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Editora Café Pequeno
Clairto
Sávio
martin
hermes
RUÍDOS
Vem dondeO ruído de ondas quebrandoContra as rochasProlongado açoiteComo se quisesse romper os tímpanos?!Alguma memória não apagada?Algum registro obscuro do inconsciente?Ou uma gana que é maior- E até anterior -Às paredes deste apartamentoDe navegar ao amanhecerEm resistência à tempestade?
Cadê o farol?
Clairto Martin
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TRinCADA
na verdadeolhando agorao ridículo foinão tercorrido atrás
Lançar ao menosmais uma vezo nomeao vento
Considerar o pensamentode ignoraro sentimento de perder o passado
Bater na latapedir ao choferpara abrirsem partir
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Caminhar ao ladoda janelafazendo coraçõesaté cair
De repenteessas imagenssurgem no intervaloda luta de boxe
Que anunciacarros sem barulhocerveja sem álcoolamor com moeda digital
na certeza de mágoasdas curvas, dos contornosque preenchem olimbo abissal
Onde um rápido entendedorjá teria a respostaou o endereço
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As cartasnão vieramO ônibusnão chega mais na estação
lembrança esquecidaque voa longedaquele diade céu sem degraus
Daí que acabaantes demoraprecisa ficar acordadolendo as paredestrincadas
Chutar a garrafa plásticae confirmaro ridículofoi não tercorrido atrás.
Sávio Hermes
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ESTiLETE, AgULHA OU PUnHAL
Risquei a pele dos braçosCom a ponta do punhalTatuei versos na pele
Escrevi teu nome a ferroOnde não se vê sinal
Mudaram as marcasOs temas e as dores
Migraram como pássaros
Ao sul os meus amores
Com riscados e tatuagens
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Prendi as atenções
Fui janela estilhaçada
A esconder maiores borrões
Estilete, agulha ou punhal
Tanto faz o ferro que marca
Porque à dor adiciono
Um punhado de sal
Toda marca é eterna
Com ou sem sulco riscado
Um resto de vinagre na veia
É esse amor mal acabado
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Já limpei as gavetas
Escondi as lâminas pontiagudas
Procurei pelas esquinas
Esperança alguma.
Longe te escondi
invisível loucura minha
na caverna do meu peito
Para não despertar sozinha.
Tanto faz
Estilete, agulha ou punhal
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A marca é eterna
Temperada com um punhado de sal
Já aprendi a limpar feridas
Deixar marcas mais rasas
Para suavizar o traço
Que me permitam voltar pra “casa”
De que vale a vida em linha reta
Como se traçada a giz
Se me ofereceres quadro limpo
Escolherei a cicatriz
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Rasgar a carne
Rasgar memórias
Tatuagens de sentidos mil
E dezenas de vazios
A verdade é toda minha
Levo para aonde vou
Estilete, agulha e punhal
Para riscar as paredes do que sou.
Clairto Martin
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QUEM-TE-Vi
Trimm - trimmm - trimm - trimmmPrá-ca-bum Prá-cá-bumOum, - Ouuu - Ooumm - OaaaáZiringuindum - páh - páh
Peito amareloEterna máscara do zorroCom fios negrosnas asas amarrados
nas manhãs monótonasDeixa um cocô na grade brancanão canta, nem pergunta de tiSaiu voando o bem-te-vi
Esses sons de coisas que não se expressamDa lagartixa Que acaba esmagadaDo assovio das formigas
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Vai vendoVem voandoàs voltas ao redorQue o mundo dá
Olhos segurosRasante funcionalPassado emocionalQue agora tu mostrasConfesso que não entendi
Passei caféQuase não dormiPousando nos fios da redeEsticando as pernasQuem-te-vi.
Sávio Hermes
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SOLAO tempo nos come
hoje o fôlego
Amanhã o caminho
leva a sola de nossos pés
A esquina é logo ali
no entardecer.
