assim por diante.

    Os empresrios, por seu turno, incentivados tambm pelo governo com subsdios produo, voltam a ter mpeto para continuar seus negcios, percebendo agora que a sociedade tambm tem capacidade de retorno ao mercado de consumo. Assim, empresas voltam a empregar outras pessoas e retomam a produo anteriormente freada em funo da crise. um crculo.

    Todas essas medidas conjugadas geraram um aumento no nvel de emprego da economia, forando o aumento da produo e da contratao de empregados, a manuteno da atividade econmica e o controle das tenses sociais.

    Sob efeito da crise, qual a soluo para o capital? A resposta : o Estado. O Estado, finalmente, salvava o capital: acabava a era da crena no equilbrio natural e automtico do mercado. Experimentaramos o perodo chamado de welfare state, estado de bemestar social, em que caberia ao Estado o resgate da sociedade.

    observao

    Repare aqui numa coisa, conforme avanamos em nossa disciplina, percebemos que h certa mudana no papel do Estado na economia: de instrumento de uso pela classe dominante para regulador da atividade econmica.

    Um economista britnico se proporia a traduzir essa nova situao dentro dos rigores do pensamento econmico: seu nome era John Maynard Keynes, e o seu trabalho, A teoria geral do emprego, do juro e da moeda, foi to brilhante, que ainda hoje ele adjetiva parcela considervel dos economistas do mainstream15. Keynes mostrava que, contrariamente aos resultados apontados pela teoria clssica, as economias capitalistas no tinham a capacidade de promover automaticamente o pleno emprego. Assim, deveriam ser abertas oportunidades para a ao governamental: por meio dos clssicos instrumentos de poltica econmica, caberia ao governo direcionar a economia rumo utilizao total dos recursos.

    A anlise de Keynes partiu do estudo da riqueza de uma nao. Segundo ele, a medida de riqueza de uma nao sua renda. E renda, aqui, no um conceito esttico, porque ela se transfere de mos no processo de produo e consumo de mercadorias; na verdade, essa transferncia que revitaliza a economia. Parte da renda gasta no consumo de bens e servios; outra parte poupada, ou em bancos ou por meio da aquisio de aes. De qualquer forma, esperado que essa renda retorne ao sistema, via concesso de emprstimos ou por meio de financiamentos para a expanso das atividades produtivas.

    15Ainda nos dias de hoje, uma boa parte da heterodoxia econmica se autointitula de keynesiana.

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    O problema surge porque essa comunicao entre poupana e investimento no automtica. O fluxo circular da renda no funciona de forma automtica. E a est a possibilidade de depresso. Se nossas poupanas no forem investidas por empresas com negcios em expanso, nossas rendas vo declinar. Estaremos na mesma espiral de contrao como estaramos se tivssemos congelado nossas poupanas guardandoas no colcho (HEILBRONER, 1996, p. 248). A economia fica paralisada, segundo Keynes. Ele ainda descobriria mais uma coisa: a depresso e a crise da bolsa haviam acabado com o montante de poupanas. De fato, sequer havia renda para o consumo, quanto menos para poupana.

    A maior consequncia era que a economia encontravase em uma condio de paralisia exatamente quando precisava ser mais dinmica. Pois, se no havia excedente de poupanas, no havia presso na taxa de juros para encorajar os negociantes a pedir emprstimos. Se no havia emprstimos e gastos com investimentos, no havia mpeto de expanso. (...) Assim, davase o paradoxo da pobreza em meio fartura e anomalia de homens e mquinas sem ter o que fazer (idem, p. 252).

    O que fazer nessa situao de paralisia?

    Keynes elaboraria teoricamente o que se tentara antes, e de forma bemsucedida, com o New Deal americano. Assim, cabia ao governo tirar a economia do fundo do poo, investindo e criando empregos. Ao criar empregos, criaria renda para consumo e poupana. Criando demanda, criaria estmulos para que a oferta fizesse a produo retomar seu crescimento. O governo deveria investir em obras pblicas, mesmo que fosse apenas para cavar buracos que, posteriormente, fossem tapados: a prioridade era criar emprego.

