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volume 04

ISBN 978-85-99527-12-2ISSN 1981-6987

Edição bilíngüe

Mirian Rose Brum-de-Paula

PPGL - UFSMEditores

2008

O outro no(in)traduzível

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

REITORClóvis Silva Lima

PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAHélio Leaes Hey

DIRETOR DO CENTRO DE ARTES E LETRASEdemur Casanova

COORDENADORA DO PROGRAMA DEPÓS-GRADUAÇÃO EM LETRASAmanda Eloina Scherer

EDITORPrograma de Pós-Graduação em Letras

DIREÇÃO DA SÉRIE COGITAREMirian Rose Brum-de-PaulaSílvia ParaenseGiovana Bonilha

REVISÃOAdriana Monfardini

PROJETO GRÁFICOBianca Ruviaro Tolfo, Carolina Isabel Gehlen

P324o Brum-de-Paula, Mirian Rose O outro no (in)traduzível / Mirian Rose Brum de Paula. - Santa Maria : UFSM, PPGL-Editores, 2008. 94 p. – (Série Cogitare ; v. 4)

ISBN 978-85-99527-12-2 ISSN 1981-6987 1. Lingüística – Tradução I. Título. II. Série. CDU 82.03 801.7:82.03

Ficha catalográfi ca elaborada por Alenir Inácio Goularte CRB -10/990 ,

Biblioteca Central da UFSM.

Apresentação Eneida Leal Cunha ................................ 07

Introdução .............................................. 11

I Resistências culturais ......................... 17

1 O intraduzível total ............................. 18

2 A morte pela palavra intraduzível ............................................ 19

3 O intraduzível apagado .................... 22

II Resistências da língua ...................... 29

1 Equivalência e léxico ........................ 30

SUMÁRIO

2 Equivalência e categorias gramaticais obrigatórias ....................... 34

3 Equivalência e relatividade das línguas ............................................ 40

Conclusão .............................................. 43

L’AUTRE DANS L’INTRADUISIBLE ......................... 47

SOMMAIRE .................................................. 49

Bibliografi a ............................................. 87

Política Editorial ..................................... 91

Volumes Publicados ............................... 93

APRESENTAÇÃO

A autora deste ensaio informa aos leitores, em nota inicial, uma surpreendente decisão: diante de duas alternativas para a tradução da palavra francesa traduisante – «traduzante» e «traduzinte» –, escolheu a primeira para designar a prática de traduzir.

Tal escolha afeta a expectativa gerada pela nossa familiaridade com a língua portuguesa, que nos acostumou os ouvidos (e os olhos) a palavras como ou-vinte, pedinte, constituinte. «Traduzante» produz um cer-to ruído quando ouvimos mentalmente o texto lido, capta o nosso olhar de relance para a linha escrita no papel, insere, enfi m, uma partícula de estranheza na frase em português.

Este fragmento de inquietude lançado logo na primeira página do ensaio por Mirian Brum de Paula, entretanto, funciona como um habilíssimo, quase irre-sistível convite à leitura do estudo, sintomaticamente in-titulado O outro no (in)traduzível, pois, desde que se fez necessário transpor obras ou textos de uma língua para outra, a traduzibilidade e a intraduzibilidade se impuse-ram, simultaneamente, como evidência. Dito de outra forma: o ato de traduzir, que se constitui como um ato de repetição, confronta incontornavelmente o tradutor e o leitor da tradução, ao mesmo tempo, com a semelhan-ça e a diferença.

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A indissociável implicação entre a familiarida-de (assentada na semelhança) e a estranheza (própria da diferença ou da alteridade) não é exclusiva dos domí-nios da tradução. Sigmund Freud, por exemplo, foi capaz de explorá-la no limite, como convergência constituidora de processos mentais. Mas talvez seja no âmbito da tra-dução interlingüística que a implicação entre repetir e diferir tenha menos chances de ser escamoteada.

Diante da palavra, do verso, da página ou da obra traduzida, sabemos sempre que estamos e não estamos lendo uma outra coisa, a obra original. A osci-lação entre a fi delidade ao original e as imposições da língua (e da cultura) de chegada, da tradução, pode ser considerada como uma oscilação entre dois pontos ex-tremos, embora nunca integralmente excludentes, entre os quais se dão toda a refl exão e todas as prescrições sobre o ato de traduzir.

Não é sem razão, portanto, que desde sempre os debates sobre o traduzível e o intraduzível tenham se apresentado, explicita ou implicitamente, como uma inquietação fi losófi ca. Ou seja, como postulações sobre o valor – e as prerrogativas – do original e da sua repeti-ção, o texto traduzido.

Este pequeno livro nos apresenta, de forma sintética e inteligente, os principais aspectos e posicio-namentos que constituem, na tradição ocidental, a tra-jetória deste dilema. Convida-nos a compreender como e por que, em determinadas circunstâncias histórico-cul-turais, a ênfase esteve na intraduzibilidade, enquanto em outras a traduzibilidade ganhou proeminência.

O valor da fi delidade (ao traduzível) e o valor da recriação (do intraduzível) põem no centro das discus-sões – ou do dilema – a fi gura e o trabalho do tradutor. É a ele, seja tradutor consumado ou aprendiz da tradução, que se dirige este estudo. Mas não só.

Na contemporaneidade a palavra tradução conquistou grande relevo e amplitude, não é mais exclu-siva do domínio lingüístico. Admitimos hoje que a apro-

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priação de valores, de experiências ou de criações de uma outra cultura é um ato de tradução cultural, ou que a transposição de um romance para as telas da televi-são, que nos acostumamos a designar como adaptação, constitui, de fato, uma tradução intersemiótica.

Esta clara explanação sobre questões, práticas e valores contemplados no âmbito da tradução interlin-güística certamente oferece uma contribuição, mesmo que indireta, para compreendermos melhor a nossa contemporaneidade cultural (quase) sem fronteiras, na qual palavras, imagens, bens, serviços, capitais e corpos – pessoas – circulam (quase) sem limites, são incessan-temente intercam biados. São, portanto, objeto de diver-sifi cadas formas e dimensões de tradução.

Eneida Leal Cunha Universidade Federal da Bahia (UFBA)

INTRODUÇÃO

Georges Mounin, em artigo publicado na Encyclopédie Universalis, atribuiu ao fi lósofo america-no Wibur Marshall Urban o primeiro texto moderno so-bre tradução. Nesse artigo, intitulado «Language and Thought», publicado em 1939, a tradução é considerada como um problema de cunho fi losófi co e seus resultados como objetos dignos de serem estudados. Urban tenta responder às questões e preocupações de seu tempo, a saber: a traduzibilidade e a intraduzibilidade total ou parcial potencialmente relacionadas às diferenças e si-militudes presentes entre as línguas do mundo – o que pode constituir um obstáculo lingüístico – e à diversida-de das realidades psico-sócio-etnológicas das línguas, o que pode constituir um obstáculo cultural (OSEKI-DÉPRÉ, 1999).

Ainda que formuladas de outra maneira, essas questões não eram novas, pois estavam (e ainda estão) estreitamente ligadas a inquietações caras a tradutores de todas as épocas. Essas preocupações concernem às noções de fi delidade e de recriação, colocando o autor e o texto a ser traduzido no centro das discussões. De fato, as relações interculturais trazem à tona modos de dizer, de pensar, de agir e de se comportar muito distin-tos. Estes podem ser percebidos como incompatíveis e, conseqüentemente, não-traduzíveis.

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Embora a prática traduzante1 exista há muitos séculos, o mito do intraduzível surgiu vinculado à multi-plicidade das línguas e culturas em presença. Contudo, em face desse impossível, não conhecemos tradutores (sejam eles escritores, lingüistas ou fi lósofos) que te-nham abandonado sua tarefa devido à impossibilidade teórica do traduzir. Tradutores que identifi caram o as-pecto intraduzível de algumas obras não as evitaram.

Wilhelm von Humboldt (1767-1835) pode ser citado como exemplo de teórico da linguagem e tradutor que identifi cou e enfrentou esse problema. Na introdu-ção de sua tradução para a língua alemã de Agamêm-non, publicada em 1816, após ter analisado a peça de Ésquilo, refl etido sobre problemas métricos encontrados durante seu trabalho e realizado considerações teóricas sobre essa operação interlingüística, Humboldt concluiu que: «Por sua natureza singular e num sentido diverso do que se possa dizer de qualquer obra de grande ori-ginalidade, um tal poema é intraduzível» ([1816] 2001, p. 91).

Inês Oséki-Dépré, quase dois séculos mais tar-de, comentando a versão francesa que realizou de Pri-meiras Histórias, assinalou que, aos «olhos do tradutor, as Primeiras Histórias (e isso se aplica ao conjunto da obra de João Guimarães Rosa) representa o exemplo do livro impossível de ser traduzido»2 (1999, p. 229), mas que, por essa mesma razão, fazê-lo seria indispensável. Julia Barreto, em nota ao texto Torres de Babel, destacou os limites do ofício através da «intradutibilidade do títu-lo», pois “Torres de Babel” não possibilita a «multiplicida-

1 Do francês traduisante. Encontramos, em traduções recentes do fran-cês para o português, duas traduções possíveis para a palavra: “tradu-zante”, utilizada por Julia Barreto, e “traduzinte”, empregada por Maria Emília Pereira Chanut nas obras Torre de Babel (2006), de Jacques Der-rida, e A prova do estrangeiro (2002), de Antoine Berman. Neste ensaio, optamos por adotar o primeiro termo. 2 Todas as traduções de fragmentos provenientes de textos em língua francesa, relacionados na bibliografi a, não publicados em português, são de minha responsabilidade.

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de de sentidos e de associações possíveis» encontradas em Des tours de Babel, título original do livro de Jacques Derrida.3

Esses comentários, seguidos de explicações freqüentemente detalhadas sobre as barreiras e solu-ções encontradas pelo tradutor, são recorrentes na his-tória dos escritos sobre tradução, variando conforme os modos de traduzir de espaços históricos, geográfi cos e lingüísticos distintos. Eles foram redigidos após a reali-zação da tarefa do tradutor, ou seja, depois de o tradutor ter ensaiado «expressar o mais íntimo relacionamento das línguas entre si» (BENJAMIN, 1923/2001, p. 195). A noção de intraduzibilidade destacada nesses fragmen-tos assume, portanto, uma outra conotação, pois parece não estar associada à impossibilidade de se passar de uma língua a outra, mas corresponder a outro fenômeno e recobrir fatos culturais e lingüísticos de outra nature-za.

Em relação à traduzibilidade, ocorre algo si-milar, sobretudo se ela estiver vinculada à fi delidade do texto traduzido em relação ao texto original, pois, «se po-demos ser fi éis à semântica, à morfologia, à fonética e mesmo à estilística separadamente, não conseguimos nunca realizar todas essas fi delidades ao mesmo tem-po» (XIAOYI, 1999, p. 63).

Assim, a pertinência da dicotomia intraduzível/traduzível pode ser contestada, sendo melhor situar esse par de conceitos dentro de um continuum cujas extremi-dades não podemos ou não conseguimos jamais atingir. De fato, no primeiro caso, não há tradução possível e, no segundo, ela parece um puro ideal, não podendo tam-bém ser concretizada. Há sempre (in)traduzibilidade em algum ponto do continuum. Desse modo, o traduzível e o intraduzível se verifi cariam em diferentes níveis e repou-sariam sobre um mesmo eixo.

3 «Torres, giros, voltas, circunlocuções, e até mesmo desvios se confun-dem na confusão de Babel» (BARRETO, 2006, p. 7-8). Torre, em língua por-tuguesa, não recobre as mesmas possibilidades de sentido.

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Compreendemos a intraduzibilidade como ma-nifestação de uma resistência produzida pela presença do não-familiar, de algo desconhecido e estranho (o outro), difícil de ser transposto para a língua-cultura de chegada. Ela indicaria uma fresta pela qual o outro pode passar e se revelar no texto de chegada. Onde a ope-ração traduzante emperra, encontra resistências, pede soluções, há possibilidade de expandir e acordar a capa-cidade expressiva da língua de chegada, pois

Não será demasiada ousadia afi rmar que, em cada língua […] se possa exprimir Tudo, as coisas mais al-tas e profundas, as mais fortes e delicadas. Só que estes sons permanecem sopitados como se estives-sem no interior de um instrumento musical não to-cado até que a nação saiba despertá-los. (HUMBOLDT, 1816, p. 93)

No presente ensaio, propomos uma refl exão sobre a tradução, suas dimensões histórica, cultural e linguageira e sobre a relação entre a linguagem e as lín-guas. Através de uma visão panorâmica da Idade Média, da Renascença e do Classicismo francês, apresentada na primeira parte, trataremos das resistências culturais ligadas à rejeição total do outro ou ao seu apagamento. Na segunda parte, faremos alusão aos limites impostos à operação traduzante pela multiplicidade das línguas, ou seja, a «algo como um limite à formalização, uma incompletude da construtura» (DERRIDA, 2006, p. 12), responsável pelo surgimento de equivalentes, o que permite a traduzibilidade e o potencial deslizamento do outro para o texto traduzido. Esses dois tipos de resis-tências implicam a presença do estrangeiro no discurso, evidenciam as relações existentes entre a unidade e a diversidade das representações signifi cantes e auxiliam a compreender o modo como os invariantes e as varia-ções são apreendidos pela linguagem.

Mais do que identifi car (in)traduzíveis, tenta-mos compreender em que situações o fenômeno emer-

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ge, por que ele ocorre e quais são os efeitos de sentido engendrados pela tradução. Afi nal, o que se perde e o que se ganha através dessa operação?

I RESISTÊNCIAS CULTURAIS

Jean-Louis Cordonnier, em Traduction et Cultu-re, não concebe a intraduzibilidade a partir do nível lin-güístico somente, mas acredita que ela esteja associada às relações interculturais atravessadas pela diversidade das línguas-culturas e a todo tipo de fenômeno que pos-sa prejudicar a intercompreensão. O mito do intraduzível e a resistência à tradução teriam sua origem no mito de Babel. As línguas representariam

uma faceta da fi gura do duplo, o qual veicula a in-quietante estranheza e gera a angústia porque mos-tra o não familiar, ou seja, um familiar escondido que deveria continuar secreto. O eu, sentindo-se amea-çado, demonstra, então, uma atitude babeliana de rejeição. (COORDONNIER, 1995, p. 27)

Mas de onde viria essa sensação de estranhe-

za? De que forma as resistências culturais no domínio da tradução se fazem presentes? As línguas teriam origina-do representações diferentes do mundo? Ou, ao contrá-rio, essas representações seriam idênticas, mas a uni-dade do pensamento não garantiria a intercompreensão entre sujeitos de línguas e culturas distintas. Segundo Sylvain Auroux (2005), essa questão coloca-nos frente

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a uma grande descoberta do século XX: a difi culdade e talvez a impossibilidade de se determinar «o que depen-deria do pensamento universal e o que dependeria da cultura própria de cada povo» – o que não nos impede de observar, de identifi car e de formular hipóteses acer-ca das ligações existentes entre pensamento, linguagem e cultura a partir da prática do discurso oral ou escrito; de colocar em evidência situações-problema oriundas dessa relação; e de testar as soluções propostas por aqueles que as enfrentam.

Encontramos, em escritos sobre a tradução li-terária e a tradução em geral, exemplos de situações em que emerge a intraduzibilidade. Essas situações, sejam elas da ordem do lingüístico ou do não-lingüístico, levam o tradutor a propor soluções. Assim, o tradutor faz esco-lhas e, geralmente, introduz no texto de chegada modifi -cações mais ou menos importantes do texto de partida, podendo até ocorrer a intraduzibilidade total – aquela que toca um dos pólos de nosso continuum imaginário.

