Edição 34

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Criada para ajudar doentes sem recursos financeiros, a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) chama mais atenção pela fortuna que arrecada para si: R$ 3 milhões ao ano, com superávit de R$ 503 mil

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Caxias do Sul, julho de 2010 | Ano I, Edição 34 | R$ 2,50|S24 |D25 |S26 |T27 |Q28 |Q29 |S30

ROTEIRO DE INVERNOAinda pouco explorado, o interior de Caxias mostra que também pode encantar turistas

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Eleição cara: candidatos locais devem gastar R$ 12 milhões | Memória restaurada: Patronato em reforma No escuro da espera: reformulação do Som & Luz | Roberto Hunoff: formalização do trabalho na praça

Criada para ajudar doentes sem recursos financeiros, a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) chama mais atenção pela fortuna que arrecada para si: R$ 3 milhões ao ano, com superávit de R$ 503 mil

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2 24 a 30 de julho de 2010 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.O Caxiense

Índice

Expediente

Assine

A Semana | 3As notícias que foram destaque no site

Roberto Hunoff | 4Uma semana para formalizar – de graça – pequenos negócios

Do tostão ao milhão | 5Candidatos de Caxias, somados, deverão gastar mais de R$ 12 milhões na campanha

Para conhecer Caxias | 7Roteiros turísticos do interior ainda são caminhos a descobrir (para muitos caxienses, inclusive)

Fora de cartaz | 11Espetáculo Som & Luz, ausente na Festa da Uva, ainda aguarda reformulação

Instinto sobre tela | 12Usuários do Caps mostram as descobertas de pintar In Sana Mente

Balanço intrigante | 14Com meio milhão de reais de superávit, as contas da Aapecan chamam a atenção

Passado restaurado | 17O sombrio prédio de mais de 80 anos do antigo Patronato passa por reformas

Guia de Cultura | 18Comédia Ao Quadrado no teatro e um expoente europeu no cinema

Artes | 20O olhar de quem espera e a cartade quem cansou de esperar

Pausa alviverde | 21De folga, o Ju avalia a estreia contra o Criciúma e pensa no Caxias

Guia de Esportes | 22No futebol amador, a torcida é por tempo bom no fim de semana

Expectativa no Centenário | 23Time grená enfrenta a Chapecoense em momento decisivo antes do CA-JU

Espetacular a capa desta edição. Baita jogada! Aos caxienses: agora, e sempre, é a vez das torcidas fazerem

seus papeis.

Otávio Valente Ruivo

www.OCAXIENSE.com.br

Redação: André Tiago Susin, Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), Graziela Andreatta, José Eduardo Coutelle, Luciana Lain, Marcelo Aramis (editor assistente), Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora), Renato Henrichs, Roberto Hunoff, Robin Siteneski e Valquíria Vita Comercial: Leandro Trintinaglia e Cláudia PahlCirculação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de OliveiraAdministrativo: Luiz Antônio BoffImpressão: Correio do Povo

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para [email protected]. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120

Jornal O Caxiense Ltda.Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471Fone 3027-5538 | E-mail [email protected]

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Duas reportagens desta edição ganham uma extensão multimídia no site. A primeira é a do turismo, escrita pelo repórter José Eduar-do Coutelle. As belas imagens capturadas pelo fotógrafo André T. Susin mostram as belezas que podem ser vistas nos roteiros do inte-rior de Caxias do Sul. A segunda é uma galeria de fotos do prédio de mais de 80 anos que é desconhecido de muitos caxienses, o antigo Patronato Agrícola.

@gabileonardelli @ocaxiense A matéria sobre a cervejaria da minha família ficou perfeita. Obrigado e parabéns pra toda a equipe! #edição33

@viniciusbusatta @ocaxiense Parabéns pela matéria sobre a Biblioteca Municipal, me fez recordar a minha época de ensino fundamental, onde ia lá toda semana! #edição33

@cristiansr Um jornal inteligente, criativo e sempre com assuntos interessantes a cada edição. Eu leio, assino e recomendo #edição33

@fsvanin Muito boa reportagem do Jornal @ocaxiense desta semana sobre o impacto das eleições no andamento dos governos #edição33

@vipessatto Parabéns ao @ocaxiense pela capa dessa semana e pela matéria ‘’Renovado para a batalha’’, sensacional!! #edição33

@MartaDetanico @ocaxiense Capa sensacional. Parabéns, vocês se superam a cada edição #edição33

@_JuVieira MEU DEUS! Que capa mais linda essa do @ocaxiense! #edição33

@FelipeBavaresco Agora não ficarei mais longe de Caxias! Acabei de assinar o @ocaxiense e tenho a certeza de que vou saber tudo o que ocorre na cidade, lá no PR! #assinaturas

@ale_muraro Pronto. Acabei de assinar @ocaxiense. abrirei a caixinha do correio com gosto. #assinaturas

@Kely_Melo Comecei a ler o @ocaxiense há pouco tempo, mas estou adorando, indico pra quem gosta de uma leitura inteligente. #assinaturas

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Caxias do Sul, julho de 2010 | Ano I, Edição 33 | R$ 2,50|S17 |D18 |S19 |T20 |Q21 |Q22 |S23

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alRUMO ÀSÉRIE BA dupla CA-JU começa sua escalada para deixar para trás a terceira divisão nacional

HISTÓRIA PRECIOSAAntes do vinho, Caxias fabricava cervejas como Pérola, Zebú, Caxiense Branca e Crioula Dupla

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para iPhone em setembro. As obras em formato digital custarão cerca de US$ 1,99 – a versão impressa é vendida, em média, por R$ 19,90.

O Congresso Brasileiro de Ciên-cias da Comunicação (Intercom), que será realizado na UCS, começa apenas daqui a dois meses, mas os hotéis da cidade já estão praticamen-te lotados para os dias do evento, de 2 a 6 de setembro. Por causa disso, além dos hotéis de Caxias e região, a organização disponibili-zou alojamentos no Campus 8 da UCS, na Vila Olímpica, no Serviço Social do Comércio (Sesc) e na Sede Recreativa da Marcopolo para os congressistas vindos de todo o país.

Desses locais, apenas a sede da Marcopolo ainda tem vagas disponí-veis. No Intercity Hotel, por exemplo, restaram apenas as suítes. Dos 118 quartos, 100 já estão ocupados para a data. Assim como no Hotel Ibis, cujos 140 quartos já estão reservados.

Intercom 2010

Tecnologia

Avenida Rio Branco

Cinema

Câmara de Vereadores

Lei Orgânica

Justiça

CidadeHotéis estão lotados

Belas Letras lançará livros para iPhone

2 mil assinaturas contra mudanças

3D estreia no sábado

Estagiários ganharão aumento

Revisão deve ser concluída neste ano

Caxias tem 5 cartórios irregulares

Relógios são desativados

QUINTA | 22 de julho

SEXTA | 23 de julhoQUARTA | 21 de julho

SEGUNDA | 19 de julho

TERÇA | 20 de julho

www.ocaxiense.com.br 324 a 30 de julho de 2010 O Caxiense

Pensando nos avanços da tecno-logia no mercado editorial, a editora caxiense Belas Letras lançará livros

Sem levar em conta os benefícios que o San Pelegrino Shopping trará, como a geração de 1,5 mil empre-gos, a Amob do São Pelegrino já reuniu cerca de 2 mil assinaturas contra a diminuição das calçadas

Finalmente os caxienses poderão usar os óculos típicos de filmes 3D. O GNC deve – “deve”, porque a estreia seria na sexta e já foi transferida uma vez – estrear uma sala com a tecno-logia no sábado, às 11h, com o filme Toy Story 3. O ingresso custará R$ 22, e é bom não reclamar – afinal, a reclamação anterior era a falta de um cinema 3D. O investimento foi de R$ 500 mil. e o próximo filme deve ser Meu malvado favorito, em agosto. Veja a programação completa no Guia de Cultura, na página 18.

Desde 2004 sem reajuste, os 40 estagiários da Câmara de Vereado-res devem receber um aumento de 41%, passando de R$ 550 para R$ 775,50. Conforme o presidente da casa, Harty Moisés Paese (PDT), é uma questão de “justiça”, que deve ser aprovada por todos vereadores.

As discussões sobre a Lei Orgânica do Município foram retomadas, mais uma vez, na Câmara de Vereadores. Em 2009, foram registradas 700 sugestões da comunidade, que foram avaliadas pelo vereador Ari Dalle-grave (PMDB). Ele organizou-as por afinidade com áreas, capítulos e arti-gos. O trabalho levou 6 meses. Cada artigo será debatido pela comissão responsável e a previsão é de que a re-visão seja concluída ainda nesta ano.

Deu até no Jornal Nacional. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aponta que 5.561 cartórios estão irregulares no Brasil. Em Caxias, dos 13 existentes, cinco estão em situa-ção irregular. O problema é a falta de um titular nomeado em concurso público. Antes da Constituição de 88, o titular do cartório era escolhido

Talvez o único consolo de quem transita pelas ruas do Centro de Caxias nesses dias congelantes fosse olhar para os relógios que indicam a temperatura, respirar fundo e encarar o frio. Desde a terça, os caxienses foram privados de ter a informa-ção sobre a hora e temperatura. Os relógios foram desativados pela prefeitura temporariamente porque o contrato com a empresa que presta-va manutenção foi encerrado – até agora, não apareceu nova inteessada.

A Semanaeditado por Paula Sperb [email protected]

pelo Executivo, mas isso mudou em 1994. O CNJ também determina que os administradores provisórios – deve haver concurso público para esses cargos – não podem ultrapassar o teto salarial do serviço público estadual no Rio Grande do Sul, de R$ 24,1 mil.

e a retirada de árvores na Av. Rio Branco. Conforme o presidente da Associação, Antíoco Sartor, o objetivo é fazer “pressão política”.

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Roberto [email protected]

Com expectativa de receber 2 mil visitantes, o 7º Integramoda terá como grande diferencial a sua amplitude, que passa a ser estadual. A iniciativa do Comitê de Estilo do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Nordeste e do Núcleo de Moda do Sindicato das Indústrias do Vestuário e do Calçado do Nordeste Gaúcho ocorre na terça e quarta-feira (27 e 28) com o objeti-vo de apontar as propostas da moda Outono/Inverno 2011.

Considerado o maior evento de

lançamento de tendências para a indústria têxtil do Sul do Brasil, o Integramoda será realizado na forma de workshops, desfiles e exposição de produtos na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. Jacquard, formas tridimensio-nais, misturas de malhas (fios finos e lanosos que dão a sensação de calor) e materiais sintéticos (remetendo à pre-servação ambiental) são algumas das texturas e padrões que irão compor os looks que serão apresentados no evento.

A Soprano, de Farroupilha, por meio de sua unidade de cilindros hidráulicos localizada em Caxias do Sul, passa a constar na lista de fornecedores da Scania. A unidade foi homologada pela multina-cional sueca para fornecer equipamentos que se integrarão aos caminhões dotados de caçambas basculantes destinados à mineração. O contrato inicial estabelece a compra de 800 unidades ao longo do primeiro ano, gerando faturamento médio de R$ 2,3 milhões.

O Prataviera Shopping firmou contrato para a instalação de uma ope-ração da Criart Escola de Artes Deco-rativas. A instituição tem duas dezenas de operações em funcionamento no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e a partir do segundo se-mestre também em São Paulo e no Rio de Janeiro. Com sede em Porto Alegre,

a escola tornou-se referência no Esta-do em ensino profissionalizante para decoradores, projetistas, paisagistas, desenhistas de móveis e iniciantes apreciadores do segmento. De acordo com a diretora administrativa e pedagógica da Criart, Mayra Lhullier Ramos, a cidade e região carecem de profissionais preparados nessas áreas.

Decidida a alcançar faturamento de R$ 100 milhões neste ano, a diretoria da Keko Acessórios contratou Cesar Franceschi como diretor de mercado, que responderá pelo marketing e pelas vendas nacionais e internacionais. Entre as principais ações para chegar à meta estão o aumento das exportações de 15% para 25% do fatura-mento total, ingressar no mercado ame-ricano, reconquistar e ser mais agressivo na revenda de acessórios multimarcas e expandir a rede de revendas autorizadas, passando de 10 para 50 lojas até o final de 2011. Franceschi já atuou em empresas como Forjas Taurus, Perto S/A (Grupo Digicon), Andreas Stihl e ATP Tecnologia.

A Guerra reestruturou seu modelo de gestão diretiva a partir do desli-gamento do diretor-geral, Rodmar Cardinalli, que estava no cargo desde junho de 2008 quando a empresa passou ao comando do Grupo Axxon. A principal mudança é a posse de Marcos Guerra (foto), ex-sócio da empresa e até então diretor comercial e de marketing, na vice-presidência do Conselho de Administração, presidido por Nicolas Wollak. O novo organo-grama inclui ainda Alex Sandi como diretor de administração e finanças;

Fábio Paludo como diretor industrial; e Gilmar Marinho na área comercial. Com o desligamento de Rodmar Cardinalli, a diretoria contratou a consultoria Galeazzi & Associados, especializada em reestruturações de empresas, para conduzir o processo durante um ano, renegociou dívidas financeiras, reorganizou a produção e adotou estratégia comercial mais agressiva para aumentar as vendas. Para o cargo de diretor-presidente foi contratado Luiz Antônio Felício, diretor da Galeazzi.

A EJRos Brasil, empresa com sede em Caxias do Sul, constituiu nova unidade de negócio. A EJRos Call Center oferece serviços como a rea-lização de pesquisas de satisfação, pesquisas de reação e pós-vendas, SAC e ouvidoria, televen-das, reativação de clientes inativos, confirmações para eventos e atualização de cadastros, entre outros. A empresa trabalha há mais de 10 anos em soluções de gestão, qualidade e comunicação ao mercado.

Mais de 1,5 mil pessoas já visitaram a Sala de Visitas 2010, mostra de arquitetura e decoração que se desenvolve na Estação Férrea. Também foram arrecadados em torno de 200 quilos de alimentos não perecíveis para entidades assistenciais. As primeiras beneficiadas foram o Lar da Velhice São Francisco de Assis e a Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora.

A Rede da Indústria Gráfica do Rio Grande do Sul é a mais nova proposta de trabalho inserida no programa Redes de Cooperação, realizado pela Universidade de Caxias do Sul e Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacio-nais do governo do Estado. A nova rede con-grega 10 gráficas e tem como foco de trabalho dar sustentabilidade aos negócios por meio de ações associativas que gerem serviços de alto padrão na impressão de imagem e criação, com investimentos na preservação do meio ambien-te. O programa, que já tem 10 anos de atuação, atende atualmente 500 empresas dos segmentos da indústria, comércio e serviços na região de abrangência da UCS e envolve mais de 7.500 empregos.

O Comitê Municipal do Empreendedor Indi-vidual (EI) realiza, de 26 a 31 de julho, a Semana da Formalização, com o objetivo de divulgar a nova a figura jurídica e incentivar os trabalha-dores de pequenos negócios a se formalizarem. Além de postos permanentes localizados no Sebrae, Microempa e no Sescon-Serra Gaúcha, será montado um ponto de formalização na Praça Dante Alighieri. O atendimento gratuito será feito das 9h às 18h, de segunda à sexta, e das 9h às 17 no sábado. Para ser um empreendedor individual é necessário faturar no máximo até R$ 36 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular.

A Conducere Educação Corporativa, de Caxias do Sul, fechou parceria com a Gestum Conheci-mento Competitivo, de Pelotas, para atuar no en-sino on-line. Serão oferecidas soluções de ensino a distância, videoconferência e jogos corporati-vos. O diretor da Conducere, Jocelito Salvador, assegura que a educação on-line surge como alternativa e complemento ao ensino presencial e à didática tradicional. A empresa caxiense, há sete anos no mercado, tem foco na educação corporativa por meio de palestras, treinamentos abertos, in company ou consultorias.

Antecipação de tendências

Conquista

Profissionalização

Reforço na equipe

Mudanças no comando

Expansão Público

Cooperação gráfica

Incentivo à formalização

Qualificação a distância

4 24 a 30 de julho de 2010 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.O Caxiense

A Randon superou a marca de R$ 1,7 bilhão de receita líquida consolidada no primeiro semestre do ano. O valor corresponde a incre-mento de 47% sobre igual período de 2009 e de 17% na comparação com o primeiro semestre de 2008, ano de vendas históricas da empresa: R$ 3,1 bilhões líquidos. Já a receita bruta total dos primeiros seis meses de 2010 foi de R$ 2,584 bilhões, incremento de 49%. Os números oficiais do semestre, com dados de produção e rentabili-dade, serão conhecidos em 9 de agosto. Até esta data o mercado espera por revisões da empresa em suas projeções iniciais para o ano: receita líquida de R$ 2,8 bilhões e bruta de R$ 4 bilhões.

