Editoras Mineiras: O Lugar da Poesia
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Transcript of Editoras Mineiras: O Lugar da Poesia
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OrganizadorasPatrcia Fonseca Snia Queiroz
Editoras mineiraso lugar da poesia
FALE/UFMG
Belo Horizonte
2011
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7 O lugar ocupado pela poesia em MinasPatrcia Fonseca de Souza
11 Poesia em nmerosPatrcia Fonseca de Souza
33 Associao Cultural PandoraPatrcia Fonseca de Souza
37 Rotas alteradas: a participao de instituies
oficiais na publicao de poesia em MinasMichelle Souto Falco Stphanie Paes Rodrigues
49 Imprensa Oficial do
Estado de Minas GeraisPatrcia Fonseca de Souza
53 O Suplemento LiterrioCludia B. Garabini
57 O Suplemento Literrio
sob a direo de Carlos vilaPatrcia Fonseca de Souza
61 O Suplemento Literrio
em atual direo Jaime Prado GouvaPatrcia Fonseca de Souza
Diretor da Faculdade de LetrasLuiz Francisco Dias
Vice-DiretoraSandra Maria Gualberto Braga Bianchet
Comisso editorialEliana Loureno de Lima Reis Elisa Amorim VieiraFbio Bonfim Duarte Lucia Castello Branco Maria Cndida Trindade Costa de Seabra Maria Ins de Almeida Snia Queiroz
Capa e projeto grficoGlria Campos Mang Ilustrao e Design Grfico
Preparao de originais Patrcia Fonseca de Souza
DiagramaoGabriela Brasileiro
Reviso de provasGabriela BrasileiroPaulo Henrique Alves
Endereo para correspondnciaLABED Laboratrio de Edio FALE/UFMGAv. Antnio Carlos, 6627 sala 408131270-901 Belo Horizonte/MGTel.: (31) 3409-6072e-mail: [email protected]: www.letras.ufmg.br/labed
Sumrio
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109 Mazza Edies:
Poesia vende, sim!Juliane Matarelli
113 Editora Scriptum:
a poesia em posio de destaqueAna Lvia Resende Gomes Frederico Claret Freitas Teixeira Lucas Sander Mrio Vincius Ribeiro Gonalves
117 A revelao de jovens
poetas brasileiros na Revista
Literria do Corpo Discente da UFMGEnio Luiz de Carvalho Biaggi
121 Referncias
123 Livros de poesia publicados por editoras mineiras
65 Edies de Drummond e
Henriqueta LisboaFernanda Bretas Santos Ksia Rodrigues de Oliveira
75 Poemix: o Selo do
Livro ColaborativoKeuler Torres Michele Guimares Paola Evangelista Rayanne Teles
81 As margens da poesiaAna Carolina Clayton Vilaa Eduardo Soares Tiago Garcias
89 Edies Vale do JequitinhonhaFelipe Alves Mrcio Lopes Maria Fernandina Batista
97 Um recorte geogrfico:
as grandes cidades mineirasElaine Cristina Fernanda Maral Iuri Queiroz Maiara Marques
99 Edies DubolsoElaine Cristina Fernanda Maral Iuri Queiroz Maiara Marques
103 Mansur e a Tipografia
do Fundo de Ouro PretoPatrcia Fonseca de Souza
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O lugar ocupado pela poesia em MinasPatrcia Fonseca de Souza
O percurso histrico da edio no Brasil bastante instigante. A presena
da imprensa torna-se imprescindvel a partir da necessidade de veicula-
o de mensagens, que perpassam desde a mera funo informativa s
mais importantes para a vida poltica e social do pas, das quais resul-
taram conquistas como a proclamao da independncia, a abolio da
escravatura, a proclamao da repblica, entre muitas outras. A partir
disso, j possvel perceber que a imprensa teve papel fundamental na
construo da histria do Brasil. Mas, apesar da importncia desse per-
curso editorial por todo o pas, a esta pesquisa interessa apenas a histria
da edio em Minas Gerais, tanto pela localizao geogrfica de nossa
Universidade, a UFMG, quanto pela constatao de que so pouqussimos
os dados disponveis em documentos e publicaes que registram o tra-
jeto da edio neste estado.
A produo editorial brasileira se concentrou por muito tempo em
apenas dois estados, So Paulo e Rio de Janeiro, o que fez com que
somente esses fossem os locais de maiores enfoques para o processo de
evoluo da imprensa no pas. A partir de pesquisa bibliogrfica acerca
da histria da edio no Brasil, observa-se que s existem dois livros a
respeito desse assunto que trazem informaes consideravelmente rele-
vantes sobre o estado mineiro: O Livro no Brasil, de Laurence Hallewell,
e Momentos do Livro no Brasil, organizado por Fernando Paixo e Maria
Celeste Mira. Alm desses, foram lanados em 2009, pela editora labora-
trio Viva Voz da Faculdade de Letras da UFMG, os livros Editoras Mineiras,
volumes 1 e 2, contendo ensaios sobre a histria da edio em Minas e
entrevistas realizadas com representantes de quinze editoras em ativi-
dade no estado de Minas Gerais. Esses trabalhos so resultados de uma
pesquisa iniciada em 2008 no Bacharelado em Letras, nfase em Edio.
Por meio dessas poucas referncias, observa-se que, apesar de
haver no pas impresses que datam de 1706, a primeira experincia
de impresso em Minas Gerais s ocorreu em 1789, na antiga capital,
Vila Rica, atual Ouro Preto. Trata-se de folhetos impressos das Cartas
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8 Editoras mineiras: o lugar da poesia O lugar ocupado pela poesia em Minas 9
Bibliotecas da UFMG, o Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, a Biblioteca
Pblica Estadual Prof. Luiz de Bessa, a Coleo Mineiriana do Instituto
Amilcar Martins, o catlogo online da Biblioteca Nacional e ainda o acervo
particular da Professora Snia Queiroz. Alm disso, tambm foi utilizado o
levantamento bibliogrfico referente edio de poesia em Minas presente
na Monografia Histria da edio de poesia em Minas Gerais: um breve
panorama, de Patrcia Fonseca de Souza. Depois de realizar o levantamento
bibliogrfico, os alunos foram em busca de informaes sobre a instituio
que mais tivesse publicado poesia dentro de cada um dos recortes citados
acima. Dessa forma, chegou-se Associao Cultural Pandora, Imprensa
Oficial, ao Suplemento Literrio, Editora UFMG, Tradio Planalto
Editora, Unimontes e s Edies Dubolso. A partir desse levantamento,
tais instituies foram procuradas e entrevistadas, visando obter informa-
es exclusivas sobre o processo editorial de poesia em Minas Gerais. Alm
disso, por se tratar de um nome importante nesse cenrio, tambm foi
includa a entrevista realizada com o tipoeta Guilherme Mansur, presente
na monografia de Patrcia Fonseca de Souza citada acima. Tambm foram
trazidas do volume 1 do livro Editoras Mineiras para este livro um trecho da
entrevista feita com a Mazza Edies, por ter a poesia um papel importante
em sua histria, e a entrevista com a editora Scripum, pelo foco dado a
esse gnero. Outro trabalho tambm includo neste volume um artigo de
Enio Luiz de Carvalho Biaggi sobre a Revista Literria do Corpo Discente
da UFMG, a qual se destaca pelo grande nmero de poesias publicadas em
seus volumes durante sua existncia.
Mesmo aps a coleta de todos esses dados, ainda no ser possvel
traar um panorama completo da histria da edio de poesia em Minas,
uma vez que, sendo o tema muito amplo, foi preciso fazer algumas deli-
mitaes para que pudssemos, enfim, chegar, de maneira mais imediata,
a algum resultado. Todavia, este trabalho, ainda que restrito, servir, no
mnimo, para preencher um pouco da lacuna existente acerca desse tema
e, ainda, para instigar a curiosidade daqueles que tambm se interessam
por ele. A pesquisa, portanto, no se esgota aqui. Pelo contrrio, ela dar
o pontap inicial para a descoberta do trabalho editorial mineiro referente
publicao de poesia.
Chilenas1 conjunto de poemas escritos em versos decasslabos e bran-
cos, com uma metrificao parecida com a da epopia cujo contedo
era um manifesto contra Lus da Cunha Meneses, governador da capitania
naquela poca. Na mesma cidade, houve, em 1806, publicao feita por
Padre Viegas de Menezes de um poema escrito por Diogo de Vasconcelos,
denominado Canto Encomistico, em homenagem a outro governador, D.
Pedro Maria Xavier de Atade. Nota-se, portanto, que o gnero literrio
poesia deu incio circulao de textos no estado mineiro e, por isso,
assunto de extrema importncia na construo dessa histria.
Alm disso, sabe-se que, dentre os mais importantes poetas
da literatura brasileira, encontra-se um grande nmero de escritores
naturais de Minas Gerais, como Cludio Manoel da Costa, Alphonsus
de Guimaraens, Bernardo Guimares, Carlos Drummond de Andrade,
Affonso vila, Murilo Mendes e ainda Las Corra de Arajo, Adlia Prado
e Henriqueta Lisboa. Portanto, tendo a poesia um papel importantssimo
na histria de Minas Gerais, esse , de fato, um trabalho que merece
ateno. Sabe-se que os esforos empreendidos ainda no sero sufi-
cientes para traar um panorama dessa histria. Por outro lado, acredita-
se que aos poucos, ela ser contada.
Enveredando-se por caminhos ocultosO primeiro passo dado por esta pesquisa foi a utilizao de recortes que
propiciassem algumas delimitaes especficas a respeito da edio de
poesia em Minas Gerais. Sendo assim, a pesquisa realizada pelos alunos
da disciplina Estudos Temticos de Edio: histria da edio em Minas,
ministrada pela Professora Snia Queiroz, levantou dados relativos
publicao de poesia da seguinte forma: edies feitas por rgos ofi-
ciais e editoras universitrias; edies de Carlos Drummond de Andrade e
Henriqueta Lisboa; edies colaborativas; poesia marginal; edies reali-
zadas no Vale do Jequitinhonha e edies realizadas nas grandes cidades
mineiras. Para tanto, foram consultados diversos acervos: o Sistema de
1 Segundo Sebastio Uchoa Leite (1966), apesar das Cartas Chinenas que possuem esse nome pelo fato de a histria se passar, fingidamente, no Chile serem annimas, a maioria dos crticos indicam a autoria de Tomaz Antnio Gonzaga. Embora outros defendam o nome de Cludio Manoel da Costa, algumas anlises psicolgicas e estilsticas do poema, apontam traos pertinentes a autoria de Gonzaga.
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Poesia em nmerosPatrcia Fonseca de Souza
Aps realizada a pesquisa bibliogrfica acerca das edies de poesia fei-
tas em Minas Gerais, possvel traar um breve panorama a respeito
dessa histria. Considerando o nmero de livros editados por institui-
o, observa-se a importncia da Imprensa Oficial do Estado de Minas
Gerais quando se trata do processo de edio de poesia neste estado,
pois s esse rgo responsvel por 16% do levantamento bibliogrfico.