1 A INTRADUZIBILIDADE TOTAL

Em casos extremos, em que o texto de parti-da contraria as normas morais, políticas, ideológicas ou éticas da língua-cultura que poderia acolhê-lo, não há tradução. É, conseqüentemente, impossível descobri-lo, desvendá-lo, divulgá-lo. A tradução de textos religiosos, na França da Idade Média (IX-XV), por exemplo, não con-templava uma eventual versão da Bíblia em língua vul-gar porque havia riscos, para a Igreja, de heresia e, para o tradutor, de conseqüente auto-de-fé.

Das teorias prescritivas da tradução, cons-truídas a partir de observações de tradutores-autores, provém a dicotomia entre textos religiosos e profanos. No que diz respeito aos primeiros, a tradução deveria ser respeitosa e seguir o método palavra por palavra. A noção de fi delidade à língua de partida ou ao querer dizer do autor é vinculada à forma (à palavra). Para os

textos profanos, a tradução estava ligada às regras pra-ticadas e instituídas por Cícero (106-43 a.C.) e pelos poetas latinos. Nesta última, era privilegiado o conteú-do, e a tradução era utilizada como um meio de acesso aos Antigos para aqueles que não dominavam a língua grega. Orientada, assim, à recepção (à língua de chega-da), a prática tradutória era compreendida como meio de comunicação seguindo o sentido por sentido. Nesse caso, a fi delidade relacionada à língua de chegada e ao destinatário da tradução é atrelada ao sentido. Em um caso, temos a palavra (a forma, a letra), no outro, o sen-tido (o espírito). A dimensão histórica da tradução auxilia a nuançar e ultrapassar essa dualidade e a identifi car ao que remetem essas noções.

No contexto específi co da Idade Média, em que a tradução de textos sagrados era vigiada, censurada e devia ser autorizada pela Igreja, o intraduzível repre-senta uma impossibilidade. Ele implica uma oposição à ordem pré-estabelecida, não estando relacionado, em termos de linguagem verbal, com o que as línguas po-dem expressar, mas com o que elas devem expressar4 em termos culturais. A infi delidade à palavra por palavra constitui o intraduzível do texto sagrado. Para esse tipo de texto, ser infi el signifi ca revesti-lo com adornos profa-nos, o que não seria concebível.

2 A MORTE PELA PALAVRA INTRADUZÍVEL

Durante o Renascimento, a posição da Igreja quanto ao rigor literal das traduções religiosas começou a diminuir. Essa transformação coincidiu com a neces-

4 A idéia segundo a qual a língua (através do caráter obrigatório das ca-tegorias gramaticais) determinaria os aspectos da experiência que de-vem ser expressos pelo sujeito falante é sustentada por Boas (1938). Duas décadas mais tarde, Jakobson a retoma quando sustenta que «as línguas diferem essencialmente pelo que elas devem expressar e não pelo que elas podem expressar». Adotamos a mesma posição a fi m de refl etir sobre fatos não lingüísticos que possuem impacto sobre a pro-dução verbal.

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sidade de se difundir a religião, resultando também do papel importante da tradução durante o reinado de Charles V, o Sábio (1364-1380). O soberano francês, fundador da Biblioteca Real, empreendeu a criação de uma importante coleção de manuscritos e de um gran-de programa de tradução.5 Mais tarde, com François I

(1515-1547), o livro impresso ganhou a Europa. O livro «coloca-se a serviço da renovação e da contestação […]. Fermento de inovação, ele também é objeto de descon-fi ança, pelo poder político e religioso» (BLASSELLE, 1997, p. 69). Pouco a pouco, a escrita substitui a oralidade, e o poder real entendeu que era importante se apropriar da cultura. Para tanto, François I fundou, em 1530, o Colégio dos Leitores Reais (atual Collège de France). Em seguida, em 1537, através do Mandado de Montpellier, instituiu o depósito legal de todo livro impresso e coloca-do à venda no reino (ação que deu origem à Biblioteca Nacional) e, enfi m, em 1539, com o Mandado de Villers-Cotterêts, instaurou o francês como língua ofi cial jurídica do reino.

Quando a Igreja adotou os princípios de clare-za, elegância e legibilidade utilizados nas traduções de textos profanos, o modo de tradução dos textos sagra-dos adquiriu uma outra orientação. Essa tendência, que continuou menos forte nos textos religiosos do que nos profanos, não deve ser confundida com uma maior liber-dade em relação à interpretação dos textos de partida, mas como tradução destinada a acumular conhecimen-tos e enriquecer a língua vulgar, reforçando o poder real em torno de um monolingüismo redutor e unifi cador. Tratava-se de privilegiar o sentido, aquele que a língua ofi cial deveria emanar. Essa língua francesa ofi cial era empregada pela corte, pela administração, pelo exérci-to, mas ainda não era a língua utilizada pelos franceses. Nesse contexto, o tradutor possuía um duplo papel: o de consolidar a língua francesa, o que implicava uma certa

5 Nesse período, o fi lósofo Nicole d’Oresme (1320-1382) traduziu Aristó-teles, realizando as primeiras traduções literárias da França.

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liberdade e criatividade para que essa língua pudesse abraçar e tratar todos os domínios do saber, e o de servir às encomendas do rei e da nobreza, exigindo um traba-lho sobre o sentido que essa língua deveria veicular com o intuito de reforçar os poderes político, militar e cultural da monarquia.

Etienne Dolet (1509-1546) foi o autor do pri-meiro tratado de tradução francês. O texto, intitulado «A maneira de bem traduzir de uma língua para outra», é, segundo Henri Meschonnic (1999), o esboço de uma po-ética do traduzir e, de acordo com Oséki-Dépré (1999), a primeira teoria da tradução da época renascentista. Embora esse período tenha sido favorável à tradução de textos religiosos e profanos, Dolet foi vítima da intolerân-cia que ganhou a Europa e o mundo do livro.

Em toda a Europa, as perseguições contra a imprensa revestem-se de formas variadas: proibições de publi-car, vender ou importar certos livros ou certas obras, proibição de ler edições em língua vulgar, auto-de-fé de livros, perseguições de autores, impressores ou livreiros que são freqüentemente aprisionados ou condenados à morte. (BLASSELLE, 1997, p. 75)

As acusações de heresia não diziam respeito somente aos excessos cometidos em traduções de tex-tos sagrados, mas a todo texto impresso que veiculasse interpretações que pudessem questionar temas bíbli-cos. No fragmento abaixo, por exemplo, traduzido de um texto de Platão por Dolet, o tradutor parece negar a imortalidade da alma:

Texto de partida: (após a morte) su gar ouk eseiTradução literal: (após a morte) tu não serás maisTradução de Dolet: (após a morte) tu não serás mais nada.6

Por esse motivo, dentre outros similares, Do-let, a quem a língua francesa deve a palavra tradução,

6 Exemplo fornecido por Meschonnic (1990).

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empregada por ele em 1540, foi enforcado na praça Maubert, em Paris. Era a morte pela tradução da pala-vra intraduzível.

3 O INTRADUZÍVEL APAGADO

Na época clássica, os tradutores eram auto-res que trabalhavam uma língua-cultura cujo prestígio e alcance ultrapassava as fronteiras do território francês, podendo ser comparada ao latim e ao grego. A França era politicamente absolutista, e a língua francesa era tratada como o universal da linguagem. Esse sistema lingüístico havia conseguido substituir as línguas gre-co-romanas no espaço europeu, e as traduções para o francês eram consideradas verdadeiras obras literárias vertidas para o sistema da língua-cultura do tradutor. A fi m de fazê-lo, o tradutor-autor associava-se ao autor do texto de origem, apropriava-se do conteúdo da obra, to-mava liberdades em relação ao original e o tornava ao gosto de sua época numa escrita que lhe era própria. Ele encontrava-se num período em que «as barreiras estabe-lecidas entre o original e a tradução, o autor e o tradutor, eram bem mais tênues, para não dizer completamente abolidas» (OUSTINOFF, 2003, p. 34).

Os modos de traduzir do período clássico en-riqueceram-se por meio da verbosidade de uma língua que devia ser clara, elegante e bela e que se construía na admiração e, ao mesmo tempo, na recusa da Antigüi-dade. Essa língua-cultura voltada para si mesma engen-drou e revelou sua identidade. A maneira superexpres-siva dos tradutores clássicos era quase um exercício de estilo: servia para que as idéias dos Antigos se desenvol-vessem através de um pensamento clássico, como se os tradutores submergissem na arte da palavra – eloqüên-cia própria aos autores gregos e romanos – e voltassem à tona numa escritura sobrecarregada e eloqüente, pró-pria do século XVII. Foi por meio desse recurso que esse século tão preso à razão tentou organizar o mundo da

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tradução criando uma rede de deformações necessárias (adições, supressões e modifi cações) para que a fi deli-dade à língua de chegada e ao público leitor pudesse ser obtida. Além das deformações, verifi ca-se, conforme Oséki-Dépré (1999), o «enobrecimento», a «majestade» e a «procura de um novo ritmo» produzidos por longas paráfrases, principalmente.

A partir dessa maneira de pensar a relação entre o autor e o tradutor, entre o texto original e seu du-plo traduzido, entendemos melhor Perrot d’Ablancourt (1606-1664) quando esse tradutor-autor-chave da épo-ca clássica opõe razão e palavra para explicar as trans-formações pelas quais passava o texto-fonte a fi m de tornar-se claro em língua francesa:

J’ay esté à la raison sans m’attacher aux paroles. Car on ne peut estre autrement qu’obscur dans la traduction d’un Auteur embroüillé. (apud OSÉKI-DÉPRÉ, 1999)

ou ainda quando explica o que é de bom tom ou possível expressar para a sociedade de seu tempo:

Há muitas passagens que traduzi palavra por pala-vra, pelo menos na medida em que se pode fazê-lo em uma tradução elegante; há ainda outras em que considerei mais o que seria preciso dizer, ou o que se podia dizer, do que o que se havia dito. (D’ABLANCOURT, 1664, p. 57)

As dicotomias claro/obscuro, razão/palavra, sentido/forma e o princípio da tradução livre susten-taram e originaram o modelo das Belas Infi éis.7 Essa maneira de traduzir conforme as regras sociais de uma certa época persistiu até o fi nal do século XIX. Isso prova-

7 Expressão criada pelo gramático e lexicógrafo Gilles Ménage (1613-1692), partidário dos Antigos, com o intuito de criticar esse modelo que substituía os textos antigos e clássicos (escritos para serem ditos) por textos em prosa (escritos para serem lidos).

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velmente ocorreu devido à consolidação do poder da lín-gua ofi cial francesa e à demanda por esse tipo de texto, muito embora a atividade traduzante, a partir do século XVIII, tenha perdido o prestígio social e artístico que ha-via conquistado nos séculos anteriores.

Anne Dacier (1651-1720), ligada aos Antigos, trabalhava com o texto original,8 pois ela conhecia bem a língua e a cultura da Grécia Antiga. Numa época em que, como estimava Montesquieu em Les Lettres Persa-nes (1721), os tradutores não pensavam por eles mes-mos e travestiam «os sublimes gênios» que traduziam, Dacier soube se defender e se fazer respeitar pelos que a criticavam. Ela expôs os problemas detectados em suas traduções, notadamente os que encontrou quan-do traduziu a Ilíada (1699). As difi culdades reportadas não dizem respeito somente às características do par de línguas trabalhado, mas igualmente às características poéticas e morais dos textos e das culturas. Oséki-Dépré (1999) e Oustinoff (2003) fornecem exemplos das difi -culdades admitidas por Dacier ou encontradas em suas traduções. Os dois teóricos identifi caram passagens em que comparações não foram reproduzidas, mas substi-tuídas por perífrases, cenas amorosas foram suprimidas ou resumidas, e expressões e palavras julgadas grossei-ras tornaram-se elegantes. Dacier representa o início do fi m das Belas Infi éis, mas por esse modelo ainda estava condicionada.

No que concerne às comparações, pode ser citada a de Ajax comparado a um asno, presente no tex-to de partida, que Dacier substituiu por «como vemos o animal paciente e robusto, mas lento e preguiçoso». Essa escolha lhe permitiu evitar a comparação original, provavelmente julgada grosseira e de mau-gosto.

No que diz respeito às supressões de passa-gens do texto, um dos cortes efetuados pela tradutora

8 Alguns tradutores produziam retraduções a partir de traduções porque dominavam mal o grego clássico.

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verifi ca-se no Canto III. Nele, há uma cena amorosa pro-tagonizada por Páris e Helena. Essa passagem pode ser comparada com a tradução do mesmo texto, realizada em 1867, por Leconte de Lisle:

Et ne pensons plus qu’aux plaisirs… A l’île de kranaé, vous voulûtes bien consentir à me prendre pour mari… Et me parlant ainsi, il se leva pour aller dans une autre chambre, et Hélène le suivit.

Dacier

Viens ! Couchons-nous et aimons-nous. Jamais le désir ne m’a brûlé ainsi même lorsque naviguant sur ma nef rapide, après t’avoir enlevée de l’heureuse Lakedaimön, je m’unis d’amour avec toi dans l’île de Kranaé, tant que j’aime maintenant et suis saisi de désirs. Il parla ainsi et marcha vers son lit, et l’épouse le suivit,et ils se couchèrent dans le lit bien construit.

Leconte de Lisle

A maneira direta utilizada por Páris a fi m de expressar amor, desejo e prazer, presente na tradução de Leconte de Lisle, desaparece na versão de Dacier. A utilização de reticências e de um texto condensado aponta para uma censura e conseqüente supressão de fragmentos presentes no texto de partida.

Enfi m, podem-se observar transformações rea-lizadas pela tradutora numa passagem em que Agamê-mnon fala de Chryséis:

Elle a soin de son litDacier

Partager son litLeconte de Lisle

e em outro fragmento em que Aquiles profere insultos:

Insensé, à qui les fuméesdu vin troublent la raison

Dacier

Lourd de vin, cœur de cerf,oeil de chien

Leconte de Lisle Como podemos verifi car, eles são mais ele-

gantes na Ilíada de Dacier. Esses exemplos ilustram a fi delidade relativa de Anne Dacier, defensora dos

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Antigos, aos textos de partida. De fato, ela recua face ao intraduzível, propondo versões alongadas, de es-tilo elevado, apagando os diferentes registros linguagei-ros do original, propondo textos resumidos, suprimindo idéias ou cenas consideradas ousadas ou chocantes para a mentalidade da língua-cultura de chegada. No contexto específi co descrito, ela poderia traduzir de ou-tro modo?