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O superintendente do San Pele-grino Shopping Mall é o convidado da edição de julho do Café com Informa-ção, iniciativa do Conselho da Mulher Empresária/Executiva da CIC. No en-contro de quinta-feira, 29, a partir das 8h30, na CIC, ele falará sobre o tema Os notáveis empreendimentos urbanos e suas influências no cotidiano das pessoas.

A Maesthria Gestão e Processos realiza sábado (24) dois cursos para

quem busca informações de como atuar no mercado financeiro. Mais informa-ções pelo telefone (54) 3021.5404.

A Associação de Engenheiros, Arquitetos, Agrônomos, Químicos e Geólogos de Caxias do Sul promove quinta-feira (29) a primeira edição do projeto Papo de Mestre. O arquiteto Sig Bergamin falará a partir das 20h no Es-paço Cultural da Dell Anno (Avenida Itália, 631).

A Regional Serra da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas pro-move na quinta-feira (29) reunião-jan-tar com o frei Jaime Bettega. Ele falará a partir das 19h30, na CIC, sobre Espiritu-alidade nas empresas.

O diretor-presidente da Visate será o palestrante da reunião-almoço de segunda-feira da CIC. Abordará o tema Visate, a responsabilidade da prestação de serviço.

Curtas

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VALQUÍRIA [email protected]

os próximos dias Caxias do Sul vai ser inundada por santinhos. Rostos de políticos serão distribuídos por mãos rápidas nas ruas, lotarão a caixa de correio da sua casa e adentrarão a ja-nela do seu carro. Tudo isso, claro, vai custar muito dinheiro. Somando-se o valor que todos os 27 candidatos de Caxias a deputado estadual, federal e senador pretendem gastar, chega-se a R$ 12,076 milhões. E a maioria dos po-líticos diz que irá priorizar a confecção de material impresso para propaganda de sua candidatura. Haja papel. Depois disso, eles citam gastos com gasolina e com as pessoas envolvidas na campa-nha. Os custos dos candidatos da ci-dade variam, literalmente, de R$ 2 mil a R$ 2 milhões.

Tantos santinhos, cartazes, banners, comitês, comícios e jingles são pagos com doações de pessoas físicas e ju-rídicas, de outros candidatos, dos co-mitês financeiros de campanha, dos partidos, da receita da realização de eventos ou do próprio candidato. As doações ocorrem até o dia das eleições.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estipulou uma série de regras para que essas contribuições sejam o mais transparentes possíveis, além de serem rigorosamente fiscalizadas depois da votação. Não importa qual cargo está concorrendo, qualquer candidato pre-cisa prestar contas do que arrecadou e do que gastou. A diferença é que can-didatos à presidência se reportam ao TSE, e os demais, ao Tribunal Regio-nal Eleitoral (TRE-RS). A prestação de contas vai até 30 dias depois das eleições, ou seja, 2 de novembro. Para quem disputar o segundo turno, a data é 30 de novembro.

Entre as regras está o limite para do-ações de pessoas físicas, que não po-dem ultrapassar 10% do rendimento bruto do doador no ano anterior ou exceder o teto de R$ 50 mil. Pessoas jurídicas podem doar até 2% do fatura-mento bruto declarado à Receita Fede-

ral (estão vedadas doações de pessoas jurídicas que começaram a existir em 2010).

Apesar de grande parte da arrecada-ção dos candidatos vir de doações de pessoas jurídicas, algumas entidades não podem doar. São elas: entidades de utilidade pública, sindical, benefi-cente, religiosa, esportiva ou estrangei-ra; órgão da administração pública ou fundação mantida com recursos pro-venientes do poder público; conces-sionário ou permissionário de serviço público; entidade sem fins lucrativos que receba recursos do Exterior ou re-cursos públicos; sociedades cooperati-vas, cujos cooperados sejam concessio-nários ou permissionários de serviços públicos e estejam sendo beneficiados com recursos públicos; além de cartó-rios de serviços notariais e de registro.

Para receber qualquer tipo de doa-ção, o candidato deve criar uma conta bancária própria para os gastos com sua campanha. Essa conta é aberta para a eleição, e depois dela deve ser encerrada. “O dinheiro para todas as despesas tem que passar por essa con-ta”, ressalta o chefe de cartório da 16ª Zona Eleitoral, Marcelo Reginatto. O candidato, portanto, precisa deposi-tar o que recebeu para depois retirar e aplicar esse valor na campanha. Em outras eleições, já ocorreram proble-mas por conta disso em Caxias, se-gundo Reginatto. “Assim como gastos com campanha antes da criação dessa conta, que não podem ocorrer. O can-didato não pode receber dinheiro nem um dia antes de ter essa conta”, alerta.

Caso alguma quantia apareça miste-riosamente na conta de um candidato, esse dinheiro não pode ser usado de forma alguma, pois doações anônimas são proibidas. A quantia vira sobra de campanha. Como todas as contri-buições precisam ser identificadas, os doadores ganham um recibo eleitoral, que é confeccionado e distribuído pelo partido. “Esse recibo aparece na pres-tação de contas. Já recebemos denún-cias, por exemplo, de gráficas que não receberam o pagamento. Daí vai ser

analisado se o material que a gráfica confeccionou está na prestação de con-tas”, afirma Reginatto.

Este ano, pela primeira vez vão ocor-rer doações via internet. O recibo para esse tipo de transação será um formu-lário eletrônico.

A soma de R$ 12 milhões resulta de uma consulta feita por O Caxien-se aos candidatos, que informaram suas previsões. O número, portanto, é uma estimativa, que só poderá ser verificada após as eleições. Tudo dependerá de quanto cada político irá arre-cadar. Apenas Mauro Pereira, que concorre a deputado federal pelo PMDB; Kalil Sehbe, a federal pelo PDT; Claudenir Biglia, a es-tadual pelo P-SOL; e Arino Maciel, a federal, também pelo P-SOL, não quiseram informar uma previsão de gastos. Para incluir as campanhas deles na conta geral, utilizou-se como parâmetro previsões de campanhas passadas ou de outros candidatos do partido. Para Mauro, a referência foi o valor que a candidata Geni Peteffi, do mesmo partido e con-correndo ao mesmo cargo, gastou na eleição de 2006 (R$ 61 mil); para Ka-lil, o que ele gastou na eleição passada para deputado estadual (R$ 306 mil); e para Maciel e Biglia, o mesmo valor que os outros dois candidatos do parti-do que estão concorrendo informaram (R$ 10 mil).

A frase mais pronunciada pelos 27 candidatos foi “vou gastar o que arre-cadar”. Por isso grande parte deles teve dificuldades para fazer sua previsão – a maioria ainda não começou a receber doações. “Orçar é a coisa mais fácil que tem, o problema é achar dinheiro para gastar. Existe previsão estadual, no máximo de R$ 800 mil, mas isso nem falar, é superprojetado. Vai chegar a R$ 200 mil”, estima Guiomar Vidor, can-

didato a estadual pelo PC do B. Pepe Vargas, candidato a deputado

federal pelo PT, explica que o partido fixou um teto para o custo da campa-nha: R$ 1,5 milhão. “Se eu conseguir arrecadar o teto, ótimo. Mas não va-mos gastar tudo isso, vai ser de acor-do com o que arrecadar. E não vou me endividar para fazer campanha eleito-ral”, diz Pepe. Na campanha de 2006, quando se elegeu para a Câmara dos Deputados, Pepe gastou R$ 206 mil.

“Acho que pelo menos isso vou captar. Mas obviamente vou gastar mais do que na campa-nha passada”, compara.

Marcos Daneluz, candidato a deputado estadual pelo PT, es-pera arrecadar dinhei-ro com amigos e com eventos. “Vai ser R$ 50 mil no máximo. Nossa campanha é pé na es-trada, andamos muito e conversamos muito.

Panfletos simples, faixinha, adesivo. Não vamos alugar grandes comitês no Centro. Esse estilo de campanha de grandes eventos nunca foi meu”, afir-ma.

Com uma campanha focada nas ci-dades da região, o candidato a depu-tado estadual pelo PSDB Daniel Bor-ghetti Furlan orçou os gastos em R$ 200 mil. “Vai ser em material gráfico e logística desse material, a distribuição dele na região”, aponta. Ruy Pauletti, que concorre à reeleição para deputa-do federal pelo mesmo partido, diz que vai gastar R$ 350 mil – sua campanha anterior custou R$ 208 mil. “Vão ser gastos 50% em Caxias, 50% no Esta-do. Em placas e em pessoal”, resume Pauletti. A candidata a deputada es-tadual Maria Helena Sartori (PMDB) também prevê despesas maiores este ano. Em 2006, concorrendo ao mesmo cargo, Maria Helena gastou R$ 165 mil. “Vai ser uns R$ 250 mil”, diz ela.

“Faço a campanha com os pés no chão. Dentro do que captar de apoia-

Todas as movimentações financeiras dos candidatos devem passar por uma conta bancária criada especificamente para a campanha

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Eleições = milhões

É TEMPO DE CALCULARPassa dos R$ 12 milhões a previsão de gastos dos candidatos de Caxias às eleições de 2010 durante o período eleitoral

www.ocaxiense.com.br 524 a 30 de julho de 2010 O Caxiense

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dores. Aqueles que dão o valor são os que estão patrocinando essa campa-nha”, diz Kalil Sehbe, sobre os outros candidatos. O pedetista ressalta que o dinheiro não será gasto, mas sim “in-vestido”, e que o principal destino dele serão os recursos humanos, com as pessoas que se dedicarão à campanha.

“O grosso da campanha são os ma-teriais como folders, banners e faixas”, afirma outro pedetista, Alceu Barbosa Velho, candidato a deputado estadual, que pretende gastar R$ 100 mil. “Se eu conseguir mais, amplio. Mas acho que não chegará a isso.”

O PSB fez uma previsão de R$ 800 mil, no máximo, para candidatos a de-putado estadual, mas o candidato José Antonio Adamoli diz que sua campa-nha está estimada em R$ 150 mil. “Vai ser gasto na produção de um panfleto padrão, depois em adesivos para car-ro, para lapela, além de deslocamen-to. Mais adiante, em faixas”, enumera Adamoli.

Seguindo a lógica, a previsão de gastos é menor em partidos menores, como o P-SOL. “Vou gastar uns R$ 10 mil, quando muito. Não temos partido em Caxias, só em Porto Alegre, e os dados ainda não vieram. Do meu bol-so não vou colocar”, diz Aurora Jesus Oliveira, candidata a deputada estadu-al pela sigla. “Vou investir em material de propaganda e combustível. Não se compra militância. Com os partidos grandes, tudo é pago pelo partido, e nós não temos isso”, completa ela. “O gasto vai ficar em torno de R$ 10 mil.

É um partido novo, com receita não muito grande. Vamos trabalhar com o que se tem”, salienta Lucas de Souza, candidato a deputado federal pelo P-SOL. “A estimativa é bem baixa porque a gente é do trabalho, a contribuição vem dos trabalhadores que apoiam. Viagens e atividades de campanha e mate-rial de propaganda de grande visibilidade, não tem como. A nos-sa campanha é mais de militância, com o pan-fleto de mão em mão e as visitas nas cidades”, afirma Arino Maciel, candidato a deputado federal pela mesma si-gla, ressaltando que os cabos eleitorais serão voluntários.

Na previsão, quem mais gastará se-rão os três candidatos de Caxias ao Se-nado. “A campanha dos nosso sonhos é a do financiamento público, mas temos que buscar apoio privado. É uma cam-panha cara. Orçamos a candidatura em R$ 2 milhões”, explica a candidata do PC do B, Abgail Pereira. “Vai ter muita viagem pelo Estado todo, então tem lo-comoção, hospedagem, alimentação. E tem todo o marketing na TV. É horário eleitoral gratuito, mas não é gratuito, só a veiculação, porque são peças ca-ríssimas”, destaca ela.

Cerca de R$ 2 milhões também será o gasto do candidato a senador pelo PT, Paulo Paim. “Mas tem dificuldade

de arrecadação. O meu mandato é vol-tado para o povo, para os aposentados. Até o momento, não tenho arrecada-ção nenhuma”, diz Paim.

A cifra dos R$ 2 milhões também é a projeção de Germano Rigotto, can-didato a senador pelo PMDB. “É cam-

panha curta. O lado positivo é que o custo é menor. Não terei co-mitê próprio, vou pro-curar otimizar o ma-terial gráfico. O gasto maior é a estrutura de programas de rádio e televisão. E não pode mais dar brindes, onde se economiza bastante (estão vedados na cam-panha eleitoral a con-fecção, utilização e dis-tribuição de camisetas,

chaveiros, bonés, canetas e brindes)”, ressalta Rigotto, que em 2006 concor-reu à reeleição para governador, gas-tando R$ 3,2 milhões no total.

O limite de gastos dos candida-tos, de acordo com o chefe de cartório Marcelo Reginatto, se não for estipula-do pela legislação – como ocorreu este ano –, é limitado por cada partido no momento da candidatura. “Esse limite é estabelecido por cargo, não por can-didato. E na hora da prestação de con-tas, é conferido também se o limite foi respeitado”, esclarece. Se o valor ultra-passar o máximo, o candidato terá que pagar multa no valor de 5 a 10 vezes a

quantia em excesso, podendo respon-der por abuso de poder econômico.

Para intensificar o controle, nesta eleição também haverá prestação de contas parciais. Nos dias 6 de agosto e 6 de setembro, os candidatos vão infor-mar o total de arrecadação e de despe-sas até aquele momento, sem precisar especificar de quem foram as doações.

Vale lembrar tudo o que se carac-teriza gasto eleitoral (fora dessa lista, portanto, se considera gasto ilegal): confecção de material impresso de qualquer natureza e tamanho, propa-ganda, aluguel de locais para a pro-moção de atos de campanha, despe-sas com transporte de candidato e de pessoal a serviço das candidaturas, correspondências e despesas postais, despesas de instalação, organização e funcionamento de comitês e serviços necessários às eleições, remuneração a quem prestar serviços às candidaturas ou aos comitês, montagem e operação de carros de som, realização de comí-cios ou eventos, produção de progra-mas de rádio e televisão, realização de pesquisas pré-eleitorais, criação de páginas na internet, multas aplicadas, até as eleições, aos partidos ou aos can-didatos por infração da legislação elei-toral, doações para outros candidatos ou comitês financeiros e produção de jingles, vinhetas e slogans para propa-ganda eleitoral.

Nesta eleição também haverá prestação de contas parciais, nos dias 6 de agosto e 6 de setembro, ampliando a fiscalização

É TEMPO DE CALCULAR

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Online | Veja em www.ocaxiense.com.br quanto cada candidato estima gastar nesta eleição

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Roteiros a explorar

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O interior do município oferece um belo cardápio de gastronomia típica, história, vinho e aventura

VIAJE POR CAXIAS

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JOSÉ EDUARDO [email protected]

aproximadamente 60 quilômetros do Centro, pouco mais de uma hora de carro, se encontra um dos mais belos roteiros turísticos da região. E ainda se está em Caxias. Avançando pela Rota do Sol, uma placa indica o des-vio para uma estrada de chão batido, sinuosa, mas em bom estado. A cidade é deixada para trás, e campos com uma relva levemente amarelada podem ser contemplados. Em alguns minutos se chega à rua central, esta calçada com pedras, da sede do distrito de Criúva.

A guia turística Guadalupe Pante, 27 anos, conduz os visitantes até o Câ-nion dos Palanquinhos. A 200 metros do desfiladeiro, ele ainda não pode ser visto. O caminho final deve ser venci-do a pé. Aproximando-se da borda, o impacto da água das diversas quedas quebra o silêncio, e em poucos passos se vislumbra a beleza da falha geoló-gica – sem dúvida, um acerto divino. No ponto mais alto, o cânion chega a medir 150 metros. No fundo, a vege-tação divide espaço com as águas do arroio Caixão. É um cenário belíssimo para caminhadas, rapel ou um simples passeio.