Essa porcentagem, diante dos dados colhidos, considerada altssima,
visto que, como veremos adiante, a contagem por instituio, na maioria
das vezes, no chega a 1%. Sendo assim, a Associao Cultural Pandora
tambm merece destaque, pois, salvo o caso da Imprensa Oficial e da
Mazza Edies1, com 16% e 8%, respectivamente, ela foi a nica a atin-
gir a marca de 6% da bibliografia levantada. interessante observar que
essa Associao, que ficou em terceiro lugar na pesquisa, considerando o
nmero de publicaes, no existe como editora. Esse foi um selo criado
pelo poeta Marcelo Dolabela especialmente para a publicao da coleo
Poesia Orbital, que, como parte das comemoraes do centenrio de Belo
Horizonte, publicou em torno de 63 livros de poetas da capital mineira por
meio de subsdios da Prefeitura2 que contribuiu com 53% dos custos e
de recursos advindos de outras fontes ou at dos prprios poetas. Esses
nmeros demonstram a importncia dos rgos oficiais na publicao
de poesia no estado de Minas Gerais. Afinal, somando-se as publicaes
de todos eles, verifica-se que esses rgos so responsveis por nada
menos do que 30% dos livros encontrados pela pesquisa realizada.
As editoras universitrias foram um dos grupos com menor nmero
de edies de poesia no estado, apenas 5%. Segundo o levantamento
bibliogrfico, s a Universidade Federal de Minas Gerais somando-se as
publicaes da Faculdade de Letras, da Editora UFMG, do D.A. Letras e
da antiga UMG publicou 28 dos 60 livros de poesia editados pelo grupo.
1 No volume 1 do livro Editoras Mineiras, h uma entrevista com a Mazza. O trecho do texto que se refere ao trabalho com a poesia foi trazido para este volume, que se dedica especialmente a esse gnero da literatura.
2 Pelo fato de esse selo ter sido, majoritariamente, subsidiado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, ele ser aqui considerado como edio de rgos oficiais.
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12 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 13
A prxima editora universitria que mais publicou foi a Unimontes, com
17 livros. Essa anlise demonstra a importncia da nossa universidade
na publicao do gnero poesia em detrimento das outras universidades
do estado, pois, enquanto UFMG soma 47% das publicaes do grupo de
editoras universitrias, as demais universidades do estado, salvo o caso
da Unimontes, possuem em torno de 1 a 5 livros de poesia publicados, o
que representa no mximo 8%.
J as editoras privadas no ultrapassam, cada uma, 2% das publi-
caes marca que, alis, atingida por somente uma delas, a Itatiaia.
As outras editoras no chegam a nem 1%. Ao todo, essas editoras so
responsveis por apenas 5% dos livros levantados pela pesquisa biblio-
grfica. Este nmero demonstra claramente a falta de espao existente
para a poesia em meio atividade editorial privada quando esta ltima
trata o livro de poesia como um produto no lucrativo.
Outro ponto importante a destacar que muitas editoras e grfi-
cas privadas, como Edies Dubolso, Tipografia do Fundo de Ouro Preto,
Anome livros, Arte Quintal, Mazza, Cuatiara, Grf. Santa Maria, O Lutador,
Orob Edies, So Vicente, Scriptum, SEGRAC e vrias outras, encaixam-
se nas chamadas edies do autor quando este arca com todos os
custos para a publicao do livro. Segundo o levantamento bibliogrfico
realizado, verifica-se que 59% das publicaes podem ser includas nesse
parmetro. Nessa porcentagem, consideram-se no s os livros de edito-
ras privadas custeados pelo prprio poeta, mas tambm aqueles que j
sinalizam serem edio do autor ou que no trazem o nome de alguma
editora (estes so encontrados na tabela como Edio do Autor e [s. n.]).
Essa constatao demonstra, mais uma vez, que a publicao de poesia
em Minas Gerais possui pouco espao mercadolgico, visto que a maio-
ria das edies privadas ocorre pelo fato de o autor desejar ver seu livro
publicado, e no por iniciativa das prprias editoras. Essas informaes
podem ser verificadas na tabela abaixo:
Tabela 1: Publicaes por editoras mineiras
Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Edio do autor
[s. n.] 77
A. Nogueira 1
Acaiaca 3
ACBL 1
Adi Edies 2
Agora 2
Alba 13
Alcance 1
Aldrava Letras e Artes 5
Alfa Centauri 1
Almeida Artes Grficas 1
Alternativa 1
Anome livros 13
Apolo 2
Ariel 1
Armazm de Idias 3
Arte Quintal 13
Artes Grficas 1
Artes Grficas Duarte 1
Artes Grficas Irmo Gino 3
Artes Grficas Santo Antnio 4
Autntica 1
Barvalle 4
Bichinho Gritador 1
Boca de Lobo 1
Boreal 1
C/Arte 1
Caminho Novo 1
Cave 1
CEM 1
Clesi 2
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14 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 15
Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Clesi; Aldrava Letras e Artes 3
Clube Literario Marconi Montoli 1
CONSAE 1
CS Editora 2
Cuatiara 12
D Lira 3
Da Anta Casa 1
DGF Edies 1
Didier 1
Dimenso 1
Dimenses 1
Dom Bosco 1
Dubolsinho 1
Dubolso 23
Ed. A Voz do Lenheiro 1
Ed. Contbil 1
Ed. Dadalobela 1
Ed. Grf. Formato 1
Ed. Os boreanos 1
Ed. Tip. da Escola Profissional 8
Eddal 2
Edio do Autor 48
Edies 1300 1
Edies 2 Luas 11
Edies ADL 1
Edies Gerais 1
Edies Instante 5
Edies Mensagem 1
Edifcil 1
Editora do Professor 1
Editora JM 1
Editora Novilngua 1
Editora Wleze 1
Emil 7
Eneida Maria de Souza 1
Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Esdeva 2
Estao de Arte 1
Estrela do Oeste Clube 1
Express 3
FAPI 1
Folhetim 1
Fortil 1
Gatinhos Production 1
Grf. Belo Horizonte 1
Grf. Minas 1
Grf. Santa Maria 10
Grf. Star Editora 1
Grfica Brasil 1
Grfica Divinpolis 3
Grfica e Editora Unio 1
Grfica e Editora Valadares 1
Grfica Edita 1
Grfica Editora Folha Machadense 1
Grfica Fiel 1
Grfica Literatura 1
Grfica Ouro Preto 2
Grfica Sidil 5
Grafipres 1
Grmio Brasileiro de Trovadores 1
Guarani 1
Guimares 1
Guimares & Toffani 1
Gutemberg 1
Imagem 1
Impresses de Minas 1
Imprimasset 1
Independente 3
Independente - Usicultura 1
Interlivros 3
J. Bergamini 1
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Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Joo Calazans 4
Jos Henrique 1
Kosmos 1
Lemi 10
Letra por Letra 1
Liberdade 1
Litocpias 1
Litocpias 1
Littera Maciel 5
Mantiqueira 7
Maria Celestina 1
Mazza 88
Mazza Edies; Edies DLira 1
Minas Ed. 1
Mirante Grfica & Editora 3
Movimento Humanitrio Algamom da Alma
1
Mulheres Emergentes 8
Multipress 1
Nova Repblica 1
Novilngua 1
Number One 1
O Escriba 1
O Expresso 31
Of. Grf. de Veloso 1
Oliveira Costa 1
Ophicina de Arte & Prosa 1
Optimus Studio 1
Opus Editora 1
Oriki 1
Orob 2
Orob edies 12
Os Amigos do Livro 3
Pgina Stdio Grfico 1
Panorama 4
Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Palesa 1
Papel 3
Paraibuna 2
Pedro e Paulo 1
Phrasis 2
Plurarts 2
Promoo-da-Famlia 1
Quatro Irmos 1
Rochart 2
Rona 3
Santa Clara 6
Santa Cruz 1
Santelmo 2
So Vicente 7
Saraiva 1
Scriptum 12
SEGRAC 6
Slo 1
SERFOR 2
Sindicato dos Escritores de Minas Gerais 1
Sografe 2
Sulminas 1
Templo 1
Tendncia 2
Terra 1
Tetralogia Minimemria 1
Tipografia Cosmos 1
Tipografia do fundo de Ouro Preto 9
Tipolitografia Escola Profissional 2
Tratos Culturais Produes 1
Typ Beltro & C 1
Typ. Commercial 1
Typ. Mineira 1
Typ. So Jos 1
Typographia do Itacolomy 1
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Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Unio Brasileira de Trovadores 1
Vega 10
Verbi 1
Vereda 2
Veredas & Cenrios 1
Veritas 1
Viglia 1
Vitria 1
Zardo 1 673
Editoras universitrias
D.A. Letras 1
Diretrio Central dos Estudantes da UMG 1
Ed. UFV 1
Editora da UFU 5
Editora UFMG 7
Editora UFMG/SINTSPREV/MG 1
Editora Universidade de Alfenas 1
EDUFU 1
Faculdade de Filosofia Santo Toms de Aquino
3
Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciencias e Letras
1
FALE/UFMG 7
FALE/UFMG: CGEEI/SECAD/MEC 3
FALE/UFMG: Departamento de Letras Vernculas
1
FALE/UFMG: NAPq 1
Funrei 1
Grfica da UFU 1
Grfica da UFV 1
UFJF 2
UMG 1
Unimontes 17
UNIVALE 3 60
rgos oficiais
Academia de Letras de Par de Minas 2
Academia de Letras de Viosa 1
Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Academia Feminina Mineira de Letras 7
Academia Patense de Letras 4
Academia Pouso-Alegrense de Letras 1
Academia Sete-Lagoana de Letras; Clube de Letras de Sete Lagoas
1
Academia Valadarense de Letras 2
Arcdia de Pouso Alegre 1
Asbrapa 3
Associao Cultural Pandora 63
BDMG 2
Centro Brasileiro de Cultura Italiana 1
Comisso BH 100 6
Comunicao: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes
2
Consrcio Mineiro de Comunicao 2
Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais
2
Departamento de Ao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura
1
Difuso Pan-Americana do Livro 1
Ed. Cid. Barbacena 5
Folha de Minas 1
Folha de Viosa 1
FUNALFA Edies 8
Fundao Cultural de Belo Horizonte 1
Fundao Mariana Resende Costa 1
Fundao Municipal de Cultura 2
Governo do Estado de Minas Gerais 2
Imprensa da UFMG 15
Imprensa Oficial 184
Instituto Brasileiro de Cultura rabe 1
Instituto Montessori 1
Instituto Triangulino de Cultura 1
Jornal da Manh 1
MEC Editora Empresa Jornalstica Ltda. 1
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Tipo de instituio
Editoras N de publicaes
total por tipo de instituio
Movimento-Perspectiva (Imprensa Oficial)
3
Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/ Secretaria Municipal de Cultura
3
Prefeitura Municipal de Turmalina/ ASE Empreendimentos Culturais Ltda.