Clairto Martin
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ESQUinA
na esquinaUma janela abertaUm vaso de flor na sacadaSom de uma música qualquerEu transeuntePisando macionos ladrilhos sujosPara sentir teu perfumeMenina mulher na esquinaO vento não dobranem assovia canções Escorei no muroÀ esperaDa moça que traz a tolhaE chacoalhaA me dar farelos do pão.
na janelana tarde de solCabelos de palhanas noites de chuvaOlhos de tempestadeE eu em redemoinhos
Clairto Martin
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EnTALHOS
Ainda risco as tábuas do assoalhoCom ponta de facas
Às vezes entalho floresCorações e iniciais
Outras vezes deixo a mão irCursando ao léuSem forma algumaPara ler depois o que sou
Clairto Martin
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CAFÉ Tu deverias me trazer o caféE perguntar por que ainda estou deitadaA cortina cerradaSem as cores do jardim,Ou melhorDeverias nada perguntarDeverias abrir meia-luzOferecer a pele de maçã
Ser o café da manhãAntes que eu compreendaQue nada ser é aceitávelSe eu for para vocêUma borra na xícara que toca teus lábios
Clairto Martin
inAUgURAçãO
Eram quatro rosas vermelhasFriasnum vaso retorcidoDe ferroEnfeitando maçãperas e laranjasArtificiaisDuas bocasDo fogãoEstavam ligadas
O somEstava pesadoe úmido.
Sávio Hermes
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MEninO inOCênCiA
Ah meu meninoPq deixaste de andar por aíEntre arvoredos na beira do riacho?Pq o beija-flor n t encanta no jardimMas o queres na varandaA voejar em pote de água doce?Pq n sabes mais sentir a gramaPinicando o vão de teus dedosE a terra é incômodoQuando se aloja sob tuas polidas unhas?PqPqPqPq n ouves o canto da vidana tanta vida q há?Pq
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PqPqPq ouvir carros em vez de sabiás?Já não sabes voar...n t largues sem asas, meninoO voo é retoAbaixo desta janelaO céu é de concreto.
Clairto Martin
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CALEnDáRiO30 de março de 202012 dias de quarentena pelo SARS-COV2
na terça-feiraanunciaram quenão teriaquarta-feira
Acostumei-meà vozdilacerante do silêncio das ruas mornas
Horas lentassono agitadoaperto no peito quenão pode ser tosse.
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CizaniaComo uma quizilaDiscute para fazerepígrafes
A gramaSe ajoelhousob o solarrependida
Trago ummedo quevai emborana contramão
Primeiroacordeitarde.Segundo
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O lixofoiemborade madrugada
Terceironão tinhabatatas parao almoço
O cachorromisteriosamentecome grãosde bergamota
Os tênisparadosO desencantode Tim Maia
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preciso imaginaro espaçoorientar o passo para cada buraco
O valorpresenteo futurovaria na bacia
Dormemos sonhosdo coraçãoPungente
nãovejo gentesó buzinas ealertas ligados...
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Benditoo mêsde abril...Fé anil.
Bombardeiroslançamdúvidase máscaras
Legítima defesasem papelnem caneta.Cortante
Metadeindivisívelatômica eponderável
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Poder absolutoAmor eternoGuerra infinitainoxidável
PartidaFictíciaFrívolaAnsiedade
Que não permiteescalar as paredeslançar raiossorrir
Muito tristebeijar o arSair sozinhomentir
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Para as estrelasem meio a tantaprovocação
A conclusãotodaviadispensadevaneio
Feitoo sorteiosegunda-feiranão existe mais...
Sávio Hermes
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O BAQUE
das engrenagensninguém ouviuos ecos no interiorcheio - vazio - cheiolindo - feio - feiosem freioninguém navegou para alémdas margens dos meus olhosaté despencar no abismoem que cismaa minha almasó me vêm abraçossó me pedem calmaenquanto grito na escuridãosem acertar o interruptorque parece estar logo alique parece estar logo ali
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eu já não sou mais criançamas fiquei retidona cruel cabra-cegaa tatear paredesa tatear vaziosentre tropeçosque me sangram os pésque me levampra longe de mimpra longe de nós.
Clairto Martin
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SAVAnAOs idiotas ficam mais desatentosquando o tempo está para chuvaViolência recreativaprimitiva como receitaTofu gratinadoSemáforo apagado
Ela tinha compact discsna sacola para venderDisse que conheciaUma banda de giruáÉ preciso amorpara transar sem você
O violão está sem a corda siAcorda cansada de sonharSonha com um formigueiroAmeaçado por um tamanduáRua sem carros e árvoresSuor e óleo misturados no fubá
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As tardes são monótonasAs madrugadas têm solOs portões têm somSai a certinha do quarto andarO integralista do sextodo quinto saem as paroxítonas...
