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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL EDUARDO DA SILVA CARMO Análise da Estabilidade de um Talude de Corte da BR-110: Estudo de Caso Feira de Santana Bahia 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

EDUARDO DA SILVA CARMO

Análise da Estabilidade de um Talude de Corte da BR-110: Estudo de Caso

Feira de Santana – Bahia

2009

Eduardo da Silva Carmo

ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM TALUDE DE CORTE DA BR-110:

ESTUDO DE CASO

Monografia apresentada à disciplina Projeto

Final II do Curso de Engenharia Civil, da

Universidade Estadual de Feira de Santana

como parte dos requisitos para conclusão do

Curso de Engenharia Civil.

Orientadora: Profa. D.Sc. Maria do Socorro

Costa São Mateus.

Feira de Santana – Bahia

2009

EDUARDO DA SILVA CARMO

Análise da Estabilidade de um Talude de Corte da BR-110: Estudo de Caso

Trabalho Final de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil através da

disciplina Projeto Final II da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS)

como requisito para aquisição do grau de bacharel em engenharia civil.

Feira de Santana, 27 de março de 2009.

________________________________________________________

Profa. D.Sc. Maria do Socorro Costa São Mateus

Universidade Estadual de Feira de Santana

_________________________________________________________

Prof. D. Sc. Carlos César Uchôa de Lima

Universidade Estadual de Feira de Santana

_________________________________________________________

Prof. M. Sc. Areobaldo Oliveira Aflitos

Universidade Estadual de Feira de Santana

AGRADECIMENTOS

Este trabalho só foi possível de ser realizado devido a colaboração de uma gama de

pessoas, para tanto parece ser algo multidisciplinar, acredito que seja isto que

encontrarei ao sair da Universidade, um mundo heterogêneo onde as soluções da

Engenharia não passa apenas pelo crivo do Engenheiro, mas devido a

multidisciplinaridade dos aspectos envolvidos, das diversas áreas científicas

atuantes no mundo moderno. Por tanto, não poderia deixar de registrar meus

agradecimentos a:

Minha orientadora, Maria do Socorro, pela competente orientação, gloriosa

paciência, dedicação, esmero e sobre tudo, ética em todas as ações tomadas.

Técnico em Solos Jorge, pela preciosa contribuição na realização dos ensaios de

caracterização de solo.

Minha família, na pessoa de meus pais, Marina e Osvaldo, pela disciplina, correção

e por acreditar sempre na capacidade daqueles que agem com respeito e

honestidade.

Minha Noiva Júlia, por estar sempre ao meu lado, me apoiando em todos os

momentos e sempre me incentivando a prosseguir.

A Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras), por permitir fazer uso de dados de sondagem

do local e também por ter proporcionado a escolha do caso estudado.

Aos professores Areobaldo e Carlos Uchôa, pela presteza e atenção nas consultas

realizadas.

A Deus, que permitiu a chega, vivência e partida.

Dedico este trabalho a todos aqueles

que participaram de forma direta e

indireta, contribuindo da melhor

forma possível para que o ser

humano tenha o direito de evoluir

psicologicamente e cientificamente.

RESUMO

Este trabalho analisou os mecanismos de instabilização de um talude de corte na

BR-110, próximo ao município de São Sebastião-Ba. No topo do talude está situado

o poço da Petrobrás – TQIA-05, de injeção da água proveniente do processo de

tratamento primário de petróleo. Procurou-se identificar os fatores responsáveis pela

instabilização do talude em estudo, a partir das sondagens existentes, visita ao local

e coleta de amostra deformada para ensaios de caracterização. Paralelamente,

buscou-se na literatura, rever as principais características e fatores que influenciam

na estabilidade de taludes naturais e artificiais. O talude estudado é composto por

solo tipo massapé e possui 23 metros de altura. Os parâmetros de resistência

adotados foram obtidos de Simões (1991) e os dados de umidade e massa

específica foram determinados “in situ”. A análise da estabilidade foi realizada,

utilizando-se os métodos de Bishop Simplificado e Hoek & Bray. Os resultados

mostraram que as superfícies potenciais de ruptura são circulares com os fatores de

segurança - FS variando entre 0,98 e 1,04. Em função das análises, foram propostas

as seguintes soluções: Aplicação de drenos sub-horizontais, medidas de controle do

fluxo de água superficiais e retirada de material escoado. Este estudo buscou,

obviamente, soluções que otimizassem a aplicação de recursos destinados a obras

de contenção de massas instáveis e de drenagem, de forma a garantir a viabilidade

das ações tomadas.

Palavras Chaves: Estabilidade de Talude, Escorregamento, BR-110

ABSTRACT

This work has studied the mechanisms of the instabilization process of a slope at

BR-110, near São Sebastião city, Bahia. At the top of the slope there is a water

injection well injection of water from primary process of treatment of oil (TQIA-05) of

Petrobras Company. This study identified the responsible factors for the

instabilization process, in the studied case, from existed field investigations, local visit

and soil disturbed sampling to the characterization tests in laboratory. Besides, the

main characteristics and factors that influence the natural and artificial slope stability

were reviewed. The analysis accured in a massapê soil slope with 23 meters height.

The adopted shear parameters were from Simões (1991) thesis and the soil moisture

and specific weight were obtained “in situ”. Simplified Bishop and Hoek & Bray

methods were used to the slope stability analysis and the results have shown

rotational surface to landslides with safety factor varying from 0,94 to 1,04. From the

results, some kinds of solutions were proposed like: application of drains sub –

horizontal measures of control flow of water surface and withdrawal of material

disposed. This study applies, obviously, solutions that allowed an optimizated

application of the resources to containment works of unstable soil masses and

drainage, guaranteeing the viability of the actions.

Keywords: Slope Stability, Landslide, Slope at BR-110

LISTA DE FIGURAS

Figura 5.1 – Fluxograma dos movimentos de Massa (GUIDICINI E NIEBLE, 1984) 21

Figura 5.2 – Classificação dos movimentos de Massa por Freire ............................. 22

Figura 5.3 – Dois casos teóricos de escoamento rotacional ..................................... 24

Figura 6.1 – Método Sueco ou das lamelas (MASSAD, 2003) .................................. 36

Figura 6.2 – Forças na lamela genérica (MASSAD, 2003) ........................................ 36

Figura 6.3 – Lamela de Fellenius (MASSAD, 2003) .................................................. 39

Figura 6.4 – Lamelas de Bishop (MASSAD, 2003) ................................................... 40

Figura 6.5 – Talude infinito: rede de fluxo paralela do talude (MASSAD, 2003)........ 41

Figura 6.6 – Talude infinito, lamela genérica (MASSAD, 2003) ................................ 43

Figura 6.7 – Ábacos de Hoek e Bray ......................................................................... 46

Figura 7.1 – Esquema de drenagem profunda .......................................................... 50

Figura 7.2 – Muro de gravidade ................................................................................ 53

Figura 7.3 – Esquema em perfil de muro tipo “gravidade”......................................... 54

Figura 7.4 – Muro atirantado ..................................................................................... 54

Figura 7.5 – Esquema de muro de Flexão Simples e com Contra-Fortes ................. 55

Figura 7.6 – Muro gabião .......................................................................................... 57

Figura 7.7 – Esquema de um reforço em crib-wall .................................................... 57

Figura 7.8 – Exemplo de aplicação de cortina atirantada .......................................... 58

Figura 7.9 – Exemplo de cortina atirantada ............................................................... 59

Figura 7.10 – Aspecto do solo grampeado em fase de conclusão ............................ 61

Figura 7.11 – Foto ilustrativa de concreto projetado ................................................ 61

Figura 7.12 – Início de construção de muro de pneus .............................................. 64

Figura 7.13 – Resultado final da construção de muro de pneus ............................... 65

Figura 7.14 – Sistema radicular de Brachiara Decubens atuando no solo do talude

estudado.................................................................................................................... 67

Figura 8.1 – Inserção de inclinômetro ....................................................................... 69

Figura 8.2 – Caixa de proteção e tampa do tubo de acesso do inclinômetro ............ 69

Figura 8.3 – Esquema de instalação de Piezômetro ................................................. 70

Figura 8.4 – Esquema de Piezômetro Pneumático ................................................... 71

Figura 8.5 – Piezômetro Pneumático do IPT ............................................................. 71

Figura 9.1 – Talude à esquerda ................................................................................ 72

Figura 9.2 – Vista superior do talude ......................................................................... 73

Figura 9.3 – Perfil do talude ...................................................................................... 74

Figura 9.4 – Dreno do muro de arrimo ...................................................................... 74

Figura 9.5 – Manilha de concreto .............................................................................. 74

Figura 9.6 – Cobertura Vegetal ................................................................................. 75

Figura 9.7 – Muro de arrimo tombado ....................................................................... 75

Figura 9.8 – Abatimento em topo do Talude ............................................................. 76

Figura 9.9 – Perfil das trincas no topo do talude ....................................................... 76

Figura 9.10 – Berma com presença de escorregamento........................................... 77

Figura 10.1 – Foto retirada em momento de Chuva .................................................. 84

Figura 10.2 – Trinca de tração no topo do talude próximo a borda ........................... 84

Figura 10.3 – Perfil demonstrando diferentes camadas ............................................ 85

Figura 10.4 – Muro de arrimo rompido ...................................................................... 85

Figura 10.5 – Massa rompida escorregada e sobreposta ao muro de arrimo ........... 85

Figura 10.6 – Perfil do talude estudado ..................................................................... 89

LISTA DE TABELAS

Tabela 5.1 – Resultado da Análise Química do Massapé ......................................... 31

Tabela 5.2 – Identificação de Avaliação Quantitativa dos Minerais Argílicos

Existentes nos Massapês .......................................................................................... 33

Tabela 5.3 – Critérios para Predição de Potencial de Expansão .............................. 34

Tabela 6.1 – Métodos de cálculo de fator de segurança e suas fórmulas ................. 47

Tabela 6.2 – Utilização de modelos matemáticos NBR-11682 .................................. 47

Tabela 7.1 – Variáveis dos instrumentos do concreto projetado ............................... 62

Tabela 9.1 – Composição mineralógica semi-quantitativa da fração argila dos

massapês da formação São Sebastião (SIMÕES, 1991) .......................................... 80

Tabela 9.2 - Composição mineralógica semi-quantitativa da fração argila dos sedimentos

granulares (areia silto argilosa) da formação São Sebastião (SIMÕES, 1991) .................. 81

Tabela 9.3 - Granulometria: solo Formação São Sebastião (Simões, 1991)............. 81

Tabela 9.4 - Peso específico dos grãos e limites de consistência determinados por

Simões (1991): solo Formação São Sebastião ......................................................... 81

Tabela 9.5 - Parâmetros de resistência ao cisalhamento dos sedimentos da Formação São

Sebastião determinados por Simões (1991) ................................................................... 82

Tabela 9.6 - Parâmetros de resistência de pico determinados por Simões (1991):

solo Formação São Sebastião .................................................................................. 83

Tabela 9.7 - Parâmetros de resistência residual determinados por Simões (1991):

solo Formação São Sebastião .................................................................................. 83

Tabela 10.1 - Peso específico dos grãos e limites de consistência determinados em

laboratório: solo do talude ......................................................................................... 87

Tabela 10.2 – Granulometria do solo coletado no topo e berma do talude ............... 87

Tabela 10.3 – Parâmetros geotécnicos adotados para o talude ............................... 90

Tabela 11.1 – Fatores de segurança encontrados para o talude estudado............... 91

LISTA DE SIMBOLOS

F = coeficiente de segurança para cálculo de estabilidade de taludes

s = resistência ao cisalhamento do solo

τ = tensão cisalhante do solo

c‟ = coesão

б = tensão efetiva normal

ф’ = ângulo de atrito

T = fração da resistência total ao cisalhamento

l = comprimento de base de uma lamela genérica

N = força normal atuante na base da lamela

E e X = forças atuantes nas faces verticais das lamelas

P = peso próprio do material

R = raio da superfície de ruptura

U = resultante das pressões neutras atuantes na superfície de ruptura

u = pressão neutra ao longo da superfície de ruptura

∆x = comprimento perpendicular entre os dois lados da lamela

γo = peso específico da água

H = algura da camada de solo

α = ângulo de inclinação do talude

i = gradiente hidráulico

N = número de estabilidade de Taylor

B = parâmetro de pressão neutra

kcal/kg = quilocaloria por quilograma

kN/m³ = quilo Newton por metro cúbico

11

SUMÁRIO

1 Introdução .................................................................................................... 14

2 Objetivos ...................................................................................................... 17

2.1 Objetivo Geral............................................................................................... 17

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 17

3 Estratégia Metodológica ............................................................................... 18

4 Justificativa ................................................................................................... 19

5 Movimentos de Massas ................................................................................ 20

5.1 Movimentos de Massas: Classificação ......................................................... 20

5.1.1 Escoamentos ................................................................................................ 23

5.1.2 Escorregamentos ......................................................................................... 24

5.1.3 Subsidências ................................................................................................ 26

5.2 Fatores que afetam a estabilidade de Taludes ............................................. 26

5.3 O massapê ................................................................................................... 30

6 Métodos para Avaliação da Estabilidade de Taludes ................................... 35

6.1 Métodos Fellenius ........................................................................................ 38

6.2 Métodos Bishop Simplificado ....................................................................... 40

6.3 Métodos de Taludes Infinitos ........................................................................ 41

6.4 Métodos de Hoek e Bray .............................................................................. 44

7 Técnicas utilizadas na solução de taludes instáveis..................................... 48

7.1 Mudança na Geometria do Talude ............................................................... 49

7.2 Drenagem de Água Subterrânea .................................................................. 50

7.3 Reforço do Maciço ........................................................................................ 51

7.3.1 Muros ........................................................................................................... 52

7.3.2 Muros de Gravidade ..................................................................................... 53

7.3.3 Muros atirandados ........................................................................................ 54

12

7.3.4 Muros de flexão ............................................................................................ 55

7.3.5 Muros de contrafortes ................................................................................... 55

7.3.6 Muros de mistos ........................................................................................... 56

7.3.7 Muros de gabiões ......................................................................................... 56

7.3.8 “Crib-wall” ..................................................................................................... 57

7.3.9 Cortinas Atirantada ....................................................................................... 58

7.3.10 Solo grampeado ........................................................................................... 59

7.3.11 Concreto Projetado ....................................................................................... 61

7.3.12 Uso de Pneus ............................................................................................... 64

7.4 Cobertura Vegetal ........................................................................................ 65

7.4.1 Efeitos do Desmatamento ...................................................................................... 67

8 Monitoramento e Controle dos Movimentos de Massa ................................. 68

8.1 Inclinômetros ................................................................................................ 69

8.2 Piezômetros.................................................................................................. 70

9 Local do estudo ............................................................................................ 72

9.1 Descrição Geral ............................................................................................ 72

9.2 Descrição do Talude estudado ..................................................................... 73

9.3 Origem, formação e evolução da Bacia Sedimentar onde está inserido o

estudo ....................................................................................................................... 77

9.4 Mineralogia e caracterização do solo da região ........................................... 80

9.5 Parâmetros de resistência dos solos da região ............................................ 81

10 Análise da estabilidade do Talude ................................................................ 84

10.1 Informações geotécnicas utilizadas e análise .............................................. 86

10.2 Avaliação da estabilidade do talude ............................................................. 89

11 Resultados e análises .................................................................................. 91

12 Conclusão .................................................................................................... 94

Referências .................................................................................................. 97

13

Anexo A ....................................................................................................... 99

Anexo B ...................................................................................................... 100

Anexo C ...................................................................................................... 109

14

1 INTRODUÇÃO

A natureza interage diretamente com as obras de terra. Na verdade, as obras

de terra modelam e dão diferentes formas à natureza. Atividades em áreas não

planas requerem além de desmatamentos, cortes de encostas, alteração em áreas

que servirão como fundações de aterros e desvios dos cursos d‟água natural, etc.

Tais ações rompem o equilíbrio natural, daí a necessidade de medidas que

mantenham o equilíbrio das massas de terras movimentadas. Sem dúvida, essa

susceptibilidade ao desequilíbrio será tanto maior quanto maior a pluviosidade local,

quanto mais acidentado o relevo e maior o ângulo de inclinação dos taludes, bem

como quanto mais atuantes e dinâmicos forem os processos geomorfológicos de

formação do relevo.

Sob o nome genérico de taludes compreendem-se quaisquer superfícies

inclinadas que limitam um maciço de terra, de rocha ou de terra e rocha. Podem ser

naturais, caso das encostas, ou artificiais, como os taludes de cortes e aterros

(CAPUTO, 1987).

Devido à inclinação, uma componente da gravidade tenderá a mover o solo

para baixo. Esse movimento caracteriza o deslizamento de massa, que será

classificado de acordo com as características.

Ressalta-se que na análise de taludes naturais ou artificiais prevalece mais a

“probabilidade” do que a certeza. E “a Engenharia de Fundações e Obras de Terra

não é uma Ciência Exata: riscos são inerentes a toda e qualquer atividade que

envolva fenômenos ou materiais da Natureza” (NBR-11682, ABNT 1991).

As instabilizações de taludes acarretam prejuízos diretos (despesas com as

obras a serem reparadas ou construídas) e indiretos, com o atraso ou perda de

transportes, acarretando a diminuição da receita, além da perda de vidas em

acidentes.

Apesar dos cuidados, acidentes ocorrem principalmente em estações

chuvosas, “basta atentar para os numerosos acidentes ocorridos, iminentes ou

receados, em todas as épocas e em todas as partes do mundo” (CAPUTO, 1987). E

qual a responsabilidade do Engenheiro neste momento? Freqüentemente, os

engenheiros civis devem verificar a segurança de taludes naturais, taludes de corte

e de aterro compactado. Essa verificação envolve a determinação da tensão de

15

cisalhamento desenvolvida ao longo da superfície de ruptura mais provável e a

comparação dela com a resistência do solo ao cisalhamento. Esse processo é

chamado de análise de estabilidade de taludes (BRAJA, 2007).

A seqüência das formações em profundidade e a distribuição dos

afloramentos, conferem certa complexidade geológica na análise da estabilidade de

taludes. A disposição dessas formações em superfícies e o conhecimento das

condições hidrogeológicas são de fundamental interesse no estudo dos mecanismos

de instabilização dos taludes (SIMÕES, 1991).

Parece ser fácil, no entanto a análise de estabilidade de um talude é de difícil

realização. A avaliação das variáveis, como a estratificação do solo e parâmetros de

resistência ao cisalhamento no local, pode se mostrar uma tarefa formidável

(BRAJA, 2007), porém a extrema diversidade de enfoque, a complexidade dos

processos envolvidos e a dessemelhança de ambientes de ocorrência apresentam

uma grande dificuldade de análise e síntese, por isso prevalece mais a probabilidade

do que a certeza como foi dito anteriormente (CAPUTO, 1987).

A ação da água é uma das maiores responsáveis na ocorrência de muitos

escorregamentos de taludes (GAIOTO, 1979), intervindo em alguns aspectos:

Introdução de uma força de percolação, no sentido do escorregamento

Aumento do peso específico do solo e, portanto, da componente da

força da gravidade que atua na direção do escorregamento

Perda de resistência do solo por encharcamento

Diminuição da resistência efetiva do solo pelo desenvolvimento de

pressões neutras

Logo, de acordo com as simplificações e considerações, os escorregamentos

podem ser provocados por aumento das forças atuantes em parceria com

diminuição da resistência ao cisalhamento do solo, ou apenas com a atuação deste.

O tipo de material que compõe um talude influência diretamente nos

parâmetros coesão e ângulo de atrito, os quais representam a resistência ao

cisalhamento desses materiais.