1
Prefeitura Municipal de Varginha 3
Secretaria de Estado da Educao/ Biblioteca Pblica de Minas Gerais
1
Secretaria Municipal de Cultura, Informao,Turismo e Esportes/Comunicao
3
SESC/MG 2
Unio Brasileira de Trovadores; Seo Minas Gerais
1
Unio Colegial de Minas Gerais; Uniao Municipal dos estudantes secundrios de Belo Horizonte
1 345
Editoras privadas
Caminho Novo Empresa Jornalstica e Editora Ltda
2
Comunicao 6
ELCEAA 1
FUMARC 1
Garnier 2
GEEC Publicaes 1
Itatiaia 26
Lar Catlica 1
L 1
Leitura 3
Miguilim 4
Mosteiro da Santa Cruz 1
Queiroz Breyner 6
Villa Rica 1 56
Edies colaborativas
Tradio Planalto Editora 4 4
Total geral 1138
Ao observar o local de publicao, nota-se que a capital mineira, Belo
Horizonte, ocupa uma posio considervel no volume de publicaes se
comparada s outras cidades do estado. S na capital foram publicados
72% dos livros levantados pela pesquisa bibliogrfica. No difcil perceber
o motivo que, alis, bem plausvel, uma vez que, como pode ser obser-
vado em Paixo1, comum a concentrao das atividades editoriais nos
maiores centros urbanos. Outras 41 cidades mineiras, que tambm apa-
recem na pesquisa, dividem os 28% restantes. Essas cidades, que so na
maioria interioranas, ocupam um espao muito singular com relao ati-
vidade editorial. Enquanto Belo Horizonte publicou em torno de 815 livros
de poesia, desde 1906 at 2010, cidades como Alfenas, Bom Despacho, Bom
Sucesso, Catanduvas, Formiga, Machado, Oliveira, Ribeiro das Neves, So
Francisco e Trs Coraes publicaram apenas um volume. Outras, como
Divinpolis, Juiz de Fora, Sabar, Montes Claros, Ouro Preto, Sete Lagoas
e Varginha, possuem um nmero significativo de edies de poesia entre
18 e 50 livros publicados mas ainda assim esse nmero pode ser conside-
rado nfimo se comparado produo da capital (verificar tabela 2).
Tabela 2: publicaes por cidades mineiras
Cidades N de publicaes
[s. l.] 2
Alfenas 1
Araguari 2
Barbacena 5
Belo Horizonte 815
Belo Horizonte; Juiz de Fora 1
Bom Despacho 1
Bom Sucesso 1
Catanduvas 1
Contagem 12
Diamantina 3
Divinpolis 50
Formiga 1
1 PAIXO. Momentos do livro no Brasil.
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22 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 23
Cidades N de publicaes
Governador Valadares 11
Ipatinga 9
Ipatinga; Mariana 3
Itabira 5
Itabirito 2
Juiz de Fora 27
Lagoa Santa 5
Machado 1
Mariana 2
Montes Claros 20
Muria 2
Oliveira 1
Ouro Preto 18
Par de Minas 2
Passos 3
Patos de Minas 6
Poos de Caldas 2
Pouso Alegre 21
Povoado do Bichinho 1
Ribeiro das Neves 1
Sabar 24
Santa Luzia 2
So Francisco 1
So Joo del Rei 6
Sete Lagoas 18
Tefilo Otoni 2
Trs Coraes 1
Uberaba 12
Uberlndia 12
Varginha 19
Viosa 4
Total geral 1138
Com relao ao perodo de publicao, observa-se que a dcada de 1990
foi aquela em que mais houve publicaes de poesia, pois, dentre 11
dcadas, a de 1990 foi responsvel, sozinha, por 26% das publicaes.
Outro perodo que merece destaque o de 2000 a 2010, em que foram
publicados 25% dos livros levantados pela pesquisa bibliogrfica. A pr-
xima dcada com mais publicaes de poesia foi a de 1980, com 21%.
As outras oito dcadas dividem os 28% restantes (ver tabela 3). Essa
constatao , alis, uma surpresa, uma vez que, com a expanso dos
variados meios de comunicao, principalmente da internet, esperava-se
que houvesse uma crescente diminuio no nmero de livros de poesia
impressos. Afinal, segundo Carlos vila,
A primeira metade do sculo 20 assistiu ao surgimento de uma sucesso de movimentos literrios e artsticos voltados para a explorao das novas formas de comunicao. Cinema, rdio, recursos de impresso utilizados nos jornais e revistas, fotografia, discos, telefone, televiso foram elementos que contriburam, cada qual em um tempo e espao determinados, para a criao de uma nova linguagem potica. Uma inter-relao entre os movimentos de vanguarda e as novas tecnologias estabeleceu-se desde ento e a linguagem potica sofreu um abalo e uma influncia decisivos no sentido de modificar o prprio tradicional suporte do livro [...] e mesmo o seu abandono em prol de recursos mais eficientes de comunicao.2
No entanto, apesar de esses novos meios de comunicao terem
aberto espao para diferentes formas de veiculao de poesia, o que se
observa exatamente o contrrio do que se esperava quanto publica-
o em livros, j que as trs ltimas dcadas so, curiosamente, aquelas
em que mais houve publicaes impressas de poesia. Como Carlos vila
tambm comenta,
Desde o futurismo, passando pelo dadasmo e pelo surrealismo, at os movimentos mais recentes de poesia concreta e espacial, o livro sofreu transformaes diversas, foi abandonado e retomado muitas vezes e ainda resiste enquanto suporte da criao potica. Seu futuro ou seu fim como alguns j profetizam ainda, em grande parte, uma incgnita.3
Tabela 3: publicaes por dcadas
2 VILA. Poesia pensada, p. 14.3 VILA. Poesia pensada, p. 14.
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24 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 25
Datas N publicaes Total
1843 1 1
1906 1 1
1915 1
1917 2 3
192- 1
1920 1
1922 1
1923 1
1924 1 5
1931 1
1932 2
1934 1
1936 2
1937 3
1938 3
1939 1 13
1940 3
1942 1
1944 3
1945 8
1946 2
1947 7
1948 6
1949 7 37
195- 2
1950 5
1951 7
1952 7
1953 4
1954 3
1955 10
1956 12
1957 5
1958 6
Datas N publicaes Total
1959 8 69
1960 8
1961 7
1962 4
1963 3
1964 4
1965 4
1966 8
1967 9
1968 6
1969 12 65
197- 2
1970 8
1971 10
1972 11
1973 11
1974 7
1975 7
1976 12
1977 10
1978 13
1979 12 103
198- 5
1980 15
1981 12
1982 23
1983 18
1984 30
1985 25
1986 28
1987 31
1988 30
1989 17 234
199- 3
-
26 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 27
Datas N publicaes Total
1990 26
1991 26
1992 23
1993 17
1994 28
1995 12
1996 24
1997 88
1998 26
1999 25 298
20-- 2
200- 1
2000 30
2001 20
2002 36
2003 34
2004 33
2005 39
2006 31
2007 25
2008 11
2009 15
2010 3 280
[S. D.] 29
Total geral 1138
Outro fator que pode justificar o aumento crescente de publicaes
salvo o caso dos anos 60 e do perodo de 2000 a 2010, em que houve
diminuio a Revoluo de 1930, que, segundo Hallewell, ocasionou,
intelectualmente, uma crescente valorizao das produes nacionais.
Segundo o autor, a nova era de conscincia nacional e o efeito catas-
trfico da depresso mundial sobre o poder aquisitivo externo do mil-ris,
que resultou no preo proibitivo dos livros importados, at ento predomi-
nantes no mercado brasileiro1 tiveram como consequncia um aumento
na produo editorial nacional. Hallewell afirma que Ningum, na poca,
punha em dvida uma realidade: a de que surgira praticamente do nada,
no perodo que se seguira revoluo, uma indstria editorial brasileira
vivel.2 Outra questo de relevncia para o mercado editorial ocorrida na
dcada de 1930 foi uma maior abertura para as publicaes femininas. S
as mulheres foram responsveis por 29% das edies levantadas por esta
pesquisa. Embora, em nenhuma dcada, a escrita feminina tenha ultra-
passado ou tenha sido equivalente masculina no levantamento biblio-
grfico feito, esse nmero demonstra a participao ativa das mulheres
no cenrio potico. Segundo Coelho3, entre 1930 e 1940 que se inicia o
perodo de conscientizao da mulher sobre sua situao dentro de um
sistema repressivo, passando a questionar os valores por ele consagra-
dos. Como pode ser visto tambm em Souza,
Uma leitura cuidadosa sobre a escrita feminina no final do sculo XIX, em Portugal e no Brasil, corrobora, de modo bastante signi-ficativo, para um entendimento mais consistente sobre a escrita feminina nas dcadas de 1930 e 1940, como elemento de denncia e luta pelos ideais de liberdade.
No Brasil dos anos trinta, marcado pela crescente urbanizao e a rpida evoluo industrial, possvel vislumbrar o surgimento de alguns elementos que contriburam para ampliar a viso da mulher ultrapassando as fronteiras domsticas. O rdio surge como um dos instrumentos bastante representativo que vem informar sobre as rpidas mudanas da vida moderna. Dentre estas, aponta-se para aquelas decorrentes do movimento feminista, que comea a despontar em todo o Brasil, apesar da discordncia das alas conservadoras4.
Tambm importante ressaltar outro aspecto curioso a respeito
do perodo de publicaes de poesia no estado. Ao observar a tabela 3,
possvel perceber que, apesar de as circulaes de poemas em Minas
Gerais terem registros em 1789 e 1806, a primeira data que consta no
levantamento bibliogrfico 1843, o que representa uma lacuna de 37
1 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria. p. 421-422.2 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria. p. 422.3 COELHO. Dicionrio crtico de escritoras brasileiras: 1711 - 2001.4 SOUZA. Os manuais de conduta e a escrita feminina no incio do sculo xx: o que desvelam as
narrativas?. p. 8.
-
28 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 29
anos sem registro de trabalhos de poesia impressos. Essa lacuna pode ser
justificado pelo fato de ter ocorrido, apenas em 1832, a primeira impres-
so oficial de um livro na provncia de Minas Gerais. Este livro, segundo
o Atlas Cultural do Brasil, seria o Diccionario da Lingua Brasileira, de Luis
Maria da Silva Pinto.5 Em 1835, de acordo com Hallewell, foi impresso
em Vila Rica, atual Ouro Preto, a coleo Leis do Imprio do Brasil, por
um impressor chamado Silva,6 o que prova no ter ocorrido, at ento,
nenhuma publicao oficial de livros de nosso interesse, ou seja, de poe-
sia. Ainda assim, tem-se oito anos sem registros de publicaes de poe-
sia, o que pressupe a necessidade de haver um trabalho investigativo
nesta rea.