Uma dor de barriga antrópicaMomentaneamenteninguém está recolhendoas garrafaspor issonão jogue mensagens
Alterar a realidadecomo cortar alfafasnum temor sem braseiroSavana de ventointermitenteseco e rasteiro
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Poliana que nunca acabapirâmides asfaltadascouve plantadanas fissuras da paredeconto as braçadasPara atravessar o Rio Uruguai
Todos querem ouvirOs lamentos agarrados aos sarandisSumiram os cardumes de lambarisCorrem as pedras sobre o fiotalvez na primaveravolte a encher o frio.
Sávio Hermes
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LARHavia pássaros no telhadoQuando o vento arremessou a telhaE desfez o ninho
Depois a chuvaO bolorO apodrecer
E depois um gato abocanhando filhotesAntes de a solidão completa anunciar seu reinadoOnde antes havia uma salaVidasQue em suas pressasJamais ouviriamPássaros ciciando amoresSob as asas da mãe.
Clairto Martin
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FALTA DE FREiOReembolso postalEndereço telegráficoTelex(FAX)1986DatilografiaE quando percebijá era diaEstava ouvindoEngenheiros do HawaiíAlívio imediatoA libido e o vírusSem conseguirimaginar a dataEntre terça-feiraou maioAgora tocaLive’n Let DieAlgo como
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Sem dinheironão há doutornem gásnem carboidratoA máquina de escreverenferruja na chuvaos pneus vaziosda bicicletaTalvez expliquemSua falta de freioa obsidiana negrasobre a mesaa necessidadede amendoim torradoQue um a umdesaparecemcomo os diascomo as horasComo o bolo abatumadoAté sinto faltado chocolate quentequem sabeda cafeteria
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De suas opçõesdo amargodo doceda alegriaDo olhar das nuvensQuerendo adivinharQue o contrário de afetoÉ molhar os pése os sapatose as meiasDeclarar que possoDizendo quenão devoSaudades de conversarDe um fiopara amolarDe um pecadopara perdoarDe dormirpara depoisacordar...
Sávio Hermes
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PãO DA ViDA O que sou eunesta vida de (re)começos?Há pão sobre a mesaHá migalhas sobre o assoalhoFormigas em movimento na calçadaE pássaros bicando o piso
Há farinha no armárioHá trigo no campoE, sorrindo para o sol da manhã,Um semeador
O que sou eu
Sob este imenso céu
Engolidor?
Clairto Martin
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UM SOLO DE BAiXOAs aventuras cruéis da infânciaPara serem acessadas, são pré-pagasO endereço eletrônico que você me deuAvisa que você está em construção
Depois de tantas horas subindoO retorno dos ponteiros, ao lugar cabeçaVai tão rápido e não choveu Pombas trocam não olhares na rua
grande beleza escondidaNa infinita estrada escolhida, sobre a noite cruaQual brilho trêmulo nos olhos estampadoSabota a sutileza de gosto apimentado
As armadilhas cruéis da adolescênciaAgora devem ser compartilhadasEnviadas ao Vale do SilícioEm contribuição às chuvas do solstício
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Um solo de baixo indicaA idílica incerteza do mundoCom arranjo friamente calculadoNum final sanguinariamente bem executado
Querendo a vibração na urgência da normalidadeTodos tiram um tempo para escutarO ranger dos trilhos de trem, o drible da vacaAs raízes saindo do chão, o futuro e sua indecisão.
Sávio Hermes
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DE PARTiDAO sinal fechou.É hora de andarSobre as listras guiasQue levam ao outro lado.
O sinal fechou.Alguém parou?Lá adiante, alucinadosOs sons prosseguem.
O tempo é breve.
Outra calçadaUma esquinaUm ipêFlores roxas nos ladrilhos.
O pé já além da linha.
Clairto Martin
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POR EngAnO
Crise na terra infinitaSombrios os temposDe adocicado venenoSuave amarelo na fita
Por enganoAlguém envia mensagemde conteúdo indecentejustifica como um acidente
As janelasTão embaçadasQue a clausuraEspanta até as fadas
Suor escorre das paredesO calor espera do lado de foraO ronco das luzesDeixa as ruas mais escuras
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Os resíduos domésticosOs ruídos da alcovaO dicionário ornamentalde escoro da porta
Borboletas fugidiasEscapam das línguas desassadasSaracuras, urutaus, pererecasSó o quero-quero soa rei
O gato lambe a água na poçaLeve, vento, valenteDa roça não desencaneiAinda bebo da vertente
Das dúvidas que escuteiDas neuras de hojeDo gelo espirituale do monstro que em todos habita.