O intraduzível indica a presença do outro. Se essa presença signifi ca um obstáculo intransponível para uma época dada, a tradução não ocorre. Os exem-plos selecionados correspondem a um passado distan-te, mas a intraduzibilidade é sempre atual. Versos satâ-nicos, por exemplo, não é um livro acessível nos países muçulmanos. No que diz respeito a esse fato, não se tra-ta de uma simples proibição lançada contra o texto, mas de uma condenação (uma fatwa) que ameaça Salman Rushdie e todos aqueles que participaram da publica-ção desse livro. Historicamente, o Index Librorum Prohi-bitorum adotado pela Igreja Católica Romana, em 1515, teve por objetivo impedir a leitura de certos livros cujo conteúdo apresentasse qualquer linha de pensamento divergente dos pregados por ela.9 Essa censura podia ser acompanhada de auto-de-fé: fogueira de livros, quei-mados porque julgados não legíveis. Em 1953, com a publicação de Fahrenheit 451 (temperatura na qual o papel queima espontaneamente), Ray Bradbury denun-cia num romance de fi cção científi ca todas as destrui-ções de textos escritos, mesmo simbólicas, efetuadas pela censura. Atualmente, ainda o Inferno (l’Enfer10) da Biblioteca Nacional de Paris preserva obras que foram ou são objetos de uma proibição institucional, tanto go-

9 A última edição dessa lista ocorreu em 1948. Ela incluía quatro mil títulos censurados, aproximadamente.10 O Inferno é uma sala especial da Biblioteca Nacional que reagrupa, desde o início do século XIX uma coleção de obras não acessíveis ao público porque são proibidas. Esses livros são reconhecidos pelo prefi xo Enfer-.

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vernamental, quanto comercial. Paradoxalmente, graças ao depósito legal, esses livros ameaçados e não comuni-cáveis são hoje preciosamente conservados.

Ademais, existe todo um universo de textos em situação de não-legibilidade, não por serem incompreen-síveis, mas por razões diversas, que podem estar ligadas ao (pouco) prestígio da língua em que o texto foi redigido ou às políticas lingüísticas e ao peso econômico dos pa-íses das línguas-culturas dominantes que obliteram as demais culturas, dentre outros fatores. Nesses casos, os livros tardam a ser traduzidos ou nunca o serão. Eles são intraduzíveis.

II RESISTÊNCIAS DA LÍNGUA

Nesta parte deste ensaio, levantaremos ques-tões concernentes ao pensamento, à linguagem e à tra-dução ou, de modo mais preciso, às relações existentes entre a operação traduzante e seu resultado. No tópico anterior, observamos que a distância cultural existente entre as línguas de partida e de chegada pode ou não ser tratada pelo tradutor. No último caso, a intraduzibili-dade total emerge. Isso não provém unicamente dos ele-mentos culturais estrangeiros a serem trabalhados, mas da recusa do próprio a todo tipo de estranheza, «quer seja ela estrangeira, quer não» (CORDONNIER, 1995, p. 34). Tentaremos demonstrar que há uma distância igualmen-te presente no discurso, mesmo quando o fenômeno linguageiro focalizado é pontual, mesmo quando anali-samos pequenos enunciados ou estruturas lingüísticas bem específi cas de um dado par de línguas. É delicada a passagem de um sistema para outro, pois isso coloca em jogo relações íntimas e únicas mantidas pelo senti-do e pelos elementos formais que o representam. Como recriar essas relações quando passamos de uma língua para outra? Não é simples tratar dessa questão quando sabemos que inexiste uma total correspondência entre as unidades codifi cadas das diferentes línguas do mun-

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do e que podemos operar somente com elementos lin-güísticos e semânticos parcialmente equivalentes, pois, de fato, a equivalência

é, na tradução, uma noção que serve para tudo. Ela é tão embaçada quanto a fi delidade, podendo repre-sentar diferentes níveis. De modo obscuro, ela supõe uma sinonímia recusada pelo discurso. Mas ela é maleável. Ela pode passar da língua ao discurso, do descontínuo ao contínuo. Na língua, ela se converte em receitas de estilística comparada. No discurso, ela pode ser aplicada tanto ao ritmo quanto à prosó-dia. (MESCHONNIC, 1999, p. 28)

A passagem de uma língua para outra deve, conseqüentemente, prever uma análise das possibilida-des retóricas e formais de cada uma delas. Decorre dis-so a necessidade, para o tradutor e para o pesquisador, de dominar os dois sistemas em presença e de estar intimamente familiarizado com os diversos aspectos da experiência a eles associados.

1 EQUIVALÊNCIA E LÉXICO

A palavra por palavra refere-se a uma maneira de traduzir ancorada na história da tradução e associa-da às traduções de textos religiosos, ou seja, à idéia de respeito e de fi delidade à língua de partida. Nesse tipo de tradução, o texto de chegada deveria conter quase o mesmo número de palavras e de letras do texto original a fi m de ser literal, a única versão capaz de não alterar os documentos sagrados. No contexto da tradução, a Bí-blia é o exemplo de texto religioso por excelência, pois foi traduzida em mais de 2.230 idiomas11 e, para cada uma dessas línguas, existem re-traduções do mesmo texto. Conseqüentemente, foi através dessas diferentes

11 Integralmente, em 337 línguas, e em 2000 línguas de modo parcial, segundo Oséki-Dépré (2003).

traduções que se detectaram problemas relacionados à interpretação, às diversas maneiras de ler e de reconsti-tuir o mesmo texto, à existência de uma relativa intradu-zibilidade das línguas-culturas em presença, à evidência de que não é possível «tocar o núcleo (Kern, em alemão; noyau, em francês) forçosamente intraduzível do texto a ser traduzido, núcleo que coloca em relevo tanto a in-completude quanto a complementaridade das línguas» (OSÉKI-DÉPRÉ, 2003, p. 96). Esses problemas revelaram que a fi delidade ao texto de partida não é garantida pela palavra por palavra, apesar das boas intenções do tra-dutor. Chateaubriand, por exemplo, tradutor de Paradi-se Lost, poema bíblico em doze cantos, seguro de estar sendo fi el a John Milton e de ter valorizado a originalida-de e a individualidade da obra do poeta inglês, afi rmou nos Comentários da tradução proposta, em 1836, ter «calqué Milton à la vitre». Chateaubriand insiste no fato de ter realizado uma

tradução literal com toda a força desse termo […], uma tradução que uma criança ou um poeta pode-rão seguir no texto, linha por linha, palavra por pala-vra, como um dicionário aberto sob os olhos. (apud OSÉKI-DÉPRÉ, 1999)

Entretanto, a tradução efetuada pelo escritor francês não reproduz o texto de Milton tal como ele era na língua de origem. Citamos somente um exemplo: ele propôs uma versão em prosa de um texto originalmente escrito em verso. Essa escolha, que instaurou uma dife-rença de gênero, indica que o tradutor fez outra coisa do que a confessada palavra por palavra. Segundo alguns teóricos e autores-tradutores (como Goethe, contem-porâneo do tradutor, mas também Cordonnier, Oséki-Dépré, Meschonnic, Oustinoff), Chateaubriand efetuou uma mestiçagem entre as duas línguas, conseguindo ir muito além da palavra por palavra. Ele utilizou, sem dúvida, a tradução literal para se opor à tradução livre, ou seja, aquela adotada pelos tradutores das Belas In-

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fi éis, mas não adotou, como parecia acreditar, a «linha por linha» e a «palavra por palavra». Ele realizou uma tradução literal no sentido empregado pelos românticos alemães, ou seja, como meio de enriquecer a língua, a li-teratura e a cultura da língua de chegada e de «fecundar o Próprio pela mediação do Estrangeiro» (BERMAN, 1984, p. 16). Oséki-Dépré coloca em evidência, dentre os pro-cedimentos empregados por Chateaubriand na tradução de Paradise Lost,

o respeito, até mesmo a imitação da sintaxe inglesa em detrimento das regras do bon usage francês, a citação […], a criação de neologismos, o respeito às «palavras horríveis» e às «palavras comuns», ou seja, aos diferentes níveis do texto. (1999, p. 48)

A palavra por palavra é um impossível. Com efeito, é no nível lexical que a fi delidade ao autor e ao texto de partida encontra uma maior resistência para se concretizar, pois

nenhuma palavra de uma língua é perfeitamente igual a uma de uma outra. Diferentes línguas são, deste ponto de vista, somente outras tantas sinoní-mias: cada uma delas exprime o conceito de modo um pouco diferente, com esta ou aquela determina-ção secundária, um degrau mais alto ou mais baixo na escala das sensações. (HUMBOLDT, 1816, p. 91)

A concepção de língua como nomenclatura en-tra em colapso em vista da equivalência parcial dos itens lexicais de duas línguas diferentes, ou seja, para uma dada nomenclatura, como a da língua de partida, não existe uma outra correspondente, a da língua de chega-da. Os signifi cados das palavras, segundo uma perspec-tiva humboldtiana, são trabalhados subjetivamente e pertencem a cada língua de modo particular, não existin-do fora de seus signifi cantes. Além disso, as palavras ad-quirem sua signifi cação no discurso (intitulado Rede, por

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Humboldt), pois o «espírito» ou o «sentido» não existem a priori, mas dependem da «organização plástica dos ele-mentos signifi cantes em conjuntos discursivos» (THOUARD, 2000, p. 25). Visões das mais diversas se fazem repre-sentar pelas palavras. Cada uma delas torna-se um es-paço de indeterminação de conteúdos, e é justamente esse fenômeno que faria emergir a espontaneidade e o pensamento. O fl uxo do discurso indicaria o sentido e o conteúdo das palavras. A partir daí podemos conceber o intraduzível como algo intrínseco à palavra, presente no seu campo semântico, no número de acepções que a palavra pode ter em função das combinações das quais participa, segundo os enunciados em que está inserida. O outro habitaria a palavra.

O intraduzível total de uma palavra traduz-se, na prática, por um empréstimo. O recurso ao emprés-timo não coloca mais em jogo a palavra (da língua de partida) por palavra (da língua de chegada), mas uma solução de um problema colocado pela palavra por pa-lavra. Rahmouna Mahadji, tradutora de contos orais ar-gelinos para a língua francesa, explica porque conservou a palavra «darra» em um dos textos que traduziu. Dlala, personagem do conto, é uma moça que foge de casa por viver uma situação potencialmente incestuosa. Sua mãe suplica sua volta empregando como argumentos o fato de ela ser sua fi lha e, por essa razão, não ter nada a temer. Como resposta, Dlala diz a sua mãe: «Antes, tu eras minha mãe, agora tu te tornaste minha darra». A tradutora justifi ca o empréstimo lingüístico colocando em relevo a inexistência, na língua-cultura de chegada, de um termo que possa substituir a palavra «darra». O termo pode signifi car «casar com uma segunda mulher», remetendo a uma relação de parentesco própria à cul-tura árabe-muçulmana: aquela que une mulheres legíti-mas casadas com um único homem. Esse termo remete igualmente a um sentido afetivo dotado de uma conota-ção pejorativa: «prejudicar» e «fazer mal». Estas são en-tradas possíveis, em dicionários de árabe–francês, da

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palavra «darra» e nenhuma delas corresponde, sozinha, à palavra do fragmento a ser traduzido. O empréstimo é, conseqüentemente, uma das brechas pelas quais o outro pode ser introduzido na língua de chegada.

2 EQUIVALÊNCIA E CATEGORIAS GRAMATICAIS OBRIGATÓRIAS

Em «From ‘thought and language’ to ‘think-ing for speaking’», Dan I. Slobin propõe reexaminar as possíveis ligações entre o pensamento e a linguagem articulada evocando alguns textos e idéias de Wilhelm von Humboldt (1767-1835) e de Benjamin Lee Whorf (1897-1941) segundo os quais os conceitos não possui-riam existência fora da linguagem. Nesse caso, o pen-samento e a língua seriam indissociáveis. Adotando um ponto de vista um pouco diferente, Dan I. Slobin tentou compreender o que acontece no exato momento em que a enunciação ocorre. Seu objetivo era identifi car o papel da língua na expressão do pensamento.

Trata-se de um prolongamento da lingüística antropológica através de uma abordagem menos deter-minista da diversidade lingüística representada sobretu-do por Whorf.12 Slobin se refere aos trabalhos de Franz Uri Boas (1858-1940), para quem o caráter obrigatório das categorias gramaticais de uma língua determinaria os aspectos de cada experiência que devem ser expres-sos. Cada língua imporia «aos seus locutores o dizível, ou seja, as confi gurações lingüísticas que fazem senti-do» (FUCHS, 1997, p. 8). Haveria dimensões da experiên-cia embutidas nas categorias gramaticais das línguas. Essas categorias variariam em função da língua empre-gada, podendo ser numerosas numa língua e raras em

12 Whorf foi considerado por Catherine Fuchs como um precursor «cujos pontos de vista audaciosos sobre o papel da linguagem na cognição ex-plicariam a incompreensão e a hostilidade das quais ele foi objeto da parte de seus contemporâneos e gerações seguintes» (1997, p. 8).

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outras, o que não alteraria a efi cácia do discurso próprio a cada uma delas.

A fi m de delimitar esse problema, Slobin e seus colaboradores compararam o modo como crian-ças e adultos, locutores de diferentes línguas maternas (alemão, inglês, espanhol e hebraico), representavam verbalmente os mesmos acontecimentos. A equipe de pesquisadores observou se as narrativas fornecidas comportavam diferenças notáveis quanto a aspectos relacionados à espacialidade e à temporalidade que pudessem estar atreladas às línguas nas quais elas ha-viam sido formuladas.

Essas diferentes representações podem tam-bém ser identifi cadas em traduções da mesma obra para línguas de chegada diferentes (permitindo uma comparação interlingüística), ou em retraduções da mes-ma obra efetuadas num mesmo sistema lingüístico (tor-nando possível comparações intralingüísticas). Nessas diferentes versões, podem ser identifi cados fragmentos contendo acréscimos, eliminações, nuances em relação ao texto de partida que resultam das características pró-prias de cada sistema lingüístico empregado. Podemos também encontrar exemplos desse fenômeno em nos-sas experiências interlingüísticas e interculturais quan-do traduzimos ou produzimos textos escritos ou orais. Durante essas experiências, formulamos hipóteses, fre-qüentemente abandonadas, sobre o funcionamento das línguas empregadas.

Para Slobin, cada língua representa uma orien-tação subjetiva em direção ao mundo, e essa orientação afeta nossa maneira de pensar quando nos expressa-mos verbalmente. Ele considera que todo enunciado é determinado pelo que o locutor viu ou experimentou, pela sua intenção de comunicação e, igualmente, pelas distinções existentes na gramática da língua com a qual ele se expressa. Com efeito, esta pode não dar conta de imagens mentais ou de uma realidade perceptível (como imaginava Boas), mas de distinções dependentes

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do discurso.13 A hipótese subjacente é que existiria um «pensar para falar», isto é, um certo tipo de pensamento ligado à língua mobilizado durante a produção do dis-curso. Conseqüentemente, quando estamos adquirindo nossa língua materna (ou nossas línguas maternas, se este for o caso), aprendemos formas particulares desse «pensamento para falar». Dessa maneira,

a atividade de pensar adquire um caráter particu-lar quando ela é empregada na atividade de falar. No tempo efêmero dos enunciados construídos no discurso, adaptamos esses pensamentos a quadros lingüísticos disponíveis. (SLOBIN, 1991)

Empregaremos alguns exemplos, fornecidos pelo psicolingüista americano, em que a língua materna (LM) do locutor opera de modo a produzir recortes dos acontecimentos reportados (certos movimentos produ-zidos no espaço, neste caso) através de elementos lin-güísticos de natureza diferente. O emprego desses ele-mentos determina o que deve ser dito e o que deve ser subentendido, o que é necessário ou não veicular dentro de um estilo retórico próprio a cada língua utilizada. Eis o primeiro exemplo:

Inglês LM: The bird fl ew down from out of the hole of the tree(o pássaro voou para baixo de fora do buraco da árvore)Espanhol LM: El pájaro salió del agujero del árbol volando hacia abajo (o pássaro saiu do buraco da árvore voando até em baixo)14

Como podemos observar, em inglês, o verbo (fl ew) exprime a maneira segundo a qual o movimento

13 As construções ativas e passivas, por exemplo, não fazem parte de nossa percepção, mas servem para organizar o fl uxo da informação no discurso. Elas topicalizam um elemento a fi m de que ele sirva de ponto de referência para a construção do enunciado.14 As versões propostas em português obedecem à tradução literal, se-guindo o arranjo dos elementos do inglês e do espanhol.