Outro ponto relevante a destacar sobre o levantamento bibliogr-
fico feito o nmero de obras publicadas por autores. Segundo a pes-
quisa bibliogrfica realizada, observa-se que o/a autor(a) que possui mais
livros publicados Henriqueta Lisboa, com 22 publicaes. O segundo
poeta mais publicado foi Soares da Cunha, com 13 livros, seguido de
Ado Ventura e Z de vila, com 11 livros. Alguns autores, como Mercs
Maria Moreira Lopes, Sebastio Bemfica Milagre e Edimilson de Almeida
Pereira, aparecem na pesquisa com 10 livros de poesia publicados. O res-
tante dos autores tem em torno de 1 a 9 livros publicados por editoras
mineiras. Muitos deles, 80%, publicaram somente um livro. Esses dados,
alis, corroboram a observao feita acima a respeito da importante par-
ticipao das mulheres no levantamento bibliogrfico realizado, pois foi
exatamente uma mulher a nica a ultrapassar a marca de 20 publicaes.
Com relao aos poetas naturais de Minas, tambm possvel
constatar que um dos mais importantes autores da poesia brasileira, o
mineiro Carlos Drummond de Andrade, tem somente 3 livros de poesia
publicados em seu estado natal. O restante dos livros do autor foram, na
maioria das vezes, publicados no Rio de Janeiro. O mesmo acontece com
Henriqueta Lisboa que, apesar de ter um volume considervel de livros
publicados em Minas, possui muito mais publicaes fora do estado, em
locais como So Paulo e Rio de Janeiro. J outra poetisa mineira tam-
bm importante, Adlia Prado, no tem sequer um livro publicado por
5 Atlas Cultural do Brasil citado por HALLEWELL, p. 129.6 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 56.
editoras mineiras, segundo a pesquisa bibliogrfica feita. Essas observa-
es podem ser conferidas por meio da tabela 4 abaixo:1
1 Devido grande extenso da tabela, esta foi simplificada, destacando-se somente os autores que publicaram mais de 10 livros. Os outros que apresentam menos do que isso foram agrupados no final da tabela.
2 Apesar de ter poucos livros publicados em Minas, este autor foi destacado devido a sua grande importncia no cenrio potico brasileiro.
-
30 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 31
Tabela 4: Publicaes por autores
Autores N de publicaes
Carlos Drummond de Andrade2 3
Edimilson de Almeida Pereira 10
Sebastio Bemfica Milagre 10
Mercs Maria Moreira Lopes 10
Z de vila 11
Ado Ventura 12
Soares da Cunha 13
Henriqueta Lisboa 20
Outros 772 autores 1049
Total geral 1138
O que se percebe por meio dessas anlises corrobora afirmaes j feitas
anteriormente por diversos crticos, como Alfredo Bosi2 e Carlos vila3, os
quais afirmam que a poesia tem tentado sobreviver a seu modo, mesmo
que no haja espao para ela no mercado consumidor. Afinal, a inicia-
tiva imprescindvel dos prprios poetas na veiculao de seus trabalhos e
ainda a preocupao em criar um espao para a publicao de poesia no
permite que essa atividade desaparea completamente. Dessa forma, o
pblico leitor de poesia agradece, pois, segundo Carlos vila4, o homem
nunca deixar, em nenhuma poca, de ter um carter ldico e, portanto,
sempre haver a necessidade de se expressar de forma potica.
Poesia e sociedade de consumoA sociedade, desde muito, vem sendo guiada pelas leis do consumo e, por
causa desses permanentes ditames, a poesia tem enfrentado cada vez
mais dificuldades para ser veiculada. Motivo disso a caracterstica da
poesia como produto no consumvel, pois esta no foi nem produzida
visando o mercado consumidor. Por isso, tambm no se torna um pro-
duto das massas. A poesia tem pblico seleto. Contudo, no necessrio
considerar essa questo como prejudicial, uma vez que, como defendia
3 BOSI. O ser e o tempo da poesia.4 VILA. Poesia pensada.5 VILA. Poesia pensada.
Marx, o escritor deve ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas,
em nenhum caso, deve viver e escrever para ganhar dinheiro.5 Sendo
a poesia, ento, a arte do anticonsumo, como definiu Dcio Pignatari,6
no h, tambm, dentro do universo potico, algum escritor que v se
enveredar pelos caminhos da poesia visando somente algum tipo de
lucro, o que garante ao gnero (e talvez tambm a outros gneros lite-
rrios), no mnimo, escritores fundamentalmente comprometidos com a
criao artstica.
Carlos vila cita, no livro Poesia pensada, algumas palavras do
poeta e pensador mexicano Octavio Paz sobre o lugar da poesia no mer-
cado consumidor. Segundo Paz,
Submeter as artes e a literatura s leis que regem a circulao de mercadorias uma forma de censura no menos nociva e brbara que a censura ideolgica. A tradio de nossa literatura foi, desde o sculo XVIII, a tradio da crtica, da dissidncia e da ruptura [...]. A arte que mais sofreu com o mercantilismo atual foi a poesia, obrigada a refugiar-se nas catacumbas da sociedade de consumo. [...] Ante esta situao saudvel recordar que nossa literatura comeou com um NO aos poderes sociais. 7
Essa declarao demonstra a dificuldade da poesia em se adequar
ao mercado, restando a ela somente as catacumbas do mundo consu-
midor. No entanto, sendo a poesia to incompatvel com esse mercado,
Carlos vila questiona se no seria esse o local ideal para esse gnero
literrio. Segundo o poeta, tais catacumbas se identificam como um
espao de onde a poesia nunca deve sair, pois seria este o seu habitat
natural.
Sendo assim, a poesia vai se impondo a seu modo, sempre mar-
gem, mas nunca ausente. Citando Hegel, Alfredo Bosi afirma: O esprito
potico soube reecontrar, no meio das complicaes preexistentes da
vida moderna, a independncia individual perdida. Reconhecemos aqui o
corao da nossa tese mais cara: a resistncia da poesia [...].8 O que se
pode concluir que, apesar do espao restrito, como afirma Bosi, Hoje
6 MARX, 1974 apud VILA, 2004, p. 25.7 PIGNATARI, 1977 apud VILA, 2004, p. 24.7 PAZ, 1988 apud VILA, 2004, p. 19-20.8 HEGEL, 1964 apud BOSI, 2004, p. 177.
-
32 Editoras mineiras: o lugar da poesia
a [...] poesia, sob o imprio do mercado, tornou-se, como pensava [...]
Hegel, e mais do que nunca, essencialmente uma pergunta, uma inter-
pelao que ressoa, um chamado aos nimos e aos espritos.9
9 BOSI. O ser e o tempo da poesia, p. 177.
Associao Cultural PandoraPatrcia Fonseca de Souza
Para comemorar os cem anos de Belo Horizonte, um grupo formado por
Marcelo Dolabela, Jair Tadeu, Ana Caetano, Luciano Cortez, Camilo Lara,
Adriana Versiani e Carlos Augusto Novais resolveu lanar a coleo Poesia
Orbital. O objetivo inicial era publicar 100 livros inditos de poesia de 100
poetas mineiros. No entanto, devido a algumas desistncias e a alguns
problemas, a coleo publicou 69 poetas em 63 livros. Essa histria que
se confere aqui foi relatada por um integrante desse grupo, Marcelo
Dolabela, em entrevista exclusiva para os alunos do curso de Letras da
UFMG, de modo a contribuir com a documentao da histria da edio
de poesia em Minas.
Os livros da coleo, como no contaram com a participao de
nenhuma editora, foram lanados com o selo-fantasia Associao Cultural
Pandora. Quando perguntado ao poeta sobre a razo desse nome, ele
explicou que o conceito da caixa de Pandora reflete bem o que a cole-
o, ou seja, assim como h na caixa todo tipo de sentimento, h na cole-
o todo tipo de poesia. Dolabela disse que a iniciativa de criar esse selo-
fantasia no veio da inteno de dar maior credibilidade s publicaes,
como comumente feito em algumas edies independentes. Segundo
ele, a deciso pelo selo-fantasia faz parte da ideologia do grupo, o qual
tende a traduzir pelo nome aquilo que pretende apresentar. Da mesma
forma se justifica o nome Poesia Orbital, que, de acordo com o poeta,
vincula-se ideia de no haver um ponto central na produo, o que se
tem so vrias rbitas, estilos poticos diversos.
Por seu carter de ineditismo, Marcelo Dolabela disse que h de
tudo na coleo, h trabalhos ditos muito bons, mas tambm alguns que
foram considerados como muito ruins. Mas que, mesmo assim, foram
publicados. Dolabela ressaltou que o grupo responsvel pelas publicaes
tinha ideologias muito fortes e, por isso, tudo o que o grupo fazia ou j
fez est relacionado a elas. E isso no se refere somente aos nomes con-
cedidos aos seus trabalhos.
Com relao a isso, o poeta citou o caso de uma poetisa que foi
muito criticada por causa da peculiaridade do trabalho que publicou na
-
34 Editoras mineiras: o lugar da poesia Associao Cultural Pandora 35
coleo. Ele disse que, apesar de tantas crticas, esta poetisa foi a nica
a ser citada em uma antologia sobre poesia mundial lanada nos Estados
Unidos. Ou seja, para Dolabela, mesmo com toda rejeio que tal poetisa
obteve no Brasil, o fato de seu nome ter sido citado em uma antologia no
exterior revela que seu trabalho tem qualidade.
Ainda por causa de suas ideologias, o poeta contou que o grupo
no permitiu que alguns poetas colocassem fotos nas publicaes da cole-
o Poesia Orbital, pois, segundo ele, se a coleo tinha carter padro,
no haveria sentido em colocar uma foto em um livro e no colocar em
outro. Alm disso, Marcelo Dolabela disse que o grupo compartilhava a
ideia de que livro no era lugar para fotos. Estas deveriam ficar na car-
teira de identidade ou no fotoblog. Portanto, a ideologia do grupo teve de
ser respeitada e as fotos no foram permitidas nos livros.
Para escolher os poetas a serem publicados, Marcelo Dolabela
contou que foram convidados no incio dez grupos, como o grupo Os
Mundanos, da regio Leste; Tnia Diniz, da editora Mulheres Emergentes;
o grupo Dazibo, de Divinpolis; o grupo da Fahrenheit; o grupo da
revista Cem Flores; o Grapes, da regio Leste; o Grupo Taquicardia; o
grupo Razo de Dois; e ainda outros que no quiseram participar.
Aps os grupos terem escolhido os poetas, estes eram procurados
e, se houvesse interesse por parte do poeta em fazer parte da coleo,
ele deveria aceitar a condio de ter de arcar com a publicao, que cus-
taria em torno de R$ 590,00 (quinhentos e noventa reais). Se houvesse
alguma arrecadao para pagar os custeios, os poetas s teriam de con-
tribuir com o valor restante. Caso contrrio, eles assumiriam o valor total
da publicao.