Sávio Hermes
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ATÉ O MARDa montanha até o marÉ cuidar para não desabarnas fendas das pedras.Até o marÉ tudo florestaOnde as feras se embrenhamE rangem os dentes.Até o marOnde hei de deitarA cabeça reclinadaSobre a maciez de teus seiosSão tortuosasE íngremes trilhasA ferir meus pésE sangrar a alma.
Até o marPurifico o homemPara que recebas o menino.
Clairto Martin
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DOR EM LinHA RETAO cão do solitáriovende atençãona ruaEncontra criançasPouco dinheiroRestos de lasanha processada
A cobra de língua cortadano banhado se esgueiraCom o olhar de vidro lúcidoMergulha certeirano pensamento o seu rastroAcende uma fogueira
O icebergna estrada de chãonão querSegurar naviosSomente deixaro cár(a)ter vazio
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O motor trancadoo amor amarradoA parentaque sobee nãocumprimenta
O gato malhadona esquina da Paranácom a Rua São LuizParece no muro pintadoUma esfingeem busca de seu significado
os taxidermistas não passarãoAs pontesnão existirãoOs moinhosAs canoasNada ficará
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Tem espéciesque vivem em casalEnquanto umataca o galinheiroo outrodistrai o barqueiro
Um beijo digitalna tela do PCO entretenimento parece dizermudei de estaçãoDepois da azia de dadosTemporal verão.
Sávio Hermes
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ERA UMA VEZAinda queCasaCarroPiscinaEsteja tudo aliÉ como olhar a impessoalTela amorfa do noteE tentar tocarA flor sem cheiro de florCom suas pétalas de pixels.
Até ontemEra amor.
Clairto Martin
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AnTES DO úLTiMO MATE
Perdi a verdadeapenasmais uma veznaquela noitetrouxeram comprimidos euma bebida forte
Atravésdos seus olhosvia o relógioque marcava11h e 30minpendurado na parede
A valsaestavaaceleradae ninguémcompreendeu
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o que estavaacontecendo
O pirataafundouna banheira de plásticoe o tesouroo ralo se foio garçom esqueceumeu pedido
Foram abraçadosemborao caminhão guinchorecolheu os doispor não pagarimpostos e ficarsem gasolina
De tardedá para vero pôr do solde sua janela
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um peixedorme sossegadono castelo do aquário
A falhana dimensão do sonotraz do sonhouma possibilidadede amanhãanteontem
Foram todosos ventospara o norteficando a coxilhasombriano seiode pensamentos
Jovens senhorasembriagadasno salão de
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belezanão querem ir para casa
Enquanto issoo motivode estresseé o espaçona memóriaque não suportamais você
Acheibomparaacreditarcompreiumade cada
Contra o frio
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um metrode eucaliptocortadoFaltamas paredes
Como opassageiroesquecidona estaçãode tremque nãovem mais
SolapadoSema rodade matea águaesquentademais....
Sávio Hermes
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HUMAniZADOSO cachorro sussurra ao ouvidoEm confidências tão íntimasQue abro inteira a alma em festa.
O meu próximo tece argumentosEm palestras tão singelasQue sequer lhe abro frestas.
Que-que?Quê?Ele eleva a vozQue não distingo do alarme ligadoDo carro cantando pneus.
Óti! Tão fofo!Cães humanizadosHumanos a ré.Ainda dá para ter fé?Alguém que ainda valha um café?
Clairto Martin
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CORRiDAA goteira virgemno balde secointerrompe as horas da madrugada
O colchãono chãoO cãona ração
Foram-se as expectativasVieram as endorfinasO tapa da panteraO som das esquinas
A palentana panela pequenaA colher de paunão veio a tormenta
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Movem-seplacas tectônicasDerrete no mara sanha violenta
Deixando a naupendurada num domingo cinzaa liberdade em seu cabide
Entre muros que dividemFaltaram pernaspara tanto esforçoUns voltaram
outros seguiramcorrenndoardendodeixandoa toalhapenduradano sofá.