Assim como Criúva, outras regiões de Caxias oferecem roteiros turísticos bastante variados. Em direção a Flores da Cunha, as vinícolas, os produtos artesanais e a gastronomia compõem o Caminhos da Colônia. Dividindo o espaço entre Forqueta e Farroupilha,

em outra extremidade da cidade, o Vale Trentino revela lindas paisagens, onde se pode conhecer todo o processo da produção de vinho. Em Ana Rech, a herança do tropeirismo é uma das marcas. A outra são os famosos presé-pios, na época do Natal – o secretário municipal de Turismo, Jaison Barbosa, conta que apenas uma agência de tu-rismo levou cerca de 800 pessoas para conhecerem Ana Rech nas festividades do final do ano passado.

Em outro ponto da cidade, a 3ª Légua apre-senta a parte histórica da colonização euro-peia em Caxias. Lá os turistas podem conhe-cer museus, vinícolas e também uma bela gruta no roteiro da Estrada do Imigrante. Por fim, na zona urbana de Caxias, o roteiro La Cittá per-corre os pontos mais conhecidos pela população local, incluindo a Igreja de São Pelegrino, o Museu Municipal, a Casa de Pedra, o Museu do Imigrante e o Museu Bruno Segalla, entre outros. Com todas essas opções, é impossível dizer que Caxias não é uma cidade tu-rística. Para todos os lados que o visi-tante se deslocar, encontrará um lugar a ser apreciado.

Apesar de todos esses destinos, a cidade tem como foco principal o turismo de negócios e eventos. O em-

penho do poder público em atrair esse perfil de visitante fica evidenciado na ocupação quase permanente dos hotéis e na realização do calendário de even-tos em parceria com várias secretarias da prefeitura. “Estamos trabalhando em um calendário unificado. Isso pode ser percebido no Calendário de Even-tos de Caxias do Sul. Temos mais de 2 mil programados para este ano. No

último verão tivemos a 1ª etapa do Circui-to Banco do Brasil de Vôlei de Praia. Logo em seguida o Salão Gaúcho de Turismo, e depois a Festa Cam-peira (Fecars). Eles ajudaram a atrair o turismo no período do verão. Este é um trabalho feito por di-versas entidades. O turismo não pode ser considerado algo iso-

lado”, diz o secretário Jaison. Os eventos, que beneficiam a rede

hoteleira, restaurantes e o comércio em geral, servem também de oportunida-de para divulgar outras atrações. “Ca-xias tem muita força através dos seus eventos. Estamos fazendo com que as entidades olhem para a cidade, daí vendemos os nossos roteiros. Através disso, naturalmente, essas pessoas vão consumir os nossos produtos. Quando passamos a fomentar as pessoas, elas começam a enxergar. Se não houverem políticas públicas, tudo fica muito mais

difícil”, argumenta o secretário. A diretora executiva do Sindicato de

Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região da Uva e do Vinho, Márcia Ferronato, corrobora o discurso de Barbosa, e diz que o investimento em um turismo baseado nos eventos e negócios é importante para a cidade. “Traçando sua estratégia e dando visi-bilidade, Caxias tem chance de crescer muito mais. Quem não se mostra não vai ser conhecido nem procurado. Esse turista consome gastronomia e outros produtos. Talvez não procure muito os roteiros”, pondera Márcia.

Os 3.148 leitos dos 22 hotéis de Ca-xias tiveram, no ano passado, média de ocupação de 60,43%, sendo de segun-da a quinta os dias mais requisitados. Márcia conta que a variada culinária da região, que inclui mais de 100 cafés, churrascarias e as tradicionais galete-rias, é outro forte atrativo. “Caxias tem uma procura maior devido a sua diver-sidade. Ela traz uma competitividade única para a região”, completa.

A esta multiplicidade de opções é que se soma o agradável contato com a natureza e a adrenalina da íngreme e escorregadia descida ao fundo do Câ-nion dos Palanquinhos. São essas sen-sações que Guadalupe Pante, formada em Turismo pela UCS e especialista em Caminhada e Canionismo pela Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, apresenta aos turistas em Criúva. Nos primeiros passos usando um bastão

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Cânion dos Palanquinhos, que atinge a altura de 150 metros, é uma das atrações do distrito de Criúva

“Estamos fazendo com que as entidades olhem para a cidade, daí vendemos os nossos roteiros”, diz Jaison, enfatizando os eventos de Caxias

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de caminhada como auxílio, porém, o deslumbramento com a paisagem cede lugar à atenção nos movimentos. A mata é fechada, e a água escorre pelas folhas e pelo chão no estreito caminho, recheado de barro, pedras e musgo. O prazer está no risco implícito da aven-tura.

Para os trechos mais complicados, a guia Guadalupe explica onde colocar cada pé, a inclinação ideal do corpo e o ponto certo para apoiar o bastão. Em minutos, as águas do arroio, encober-tas pela vegetação, revelam a exube-rância de seu fluxo. Apesar de parecer perigoso, Guadalupe diz que nunca aconteceram grandes problemas. “O mais comum são cãibras ainda no mo-mento em que as pessoas estão se alon-gando”, conta.

De volta ao topo, a condutora apre-senta outro ponto turístico da região: o Memorial Bertussi. Os dois irmãos gaiteiros que conquistaram incontá-veis fãs com a música tradicionalista gaúcha estão imortalizados desde 2008 no obelisco de 30 metros de altura, que

pode ser visto de Vacaria à noite, e nas estátuas esculpidas em cobre. Honeyde Bertussi faleceu em 1996, e seu cor-po está enterrado junto ao memorial. Adelar, seu irmão, ainda mora na resi-dência pintada de laranja bem ao lado do monumento. Aos 77 anos, ele divide o tem-po entre cuidar de suas cabeças de gado e tocar a famosa gaita. Se o tu-rista tiver sorte, conse-guirá encontrá-lo em casa. Na última terça-feira (20), Adelar esta-va lá, e aproveitou o lu-minoso dia de sol para se aquecer em frente a sua residência. É no ve-rão que o lugar recebe mais turistas, conta o simpático gaiteiro, que conquista qual-quer visitante com a simplicidade de suas histórias. “Temos um vocabulário todo próprio aqui. Esses dias me fala-ram que um horocópio passou voando cheio de sordado. Daí perguntei: mas

o que é horocópio? Daí me disseram que horocópio é aquele aviãozinho pe-queno que tem um catavento em cima”, diverte-se Adelar, encerrando a anedo-ta com uma risada.

A poucos minutos dali se encontra a residência de Ivan Siqueira, outra parada obrigatória. Entre ma-cegas e gramíneas que alcançam a altura dos joelhos, ao lado da es-treita rua de saibro, fica a propriedade deste personagem quase mí-tico da região. De longe parece um local pouco receptivo, ermo. Um casebre de madeira, com cães que ladram em resposta a qualquer

sinal de movimentação. Essa impres-são logo se dissipa com o bom humor do senhor que veste chapéu e um pa-letó surrado pelo tempo. Há 45 anos Ivan e a esposa, Angelina, que espia pela janela, moram em Criúva. E ele

brinca: “só vou me mudar daqui quan-do for para o cemitério”. Aos 67 anos, vive da criação de gado nas suas ter-ras, que somam 300 hectares. De uma caixa em frente à casa corre um filete d’água até o chão. É ali que o folcló-rico morador sacia a sede dos turistas e presta informações sobre o “buraco”, que é como ele chama o cânion. Os ca-chorros o acompanham, agora dóceis, oferecendo-se até para um carinho na cabeça.

Outra atividade que encanta os visi-tantes, conforme apresenta Guadalupe, ocorre em um bosque composto por araucárias, criúvas (os arbustos que dão nome ao distrito) e muitos cipós. É uma caminhada noturna. O ambiente é permanentemente úmido. O musgo cobre as árvores, e o chão é repleto de folhas. Durante o dia a luz é escassa, e pode-se ouvir o canto de diversos pássaros. À noite, a escuridão é total. Seguindo um cabo de aço que indica o trajeto a percorrer, cada pessoa anda sozinha os 600 metros apenas guiada pelo tato. “O intuito é promover um

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O orquidário de Lídia é uma das referências do roteiro da Estrada do Imigrante

“Temos um vocabulário todo próprio aqui”, diz o músico Adelar Bertussi, que tem casa ao lado do monumento que o homenageia em Criúva

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breve momento de isolamento e refle-xão”, explica Guadalupe.

Próximo ao meio-dia, o restaurante Casa Verde, pertencente à família da guia, situado na sede de Criúva, prepa-ra a refeição para os visitantes. Os pais de Guadalupe, Átila Pante, 68 anos, e Cláudia Praslatti, 56 anos, servem um almoço tipicamente campeiro. Um dos clientes é o morador Roberto Roma-ni, 37 anos, que já fez a trilha do ar-roio Caixão, com duração entre seis e oito horas, e dá uma dica importante: “Recomendo para quem tem uma boa condição física, tem de estar bem pre-parado”.

Assim como o turismo de aven-

tura vem conquistando seu espaço, as demais atividades tendem a crescer também. A coordenadora do Mestrado em Turismo da UCS, Márcia Cappella-no dos Santos, diz que Caxias tem to-dos os ingredientes para uma receita de sucesso. “Temos uma excelente rede hoteleira, bons sistemas de transportes e comunicação, além de agências de turismo. Caxias tem atrelados os seus atrativos culturais, históricos, sociais e gastronômicos”, ressalta. Segundo ela, a formação de profissio-nais de turismo na uni-versidade e o trabalho dos setores público e privado alavancam este desenvolvimento. En-tretanto, Márcia lembra que é vital a participa-ção da comunidade. “Primeiro é preciso que os caxienses acreditem que a sua cidade tem potencial turístico. Isto está ligado ao acolhi-mento. É um trabalho que nós temos de aju-dar a desenvolver, criar a percepção de que a sua cidade tem atrativos e que ele (o morador de Caxias) precisa co-nhecer. É preciso despertar essa cons-ciência. Caxias não é um indutor como Bento e Gramado, mas tem toda essa potencialidade, muito a mostrar.”

No roteiro da Estrada do Imi-grante, apesar das belíssimas paisagens e do número de estabelecimentos vol-tados para o turismo, alguns morado-res reclamam do isolamento e da falta de apoio. Ademir Zinani, 61 anos, é dono de uma pousada e do Museu que carrega seu sobrenome. O casarão de madeira, moradia da família por déca-das, foi construído em 1915 pelo bisa-vô de Zinani, que veio da Itália com esposa e quatro filhos. Ademir, que serve café colonial e vende artesanato feito por ele mesmo, diz que não seria possível sobreviver somente da ativi-dade turística. “Também tenho par-reirais e planto milho, feijão e arroz. Para viver só do turismo é preciso de mais turistas. Por que não colocam um ônibus para trazer os turistas?”, lança a pergunta, sem destiná-la a alguém em específico. O fato é que a antiga casa da família, de três andares e arquitetura tipicamente italiana, dispõe de objetos interessantes que muitas pessoas nun-ca viram. Lá se pode encontrar, entre outras coisas, diversos tipos de lampi-ões, um rádio à válvula, baterias de te-lefones antigos, um arado e até a antiga

forja do bisavô. Outro estabelecimento do roteiro é

a Vinícola Grutinha. Marcelo Sirtoli, 26 anos, administra o negócio com a família. “Estamos meio parados com o turismo. Até uns dois anos atrás eles costumavam vir bastante. Fazíamos degustação de vinhos e servíamos sa-lames e queijos picadinhos”, conta. “Se aqui todos pegassem juntos...”, conti-nua, mas não chega completar a frase. “Meu tio fez a gente decorar a história da igreja para contar aos turistas”, re-vela Marcelo, com os olhos marejados ao lembrar do esforço de Valmor Sir-toli (que morreu recentemente) em promover a região. De frente para as instalações da vinícola se encontra a paisagem composta pela BR-116 com Galópolis ao fundo. Marcelo diz que os moradores não se mostram empenha-dos em divulgar o roteiro. “Estamos desanimados. Quando tu corres atrás, os outros dizem que estás só pensando em si”, desabafa. Mesmo sem o apoio turístico, a família vem avançado na produção de vinho. Em 2002, lan-çou a marca Tradição, que já ganhou prêmios no concurso dos Melhores Vinhos de Caxias do Sul. “Vendemos

bastante para São Pau-lo, mas Porto Alegre é o nosso principal mer-cado.”

Outro exemplo que dá certo mesmo sem ser impulsionado ex-clusivamente pelo tu-rismo é o Orquidário Pebi. Ao lado de uma pequena residência se encontra uma estufa repleta de orquídeas. A simpática dona, Lí-dia Teresa Mugnani, 60 anos, dá atenção às

valiosas plantinhas, única fonte de ren-da da família. A estrutura é rústica, e o chão de terra é um fator que agrada muitos visitantes. “Todos os dias vêm pessoas aqui. Recentemente vieram duas senhoras de Curitiba e duas de Minas Gerais. Excursões é que vêm muito pouco”, relata.

A vida de Lídia sempre esteve ligada às orquídeas, mas ela começou a vi-ver do seu comércio apenas no ano de 1998. Hoje, a proprietária do orquidá-rio tem mais de 45 mil plantas, dentre 600 espécies diferentes. A mais cara é a Paphiopedilum, que chega a custar R$ 1,5 mil.

Apesar de as mulheres serem tidas como maiores admiradoras das flores, são os homens os principais compra-dores. “Eles costumam levar várias. São mais colecionadores”, observa Lí-dia. O negócio, com pouco mais de 10 anos, vai tão bem que ela e os dois filhos, pretendem construir mais uma estufa. Apesar do foco no comércio em si, ela diz que recebe um bom número de turistas. Recentemente um com-prador de fora fez a felicidade da em-preendedora, levando 250 orquídeas. “Ele pagou bastante, mas demos um bom desconto”, lembra, com um sorri-so de satisfação.

O que Lídia e os demais moradores do interior ainda esperam é que o tu-rismo também floresça. O convite aos visitantes, inclusive caxienses, está fei-to.

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A cultura campeira está na gastronomia (foto de cima) e na música de Adelar (abaixo)

“Temos uma excelente rede hoteleira, bons sistemas de transportes e comunicação”, ressalta Márcia, professora de Turismo

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Prefeitura abrirá no dia 30 a terceira licitação para a reforma, que quase perdeu verba federal deR$ 487,5 milpelo atraso

por CÍNTIA [email protected]

uem foi aos Pavilhões da Festa da Uva este ano sentiu falta de uma atração tradicional. O espetáculo Som & Luz, apresentado durante o maior evento caxiense, desta vez ficou fora de cartaz. O motivo, de acordo com o secretário municipal de Turismo, Jaison Barbosa, foi a necessidade de uma reformula-ção. Basicamente, por segurança.

Engenheiro por formação, Jaison ob-servou a precariedade da estrutura ao assumir, por meio da Secretaria, a res-ponsabilidade pelo espetáculo. “Aquilo colocava o visitante em risco”, afirma. A situação comprometia inclusive a capacidade da arquibancada, original-mente para 300 pessoas. “A estrutura estava tão deteriorada que não se apro-veitava 40 lugares.”

A principal causa para esse desgas-te seriam as intempéries, já que a ar-quibancada ficava ao ar livre. O pouco uso, limitado aos meses de Festa da Uva, também contribuiu para a falta de manutenção. O resgate deve vir por meio de contribuição federal. O Minis-tério do Turismo designou uma verba de aproximadamente R$ 700 mil para a “reforma” do espetáculo. Porém, de show contando a história da imigra-ção, o Som & Luz virou uma novela. No próximo dia 30, será aberta uma licitação para tentar escolher uma em-presa que execute as obras da reformu-lação.

Essa é a terceira vez que o processo licitatório é realizado, já que das outras vezes surgiram empecilhos. Primeiro, uma empresa chegou a ser seleciona-da, mas, como não poderia cumprir os

prazos, desistiu do contrato. Para que o recurso federal não fosse perdido, foi necessário pedir uma prorrogação e abrir nova licitação. A segunda ven-cedora também abandonou a obra ale-gando que não conseguiria cumprir o contrato no período estipulado.

A dificuldade em encontrar uma construtora interessada se deve, segundo Jaison, a uma particularidade desse mercado. “Embora a obra custe mais de R$ 500 mil, é necessária uma grande empresa, que trabalha com grandes contratos, acima de R$ 2 mi-lhões”, argumenta.

O secretário de Turismo diz que para continuar contando com o re-passe, novamente próximo do fim do prazo, recorreu a contatos durante o Salão Nacional de Turismo. Contando com a compreensão do governo fede-ral, a licitação terá como prazo o fim de 2010. “A minha intenção é até antes, para que as obras comecem até o final deste ano.”