Mas, para a felicidade dos poetas, a Prefeitura de Belo Horizonte
resolveu contribuir, doando 53% dos recursos. Houve ainda outros doado-
res, como a FUMEC, que participou com uma contribuio monetria sin-
gela, mas que ofereceu apoio fundamental ao projeto. Segundo Dolabela,
a FUMEC contatou alguns rgos importantes, como a FIEMG, com o obje-
tivo de conseguir algum patrocnio para a coleo. Outra contribuio
da FUMEC foi a concesso de espaos para o grupo se reunir e de alguns
servios, como utilizao de seus telefones.
Com relao a FIEMG, Dolabela contou um fato engraado: segundo
o poeta, o rgo iria dar uma generosa contribuio, que arcaria com
quase todos os dispndios para a publicao dos livros. Contudo, ele
disse que a FIEMG desistiu de contribuir, pois, de acordo com o poeta, o
grupo foi sincero demais. Ao se encontrarem com o diretor do SESI Minas,
Dolabela contou que esse perguntou se, dentre os poemas que seriam
lanados em todos aqueles livros, tinha algum que falava mal de empre-
srios. Diante da pergunta, o poeta no mentiu e respondeu que sim. Por
causa disso, o diretor desistiu da contribuio, pois, sendo um rgo que
apoia as indstrias, seria incoerente incentivar uma iniciativa que falasse
mal dessa prtica. Para contornar a situao, Dolabela disse que alguns
membros do grupo sugeriram que o poema fosse retirado, mas ele disse
que a outra parte no concordou com isso, pois o poema era bom e, por-
tanto, deveria ser mantido. Mais uma vez a ideologia do grupo que,
segundo Dolabela, compartilhava o desejo de levar a poltica para dentro
da arte e a arte para dentro da poltica foi respeitada. Assim, o poema
foi lanado e perdeu-se o patrocnio da FIEMG.
Outro fato curioso da histria da Poesia Orbital foi a contribuio
espontnea de um desconhecido. Dolabela contou que um dia o grupo
estava participando de um recital de poesia e nele comentou-se sobre
o Poesia Orbital e, ento, um homem que estava presente achou o pro-
jeto interessante e resolveu contribuir sem que o grupo pedisse qualquer
ajuda ao sujeito.
No final, o custo dos livros caiu para aproximadamente R$ 290,00
(duzentos e noventa reais). Ainda assim, Dolabela contou que havia poe-
tas que queriam publicar, mas que no tinham condies financeiras para
pagar pela publicao. Por isso, os 7 editores resolveram que estes poe-
tas poderia dividir alguns livros, diminuindo, dessa forma, o valor com
que cada um precisaria contribuir. Sendo assim, alguns compartilharam
livros com um, dois ou trs poetas.
O projeto grfico de todos os livros foi feito por Glria Campos.
Segundo Dolabela, ela acompanhou todas as discusses a respeito do
que o grupo queria, como tipo de papel, fonte, esttica etc. Como se tra-
tava de uma coleo, o poeta enfatizou a necessidade de padronizar os
livros. Logo, o autor no poderia optar por formatos diferentes daquele
-
36 Editoras mineiras: o lugar da poesia
escolhido como padro. Por isso, em todos os livros, havia sempre uma
orelha, uma biografia e uma contracapa com um texto em comum. A
nica coisa que o poeta tinha direito de escolher era a imagem da capa.
A impresso da coleo foi feita pela grfica Rona, que, de acordo
com Dolabela, era a melhor grfica da poca. O poeta contou que, inicial-
mente, o grupo no queria que a impresso fosse feita na Rona, pois essa
grfica tinha preos muito elevados. No entanto, como havia poetas na
coleo muito exigentes com relao ao aspecto grfico do livro, o grupo
decidiu ficar com a Rona assim mesmo. O problema era que essa deciso,
segundo Dolabela, poderia elevar os custos da publicao de R$ 590,00
(quinhentos e noventa reais) para mais de R$ 800,00 (oitocentos reais).
Contudo, o poeta contou que a grfica se entusiasmou com o projeto e
deu um bom desconto, deixando os custos na faixa do valor estimado
inicialmente.
Quando o livro ficou pronto, cada poeta teve direito a uma coleo.
Alm dos poetas, mais cem lugares no Brasil a receberam, dentre eles
bibliotecas pblicas e outros rgos pblicos de incentivo cultura.
O lanamento dos livros foi feito no Conservatrio da UFMG, local
que abrigou em 1997 eventos relacionados ao centenrio da capital
mineira. O poeta contou que o lanamento foi um sucesso, pois s neste
dia venderam-se em torno de trs a quatro mil livros.
Dolabela considera que esse projeto foi muito bem sucedido, pois
a idia de lidar com 69 cabeas pensando de maneira diferente, respon-
sabilizar cada poeta pelo custo de seu prprio livro e ainda conceder
autonomia a cada um para dar destino coleo que lhe fosse entregue
caminhava para ser uma perfeita desordem. Mas, pelo visto, foi um tre-
mendo sucesso.
Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais na publicao de poesia em Minas
Michelle Souto Falco
Stphanie Paes Rodrigues
Seria no mnimo impreciso traar um panorama histrico da edio de
qualquer produo escrita, literria ou no, em Minas Gerais e em qual-
quer lugar sem mencionar a atuao de instituies universitrias e
governamentais nesse processo. Ora de forma mais direta e impactante,
ora de modo indireto e sutil, no de hoje que universidades e governos
intervm nos rumos da atividade editorial mundial, alterando, direcio-
nando e definindo s vezes delimitando seus caminhos. E o inverso
igualmente verdade. Em suma, h muito que rgos oficiais e a atividade
editorial tm influenciado mutuamente sua trajetria.
Para ilustrar basta lembrar que, em Cuba e no Peru pioneiro da
imprensa na Amrica do Sul , a criao da imprensa se deu concomi-
tantemente ao surgimento de universidades,1 o que pode ser justificado
pelo fato de estas instituies precisarem registrar e difundir o conheci-
mento ali gerado, para que ele no se perca e sua atividade faa sentido.
E esta uma relao de mtua dependncia pois, assim como as univer-
sidades precisam das imprensas para difundir o produto de seu estudo e
trabalho, as casas impressoras que o publicam dependem desse conheci-
mento gerado pelas universidades para se manterem em atividade, pois
esse conhecimento a sua matria-prima. O mesmo aconteceu na rela-
o entre imprensa e governos, que em muitos casos as criaram com o
objetivo, ao menos inicial, de publicar documentos e peridicos oficiais.
A bibliografia por ns consultada no nos permite afirmar muito
quanto ao passado, mas sabemos que hoje muitas universidades pos-
suem sua prpria editora e/ou imprensa, cujos catlogos no se restrin-
gem publicao de obras de carter cientfico, abrindo o seu leque para
a publicao de ttulos de importncia cultural, entre eles, os de litera-
tura, incluindo livros de poesia escopo de nosso trabalho. H ainda as
que possuem ncleos de pesquisa que do vazo a outras produes,
1 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 8-9.
-
38 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 39
at mesmo s ditas menores no por qualidade, mas por no serem
cannicas abrindo espao inclusive para o trabalho de alunos. Em
levantamento bibliogrfico, chegamos a uma listagem de 123 univer-
sidades brasileiras que hoje possuem sua prpria editora,2 sendo que
h chances de o nmero real ultrapassar esta marca. Destas 123 edito-
ras (e correspondentes universidades), 7 localizam-se em Minas Gerais:
Editora UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Editora PUC Minas
(Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais), Editora UNIMONTES
(Universidade Estadual de Montes Claros), EDUFU (Editora e Livraria da
Universidade Federal de Uberlndia), Editora UFV (Universidade Federal
de Viosa), Editora UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Editora
UFLA (Universidade Federal de Lavras).
Em momento posterior, buscamos fazer uma catalogao de livros
de poesia publicados por essas editoras. A busca em seus catlogos mos-
trou-se muito pouco produtiva pois algumas no o possuem disponvel
on-line (editoras da UFV e da UFLA); ou o possuem sem ferramenta da
busca (a editora da UFJF investiu em uma moderna apresentao grfica
para seu catlogo, mas no oferece um sistema que permita ao usurio
restringir e facilitar sua busca); ou nem mesmo possuem uma pgina
na web (editora Unimontes). Mas j neste primeiro levantamento, por
menos produtivo que tenha sido, pudemos suspeitar que a Editora UFMG
a que mais abre espao para a publicao de livros de poesia (apenas seu
catlogo de 2010 lista seis ttulos), suspeita que foi posteriormente con-
firmada. Alm desta, o destaque ficou para a EDUFU, que apresentou trs
livros de poesia em seu catlogo, sendo que um deles, Experimentando
a vida cotidiana: cotidiano, esperanas e sensibilidades, de 2008, resul-
tado de um concurso literrio promovido pela prpria universidade para
revelar seus poetas annimos. As demais, quando possuam ttulos asso-
ciados poesia, eram de teoria ou crtica literria.
Mas os dados que nos permitiram tirar concluses mais seguras
vieram de catalogao resultante do levantamento bibliogrfico feito
pelos alunos da disciplina Estudos Temticos de Edio: histria da edi-
o em Minas (primeiro semestre de 2010) em acervos disponveis online
2 Este levantamento de editoras universitrias foi realizado nos sites da ABEU (Associao Brasileira de Editoras Universitrias) e Universia, em abril de 2010.
e em contato direto com os livros do acervo da biblioteca da Faculdade de
Letras da UFMG e do acervo particular da professora Snia Queiroz. Nesse
amplo catlogo, somado aos dados obtidos no levantamento bibliogrfico
anterior, encontramos em torno de 350 livros de poesia, 60 deles publi-
cados por editoras universitrias, 3 o que representa um total de 5% das
obras editadas. Embora este ndice parea pequeno, ele adquire relevn-
cia quando consideramos que a maioria das editoras listadas entra com
uma mdia de 1% dos livros lanados.
Como antecipado acima, esse segundo levantamento reiterou nos-
sas suspeitas, colocando 28 ttulos editados somente pela UFMG contra 32
lanados pelas demais instituies (dez ao todo). Essa discrepncia pode
se dever s fontes pesquisadas e seria interessante uma pesquisa poste-
rior e mais ampla que confirmasse ou complementasse esses dados. De
qualquer maneira, inegvel a importncia da Editora da UFMG para a
publicao de livros de poesia dentro do universo acadmico. Outra edi-
tora que merece nota Editora Unimontes, que, com 17 livros de poesia
publicados, destaca-se como difusora de conhecimento e cultura no norte
de Minas.