    Em outras palavras, os projetos de obras pblicas atacariam o problema com uma faca de dois gumes: ajudando diretamente a manter o poder de compra das pessoas, que de outra forma permaneceriam desempregadas, e liderando o caminho para a retomada da expanso privada dos negcios (idem, p. 256). Era, afinal, a mo visvel do Estado colocando ordem no mercado, ordem essa que outra mo invisvel lograra no conseguir. Assim, diante desse contexto, Keynes apresenta O princpio da demanda efetiva como novidade para o pensamento econmico da poca.

    Os resultados obtidos foram satisfatrios. Como pode ser visto no grfico 2 a seguir, a economia americana voltou a crescer, e nesse crescimento se manteria at a dcada de 1970. Observe: a linha pontilhada corresponde ao crescimento americano. As barras verticais correspondem ao crescimento da economia brasileira.

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    Tendncia secular do crescimento no Brasil e nos Estados Unidos (1900-2005)

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    Grfico 2 Crescimento no Brasil e nos Estados Unidos

    Faltava ordenar ainda alguns mecanismos, e isso ocorreria em Bretton Woods: uma sequncia de acordos determinariam algumas regras de relacionamento monetrio entre os pases. Escaldados pelo efeito domin da crise de 1929 e ainda sob a comoo da II Guerra Mundial, os pases industrializados iriam estabelecer normas para a paridade cambial, tornando as moedas indexadas ao dlar e este ancorado na conversibilidade ao ouro. Ainda como resultado de Bretton Woods, surgiriam o Banco Internacional de Reconstruo de Desenvolvimento (BIRD), constituinte do Banco Mundial, e o Fundo Monetrio Internacional (FMI).

    Conforme Manzalli e Gomes (2006, p. 8990),

    o Banco Mundial e o Fundo Monetrio Internacional so dois importantes organismos criados para promover a coordenao de polticas entre pases, notadamente na rea financeira, mas muitas vezes tal coordenao ocorre em detrimento de interesses de sociedades. Com o avano do comrcio de longa distncia na Europa, surge certa tendncia de que as coordenaes financeiras, predominantemente administradas por famlias dos comerciantes locais, passem a desempenhar um papel primordial na definio dos interesses polticos e econmicos de diversos grupos no continente. Com o tempo, o desenvolvimento do comrcio privado de moedas e instrumentos financeiros

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    organizase em cidades que ganham status de centros financeiros, e estes, agora, passam a influenciar governos e diversos grupos sociais em muitas localidades onde, no incio do sculo XX, o poder econmico de Londres faziase sentir em vastas regies do globo.

    De acordo com Sandroni (1996), o FMI foi criado em 1944 para tentar promover a cooperao monetria entre todos os pases do mundo. Essa iniciativa partiu da necessidade de equilibrar paridades monetrias justas entre diferentes moedas, evitando desvalorizaes concorrenciais e formando um grande fundo com recursos dos pases membros. Esses recursos seriam utilizados em favor de pases que encontrassem dificuldades nos pagamentos internacionais, principalmente aqueles que apresentavam recorrentes dficits em sua conta de transaes correntes.

    Uma das principais funes do Fundo era regular as paridades das moedas. Tinha o objetivo essencial de presidir um regime internacional de cmbio praticamente fixo, promovendo a cooperao monetria internacional mediante uma instituio permanente que servisse de mecanismo para consulta e colaborao sobre problemas monetrios. Em seu instrumento constitutivo estabeleceuse, ainda, que recursos financeiros do Fundo seriam oferecidos temporariamente aos pases membros para proporcionarlhes oportunidades de corrigir desequilbrios no seu balano de pagamentos, sem recorrer a desvalorizaes cambiais, consideradas destrutivas da prosperidade internacional (Manzalli e Gomes, 2006, p. 96).