Este trabalho realiza um estudo de caso, analisando a estabilidade de um

talude de corte na rodovia BR-110.

Inicialmente, apresenta-se a justificativa do tema escolhido, antecipando ao

objetivo do estudo. Em seguida, a revisão bibliográfica traz conceitos básicos de

agentes e causas, métodos de cálculos de estabilidade e técnicas para estabilização

16

e contenção de taludes, abordando os processos construtivos, aplicações,

vantagens e desvantagens de cada técnica.

O capítulo 9 apresenta as características do objeto de estudo e os parâmetros

adotados. Mas adiante, a análise da estabilidade do talude estudado mostra os

fatores de segurança verificados por métodos aceitos na área acadêmica à luz da

norma regulamentadora que fixa as condições exigíveis no estudo e controle da

estabilidade de taludes em solo, rocha ou mistos, além das condições para projeto,

execução, controle e conservação de obras de estabilização.

Por fim, é proposto soluções que sanem a movimentação do talude,

ancoradas na otimização dos recursos disponíveis.

17

2 Objetivos

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho teve como principal objetivo o estudo de caso de um talude em

massapê, situado na BR-110, visando propor soluções alternativas para sua

estabilidade.

2.2 Objetivo Específico

Para alcançar o objetivo geral do trabalho, alguns objetivos específicos foram

necessários:

- Levantar e avaliar os resultados das sondagens a percussão existentes

- Coletar amostra e realizar ensaios de caracterização em laboratório

- Definir as características do talude estudado

- Identificar as causas da instabilização do talude

18

3 Estratégia Metodológica

Este trabalho iniciou-se com uma revisão bibliográfica em livros referentes à

área de Geotecnia, buscando definições, classificações, métodos de avaliação da

estabilidade de taludes e técnicas de contenção, obtendo assim a base teórica

necessária para discussão do trabalho. Em seguida, contextualizou-se o caso em

estudo, a situação atual do talude, as características locais de clima, geologia e

topografia, buscando identificar os aspectos estudados na revisão bibliográfica. Para

tanto, foram executadas as seguintes atividades seqüenciadas:

Levantamento de medidas topográficas do talude para definição da geometria

Visita ao local com a Orientadora e o Técnico em solos para levantamento

geomorfológico, coleta de material, verificação das trincas e determinação de

umidade “in situ”

Visita ao local com Geólogo professor da UEFS, para descrição

geomorfológica do talude

Acompanhamento mensal da movimentação do talude, no período de junho

de 2006 até a finalização deste trabalho

Acesso aos resultados de Sondagens à Percussão, previamente realizados

no local, para identificação da estratificação do perfil, tipo de solo e presença

do nível de água

Ensaios de caracterização do solo coletado, realizado no laboratório de Solos

da UEFS

Análise da estabilidade do talude, utilizando os métodos de Fellenius, Bishop

Simplificado e Hoek e Bray

Proposição de medidas para estabilização do talude estudado

19

4 Justificativa

A BR 110 é a principal rodovia de acesso ao semi-árido dos estados da

Bahia, Alagoas e Pernambuco e interliga a Região Metropolitana de Salvador ao

município de Paulo Afonso, onde estão as usinas hidroelétricas da Chesf

(ESTADÃO, 2006). Cerca de 750 mil habitantes de 22 municípios da região Norte do

Estado são beneficiados com a circulação de tráfego nesta rodovia (ASCOM-BA,

2007).

A Bacia do Recôncavo, pioneira no descobrimento de petróleo no Brasil,

situada no nordeste brasileiro entre os paralelos 11°30‟ e 13° S, ocupando uma área

de aproximadamente 11.000 km² é uma bacia de grande uso na exploração de

petróleo (ANTUNES, 2003) e requer a atuação de profissionais das mais diversas

áreas, dentre elas a engenharia civil, nesse processo de exploração.

Ao longo dos seus 50 anos de exploração, já foram perfurados cerca de 5.400

poços e levantados aproximadamente 31.290 km de linhas sísmicas 2D e 762 km²

de sísmica 3D. A enorme quantidade de dados existentes sobre esta bacia faz com

que alguns técnicos da PETROBRAS a classifiquem como “bacia-escola”

(ANTUNES, 2003).

Sendo assim, o talude estudado tem importância ímpar para aqueles que

fazem uso da rodovia margeada, como também para a empresa que faz uso da

outra margem. Neste caso, trata-se de um poço de injeção de água a 1160 metros

de profundidade, de grande importância para a continuidade das operações de

exploração de petróleo desta região.

O conhecimento de como se lidar com os cortes do maciço de terra para fins

exploratórios é de fundamental importância, para o bom andamento das atividades

fins.

20

5 Movimento de Massas

Os movimentos de massa têm sido estudados nos mais diversos locais e

pelos mais variados profissionais, como geólogos, mecanicistas de solos,

engenheiros civis, construtores, geomorfólogos, geógrafos, cada qual com um

enfoque diferenciado.

Existe uma série de classificações de movimentos de massas, devido às

ilimitadas possibilidades de adoção de enfoques na análise dos fenômenos. A

maioria das classificações possui aplicabilidade regional, pois foram influenciadas

pelas características do ambiente onde o autor as elaborou. Para Caputo (1987),

devido às formas de instabilidade nem sempre se apresentarem bem caracterizadas

e definidas, a classificação pode ser feita em três grandes grupos: desprendimento

de terra ou rocha, escorregamentos e rastejo. Mas, para alegria dos que estavam

por vir, o Eng.º Eduardo Solon de Magalhães Freire apresentou um excelente

trabalho, segundo o próprio Caputo, em março de 1965 na revista “Construção”

propondo classificação para os movimentos coletivos de solos e rochas, conforme

será visto mais adiante.

5.1 Movimento de Massas: Classificação

Segundo Silva (2006), a primeira classificação de ampla aceitação para

movimentos de massas foi a de Sharpe, em 1938, que teve por base os seguintes

parâmetros: velocidade do movimento, tipo de material (solo ou rocha) e quantidade

de água e gelo contidos na massa. Esta classificação divide os movimentos em duas

categorias principais: fluxos ou corridas (“flows”) e escorregamentos (“slides”), sendo

que estas categorias se subdividem em várias outras. Ainda segundo Silva (2006), a

proposta de Sharpe influenciou as classificações posteriores. Segundo Guidicini e

Nieble (1984), no entanto, esta classificação é aplicável apenas a climas rigorosos, e

deixa de lado as características físico-mecânicas do fenômeno. Em contraposição às

classificações de cunho geológico, Terzaghi (1950) apud Guidicini (1984),

apresentou uma classificação de visão físico-mecânica.

21

Existe o sistema de classificação de Freire (1965) que, segundo Guidicini e

Nieble (1984), se baseia nas concepções de diversos especialistas, unificando e

harmonizando seus conceitos numa visão sintética.

Segundo Freire (1965) apud Guidicini e Nieble (1984), os movimentos

coletivos de solo e de rocha são classificados em três tipos: escoamentos,

escorregamentos e subsidiências.

Na Figura 5.1, apresenta-se um Fluxograma mostrando as divisões dos

movimentos de massa (GUIDICINI e NIEBLE, 1984).

MOVIMENTO DE MASSA

Escorregamento Escoamento Subsidência

Planar Circular Cunha Corrida Rastejo Subsidência Recalques Desabamento

Figura 5.1 – Fluxograma dos movimentos de massa (GUIDICINI E NIEBLE, 1984)

A partir desses três tipos considerados na análise de Freire (1965) apud

Guidicini e Nieble (1984), e mais sete subtipos apresentados, diferenciam-se 32

classes principais. Segundo Guidicini e Nieble (1984), estas classes são

caracterizadas de acordo com os seguintes parâmetros físico-mecânicos-causais:

Natureza de superfície de movimentação

Inclinação do talude

Características qualitativas do movimento

Tipo de movimento

Velocidade e duração

Termos de passagem de um tipo de movimento para outro

Causas intrísecas e extrínsecas, estas últimas dividas em indiretas e diretas

(preparatórias e imediatas)

Adiante, temos a classificação de Freire:

22

Quadro I - ESCORREGAMENTOS E FENÔMENOS CONEXOS

Tipo Fundam.

Sub-tipo

Classes Principais Natureza da Superfície de

Escorregamento

Inclin. de

Talude

MOVIMENTO

Características Tipo Velocidade e

duração

1. E

SCO

AM

ENTO

S C

on

sist

ind

o e

m d

efo

rmaç

ão o

u m

ovi

men

to

con

tín

uo

, co

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u se

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efin

ida

de

esco

rreg

amen

to

1.1

RA

STEJ

O R

EPTA

ÇÃ

O

ESC

OA

MEN

TO P

LÁST

ICO

1.1.1 RASTEJO DE SOLO

Superfícies múltiplas de neoformação, tanto no conjunto, qto. Nos movimentos individuais. Tendência dos primeiros a se aprofundarem

Suave, mesmo próximo

a 0°

Movim. ou deform. Plástica, mto lenta, do domínio da hidraul. dos líq. visc. Interessando camadas superiores da formação, em mater. com teor de água relativam. baixo. Superação da resist. fundam ao cisalhamento. Comparável a defor. tectônicas. Interessa às vezes tda uma região.

Translação predomi-nantemente horizontal (no conjunto). De for-mações plásticas irregulares em todas as direções e sentidos (movimento de detalhes)

Longa dur., veloc. baixo e mesmo imperceptível (3 a 5 cm/ano, aumentando com o teor de água e inclin. Movim. locais ocasionalmente rápidos.

1.1.2 RASTEJO DE DETR. DE TALUS

1.1.3 RASTEJO DE ROCHA

1.1.4 SOLIFLUXÃO

1.1.5 RASTEJO DE DETRITOS

1.1.6 GELEIRAS

1.2

CO

RR

IDA

S

ESC

OA

MEN

TO L

ÍQU

IDO

1.2.1 CORRIDA DE TERRA

Superfície pré existente sobre o qual se dá a

movim. de conjunto de material. Tendência de

aprofundamento e erosão da superfície de

escorregamento

Variável

Movim. ráp. de caráter essencialmente hidrodinâmico, ocasionado pela anulação de atrito int., em virtude da destr. da estrutura, em presença de excesso de água interessa áreas relativamente pequenas, salvo em casos excepcionais

Transl. com inclinação de pequena a grande, sobre o plano horizontal

Curta duração, velocidade alta ou muito alta, podendo ser praticamente instantâneo

1.2.2 CORRIDA DE AREIA OU SILTE

1.2.3 CORRIDA DE LAMA

1.2.3.1 TIPO DE REG ÁRIDA, SEMI-ÁRIDA OU ALPINA

1.2.3.2 TIPO VULCANICO

1.2.3.3 REFLUIMENTO DE PANTANO

1.2.4 AVALAN DE DETRITOS

2. E

SCO

RR

EGA

MEN

TOS

Co

nsi

stin

do

em

des

loca

men

to f

init

o, a

o lo

ngo

da

sup

erf

ície

pré

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sten

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ofo

rmaç

ão

2.1

ESC

OR

REG

AM

ENT

OS

RO

TACI

ON

AIS

2.1.1 ESCORREGAMENTO DE TALUDES

Superfície de escorregamento

cilíndrico-circular de neo formação

De reg. a forte

Movim. relat rápido de uma parte de maciço sobre a outra, por sup. de resist. ao cisalham, podendo haver ou não destr. parc. ou total da estrut. da massa escorr. Pode ocorrer mesmo em rocha viva. Interessa áreas relativ. pequenas

Rotação e translação

Curta duração, de alta a muito alto de 0 a 30 cm/h. podendo ser quase instantâneo. Em alguns casos, após o despreen-dimento, a velocidade passa a queda livre.

2.1.2 ESCORREGAMENTO DE BASE

2.1.3 ROTURA ROTACIONAL DO SOLO DE FUNDAÇÃO

2.2

ESC

OR

REG

AM

ENTO

S TR

AN

SLA

CIO

NA

IS

2.2.1 ESCORREGAMENTO TRANSLAC. DE ROCHA

Superfície de escorregamento plana,

podendo ser de neoformação ou preexistente. No seugndo caso , o

escorregamento diz-se condicionado.

De reg. a forte

Movim. relat. rápido de uma parte do maciço sobre a outra,

completam. no domínio da mecânica dos sólidos, por

superação da resist. ao cisalhamento (coesão+atrito int.), ou de aderência (qdo

existe superfície de descontinuidade

condicionadora de movimento.) Interessa geralm. áreas peq.

Translação predominante

horizontal a simples queda vertical

(Trans. Vertical)

2.2.1.1 SEM CONTROLE ESTRUTURAL

2.2.1.2 COM CONTROLE ESTRUTURAL

2.2.2 ESCORREGAMENTO TRANSLAC DE SOLO

2.2.3 ESCORREGAMENTO TRANSL DE SOLO E ROCHA

2.2.4 ESCORREGAMENTO TRANSLACIONAL RETROGRESSIVO

2.2.5 QUEDA DE ROCHA

2.2.6 QUEDA DE DETRITOS

3. S

UB

SID

ÊNC

IAS

Co

nsi

stin

do

em

des

loca

men

to f

init

o, o

u d

efo

rmaç

ão

con

tín

ua

vert

ical

3.1

SUB

SID

ÊNCI

AS

3.1.1 POR CARREAMENTO DE GRÃOS

Superfície de deslizamento de atitude

vertical, múltiplas variáveis, em geral de

neoformação

De reg. a forte

Deslocamento ou deformação essencialmente vertival, implicando depressão,

afundamento, recalque, desmoronamento, causado por

plastif. fluidificação, deformação, rotura ou remoção total ou parcial do substrato, ou

perda do suporte lateral, com ou sem influência de

carregamento externo. Extensão, em geral, limitada. as

vezes afeta regiões extensas.

Deformação plástica ou elástica vertival e, as vezes, translação vertical

Curta duração, geralmente nos

casos 3.1.4, 3.1.5, 3.3.1, 3.3.2, 3.3.3) Longa nos outros

cinco casos. Velocidade, em

geral pequena, as vezes grande.

3.1.2 POR DISSOLUÇÃO DE CAMADAS INFERIORES E CAVERNAS

3.1.3 POR DEFORM. DE ESTRATOS INF. INCLUSIVE POR DEFORMAÇÕES TECTÔNICAS E DEFORMAÇÃO POR ACÚMULO DE SEDIMENTOS

3.1.4 POR ROTURA DE ESTRATOS INFERIORES

3.1.5 POR RETIRADA DO SUPORTE LATERAL

3.2

REC

AL-

QU

ES

3.2.1 POR CONSOLIDAÇÃO

3.2.2 POR COMPACTAÇÃO

3.3

DES

AB

A-

MEN

TOS 3.3.1 POR ROTURA E CAMADA

3.3.2 POR SUBESCAVAÇÃO

3.3.3 POR RETIRADA DO SUPORTE LATERAL

4

FORMAS DE TRANSIÇÃO OU TERMOS DE PASSAGEM

Variável Formas de trans. entre as anteriores Completos ou

múltiplos

Depende dos tipos correlacionados ou associados 5

MOVIMENTOS DE MASSA COMPLEXOS

Variável Combinação das formas anteriores

Figura 5.2 – Classificação de Freire.

23

5.1.1 Escoamentos

Segundo Guidicini e Nieble (1984), escoamentos são representados por

movimentos contínuos, com ou sem superfície de movimentação definida, podendo

ser lentos (rastejo ou reptação – escoamento plástico) ou rápidos (corrida ou

escoamento fluido viscoso).

Rastejo ou reptação: São movimentos lentos e contínuos, com limites

indefinidos. Podem envolver taludes de uma região inteira, e podem servir de

indicador para movimentos mais rápidos.

Para Gaioto (1979), o rastejo é um tipo de movimento, que ocorre na camada

superficial de um talude de solo ou de rocha, com velocidade muito baixa, sem que

necessariamente resulte em ruptura. Geralmente o rastejo é provocado por variação

de temperatura e umidade da camada superficial do subsolo, principalmente em

solos argilosos e siltosos. Por este motivo, a profundidade que está sujeita ao rastejo

é a que igualmente pode ser afetada pelas variações de temperatura e umidade nas

diferentes estações do ano. O fenômeno de rastejo pode ser visualizado, por

analogia a um corpo apoiado sobre um talude: sob o efeito do calor ele se dilata, e

sob o efeito do frio se contraí, mas sempre se deslocando no sentido da componente

tangencial da gravidade de cima para baixo.

De acordo com Massad (2003), o rastejo ou “creep” ocorre na velocidade de

alguns milímetros por ano, que se acelera por ocasião das chuvas e se desacelera

em épocas de seca.

A velocidade de rastejo é afetada por diversos fatores, tais como a geometria

do talude, as características tensão-deformação do solo e as condições de pressão

neutra. A velocidade, em geral, aumenta com o tempo. No estágio inicial é muito

lenta e quando a ruptura é iminente pode atingir alguns centímetros por dia

(GAIOTO, 1979).

Em quase todos os terrenos que apresentam alguma inclinação, verifica-se a

ocorrência de movimentos lentos na forma de rastejos (“creep”).

Solos ou rochas submetidos a movimentos de rastejo não necessariamente

atingirão a ruptura. Um talude pode suportar tensões superiores àquelas

necessárias para provocar deformações por rastejo sem chegar a sua completa

instabilização. Entretanto, de maneira geral, o rastejo contribui para uma diminuição

24

gradual da resistência do material. Áreas com antigos deslizamentos, assim como os

depósitos de tálus, particularmente, são muito sujeitas aos movimentos de rastejo

(GAIOTO, 1979).

Corrida: São movimentos rápidos, ocasionados pela perda de atrito interno

provocada pelo excesso de água na estrutura. Seu movimento é semelhante ao de

um fluido, atingindo altas velocidades e um potencial destrutivo. São ocasionadas

pela simples adição de água (principalmente em areias), efeito de vibrações ou

amolgamento de argilas. Classificam-se em corridas de terra, corridas de areia ou

silte, corridas de lama e avalanche de detritos.

5.1.2 Escorregamentos

Segundo Guidicini e Nieble (1984), escorregamentos são movimentos rápidos

de massas de solo, de duração relativamente curta com volumes geralmente bem

definidos, cujo centro de gravidade se desloca para baixo e para fora do talude. São

causados, de uma maneira geral, pela diminuição da resistência ao cisalhamento, e

após um intervalo de tempo, atinge a estabilidade, adquirindo características de

rastejo. Correspondem a um deslocamento finito ao longo de superfície de

deslizamento definida, preexistente ou de neoformação; e classificam-se em dois

subtipos: escorregamentos rotacionais e escorregamentos translacionais.

Escorregamentos rotacionais correspondem ao movimento definido pelo

escorregamento de uma massa de solo compreendida entre o talude e uma

superfície circular de ruptura, cuja forma e posição são influenciadas, segundo

Krynine e Judd (1957) apud Guidicini e Nieble (1984), pela distribuição de pressões

neutras e pelas variações de resistência ao cisalhamento dentro da massa de

terreno.

(a) (b)

Figura 5.3 – Dois casos teóricos de escorregamento rotacional: a) escorregamento de talude b) escorregamento de base

25

Escorregamentos translacionais, segundo Guidicini e Nieble (1984), são

movimentos de massa causados por anisotropias, ou descontinuidades, em seu

interior, e desenvolvem-se ao longo desse plano de fraqueza; possuem curta

duração e alta velocidade. Geralmente, apresentam em seu topo uma linha circular,

que, no escorregamento, desloca-se ao longo do plano, e quando a parte inferior

encontra um obstáculo, como um material mais resistente, ocorre a expulsão do

material, formando um embarrigamento. São classificados em escorregamentos de

solo, escorregamentos translacionais de solo e de rocha, e escorregamentos

translacionais remontantes (que consistem em um escorregamento rotacional

seguido de vários escorregamentos translacionais, ou em vários escorregamentos

rotacionais seguidos).