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é realizado e as partículas ou satélites (down, from, out of) expressam a direção do movimento. Em espanhol, o verbo (salió) exprime a direção do movimento (de dentro para fora) e a maneira é expressa por um gerúndio (vo-lando). Essa diferença, típica entre essas duas línguas, infl uencia a organização do discurso. Em espanhol, não é possível expressar a maneira e a trajetória através de expressões dispostas de modo compacto, como ocorre em inglês. A gramática do espanhol não admite a acu-mulação de expressões que indiquem direção, mesmo se, teoricamente, isso possa ser produzido devido à existência de elementos lingüísticos sufi cientemente va-riados para realizá-lo. Segundo Leonard Talmy (1985), o espanhol e o inglês opõem-se quanto à verbalização de acontecimentos que indicam movimento no espaço: o espanhol é uma língua centrada sobre o verbo enquanto que o inglês é uma língua centrada sobre satélites.

As preposições empregadas pelos hispanofa-lantes fornecem especifi cações mínimas de localização. Às vezes, quando esta não pode ser subentendida, os locutores necessitam fazer descrições estáticas dos componentes da cena, facilitando, através disso, a infe-rência das trajetórias. É o que ocorre no exemplo abaixo, tirado do espanhol LM:

Espanhol LM: El niño metió la rana en el frasco que había abajo (o menino colocou a rã dentro do bocal que estava embaixo)

Esse tipo de solução explica o número consi-derável das proposições relativas encontradas na língua espanhola (ocorre algo similar em língua portuguesa). De fato, o verbo meter leva-nos a interpretar a preposi-ção en como dentro. No que diz respeito à proposição re-lativa, ela indica a trajetória de meter, ou seja, para bai-xo, pois o bocal encontra-se no chão, perto do garoto.

A partir desses exemplos de estilo retórico (SLO-BIN, 1991, 1996; FUCHS, 2001) sobre um aspecto preciso das duas línguas – a localização e o movimento no espa-

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ço –, constatamos uma nítida diferença de tratamento. O espanhol possui trajetórias pouco elaboradas; elas são veiculadas por um verbo (que indica mudança de lugar) associado a uma proposição relativa (que descreve con-fi gurações de localizações estáticas). Os locutores, con-seqüentemente, indicam as direções e as localizações. O inglês possui trajetórias elaboradas de deslocamento; o locutor expressa as trajetórias excluindo a utilização de proposições relativas para fornecer detalhes de localiza-ção e de circunstância. Logo, há uma tendência, obser-vada nos anglofalantes, de prestar atenção à dinâmica do movimento e de fornecer poucas informações sobre o cenário da narrativa. Nesse caso, os estados resultantes de localização devem ser inferidos. Nos hispanofalantes ocorre o oposto, o que é atestado pelas abundantes des-crições estáticas do cenário em suas narrativas, tornan-do a trajetória objeto de inferência.

Os mesmos fenômenos foram identifi cados por Slobin em análises de traduções literárias. Nelas, o pesquisador observou como ocorria a descrição do movi-mento das personagens quando elas se deslocavam no espaço. Ele objetivava compreender como um mesmo conteúdo era passado pelos tradutores de uma língua a outra. Afi nal, até que ponto, em face da abundância de detalhes encontrados na língua inglesa para esse fenômeno, o tradutor continuava fi el à língua de parti-da? Os resultados dessa comparação demonstraram que as línguas diferem umas das outras não somente pela presença ou ausência de uma categoria gramati-cal, mas pela maneira como elas atribuem diferentes recursos gramaticais a domínios semânticos comuns (como no exemplo acima, que concerne ao domínio do espaço). Além disso, ele constatou, nas traduções para o espanhol feitas por locutores de língua inglesa, uma infl uência da língua materna, pois eles expressam muito mais as trajetórias do que as situações, ao contrário dos locutores nativos do espanhol.

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A pesquisa desenvolvida por Slobin sugere a possibilidade de pensar (conceitualizar) na língua mater-na e falar (articular ou escrever) na língua estrangeira, o que pode gerar transferências de cunho lingüístico-cog-nitivo de uma língua para a outra. No caso da tradução, quando o locutor emprega sua língua materna (normal-mente a língua de chegada), experiências ou eventos im-portantes sob a perspectiva da língua de partida podem escapar, ser deixados de lado ou ser ignorados (BRUM DE PAULA, 2005).

Os exemplos estudados aqui ilustram, em inglês e em espanhol, diferenças de representação lingüística de dois domínios conceituais: o processo e seu movimento no espaço. No entanto, essas duas línguas não são consideradas opostas, pois em outros domínios referenciais ou outros aspectos ligados ao espaço e ao processo, elas podem apresentar funcionamentos similares. É o que ocorre com as relações temporais e aspectuais, que aproximam esses dois sistemas lingüísticos. Conseqüentemente, as línguas não mantêm relações nem muito próximas nem muito distantes umas das outras. Desse modo, a distância entre as línguas do mundo estaria relacionada ao fenômeno analisado. Nesse contexto, a equivalência textual poderia se realizar através dos diversos recortes da realidade efetuados pelas línguas, que podem ou não coincidir.

Sendo assim, a perspectiva etnolingüistica whorfi ana, redescoberta e reinterpretada pelas aborda-gens representacionais da linguagem, não deve estar relacionada a

uma espécie de ceticismo fi losófi co que aprisionaria cada comunidade lingüística dentro de uma visão de mundo irredutivelmente específi ca («a cada língua sua verdade, ou seja, sua concepção de mundo»), mas […] ao princípio da relatividade da física em que a posição do observador no espaço modifi ca sua vi-são do objeto observado («a cada língua sua posição de observação da realidade»). (FUCHS, 1997, p. 10)

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3 EQUIVALÊNCIA E RELATIVIDADE DAS LÍNGUAS

Entre os enunciados abaixo contendo um frag-mento do conto «Soroco, sua mãe, sua fi lha», de João Guimarães Rosa, traduzido para o francês por Oséki-Dé-pré, constatamos a existência de equivalentes formais e semânticos.

Ao sofrer o assim das coisas, ele, no oco sem beiras, debaixo do peso, sem queixa, exemplo-so. E lhe falaram: - «O mundo está dessa forma...»

Souffrant de l’amen des choses, lui, dans le creux sans bornes, sous le poids, sans se plaindre, exemplaire. Et on lui dit: - «Le monde est de cette façon…»

Examinemos o último enunciado. Nele, encon-tramos a tradução do tipo palavra por palavra em que há o mesmo arranjo dos elementos no discurso, a mesma linearização. No entanto, verifi camos também que não há identidade semântica entre «O mundo está dessa forma» e «Le monde est de cette façon». Trata-se de um efeito desejado pelo tradutor? Segundo Slobin, o tradu-tor, nesse caso, não pode fazer nada. A diversidade das línguas levaria a uma diversidade de representações do mundo em que as informações veiculadas dependeriam da língua empregada pelo sujeito do discurso. Nas lín-guas do mundo, e para cada língua de modo particular, categorias gramaticais possuiriam caráter obrigatório e imporiam ao locutor as informações a serem veicula-das.

O traço temporal, presente em língua portu-guesa, indicando que o «mundo» não é mais como era antes, que, no momento da enunciação, ele está dife-rente, desaparece na tradução. O português, nesse caso específi co, faz a distinção entre estados permanentes e passageiros, constantes e contingentes. Na língua fran-cesa, isso não é relevante.15 Em «Le monde est de cette

15 Devido a isso, locutores de língua francesa, quando tentam adquirir a língua portuguesa, têm difi culdades para aprender as funções que to-mam ser e estar no discurso.

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façon», essa distinção desaparece. Ela é da ordem do que denominamos intraduzível parcial: o outro emerge, uma parte do recorte efetuado pela língua de partida não aparece ou, se isso for necessário, deve ser acres-centado na língua de chegada.

No sentido inverso, o tradutor de língua fran-cesa que realiza uma versão para o português deverá obrigatoriamente explicitar esse estado, expressar com maior precisão a duração do processo reportado: ou o «mundo» está diferente e isso pode ser temporário, o que necessita do emprego de estar, ou o «mundo» sempre foi da mesma maneira, o que implica a utilização de ser.

Ilustramos, com os diferentes exemplos, o fato de as línguas realizarem recortes da realidade suscetí-veis de variar de um sistema lingüístico para outro. Esse recorte está ligado a uma certa maneira de ver o mundo através da linguagem. Isso reforça a existência de uma relação entre conceitualização lingüística, cultura e pen-samento e, conseqüentemente, de uma diversidade das representações construídas através das línguas. Esse modo de conceber a diversidade lingüística, própria de uma certa etnolingüística e das perspectivas repre-sentacionais da linguagem, incomoda os partidários da abordagem computacional,16 representada pelo cogniti-vismo inspirado na lingüística formal chomskyana; pois, se as línguas, os pensamentos e as culturas são diferen-tes – como pretendemos defender neste ensaio –, como poderíamos passar de uma língua para outra? Nesta questão está em jogo a problemática geral das relações existentes entre pensamento, cognição e linguagem.

Se o léxico, as frases e as estruturas sin-táticas das frases não são interpretadas em termos

16 A abordagem computacional preconiza a universalidade de um pensa-mento extrínseco à língua. Percebida como fenômeno independente da linguagem, essa universalidade do pensamento explicaria a tradução. Seria então possível eliminar as diferenças entre as línguas (pois elas seriam superfi ciais) e estabelecer equivalências interlingüísticas através da conservação de uma substância informativa comum.

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de expressão de um sistema universal de conceitos existentes a priori e em termos de fórmulas lógicas universais, como deseja a abordagem computacional, a construção de equivalentes ocorreria, então, através da comparação interlingüística. Para tanto, seria preciso identifi car as confi gurações signifi cantes diferentes (ou similares) no interior da organização dos enunciados de cada língua e transpor, de uma língua para a outra, um certo número de propriedades analógicas. As confi gu-rações signifi cantes construídas pela organização dos enunciados de uma língua assemelhar-se-iam a

uma mudança no sistema de coordenadas da obser-vação [...], então é a conceitualização do referente que se encontra modifi cada, e a equivalência deveria muito mais ser pensada de modo dinâmico, um pou-co como a geometria apreende a invariância existen-te atrás das diversas transformações de fi guras no espaço (por rotação, translação ou simetria). (FUCHS, 1997, p. 18)

Uma grande parte das difi culdades encontra-das na aquisição de uma língua estrangeira apóia-se na pregnância dessas diferentes confi gurações (constru-ídas com recursos lexicais e morfo-sintáticos próprios de cada sistema lingüístico). Essas confi gurações são também fonte de resistências durante a operação tra-duzante. Ultrapassá-las é traduzir, reconfi gurar, transfor-mar e, se for possível, tentar inserir o outro na língua de chegada, ou seja, tornar o intraduzível traduzível, pelo menos parcialmente.

CONCLUSÃO

As resistências impostas à tradução pelas culturas e línguas em presença afi rmam a existência do outro no (in)traduzível. Se essa presença for o único empecilho à tradução, esta se realiza, pois «a preten-sa intraduzibilidade dissolve-se em traduzibilidade […], pelo simples recurso aos modos de relação existen-tes natural e historicamente entre as línguas» (BERMAN, 1984, p. 302), mas isto não ocorre com facilidade na prática da tradução. As soluções mais freqüentes – em face das marcas do estrangeiro, de seu pensamento e de seu modo de expressão – são o seu apagamento, sua «deformação» (segundo a nomenclatura adotada por Berman) ou sua «désécritude» (segundo Meschon-nic). Observamos que, mesmo parecendo contraditório, a destruição do outro pode ser um ato ligado à noção de fi delidade. Tudo depende dos modos de traduzir de uma época, de sua «visão tradutiva». De fato, a «fi delidade de uma época parece infi delidade mais tarde, porque ela era, sem saber, uma fi delidade à época e não ao texto» (MESCHONNIC, 1999, p. 57). A verdadeira questão que de-veríamos fazer, então, não seria ao que os tradutores devem ser fi éis?

A noção de intraduzibilidade não nos coloca frente à impossibilidade de se passar um texto de uma

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língua para outra. O que está em jogo é a relativa imper-meabilidade do outro, compreendida como um desafi o. O tradutor, a partir dos conhecimentos que possui do meio cultural e do sistema lingüístico da língua-cultura de partida, de sua compreensão do texto de origem e do domínio de sua própria língua-cultura, escolhe entre pre-servar, reduzir ou apagar o outro. Se parece relativamen-te fácil imaginar como apagar ou reduzir a presença do estrangeiro, a nova questão não seria como preservar a presença do outro?

As equivalências a priori não preservam in-tegralmente o texto de partida, porque elas se valem do que a norma oral ou escrita impõe ao locutor. Ora, o locutor, como demonstra Slobin, emprega raramen-te opções disponíveis mas atípicas da língua, e muito menos aquelas que não correspondem à norma. Hum-boldt já pensava que essas opções dormitavam como «se estivessem no interior de um instrumento musical não tocado». Mais tarde, Jakobson também adotou essa perspectiva quando colocou em evidência o fato de as línguas expressarem o que devem e não o que podem expressar. Para preservar o outro, seria necessário acor-dar as possibilidades da língua fazendo uso do que elas podem exprimir. Enfi m, como alargar a capacidade da língua, como forçar a língua de chegada, ou seja, como ir além da norma?

Meschonnic (1999) propõe a tradução do que as palavras não dizem, mas do que elas fazem, o que implicaria o reconhecimento do tradutor como criador de uma linguagem com história própria. É dessa maneira que ambos, original e texto traduzido, poderiam se tor-nar produções de igual valor. Garantir a presença do ou-tro no texto de chegada signifi caria reconstruir o texto de origem segundo sua forma original, numa posição des-centrada em relação às duas línguas-culturas em pre-sença. O que é proposto é algo como uma recriação fi el.

Nesse ensaio, tentamos aproximar domínios que, segundo nosso ponto de vista, não deveriam pensar

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a tradução separadamente, como ocorre freqüentemen-te com a lingüística e a literatura (seja uma literatura comparada ou uma poética do traduzir), e adotar a idéia segundo a qual a «tradutologia só poderá ser constituí-da em cooperação com a lingüística e a poética» (BERMAN, 1984, p. 341).

Enfi m, buscamos trabalhar a diversidade das línguas-culturas, a idéia da existência de recortes da realidade suscetíveis de variar de uma língua para outra, a importância de uma relação entre forma e sentido na construção do discurso. Para isso é preci-so ir além da identifi cação de diferenças e similarida-des entre as línguas-culturas, ir além dos erros e êxi-tos encontrados durante a passagem de uma língua para outra, pois o mais importante é compreender por que eles ocorrem, a fi m de desvendar o fenômeno da tradução.

Trata-se de afi nar a pesquisa para apreen-der a linguagem e seu funcionamento através de um processo de construção do sentido que considere «o sentido global do enunciado e o sentido das unidades dentro do enunciado» (ROBERT, 1997, p. 25). Para tan-to, uma ciência da tradução se benefi ciaria aliando rigor lingüístico e sensibilidade poética (no caso da tradução literária), levando em conta forma e conteúdo para inter-pretar os fenômenos da língua e capturar o pensamento expresso na dinâmica do discurso.