    J o Banco Mundial, instituio financeira internacional ligada Organizao das Naes Unidas (ONU), e tambm criada em 1944, tinha como propsito o financiamento de projetos de recuperao e de promoo de desenvolvimento econmico dos pases atingidos pela guerra (Sandroni, 1996). Na prtica, esse papel ficou a cargo do chamado Plano Marshall, e o banco passou a lidar de modo crescente com o tema do desenvolvimento econmico e a atuar, sobretudo, junto aos pases subdesenvolvidos (BAUMANN, 2004).

    Formalmente, seu intuito era canalizar capital para investimentos que permitissem elevar a produtividade das empresas, o padro de vida das pessoas e as condies de trabalho nos pases membros. Assim, a preocupao primordial do Banco Mundial seria aquela ligada melhoria das condies de vida da populao, quer dizer, s questes de cunho qualitativo (e no quantitativofinanceiro, a exemplo do FMI).

    Conforme salientam Manzalli e Gomes (2006), o objetivo bsico do Banco Mundial era o de auxiliar na reconstruo e no desenvolvimento de territrios dos pases membros atingidos pela destruio da guerra. Esse objetivo deveria ser atendido por meio de atividades dedicadas a:

    a) Prover capital para fins produtivos;

    b) Promover o investimento externo privado;

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    c) Complementar o investimento privado mediante o fornecimento de capital para fins produtivos;

    d) Promover o crescimento equilibrado de longo prazo do comrcio internacional;

    e) Manter o equilbrio nos balanos de pagamento mediante o incentivo internacional a investimentos para o desenvolvimento de recursos produtivos.

    Os resultados das polticas keynesianas logo se fariam sentir e a economia americana viveria o seu perodo de maior riqueza e crescimento.

    No Brasil, tambm se adotaria estratgia parecida do New Deal: ao tempo de Getlio Vargas, a produo de caf seria comprada pelo governo apenas para remunerar os fatores de produo empregados. Depois, esse caf seria queimado, em vez de ser colocado no mercado, abaixando ainda mais o preo do produto.

    Compravase caf no para revendlo, mas apenas para manter a remunerao de setores importantes da economia.

    Em sua obra Teoria geral do emprego, do juro e da moeda, Keynes explicaria a necessidade de investir na criao de empregos como medida para manter a demanda agregada e evitar a queda da produo. Se fosse necessrio, que se cavassem buracos e se os cobrissem novamente. Ou, nas palavras dele: Cavar buracos no cho, custa da poupana, no s aumentar o emprego como tambm a renda nacional em bens e servios teis.

    Para refletir

    Veja o texto abaixo e reflita, conforme o proposto.

    Situao Numa entrevista concedida nos anos 1970, Golbery do Couto e Silva, ento Ministro Chefe da Casa Civil, afirmou que a maior ou menor interveno do Estado na economia assemelhavase aos movimentos cardacos de sstole e distole, o que os tornava, portanto, inexorveis com o passar do tempo.16

    Proposta: em que situaes voc acha ser importante a interveno do Estado na economia?

    Vamos pensar um pouco mais?

    Observe o trecho da entrevista de Fernando Ferrari Filho, professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisador do CNPq, sobre a situao proposta:

    16Disponvel em: . Acesso em: 23 mar. 2011.

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    Situao

    Keynes nunca deixou de viver, no aspecto figurativo. Entre os anos 1950 e 1970, o mundo passou por um perodo de prosperidade jamais visto, conciliando crescimento econmico e estabilizao de preos. E, queiramos ou no, essa prosperidade se alicerou em concepes de carter keynesiano, ou seja, polticas monetrias e fiscais extremamente expansionistas, controle de capitais e estabilidade das taxas de cmbio. Foram as regras do sistema criado em Bretton Woods, na dcada de 1940.