Porém, se mais esta tentativa falhar e nenhuma empresa se candidatar, a atitude a ser tomada pela Secretaria de Turismo já está definida. Será imputa-da a inexigibilidade de licitação, e uma empresa será escolhida pela prefeitura para realizar o serviço.

No novo projeto, cujo custo total passará de R$ 1 milhão, segundo o se-cretário, consta um prédio moderno de dois andares. No primeiro piso, de acordo com a planta, ficarão os ba-nheiros, um restaurante e uma ala que serviria como local para degustação. No andar superior, fechada com vidro, estará a arquibancada, comportando

340 assentos. “Foi removida toda a arquibancada antiga. Melhor do que fazer uma, como dizem, ‘gambiarra’, é construir uma nova”, explica o secre-tário. Ao centro, serão reservados dois espaços, um para o camarote VIP, ou-tro para a cabine com os controles téc-nicos do espetáculo.

O prédio servirá para todo o ano, com planos de ocupação constante, e não somente a cada dois anos. O secre-tário avalia que “inúmeros pequenos eventos” poderão ser sediados lá, como encontros gastronô-micos e peças teatrais. “Tudo que remeta o visitante à questão his-tórica da colônia será bem-vindo, pois agrega presença artística ao espetáculo.”

O primeiro andar contará com uma en-trada para facilitar o acesso de cadeirantes, que terão uma área re-servada na frente. “É um bom espaço, onde os cadeirantes ficarão confortavelmen-te instalados”, diz Marcelo Bauri, asses-sor técnico da Secretaria e responsável pela parte mecânica do Som & Luz.

Bauri controla os equipamen-tos que dão o nome ao espetáculo. Ele define o processo técnico como uma transmutação de dados de um compu-tador em impulso elétrico, de forma e cor, que normalmente é feita com tran-quilidade. “Conhecendo e entendendo um pouco de elétrica se resolve tudo”, afirma, sorrindo.

A única coisa que pode parar o show é uma tempestade de raios. Bauri lem-bra que os Pavilhões da Festa da Uva são uma espécie de para-raios natural, por conta dos pinheiros. “Se tem tem-pestade muito próxima, esperamos passar. Não tendo raio, o show aconte-ce até debaixo de chuva. Até fica mais bonito, com a água batendo nos refle-tores.”

O secretário Jaison Barbosa diz que o equipamento será renovado. O que não será alterado é o espírito do even-

to, que existe para con-tar a história e recordar a imigração italiana utilizando as réplicas das antigas casas, que remetem à primeira rua de Caxias. O texto do Som & Luz, criado pelo escritor José Cle-mente Pozenato, será mantido. “Existe um grande respeito pelo primeiro texto”, obser-va Jaison. Os cenários serão reformulados,

mas sua essência não será tocada. Com fins de manutenção do local e do es-petáculo, como já era de costume, será cobrado um ingresso dos espectadores – “porque nós precisamos coletar um fundo”, destaca o secretário.

O novo Som & Luz provavelmente estreará na próxima Festa da Uva, em 2012. Até lá, resta torcer – e cobrar – para que as obras de reformulação en-fim sejam realizadas. E imaginar o re-sultado: “Vai ficar bonito”, prevê Bauri, observando as plantas do projeto no computador.

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Silêncio nas réplicas

O SHOW PRECISA CONTINUAR Ausência sentida na Festa da

Uva, o Som & Luz ainda aguarda obras para reformulação

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As velhas arquibancadas, hoje desmontadas, deverão ser substituídas por uma estrutura coberta, segundo os planos do secretário de Turismo, Jaison Barbosa

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MARCELO [email protected]

pintor holandês Vincent Van Gogh, que teve suas obras valorizadas somen-te após a morte, por suicídio, teve uma vida turbulenta e depressiva. Autor de grandes obras, entre as mais valiosas da história da arte, Van Gogh comia tinta e bebia aguarrás. A história oficial conta que ele cortou a orelha esquer-da, enviou-a a uma prostituta e depois pintou um autorretrato. O francês Paul Gauguin, outro grande artista, morreu de sífilis anos depois de uma tentativa frustrada de suicídio. Aos 35 anos, de-sistiu de uma vida de riqueza para viver de pintura. Morreu pobre e depressivo. Gauguin morou em Arles, França, com Van Gogh. Novos estudos sobre a vida de Van Gogh supõem que foi Gauguin quem cortou a orelha do amigo, com um golpe de esgrima, após uma dis-cussão. Gauguin e Van Gogh, gênios desequilibrados como diversos outros artistas famosos, viveram sobre uma corda bamba: de um lado a loucura, do outro a razão. No centro de equilíbrio, a arte. Exemplares da intuição artística, da criatividade inexplicável e o mundo sombrio da inspiração também podem ser vistos na exposição In Sana Mente, no terceiro andar da prefeitura, até o dia 30 deste mês.

A arte, como busca pelo equilíbrio, é ferramenta básica das oficinas minis-tradas no Centro de Atenção Psicos-social (Caps Cidadania). O órgão do Sistema Único de Saúde (SUS) atende

cerca de 250 usuários com transtornos mentais graves. O Caps oferece trata-mentos com psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, terapia ocupacional e oficinas terapêuticas. Os trabalhos expostos no saguão da prefeitura são resultado de seis anos de trabalho com oficinas de arte e pintura. São 40 obras – acrílicos sobre tela, xilogravuras e guache sobre madeira, de 33 usuários do Caps. Homero Ribeiro, um dos ar-tistas plásticos que ministra oficinas de pintura, explica que nas suas aulas não há cobrança técnica nem rigidez esté-tica. “Dentro da condição de cada um, eles trabalham em estado de liberdade, o que os ditos ‘normais’ não têm.”

Como artista plástico, Home-ro atribui às obras do Caps o mesmo mérito artístico de qualquer outra obra. Quando fala em liberdade, ele se refere à ausência de amarras que a arte acadêmica, por exemplo, impõe ao artista. “Nós aprendemos a pintar em um só sentido, a limpar os pincéis antes de trocar de tinta... Aqui, cada um pinta à sua maneira, pela liberda-de da intuição.” Homero diz que auxi-lia os usuários conforme a dificuldade de cada um, mas o objetivo principal é influenciar o mínimo possível na obra. “Eu tenho por base não interferir com o meu estilo no trabalho deles. O que eu trago é um desafio.” Adelino da Sil-va, 49 anos, autor do acrílico sobre tela que abre a exposição, teve dificuldade desde o primeiro contato com a tela em branco. “Ele travava. Tinha medo

de fazer algo errado”, conta Homero. A proposta feita a Adelino foi que ele desenhasse de olhos vendados. A vi-são escureceu e Adelino soltou o traço. “Com os olhos fechados ele se libertou das amarras do certo e do errado. De-pois, tirou a venda e coloriu. De algu-ma forma, saiu uma figura humana, que ele já tinha trabalhado antes, em uma série de rostos, em um quadro adquirido pela UCS.” Ao avaliar o resultado da obra, intitulada Às Cegas, Homero explica que a predileção de Adelino pelos rostos vem da necessidade de buscar a si mesmo. “Ele repe-tiu os rostos para bus-car a identidade dele. É o que o doente mental perde dentro de uma clínica, quando passa a ser um número de prontuário.”

Alcides Henrique de Gois, 35 anos, pintou no quadro Abstrato uma fi-gura humana em traços simples so-bre um fundo de pinceladas fortes e desalinhadas. Em um livro publicado pela prefeitura, com o mesmo título da exposição, cada quadro tem uma breve descrição. O texto diz que Alci-des pintou esta tela em um momento turbulento, enquanto esforçava-se para conter a irritação. Na tela, traços e co-res são oscilantes como o estado men-tal de Alcides. “É o meu pai”, revelou o artista sobre o homem que aparece

na pintura. “Também quer dizer que estou tentando me aposentar. Já fiz vá-rias perícias, mas o INSS não quer dar a minha aposentadoria.” Homero já ti-nha avisado que talvez Alcides desvias-se o assunto da conversa.

Marcel Soares, 30 anos, entrou no Caps em 2008, depois de um históri-co de repetidas internações em clínicas

psiquiátricas. “Doze vezes na Paulo Guedes, em Ana Rech, e uma em Niterói”, recorda Marcel. “Nas primeiras vezes foi muito traumá-tico. Depois me acostu-mei. Eu não queria ir, mas meu estado mental já avisava que eu pre-cisava ser internado.” Marcel pintou uma tela sem título, mas disse que se hoje fosse dar nome ao quadro – uma

mulher vestida de preto, segurando um crucifixo – chamaria de A Gótica. “Representa a juventude entrando na religião, não de uma forma católica, mas uma aproximação com Jesus”, ex-plica Marcel. A figura humana do qua-dro tem uma auréola divina e, como explica o artista, é alguém que crê, uma irmã de Jesus. Marcel diz que a religio-sidade, que se destaca na sua arte, tam-bém já o levou para a clínica. “Quando surtava, saia gritando o nome de Jesus. Aí me internavam.” Desde que entrou no Caps, Marcel tem aprimorado o au-tocontrole e não precisou mais ser in-

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Pinceladas notáveis

AS CORESDA SUBJETIVIDADE

Exposição In Sana Mente, de 33 artistas com transtornos mentais, propõe uma reflexão sobre o fazer e o valor artístico

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Mestre do abstrato, Wassily Kandinsky, que pintou Farbstudie Quadrate (E), defendia a subjetividade. Adelino Silva, autor de Às Cegas (D), venda os olhos para explorar a sua

“Aqui, cada um pinta à sua maneira, pela liberdade da intuição”, diz Homero Ribeiro, sobre a didática das oficinas do Caps

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ternado. “O trabalho que faço aqui me ajuda a ter paciência.”

A artista plástica Ângela Ga-rahy também ministra oficinas de arte no Caps e tem uma história para cada obra. Na instigante pintura de Marly Beatriz de Lima, 53 anos, a artista usou apenas três cores, rabiscou formas sim-ples – uma mancha preta, um arabes-co vermelho, um grande olho e qua-tro traços laranjas. Ela deixou a tinta escorrer pela tela e não se preocupou em preencher o fundo. “A Marly pinta um quadro por encontro. Nesse, não fez o desenho, começou direto com o pincel”, conta Ângela. Na hora de dar nome ao quadro, a artista de pincela-das rápidas e displicentes surpreende pela profundidade da inspiração. Sob o título Mulher de costas, o quadro se revela. Na perspectiva de Marly, que não admite ser vista pelas costas, o poder do olhar ultrapassa o limite da posição dos olhos. “Ela está de costas, mas está vendo tudo”, analisa Ângela.

Marcos André Martins, 43 anos, pintou um palhaço e assinou “Marco”. “Insisti para que ele deixasse um espa-ço para a assinatura, mas não tem tela nenhuma em que caiba o nome dele”, diz Ângela. Ela conta que a obra é uma espécie de autorretrato. “Ele pintou a imagem de como acha que é visto pelos outros”, analisa Ângela. Para os outros, o palhaço da tela faz uma careta.

Na obra de Teodoro César Rosa e Sil-va, uma palavra estrangeira flutua so-bre um mar agitado. “Ele fala inglês e francês fluentemente, estudou história,

filosofia... É um desafio trabalhar com ele, pela minha ignorância em relação ao conhecimento que ele tem”, diz Ân-gela. Do conhecimento que adquiriu nos livros, Teodoro entalhou incógni-tas em xilogravura, uma abstrata flor-olho-pássaro-planta. No acrílico sobre tela sem título, a palavra que na-vega sobre o maremoto do inconsciente é sad – triste, em inglês.

Elson Eugênio de Lima, 47 anos, é autor do Autorretrato como Faraó. Quando pintou, acreditava ser o próprio soberano. “Elson é Raul Seixas: Eu nasci há 10 mil anos atrás. Ele diz ter recordações de todas as suas vidas passadas. A cada dia que vinha no Caps ele era alguém de uma vida passada. É difícil ele aparecer aqui com a sua identidade atual”, conta Ân-gela. Maluco beleza, Elson prefere ser uma metamorfose ambulante. Já assu-miu a identidade de Deus, Jesus e ou-tras personalidades do seu mundo real.

Enquanto conversava com O Caxiense, Ângela acompanhava o trabalho de Marcelo Lopes Ferreira, 31 anos, e Vinícius Carpeggiani, 26 anos. Ambos permaneceram em si-lêncio e não respondiam às perguntas dirigidas a eles. Marcelo e Vinícius têm algo em comum, comunicam-se pou-co verbalmente e ficam intimidados na presença de estranhos. No dia da re-

portagem, Marcelo desenhava um car-ro com traços precisos, a partir de um recorte de revista. Em In Sana Mente, ele expõe um acrílico sobre tela onde dois elefantes passeiam na superfície do Sol. Agora com traços imprecisos,

a obra de Marcelo remete aos desenhos do Pequeno Prínci-pe, de Saint-Exupèry, onde o planeta pare-cia pequeno porque o príncipe era retra-tado grande. Vinícius trabalhava de cabeça baixa. Sobre a mesa, organizava miçangas e alfinetes a serem aplicados meticulosa-mente sobre uma bola de isopor. Na exposi-

ção, o artista que assina Vini, expõe o quadro O Gramado das árvores, um desenho com traços infantis onde cada cor respeita rigidamente os contornos. Quase no final da entrevista com Ân-gela, Vinícius, ainda desviando o olhar, levantou a cabeça para responder uma única pergunta da entrevista. “Pode colocar no jornal.” A manifestação de Marcelo resumiu-se a um tímido “tchau”, um grande passo para quem pouco fala, mas melhora a cada dia.

Exceto pela condição de saúde men-tal, os pacientes do Caps não têm nada em comum. A coordenadora Lourdes Susin Osório explica que o atendimen-to no centro, que busca a reabilitação psicossocial, se baseia mais nos sinto-mas e na condição social e mental de

cada usuário do que no diagnóstico das doenças. A situação de transtorno mental grave enquadra usuários com sofrimento intenso, dia a dia com-prometido, baixo grau de autonomia e vida social empobrecida. “São casos onde há a necessidade da intervenção de uma equipe interdisciplinar”, diz Lourdes. “Tudo o que acontece aqui tem um projeto terapêutico singular. Cada um é cada um.” Para Lourdes, a maior contribuição do trabalho reali-zado no Caps é o resgate da individu-alidade dos usuários. “Eles adquirem mais autonomia e respeito da família. Passam a acreditar mais neles mesmos. Acreditam que são capazes e a família acredita mais neles.”

Durante uma aula, ao lado de Ânge-la, Homero desafiou a turma: “Quem é maluco levanta a mão!”. Ninguém se manifestou, apenas Homero e Ângela levantaram as mãos. “Um dos usuários disse: ‘maluco é quem rasga dinheiro e come cocô!’”, conta Homero.

Os quadros da exposição estão à venda por valores entre R$ 60 e R$ 80. O valor arrecadado será revertido para a manutenção das oficinas. Em uma sala do Caps, há cerca de 300 obras catalogadas. São pinceladas de Van Gogh, viagens de Dalí, formas de Mondrian, cores de Frida Kahlo. As obras que ilustram esta reportagem são de renomados pintores e de artis-tas do Caps. A proposta é uma com-paração estética que revela que mérito é um termo subjetivo, valor artístico é imensurável e arte é mesmo coisa de maluco.

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1. Sonho, de Helena Bolfe; 2. Composition with red yellow blue and black, de Piet Mondrian; 3. Caras e bocas, de Juliano Aver Ma-ciel; 4. Self Portrait Facing Death, de Pablo Picasso; 5. Palhaço, de Marcos André Martins; 6. Sem Título, de Teodoro César Rosa e Silva; 7. Ícaro, de Henri Matisse; 8. Mulher de Costas, de Marly Beatriz de Lima

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“Os usuários passam a acreditar mais neles mesmos. Eles acreditam que são capazes e a família acredita mais neles”, diz Lourdes Osório

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por GRAZIELA [email protected]

om a justificativa de coletar dinheiro para ajudar vítimas de uma doença grave, a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) captou em 2009 R$ 3.083.160,52 – tudo proveniente de doações de empresas, pessoas físicas e eventos. Nenhuma outra entidade da cidade conseguiu arrecadar tanto. Mas apenas R$ 1.010.621,18, ou seja, 1/3 do valor doado, foi gasto em filantropia.