Mirian Rose Brum-de-Paula

PPGL - UFSMEditores

2008

L’Autre dansL’intraduisible

SOMMAIRE

Introduction Un langage commun ............................. 51

L’intraduisible comme présence de l’Autre ................................................ 53

I Résistances culturelles ........................ 57

1 L’intraduisibilité totale ....................... 58

2 Mo(r)t pour mot de l’intraduisible ..... 60

3 L’intraduisible effacé ......................... 62

II Résistances de la langue ................... 69

1 Equivalence et lexique ....................... 70

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2 Equivalence et catégories grammaticales obligatoires .................. 73

3 Equivalence et relativité des langues ........................................... 79

Conclusion .............................................. 83

INTRODUCTION

Un langage commun

Les formateurs engagés dans la formation professionnelle de la traduction, les traducteurs plongés dans l’activité traduisante et les théoriciens absorbés par l’analyse et la systématisation de ce champ de recherche, utilisent une terminologie spécifi que et assez homogène afi n de pouvoir dialoguer avec leurs pairs. Comme dans d’autres domaine du savoir, cette terminologie n’est pas toujours stable et peut s’avérer insuffi sante, voire contradictoire. Henri Meschonnic, dans Poétique du Traduire, par exemple, fait allusion à une “langue de bois du traducteur”, et critique la nomenclature propre à la traduction qui transfère la division du signe sur ce domaine,

(...) selon sa notion classique, l’alliance d’un signi-fi ant, phonique ou graphique, la forme, et d’un signi-fi é, le sens (…) Traduire selon la régie du signe induit une schizophrénie du traduire. Un pseudo-réalisme commande de traduire le sens seul – alors que le sens n’est jamais seul. Il commande l’illusion du naturel – la traduction effaçante. Il cantonne la po-ésie et l’acte littéraire en général à la notion de for-me comme résidu de ce qu’on croit être le sens (...) (1999 : 23).

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De ce fait, toutes les dichotomies, telles que forme/sens, style/contenu, langue de départ/langue d’arrivée, sourciers/ciblistes, fi délité/infi délité, école linguistique/école artistique, traduisibilité/ intraduisi-bilité seraient à revoir. Meschonnic est dans la diffi cile et délicate position du poète-traducteur qui revendique un champ de recherche et d’application pour le placer dans la “poétique du traduire” (et non dans la « traduc-tologie », comme le souhaitent Jean-René Ladmiral et Antoine Berman) où il n’y a pas de séparation entre le corps et le sens, et où le rythme n’est pas en rapport direct avec le son, mais avec le sujet. Meschonnic polé-mise, pose de bonnes questions, dénonce les tendances déformantes de la traduction poétique et crée une façon nouvelle de raconter la traduction. Sa manière de conce-voir les théories et les pratiques de la traduction est, se-lon Oseki-Dépré (1999), à mi-chemin entre les positions descriptives et prospectives, ce qui présente l’avantage d’un décentrement par rapport aux théories françaises (qui rarement proposent une méthode pour la traduction poétique), et la nécessité d’une traduction de la poésie (c’est-à-dire de toute la littérature1) qui rende son conte-nu dans sa forme. Nous trouvons une position similaire chez Efi m Etkind (dans Un art en crise, de 1982) et An-toine Berman (dans L’épreuve de l’étranger, de 1984). Néanmoins, Meschonnic emploie la terminologie tradi-tionnelle du domaine et ses dichotomies tout au long de la Poétique du Traduire, ce qui le rend plus accessible à tous ceux qui en sont déjà familiarisés. Nous ferons de même dans notre texte, tout en essayant de les re-lativiser selon l’époque de leur emploi, l’auteur qui les utilise et la tendance qu’ils visent à illustrer lorsque ceci se relève pertinent.

1 Si, pour Meschonnic, la poétique est toute la littérature ; pour Cor-donnier, la littérature est l’ensemble des textes d’une culture. Ainsi, même si nos exemples sont presque toujours tirés de la littérature, notre réfl exion concerne les textes en général.

L’intraduisible comme présence de l’autre

Georges Mounin, dans un article de l’Encyclo-pédie Universalis sur la traduction, attribue au philoso-phe américain Wibur Marshall Urbain le premier article moderne sur ce sujet. Cet article, intitulé « Language and Thought », paru en 1939, considère la traduction en tant que problème philosophique, et ainsi l’opération tradui-sante et son résultat comme objets de réfl exion dignes d’être étudiés. En ce qui concerne les langues, Urban répond aux questions de son temps, des questions qui collent aux préoccupations de son époque, à savoir : la traductibilité et l’intraductibilité totale ou partielle qui peuvent être mises en relation soit avec la différence existante entre les langues, ce qui constitue un obstacle linguistique, soit avec la diversité des réalités psycho-so-cio-ethnologiques des langues, ce qui constitue un obs-tacle culturel (OSEKI-DÉPRÉ : 1999).

Bien que formulées d’une autre manière, ces questions n’étaient pas nouvelles dans l’histoire des théories et des pratiques de la traduction, car directe-ment liées aux préoccupations chères aux traducteurs de toutes les époques, préoccupations concernant les notions de fi délité et de recréation, vis-à-vis de l’auteur et du texte à traduire. En effet, des rapports intercultu-rels peuvent y mettre en évidence des modes de dire, de penser, d’agir et de se comporter trop différents, perçus comme incompatibles et donc non traduisibles (c’est ce qui se passe au XVIIIe siècle pour les traductions propo-sées par Mme Dacier de certains passages de l’Iliade, par exemple).

De ces problèmes posés par les langues en présence et par les différences culturelles, est né le my-the de l’intraduisible, même si la pratique traduisante existe depuis des siècles et atteste, par conséquent, le contraire. En effet, nous ne connaissons pas de traduc-teurs (qu’ils soient écrivain, linguiste, philosophe, ou

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autre) qui, face à ce dilemme, aient abandonné leur rôle. De fait, même ceux qui ont mis en relief l’impossibilité théorique de traduire, ont beaucoup traduit. C’est le cas de Wilhelm von Humboldt (1767-1835) qui dans l’intro-duction de sa traduction de l’Agamemnon, publiée en 1816 - après avoir fait l’analyse de la pièce d’Eschyle, s’être questionné sur les problèmes métriques rencon-trés pendant la traduction et avoir exposé des considé-rations théoriques sur cette opération interlinguistique -, remarque qu’un “tel poème est, d’après sa nature propre et dans un sens bien différent de ce que l’on dit en géné-ral de toutes les oeuvres de grande originalité, intraduisi-ble” (1816/2000 : 33) ; ou, encore, le cas d’Oséki-Dépré, presque deux siècles plus tard, lorsqu’elle commente sa traduction des Premières Histoires, de Guimarães Rosa en signalant qu’aux « yeux du traducteur, les Premières histoires (mais cela s’applique à l’ensemble de l’œuvre de João Guimarães Rosa) représentent l’exemple même du livre à la fois « impossible » à traduire et dont on peut penser qu’il est indispensable (…) de le faire » (1999 : 229). Ce type de commentaire, suivi d’explications dé-taillées sur les problèmes et solutions rencontrés par chaque traducteur, traverse les siècles. La notion d’in-traduisibilité ne peut donc pas être associée à ce qui est impossible à traduire. Elle doit correspondre à quelque chose d’autre, recouvrir des faits culturels et linguisti-ques d’une autre nature.

Pour ce qui est de la traduisibilité, le problème ne se pose pas autrement, surtout si nous nous fi xons sur une soi-disante fi délité du texte traduit par rapport au texte original car “si l’on peut être fi dèle à la sémantique, à la morphologie, à la phonétique, même à la stylistique séparément, on n’arrive jamais à réaliser toutes ces fi dé-lités en même temps” (XIAOYI : 1999 : 63).

Ainsi, d’emblée, la dichotomie intraduisible/ traduisible ne semble plus s’opposer. Elle fait peut-être partie d’un même continuum dont les extrémités, les deux pôles ne peuvent pas ou n’arrivent jamais à être atteints puisque, d’un côté, il n’y a pas de traduction pos-

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sible et, de l’autre, elle s’avère n’être qu’un pur idéal, ce qui revient à dire qu’elle n’existe pas non plus. Il y a donc de l’intraduisibilité quelque part. Il s’agit d’une in-traduisibilité à plusieurs niveaux qui se réalise pourtant par la traduction. C’est ainsi que nous posons l’intradui-sibilité et la traduisibilité sur un même axe. L’intradui-sible est alors compris ici comme manifestation d’une résistance produite par la présence du non familier, de quelque chose inconnue et étrange, diffi cile à rendre dans la langue-culture du Même (dans la langue-culture d’arrivée). Pour nous, c’est dans l’intraduisible qu’il y a possibilité de faire émerger, dans le texte traduit, la place de l’Autre. C’est où l’opération traduisante coince, trouve des résistances, demande des solutions qu’il y a possibilité d’élargir et de réveiller la capacité expressive de la langue d’arrivée car

(…) tout, le plus sublime comme le plus profond, le plus fort comme le plus délicat, peut être exprimé. Mais ces sons sommeillent, comme dans un instrument dont personne ne joue, jusqu’à ce que la nation s’y entende à les réveil-ler (HUMBOLDT : 1816 : 37).

Nous proposons dans ce texte de faire une pre-mière réfl exion sur des phénomènes présents dans le do-maine de la traductologie. Dans la première partie, nous traitons des résistances culturelles liées au rejet total de l’Autre ou à son effacement ; dans la deuxième partie, nous nous intéressons aux résistances existantes dans les langues, résistances entraînant l’émergence d’équi-valences qui permettent non seulement la traduisibilité des énoncés, mais aussi l’insertion de l’Autre dans le discours du texte traduit. Nous pensons donc que ces deux types de résistances sont en rapport direct avec la présence de l’étranger dans le discours, font émerger les enjeux du langage par le biais de la traduction, pré-cisent les relations existantes entre l’unité et la diversité des représentations signifi antes et font comprendre la façon dont les invariants et les variations sont appréhen-dés par le langage.

I RÉSISTANCES CULTURELLES

Jean-Louis Cordonnier, dans Traduction et Cul-ture, ne situe pas l’intraduisibilité au seul niveau linguis-tique, mais pense qu’elle doit être déplacée et située au niveau des rapports interculturels traversé par la diversité de langues-cultures et, par conséquent par toutes sortes de diffi cultés capables de nuire à l’intercompréhension. Le mythe de l’intraduisible et la résistance à la traduction auraient leur origine dans le mythe de Babel. Ainsi, les

(…) langues représentent en conséquence une facet-te de la fi gure du double, lequel véhicule l’inquiétante étrangeté et génère l’angoisse, car il montre le non-familier, c’est-à-dire un familier caché qui aurait dû rester secret. Le moi se sentant menacé a alors une attitude babélienne de rejet. (COORDONNIER : 1995: 27) Mais d’où peut venir cette sensation d’étran-

geté qui met le sujet si mal à l’aise devant l’Autre ? Où pouvons-nous trouver la source des résistances cultu-relles dans le domaine de la traduction ? Les langues auraient-elles donné origine à des représentations dif-férentes du monde ? Ou bien, au contraire, ces repré-

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sentations seraient bien les mêmes, mais l’unité de la pensée ne serait-elle pourtant pas suffi sante pour que les diverses langues-cultures acceptent le discours d’un Autre qui s’exprime dans un système sémiotique diffé-rent et qui est identifi é comme appartenant à des aires géographiques et culturelles étrangères ? Là, nous nous trouvons face à la grande découverte du XXe siècle, selon Sylvain Auroux (2005) : celle de la diffi culté et peut-être même de l’impossibilité de déterminer « ce qui relèverait de la pensée universelle et ce qui relèverait de la culture propre à chaque peuple ». Ceci ne nous empêche pas d’observer, d’identifi er et de poser des hypothèses sur la relation entre pensée, langage et culture à partir de la pratique du discours oral ou écrit, de mettre en évidence les situations-problèmes liées à cette relation et d’identi-fi er les solutions imaginées ou proposées par ceux qui se sont retrouvés dans des situations qui la concernent.

Nous avons rencontré dans des textes traitant de la traduction littéraire et de la traduction tout court des exemples de situations où la notion d’intraduisible peut être appliquée. Ces situations, de l’ordre du linguis-tique et du non linguistique, contraignent le traducteur à trouver des solutions en vue de proposer une version qui soit en accord avec son temps. Le traducteur fait donc des choix et, généralement, apporte des changements plus ou moins importants dans le texte de départ. Il peut même y avoir encore, pour ce qui est des résistances culturelles, de l’intraduisibilité totale qui touche les pôles de notre continuum imaginaire.

1 L’INTRADUISIBILITÉ TOTALE

Dans ce cas extrême, il n’y a pas de traduction parce que le texte de départ contient quelque chose qui se tient en dehors des normes de la langue-culture d’ac-cueil, que ce soit en termes moraux, politiques, idéolo-

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giques, éthiques... Ce « quelque chose » semble être de l’ordre de l’interdit d’où la diffi culté à le (dé)couvrir, à le (dé)voiler, à le divulguer. L’histoire de la traduction des textes religieux en France, par exemple, nous rensei-gne qu’au Moyen Âge (IXe-XVe) l’Eglise n’engageait pas de travaux visant une éventuelle version de la Bible en langue vulgaire car il y avait risque d’hérésie et crainte du bûcher.

Des théories prescriptives de la traduction, construites à partir des remarques de traducteurs-auteurs, se dégage la dichotomie entre textes religieux et textes profanes. Pour ce qui est des premiers, la tra-duction doit être respectueuse et suivre le mot pour le mot. Pour les textes profanes, la traduction se conforme à la pratique des grands classiques latins instaurée par Cicéron (106-43 av. J.-C.) où le contenu était à privilégier et la traduction utilisée comme un moyen d’accès aux Anciens pour ceux qui ne savaient pas le grec. Orientée ainsi vers la réception (vers la langue d’arrivée), la tra-duction était comprise en tant que moyen de communi-cation et suivait le sens pour le sens.

Pour les textes sacrés la notion de fi délité liée à la langue de départ ou le vouloir dire de l’auteur est illustré par la forme (le mot) ; pour les textes profanes la fi délité liée à la langue d’arrivée et au destinataire de la traduction est représentée par le sens. D’un côté, nous avons le mot (la lettre) et de l’autre le sens (l’esprit) ; d’un côté, les sourciers et de l’autre les ciblistes. Il est nécessaire de nuancer et dépasser cette dualité tout en essayant de comprendre ce à quoi les notions utilisées renvoient et pour ce faire, il faut tenir compte de la di-mension historique de la traduction. L’intraduisible est donc, dans le contexte propre au Moyen Âge, un impossi-ble parce qu’il implique d’aller contre l’ordre des choses, qui ne concerne absolument pas ce que les langues peu-

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vent exprimer, mais ce qu’elles doivent exprimer2 (dans un sens culturel). La non fi délité au mot pour le mot est donc l’intraduisible du texte sacré. Pour ce type de texte, ce serait les rhabiller avec des habits profanes et ceci n’était pas concevable.