A definição de escorregamento, no sentido amplo do termo (FREIRE, 1965

apud GUIDICINI E NIEBLE, 1984), “é a afirmação da natureza coletiva do

deslocamento de partículas, mediante a qual se faz a distinção entre esses

fenômenos e os processos de transferência individual de partículas sob a ação de

um agente exterior, como a água e o vento. (...) Incluem-se, deste modo, em tal

conceito, os desabamentos de margens fluviais ou lacustres e de costas marítimas,

a queda de falésias, as avalanches, os deslocamentos de solos ou rochas por

fluidificação ou plastificação (desde o rastejo de rochas, solos ou detritos, as

correntes de lava ou de lama, até as geleiras), o destacamento ou desgarramento de

massas terrosas ou rochosas, a solifluxão, a subsidência e diversos tipos (recalques,

depressões, afundamentos, desabamentos, “abatições”) e, como caso-limite e sob

certas condições, o próprio transporte fluvial.”

O tema “escorregamento” apresenta grande dificuldade de análise e síntese,

devido à inexistência de um sistema classificador razoavelmente divulgado e aceito,

conseqüência da própria falta de definições básicas dos fenômenos envolvidos e da

ausência de uma nomenclatura padronizada (GUIDICINI E NIEBLE, 1984).

Ainda quanto aos escorregamentos, Vargas (1977) apud Massad (2003),

dividiu em: “creep” ou rastejo; escorregamentos verdadeiros; deslizamento de tálus

(liquefação); deslocamentos de blocos de rocha e avalanches ou erosão violenta.

Neste trabalho será utilizada a classificação de Freire (1965) que, segundo Guidicini

e Nieble (1984), é a mais aceita e usada.

26

A queda de blocos consiste no deslocamento, por ação da gravidade, de

blocos de rocha, devido ao intemperismo; não há uma superfície de movimentação

definida.

A queda de detritos é a queda livre de fragmentos rochosos ou terrosos,

inconsolidados, de reduzida massa, em movimentos de pequena magnitude. São

considerados de menor importância.

5.1.3 Subsidências

Subsidiência corresponde a um deslocamento finito, ou deformação contínua,

de direção essencialmente vertical. Segundo Guidicini e Nieble (1984), as

subsidências diferenciam-se do escoamento e escorregamento por serem

movimentos verticais, com componente horizontal praticamente nula, sem frente livre

para deslocamento de massa. Classificam-se em:

Subsidências (propriamente ditas): É o efeito de adensamento de camadas do

solo, provocado pela extração de material sólido, líquido ou gasoso do

mesmo. Pode ocorrer pela ação humana ou por processos naturais.

Geralmente está vinculado à exploração intensa do subsolo.

Recalques: São movimentos verticais de uma estrutura ou edificação,

causados pelo seu próprio peso ou pela deformação do subsolo causada por

outro agente. São causados pela retirada da barreira lateral provocada por

escavações, bombeamento de água e rebaixamento do lençol freático.

Desabamentos: São movimentos bruscos, causados pela ruptura ou remoção

parcial ou total do substrato. Pode ser causada pela mineração ou por

processo de dissolução de substâncias presentes no solo e nas rochas.

5.2 Fatores que afetam a estabilidade de taludes

As chuvas representam um dos aspectos mais importantes a serem

considerados, na tentativa de análise das condições que conduzem ao aparecimento

27

de escorregamentos, mas, inúmeros outros fatores como a forma e inclinação das

encostas, natureza da cobertura vegetal, dispositivos de drenagem mal

dimensionados e/ou comprometidos, características e estado dos solos (ou rochas),

natureza geológica (litológica e estrutural) do meio, tensões internas, abalos naturais

e induzidos e ação antrópica de ocupação intervém na ocorrência destes

deslizamentos. Entende-se por causa a forma de atuação de um determinado

agente, ou seja, um agente pode se manifestar por meio de uma ou mais causas.

Por exemplo, o agente água pode influir em diversos tipos de movimentações: caso

de rebaixamento de lençol freático, a instabilidade provocada pela diminuição da

pressão neutra será a causa do movimento, enquanto que, no caso da chuva

intensa, a causa será o aumento da pressão neutra.

Guidicini e Iwasa (1980), em seu estudo do Ensaio de Correlação entre

Pluviosidade e Escorregamentos em Meio Tropical Úmido, decidiram analisar o fator

chuva isoladamente. “Isso se baseia na convicção de que as chuvas, numa escala

de importância, ocupam um lugar privilegiado, distanciando-se dos demais fatores

acima citados”.

Um mesmo agente, ou uma mesma causa, pode contribuir para o surgimento

de vários tipos e formas de acidentes envolvendo taludes de corte e aterro, naturais

e/ou artificiais.

Segundo Vargas (1981) “O problema da estabilidade das encostas naturais é

uma das grandes questões da ciência e da técnica dos solos aplicada à

Engenharia.” (VARGAS apud GUIDICINI, 1957).

Segundo Guidicini e Nieble (1984), os agentes se subdividem em dois tipos:

agentes predisponentes e efetivos. Os agentes predisponentes são as condições

ambientes (geológicas, geométricas e ambientais) em que se dará o movimento de

massa. Compreendem apenas as condições naturais, excluindo-se a ação do

homem. Distinguem-se em:

Complexo geológico: alteração por intemperismo, acidentes tectônicos,

movimentação das camadas, formas estratigráficas, etc.

Complexo morfológico: forma do relevo, inclinação superficial e massa.

Complexo climático-hidrológico: clima, regime de chuvas e águas

subterrâneas.

Gravidade.

28

Calor solar.

Tipo de vegetação original.

Os agentes efetivos são elementos diretamente responsáveis pela

movimentação de massa, incluindo-se a ação do homem. Podem atuar de forma

mais ou menos direta, classificando-se, assim, em predatórios e imediatos.

Agente efetivos preparatórios: pluviosidade, variação da temperatura,

oscilação do nível dos lagos, marés e lençol freático, erosão pela água ou

vento, congelamento e degelo, dissolução química, ação do homem e de

animais, inclusive desflorestamento.

Agentes efetivos imediatos: chuva intensa, erosão, vento, ondas, terremotos,

fusão de gelo e neve, ação do homem, etc.

As causas dividem-se de acordo com sua posição em relação ao talude

(TERZAGHI 1950 apud GUIDICINI e NIEBLE, 1984):

Causas internas: levam ao colapso sem que se verifique qualquer mudança

nas condições geométricas do talude e resultam de uma diminuição da

resistência interna do material (aumento da pressão hidrostática, diminuição

de coesão e ângulo de atrito interno por processo de alteração);

Causas externas: provocam um aumento das tensões de cisalhamento, sem

que haja diminuição da resistência do material (aumento do declive do talude

por processos naturais ou artificiais, deposição de material na porção superior

do talude, abalos sísmicos e vibrações);

Causas intermediárias: resultam de efeitos causados por agentes externos no

interior do talude (liquefação espontânea, rebaixamento rápido, erosão

retrogressiva).

Dentre as causas internas destacam-se:

Efeito de oscilações térmicas: provocam variações volumétricas em massas

rochosas, levando ao destaque de blocos. Este efeito é caracterizado quando há

predominância do intemperismo físico sobre o químico, devido variações de

temperatura na superfície terrestre o que ocasiona dilatações e contrações nas

rochas que se fraturam, favorecendo também a degradação por outros agentes. Do

mesmo modo, a variação da temperatura diurna é uma das principais causas no

29

desencadeamento do processo de rastejo. É importante lembrar que as contrações

e dilatações de origem térmica se dão simetricamente em relação ao eixo e da

mesma forma distribuem as tensões de cisalhamento na superfície de contato com o

plano. Logo, se o material sobre efeito da oscilação térmica estiver num plano

horizontal, este não se deslocará. No entanto, se o plano de apoio do bloco for

horizontal, temos que a componente tangencial de peso tornará tais mudanças na

estrutura do bloco assimétrica, resultando no seu deslocamento, independente de

contração ou dilatação.

Diminuição dos parâmetros de resistência por intemperismo: enfraquecimento

gradual do solo pela remoção dos elementos solúveis constituintes dos minerais. O

processo de alteração da rocha por meio físico, mecânico e biológico, tem como

conseqüência: remoção dos elementos solúveis; dissolução dos elementos com

função de cimentação; desenvolvimento de uma rede de micro fraturas num meio

que não possuía o que torna o meio rochoso enfraquecido. No entanto, não se pode

afirmar que o intemperismo no solo terá as mesmas conseqüências, uma vez que

pode provocar um maior adensamento, tornando a estrutura do solo mais compacta

devido a esta cimentação secundária, melhorando sua resistência.

As modificações oriundas do intemperismo podem desencadear zonas de

matérias com diferentes valores de permeabilidade, podendo ocasionar o

artesianismo, ou seja, contingenciamento de águas subterrâneas em camada

permeável entre rochas impermeáveis e aparecimento de pressões neutras

elevadas, logo maior instabilidade para o talude.

Em suma, o intemperismo geralmente ocorre ao longo do tempo diminuindo

gradativamente o fator de segurança, podendo levar a estrutura ao colapso, após

atingir o limite crítico de equilíbrio.

Dentre as causas externas têm-se:

Mudanças na geometria do sistema: acréscimo de massa na parte superior,

extração de massa na parte inferior. Uma possível instabilização também pode ser

detectada através da geometria do talude em questão (inclinação e altura). “o

processo de alterar a geometria do talude, quando houver espaço disponível, fazendo-se um

jogo de pesos, de forma a aliviá-los, junto à crista, e acrescentá-los, junto ao pé do talude.

Assim, uma escavação ou corte executado junto à crista do talude diminui uma parcela do

momento atuante; analogamente, a colocação de um contrapeso (berma) junto ao pé do

talude tem um efeito contrário estabilizador.” (MASSAD, 2003).

30

Alterações no perfil de macro estrutura terrosa resulta em novas situações de

forças solicitantes e esforço resistente. Quando não é pelo acréscimo de carga na

porção superior, é pela alteração da base em instância inferior. Tais alterações

resultam em instabilidade do talude principalmente quando o ângulo de inclinação do

talude passa a ser maior que o ângulo de atrito interno do material.

Em quase todos os terrenos que apresentam alguma inclinação, verifica-se a

ocorrência de movimentos lentos na forma de rastejos (“creep”). As velocidades

desses movimentos variam durante o ano, principalmente nas camadas superficiais

do talude. À medida que o talude aproxima-se da ruptura, as velocidades aumentam.

Massad classifica „‟creep‟‟ como “um movimento lento de camadas superficiais de solo, encosta

abaixo, com velocidades muito pequenas, de alguns milímetros por ano, que se acelera por ocasião

das chuvas e se desacelera em épocas de seca, daí o nome „‟rastejo‟‟ que lhe é atribuído” (MASSAD,

2003).

Porém solos ou rochas submetidos a movimentos de rastejo não

necessariamente atingirão ruptura, mas o rastejo contribui para uma diminuição

gradual da resistência do material.

Também denominados deslizamentos, os escorregamentos caracterizam-se

pela formação bem definida de uma superfície de ruptura, onde observa-se uma

grande concentração de deformações cisalhantes. Estes escorregamentos podem

ser rotacionais, translacionais ou na forma de cunha, dependendo da forma de seu

deslizamento. No rotacional, uma parte do material que forma o talude desliza como

um todo, sem sofrer distorção significativa, apresenta-se na forma côncava ao longo

de uma superfície bem definida. Os escorregamentos rotacionais também podem

ocorrer em alteração de solo-rocha (saprólitos) ou rochas mais fraturadas e

alteradas.

5.3 O massapê

Na construção da BR-324, Sobral (1956), realizou ensaios mineralógicos em

sete amostras situadas ao longo da BR, tendo os resultados das análises mostrados

na tabela 5.1.

31

Tabela 5.1 - Resultado da Análise Química do Massapê (SOBRAL, 1956)

Tabela

Estes ensaios sinalizaram alta porcentagem de CaO, em virtude das

características das suas rochas de origem.

A partir da análise dos dados tabelados podem-se obter as relações

moleculares SiO2/Al2O3 e SiO/Sesquióxidos , as quais são índices importantes para

caracterizar, em nível pedológico, um solo.

Outro meio de verificar a natureza laterítica de um solo é através da relação

Molecular:

Para valores de Saf >2 têm-se solos não lateríticos e valores de Saf < 2

corresponde a solos lateríticos, que se caracterizam pela sua alta concentração de

ferro e alumínio em sua composição. No caso do massapê, verifica-se que o menor

valor encontrado dentre as amostras tabeladas foi de 3,12, comprovando sua

natureza não laterítica (SOBRAL, 1956).

A elevada finura dos massapês promove uma alta compressibilidade e

elevada capacidade de reter água, gerando como consequência uma baixa

resistência ao cisalhamento. Em função disso, esses solos possuem uma péssima

qualidade como suporte de cargas e, nos casos em que são trabalhados para

32

execução de cortes, deve-se ter o grande cuidado para se evitar futuros

desmoronamentos (BRITO 2006).

Os solos do tipo massapê são classificados como solos finos conforme a

escala granulométrica da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Os

grãos apresentam geralmente diâmetro inferior a 2μm, fazendo com que suas

partículas tenham um comportamento extremamente diferenciado em relação aos

dos grãos de silte e areia (MACHADO, 1998, apud BRITO, 2006). Sobral (1956)

avaliou as percentagens das diversas frações dos solos constituintes dos massapés

(localizados na região de Água Comprida, São Sebastião, Candeias Usina Aliança e

atual BR-324) a partir do método brasileiro MB-32 da ABNT, concluindo que os

massapês são solos constituídos de frações muito finas, as percentagens da mistura

de silte – argila girando entre 65 e 93% e as percentagens de argila entre 32 e 74%.

Para avaliar o potencial de expansibilidade dos solos, são utilizados os

ensaios de microscopia eletrônica e difração de raio-x, onde é possível identificar o

tipo de argilo-mineral. Existe também o método expedito de azul de metileno,

utilizado para determinar a superfície específica dos solos, e então correlacionar

com o tipo de argilo-mineral.

A depender da maneira como as unidades estruturais básicas dos minerais

argilosos estão unidas entre si, pode-se dividi-los em três grandes grupos principais:

Caulinita: Do ponto de vista químico, as caulinitas são consideradas silicatos de

alumínio puro, não apresentando cátions no interior da rede cristalina ou na região

intermolecular (FAISANTIEU, 2001, apud BRITO, 2006).

Montmorilonita: É formada por uma unidade de alumínio entre duas sílicas,

superpondo-se indefinidamente e denominadas de unidades estruturais tri-camadas.

Neste caso a união entre as camadas dos minerais é fraca (forças de Van der

Walls), permitindo a penetração de moléculas de água e cátions (Ca, Na, etc.) na

estrutura com relativa facilidade. As argilas montmorilonitas, especialmente em

presença de água, apresentam forte tendência à instabilidade e são também

expansivas (MACHADO, 1998, apud BRITO, 2006)

Ilita: A estrutura da ilita é semelhante à da montmorilonita, contudo, os íons K+

situados entre as diversas unidades estruturais da partícula não são intercambiáveis

ou permutáveis , de modo que a união entre as camadas é mais estável e não muito

afetada pela água. São também menos expansivas (MACHADO, 1998, apud BRITO,

2006).

33

A montmorilonita e as camadas mistas de ilita – montmorilonita são as

grandes responsáveis pela expansão do massapê na região do Recôncavo Baiano.

O teor de montmorilonita varia entre 30 e 70% enquanto que as camadas mistas de

ilita – montmorilonita ficam em torno de 5 a 40%. Observa-se que uma pequena

percentagem desses minerais presentes na argila já é suficiente para promover

fenômenos de expansão no solo (BRITO, 2006).

Tabela 5.2 – Identificação de Avaliação Quantitativa dos Minerais Argílicos Existentes nos Massapês (SIMÕES , 1976 )

MINERAIS ARGÍLICOS

AMOSTRAS MONTMORILONITA ILITA CAOLINITA ILITA-

MONTMORILONITA OBSERVAÇÕES

1 - a - 30 60 10 -

1 - b - - 30 55 -

1 - c - 30 45 - 25% Vermiculita

2 - a - 45 55 - -

2 - b - 50 40 10 Montmorilonita

2 - c 30 40 10 - -

21 - 20 50 20 -

22 - 30 70 - -

23 - 55 25 20 -

24 - 55 30 15 -

A plasticidade dos massapês é devida principalmente ao elevado teor de

fração de argila e à presença de montmorilonita, ilita e ilita – montmorilonita, cujas

partículas lamelares permitem a absorção de moléculas de água, ajudando dessa

forma para o aumento de plasticidade desses solos (BRITO, 2006).

A camada de solo potencialmente expansiva por estar sujeito à variação de

umidade é denominada zona ativa. A determinação da zona ativa no sub-solo

depende do conhecimento sobre o limite máximo e mínimo de variação de umidade

na região. Na tabela 5.3 estão relacionados o Índice de Plasticidade com o Potencial

de Expansão:

34

Tabela 5.3 – Critérios para Predição de Potencial de Expansão (SEED at al, 1962, apud BRITO,

2006)

POTENCIAL DE EXPANSÃO ÍNDICE DE PLASTICIDADE

BAIXO 0 – 15

MÉDIO 10 – 35

ALTO 20 – 35

MUITO ALTO > 35

Utilizando esta relação observa-se que os massapês são classificados como

solos de potencial alto a muito alto.

35

6 Métodos para Avaliação da Estabilidade de Taludes

Um escorregamento de massa ocorre quando as tensões solicitantes

excedem a resistência ao cisalhamento do solo depositado. A condição de

estabilidade é definida através do Fator de Segurança (FS). Esse fator é definido

como a expressão de balanço entre as forças resistivas (que tendem a manter o

sedimento imóvel) e as forças cisalhantes (que forçam os sedimentos a se

movimentarem talude abaixo), conforme mostrado em capítulo anterior, ou

simplesmente como a razão entre a resistência cisalhante média e a tensão

cisalhante ao longo da superfície de ruptura (HORST, 2007).

Segundo Caputo (1987), os métodos de estudo da estabilidade de taludes se

dividem em: Métodos de Análises das Tensões e Métodos de Equilíbrio-Limite. O

primeiro consiste em calcular as tensões em todos os pontos e compará-las com as

tensões resistentes; caso aquelas sejam maiores que estas, aparecerão zonas de

ruptura; caso contrário, zonas de equilíbrio. O segundo consiste em isolar massas

arbitrárias e estudar as condições de equilíbrio, pesquisando a mais desfavorável.

Massad (2003) afirma que os Métodos de Equilíbrio-Limite baseiam-se na

hipótese de uma massa de solo, tomada como corpo rígido-plástico, estar em

equilíbrio, na iminência do escorregamento. Conhecendo-se as forças atuantes,

determinam-se, pelas equações de equilíbrio de cada método, as tensões de

cisalhamento induzidas; então, compara-se o valor obtido com a resistência ao

cisalhamento do solo. Os Métodos de Equilíbrio-Limite partem dos seguintes

pressupostos:

O solo se comporta como material rígido-plástico, ou seja, rompe

bruscamente, sem que haja deformação;

As equações de equilíbrio da estática são válidas até a iminência da ruptura;

a partir deste ponto, o processo é dinâmico;

O coeficiente de segurança F é constante ao longo da superfície de ruptura,

ou seja, ignora-se a existência da ruptura progressiva.

Ainda de acordo com Massad (2003), os métodos de análise de equilíbrio

limite diferenciam-se, inicialmente, pela forma como consideram a massa de solo.