Enquanto a maioria das organiza-ções filantrópicas consegue não mais do que empatar as contas, a Aapecan fechou o último exercício com superá-vit – o que em uma empresa sem fins lucrativos pode ser traduzido como lucro –, e bastante significativo: meio milhão de reais.

A Liga Feminina de Combate ao Câncer, que tem a mesma função so-cial que a Aapecan, arrecada por ano cerca de R$ 100 mil – 30 vezes menos. Em contrapartida, aplica todo esse di-nheiro no auxílio aos doentes. Apesar da diferença de valores, as duas aten-dem mensalmente em Caxias o mesmo número de pacientes: entre 450 e 500.

A diferença está na concepção das duas entidades. A Liga é uma organi-zação não governamental sem fins lu-crativos, que não possui funcionários e também não telefona às pessoas para pedir dinheiro, como faz a Aapecan. Por isso, toda a sua verba vem de even-tos beneficentes, como bailes, jantares e almoços, realizados pelas 80 volun-tárias.

A Liga não tem sede própria. Faz to-dos os atendimentos em uma sala cedi-da no Hospital Geral. Os profissionais que atendem os doentes fazem isso de graça, e as visitas domiciliares são re-alizadas pelas próprias voluntárias em seus automóveis, com gasolina paga por elas mesmas.

A Aapecan, por sua vez, embora se apresente como uma associação civil

de direito privado sem fins lucrativos e econômicos, é uma empresa de in-vejável desempenho financeiro, com uma estrutura profissional de coleta de dinheiro e funcionários remunerados. E sua única fonte de renda são as doa-ções da comunidade.

Os custos da Aapecan são divi-didos entre atendimento aos pacientes, psicólogo, assistentes sociais, gastos em gasolina e salários e encargos de 50 funcionários, entre eles 20 profissio-nais de telemarketing e 13 motoboys – que, conforme o balanço da empresa, foram de R$ 1.166.769,75 em 2009.

Os atendentes de telemarketing li-gam para as pessoas pedindo ajuda para a entidade ou para algum pacien-te que esteja precisando de alimenta-ção especial ou remédios. Depois, um motoboy vai até a casa de quem foi contatado para buscar a doação, na maioria das vezes dinheiro.

Em momento algum a Aapecan dei-xa claro aos doadores para quem tele-fona ou em seu site que se trata de uma empresa e que, portanto, apenas parte do dinheiro arrecadado será transferi-da aos pacientes. Pelo contrário, ela se apresenta como uma Sociedade Civil de Interesse Público, nome que se con-funde com Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Na primeira entrevista feita por O Ca-xiense com a entidade, sua assessora chegou a afirmar que a Aapecan era uma OSCIP.

Se tivesse essa tipificação, a Aapecan teria de prestar contas todos os anos ao Ministério Público Federal, que fis-calizaria os seus gastos e poderia até fechá-la em caso de problemas. Como ela não possui a certificação, não passa por esse controle rigoroso.

O diretor executivo da Aapecan, Paulo Siqueira Vasques, dá uma res-posta inexata sobre a classificação da entidade: “A única diferença entre ser OSCIP ou não é que na OSCIP a di-

retoria pode ser remunerada”. Na rea-lidade, as OSCIPs podem optar entre remunerar ou não seus diretores. Nes-se último caso, podem solicitar isenção de alguns impostos – por isso a maio-ria decide não pagar a diretoria. Mas essa não é a única particularidade. A lei que criou esse tipo de classificação para as ONGs teve como ob-jetivo regulamentar o terceiro setor para evi-tar que organizações usassem a filantropia com o intuito de des-viar dinheiro. Como vantagem, as empresas certificadas recebem isenções tributárias e podem firmar parce-rias para receber verbas públicas com menos burocracia. Em contrapartida, passam por um tipo de fiscalização mais rigo-rosa, o que dificulta as fraudes.

Vasques diz que a Aapecan pres-ta contas ao Ministério da Justiça, ao Conselho Municipal de Assistência So-cial e ao Conselho Municipal de Saúde. Mas, de todos esses órgãos, o único para o qual a diretoria da entidade já prestou contas foi o Conselho de As-sistência, que descredenciou a empresa no ano passado e produziu um docu-mento no qual aponta problemas no relatório financeiro apresentado por ela.

O diretor executivo alega que não pode gastar tudo o que ganha em fi-lantropia, como faz a Liga Feminina de Combate ao Câncer, porque tem gas-tos administrativos altos para manter os funcionários e a infraestrutura de atendimento aos pacientes. A entidade possui uma chácara em Fazenda Souza – onde são realizadas terapias de gru-po –, um micro-ônibus que leva do-entes e familiares até esse lugar e mais três carros para deslocamento dos pro-fissionais que visitam os pacientes. No

ano passado, atendeu 431 pacientes so-mente em Caxias, e atualmente possui mais de 3 mil cadastrados em todo o Estado.

A assistente social Cassiana Weber afirma que são feitas visitas diárias às famílias cadastradas. Além disso, são

desenvolvidos projetos de terapia em grupo, palestras nas escolas, uma campanha per-manente de incentivo à doação de medula ós-sea e distribuição de re-médios, cestas básicas e vales-transporte. “Nós temos como critério procurar atender todos os pacientes oncológi-cos que nos procuram e que tenham renda de até quatro salários mí-

nimos.”

Na sede da Aapecan, um prédio alugado no bairro Universitário, são prestados diversos serviços de assis-tência social, psicologia e orientação jurídica. Nesse lugar também é feita a distribuição de remédios e dos vales para alimentação e transporte. Na re-cepção, é comum encontrar os pacien-tes beneficiados. No dia em que a re-portagem foi ao local para fazer fotos, vários deles elogiaram o atendimento.

Na sede, um quadro mostra uma imagem aérea da chácara e fotos de eventos de integração com os doentes naquele local. O micro-ônibus da en-tidade fica estacionado em frente ao prédio, com os demais automóveis. Ou seja, o patrimônio e os projetos de que fala o diretor executivo são visíveis, e as pessoas que usam essa estrutura aprovam o atendimento.

Ao comentar o balanço de 2009 da entidade, publicado em jornal de 15 de março deste ano, Vasques apresenta valores e informações diferentes. No balanço da Aapecan consta, por exem-

“O balanço de uma empresa é diferente do de uma ONG. Nesses R$ 625 mil em caixa está o valor do centro terapêutico”,afirma Vasques

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Assistência bem-sucedida

FILANTROPIA LUCRATIVA

A Aapecan captou R$ 3 milhões em doações em 2009 para atender pacientes com câncer, mas seu balanço informa que gastou só 1/3 com despesas filantrópicas

14 24 a 30 de julho de 2010 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.O Caxiense

Na sede da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan), no bairro Universitário, beneficiados elogiam o serviço

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plo, que ela usou R$ 1,01 milhão em filantropia em todo o ano passado. Ao receber a reportagem, no entanto, Vas-ques apresentou um relatório no qual demonstra gastos de R$ 560 mil, quase metade do valor declarado.

A diferença, segundo ele, deve-se às despesas administrativas. “Aqui (no re-latório apresentado por ele) estão só os gastos com medicamentos, suplemen-tos alimentares e cestas básicas. Nesse balanço que está publicado nós temos o combustível usado nas visitas do-miciliares, temos um projeto Seja um Doador de Medula Óssea, com o qual temos uma despesa muito grande com folder, folhetos, cartazes e combustível, e o salário das assistentes sociais e da psicóloga.” No balanço, porém, as des-pesas administrativas estão demons-tradas em separado (o que é correto).

De acordo com Vasques, o salário da psicóloga e das assistentes sociais é diferente dos demais na hora de lan-çar no balanço porque elas trabalham somente com os pacientes, enquanto os atendentes de telemarketing, por exemplo, se relacionam com o públi-co em geral. Já o material gráfico do projeto de medula é, na verdade, uma cartilha produzida pela Assembleia Le-gislativa do Rio Grande do Sul, a partir de um projeto da Aapecan, que apenas supervisionou sua confecção.

No dia anterior à entrevista com Vasques, a assessora de comunicação da entidade, Silvia Rodrigues, havia mostrado uma cartilha sobre o tema, usada pela Aapecan em campanhas de incentivo à doação de medula, e ex-plicado que o material havia sido feito pela Assembleia. O deputado Carlos Gomes (PRB), que era presidente da Comissão Mista Permanente de Par-ticipação Legislativa Popular quando a publicação foi produzida, confirmou à reportagem d´O Caxiense que a cartilha foi confeccionada com verba pública.

O fato mais estranho no ba-lanço da Aapecan, entretanto, aparece sob a rubrica Caixa. O documento pu-blicado afirma que a empresa contava, em 31 de dezembro de 2009, com R$ 612.618,55 em caixa. Isso significa que a empresa teria, nesta data, uma pe-quena fortuna em dinheiro vivo guar-dada em seus cofres. A explicação de Vasques para isso é incompreensível do ponto de vista contábil: ele afirma que esse valor não estava em caixa, e sim havia sido utilizado na compra de bens – e esses bens não teriam sido ad-quiridos em 2009, mas em 2008.

“O balanço de uma empresa é diferente do balanço de uma ONG. Nesses R$ 625 mil (na verdade, R$ 612 mil) que estão em caixa está incluído o valor que pagamos pelo centro terapêutico, que entra como investimento, e não como despesa”, ar-gumenta Vasques. Na linguagem contábil, porém, a rubrica Caixa sempre tem o mesmo significado, seja no balanço de uma ONG, de uma empresa ou de uma ins-tituição pública. Refere-se ao dinheiro em espécie, em moeda corrente, em poder daquela organização – os valores depositados em um banco, por exem-plo, são declarados separadamente.

Cinco minutos antes, o diretor havia dito que a chácara fora comprada em 2008 e, por isso, não estava no balanço do último ano. Ao ser lembrado dis-so, justificou assim: “Mas os carros e o ônibus que compramos em 2008 não entram como despesa, entram nesse caixa aqui”, disse, apontando para o balanço. Anteriormente, ele havia afir-mado também que o ônibus tinha sido contabilizado nas despesas adminis-trativas. “Ele entra sim como despesa,

mas não em despesa administrativa. Entra como saldo do caixa”, remendou. As explicações de Vasques são incom-patíveis com qualquer contabilidade – e, naturalmente, estão em desacordo com o balanço publicado pela própria Aapecan.

O superávit da Aapecan, conforme seu balanço, foi de R$ 503.056,29 no exercício de 2009. Um feito e tanto se comparado ao desempenho de outras entidades filantrópicas. Na maioria delas, o superávit, quando existe, é mínimo, pois praticamente todos os valores arrecadados são transforma-

dos em ações filantró-picas. Afinal, o objeti-vo dessas instituições não é sobrar dinheiro. Quanto maior a sua receita, maior a ajuda que elas prestam. Na Aapecan, o superá-vit não foi usado para ampliar o número de pacientes de câncer beneficiados. Paulo Siqueira Vasques afir-ma que isso não foi possível porque todo

o dinheiro que sobrou foi aplicado na compra de bens. Mas o balanço da Aapecan, mais uma vez, mostra uma informação diferente. O Imobilizado – rubrica onde constam todos os bens de uma empresa – passou de 274,43 mil em 2008 para R$ 377,01 mil em 2009. Ou seja, o Imobilizado cresceu pouco mais de R$ 100 mil. Faltariam ainda R$ 400 mil para a conta fechar.

O Caxiense conversou com o contador Renato Toigo, que é diretor da Fenacon, a federação nacional dos contabilistas, para esclarecer dúvidas sobre os balanços. Sem comentar o caso específico da Aapecan, por ques-tões éticas, ele explica como deve ser um balanço correto. “A demonstração

do balanço de uma empresa pressupõe que relate a fiel existência dos bens, di-nheiro e obrigações de qualquer orga-nização, seja ela uma empresa ou uma entidade. A contabilidade é a mesma, independentemente da natureza da or-ganização”, afirma.

Toigo explica que os bens de uma organização devem ser apresentados no balanço no item apontado como Imobilizado, e jamais no Caixa. “Di-nheiro se guarda em dois lugares: no banco ou no caixa. Se no balanço diz que há dinheiro em caixa, ele tem que apresentar toda a quantia declarada em dinheiro vivo. Se ele não tiver, algo está errado.”

Em 2009, divergências sobre a pres-tação de contas da Aapecan motivaram um relatório do Conselho Municipal de Assistência Social, que optou por não renovar o Certificado de Pleno e Regular Funcionamento da entidade.

A justificativa para o descredencia-mento é que o Conselho considerou que a entidade era de saúde, e não de assistência social. Mas, como havia itens inexplicados no balanço da or-ganização, os conselheiros decidiram produzir um documento apontando os supostos problemas e o entrega-ram ao Ministério Público, que ainda não chegou a uma conclusão sobre o caso – a última informação é de que foi remetido a Porto Alegre, pelo fato de os promotores entenderem que sua abrangência é estadual. Na região, o procedimento administrativo já pas-sou pelas mãos de seis promotores.

“Decidimos fazer o relatório por dois motivos, principalmente: primei-ro, porque a arrecadação deles é muito alta; segundo, porque na prestação de contas deles constava que eles haviam gasto R$ 815 mil em filantropia, mas demonstravam a destinação de apenas R$ 444 mil. Onde foram parar os ou-tros quase R$ 400 mil?”, contesta Eloisa Corso, assistente social integrante do

Conforme seu balanço, em 31 de dezembro de 2009 a Aapecan deveria ter a pequena fortuna de R$ 612 mil em dinheiro vivo no caixa

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Entidade tem 20 profissionais de telemarketing para pedir doações e 13 motoboys para a coleta; Vasques chegou a Caxias em 2003. Três meses depois, abriu a Aapecan

Edital de Leilão Único e IntimaçãoÁtrio do Fórum - Caxias do Sul Comarca de Caxias do Sul

Juizado Especial Cível AÇÃO: Execução nº. 010.3.06.0008437-7. AUTOR (ES): DANIEL GAJARDO. RÉU(S): ADÃO PEREIRA VARGAS e ANDERSON ARTUR REUSDIRFER VARGAS. OBJETO: VENDA EM LEILÃO ÚNICO DIA 10 DE AGOSTO DE 2010, ÀS 11h25min. SEGUINTE (S) BEM (NS): Os direitos que o executado possui sobre o veículo GM/VECTRA GLS, Placas IFN-6057, Renavam 662645073, ano/modelo 96/97 e um veículo, a diesel, importado, marca Asia, modelo Hi-Topic, ano/modelo 1995/1996, chassi KN2FAD2A1SC059967, placas BLZ-6992, RENAVAM 652747507. Avaliado em R$ 15.000,00 (quinze mil reais); O bem está depositado com a executada, sito à Rua Emílio Ernesto Schimidt, n° 117, fundos, Bairro Esplanada, nesta. COMUNICAÇÃO: Leilão único com lanço igual ou superior ao valor da avaliação de acordo com Enunciado 79, de 29/11/2006. Ao ar-rematante, cabe o pagamento de comissão ao Leiloeiro. Informações pelos fones: (54) 3212.1673 - 9166.8378. Por este edital ficam desde logo intimados os executados, caso não encontrados pelo Sr. Oficial de Justiça, conforme Portaria 04/2002, da Corregedoria Geral da Justiça.

Caxias do Sul, 30 de junho de 2010.Escrivã : Ângela Girardello Bureska. Juiz de Direito: Dr. Leoberto Narciso Brancher

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Conselho e da comissão que analisou as contas da entidade.

Ana Paula Flores, que também in-tegra o Conselho e estava na equipe que avaliou a condição da Aapecan, entende que muitas das despesas apre-sentadas pela entidade como filantró-picas não podem ser classificadas des-sa maneira. “Entidades filantrópicas de educação, por exemplo, dão bolsas de estudo; as de saúde dão consultas. O Pompéia atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Gasolina não é filantropia”, aponta Ana Paula.

O descredenciamento da Aapecan não impede a entidade de funcionar nem de continuar arrecadando dinhei-ro. O que muda é que ela perde o con-trole social. Ou seja, não precisa mais prestar contas ao Conselho Municipal de Assistência Social, porque não está mais subordinada a ele. Ao mesmo tempo, também não pode mais reque-rer certificados de utilidade pública, concedidos pelo Estado e pela Federa-ção, ou elaborar projetos para concor-rer a verbas públicas.