    (...) Eu diria que no h ningum mais moderno que o Keynes para explicar as dificuldades atuais e para nos fazer entender que essas crises financeiras do capitalismo no so anmalas. Elas tendem a se repetir por perodos. Os economistas que so cticos ao Keynes, o so porque nunca o leram. Segundo ponto: aquilo que voc falou. As pessoas se apoiam no Keynes, se reportam s ideias dele, como agora, defendendo polticas fiscalistas, polticas de injeo de liquidez, como se fosse para solucionar um problema de curto prazo. Ou seja, hoje existe uma aceitabilidade de Keynes, para remediar os problemas. Pegando a sua expresso, na viso dessas pessoas, Keynes s para o tempo em que durar a chuva. Por qu? Porque entendem que os mercados tendem a seguir uma lgica definida. Entendem que polticas fiscais e polticas monetrias de cunho essencialmente keynesiano devem ser utilizadas em pocas de crise, de depresso, mas no devem ser utilizadas em pocas de prosperidade. Acreditam que o mercado funciona na lgica da normalidade e s veem relevncia no Estado keynesiano dentro de uma lgica de depresso. Essa , infelizmente, a percepo. 17

    Proposta: o que podemos concluir a respeito da atualidade das ideias keynesianas?

    resumo

    Antes que voc faa os exerccios, vamos relembrar os pontos mais importantes j discutidos at agora:

    O mercado o local de encontro entre quem oferece bens e servios e quem procura bens e servios. Portanto, um local de trocas. A concorrncia perfeita, o oligoplio, o monoplio e a concorrncia monopolista so as estruturas de mercado mais comuns.

    17Disponvel em: . Acesso em: 1 nov. 2010.

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    O oligoplio se formou a partir das dificuldades enfrentadas pelo capitalismo ao final do sculo XIX.

    Karl Marx, sob o impacto das condies miserveis dos trabalhadores e das dificuldades pelas quais passava o capitalismo, escreve sua obra O capital, rompendo com a lgica do liberalismo clssico e criando uma vertente alternativa de anlise.

    Embora sua teoria no tenha sido aceita pelo mainstream, algumas de suas previses se concretizaram: o capitalismo passaria por inmeras crises.

    A crise de 1929 ensejou uma mudana na compreenso do papel do Estado: agora, cabia a ele intervir, regulando as atividades econmicas e conduzindo o sistema ao equilbrio e ao pleno emprego.

    Keynes elabora sua obra sob influncia desses acontecimentos. A crise de 1929 e as guerras mundiais criam as condies para o surgimento do FMI e do Banco Mundial: a partir desse momento, o capital se organiza em termos mundiais.

    eXerccios

    Questo 1. (Adaptada do Enade Histria 2008)

    Figura 4

    Leia o trecho: (...) o fato maior do sculo XIX a criao de uma economia global nica, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de transaes econmicas, comunicaes e movimentos de bens, dinheiro e pessoas, ligando os pases desenvolvidos entre si e ao mundo no desenvolvido. [...] Sem isso no haveria um motivo especial para que os Estados europeus tivessem um interesse algo mais que fugaz nas questes, digamos, da bacia do rio do Congo, ou tivessem se empenhado em disputas diplomticas em torno de algum atol do Pacfico. Essa globalizao.

    da economia no era nova, embora tivesse se acelerado consideravelmente nas dcadas centrais do sculo (HOBSBAWM, Eric. A Era dos Imprios: 18751914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988, p. 95)

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    O texto faz referncia expanso imperialista europeia no sculo XIX. Uma caracterstica desse movimento de conquista de novos mercados que ocorre nos Oitocentos :

    Assinale a alternativa correta:

    A) A ausncia do Estado protecionista na criao de uma economia global nica.

    B) A criao de uma economia global nica no contexto do crescimento industrial europeu.

    C) A ausncia de concorrncia entre os pases mais industrializados.

    D) O favorecimento social das regies coloniais com a ampliao dos investimentos europeus.

    E) Os benefcios econmicos proporcionados s massas descontentes dos imprios.

    Resposta correta: alternativa B.

    Anlise das alternativas:

    A) Alternativa incorreta.

    Justificativa: a ausncia do Estado protecionista na criao de uma economia global nica inverte a natureza do processo encabeado pelo Estado em proteger a sua economia.

    B) Alternativa correta.