Por exemplo, o Método do Círculo de Atrito considera a massa de solo como um

todo; o Método Sueco, que compreende os métodos de Fellenius, de Bishop, de

36

Bishop Simplificado e de Morgenstern-Price, subdivide a massa de solo em lamelas;

o Método das Cunhas considera a massa de solo subdividida em duas ou mais

cunhas.

A princípio, são estudados mais a fundo neste trabalho o Método de Fellenius

e o Método de Bishop Simplificado, que são os mais simples e permitem a resolução

de muitos problemas de estabilidade de taludes (SILVA, 2006).

Estes dois métodos admitem a linha de ruptura como sendo um arco de

circunferência, e subdividem a massa de solo em lamelas, conforme Figura 6.1

Figura 6.1 – Método sueco ou das lamelas (MASSAD, 2003)

Na figura 6.2 têm-se as forças em uma lamela genérica

Figura 6.2 – Forças na lamela genérica (MASSAD, 2003)

37

O coeficiente de segurança (F) é definido como a relação entre a resistência

ao cisalhamento do solo (s) e a tensão cisalhante ou resistência mobiliada ( ), obtida

por meio das equações de equilíbrio:

(1)

onde:

(2)

c' = coesão efetiva

= tensão normal efetiva

= ângulo de atrito interno efetivo

A força T é uma fração da resistência total ao cisalhamento:

(3)

onde l é o comprimento da base de uma lamela. Assim, substituindo-se (2) em (3),

tem-se:

(4)

pois é a força normal (“efetiva”), atuante na base da lamela.

Segundo Massad (2003), a diferença básica entre os métodos de Fellenius e

de Bishop Simplificado está na direção da resultante das forças E e X, atuantes nas

faces verticais das lamelas: no método de Fellenius esta resultante é paralela à base

da lamela (Figura 6.3), e no método de Bishop Simplificado a resultante é horizontal

(Figura 6.4).

Aplicando-se a equação do equilíbrio de momentos no esquema da Figura

6.1, tem-se:

38

(5)

P = peso próprio do material

R = raio da superfície de ruptura

Onde se iguala o momento das forças atuantes ao momento das forças resistentes.

As forças não geram momento, pelo princípio da ação e reação.

Como R é constante, e substituindo-se a equação (4):

(6)

onde se obtém o coeficiente de segurança associado ao arco de circunferência em

análise, na linha de ruptura. Esta equação é válida para os dois métodos.

Segundo MASSAD (2003), a posição do círculo crítico é determinada

definindo-se uma malha de centros de círculos; seleciona-se um grupo de centros

por meio de um critério (como círculos que tangenciam uma linha, ou que passam

por um determinado ponto), calcula-se o valor de F para cada centro; assim, pode-

se traçar curvas de igual valor de F, determinando-se assim o valor mínimo de F e a

posição do círculo crítico.

Segundo CAPUTO (1987), na prática, é aconselhável pesquisar os círculos

críticos que passam pelo pé do talude para, em seguida, pesquisar os mais

profundos, adotando-se o menor dos dois.

6.1 Método de Fellenius

Segundo Massad (2003), no método de Fellenius, faz-se o equilíbrio das

forças no sentido normal à base da lamela, conforme a Figura 6.1.

39

Figura 6.3 – Lamela de Fellenius (MASSAD, 2003)

Assim:

(7)

ou:

(8)

U = resultante das pressões neutras atuantes na superfície de ruptura

u = pressão neutra ao longo da superfície de ruptura

∆x = comprimento perpendicular entre os dois lados da lamela

Substituindo-se a expressão (7) em (8), pode-se calcular o coeficiente de

segurança F:

(9)

Segundo MASSAD (2003), neste método, quando a pressão neutra é

elevada, o coeficiente F pode resultar abaixo do valor que seria obtido no método de

Morgenstern-Price, que é mais rigoroso; isso ocorre porque, no método de Fellenius,

ignora-se que as forças resultantes das pressões neutras atuam também nas faces

entre as lamelas, e como são forças horizontais têm componentes na direção normal

à base das lamelas.

40

6.2 Método de Bishop Simplificado

Segundo VARGAS (1978), Bishop, em 1955, generalizou o método das fatias,

criando alternativa que levasse em conta o efeito dos empuxos e cisalhamento ao

longo das faces laterais das fatias.

No método de Bishop Simplificado, faz-se o equilíbrio das forças na direção

vertical, conforme a Figura 6.4.

Tem-se:

(10)

Levando-se em conta (4):

(11)

que, substituída em (6), resulta:

(12)

Figura 6.4 – Lamela de Bishop (MASSAD, 2003)

41

O cálculo de F é feito por processo interativo, ou seja, adota-se um valor

arbitrário de F1, para utilização na expressão (12) e determina-se o novo valor de F2,

comparando-se com o F1. Se os valores obtidos diferirem muito entre si, faz-se nova

iteração, até obter o resultado com a precisão desejada.

Segundo MASSAD (2003), existem algumas dificuldades no método de

Bishop Simplificado e; caso as mesmas ocorram, deve-se adotar outro método.

No pé do talude, pode ser negativo, fazendo com que o denominador de

resulte, também, negativo, ou nulo;

Se F for inferior a 1 e a pressão neutra for grande, o denominador de pode se

tornar negativo.

Quando ocorrer, deve-se tentar um método que tenha mais rigor, para

substituí-lo ou para comparar resultados.

6.3 Métodos de Taludes Infinitos

Denominam-se taludes infinitos, taludes de encostas naturais, que são

encontrados em abundância na Serra do Mar, caracterizados pela grande extensão

e pela reduzida camada de solo acima do terreno firme. O escorregamento é do tipo

translacional ou laminar, e a linha crítica se encontra no contato entre o manto de

solo e de terreno firme (MASSAD, 2003).

Considera-se uma situação de chuva intensa e prolongada, assim admitindo

uma rede de fluxo paralela ao talude, conforme a Figura 6.5.

Figura 6.5 – Talude infinito: rede de fluxo paralela ao talude (MASSAD, 2003)

42

Segundo MASSAD (2003), como a superfície do terreno é uma linha freática,

as pressões neutras ao longo da linha potencial de ruptura AB valem:

(13)

= peso específico da água

H = altura da camada de solo

α = ângulo de inclinação do talude

O gradiente hidráulico em qualquer ponto da rede vale:

(14)

Conforme a figura 6.6, as equações de equilíbrio são:

(15)

(16)

Mas:

(17)

(18)

Então:

(19)

43

Figura 6.6 – Talude infinito: lamela genérica (MASSAD, 2003)

Substituindo-se a expressão (19) na expressão (4), e lembrando-se que:

(20)

tem-se:

(21)

ou, em forma adimensional:

(22)

onde N é o número de estabilidade de Taylor (TAYLOR, 1948 apud MASSAD,

2003), dado por:

(23)

e é o parâmetro de pressão neutra, definido por:

(24)

Para MASSAD (2003), a análise da expressão (23) permite concluir que, no

caso de solos homogêneos, a linha crítica do talude infinito coincidirá com o contato

entre o solo e o substrato, rochoso, ou seja, H será o máximo. Como , geralmente

é constante, quanto maior o valor de H, menor o valor de N, conseqüentemente,

menor o valor de F. Ou seja, quanto maior a espessura do manto de solo, menor

será o coeficiente de segurança, e, portanto, menor a estabilidade.

44

VARGAS (1978) afirma a importância de que nos ensaios de laboratório para

determinação dos parâmetros de resistência ao cisalhamento, sejam utilizados

corpos de provas saturados, pois a prática mostra que a água possui grande

influência sobre a coesão, que diminui com a saturação do solo.

6.4 Método de Hoek e Bray

Em 1970 Hoek apud Guidicini (1976) criou procedimentos de verificação de

estabilidade de taludes, através de simples cálculos usando parâmetros e dados

geométricos de taludes, que uma vez cruzados nos ábacos por ele criados,

fornecem um fator de segurança adequado para finalidades práticas. Há de observar

que os autores deste modelo, Hoek e Bray citam em seu livro – Rock Slope

Engineering: “Apesar de este livro lidar primeiramente com a estabilidade de taludes

rochosos, ocasionalmente colocar-se-ão problemas envolvendo materiais moles, tais

como solos de cobertura ou desagregados.”

Para o uso dos Ábacos, algumas considerações deverão ser feitas:

a) o talude é constituído de material homogêneo;

b) a equação τ = c + σ tg Ф fornece a resistência ao cisalhamento;

c) a ruptura é sempre circular passando pelo pé do talude;

d) uma fenda de tração vertical ocorre no topo ou face do talude;

e) as variações de água subterrâneas são consideradas em diferentes ábacos.

Para o uso efetivo do método, inicialmente é necessário definir as condições

do nível de água, para escolha do ábaco mais adequado à situação. A partir do

ábaco escolhido, calcula-se o seguinte valor adimensional:

c / (γ H tg Ф), sendo:

c = coesão do material

γ = peso específico aparente

H = altura do talude

Ф = ângulo de atrito do material

O valor encontrado deverá seguir a linha radial até sua interseção com a

curva que corresponde ao ângulo de inclinação do talude, para encontrar o valor

45

correspondente a tg Ф / (FS) ou c / γ H (FS) e, obtém-se então, o fator de segurança

FS.

Abaixo temos as figuras que compões os Ábacos de Hoek e Bray.

46

Figura 6.7 – Ábacos de Hoek & Bray

47

A tabela abaixo apresenta um resumo dos métodos estudados neste trabalho

e suas respectivas expressões para o cálculo do fator de segurança.

Tabela 6.1 - Métodos de cálculo de fator de Segurança e suas fórmulas

Método Expressão

Fellenius

Bishop Simplificado

Hoek & Bray

Uma vez realizada a análise da estabilidade através dos modelos

matemáticos descritos, se o fator de segurança for inferior ao preconizado pela

Norma NBR-11682 - Estabilidade de taludes, conforme tabela 6.2, o talude deverá

ser tratado por meio de técnicas de estabilização ou de contenção.

Tabela 6.2 - Fator de segurança mínimo para taludes (NBR-11682)

Grau de segurança necessário

ao local

Métodos baseados no equilíbrio-limite

Tensão-deformação

Padrão: fator de segurança mínimo (A)

Padrão: deslocamento máximo

alto 1,50 Os deslocamentos máximos devem ser compatíveis com o grau de segurança necessário ao local, à sensibilidade de construções vizinhas e à geometria do talude. Os valores assim calculados devem ser justificados.

médio 1,30

baixo 1,15 (A) Podem ser adotados valores diferentes, desde que justificados

48

7 Técnicas utilizadas na solução de taludes instáveis

As técnicas utilizadas para estabilização de taludes compreendem duas

modalidades: estabilização do maciço e contenção ou reforço.

Para a estabilização, devem ser classificados os pontos críticos de acordo

com o tipo de intervenção que estes necessitam, ou seja, sem intervenção ou com

simples intervenções e com intervenções. Quando da realização da estabilização

sem intervenção ou com intervenções simples, não haverá necessidade de

elaboração de investigações e projetos específicos para sua implantação (serviços

de limpeza e recuperação da drenagem ou proteção superficial, remoção de lixo ou

entulho e outros serviços de manutenção). Como exemplo, quando a maioria dos

dispositivos de drenagem está comprometida, e que a simples desobstrução de

sarjetas, canais, canaletas e bueiros forem suficientes para restabelecer as

condições de pleno funcionamento das obras existentes. Para os locais onde serão

realizadas intervenções, serão necessárias investigações complementares e

elaboração de projetos específicos (OLIVEIRA, 2006).

A priorização das áreas pertencentes ao grupo, que demanda a implantação

das obras de estabilização deverá considerar os níveis de risco geotécnico mais

elevado e o ganho de segurança potencial ocasionado pelas intervenções

(OLIVEIRA, 2006).

Segundo Vargas (1981), para que uma obra de estabilização de taludes tenha

sucesso, é necessário atender alguns preceitos básicos:

Estudos de investigação: é uma fase para a qual são dispensadas pouca

atenção, verba e prazo, e é de suma importância, pois é fundamental que se

tenha as causas do problema para se elaborar as soluções mais adequadas;

Elaboração de projeto: as soluções adotadas devem tratar diretamente as

causas da instabilização, para não haver superdimensionamento nem

subdimensionamento. É importante avaliar as características do talude para

se elaborar um projeto específico para o caso, pois nem sempre duas obras

similares admitem o mesmo projeto.

Execução de obras: são vários os casos em que as condições de campo,

difíceis de serem detalhadas com precisão, exigem alterações de projeto; é

importante que o engenheiro de campo tenha conhecimento de todos os

49

estudos prévios e dos detalhes do projeto, para que tenha condições de tomar

a decisão mais acertada. A atenção aos detalhes executivos, principalmente

àqueles relativos à drenagem e proteção superficial do talude, é tão

importante quanto a obra como um todo, pois um descuido poderá custar, no

futuro, a re-execução da obra.

Guidicini e Nieble (1984), modificado por FREIRE, 1965, agruparam sete

providências saneadoras dos escorregamentos:

Eliminação da água;

Atenuação do dessecamento;

Atenuação da pressão d‟água;

Atenuação dos efeitos da gravidade;

Atenuação e controle da erosão;

Combate à ação do gelo;

Diversos (controle de desmonte em taludes rochosos, proteção a jusante,

controle do carregamento a montante, etc.)

Para taludes rochosos, segundo Hoek e Londe (1974) apud Guidicini e Nieble

(1984), as técnicas de melhoria da estabilidade de taludes rochosos resumem-se em

quatro grupos básicos: mudança na geometria do talude, drenagem de água

subterrânea, reforço do maciço, controle de desmonte. Destes, os três primeiros se

aplicam também a taludes terrosos.

Essas técnicas de melhoria da estabilidade são apresentadas a seguir.

7.1 Mudança na Geometria do Talude

Segundo Guidicini e Nieble (1984), mudar a geometria do talude significa

reduzir a altura ou do ângulo de inclinação do talude. Na maioria das vezes, esta é a

medida mais econômica, e, apesar disso, pode ser a única solução em muitos

casos, associada a um sistema de drenagem e à proteção superficial.

50

7.2 Drenagem de Água Subterrânea

“O objetivo da drenagem é diminuir a infiltração de águas pluviais, captando-

as e escoando-as por canaletas dispostas longitudinalmente, na crista do talude e

em bermas, e, transversalmente, ao longo de linhas de maior declividade do talude.

Para declividades grandes, pode ser necessário recorrer a escadas d‟água, para

minimizar a energia de escoamento das águas. As bermas, com cerca de 2 metros

de largura, devem ser construídas com espaçamento vertical de 9 a 10 metros,

também para diminuir a energia das águas” (MASSAD, 2003).

A drenagem de água subterrânea sempre melhorará a estabilidade do talude,

porém deve-se analisar o quanto de estabilidade pode ser adquirido e o custo do

sistema (GUIDICINI e NIEBLE, 1984).

Guidicini e Nieble (1984)

afirmam que a forma mais simples e

barata de drenagem consiste na

redução da quantidade de água que

infiltra no topo e na face do talude. Isso

pode ser realizado, vedando-se

eventuais fendas de tração existentes,

mediante preenchimento com material

drenante (cascalho, por exemplo) e

vedação na superfície com material

impermeável, como argila. Assim, a

entrada de água será evitada, mas a

mesma poderá ser drenada para a face

do talude, que deverá estar protegida

superficialmente.

Drenagem profunda é uma técnica que consiste em rebaixar o nível freático,

através da instalação de drenos sub-horizontais profundos. Esta medida reduz as

pressões neutras, permitindo manter a estabilidade dos taludes de cortes e aterros.

A instalação consiste em executar furos com equipamentos a percussão e rotativos,

levemente inclinados em relação à horizontal, onde deverão ser instalados tubos de

Figura 7.1 - Esquema de drenagem profunda Fonte: IPT, 2005

51

PVC perfurados e envolvidos por telas de „‟nylon‟‟, que impeçam o entupimento

destes furos.

Como opções de drenagem profunda, existem os furos de martelete

pneumático horizontais, os furos verticais com bomba e as galerias de drenagem.

Os dois últimos são muito dispendiosos, sendo que o furo bombeado geralmente é

utilizado em determinada fase da obra, não servindo como solução permanente

devido ao seu elevado custo. Por sua vez, as galerias drenantes, apesar de

extremamente eficazes, só se justificam em casos de real necessidade, ou quando

as mesmas podem ser úteis a outras etapas da obra, como ancoragens, por

exemplo, diluindo o seu custo. Os furos sub-horizontais são a técnica mais utilizada

e mais eficiente, tanto para taludes terrosos como para rochosos (GUIDICINI e

NIEBLE, 1984).

7.3 Reforço do Maciço

A utilização de reforço em taludes rochosos é, em geral, economicamente

viável apenas em taludes pequenos, pois é necessário aplicar-se 20 % do peso total

da massa instável no reforço considerado. Geralmente, a utilização do reforço se

torna mais viável se o mesmo for utilizado como parte integrante de um projeto de

retaludamento (Hoek e Londe, 1974 apud Guidicini e Nieble 1984).

Já em taludes de solo, o reforço do maciço, por meio das mais diversas

técnicas, que serão abordadas nos itens subseqüentes, associadas a um sistema

eficiente de drenagem, geralmente é a única solução a ser tomada, quando o

retaludamento significar a retirada de volumes de terra muito grandes, pois neste

caso tornaria a solução economicamente inviável.

Existem vários tipos de obras de estabilização de taludes disponíveis na

Engenharia nos dias de hoje. A escolha de um ou de outro método depende do tipo

de problema a ser resolvido, da viabilidade de execução e viabilidade financeira do

projeto a ser desenvolvido. Portanto, a adoção de uma técnica deve ser embasada

em estudos cuidadosos.

De acordo com a norma NBR 11682 – Estabilidade de Taludes, o projeto de

obras de estabilização com elementos de contenção pode prevê:

52

a) estruturas de alvenaria ou concreto: muros de arrimo de peso, muros esbeltos

de paramento inclinado na direção do talude, muros a flexão de concreto

armado ou protendido, etc.;

b) estruturas chumbadas ou ancoradas: estruturas chumbadas ou ancoradas na

fundação, estruturas com ancoragens passivas em blocos ou placas verticais,

cortinas com ancoragens injetadas e protendidas, etc.;

c) estruturas diversas e dispositivos de reforço do terreno: telas de aço

galvanizadas fixadas com chumbadores, gunitagem com ou sem malha

fixada, chumbadores e tirantes protendidos em taludes rochosos, estacas-

raízes, pressoancoragens, gabiões, aterro de base de taludes com

geossintéticos, micro ancoragens, terra-armada, etc.

“Contenção é todo elemento ou estrutura destinado a contrapor-se a

empuxos ou tensões geradas em um maciço cuja condição de equilíbrio foi alterada

por algum tipo de escavação, corte ou aterro. A contenção é feita pela introdução de

uma estrutura ou de elementos estruturais compostos, que apresentam rigidez

distinta daquela do terreno que conterá” (Ranzini et al., 1998). As obras de

contenção têm sido utilizadas desde meados de 3200 a.c, data aproximada dos

registros mais antigos encontrados onde hoje se localiza o Iraque. As obras mais

recentes datam do século XVI, época em que a expansão colonizadora européia

exigia a construção de fortes militares e estruturas de defesa, em locais e terrenos

variados, em quase todos os continentes. Estas foram as primeiras estruturas de

contenção trazidas ao Brasil no século XVIII, expandindo-se para obras portuárias e

de contenções urbanas no século XIX, na Bahia e no Rio de Janeiro. Também nessa

época ocorreu a expansão das obras ferroviárias particulares e estatais, em todo o

Brasil, o que difundiu o uso deste tipo de estrutura (SILVA, 2006).