Entre os autores publicados por essas editoras encontramos vrios
nomes consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta
Lisboa e Abgar Renault; o que j era esperado. Mas, contrariando nossas
expectativas, nos deparamos com um grande nmero de ttulos de auto-
res menos conhecidos pelo menos poca da publicao de seus livros
, a exemplo do j citado livro publicado pela Universidade de Uberlndia
para divulgar seus poetas ocultos. Nesse campo se destacou a Imprensa
Universitria da UFMG, que inclusive publicou uma obra vencedora de con-
curso literrio: Durando entre vindimas, do poeta Geraldo Reis (Concurso
Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte, 1988). Convm ressal-
tar as publicaes do ncleo de pesquisa Literaterras, da FALE/UFMG, que
produz material didtico para escolas indgenas usando como matria-
prima sua prpria cultura, suas prprias histrias, algumas publicadas
em versos; e tambm as Edies Viva Voz, produzidas pelo Laboratrio
3 Neste ponto da pesquisa foram encontrados, e listados, tambm livros publicados por grficas e imprensas universitrias, ncleos de pesquisa e demais rgos vinculados instituies de ensino superior que editaram livros de poesias.
-
40 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 41
de Edio da Faculdade de Letras da UFMG, que publica trabalhos de alu-
nos de professores, inclusive os volumes desta coleo Editoras minei-
ras. Mas o grande elo que une todas as publicaes encontradas o fato
de seus autores serem quase todos locais do estado ou da cidade , o
que demonstra um interesse e uma preocupao com a valorizao de
nossa produo literria.
Durante a pesquisa bibliogrfica que nos forneceu os dados acima,
percebemos uma grande presena de obras editadas ou financiadas por
rgos governamentais, tais como o Governo do Estado de Minas Gerais
e a Secretaria de Educao do Estado de Minas Gerais. Uma relao que
vem atravessando os sculos, nem sempre de forma amigvel.
Essa ligao entre governo e imprensa no geral se deu, de incio,
por necessidades administrativas. No Brasil, at a vinda da Famlia Real,
no se via necessidade da abertura de uma Imprensa Oficial, uma vez
que a nossa administrao, at ento, era muito rudimentar e a popula-
o [...] pequena e espalhada pelo territrio;4 o que no tornava neces-
srio um controle administrativo muito rigoroso e dispensava existncia
de indstrias de impresso.
Muitos jornais tambm foram abertos por iniciativa de governos ao
longo destes pouco mais de cinco sculos desde a inveno da imprensa
por Gutenberg. Foi assim na Espanha, em 1626 (Gazeta de Madrid); na
Venezuela, em 1804, e na Nicargua, em 1835. Em Portugal, a primeira
publicao vai surgir apenas 22 anos aps a criao da primeira gazeta
de Lisboa. O jornal mensal, que recebeu o nome de Mercrio Portugus
e foi distribudo at 1667, era impresso a mando do rei Afonso VI por
seu impressor oficial, Henrique Valente de Oliveira, e coordenado pelo
escritor e secretrio de Estado Antnio de Sousa de Macedo, conforme
relata Matarelli.5 Neste pas, outro registro importante de ligao entre
governo e imprensa se d cem anos depois quando, em 1768, o Marqus
de Pombal funda a Imprensa Rgia de Lisboa, posteriormente Imprensa
Nacional.
4 HALLEWELL citado por MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 8.
5 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 10.
Outro caso interessante e talvez mais interessante para esta
publicao do que os outros se deu na Espanha e no diz respeito a um
jornal, mas a uma outra forma de publicao peridica. Trata-se de uma
revista chamada Dirio de los literatos de Espaa, criada e custeada pelo
ento rei Felipe V, da dinastia dos Bourbons, em 1737,6 numa tentativa
de difundir a produo literria, j que os livros eram muito caros, o que
dificultava o acesso da maior parte da populao produo livresca.7
Era, j no sculo XVIII, um incentivo direto do governo produo lite-
rria local.
No Brasil, uma histria de incentivo governamental ao desenvol-
vimento intelectual da populao atravs de incentivo ao processo edi-
torial se deu no Rio de Janeiro, nos idos de 1747, quando a convite do
ento governador daquele estado Gomes Freire de Andrade, conde de
Bobadella , Isidoro da Fonseca um dos principais tipgrafos de Lisboa,
responsvel pelas primeiras publicaes importantes em Portugal, 8 veio
para o Rio abrir sua prpria tipografia, que funcionou at que a atividade
fosse denunciada e sua volta a Portugal, juntamente com todo o equi-
pamento, fosse ordenada, j que naquela poca essa atividade no era
permitida no territrio sem autorizao Real. O estmulo legal impres-
so apareceu no Brasil a partir da vinda da Famlia Real, em 1808, com
a abertura da Imprensa Rgia no Rio de Janeiro, cuja funo principal
seria a impresso de documentos oficiais e livros cientficos.9
Em Minas Gerais, o primeiro relato de uma associao entre
governo e imprensa ocorreu em Vila Rica, hoje Ouro Preto, em 1806.
Como explica Matarelli, a obra no se tratava de um livro, propriamente,
mas sim de um poema de carter bajulador, encomendado pelo ento
Governador da provncia, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, o vis-
conde de Condeixa, ao poeta Diogo de Vasconcelos. O poema, que rece-
beu o nome de Canto encomistico, foi impresso e reproduzido pelo
padre Joaquim Viegas de Menezes.10 Somente em 1921 surge a primeira
imprensa da provncia, trazida do Rio pelo governo.
6 HISTORIA de La prensa espaola.7 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 7.8 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 14.9 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 17.10 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 14.
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42 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 43
Mas, como j dissemos anteriormente, essa relao atividade edi-
torial/governo nem sempre foi cooperativa. Portugal, no sculo XVIII e
principalmente aps a queda do Marqus de Pombal, esteve sob forte
censura, que podia proibir um livro tanto por no se adaptar aos cnones
aceitos do gosto literrio quanto por seu contedo de idias.11 Tambm
aqui no Brasil a censura imposta pelo Imprio se fez presente, porm de
forma mais incisiva: at que a Famlia Real viesse para o Rio de Janeiro,
toda e qualquer atividade impressora era proibida e coibida na colnia, a
menos que houvesse autorizao real. Tanto que o visconde de Condeixa
teve que aceitar assumir toda a responsabilidade pelas cpias do Canto
encomistico para convencer o padre Joaquim Viegas a imprimi-las. E
no nos esqueamos da tipografia de Isidoro da Fonseca, que foi man-
dada fechar ainda que existisse por incentivo do governador do Rio de
Janeiro.
Posteriormente, j no sculo XX, no regime republicano, a censura
voltou a controlar os rumos da atividade editora nacional. Foi quando o
Presidente Bernardes (1922-1926) decretou a represso ao anarquismo
em 1923, com uma lei que penalizava com quatro anos de priso quem
escrevesse ou editasse material subversivo.12 A Constituio promul-
gada em 1934 veio dar a iluso de retorno liberdade de imprensa, mas
permitia que chefes de polcia interviessem quando necessrio. No ano
seguinte, a presso dos regimes fascistas no mundo trouxe de volta o
fantasma da censura com o governo Vargas. Durante este perodo, alis,
todos os pases dominados pelo nazi-fascismo estiveram sob forte con-
trole da censura.
Entretanto, na era Vargas, a censura imposta pela Lei de Segurana
Nacional, que durou at janeiro de 1953, acabou afetando mais dire-
tamente a imprensa jornalstica. Por outro lado, segundo Hallewell, o
comrcio de livros acabou sendo beneficiado, j que os jornais, temero-
sos de publicar material ofensivo ao governo, preferiam publicar resenhas
e crticas literrias a tecer comentrios polticos.13
11 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 22.12 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 368.13 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 369.
Foi durante o Regime Militar iniciado em 1964 que o sufocamento
da liberdade de imprensa se tornou mais pernicioso para a atividade edi-
tora: com a promulgao do Ato Institucional n 5 (AI-5), todos os meios
de comunicao eram obrigados a ter seu material avaliado pelos agentes
da censura, que poderiam permitir ou no a divulgao da informao e
ainda inspecionar e mesmo ordenar o fechamento das empresas que as
pretendiam divulgar. Este controle governamental s teve seu fim defini-
tivo em 1988, com a aprovao de uma nova Constituio.
Mas nem tudo foi retrocesso nesse perodo de liberdades veladas.
Foi em pleno regime militar, e com o financiamento do Governo Federal,
que a tcnica de impresso em offset14 foi introduzida no pas. Com o
Decreto-Lei n 46, de 18 de novembro de 1966, as casas impressoras
ficaram isentas das taxas alfandegrias de importao dessas mquinas
e em trs anos, 40 milhes de dlares j tinham sido investidos nesse
maquinrio que ampliou a capacidade de produo e a versatilidade tc-
nica da indstria editorial brasileira.15 Posteriormente, em 6 de setembro
de 1980, foi o peridico Suplemento Literrio de Minas Gerais, produzido
pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, que inaugurou o pro-
cesso de impresso em offset no estado. Alis, em se tratando de relao
colaborativa entre rgos oficiais e atividade editorial em Minas Gerais, o
destaque fica para a Imprensa Oficial do estado, com a sua produo de
livros de literatura, alm da publicao do Suplemento, como demonstrou
a nossa pesquisa bibliogrfica.
Por rgo oficial entendem-se prefeituras, bancos, Secretarias
de Cultura de estados e municpios, Academias de Letras, enfim, todo
rgo ou instituio vinculado aos governos federal, estadual ou munici-
pal; sendo que alguns deles esto ligados, ainda que de forma indireta,
ao incentivo cultura e literatura incluindo a produo potica.
Em nossa pesquisa, registramos um total de 345 livros editados por
42 desses rgos oficiais existentes em Minas Gerais. Destes, decantam-
se a Associao Cultural Pandora, com 63 ttulos publicados, e a Imprensa
Oficial de Minas Gerais, com 184 livros de poesias registrados, o que
14 Evoluo da impresso linotpica, a impresso offset [...] um processo planogrfico cuja essncia consiste em repulso entre gua e gordura (tinta gordurosa). (IMPRESSO Offset)
15 WOLLNY; FERREIRA. Breve apanhado sobre o processo de impresso em Minas Gerais, p. 27.
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44 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 45
representa em torno de 53% dos livros publicados por instituies oficiais
em Minas e 16% do total de livros publicados no estado. A Associao
Cultural Pandora, segundo Patrcia Fonseca de Souza, na realidade cor-
responde a um selo criado pelo poeta Marcelo Dolabela especialmente
para a publicao da coleo Poesia Orbital, srie de obras de poetas
mineiros publicadas em razo da comemorao do centenrio da capi-
tal mineira, por meio de subsdios da prefeitura.16 Um grande gesto de
valorizao do fazer potico local.