    Justificativa: foi isso o que suscitou o interesse de pases europeus em expandir os seus domnios, incentivando o interesse em outras reas geogrficas fora de seus domnios territoriais, e assim, o crescimento do imperialismo econmico.

    C) Alternava incorreta.

    Justificativa: havia extrema concorrncia entre os pases mais industrializados, tanto que esses conflitos acabariam por gerar a I Guerra Mundial.

    D) Alternativa incorreta.

    Justificativa: no havia qualquer favorecimento em relao s regies coloniais.

    E) Alternativa incorreta.

    Justificativa: no havia preocupao nenhuma em proporcionar benefcios s massas descontentes, o que contribuiu com a crise do final do sculo e com as lutas dos trabalhadores, que, inspirados pelos ideais socialistas, procurariam melhorar as condies de trabalho.

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    Questo 2. Leia o trecho:

    (...) Em 3 de setembro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova York atingiu os ndices mais elevados que jamais seriam vistos nos vinte anos seguintes, para apenas algumas semanas depois, ser palco da mais devastadora crise que o sistema capitalista passou, atravs dos desdobramentos do que se chamou o crack de Wall Street. Um sentimento geral de otimismo e confiana no sistema americano, fez com que o pblico em geral acreditasse que o preo das aes e demais ttulos continuasse a subir indefinidamente, o que tornava imperativa a compra, para se poder usufruir da era de prosperidade. Se at fevereiro de 1928 a alta do preos dos papis seguiu, grosso modo, o aumento assinalado dos lucros das empresas, a partir dessa data, ela foi sustentada apenas pela onda especulativa. Essa onda era encorajada por afirmaes otimistas de homens de negcios e autoridades governamentais, como a do presidente Coolidge em 4 de dezembro de 1928, de que nenhum Congresso dos EUA jamais reunido (...) se viu com uma prosperidade mais agradvel que essa que parece agora, que serviu para prontamente restaurar a confiana, abalada pelo colapso do setor de construo civil em meados de 1928. (...) Havia chegado um ponto em que os compradores no mais levavam em conta o valor intrnseco dos ttulos, procurando aumentar seu patrimnio pela simples posse de aes quaisquer. Isso naturalmente supervalorizava todos os papis. Nessas condies, mesmo as aes das empresas mais slidas encontravamse supervalorizadas, e as aes de segunda linha haviam atingido preos injustificveis, muito alm de seu valor patrimonial ou de sua capacidade de remunerar, atravs de dividendos, os capitais aplicados. Essa situao, reflexo ntido das condies artificiais do crescimento da economia norteamericana durante a dcada de 1920, no poderiam prolongarse indefinidamente: seu ponto de equilbrio rompeuse em outubro de 1929 (...) (REZENDE, 2007).

    Considere as afirmativas que se seguem:

    I A especulao monetria da poca exigiu um sentimento de confiana e de otimismo, e a convico de que as pessoas comuns estavam destinadas a ser ricas. Tal sentido era fortalecido pelo endosso das autoridades e dos fatos de enriquecimento aparentes.

    II A ocorrncia da crise gerada em 1929 serviu para colocar em cheque a doutrina da Lei de Say, mostrando que a renda no necessariamente gasta ou investida, e de que a economia no tende ao equilbrio.

    III O crack da Bolsa de Valores de Nova York pode ser considerado como resultado natural de uma dcada de desenvolvimento econmico, em que a demanda e oferta agregadas foram influenciadas por financiamento de consumo, produto de espetacular desenvolvimento do mercado de crdito americano nos anos 1920.

    IV Agregase aos fatores que contriburam para a Depresso dos anos 1930: a crise de superproduo engendrada no setor primrio da economia da poca.

    Aps a leitura do texto sugerido, da considerao das afirmativas propostas e da discusso apresentada nesta Unidade acerca do assunto, assinale a alternativa que contm as afirmativas corretas:

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    A) I e II.

    B) II e III. C) I, III e IV.

    D) III e IV.

    E) Todas as afirmativas esto corretas.

    Resoluo desta questo na Plataforma.