7.3.1 Muros

Muros são estruturas corridas de contenção, constituídas de parede vertical

ou quase vertical apoiada em fundação rasa ou profunda (Ranzini et al., 1998).

Podem ser construídos em alvenarias, de tijolos ou pedras, ou em concreto, simples

ou armado, ou ainda de elementos especiais. Podem ter fundação direta, rasa e

53

corrida, ou profunda, em estacas ou tubulões. Segundo Ranzini et al. (1998), se

apresentam no seguintes tipos: muros de gravidade, muros atirantados, muros de

flexão, mistos, muros de contrafortes, muros de gabiões e muros “Crib-Wall”.

Projetos que envolvem a construção dessas estruturas podem incluir também

modificação do regime hidrogeológico com drenos sub-horizontais profundos, poços

ou drenos verticais de rebaixamento de lençol freático, galerias de drenagem,

trincheiras drenantes, além da melhoria das condições existentes de drenagem

superficial e/ou profunda e proteção superficial dos taludes e adequado

encaminhamento das águas.

Segundo Ranzini et al. (1998), a influência da água é marcante em um muro

de arrimo, pois o acúmulo de água aumenta o empuxo atuante, portanto o sistema

de drenagem é de fundamental importância, devendo dar escoamento a

precipitações excepcionais com folga, impedir o carreamento do maciço e o

entupimento do sistema, com material filtrante.

7.3.2 Muros de gravidade

Segundo Ranzini et al. (1998), os muros de gravidade são estruturas corridas, de

grande massa, que resistem aos empuxos

horizontais pelo peso próprio. São comumente

empregados para conter pequenos e médios

desníveis, em geral inferiores a 5 metros. Podem ser

de concreto simples, ciclópico ou com pedras, com

ou sem argamassas. São construídos quando se

dispõe de espaço para acomodar sua largura, que

gira em torno de 40% da altura a ser escorada. São

comumente executados em cortes verticais no

terreno, pois podem ser feitos em trechos

(cachimbos), o que impede o desconfinamento total do terreno. Podem também

conter terraplenos, sendo neste caso executados integralmente para depois receber

o maciço, ou na medida em que estes forem sendo erguidos. Devido a seu alto

Figura 7.2 – Muro de gravidade Foto do autor, outubro 2008

54

peso, requerem um terreno com alta capacidade de carga, que possa suportar as

tensões máximas na fundação em sapata corrida.

7.3.3 Muros atirantados

Segundo Ranzini et al. (1998), são estruturas mistas em concreto e alvenaria

(de blocos de concreto ou tijolos), com barras perpendiculares ao paramento do

muro, funcionando como tirantes, fixos a outros elementos, como blocos, vigas

longitudinais ou estacas, amarrando, assim, o

paramento. São construções de baixo custo,

contendo alturas de até cerca de 3 metros. Os

tirantes são constituídos de armadura envolvida

em concreto, e não podem interferir em obras

futuras. Dependendo da altura do muro e das

condições do solo, pode ser apoiado em sapata

corrida, estacas ou brocas.

Fonte: Revista Techne. Ed. 44 Figura 7.4 – Muro atirantado

Figura 7.3: Esquema em perfil de muro tipo “gravidade”. Fonte: IPT, 2005.

55

7.3.4 Muros de flexão

Segundo Ranzini et al. (1998), são

estruturas mais esbeltas, com seção

transversal em forma de “L”. Resistem aos

empuxos por flexão, utilizando-se de parte

de peso próprio do maciço, que se apóia

na base do “L”, para manter-se em

equilíbrio. São geralmente construídos em

concreto armado, sendo, portanto, assim,

pouco econômicos para alturas acima de

7 metros. O espaço para a largura das

fundações, quando em sapata corrida, é

da ordem de 40% da altura. Resistem a

movimentos de translação, que podem ser

contidos executando-se um dente vertical

na fundação. Também pode ser apoiado

em estacas verticais ou inclinadas,

dependendo do tipo de solo.

7.3.5 Muros de contrafortes

Segundo Ranzini et al. (1998), possuem geometria semelhante à dos muros

de flexão, em “L”, porém possuem elementos verticais de grande porte, os

contrafortes ou gigantes, espaçados de alguns metros e engastados na fundação,

resistindo aos esforços de tração. O paramento do muro é formado por lajes

verticais, apoiadas nos contrafortes. Também se utiliza do peso próprio do maciço

para manter o equilíbrio. Os contrafortes podem ficar do lado externo do paramento

ou embutidos no maciço. A fundação pode ser feita em laje de fundação, estacas

Figura 7.5 - Esquema de Muro de Flexão Simples e com Contra-Fortes. Fonte: IPT

56

verticais ou inclinadas ou sapata corrida, dependendo do tipo de solo; neste último

caso, a largura da fundação ocupa cerca de 40% da altura do maciço; também

resiste à translação, podendo ser executado o dente vertical.

7.3.6 Muros mistos

Segundo Ranzini et al. (1998), são estruturas com características

intermediárias entre muros de flexão e os muros de gravidade, funcionando, assim,

parte pelo peso próprio e parte pela flexão, utilizando-se de parte do peso do

terrapleno para atingir o equilíbrio. A largura das fundações gira em torno de 40% da

altura, quando executadas em sapata corrida, resistindo também à translação,

podendo ser utilizado o mesmo processo do método anterior para conter esse

esforço. Também pode ser apoiado em estacas verticais ou inclinadas, dependendo

do tipo de solo.

7.3.7 Muros de gabiões

São muros de gravidade construídos superpondo-se caixas de malha de

arame galvanizado contendo pedras de dimensões maiores do que a abertura da

malha, montadas in-locu. A altura empregada é da mesma ordem daquelas

utilizadas nos muros de gravidade, ou seja, 5 metros. Apresentam como

características principais a flexibilidade, que permite que a estrutura se acomode a

recalques diferenciais, e a permeabilidade, facilitando assim a drenagem da

estrutura. Na figura 7.6 pode ser observado um estrutura em muro de gabião

executado próximo ao talude estudado.

57

7.3.8 “Crib-wall”

Ranzini et al. (1998) descrevem o “crib-wall” como estruturas formadas por

elementos pré-moldados de concreto armado ou de madeira ou aço, que são

montados no local, em forma de “fogueiras” justapostas e interligadas

longitudinalmente, cujo espaço interno é preenchido de preferência com material

granular graúdo.

Funcionam como arrimos de gravidade e

se acomodam a recalques das fundações. Como

vantagens, oferecem facilidade de construção,

baixo custo, capacidade de adaptação ao terreno

e aceitação de pequenos recalques, no entanto,

exige bom terreno de fundação, drenagem e

compactação cuidadosa do solo dentro da

fogueira e um cuidado especial na execução do

sistema de drenagem com barbacans e dreno de

areia.

Figura 7.6 – Muro Gabião do Talude de acesso a Taquipe Foto do autor, maio- 2008

Figura 7.7 - Esquema de um reforço em crib-wall Fonte: Revista Techne Ed.43

58

7.3.9 Cortina Atirantada

Os projetos que envolvem obras de contenção podem conter também

estruturas atirantadas, constituídas por cortinas, placas isoladas ou blocos

ancorados ao terreno através de tirantes protendidos, além de estruturas

chumbadas ou ancoradas, que não utilizam ancoragens protendidas (“solo

grampeado” - “soil nailing”, estruturas chumbadas ou ancoradas na fundação,

estruturas ou blocos com ancoragens passivas, etc .

Segundo Ranzini et al. (1998), cortinas são contenções ancoradas ou

acopladas a outras estruturas por meio de tirantes, o que dá estabilidade requerida

ao maciço. Podem ser rígidas ou flexíveis; no primeiro caso, as deformações das

cortinas podem ser desprezadas. No segundo, estas influenciam na distribuição de

tensões aplicadas ao maciço.

Ainda segundo Ranzini et al.

(1998), em rodovias, são empregadas

para contenção de cortes ou aterros. No

primeiro caso, é feita a partir do topo, em

faixas horizontais que vão sendo

ancoradas conforme o corte vai sendo

executado. Após cada etapa de corte, os

tirantes são inseridos, o pano da cortina é

concretado e em seguida é feita a

ancoragem. No caso de aterros, o

processo é semelhante, porém a

construção da cortina evolui de baixo para

cima, da fundação para o topo. O sistema

de drenagem é semelhante ao de muros

de arrimo.

Os módulos da cortina são

executados na medida em que se

progride nas escavações, de preferência

em nichos, para não causar

instabilizações.

Figura 7.8- Esquema de aplicação de cortina Atirantada. Fonte: IPT, 2005.

59

“O processo executivo das cortinas atirantadas envolve a execução de várias

fases” (MASSAD, 2003):

“[…] numa primeira fase, a perfuração do solo, a introdução do tirante e a

injeção de nata de cimento para formar o bulbo de ancoragem. Numa segunda fase,

após o endurecimento da nata de cimento, os cabos do tirante são protendidos e

ancorados junto às placas de concreto (ancoragem ativa). Por vezes, é necessário

associar a essas cortinas atirantadas um sistema de drenagem, para aliviar os

efeitos das pressões neutras, ou então considerá-las nos cálculos de estabilidade”.

A eficiência de uma cortina atirantada é muito boa. Os custos para sua

execução são relativamente altos, requer pessoal especializado, certo tempo para

construção e assim como toda e qualquer obra requer certos tipos de manutenção.

É muito importante durante a execução de uma cortina, ter cuidado com as

luvas de emendas e realizar a proteção do tirante com tintas que impeçam a

corrosão. O ideal é a execução de uma bainha com nata de cimento que evite o

contato direto do tirante com o solo.

Figura 7.9 – Exemplo de

cortina atirantada

Fonte: Revista Techne, 2003.

7.3.10 Solo grampeado

Solo grampeado é uma técnica de melhoria de solos, que permite a

contenção de taludes por meio da execução de chumbadores, concreto projetado e

60

drenagem. Os chumbadores promovem a estabilização geral do maciço, o concreto

projetado dá a estabilidade local junto ao paramento e a drenagem age em ambos

os casos.

Esta técnica se aplica aos maciços a serem cortados, cuja geometria

resultante não é estável e a taludes existentes que não têm estabilidade satisfatória.

O principio de funcionamento do solo grampeado pode ser resumido como

sendo o método que conduz a uma estabilização pelo alívio controlado de tensões.

Este alívio é alcançado a partir da possibilidade de deslocamentos controlados da

massa de solo/rocha e da conseqüente mobilização da resistência interna do

material, formando uma zona plastificada e reforçada pela interação solo-grampo.

Esta técnica permitiu uma considerável redução da espessura do

revestimento final de sustentação das galerias, haja vista a técnica até então

utilizada ter uma natureza rígida e, por isso, solicitar a estrutura com esforços muito

maiores e requerer revestimentos muito mais espessos (GUIMARÃES, 2008).

Inicialmente utilizada em escavações de rochas muito resistentes, novas

experiências foram realizadas no sentido de estabilizar estruturas com rochas mais

brandas e, posteriormente, em solos (GEORIO, 1999).

Estruturas em solo grampeado não são pré-tensionadas e requerem uma

pequena deformação no solo para trabalharem.

Os grampos são inseridos no maciço à medida que a escavação é iniciada e

prossegue em etapas sucessivas, quando então a primeira linha de grampos é

executada. O grampeamento do solo também pode ser executado em uma

escavação preexistente, onde é possível trabalhar de forma ascendente ou

descendente, de acordo com as necessidades construtivas da obra.

Em geral, os solos capazes de serem grampeados são areias consolidadas,

areias úmidas com coesão capilar, argilas adensadas e rochas brandas. O talude é

escavado em alturas entre 1 e 2m, sendo o tipo de terreno o fator determinante

dessa altura. Quando se trata de taludes formados por terrenos coesivos, pode-se

chegar até a 2,5 m de corte.

É conveniente que durante a escavação o solo mantenha-se estável,

entretanto, como em outras técnicas de reforço a escavação atinge um ponto crítico

de instabilidade local (função da altura de solo a ser escavada). Neste caso,

recomenda-se proceder à estabilização da face recém-escavada, pois o solo pode

não se sustentar por muito tempo. Além disso, inclinar a escavação da face do

61

talude pode proporcionar maior estabilidade e economia da armadura de reforço em

função da diminuição dos esforços na face da contenção (GUIMARÃES, 2008).

Figura 7.10 – Aspecto do solo

grampeado em fase de

conclusão. Brotas – Salvador.

Fonte: Monografia de Jonas

Guimarães, 2008 – Foto do Autor.

7.3.11 Concreto projetado

Trata-se de uma mistura de cimento, areia, pedrisco, água e aditivos, que é

impulsionada por ar comprimido desde o equipamento de projeção até o local de

aplicação, através de mangote (NBR-13044, 1993).

Na extremidade do mangote existe um bico de projeção, onde é acrescentada

a água, quando a mistura for seca. Esta mistura é lançada pelo ar comprimido, a

grande velocidade, na superfície a ser moldada. No traço, podem ser adicionadas ao

microssílica, fibras e outros componentes. As peças podem receber ferragens

convencionais, telas eletrossoldadas ou

fibras, conforme a necessidade de projeto

(GEOSONDA, 2005).

Existem duas maneiras de se obter

o Concreto Projetado: por „‟via seca‟‟ ou

por „‟via úmida‟‟. A diferença básica está

no preparo e condução dos componentes

do concreto. Na via seca, a adição de

água é feita junto ao bico de projeção,

instantes antes da aplicação. Na via

úmida, o concreto é preparado com água

e desta forma conduzido até o local de

Figura 7.11 – Foto ilustrativa de paramento usando concreto projetado. Fonte: Guimarães, 2008

62

aplicação. Para os dois procedimentos, utilizam-se traços e equipamentos com

características especiais.

As peças podem receber ferragens convencionais, telas eletrossoldadas ou

fibras, conforme a especificação do projeto. Para aplicação por via seca, são

necessários, pelo menos, os seguintes equipamentos e acessórios:

Bomba de projeção: recebe o concreto seco adequadamente misturado e o

disponibiliza para aplicação;

É necessário que os equipamentos estejam em perfeitas condições de

trabalho; as peças de consumo devem estar com desgaste aceitável e a máquina

sempre bem ajustada.

Compressor de ar acoplado à bomba de projeção: fornece ar comprimido em

vazão e pressão corretas para conduzir o concreto até o local da aplicação.

A prática brasileira, entretanto, é de que para qualquer diâmetro de mangueira

ou vazão de trabalho, a pressão característica do compressor deve ser de 0,7 MPa.

Este valor, quando da projeção do concreto, lido no compressor, não pode ser

inferior a 0,3 MPa. Desta forma, para distâncias até 50 m teríamos, como condição

mínima, os valores do quadro abaixo.

Tabela 7.1 - Variáveis dos instrumentos do concreto projetado.

Vazão do

compressor (pcm)

Diâmetro do

mangote

Pressão de ar necessária (MPa)

350 1½‟

0,7 600 2”

700 2½‟

Bomba de água: fornece água em vazão e pressão junto ao bico de projeção.

Pode ser substituída pela rede pública de fornecimento de água.

Deve fornecer água junto ao bico de projeção com pressão de pelo menos 0,1

MPa superior àquela dos materiais em fluxo.

Mangote: o duto de borracha por onde o concreto é conduzido da bomba ao

ponto de aplicação;

63

Bico de Projeção: peça instalada na extremidade de saída do mangote junto à

aplicação;

Anel de água componente do bico de projeção pelo qual se adiciona água ao

concreto;

Bico pré-umidificador instalado a cerca de 3 m do bico de projeção, visa

fornecer água ao concreto seco antes do ponto de aplicação. Pode ser ou não

utilizado.

Os acessórios como mangotes, bicos, anéis d‟água, pré-umidificadores e

discos devem estar em plenas condições, conforme especificações do fabricantes e

fornecedores.

Normalmente a resistência solicitada em projeto é de 15 a 20 MPa, podendo

atingir valores muito superiores, de até 40 MPa. O concreto seco pode ser fornecido

usinado, em caminhões-betoneiras, ou preparado no canteiro de obras.

São utilizadas alternativamente às telas, fibras metálicas de aço, adicionadas

diretamente na betoneira ou caminhão-betoneira, obtendo uma mistura

perfeitamente homogênea. Isto não obriga qualquer mudança nos equipamentos,

promove redução da equipe de trabalho, visto que não há necessidade de mão-de-

obra para preparo e instalação das telas. Elas se ajustam perfeitamente ao corte

realizado no talude, aceitando superfícies irregulares, com espessura constante.

O resultado é um concreto extremamente tenaz. A presença das fibras produz

concreto de baixa permeabilidade, uma vez que age no combate às tensões de

tração, durante o início da cura, homogeneamente em todas as regiões da peça

(METHA, 1994).

64

7.3.12 Uso de pneus

Recentemente, muitas prefeituras e comunidades têm executado contenções

de encostas e de margens de rios com pneus inservíveis. Essas obras utilizam-se do

pneu inteiro, enfileirando-os em camadas amarradas entre si e preenchidas com

terra. Segundo Medeiros et al. (2000), a utilização de pneus na contenção de taludes

associa eficiência mecânica e baixo custo de matéria-prima, favorecendo a

reutilização de um resíduo altamente impactante ao meio ambiente.

Trata-se de uma técnica recente, inovadora e propõe resolver dois problemas

distintos. O passivo ambiental gerado pelo resíduo da indústria automotiva e, o

problema da estabilidade de taludes. Até o presente momento existe pouca

bibliografia a respeito do assunto, no entanto, por ser uma técnica intrigante e ao

mesmo tempo louvável pela sua finalidade, têm-se alguns estudos a respeito, a

exemplo do projeto de pesquisa que aborda um muro experimental construído para

estudo na dissertação de mestrado de Ana Cristina Castro Fontenla Sieira, na

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-RIO (SIEIRA, 1998).

O muro foi construído com malhas de pneus usados, amarrados entre si e em

camadas horizontais. A parte interna da malha foi preenchida com solo compactado,

em quatro diferentes tipos de seções. O estudo consistiu ainda de instrumentação

com extensômetros magnéticos, células de pressão e inclinômetros.

Neste trabalho, segundo Sieira et al, (1998), o material utilizado no retro-

aterro é classificado como um solo areno-siltoso proveniente do intemperismo de

rocha gnáissica local. Após a compactação, o solo apresentou peso específico de 17

kN/m³ e grau de saturação médio de 65%.

Nesta técnica, é possível associar o uso de plantas para melhoria da estética

e usufruir das vantagens da cobertura vegetal, como será visto adiante.

Figura 7.12 – Início de construção de muro de pneus (SIEIRA et al, 2000)

65

7.4 Cobertura Vegetal

A influência dos sistemas radiculares na resistência ao cisalhamento do solo

tem valor considerável, por isso é grande a importância da presença de vegetação

sobre taludes e tem recebido considerável atenção, principalmente no que se refere

à ação de desmatamento e seus efeitos no processo de instabilização (CASTRO,

1996).

As raízes das plantas tendem a melhorar a qualidade do solo, aumentando

sua resistência através do reforço mecânico, além de reduzir o teor de umidade,

função esta desenvolvida pelas folhas das árvores através dos fenômenos de

transpiração, evaporação e interceptação (BUONO, 1997).

Embora boa parte dos trabalhos visando a qualificação e quantificação dos

efeitos da vegetação na estabilidade de taludes sejam de países em condições

climáticas diferentes da nossa, como Estados Unidos, Japão, Nova Zelândia,

Tailândia, já existe no Brasil um sistema denominado SIARCS® – Sistema Integrado

para Análise de Raízes e Cobertura do Solo (EMBRAPA, 1996), desenvolvido pelo

Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária

(EMBRAPA-CNPDIA, 1997).