2 MO(R)T POUR MOT DE L’INTRADUISIBLE Durant la Renaissance, la position de l’Eglise

concernant la rigueur littérale des traductions religieu-ses commence à changer avec la nécessité de diffuser la religion. Ce changement est aussi le résultat du rôle important de la traduction durant le règne de Charles V (1364-1380) qui entreprend la réunion d’une impor-tante collection de manuscrits et la création d’un grand programme de traduction (les premières traductions lit-téraires en français sont effectuées par Nicole d’Ores-me) ; puis plus tard sous François Ier (1515-1547), le livre imprimé gagne l’Europe. Le livre « se met au service de renouveau et de contestation (…). Ferment d’innovation, il est aussi objet de méfi ance, de la part du pouvoir po-litique et religieux » (BLASSELLE : 1997 : 69). Tandis que l’écriture supplante la parole, le pouvoir royal cherche à s’emparer de la culture, avec tout d’abord la fondation, en 1530, du Collège des Lecteurs Royaux (actuel Collège de France), puis la création, en 1537, du dépôt légal de tout livre imprimé et mis en vente dans le royaume (Or-donnance de Montpellier, à l’origine de la Bibliothèque Nationale), et enfi n l’instauration de la langue française comme langue offi cielle juridique par l’Ordonnance de Villers-Cotterêts, en 1539 (à l’origine d’une langue-cultu-re-mère du royaume).

2 L’idée selon laquelle la langue (par le biais du caractère obligatoire des catégories grammaticales) déterminerait les aspects de l’expé-rience devant être exprimées par le sujet parlant est soutenue par Boas (1938). Deux décennies plus tard, Jakobson la reprend lorsqu’il soutient que « les langues diffèrent essentiellement par ce qu’elles doivent exprimer et non par ce qu’elles peuvent exprimer ». Nous nous approprions donc cette même position pour réfl échir sur des faits non linguistiques ayant un impact sur la production verbale.

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Le mode de traduction des textes sacrés prend alors une autre orientation au fur et à mesure que l’Egli-se adopte les principes de clarté, d’élégance et de lisi-bilité utilisés dans les traductions de textes profanes. Cette tendance, moins forte pour les textes religieux que pour ceux profanes, n’est pas à placer du côté d’une plus grande liberté vis-à-vis de l’interprétation des textes de départ, mais du côté d’une traduction qui sert à accu-muler des connaissances, à enrichir la langue vulgaire et à renforcer le pouvoir royal autour d’un monolinguisme réducteur et unifi cateur. Il s’agissait donc d’aller vers le sens que l’on voulait donner à la langue offi cielle. Cette langue française offi cielle était celle de la cour, de l’ad-ministration, de l’armée, du droit… mais pas encore celle des français. Le traducteur avait un double rôle : d’une part, consolider la langue française, ce qui impliquait une certaine liberté et créativité pour que cette langue puisse embrasser et prendre en compte tous les domai-nes du savoir, et d’autre part servir aux commandes du Roi et de la noblesse en général, ce qui impliquait un travail sur le sens que cette langue devait véhiculer pour renforcer les pouvoirs politique, militaire et culturel de la monarchie. En fait, il s’agissait d’une double contrainte à laquelle devait se soumettre le traducteur : la mo-narchie, et le texte-source. (CORDONNIER : 1995).

Etienne Dolet (1509-1546), est l’auteur du pre-mier traité de traduction en français intitulé « La Manière de bien traduire d’une langue en aultre », qui représente, d’après Meschonnic, l’esquisse d’une poétique du tra-duire et, selon Oséki-Dépré, la première théorie de la traduction à l’époque de la Renaissance. Bien que cette période ait été favorable à la traduction des textes reli-gieux et profanes, Dolet sera victime de l’intolérance qui gagne l’Europe et le monde du livre.

Dans toute l’Europe, les persécutions contre l’imprimerie revêtent des formes variées : défenses de publier, de vendre ou d’importer certains livres ou certains types d’ouvrages ; interdiction de lire des

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éditions en langue vulgaire ; autodafés de livres ; poursuites contre les auteurs, les imprimeurs ou les libraires, qui sont souvent emprisonnés ou même condamnés à mort. (BLASSELLE : 1997 : 75)

Les accusations d’hérésie ne portent plus seu-lement sur les « dérapages » commis vis-à-vis de textes sacrés traduits, mais sur tout texte imprimé véhiculant des interprétations pouvant mettre en question les thè-mes bibliques. C’est la mort pour mot intraduisible, tra-duit. Ainsi, dans le fragment ci-dessous traduit de Platon par Dolet (fourni par Meschonnic) :

Texte de départ : (après la mort) su gar ouk eseiTraduction littérale : (après la mort) tu ne seras plusTraduction de Dolet : (après la mort) tu ne seras plus rien du tout

Notamment parce qu’ici, il semble avoir nié l’immortalité de l’âme, Dolet, à qui la langue française doit le mot traduction, employé par lui en 1540, sera pendu et brûlé sur la place Maubert à Paris.

3 L’INTRADUISIBLE EFFACÉ

A l’époque classique, les traducteurs sont des auteurs qui travaillent une langue-culture régie, achevée, dont le rayonnement dépasse largement les frontières de l’hexagone. Le prestige de cette langue est compa-rable à celui du latin et du grec. C’est une langue qui a donc réussit à remplacer les langues gréco-romaines dans l’espace européen. En France, les traductions sont considérées comme de vraies œuvres littéraires tour-nées vers le système de la langue-culture du traducteur. Pour ce faire, le traducteur-auteur s’associe à l’auteur du texte d’origine, s’approprie son contenu, prend des liber-tés par rapport à l’original et le rend au goût de son épo-que dans une écriture qui lui est propre. Il est dans une période où « (…) les barrières que l’on établit aujourd’hui

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entre original et traduction, auteur et traducteur, étaient bien plus fl uides, pour ne pas dire carrément abolies » (OUSTINOFF : 2003 : 34).

Les modes de traduire de la période classi-que s’enrichissent d’un foisonnement verbal dans une langue qui se doit d’être claire, élégante, belle et qui se construit dans l’admiration et en même temps le rejet de l’Antiquité. Cette langue-culture tournée vers elle-même, engendre et révèle son identité. La façon surabondante de s’exprimer des traducteurs classiques est presque un exercice de style : il sert à développer les idées des Anciens dans une pensée classique, c’est-à-dire s’im-merger dans l’art de la parole - cette éloquence propre aux auteurs grecs et romains, - pour refaire surface mais dans une écriture surchargée et éloquente propre à leur époque, le XVIIe siècle. Pour ce faire, ce siècle si attaché à la raison, tentera de mettre de l’ordre dans le monde de la traduction en créant un réseau de déformations nécessaires (des additions, des suppressions et des mo-difi cations) pour que la fi délité à la langue d’arrivée et au public puisse être obtenue. Oséki-Dépré (1999) rajoute, aux déformations liés à la traduction classique qui vien-nent d’être citées, « l’ennoblissement », la « majesté » et la « recherche d’un nouveau rythme » souvent rapportés par des paraphrases allongeantes.

C’est donc à partir de cette façon de penser la relation entre l’auteur et le traducteur, entre le texte original et son double traduit, que nous pouvons com-prendre Perrot d’Ablancourt (1606 – 1664), traducteur-auteur clé de l’époque classique, lorsqu’il oppose raison et parole afi n d’expliquer les transformations du texte source qu’il s’oblige d’effectuer pour le rendre clair :

J’ay esté à la raison sans m’attacher aux paroles. Car on ne peut estre autrement qu’obscur dans la traduction d’un Auteur embroüillé (cité par Oséki-Dé-pré : 1999).

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ou encore lorsqu’il explique ce dont il est de bon ton ou possible d’exprimer pour la société de son époque :

Il y a beaucoup d’endroits que j’ai traduit de mot à mot, pour le moins autant qu’on le peut faire dans une traduction élégante ; il y en a aussi où j’ai consi-déré plutôt ce qu’il fallait dire, ou ce que je pouvais dire, que ce qu’il avait dit (…) (D’ABLANCOURT : 1664 : 56).

Les dichotomies clarté/obscurité, raison/paro-le et sens/forme s’accentuent et le principe de la traduc-tion libre développe le modèle des « Belles Infi dèles3 ». Cette façon de traduire conforme aux bienséances so-ciales d’une certaine époque, persiste jusqu’à la fi n du XIXe siècle. Cela est peut-être dû à la consolidation du pouvoir de la langue offi cielle française et à la réception (toujours demandeuse) de ce type de texte, bien que l’ac-tivité traduisante, à partir du XVIIIe, ait perdu le prestige social et artistique qu’elle avait obtenu dans les siècles antérieurs.

Mme Dacier (1651-1720), attachée aux An-ciens, développe son rôle de traductrice en travaillant directement sur le texte original puisqu’elle connaît bien et la langue et la culture de la Grèce Antique. A une époque où comme l’estime Montesquieu dans Les Let-tres Persanes (1721), les traducteurs ne pensent pas par eux-mêmes et travestissent « les sublimes génies » qu’ils traduisent, Mme Dacier a su bien se défendre et devenir célèbre. Elle a exposé les problèmes qu’elle avait rencontré lors de ses traductions, notamment cel-le de l’Iliade, traduction en prose publiée en 1699. Les diffi cultés rapportées ne concernent pas seulement les caractéristiques linguistiques des langues en présence,

3 Expression créée par le grammairien et lexicographe Gilles Ménage (1613 - 1692), qui était du parti des Anciens, pour critiquer ce modèle substituant aux textes anciens et classiques (écrits pour être dits), des textes en prose (écrits pour être lus).

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mais également les caractéristiques poétiques et mo-rales des textes et des cultures. Oséki-Dépré (1999) et Oustinoff (2003) fournissent des exemples concernant les diffi cultés avouées par Mme Dacier ou trouvées dans ses traductions, pour rendre en français certains faits et idées véhiculés dans le texte d’Homère. Ainsi, ces théoriciens ont identifi é des passages où par exemple les comparaisons homériques n’ont pas été reproduites, mais remplacées par des périphrases, et d’autres où des scènes amoureuses sont supprimées ou raccourcies et où des expressions et des mots jugés grossiers devien-nent élégants.

Pour ce qui est des comparaisons, l’exemple est celui d’Ajax comparé à un âne. Mme Dacier la rem-place par la formulation suivante : « comme on voit l’ani-mal patient et robuste, mais lent et paresseux ». Cette manière de s’exprimer lui permet d’éviter la comparai-son entre Ajax et un âne, trouvée dans le texte d’origine, jugée grossière et de mauvais goût par Mme Dacier.

En ce qui concerne les suppressions de passa-ges du texte, l’un des raccourcis effectué par la traduc-trice concerne le Chant III qui comprend une scène entre Paris et Hélène. Ce passage peut être comparé avec la traduction du même texte, réalisée beaucoup plus tard, en 1867, par Leconte de Lisle :

Et ne pensons plus qu’aux plaisirs… A l’île de kranaé, vous voulûtes bien consentir à me prendre pour mari… Et me parlant ainsi, il se leva pour aller dans une autre chambre, et Hélène le suivit.

Mme Dacier

Viens ! Couchons-nous et aimons-nous. Jamais le désir ne m’a brûlé ainsi même lorsque naviguant sur ma nef rapide, après t’avoir enle-vée de l’heureuse Lakedaimön, je m’unis d’amour avec toi dans l’île de Kranaé, tant que j’aime mainte-nant et suis saisi de désirs. Il par-la ainsi et marcha vers son lit, et l’épouse le suivit, et ils se couchè-rent dans le lit bien construit.

Leconte de Lisle

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Enfi n, nous pouvons observer les transforma-tions apportées aux textes, dans un passage où Agame-mnon parle de Chryséis :

Elle a soin de son litMme Dacier

Partager son litLeconte de Lisle

puis dans un autre fragment où Achille insulte Agame-mnon:

Insensé, à qui les fumées du vin troublent la raison

Mme Dacier

Lourd de vin, cœur de cerf, œil de chien

Leconte de Lisle

Ces quelques exemples servent à constater

que la fi délité de Mme Dacier aux textes de départ est toute relative. Elle propose une traduction bien de son temps : qui recule devant l’intraduisible en proposant des versions allongées, de style élevé, qui gomment les différents registres langagiers de l’original, ou bien enco-re en proposant des textes élagués, qui suppriment des idées ou des scènes considérées osées ou choquantes pour la mentalité de la langue-culture d’arrivée.

L’intraduisible indique la présence de l’Autre. Si cette présence pose un obstacle insurmontable pour une époque donnée, la traduction n’a pas lieu. Nous venons de présenter comme exemple des événements passés lointains, mais l’intraduisibililité est toujours d’actualité. Les Versets Sataniques ne sont toujours pas accessibles dans les pays musulmans, et ce n’est pas une simple interdiction qui a été lancée contre ce texte, mais une fatwa qui menace de mort Salman Rushdie et tous les participants à l’édition de ce livre. Et effectivement, le traducteur japonais des Versets a ainsi été assassiné, poignardé. Historiquement, les mises à l’Index par l’Eglise catholique ont eu également pour but d’empêcher la lec-ture de certains livres interdits dont la liste a existé jus-que dans la deuxième moitié du XXe siècle. Cette censure s’est parfois accompagnée d’autodafé, bûcher de livres

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brûlés parce que jugés non lisibles. Aux autodafés du ca-tholicisme, il faut ajouter les camps de concentration du nazisme, les prisons du fascisme, le goulag du commu-nisme et la chasse aux sorcières du maccarthisme. Pré-cisément en 1953, avec Fahrenheit 451 (température à laquelle le papier brûle spontanément), Ray Bradbury dénonce dans ce roman de sciences-fi ction de mise, tou-tes destructions d’écrits mêmes symboliques par la cen-sure. Par contre l’Enfer4 de la Bibliothèque Nationale de France, de nos jours encore, préserve de leur destruction éventuelle les ouvrages qui ont fait ou font l’objet d’une interdiction institutionnelle, tant gouvernementale que commerciale. Paradoxalement, grâce au dépôt légal, ces livres menacés et non communicables sont aujourd’hui précieusement conservés.

Il existe ainsi tout un monde de textes dans une situation de non lisibilité, non pas parce qu’ils sont illisi-bles, mais pour des raisons diverses, y compris celles liées au prestige d’une langue, aux politiques linguisti-ques ou au poids économique des pays de langues-cultures dominantes. Dans ces cas, les livres tardent à être traduits ou ne le seront jamais. Ils sont dans l’intraduisible.

4 L’Enfer est une salle spéciale de la Bibliothèque Nationale qui re-groupe depuis le début du XIXe siècle une collection d’ouvrages qui ne peuvent pas être consultés parce qu’interdits. Ces livres sont re-connus par le préfi xe de leur cote « Enfer- ».

II RÉSISTANCES DE LA LANGUE

Nous allons traiter des questions concernant la pensée et le langage dans la traduction, c’est-à-dire par le biais de l’opération traduisante et de son produit. Nous avons déjà observé que le traducteur est face à un écart culturel qu’il est ou qu’il n’est pas en mesure de traiter. Dans ce dernier cas, apparaît ce que nous avons intitulé l’intraduisibilité totale. Cette impossibilité de tra-duire n’est pas posée par l’Autre lui-même, mais par le refus du Même à toute sorte d’étrangeté, « qu’elle soit étrangère ou non » (CORDONNIER : 1995 : 34). Nous allons essayer de démontrer que cet écart culturel est aussi présent dans le discours, même lorsque le phénomène langagier à travailler est ponctuel, même lorsqu’il y a focalisation sur des énoncés assez courts. Le passage d’un système à l’autre touche toujours le sens puisqu’il n’y a pas d’équivalence entre les unités codées dans les langues. En fait, l’équivalence

(…) est une notion à tout faire, dans la traduction. Elle est aussi fl oue que la fi délité. Pouvant se situer à des niveaux divers. Elle suppose obscurément une synonymie que le discours récuse. Mais elle est mal-léable. Elle peut passer de la langue au discours, du discontinu au continu. Elle se résout en recettes de

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stylistique comparée, dans la langue. Elle peut aussi bien s’appliquer au rythme et à la prosodie, dans le discours (MESCHONNIC : 1999 : 28).