Outro rgo oficial que durante muito tempo valorizou e incentivou
a atividade potica mineira a Imprensa Oficial do estado. S para citar
alguns dos nomes mais importantes e recorrentes, encontram-se registra-
dos no levantamento Henriqueta Lisboa (a favorita, com sete livros publi-
cados), Emlio Moura, Paschoal Motta, Augusto de Lima e Librio Neves.
Curiosamente, no sabemos se por falta de registro ou falha
nos sistemas de busca dos acervos consultados, Carlos Drummond de
Andrade no aparece em nosso levantamento. Mas fato que a Imprensa
Oficial publicou pelo menos um de seus livros: Alguma poesia, sua pri-
meira coletnea de poemas publicados, na dcada de 1930, em tiragem
de 500 exemplares autorizada pela Imprensa e paga atravs de desconto
em sua folha de pagamentos (Drummond era redator do Minas Gerais
dirio oficial dos poderes do estado poca). Este fato um exemplo
claro da atuao da Imprensa Oficial como impulsionadora dos talentos
mineiros do fazer potico.
Outro poeta que pode comprovar esse papel da instituio Librio
Neves que, em entrevista concedida a ns, conta como conseguiu que
dois de seus livros fossem publicados pela casa, incluindo o seu primeiro,
o premiado Pedra solido:
No meu caso, contei com a boa vontade do escritor e amigo Ildeu Brando, que levou os originais do Pedra solido ao conhecimento do ento Diretor da Imprensa Oficial, Guimares Alves, em 1965, que, por autonomia e verba prpria da Imprensa, para fins de publicao, mandou publicar o livro. Eram as edies MP (Movi-mento Perspectiva) [...] O mesmo aconteceu com o segundo livro
16 SOUZA. Histria da edio de poesia em Minas Gerais: um breve panorama, p. 12.
premiado, em 1969 (O rmo), j ento para as edies IP (Imprensa Perspectiva).17
Mas no foi s atravs da publicao de livros que a Imprensa
Oficial do Estado de Minas Gerais deu incentivo e divulgao poesia
mineira. Ela o fez tambm atravs de seu rgo oficial, o jornal Minas
Gerais, mais especificamente de seu Suplemento Literrio, que foi pro-
duzido pela instituio entre os anos de 1966 e 1994, quando ele adquiriu
autonomia administrativa e passou a ser responsabilidade da Secretaria
de Cultura do Estado. O peridico, que, tomando emprestadas as pala-
vras de Humberto Werneck, consistia em plantar um osis de cultura e
arte em meio aridez dos despachos oficiais18 tinha a misso de aliar
grandes nomes da literatura mundial aos seus jovens talentos, papel que,
mesmo autnomo, continua prestando a cada nmero.
Os rgos oficiais em geral parecem ter como meta principal publi-
car, no sentido de tornar pblico, o produto local, a arte local, dentro
de sua prpria casa. E uma das formas que eles encontram para fazer
isto atravs de concursos literrios, que s vezes at mesmo oferecem
como prmio para os autores a publicao de uma pequena tiragem dos
livros vencedores. E ainda que no o faam, a premiao facilita a acei-
tao da obra por casas editoras. Uma parte dos livros levantados em
nossa pesquisa bibliogrfica foi publicada aps ter recebido algum prmio
literrio, a publicao tendo sido financiada por seus organizadores ou
no. Alguns exemplos encontrados so: Notcias da cela 4.578.321.069,
de Paulo Sampaio e publicado em Belo Horizonte pelo Departamento de
Ao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura; e tambm os j men-
cionados Pedra solido e O rmo: poesia 1964-1965, que sabemos no
terem sido publicados com verba dos organizadores do concurso, alm
de Circulao de sangue, de Librio Neves, e Das razes inquietas, de
Max de Figueiredo Pontes, editadas pela Imprensa Oficial do Estado de
Minas Gerais.
17 NEVES, Librio. Resposta de entrevista Librio Neves [mensagem pessoal].18 WERNECK, Humberto. Meu Suplemento inesquecvel. Suplemento Literrio de Minas Gerais. n. 1287,
Belo Horizonte, Secretaria do Estado de Cultura de Minas Gerais, dez. 2006, p. 3. Disponvel em: .
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46 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 47
Dois desses concursos que ainda so realizados periodicamente
em Minas Gerais so o Prmio Cidade de Belo Horizonte, que premiou
Librio Neves por duas vezes, por suas obras Pedra solido (1964) e
Circulao de sangue (1972), e o Prmio Governo do Estado de Minas
Gerais. O primeiro, criado em 1947 em comemorao dos 50 anos de Belo
Horizonte, aceita apenas obras inditas que so julgadas em diferentes
categorias, de acordo com o gnero: poesia, ensaio, dramaturgia, conto
e romance. O prmio, que o mais antigo do pas, em 1984 passou a
ser de mbito nacional e, desde 2009, oferece como prmio a publicao
das obras vencedoras, alm de uma quantia em dinheiro.19 J o Prmio
Governo do Estado de Minas Gerais uma iniciativa bem mais recente,
tendo sido criado em dezembro de 2007 com o objetivo de promover e
divulgar a literatura brasileira, reconhecendo grandes nomes e abrindo
espao para os jovens escritores. Diferentemente do Prmio Cidade de
Belo Horizonte, este concurso possui duas categorias por gnero (Poesia
e Fico), na qual disputam escritores iniciantes e veteranos, uma cate-
goria para premiar um jovem escritor mineiro (e que leva este nome),
alm de uma para premiar e, por que no dizer, homenagear, um escritor
brasileiro de grande relevncia, a categoria Conjunto da Obra.20
Uma outra forma de incentivo que tem sido dada pelo Governo
do Estado de Minas Gerais a Lei de Incentivo Cultura, destinada a
fomentar projetos culturais de qualquer ordem no estado, incluindo a
publicao de livros.
Os projetos so analisados pela Comisso Tcnica de Anlise
de Projetos (CTAP), que considera desde os critrios tcnicos
pr-requisitos quanto ao empreendedor e enquadramento de
seu projeto, viabilidade tcnica e exeqibilidade, detalhamento
oramentrio, efeito multiplicador e benefcio social at o fato
de possurem carter estritamente artstico-cultural e interesse
pblico.21
19 PREFEITURA de Belo Horizonte abre inscries para o Concurso Nacional de Literatura.20 PRMIO Governo de Minas Gerais de Literatura.21 LEI Estadual de Incentivo.
No princpio deste ensaio dissemos que, ora de forma mais direta
e impactante, ora de modo indireto e sutil, universidades e governos
intervm nos rumos da atividade editorial que, de certa forma, tambm
afeta as rotas desas instituies. Entretrato, aps toda a anlise feita e
tudo o que foi dito, chegamos concluso de que no s estas rotas se
alteram mutuamente, como, em resultado, elas alteram muitas outras:
a do escritor veterano, ao ser prestigiado, homenageado e relembrado a
cada edio que sai de suas obras; a do escritor iniciante, que sai do des-
conhecido e v muitas portas se abrirem para si ao ter seu primeiro livro
publicado; a da literatura, que ganha novas cores, sabores, texturas;
a do conhecimento, que adquire novas formas, nuances e perfis; a das
instituies polticas, que ganham ares mais suaves, e, em ltima instn-
cia, pois est no fim do percurso, a do leitor, seja qual for seu perfil, que
entra em contato com uma gama incomensurvel de ideias, de lgicas,
de perspectivas, ampliando sua bagagem intelectual e cultural.
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Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais
Patrcia Fonseca de Souza
A Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais responsvel pela publica-
o de diversos atos e aes dos Poderes do Estado, publicaes em geral
para terceiros, alm de edies e impressos de cunho cultural. Dentre
os ltimos, esto alguns livros de poesia, que datam de 1915 a 2003. S
para se ter uma ideia da dimenso da importncia desse rgo no cenrio
editorial de poesia em Minas, em pesquisa bibliogrfica realizada, foram
encontrados, dentre 1.128 publicaes que se dividem entre 252 institui-
es , 184 livros de poesia publicados pela Imprensa Oficial (ver tabela 1
nos itens Imprensa Oficial e Movimento Perspectiva Imprensa Oficial).
A pesquisa que consultou acervos como o Sistema de Bibliotecas da
UFMG, o acervo online da Biblioteca Nacional, o Acervo de Escritores
Mineiros da UFMG, a Coleo Mineiriana do Instituto Cultural Amilcar
Martins, e catlogos online de algumas editoras revelou que, alm de
ter publicado obras de importantes poetas mineiros, como Henriqueta
Lisboa e Emlio Moura, a Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais
tambm tem um nmero significativo de livros de poesia publicados se
comparada a outras editoras mineiras, j que estas possuem em torno
de 1 a 2 edies desse gnero literrio. Pode-se concluir, portanto, que a
atividade de edio exercida por esse rgo de suma importncia para
a pesquisa que se pretende realizar.
Por causa dessa expressiva atividade editorial no campo da poesia,
entrevistar a Imprensa Oficial seria extremamente relevante para esta
pesquisa, visando um acesso direto a informaes inditas a respeito da
histria da edio de poesia que feita pela Imprensa. Todavia, ao tentar
contatar algum que pudesse fornecer alguma informao sobre a hist-
ria da Imprensa Oficial com relao a esse ofcio, o que se obteve foi uma
srie de respostas insatisfatrias, pois no h mais nenhum funcionrio
dentro do rgo que saiba dar esse tipo de informao que, alm disso,
nunca foi registrada em nenhum tipo de documento.
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50 Editoras mineiras: o lugar da poesia Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais 51
Diante dessa constatao, foi pedido a esse rgo que contribusse
com esta pesquisa fornecendo, pelo menos, um catlogo com as obras j
publicadas. Porm, mais uma vez a resposta foi desanimadora, pois no
h disponvel um material desse tipo. Um funcionrio disse que o nico
resqucio que ainda h das obras que j foram publicadas pela Imprensa
Oficial uma vitrine que h do lado de fora do prdio, a qual expe alguns
trabalhos feitos pelo rgo. O problema que nessa vitrine no h um
exemplar de todas as publicaes feitas, uma vez que o objetivo da expo-
sio somente dar aos cidados uma ideia do trabalho que realizado
pela Imprensa Oficial.
A nica sada plausvel, portanto, foi ir at esse rgo para buscar,
l mesmo, alguma pista que orientasse esta pesquisa. Sendo assim, a
cordialidade e boa vontade da Diretora de Relaes Institucionais, Denise
Riera Toledo Nora, foi aproveitada como fonte de algumas informaes de
que ela dispunha sobre essa histria. Apesar de no ter conhecimento de
todo o processo editorial daquela poca, a Diretora forneceu informaes
bastante curiosas a respeito do trabalho exercido pela Imprensa com
relao publicao de poesia.