As infiltrações efetivas das águas das precipitações pluviométricas,

responsáveis diretas pela deflagração dos mecanismos de instabilização dos

taludes, dependem principalmente da cobertura vegetal e do perfil de intemperismo

Figura 7.13 – Resultado final da construção de muro de pneus (SIEIRA et al, 2000)

66

do talude, com relação à litologia e aos aspectos estruturais. Quando bem aplicada

e enraizada, a cobertura vegetal tem demonstrado sua eficiência na redução dos

deslizamentos superficiais em massapés, no combate à erosão dos solos granulares

(areias siltosas e siltes arenosos) e na proteção contra variações excessivas da

umidade, responsáveis pela desagregação superficial das rochas argilosas

(SIMÕES, 1991).

Taludes desprovidos dos cuidados mecânicos e vegetativos recomendados

ficam completamente danificados, ocasionando sérios prejuízos para estradas, ruas,

cabeceiras de pontes e outras estruturas, quer sejam agrícolas, urbanas ou

rodoviárias (SEIXAS, 1984).

São inúmeras as vantagens da cobertura vegetal na estabilidade de talude.

Podemos citar três vertentes de atuação deste tipo de cobertura: interceptação de

raios solares, ventos e chuva; retenção considerável do volume de água e

eliminação da água presente. Ainda, a contínua formação de detritos vegetais nos

terrenos promove: amortecimento de boa parte da água que atinge o terreno;

escoamento hipodérmico devido à estrutura acamada; redução de efeitos erosivos

em condições de máxima pluviosidade (PUGLIESE, 1997).

De forma mecânica, o sistema radicular das plantas favorece um acréscimo

da resistência ao cisalhamento. Já de forma hidráulica ocorre um escoamento

hipodérmico. Da ação biológica, registram-se dois efeitos benéficos: o surgimento de

pressão neutra negativa melhorando a coesão do solo e diminuindo a quantidade de

água a ser infiltrada no maciço (SEIXAS, 1984).

A caracterização do sistema radicular, de uma espécie vegetal, tanto com

relação à distribuição espacial como por densidade de raízes, é um dos parâmetros

necessários para correlacionar com os parâmetros geotécnicos e obter a influência

deste com aquele. Porém, a não determinação dos parâmetros de vegetação, pelo

fato de requererem grande disponibilidade de tempo, mão-de-obra numerosa e

experiente tem refletido na baixa produção de trabalhos que comprovem a

importância da vegetação na estabilidade de encostas (PUGLIESE, 1997).

67

7.4.1 Efeitos do Desmatamento

De forma antagônica ao item anterior, com o desmatamento ocorre:

Eliminação da proteção térmica e climática, conferindo ao solo a ação direta

das gotas de chuva pela inexistência das copas da serrapilheira;

Ação erosiva das águas de chuva que seriam evitadas ou minoradas por meio

de raízes superficiais e da serrapilheira;

Aumento da infiltração e elevação do lençol freático, pois a cobertura vegetal

reteria, por molhamento de todo o edifício arbóreo, parte da água da chuva

que chegaria ao solo;

Perda, em médio prazo, dos efeitos mecânicos do sistema radicular por

deterioração dos tecidos vegetais e aumento do tempo de acesso das chuvas

ao solo;

Inexistência da retirada de água infiltrada no solo por absorção e devolução à

atmosfera por meio da evapo-transpiração.

Figura 7.14- Sistema radicular da

Brachiara Decubems atuando no

solo do talude estudado.

Fonte: O autor.

68

8 Monitoramento e Controle dos Movimentos de Massa

O monitoramento e controle do comportamento de taludes têm por finalidade

minimizar os riscos de eventuais ocorrências indesejadas. Para tal, os sistemas de

instrumentação: inclinômetros, piezômetros, células de carga em ancoragens,

hidráulicas ou elétricas, servem de subsídio. Estes sistemas de instrumentação

poderão ser utilizados separadamente ou em conjunto, dependendo da importância

ou localização da obra.

Segundo Kennedy apud Guidicini (1984), há duas razões básicas para se

instrumentar taludes:

1. verificar se um talude se comporta dentro dos limites previstos em projeto e,

2. acompanhar e predizer o comportamento de um talude que já exibia sinais de

ruptura e que esteja se movimentando.

É importante considerar que a crescente complexidade das obras de

engenharia e a tendência atual do mercado, na execução das obras com maior

rapidez, em melhores condições de segurança, com elevada rentabilidade e

confiabilidade acrescida, têm sido motivações para um controle mais eficaz do

comportamento das obras e dos terrenos onde assentam, quer na fase de

construção quer durante a sua vida útil. Nesse sentido, a atividade de

instrumentação tem assumido um papel de crescente relevância.

O monitoramento e controle podem estar presentes em todas as fases do

processo, desde a concepção e elaboração de planos de instrumentação ao

fornecimento e instalação de sistemas de instrumentação, desenvolvimento de

soluções automatizadas de aquisição de dados de instrumentação, exploração de

sistemas de instrumentação, gestão da informação, disponibilização de resultados e

retroanálise e no controle de obras.

Uma das formas mais usuais de instrumentação está na utilização de

inclinômetros para verificação de movimentação do maciço e medidores de

deformação do tipo strain-gages em contenções que fazem uso de tirantes, os quais

receberam estes equipamentos colados ao longo das barras de aço dos grampos;

para monitorar o nível d‟água no terreno, faz-se o uso de piezômetros.

69

8.1 Inclinômetros

O inclinômetro é um instrumento que serve para medir deslocamentos

horizontais dentro do terreno. A seqüência de leituras no tempo permite determinar a

progressão dos movimentos do talude e localizar a profundidade de uma eventual

superfície de ruptura. A utilização de inclinômetros é prática bastante conhecida em

obras geotécnicas. Os procedimentos de instalação geralmente são encontrados em

literatura estrangeira, por outro lado, no mercado nacional já existem empresas

especializadas na prestação de serviços de instalação e monitoramento por

instrumentação.

Na figura 8.1, observa-se um inclinômetro instalado em um furo que foi

executado com 100 mm de diâmetro, permitindo a inserção do tubo de acesso (80

mm) e o posterior preenchimento com calda de cimento-betonita (1:10).

Neste caso, o torpedo padrão de 25 mm de

diâmetro é do tipo deslizante e percorre o tubo de

baixo para cima, sendo o sensor guidão por

pequenas rodas que garantem o alinhamento do

instrumento no centro do tubo.

Os inclinômetros são equipamentos

robustos e raramente sofrem perturbações do

meio no qual são inseridos (Nunes at al, 2004).

Por isso, alguns cuidados são tomados para evitar

o vandalismo dos tubos de acesso.

Como exemplo, podemos citar: colocação de tampa na extremidade do tubo

de acesso; construção de uma caixa de proteção

chaveada no entorno do tubo.

Figura 8.1: Inserção de inclinômetro Fonte: Nunes at al (2004)

Figura 8.2 - Caixa de proteção e tampa do tubo de acesso do inclinômetro Fonte: Nunes at al (2004)

70

8.2 Piezômetros

Piezômetro é um aparelho que serve para avaliar a compressibilidade ou a

tensão dos líquidos (CRUCIANI, 1987). Através desta medida, determina-se o nível

d‟água no lençol, pressão neutra interna do solo e pressões em junta (CBDB, 2009).

O piezômetro é constituído de um tubo vertical, aberto nos dois lados, conectado a

massa de água. Há vários tipos de piezômetros, o de mais simples execução é o

hidráulico, pois não envolve necessariamente dispositivos elétricos ou eletrônicos

sofisticados (ORTIGÃO, 1975).

Os piezômetros são úteis e insubstituíveis justamente para detectar a

presença de componentes verticais do fluxo subterrâneo, especialmente fluxos

ascendentes originados por pressão artesiana, que promovem a elevação e

sustentação do lençol freático. Esse tipo de problema é dos mais sérios e de mais

difícil solução devido à dificuldade em controlar a pressão artesiana (CRUCIANI

apud Santos, 1987).

Atualmente, com o avanço

tecnológico, existem piezômetros elétricos

que são constituídos basicamente de um

elemento poroso e um transdutor

eletromecânico de pressão, de forma que

as pressões intersticiais que se

desenvolvem no fluido dos poros do solo

são transmitidas hidrostaticamente pela

água que satura o elemento poroso (filtro),

terminando por acionar o transdutor. A

função básico do condutor eletromecânico

é de transformar uma quantidade física

(pressão) em um sinal elétrico.

Na figura ao lado, temos o

esquema de uma instalação típica de

piezômetro.

Figura 8.3: Esquema de instalação de Piezômetro Fonte: Comitê Brasileiro de Barragens, 2008.

71

O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)

desenvolveu um piezômetro pneumático para

aplicação em obras civis tais como: maciços de

barragens e outros aterros, fundações e

taludes, com o intuito de obter medidas

precisas e com rapidez de leitura. O princípio

de funcionamento é o da conversão da pressão

d‟água intersticial do selo numa pressão

equivalente de gás (CO2), que é registrada

como leitura em um manômetro de precisão.

.

Figura 8.5: Piezômetro Pneumático do IPT Fonte: IPT, 2007.

Figura 8.4: Esquema de Piezômetro Pneumático Fonte: IPT, 2007.

72

9 Local de estudo

O local de estudo compreende toda área geográfica que determina as

condições de contorno da instabilização, razão da qual, também influencia na

escolha, implantação e execução da contenção mais adequada que atenda da

melhor maneira possível aos requisitos apresentados.

9.1 Descrição Geral

O talude estudado localiza-se ao longo da

BR 110, no Município de São Sebastião do

Passé-Ba a treze quilômetros da sede do

município. O acesso ao local é feito, saindo de

Salvador, pela BR-324 até o cruzamento com a

BR-110, na altura do km 51, em direção a cidade

de São Sebastião do Passé. Após 5 km, nas

imediações do km 385, encontra-se um trecho

em aclive seguido de uma curva a direita. Após a

curva, ainda no trecho em aclive, observa-se à

esquerda, o talude estudado (Figura 9.1).

O Município de São Sebastião do Passé, situado na região Metropolitana de

Salvador, possui clima quente e úmido, com pluviosidade em torno de 1600 mm/ano

(máxima igual a 2330 mm/ano), cultivo de mandioca e criação de bovinos, eqüinos e

muares. O município faz limites com Candeias, Catu, Pojuca, Terra Nova, Amélia

Rodrigues, Mata de São João e Dias D‟Ávila (SEI, 2004).

Na região o relevo é do tipo forte e ondulado com encostas convexas e com

vários pontos que mostram indícios de movimento de massas e média densidade de

canais de drenagem. Em alguns desses pontos há cicatrizes de erosão induzidas

pelo desmatamento do que ainda restava de mata atlântica. O uso do solo é de

pastagem e agricultura de subsistência e existem várias áreas recém–desmatadas

Figura 9.1 – Talude à esquerda Foto do autor, dezembro 2008

73

para ampliação das pastagens (SEI, 2004). A devastação das matas provoca uma

intensa e brusca infiltração das águas, diminuindo a estabilidade do manto e

provocando numerosos escorregamentos do solo, inutilizando freqüentemente

grandes áreas (LEINZ, 1987).

De acordo com Simões (1991), nessa área de Bacia Sedimentar, os

deslizamentos dos taludes ocorrem em sua grande maioria nos períodos chuvosos.

A infiltração efetiva das águas de chuva, dependendo do caso, pode gerar redes

temporárias de percolação de água, reduções de pressões neutras negativas

(sucções), pressões hidrostáticas nas cunhas ou sub-pressões devido a elevação do

N.A.(Nível d‟água) do subsolo, provocando com isto a ruptura dos taludes.

Sobral (1956) relatou que os engenheiros, ao construírem estradas ou

edifícios, se viram compelidos a entrar em contato mais íntimo com o massapê da

região, adquirindo, desse contato, experiências decepcionantes. Escorregamentos

de grandes volumes de terras, deslocamentos de longos trechos de estradas de

ferro, derrubamentos de robustos muros de arrimo eram fatos que ocorriam

constantemente.

9.2 Descrição do talude estudado

O talude de corte estudado

apresenta comprimento de 166m na

base e 33 m no topo, com altura

variando de 18 a 25 metros. Ao longo

de seus 59 metros de trecho inclinado

(comprimento da face), à meia

encosta, possui uma berma com 39

metros de comprimento e 9 metros de

largura (Figura 9.2). As inclinações do

talude são de 27º para a primeira

inclinação (base até a berma) e 56º

para segunda inclinação (berma até o

topo), indicadas na Figura 9.3.

Figura 9.2 – Croqui de vista superior do talude

74

Existem drenos de pequeno

comprimento e diâmetro de 50 mm

(Figura 9.4) no muro de arrimo

existente, mas não foram suficientes

para evitar escorregamento de massa

nos meses mais chuvosos do ano de

2008, principalmente de abril a junho.

Na lateral direita do talude,

existe um dreno (manilha de concreto)

que lança a água captada na

superfície do solo, erodindo o talude

no sentido topo-pé (Figura 9.5).

Segundo inspeção visual,

realizada pelo professor e geólogo

Carlos Uchoa, a textura do solo que

compõe o talude é

predominantemente argilosa, embora,

em algumas partes, areia possa estar

presente.

Figura 9.3 – Perfil do talude

Figura 9.5 – Manilha de concreto Foto do autor, outubro-2008.

Figura 9.4 – Dreno do muro de arrimo Foto do autor, outubro-2008.

75

A coloração varia em bandas arroxeadas e avermelhadas, certamente

refletindo a presença de óxido de ferro em variadas quantidades e níveis de

oxidação.

Há cobertura vegetal em toda

extensão inclinada, principalmente

gramínea e pequenos arbustos, como

medida de proteção superficial (Figura

9.6)

No pé do talude, um trecho do

muro de arrimo (90cm de altura e 50

cm de largura), citado anteriormente,

encontra-se tombado. Na inspeção

visual, observou-se que parte dos

drenos (tipo barbacãs) encontravam-se

obstruídos com vegetação.

O talude estudado vem sendo

observado pelo autor deste trabalho

desde maio de 2008 até o presente

momento. Em junho de 2008 foi

observado o surgimento de trincas no

topo do talude próximo à borda.

No topo, existem fendas com

abertura de 18 centímetros (medidas

no mês de outubro de 2008) e

profundidade possível de medição com

trena, em torno de 86 centímetros.

Ao longo das fendas, o abatimento do talude foi de até 27 centímetros, em

superfícies que exibem suas faces externas côncavas, reforçando a indicação de

movimentação (Figura 9.8).

Figura 9.6 – Cobertura Vegetal

Foto do autor, dezembro-2008.

Figura 9.7 – Muro de arrimo tombado Foto do autor, outubro-2008.

76

As referidas fendas distam do poço TQIA-05 cerca de 9,70 m, 15,12 m e

20,32m, conforme mostrado na figura 9.9.

.

O referido poço existe desde 25 de abril de 1964, com diâmetro igual a 24,45

cm e revestimento em tubo metálico de aço carbono até a profundidade de 1160 m,

Figura 9.9 – Perfil das trincas no topo do talude

Figura 9.8 – Abatimento em topo do Talude

Foto do autor, novembro 2008.

77

servindo para injeção de água no solo, com a finalidade de recuperar a produção de

petróleo sob a mesma pressão de produção no reservatório.

À meia encosta, na berma, a ação de processos erosivos é visível (Figura

9.10).

Sobral (1956) já salientava naquela época que, sob alta pluviosidade, a água

percolava através do solo e carreava consigo as substâncias solúveis e dispersíveis,

intensificando os processos erosivos.

A vegetação encontrada no talude ratifica a observação de Simões (1991):

“os taludes em massapês, devido as suas características físicas e de fertilidade,

permitem o plantio das mais diversas espécies de gramíneas e leguminosas; há uma

grande predominância de Brachiaria”.

O Brachiaria e o Gengibre são os tipos que melhor se adequam ao solo,

devido à resistência e a espessura do sistema radicular (SIMÕES, 1991).

Para Simões (1991), o talude de corte executado nos materiais da Bacia

Sedimentar, seguindo os padrões de inclinação comumente empregados para

materiais convencionais em obras viárias, tem demonstrado serem bastante

instáveis, mesmo para as precipitações pluviométricas consideradas normais. O

homem tem contribuído de forma significativa neste processo, criando condições

favoráveis aos deslizamentos.

9.3 Origem, formação e evolução da Bacia Sedimentar onde foi desenvolvido o

estudo

No período Jurássico Superior deu-se o rompimento continental que separou

a América do Sul da África, iniciando-se assim a formação da fossa tectônica do

Figura 9.10 – Berma com erosão Foto do autor, outubro-2008

78

Recôncavo. Esta movimentação tectônica expressa as grandes deformações

disjuntivas resultantes do campo de tensões crustais dominantes nos períodos

Jurássico e Cretáceo (Simões, 1991).

Segundo Leal apud Simões (1988), que trata de formação bastante

abrangente os aspectos geológicos da Bacia Sedimentar, a atividade tectônica

exerceu influência marcante sobre a sedimentação da Bacia, podendo-se concluir

com base nas análises das unidades estratigráficas, que a Bacia se desenvolveu em

três estágios denominados “pré-rift”, “rift” e “pós-rift”.

O segundo estágio, denominado “rift”, é caracterizado por uma atividade

tectônica bem mais acelerada, representada por uma maior velocidade de

subsidência do “graben” do Recôncavo. Esta subsidência tipo diferencial e

assimétrica deu origem a três compartimentos estruturais internos na Bacia: uma

plataforma relativamente estável, ocupando a parte norte e oeste; uma faixa em

talude, sinuosa e de ângulo elevado, a oeste e por último uma zona hiper

subsidente, adjacente ao falhamento de leste a sul, onde se constata um maior

aprofundamento da Bacia (SIMÕES, 1991).

Ainda segundo Simões, no “rift”, foram depositadas as formações restantes

do Grupo Santo Amaro, as formações do Grupo Ilhas, assim como os arenitos

grosseiros e os folhelhos da formação São Sebastião, do Grupo Massacará. As

rochas sedimentares foram formadas a partir do transporte e deposição dos

sedimentos provenientes dos mantos de materiais intemperizados das rochas do

Embasamento Cristalino, que ocorrem em locais topograficamente elevados nas

bordas da Bacia. Onde para Leinz at al, (1987), ocorre o terceiro estádio, que é o da

decomposição total da rocha, desaparecendo por completo a sua textura. É o que se

denomina solo. Leinz (1987), afirma que nas áreas pouco íngremes, onde não se

verificam os fenômenos de deslizamento do solo, há a passagem gradual entre os

três estádios de intemperismo.

As intempéries passaram, então, a agir diretamente sobre os folhelhos,

argilitos e siltitos que constituem as formações cretáceas, originadas da

consolidação em camadas de siltes, argilas e partículas calcáreas, decompondo-as

facilmente em lâminas finas. Formaram-se, então, os massapês (SOBRAL, 1956).