Sávio Hermes57
iMPORTA SABER
não seiO senhor de todas as pesquisasTampouco tem as respostasO astrólogo falhou enas praças não há búzios.
não seiimporta saber?não sei...Sei é que a vidagrita urgências
Que sequer sabia existirAntes de conhecer esse azul anilDescortinado no tempo sem horas
importa saberQue é preciso abrir as janelas
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Para tocar as nuvensE beijar o vento.
Sei que há pássaros em voosEntão, é dia...E o escuro não me habita.
SeiÉ que escolhi voarCom aquele bando no céuPorque no chãoHá máscaras demais.
Clairto Martin
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ÍnDiCE REMiSSiVO
hermes
Trincada - 5; Quem-te-vi - 13; Inauguração -20; Calendário - 23; Savana - 32; Falta de freio - 36; Um solo de baixo - 40; Por engano - 41; Dor em linha reta - 46; Antes do último mate - 50; Corrida - 56.
martin
Ruídos - 4; Estilete, agulha ou punhal - 8; Sola -15; Esquina - 16; Entalhos - 18; Café - 19; Menino Inocência - 21; O Baque - 30; Lar - 35; Pão da vida - 39; De Partida - 40; Até o mar - 45; Era uma vez - 49; Humanizados - 55; Im-porta saber - 58.
POSFáCiO
E, então, em uma tarde cinza de inverno, sou surpreendida com o pedido para escrever o posfácio deste livro, 50 trecos, produzido pelo Clairto Martin e o Sávio Hermes. Li o primeiro poema e não parei até chegar ao último! Uma escrita primorosa, cheia de paradoxos, pois é, ao mesmo tempo, sensível e crua, mexe com a gente.
50 trecos é composto por 15 poemas do Clairto e 11 do Sávio, o que nos leva a deduzir que o 50 do título não é referente ao número de poemas, mas sim a uma expressão popular equivalente a “aquilo que não se sabe definir ou nomear”. No caso destes meninos, duvido que não saibam definir ou nomear, é tudo caso pensado, o que eles querem mesmo é deixar as reticências, para que cada leitor e leitora aplique sua própria definição de “treco”.
Se você está correndo os olhos por este posfácio é porque seguiu um dos dois caminhos possíveis: já leu os poemas, tem suas conclusões a respeito e quer saber se tivemos as mesmas impressões; ou, ainda não leu e optou por analisar o posfácio antes para ver se o livro vale o investimento do seu tempo. Seja qual for o caminho escolhido pode ter certeza de que vale, sim!
Poesia, em minha limitada opinião (por ser extremamente pessoal, sem muita teoria), é o gênero textual mais complexo para se escrever, pois exige que em poucas palavras se
diga muito. Neste sentido, ouso dizer que os autores foram muito felizes porque é possível perceber o jogo com as palavras; a escolha das rimas ou o planejado não rimar; o cutucar na complexidade de nós, seres humanos – “O que sou eu/ Nesta vida de (re)começos?”, o olhar dado ao entorno “30 de março de 2020/ 12 dias de quarentena/ pelo SARS-COV2/ Na terça-feira/ anunciaram que/ não teria/ quarta-feira”. Porém, o melhor de tudo são as entrelinhas, onde a leitora ou o leitor tem a liberdade obrigatória de adentrar e encarar seus fantasmas particulares.
Por enquanto, o livro está em versão digital e gratuita, aproveite, num país como o nosso em que a Cultura sobrevive de teimosa, não é usual termos escrita de tão boa qualidade literária sem desembolsar um centavo. Mas digo que se sair versão impressa quero ter o meu. E com dedicatória.
Ana Maria OliveiraEscritora e professora
Planejamento e arte: Editora Café PequenoRevisão: Clairto MartinIlustração da capa: George de Ley
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20-39201 CDD-B869.1
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Martin, Clairto
50 trecos [livro eletrônico] / Clairto Martin,
José Sávio Hermes. -- 1. ed. -- Santa Rosa, RS :
Café Pequeno Edições, 2020.
1 Mb ; PDF
ISBN 978-65-88058-00-8
1. Poesia brasileira I. Hermes, José Sávio.
II. Título.
Índices para catálogo sistemático:
1. Poesia : Literatura brasileira B869.1
Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964
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FIQUE LIGADO:Lançamento do livro
Outono em mim, do poeta Clairto Martin.
Apoiadores:
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