Le recodage d’une langue par une autre lan-gue doit donc passer par une analyse des possibilités de chacune d’entre elles d’où le besoin, pour le traducteur et le chercheur, de maîtriser les deux systèmes en pré-sence et la connaissance des visions du monde qui y sont attachées.

1 EQUIVALENCE ET LEXIQUE

Le mot pour mot se réfère à une manière de traduire ancrée dans l’histoire de la traduction. Il est né-cessaire de l’associer d’abord aux traductions de textes religieux et à l’idée de respect et de fi délité envers le tex-te de départ. Le texte d’arrivée devait contenir presque le même nombre de mots et de lettres du texte original. Ainsi, la traduction littérale serait la seule à ne pas alté-rer les documents sacrés. Dans le contexte de la traduc-tion, la Bible est l’exemple de texte religieux par excel-lence. Elle a été traduite dans plus de 2.230 langues et pour chaque langue, il peut y en avoir plus d’une version. C’est donc par le biais de la Bible que des problèmes liés à l’interprétation, aux différentes manières de lire et de rendre le texte, ainsi que l’existence d’une intra-duisibilité relative des langues-cultures, ont fait surface. Ces problèmes révèlent que la fi délité au texte de départ n’est pas garantie par le mot à mot et ceci en dépit de l’intention de son traducteur. Chateaubriand, par exem-ple, a traduit Paradise Lost de Milton, sûr d’être fi dèle à l’auteur et d’avoir valorisé l’originalité et l’individua-lité de son œuvre parce qu’il avait, comme il l’a avoué dans ses Remarques à la publication de sa traduction en 1836, « calqué Milton à la vitre ». Il insiste sur le fait qu’il s’agit d’une

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(…) traduction littérale dans toute la force du terme (…), une traduction qu’un enfant ou un poète pour-ront suivre sur le texte, ligne à ligne, mot à mot, comme un dictionnaire ouvert sous les yeux (cité par Oséki-Dépré : 1999).

Néanmoins, la traduction de Chateaubriand ne reproduit pas le texte de Milton tel qu’il est dans la lan-gue originale. Pour ne citer qu’un exemple, la traduction proposée par Chateaubriand du texte de Milton, écrit en vers, devient prose dans la langue d’arrivée. Rien que ce choix, qui instaure une différence de genre, indique que le traducteur a bien fait autre chose que du mot à mot. D’après plusieurs théoriciens et traducteurs (dont Goethe, qui est son contemporain, mais aussi Cordon-nier, Oséki-Dépré, Meschonnic, Oustinoff), il a effectué un croisement entre les deux langues dans lequel le texte d’origine trouve une place au sein de la langue traduisante. Chateaubriand est allé au-delà du mot à mot. Il a sans doute employé « traduction littérale » pour s’opposer à traduction libre, celle adoptée par les tra-ducteurs des Belles Infi dèles, mais pour ce qui est du « ligne à ligne » et du « mot à mot », il ne le fait pas. Il fait plutôt de la « traduction littérale » dans le sens utilisé par les romantiques allemands, c’est-à-dire comme moyen d’enrichir la langue, la littérature et la culture de la lan-gue d’arrivée et de « féconder le Propre par la médiation de l’Etranger » (BERMAN : 1984 : 16). Oséki-Dépré met en évidence, entre les procédés utilisés par Chateaubriand lors de la traduction de Paradise Lost,

(…) le respect, voire le calque de la syntaxe anglaise au détriment des règles du bon usage français, la ci-tation (…), la création de néologismes, le respect des « mots horribles » et des « mots communs », donc des différents niveaux du texte (...) (1999 : 48).

Le mot à mot est donc un impossible. De fait, c’est au niveau lexical que la fi délité à l’auteur et au texte de départ a le plus de mal à se concrétiser puisqu’

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(…) aucun mot d’une langue n’équivaut parfaitement à un mot d’une autre langue. Des langues différen-tes sont à cet égard comme autant de synonymes ; chacune exprime le concept avec une différence, avec telle ou telle connotation, un degré plus haut ou plus bas sur l’échelle des sentiments (HUMBOLDT: 1816 : 33).

La conception de langue en tant que nomen-clature est mise en doute par l’équivalence partielle entre les mots de deux langues différentes, c’est-à-dire qu’à une nomenclature donnée, celle de la langue de départ par exemple, ne correspond pas une autre no-menclature, celle de la langue d’arrivée. Le mot à mot est déjà régi par l’équivalence.

Les contenus des mots, selon une perspec-tive humboldtienne, sont façonnés subjectivement et appartiennent à chaque langue de façon particulière, n’existant pas en dehors de leurs signifi ants. De plus, les mots prennent leurs signifi cation dans le discours (intitulé « Rede », par Humboldt), car l’ « esprit » ou le « sens » n’existent pas à priori, mais doivent ressortir de l’ « organisation plastique des éléments signifi ants en ensembles discursifs » (THOUARD : 2000 : 25). Les visions les plus diverses peuvent se faire représenter par des mots. Chaque mot est un espace d’indétermination pour ce qui est des contenus, et c’est justement cette indé-termination qui rend la spontanéité et la pensée possi-bles, une fois précisée par le fl ux du discours donneur de sens et de contenu. L’intraduisible est dans le mot, dans l’aire sémantique du mot, dans le nombre d’acceptions qu’il peut prendre en fonction des combinaisons dans lesquelles il entre, selon les types d’énoncés. L’Autre est dans le mot. L’intraduisible total d’un mot est, dans la pratique, un emprunt. Le recours à l’emprunt n’est plus du mot (de la langue de départ) à mot (de la langue d’ar-rivée), mais une solution à un problème qui concerne le mot à mot.

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Rahmouna Mahadji, traductrice des contes oraux algériens, explique les raisons de sa décision de conserver le mot « darra » dans le texte de sa traduction de « Dlala aux yeux de gazelle ». Dlala est une jeune fi lle qui fuit sa maison devant le danger de l’inceste. Sa mère la supplie de revenir en utilisant comme arguments le fait qu’elle soit sa fi lle et qu’elle n’ait rien à craindre. Dlala lui répond alors : « Avant tu étais ma mère, mainte-nant tu es devenue ma darra ». La traductrice justifi e son choix en mettant en évidence qu’il s’agit d’un concept qui n’existe pas dans la langue-culture d’accueil. Le terme renvoit à un lien de parenté propre à la culture arabo-musulmane : celui qui unit les femmes légitimes mariées à un seul homme. Le terme renvoit également à un sens affectif doté d’une connotation péjorative. Ainsi, « prendre une deuxième femme », « nuire », « porter at-teinte » ou « faire mal » sont des entrées, dans les dic-tionnaires arabo-français, pouvant correspondre au mot « darra ». Mais ici, le mot arabe recherché ne correspond pas à une seule des entrées fournies dans les diction-naires en question. Aucune entrée ne correspond au mot du fragment à traduire car son sens premier, en arabe, doit être accompagné d’une connotation dépréciative (nuire, porter atteinte ou faire mal) qui n’existe pas dans « prendre une deuxième femme ». L’emprunt est, par conséquent, l’une des brèches par lesquelles l’Autre est introduit dans la langue d’arrivée.

2 EQUIVALENCE ET CATÉGORIES GRAMMATICALES OBLIGATOIRES

Dans « From ‘thought and language’ to ‘thinking for speaking’ », Dan I. Slobin se propose de réexaminer la relation qui existe entre la pensée et la langue. Il évo-que, notamment, les travaux de Wilhelm von Humboldt (1767-1835) et de Benjamin Lee Whorf (1897-1941), se-lon lesquels les concepts n’ont pas d’existence indépen-damment du langage. La pensée et la langue seraient indissociables.

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Dan I. Slobin adopte un point de vue un peu différent en s’intéressant plus particulièrement à ce qui se passe au moment même de l’énonciation. Son but est celui d’identifi er le rôle de la langue dans l’expression de la pensée. C’est donc un prolongement de la linguistique anthropologique dont il s’agit, mais selon une approche moins déterministe de la diversité linguistique représen-tée surtout par Whorf5. Il se réfère pour cela, aux travaux de Franz Uri Boas (1858-1940) pour qui le caractère obligatoire des catégories grammaticales d’une langue détermine les aspects de chaque expérience qui doivent être exprimés. Chaque langue imposerait « à ses locu-teurs le dicible – c’est-à-dire les confi gurations linguis-tiques qui font sens » (FUCHS : 1997 : 8). Il y aurait des dimensions de l’expérience enchâssées dans les caté-gories grammaticales des langues. De plus, ces aspects varieraient en fonction de la langue utilisée, pouvant être nombreux dans une langue et rares dans une autre langue. Nombreuses ou rares, les catégories considé-rées essentielles par les locuteurs d’une langue donnée peuvent ne pas l’être pour des locuteurs d’une autre, ce qui n’altère pas l’effi cacité du discours propre à chacune d’entre elles. Afi n de cerner ce phénomène, l’idée est celle de comparer les manières dont les locuteurs de dif-férentes langues représentent verbalement les mêmes événements6. Ces différentes représentations peuvent aussi fi gurer dans des ouvrages sur la traduction où il est possible de trouver des fragments de texte suivis de

5 Considéré par Catherine Fuchs comme un précurseur « dont les vues audacieuses sur le rôle du langage dans la cognition explique-raient l’incompréhension et l’hostilité dont il a été l’objet de la part de ses contemporains, et des générations suivantes » (1997 : 8). 6 Afi n de vérifi er leurs hypothèses, Dan I. Slobin et ses collabora-teurs ont demandé à des enfants et des adultes parlant des langues différentes (allemand, anglais, espagnol et hébreu) de rapporter les événements représentés par une série d’images. A partir de ce tra-vail comparatif sur plusieurs langues, leur objectif était de voir si les récits comportaient des différences notables selon les langues dans lesquelles ils avaient été formulés. Plus précisément, les relations spatiales et temporelles ont été étudiées.

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plusieurs versions réalisées dans différentes langues (ce qui permet la comparaison interlinguistique), ou dans un même système linguistique (ce qui rend possible des comparaisons interlinguistiques et intralinguistiques). Dans ces différentes versions, nous repérons souvent des fragments contenant des ajouts, des enlèvements, des nuances, vis-à-vis du texte de départ, et résultant des caractéristiques respectives de chaque système lin-guistique employé. Nous pouvons aussi nous appuyer sur nos expériences interlinguistiques et interculturelles, lors de traductions et de productions de textes écrits ou oraux. Au cours de ces expériences, nous avons souvent des intuitions, fréquemment laissées de côté, sur le fonctionnement des langues en présence.

Pour Slobin, chaque langue représente une orientation subjective vers le monde et cette orientation affecte notre manière de penser lorsque nous nous ex-primons. Il considère que tout énoncé est déterminé par ce que le locuteur a vu ou expérimenté, par son intention de communication, mais également par les distinctions existant dans la grammaire de la langue dans laquelle il s’exprime. En effet, celle-ci peut ne pas s’occuper des images mentales ou de la réalité perceptible (comme l’imaginait Boas), mais plutôt des distinctions relevant du discours7. L’hypothèse sous-jacente est qu’il existe un certain type de pensée lié à la langue, mobilisé dans la production du discours, ce que Slobin a nommé « penser pour parler ». Par conséquent, lorsque nous acquérons notre langue maternelle (ou nos langues maternelles, si cela est le cas), nous apprenons les formes particulières de cette « pensée pour parler». Ainsi

(…) l’activité de penser prend un caractère particu-lier quand elle est employée dans l’activité de parler.

7 Les constructions actives et passives, par exemple, ne sont pas dans la perception, mais servent à organiser le fl ux d’information dans le discours. Elles topicalisent un élément pour qu’il serve de repère à la construction de l’énoncé.

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Dans le temps éphémère des énoncés construits en discours, on adapte ses pensées à des cadres lin-guistiques disponibles (SLOBIN : 1991).

Nous allons utiliser quelques exemples des lan-gues, fournis par l’auteur, centrées soit sur des satelli-tes, soit sur le verbe. Par le biais de ce phénomène, se déclenche l’apparition ou l’absence d’éléments pouvant déterminer ce qui doit être dit, ce qui doit être sous-en-tendu et se développe le style rhétorique propre à cha-que langue.

Anglais LM : The bird fl ew down from out of the hole of the tree(l’oiseau vola en bas d’en dehors du trou de l’arbre8)Espagnol LM : El pajaró salió del agujero del árbol volando hacia abajo (l’oiseau sortit du trou de l’arbre en volant juqu’en bas) (l’oiseau sortit du

trou de l’arbre en volant juqu’en bas)

Comme il est possible de l’observer, en anglais, le verbe exprime la manière selon laquelle le mouvement est réalisé (fl ew) et les particules (ou satellites) expri-ment la direction du mouvement (down from out of). En espagnol, le verbe exprime la direction du mouvement (salio = de l’intérieur vers l’extérieur) et la manière est exprimée par un gérondif (volando). Cette différence est typique entre ces deux langues et a des effets sur l’orga-nisation du discours. En espagnol, il n’est pas possible d’exprimer la manière et la trajectoire par des expres-sions composées de façon compacte, comme c’est le cas en anglais. La grammaire de l’espagnol n’admet donc pas l’accumulation d’expressions de direction, même si théoriquement cela pourrait être possible, compte tenu de l’existence d’éléments dans cette langue suffi sam-ment nombreux pour la réaliser. D’après Leonard Talmy (1985), l’espagnol et l’anglais s’opposent pour ce qui est de la verbalisation des événements de mouvement dans l’espace. Ainsi, l’espagnol est une langue centrée sur le

8 Les versions proposées en français suivent de près l’arrangement des éléments de l’anglais et de l’espagnol pour que les exemples puissent être mieux compris.

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verbe, tandis que l’anglais est une langue centrée sur des satellites.

Les prépositions employées par les hispano-phones fournissent des spécifi cations minimales pour ce qui est de la localisation. Parfois, lorsque celle-ci ne peut pas être sous-entendue, les locuteurs sont amenés à faire des descriptions statiques des composants de la scène, et par ce moyen les trajectoires peuvent ainsi être inférées. C’est ce qui se passe dans l’exemple ci-après en espagnol LM:

Espagnol LM: El niño metió la rana en el frasco que había abajo (le garçon mit la grenouille dans le bocal qui était en bas)

Ce type de solution très courant explique le nombre important des propositions relatives en espa-gnol. En fait, le verbe « meter » entraîne une interpréta-tion de la préposition « en » qui signifi e dans ce contexte « dans », tandis que la proposition relative indique la trajectoire de « meter » : vers le bas puisque le bocal se trouve localisé sur le sol, par terre tout près du garçon.

A partir de ces exemples de style rhétorique, qui ne ciblent qu’un aspect précis des deux langues en présence, la localisation et le mouvement dans l’espace, nous constatons une nette différence de traitement. L’espagnol possède des trajectoires peu élaborées. El-les sont données par l’association d’un verbe de change-ment de lieu, à des relatives servant à décrire des confi -gurations de localisations statiques. En conséquence, les locuteurs assertent les directions et les localisations. L’anglais, lui, possède des trajectoires élaborées de dé-placement, le locuteur asserte donc les trajectoires, et exclu l’utilisation de propositions relatives pour fournir des détails de localisation et de circonstance. Il y a donc, une tendance chez les anglophones d’une part à porter attention à la dynamique du mouvement et d’autre part à ne donner que peu d’informations sur le cadre du récit. Les états de localisation résultants devant être inférés.