As formações sedimentares da Bacia são geralmente sub-horizontais. As

movimentações ocorridas devido ao processo de subsidência resultaram em um

quadro estrutural onde geralmente as camadas tendem a mergulhar para leste ou

79

sudeste. Os ângulos de mergulho dos acamamentos são geralmente baixos,

atingindo em termos regionais valores médios inferiores a 10°. Em locais específicos

da Bacia, onde o comportamento estrutural foi modificado devido ao basculamento

de grandes blocos, conseqüência da subsidência diferencial, com inversão de

mergulhos, dobramentos, etc..., podem ser encontrados mergulhos com inclinações

mais elevadas. (SIMÕES, 1991)

As primeiras formações da Bacia foram sedimentadas em ambientes fluviais e

lacustres. Com a reativação do processo de subsidência, formaram-se vales

profundos, longos e estreitos, que sofreram alagamentos com o ingresso das águas

do mar, possibilitando a deposição de novas seqüências sedimentares. As

formações do Recôncavo tiveram diferentes ambientes de deposição: formação

Itaparica (ambiente lacustre predominantemente profundo e redutor); formação do

Grupo Ilhas (ambiente deltaico-lacustre); formação São Sebastião (ambiente

fluvial); formação Marizal (leques aluviais).

Em busca à mapa geológico do recôncavo baiano, verificou-se que a cidade

de São Sebastião do Passé está locada numa região de formação São Sebastião,

tendo as formações Barreias e Ilhas circunvizinhando a esquerda e a direita

respectivamente.

Os fatores climáticos exercem influência marcante nos processos de

instabilização dos taludes da Bacia Sedimentar do Recôncavo, destacando-se a

pluviometria pelo fato de estar diretamente associada aos deslizamentos (SIMÕES,

1991). De acordo com Sobral (1956), o clima é o resultado da distribuição da

temperatura e da precipitação, sendo que em uma região com a precipitação

pluviométrica como a do Recôncavo, verificam-se escorregamentos nos massapês

sob a ação da água.

A cobertura vegetal, de forma geral, favorece a estabilidade dos taludes,

reduzindo a ação dos agentes climáticos sobre o maciço. Este aspecto torna-se

muito importante nos taludes da Bacia Sedimentar, pela presença dos solos e das

rochas expansivas muito sensíveis às variações de umidade e pela ocorrência

abundante dos solos granulares, facilmente erodíveis pelas águas de chuva

(SIMÕES, 1991).

As maiores chuvas na região precipitam-se entre os meses de março e julho

e, em um período, entre novembro e dezembro. Em realidade não se observa

estiagem em nenhuma época do ano, daí alguns classificarem o clima como macro

80

termal úmido sem estiagem. A precipitação é superior a 1500 mm anuais (SOBRAL,

1956).

Climas com essas características são o ativador energético do processo de

formação do solo (SOBRAL, 1956). Confirmando isto, Simões (1991) afirma que a

água participa ativamente nos processos de intemperização das rochas da Bacia

Sedimentar e na deflagração dos mecanismos de instabilização dos taludes.

9.4 Mineralogia e caracterização do solo da região

A tabela 9.1 mostra a composição mineralógica das argilas silto-arenosas

(massapês), coletadas por Simões (1991) em alguns taludes da formação São

Sebastião.

Tabela 9.1 - Composição mineralógica semi-quantitativa da fração argila dos massapês da

formação São Sebastião (SIMÕES, 1991)

AMOSTRA Nº

C O M P O S I Ç Ã O M I N E R A L Ó G I C A (%)

MONTMORILONITA ILITA CAULINITA

16 - 20 80

17 - 25 75

18 - 10 90

19 - 10 90

Devido a não observância da motimorilonita, os massapês desta região

possuem características e composição mineralógica diferente dos massapés

provenientes da intemperização das rochas argilosas das demais formações da

Bacia. Em conseqüência apresentam menores expansões, assim como

permeabilidades e resistências ao cisalhamento mais elevado.

Ensaios mineralógicos da fração argila foram executados também nos

sedimentos granulares da formação São Sebastião, constituídos de areias silto-

argilosas. Na Tabela 9.2 os resultados desses ensaios são mostrados, verificando-

se os teores reduzidos de ilita, que conferem potencial de expansibilidade bastante

baixo a estes sedimentos.

81

Tabela 9.2 - Composição mineralógica semi-quantitativa da fração argila dos sedimentos

granulares (areia sítio argilosa) da formação São Sebastião (SIMÕES, 1991)

AMOSTRA Nº

C O M P O S I Ç Ã O M I N E R A L Ó G I C A (%)

MONTMORILONITA ILITA CAULINITA

1 - 5 95

2 - 5 95

3 - 5 95

4 - 5 100

Nas tabelas 9.3 e 9.4 apresentam os resultados de ensaios de granulometria

e peso específico dos grãos, limites de consistência, respectivamente, realizados no

solo da Formação São Sebastião por Simões (1991).

Tabela 9.3 - Granulometria: solo Formação São Sebastião (Simões, 1991)

Amostra/fração

granulométrica

Areia Silto Argilosa Argila Silto Arenosa

(Massapê)

Pedregulho (%) 1 1

Areia (%) 61 12

Silte (%) 20 28

Argila (%) 18 59

Tabela 9.4 - Peso específico dos grãos e limites de consistência determinados por Simões

(1991): solo Formação São Sebastião

Amostra s(kN/m3) wL (%) wP (%) IP (%)

Areia Silto Argilosa 26,7 34 19 15

Argila Silto Arenosa

(Massapê)

27,1 57 28 29

9.5 Parâmetros de resistência dos solos da região

82

A tabela 9.5 apresenta os parâmetros de resistência dos solos da Formação

São Sebastião, determinados por Simões (1991), por meio de ensaios de

cisalhamento direto.

Tabela 9.5 – Parâmetros de resistência ao cisalhamento dos sedimentos da Formação São

Sebastião determinados por Simões (1991)

MATERIAL ENSAIADO AMOSTRA

PARÂMETROS DE RESITÊNCIA

PICO RESIDUAL

c' θ' c'r θ'r

(kN/m²) (°) (kN/m²) (°)

ARGILA SILTOSA COM AREIA (MASSAPÊ)

1 20 18 0 16

1* 40 10 - -

2 90 16 0 13

3 60 20 0 18

3* 60 22 - -

5 25 15 0 14

11 25 15 0 15

11* 30 15 - -

15 20 18 0 17

15* 80 12 - -

27 10 21 0 17

28 17 21 0 16

ARGILA ARENOSA COM SILTE 33 29 29 - -

AREIA SILTO-ARGILOSA

4 0 33 0 33

4* 0 31 - -

7 0 31 0 31

7* 50 22 - -

8 0 32 0 32

8* 0 311 - -

9 0 32 0 32

9* 0 35 - -

10 25 29 0 29

10* 0 29 - -

16 0 32 0 29

16* 0 28 - -

17 10 30 0 30

18 37 31 0 31

19 6 24 0 22

20 10 23 0 20

21 10 25 0 22

22 0 29 0 29

23 6 27 0 25

24 13 28 0 25

25 8 30 0 27

26 10 27 0 25

SILTE ARGILO-ARENOSO COMPACTO

6 60 32 0 27

6* 150 23 - -

12 175 29 0 26

12 80 39 0 27

13 160 44 0 26

13* 170 28 - -

14 100 29 0 19

14 270 33 0 24

CONTATO AREIA SILTO-ARGILOSA X ARGILA SILTOSA COM AREIA (MASSAPÊ)

29 10 26 0 25

30 10 22 0 20

31 12 30 0 28

32 10 25 0 22

83

Da tabela 9.5, a resistência residual da coesão foi sempre zero, conforme a praxe, e

o valor do ângulo de atrito apresentado mostra pouca variação do valore de pico ao residual,

tendo o ângulo máximo residual de 33 ° e o mínimo em 13°.

As tabelas 9.6 e 9.7 apresentam os valores adotados neste trabalho:

Tabela 9.6- Parâmetros de resistência de pico determinados por Simões (1991) e adotados

neste trabalho: solo Formação São Sebastião

Amostra (kN/m3) c‟(kPa) ‟(o)

Argila Siltosa com

Areia (Massapê) 17,43 30 15

Areia Silto-Argilosa 13,01 6 27

Tabela 9.7 - Parâmetros de resistência residual determinados por Simões (1991) e adotados

neste trabalho: solo Formação São Sebastião

Amostra (kN/m3) c‟(kPa) - residual ‟(o)

Argila Siltosa com

Areia (Massapê) 17,43 0 15

Areia Silto-Argilosa 13,01 0 25

84

10 Análise da estabilidade do Talude

Este capítulo apresenta as hipóteses levantadas sobre as prováveis causas

da instabilização do talude estudado, os parâmetros adotados para avaliação da sua

estabilidade e análise propriamente dita.

Após visita ao talude, foi possível fazer as seguintes considerações:

Não existe sistema de drenagem superficial

No topo do talude, não existe vegetação

O talude tem sido erodido pelo dreno,

localizado à direita e que lança água ao

longo de sua superfície

As fendas (Figura 10.2) possibilitam

livremente a entrada de água de chuva,

que irá acumular no maciço de solo,

aumentando a poro pressão do mesmo.

O processo de instabilidade se inicia, a partir dessas trincas de retração.

A camada de topo (Figura 10.3) é composta por material laterítico, material

transportado, lançado no local e possui espessura aproximada de 1 metro

Existe massa de solo já rompida a partir da fenda no topo

A massa rompida escorregou e parte dela se sobrepôs ao topo do muro de

arrimo, situado no pé do talude

O muro no pé do talude (Figura 10.4) perdeu a estabilidade e está inclinado

para fora

O solo do talude é bastante fino, com plasticidade ao tato e coloração

amarela, vermelha e roxa, identificados durante a inspeção “in situ”

Figura 10.2 Trinca de tração no topo do talude próximo a borda. Foto do autor, julho de 2008.

Figura 10.1 - Foto retirada em momento de chuva. Foto do autor, junho-2008

85

Figura 10.5: Massa rompida escorregada e sobreposta ao muro de arrimo

Foto do autor, junho-2008

Existe a possibilidade de o revestimento do poço (no topo do talude) estar

furado

Costa e Silveira em 1954, no estudo do escorregamento ocorrido na rodovia

PE-BR-11-Sul – Trecho Ponte dos Carvalhos em Pernambuco, embora o tipo de

solo estudado não tenha sido o massapê, concluíram que a causa do acidente, pelo

menos a principal delas, foi a ação das águas de chuva que, ao se infiltrarem

através das fissuras da argila rija, encontraram uma camada de argila dura e sobre

ela se depositaram. A ação prolongada dessas águas diminuiu a consistência da

argila anteriormente rija, tornando menor a sua coesão.

Figura 10.3: Perfil demonstrando diferentes

camadas. Foto do autor, dezembro-2008.

Figura 10.4: Muro de arrimo rompido. Foto do autor, outubro-2008

+/- 1 m de material

transportado

Terreno

natural

86

De acordo com Simões (1991), nos taludes da Formação São Sebastião, as

redes de fluxo são fundamentalmente verticais, conduzindo as águas infiltradas até o

N.A.(Nível d‟água) estático do sub-solo, geralmente a maiores profundidades. A

ruptura se dá por perda de sucção parcial ou total dos massapês, em zonas

específicas da superfície de ruptura, devido principalmente à infiltração das águas

das precipitações pluviométricas através das trincas.

Os deslizamentos ocorrem nos períodos de chuvas intensas, tendo as chuvas

antecedentes, também, certa influência no mecanismo, devido ao elevado teor de

material argiloso (SOBRAL, 1956).

10.1 Informações geotécnicas utilizadas e análise

As informações geotécnicas utilizadas na análise estão relacionadas a seguir:

sondagem a percussão, realizada previamente em julho de 2007. Os perfis

estão no ANEXO A;

inspeção “in situ”;

coleta de amostra deformada no topo do talude e material do topo e berma

para e realização de ensaios de caracterização em laboratório. A amostra 1 é

referente ao material coletado no topo do talude e a amostra 2 trata-se do

material coletado na berma do talude, todos eles após a camada superficial

de material laterítico.

A inspeção “in situ” detectou um solo argiloso com presença de areia, solo

bastante pedogeneizado, sua coloração variando em bandas arroxeadas a

avermelhadas. A amostra indeformada retirada “in loco” teve peso específico de

15,98 kN/m³, e umidade em 16,2 % verificada pelo método Speedy.

Os valores dos limites de consistência encontrados na tabela abaixo possui

semelhança com os valores ora encontrados por Simões, fazendo valer a afirmativa

que os estudos estão correlacionados por se tratar de solos com características

parecidas.

Os resultados desses ensaios estão nas tabelas 10.1 e 10.2;

87

Tabela 20.1- peso específico dos grãos e limites de consistência determinados em laboratório:

solo do talude

Amostra s(kN/m3) wL wP IP (%)

Carta de

Plasticidade

(SURCS)

1 (Topo) 26,82 43 20 23 CL

2 (Berma) 27,50 48 24 24 CL

O limite de liquidez, como é sabido, é o teor de umidade em que o solo passa

ao estado fluido denso, se houver aumento de umidade suficiente para provocar

essa mudança no estado de consistência. Enquanto que o limite de plasticidade é o

teor de umidade mínimo com que o solo se mantém no estado plástico. A partir

desses dois teores de umidade, obtém-se o índice de plasticidade, definido como a

diferença numérica entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade do solo, e

representa o espaço em que ele permanece plástico.

Tabela 10. 3 - Granulometria do solo coletado no topo e berma do talude

Fração do solo ABNT DNER

Amostra 01 (Topo)

Amostra 02 (Berma)

Amostra 01 (Topo)

Amostra 02 (Berma)

Pedregulho 0% 0% 0% 0%

Areia grossa 0% 0% 0% 0%

Areia média 3% 1% 8% 3%

Areia fina 25% 9% 11% 8%

Silte 32% 39% 33% 33%

Argila 40% 51% 48% 56%

IA SKEMPTON 0,58 0,47 0,48 0,43

Os valores de atividade de Skempton demonstram que o solo do talude

possui predominância de caulinita (0,3-0,5), segundo Mitchell, 1976; Skempton,

1953, apud Braja, 2007. O que reforça a informação de Simões, 1991.

A partir dos valores mostrados na Tabela 10.2, o material coletado é

classificado como uma argila siltosa ou argila silto-arenosa, conforme já identificado

nos perfis de sondagem a percussão.

Na formação São Sebastião é encontrado predominantemente camadas de

sedimentos granulares (areias siltosas e siltes arenosos), simplesmente apoiadas

88

em sedimentos argilosos ou perfis mais complexos constituídos de maciços

granulares com intercalações múltiplas de camadas argilosas menos permeáveis.

Em alguns taludes específicos, pode ocorrer em profundidade a presença de

folhelhos intemperizados, sotopostos às referidas camadas de sedimentos

(SIMÕES, 1991).

Os materiais constituintes dos horizontes de intemperismo na região estudada

apresentam em geral, porcentagem passando na peneira 200 superior a 80 % e

limite de liquidez superior a 50%. Os valores encontrados para as amostras

estudadas, estão representados nas tabelas 10.1 e 10.2. E de acordo com o

Sistema Unificado de Classificação, os massapês são enquadrados quase na sua

totalidade como CH, de alta plasticidade. Os materiais dos horizontes subjacentes

são classificados também como CH, com algumas ocorrências de MH (SIMÕES,

1991). As amostras ensaiadas foram classificadas como CL (argila de baixa

plasticiadade).

Simões (1991) afirma que os sedimentos granulares predominantes nesta

Formação são areias silto-argilosas, podendo ocorrer também em alguns locais

siltes areno-argilosos e siltes argilo-arenosos. Geralmente não são expansivos,

podendo, no entanto, exibir em alguns casos expansões moderadas, função da

composição granulométrica e mineralógica da fração argila. Em comparação com os

sedimentos argilosos (massapês) desta mesma Formação, são muito mais

permeáveis e resistentes.

A Formação São Sebastião, principalmente na parte nordeste da Bacia

Sedimentar, onde as condições de deposição favoreceram a formação de taludes

homogêneos, espessos, constituídos de massapês de coloração

predominantemente amarela a marrom avermelhada, possui teor elevado de areia e

silte. Em decorrência destas características granulométricas, os taludes são mais

altos e íngremes com trincas de retração mais espaçadas, tendo no topo a presença

de trincas de tração (SIMÕES, 1991). Esta observação é coincidente com algumas

observações realizadas no talude estudado, cuja localização está na Formação São

Sebastião, de acordo com o mapa geológico do recôncavo baiano de Sobral, 1956.

Com a definição da geometria do talude, as observações feitas e tendo

resultados de investigações geotécnicas, o próximo passo foi aplicar os métodos

para análise da estabilidade de talude, para calcular os fatores de segurança.

89

10.2 Avaliação da estabilidade do talude

O perfil do talude estudado está representado na figura 10.6.

Figura 10.6 – Perfil do talude estudado

90

Na área, foram realizadas sondagens à percussão em 9 pontos distintos do

talude (ver anexo B), perfazendo um total de 86,43 metros perfurados com o objetivo

de obter o perfil geotécnico do terreno, através da identificação das diferentes

camadas observada. Os furos de sondagens foram realizados de acordo com as

exigências da NBR 6484/2001 (Sondagens de simples reconhecimento com SPT –

Método de ensaio).

Conforme se observa, as sondagens a percussão (ANEXO B) mostram perfis

de material predominantemente silto-argiloso, tendo o furo 06 detectado nível de

água a uma profundidade de 0,76 m. Ainda neste furo, a camada que se inicia a

uma profundidade de 4 metros passa a ter consistência rija a dura, diferente das

demais que possuem consistência mole a médio.

Os parâmetros de resistência utilizados foram obtidos de Simões (1991) e

adotaram-se os valores residuais, conforme Tabela 9.6, porque uma parte do talude

já está rompida.

A tabela 10.3 resume os parâmetros geotécnicos adotados para o talude

estudado.

Tabela 10.4 - Parâmetros geotécnicos adotados para o talude baseado em Simões (1991)

Camada (kN/m3) c‟ (kPa) - residual ‟ (o) residual

1 15,98 15 15

2 8 3 15

Para análise da estabilidade, foram utilizados os métodos de Bishop

Simplificado e de Hoek & Bray, para efeito comparativo.

Foram analisadas 36 superfícies de escorregamento, conforme mostradas no

ANEXO C, envolvendo ruptura superficial e rotacional passando pelo pé do talude,

acima e abaixo. Algumas superfícies analisadas partiram da fenda existente no topo

do talude, pois este já um ponto crítico, que mostra o início de uma potencial

superfície de ruptura.

91

11 Resultados e análises

Neste capítulo são apresentados os fatores de segurança encontrados, para

algumas seções (superfícies de ruptura) analisadas, que foram consideradas

representativas das demais, por apresentarem fator de segurança muito próximo.

A Tabela 11.1 apresenta o fator de segurança encontrado, de acordo com os

dois métodos utilizados, para as seções representativas.

Tabela 11.1 - Fatores de segurança encontrados para o talude estudado

Superfície de ruptura FS (Bishop Simplificado) FS (Hoek & Bray)

1 1,11 0,84

2 1,03 0,79

3 1,19 0,88

4 1,05 0,81

5 1,03 0,80

A memória de cálculo dos métodos utilizados está no ANEXO D.

O talude estudado apresenta FS menores que 1,5, indicando que já houve

ruptura. A NBR 11682 de 1991 (Tabela 6.2) apresenta valores mínimos de fator de

segurança.

Nas figuras 11.1 e 11.2, é mostrado graficamente, a superfície de ruptura, a

malha de pontos, as lamelas e a disposição das camadas. Estes dados, são

encaminhados para planilha de Excel, que usa a formulação dos métodos ora

indicados na revisão para o encontro dos valores indicados na tabela 11.1

92

Figura 11.1 – Perfil de Superfície de Ruptura Raio maior

93

Figura 11.2 – Superfície de Ruptura Raio Menor

94

12 Conclusão

Nesses taludes, nos períodos de precipitações intensas, formam-se

temporariamente níveis d‟água suspensos nas camadas de materiais granulares

sobrejacentes aos estratos de argila siltosa de baixa permeabilidade. São formadas,

portanto redes de percolação em vários níveis do talude, com direções paralelas às

respectivas superfícies de contato, gerando em conseqüência, forças de percolação

distintas nos estratos permeáveis. Nesses perfis podem ocorrer também que as

camadas permeáveis aprisionadas entre camadas argilosas, sejam submetidas a

excessos de pressões neutras, influenciando na instabilização dos taludes.