Por isso, este ano a diretoria da or-ganização procurou o Conselho Mu-nicipal de Saúde, no qual conseguiu recuperar o Certificado de Pleno e Re-gular Funcionamento. O presidente do Conselho, Paulo Cardoso Alves, argu-menta que a concessão do documento foi aprovada em assembleia com os demais conselheiros depois de visitas à entidade, quando ficou constatado que ela realmente ajuda pacientes com cân-cer, e após análise do balanço publi-

cado em jornal. “Não vimos nenhum problema com a entidade. Pelo contrá-rio, por isso concedemos”, justifica.

Alves diz que desconhece o relatório do Conselho Municipal de Assistência Social, e alega que se a entidade come-ter alguma irregularida-de os conselhos saberão ao analisar suas contas. A secretária municipal da Saúde, Maria do Rosário Antoniazzi, que também integra o Conselho, é cautelosa ao comentar o caso. Mas garante que foi contrária à concessão do certificado para a Aape-can e promete acompa-nhar o trabalho da enti-dade.

Há cinco anos em Caxias, a Aa-pecan foi fundada por seu diretor exe-cutivo, o paranaense Paulo Siqueira Vasques. Ele conta que chegou à cidade em 2005, para trabalhar com compra e venda de automóveis, pois o valor dos carros aqui seria maior do que em outras cidades. Três meses depois de se estabelecer, fundou a entidade, que cresce a cada ano: já tem 11 unidades no Estado e está prestes a abrir a déci-ma segunda.

Vasques diz que criou a Aapecan porque já realizava trabalho voluntário no Paraná e se comovia com a situa-ção dos pacientes com câncer. Garante que não recebe dinheiro da entidade, que se expande, segundo ele, por uma

necessidade da população. Ele afirma que toda a sua renda pessoal vem de comissões que recebe intermediando compra e venda de automóveis. “Eu tenho clientes em todo Estado, vários.”

Entretanto, Vasques conta que não possuiu uma reven-da. Faz todas as tran-sações por e-mail e telefone. E dá a en-tender que não segue todas as formalidades legais nessa atividade. “Eu tenho uma em-presa, mas a despesa para manter uma em-presa hoje, aluguel, funcionário e um monte de encargos... Se você for manter a empresa aberta, cada

nota fiscal de um carro que você emite, o seu lucro vai. Então, é melhor traba-lhar do jeito que eu trabalho, porque pelo menos o que eu ganho é meu, não tem que dar satisfação para o governo, porque o governo não ajuda você, não me ajuda, não ajuda ninguém.”

As integrantes da Liga Feminina de Combate ao Câncer também não são remuneradas – sua renda pessoal vem de outras atividades. Porém, como os recursos da ONG são escassos, acabam tendo que usar o próprio dinheiro para cobrir os gastos com o serviço volun-tário.

A vice-presidente Fátima Cirena Müller, que foi presidente por quatro gestões, conta que as voluntárias pa-

gam contribuições espontâneas todos os meses para ajudar a pagar algumas despesas da Liga. “Gasto em gasolina nós nem computamos nas contas da entidade, porque fazemos tudo com o nosso carro e pagamos do nosso bolso. As contribuições que recolhemos entre nós são para comprarmos algumas flo-res de vez em quando.”

Fátima lembra que a Liga existe há 26 anos e sempre procurou trabalhar em parceria com o sistema público, fornecendo, na medida do possível, remédios e atendimentos de apoio que não são oferecidos pelo SUS em quantidade suficiente. “Trabalhamos em parceria com o HG e procuramos complementar os serviços.”

A presidente da Fundação de Assis-tência Social (FAS) de Caxias, Maria de Lurdes Grison, prefere não se ma-nifestar a respeito da Aapecan. Apenas recomenda que, antes de ajudar qual-quer entidade, as pessoas procurem se informar sobre elas, saber como traba-lham, quantas pessoas atendem e de que maneira o serviço é prestado.

Maria de Lurdes ressalta que há vá-rias ONGs realizando um trabalho importante na cidade, mas que mui-tas vezes são desconhecidas por não fazer publicidade das suas realizações. “Não posso dizer às pessoas quem elas devem ajudar. Mas posso aconselhar que elas se informem bem, conheçam a história das entidades e das pessoas que trabalham nelas e direcionem a ajuda a quem realiza um trabalho sé-rio.”

“Se no balanço diz que há dinheiro em caixa, tem que apresentar em dinheiro vivo. Se não tiver, algo está errado”,diz contabilista

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CÍNTIA [email protected]

ma fachada um dia imponente se es-vaiu durante anos diante dos maus tra-tos do tempo e de vândalos. Desde o início deste ano, o passado está sendo reconstruído para dar espaço ao futu-ro. No bairro Marechal Floriano, a ve-lha estrutura aos fundos da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) terá uma nova chance.

Tombada pelo Patrimônio Histórico caxiense em setembro de 2003, o an-tigo Patronato Agrícola Municipal tem a aparência de um castelo, com quatro andares. O último é reservado a uma torre, que abriga somente um quarto que, hoje em dia, tem acesso restrito devido ao estado precário do seu piso.

A visita ao prédio, em companhia da coordenadora administrativa da Apae, Elisabeth Leite Marin, mostrou que mesmo a ação dos anos não tirou o es-plendor do lugar. Em meio a entulhos e poeira, vê-se resquícios do que um dia foi referência arquitetônica na cidade. Cada escadaria tem um corrimão di-ferenciado, as janelas têm detalhes que lembram mosaicos.

A vista da sacada mais alta tira o fôle-go de quem observa a cidade. “Imagina como era na época, quando não tinha nada em Caxias?”, questiona Elisabe-th. Ela conta que o local foi escolhido para abrigar o Patronato por conta da distância do centro do município. Hoje em dia, inimaginável. Tantos prédios, tanta evolução. A cidade engoliu o pas-sado.

O Patronato foi inaugurado em julho de 1928 com a presença do então governador do Estado, Getúlio Vargas. A inauguração ocorreu mesmo com as obras inacabadas. Uma placa de már-more celebrando tal visita ainda resis-te, pendurada em uma parede. Os pa-tronatos agrícolas tinham por função educar ou corrigir por meio da vida no campo. Aqui em Caxias, o mérito era educativo quando passou a abri-

gar 12 meninos carentes em agosto do mesmo ano. Era uma espécie de orfa-nato que ensinava atividades agrícolas. Com a decadência do formato e uma nova visão do governo federal sobre educação, os patronatos brasileiros ti-veram seu fim decretado. O de Caxias teve vida curta, fechado na primeira metade dos anos 30. Doado ao muni-cípio, foi assumido pela então Ordem dos Irmãos Josefinos e, depois, pelas irmãs do Sacré-Couer de Marie.

Várias entidades passaram pelas paredes do Patronato, como a creche da Comissão Municipal de Amparo à Infância (Comai) e alojamento de funcionários do Departamento Autô-nomo de Estradas e Rodagem (Daer), enquanto construíam a ponte sobre o Rio das Antas. Em 1963, o prédio foi ocupado pelo Instituto Mário Totta, futura Apae. A doação das terras para a Apae foi presente de Natal, realizada em 24 de dezembro de 1969. A insti-tuição ocupou o prédio até 1981. Por pouco tempo, em 1992, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Sul (Crea) se instalou na ala norte do pré-dio e realizou uma pequena reforma. Desde então, total abandono.

A restauração do antigo Pa-tronato serve para conservar uma par-te importante da história do município. De acordo com o arquiteto responsável pela obra, Carlos Mesquita Pedone, o principal não fica somente na preocu-pação com a questão legal de manter um prédio tombado o mais original possível. Segundo ele, há diversas ma-neiras de reformar prédios com essas características e ainda assim torná-los modernos e funcionais. Porém, a preo-cupação maior é com a manutenção do que Pedone reconhece como patrimô-nio da cidade. “É referência para a cul-tura da cidade, não só para a história”, avalia. Para Pedone, o antigo patronato é “obra de excelência, com valor histó-rico, cultural e arquitetônico”.

Ao encarar o desafio de reformar

uma casa de mais de 80 anos, os arqui-tetos da empresa contratada utilizarão como base a técnica de construção da época, reparando no modo de pensar da arquitetura dos anos 20. Tudo base-ado em pesquisas no Arquivo Munici-pal e em documentos de Porto Alegre sobre patronatos. “É como se ouvisse uma história contada por uma tia, uma avó. É ouvir o passado”, explica Pedo-ne.

Conforme o projeto original, a ca-racterização é o objetivo, mesmo de-pois de tantas reformas no prédio rea-lizadas por outros inquilinos. Segundo Pedone, “o que for possível reconstruir como em 1928 vai ser feito”. O arqui-teto afirma que estruturalmente o Pa-tronato está muito bem. O pior dano sofrido foi a cobertura de uma das alas que desabou.

O novo prédio terá um bloco com banheiros, uma cozinha, acessibilida-de para cadeirantes, área de instalação elétrica e estará dentro de todas as nor-matizações preventivas a incêndios. Basicamente, a parte física continuará o mais fiel possível à original, mas o prédio será atualizado, dotado de faci-lidades para seu novo uso. Pedone de-fine isto como “restauro crítico”.

“A estrutura do prédio foi pensada como orfanato, mas hoje vai ter outro uso”, explica Pedone. A previsão de liberação do edifício será entre 12 e 14 meses. O diretor de patrimônio da Apae, Elói Tondo, pensa que o proces-so pode levar até mais do que isso, por conta do trabalho praticamente artesa-nal a ser realizado.

Segundo ele, o prédio foi desocupa-do pela Apae pela dificuldade de loco-moção entre os andares, feitas somente por escadarias já antigas, com degraus de madeira que, hoje, se encontram intransitáveis em sua maioria. Com o tombamento do antigo patronato, a Apae recebeu do Município uma es-pécie de bônus, chamado índice cons-trutivo. É uma forma de incentivo para proprietários não se desfazerem de imóveis, mas sim investir na recupe-

ração. Esse índice foi, então, vendido, o que resultou no dinheiro necessário para a reforma do prédio. “A Apae não tinha condições de se manter e fazer a reforma”, explica Tondo. Depois de pronto, o prédio ainda não tem des-tinação certa. O responsável por isso é Tondo, que tem a incumbência de buscar um inquilino que se adapte ao prédio.

O futuro locatário deve se manter lá por temporadas, não somente por breves momentos. As ideias que mais comumente surgem são escritórios, como de contabilidade ou advocacia. Um espaço artístico, como um ateliê, ou algo na área cultural, como um bar ou uma biblioteca, também seriam bem vindos. Com isso, o patrimônio cultural em forma de patronato será preservado e o aluguel viria para com-plementar a renda da instituição. “A Apae vive carente de dinheiro”, lamen-ta o diretor de patrimônio.

Ao olhar de fora o antigo Pa-tronato, o que fica é uma sensação lúgubre, de casa mal-assombrada. A coordenadora Elisabeth concorda, mas brinca com a ideia: “fantasma por aqui ninguém viu, mas já se ouviu muito barulho assustador”. Isso porque vân-dalos se arriscam subindo muros para ter acesso ao casarão, maculando pare-des com rabiscos e assinaturas. “Nem todos os estragos aqui foram causados pela exposição ao tempo”, diz a coorde-nadora administrativa da Apae, apon-tando para janelas com vidros quebra-dos.

Quem não respeita o passado defi-nitivamente não terá um bom futuro. Sorte que ainda há quem se preocupe com a manutenção da história e perce-ba que essa conversa de que quem vive de passado é museu está desatualizada.

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Patrimônio Arquitetônico

TESOURO EM RUÍNASCom 82 anos, prédio tombado do antigo Patronato Agrícola Municipal é restaurado

www.ocaxiense.com.br 1724 a 30 de julho de 2010 O Caxiense

Prédio de 4 andares foi inaugurado em 1928 por Getúlio Vargas. Distante da cidade, tinha a função de disciplinar através da lida no campo

Online | Mesmo existindo há mais de 80 anos em Caxias do Sul, muitos moradores não conhecem o Patronato. Veja a galeria de fotos em www.oca-xiense.com.br

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18 24 a 30 de julho de 2010 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.O Caxiense

CINEMA

EXPOSIÇÕES

FESTA

TEATROl A Lenda da Vida | Infantil. Quin-ta (29), 14h e 18h30 | Sesc

Garota traz à vida lenda irlandesa ao procurar irmão perdido. Dirigido por John Sayles. Com Jeni Courtney e Pat Slowey. Livre, 103 min..

l A Rainha | Drama. Quinta (29), 15h. Matinê às 3 | Ordovás

Se estiver com a agenda livre na quinta à tarde, aproveite para conferir a reação da Rainha da Inglaterra, Eli-sabeth II, à morte da Princesa Diana, que causou grande comoção popular no país. Dirigido por Stephen Frears. Com Helen Mirren e Michael Sheen. 97 min., leg..

l Predadores | Terror. 14h, 16h40, 19h e 21h20 | Iguatemi

O predador de aparência assusta-dora, aquele original, dos anos 80, re-torna às telas acompanhado de novas raças alienígenas assassinas. Já Dutch, personagem do governator Arnold Shwarzenegger, não volta. Contente-se com as pessoas jogadas em um pla-neta que serve de campo de caça para os predadores. Dirigido por Nimrod Antal. Com Adrien Brody e Laurence Fishburne. 14 anos, 107 min., leg..

l Toy Story 3 | Animação 3D. 13h30, 16h e 18h30 (dub.) e 21h (leg.). Sábado e domingo, sessão extra às 11h |

A aventura agora poderá ser vista também em 3D, com ingresso mais caro. Será que o Buzz Lightyear voará para fora da tela? Confira, inclusive, nas sessões matinais do final de sema-

na, às 11h. Livre, 113 min..

AINDA EM CARTAZ – Eclipse. Aventura. 13h50, 16h10 e 18h50 (dub.) e 21h40 (leg.). Iguatemi | Encontro Explosivo. Comédia romântica. 17h, 19h30 e 21h50. Iguatemi | Plano B. Comédia. 18h10. UCS | Príncipe da Pérsia. Aventura. 16h e 20h. Domin-go, também às 14h. UCS | Shrek Para Sempre. Animação. 13h40, 14h20, 16h20, 16h50, 18h40, 19h20, 21h10 e 21h30. Iguatemi | Toy Story 3 (em 2D). Animação. 14h30. Iguatemi

INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 12 (inteira), R$ 10 (Movie Club Prefe-rencial) e R$ 6 (meia entrada, crian-ças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 14 (inteira), R$ 12 (Movie Club Preferencial) e R$ 7 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Sala 3D: R$ 22 (inteira), R$ 11 (estudantes, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos) e R$ 19 (Movie Club Preferencial). Ho-rários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. RSC-453, 2.780, Distrito Indus-trial. 3209-5910 | UCS: R$ 10 e R$ 5 (para estudantes em geral, sênior, pro-fessores e funcionários da UCS). Ho-rários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Universitária. 3218-2255. | Or-dovás: R$ 5, meia entrada R$ 2. Luiz Antunes, 312, Panazzolo. 3901-1316 | Sesc: Entrada franca. Moreira César,

2.462. 3221-5233.

l Ao Quadrado | Sexta (30) e sába-do (31), 20h30 |

O próprio elenco da Cia. 2 escreve e dirige as cenas do espetáculo. Em quatro histórias, a comédia satiriza as relações que as pessoas constroem na vida. E na morte também, como não. Os assuntos variam de bastidores de um programa de TV infantil a um ca-sal sobrevivendo à TPM, passando por uma aula de orientação sexual e um julgamento pós-vida, sob perspectiva pouco religiosa.Teatro Municipal R$ 20 (na hora) e R$ 10 (estudante e sê-nior) | Dr. Montaury, 1.333 | 3221-3697

l Cabarecht | Sábado, às 20h e 22h e domingo às 19h |

O musical é inspirado na obra de Bertold Brecht, dramaturgo alemão, lembrando os cabarés da terra germâ-nica no início do século 20. Com Cida Moreira, Antônio Carlos Brunet e Zé Adão Barbosa. A primeira sessão do sábado já está esgotada. Corra para garantir ingresso para as outras.Teatro Municipal R$ 30 (público em geral) e R$ 15 (estu-dante e sênior) | Dr. Montaury, 1.333 | 3221-3697

AINDA EM EXPOSIÇÃO – Diseg-

ni. De segunda a sábado, das 10h às 19h30 e domingos das 16h às 19h. Cat-na Café. 3221-5059| Felicidade. De se-gunda a sexta, das 8h30 às 18h e sába-dos, das 10h às 16h. Galeria Municipal de Arte – Casa da Cultura. 3221-3697 | In Sana Mente. Segundas a sextas, 10h às 16h. Saguão – Centro Adminis-trativo. 3218-6001

l 9° Festa do Pescador | Até 8 de agosto |

A colônia de férias caxiense dá um bom motivo para descer a serra no inverno. Arroio do Sal oferece semi-nários, diveros pratos com peixes e atrações culturais. Tradicionalmente, 80% dos participantes da festa são de Caxias. Parece verão.Programação - Quinta (29) - Fó-rum Regional da Pesca. 9h. | Fórum de Turismo Alminorte. 10h. | Palco Gastronomia com Lúcio Alexandre. 11h30. | Banda Barbarella. 21h. | Sex-ta (30) - Palestra Selimar. 9h. | Pal-co Gastronomia com Elis Cardoso. 11h30. | Abertura da Mostra Cavalo Crioulo. 14h. | Seminário CDL. 16h. | Shalon em Cena. 19h. | Abertura Oficial. 19h30. | Gravação do Galpão Crioulo. 20h. | Banda Woods. 22h

l 5º Jantar-Baile de Kerb | Sába-do, 20h |

A Associação Cultural Germânica de Caxias do Sul promove a quinta edição do jantar que celebra a cultura alemã na cidade. O show fica por conta do Musical Real. No cardápio, comida típica alemã, como linguiça e cuca.