Segundo Denise R. T. Nora, antigamente, havia, dentro do prdio
da Imprensa, uma comisso editorial, vinculada Secretaria de Estado
de Cultura. Essa comisso era responsvel pela seleo dos ttulos que
seriam publicados por ano pela Imprensa Oficial. Segundo a Diretora,
escolhiam-se 10 ttulos por ano. Aps a venda dos livros, a Imprensa
Oficial detinha 40% do valor arrecadado e os outros 60% eram destinados
ao autor. No entanto, aps a transferncia de uma parte dessa comisso
editorial para a Secretaria de Estado de Cultura e ainda por questes
mercadolgicas, essa poltica de publicao extinguiu-se.
Ao ser questionada a respeito dessas questes mercadolgicas
sobre as quais falou, Denise R. T. Nora contou que, como era de maior inte-
resse para o Governo e para a Imprensa uma centralizao das atividades
de impresso e publicao para rgos do Estado j que a Imprensa
Oficial produz impressos para todos eles, tentou-se dar maior enfoque
a essas questes, deixando de lado, portanto, as edies de livros de
poesia. Agora, quem decide pela publicao por meio da Imprensa Oficial
o prprio autor. Este pode entregar os originais diretamente ao rgo e
pagar pela publicao. Mas o escritor precisa ter em mente que a quali-
dade da obra, com relao ortografia, por exemplo, de sua responsa-
bilidade, uma vez que a Imprensa Oficial, no sendo uma editora ainda
que pudesse ser, de acordo com a lei no faz trabalhos de reviso. At
mesmo os projetos grficos tm de vir prontos, pois, apesar de haver, no
seu quadro de profissionais, programadores visuais da Autarquia, estes
s so responsveis por revises dos trabalhos recebidos para publica-
o. No entanto, se no quiser arcar com os custos do livro, o autor ainda
pode valer-se da Lei de Incentivo Cultura.1 Sendo assim, o interessado
envia o material para a Secretaria de Estado de Cultura, que faz a sele-
o daquilo que ser publicado. Se escolhido, o autor ganha um valor de
incentivo para realizar a publicao do livro.
De acordo com o catlogo de peas grficas da Imprensa Oficial,
nos livros publicados pelo rgo, so utilizados papis offset, couch liso
ou matte, no miolo; e carto supremo, couch ou offset, na capa. A
impresso feita em offset plana, rotativa ou impresso digital, podendo
ser em 1, 2, 4 ou mais cores. J o acabamento costurado e colado, com
a capa plastificada ou laminada. Pelo que se pode observar, a Imprensa
Oficial conta com materiais de primeira qualidade em impresso e acaba-
mento, o que garante ao rgo o ttulo de excelncia em impresso que,
segundo Denise R. T. Nora, diversas vezes foi concedido a ele.
A Diretora tambm forneceu um dado importante quanto ao des-
tino dos antigos livros publicados pela Imprensa Oficial. Segundo Denise
R. T. Nora, todas as edies que estavam disponveis em uma biblioteca
que funcionava dentro do rgo, denominada Eduardo Frieiro,2 foram doa-
das Biblioteca Pblica Estadual Luiz de Bessa, proporcionando, dessa
forma, maior acessibilidade. Portanto, o que ainda resta das publicaes
de interesse para esta pesquisa encontra-se, agora, na biblioteca pblica.
1 Lei n 17.615, de 4 de julho de 2008, que visa a concesso de incentivo fiscal com o objetivo de estimular a realizao de projeto artstico-cultural no estado.
2 Nome dado em homenagem ao escritor Eduardo Frieiro (1889-1982), que foi uma figura ilustre na histria da Imprensa Oficial.
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O Suplemento LiterrioCludia B. Garabini
O Suplemento Literrio foi lanado em 1966, sob a responsabilidade da
Imprensa Oficial, que o publicava, semanalmente, como encarte do jor-
nal do Estado, o Minas Gerais, que circula em Belo Horizonte, interior de
Minas e outras capitais.
Na poca o governador Israel Pinheiro decidiu criar um suplemento
que acompanhasse o Dirio Oficial do Estado o Minas Gerais, distribu-
do gratuitamente por todo o estado. O Suplemento Literrio de Minas
Gerais tinha o objetivo apenas de recuperar a seo literria do Dirio
Oficial de Minas Gerais. O projeto ganhou mais espao com a coordena-
o do escritor Murilo Rubio.No Suplemento Literrio eram publicados
textos referentes literatura, cinema, artes plsticas, teatro e msica,
trazendo tambm reportagens, entrevistas, ensaios, crticas, poesia e
depoimentos.
Murilo Rubio, Las Correa de Arajo e Ayres da Mata Machado
Filho foram os primeiros redatores da publicao. Murilo Rubio teve a
colaborao de outros escritores como Carlos Drummond de Andrade,
Clarice Lispector, Henriqueta Lisboa, Guimares Rosa, Murilo Mendes,
Antnio Cndido, os irmos Augusto e Haroldo de Campos, Bueno de
Rivera, Lcia Machado de Almeida, Emlio Moura, dentre outros. Nos anos
seguintes, houve a colaborao de Humberto Werneck, Ivan ngelo,
Roberto Drummond e Oswaldo Frana Jnior.
Em 1966, quando o Suplemento Literrio foi criado, Minas Gerais
era um estado com pouca expresso em relao divulgao de seus
escritores, pois a maioria dos escritores mineiros trabalhava em So
Paulo e no Rio de Janeiro, o eixo com maior expanso cultural daquela
poca. Assim houve a colaborao de escritores mineiros que moravam
fora, pensadores e escritores de outros Estados e at de outros pases.
Os principais nomes foram Guimares Rosa, no Rio, e Murilo Mendes,
em Roma. A proposta inicial do SLMG era publicar autores consagrados e
desconhecidos caracterstica que mantida at hoje , mas tambm
contemplar outras manifestaes culturais como o teatro, o cinema e as
artes plsticas.
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54 Editoras mineiras: o lugar da poesia O Suplemento Literrio 55
A capa da primeira edio chamava ateno pelo editorial sob
o ttulo de Apresentao, com um trabalho do artista plstico lvaro
Apocalypse, e o poema O pas dos laticnios, do poeta Bueno de Rivera.
A publicao trouxe o artigo Funo da poesia renovadora, de Fbio
Lucas e de Joo Camilo de Oliveira Torres, que enfocava o papel de Minas
Gerais na conjuntura poltica do pas. Naquela poca no havia um jor-
nal com um caderno somente literrio, por isso produzir o Suplemento
Literrio foi uma conquista para a literatura.
Murilo Rubio, que coordenou os trabalhos at 1969, foi denun-
ciado como subversivo e teve que deixar o cargo. Foi substitudo pelo
escritor e professor Rui Mouro, que tomou posse como coordenador do
Suplemento Literrio em dezembro de 1969 e foi demitido dois meses
aps a posse, por ordem do comandante da polcia de Belo Horizonte,
porque no concordava com as brutalidades da ditadura militar. Outros
nomes assumiram depois a direo do Suplemento Literrio, como ngelo
Oswaldo de Arajo Santos, Ayres da Mata Machado, Dulio Gomes, Mrio
Garcia de Paiva, Paschoal Motta, Wilson Castelo Branco etc.
A publicao do Suplemento ocorreu at 1992 no Dirio Oficial do
Estado de Minas Gerais semanalmente. Foi interrompida a publicao em
1993. A partir de 1994 o Suplemento Literrio se desvinculou da Imprensa
Oficial e passou a ser de responsabilidade da Secretaria de Cultura do
Estado de Minas Gerais com o nome de Suplemento Literrio, sendo
publicado mensalmente.
O Suplemento Literrio tambm referncia para pesquisadores e
apaixonados pela literatura, por conter textos inditos de vrios autores.
Segundo o assessor editorial e revisor, Paulo de Andrade,
A diversidade a principal marca do Suplemento Literrio, que tem desde ensaios reflexivos sobre literatura, textos de autores brasileiros e estrangeiros, alm de poemas, fotos e ilustraes de artistas plsticos de renome. O que difere o Suplemento mineiro dos outros que existem no pas o seu carter ensastico e literrio, j que a maioria dos veculos impressos que abordam a literatura, o faz com um carter jornalstico.1
1 A presente pesquisa feita no site da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais em mostra as poesias publicadas no Suplemento. A tabela mostra apenas algumas das poesias publicadas no perodo de 1999 a 2010, tendo ttulos e autores diversos.
As atividades do projeto Suplemento Literrio Preservao que
desenvolvido, desde 1997, pela Biblioteca da Faculdade de Letras da
UFMG tm permitido que as edies do Suplemento, de 1966 at os dias
de hoje, sejam indexadas, digitalizadas e microfilmadas.
Esse projeto da FALE/UFMG tem permitido tambm que as edies
do Suplemento Literrio sejam consultadas, copiadas e impressas por
meio da internet. Os originais impressos esto encadernados e guarda-
dos na biblioteca da FALE/UFMG e o acervo antigo foi doado, por meio
de microfilme, para o Suplemento Literrio. As edies do Suplemento
podem ser encontradas no site www.letras.ufmg.br/websuplit.
O site da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais,
desde 1994, tem tambm disponibilizado mensalmente as edies do
Suplemento, podendo estas ser acessadas por meio do site http://www.
cultura.mg.gov.br/.
Podemos perceber, ento, que o importante trabalho desenvol-
vido pela Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG e pela Secretaria de
Cultura do Estado de Minas Gerais tem proporcionado, tanto aos alunos
quanto ao pblico em geral, o fcil acesso s edies do Suplemento, per-
mitindo o estudo das obras nele publicadas, incluindo as poesias.
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O Suplemento Literrio sob a direo de Carlos vila
Patrcia Fonseca de Souza
Em entrevista concedida pelo poeta Carlos vila filho de dois outros
importantes poetas mineiros, Affonso vila e Las Corra de Arajo tra-
ou-se um panorama sobre a histria do Suplemento Literrio, na poca
em que este esteve sob sua direo. Alm disso, o poeta tambm fez
algumas consideraes sobre o seu fazer potico e outras acerca do mer-
cado editorial com relao poesia.
Carlos vila tem trs livros de poesia publicados: Aqui & Agora
(Edies Dubolso, 1981), Sinal de Menos (Tipografia do Fundo de Ouro
Preto, 1989) e Bissexto Sentido (Editora Perspectiva, 1999). Alm dos
livros, o poeta tambm j publicou poemas em revistas mineiras, pau-
listas e cariocas; j realizou trabalhos relacionados poesia em diversos
veculos de comunicao, sendo um deles o Suplemento Literrio, peri-
dico que editou por quatro anos, de 1995 a 1998.
Quando Carlos vila foi escolhido para ser editor do Suplemento
Literrio, este tinha acabado de se desvincular da Imprensa Oficial, pas-
sando a ser de responsabilidade da Secretaria de Estado de Cultura, o
que lhe rendeu o cargo de primeiro editor do peridico. No entanto, o
poeta contou que, na verdade, no foi o primeiro editor. Houve, antes
que ele assumisse o cargo, um editor provisrio