Durante o acompanhamento do talude em discussão, ficou confirmada a

observação de SIMÕES (1991), em que na dinâmica evolutiva desses taludes é

comum a ocorrência com o tempo, de pequenos deslizamentos seguidos de erosão

superficial. Os sedimentos resultantes desses processos são arrastados pela água e

pela gravidade, sendo depositados ao longo dos taludes. A deposição contínua dos

sedimentos dá origem à formação de capas de colúvio, constituídas da mistura de

materiais argilosos e granulares, podendo dificultar a livre drenagem das águas dos

extratos mais permeáveis que afloram na face do talude. Em conseqüência,

excessos de pressões neutras podem aí se desenvolver, piorando as condições de

estabilidade, podendo ocasionar até rupturas mais profundas.

Para o caso em estudo, algumas investigações precisariam ser realizadas

para dispormos de informações mais precisas. Tais investigações seriam:

- monitoramento de deslocamentos verticais e horizontais do talude, para

verificar a velocidade e o tipo de movimento

- monitoramento da pressão e da variação do nível de água no maciço

- coleta de amostras indeformadas, para determinação da coesão e do ângulo

de atrito do solo local

- análises químicas e mineralógicas para identificar a possibilidade de

expansibilidade do solo

- ensaio de expansão no CBR.

Na ausência dessas informações, ainda assim, é possível indicar algumas

soluções. Independente de qual seja a solução, será necessário remover parte do

solo que compõe o talude superior (acima da berma), pois o mesmo já rompeu. A

95

retirada desse material reduzirá o peso de solo sobre o talude e facilitará a livre

drenagem nos extratos que afloram à superfície, conforme já foi dito.

O excesso de solo escorregado e que se encontra próximo ao pé do talude

deverá ser removido, mas apenas a porção que se sobrepõe ao muro de arrimo. É

importante que o solo permaneça na parte superior para contribuir como força

resistente à tendência de movimento.

As superfícies nuas deverão receber plantação com as espécies da região,

para evitar os processos erosivos pela ação do escoamento superficial da água de

chuva.

Será necessário fazer o sistema de drenagem superficial, horizontalmente e

acompanhando a face do talude, para reduzir a infiltração e a ação dos processos

erosivos. O sistema deverá ser composto por material flexível, que possa

acompanhar os movimentos causados pela variação volumétrica do maciço, caso

ele seja expansivo. Como sugestão, o uso de calhas pré-moldadas com uso de solo

cimento juntamente com mantas que colaboram com as movimentações. Os drenos

superficiais poderão ser compostos por sacos ou “salsichões” de geotêxtil,

preenchidos com material drenante, como brita e no centro, tubo flexível perfurado

tipo canaflex para condução da água de chuva até a canaleta no pé do talude. Este

tubo será utilizado nos salsichões”.

Além desse conjunto de ações que deverão ser realizadas, para aliviar a poro

pressão no maciço, proveniente de contribuições adjacentes, poderão ser instalados

drenos sub-horizontais profundos, por meio da perfuração do maciço e colocação de

tubos de plásticos drenantes de 2” a 3” de diâmetro. Seus comprimentos se situam

normalmente entre 6 e 18m, entretanto, recomenda-se a realização de um estudo do

fluxo da água no interior do talude, pois, deve-se assegurar ainda na fase de projeto,

o desempenho satisfatório dos drenos, tanto na retirada da água que exerce

pressões nas possíveis linhas de ruptura, quanto da que está contida em eventuais

linhas internas de fluxo de água, situadas em profundidades maiores no interior do

maciço terroso. Esse estudo poderia ser feito, por meio de monitoramento do nível

de água, instalando-se piezômetros em diversos pontos do maciço, a exemplo do

piezômetro tipo Vector.

As novas trincas e fendas que venham a surgir no maciço, se não forem

profundas, deverão ser “obturadas” (fechadas) com solo cimento ou solo cal na

96

superfície, mas antes deverão ser preenchidas com material de permeabilidade

semelhante ao solo local ou calda com cal.

Das técnicas de contenção apresentadas na revisão bibliográfica, duas

mostram-se aplicáveis ao caso. O muro gabião bem aplicado, com o uso de geotêxtil

entre o muro e o aterro. E a cortina atirantada, porém está com um alto custo. Em

ambos os casos entre a contenção e o solo do talude, deverá ser colocado um

colchão de areia compactada com largura de pelo menos sessenta centímetros para

permitir a livre movimentação do solo e para facilitar a drenagem.

Outra solução, é a enfilagem de tubo no sentido vertical em pontos

estratégicos, fazendo com que esses tubos atinjam a camada suporte posterior a

superfície de ruptura. Neste caso, poder-se-á reaproveitar tubo da própria

companhia (PETROBRAS).

97

Referências

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taludes. Comitê Brasileiro de Construção Civil. Origem: Projeto 02:04.07-001/90. Rio de Janeiro, 1991.

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CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. 6. ed. Rio de

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VARGAS, Milton. Introdução à Mecânica dos Solos. São Paulo: McGraw-Hill do

Brasil, 1978.

99

Anexo A

(Croqui dos furos de sondagens)

100

Anexo B

Sondagens

101

102

103

104

105

106

107

108

109

ANEXO C (CALCULOS)

Dados Geométricos, Topográficos e Físicos - Raio 39 m Fatia b h (m) h solo C α b° γ

Parâmetros Físicos

n.° (m) total mole (kPa) (°) (m) (kN/m³)

C mole(c1) = 3 kPa

1 4,61 2,31 2,31 3,00 -22 5 10,00

C rijo(c2) = 20 kPa

2 4,61 5,49 1,50 15,36 -16 4,79 14,35

γ mole(c1) = 10 kN/m³

3 4,61 8,83 2,50 15,19 -9 4,67 14,29

γ rijo(c2) = 15,98kN/m³

4 4,61 11,62 4,25 13,78 2 4,61 13,79

5 4,61 13,86 3,33 15,92 5 4,62 14,54

γ e C médio =

c1xh1 +

c2xh2

6 4,61 15,56 1,66 18,19 11 4,7 15,34

h1+h2

7 4,61 16,69 1,03 18,95 19 4,85 15,61

8 4,61 15,76 0,88 19,05 26 5,1 15,65

9 4,61 13,19 0,00 20,00 34 5,5 15,98

10 4,61 14,03 2,84 16,56 42 6,16 14,77

11 4,61 12,89 3,82 14,96 52 7,39 14,21

12 4,61 7,23 3,80 11,07 62 10,74 12,84

MÉTODO DE FELLENIUS

Fatia h γ W θ ∆x C Ф' u c' x l W. cos θ u.∆x.sec.θ tg Ф' W.sen θ

[1]+([2]-

[3]).[4] n.° (m) (kN/m³) (kN) (°) (m) (kPa) (°) [1] [2] [3] [4] 1 2,31 10 106,49 -22 4,61 3,00 15 0 13,830 98,737 0,000 0,268 -39,892 40,286

2 5,49 14,35 363,08 -16 4,61 15,36 15 0 70,787 349,019 0,000 0,268 -100,080 164,307

3 8,83 14,29 581,57 -9 4,61 15,19 15 0 70,011 574,407 0,000 0,268 -90,977 223,923

4 11,62 13,79 738,86 2 4,61 13,78 15 0 63,536 738,407 0,000 0,268 25,786 261,392

5 13,86 14,54 929,23 5 4,61 15,92 15 0 73,371 925,699 0,000 0,268 80,988 321,411

6 15,56 15,34 1100,5 11 4,61 18,19 15 0 83,839 1080,289 0,000 0,268 209,987 373,302

7 16,69 15,61 1201,1 19 4,61 18,95 15 0 87,364 1135,682 0,000 0,268 391,047 391,669

8 15,76 15,65 1136,7 26 4,61 19,05 15 0 87,824 1021,700 0,000 0,268 498,316 361,588

9 13,19 15,98 971,68 34 4,61 20,00 15 0 92,200 805,558 0,000 0,268 543,356 308,049 10 14,03 14,77 955,27 42 4,61 16,56 15 0 76,336 709,901 0,000 0,268 639,198 266,554 11 12,89 14,21 844,27 52 4,61 14,96 15 0 68,975 519,784 0,000 0,268 665,293 208,250 12 7,23 12,84 427,86 62 4,61 11,07 15 0 51,010 200,868 0,000 0,268 377,778 104,832

F =

0,945

Soma 3200,800 3025,562

110

MÉTODO DE BISHOP SIMPLIFICADO

1 ª iteração 2ª iteração 3 ª iteração

Fatia W α b c' Ф' Ru T = W.senα c'd.b [1] W(1-Ru)tg Ф'd

[3] = [1] +

[2] F = 0,945 F = 0,971 F = 0,981 F = 0,982

n.° (kN) (°) (m) (kPa) (°) (kN) (kN) (kN) [2] (kN) mα [4] [3]/[4] mα [4] [3]/[4] mα [4] [3]/[4] mα [4] [3]/[4]

1 85,19 -22 4,61 3,00 14 0,00 -31,91 13,830 21,24 35,07 0,82 42,71 0,83 42,21 0,83 42,16 0,83 42,15

2 349,25 -16 4,61 11,72 14 0,00 -96,27 54,035 87,08 141,11 0,88 159,76 0,89 158,49 0,89 158,35 0,89 158,34

3 558,52 -9 4,61 11,60 14 0,00 -87,37 53,487 139,25 192,74 0,94 204,30 0,95 203,43 0,95 203,34 0,95 203,33

4 699,67 2 4,61 10,61 14 0,00 24,42 48,917 174,45 223,36 1,01 221,31 1,01 221,51 1,01 221,53 1,01 221,53

5 898,53 5 4,61 12,12 14 0,00 78,31 55,859 224,03 279,89 1,02 274,17 1,02 274,78 1,02 274,84 1,02 274,85

6 1.085,20 11 4,61 13,72 14 0,00 207,07 63,248 270,57 333,82 1,04 322,34 1,03 323,88 1,03 324,04 1,03 324,06

7 1.191,62 19 4,61 14,26 14 0,00 387,95 65,736 297,11 362,84 1,04 349,68 1,03 352,54 1,03 352,84 1,03 352,87

8 1.128,63 26 4,61 14,33 14 0,00 494,76 66,061 281,40 347,46 1,02 339,70 1,01 343,51 1,01 343,91 1,01 343,95

9 971,68 34 4,61 15,00 14 0,00 543,36 69,150 242,27 311,42 0,99 315,43 0,97 320,12 0,97 320,61 0,97 320,66

10 929,08 42 4,61 12,57 14 0,00 621,68 57,952 231,65 289,60 0,93 310,56 0,92 316,43 0,91 317,05 0,91 317,12

11 809,05 52 4,61 11,44 14 0,00 637,54 52,756 201,72 254,47 0,84 303,43 0,82 310,98 0,82 311,79 0,82 311,88

12 392,82 62 4,61 8,69 14 0,00 346,84 40,074 97,94 138,02 0,72 191,87 0,70 198,16 0,69 198,83 0,69 198,91

Soma 3126,37 [1] F = 0,971 Soma 3.035,26 0,981 3.066,02 0,982 3.069,30

0,982 3.069,65

111

MÉTODO DE HOEK E BRAY

Parâmetros Unidade Valores

C kPa 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

γ kN/m³ 15,98 15,31 14,64 13,97 13,3 12,63 11,96 11,29 10,62 9,95 9,28 8,61 8

Ф ° 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15

H m 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37

Slope angle 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56°

c 0,03 0,04 0,05 0,07 0,08 0,10 0,12 0,14 0,17 0,19 0,22 0,26 0,30

γ.H.tgФ

ÁBACO Eixo y 0,88 0,78 0,74 0,66 0,64 0,58 0,53 0,5 0,46 0,44 0,4 0,36 0,34

F em y Tan Ф

0,304 0,344 0,362 0,406 0,419 0,462 0,506 0,536 0,582 0,609 0,670 0,744 0,788 y

Eixo x 0,026 0,031 0,038 0,046 0,05 0,058 0,064 0,07 0,08 0,084 0,09 0,098 0,104

F em x c

0,309 0,361 0,385 0,400 0,450 0,467 0,503 0,541 0,554 0,614 0,666 0,710 0,771 γ.H.x

112

Dados Geométricos, Topográficos e Físicos - Raio de 34 m

Fatia b h (m) h solo C α b° γ

Parâmetros Físicos

Verificação de Establização de Talude

n.° (m) total mole (kPa) (°) (m) (kN/m³)

C mole(c1) = 3 kPa

1 3,71 2,03 1,83 4,67 -16 3,93 10,59

C rijo(c2) =

20 kPa

2 3,71 4,39 2,42 10,63 -11 3,78 12,68

γ mole(c1) = 10 kN/m³ 3 3,71 6,77 4,02 9,91 -5 3,72 12,43

γ rijo(c2) = 15,98kN/m³

4 3,71 8,74 3,61 12,98 2 3,71 13,51 5 3,71 10,31 2,66 15,61 8 3,75 14,44

6 3,71 11,46 1,54 17,72 14 3,83 15,18

γ e C médio =

c1xh1 +

c2xh2 7 3,71 12,17 1,05 18,53 21 3,97 15,46

h1+h2

8 3,71 11,49 0,88 18,70 27 4,18 15,52

9 3,71 9,26 0,59 18,92 35 4,52 15,60

10 3,71 6,43 0,00 20,00 43 5,06 15,98

11 3,71 7,92 4,29 10,79 52 6,03 12,74

12 3,71 5,08 3,91 6,92 62 8,54 11,38

MÉTODO DE FELLENIUS

Fatia h γ W θ ∆x C Ф' u c' x l W. cos θ u.∆x.sec.θ tg Ф' W.sen θ

[1]+([2]-

[3]).[4] n.° (m) (kN/m³) (kN) (°) (m) (kPa) (°) [1] [2] [3] [4] 1 2,03 10,59 79,75 -16 3,71 4,67 15 0 17,344 76,661 0,000 0,268 -21,982 37,885

2 4,39 12,68 206,58 -11 3,71 10,63 15 0 39,432 202,780 0,000 0,268 -39,416 93,767

3 6,77 12,43 312,18 -5 3,71 9,91 15 0 36,749 310,990 0,000 0,268 -27,208 120,079

4 8,74 13,51 438,07 2 3,71 12,98 15 0 48,149 437,800 0,000 0,268 15,288 165,458

5 10,31 14,44 552,22 8 3,71 15,61 15 0 57,928 546,848 0,000 0,268 76,854 204,455

6 11,46 15,18 645,25 14 3,71 17,72 15 0 65,725 626,082 0,000 0,268 156,100 233,483

7 12,17 15,46 698,21 21 3,71 18,53 15 0 68,758 651,838 0,000 0,268 250,217 243,418

8 11,49 15,52 661,67 27 3,71 18,70 15 0 69,370 589,553 0,000 0,268 300,392 227,340

9 9,26 15,60 535,9 35 3,71 18,92 15 0 70,182 438,981 0,000 0,268 307,378 187,806 10 6,43 15,98 381,21 43 3,71 20,00 15 0 74,200 278,798 0,000 0,268 259,983 148,904 11 7,92 12,74 374,37 52 3,71 10,79 15 0 40,037 230,483 0,000 0,268 295,005 101,795 12 5,08 11,38 214,43 62 3,71 6,92 15 0 25,656 100,667 0,000 0,268 189,326 52,630

F =

1,031

Soma 1761,937 1817,018

113

MÉTODO DE BISHOP SIMPLIFICADO

1 ª iteração 2ª iteração 3 ª iteração

Fatia W α b c' Ф' Ru T = W.senα c'd.b [1] W(1-Ru)tg Ф'd [3] = [1] + [2] F = 1,031 F = 1,171 F = 1,187 F = 1,188

n.° (kN) (°) (m) (kPa) (°) (kN) (kN) (kN) [2] (kN) mα [4] [3]/[4] mα [4] [3]/[4] mα [4] [3]/[4] mα [4] [3]/[4]

1 79,75 -16 3,71 4,67 15 0,00 -21,98 17,344 19,88 37,23 0,89 43,51 0,90 43,08 0,90 43,04 0,90 43,04

2 206,58 -11 3,71 10,63 15 0,00 -39,42 39,432 51,50 90,94 0,93 101,69 0,94 101,02 0,94 100,96 0,94 100,95

3 312,18 -5 3,71 9,91 15 0,00 -27,21 36,749 77,83 114,58 0,97 123,66 0,98 123,31 0,98 123,28 0,98 123,27

4 438,07 2 3,71 12,98 15 0,00 15,29 48,149 109,22 157,37 1,01 164,14 1,01 164,33 1,01 164,34 1,01 164,34

5 552,22 8 3,71 15,61 15 0,00 76,85 57,928 137,68 195,61 1,03 200,60 1,02 201,48 1,02 201,57 1,02 201,57

6 645,25 14 3,71 17,72 15 0,00 156,10 65,725 160,88 226,60 1,03 230,98 1,03 232,73 1,02 232,90 1,02 232,92

7 698,21 21 3,71 18,53 15 0,00 250,22 68,758 174,08 242,84 1,03 249,22 1,02 252,05 1,01 252,32 1,01 252,35

8 661,67 27 3,71 18,70 15 0,00 300,39 69,370 164,97 234,34 1,01 244,51 0,99 248,10 0,99 248,45 0,99 248,48

9 535,90 35 3,71 18,92 15 0,00 307,38 70,182 133,61 203,80 0,97 220,85 0,95 225,13 0,95 225,55 0,95 225,59

10 381,21 43 3,71 20,00 15 0,00 259,98 74,200 95,05 169,25 0,91 194,15 0,89 198,94 0,88 199,41 0,88 199,46

11 374,37 52 3,71 10,79 15 0,00 295,00 40,037 93,34 133,38 0,82 171,13 0,79 176,58 0,79 177,12 0,79 177,17

12 214,43 62 3,71 6,92 15 0,00 189,33 25,656 53,46 79,12 0,70 118,97 0,67 124,01 0,67 124,51 0,67 124,56

Soma 1761,94 [1] F = 1,171 Soma 2.063,42 1,187 2.090,76 1,188 2.093,45 1,188

2.093,71

114

MÉTODO DE HOEK E BRAY

Parâmetros Unidade Valores

C kPa 3 4,5 6 7,5 9 10 11 12,5 14 15,5 17 18,5 20

γ kN/m³ 15,98 15,58 15,04 14,37 13,7 13,03 12,04 11,69 11,62 10,85 10,46 10,26 10,06

Ф ° 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15 15

H m 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37 23,37

Slope angle 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56° 56°

c 0,03 0,05 0,06 0,08 0,10 0,12 0,15 0,17 0,19 0,23 0,26 0,29 0,32

γ.H.tgФ

ÁBACO Eixo y 0,86 0,78 0,74 0,66 0,64 0,58 0,53 0,51 0,46 0,44 0,4 0,36 0,32

F em y Tan Ф

0,312 0,344 0,362 0,406 0,419 0,462 0,506 0,525 0,582 0,609 0,670 0,744 0,837 y

Eixo x 0,026 0,031 0,038 0,046 0,05 0,058 0,064 0,07 0,08 0,084 0,09 0,098 0,104

F em x c

0,309 0,399 0,449 0,485 0,562 0,566 0,611 0,654 0,644 0,728 0,773 0,787 0,818 γ.H.x

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