[email protected] Cíntia Hecher | editado por Marcelo Aramis

Guia de Cultura

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Lisbeth Salander, interpretada por Noomi Rapace, é uma personagem brutal em Os homens que não amavam as mulheres

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www.ocaxiense.com.br 1924 a 30 de julho de 2010 O Caxiense

OFICINASMÚSICA

Salão da Comunidade Nossa Senho-ra do CarmoR$ 35 (individual e não incluso bebida) | Dante Pelizzari, 1.448 | 3213-2559 e 3222-2704

l A voz do profissional | Domin-go, das 14h30 às 17h30 |

A cantora e pianista Cida Moreira, da peça Cabarecht, ministra aula de preparo técnico vocal, com exercícios respiratórios e fonoaudiológicos, ba-seados na respiração, na sustentação, na articulação e na ressonância. São 3 horas de aula para 25 a 30 interessados maiores de 14 anos e que tenham ob-jetivo artístico, estudem ou trabalhem na área.Teatro MunicipalR$ 80 (desconto de 20% para associa-dos à Acat) | Dr. Montaury, 1.333 | 3221-3697

l O profissional da voz e do texto | Sábado, das 9h às 12h |

Ministrada pelo ator, diretor e pro-fessor de teatro Zé Adão Barbosa, da peça Cabarecht. De olho em quem usa a voz como instrumento profissio-nal, a aula estudará a partitura vocal do texto dramático. Serão abordados sub-textos, intenções, curvas, pau-sas, ritmos e maneiras de interpretar Shakespeare, Tcheckov, Beckett e Nel-son Rodrigues. São 20 vagas.Sala de EnsaioR$ 80 (desconto de 20% para associa-dos à Acat) | Júlio de Castilhos, 1.526 | 3221-0261

l Roteiro para TV e Cinema | Sábado, das 10h às 12h30 e das 14h às 16h30. Domingo, das 10h às 12h30 |

O professor Roger Bundt minis-trará curso intensivo com ênfase na pesquisa e gênese de ideias, estrutu-ra de roteiro, personagens, diálogos e construção de cenas. Os interessa-dos formarão turma de no máximo 20 pessoas e devem se enquadrar em pré-requisitos como assistir a muitos filmes, gostar de cinema e não discri-minar filmes de maneira alguma. Na sexta (30), sábado (31) e domingo (1º de agosto), o atendimento será indivi-

dual. No último dia, apresentação dos roteiros e entrega de certificados. Tem Gente TeatrandoR$ 400 à vista ou 2x de R$ 200 | Olavo Bilac, 300, esq. Regente Feijó | 3221-3130 e 3027-3102

l Artescambo | Domingo, das 16h às 19h |

O primeiro brique de cacarecos mu-sicais será espaço para troca e venda de materiais relacionados à música, desde revistas e livros sobre o assunto até instrumentos usados. Você pode levar também vinis, CDs, fitas K7 e DVDs, entre outras quinquilharias re-lacionadas ao tema.Zarabatana CaféEntrada franca | Luiz Antunes, 312 | 3228-9046

l Filipe Catto e Festa Bionika | Sábado, 20h30 e 23h |

O show mostra, no Teatro do Sesc, as músicas do álbum Saga, com som baseado nas canções provenientes da fronteira gaúcha. Depois do espetácu-lo, a festa continua no Aristo's London House. Com set do DJ Jorgeeeeenho e convidados, a festa do grupo sujeito_coletivo tem como tema o filme Blade Runner. Quem for nas duas festas tem preço promocional: R$ 20 pelo combo.Teatro do Sesc R$ 15 (na hora), R$ 10 (antecipado), R$ 7,50 (estudantes e sênior) e R$ 5 (comerciários) | Moreira César, 2.462 | 3221-5233Aristo's London HouseR$ 14 (na hora) e R$ 10 (antecipado ou antes da meia-noite) | Marquês do Her-val, 1.677 | 3221-2679

l Zé Bitter Rock Band | Quinta (29), 21h30 |

Show que faz parte da série Grandes Nomes, desta vez homenageando o ex-titã Nando Reis. Na banda, os músicos Mauro Camargo (também atende pelo alter-ego Zé Bitter Rock) no violão e vocal, Rafinha Dias na guitarra, Ale Carminatti no baixo, Maurício Pezzi

no teclado e André Quadros na bate-ria. Zarabatana CaféEntrada franca | Luiz Antunes, 312 | 3228-9046

TAMBÉM TOCANDO - Sábado: Adriano Pasqual. Pop/Eletrônico. 23h. La Boom Snooker. 3221-6364 | Andy & The Rockets. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Dan Ferretti. MPB. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Folha Seca. Pop rock. 23h. Portal Bowling . 3220-5758 | Gala Gay Caxias 2010. Eletrônico. 23h. Studio 54 Mix. 9104-3160 | Libertá. Nativista. 22h30. Libertá Danceteria. 3222-2002 | Pagode Júnior. Pagode. 23h. Move. 3214-1805 | Preview Winter Festival. Eletrônico. 23h. Havana. 3215-6619 | Projeto Samba House. Eletrônico/samba. Pepsi Club. 3419-0900 | Ma-tanza e Torvo. Rock. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | The Trippers. Rock. 22h. Leeds Pub. 3238-6068 | Toco e Buja. Pop rock. 22h. Badulê American Pub. 3419-5269 | Domingo: Carlos Za-nettini. MPB. 18h. Aristos London House. 3221-2679 | Velho Hippie e DJ Cédrik Damábiah. Rock e eletrô-nico. 18h e 19h30. Zarabatana Café. 3228-9046 | Terça (27): Flávio Oze-lame Trio. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Graal. Indie rock. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Quarta (28): Dan Ferretti. MPB. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Nei Van Sória. Rock. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Quinta (29): Ópera Pampa. Nativista/rock. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Pietro Ferretti e Bico Fino. Pop rock. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Victor Hugo e Samuel. Sertanejo universi-tário. 23h. Portal Bowling. 3220-5758 | Sexta (30): Blackbirds. Tributo a Beatles. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Cokeyne Bluesman Power. Blues. 21h30. Zarabatana Café. 3228-9046 | Dan Ferretti. MPB. 22h. Aristos London House. 3221-2679 | Defaulen's Music. Pop rock. 23h. Portal Bowling. 3220-5758 | Poder da Criação. Samba. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Rebeldes. Rockabilly. 23h. Va-gão Bar. 3223-0007 | Retrô Rock 80's com DJ Jaime Rocha. Anos 80. 23h. Havana. 3215-6619 |

Cinema | Os hOmens que nãO amavam as mulheres

Do amor, da brutalidade, do enigmapor CÍNTIA HECHER

Mistério? Suspense? Este é um gênero supe-restimado, cheio de clichês, lugares comuns, enrolação. Normalmente, descobre-se o final do filme logo no começo, pelos detalhes, iscas que o diretor vai deixando para fisgar os mais atentos. Ou não, já que às vezes é tudo evidente mesmo. Quando um filme consegue surpreen-der de verdade, ele me encanta. Não somente fazer roer as unhas, mas obriga um suspiro a sair no momento de uma descoberta. Foi o caso de Os homens que não amavam as mulheres, do diretor Niels Arden Oplev. Não é o melhor filme de suspense já feito, mas foge do óbvio. É baseado no primeiro livro, de mesmo nome, da chamada Trilogia Millenium, do escritor sueco Stieg Larsson. Não li o livro, então não oferto qualquer tipo de comparação. Até porque tenho a firme opinião de que literatura e cinema têm linguagens diferentes, merecendo, desta forma, olhares diferentes. E não necessariamente um filme fiel ao seu predecessor literário signifique grande coisa. Exemplo é a versão cinemato-gráfica já clássica e indispensável de Stanley Kubrick para O Iluminado de Stephen King. Fidelidade não é matéria essencial. O filme, fa-lado em sueco, se passa na nórdica Estocolmo, terra da tal síndrome e da Greta Garbo. Lá, o editor da Revista Millenium, Mikael Blomkvist (Michael Nykvist), sofre julgamento por denun-ciar falsamente um rico empresário. Enquanto isso, ele tem a vida investigada por uma hacker contratada, Lisbeth Salander (Noomi Rapace): jovem arredia, coberta de piercings, roupas pretas, coturnos e uma ampla tatuagem de dragão. Este trabalho é para checar a prece-dência de Blomkvist e, por fim, convidá-lo a solucionar um mistério. Quem o contrata é o patriarca da Família Vanger, Henrik, obcecado pelo desaparecimento da sobrinha. O detalhe é que isso aconteceu há 40 anos. O local é a Ilha Hedeby, cujo acesso é feito por uma ponte, única via disponível. Qualquer filme com ponte é encantador, pelo significado que ela carrega. É a travessia. É o passar por ela e nunca mais ser a mesma pessoa. O velho Henrik desconfia que um de seus familiares está envolvido com o sumiço da jovem. Os Vanger são definidos, em dado momento, como um “bonito e desagra-dável bando”. Nenhuma família é perfeita ou normal, logo se vê. Todo mundo tem segre-dos. Para decifrar a charada, a hacker Lisbeth se envolve. Ela não tem somente um visual agressivo, mas a gênese violenta. Mesmo com seus próprios conflitos, ela se sente atraída de alguma forma para aquela ilha e para a história da jovem desaparecida. Logo, o que era um simples capricho de um senhor octogenário revela-se uma trama mais complexa. Mais, não se conta. Como é de praxe, um sucesso euro-peu logo recebe versão americana. Há boatos de que o diretor desse remake seria David Fincher. É notória sua maestria em thrillers, onde podem ser citadas obras competentes do gênero guiadas por ele, como Seven, Clube da Luta e Zodiac. É esperar para ver. O america-no. O sueco já pode – e deve – ser conferido.

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Em Ao Quadrado, da Cia 2 , o próprio elenco escreveu e dirigiu as cenas, sátiras das relações humanas, na vida e após a morte

Os homens que não amavam as mulheres | Suspense. Sábado, domingo e de quinta (29) a domingo, 20h | Ordovás

Jornalista e investigadora particular ten-tam descobrir mistério sobre crime aconte-cido há 40 anos.

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[email protected]

Artes

Raul Rodrigues| Rosto |

Na obra que integra a exposição In Sana Mente, que fica no terceiro andar da prefeitura até o dia 30 (veja na página 12) Raul Rodrigues, usuário do Caps, expõe os traços bem marcados do olhar. Ao descrever a xilogravura, um dos processos mais complexos das artes plásticas, o artista resume: “Tu pega uma ferramentinha e entalha o desenho na madeira. Depois passa uma tinta na madeira, coloca uma folha de papel por cima, passa a mão no papel, tira a folha e pronto. É fácil. Igual um carimbo”. No trabalho de Raul, a arte segue passos simples. Inspiração é que não tem receita.

20 24 a 30 de julho de 2010 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.O Caxiense

CARO SENHOR PRÍNCIPE ENCANTADO

Epor MARIANA KORMAN

screvo pra te dizer, mesmo que o senhorito não se importe, que parei de acreditar em destino e tô com preguiça demais pra traçar meu próprio futuro. Sim, isso mesmo! Parei de te esperar há muito tempo, mas só agora comecei a duvidar da tua existência.

Pronto, ufa. Foi mais fácil do que eu pensei. Sei que tu deve me imaginar como mais uma dessas mulheres cheias de rancor que queimam o sutiã na praça pública, mas nem sou – adoro meus sutiãs, aliás. Venho em paz, levanto a bandeirinha branca: me rendi.

Tenha dó, esperar até a meia noite por um Papai Noel bom velhinho e receber em casa um velho pedófilo fanta-siado e com um bigode falso descolando é frustrante. Te-nho certeza de que tu és pura lenda, prince charming: não acredito em mais nada que venham me repetindo desde que sou criança. Sabe como é: sem expectativa, sem frus-tração.

Imagino que isso seja um baque na tua auto-estima, ra-paz, desde os primórdios esperado pelas donzelas virgens e ingênuas de enredo de comédia romântica. Todas elas são a mesma, e eu não sou como as outras (no mau sentido também). Elas procuram por um salvador, eu não! Se é pra ter salvação, vou pra igreja, que dá menos trabalho. Até porque, salvação implica sacrifício, e não sou eu que vou ficar ajoelhada no milho por nãoseiquantotempo para pu-rificar o espírito, mesmo que isso me proporcione um casa-mento com o homem da minha vida e, no juízo final, uma vaga ao lado de jesusinho amado com direito a free-pass pra suíte presidencial de deus.

De qualquer jeito, não leva tudo isso pro lado pessoal! É uma escolha própria, digna de respeito. Pensa bem! Nós dois vamos ter muito tempo livre pra buscar nossos sonhos, engrandecer o intelecto e até cuidar um pouquinho mais da aparência (certo que esse teu cabelinho requer mais atenção que todos os itens citados juntos). Tudo isso sozi-nhos, é certo, mas não se pode ganhar sempre. Pelo menos saio dessa estagnação de esperar que um personagem de Flaubert pule pra fora do livro do nada.

Vamos sair em busca de nossa felicidade, então, já que podemos nos mexer. E, se nossos caminhos se cruzarem, quem sabe a gente não possa beber um chopp juntos.

Abraço sincero,

Mariana.

Participe | Envie para [email protected] o seu conto ou crônica (no máximo 4 mil caracteres), poesia (máximo 50 linhas) ou obra de artes plásticas (arquivo em JPG ou TIF, em alta resolução). Os melhores trabalhos se-rão publicados aqui.

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FABIANO [email protected]

s entrevistas na sala de imprensa do Es-tádio Alfredo Jaconi no início da noi-te do dia 18 de julho foram todas no mesmo tom, de jogadores a dirigentes. O empate em 1 a 1 com o Criciúma, na estreia da Série C do Campeonato Brasileiro, não foi considerado satis-fatório. Principalmente pelo fato de o discurso durante a preparação para a competição ter sido no sentido de que o fator local seria fundamental para a conquista de vitórias. Está certo que o Juventude encontrou um adversário muito bem postado em campo, en-tretanto, o técnico papo, Osmar Loss, acredita que o time poderia ter pres-sionado o Criciúma ainda no primeiro tempo. Agora, além de rever a partida, a comissão técnica do Ju trabalha para ajustar o time que terá, como próximo desafio, o clássico CA-JU, no dia 1º de agosto.

Na segunda-feira após o empate, os jogadores que atuaram ganharam folga. Porém, Loss foi ao estádio. Ele preparou um tape do jogo para ser apresentado aos atletas. “Assisti toda a partida na noite de segunda (dia 19). E fiquei com um sentimento ainda maior de frustração. Encontramos o Criciúma fechado, tivemos produção,

e estávamos bem defensivamente. No primeiro tempo, o Criciúma teve ape-nas uma cabeceada do atacante. Na etapa final, além da falta que resultou no gol, ocorreram outras duas finaliza-ções”, enumera Loss. O treinador fez a seguinte leitura da situação: o trabalho deve ser repetido, pois a bola não irá sempre bater na trave. “Será trabalhan-do que iremos produzir mais durante os jogos”, opina.