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Chez les hispanophones à l’opposé, l’on a tendance à porter attention au cadre de la scène, ce qui est attesté par la production abondante de récits contenant des descriptions statiques du cadre. La trajectoire est donc à inférer.

Ces mêmes phénomènes ont été repérés dans des textes littéraires où Slobin a analysé la description du mouvement des personnages lorsqu’ils se dépla-çaient dans l’espace. Il s’est intéressé à voir comment pour un même contenu, les traducteurs passaient d’une langue à l’autre. La question était de savoir dans quelle mesure, face notamment à l’abondance de détails trou-vés en anglais pour ce type de phénomène, le traduc-teur restait « fi dèle », proche de la langue de départ. Les résultats d’une telle comparaison interlinguistique ont démontré que les langues diffèrent les unes des autres, non seulement par la présence ou l’absence d’une ca-tégorie grammaticale, mais par les manières dont elles attribuent des ressources grammaticales à des domai-nes sémantiques communs (comme dans l’exemple ci-dessus qui concerne le domaine de l’espace). De plus, il a constaté que les anglophones, lorsqu’ils produisent des textes en espagnol expriment, infl uencés par leur langue, les trajectoires plutôt que la situation, contrai-rement aux hispanophones. La recherche menée par Slobin, suggère la possibilité de penser (conceptuali-ser) dans la langue maternelle et de parler (articuler ou écrire) dans la langue étrangère, ce qui peut donner lieu à des transferts linguistico-cognitifs ; et inversement, lorsque le locuteur emploi sa langue maternelle, c’est-à-dire la langue d’arrivée dans le cas de la traduction, il peut se produire que des événements ou expériences importantes sous la perspective de la langue de départ, échappent, ou soient laissés de côté ou ignorés même (BRUM-DE-PAULA : 2005).

Les exemples étudiés ici, soulignent les diffé-rences de représentation linguistique, pour l’anglais et

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l’espagnol, dans un seul domaine conceptuel : l’espace. Ces deux langues ne peuvent pourtant pas être considé-rées comme représentantes de deux pôles extrêmes. La différence ici concerne la référence à l’espace et seu-lement à l’espace. Pour ce qui est d’autres domaines, elles peuvent tantôt se comporter autrement tantôt pré-senter des fonctionnements similaires. C’est d’ailleurs ce qui se passe pour les relations temporo-aspectuelles qui rendent plus proches les deux systèmes linguisti-ques en question. Selon cette perspective, les langues se rapprocheraient pour ce qui est de certains phénomè-nes et s’éloigneraient vis-à-vis d’autres, ne se trouvant jamais complètement proches ou loin l’une de l’autre. L’équivalence textuelle se réaliserait par l’intermédiaire du découpage de la réalité, ou par le choix de traits sé-mantiques (sur les plans lexical, syntaxique, discursif, cognitif) qui ne sont pas toujours les mêmes dans les langues du monde.

L’approche ethno-linguistique whorfi enne, re-découverte et réinterprétée par les perspectives repré-sentationnelles du langage, n’est donc pas à considérer comme

(…) une sorte de scepticisme philosophique qui ren-fermerait chaque communauté linguistique dans une vision du monde irréductiblement spécifi que (« à chaque langue sa vérité, c’est-à-dire sa conception du monde ») mais bien plutôt au principe de la relati-vité en physique, où la position de l’observateur dans l’espace modifi e sa vision de l’objet observé (« à cha-que langue sa position d’observation de la réalité) (FUCHS : 1997 : 10).

3 EQUIVALENCE ET RELATIVITÉ DES LANGUES

Entre les énoncées ci-après comportant le titre d’un conte de Jorge Luis Borges, nous constatons l’exis-tence d’équivalences formelles et sémantiques :

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Texte de départ: Utopía de un hombre que está cansadoTexte d’arrivée 1: Utopie d’ un homme qui est fatigué Texte d’arrivée 2: Utopia de um homem que está cansado

Nous avons deux traductions du type mot à mot où nous constatons un même arrangement des élé-ments dans le discours, donc une même linéarisation. Nous observons aussi que, pour le couple de langues es-pagnol-portugais, il existe un recouvrement de sens plus grand que celui rencontré dans le couple de langues es-pagnol-français. Est-ce qu’il s’agit d’un effet voulu par le traducteur ? Si nous suivons Slobin, le traducteur n’y est pour rien. La diversité des langues entraînerait une di-versité de représentations du monde où les informations véhiculées dépendraient de la langue utilisée par le su-jet du discours. Dans les langues du monde, et pour cha-que langue en particulier, des catégories grammaticales seraient obligatoires, elles s’imposeraient au locuteur et imposeraient des informations à véhiculer.

Dans les énoncés ci-dessus, le trait temporel qui indique une situation temporaire, présent dans « un hombre que está cansado » et « um homem que está cansado », est ainsi explicité dans les langues espagnole et portugaise. Ces langues, dans ce cas, font la distinc-tion entre les états permanents et les états passagers, constants et ponctuels. Mais, pour la langue française, ceci n’est pas le cas. Aussi les francophones ont du mal à apprendre les fonctions que prennent ser et estar dans le discours. Ainsi, dans « un homme qui est fatigué », il reste une ambigüité qui ne sera levée seulement qu’avec la lecture du conte. Cette distinction est de l’ordre de ce que nous appelons intraduisible partiel : l’Autre fait surface, mais une partie du découpage effectué par la langue de départ n’apparaît pas ou doit être rajoutée dans la langue d’arrivée. En effet, dans « un homme qui est fatigué », il y a perte de l’état provisoire et transitoire rapporté en espagnol et en portugais.

Dans le sens contraire, le traducteur du fran-çais qui traduit un texte en portugais ou en espagnol de-

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vra obligatoirement expliciter cet état, aller dans le sens d’une précision en ce qui concerne la durée à rapporter. Soit la fatigue est persistante (l’homme est malade, par exemple ou a un mal de vivre permanent) ce qui deman-de l’emploi de ser ; soit la fatigue est temporaire et le traducteur doit utiliser estar.

Nous avons voulu illustrer par ces exemples le fait que la langue opère un découpage de la réalité sus-ceptible de varier d’un système linguistique à l’autre. Ce découpage est donc lié à une certaine manière de voir le monde par le biais du langage. Ceci va dans le sens de l’existence d’un lien entre conceptualisation linguistique, culture et pensée et, par conséquent, d’une diversité des représentations construites à travers les langues. Cette façon de concevoir la diversité linguistique, propre à une certaine ethno-linguistique et aux perspectives représentationnelles du langage, dérange les tenants d’une approche computationnelle9, représentée par le cognitivisme inspiré de la linguistique formaliste choms-kienne, car si les langues, les pensées et les cultures sont différentes, comment pouvons-nous passer d’une langue à l’autre ? C’est donc la problématique générale des relations entre pensée, cognition et langage qui est en jeu.

Si le lexique, les phrases et les structures syn-taxiques des phrases ne sont pas interprétées en termes d’expression d’un système universel de concepts posé à priori et en termes de formules logiques universelles, comme le veut l’approche computationnelle, alors la construction d’équivalents refait surface par le biais de la comparaison interlinguistique. Il s’agit du repérage des confi gurations signifi antes différentes (ou similaires) à l’intérieur de l’organisation des énoncés de chaque

9 L’approche computationnelle prône l’universalité de la pensée qui serait extrinsèque à la langue et perçue comme phénomène indépen-dant du langage, ce qui expliquerait la traduction. Il y aurait possibilité d´éliminer les différences interlinguistiques, puisqu’elles seraient su-perfi cielles. L’équivalence entre les langues pourrait alors être établie à travers la conservation d’une substance informative commune.

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langue et de la transposition d’une langue à l’autre d’un certain nombre de propriétés analogiques. Les confi gu-rations signifi antes construites par l’organisation des énoncés d’une langue ressemblent à

(…) un changement dans le système de coordon-nées d’observation (...), alors c’est la conceptuali-sation même du référent qui s’en trouve modifi ée, et l’équivalence serait plutôt à penser de façon dynamique, un peu à la manière dont la géométrie appréhende l’invariance derrière diverses transfor-mations de fi gures dans l’espace (par rotation, trans-lation ou symétrie). (FUCHS : 1997 : 18)

Une grande partie des diffi cultés rencontrées lors de l’acquisition d’une langue étrangère tient à la prégnance de ces différentes confi gurations (construi-tes avec des ressources lexicales et morpho-syntaxiques propres à chaque système linguistique). Ces confi gura-tions sont aussi source de résistances lors de l’opéra-tion traduisante. Les franchir est traduire, reconfi gurer, transformer donc, et si cela est possible, tenter d’insérer l’Autre dans la langue d’arrivée. C’est donc un enjeu ma-jeur de la traduction où l’intraduisible devient traduisi-ble, du moins partiellement.

CONCLUSION

La constatation de résistances imposées à la traduction, par les cultures et les langues face à face, affi rme l’existence De l’Autre dans l’intraduisible. Si cette présence n’est qu’une source de résistances, le traducteur peut toujours traduire puisque la « préten-due intraduisibilité se dissout en traduisibilité (…), par le simple recours à des modes de rapport existant na-turellement et historiquement entre les langues » (BER-MAN : 1984 : 302), mais ceci ne s’avère pas toujours si simple dans l’histoire de la pratique de la traduction. La solution la plus courante et facile - face aux marques de l’étranger, de sa pensée et de son mode d’expression - se trouve souvent dans son effacement, dans sa « dé-formation » (suivant les termes de Berman) ou dans sa « désécritude » (selon Meschonnic). Ainsi, même si cela semble contradictoire, la destruction de l’Autre peut être un acte lié à la notion de fi délité. Tout dépend des mo-des de traduire d’une époque, de la fi délité à sa « visée traductive ». La « fi délité d’une époque paraît infi délité plus tard, parce qu’elle était sans le savoir une fi délité non au texte, mais à l’époque » (MESCHONNIC : 1999 : 57). La vraie question que nous devons nous poser alors ne concerne-t-elle pas ce à quoi les traducteurs doivent être fi dèles ?

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La notion d’intraduisibilité ne pose donc pas d’impossibilité à passer un texte d’une langue à l’autre. C’est bien l’intraduisibilité de l’Autre qui est en question. Elle doit être comprise en tant que défi dans lequel le traducteur, à partir des connaissances qu’il possède du milieu culturel de la langue de départ, du système lin-guistique de la culture de départ, de sa compréhension du texte d’origine et des connaissances de sa propre lan-gue-culture, choisit entre préserver, réduire ou effacer l’Autre. S’il est relativement facile d’imaginer comment opérer pour effacer ou réduire la présence de l’étranger, la nouvelle question qui se pose n’est-elle pas précisé-ment : comment pouvons-nous préserver la présence de l’Autre ?

Les équivalences a priori ne possèdent pas la capacité de la préserver dans son intégralité car elles utilisent essentiellement ce que la norme orale ou écrite impose au locuteur. Or, celui-ci comme le démontre Dan I. Slobin utilise très rarement les options qui diffèrent de cette norme même lorsqu’elles existent. Humboldt pensait déjà que ces options sommeillaient, « comme dans un instrument dont personne ne joue, jusqu’à ce que la nation s’y entende à les réveiller ». Puis, Jakobson aussi va dans ce sens lorsqu’il met en évidence que les langues expriment ce qu’elles doivent exprimer et non ce qu’elles peuvent exprimer. Pour préserver l’Autre il faudrait donc, réveiller les possibilités de la langue et exprimer ce qu’elles peuvent exprimer, ce qui revient à aller au-delà de la norme. Mais alors comment élargir la capacité de la langue, comment forcer la langue d’ar-rivée dans le sens de la langue de départ, c’est-à-dire comment aller au delà de la norme ?

Meschonnic (1999) propose de retenir non pas la traduction de ce que les mots ne disent pas, mais de ce qu’ils font, ce qui implique la reconnaissance du traducteur en tant que créateur d’un langage ayant sa propre histoire. C’est ainsi que l’original et le texte tra-duit deviennent des productions d’égale valeur. Garantir

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la présence de l’Autre dans le texte d’arrivée reviendrait donc à rendre le sens du texte d’origine dans sa forme, dans une position décentrée vis-à-vis des deux langues-cultures en présence. Ce qui est proposé serait en quel-que sorte une recréation dans la fi délité.

Nous avons tenté de rapprocher des domaines qui, selon notre perspective, ne doivent pas penser la traduction séparément, ce qui se passe souvent entre la linguistique et la littérature (qu’il s’agisse d’une littéra-ture comparée ou d’une poétique du traduire), et d’aller vers l’idée selon laquelle la « traductologie ne se consti-tuera qu’en coopération avec la linguistique et la poé-sie (…) » (BERMAN : 1984 : 304).

Nous nous sommes penchés sur une linguis-tique qui travaille la diversité des langues-cultures, l’idée de l’existence des découpages de la réalité sus-ceptibles de varier d’une langue à l’autre, l’importance d’une relation entre forme et sens dans la construction du discours. Pour cela, il est nécessaire de dépasser l’identifi cation des différences et similitudes entre les langues-cultures qui sont en présence, les erreurs et réussites lors du passage d’un texte à l’autre, dans le but de cerner plus précisément le phénomène de la traduc-tion en lui-même. L’objectif est ainsi de poursuivre, d’af-fi ner la recherche pour mieux comprendre le langage et son fonctionnement par l’intermédiaire d’un processus de construction du sens qui prend en compte « le sens global de l’énoncé et le sens des unités dans l’énoncé » (ROBERT : 1997 : 25), l’interprétation des faits de langue dans son contenu et dans sa forme et enfi n, la saisie de la pensée exprimée dans le fl ux de la parole et dans la dynamique du discours.

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POLÍTICA EDITORIAL

A Série Cogitare foi criada com o objetivo de divulgar a contribuição de pesquisadores que tenham participado de atividades junto aos cursos de Mestrado e Doutorado em Letras da UFSM, na forma de palestras, conferências e outros trabalhos de pequena extensão. Também visam a produção de textos teóricos ou críticos produzidos por professores vinculados às linhas de pesquisa do PPGL - UFSM.

Esses trabalhos devem ser resultado de projetos vinculados às linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Letras, permitindo, assim, a divulgação de alguns resultados produzidos pela investigação nas áreas de Estudos Lingüísticos e Literários da UFSM.

A publicação de traduções deverá complementar os textos já pertencentes ao domínio público, relacionados à pesquisa desenvolvida pelo Programa, e que contribuam para fomentar novas perspectivas. Devem apresentar prefácio que justifi que a importância do texto e sua vinculação com o trabalho de pesquisa desenvolvido pelo tradutor.

VOLUMES PUBLICADOS

Volume 1 A Dama, a Dona e uma outra Sóror (Maria Lúcia Dal Farra)

Volume 2 Sartoris: a História na voz de quem conta a história

(Vera Lúcia Lenz Vianna)

Volume 3 A Fronteira e a Nação no Séc XVIII: os Sentidos e os Domínios (Eliana Rosa Sturza)

PPGL EDITORESUniversidade Federal de Santa MariaCentro de Educação, Letras e Biologia

Prédio 16, Sala 3222 – Bloco A2Programa de Pós-Graduação em Letras

Campus Universitário – Camobi97105-900 – Santa Maria, RS – Brasil

Fone/ fax: 55 3220 8025http://www.ufsm.br/ppgletras

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Gráfi ca Universitária

2008