Loss e o auxiliar técnico, o ex-zagueiro Antônio Picoli, assistiram a seis partidas do time catarinense an-tes da estreia na Série C. “Tivemos um jogo bom para vencer, principalmente no primeiro tempo. O gol que sofre-mos desestabilizou um pouco o grupo, que demorou para reagir. Foi um jogo equilibrado, como serão todos os da Sé-rie C. A definição será sempre nos de-talhes”, diz o treinador. Picoli ressaltou que a partir de agora as ações devem ser voltadas para o aperfeiçoamento do que já foi trabalhado com o grupo, sejam as jogadas de triangulação pelas laterais com Luiz Felipe e Calisto ou as armações pelo meio com Cristiano e Marcos Paraná. “Esse time vai crescer muito com a sequência de treinos e de jogos. Contra o Criciúma esperávamos duas possibilidades do Argel armar o meio-campo: ou em forma de losango

ou de quadrado. Ele optou pela segun-da opção, o que mudou um pouco nos-sa movimentação no setor. Cada jogo será diferente, e nosso próximo é um clássico, que mexe muito com o emo-cional dos atletas”, analisa Picoli.

O habilidoso meia Cristiano, citado pelo auxiliar técnico, será o principal desfalque para o CA-JU do dia 1º de agosto. O jogador, que veio do Metro-politano-SC, foi expulso na estreia da terceira divisão e está fora do segun-do jogo em casa do Ju – na terceira e quarta rodadas o alviverde atuará fora, contra o Brasil-Pe (dia 8 de agosto) e contra o Chapecoense (dia 14 de agos-to), respectivamente. “É uma perda importante, mas temos peças de repo-sição. Meu objetivo é manter a equipe com a mesma formatação, indepen-dente de quem seja o escolhido para a vaga”, pondera Loss. O mais cotado para ocupar a meia, ao lado de Marcos Paraná, é o uruguaio Christian Yela-dian, de características bem ofensivas. Fabrício, lesionado, está fora dos pla-nos. Outra possibilidade, já utilizada por Loss em amistosos e contra o Cri-ciúma, é o lateral direito Celsinho, que vinha fazendo essa função de armador no Lajeadense. Se quiser reforçar o se-tor, o volante Gustavo torna-se opção. Mas são apenas suposições, pois o trei-nador esmeraldino terá até momentos

antes da partida para definir quem jo-gará o clássico.

Outra novidade na equipe, no meio-campo, contra o Caxias, pode ser a entrada do volante Tiago Silva, que teve a documentação regularizada jun-to à Confederação Brasileira de Fute-bol (CBF). Ele atuaria ao lado de Júlio César. O mesmo ocorreu com o lateral esquerdo Planchón, uruguaio que até então é o reserva imediato de Calisto. Para o zagueiro Édson Borges, passada a ansiedade e o nervosismo da estreia, os atletas devem manter a concentra-ção. Independentemente de quem seja escalado, todos, em sua opinião, de-vem estar preparados. “Olhando o tape do jogo do Criciúma vimos que não ganhamos um ponto pelo empate, mas perdemos três. Como não ganhamos no Jaconi, teremos de buscar fora esses pontos. Vimos também que nosso time está bem agrupado, evitando oferecer espaços para o adversário. Ficamos muito tempo treinando e, talvez, en-tramos em campo um pouco afobados, com muita vontade de fazer as jogadas. Isso não voltará a acontecer”, projeta. Tomara que Borjão, como é chamado pelos colegas, esteja certo. Para chegar à Série B restam nove jogos. O Ju pre-cisa ser eficiente, caso contrário ficará para trás.

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Folga na Série C

EM BUSCA DO RESULTADO

Produção do time do Juventude contra o Criciúma foi considerada

boa, porém, deveria ter sido eficiente

www.ocaxiense.com.br 2124 a 30 de julho de 2010 O Caxiense

Volante Júlio César (acima), destaque contra os catarineses, é presença garantida no meio-campo. Contra o Caxias ele deve ter um novo companheiro no setor, Tiago Silva

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l Caxias x Chapecoense | Sá-bado, 15h30 |

Após a derrota na rodada de abertura da Série C, contra o Brasil de Pelotas, o Caxias busca os pri-meiros pontos diante de sua torci-da. A equipe grená deve entrar em campo novamente utilizando três zagueiros. A diferença será uma postura mais ofensiva dentro do gramado. Aloísio poderá assumir o ataque no lugar de Mauro. Edenil-son também tem chances de entrar. O atacante Adriano, última contra-tação a chegar no Centenário, será opção no banco.Estádio CentenárioR$ 15 para a torcida do Caxias. Es-tudantes e pessoas acima de 60 anos pagam R$ 7. Sócios com mensali-dade em dia não pagam ingresso. Torcedores da Chapecoense pagam R$ 30 | Thomas Beltrão de Queiroz, 898, Marechal Floriano

l Futebol Sete Série B | Sába-do, a partir das 12h |

Os 37 times já estrearam no cam-peonato e agora retornam às qua-dras para o início da segunda ro-dada. A CNCS, que sofreu a maior goleada do campeonato até então (7 a 1), tenta a reabilitação contra a Soprano, que venceu na estreia.Centro Esportivo do SesiEntrada gratuita | Cyro de Lavra Pinto, s/nº, Fátima

l Campeonato Municipal | Sá-bado, 13h15, 15h15 |

A bola não rolou no último final de semana. Por causa da chuva, Esperança, Kayser, Hawaí e Águia Negra adiaram a definição dos fi-nalistas na Série Prata. Os atletas da Série Ouro ficaram mais uma semana de molho, e se o tempo co-laborar disputam a 12ª rodada. Diversos camposEntrada gratuita

l 8ª Copa Ipam de Futsal Fe-minino | Sábado, 19h, 20h e 21h e domingo, 9h, 10h e 11h |

A ACBF, única a vencer na cha-ve D, folga nesta semana e deixa em aberto a liderança do grupo. O confronto entre as meninas da BGF e do União pode definir um novo líder temporário. Na chave E, as jogadoras do Santa Catarina B pre-cisam apenas de um empate contra o União Flores da Cunha para se manter na ponta.Escola Santa Catarina e UCSEntrada gratuita | Santa: Matheo Gianella, 1.160, Santa Catrina; UCS: Francisco Getúlio Vargas, s/n°, Petrópolis

l Torneio Interdistrital | Domingo, a partir das 9h |Após os rapazes entrarem em qua-dra no último final de semana, agora é a vez das meninas. Na mo-dalidade masculina, as equipes de Ana Rech, Galópolis B e Forqueta foram as três primeiras colocadas, respectivamente. A competição é realizada todo ano em comemora-ção ao mês do agricultor. Ginásio de Esportes da Parada CristalEntrada gratuita | BR-116, Km 137, Parada Cristal

l Campeonato Futsal Femi-nino | Segunda (26) e quinta (29), 18h45 e 19h45 |

A 3ª rodada se inicia segunda-feira. A equipe da Marcopolo deve estrear contra o time da Intral, que começou com o pé esquerdo, per-dendo por 4 a 1 para a Neobus.Centro Esportivo do SesiEntrada gratuita | Cyro de Lavra Pinto, s/nº, Nossa Senhora de Fáti-ma

l Campeonato Futsal Mas-ter | Terça (27), 18h30 e 19h30 |

As duas primeiras rodadas do campeonato foram marcadas por escores elásticos. Em quatro jogos a bola balançou as redes 44 vezes, uma média de 11 gols por partida. Nesta terça, a 3ª rodada promete um festival de gols. Centro Esportivo do SesiEntrada gratuita | Cyro de Lavra Pinto, s/nº, Fátima

l Minigolfe Modular | Diaria-mente, até 22 de agosto |

Quem não tem a possibilidade de praticar o esporte nos grandes campos acompanhados por seu ca-ddie tem a chance de experimentar a versão em miniatura do esporte. O Iguatemi oferece alternativa no período de férias escolares. O mi-nigolfe conta com nove pistas de jogos, com graus de dificuldade que aumentam a cada nova etapa. O funcionamento é simples: cada participante tem direito a jogar em cada uma das pistas até completar todo o circuito. Na última, caso o jogador acerte o buraco em uma única tacada, terá a oportunidade de jogar uma rodada extra.Shopping IguatemiR$ 10 por partida | RSC-453, 2.780, Km 3,5

l 5ª Etapa do Campeonato Serrano de Arrancadas | Do-mingo, a partir das 8h |

Devido à chuva, os motores fi-caram desligados no último final de semana. A atividade foi adiada para este domingo, e deve ocorrer caso o tempo colabore. Além das motos, o lago do Parque de Eventos de Vila Oliva estará aberto para jet skis. Parque de Eventos de Vila OlivaR$ 5 | BR-116, Km 145, Vila Oliva

Guia de EsportesFUTEBOL FUTSAL

MINIGOLFE

VELOCIDADE

[email protected] José Eduardo Coutelle

Sábado é dia de a torcida grená apoiar o Caxias em casa

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22 24 a 30 de julho de 2010 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.O Caxiense

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MARCELO [email protected]

falta. Sempre haverá um torcedor re-clamando a falta de alguém em campo. Fosse por isso, teríamos 120 homens de cada lado e não apenas 11. Teríamos gente até de bengala na mão. Um que-ria ver o Paulinho em qualquer uma das laterais. Outro, preferia o Bebeto enfiado entre os zagueiros adversários. Da safra mais recente, há quem sinta a falta de Cristian Borja e Everton. E essa é uma estranha e curiosa relação que só o futebol nos revela com tanta intensidade. Do dia pra noite aparece do nada mais um jogador diante do olhar ansioso do torcedor grená. Ele fala com um estranho sotaque, ainda mais em terra de gringo, vem lá da Colômbia (terra mais difamada do que apreciada) e diz que faz gols como gen-te grande. Levante o braço qual foi o torcedor que ao ver pela primeira vez o Borja em campo disse “esse é o nosso centroavante”, “era bem ele que a gente queria”.

Aí, no ano seguinte, aparece um outro desconhecido. Cabelo rastafári, como se fosse de uma banda de reggae, Everton vinha do futebol da Suíça (ter-ra do chocolate, das vaquinhas e dos relógios). Alguém se lembra da estreia do Everton? Pelo que se viu em uma partida, tinha gente duvidando que ele fosse bom de bola.

Mas aí entram dois elementos im-portantes nessa trama: o tempo e a glória. Jogo após jogo, a torcida viu o xadrez do Julinho Camargo desli-zar em campo. Paciência, regada por muito trabalho, resulta em glória. Não como uma celebrização banalizada, mas uma euforia apaixonada revelada em muitos momentos pela belíssima jogada, mesmo que não convertida em gol, mas, sobretudo, no momento mais inebriante de uma partida de futebol, a bola estufando as redes. Em poucas partidas do Gauchão, a torcida gre-

ná parecia ter esquecido da falta dos mesmo atacantes de sempre, citados pelos corredores do estádio Centená-rio, como Bebeto, Washington, entre outros. 

E então, como em qualquer clube pequeno (palavra que não diminui a grandeza do glorioso Caxias) desse Brasilzão afora, esses jogadores de des-taque foram assediados. E não apenas o Borja e o Everton, e disso o presidente Osvaldo Voges nunca escondeu. Como também foram sondados o Anderson Bill, o Marcelo Costa, o Edenilso, e por aí vai. Porque, como foi dito antes, com paciência e trabalho, a glória sempre aparece. O Caxias, também já revelou em mais de um momento o recém ree-leito presidente Voges, é um clube que sempre terá como objetivo revelar jo-gadores e assim pretende continuar a atrair atletas.

Com restrição orçamentária, o Ca-xias precisou emprestar Everton e Borja. O primeiro, foi para o Inter, o segundo, para o Flamengo, do Rio de Janeiro. Os dois podem vir a dispu-tar  uma vaga no time titular de seus clubes na Série A. E de alguma forma, o Caxias parece voltar a aparecer no cenário nacional, com o objetivo que lhe está sendo atribuído pelo presiden-te: revelar jogadores. Enquanto isso, cabe aos que ficam e aos que chegam ocupar esse lugar vazio nos corações aflitos dos torcedores grenás.

Everton e Borja entenderam muito bem a alma do torcedor grená. Mesmo quando não faziam partidas brilhantes, não deixavam de lutar, de acreditar sempre. Quem vestiu pelo menos uma vezinha só a camisa grená devia saber que no Caxias nada é fácil. Não se vence um Campeonato Gaúcho com uma mão nas costas, chupando cana e assobiando ao mesmo tempo. É preciso garra, mesmo pra quem so-bra talento, como é o caso de Marcelo Costa. 

Fora de campo, seja através do ge-rente de futebol, Júlio Soster, seja pelo talento do treinador Julinho Camargo, o Caxias vai recompor o time. Como novas peças em mãos, ganha também novas possibilidades de jogar. E mes-mo que isso deixe a torcida do Caxias um pouco ansiosa e preo-cupada com o futuro grená nessa Série C, Julinho faz questão de frisar: “A torcida preci-sa ter paciência. Porque se você lembrar bem, o Everton não fez uma boa estreia no Caxias, precisou de dois, três jogos para se soltar. Da mesma forma o Neto e o Edu Silva”, recor-da Julinho, citando as partidas desses jogadores no Gauchão. Na estreia da Série C, Mauro começou a partida contra o Brasil de Pelotas e depois foi substituído por Aloísio. O Caxias teve o domínio da partida, e no segundo tempo, como lembra Julinho, a equipe grená poderia muito bem ter feito gol em Pelotas. Mas não fez. E no final, como em toda trágica história do futebol, quem não faz, leva. O Caxias saiu de lá com um banho de água fria.

“O que deixou o torcedor mais sur-preso foi a circunstância da derrota. Porque tivemos o jogo nas mãos, mas alguns jogadores cometeram erros que não podemos repetir. Não quero ter de corrigir velhos problemas, quero evoluir. Se for para errar que sejam em coisas novas. Mas tenho conversado durante toda a semana com eles e não muda em nada a nossa programação para esse jogo contra a Chapecoense”, avalia Julinho, após um treinamento, no meio da semana que antecedia a partida contra o time catarinense. 

E como anda a cabeça do jogador, depois desse tropeço na estreia? Com a palavra, o preparador físico Fabiano

Vieira, que convive diariamente com os atletas, às vezes até de uma forma mais intensa que o próprio Julinho Camar-go. “O trabalho no início da semana, depois de uma derrota, ainda mais da forma como perdemos, é sempre mais

difícil. Até o meio da semana tem jogadores que sentem muito e é preciso estimular eles, fazê-los dar a volta por cima. Principalmente o pessoal do ataque, que anda sentindo muito a pressão”.

Azar da Chapeco-ense que virá estrear na Série C logo na casa do Caxias, que vem mor-dido de uma derrota e precisa mostrar serviço

diante do seu torcedor. Azar da Chape-coense que vai encontrar uma torcida louca de ansiedade pelo grito de gol e para entoar os cantos que embalam o esquadrão grená. Azar da Chapecoen-se que vai enfrentar um Caxias mais agressivo em campo, não no sentido de dar pontapé, é óbvio, mas com uma postura pra frente, de quem vai se im-por em campo. “Tudo isso, é claro, sem perder a organização”, enfatiza Julinho Camargo.

Cada partida desta Série C é uma de-cisão. Mas essa contra a Chapecoense parece ser ainda mais intensa. Porque o Caxias pega na sequência o Juven-tude, que vai folgar nesta rodada. Ou seja, o esquadrão grená vai enfrentar o Juventude em vantagem de pontos caso vença a Chapecoense, e com a chance de atropelar o rival em pleno Estádio Alfredo Jaconi. Se o torcedor pensar melhor, mesmo com o coração apaixonado, vai perceber que é preciso lamentar menos a falta e apoiar quem estiver em campo. Seja Aloísio, Mauro, Palacios, Lê, ou mesmo Adriano, re-cém contratado pelo Caxias.

“A torcida precisa ter paciência. Se você lembrar bem, o Everton não fez uma boa estreia, precisou de dois, três jogos para se soltar”, diz Julinho

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Estreia em casa

A GARRA PRESENTE EM CAMPO

O primeiro jogo diante da torcida, neste sábado, será decisivo com a proximidade do CA-JU

www.ocaxiense.com.br 2324 a 30 de julho de 2010 O Caxiense

Sem Everton, emprestado ao Inter, e Cristian Borja, que foi para o Flamengo, o Caxias precisou recompor o time para a Série C. Mas acertar o setor de ataque ainda é um desafio

* A coluna de Renato Henrichs volta a ser publicada no dia 31 de julho.

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